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A POESIA INDEPENDENTE PAG

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VIOLÃO DE RUA PAG

VIOLÃO DE RUA PAG

A POESIAINDEPENDENTE

A Antologia dos Novíssimos, publicada pelo Massao Ohno em 1961, marca o aparecimento de um grupo de poetas muito jovens--a maioria tinha pouco mais de 20 anos--que não estava nem aí para o experimentalismo das vanguardas. Todos eles--Alvaro Alves de Faria, Carlos Felipe Moisés,Celso Luis Paulini, Eduardo Alves da Costa,Eunice Arruda e Roberto Piva--não desistiram do verso. Pelo contrário, o mantiveram vivo através de poemas intimistas, às vezes líricos, às vezes provocativos. Ou engajados e participantes. Reuni apenas.38 poetas, os mais atuantes no eixo rio/são paulo/ minas/rio grande do sul.

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Poeta paulista, tradutora e editora, desempenhou essas atividades com rara lucidez, seriedade e consciência. Traduziu poetas fundamentais como Rilke, Holderlin, Saint-John Perse.Traduziu, também, trabalhos de Jung. Fundou a revista Diálogo, junto com seu marido, o filósofo Vicente Ferreira da Silva. E criou a revista Cavalo Azul, para difusão da poesia. Como poeta publicou 10 livros, ganhou 3 vezes o Jabuti e recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras. Elegias de Duino, obra máxima de Rilke, foi traduzida e editada por ela em 1956. Seu primeiro livro, Andança (1970) também foi editado por ela.

NASCIMENTO DO POEMA É preciso que venha de longe do vento mais antigo ou da morte é preciso que venha impreciso inesperado como a rosa ou como o riso o poema inecessário. É preciso que ferido de amor entre pombos ou nas mansas colinas que o ódio afaga ele venha sob o látego da insônia morto e preservado. E então desperta para o rito da forma lúcida tranqüila: senhor do duplo reino coroado de sóis e luas.

NOTURNO II Nossos olhos nos pertencem — não o dia. Amor não nos pertence nem a morte. Apenas pousam na pérola mais fina. Desce o luar No flanco de rios precipitados folhas se alongam caules estremecem.

A noite já desfere seu punhal de trevas.

MULHER E PÁSSARO Linha invisível liga-me àquela andorinha: tato percorrendo um trajeto de comunhão. O pássaro debate-se em meu peito. Ou coração? A andorinha se esvai na tarde. Leva consigo o que não sei de mim.

BONECA A boneca de feltro parece assustada com o próximo milênio. Quem a aninhará nos braços com seus olhos de medo e retrós?

O signo da boneca é frágil mais frágil que o de pássaro. Confia. Assim passiva o vento brincará contigo franzirá teu avental dirá coisas que entendes desde a aurora das coisas: foste um caroço de manga uma forma de nuvem ou um galho com braços de ameixeira no quintal. Não temas. Solta o corpo de feltro. Assim. Para ser embalada nos braços da menina que houver.

Poeta carioca, escritor, jornalista e crítico literário, desempenhou papel de destaque na famosa revista Civilização Brasileira, dirigida por ele e editada por Enio Silveira nos anos 60. Antes disso, escreveu artigos no ParaTodos, jornal do antigo Partidão, dirigida por Jorge Amado e Oscar Niemeyer. Como poeta colaborou em vários jornais, como o Correio da Manhã, o Diário de Notícias, o Diário Carioca e Jornal do Brasil. Publicou mais de 10 livros de poemas e eu destaco esses dois: Canto para as Transformações do Homem (1964) e Um Poeta na Cidade e no Tempo (1966). Recebeu, em 1960, o premio de melhor livro de poesia por O Pão e o Vinho.

INICIAÇÃO — Meu pai, o que é a liberdade? — É o seu rosto, meu filho, o seu jeito de indagar o mundo a pedir guarida no brilho do seu olhar. A liberdade, meu filho, é o próprio rosto da vida que a vida quis desvendar. É sua irmã numa escada iniciada há milênios em direção ao amor, seu corpo feito de nuvens carne, sal, desejo, cálcio e fundamentos de dor. A liberdade, meu filho, é o próprio rosto do amor. — Meu pai, o que é a liberdade? A mão limpa, o copo d’água na mesa qual num altar aberto ao homem que passa com o vento verde do mar. É o ato simples de amar o amigo, o vinho, o silêncio da mulher olhando a tarde — laranja cortada ao meio, tremor de barco que parte, esto de crina sem freio.

— Meu pai, o que é a liberdade? É um homem morto na cruz por ele próprio plantada, é a luz que sua morte expande pontuda como uma espada. É Cuauhtemoc a criar sobre o braseiro que o mata uma rosa de ouro e prata para a altivez mexicana. São quatro cavalos brancos quatro bússolas de sangue na praça de Vila Rica e mais Felipe dos Santos de pé a cuspir nos mantos do medo que a morte indica. É a blusa aberta do povo bandeira branca atirada jardim de estrelas de sangue do céu de maio tombadas dentro da noite goyesca. É a guilhotina madura cortando o espanto e o terror sem cortar a luz e o canto de uma lágrima de amor. (...)

O POEMA Ou se vive por inteiro ou pela metade a gente escreve a vida que não viveu. E o papel em branco então serve como serve ao prisioneiro a parede branca do cárcere. O que não foi é o ser que é no poema, esse ato mágico de uma chama que não se vê tanto mais quanto ela queima no ar de uma cela vazia o homem que é posto em pé sobre os mortos do seu dia

TARDE NA ILHA Não sei por que, mas tenho uma vontade mansa de tomar chá com Thomas Steams Eliot, de não dizer nada de não perguntar nada, e ficar olhando todas as manchetes e todas as capas de todos os livros, olhando de olhos vazios não como os do morto, mas vazios como o luar que orvalha a tamareira e o poço.

Uma vez ou outra, ouvirei a colherinha pousar na porcelana frágil, e é tudo que eu ouvirei, a colherinha de prata.

Talvez até lhe disesse uma coisa qualquer, uma coisa só para quebrar o silêncio, só para isso, uma coisa sem importância, simples, como por exemplo: Você sabe, ó T. S. Eliot, minha mãe já foi muito bonita ...

SENTIMENTO CLÁSSICO Pisados, os olhos com que pisaste a soleira escura de minha face; e por mais pontes que entre nós lançasse, ao que de fato sou nunca chegaste. Que distâncias lamento, e que contraste ! Gravando em cada ser o amor que nasce não encontrei o amor que me encontrasse: amaram sem me ver, como me amaste. Tinha os olhos tristes como eu tenho, e o pranto que eu te trouxe de onde venho é o mesmo que te espera adonde vais. Se a mesma sóbria dor em tudo pomos, não vês o que me calo. E assim nós somos o que não somos nem seremos mais.

Poeta paulista, nascida em Itapira, é escritora, pintora, desenhista, capista e ilustradora de livros. Publicou mais de noventa livros nas áreas de poesia, romance, literatura infantil, artes plásticas. Foi professora de pintura e de piano. Representou o Brasil em poesia, em Toluca (México), em 1972, e em Artes Plásticas, em Santiago (Chile), em 1974.Teve poemas traduzidos para o inglês, francês, espanhol, italiano, japonês, latim, norueguês e alemão.Seu livro de estreía, Estrela Descalça, (1960) saiu na Coleção dos Novíssimos do Massao Ohno e foi ilustrado por Manubu Mabe.

EM RITMO DE CREPÚSCULO, O ANJO Engastada na névoa, a sombra luminescente do Anjo, e os lírios refletindo seu reflexo. No ar, um cheiro de surpresa Encarcerou-lhe a cítara. E na invisível interrogação, eu, com opção de horizonte, necessitando do Anjo, no sempre-passado e no futuro. E ele com amnésia, sem acordar meus deuses, fluindo e refluindo seu perfume, sem poder auxiliar-me. ACALANTO À MÃE Mãe-índia, filha de Eva, pousam-me as mãos deoutras eras na tatuage,m do teu colo... Mãe-preta sorrindo branco por sobre o leite ofertado, trago uma rosa aos teus seios! Mãe-branca, senhora minha, a lua beija tua fronte, estrelas sonham em tuas faces!

Ouve que as fontes se ajoelham quando teus passos de imagem cantam ante berços ou chagas!

Poeta paulista, crítica de cinema e psiquiatra –embora nunca tenha exercido a profissão. Publicou poemas nos livros A Mãe e o Irrevogável (1957),Antecipação(1963), Poema Cíclico(1962)e Nova idade(1969). Foi presidente da APCA e exerceu a crítica de cinema no Estadão e na antiga revista Senhor. Participou de leitura pública de poemas como convidada da Catequese Poética. Obteve boa repercussão crítica nos anos 60.

Um diálogo estabelece-se entre Terra e cosmos magnífico terrorífíco céu Inferno deus demônio profeta em seu carro de fogo o astronauta fala e sua voz se transforma em palavra nova ......................................................................................................

Onde deus se sua essência vai além do ar do vácuo ninguém jamais viu o rosto daquele que cria visões terrificantes visões do céu a Terra que deus habita onde sua força acumulada em séculos de repente explode na atormentada na obscura fórmula do Homem”

Poeta, pesquisador e ensaísta, o belorizontino foi um dos fundadores da revista de poesia Tendência (1957), que dialogava com os horizontes concretistas. Seu primeiro livro, O Açude. Sonetos da Descoberta (1953) pagou um tributo à estética da geração de 45, embora seus sonetos desrespeitem o rigor formal. Em 1961, saiu seu livro Carta do Solo; em 1963, Frases-feitas. Em 1972, Código Nacional de Trânsito. Em 1967, tornou-se colaborador da revista Invenção.Ganhou 2 Jabutis(1991 e 2001) e o prêmio Cdade de Beo Horizonte(1961)

O AÇUDE Há neste açude lendas afogadas, deuses dormindo o sono que os transcende. Nenhuma sede irá buscá-lo incauta. Nele, porém, dois cães vigiam sempre. Não há peixes no açude, nem há vagas. A seu apelo mudo na atende O vento viajor das madrugadas. O açude é um cemitério diferente. Os mesmos cães na ladram. Pelo afã Soment é que parecem-nos dois cães. O açude é um muro longo, erguido em gelo, Que por castigo os deuses sem destino tornaram mausoléu, doando ao limo o segredo final para rompê-lo. INSÓLITO contato é impudicícia ou carência de tato gesto que sai do corpo como um salto de gato suave rude ardil ou busca de gozo rei dos sentidos empós do amor ou do afeto sondagem de quem sonhou e argui de fato a empáfia escondida entre haustos do só não temer o impacto da astúcia colher a rosa no ramo propício enquanto é vermelha e saborear o odor a cor o íntimo calor é tarde é breve mas intensa de brilho signo de infinito clamor que não calou no estamento do tempo e rói fundo o apetite que resta via possível na corrosão do palor e usá-la a furto oculto imponderada lapela fim ou princípio sorte lançada defasado cupido

dentro da faixa fora do perigo dentro da fauna fora do perigo dentro da farsa fora do perigo dentro do falso fora do perigo dentro do fácil fora do perigo IMPROVISO A palavra justa a mim não pertence, busco-a nessa luta em que não se vence, trabalho diário, pelo amor de sempre. A palavra triste a mim não pertence, perco-a numa lide cujo amor me vence, trabalho diário pelo amor de sempre. A palavra louca a mim não pertence, bebo-a noutra boca e ela me convence, trabalho diário pelo amor de sempre. LE BATEAU IVRE Os jovens cabeludos da rua onde mora o poeta têm fama de fumar maconha Os jovens cabeludos da rua onde o mora o poeta fumam maconha Os jovens cabeludos fumam maconha na rua do poeta Os jovens cabeludos fumam maconha na casa do poeta Os jovens cabeludos fumam maconha em sua casa com o poeta Os jovens cabeludos buscam maconha na casa do poeta Os jovens cabeludos buscam droga na casa do poeta Os jovens cabeludos saem drogados da casa do poeta Os jovens são drogados pelo poeta O POETA É UM TRAFICANTE DE DROGAS

EXPRESSÃO CORPORAL liberar o corpo deste pano grosso deste pelo exposto caldo de cult ura corte e costura mídia e ficçã o meia-confecção apertada no pei to afetada jaqueta de má consciê ncia máscara de nascença arrocha da ao rosto rótulo rubrica image m impune ícone ideológico liberar o corpo deste estômago sô frego deste espaço da fome lugar da devoração dia nunca da caça d ia sempre do caçador dente moend a do saque digestão do animal pr edador praga do egito ave de ra pina rato formiga gafanhoto gula de pantagruel liberar o corpo desse potro solto deste pênis pênsil pater et circe nsis regalo de galo guru do org asmo ereção do rei salomão eros do barba azul astral de serralho sarraceno fatalidade do falo fú ria fornicandis império dos sent idos insânia semântica

a chave do código escreve-se strip-tease

Poeta paulista, é o mais velho da Antologia dos Novíssimos, publicada em 1961, pelo Massao Ohno e que reuniu jovens poetas que tinham por volta de 20 anos. Caso de Alvaro Alves de Faria, Carlos Felipe Moisés,Eduardo Alves da Costa, Eunice Arruda e Roberto Piva.Celso cursou letras clássicas na USP lá no prédio da Maria Antonia, local que foi um ponto de encontro desses jovens poetas. Publicou O Gerifalto(1963) e O Gerifalto primus et secundus(1979). Dramaturgo, trabalhou em parceria com Antonio Bivar em algumas peças.

O GERIFALTO (PRIMUS) O amor é nu. É forma e sobressalto. No azul desta avenida verde-cana Entre mulher e cão, um lobo e asfalto, Um gerifalto passeia sua doidice. A ebúrnea orelha abana. Dizem: “Ama”. Ao gerifalto, pobre, falta-lhe a gama Comum de converter a viva flama Em menor chama: flerte de verão. O pé então falseia. Nariz no chão. Pela doce coluna vertebral Um furacão assoma. Entra em coma. O gerifalto morre. Já não ama.

O GERIFALTO (SECUNDUS)

Sutis demais Não eram vistas as patas coruscantes Embora nos desertos interiores Suas marcas fervilhassem.

Inevitável o enrodilhado da crina Orgulho da raça Graça Febre imortal que aos picos alucina. Passeava o animal pela campina Fendendo nuvens com os cornos enristados E mordiscando ervas encantadas.

Posto que só — último da espécie — Como um deus em si se refloria Narcisado nas águas luxuriantes. Suas ancas, dizê-lo, quase é um crime Tal o cio, o céu, a fome de suas curvas Irrompendo na tarde enlouquecida. O mundo, pobre, em dores renascia Sem alcançar as veias do pescoço Que era enxuto, nobre, de altivo porte — Linha pura e fria — Talvez um cântaro esclarecido pela morte. Nenhuma jóia, adorno algum, Apenas o silêncio envolvia Como um leve lenço de cambraia. Sobravam-lhe dentes. Em demasia. Tão grande o esplendor da superior arcada Que os olhos ofuscados refluíam.

VÊNUS NO TELHADO Não é a vida que me preocupa: é Vênus no telhado. Onde as pálpebras onde o umbigo onde o ambíguo sorriso em ágil espreita de amor? Onde? Em que azuis por que nuvens em que ventos? Etéreas coxas de ontem sulcam-lhe hoje estrias e sem lustre o nácar dos dentes rói um fruto apodrecido. Não, não é o vapor da madrugada que nos afoga. São chaminés apitos fumo de fábricas e alergia nos brônquios irritados. Ainda assim (por Zeus!) é Vênus no telhado: divina – posto que suja –quase indiferente e os transparentes véus tão encardidos. DÁVAMOS AS MÃOS Dávamos as mãos como se a abstrata figura tivesse a carne madura para os encontros seletos. A morte nos conduzia com mil dedos e cuidados por vales nunca varridos pelos miasmas da vida. A morte falava sempre de seu horror bem-fundado pelas formas que se agitam sob a luz dúbia do dia. OS MORTOS PERSPICAZES Perspicazes são os mortos com seus ouvidos de cera. Nenhuma palavra escapa a sua argúcia doentia: sussurro de amor ou ditas ao mais cruel desafeto ou então as desgarradas proferidas sob o vento. E catalogam na sombra de sua infinita paciência mesmo os versos mais frios de nossa humana carência.

Atentos vão derrubando os mais severos segredos: o falso orgasmo, este medo, e uma corrente fria que detém na tarde em pranto o gesto que salvaria.

RIOS NOTURNOS Os rios que me fizeram gastar o precioso tempo eram rios de pouca monta: águas baças, modorrentas... Pelos vazios da noite chegavam-me a face insone e suas águas amargas não prometiam retorno. Talvez ao mar arribassem ou, quem sabe, pela noite em nuvens se dissolvessem.

Poeta, dramaturga, cronista e ficcionista construiu obra extensa e variada com mais de 40 títulos. Nos últimos anos de sua vida, acho que em 1990, anunciou seu “adeus à literatura séria” e tornou-se uma autora pornográfica. Seu objetivo era vender mais livros e conquistar o reconhecimento do público. Essa postura da poeta causou espanto e indignação entre amigos e críticos. O editor Caio Gracco, da Brasiliense, negou-se a publicá-la. Hilda ganhou o Jabuti duas vezes e o APCA também duas vezes. Fez uma poesia profunda, comovente e originalíssima.

AMAVISSE Como se te perdesse, assim te quero. Como se não te visse (favas douradas Sob um amarelo) assim te apreendo brusco Inamovível, e te respiro inteiro Um arco-íris de ar em águas profundas. Como se tudo o mais me permitisses, A mim me fotografo nuns portões de ferro Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima No dissoluto de toda despedida. Como se te perdesse nos trens, nas estações Ou contornando um círculo de águas Removente ave, assim te somo a mim: De redes e de anseios inundada.

DEZ CHAMAMENTOS AO AMIGO Se te pareço noturna e imperfeita Olha-me de novo. Porque esta noite Olhei-me a mim, como se tu me olhasses. E era como se a água Desejasse Escapar de sua casa que é o rio E deslizando apenas, nem tocar a margem. Te olhei. E há tanto tempo Entendo que sou terra. Há tanto tempo Espero Que o teu corpo de água mais fraterno Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez. E mais atento.

AQUELA Aflição de ser eu e não ser outra. Aflição de não ser, amor, aquela Que muitas filhas te deu, casou donzela E à noite se prepara e se adivinha Objeto de amor, atenta e bela. Aflição de não ser a grande ilha Que te retém e não te desespera. (A noite como fera se avizinha) Aflição de ser água em meio à terra E ter a face conturbada e móvel. E a um só tempo múltipla e imóvel Não saber se se ausenta ou se te espera. Aflição de te amar, se te comove. E sendo água, amor, querer ser terra.

PORQUE HÁ DESEJO EM MIM Porque há desejo em mim, é tudo cintilância. Antes, o cotidiano era um pensar alturas Buscando Aquele Outro decantado Surdo à minha humana ladradura. Visgo e suor, pois nunca se faziam. Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo Tomas-me o corpo. E que descanso me dás Depois das lidas. Sonhei penhascos Quando havia o jardim aqui ao lado. Pensei subidas onde não havia rastros. Extasiada, fodo contigo Ao invés de ganir diante do Nada. AOS HOMENS DO NOSSO TEMPO Enquanto faço o verso, tu decerto vives. Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue. Dirás que sangue é o não teres teu ouro E o poeta te diz: compra o teu tempo. Contempla o teu viver que corre, escuta O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo. Enquanto faço o verso, tu que não me lês Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala. O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas: “Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas”. Irmão do meu momento: quando eu morrer Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo: MORRE O AMOR DE UM POETA.

E isso é tanto, que o teu ouro não compra, E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto Não cabe no meu canto.

XIX Se eu soubesse Teu nome verdadeiro

Te tomaria Úmida, tênue E então descansarias.

Se sussurrares Teu nome secreto Nos meus caminhos Entre a vida e o sono

Te prometo, morte, A vida de um poeta. A minha: Palavras vivas, fogo, fonte. Se me tocares, Amantíssima, branda Como fui tocada pelos homens Ao invés de Morte Te chamo Poesia Fogo, Fonte, Palavra viva Sorte.

Poeta piauiense, iniciou-se como cronista na Província do Pará, aos 16 anos.Interrompeu os estudos na Faculdade de Direito do Pará e estudou, como bolsista, língua e literatura inglesa na California. Foi tardutor da ONU, em 1959-1960. Autor de um só livro – O Homem e sua Hora (1955) e de poemas esparsos, publicados em revistas e jornais. Notabilizou-se como crítico literário no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil com a seção Poesia-Experiência, no auge dos movimentos concretista e neoconcretista.

O MUNDO QUE VENCI DEU-ME UM AMOR O mundo que eu venci deu-me um amor, Um troféu perigoso, este cavalo Carregado de infantes couraçados. O mundo que venci deu-me um amor Alado galopando em céus irados, Por cima de qualquer muro de credo. Por cima de qualquer fosso de sexo. O mundo que venci deu-me um amor Amor feito de insulto e pranto e riso, Amor que força as portas dos infernos, Amor que galga o cume ao paraíso. Amor que dorme e treme. Que desperta E torna contra mim, e me devora E me rumina em cantos de vitória...

RESSSUSCITADO PELO EMBATE DA RESSACA Ressuscitado pelo embate da ressaca, Eu, voz multiplicada, ergo-me e avanço até O promontório onde um cadáver, posto em maca, Hecatombado pela vaga, acusa o céu Com cem olhos abertos. Fujo e, maiis adiante, O açor rebenta o azul e a pomba, espedaçada, Ensanguenta-me o rastro. Avante, sombra, avante, Cassa-me a paermissão de fica vivo. O nada Ladra a meu lado, lambe e morde o calcanhar Sem asas de quem passa e no espaço se arrasta Pedindo paz ao fim, que o princípio não basta: A vitória pertence ao tempo que no ar Agita um homem só, troféu tripudiado Pela noite que abate o sol no mar manchado.

SONETO II Necessito de um ser, um ser humano Que me envolva de ser Contra o não ser universal, arcano Impossível de ler A luz da lua que ressarce o dano Cruel de adormecer A sós, à note, ao pé do desumano Desejo de morrer. Necessito de um ser, de seu abraço Escuro e palpitante Necessito de um ser dormente e lasso

Contra meu ser arfante: Necessito de um ser ao meu lado Um ser profundo e aberto, um ser amado. SONETO ANTIGO Esse estoque de amor que acumulei Ninguém veio comprar a preço justo. Preparei meu castelo para um rei Que mal me olhou, passando, e a quanto custo. Meu tesouro amoroso há muito as traças Comeram, secundadas por ladrões. A luz abandonou as ondas lassas De refletir um sol que só se põe Sozinho. Agora vou por meus infernos Sem fantasma buscar entre fantasmas. E marcho contra o vento, sobre eternos Desertos sem retorno, onde olharás Mas sem o ver, estrela cega, o rastro Que até aqui deixei, seguindo um astro. PREFÁCIO Quem fez esta manhã, quem penetrou à noite os labirintos do tesouro, quem fez esta manhã predestinou seus temas a paráfrases do touro, a traduções do cisne: fê-la para abandonar-se a mitos essenciais, desflorada por ímpetos de rara metamorfose alada, onde jamais se exaure o deus que muda, que transvive. quem fez esta manhã fê-la por ser um raio a fecundá-la, não por lívida ausência sem pecado e fê-la ter em si princípio e fim: ter entre aurora e meio-dia um homem e sua hora.

Poeta pauistana, advogada, professora universitária e dramaturga, chegou a ser presidente da Comissão Estadual de Teatro, de 1969 a 1970, sucedendo à atriz Cacilda Becker Tem mais de 20 livros publicados, é autora de 21 peças teatrais, além de vários roteiros para seriados de televisão e de traduções e ensaios. Já recebeu prêmios como Molière, Anchieta e Governador do Estado, em teatro; Pen Club e Jabuti, em poesia; e APCA, em tradução e televisão. Já fez leitura de poemas com o grupo Catequese Poétca e acha que a poesia é o seu centro irradiador.

FINISTERRAE Aqui começa o fim Feito de vento.

Enlouqueceu a bússola Do tempo. Naufragam as certezas Do infinito. Aqui se acaba o mapa Nasce o mito.

Aqui começa a morte Em naves findas . Aqui começa o medo. Como um grito. BAGDA 20 de março, 2003 Onde nasceu o mundo morre o mundo.

O oriente amanhece no meu quarto. Soldados nunca falam. Matam e escrevem cartas.

Correspondentes de guerra se arriscam por uma imagem. As mulheres e as crianças essas morrem caladas.

BURITI CRISTALINO

Para Lamarca e os outros

Ele andou por três dia na caatinga. No quarto dia ajoelhou de fome. No quinto adormeceu ao pé da baraúna. No sexto foi encontrado e metralhado pelos guardas.

E no sétimo descansou.

A vida vindo a ser o que devia: absolutamente agora sem nenhum

outro dia. SAPATOS SOVIÉTICOS E CORAÇÃO CUBANO Te vejo, velho, andando calmo por uma avenida com teus sapatos soviéticos e coração cubano. Não sabes nada de aberturas; tens um sorriso aberto, cabelo de povo e uma cara de galego emigrado. Dizes “pá lo que sea, Fidel” e queres viver, todos queremos viver, mas há um momento em que o calor faz apertar o sapato. Sucede a qualquer um; sentas num banco te descalças lentamente, sacas as meias velhas, aspiras com prazer e o pé moreno emerge. Não temas; não precisas olhar para os lados. Não; ninguém está vendo esses teus dedos anárquicos... InVENTÁRIO (II) Avó, que pretendias com as letras escritas, que palavras dizias avó, qual a mensagem que este ouvido perdeu? Foste tu ou fui eu avó, quem distraiu e o trato não cumpriu? E se estavas calada tu não dizias nada ou era erro meu? Avó, quando morreste, quem morreu?

É um dos poetas mais injustiçados deste país. Publicou um único e excelente livro nos anos 60, Lamentações de Fevereiro, na coleção Novíssimos -- do Massao Ohno. Depois disso caiu no esquecimento e teve apenas um trecho desse poema republicado na Antologia Poética da Geração 60, organizada pelos poetas Álvaro Alves de Faria e Carlos Felipe Moisés. Como vocês poderão ver, esse poema abre exatamente com o mesmo verso com que Camões dá início ao seu célebre poema Babel e Sião. (Sôbolos rios que vão por Babilônia...)

Sôbolos rios que vão por Babilônia o tempo de chegar gerou a espera e as mãos que me seguiram no caminho teceram o foi e o que não era. Sôbolos rios, tristes águas noites, Babilônia outra vez ressurge em dias e presente é passado e história é fuga do escuro de teus olhos quando vias. Por que tempo de amar, por que destêrro nessa esfera armilar dentro do escuro, onde barões assinalados, rudes, cruzam as armas sobre a cruz de um muro? Aqui é Babilônia. É parte alguma onde tudo está. E armado em sangue singra o tempo vazio o espaço exangue. As palavras estão cansadas. Sem deuses, a palavra cai na conjura dos povos, dorme no sobressalto das sílabas e ressoa difícil, inquieta no labirinto dos significados. Semente que aguarda a madurez dos mitos Palavra árvore de lúcidas sombras e frutos pressentidos nas raízes.

Inútil lutar nesse horizonte de gritos Inútil crispar mãos, ritos e gestos para a chegada dos tempos em que amor fale de nós. Mas nossa voz é gasta como o olhar dos mortos e os ritos já se perdem na pronúncia dos ventos dissimulados no perfil de outrora. Resta o gesto que somos na escuridão sem memória. Pois o que pensamos, nossa casa onde se diz mesa, leito e cartas esquecidas, o vaso de flores absortas e livros longamente tocados no vazio das noites: é ceia na memória. A simples memória de sermos o fruto de sabor prematuro nas línguas do vento agitando vozes de outra essência pelas estradas de Fevereiro. Mas permanecemos. Aqui. Sobre coisas ocultas.

Aqui. no que nos mantém, pois mantemos o que nos mantém, fiéis a um compromisso de vozes articuladas sem berço.

O GALO Na Cruz principia o sentido do meu canto. Fiel ao tempo, esta planície que ignoro, desperto os sinos, os lençóis, a pressa, o repetido exercício da vida humana. No último dia, quando se confundirem céus e terra, ainda estarei ali e levantarei minha garganta ao Senhor, pedindo a graça de permanecer em silêncio, sem mais os dias, sem mais os homens.

A BORBOLETA A memória dos homens é povoada de impérios, de duras coroas e espadas, do rumor de altos momentos, da melodia que a lágrima consagra, de ruas que se perdem, de rostos que se apagam, países que jamais pisaremos, palavras e datas que nunca voltarão.

Eu quero guardar apenas o instante em que leve e azul e transparente pousaste na nudez da minha mão

A MINHOCA Não fui eleita não sou bela, nem sei se existo ou apenas insisto em anular-me sob a terra..

O CÃO Pois que ficaste do nosso lado és quase humano. Com o primeiro afago apago o que tens de cão e dou-te meu nome, chamo-te meu irmão.

Poeta paulistana estudou literatura, línguas, artes. biblioteconomia e iniciou curso de filosofia na USP. Em 1961, apresentava um programa de TV, que a projetou publicamente. Em 1956, lançou seu primeiro livro de poemas, Monólogos do afeto e viajou para o Chile onde conheceu o poeta Pablo Neuda. Seu último livro, Poemas ao Outro,1970, conquistou o prêmio governador do Estado. Em 1968 integrou a equipe de professores-fundadores da ECA, lecionando Estética e Pensamento Filosófico.

SAUDADE (a Guilherme de Almeida) A saudade é o limite da presença, estar em nós daquilo que é distante, desejo de tocar que apenas pensa, contorno doloroso do que era antes.

Saudade é um ser sozinho descontente um amor contraído, não rendido, um passado insistindo em ser presente e a mágoa de perder no pertencido.

Saudade, irreversível tempo, espaço da ausência, sensação em nós premente de ser amor somente leve traço

num sonho vão de posse permanente. Saudade, desterrada raiz, vida que se prolonga e sabe que é perdida.

ARS POÉTICA Da desordem nunca erguerei um verso. Bem sei que na bela superfície de um momento, existe o alento da Poesia. Mas é do futuro, é do instante que serve a continuidade da vida em sentimento, que desejo o meu poema. O Homem, sofrido a prosseguir na sua eternidade construída — — eis o meu tema.

DE PEDRA — Eu sou de pedra, me dizias, a defender tua distância.

E esquecias o musgo, essa tua epiderme de ternura,

e o teu corpo de carinhos, num horizonte de água e terra, a te envolver na vida.

— Eu sou de pedra — insistias. — Pesado. Denso. Inalterável. De estofo eterno. Apenas estou, não sofro; se algum gesto me ferir, eu sou duro; quebrarei o gesto sem sentir. E esquecias que és pouso de borboletas, alicerce de flores, abraço de raízes, vulnerável em tudo do que em ti pertence e minha mão possui, acaricia. — Eu sou de pedra. E esquecias, esquecias.

DESTINO MINERAL Sou feita de uma carne perecível futuro de outra carne, sem nenhuma eternidade. A rocha é uma invencível parte da terra; que ela me resuma no seu mesmo destino mineral. A solidez ausente que tortura nossa matéria frágil, no final se renderá: serei de pedra dura. Nunca mais chorarei nessa passagem de poesia. Com nítida certeza, recorto nas montanhas minha imagem mais que raiz, expressa na beleza. Pela terra em que não me desfiguro, hei de surgir um dia em cristal puro.

Pintor, poeta, cronista, contista e romancista, Eduardo Alves da Costa é hoje, aos 84 anos, um ilustre desconhecido. Injustamente seu nome permanece oculto do grande público. No entanto, ele já foi louvado por Antonio Houaiss e outros figurões. Seu único livro de poemas, No Caminho, com Maiakovsky (1985) tornou-o celebridade por causa desse poema que acabou dando o título ao livro e originou um enorme mal entendido. Apesar de ter sido bandeira contra a ditadura em pôster, cartões postais, estampa de camiseta, a autoria era atribuida ao poeta russo.

NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI Assim como a criança humildemente afaga a imagem do herói, assim me aproximo de ti, Maiakósvki. Não importa o que me possa acontecer por andar ombro a ombro com um poeta soviético. Lendo teus versos, aprendi a ter coragem.

Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história. Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho e nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm a ninguém é dado repousar a cabeça alheia ao terror. Os humildes baixam a cerviz: e nós, que não temos pacto algum com os senhores do mundo, por temor nos calamos. No silêncio de meu quarto a ousadia me afogueia as faces e eu fantasio um levante; mas amanhã, diante do juiz,

talvez meus lábios calem a verdade como um foco de germes capaz de me destruir.

Olho ao redor e o que vejo e acabo por repetir são mentiras. Mal sabe a criança dizer mãe e a propaganda lhe destrói a consciência. A mim, quase me arrastam pela gola do paletó à porta do templo e me pedem que aguarde até que a Democracia se digne aparecer no balcão. Mas eu sei, porque não estou amedrontado a ponto de cegar, que ela tem uma espada a lhe espetar as costelas e o riso que nos mostra é uma tênue cortina lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo e não os vemos ao nosso lado, no plantio. Mas no tempo da colheita lá estão e acabam por nos roubar até o último grão de trigo. Dizem-nos que de nós emana o poder mas sempre o temos contra nós. Dizem-nos que é preciso defender nossos lares, mas se nos rebelamos contra a opressão é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo. Por temor, aceito a condição de falso democrata e rotulo meus gestos com a palavra liberdade, procurando, num sorriso, esconder minha dor diante de meus superiores. Mas dentro de mim, com a potência de um milhão de vozes, o coração grita - MENTIRA!

Poeta e dramaturgo, formou-se em direito na USP e participou da fundação do Grupo de Teatro Oficina que estreou com a peça A ponte, de sua autoria. Trabalhou em publicidade, dedicou-se ao magistério e à criação de programas para tv. Tem mais de 50 obras editadas e mais de duas dezenas de peças encenadas no Brasil. No exterior, seus textos já foram encenados em mais de 20 países. Pelos seus trabalhos, recebeu inúmeros prêmiosMoliére(72 e 75),da ABL (1972), APCA (72, 73,75, 77, 81, 84, 88, 92). Como poeta publicou 8 livros, recebeu prêmio do Pen Clube e foi elogiado por Wilson Martins, um dos mais rigorosos e respeitados criticos do Brasil.

RECADO Vocês podem me falar. Vocês podem me explicar. Vocês podem me ensinar. Vocês podem me pedir. Vocês podem me exigir. Vocês podem me ordenar. Vocês podem me forçar. Vocês podem me obrigar a fazer o que eu não quero. Só não venham, por favor, me dizer o que eu quero! POETA&POEMA nem sempre o poeta ronda o poema como uma fera à presa. às vezes, fera presa e acuada entre as grades do poema-jaula, doma-o o chicote das palavras CREDOCARD Ladrões, afastai-vos de mim! Mendigos, recolhei as vossas mãos! Nada tenho a perder. Nada posso oferecer. Não preciso de dinheiro, sou um homem inédito. Comprei minha liberdade com trinta cartões de crédito. OPINIÃO PÚBLICA Quem me disse que eu quero o que eu quero? Quem me fez precisar o que eu preciso precisar? Alguém deve saber o que eu sei que não sei.

EU EM MIM Enfim, esse é meu corpo, flor que amadureceu Estalo os dedos é sonho Respiro fundo é brisa Estendo os braços é asa Libero as fibras é voo Esperança resolvida Verso que ficou pronto Meu corpo é assim. Olho seu rosto, mistério Ouço sua voz, estrangeira Sinto seu suor, lembranças Sinto sua pele, sou eu! Sou eu para a dor e o prazer Para o sabor e o saber Para a emoção de viver Viagem tão companheira! Sou eu sim, Sou eu assim, Sou eu enfim, Com meu corpo em mim. QUARTO-SALA-SOLIDÃO A moça mora sozinha, quarto-sala-solidão. O apartamento é pequeno, mal cabe o seu coração. Mal cabe o medo da vida, mal cabe o medo da morte, mal cabe o medo do amor. O apartamento é menor do que o orçamento do mês, do que o ferrolho da porta que nunca se abre de vez. O aparftamento não existe. A moça mora em si mesma, quarto-sala-solidão.

Poeta paulista, professora universitária, socióloga e pedagoga. Estreou, em 1960, com A violeta e o espelho. Seguiram-se A irmã escolhida(1961), Canto de Amor e Morte para um rei(1963), Eu do teu ser(1964) e O poeta e a Origem(1966). Teve vários poemas traduzidos para o francês, inglês e espanhol. E participou de diversas antologias. Obteve boa repercussão crítica nos anos 60.

A DANÇA DOS CIPRESTES Sou apenas uma mulher pequena que escuta o nascimento das plantas Sem entender-lhes o diálogo. Sou pequena e estou cansada de interrogar-me, De perscrutar sempre as mesmas coisas Para sempre descobrir que os homens são tristes. Ah, meus irmãos A estrêla se aproxima Para nunca mais regressar. Ainda bem que a noite desceu E o luar me visita em casa É ele que me deixa nua Enquanto os ciprestes bailam. LÊDA SEM CISNE Está solto na alegoria Lúcido cisne Num lago sem fêmea. À noite um piano me visita Não sei se sou Lêda Só sei que estremeço Nas gazes do sono. E não vejo a presença.

O GRANDE CREPÚSCULO Vai buscar pois as cinzas na planície E lava-as no orvalho dos lírios incendiados Vai buscá-las e com esses restos reconstrói na cinza insensível Teu amante mutilado.

A papoula jaz profundamente sepultada na areia que o vento agita. Acorda-o sem rumor e dança em redor dos juncos vermelhos Ai seus cabelos rescendem a nardo e pétalas de loto. Para ti florescem os narcisos. (Pouco faltará para chegarmos a esse grande crepúsculo). Como poderei salvar até ao amanhecer a grande flor que cresce no precipício?

Poeta, ator, diretor de cinema, Parolini atuou no underground paulista entre o final dos anos 1950 e o começo dos anos 1970. Não deixou nenhum livro publicado: sua obra foi recusada por vários editores. Dirigiu o primeiro filme underground brasileiro, Via Sacra (1965), que não existe mais. Com medo de ser preso, torturado e o filme confiscado,Parolini picotou todo o negativo. Deixou quatro coletâneas de poesia: Poemas (1957-1961), Poemas do pequeno assassino (19631964), O pântano (1964-1968), e Cartas de Babilônia (19681972).

O SUICIDA 1. sua mão boiava como um gesto partido perdido na derradeira aurora, olhos de vidro, as lágrimas todas guardadas num prenúncio de voz e o silêncio entre as pedras talvez não tenha chegado a hora do desejo – e o suicida dorme amanhã será a vigília do mutilado (no chão as flores impenitentes) quando pedir a imutável água (nas taças de cristal as flores impenitentes) os pés nos espinhos repousando (no remo as flores impenitentes) o nada importará o anseio do seu grito (na face do amigo as flores impenitentes) e nada importará o desconhecido para à margem do caminho flutuam entre os dedos as flores impenitentes nos trilhos, o suicida dorme aguardando a sombra

5.

na hora precisa, exata, no momento exato virão as brumas afagar as sombras desprendidos os braços em gestos mútuos para o anseio, na hora precisa, no momento exato a flor na jarra chora uma lágrima (murcha) vazio o leito, a forma abandonada o SUICIDA já se prepara na hora precisa, no momento exato quando o relógio face ante o espelho mostrar o tempo, nesse instante perene Ele voará

sobre a mesa repousa todo o passado a água no copo se evapora pela noite alguém entrou amedrontado

Poeta paulistano e figura polêmica, estreou nos anos 1960 tornando-se conhecido por sua postura de poeta rebelde na linha da geração beat, cujos reflexos se fazem sentir em uma poesia surrealista, de cunho erótico. Leitor apaixonado de Dante, e iniciado no xamanismo, extrai dessas vertentes sua inspiração. Participou da Antologia dos Novíssimos (1961) e de 26 poetas hoje (1976) .Obra poética: Paranóia (1963); Piazzas (1964); Abra os olhos e diga ah! (1975), Coxas (1979), 20 poemas com brócoli (1981), Quizumba (1983), Antologia poética (1985) e Ciclones (1997).

POEMA PORRADA Eu estou farto de muita coisa não me transformarei em subúrbio não serei uma válvula sonora não serei paz eu quero a destruição de tudo que é frágil: cristãos fábricas palácios juízes patrões e operários uma noite destruída cobre os dois sexos minha alma sapateia feito louca um tiro de máuser atravessa o tímpano de duas centopéias o universo é cuspido pelo cu sangrento de um Deus-Cadela as vísceras se comovem eu preciso dissipar o encanto do meu velho esqueleto eu preciso esquecer que existo mariposas perfuram o céu de cimento eu me entrincheiro no Arco-Íris Ah voltar de novo à janela perder o olhar nos telhados como se fossem o Universo o girassol de Oscar Wilde entardece sobre os tetos eu preciso partir um dia para muito longe o mundo exterior tem pressa demais para mim São Paulo e a Rússia não podem parar quando eu ia ao colégio Deus tapava os ouvidos para mim? a morte olha-me da parede pelos olhos apodrecidos de Modigliani eu gostaria de incendiar os pentelhos de Modigliani minha alma louca aponta para a Lua vi os professores e seus cálculos discretos ocupando o mundo do espírito vi criancinhas vomitando nos radiadores vi canetas dementes hortas tampas de privada abro os olhos as nuvens tornam-se mais duras trago o mundo na orelha como um brinco imenso a loucura é um espelho na manhã de pássaros sem Fôlego.

JORGE DE LIMA, PANFLETÁRIO DO CAOS Foi no dia 31 de dezembro de 1961 que te compreendi Jorge de Lima

enquanto eu caminhava pelas praças agitadas pela melancolia presente na minha memória devorada pelo azul eu soube decifrar os teus jogos noturnos indisfarçável entre as flores uníssonos em tua cabeça de prata e plantas ampliadas como teus olhos crescem na paisagem Jorge de Lima e como tua boca palpita nos bulevares oxidados pela névoa uma constelação de cinza esboroa-se na contemplação inconsútil de tua túnica e um milhão de vaga-lumes trazendo estranhas tatuagens no ventre se despedaçam contra os ninhos da Eternidade é neste momento de fermento e agonia que te invoco grande alucinado querido e estranho professor do Caos sabendo que teu nome deve estar como um talismã nos lábios de todos os meninos

A PIEDADE Eu urrava nos poliedros da Justiça meu momento abatido na extrema paliçada os professores falavam da vontade de dominar e da luta pela vida as senhoras católicas são piedosas os comunistas são piedosos os comerciantes são piedosos só eu não sou piedoso se eu fosse piedoso meu sexo seria dócil e só se ergueria aos sábados à noite eu seria um bom filho meus colegas me chamariam cu-de-ferro e me fariam perguntas: por que navio bóia? por que prego afunda? eu deixaria proliferar uma úlcera e admiraria as estátuas de fortes dentaduras iria a bailes onde eu não poderia levar meus amigos pederastas ou barbudos eu me universalizaria no senso comum e eles diriam que tenho todas as virtudes eu não sou piedoso eu nunca poderei ser piedoso meus olhos retinem e tingem-se de verde Os arranha-céus de carniça se decompõem nos pavimentos os adolescentes nas escolas bufam como cadelas asfixiadas arcanjos de enxofre bombardeiam o horizonte através dos meus sonhos

Poeta carioca, veio para São Paulo com 4 anos e daqui nunca saiu. Estudou línguas, literatura, artes gráficas, antropologia e pré-história. Escreveu três livros de poesia, ilustrados por ela mesma: Tres viagens em meu rosto(1965), Matéria de abismo(1966) e Caderno de capa azul(1968) em coautoria com crianças. Por esse livro conquistou o Jabuti, em 1969, ano em que passa a escrever para jovens, dedicando-se inclusive à série juvenil de livros policiais e de suspense. Publicou mais de 40 livros nessa área e ganhou mais um Jabuti pela obra Acordar ou Morrer. Participou de leituras públicas de poesia com a Catequese Poética, nos anos 60.

A CORRENTE Um rio imita o Tempo. Quanto passa, caminho de água na margem da água, corrente, minuto impossível — elo. Um rio corta veia rua cadeia-viva a hora-morta de nem hoje ou amanhã. Um dia-tempo não, luz. Um rio flui infinito, cordilheiras, planícies, movimento no fundo do aquário redondo — rotação-translação. Um rio-rua com holofotes nos olhos fortes de luzes — tráfego — de milhões de seres transeuntes.

Passam, postes, pastam — rebanhos enrolam a lã luminosa, uns atrás dos outros.

O rio imita a rua. O mar imita a terra. O peixe imita o homem. PLANETAS Mercúrio Vénus Terra Marte.. . Será que... Será que gente marciana é bicho? Com multipernas e pluribraços nadando no espaço? Comem azuis e rosuras verduras? como comemos Será que entre foguetes como comemos ainda possíveis fadas? — 261 — E anjos de asas sem jato podem voar de fato? Saturno Urano Netuno Plutão.. . Nana nenê, saturninos vêm assustar os meninos. Não faz mal, eu vou pra lua é lá a Terra é uma canção

Poeta, escritor, desenhista, pntor e gravador, nasceu em Paris e com menos de 1 anos a família retornou ao Brasil. É membro da Academia Catarinense de Letras e, entre muitas obras plásticas um de seus trabalhos mais vistosos orna as paredes e a entrada da reitoria da UFSC. Publicou vários livros de poemas:Trinta Poemas, Taça Estendida,Naufrágios e Andanças de Antonio são alguns. Participou de leitura pública de poema com a Catequese Poética nos anos 60.

ESCRITO EM VENEZA Mais vale confiar nos próprios olhos do que nas opiniões. O corpo é única evidência, refletia ele. Sábio Ptolomeu! E pisava com força, prazeiroso, a terra imóvel. Todos reconhecem a incompatibilidade do movimento linear com um globo em rotação. E o vôo dos pássaros? Os homens devem ter enlouquecido! Atualmente ousam discordar até das Escrituras.

Pico Della Mirandola, Dolese, que refuta o Estagirita e prefere – em muitos pontos – seguir a Demócrito; Gomezius Pereira na sua “Pérola Antonina”: Ocelus de Lucania e ainda Rodrigues de Castro. Todos admitem esta cristalina verdade:

“- A Terra é imóvel.”

ANDARILHO Às vezes abre-se uma porta. Avista-se o vestíbulo, uma nesga de salão iluminado. Adivinham-se os fastos da alegria. Dança-se com elegância e gravidade - pois alegria verdadeira é sempre um pouco solene, com certos ares de espanto. Mas logo fecha-se a porta e somente a noite silenciosa se estende à nossa volta.

Poeta, pós-graduada em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, começou a publicar em 1960. É Tempo de Noite foi seu livro de estréia. Seguiram-se mais 11 livros de poemas, além de antologias publicadas nos EUA, Canadá, França, Uruguai. Já foi diretora da UBE e do Clube de Poesia de São Paulo. Ganhou em 1974 o prêmio Pablo Neruda (Argentina) e, em 1997, o de Mérito Cultural da UBE, Rio. Coordenou projetos de divulgação de poesia, deu palestras e organizou oficinas literárias. Seus versos, sempre curtos, são muito bem trabalhados.

UM VISITANTE Quem escreve é um visitante

Chega nas horas da noite e toma o lugar do sono Chega à mesa do almoço come a minha fome

Escreve o que eu nem supunha Assina o meu nome

ERRO Edifiquei minha casa sobre a areia

Todo dia recomeço

OBSERVANDO sim há as horas de trégua Quando se afiam as facas A TERRA É REDONDA Se corro corro o risco de chegar Ao mesmo lugar

HORA POÉTICA Para esquecer esta dor - transformá-la em poesia

Para eternizar esta dor - transformá-la em poesia PROPÓSITO Viver pouco mas viver muito Ser todo pensamento Toda esperança Toda alegria ou angústia — mas ser

Nunca morrer enquanto viver

NOTÍCIAS As crianças morrem Em piscinas lagoas no centro da cidade

o corte na testa barrigas inchadas costas afundadas

As crianças elas também nos abandonam

UM DIA um dia eu morrerei de sol, de vida acumulada na convulsão das ruas

um dia eu morrerei e não podia: há poemas escorregando de meus dedos e um vinho não provado ACIDENTE Uma mulher caiu na rua ninguém viu Pensa que não caiu

CIMENTO ARMADO O cotidiano basta calçadas asfaltos desafogam o coração

Depois há a noite A noite é mãe de afagar cabelos onde seus dedos são constante ausência

Sim o cotidiano basta não tem importância o que não tenho OUTRA DÚVIDA Não sei se é amor

ou minha vida que pede socorro

RIMAS Deus não tem pedra na mão

Ele usa as pessoas - um irmão para nos arrancar de algum chão Ainda não é aqui então É a próxima é a próxima é a próxima a estação AMPLIAÇÃO Construo o poema pedaço por pedaço Construo um pedaço de mim em cada poema

Poeta gaúcho, nasceu em Porto Alegre, formou-se em Direito em 1962 e, no ano seguinte, foi aprovado no concurso para o Ministério Público. Como Promotor de Justiça viajou pelo interior do estado, onde testemunhou seu tempo e seu presente em seus poemas. O Campeador e o Vento (1966), quarto livro do poeta, foi considerado uma nova épica na poesia contemporânea.Foi professor de Português e Literatura, em diversos estabelecimentos de ensino do Rio Grande do Sul. Em 1989 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Sua obra está traduzida em várias línguas.

LISURA Entras na morte, como se entra em casa, desvestindo a carne, pondo teus chinelos e pijama velho.

Entras na morte, como alguém que parte para uma viagem: não se sabe o norte mas começa agora.

Entras na morte, sem escuros, sem punhais ocultos sob o teu orgulho.

Entras na morte, limpo de cuidados breves; como alguém que dorme na varanda enorme, entras na morte.

CÂNTICO Limarás tua esperança até que a mó se desgaste; mesmo sem mó, limarás contra a sorte e o desespero.

Até que tudo te seja mais doloroso e profundo. Limarás sem mãos ou braços, com o coração resoluto.

Conhecerás a esperança, após a morte de tudo. DE COMO A TERRA E O HOMEM SE UNEM Fica a terra, passa o arado, mas o homem se desgasta; sangra o campo, pasce o gado, brota o vento de outro lado e a semente também brota. Fica a terra, passa o arado e o trabalho é o que nos passa, como nome, como herança; fica a terra, a noite passa. A semente nos consome, mas a terra se desgasta. 2. Que será do novo homem sobre a terra que vergasta ? Sangra a terra, pasce o gado e o trabalho é o que nos passa.

Vem o sol e cava a terra; a semente é como espada. Há uma noite que nos gera quando a noite é dissipada.

Vem a noite e cava a terra; vem a noite, é madrugada. 3. O homem se desgasta, sopro misturado ao sopro rijo do arado. Vai cavando.

Madrugada sai da terra, como um corpo se entreabre para o orvalho e para o trigo.

O homem vai cavando, vai cavando a madrugada.

Um cronômetro para piscinas

SONETO AOS SAPATOS QUIETOS Os pés dos sapatos juntos. Hei-de calçá-los, soltos e imensos, e talvez rotos, como dois velhos marujos.

Nunca terão o desgosto que tive. Jamais o sujo desconsolo: estando postos, como eu, em chãos defuntos.

Em vãos de flor, sem o riacho de um pé a outro, entre guizos. Não há demência ou fome.

Sapatos nos pés não comem. Só dormem. Porém, descalço pela alma, o paraíso.

O GANHO Dos deuses não espero soldo, nem reses. De ganho, só meus proventos: de ganho, o que esbanjo ao vento. De ganho o que cava a pá. De ganho o que faz a paz. De ganho o que a morte dá, dia dia, ano e ano.

Neles não ponho linhas ou malhas, como a peixes. Ponho luz e ponho tento; nenhum lucro lanço em dados. Qual a réstia que os distingue? Qual a torre? Qual o sino? Vestem blusas, vestem nuvens? São humanos ou divinos? De que tempo o seu declive? De que sarro?

Dos deuses não espero soldo, nem reses. Só lhes ganho o não rendido, o obscuro, o solo virgem, onde parte deles vive e outra parte se redime. XIV É preciso partir da manhã para o escuro de Deus. Das coisas para as coisas.

Pisar na dor para o equilíbrio da terra e os frutos.

É preciso amar sempre e de novo. Que os pensamentos voam raso, embaixo das estrelas. Não há religião ou ambição nas profundezas. Quem ama corre o risco.

Poeta paulistano, ensaísta, crítico e tradutor. Graduado em psicologia, pela USP (1966), e em Ciências Sociais e Políticas, pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1963). Fez doutorado em letras(2008) e pós-doutorado (2011) pela USP. Como poeta, Willer distingue-se pela ligação com o surrealismo e a geração beat. Traduziu Allen Ginsberg, Lautréamont, Artaud, Bukowski e Jack Kerouac. Publicou os livros de poemas: Anotações para um Apocalipse(1964); Dias Circulares(1976);Jardins da Provocação(1981); Estranhas Experiências(2004).

SOBREVIVEREMOS(RUÍNAS ROMANAS) Quantos poetas já não estiveram aqui quantos já não escreveram sobre a ofuscante aniquilação diante desses dramáticos perfis minerais quase natureza reduzidos a não mais que montanha tão perto da pedra original barro anterior à forma fronteira da mão que trabalha, do vento, da água neles ressoa a ensandecida voz do oco, do cavo, da fresta os silvos do vento no silêncio matizado de sussurros e agora também sou dos que enxergam o informe monstruoso passado escultores do avesso os reduziram a isso os autores do cruel teorema que nos condena ao presente e repete que nada sabemos e nada vale a pena pois passado e futuro só existem como passo para a informe eternidade a custo divisamos lá fora a realidade logo ali outro lugar onde existiremos menos ainda nós é que somos os fantasmas e a solidez é o que está aí, nas ruínas a dizer-nos que isto nada - é tudo o que temos

ANOTAÇÕES PARA UM APOCALIPSE I A Fera voltará, com seu rosto de tranças de prata, nua sobre o mundo. A Fera voltará, metálica na convulsão das tempestades, musgosa como a noite dos vasos sanguíneos, fria como o pânico das areias menstruadas e a cegueira fixa contra um relógio antigo. Um sonho assírio, eis nossa dimensão. Um crânio amargo, velejando com a inconstância do sarcasmo em meio a emboscadas de insetos, um crânio azul e sulcado, à janela nos momentos de espera, um crânio negro e fixo, separado das mãos que o amparam por tubos e esmagando os brônquios

POÉTICA 1 então é isso quando achamos que vivemos estranhas experiências a vida como um filme passando ou faíscas saltando de um núcleo não propriamente a experiência amorosa porém aquilo que a precede e que é ar concretude carregada de tudo: a cidade refluindo para sua hora noturna e todos indo para casa ou então marcando encontros improváveis e absurdos, burburinho da multidão circulando pelo centro e pelos bairros enquanto as lojas fechadas ainda estão iluminadas, os loucos discursando pelas esquinas, a umidade da chuva que ainda não passou, até mesmo a lembrança da noite anterior no quarto revolvendo-nos em carícias e mais nosso encontro na morna escuridão de um bar - hora confessional, expondo as sucessivas camadas do que tem a ver - onde a proximidade dos corpos confunde tudo, palavra e beijo, gesto e carícia TUDO GRAVADO NO AR e não o fazemos por vontade própria porém por atavismo 2 a sensação de estar aí mesmo harmonia não necessariamente cósmica plenitude muito pouco mística porém simples proximidade da aberrante experiência de viver algo como o calor sentido ao estar junto de uma forja (talvez eu devesse viajar, ou melhor, ser levado pela viagem, carregar tudo junto, deixar-se conduzir consigo mesmo) ao penetrar no opalino aquário (isso tem a ver com estarmos juntos) e sentir o mundo na temperatura do corpo enquanto lá fora (longe, muito longe) tudo é outra coisa então o poema é despreocupação

Poeta carioca, nasceu numa tradicional e rica família carioca. Conviveu desde criança com intelectuais e escritores, entre eles Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. Foi ensinado a falar francês e inglês antes mesmo de se alfabetizar no português. Saiu do Brasil em 1964 e deu aulas em Oxford, Essex e Bristol e trabalhou com o grande poeta inglês W.H. Auden. Só voltou ao Brasil em 1993 após cumprir 22 meses de prisão por porte de cocaina. Aqui ganhou 2 vezes o Jabuti.Uma vez com “As Horas de Katarina”(1994) e a outra com “O Mundo como Idéia”(2003)

NOTURNO Não sou o que te quer. Sou o que desce a ti, veia por veia, e se derrama à cata de si mesmo e do que é chama e em cinza se reúne e se arrefece.

Anoitece contigo. E me anoitece o lume do que é findo e me reclama. Abro as mãos no obscuro, toco a trama que lacuna a lacuna amor se tece. Repousa em ti o espanto que em mim dói, noturno. E te revolvo. E estás pousada, pomba de pura sombra que me rói. E mordo o teu silêncio corrosivo, chupo o que flui, amor, sei que estou vivo e sou teu salto em mim suspenso em nada. 16 VALSE OUBLIEE Certas estrofes perdidas longe de papel e lapis vão e vêm e doem-me ainda, tão límpidas quanto rápidas, como certos, certos fatos de uma fluida inconseqüência na rapidez da existência, certos rasgos, certos raptos, certas cenas, certa faca de que às vezes sou bainha, afiada quando ataca e cega quando sozinha.

CELEBRAR ESTE MUNDO Celebrar este mundo adivinhando a incurável leveza, a inabalável certeza do esplendor interminável da luz de Deus, aurora ruminando para sempre a quietude do imutável. Somos reflexos dessa luz, um bando de flamingos ardendo, misturandose ao sol nascente, ao inimaginável incêndio indescritível, todo asas, todo luz… Somos feitos como brasas abrindo o voo, somos como o voo

dos flamingos em brasa ao oriente… E nunca há de apagar-se aquele ardente sol perfeito que neles se espelhou. À TERRA PROVISÓRIA Adeus, cimos e vales e veredas, e bosques e clareiras e campinas soltas ao vento, sacudindo as crinas das espigas de sol na luz de seda. Adeus, troncos e copas e alamedas, esmeraldas selvagens que as neblinas salpicavam de prata, adeus, colinas que iam subindo como labaredas de cobalto no ar... Adeus, beleza irrepetível, que me viu nascer e toca-me deixar: a natureza

também é feita de deixar de ser, e eu levo agora a sombra e deixo a presa à luz do provisório amanhecer.

Poeta escasso -segundo suas próprias palavras, Otoniel destacou-se no jornalismo e na publicidade dos anos 60. Foi um dos principais integrantes da equipe que planejou e lançou o Jornal da Tarde. Também participou da primeira fase das revistas Realidade e Bondinho naquele que foi um dos períodos mais originais e inventivos do jornalismo brasileiro. Passou por várias agências de propaganda, fez incursões pelo cinema, realizou filmes em 16mm e super8 e conquistou vários prêmios nacionais e internacionais. Publicou A Pedra na Mão (1964), WC (1972), Bichário(2006) e Desnudamentos : uma Aventura Tipo Gráfica, em parceria com o artista gráfico Tide Hellmeister .

WC Sentado em cima do mundo (anatômico) o homem se des/faz da mundana carga carga carga Depois, frio, sem pânico aperta o botão atômico E, obra prima, belo brota no deserto a flor de um cogumelo. POÉTICA Palavras cercadas por um mar branco, eis o poema. Não as palavras. O mar branco.

PODER fazer da morte uma nação e dividi-la em sul e norte, fazer da vida uma negociação que se oxida e se exila, fazer do homem uma arma que resuma granada, obus, metralhadora, mão armada, fazer do tiro no ar uma constelação e constelar o inimigo e seu cão da fome, fazer pesar a industria pesada de matar e desenvolvê-la, fazer do impacto de uma explosão explodir uma estrela, fazer da ponte e da casa a bomba e o gás no horizonte, fazer um corte exato no rnapa de óbitos, fazer a morte e fazê-la em paz.

Poeta paulista, advogada e psicóloga. Estreou com o livro Primeiros Ofícios da Memória, em 1964. Em seguida, participou de alguns recitais junto com o grupo Catequese Poética. Criou, em 1969 o movimento poesia na praça com exposição de poemas na Praça da República. Em 1980 recebeu o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte. Em 1995 foi indicada para o Jabuti, e em 2005 ganhou o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras. Sua obra reunida está no volume Todas as Horas e Antes, de 2004.

Solidão de árvore esperando o fruto. Solidão de Lázaro esperando o Cristo. Solidão de alvo esperando a seta. Ave, poeta.

DA POESIA Esculpo a página a lápis e um cheiro de bosque então me aparece. Que a poesia é feita de romãs daquilo que é eterno e de tudo que apodrece.

PROFUNDAMENTE Estão todos sentados esta noite. Estão todos sentados.

A velha mesa respira mas nadas se aquieta. Estão todos sentados mortos e sentados.

E este amor não basta para carpir os beijos os nomes os retratos.

O INESPERADO Estou ficando só diante do mundo diante dos amigos e pior diante do amor.

Estou ficando só diante de Deus.

Mas não era para isso acontecer mais tarde bem mais tarde?

TOCA MINHA PELE ASSIM Toca minha pele assim: as costas com beijos lentos a nuca com lábios roxos as coxas com mãos noturnas.

Nada é mais suave que teu cabelo solto aberto como asa sobre meu corpo.

41 [A CIDADE NUNCA ME CANSOU, QUIXOTE A cidade nunca me cansou, Quixote, apenas me confundiu quando se espalhou pelas marginais, empurrou o rio e saiu do outro lado do mundo. Gostaria que ela fosse a cidade de Oswald de Andrade, o sátiro, e as tardes limpas do rio Tietê e os passeios de Cadillac pelo Paraíso. Esta é a rua Mauá. O trem ali embaixo não dá vontade de partir, porque sinto que nenhuma viagem, nenhuma outra vida, nenhuma outra forma de vida, mudaria a vida, este estado definitivo e morno de todas as coisas. Por isso vou, volto, reflito. E tenho medo. ERA CANDEIA Era candeia e parecia ser o lume. Era candeia.

Nomeio-o Alma adequado ao clarão que traz consigo.

Nem distraído nem remoto este Anjo apenas hesitante entre o bem e o mal como se um e outro ele não fora e assim desapercebido ora luz ora sombra passasse por mim. Em contrapontos.

Poeta paulista de origem pobre, viveu sempre em dificuldades financeiras. Aos 27 anos, depois de cursar a escola normal na terra natal, veio morar em São Paulo e realizar dois sonhos: entrar na USP e publicar um livro. Fez filosofia, exerceu o magistério e trabalhou como bibliotecária na rede estadual de ensino. Publicou cinco livros de poemas.Parte de sua obra foi republicada em 2006: Poesia Reunida. Recebeu o prêmio Jabuti em 1983, com Alba , e o prêmio da APCAem 1996, com Teia . Morreu em Campos de Jordão, em um sanatório.

FALA Tudo será difícil de dizer: a palavra real nunca é suave. Tudo será duro: luz impiedosa excessiva vivência consciência demais do ser.

Tudo será capaz de ferir. Será agressivamente real. Tão real que nos despedaça. Não há piedade nos signos e nem no amor: o ser é excessivamente lúcido e a palavra é densa e nos fere. (Toda palavra é crueldade) TEIA A teia, não mágica mas arma, armadilha a teia, não morta mas sensitiva, vivente a teia, não arte mas trabalho, tensa a teia, não virgem mas intensamente prenhe:

no centro a aranha espera.

Cansa-me. A chaga inumerável de mim cintila, sem palavras, úmida fonte rubra do ser, e tédio de prosseguir, inabitada, viva. Prosseguir. Ai, presença ignorada do ser em mim, segredo e contingência, espelho, cristal raso, submerso na eternidade do existir, tranqüilo. Cansa-me ser. Ai chaga e antigo sonho de áureas transmutações e vidas outras além de mim, além de uma outra vida! Mas amolda-me o ser. Prende-me a essência (raiz profunda e vera) a imutável condição de ser fonte e ser ferida

CARTILHA Foi de poesia lição primeira: “a arara morreu na aroeira”.

KANT (relido) Duas coisas admiro: a dura lei cobrindo-me e o estrelado céu dentro de mim.

ANANKE Não há culpa não há desculpa não há perdão

AFORISMOS Matar o pássaro eterniza o silêncio

matar a luz elimina o limite

matar o amor instaura a liberdade Nunca amar o que não vibra

nunca crer no que não canta. A ESTRELA PRÓXIMA A poesia é impossível o amor é mais que impossível a vida, a morte loucamente impossíveis. Só a estrela, só a estrela existe

- só existe o impossível.

TEOLOGIA Não sou um Deus, Graças a todos os deuses! Sou carne viva e sal. Posso morrer.

Poeta mineiro, jornalista e autor de literatura infantil, Henry destacou-se na Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, realizada pela Reitoria da UFMG, em 1963. Pouco depois, participou da edição de uma plaquete de poemas, Vereda, considerada a única publicação de vanguarda jovem em Minas Gerais. Em 1966, chega seu primeiro livro de poemas, Valacomum, reconhecido por especialistas como o melhor do ano. Também conquistou prêmios com seus livros de literatura infantil. Quando a Catequese Poética esteve fazendo recitais em Minas, conhecemos vários poetas jovens. Henry era um deles.

O MURO o muro é menos sua ruina o lodo móvel que o rumina o muro é onde a cal confina o mbarro duro que o germina o muro é só o que confisca a pedra e o pó em que se fixa o muro é quando o olho elimina o que é nele silêncio e urina

o muro é mais quando consigna a própria ira de quem conspira ESTIGMA Este corpo não foi gerado para colher o fruto dúbio

da minha noite fábula

este corpo o forjaram para absorver o asfalto gasto do meu dia mágoa o tempo esculpiu nesta carne sua hora de vidro dentro de mim modelo esta fome que a boca pronuncia --e me consome. O ANÔNIMO não mescreverei minhas palavras na pedra ( nem as moldarei na espuma) eu as guardarei para a festa --do homem sem pluma não gravarei minhas palavras na lenda ( nem as moldarei na flor) eu as guardarei para a festa --do homem sem cor não esculpirei minhas palavras no bronze (nem as moldarei no agouro) eu as guardarei para a festa --do homem sem ouro não gastarei minhas palavras na seda (nem as moldarei no cristal) eu as guadarei para a festa --do homem sem grau não lavrarei minhas palavras na terra (nem as moldarei na fome ) eu as guardarei para a festa--do homem sem nome.

É poeta mineiro, jornalista, escritor, crítico de arte, artista plástico, curador e produtor cultural. Nasceu em Santa Maria de Itabira e com 18 anos foi viver em Belo Horizonte. Lá ingressa na Faculdade de Artes Visuais e participa, com poemas-cartazes, da 1ª Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, na Reitoria da UFMG, em 1963.Funda, com um grupo de amigos, a revista de vanguarda Ptyx. Dirigiu a Galeria Pilão, em Ouro Preto (1966), coordenou o Museu de Arte da Pampulha (1968) e foi assessor de Imprensa do Palácio das Artes (1972). Em 2014 foi eleito para a Academia Mineira de Letras.

PALAVRA todo o mundo fala as mesmas palavras eu não sei falar todas as palavras nem sequer sei falar algumas palavras mas elas estão dentro de mim como água prestes a se despejar sobre o encanto de um sofrimento. eu não sei se as minhas palavras voarão nem sequer sei se elas são pássaros ou triste granada no campo inimigo mas elas estarão um dia junto ao mundo e transformarão alguma coisa em nada. é por isso que o meu poema vem num corcel vermelho entregando espadas de fogo aos tristes dias É POR ISSO QUE A DOR DESTA ENTREGA É SANGUE. com que se escreve a palavra: MORTE. NOTURNO DE ITABIRA Teus heróis já estão mortos: nada te resta senão a traça roendo a memória:

Nesta hora tardia, o príncipe com o fio da espada acorda o relógio. Mas o tempo não marca as estações, nem pára o trem na curva onde há pouco esperavas chegar o amor. Não te consolam carros velozes, a fórmula-um do pirlimpimpim, o zepelim (corrida sem prêmios nas pista esfalfada). Nem te consola a doce carícia de tua íssima amante. Os heróis mortos: cisnes, fadas, lobos. Famintas galinhas barganham o ouro do ventre por um prato de feijão-tropeiro. A noite é profunda; mole e lenta move-se a lesma sobre a resma de papel em que recolhes teu último poema.

Paulista de Pirassununga, com formação em filosofia e finanças, é autor dos livros de poesia Tarde revelada (1985; prêmio Jabuti), Caminho das águas (1987; prêmio Jabuti e prêmio da APCA), Fractais (1990), A olho nu (1993), Cinco formas clássicas (2002) e Sete suítes (2010). Sal recebeu o prêmio Cassiano Ricardo

GIGA

“Love is unhappy when love is away!” James Joyce escura a sina de quem ama e entra inteiro nessa trama

pois sendo o amor ardida chama mais machuca quem mais ama e não acalma quando queima no abrasado peito a dor insana saber que o fogo apaga um dia e que esse dia não demora porque o amor mesmo doído nunca morre em boa hora

ALGO há algo feito e acabado que desmente a teoria algo livre das aduanas que flota justo e medido no lírio das cumeeiras algo subtraído das ganas que se preserva intocado algo entre as unhas pelo tecido lunar que te desconcerta e redime algo certo algo errado como inteiro domicílio uns restos no copo e a ressaca que volta algo que é também soberba e te ilumina algo que não pode ser recuperado por simples razão teus mitos como um quarto fechado algo vertido na lâmina que por descuido a corrói algo sem gume nem corte mas cujo toque te dói

Jurista renomado, político bissexto, ator, contista, ensaísta, tradutor, editor, professor, historiador, filósofo, crítico de arte e poeta. Eis aí, em resumo, as atividades de Péricles Prade, este catarinense que mais parece um homem da renascença do que um medievalista --como ele gosta de se identificar. Autor de mais de 15 livros de poesia, fora os inéditos, Péricles considera a poesia a verdadeira pedra filosofal, o ouro supremo da palavra. E é a partir desse entendimento que ele se dedica ao corpo das sombras e aos limites da água e do fogo. Poesia das mais originais criadas no Brasil.

0 tesouro é procurado nos centros das metrópoles, mas é nos infernos que ele esta, guardado nos altares que cobrem o rosto do desesperado Não quero as moedas, as espalhadas pelos errantes círculos, as doidas construtoras, as pesadas, as fartas que na cor já revelaram os tempos No bolso ha o estranho ritmo, sede do ouro; nem se quisesse o demônio ele saltaria para o viciado corpo Faca é de prata, a morte vale mais assim, mais respeitada, pois morrer é bom se presente a nobre matéria

PERDIÇÃO Perco-me na selva doce desses pêlos. E se me perco, levito entre um gozo e outro. Vê-la, revê-la, muda caverna que às vezes canta. SE GIRA O SOL Giro quando amor eu faço, se não giro, então desfaço. Giro quando amor eu faço. O sexo é o sol porque te enlaço. Giro quando amor eu faço, Se gira o sol no teu espaço. Giro quando amor eu faço, e se for agora, então refaço.

Poeta paulistano, é escritor e jornalista. Dedica-se a diversos géneros literários entre os quais poemas, novelas, romances, ensaios e crónicas, além de ter escrito peças de teatro. Como poeta, iniciou, em 1965, o movimento de recitais públicos nas ruas e praças de São Paulo, quando lançou o livro “O sermão do Viaduto” - um comício poético - em pleno Viaduto do Chá. Em 1966 foram proibidos, por motivos políticos. Pelo seu trabalho recebeu, em 1976 e 1983, o Prêmio Jabuti de Literatura da Câmara Brasileira do Livro.

SERMÃO DO VIADUTO* Peço a solidão dentro de um vidro, peço a praça para morrer e um canteiro onde cresçam estrelas e estátuas de deuses. Possuo a noite na alma e tenho um coador onde filtro a angústia. Eu não deixarei as crianças serem massacradas, os crepúsculos arrebatados e vendidos, nem deixarei livres os grandes sábios da destruição. Eu possuo a noite e um viaduto no meu sermão, plantei num buraco que esqueceram, a minha semente e reguei com a chuva que ninguém olha a minha planta, e deixei meu manifesto nos ouvidos dos tiranos e fiquei rindo da morte dos déspotas. Em minha palavra guarneço uma tristeza: cuspi nas mãos para pegar uma pá e lavei a minha mão com uma nuvem para mexer nas flores. Com um balde jogo na garganta que pede. Tenho pena dos que dominam E pavor dos dominados. Eu escutei uma estrela para me arrepender de tudo e teci uma bolsa para a necessária manhã. Eu não encontrei Deus na igreja. Eu caminho há vinte e dois anos: uma vez brinquei com um pião, sem saber que tudo seria assim. Eu presenciei a destruição e olhei de longe o que fizeram da ternura, mas senti de perto os efeitosdo que restou e tive medo e tive ódio, a fonte seca. Houve o tempo em que encontrei a irmã, e o irmão, e vozes de profetas falando em mim. Senti a força dos falsos,mas não medi suas ações,e violentei as farpas da cerca e de mais alto contemplei o abraço.

ESPETÁCULO

Para Paulo de Tarso, Odete e o pequeno Nikolas O salto mortal é meu número especial nesta tarde de domingo. Não temo o trapézio por não saber voar sobre as cabeças que torcem para a corda arrebentar. Quando muito, abro a tarde falando ao respeitável público que farei a mágica final de desaparecer sem nunca ter sido visto por ninguém.

Sempre haverá um sol em alguma janela assim tão amarelo que o próprio amarelo não conhece. Um sol na pele e na água, a mulher que se estende num espanto e se deixa correr por rios intermináveis. Sempre haverá esse sol por dentro das coisas, nas celas, nas igrejas, nas ruas, nos castelos e nas cabeças que já morreram. Sempre haverá um sol. Sempre. 33 Da alma que me habita guardo um paletó e uma camisa que só uso aos domingos, quando vou ao encontro de Deus, e com ele troco palavras antigas, preces, apelos e dores, dessas que cortam a imagem dos anjos que vivem nas igrejas, outros que saem às aldeias e molham os pés nos rios, e falam com os peixes e com os insetos, desses anjos que voam rente à terra junto com os pássaros e pousam nos ninhos entre as folhas das árvores e comem as frutas das aves e depois voltam para os altares com o cheiro das ruas e dos telhados escuros das casas, levam consigo as asas molhadas das chuvas e depois adormecem como se estivessem no céu. POEMA 27 O poema diz o que não sabe e se transforma no que não é e nunca será.

O poema esquece e se fere nas palavras antigas de um dicionário morto.

O poema exclama na voz do poeta versos que não cabem numa estrofe, canta o canto que não existe mais, distante de seu tempo. O poema morre no poema, morta poesia na paisagem do nada, onde se guarda a memória, o que sempre deixa de ser. O poema não é, por mais que queira ser, não é, apenas pensa existir no espaço exíguo da palavra. O poema não interfere, o poema cala, o poema não sente, o poema que se finge, o poemorto, o poemente. 16. Observo o tempo parado, como um tiro ou um terço para rezar. Não me adivinho nem sei quem sou no instante em que me revelo. Tenho lágrimas de vidro que cortam a face em pedaços. Está tudo apagado e a solidão é sólida como uma pedra. Deixem-me ficar. Os passos morreram e não há para onde ir.

Poeta, tradutor, crítico literário e professor universitário. Em 1960.publica A Poliflauta de Bartolo, seu primeiro livro de poesia, Nas décadas de 1970 a 1990 publica diversos livros de ensaios, entre os quais Poesia e Realidade. Entre 1978 e 1983 é professor de Literatura da Universidade da Califórnia (EUA). Na década de 1980 publica os livros O Poema e as Máscaras e traduz diversas obras, como O Que é Literatura?, de Sartre. Em 2000 organiza, com Álvaro Alves de Faria a Antologia Poética da Geração de 60. Sua obra poética inclui A Tarde e o Tempo (1964), Círculo Imperfeito(1978), Subsolo (1989), Lição de Casa & Poemas Anteriores (1998), entre outros.

FONÊMICA Por que mo-nos-si-lá-bi-co requer tantas sílabas?

POEMA DE TRÊS FACES O que levas no teu bojo não é teu. Tampouco te pertence a sólida reserva de silêncio que arduamente conseguiste. Ganhaste-a enfim para distribuí-la. Após entrares no domínio de teus dons, urge obsequiá-los um a um entre os iguais. É o tácito acordo que engendraste um dia com teu povo e agora se cumpre. DEVOLUÇÃO A noite veio, dispersou meu corpo e os ventos me passearam pelo campo. Ah, minha carne misturada à terra, meus ossos desmanchando-se no frio secular dos rios que me despejam envolto em musgo e lama contra as pedras. Meus olhos desmoronam-se no verde, a paisagem traspassa-me as retinas. Meus dedos carcomidos se desfazem pelos vãos das folhas, de volta ao pó. De minha boca inútil nascem rosas brancas. Eu chovo eu vicejo eu me planto e um dia vou brotar por entre as pedras frias, mais puro, transformado em verde.

CONJUGAÇÃO Eu me arquipélago tu te maravilhas ele se istma nós nos montanhamos vós vos espraiais eles se eclipsam

O DIA SEGUE O CURSO ITINERANTE Assim te amei, amada, assim te amei de amor tão grande e puro que secou no peito meu o rio que corria submisso e atento para os braços teus. Nos ermos vales agora percorro os gestos esquecidos, densas brumas do rio que fui, o rio que fomos, largas águas seguindo o mar da noite. Assim te amei o amor maior que pude. E, mais ainda, a minha vida foi uma desfeita nau vagando a esmo o mar do tempo, o mar janeiro, o mar que perdi. E agora, de ti disperso, nos desertos de mim, sem fim, caminho. NÃO ERAS MAIS

para Rodrigo (1969-1975) Não eras mais que um sorriso e o ar que serenava quando te movias. Tomo tuas mãos em minhas mãos e peço que me ensines esse ar, o sorriso, a serenidade que desconhecias.

Mas tu não dizes mais que o teu sorriso e o claro olhar, irmão das águas. Tomo teu corpo em minhas mãos (raio de sol) e tenho em meus olhos a mágoa de todas as mágoas.

Vagueio meu olhar além dos montes (murmúrio de pássaros entretidos) e te diviso, brilho liberto de todas as sombras, a ensinar aos pássaros, como me ensinaste, o teu sorriso.

LINGUAGEM FIGURADA Tropel de trapos lençol amarfanhado a convulsão de umas sílabas rebeldes desarrumando a cama & a folha em branco: o peito de quem ama.

Tinha 20 anos e estudava filosofia quando publicou seu primeiro livro de poemas: Investigação do Olhar, 1963, Massao Ohno. Dezessete anos depois, também pelas mãos de Massao, publica O Voo Circunflexo, premiado com o Jabuti. Entre 1965 e 1994 leciona História da Filosofia Moderna e Filosofia Clássica Alemã, na USP. Traduziu clássicos de filosofia de Fichte, Kant, Schelling e Nietzsche para a coleção Os Pensadores (Ed. Abril). Sua obra poética inclui os livros A Letra Descalça (1985), Figura (1987), Poros (1989), Retrovar (1993) e Novolume (1997).

DESENVOLTURAS Nós nos queremos bem: ah que derrama, que hemorragia de sentimentos! Irmãos! Que almas transparentes temos! 0 chão nos foge sob os pés, tão leve. Podemos nos olhar pelos avessos que é tudo luz. 0 bem que nos queremos nos santifica até aos intestinos. Que vísceras de vidro! Que evidência! Meu pênis se eletriza - é um travessão! Um hífen! Um traço-de-união entre duas almas tão juntas, tão aninhadinhas uma na outra que da gosto e enlevos. Nos sabemos de cor, rosto e relevos. Tudo nos dança: umas fosforescências embevecidas lambem nossos beiços e um simples esplendor nos satisfaz!

SEM JEITO O poema, essa cicatriz da velha ferida dos gêneros, entre prosaica e feliz — indigna, pelo menos — oscila, pela via-não, entre a corrosão e o êxtase, jeito de pedir perdão sem deixar endereço, forma besta de glamour sem ornato ou adereço, e a cada respectiva musa agradeço por tudo o que lembro e o que esqueço.

Esse inquieto poeta paulistano cursou várias faculdades: filosofia, sociologia, jornalismo, arquitetura e trabalhou profissionalmente em jornalismo e publicidade. Criouroteiros para TV, fez filmes super-8 e fotografia. Participou da Antologia dos Novíssimos do Massao Ohno, em 1961, e pouco tempo depois publicou seu único livro de poemas: No Temporal, 1965. Mais adiante, graças a filha Joy Bar, veio à luz o segundo livro deixado pelo poetaem uma pasta, com título e tudo. Décio Bar se matou em 1991, pulando de seu apartamento em São Paulo.

SÚPLICA Por estradas de tempo vaguei pelo espaço. Os olhos vazios de muito não ver, cansei e parei. Deixei sonhos em rotogravura, pálidas meninas em verdes olhos, sisudos homens, voleios de arte e esvaí-me. Defequei minh’alma e fiz-lhe acalanto de nulidade. Faltaria que rne rnatasse mas restaria a dúvida. Não a hamletiana ser-ou-nao-ser do porvir, mas a covarde, chã e feminil dúvida do que teriam feito vocês se eu não tivesse morrido. Abro a janela, meu espírito vagueia, meu corpo estremece. Na rua o carro de lixo: “São Paulo não pode parar!”. Eu quero parar, não tenho vocação para santo. Só tenho meu cansaço e esse tédio que é a noite de bodas de ouro do meu consórcio com a vida. Quero parar: “um dia...” é pouco e muito longe. Sei que não posso ficar, sei que não quero ir, sei que não consigo parar. IDADES Aos 45 do primeiro tempo, que molde toma a vaidade? Mais 1 minuto e o jogo pára Mais 15, ele recomeça Só que então já serão os semifinais da morte

É formado em letras, com especialização em literatura brasileira e gestão cultural. Exerceu o magistério de 1975 a 1984, quando começou seu trabalho de gestão cultural na Fundação Nacional de Artes (Funarte), onde foi coordenador adjunto em diversos períodos. Poeta autor dos livros Antes que eu me esqueça (poesia,1977),O colecionador de palavras (romance juvenil,1987) e Ego Trip (diário de viagem,2011).Atuou sempre próximo de Piva, Willer, Decio Bar e outros que dialogavam com a geração beat e com o surrealismo. Também fez leituras de poemas com a Catequese Poética.

TYCO TICHO NO FUBRAHE Livrai-nos Deus da Corrução Do Chaos da Anarchia Da Excecionalidade Tenhamos Tacto y Tecto Façamos Gymnástica Combatamos a Infecção A Sciência a Sucção Pas du tort W Aplainemos a Língua De Pycos Phalésyas y Promonthórios Circunspeto Aspeto Evitemos Italianizmos, Francezismo, Españolysmos Y ultimamente o Abril Portucalense Sejamos… fotográficos Optimistas Sociológicos Nostálgicos Sem Nevroses nem Zunzuns No afã de que o flautim Abafe o Uivo Que vem de Nós Para Mim.

KONG 1933 MM Orgulho-me disso, sim senhor: estive em Nova Iorque Quando King Kong atacou New York. Tentei salvar a moça roendo as unhas & King derrubando os aviões Tudos em vaões. Os esforços cinematográficos estragam tudo. ECO DA LÓGICA O ninho do João de Barro está no antiquário a polução é uma poluição? os deuses astronautas… E os Argonautas? Quo Vadis? Ecologia: VADE MECUM La Terra puzza, caro mio. Me ne vado a Pasárgada Dove sono amico Del Rei Manuel Bandeira LA TERRA PUZZA “M’illumino d’immenso” Si non è vero…

Poeta paulista, escritor, jornalista e crítico de arte, Soulié fez parte da primeira equipe de jornalistas que criou o Jornal da Tarde, em 1966 e dois anos depois a revista Veja. Com 22 anos seu primeiro livro, Procura e Névoa, conquistou o prêmio Jabuti. Faz parte dessa geração que, nos anos 60, procurou através de leituras públicas uma aproximação maior com o povo. Organizou com Alvaro Alves de Faria e Eduardo Alves da Costa o Comício Poético da Praça da Sé.(1965).Publicou Morte na Rua Simpatia e Verba.

RECEITA PARA ACABAR COM QUALQUER TRISTEZA Pense um pouco na mulher que você ama e esqueça que a existência é uma vulgaridade. Quaisquer que sejam, nuvens de saudade não poderão apontar rumos, mas tão só fermentar sua paz. Pense na mulher que você ama, no sorriso descoberto sob o olhar satisfeito em que ela o envolve, pense no mar, no amar e no ar, atire o grito e a violência inexpiados. Dance uma valsa e sonhe no doce acalanto de um samba.

Salte e morda os calcanhares; a vida é desconjunção que jaz e nada nos restará senão tristezas pulverizadas.

-Mas a tristeza foge e leva consigo sonho e samba! Combine alquimia e bruxedo segundo a teoria do amor esquivo e fabrique a poção-comichão-de-vida.

-Mas a vida fugiu em atômica nuvem! Então beba os mares e envenene-se de luar

SONETO DA ALEGRIA De nada, ou quase nada, uma alegria Criar e permitir que nos aqueça E acenda o vôo* e a voz da fantasia Provando-se à exaustão adversa e avessa.

Uma alegria que dê fogo à fria E brumosa jornada e não se esqueça De transbordar, cravando-se travessa E incontida, no coração do dia. E que por ela os nossos corações Se deixem, sem constrangimento, ser E fluir, como fluem as canções, Como fluem os rios, sem saber Nem indagar as mil ou mais razões De tudo quanto vive e vai morrer.

Poeta paraibano é jornalista profissional e professor titular aposentado do Curso de Letras da Universidade Federal da Paraíba, onde defendeu dissertação de mestrado e tese de doutoramente sobre Manuel Bandeira e Mario Quintana, respectivamente.Ao longo de cinqüenta anos de vida literária, conquistou vários prêmios. Em 2005, Zoo imaginário (poesia), além de conquistar o prêmio Guilherme de Almeida, promovido pela UBE Rio, foi adotado nas escolas públicas de São Paulo e em todos os colégios públicos de João Pessoa. Mais recentemente, A Flor do gol (poesia) foi semifinalista do Concurso Oceanos.

LAPIDAR em cada verso que escrevo, eu me parto. a folha é lousa.

poemas, epitáfios. EXÍLIO desarvorada, a madeira do móvel desata os seus nós e estala

a árvore que foi (no exílio da sala).

ATOS FALHOS sequer os ensaio.

mas os meus atos falhos encenam-se assim:

eles já no palco e eu ainda no camarim.

DIÁRIO no guarda-roupa (imóvel de jacarandá), os dias antigos suspensos em cabides em ritos de abraçar. sobre imóveis roupas (diário colorido) o pássaro distingo: o pó dos sábados, memória dos domingos! POETA&POEMA nem sempre o poeta ronda o poema como uma fera à presa. às vezes, fera presa e acuada entre as grades do poema-jaula, doma-o o chicote das palavras.

Poeta paulistana, estudou no tradicional Colégio Des Oiseaux, na USP e na Escola Panamericana de Arte. Teve o primeiro livro publicado aos 17 anos e já fazia versos antes de saber ler e escrever. Na década de 1960, fez leituras públicas de seus poemas junto da Catequese Poética, movimento liderado pelo poeta Lindolf Bell. É jornalista e foi co-editora das revistas literárias Essência e O Escritor. É parecerista do Ministério da Cultura (atual Secretaria Especial da Cultura) e foi diretora da UBE. Publicou poemas em 4 livros (Eu e a Vela, Tempo de Mensagem, Os súbitos cristais e Paixão via Internet.

O AMOR DOS OUTROS O amor dos outros é indiferente. Só o da gente é especial, fosforescente, brilha no escuro.

O amor dos outros é tão pequeno, nem vale a pena pichar o muro. Ninguém entende o amor alheio; não é bonito e não é feio. O amor dos outros é tão efêmero! Estão amando? Fazendo gênero? O amor dos outros é muito pouco: só o da gente, direito ou torto, alegre ou triste, sereno ou louco, lascivo ou puro, céu ou inferno — só o da gente será eterno.

Olha pro rosto do amor alheio: são só dois olhos, nariz no meio, cadê a boca? Olha pra cara do amor da gente: que coisa louca! QUE SEJA

Está bem: que termine, que termine! Se tem de ser assim... Enfim: que seja! Que não mais o meu verso te ilumine e nem tua magia me proteja das coisas que não temo e em que não creio. E os beijos de hortelã e de cereja que trocaríamos noutra realidade, que fiquem para sempre relegados ao território das impossibilidades.

Não sou de ter saudades do passado, mas do futuro, sim, terei saudade . OBSESSÃO Tudo que desejo me obceca e não quero querer pela metade. Por desejar com tanta intensidade, só desejo uma coisa a cada século.

Para o século vindouro, o que me atiça, que me desperta a cobiça, tem um rosto de asceta e mãos de artista e uns acessos de fúria nunca vista, da qual, em meu desvelo, quisera protegê-lo para que jamais se fira em sua própria ira.

Poeta nascido no interior de São Paulo, Sorocaba, também exercitou a prosa infanto-juvenil e o jornalismo. Começou a escrever e publicar muito cedo. Na Wikipédia está registrado 9 anos e na Enciclopédia Itau menciona-se a iade de 13 anos.O certo mesmo é ter publicado vários livretos mimeografadas de seus poemas nos anos 60. Também realizou centenas de recitais Seu primeiro livro, Pega Gente, é de 1977 e fez muito sucesso. Fez, ainda, Poesias Populares-O Jornal do Poeta, em 1978.Já publicou mais de cem livros nos diversos gêneros e já vendeu mais de 20 milhões de exemplares.

REBORDOSA Não, nenhum amor morre, apenas fica assim: Uma cruel ressaca Depois de um grande porre. POEMINHA MACHISTA Lutei tanto para transformar Você de mulher em posse Só o que consegui foi uma Ejaculação precoce. CANTO DAS MINORIAS O índio não pode caçar. O negro não pode falhar. O poeta não pode sonhar. O homossexual não pode amar. Das minorias nenhuma dessas (consolo e esperança) é aquela que decreta que a maioria não pode comer. GÊNESIS De madrugada aqui no bar num esforço coletivo nós recriamos o mundo e os homens. E não temos culpa se Deus tira tudo do lugar de manhãzinha.

TOQUE alguma coisa estranha acontece quando se toca em gente. experimente. CONTEÚDO No toque, a troca. No ato, o salto. No esfrega, a entrega. Na mão, o coração. No rir, o repartir. No sangue, o bumerangue. Na ida, a vida.

Rubens, belíssimo seu poema sobre a mãe. Precisamos resgatar esta experiência originária que foi colocada sob cinzas pela cultura racionalista moderna que transforma tudo em mercadoria e não em metáfora do mistério. Meus parabéns. Vou guardá-la no conjunto de minhas coisas ligadas à Mae Terra.

Leonardo Boff, teólogo e escritor

Homem, você é um senhor poeta! Eu tenho experiência e não falo isso prá qualquer ! Leio teu livro e de cara encontro o DRAMA: É QUANDO O AMOR / PURA CHAMA/VIRA TELEGRAMA E vou seguindo e encontro “Uma mulher é a soma... - e fico quieta porque tudo é demais .

Renata Pallottini, poeta, dramaturga

Jardim: muito obrigado pelos poemas, que estão maduros e me fizeram bem.

Hélio Pólvora, crítico

Jardim: de um modo geral—gosto de seus poemas, bem feitos, com cuidado.Eu evitaria jogos óbvios como da vi da david de vi da,etc. Repensaria este aspecto. Gosto da rosa real que tutela o invento. Porém me sinto mal-como poeta in progress—de ficar dando opiniões. Quem sou eu???? Grande abraço,

Regis Bonvicino.poeta

Obrigado caro Rubens Jardim, me ha gustado mucho el diseño y el trabajo que haz realizado con el gran artista y creador brasileño Guimarães Rosa, mis felicitaciones, ha sido un gusto, recibir su libro, lo voy a leer con mucho cuidado, ahora lo he visto y mirado, me ha encatado su diseño y trabajo de fotografia e imagen, felicitaciones de nuevo!! Este libro tiene una versión impresa? seria genial poder tener un ejemplar para poder traducir y estudiar en Chile.

Leo Lobos, poeta chileno

Querido mestre, poeta ímpar! emocionado!

Flávio Viegas Amoreira, poeta

Comecei o ler o livro do Jardim e pasme, estou gostando muito.

Abujamra, ator e diretor de teatro

Rubens Jardim é uma das vozes mais significativas da chamada Geração 60 de Poetas de São Paulo. Rubens Jardim está com livro novo, “Fora da Estante”, publicado pelo Centro Cultural São Paulo, na coleção Poesia Viva, que tem o objetivo de divulgar autores com qualidade. Autores com qualidade é o caso por inteiro de Rubens Jardim, também no que diz respeito à dignidade e à ética. “Fora da Estante” é mais um livro desse poeta de verdade, numa coleção importante.

Álvaro Alves de Faria, poeta, escritor e jornalista

Rubens: não só os poetas, mas todos. Esperando a definitiva colheita. Gostaria, um dia, de ler este poema. Em voz alta. Abraço

Eunice Arruda, poeta

Acabo de ouvir você na Rádio USP e ouvi direitinho o teu endereço eletrônico. Abração pela verve arrebatadora! A vida vela a pena, sem dúvida.

Antonio Romane, poeta e jornalista

Alguém precisa dizer que Rubens Jardim está entre os melhores poetas brasileiros de nosssa geração. Eu digo!

Ronald Zomignan Carvalho, poeta e escritor

Muito bom, Rubens. Só agora pude ler o seu Fora da Estante. Gostei da alternância entre os muito longos (como o da ida à Grécia ou o saudação a Mário de Andrade) e os muito breves (a maioria). Parabéns! Abraços,

Carlos Felipe Moisés, poeta e escritor

Meu caro Rubens, participei no inicio deste mês do Congresso Brasileiro de Poesia em Bento Gonçalves. Havia mostra de poesia visual (organizada por Hugo Pontes) e deparei-me com poemas nossos, lado a lado. Pois é, “herrar é umano”. Grande abraço.

Ronaldo Werneck, poeta

Não me surpreendeu o encantamento que ND revelou sobre os Cantares da Paixão. Concordo plenamente de que se trata de um “conjunto de assombros”. De fato, você é um poeta de muita originalidade, capaz de captar a vida de modo inédito.Poucos disseram tanto sobre o ser humano mulher. Aquele seu poema é luminosa estrela! E o que você vem fazendo em prol da palavra dela é prova irrefutável de rara percepção e profunda empatia.

Astrid Cabral, poeta

Oi Rubens, vou ler com o maior carinho e o prazer de sempre, a sua poesia: inquieta, objetiva, lúcida, lúdica, bela. Com certeza, deverá ficar fora da estante, naquele lugar especial onde guardo os bons livros dos verdadeiros poetas.Abração e boa sorte!

Tanussi Cardoso, poeta

Belo documento ficou este, Rubens, e que lindas e afetuosas essas suas relações familiares! O Affonso Romano costuma repetir que ele é um dos raros poetas brasileiros que põe a família na poesia, mas você coloca o tema, na sua própria, de forma muito mais intensa, profunda e verdadeira que ele. Isso me encanta na sua poética, sabe . Rubens, você é um raro, sua solidariedade é comovente, e seu poema ao filho, recitado no programa de rádio, é uma obra-prima.

Angélica Torres, poeta

“Rubens, ontem na Livraria Cultura, vi teu último livro. Fiquei poeticamente encantado com a modernidade do projeto, mesclando poesia breve e imagens.Sem falar no conteúdo, de alto quilate literário. Parabéns.”

Ricardo Manieri, poeta

Rubens, mestre, seu comentário ao meu poema me envaidece. Vindo de você, é uma honra e tanto. Muito obrigado! Você é modesto (o que ainda o faz maior). Seu nome está consagrado - com todo merecimento - na história da poesia brasileira. Você sabe; eu tento. Um abraço ainda grato!

Alberto Bresciani, poeta e juiz

“Tô lendo seu livro e me emocionando muito, sofrendo junto pelas perdas, vibrando com as vitórias, quanta vida, hein... Me doeu tanto o caso de Juvenal-menino... A sua poesia é de uma entrega absoluta. Fico muito grata, é um presente incalculável.”

Neuzza Pinheiro, poeta, compositora e cantora

Querido amigo Rubens Recebi o seu livro, o que muito agradeço. É uma surpreendente e belissíma obra de

poesia. Inovadora e lírica que quase me lembrou algumas páginas da poesia concreta. Parabéns!! É um maravilhoso Poeta. Vou bem cedo enviar-lhe o meu, e caso vá a São. Paulo gostaria de o visitar. Dê noticias que eu ficarei contente com tudo o que enviar.

Amélia Vieira, poeta portuguesa

Fulminante o teu poema. Imagem sangrada no significado... Poesia é isso, esse risco no invisível que, por ser íntegro, se torna tão nítido.

Lau Siqueira, poeta

Estou mergulhado no seu memorial poético. E que viagem maravilhosa! Viagem esta

em que me descobri: “Até que enfim/ não dei em nada/ dei em mim” e corroborei o meu desejo de reinvenção, pois a cada instante me invento e a descoberta desta constante invenção traz no seu bojo o mapa da reinvenção, e assim ensina o poeta: “Replanta teu nome/ Com a palavra// Reinventa o gesto/ Com a partida// E já sem força de guardar// Celebra o amor/ Que em amor se guarda”. Receba os meus parabéns e a minha amizade. Que a sua semana seja radiante. Abraços.

José Inácio Vieira de Melo, poeta

Caro Rubens, gostei muito dos poemas escolhidos e agradeço sua generosa apreciação. Ótima surpresa clicar no link! Grande abraço.

Adélia Prado, poeta

Rubens, só hoje li o seu texto. Gostei muito, muito mesmo. Que bom que você é poeta! Num de seus poemas você fala do corpo que você carrega, faz 37 anos. Pois é, esse corpo tem limites. E o meu, que carrego há 66 anos, tem limites maiores ainda. Abraço amigo,

Rubem Alves, teólogo e escritor

Estimado Rubens: tuas poemas son profundos y hermosamente reflexivos y mui atrevidamente me animo a creer que ambos están intimamente conectados; em el primero la relacion verso-anverso, el Outro, la sombra y el espejo, y en el segundo, la vigília, el sueno y la locura, parecen piezas del mismo puzzle. Cordial saludo

Mariella Nigro, poeta uruguaia

Sempre me intriga sua maneira de dar textura às palavras, que parecem sair da página como se fossem talhadas em alto relevo. Incrível como você transita pelas diversas formas, instigante, arrebatado, preciso. Atravessa os estilos, nadando de braçada.

Flora Figueiredo, poeta

Prezado Rubens: gostei de receber teus poemas. Eles despertaram em mim uma sensação de leveza, de calviniana leveza diria, como se a palavra se dissolvesse no ar, dissolvendo com ela a inquietação de que nascera.

Liliana Laganá mestre em língua e literatura italiana

Caríssimo Poeta Rubens Jardim, gostei demais do poema e, especialmente do “desaforo” e da “quebra de protocolo”. AL-Braços.

Al-Chaer, poeta

QUEM SOU EU Rubens Jardim, 75 anos, jornalista e poeta. Publicou poemas nas antologias: 4 Novos Poetas na Poesia Nova (1965/SP), Antologia da Catequese Poética (1968/SP), Poesia del Brasile D’Oggi (1969/Itália), Vício da Palavra (1977/SP), Fui Eu (1998/SP), Poesia para Todos (2000/ RJ), Antologia Poética da Geração 60 (2000/SP), Letras de Babel (2001/Uruguai), Paixão por São Paulo (2004/ SP), Rayo de Esperanza (2004/Espanha), Congresso Brasileiro de Poesia (2008/RS). É autor de três livros de poemas: Ultimatum (1966), Espelho Riscado (1978) e Cantares da Paixão (2008). Promoveu e organizou o ANO JORGE DE LIMA, em 1973, em comemoração aos 80 anos do nascimento do poeta, evento que contou com o apoio de Carlos Drummond de Andrade, Menotti del Pichia, Cassiano

Ricardo, Raduan Nassar, Walmir Ayala, Stella Leonardos, Álvaro

Alves de Faria e outras figuras importantes da literatura do Brasil. Organizou e publicou JORGE, 8O ANOS – uma espécie de iniciação à parte menos conhecida e divulgada da obra do poeta alagoano. Integrou o movimento CATEQUESE POÉTICA, iniciado por Lindolf Bell em 1964, logo após o golpe militar. Nosso lema era: o lugar do poeta é onde pos-

sa inquietar. O lugar do poema são todos os lugares.

Participou da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília (2008), com poemas visuais no Museu Nacional e na Biblioteca Nacional. Fez também leituras no Café Balaio, Rayuela Bistrô e Barca Brasília e participou da Mini Feira do Livro, com o lançamento de Carta ao Homem do Sertão, livro-homenagem ao centenário de Guimarães Rosa.

Em abril de 2009, foi convidado a participar das comemorações dos 70 Anos da Guerra Civil Espanhola, evento realizado no Instituto Cervantes de São Paulo. Na ocasião, Rubens Jardim leu um poema feito especialmente para a ocasião: Carta em homenagem aos Combatentes da Guerra Civil Espanhola. Participaram dessa comemoração outros poetas e escritores como Alan Mills (Guatemala), Nurit Kasztelán (Argentina), Yaxkin Melchy (México), Hector Hernandez (Chile), Alice Ruiz e Marcelino Freire (Brasil).

No final de 2012, uma seleta de seus poemas, Fora da Estante, foi publicada na Coleção Poesia Viva, do Centro Cultural São Paulo. Em 2016, Coração do Mundo, coletânea de seus poemas foi publicada em Portugal, Coimbra, na série “mínima” de Temas Originais. Participou, em 2013, das homenagens realizadas na Câmara Municipal de São Paulo ao 25 de Abril português. Na ocasião, leu poema escrito especialmente para a celebração dos 39 anos da Revolução dos Cravos. Em maio de 2014, organizou e participou das comemorações dos 50 Anos da Catequese Poética, evento especial do Chama Poética, realizado na Casa das Rosas, que contou com a leitura de poemas de Lindolf Bell feita por diversos poetas amigos e companheiros de geração. Entre eles, Péricles Prade, Eunice Arruda, Eulália Maria Radtke,

Celso de Alencar, Helen Francine, Raquel Naveira, Fernanda de

Almeida Prado e outros.

Em julho desse ano esteve em Belo Horizonte participando do programa do Museu Nacional de Poesia, de Regina Mello, Poesia no Parque. Ainda em BH, participou do Banquete de Poesia, programa realizado pelo poeta Rodrigo Starling. Em ambas as ocasiões, lançou Lindolf Bell 50 Anos de Catequese Poética, antologia que organizou e reúne poemas de vários integrantes do movimento, como Luiz Carlos Mattos,

Érico Max Muller, Iosito Aguiar, Iracy Gentile, Nilza Amaral, Carlos Vogt, Jaa Torrano.

Desde meados de 2011 iniciou a publicação da série AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA.. Já foram publicadas e divulgadas mais de 360 poetas e mais de 1450 poemas. Criou o SARAU DA PAULISTA, com Claudio Laureatti, e Cesar Augusto de Carvalho que acontece no último domingo do mês na esquina da Paulista com a Peixoto Gomide. É curador, em parceria com Davi Kinski e Cesar Augusto de Carvalho do SARAU GENTE DE PALAVRA PAULISTANO, que acontece todos os meses e homenageia a poetas vivos.

Em 2001 teve seu nome incluído na Enciclopédia de Literatura Brasileira, dirigida por Afrânio Coutinho e J. Galante de Souza (pag. 872 do volume II ) e no verbete Catequese Poética (pag.463 e 464).

Rubens Jardim com um de seus poemas na I Passeata Poética, realizada na Av. Paulista

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