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Andréa M.C. Guerra
senta para o sujeito uma possibilidade de libertação, e vem conjugada com a certeza de que só o próprio ato poderia lhe conferir. Solução que, longe de favorecer o laço social, desfaz suas possibilidades, posto que, auto ou heteromutilador, o ato redunda em agressividade, violência e, algumas vezes, crime. Estratégia de estabilização, portanto, que não encorajamos na clínica com a psicose. Podemos, no máximo, aprender com o ato na psicose o que, de sua essência, pode nos auxiliar a pensar o campo das estabilizações, qual seja, que há um excesso a ser subtraído na economia psíquica do psicótico. Esse excesso que não caiu sob a forma de objeto a invade e exige a construção de uma barreira, sua extração real ou simbólica ou, ao menos, sua localização. Fiquemos por enquanto com essas indicações clínicas antes de passarmos às outras formas de solução na psicose.
Estabilização psicótica e metáfora delirante Antes de terminar a formulação da noção de objeto a, no início dos anos 60, Lacan trabalhou o delírio como solução psicótica correlativa à operação da metáfora paterna e equivalente à suplência ao Nome-do-Pai foracluído. A década anterior, período de sua formulação, é caracterizada pela primazia do simbólico e do poder do significante, sendo a estrutura da linguagem a base para sua formulação, ainda que já se evidencie o impossível de escrever como real em jogo em qualquer estrutura clínica.