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A POESIA PRAXIS PAG

A POESIAPRAXIS

Movimento iniciado por Mário Chamie, logo após seu rompimento com o grupo da poesia concreta. O marco inicial foi a publicação do livro Lavra-Lavra (1962), de sua autoria, que apresenta as propostas básicas do movimento: jogo sonoro, visual e semântico. Esse livro conquistou o Jabuti de 1963. Mas antes disso, os poetas que aderiram ao praxismo já começaram a adotar ao invés da palavra coisa do concretismo, a palavra energia, a palavra viva geradora de outras palavras. .A poesia praxis surgiu como dissidência ao rigor formal da poesia concreta.

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Poeta, professor, publicitário e advogado,Mário Chamie publicou seu primeiro livro de poesia, Espaço Inaugural, em 1955, quando tinha 22 anos. Nesse período ele adere ao movimento concretista e publica O Lugar (1957) e Os Rodízios (1958).Pouco tempo depois anuncia seu rompimento com o concretismo e lança o livro Lavra Lavra (1962), que instaurou a poesia práxis. O livro recebeu o Prêmio Jabuti, em 1963, e nesse mesmo ano, o poeta fundou a revista Práxis. que sobreviveu até o quinto número.Em 1963, realizou conferências sobre a nova literatura brasileira na Itália, Alemanha, Suíça, Líbano, Egito e Síria. Em 1964, a convite do Departamento de Cultura do Departamento de Estado do governo dos EUA, organizou e realizou palestras sobre problemas de vanguarda artística nas universida I Lavra: onde tendes pá, o pé e o pó, sermão da cria: tal terreiro. Dor: Onde tenho pó, o pé e a pá, quinhão da via: tal meu meio de plantar sem água e sombra. Lavra: Onde está o pó, tendes cãibra; agacho dói ao rés e relva. Dor: Onde, jaz o pó, tenho a planta do pé e milho junto à graça do ar de maio, um ar de cheiro. Lavra: A planta e o pé, o pó e a terra; o mapa vosso; várzea e erva. II Dor: Onde o ganho alastra eu perco. Perde o mapa a cor, fina réstia de amanho em nós, nossa rédea de luz lastro em casa, o raso nosso e a fome clara verga o corpo onde o ganho alastra. Lavra: A planta e o mapa, pó e safra Dor: Onde a morte perde, em ganho. Ganha a casa amor, o pouco de amanho em nós, já redobro de paz aura em casa, o raso nosso e a fome cava cede no corpo, onde a morte perde. Lavra: Mapa vosso, várzea e erva, domingo e sol um voo narra. III Dor: Onde é a mó, mais moeda má, ardendo, ardente ira, nós, o veio, nosso sangue, vaza. Lavra: Mapa vosso, várzea e safra. Dor: Onde é o pó, cultivo raia. Pó arroz outona. Acelera o sol não o voo mas a raiva nossa, lenta mó que esmaga a lavra a dor, a mão e o calo. E orando, aramos, sem sombra, se arados somos no valo. ESPAÇO INAUGURAL O espaço que se mede e que se perde não é o tempo perdido da memória.

Esquece. O tempo que se perde é o mesmo que fenece a cada hora.

Na hora do homem em casa. Na hora do homem na rua. Na hora do espanto desse homem sem tempo no espaço de cada canto. Mas o cansaço do tempo que se perde não impede o espaço que se inaugura. O espaço do homem na praça. O espaço do homem em luta com a fúria de outro tempo : sua surda fúria muda. • • •

des de Nova York, Columbia, Harvard, Princeton, Wisconsin e Califórnia. Um de seus aluinos foi Jim Morrinson. De 1979 a 1983, ocupou o cargo de secretário municipal de Cultura de São Paulo, promovendo a inauguração da Pinacoteca Municipal, do Museu da Cidade de São Paulo e do Centro Cultural São Paulo. Concluiu em 1994 doutorado em Ciência da Literatura na UFRJ. Foi professor titular de comunicação comparada da Escola Superior de Propaganda e Marketing. Ao longo de sua carreira literária, recebeu vários prêmios, entre os quais o Primeiro Prêmio Nacional de Poesia (SP) e o Prêmio Jabuti A sua obra poética compreende mais de 15 títulos, entre eles: Espaço inaugural (1955), Configurações (1956), O lugar (1957), Os rodízios (1958), Lavra lavra (1962), Now tomorrow mau (1962), Indústria (1967), Conquista de terreno (1977), Planoplenário (1974), Objeto selvagem (1977, Carfavana Contrária (2002), Horizonte de esgrimas (2002). FORCA NA FORÇA a palavra na boca na boca a palavra: força a forca da palavra força a palavra rolha fofa a rolha fofa sem força a palavra em folha solta a força da palavra forca a palavra de boca em boca na boca a palavra forca a palavra e sua força --falar na era da forca calar na era da força na era de falar a forca a era de calar a boca

na era de calar a boca a era de falar à força calar a força da boca com a forca falar a boca da forca com a força calar falar a palavra não na ira da era ida

falar calar a palavra nesta ira de era viva

calar a palavra na era ida da ira falar a palavra na viva era da vida ---mas a forca da palavra força :um cedilha em sua boca AGIOTAGEM Um Dois Três o juro: o prazo o pôr / o cento / o mês / o ágio p o r c e n t a g i o. dez cem mil o lucro: o dízimo o ágio / a mora / a monta em péssimo e m p r é s t i m o. muito nada tudo a quebra: a sobra a monta / o pé / o cento / a quota h a j a n o t a agiota.

SIDERURGIA S.O.S. Se der o ouro sidéreo opus horáriO Sem sol o sal do erário saláriO Ser der orgia semistério o empresáriO Siderurgia do opus o só do eráriO Se der a via do pus opus erradO Se der o certo no errado o empregadO Se der errado no certo o emprecáriO

Poeta carioca,recebeu, em 1980, o Prêmio Fernando Chinaglia, por Apenas uma Lata (infantojuvenil). Em 1986, com 3x4, recebeu o Prêmio Jabuti. Em 2000, com o livro Fio Terra, o Prêmio Alphonsus de Guimaraens, da Fundação Biblioteca Nacional. Em 1963, publicou Palavra, o seu primeiro livro de poemas. Daí vinculou-se à poesia práxis, instaurada por Mário Chamie. Essa tendência de vanguarda se opôs à poesia concreta. Foram escritos em seguida Dual (1966) e Marca registrada (1970) sob os cânones desse movimento.. Outros livros:À Mão Livre, Cabeça de Homem, De Cor, Dois Dias de Verão, Duplo Cego, Lar, Mr. Interlúdio, Números Anônimos, Para este Papel, RESSONAR

para Cassiano Ricardo A noite arquiteta um teto, uma casa pensa uma porta repensa um portão e planta parede e tranca o jardim seu sonho de nervos entranhado no muro. Verde sono: calado coagulado sangue cerâmica – absorto vaso sem veia sem pulso, esbatido absorvido arbusto embuçado esboço embaçado, embutido estojo, lavrado lacrado no escuro.

TÊNIS

Sai o saque seco estampido baque segue o som. Nítido ritmo nu: tímpano célere sílaba súbita, soa. Volve elástica ríspida raquete detona um tom repete o golpe. Quica na quadra bola – bala brusca dicção ginástica. Volátil exercício fugaz vibrátil lance veloz nívea imagem ágil. Tênis teia tênue malha tátil erro na rede rasga nua nesga falha.

RAIOS X

Magro e amargo um corpo distende cercado de treva tato mais dente.

Rebenta a flora: trevo de carne travo de terra segreda: sente. Um braço que abraça uma perna que arrasta. Corpo – um furo segrega rente o corpo futuro germina: doente.

SONOTECA

A droga do dia adia o drama: a drágea desce o homem dorme.

Um sono ensaiado sem saídas – som bulex sem sonhos ressona, sonado. Viagem ao vácuo movida a valium: visita os vazios e as visões do avesso. do corpo em pane: a pílula apaga as pilhas, pifam os sinais do sangue e seguem, às cegas as senhas do sexo: sequência de setas. O código do sono fechado no cofre do corpo encadeia a cápsula sem chave. A vertigem no vidro: o invólucro envolve a vida – envelope comprimido no corpo. LUA-DE-MEL

Magro e amargo um corpo distende cercado de treva tato mais dente

rebenta a flora trevo de carne travo de terra segreda: sente um braço que abraça uma perna que arrasta corpo: um furo segrega rente o corpo futuro germina: doente.

Poeta carioca, tradutor, crítico de música, artes plásticas, literatura e cinema, foi um dos últimos participantes do grupo de poetas concretos envolvidos com a Noigrandes.Obteve o diploma de Direito em 1953, trabalhou na Fun-

dação Getúlio Vargas

e começou a colaborar na imprensa em 1956, por intermédio do poeta Mário Faustino. Foi também um dos editores da revista Invenção, segunda porta-voz da poesia concreta, desde o seu primeiro número, em 1962, ao último, em 1966.

COMES E BEBES drinque amigo tranco antigo vodka vossa murrpo em grogue vida nossa engole a manha comjes e bebes olha e seca cerveja em lata o bom malte o mate o mato e o homem malzebeer na mesa é fogo birra e garra dá na cara cinzano cinza e ano duro bottle bota quina é sono coca e calo bebe e cala

SITUAÇÕES

1

o homem forte o cala a boca o ríspido o espasmo guspe o olho em cima a mão é pedra e fica quieto a paz rapaz o fecho a boca a voz patada o cálice qa carga o medo o olho baixo a mesa o pé o pó o olho em pó na paz do pó na paz não pode não na paz rapaz nem às nem a nem b só asco asma quarto nono só mente a paz do sono

2

jogatina jogo não é a tua joga a mesa he paga eu ganho e pago bota a pinga joga eu mostro vinte eui passo três feijão cereveja só que coisa e ficha dá é dama vai valete é valente pinga a grana joga damas e pega fogo perde tudo e paga

Poeta e crítico literário, nasceu em 1938, no Rio de Janeiro. Estudou letras clássicas e ciências sociais, na UERJ. Estreou em livro com Corpo verbal (1964). Ganhou a vida como redator de editoras e obras de referência, entre as quais enciclopédias, como a Barsa 1 e a Mirador internacional (onde foi assessor editorial de Otto Maria Carpeaux e Antônio Houaiss).Auto-exilado de sua grande e violenta cidade, vive hoje principalmente em sua Quinta da Janaína, em Mendes/RJ. Outros livros publicados: Anticorpo (1969) e Expresso na noite (1982), poemas; José Maurício, o padre-compositor (1983), ensaio; Zoozona seguido de Marcas na Noite (2008). A FAZENDA (fragmento)

Plantio

Homem ou barro o anjo músculos e asas pardas metal contra o céu contra a terra metal de alto a baixo homem cava homem cava na polpa do sol na polpa da terra cava no peito cava e pára mão ou terra desprendida digitada se recortada contra o espelho do azul renda renda de luz curvando-se ou festo e sopro de sementes? Pão que devora o barro ou corpo em lâminas mão e ventos

COLHEIRA cesto levanto o incesto sem fruto ou curva, solar. e lacaio do pulso aliás do impulso vai o balaio vai o que em dedos e alma de palma a palma ferida é a carga e a malha é a falha e a farpa também — ou tão só — da vida.

PURA TERNURA Pura ternura Margarida: coisa de rosa e mucosa de pêssego e de ferida de violetas e gretas de humor e quase dor deleitosa: coisa de vida e guarida Margarida. Você me guarda lá dentro e palpitamos ambos meio jambos meio bambos você com um pássaro na mão: venha depressa me dê essa mão a seu pássaro – a um passo do coração ou do vulcão.

AVENTURA Comprou uma homepage toda de chocolate e entrou no site da Light: estava escuro tateou estranhas formas de pelúcia e recuou com um choque no prepúcio. Viu o portal dos novos tempos globais com as mais solícitas e explícitas nádegas e pândegas. Teve sede: bebeu a rede inteira de eletrizantes cômputos e putas mentoladas dores. Teve fome: comeu um software com rabanetes e dois cuzinhos impenitentes.

Formou-se em Letras pela UFMG e em Psicologia pela Faculdade de Filosofia de São Paulo. Ganhou em 1976 o 18.º Prêmio Jabuti, na categoria Poesia, com seu livro Rosa Dialética.(1975) Puiblicou A Fala e a Forma.(1963) e Vristal/Carvão (1998). MERETRIZ Dona ronda Tez de liz Loura sombra Meretriz

Onda à toa Toda miss Por um gozo Por um xix

Rôta noiva Pó raiz Ala nômade Meretriz

Flor bisonha Mera atriz Por um sonho Por um bis

Songamonga Luz de aniz Algo monja Meretriz

Álcool longo Caos matriz Por um pouso Por um triz

Lantejoula Cicatriz Lã de joio Meretriz

Só destoa Mau matiz Por um voo Por um giz ROSA ROSA ROSA Rosa rochosa Roda de abóbodas Pomposa incógnita Só rococó

Só rocambole Rosa sarcófago Rosa só rosa Só rosa cósmica

Rosa retórica Só dela, rosa Dela zelosa Dela que evola

Rosa memória De rosa. Rosa Moma senhora Misteriosa

Só categórica Forja metódica Lógica ilógica Rosa ou abóbora?

IV Por favor, não diga Adeus à vida: ainda Há manhãs florindo Este pátio sujo. Ainda é possível Amar sem policia.

Há um verão na carne Mesmo exausta, e há vinho Na morte das uvas.

Em 1998 recebeu o título de Comendador do Mérito Científico pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e de Professor Benemérito do Centro de Memória da Unicamp. Em 2006 foi agraciado com a medalha Roquette Pinto Pinto, da Associação Brasileira de Antropologia. Em 2008 e 2010, com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Uberlândia, pela Universidade Federal de Goiás e pela Universidad Nacional de Lujan, na Argentina. É também Fellow do St. Edmund’s College, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Professor emérito pela UNICAMP. Foi um dos fundadores do Movimento da Poesia Praxis e publicou os livros Mão de Obra (1968) e Os objetos do dia (1968), 311 OFÍCIO DE DIZER dizer: se pedra o duro se entra o homem: o muro dizer: se trigo o pão se vai no homem: ação dizer se noite o fundo se entra o homem: um mundo dizer: se verbo o verso se vai no homem: inverso dizer: se foi, a fato se entra o homem: a luta dizer: se flor a graça se vaio homem: a safra dizer se terra o grão se entra o homem: à mão dizer: se foi, o fato se vai com homem: o ato se vai em outro: o trato dizer: se palha um feixe se entra o homem: um cesto se chega outro: o texto.

312 DIZER-DIZENDO a. onde é a forja fazer da forja o ferro onde a forja ganha o nome onde é o ferro fazer do ferro a arma onde o ferro encontra o uso o fato onde a arma ganha impulso onde é o fato fazer do fato o texto onde o fato apura o senso b. onde é o texto fazer do texto o fato onde o texto toca a arma onde é o fato fazer do fato onde ó o ferro fazer do ferro a forja onde o verbo volte ao mundo. O OFÏCIO DE MORTO 1 êsse que vai morto vai a vau. esse que vai, morto vai ao valo. êsse quem o leva morto leva a morte ao valo. essa a tarefa:por em cova o corpo onde a cava enterra a carne. desse que vai morto sai a cal. esse que vai morto vai ao ralo. êsse: o que se leva morto leva o caso ao ralo. essa . a morte: por o corpo ao lado de onde a terra apressa o fruto. êsse que vai morto vai a pau. nêsse que vai morto cai o malho êsse o morto: o que se leva e leva a morte ao malho. essa a fun$ao: por na morte a parte em que a fome aponte o fato. desse que vai morto sai o sal. êsse que vai, morto cai ao lado. êsse o que se leva: morto leva a lavra ao lado. essa a morte: por o homem longe de onde a safra perde o trato. nesse que vai: morto? vai sinal. desse que vai (morto) sai o brado. êsse o morto que se leva e leva a morte ao brado. êsse o sinal. por na coisa a causa em que a luta acabe a grita.

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