Revista Ruminantes 36

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RUMINANTES

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ANO 10 | 2020 ABR/MAI/JUN (TRIMESTRAL) PREÇO: € 5.00

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A EXPLORAÇÃO DAS CAMPEÃS

A genética é a grande paixão de Roberto Ponte. Mas o objetivo principal deste produtor açoriano é a rentabilidade da exploração de leite.

LACTOBACILLUS HILGARDII

Uma nova tecnologia desenvolvida pela Lallemand promete revolucionar o mercado dos aditivos para silagem a nível global.

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EDITORIAL

#10 C

aro Leitor, o 10º ano da Revista Ruminantes está aí. Ao longo deste tempo aprendemos muito e, ao contrário do que se poderia pensar, que as histórias de sucesso do mundo dos ruminantes poderiam acabar e não teríamos nada para contar, constatamos com satisfação que muitos bons exemplos continuam a aparecer, de ano para ano. Na verdade, os gestores agropecuários não se resignam e vão sempre encontrando formas de inovar para tentar manter o seu negócio saudável. Com a Ruminantes, nasceram o Índice VL e o Concurso Nacional de Forragens. Ambas as rubricas foram criadas com o intuito de fornecer indicadores que possam ser usados como “bússolas” pelos agricultores. O Índice VL permite analisar a tendência da rentabilidade do negócio da produção de leite de vaca em dois sistemas alimentares diferentes (silagem de milho e erva). O Concurso Nacional de Forragens tem como principal objetivo encorajar os produtores a fazerem melhores silagens, bem como permitir saber como foram os resultados das melhores silagens do ano. Estes projetos cumprem um dos propósitos da Revista Ruminantes: ser uma ferramenta de trabalho para quem trabalha no setor dos ruminantes. Agradecemos a disponibilidade e a amabilidade de todos os que têm colaborado connosco, de diferentes formas, e também dos que nos abriram as portas das suas explorações. Neste ano 10, que inicia com o presente número, estreamos uma nova apresentação da revista, que esperamos seja do vosso agrado. E, para agradecer a todos os que nos seguem, tornámos gratuito o envio dos próximos 4 números da Ruminantes: se quiser recebê-los em casa, basta que se inscreva pelo site da revista em www.revista-ruminantes.com.

Em novembro, foi lançado nos Açores mais um leite de pastagem. É bom ver que cada vez mais se aproveitam as condições naturais que o arquipélago tem. Será ainda melhor quando houver a capacidade de transformar este leite diferenciado em produtos de maior valor acrescentado, para poder remunerar melhor os produtores pelo leite de qualidade que produzem. Ao longo destes anos conhecemos muito bons gestores do negócio agropecuário, pessoas que não ficam atrás, em nada, dos melhores produtores europeus. Nas muitas entrevistas realizadas durante este tempo, ficámos com a perceção de que o ponto fraco da fileira do leite está na qualidade das estruturas que compram e comercializam o leite deste produtores. É uma critica comum que se poderia fazer muito mais neste campo, que estas estruturas não parecem acompanhar o nível de conhecimento e a capacidade de gestão dos melhores produtores de leite. Talvez falte no “livro de princípios” dessas mesmas estruturas a definição clara dos valores essenciais ao bom funcionamento de qualquer sociedade: a integridade, o respeito pelos outros, a paixão pelo sucesso e o sentido de serviço. Faz alguma confusão ver organizações que sinalizam uma descida do preço do produto no mesmo momento em que pedem um aumento na remuneração dos seus assessores. Está na altura de começar a mudar. Como dizia James Baldwin, conhecido escritor norte americano "Nem tudo o que enfrentamos pode ser mudado. Mas nada pode ser mudado enquanto não for enfrentado." A todos os nossos leitores, desejamos um bom ano. Nuno Marques

REVISTA RUMINANTES 36 JANEIRO FEVEREIRO MARÇO 2020

DIRETOR Nuno Marques nm@revista-ruminantes.com COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Ana Lage, António Moitinho, Carlos Neves, Carlos Rocha, Carlos Santoalha, Carlos Vouzela, Carolina Silva, César Novais, Eugénio Câmara, Garry Mainprize, George Stilwell, Joana Silva, João Guilherme, João Santos, Joaquim Cerqueira, José Caiado, Leonel Barbosa, Luís Queirós, Luís Raposo, Marisa Bernardino, Miguel Minas, Nigel Cook, Ricardo Bexiga, Roberto Ponte, Rute Santos, Susana Sousa. PUBLICIDADE E ASSINATURAS Nuno Marques comercial@revista-ruminantes.com REDAÇÃO Francisca Gusmão, Inês Ajuda, Margarida Carvalho FOTOGRAFIA Francisco Marques DESIGN GRÁFICO E PRÉ-IMPRESSÃO Francisca Gusmão fg@revista-ruminantes.com IMPRESSÃO Jorge Fernandes Lda Rua Quinta Conde de Mascarenhas nº9, Vale Fetal 2825-259 Charneca da Caparica Telefone: 212 548 320 ESCRITÓRIOS E REDAÇÃO Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto 2780-051 Oeiras Telemóvel: 917 284 954 geral@revista-ruminantes.com PROPRIEDADE/EDITOR Aghorizons, Lda / Nuno Marques Contribuinte nº 510 759 955 Sede: Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto. 2780-051 Oeiras GERENTE Nuno Duque Pereira Monteiro Marques DETENTORES DO CAPITAL SOCIAL Nuno Duque Pereira Monteiro Marques (50% participação) Ana Francisca C. P. Botelho de Gusmão Monteiro Marques (50% participação) TIRAGEM 5.000 exemplares PERIODICIDADE Trimestral REGISTO Nº 126038 DEPÓSITO LEGAL Nº 325298/11 O editor não assume a responsabilidade por conceitos emitidos em artigos assinados, anúncios e imagens, sendo os mesmos da total responsabilidade dos seus autores e das empresas que autorizam a sua publicação. Reprodução proibida sem a autorização da Aghorizons Lda. Alguns autores nesta edição não adotaram o novo acordo ortográfico. O "Estatuto Editorial" pode ser consultado no nosso site em: www.revista-ruminantes.com/estatuto-editorial www.revista-ruminantes.com www.facebook.com/RevistaRuminantes

RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

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SUMÁRIO

#36 JANEIRO FEVEREIRO MARÇO 2020

08 CNF'19 Saiba quem são os vencedores do Concurso

12 CNF'19 Os perfis nutricionais das forragens premiadas

16 Margin Monitor Milk Quer ganhar até 20.000€/ano?

19 Unileite Leite de pastagem Nova Açores

20 Lactobacillus Hilgardii Nova tecnologia em ditivos para silagem

24 "Williams" Suffolk Criação de reprodutores de alta genética

28 Roberto Pontes Uma exploração de campeãs

32 Com Eugénio Câmara "O preço do leite não dá margem para errar"

34 Claudicação Sistemas de pastoreio vs. confinamento

38 Da transição ao pico As necessidades nutricioanais na lactação

40 Tima Feed Boost O novo ativador ruminal azotado da Vitas

42 Recria de novilhas Dos primeiros dias até à inseminação

46 Raças autóctones Bovinos de carne em sistemas extensivos

50 Hipra apresenta estratégia Contra o vírus sincicial respiratório bovino

52 George Stillwell explica "O que os olhos nos podem dizer"

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RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020


RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

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SUMÁRIO

56 Antibióticos Uso prudente em bovinos de leite

58 Cães de trabalho Os cuidados a ter com os animais da exploração

60 Sala de ordenha paralela DeLaval P500, a primeira na Europa

62 Ordenha robotizada "Uma solução completa de ordenha automática"

66 Com Leonel Barbosa O robot que trouxe a mudança

70 Carlos Neves fala sobre A sua experiência com robots de ordenha

72 Observatório de Matérias primas: "Saltos e saldos"

74 Observatório do Leite: "Sentimentos mistos"

76 Índice VL e VL-erva Preços do leite abaixo da média

78 De Heus Dia do produtor junta 350 gestores de explorações

80 Cooperativa Bom Pastor "O acesso à informação é fundamental"

84 Alimentação animal Uma argumentação sobre a sua sustentabilidade

86 New Holland T5 Os Dynamic Command™ têm nova transmissão

88 Kubota M7003 Mais tecnologia na nova série da marca nipónica

90 Feiras e eventos 6º Encontro técnico de produção de leite

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RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020


RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

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FORRAGENS | CNF 2019

CONCURSO NACIONAL DE FORRAGENS 2019

ESTE ANO, O CNF CONTOU COM CINCO CATEGORIAS DE FORRAGENS: SILAGEM DE ERVA, DE MILHO, DE LUZERNA, DE SORGO E FORRAGEM INOVADORA. NO ENTANTO, DEVIDO AO NÚMERO DE ANÁLISES APURADAS, SÓ FORAM PREMIADAS AS CATEGORIAS DE SILAGEM DE ERVA E SILAGEM DE MILHO.

D

evido às particularidades da fisiologia digestiva da vaca leiteira, é necessário incorporar forragens na sua dieta. É comum a incorporação de palha, alguns fenos, silagem de milho e silagem de erva. Dependendo das zonas, todas estas forragens poderão ser produzidas, em maior ou menor escala, na própria exploração ou compradas ao exterior. Contudo, as silagens são aquelas que entram em maior proporção na dieta das vacas e, talvez por isso, são produzidas na própria exploração com mais frequência e em maior quantidade. Para satisfazer as

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RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

Por Ana Lage (ALIP); Ruminantes

necessidades nutricionais das atuais vacas leiteiras de alta produção, os alimentos deverão apresentar elevada qualidade e palatabilidade, favorecendo a sua ingestão. Além disso, quanto maior for a qualidade das forragens produzidas, maior será a rentabilidade das explorações, decorrente da maior produtividade e saúde dos seus animais. Deste modo, o Concurso Nacional de Forragens (CNF) poderá desempenhar um papel encorajador e orientador na procura da melhoria das forragens utilizadas na alimentação dos animais e também, indiretamente, na sustentabilidade

ambiental da atividade pecuária e na sua rentabilidade. À semelhança do ano anterior, concorreram ao CNF todas as amostras que entraram no laboratório da Associação Interprofissional do Leite e Lacticínios (ALIP) entre 1 de janeiro e 31 de julho de 2019. Este ano o CNF contou com cinco categorias de forragens: silagem de erva, silagem de milho, silagem de luzerna, silagem de sorgo e forragem inovadora. No entanto, devido ao número de análises apuradas, só foram premiadas as categorias da silagem de erva e da silagem de milho.


agricultura | pecuรกria | espaรงos verdes www.kuhn.com

Email: divagricola@auto-industrial.pt http://divisaoagricola.autoindustrial.pt

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Concurso Nacional de Forragens 2019

PRÉMIO LALLEMAND | SILAGEM DE ERVA | SOCIEDADE AGRÍCOLA VALE DA LAMA | ENTREVISTA A GARRY MAINPRIZE

Q

ue forragens faz?

Numa área regada por pivot, de 200ha, fazemos milho como cultura de verão e azevém de inverno, para silagem. Fora da zona dos pivots, em cerca de 200 ha, fazemos aveia para silagem. Por vezes, temos necessidade de comprar milho para silagem. A silagem de azevém e aveia que consumimos é toda produzida na exploração.

Que preparação do terreno faz para a cultura do azevém?

O microclima desta zona obriga a semear o azevém muito cedo. O terreno é preparado para a sementeira assim que cortamos o milho para silagem, entre meio de agosto e início de setembro. A preparação envolve 3 passagens, duas com a grade de discos e a terceira com uma alfaia combinada Lemken Rubin Combi Liner Saphir de 4 metros. Que sementes utiliza?

Depois de começarem as chuvas já não conseguimos entrar com as máquinas, por isso iniciamos a sementeira a meio de setembro, com variedades de ciclo muito longo (Vespolini e Caremo). Se o tempo deixar, fazemos um corte em novembro e geralmente cortamos em março. Na parcela 10

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regada fazem-se 2 cortes de azevém e milho de silagem. A sementeira é feita com 38 a 40 kg/ha de semente, sem adubo, e com herbicida de pós emergência. As primeiras regas são feitas com a água suja da lagoa, ou com água limpa. Durante a fase de crescimento da cultura a água para rega vem da lagoa. O custo da cultura do azevém fica em 28,5€/tonelada. Quando ensilou? Em quanto tempo fez o silo? Utilizou conservantes?

A silagem que ganhou o prémio foi cortada em abril no primeiro corte. Cada silo de azevém tem cerca de 1600 ton, e fechamos o silo em 3 a 4 dias. A parte mais crítica do processo de ensilagem é o calcamento da erva no silo, uma vez que temos apenas um trator (Fendt 714 com carregador frontal, rodado duplo e peso atrás) que vai calcando um a dois reboques de cada vez. Enquanto isto acontece, os outros reboques que possam chegar têm que aguardar. A erva é sempre despejada numa das paredes extremas do silo, e vai sendo calcada na vertical a partir dessa extrema. Desta forma, o trabalho é mais eficaz. As máquinas de corte são todas contratadas. Corta-se quando a erva está com mais de 32% de matéria seca para evitar transportar água.

DADOS DA EXPLORAÇÃO Empresa: Sociedade Agrícola Vale da Lama Gerente: Garry Mainprize Localização: Vale da Lama; Chamusca Nº de empregados: 28 • Área: 400 ha Animais em produção: 1000 Produção média diária: 32 l/vaca/dia Recria: na exploração Idade ao 1º parto – 23,5 meses Venda do leite: Parmalat (80%) e Lacticoop (20%)

PERFIL NUTRICIONAL DA SILAGEM Silagem Erva

% Nutrientes

Matéria Seca

36,4

pH

3,86

Cinzas

9,9

Proteína Bruta

16,35

Proteína Solúvel

60,8

Azoto amoniacal

9,2

NDF

44,0

ADF

31,1

DMO

73,9

ENL

1,67

UFL

0,92

UFC

0,86

PDIE

7,32

PDIN

8,74

Fibra Bruta

27,1

Açúcares totais

3,5


Concurso Nacional de Forragens 2019

PRÉMIO LUSOSEM | SILAGEM DE MILHO | SOC. EXPLOR. AGROPEC. ÁGUA DO SOBREIRO | ENTREVISTA A CARLOS ROCHA

Q

ue forragens faz?

Essencialmente milho, azevém e aveia, numa área de cerca de 500 ha, nos quais em 200 ha dispomos de pivots. Em 2019, a produção de milho rondou as 7000 ton. em cerca de 100 ha.

Que operações culturais faz para cultura do milho?

Lavoura (charrua/chisel), gradagem, sementeira, monda química, adubação/rega. Que tipo de sementes utiliza?

De ciclos mais longos (500/600).

Que aduções e mondas faz?

Monda química de pós-sementeira. Como é o abastecimento de água?

A água para rega, abastecimento urbano, industrial e piscicultura é proveniente da albufeira criada pela Barragem de Sta. Clara, localizada no Rio Mira, a este do Perímetro de Rega. Como foi feita a silagem?

A fase de corte e ensilamento é realizada entre setembro e outubro. No ensilamento são tidos em conta vários procedimentos: - o silo é comprimido com 2 tratores (1 a pisar e outro a espalhar); são espalhados

alguns sacos de sal durante o enchimento do silo; o silo é coberto com um filme de barreira de oxigénio e, posteriormente, com um plástico protetor; toda a superfície é coberta com pneus e delimitada com terra. Quais os aspetos que podem ser melhorados na exploração?

Encontrando-se a empresa numa fase de transformação, os principais processos que tendem a uma maior otimização e profissionalização do negócio, como: inovação tecnológica; gestão mais rigorosa; melhoria dos processos produtivos e ganhos de eficiência; alteração do modelo de alimentação dos animais; capacitação da empresa com recursos mais qualificados; implementação de processos com vista à redução dos impactos ambientais. Que indicadores de rentabilidade são considerados?

Custos mensais e produção de leite mensal. De acordo com o plano de transformação que está a ser implementado, o objetivo será de, nos próximos meses, conseguir analisar, com maior detalhe e precisão, o custo por animal e por litro de leite produzido, no sentido de posicionar a empresa no setor e poder ser uma referência dado o potencial de crescimento que a empresa possui.

DADOS DA EXPLORAÇÃO Empresa: Sociedade Exploração Agropecuária Água do Sobreiro Gerente: Carlos Rocha Localização: S. Teotónio, Odemira Nº de empregados: 9 Efetivo: 600 Animais em produção: 350 Produção média diária: aprox. 10.000 litros Produção atual: 29 litros/vaca/dia GB: 4,2 | PB: 3,7 1ª parição: 24 a 26 meses 1ª cobrição (novilhas): por monta natural. Venda leite: Proleite

PERFIL NUTRICIONAL DA SILAGEM Silagem Milho

% Nutrientes

Matéria Seca

38,4

pH (25ºC)

3,85

Cinzas

3,7

Proteína Bruta

7,35

NDF

35,3

ADF

21,2

Amido

40,0

Fibra Bruta

18,3

DMO

73,9

ENL

1,67

UFL

0,98

UFC

0,89

PDIE

7,08

PDIN

4,52

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FORRAGENS | CNF2019

AS FORRAGENS VENCEDORAS DO CNF AVALIAÇÃO DO VALOR NUTRITIVO DAS FORRAGENS APRESENTADAS AO CONCURSO NACIONAL DE FORRAGENS 2019

V

ANA LAGE ALIP – Associação Interprofissional do Leite e Lacticínios ana.lage@alip.pt

erificamos pelas amostras a concurso que, relativamente à silagem de milho, parece existir o domínio da tecnologia e das práticas empregues na sua produção. Por isso, a variabilidade dos resultados obtidos é relativamente pequena, e a qualidade desta forragem pode ser considerada boa. Pelo contrário, os resultados das análises às silagens de erva mostram grande variabilidade. Isto poderá indicar alguma falta de domínio nas práticas corretas a implementar na produção desta forragem, existindo bastante margem de melhoria. O aumento da qualidade desta forragem permitiria às vacas de alta produção melhor desempenho e às explorações onde elas se encontram maior rentabilidade e sustentabilidade. SILAGEM DE ERVA Relativamente à categoria da silagem de erva entraram para concurso 809 amostras. Destas, 208 foram excluídas por não terem a matéria seca (MS) dentro do intervalo (25-50%) imposto pelo regulamento. Para que uma silagem de erva possa ser

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RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

considerada de elevada qualidade deve ser avaliada em vários parâmetros. No Gráfico 1 estão representados os teores médios em MS, proteína bruta (PB), fibra de detergente neutro (NDF), digestibilidade da matéria orgânica (DMO), açúcares totais e cinzas, bem como a sua variação, nas amostras de silagens de erva apresentadas a concurso. Pela análise do Gráfico 1 podemos observar que existe uma enorme variação em todos os parâmetros analíticos. O teor em MS é aquele que varia mais, com um valor médio de 37,2%, máximo de 92,8% e mínimo de 15,3%. Por ser considerado um parâmetro importante e determinante na qualidade da silagem de erva, para fins do concurso só foram consideradas as amostras cujos valores se enquadrassem no intervalo referido atrás. MS O teor em MS poderá indicar se a silagem de erva foi cortada no momento certo ou se a duração da pré-fenação foi adequada. Por outro lado, quando o teor em MS é muito baixo (<25%), as perdas por efluentes poderão ser elevadas. Pelo contrário, quando o teor em MS é elevado a compactação da


As forragens vencedoras do CNF 2019

forragem no silo é mais difícil, impedindo a expulsão adequada do oxigénio presente no seu interior. Este excesso de oxigénio que permanece no silo permite uma maior proliferação de fungos e leveduras, os quais originam uma perda mais rápida da estabilidade aeróbica após a abertura do silo.

100 90 80 70 60 50

PB Também a PB é um parâmetro importante, pois permite que a forragem seja uma excelente fonte de proteína produzida na exploração, e possibilita uma menor dependência das fontes proteicas externas. No entanto verificámos que o teor médio em PB foi de 11,88% MS, valor muito baixo e que sugere, na generalidade dos casos, um corte tardio da forragem, permitindo um estádio vegetativo demasiado avançado. Este estádio vegetativo avançado, também

40 30 20 10 0

MS

PB

NDS

DMO

Açúcares totais

Cinzas

GRÁFICO 1 VALORES MÉDIOS E VARIAÇÃO DOS TEORES EM MATÉRIA SECA (MS), PROTEÍNA BRUTA (PB), FIBRA DE DETERGENTE NEUTRO (NDF), DIGESTIBILIDADE DA MATÉRIA ORGÂNICA (DMO), AÇÚCARES TOTAIS E CINZAS DAS SILAGENS DE ERVA APRESENTADAS AO CNF 2019. (MS EM % E RESTANTES EM % MS).

TABELA 1 VALORES MÉDIOS DAS SILAGENS DE ERVA DA CAMPANHA 2018, DAS AMOSTRAS APRESENTADAS AO CNF 2019 E DA AMOSTRA VENCEDORA Matéria Seca

pH

Cinzas

Proteína Bruta

Proteína Solúvel

Azoto Amoniacal

NDF

ADF

Fibra Bruta

Açucares Totais

2018

36,0

a

DMO

ENL

UFL

UFC

PDIE

PDIN

4,20

a

9,8

11,61

a

54,8

a

8,5

a

53,4

36,1

a

30,6

a

4,9

62,1

1,27

0,74

0,65

a

2019*

a

5,88

6,78a

37,2

4,14

b

9,5

11,88

50,0

8,2

a

a

52,8

35,9

a

30,5

a

5,5

62,6

1,28

0,75

0,66

a

5,92

6,83a

VENCEDORA

36,4a

3,86c

9,9a

16,35b

60,8c

9,2b

44,0b

31,1b

27,1b

3,5b

75,4b

1,57b

0,92b

0,86b

7,32b

8,74b

a

b

a

a b

a a

a a

a a

a a

a a

NDF - Fibra de Detergente Neutro; ADF – Fibra de Detergente Ácido; DMO – Digestibilidade da Matéria Orgânica; ENL - Energia Net Leite; UFL - Unidades Forrageiras Leite; UFC - Unidades Forrageiras Carne; PDIE – Proteína Digestível Intestino limitada pela Energia; PDIN – Proteína Digestível Intestino limitada pelo Azoto. | a, b, c - Valores na mesma coluna com notações diferentes diferem significativamente (P<0,05) | *Amostras referentes ao período do CNF 2019.

VESPOLINI Westerwold Ryegrass

O Vespolini é de muito rápido estabelecimento, reduzindo o tempo entre a sementeira e o primeiro corte. • Elevada qualidade de forragem • Use como cultura principal ou cultura de restolho • Tetraplóide altamente palatável • Rendimento total de matéria seca muito elevado

Socieda

de Agrí

cola Vale Parabén da Lama s por ve ncer o C Nacion oncurso al de Fo rragem 2019!

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As forragens vencedoras do CNF 2019

100

qualidade das silagens. Curiosamente, o pH e a proteína solúvel evidenciam uma diminuição significativa, que poderá traduzir uma ligeira melhoria do estado de conservação da generalidade das silagens de erva.

90 80 70 60

Silagem de erva vencedora Na Tabela 1 também podemos observar os resultados da silagem de erva vencedora. Apresenta um teor em MS de 36,4%, em PB de 16,35% MS, em NDF de 44,0% MS e a DMO de 75,4% MS, o que lhe confere um elevado valor nutritivo. O teor em cinzas, em proteína solúvel e em azoto amoniacal, apesar de serem superiores à média das silagens apresentadas a concurso, situam-se dentro dos critérios estabelecidos pelo júri do CNF.

50 40 30 20 10 0

Amido

MS

DMO

NDF

Cinzas

GRÁFICO 2 VALORES MÉDIOS E VARIAÇÃO DOS TEORES EM MATÉRIA SECA (MS), AMIDO, FIBRA DE DETERGENTE NEUTRO (NDF), DIGESTIBILIDADE DA MATÉRIA ORGÂNICA (DMO) E CINZAS DAS SILAGENS DE MILHO APRESENTADAS AO CNF 2019. (MS EM % E RESTANTES EM % MS).

poderá ser evidenciado pelo teor elevado em NDF que se verificou no conjunto das amostras (52,8% MS). Este atraso no corte origina uma maior lenhificação das plantas diminuindo a digestibilidade da matéria orgânica (62,6% MS) e a eficiência do aproveitamento da forragem pelas vacas.

SILAGEM DE MILHO Já no que se refere à silagem de milho, esta categoria contou com 1522 amostras a concurso. Na Tabela 2 estão presentes os valores médios dos parâmetros analisados na ALIP, referente às amostras no período do concurso e às amostras da campanha anterior (2017-18). No Gráfico 2 estão representados os valores médios e a amplitude entre o máximo e o mínimo de alguns daqueles parâmetros analíticos: MS, amido, NDF, DMO e cinzas, das silagens de milho apresentadas a concurso.

parâmetro a variação também foi muito elevada, apresentando um teor mínimo de 3,0% MS e um teor máximo de 25,6% MS. O teor em cinzas indica-nos a presença de terra na silagem, aumentando o risco de contaminação por clostrídios. Estas bactérias do género Clostridium, quando se desenvolvem no silo, provocam a degradação da proteína da silagem, transformando-a em proteína solúvel (aminas, amidas e outros compostos azotados de baixo peso molecular) e em azoto amoniacal. Por isso, a proteína solúvel e o azoto amoniacal merecem destaque, pois evidenciam a extensão da degradação da proteína em resultado de um processo de conservação deficiente.

Açúcares O teor em açúcares totais nas silagens de erva apresenta uma variação muito elevada, observando-se valores mínimos inferiores a 1,6% MS e valores máximos de 27,2% MS. Esta enorme variação depende de vários fatores, nomeadamente: das plantas que constituíram a forragem inicial, da hora do dia a que foram colhidas e da existência e duração da pré-fenação. Os açúcares desempenham um papel importante no processo fermentativo que ocorre no silo, servindo de substrato para as bactérias. Se a quantidade de açúcares existentes na forragem não for completamente utilizada na fermentação que ocorre no silo, estes ainda serão utilizados como substrato pelas bactérias existentes no rúmen das vacas. São uma fonte de energia mais rapidamente fermentável do que outros carbohidratos, como seja o amido.

MS A MS das silagens de milho apresentadas ao CNF 2019 tem um valor médio de 34,8% com um máximo de 52,4% e um mínimo de 21,4%. Quando comparado com o valor médio da campanha anterior (34,5%), verificamos que, apesar de serem valores muito próximos, estatisticamente, apresentam diferenças significativas. Contudo, estes valores médios situam-se entre os 30 e 35%, intervalo recomendado por Demarquilly (1994), por ser o mais benéfico para o processo de conservação e para maximizar a quantidade de silagem ingerida pela vaca.

Silagens de erva 2018/2019 Na Tabela 1 são apresentadas as médias das silagens de erva do ano 2018 e das amostras apresentadas ao CNF 2019, bem como a composição química da vencedora. Quando comparamos a média das amostras apresentadas ao CNF 2019 com os valores médios de 2018 (Tabela 1), constatamos que, para a maioria dos parâmetros analíticos (MS, PB, NDF, açúcares totais e DMO), não existiram diferenças estatisticamente significativas (p<0,05). Por isso, concluímos que não se verificou uma evolução favorável na qualidade dessa forragem face ao ano passado. Já o resultado das cinzas apresentou uma diminuição, o que é favorável à

Cinzas Relativamente ao teor em cinzas, verificou-se que o teor médio foi de 9,5% MS. Neste

Amido O teor em amido é um dos parâmetros mais importantes na silagem de milho, por ser a fonte de energia, característica principal desta forragem. Ao observarmos os teores médios obtidos nas amostras que concorreram ao CNF 2019, verificamos uma diminuição

TABELA 2 VALORES MÉDIOS DAS SILAGENS DE MILHO DA CAMPANHA 2017-18, DAS AMOSTRAS APRESENTADAS AO CNF 2019 E DA AMOSTRA VENCEDORA. Matéria Seca

pH

C2017-18

34,5a

2019*

34,8

VENCEDORA

38,4

b c

Cinzas

Proteína Bruta

NDF

ADF

Fibra Bruta

Amido

DMO

ENL

UFL

3,85a

3,4a

6,75a

42,1a

24,4a

20,8a

34,2a

69,9a

1,57a

b

3,80

b

3,5

b

7,09

41,7

24,8

b

21,1

32,9

b

70,2

a

a

3,85

c

3,7

c

7,35

35,3

21,2

18,3

40,0

c

73,9

b

b c

b

c

c

b c

UFC

PDIE

PDIN

0,92a

0,82a

6,59a

4,18a

1,57

0,92

0,82

b

6,68

4,35b

1,67

0,98

c

7,08

4,52c

a b

a

0,89

b

NDF - Fibra de Detergente Neutro; ADF – Fibra de Detergente Ácido; DMO – Digestibilidade da Matéria Orgânica; ENL - Energia Net Leite; UFL - Unidades Forrageiras Leite; UFC - Unidades Forrageiras Carne; PDIE – Proteína Digestível Intestino limitada pela Energia; PDIN – Proteína Digestível Intestino limitada pelo Azoto | a, b, c - Valores na mesma coluna com notações diferentes diferem significativamente (P<0,05) | *Amostras referentes ao período do CNF 2019.

14

RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020


As forragens vencedoras do CNF 2019

significativa face à campanha de 2017-18 (34,2% MS vs.32,9% MS). Além disso, nas amostras a concurso verifica-se uma variação considerável, notando-se um teor mínimo em amido de 5,7% MS e um teor máximo de 43,7% MS. Com efeito, é sabido que a composição química da silagem de milho varia devido à influencia de vários fatores como o estado de maturação na altura do corte, a variedade das plantas, o clima e o processo de conservação. No entanto, o estado de maturação no momento do corte será aquele que mais influencia a variação do teor em amido. À medida que o estado de maturação da planta do milho avança, aumentam os teores em MS e amido resultado do crescimento da espiga, com a consequente deposição de amido nos grãos. Por outro lado, este aumento da proporção da espiga em relação às folhas e caules origina uma diluição dos componentes fibrosos da planta, levando a uma diminuição do teor em NDF. NDF Conforme pode observar-se na Tabela 2, as amostras das silagens de milho concorrentes ao CNF 2019, quando comparadas com as da campanha 2017-18, apresentaram, em média, teores em NDF mais baixos (41,7% MS vs.

42,1% MS). Note-se, ainda, que, em termos de variação foram encontradas amostras com teor em NDF de 32,8% MS e outras com 63,3% MS. Portanto, variações que serão, provavelmente, devidas a alturas de corte do caule da planta variáveis e que também terá efeito na digestibilidade da silagem obtida. DMO Apesar da variação notável nos teores em MS, amido e NDF atrás referida, a DMO das silagens de milho apresentou uma variação mais reduzida, entre 58,5% MS e 76,7% MS. Na realidade, embora a composição morfológica da planta do milho se altere ao longo do seu desenvolvimento e o teor em amido aumente, a digestibilidade do NDF diminui, impossibilitando grande acréscimo na DMO (Demarquilly, 1994). Cinzas Relativamente ao teor em cinzas, os valores médios observados mostram que a maioria das silagens de milho não foram contaminadas com terra, pois apresentam teores em cinzas inferiores a 4% MS. No entanto foi verificado um aumento significativo no valor deste parâmetro nas amostras concorrentes ao CNF 2019, face às da campanha anterior.

Silagem de milho vencedora Como também podemos observar na Tabela 2, a amostra vencedora difere estatisticamente em todos os parâmetros analíticos relativamente à média das amostras do CNF 2019. Apresenta uma MS de 38,4%, um teor em amido de 40,0% MS e um teor em NDF de 35,3% MS. Face a estes resultados, podemos constatar que estamos perante uma silagem com elevado valor energético. CONCLUSÕES Se por um lado podemos dizer que, em relação à silagem de milho, em geral o processo de ensilagem está controlado, não se pode dizer o mesmo da silagem de erva. A composição química das silagens de erva observada comprova que as silagens de erva produzidas são na generalidade de fraca qualidade. As boas práticas de ensilagem, nomeadamente o momento do corte e a existência e duração da pré-fenação, bem como o aumento da proporção de leguminosas na forragem a ensilar, podem representar um contributo para melhorar o valor nutritivo das silagens produzidas. Bibliografia: C. Demarquilly, “Facteurs de variation de la valeur nutritive du mais ensilage,” INRA Productions Animales, vol. 7 (3), pp. 177-189, 1994.

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RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

15


Margin Monitor Milk

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m Portugal, nos últimos anos, a rentabilidade das explorações tem-se revelado baixa uma vez que os custos de produção de um litro de leite são, por vezes, superiores ao preço por litro de leite pago ao produtor. Assim sendo, todas as estratégias utilizadas para diminuir os custos de produção são essenciais para aumentar a rentabilidade das explorações. A De Heus lançou em Portugal um programa informático denominado Margin Monitor Milk (MMM), que tem como objetivo monitorizar a eficiência e a

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rentabilidade das explorações permitindo calcular os custos de alimentação, a eficiência alimentar, o custo por litro de leite e, finalmente, a Margem do Leite da exploração (receita do leite por vaca e dia depois de descontados os custos alimentares). Esta ferramenta, além de ajudar produtores e técnicos a tomarem melhores decisões para aumentarem a rentabilidade das explorações, também permite comparar os resultados entre explorações que operam no mesmo mercado. Dessa forma o produtor consegue analisar os seus resultados por comparação com outras

QUADRO 1 PERFIL NUTRICIONAL DAS SILAGENS DE ERVA E MILHO SILAGEM ERVA

MS

pH

Cinzas

Proteína Bruta

Proteína Solúvel

Azoto Amoniacal

NDF

ADF

DMO

ENL

UFL

UFC

PDIE

PDIN

Fibra Bruta

Açucares Totais

MÉDIA

36,7

4,13

9,5

11,92

50,7

8,8

52,7

35,8

62,7

1,28

0,75

0,66

5,92

6,85

30,4

5,4

VENCEDORA

36,4

3,86

9,9

16,35

60,8

9,2

44,0

31,1

75,4

1,57

0,92

0,86

7,32

8,74

27,1

3,5

RESULTADOS DA ANÁLISE DA SILAGEM DE ERVA VENCEDORA NO CONCURSO NACIONAL DE FORRAGENS E RESULTADOS MÉDIOS DAS ANÁLISES DE SILAGEM DE ERVA EFETUADAS PELO ALIP EM 2019. FONTE: ALIP

SILAGEM MILHO

Matéria Seca

pH (25ºC)

Cinzas

Proteína Bruta

NDF

ADF

Amido

Fibra Bruta

DMO

ENL

UFL

UFC

PDIE

PDIN

MÉDIA

34,8

3,80

3,5

7,09

41,7

24,8

32,9

21,1

70,2

1,57

0,92

0,83

6,68

4,35

VENCEDORA

38,4

3,85

3,7

7,35

35,3

21,2

40,0

18,3

73,9

1,67

0,98

0,89

7,08

4,52

RESULTADOS DA ANÁLISE DA SILAGEM DE MILHO VENCEDORA NO CONCURSO NACIONAL DE FORRAGENS E RESULTADOS MÉDIOS DAS ANÁLISES DE SILAGEM DE MILHO EFETUADAS PELO ALIP EM 2019. FONTE: ALIP 16

RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020


Margin Monitor Milk

QUADRO 2 PREÇOS DE MERCADO ESTIMADOS

QUADRO 3 DIETA 1 (UTILIZANDO SILAGEM DE ERVA E SILAGEM DE MILHO COM OS VALORES MÉDIOS DAS ANÁLISES EFETUADAS PELO ALIP EM 2019) TMR SILAGENS MÉDIAS

Forragem

Preço

Palha de trigo

110 €/ton

Silagem de erva

Valores médios

35 €/ton

Vencedora

37 €/ton

Silagem de milho

Valores médios

45 €/ton

Vencedora

47 €/ton

explorações, verificar se estão na média, abaixo ou acima, e perceber de forma rápida o real potencial de melhoria. Uma das melhores estratégias para melhorar a rentabilidade é a produção de forragens de alta qualidade pois as forragens de alta qualidade são fontes relativamente baratas de proteína (silagens de erva) e/ou energia (silagens de milho). Dados experimentais Para avaliar a forma como a qualidade das silagens de erva e de milho podem influenciar o custo da alimentação em vacas leiteiras, elaborámos duas dietas distintas para uma exploração com 100 vacas em produção, com uma média diária por animal de 35 litros e uma qualidade de leite esperada de 3,7% de teor butiroso e 3,2% de teor proteico. Para otimização de cada uma das dietas, oferecemos quantidades livres de matérias primas (para formulação do alimento concentrado), palha de trigo, silagem de erva e silagem de milho. Na dieta 1, foram oferecidas silagem de erva e de milho com os valores nutritivos correspondentes às médias das análises realizadas pelo Laboratório da Associação Interprofissional de Leite e Laticínios (ALIP) no ano de 2019. Na dieta 2, foram oferecidas silagens de erva e de milho com valores nutritivos idênticos àqueles encontrados nas silagens vencedoras do Concurso Nacional de Forragens 2019. Nos custos das forragens foram atribuídos os preços de mercado estimados (tevese em conta que as forragens de melhor qualidade têm custo produção/tonelada mais elevado) — Ver Quadro2. Análise dos dados Analisando as dietas 1 e 2, apresentadas nos quadros 3 e 4, verificamos que a utilização da silagem de erva de melhor qualidade permite uma redução de 1 kg de alimento concentrado em relação à dieta com silagem de erva de qualidade inferior. Na dieta 2, a palha de trigo foi rejeitada uma vez que a silagem de erva utilizada, sendo de melhor qualidade, permitiu utilizar mais 2,3 kg por vaca/ dia e também porque ao recorrer a uma maior quantidade de silagem de erva,

OTIMIZAÇÃO

Kg Prod.

Kg MS

Requerimento

VEM

SDVE

SOEB

21950

2134

200

SFOS

Ca

P

Mg 18,5

Ingestão Sil.. milho média

26,0

9,0

7975

439

-244

4896

16,3

17,2

11,8

Sil.. erva média

10,0

3,7

2557

211

-7

1975

16,5

9,2

5,5

Palha de trigo

0,2

0,2

69

0

-3

54

0,5

0,2

0,2

36,2

12,9

-113,49

-1483

-454

6926

33,3

26,5

-1,0

11,2

10,0

11349

1483

554

5421

105,4

63,4

35,1

47,4

22,9

0

0

100

12347

148,6

89,9

34,1

100%

100%

Falta / Excesso Suplemento com: Mistura TMR 1 Balanço Norma

ANÁLISE DE DIETA

960

500

70

40

215

140

580

150

50

25

180

120

535

90

VEM 960 /kg MS

SDVE 93 g/kg MS

Dentro da norma

SOEB 300 g

FCP1 56 g/kg MS

FCP2 25 g/kg MS

FCH1 183 g/kg MS

FCH2 126 g/kg MS

SFOS 540 g/kg MS

Fora da norma

QUADRO 4 DIETA 2 (UTILIZANDO SILAGEM DE ERVA E SILAGEM DE MILHO VENCEDORAS DO CONCURSO NACIONAL DE FORRAGENS 2019) TMR SILAGENS VENCEDORAS OTIMIZAÇÃO

Kg. Prod.

Kg MS

Requerimento

VEM

SDVE

SOEB

21950

2134

200

SFOS

Ca

P

Mg 18,5

Ingestão Sil. milho vencedora

22,8

8,8

8252

462

-268

4858

16,7

17,5

11,4

Sil. erva vencedora

12,3

4,5

4024

353

327

2960

20,1

13,4

6,7

35,1

13,2

-9674

-1318

-140

7818

36,8

30,9

-0,4

10,2

9,1

9674

1318

240

4676

108,4

60,2

33,3

45,3

22,3

0

0

100

12495

145,2

91,2

32,9

100%

100%

Falta / Excesso Suplemento com: Mistura TMR 2 Balanço Norma

ANÁLISE DE DIETA

960

500

70

40

215

140

580

150

50

25

180

120

535

90

VEM 993 /kg MS Dentro da norma

SDVE 96 g/kg MS

SOEB 300 g

FCP1 60 g/kg MS

FCP2 27 g/kg MS

FCH1 198 g/kg MS

FCH2 129 g/kg MS

SFOS 559 g/kg MS

Fora da norma

RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

17


Margin Monitor Milk

foi possível aportar os níveis necessários de fibra em valores analíticos (nota: o tamanho do corte das silagens de erva e de milho, que não está a ser avaliado neste estudo, pode influenciar a entrada de palha na dieta). A análise económica das duas soluções evidencia uma vantagem clara da dieta 2. A utilização das forragens de melhor qualidade permitiu obter um custo alimentar de 4,59 euros/vaca/dia na dieta 2 (Quadro 6) contrastando com os 5,16 euros/vaca/dia da dieta 1 (Quadro 5). Consequentemente, o custo por litro de leite da dieta 2 também é inferior um 1 cêntimo ao obtido na dieta 1. O valor da Margem do Leite (Receita do leite por vaca e dia depois de descontados os custos alimentares) da dieta 1 é de 6,11 euros enquanto que o da dieta 2 é de 6,68 euros. Encontramos assim uma diferença da Margem no Leite de 0,57 €/vaca/dia entre as duas dietas. Para uma exploração de 100 vacas, conforme a utilizada para o estudo, este diferencial origina maiores receitas brutas, as quais se traduzem em mais 57 €/ dia ou 20 805 €/ano quando comparamos os resultados económicos previstos entre as dietas 2 e 1. Conclusão A produção de forragens de elevada qualidade pode ser um fator determinante na rentabilidade das explorações. Como se verificou neste exercício prático, a utilização de silagens de erva e de milho de boa qualidade permite baixar os custos de produção e consequentemente aumentar de forma significativa os resultados económicos das explorações leiteiras. O trabalho e esforço do produtor na produção de forragens de elevada qualidade compensa, e a única maneira de se perceber a real compensação do esforço de produção destas forragens de qualidade é medindo os resultados económicos de uma exploração ao longo do tempo e comparando-os com as demais explorações.

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RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

QUADRO 5 MARGIN MONITOR MILK DA DIETA 1

QUADRO 6 MARGIN MONITOR MILK DA DIETA 2

Nome do Produtor: SILAGENS MÉDIAS Região: Norte Vacas em Lactação: 100 Leite vendido (L/d): 3500 Leite usado (L/d): 0 Preço do leite (€/L): 32,2

Nome do Produtor: SILAGENS VENCEDORAS Região: Norte Vacas em Lactação: 100 Leite vendido (L/d): 3500 Leite usado (L/d): 0 Preço do leite (€/L): 32,2

Consultor: C. Novais Ration type: PMR DEL: 150 Produção média (L/v/d): 35,0 Gordura (%): 3,70 Proteína (%): 3,20 Peso vivo média (Kg): 600

LOTE

Consultor: C. Novais Ration type: PMR DEL: 150 Produção média (L/v/d): 35,0 Gordura (%): 3,70 Proteína (%): 3,20 Peso vivo média (Kg): 600

LOTE

Número de animais/Lote

100

Número de animais/Lote

100

Produção (l/d)

35,0

Produção (l/d)

35,0

ALIMENTOS (kg/v/d)

MS%

PREÇO €/T

KG

Palha de trigo

ALIMENTOS (kg/v/d)

MS%

PREÇO €/T

KG

Sil. de milho vencedora

38

47

22,8

Sil. de erva vencedora

36

37

12,3

89

300

10,2

FORRAGENS

FORRAGENS 86

110

0,2

Sil. de erva média

37

35

10,0

Sil. de milho média

35

45

26,0

Mistura TMR 1

89

323

11,2

RESULTADOS

MÉDIA

SUPPLEMENT FEED Mistura TMR 2

RESULTADOS

MÉDIA

% Custo Alimentar/receita

46

% Custo Alimentar/receita

41

ROI (€ receita/ € investido)

2,18

ROI (€ receita/ € investido)

2,46

Conc+SubP/LCGP (g/l) 90%

331

Conc+SubP/LCGP (g/l) 90%

302

% Conc+SubP na IMS

44

% Conc+SubP na IMS

41

% Silagem de Milho na IMS

40

% Silagem de Milho na IMS

39

% Silagem Erva na IMS

16

% Silagem Erva na IMS

20 1,51

Reff (LCGP / kg IMS)

1,47

Reff (LCGP / kg IMS)

IMS total (kg/v/d)

22,9

IMS total (kg/v/d)

IMS de forragem (kg/v/d)

12,9

IMS de forragem (kg/v/d)

13,1

I IMS Conc + SubP (kg/v/d)

10,0

IMS Conc + SubP (kg/v/d)

9,1

Receita do Leite (€/v/d)

11,27

Receita do Leite (€/v/d)

11,27

Custo Alimentar (€/v/d)

5,16

Custo Alimentar (€/v/d)

4,59

Custo Alimentar LCGP (€/l)

0,15

Custo Alimentar LCGP (€/l)

0,14

Margem do Leite (€/v/d)

6,11

Margem do Leite (€/v/d)

6,68

22,2


Leite de pastagem

ANICETO RESENDES E SEUS FILHOS ADERIRAM AO PROJETO DO LEITE DE PASTAGEM NOVA AÇORES.

VISITA À FÁBRICA DA UNILEITE NOVA AÇORES.

INDÚSTRIA | NOVA AÇORES LANÇA LEITE DE PASTAGEM

LEITE DE PASTAGEM

JÁ SE ENCONTRA NO MERCADO O LEITE DE PASTAGEM NOVA AÇORES. TRATA-SE DE “UM LEITE PROVENIENTE DE VACAS LEITEIRAS CUJA ALIMENTAÇÃO É FEITA À BASE DE ERVA FRESCA E QUE TEM ACESSO CONTINUADO ÀS PASTAGENS DURANTE TODO O ANO.”

F

oi assim que António Pedro Escabeche, diretor geral da Unileite, apresentou este novo projeto da cooperativa, desenvolvido em parceria com a APCER nos dois últimos anos. Foi necessário estabelecer um conjunto de critérios a que as explorações de leite devem obedecer para poderem obter a certificação “Leite de Pastagem”, bem como aqueles que a Unileite tem de cumprir para a obtenção deste leite. Da parte dos produtores, a existência de luz elétrica, água e sistema de refrigeração do leite são alguns dos requisitos fundamentais, duma extensa lista de que a rastreabilidade do leite, a saúde e bem-estar animal e as práticas de maneio e de ordenha também fazem parte. Atualmente, são já 84 as explorações certificadas, representando 56 milhões de litros por ano e 27% de todo o leite recolhido pela união de cooperativas. “Continuar a senda de novos produtos”. Pedro Tavares, Presidente da Unileite, quer que este seja o primeiro passo para que no futuro todo o leite venha a ter esta certificação. E mais: “o objetivo é “estender a certificação de “Pastagem” à manteiga e aos queijos. Diferenciar a palavra Açores. Para Vasco Cordeiro, Presidente do Governo Regional,

Por Ruminantes

este é “o bom caminho, o bom rumo.” Mas é preciso ir mais além, alertou: “Não estamos sós na produção de leite nem estamos sós na produção de leite de pastagem, temos que fazer sempre mais e buscar este fator de diferenciação. Dando-lhe significado económico.”

UM BRINDE COM LEITE DE PASTAGEM NOVA AÇORES FECHOU A APRESENTAÇÃO DESTE NOVO PROJETO DA UNILEITE QUE CONTOU COM A PRESENÇA DE PRODUTORES, DA DIREÇÃO DA UNILEITE, E DE REPRESENTANTES DO GOVERNO REGIONAL, DO MUNICÍPIO E DA CONFRARIA DO LEITE.

O TESTEMUNHO DE UM PRODUTOR Aniceto Resendes é um dos produtores do Leite de Pastagem Nova Açores. Começou no negócio das vacas de leite há 38 anos e a sua exploração cumpria todas as condições definidas pela Unileite e pela APCER para poder entrar no projeto Leite de Pastagem. O seu objetivo principal é conseguir uma valorização por litro de leite produzido. Atualmente, Aniceto Resendes conta a ajuda dos seus 2 filhos, Lino e Hélio, que também já fazem desta a sua principal atividade. Para eles o dia começa às 6 da manhã. Vão buscar os animais à pastagem para fazerem primeira ordenha do dia. O processo, que demora cerca de 1h20m, repete-se à tarde.

DADOS DE PRODUÇÃO Área total da exploração: 47 ha Efetivo total: 150 Nº animais em ordenha: 75 Alimentação: pastagem, rolos de erva, silagem de milho e concentrado Produção de leite: 30 litros/dia/vaca Teor de gordura do leite: 4,0% Teor de proteína do leite: 3,5%

RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

19


LUÍS QUEIRÓS.

A NOVA BACTÉRIA LACTOBACILLUS HILGARDII PERMITE, JUNTAMENTE COM O L. BUCHNERI, UMA MAIOR ESTABILIDADE AERÓBIA, NÃO APENAS EM LONGOS PERÍODOS DE FERMENTAÇÃO, MAS TAMBÉM EM ABERTURAS RÁPIDAS.

20

RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020


FORRAGENS | ADITIVOS PARA SILAGEM

Lactobacillus hilgardii

UMA NOVA TECNOLOGIA VAI REVOLUCIONAR O MERCADO DOS ADITIVOS PARA SILAGEM A NÍVEL GLOBAL. A NOVA BACTÉRIA LACTOBACILLUS HILGARDII QUE PERMITE, JUNTAMENTE COM O L. BUCHNERI, UMA MAIOR ESTABILIDADE AERÓBIA, NÃO APENAS EM LONGOS PERÍODOS DE FERMENTAÇÃO, MAS TAMBÉM EM ABERTURAS RÁPIDAS (15 DIAS). OS RESULTADOS OBTIDOS PELA LALLEMAND SÃO BASTANTE CONSISTENTES. Entrevista a Luís Queirós, Diretor Global na área de aditivos para forragem, Lallemand Animal Nutrition

Quantos anos estiveram no desenvolvimento desta tecnologia?

A estirpe L. hilgardii I-4785 foi isolada pela primeira vez por investigadores da Universidade de Lavras no Brasil, em cana-de-açúcar, e os seus efeitos em silagem foram apresentados inicialmente na Conferência Internacional de Silagem, em 2009, em Maddison, EUA. Tendo em conta que a tecnologia está disponível no mercado, dependendo do país, desde 2018, desenvolvemos esta tecnologia durante cerca de 10 anos. Onde foram realizadas as investigações?

Em Blanca Pireneus (perto de Andorra), um dos nossos centros de investigação satélite, juntamente com o Miner Institute, em Nova Iorque. A vacaria Blanca, situada perto de Andorra, não é apenas uma vacaria, mas um centro de investigação top onde temos a decorrer diversos ensaios, e onde todos os anos efetuamos sessões técnicas de elevado nível na área da nutrição animal e produção de leite. Estes dois centros de investigação fazem parte do nosso conjunto de FCOE – Forage Center of Excellence. Outros investigadores de renome na área da silagem, totalmente independentes, como Limin Kung, da Universidade de Delaware, EUA, Tim McAllister, da Universidade de Lethbridge, Canadá, Georgio Borreani, da Universidade de Torino, Itália, testaram a nova tecnologia, com alguns dos ensaios a serem publicados em Jornais como o JDS – Journal of Dairy Science.

A NOVA TECNOLOGIA É RECOMENDADA EM SITUAÇÕES DE SILAGENS COM TEOR DE MS SUPERIORES A 30%, E/OU ONDE OUTROS DESAFIOS SE COLOCAM À ESTABILIDADE AERÓBIA DAS MESMAS.

Quando foi o lançamento global da tecnologia?

Optámos por fazer lançamentos locais, sendo que em 2019 a nova gama de produtos esteve já disponível para a campanha da silagem de milho em Portugal, Holanda, Itália, Reino Unido, França, entre outros. Durante o primeiro trimestre de 2020, teremos uma série de eventos locais e internacionais com vista ao lançamento da nova tecnologia, em mais de 26 países: Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Republica Checa, Hungria, Reino Unido, Irlanda, Holanda e Países Bálticos, entre outros. Quando devemos utilizar soluções à base de ácidos ou inoculantes?

A sua utilização e diferenciação continuam sendo por vezes mal percebidas, e convém

claramente identificar em que situações a escolha de um ou de outro pode trazer mais vantagens. Os ácidos orgânicos (fórmico e propiónico), têm como principais objetivos: • diminuir a ação das protéases (enzimas da planta), que deveria levar a uma maior preservação da qualidade da proteína; - baixar rapidamente o pH, inibindo desta forma a proliferação de microrganismos indesejáveis. A utilização, hoje em dia, de ácidos orgânicos pode fazer sentido em situações extremas, em forragens com teores de matéria seca muito baixos (< 16%), onde o ácido fórmico poderá controlar mais eficientemente a degradação de proteína levada a cabo pelas Clostridia, ou em forragens com matéria seca superior a 55%, onde a osmotolerância das bactérias presentes nos inoculantes pode ser colocada em causa. Como tem sido a evolução dos inoculantes ao longo dos últimos anos?

A evolução da qualidade dos inoculantes no mercado foi intensa ao longo dos últimos anos. As características importantes na sua maior ou menor qualidade são: - especificidade para o tipo de forragens e suas características físico químicas; - tipo e qualidade de bactérias; - sinergia entre diferentes estirpes e espécies; - concentração de bactérias/g de forragem tratada; - qualidade de produção do inoculante - viabilidade das bactérias ao longo do

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Lactobacillus hilgardii

tempo, solubilidade, possíveis problemas de sedimentação em meio aquoso, viabilidade das bactérias após diluição; - apresentação do produto: prazo de validade, qualidade do empacotamento, preservação pré-utilização. Como define esta tecnologia e em que se diferencia das existentes?

A especificidade do inoculante para cada tipo de forragem está intimamente associada às características adjacentes – tipo e qualidade de bactérias, sinergia entre as mesmas, e concentração. Nem sempre o inoculante mais caro é o mais indicado. De uma forma geral, podemos utilizar 3 tecnologias diferentes na elaboração de um inoculante: - bactérias lácticas homofermentativas, apenas produtoras de ácido láctico; - bactérias lácticas heterofermentativas, não apenas produtoras de ácido láctico, mas também acético, propiónico, e em alguns casos monopropilenoglicol. - enzimas, de forma geral xilanases e beta glucanases, que degradam fibra, hidratos de carbono estruturais mais complexos. É importante referir que a tecnologia LBLH (L. buchneri e L. hilgardii) será lançada juntamente com a nova gama e marca de inoculantes Lallemand MAGNIVA- Esta nova marca representa uma evolução na tecnologia de aditivos para forragens, pela especificidade que cada uma das referências tem para cada desafio do produtor, e obviamente pela introdução da nova tecnologia LH em todas as referências cujo desafio primordial seja a estabilidade aeróbia das silagens. Nesta gama teremos 3 produtos distintos que conterão a nova estirpe, sendo que os 3 respondem a diferentes desafios do produtor. Para que tipo de forragens é adequada, e quais as suas características físico-químicas?

Em situações de silagens com MS superiores a 30%, e/ou onde outros desafios se colocam à estabilidade aeróbia das mesmas, como sejam dimensão da partícula, baixa compactação, silos de grandes dimensões, a nova tecnologia responde com 3 referências diferenciadoras: - MAGNIVA PLATINUM 1: 300.000 ufc/g de forragem, onde LB e LH entram em proporções idênticas (150.000 cfu/g de forragem cada), respondem aos desafios de forragens com teor de MS superior a 30%, no entanto, com açúcares solúveis e teor em proteína bruta adequados para uma correta fermentação (caso concreto das silagens de milho e sorgo), MAGNIVA PLATINUM 1 permitirá atingir os melhores índices de estabilidade aeróbia do mercado, desde os 15 de fermentação, muitas vezes superior a 24 horas quando comparado com silagens

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controlo ou silagens inoculadas apenas com LB. Em fermentações longas, o efeito também é altamente diferenciador quando comparado com silagens inoculadas apenas com LB; - MAGNIVA PLATINUM 2: uma combinação LBLH com 200.000 ufc/g forragem, em proporções idênticas, com 100.000 ufc/g forragem de Pediococcus Pentosaceus, respondem a fermentações mais dificultadas, onde a fermentação inicial pode ser difícil, e onde a produção de ácido láctico é preponderante. Daí a adição de uma estirpe homofermentativa, como por exemplo, a silagem de grão húmido; - MAGNIVA PLATINUM 3: este inoculante introduz todas as tecnologias numa só referência – 150.000 ufc/g de forragem de LBLH (em proporções idênticas), 100.000 ufc/g forragem de Pediococcus Pentosaceus e um complexo enzimático constituído por xilanases e b-glucanases. Este inoculante permite responder aos desafios mais exigentes do produtor, onde a estabilidade aeróbia é algo a ter em conta, estando assegurada desde os 15 dias de fermentação até fermentações longas, muito superior à estabilidade aeróbia apresentada apenas por LB. Além disso, a necessidade de uma fermentação inicial rápida e eficaz, e as características da forragem, como sejam baixos teores de açúcares solúveis, e também elevado teor de PB que dificulta bastante a fermentação e diminuição do pH, levam à introdução de estirpes homofermentativas e do complexo enzimático, este último com o intuito de incrementar o teor de açúcares solúveis e digestibilidade. Em situações de matérias secas elevadas (> 28-30%), conjugadas ou não com algumas características físicas da forragem que podem limitar a compactação e posterior densidade da silagem — como seja um corte longo da partícula, aumentando a possibilidade de problemas de aquecimento da silagem, com baixa estabilidade aeróbia, consequentemente levando a perdas elevadas de matéria seca e qualidade nutritiva —, então a utilização de bactérias heterofermentativas pode fazer todo o sentido. Estas bactérias, como o Lactobacillus buchneri, têm como principal função produzir não apenas ácido láctico, mas também ácido acético e propiónico – estes dois últimos são compostos antifúngicos, e podem fazer toda a diferença na qualidade final de silagens com matéria seca elevada, impedindo a proliferação de fungos e leveduras, levando a uma maior estabilidade aeróbia, preservando, após a abertura do silo, a maior parte dos nutrientes e matéria seca. Que tipo e qualidade de bactérias?

Toda a nova gama MAGNIVA inclui estirpes já utilizadas anteriormente na gama Lalsil, e outras onde a viabilidade e capacidade de fermentação são superiores, além de

obviamente a nova tecnologia LH I-4785. A hilgardi deve-se utilizar isolada? Que sinergia tem outras estirpes e espécies?

A LH I-4785 demonstrou sempre uma maior eficácia em combinação com a LB NCIMB 40788, daí estar introduzida em sinergia em toda a gama PLATINUM. Existe claramente uma sinergia entre ambas as estirpes, que obtêm melhores resultados quando comparados com as estirpes isoladas. Qual a viabilidade das bactérias ao longo do tempo?

A Lallemand é produtora primária de bactérias e leveduras, todas as estirpes utilizadas na nossa gama são produzidas por nós. Isso permite-nos controlar todos os processos de fermentação; podemos dizer com toda a confiança que produzimos as estirpes mais eficientes do mercado – além disso, a tecnologia HC (High Concentration), garante a elevada solubilidade de toda a gama, principalmente quando aplicado em ultra baixo volume, baixa sedimentação das bactérias no tanque, e elevada viabilidade. Todas as nossas estirpes são devidamente testadas em períodos superiores ao prazo de validade, podendo garantir que findo o prazo de validade, o número total de bactérias viáveis é ainda superior ao indicado no rótulo. Onde é produzido?

Todos os nossos inoculantes são produzidos nas nossas duas fábricas, no Reino Unido e nos EUA, em diferentes embalagens, que vão desdeas 50g até 1.000g/saqueta, dependendo do mercado. Toda a nossa gama tem um prazo de validade de 24 meses. Em que condições deve um produtor utilizar este produto?

A gama de inoculantes MAGNIVA responde a todos os desafios do produtor, sendo que a utilização dos mesmos deverá ser vista como um investimento, no sentido de obtermos, em todo o processo de ensilagem, o mínimo de perdas possível, retendo elevadas quantidades de matéria seca e nutrientes. Onde e como vê o produtor o retorno neste tipo de produto?

A utilização da gama PLATINUM, que contém a nova tecnologia LBLH, tem as suas principais características assente na elevada estabilidade aeróbia. Todos os dados de ensaios até à data demonstram efeitos com elevados retornos de investimentos em: - recuperação de matéria seca; - retenção de nutrientes: maiores índices energéticos e proteicos; - maior digestibilidade da matéria orgânica; - maior eficiência alimentar e consequente produção e leite e carne.


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A nossa linha de inoculantes de forragem de excelência protege o valor da sua forragem em dois pontos críticos – período de fermentação e estabilidade na administração. Como especialistas em fermentação microbiana, a Lallemand Animal Nutrition fornece-lhe soluções direcionadas para os seus desafios, optimizando a sua operação e preparando-o para vencer. Informações sobre o nosso portfólio completo de inoculantes para forragens:

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GENÉTICA | CRIAÇÃO DE REPRODUTORES

“WILLIAMS” SUFFOLK

RECONHECIDA POR SER A RAÇA MAIS PRECOCE DO MUNDO, A SUFFOLK TAMBÉM É APRECIADA POR CONSEGUIR BONS RENDIMENTOS DE CARCAÇA E UM VIGOR HÍBRIDO INTERESSANTE. RAZÕES QUE LEVARAM DOIS EMPRESÁRIOS PORTUGUESES A APOSTAR NA CRIAÇÃO DE REPRODUTORES EM TOTAL IDENTIFICAÇÃO COM OS IDEAIS DA RAÇA NA SUA ORIGEM, O REINO UNIDO.

P

aulo e João são sócios num projeto de criação de reprodutores da raça de ovinos Suffolk. Partilham, além daquele, o apelido comum “Guilherme” (em inglês “William”), pelo qual dão a conhecer a sua exploração: Williams Suffolk. É em Rio de Mouro, freguesia do concelho

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Por Ruminantes | Fotos Francisco Marques e Carlos Pereira

de Sintra, que fica a Quinta do Pinheiro, uma bela propriedade onde se desenvolve este negócio, pela mão de João Guilherme que a Ruminantes entrevistou em novembro. Na origem deste projeto esteve a aquisição dum rebanho a um produtor espanhol, a par com a compra de alguns animais na Irlanda e na Escócia, como nos contou João Guilherme:

“Investimos em ovelhas dos rebanhos mais importantes desta raça no Reino Unido. São ovelhas que já têm um histórico de filhos com boa descendência, são animais com o perfil indicado para dar continuidade à raça. Não há ovelha na nossa casa, ou que detenhamos em sociedade, que não tenha o pedigree amplamente estudado até à quarta geração.”


Criação de ovinos reprodutores Suffolk

JOÃO GUILHERME, SÓCIO-GERENTE DA EXPLORAÇÃO: "ALÉM DA PRECOCIDADE [DA RAÇA], REALÇO O RENDIMENTO DE CARCAÇA QUE RONDA OS 60% E A TEXTURA DA CARNE QUE É COMPLETAMENTE DIFERENTE DA QUE ESTAMOS HABITUADOS."

“INVESTIMOS EM OVELHAS DOS REBANHOS MAIS IMPORTANTES DESTA RAÇA NO REINO UNIDO", CONTOU-NOS JOÃO GUILHEME.

DADOS DO REBANHO Fêmeas paridas: 60/70 Carneiros: 5-6 Ovelhas em aquisição partilhada no Reino Unido: 14 Prolificidade: 1,8 Peso aos 10 dias: 10 a 12 kg Peso aos 70 dias: aprox. 40 kg Mortalidade até 30 dias: 5% Pesagens de controlo de peso: aos 10, 30, 50, 70 dias, de acordo com o protocolo da raça em Portugal GMD: entre 450 g e 500 g, dentro do padrão da raça Idade de desmame: 3,5 a 4 meses Nº de animais vendidos no último ano: 25/30 machos e apenas duas fêmeas (por opção). A partir dos quatro meses. Problemas de saúde: não relatados.

“Fazer animais de qualidade” é o principal objetivo do negócio, mantendo como referência a orientação do seu país de origem: “Tentamos seguir a evolução que a Raça está a ter no Reino Unido. Daqui a cinco anos queremos estar em condições de poder oferecer ao mercado português animais de qualidade semelhante aos que existem no Reino Unido.” Conclui: "De encontro aos ideais deste projecto, chegamos ao fim do ano de 2019 com o intuito de reforçar o nosso rebanho e de ter a genética, em Portugal, dos animais importantes da raça. Adquirimos 50% de 12 ovelhas de “Flushing”(dadoras de embriões) aos rebanhos Solwaybank, Limestone, Ballynacannon, Burnview e Blackstown, ficando assim, neste momento, com 14 dadoras de embriões. Entre estas está a Famosa “Eva Jane”e suas filhas, a atual campeã dos campeões, dos campeonatos de Irlanda “Ballynacannon Beleza”. João Guilherme sabe que em Portugal existe atualmente uma grande procura por parte de novos criadores que se revêem no seu projeto: “São criadores que sabem que estamos a tentar desenvolver um trabalho que traga algo à raça em Portugal. Paralelamente, também já temos alguns clientes, que fazem animais para carne, que têm reprodutores nossos

no ativo para o cruzamento industrial.” Ao dia de hoje, a Williams Suffolk conta com um parceiro em Castelo-Branco e outro em Alcácer-do-Sal, cujos animais estão bem adaptados às temperaturas elevadas que se fazem sentir no verão nestas regiões. Porém, o calor excessivo não é favorável ao processo de melhoramento genético que, nesta exploração, contempla as três vertentes (transferências de embriões, inseminação artificial — IA — e cobrição natural): “Com a IA, há três anos, tivemos uma percentagem de sucesso na ordem dos 50% que no ano seguinte subiu para 85%, e este ano baixou novamente para perto dos 50%. Acredito que esta descida se deva à sazonalidade da raça, porque tentámos que os partos fossem um bocadinho mais cedo, o que provavelmente condicionou os resultados. Em relação às transferências de embriões, o sucesso foi relativamente baixo. A explicação veterinária prende-se com as temperaturas no verão que afetam bastante o sucesso desta prática. As percentagens de sucesso nos animais que temos em Inglaterra são bastante boas, acima dos 70%.” Preservar a precocidade da raça é o principal objetivo do projeto, referiu J. Guilherme. As ovelhas Suffolk são reconhecidas por serem

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Criação de ovinos reprodutores Suffolk

COMEDOURO PARA BORREGOS COM MAIS DE 70 DIA. PERMITE UMA DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTO PROGRAMADA E COM UM SINAL SONORO DE AVISO, AO QUAL OS ANIMAIS REAGEM DESLOCANDO-SE PARA O COMEDOURO. NESTA EXPLORAÇÃO, ESTÁ PROGRAMADO PARA DISTRIBUIR 4 VEZES AO DIA PARA 12 BORREGOS.

as mais precoces do mundo (ou seja, as que mais peso ganham em menos tempo de vida): “Queremos animais precoces e bem-feitos para que consigam suportar o peso e cresçam de uma forma correta. Um dos principais pontos é sem duvida tentar não perder esta homogeneidade e precocidade que a raça tem”. Mas a Suffolk tem outros atrativos para os produtores de carne: “Além da precocidade, realço o rendimento de carcaça

que ronda os 60% e a textura da carne que é completamente diferente da que estamos habituados. Outro argumento a favor é que esta raça não é do tronco da Merino, por isso o vigor híbrido deverá ser mais interessante.” Quanto aos aspetos principais a valorizar na aquisição de um reprodutor, J. Guilherme não tem dúvidas: “o padrão morfológico e a genética.” E conclui: há outros criadores a fazer um bom caminho. Aquilo que posso

ALIMENTAÇÃO

CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS ( /KG MB)

Alimentação: pasto na exploração, fenossilagem, feno, luzerna e ração, de compra. Programa alimentar • OVI-STARTER SUFFOLK (Flocos) a. Starter para os primeiros 2/3 Meses b. Mistura com flocos de milho e cevada, alfarroba, b. Soja, Extruprot • OVI-RECRIA SUFFOLK (granulado mas constituído por cereais tratados termicamente) a. Cerca de 500 g/animal/dia b. Ganho médio diário de 180 g • OVI PRÉ-PARTO SUFFOLK (granulado mas constituído por cereais tratados termicamente) a. 20 dias antes do parto • OVI LACTAÇÃO SUFFOLK a. Após o parto

NUTRIENTES

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dizer em relação a nós é que estamos a fazer uma seleção que agrega algo à raça. Não compramos só por comprar ou só por uma vertente de negócio. O nosso objetivo é ter animais de excelência, que contribuam para a raça ou mesmo para o cruzamento industrial. Animais grandes, com um bom rendimento de carcaça, com um perfil morfológico interessante. Se conseguirmos atingir esses parâmetros aproximamo-nos do animal “perfeito”.

Ovi-Starter Suffolk (Flocos)

Ovi-Recria Suffolk (4 mm)

Ovi PréParto Suffolk GR

Ovi Lactação Suffolk

MS (%)

88,21

88,45

89,07

89,19

UFV

0,94

0,97

0,90

1,00

Proteína Bruta (%)

18,00

16,92

16,02

18,78

PDIN (g)

128,38

120,00

112,13

139,02

PDIE (g)

120,02

115,00

106,13

134,02

PDIA (g)

68,42

62,42

59,31

84,54

Amido(%)

26,00

28,30

26,00

28,78

Celulose Bruta(%)

8,20

8,00

8,00

6,50

NDF(%)

18,33

19,09

17,15

17,74

Mat. Gorda Bruta(%)

3,38

4,03

4,22

4,69

Cinzas Brutas(%)

8,32

8,13

6,12

7,70

Ca (g)

13,37

13,00

9,50

11,00

P (g)

3,31

3,51

4,33

4,50


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GENÉTICA | ENTREVISTA A ROBERTO PONTE

UMA EXPLORAÇÃO DE CAMPEÃS

A GENÉTICA É A GRANDE PAIXÃO DE ROBERTO PONTE. MAS DÁ PARA PERCEBER QUE, APESAR DE APONTAR COMO PRINCIPAL OBJETIVO DO NEGÓCIO A OTIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE LEITE, É NA BELEZA DOS ANIMAIS QUE CRIA QUE PÕE A PAIXÃO. Por RUMINANTES

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Uma exploração de campeãs

A

A ORP ATWOOD GRUTA FOI CAMPEÃ POR 3 VEZES EM CONCURSOS EM S. MIGUEL, AÇORES. DESDE VITELA ATÉ HOJE JÁ GANHOU MAIS DE 20 PRÉMIOS.

DADOS DO REBANHO Efetivo total: 200 Raça: Holstein Nº vacas em ordenha: 98 Nº ordenhas por dia: 2 Sala de ordenha: convencional dentro de um pavilhão de 14 pontos Tempo de ordenha do efetivo: 1h30m 7 100 animais Produção leiteira média/vaca aos 305 dias: 9800 litros Produção média diária/vaca: 32 litros Nº de lactações média/vaca: 3 GB (%): 4.3 PB (%): 3.4 CCS: 135.000 cél/ml Idade média ao abate: cerca de 6 anos Taxa de substituição anual: 25% IEP (intervalo entre partos): 380 dias DEA (dias em aberto): 105 Nº I.A. vaca adulta gestante: 2,0 doses

genética é a grande paixão de Roberto Ponte, e dá para perceber que, apesar de apontar como principal objetivo do negócio a otimização da produção de leite, é na beleza dos animais que põe a paixão. Na pastagem junto à ordenha pastam algumas das vacas campeãs que Roberto nos vai mostrando com orgulho: A qualidade dos animais do efetivo levou muitos anos a ser trabalhada e resulta de uma grande persistência nessa aposta. A exploração das campeãs pertence a Roberto e ao seu irmão Óscar, e já vem dos seus pais. Fica na Ilha açoreana de S. Miguel, na Achada das Furnas, a 500 metros de altitude: No inverno faz muito frio e o verão é muito verde e agradável e as vacas não sofrem com o calor. Tem uma área total de aproximadamente 60 hectares, com um efetivo total de 200 animais, 110 vacas adultas e 98 em ordenha. É na pastagem que as vacas estão o dia inteiro, e duas vezes ao dia têm à disposição silagem de erva e silagem de milho e concentrado (até 10 quilos por animal, fornecido nas ordenhas): A alimentação é o principal factor no custo de produção do leite, e com atual preço do leite, este custo pesa muito na fatura. Os machos são vendidos muito cedo para viteleiros, exceto os melhores que são vendidos na ilha para reprodutores. As fêmeas ficam todas. Fazemos uma aposta muito forte na genética, através do melhor sémen sexado disponível. Tem várias campeãs nas exploração. Quando pensa no melhoramento genético, quais os principais fatores que leva em consideração?

Na seleção, é importante utilizar sémen de touros, que transmita: muito bons úberes, muito boas patas, grande capacidade de

ingestão e bons parâmetros de saúde. Um animal que reúna estes pontos é, muito provavelmente, um animal que vai durar mais anos. Quanto pesa, em média, uma vaca adulta da sua exploração?

São animais grandes, em média o peso anda muito perto dos 700 kg de peso vivo. Passam o dia no pasto e não temos quaisquer problemas de patas. Já teve várias vacas campeãs…

Sim, duas, uma delas, a Gruta, já foi eleita 3 vezes. A ORP McCutchen Maia foi campeã no concurso de junho de 2019. Para além destas, tivemos várias novilhas e vitelas campeãs, entre outros prémios. A genética necessária para ser campeã é compatível com a de uma exploração rentável?

A nossa aposta na genética é para produzir leite de forma rentável, se fizermos campeãs tanto melhor. O que eu pretendo é que o animal seja perfeito em todas as suas partes. Se isto acontecer, vou ter mais leite com menos problemas. O que vende de genética é significativo?

Temos vendido alguns reprodutores desde que tivemos a Gruta e a Maia campeãs, mas o nosso negócio é o leite, não é a genética. Para ser a genética, teria que haver alguém do outro lado a querer comprar, e não há. Quem precisa, geralmente recorre ao sémen que vem de fora, através das IA. Como consegue manter um rebanho com um elevado nível genético?

Uma das técnicas é a lavagem de embriões para obter filhas de vacas com grande potencial genético. Esta é uma boa maneira de termos filhas de vacas que acreditamos

VISTA PARCIAL DA EXPLORAÇÃO E SALA DE ORDENHA.

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Uma exploração de campeãs

… que são boas, que conhecemos e que são boas

VACAS JÁ PREMIADAS EM CONCURSOS LINHA DE CIMA, DA ESQUERDA PARA A DIREITA: ORP GOLDCHIP BRESKA, ORP McCUTCHEN MAIA, ORP ATWOOD GRUTA. LINHA DE BAIXO: ORP DOORMAN NATACHA.

transmissoras. Temos o caso da ORP Goldwin Cacoa, que nunca teve fêmeas, pariu 3 vezes na exploração e ao fim da 3ª lactação nunca mais ficou prenha. Antes de a refugar fizemos uma lavagem, e obtivemos 17 embriões, dois meses depois deu mais 12, e enquanto foi produzindo embriões, fomos aproveitando. Hoje, temos mais de 20 filhas dela, uma das quais já foi jovem campeã em S. Miguel, e outra novilha campeã na Terceira. Quantos embriões pegam em média?

Cerca de 50%, em cada 10 embriões pegam 5. Dos que pegam, 2 ou 3 são fêmeas.

"NA SELEÇÃO, É IMPORTANTE UTILIZAR SÉMEN DE TOUROS, QUE TRANSMITA: BONS ÚBERES, BOAS PATAS, GRANDE CAPACIDADE DE INGESTÃO E BONS PARÂMETROS DE SAÚDE."

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PRODUÇÃO | ENTREVISTA A EUGÉNIO CÂMARA

SEM MARGEM PARA ERRAR

“O NEGÓCIO TEM QUE SER GERIDO COM MUITA ATENÇÃO, POIS O PREÇO DO LEITE NÃO DÁ MARGEM PARA ERRAR.” ESTA FOI A TÓNICA QUE EUGÉNIO CÂMARA PÔS NA CONVERSA QUE TIVEMOS NA SUA EXPLORAÇÃO, NA ILHA DE S. MIGUEL, EM NOVEMBRO.

É

por isso que, defende Eugénio Câmara, "é preciso estar na posse da maior informação possível." Foi assim que este gestor decidiu equipar-se, vai para 7 anos, com uma sala de ordenha com identificadores que permite administrar automaticamente a quantidade de concentrado definida para cada animal em função das suas necessidades. Eugénio pôs outra estratégia em prática para um melhor aproveitamento da forragem: para tal, os partos são geridos por forma a que os animais aproveitem toda a erva verde da pastagem quando ela existe em maior quantidade. Assim, consegue que a maioria dos partos ocorra entre final de setembro e dezembro, o que lhe permite ter quase todas as vacas em produção entre o outono e o inicio do verão. No verão tem muitas vacas secas. A área de pastagem das vacas é definida diariamente, através de cercas elétricas. Todos os dias estas cercas são alteradas em função do número de animais presentes.

Que indicadores utiliza para ver se o negócio está no bom caminho? 32

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Por Ruminantes

Uso uma página de Excel onde tenho as diferentes rubricas descriminadas, alimentação, mão-de-obra, medicamentos, etc., mas é para o concentrado e os medicamentos que olho primeiro. Foi por isso que investiu na sala de ordenha com alimentadores?

Sim, fiz esse investimento principalmente por 4 razões. Em primeiro lugar, a distribuição do concentrado, sendo informatizada, permite uma gestão mais eficiente do fator que maior custo tem no negócio, a ração. Cada vaca só come o que tem que comer; a segunda razão tem a ver com a necessidade de reduzir a mão-de-obra afeta à ordenha, que é escassa, cara e nem sempre da melhor qualidade; a terceira razão prende-se com a deteção precoce das doenças; e a última razão pela facilidade de deteção dos cios. Como funciona este sistema de ordenha?

A sala de ordenha identifica cada vaca que entra na sala e faz o emparelhamento da vaca que entrou com o lugar que assume na sala (1-2-3...); depois, o sistema administra

automaticamente a quantidade definida para esse animal. A quantidade é definida pela relação que eu estabeleci entre a quantidade de concentrado/litro de leite. Assim, em função da produção de leite diária de cada animal, é-lhe distribuída uma determinada quantidade de concentrado no seu comedouro. Esta é ajustada em função das médias de produção de leite de 5 dias de ordenha. Como define a quantidade de ração atribuída a cada vaca?

Depois de as vacas parirem e começarem a ir à sala de ordenha, o programa vai aumentando progressivamente a quantidade de ração, até aos 8 quilos. Ao fim dos primeiros 30 dias, caso a produção o justifique, o programa continua a aumentar a quantidade. Caso a produção obtida não justifique os 8 quilos, o programa ajusta a dose da ração, reduzindo-a. A quantidade de concentrado por litro de leite é ajustada em função da quantidade e da qualidade da erva que tenho nas diferentes épocas do ano; se houver alguma vaca doente, faço o ajustamento para garantir


Entrevista a Eugénio Câmara O ÚLTIMO INVESTIMENTO NA EXPLORAÇÃO FOI UM RESERVATÓRIO COM MAIS DE 1 MILHÃO DE LITROS PARA RECOLHER A ÁGUA DOS TELHADOS (CERCA 1000 M2) PARA UTILIZAR NAS LAVAGENS DOS ESTÁBULOS E NA EXPLORAÇÃO.

para que ela continue a comer o concentrado independentemente do nível de produção. Que maneio alimentar faz?

Neste período (meados de novembro), em que ainda não temos todas as pastagens disponíveis, as vacas dormem na pastagem, pela manhã vêm para a ordenha e depois de serem ordenhadas é-lhes distribuída a mistura do unifeed durante o dia, ficando com acesso à mistura e à pastagem (numa área perto da manjedoura) até à ordenha da tarde. Quando há muita pastagem, vêm pela manhã e, depois de serem ordenhadas, têm acesso à mistura do unifeed durante cerca de uma hora e voltam para a pastagem. Uma hora antes da ordenha da tarde voltam a ter acesso à mistura e depois de ordenhadas tornam novamente à pastagem. Que balanço faz da aquisição da sala ordenha e do alimentador informatizado?

Fiz este investimento há 7 anos. Trata-se de uma sala de 16 pontos (2x8) com um alimentador em cada ponto, e cada vaca tem um identificador electrónico. Foi o melhor que eu podia ter feito. Há 7 anos ainda tínhamos boas rentabilidades, mas desde 2015 que baixaram bastante, e se eu não tivesse uma gestão criteriosa como a que este sistema me permite, as minhas dificuldades eram maiores do que as que tenho. Hoje, para além de ter uma boa gestão da utilização da ração, consigo ir buscar algo mais no preço do leite por fazer parte do projeto das vacas felizes e por ir entregar o leite à fábrica. Este sistema trouxe-lhe um menor consumo total de ração?

Nem por isso, o que consegui foi uma gestão criteriosa da ração. As vacas que produzem pouco só comem mesmo o que tem que ser, enquanto que no sistema antigo comiam mais

do que precisavam. Ou seja, os 300 gramas de ração por litro de leite no sistema atual são mais eficientes do que no sistema antigo. E em termos de saúde animal?

Trouxe várias vantagens, porque a medição da produção de leite em cada ordenha permite-nos perceber se tudo vai bem. O primeiro sintoma de uma doença não se detecta a olhar para a vaca, mas sim pela quebra da produção de leite. Sempre que existe uma quebra de leite superior a 20% há um alerta no sistema e vamos ver o que se passa com o animal. Por isso, as doenças são atacadas de uma forma precoce, resolvendo-se com mais facilidade. O que lhe permite obter o programa informático?

Permite-me ter tudo informatizado, atualmente não tenho registos em papel, a produção de leite por vaca, a gestão da administração do concentrado, o programa de detecção de doenças de forma precoce (através da medição do leite), a detecção de cios (o podómetro regista a atividade das vacas entre as ordenhas e quando animal está na ordenha descarrega os dados). Quando a atividade da vaca sai do normal, é emitido um alerta, e um gráfico do movimento da vaca por hora, para permitir definir a hora ideal para inseminar. Isto trouxeme enormes vantagens, a quantidade de cios perdidos era enorme. Voltava a fazer este investimento?

O investimento na parte informática, na altura, foi de cerca de 30.000€ (medição do leite, programa de gestão,...). Este investimento “pagou-se” rapidamente mas apenas funciona em sistemas de ordenha fixos, não dá para sistemas móveis. NOTA: Agradecemos a amável colaboração de José Manuel Viveiros (Associação Agrícola de S. Miguel).

DADOS DA EXPLORAÇÃO Localização: Fajã de Cima, Ilha de S. Miguel, Açores Área: 58 hectares em várias parcelas, todas com energia da rede e água canalizada. Alimentação: pastagem; unifeed com silagem de erva; silagem de milho e 2 quilos de ração na manjedoura; ração na ordenha. A quantidade diária da mistura do unifeed depende da disponibilidade da erva na pastagem. DADOS DE PRODUÇÃO Efetivo total: cc 230 animais (engorda os machos como vitelão até 8 a 9 meses) Raça: Holstein Nº de vacas em ordenha: 100 Nº de ordenhas por dia: 2 Sala de ordenha: GEA Euroclass 850 - 2x8 com Multiline (com alimentador) Tempo de ordenha do efetivo: Produção leiteira média/vaca/305 dias: 10885 litros (previsão) Produção média diária/vaca: 35,6 l. GB: 4,0% PB: 3,35% CCS: <150.000 células/ml Taxa de substituição anual: IEP (intervalo entre partos): 380 dias DEA (dias em aberto): 110 Nº de I.A. vaca adulta gestante: 1,9 doses

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SAÚDE E BEM-ESTAR | CLAUDICAÇÃO

CLAUDICAÇÃO EM SISTEMAS DE PASTOREIO

A

ocorrência de claudicação em vacas na pastagem tem algumas diferenças chave do que se observa em sistemas de produção leiteira com animais em confinamento. Na pastagem, o papel do trauma parece ser maior devido às deslocações dos animais nos caminhos e à ordenha de grandes grupos. As lesões da linha branca, seguidas dos ferimentos da sola e das fissuras axiais, são as lesões dominantes verificadas em sistemas de pastoreio em países como a Nova Zelândia e a Austrália. Estas lesões são mais frequentes na unha lateral do membro posterior na raça Holstein Frísia, enquanto os ferimentos da sola estão mais associados à unha medial de novilhas em primeira lactação. A fissura axial aparece 34

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Por Nigel B. Cook MRCVS

A CLAUDICAÇÃO EM GADO DE PASTOREIO TEM DIFERENÇAS FUNDAMENTAIS DA CLAUDICAÇÃO OBSERVADA EM ANIMAIS ESTABULADOS.

com maior frequência no membro anterior dos bovinos Jersey mas pode também ser observada nos membros posteriores de outras raças. Apesar destas diferenças, a patogénese básica da patologia podal pode ser aplicada em sistemas de pastoreio. As alterações hormonais que ocorrem no parto são comuns a todas as vacas, independentemente do sistema de maneio, e a fragilidade estrutural que estas alterações causam à unha no inicio da lactação podem ser significativas. CONTRASTES NA UTILIZAÇÃO DO TEMPO

Enquanto bovinos de leite em sistemas de estabulação livre, alimentados com ração, comem durante cerca de 4,5 horas por dia e descansam uma média de 12. Quando


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Claudicação em sistemas de pastoreio

LESÃO DA LINHA BRANCA

horas, a utilização do tempo pelos animais em pastagem é marcadamente diferente. A investigação indica que os bovinos em pastagem passam 8 horas por dia a alimentar-se e descansam 7 a 11 horas por dia. Este tempo de repouso em confinamento resultaria num risco elevado de claudicação, provavelmente associado com o tempo que permaneceriam em pavimentos de cimento. No entanto, na pastagem, o potencial efeito negativo do tempo que os animais passam de pé parece ser atenuado pelo facto da maioria deste tempo ser passado numa superfície de pastagem. Atualmente não é claro se o tempo reduzido de descanso das vacas na pastagem acontece porque não têm tempo disponível para descansar mais ou se não precisam de descansar por tanto tempo quanto as vacas em confinamento. Qualquer sistema de produção de leite deve privilegiar o descanso. Em explorações de maiores dimensões, em que as vacas precisam de passar mais tempo em trânsito na ida e regresso à ordenha, o tempo de descanso e pastoreio diminui. Com o aumento do tamanho das explorações e quando toda a exploração é ordenhada como um só grupo, o tempo em estação pode exceder as 3 horas por ordenha. Nesse sentido, deve considerar-se a hipótese de dividir os grupos. A utilização de parques de espera pode também influenciar o tempo de descanso. Quando o pavimento é feito de cimento ou outras superfícies desconfortáveis, as vacas vão permanecer de pé, o que terá impacto na saúde dos cascos e na claudicação se o tempo de espera for prolongado. OS CAMINHOS

As deslocações, de e para o centro de ordenha, representam um risco de claudicação principalmente devido à ocorrência de trauma, mas também ao aumento da utilização. As lesões podais mais significativas são as lesões da linha branca e a redução da espessura da sola. Quando a sola tem espessura reduzida (<5mm), pode haver um encurtamento do dedo, hematomas ou perfurações da sola. A fissura axial raramente é vista em sistemas de produção de leite com animais em confinamento, mas é uma 36

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FISSURA AXIAL

HEMORRAGIA DA SOLA

lesão frequente em animais em pastagem especialmente em climas quentes e secos. Caminhos abrasivos, ásperos e traumáticos parecem ser a causa. Nem todas as fissuras originam claudicação, mas um grande número pode tornar-se grave. Estas lesões podem acontecer nos membros anteriores e posteriores, mas no membro posterior é a unha lateral a mais frequentemente afetada (60% das vezes). RISCO DE CLAUDICAÇÃO NA ORDENHA

O parque de espera pode ter impacto na ocorrência de claudicações numa exploração de pastagem de diferentes formas. O tempo de permanência numa superfície de cimento já foi discutido. Em grupos de parição mistos, as novilhas são provavelmente as mais afetadas uma vez que se juntam no final do grupo estando por isso mais tempo à espera para serem ordenhadas. Em climas quentes, o impacto de juntar vacas durante longos períodos não pode ser desprezado uma vez que é um ponto crítico para a gestão do stress térmico. Bovinos que sofram com o calor vão continuar a elevar a sua temperatura corporal por algumas horas depois da ordenha, preferindo permanecer em pé para dissipar o calor de forma mais eficiente. É essencial disponibilizar sombra adequada, espaço, e usar ventoinhas para melhorar a circulação de ar. Estas medidas devem ser completadas com sistemas aspersão de água nos climas mais quentes. O tipo de pavimento e a utilização de portões de contenção são fatores de risco no parque de espera. Pavimentos irregulares ou parques onde se acumulem pedras à superfície aumentam o risco de trauma. Adicionalmente, um uso desadequado dos portões de contenção ou uso excessivo de paus e persuasão para entrar na ordenha podem levar ao trauma. As lesões da linha branca irão manifestar-se nos membros anteriores na unha medial ou as típicas lesões de separação da linha branca na unha lateral, causadas pelo escorregar lateral dos membros anteriores. TRANSIÇÃO

A transição das novilhas para o grupo de ordenha é um desafio muito particular

HEMATOMA DA SOLA

em sistemas de pastoreio. Durante o seu crescimento, estes animais tiveram pouca exposição a pavimentos de cimento, tendo pela primeira vez contacto, de forma abrupta, na fase do parto. Além disso, esta transição ambiental acontece numa fase em que fatores hormonais enfraquecem a integridade das unhas, levando a um aumento da mobilidade da terceira falange, hemorragias da sola e redução da espessura da sola. Este impacto pode ser minimizado, reduzindo assim as claudicações, com a administração de uma dieta de transição adequada e ao familiarizar os animais com este tipo de pavimentos antes desta fase. Outra estratégia consiste na separação das novilhas das multíparas durante as primeiras 3-4 semanas de lactação. CRESCIMENTO E UTILIZAÇÃO DO CASCO

Na pastagem, é frequente observar o crescimento excessivo da unha lateral do membro posterior que também acontece nos sistemas de confinamento. Este crescimento exagerado é provavelmente o resultado do caminhar e da irritação (trauma) do córion da unha lateral. Em conjunto com este crescimento exuberante, é frequente a ocorrência de hemorragias da sola causadas pelo aumento da carga. Esta situação é frequentemente observada no início da lactação, associada ao aumento da mobilidade da terceira falange causada pelas alterações hormonais e consequentes alterações do tecido suspensor. Lesões na linha branca e hemorragias da sola da unha lateral do membro posterior estão, na pastagem, associadas a este crescimento exagerado do casco e ao desequilíbrio das unhas. No entanto a hemorragia da sola não parece ser um percursor da formação de úlceras da sola observadas nos animais em confinamento. Possivelmente a diferença na incidência de úlceras da sola está relacionada com as diferentes superfícies em que os animais se encontram, e o tempo que permanecem em estação, em contacto com dejetos o que aumenta a prevalência de erosão dos cascos. A perda de elasticidade e de absorção dos choques causada pela erosão, em conjunto com o tempo prolongado


Claudicação em sistemas de pastoreio

numa superfície dura, são provavelmente as agressões adicionais nos animais em confinamento. Em unhas com solas de espessura normal é importante ter em consideração que as hemorragias da sola raramente são resultado de agressões traumáticas da mesma. A hemorragia da sola é, normalmente, um fenómeno que vem do interior para o exterior com lesão do córion. Esta é causada por alterações hormonais e metabólicas à estrutura das unhas, combinadas com a sobrecarga causada pelo sobrecrescimento da unhas. Em contraste, hematomas da sola (que ocorrem de fora para dentro), vão ser mais prevalentes quando a espessura da sola está muito reduzida. Solas de espessura reduzida começam a ser observadas em grandes explorações de pastagem, em que os animais têm que andar longas distâncias, passam muito tempo no centro de ordenha e parques de espera, e em condições de stress por calor. No entanto, os motivos pelos quais animais na pastagem podem sofrer da diminuição da espessura da sola não estão ainda totalmente percebidos e são o foco de alguns trabalhos de investigação.

SISTEMAS DE PASTOREIO SUMÁRIO DOS FATORES DE RISCO E PONTOS DE CONTROLO POR LESÃO Tipo de lesão presente

Fatores de risco

Pontos críticos de controlo

Lesão da linha branca

Período de transição, restrições na gestão do tempo (tempo passado na ordenha e em trânsito), estado dos caminhos, design e maneio dos parques de espera, nutrição, falta de corte de cascos.

Transição Utilização do tempo Caminhos Parques de espera/ordenha Nutrição Corte de unhas

Fissura axial

Período de transição, restrições na gestão do tempo (tempo passado na ordenha e em trânsito), estado dos caminhos, design e maneio dos parques de espera, nutrição, falta de corte de cascos.

Transição Utilização do tempo Caminhos Parques de espera/ordenha Nutrição Corte de unhas

Hemorragia da sola

Período de transição, stress de calor, restrições na gestão do tempo, sobrecrescimento da úngula lateral do membro posterior e falta de corte de cascos.

Superfície onde andam Calor Parques de espera/ordenha Transição Caminhos

Hematoma da sola

Reduzida espessura da sola, stress por calor, período de transição e mau estado dos caminhos.

Superfície onde andam Calor Parques de espera/ordenha Transição Caminhos

Úlcera da sola

Restrições na gestão do tempo (tempo passado na ordenha e em trânsito), higiene dos cascos (risco de erosão), stress por calor e falta de corte de cascos.

Utilização do tempo Higiene Calor Corte de unhas transição

Hypred agora é

Kersia,

www.kersia-group.com RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

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Da transição ao pico

Cada litro extra no pico, resulta em 250 litros de aumento de produção em toda a lactação.

PEAKER DMI MY BW

SUSANA SOUSA Engª Zootécnica Territory Manager Ruminantes Susana_Sousa@Cargill.com

DMI (Dry Matter Intake) = Ingestão de Matéria Seca; MY (Milk Yield) = Produção Leite; BW (Body Weight) = Peso Corporal

ALIMENTAÇÃO | LACTAÇÃO

DA TRANSIÇÃO AO PICO É NECESSÁRIO CONHECER E SER CAPAZ DE GERIR OS MECANISMOS QUE REGULAM A INGESTÃO DE ALIMENTOS, A SUPLEMENTAÇÃO ENERGÉTICA E AS MUDANÇAS NESSES PARÂMETROS, DEPENDENDO DA FASE DE PRODUÇÃO.

A

s necessidades nutricionais e o metabolismo das vacas sofrem profundas variações durante a lactação. Assim, é necessário conhecer e ser capaz de gerir os mecanismos que regulam a ingestão de alimentos, a suplementação energética e as mudanças nesses parâmetros, dependendo da fase de produção. Essas são as chaves para ter um rebanho saudável e com um melhor desempenho e performance, o que conduzirá a evidentes vantagens para o seu negócio. A gestão das explorações leiteiras tem que estar relacionada com o conhecimento do ciclo produtivo das vacas. Podemos organizar este ciclo em 3 fases principais: transição, alta produção (Pico) e baixa produção. Cada uma destas fases é caracterizada por um desempenho hormonal preciso, que regula o apetite do animal e, através da ação do fígado, determina quais os locais do corpo para onde se devem direcionar energia e outros nutrientes para a sua assimilação. De uma forma resumida, iremos desenvolver as duas primeiras fases e apresentar as nossas soluções nutricionais. TRANSIÇÃO | 3 semanas anteriores e posteriores ao parto

No último terço da gestação começa uma fase de um forte incremento de peso do feto, que contrasta com a quebra de ingestão e com o início da produção do colostro. Estes dois últimos processos aumentam muito as necessidades de nutrientes, que são imprescindíveis e devem ser supridos pela ingestão de alimento que, nesta fase, se 38

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PEAKER O IMPULSO PARA ALCANÇAR PICOS MAIS ALTOS NA LACTAÇÃO CARATERÍSTICAS

BENEFÍCIOS

Alta densidade energética

Apoia vacas altas produtoras, permitindo-lhes expressar o seu potencial genético em termos de produção e fertilidade.

Aminoácidos by-pass de alto valor biológico (EAA)

Favorece a proliferação do epitélio mamário e, portanto, apoia a síntese de leite e caseína.

Fibra digestível eficaz (digNDF)

Estimula a síntese microbiana ruminal e mantém o rúmen saudável sem risco de acidose.

Protetores hepáticos (Aporta Niacina)

Atuam no metabolismo energético celular ajudando a prevenir a cetose subclínica.

Ricos em vitaminas do complexo B

Melhoram a atividade das bactérias ruminais e protegem e desintoxicam o fígado.

encontra muito limitada. É por este motivo que um bom programa de transição tem um impacto fortíssimo sobre a performance do animal (fertilidade, pico de lactação, persistência da curva de leite e longevidade da vaca) e consequentemente na economia das explorações leiteiras. Nesta fase, o uso adequado do Provitech ICE promove uma transição saudável para a lactação, permitindo atingir o pico de lactação de uma forma rápida e em segurança. Este pico será também mais elevado com a correta performance metabólica. ALTA PRODUÇÃO | 3 semanas após o parto até aos 120 dias

No arranque da lactação e até se atingir o pico de ingestão, nós, os nutricionistas, travamos uma luta inglória contra o tão conhecido BEN (Balanço Energético Negativo). Foi com base no melhor controlo deste défice energético que projetámos uma nova solução nutricional:

Peaker – o impulso para alcançar picos mais altos na lactação. O Peaker atua como um propulsor dos picos de lactação acompanhando o aumento da produção de leite em total segurança. É um alimento formulado, desenhado e testado para que as vacas demonstrem todo o seu potencial genético durante a lactação. O Peaker reforça o arraçoamento que tem equilibrado com as suas forragens. De uma forma saudável, potencia os resultados que as nossas vacas têm nesta fase da lactação. Pode ser administrado desde a terceira semana após o parto até aos 120 dias. Este incremento irá melhorar a produção e a fertilidade durante toda a lactação e deste modo a rentabilidade total do efetivo (acompanha um arraçoamento equilibrado para a melhor suplementação das forragens que tem em casa e pode ser administrado desde o fim da terceira semana pós-parto até ao fim da fase de maior produção de leite).


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ALIMENTAÇÃO | CORREÇÃO AZOTADA

TIMAFEED BOOST

ATIVADOR RUMINAL AZOTADO QUE SUBSTITUI PARTE DOS CONCENTRADOS PROTEICOS VEGETAIS NA CORREÇÃO AZOTADA DA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES.

O

Grupo Roullier desenvolveu um novo produto na gama TIMAFEED que substitui parte dos concentrados proteicos vegetais na correção azotada da alimentação de ruminantes: o TIMAFEED BOOST. O TIMAFEED BOOST vem alargar a gama de alimentos TIMAFEED proporcionando uma correção azotada sem OGM’s, visando reduzir a dependência das importações de proteaginosas e seus subprodutos no aporte de proteína. O TIMAFEED BOOST, desenvolvido com tecnologia única e patenteada do CMI Roullier (Centre Mondial de l'Innovation Roullier) permite a disponibilização de azoto no rúmen num período pós–refeição em que as fontes tradicionais não estão disponíveis contribuindo para um melhor equilíbrio de nutrientes disponíveis para a flora ruminal. O TIMAFEED BOOST é um complexo

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Por Departamento Técnico Vitas

orgânico-mineral com base em ureia e argilas, associado a um complexo de matérias-primas de elevado valor nutricional com pré-bióticos que têm função estimuladora da flora ruminal para uma digestão no rúmen mais eficiente. O funcionamento do rúmen é essencial para o bom desempenho produtivo dos ruminantes, por isso importa que a flora ruminal tenha um ambiente propício ao seu desenvolvimento. O equílibrio entre nutrientes assim como um nível de pH constante são essenciais. Este desempenho da flora ruminal é potenciado pelo fornecimento de fatores pré-bióticos que estimulam o seu desenvolvimento. Um funcionamento eficiente do rúmen proporciona um aproveitamento mais eficiente da energia da ração, levando a menores emissões de gases indesejáveis como o METANO e favorecendo as fermentações propiónicas. Por sua vez, a proteína alimentar é também utilizada de uma forma mais eficiente, reduzindo os níveis de AZOTO

AMONIACAL produzido no rúmen, o que traz enormes benefícios para a atividade do rúmen. E, como se torna evidente, há um aumento da eficiência digestiva da energia e proteína associado a um aumento da digestibilidade da ração. O TIMAFEED BOOST combina a fonte de azoto com a fração alimentar de elevado valor nutritivo, o que permite um melhor funcionamento do rúmen com um aproveitamento mais eficiente dos nutrientes e menor emissão de gases indesejáveis, levando a uma melhor produção dos animais, seja na produção de carne seja na produção de leite. A Vitas Portugal, com base no desenvolvimento e investigação realizados pelo Grupo Roullier, disponibiliza esta solução alimentar para o seu efetivo de ruminantes em Portugal. Para mais informações contacte o ATC Vitas Portugal da sua região.


NOVIDADE!

ATIVADOR RUMINAL AZOTADO

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PRODUÇÃO | ESTRATÉGIA ALIMENTAR E MANEIO

RECRIA DE NOVILHAS DOS PRIMEIROS DIAS DE VIDA ATÉ À IDADE DA PRIMEIRA INSEMINAÇÃO

LUÍS RAPOSO ENGENHEIRO ZOOTÉCNICO DEPARTAMENTO RUMINANTES da REAGRO l.raposo@reagro.pt

C

omo em qualquer outra atividade ou negócio, também uma exploração leiteira está dependente da eficiência económica dos seus vários processos de gestão. Se é verdade que a estratégia alimentar das vacas leiteiras em produção é uma importante alavanca no aumento da produtividade e eficiência da exploração, o maneio do grupo de renovação é ainda mais uma garantia da sua lucratividade futura. Por exemplo, a antecipação da idade à puberdade das novilhas e, consequentemente, a obtenção dum primeiro parto “precocemente”, pode aumentar a vida produtiva dos animais e reduzir o seu

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período improdutivo, melhorando assim a lucratividade da criação e reduzindo custos de produção (ver Figura 1). O custo da renovação do efetivo é um dos vários itens de custo variável, podendo ser muito diferente de uma exploração eficiente para uma exploração menos eficiente, e representa na generalidade 20% dos custos de uma exploração. Além disso, a variação poderá depender de outros fatores, como a raça, por exemplo. Na criação de novilhas para renovação do efetivo, a antecipação da idade do primeiro parto é uma estratégia com várias vantagens para além da redução do período improdutivo: - aumento mais rápido do número de vacas em lactação, no caso da exploração procurar aumentar o seu efetivo produtivo; - redução do espaço dedicado ao efetivo “não produtivo”, pela redução do período de tempo associado ao efeito; - redução do tempo de trabalho dedicado por novilha de renovação. Mantendo desde o início o objetivo clássico de um primeiro parto aos 24 meses, há que procurar a inseminação por volta dos 14 meses. Essa idade pressupõe um peso vivo (PV) de 400 kg, combinando de igual forma uma relação harmoniosa entre este PV da novilha, a sua estrutura e a condição corporal. Uma vez reunidas estas condições a novilha estará preparada para a inseminação.

Para apoiar a implementação duma estratégia que vá ao encontro desta abordagem, podemos focar-nos nas etapas mais determinantes da futura vida produtiva da novilha ao longo do seu período de crescimento. GARANTIR UM BOM ARRANQUE As primeiras horas de vida são essenciais para a saúde da vitela. É fundamental cada exploração estabelecer o seu protocolo de saúde e respeitá-lo, por forma a garantir a sobrevivência de cada vitela. Neste protocolo deverá estar incluído um local dedicado e adequado ao parto, isto é, que garanta higiene, um espaço amplo e limpo, sem presença de animais doentes e uma boa cama de palha limpa. A medição da qualidade do colostro (mínimo 60g Ig/l), a garantia duma primeira toma dentro das primeiras duas horas de vida (3-4 l) e ingestão da maior quantidade possível (min 5 l em 3 tomas) durante as primeiras 24 h de vida, permitem dar a imunidade necessária para sobreviver ao novo ambiente. A desinfeção do cordão umbilical, a verificação da abertura das vias aéreas e do reto são também essenciais. É importante reter que a falha na transferência passiva de imunidade terá como consequências o impacto negativo na eficiência da alimentação, a diminuição do GMD nos primeiros 6 meses de vida, o atraso na idade ao primeiro parto e uma mais baixa produtividade na primeira lactação.



Recria de novilhas

"OS PRIMEIROS MESES DE VIDA SÃO AQUELES QUE MAIOR POTENCIAL DE CRESCIMENTO TÊM NA VIDA DE UMA FUTURA VACA LEITEIRA." O primeiro mês de vida deverá ser marcado por uma dieta à base de leite e acomodação individual. O plano de amamentação deve ser seguido cuidadosamente para evitar distúrbios digestivos e o aparecimento de diarreia. Desde os primeiros dias, o fornecimento de uma forragem (palha ou feno), um alimento inicial (starter) e água limpa ajudarão no desenvolvimento progressivo do rúmen. O uso de um sistema de distribuição adaptado ao bezerro jovem é uma vantagem. Por exemplo, o uso de um balde com tetina, colocado a uma altura de 60 cm permite à vitela aproximar-se da posição natural de sucção. Para estimular o fecho da goteira esofágica é recomendável alimentar a vitela com a cabeça levantada (Figura 2). O alimento starter distribuído durante os primeiros 2/3 meses de vida deve ser escolhido pela sua palatabilidade e características nutricionais equilibradas e adaptadas à fase em questão. Este alimento deve também ser enriquecido de vitaminas e oligoelementos contribuindo para o estímulo da imunidade pela ação sinérgica de diferentes fontes de antioxidantes e leveduras. O consumo de alimentos iniciadores é essencial para garantir um bom crescimento após o desmame, pois vitelas acostumadas a consumir um alimento sólido estarão mais preparadas para a transição alimentar. O DESMAME

O desmame é um período sensível, de stress, suscetível de doença, aparecimento de distúrbios digestivos e respiratórios e consequentemente quebras no crescimento. A alimentação neste momento é modificada pela retirada do leite e avizinha-se (quase) simultaneamente uma transição do alimento inicial para o alimento de crescimento. Além disto, em geral, os animais são reunidos em grupos de 6 a 8 animais de tamanho uniforme, agrupamento esse que também constitui uma fonte de stress e que por esse motivo não deve ser acompanhado por muitas mudanças simultâneas na dieta. A mudança de alimento concentrado deverá ocorrer só após a retirada do leite e reagrupamento das vitelas.

RAÇA

IDADE AO 1º PARTO (MESES)

Jersey

24,9

Prim’holstein

28,6

Brune des Alpes

30,6

Normande

31,4

Montbéliarde

32,5

Simmental

33,4

Tarentaise

35,7

Abondance

36,8

Fonte: Techna, Easy Map 2019

FIGURA 2 PARA ESTIMULAR O FECHO DA GOTEIRA ESOFÁGICA É RECOMENDÁVEL ALIMENTAR A VITELA COM A CABEÇA LEVANTADA.

O sucesso desta etapa deve ser julgado pela consecução de 2 objetivos: o animal duplica o peso ao nascimento e o consumo de alimento starter é de pelo menos 2 kg/animal/dia. O alojamento continua a ser importante e deve ser adequado: - a ventilação deve renovar a atmosfera sem correntes de ar; - a cama deve estar seca e limpa; - a desinfeção regular do equipamento usado nestes animais contribui para reduzir a pressão sanitária. Para evitar a ocorrência de problemas há ainda a possibilidade de recorrer à incorporação de aditivos, quer no alimento starter quer no alimento de crescimento, que contribuem para manter o conforto digestivo e apoiar simultaneamente o conforto respiratório.

CRESCIMENTO SUSTENTADO COMO GARANTIA DUMA BOA VIDA PRODUTIVA

Até aos 6 meses, o crescimento das novilhas deve ser sustentado e deverá permitir o desenvolvimento muscular e esquelético sem causar engorda excessiva. O peso das novilhas aos 6 meses é determinante no seu desempenho futuro na produção de leite. Os animais devem atingir aos 6 meses de idade cerca de 30% do peso adulto (aproximadamente 200 kg PV) e a altura do sacro pode ser cerca de 110 cm. É muito importante que os animais expressem todo o seu potencial genético durante esta fase, caso contrário poderão ver comprometidos o seu desejável desenvolvimento e potencial produtivo. A ração constitui a principal fonte de nutrientes e a alimentação com um elevado nível de proteína permite o crescimento e o desenvolvimento sustentados do tecido mamário. Ainda assim, para evitar engorda excessiva é necessário controlar a ingestão de energia. É recomendado fixar um alto nível de celulose na ração e manter o controlo dos níveis de amido, permitindo controlar dessa forma a intensidade das fermentações. O monitoramento do desempenho do crescimento durante e no final desta fase deve permitir que a ração seja reajustada. Nos últimos meses até à inseminação há que manter o desenvolvimento estrutural da novilha, abrandando ligeiramente o ritmo e sem permitir deposição de gordura. A monitorização do crescimento das novilhas poderá ser efetuada através da utilização de aplicativos que acompanham o crescimento dos animais desde o nascimento até o parto. Estes utilizam a entrada de dados (medições ou pesagens realizadas) e definem um intervalo objetivo que permita comparar um grupo de animais com um padrão de referência. CONCLUSÃO

Estes primeiros meses de vida são aqueles que maior potencial de crescimento têm na vida de uma futura vaca leiteira. Apostar no futuro é a melhor forma de obter rentabilidade técnica e económica.

FIGURA 1 COMPARAÇÃO ENTRE PARTO AOS 24 MESES/PARTO AOS 30 MESES PARTO

PERÍODO IMPRODUTIVO (INVESTIMENTO)

24 MESES

PARTO

30 MESES

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PERÍODO PRODUTIVO (GANHOS)



GENÉTICA | BOVINOS DE CARNE EM EXTENSIVO NO ALENTEJO

QUE FUTURO PARA AS RAÇAS AUTÓCTONES?

FACE ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E AO AQUECIMENTO GLOBAL, AS EXPLORAÇÕES DE CARNE EM SISTEMAS EXTENSIVOS PODEM VIR A ENFRENTAR PERDAS DE RENTABILIDADE. A UTILIZAÇÃO DAS RAÇAS AUTÓCTONES PODERÁ TER INTERESSE PARA O PRODUTOR, PERMITINDO O AUMENTO DA RECEITA E/OU A DIMINUIÇÃO DA DESPESA. Fotos Ruralbit.com | ACBM, Pedro Espadinha, João Madeira

A

RUTE SANTOS Instituto Politécnico de Portalegre, VALORIZA rutesantos@ipportalegre.pt

MIGUEL MINAS Instituto Politécnico de Portalegre mminas@ipportalegre.pt

CAROLINA SILVA Instituto Politécnico de Portalegre, VALORIZA carolina.silva@ipportalegre.pt

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s alterações climáticas e o aquecimento global são as principais preocupações que definirão os sistemas de produção e a produtividade pecuária globalmente e a sua influência será ainda maior na seleção animal nas próximas décadas (Miraglia, 2009, citada por Lamy et al., 2012), Fig. 1. Neste cenário, os produtores de bovinos de carne em sistemas extensivos enfrentam reduzidas margens de rentabilidade e uma elevada exposição aos fatores ambientais e às tendências do mercado. O desafio do produtor deverá, portanto, ser o aumento da eficiência da produção que possa mitigar a eventual perda de rentabilidade. Neste âmbito, a utilização das raças autóctones poderá revestir-se de interesse para o produtor, nos aspetos em que permita o aumento da receita e/ou a diminuição da despesa na exploração. É sabido que o desempenho produtivo das raças autóctones não ombreia com o das raças exóticas de aptidão cárnica. Isto é verdade principalmente no que diz respeito ao peso ao desmame dos vitelos e, por consequência, ao valor atribuído na venda dos vitelos desmamados. Interessa, no entanto, avaliar a rentabilidade para o produtor se forem tomados em conta outros fatores, como as perdas decorrentes da mortalidade dos vitelos, os custos sanitários inerentes à morbilidade do efetivo ou o custo alimentar diário das fêmeas reprodutoras. A adaptabilidade a condições mais adversas e a aptidão maternal das raças autóctones podem assim justificar a sua utilização, quer do ponto de vista da rentabilidade que oferecem em cruzamentos terminais com outras raças, quer do ponto de vista da criação em linha pura de animais de reposição. O Alentejo é uma região onde os verões são caracteristicamente quentes e secos, condições que poderão agravar-se num cenário de aquecimento global. A resiliência das raças autóctones, designadamente a raça Alentejana (fotos 1

e 2) e a raça Mertolenga (fotos 3,4 e 5), às condições climáticas é, portanto, uma área de estudo importante, já que estas raças poderão vir a ter um papel determinante na produção de bovinos na região do Alentejo. TOLERÂNCIA AO CALOR A principal consequência do stresse térmico na produtividade dos animais está relacionada com a diminuição da ingestão de alimentos, como consequência de processos metabólicos complexos destinados a reduzir a produção de calor. Os estudos conduzidos por Pereira e colaboradores (2008) sobre a resposta fisiológica ao stresse térmico em bovinos das raças Frísia, Limousine, Alentejana e Mertolenga, permitiram observar que a temperatura retal em condições de stresse térmico variou menos nas raças autóctones do que nas raças Frísia e Limousine. A raça Mertolenga, em particular, apresentou as variações mais baixas, dando indicação de uma maior tolerância ao calor. Ao nível da ingestão de alimentos, a raça Alentejana manifestou uma diminuição na ingestão semelhante à da raça Limousine, enquanto a raça Mertolenga não registou uma diminuição na ingestão de alimentos. As raças autóctones manifestaram assim uma boa capacidade de adaptação ao calor, sendo a raça Mertolenga bastante mais tolerante. O efeito do stresse térmico sobre os parâmetros reprodutivos já foi comprovado, verificando-se que as alterações endócrinas decorrentes da exposição a calor excessivo se manifestam por redução nas taxas de conceção na ordem dos 20 a 30%, redução da duração e intensidade das manifestações comportamentais do cio, diminuição da qualidade dos oócitos, aumento das perdas embrionárias e diminuição da produção de leite (Polsky e von Keyserlingk, 2017). Não existem até à data estudos sobre o efeito do stresse térmico nos parâmetros reprodutivos nas raças Alentejana e Mertolenga, mas é legítimo supor que a tolerância fisiológica


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Que futuro para as raças autóctones

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ao calor se manifestará igualmente nos resultados reprodutivos. Mortalidade dos vitelos Um estudo recente sobre a mortalidade dos vitelos na região do Alentejo (Santos et al., 2019a) obteve correlações positivas entre a mortalidade dos vitelos até às 48 horas de vida e entre os 31 e os 180 dias de vida, e as temperaturas médias mensais no período compreendido entre 2016 e 2018. Ou seja, estas taxas de mortalidade foram tendencialmente superiores nos meses mais quentes. Num outro estudo (Santos et al., 2019b), as taxas de mortalidade dos vitelos filhos de vacas de raça Alentejana e Mertolenga no distrito de Portalegre, no mesmo período, foram de 3,2% e 2,3%, respetivamente (ou seja, mais baixas do que a taxa de mortalidade média dos vitelos nas explorações da região, que foi de 6,5%). Estes resultados parecem indicar que as mães de raças autóctones têm vantagem sobre as mães de outras raças, no que diz respeito à sobrevivência dos vitelos até ao desmame nesta região. Os prós e os contras As desvantagens produtivas das raças autóctones face aos resultados apresentados pelas raças exóticas de aptidão cárnica são relativamente evidentes. Por exemplo, no que diz respeito ao peso ao desmame, para as raças Alentejana e Mertolenga em linha pura, os valores publicados são da ordem dos 217

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kg e 174 kg, respetivamente (Madeira et al. 2014); estes valores são baixos quando comparados, por exemplo, com os de vitelos de raça Limousine, que apresentam pesos médios ao desmame superiores a 280 kg (ACL, 2019). O desempenho das vacas autóctones melhora nos vitelos resultantes de cruzamentos. Deve referir-se que as vacas Mertolengas conseguem desmamar entre 40% a 54% do respetivo peso vivo (vitelos puros vs. vitelos cruzados) (Castro et al., 2012). No entanto, particularmente nesta raça, o ainda assim baixo peso do vitelo desmamado penaliza o seu valor de venda. Num mercado global e extremamente competitivo, os argumentos de que o consumidor está disponível para pagar um valor acrescido pela qualidade organolética do produto, garantia do modo de produção, rastreabilidade e segurança alimentar não parecem gerar valor acrescentado suficiente para levar a maioria dos produtores a optar pelas raças autóctones. Apesar destas desvantagens, e em virtude do anteriormente exposto, a resiliência a condições adversas e a aptidão maternal destas raças são áreas de trabalho de seleção e melhoramento que merecem a atenção das associações gestoras dos livros genealógicos. À medida que os custos de produção possam vir a aumentar, estas e outras características podem vir a desempenhar um papel importante no futuro da produção de bovinos de carne.

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FIG. 1 CONSEQUÊNCIAS ESPERADAS DO AQUECIMENTO GLOBAL NA PRODUTIVIDADE E RENTABILIDADE DAS EXPLORAÇÕES PECUÁRIAS (ADAPT. LAMY ET AL., 2012).

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

AUMENTO DA TEMPERATURA

Aumento da desertificação

Escassez de pastagens

Aumento dos custos de suplementação

Clima mais quente e húmido

Diminuição do desempenho produtivo

Diminuição do rendimento do produtor

Doenças e parasitas tropicais deslocamse para as regiões temperadas

Aumento dos custos sanitários

COMPROMISSO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E DO DESENVOLVIMENTO

• NOTA: Trabalho integrado no projeto ALT BioTec RepGen (código ALT20-03-0246-FEDER-000021) • BIBLIOGRAFIA: Consultar os autores. Cofinanciado por:


CONGRESSO | XII JORNADAS PECUÁRIAS MURALHA DE ÉVORA

A SUSTENTABILIDADE DA PRODUÇÃO ANIMAL EM DEBATE ÉVORA, 6 E 7 DE MARÇO

H

á mais de uma década que a cidade de Évora, acolhe anualmente um congresso dedicado à produção pecuária de ruminantes. Este certame acontecerá de novo este ano, nos dias 6 e 7 de março. Numa época de emergência climática, a comunidade científica afirma que temos de mudar radicalmente os nossos sistemas alimentares para conseguir nutrir uma população global em crescimento. No entanto, têm sido realizadas ligações desproporcionais entre a produção de carne e as emissões de gases que provocam efeito de estufa, sobretudo no que diz respeito

às explorações agropecuárias em regime de extensivo. Este regime de produção tem vários benefícios ambientais como por exemplo o controle da biomassa e a consequente prevenção de incêndios florestais. O papel deste tipo de produção na manutenção dos ecossistemas, no ciclo do carbono, e na alimentação estarão em debate, no dia 6 de março, contando com a presença de representantes de associações ambientalistas, de associações de agricultores, do ministério da Agricultura, da comunidade científica e de profissionais de saúde humana e nutrição. O 1º dia de Jornadas conta com 3 salas a funcionar em simultâneo:

Sala de Ruminantes, Sala de Equinos e Sala de Comunicações Orais. Na sala de Ruminantes a sustentabilidade será discutida nas suas várias vertentes: produtividade, biossegurança, tecnologia e estratégia. Na sala de equinos estará em destaque o bem-estar nas suas várias vertentes: transporte, maneio, alimentação, cuidados geriátricos, entre outros. O 2º dia de jornadas é um dia dedicado a temas mais específicos, onde decorrerão perto de uma dezena de workshops. As duas grandes novidades em este ano serão: - um seminário dedicado exclusivamente aos pequenos

ruminantes – “Inovar na Tradição” com temas relacionados com a produção de carne, leite e lã, melhoramento genético, programas sanitários e biossegurança; - um workshop de animais de companhia, subordinado ao tema Antibioterapia: estratégias actuais e futuras. Nesta edição serão esperados cerca de 700 congressistas para assistir às dezenas de conferências e workshops que serão realizados. O congresso conta com uma vertente científica com a presença de cerca de 30 oradores nacionais e internacionais de renome. As inscrições para o evento estão disponíveis em www.hvetmuralha.pt

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SAÚDE E BEM-ESTAR | VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓRIO BOVINO

CEDO, FÁCIL E FLEXÍVEL

A HIPRA PORTUGAL LANÇOU UMA NOVA ESTRATÉGIA CONTRA O VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓRIO BOVINO. O EVENTO, QUE DECORREU EM OUTUBRO NAS CAVES CALÉM, CONTOU COM AS APRESENTAÇÕES DE MÉDICOS VETERINÁRIOS DA EMPRESA, E DE COLIN LINDSAY, MÉDICO VETERINÁRIO COM MAIS DE 30 ANOS DE EXPERIÊNCIA EM RUMINANTES. Por RUMINANTES

TRABALHAR NA PREVENÇÃO “A HIPRA quer ser considerada uma referência na prevenção” começou por afirmar Gil Sena, médico veterinário responsável pela Unidade de Negócios de Ruminantes e Suínos da empresa, durante a abertura do evento. “Cerca de 83% das vendas da HIPRA são feitas em vacinas o que demonstra bem o compromisso que temos com a prevenção. Outro aspeto importante é o nível de investimento que colocamos em novos projetos de investigação e desenvolvimento”, continuou. De acordo com o orador, em Portugal os ruminantes representam cerca de 27% das vendas de vacinas da empresa. “Temos também a constatar, com satisfação, que as vendas de vacinas têm aumentado exponencialmente nos últimos anos. Se olharmos para os últimos quatro anos, diria que vendemos praticamente o dobro do que tinha sido vendido nos quatro anos anteriores. Isto demonstra também a aceitação do mercado para estratégias de profilaxia”. DOENÇA RESPIRATÓRIA BOVINA (DRB) E VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓRIO BOVINO (BSRV) “Independentemente da zona onde se trabalha, a DRB, representa elevados custos de saúde para as explorações – tanto em explorações de carne como em explorações de leite” afirmou Colin Lindsay na sua apresentação. Esta doença tem uma etiologia multifatorial. Para ela contribuem diversos fatores como o ambiente, o maneio, a nutrição, as características dos animais (raça, idade, genética), os protocolos sanitários e, claro, diferentes agentes infeciosos (ver Figura 1). O vírus respiratório sincicial é o agente mais importante nesta doença com valores de morbilidade entre os 30 e 50% (até 80%) e mortalidade entre os 3 e 5% (até 20%). “A sociedade, o produtor e o consumidor pedem-nos atualmente animais saudáveis 50

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"A PREVENÇÃO DA DOENÇA RESPIRATÓRIA, EM ADIÇÃO A CORRETAS MEDIDAS DE MANEIO, DEVE INCLUIR PROGRAMA DE VACINAÇÃO BASEADOS EM ESTRATÉGIAS MODERNAS QUE CONFIRAM UMA RESPOSTA IMUNITÁRIA EQUILIBRADA E DURADOURA." (COLIN LINDSAY)

e não animais tratados (....) hoje em dia também se pede que a produção reduza a utilização de antibióticos e respeite mais o bem-estar animal, que diminui na presença de doença”. Deolinda Silva, responsável dos Serviços Técnicos de Ruminantes da HIPRA PORTUGAL, alertou ainda para a importância do maneio e da vacinação. “Podemos controlar os fatores de risco que predispõem à ocorrência da doença, mas sabemos que no que respeita a este vírus o maneio não é suficiente. Podemos ter uma boa exploração e ter um surto na mesma. Se não houver imunidade, mesmo numa boa exploração, um surto pode ocorrer e causar problemas. Queremos evitar novilhas com partos tardios, atrasos no crescimento e evitar mortes dos vitelos nas primeiras semanas de vida. Não é exequível pagar a doença. Estamos a transitar da era do tratamento para a era da prevenção. Estamos todos a trabalhar nisso. Queremos novilhas saudáveis, produtivas e férteis. Vitelos de crescimento

rápido, com bons ganhos médios diários”. De acordo com Colin Lindsay, a imunidade local é a ferramenta ideal para lidar com o vírus numa fase precoce da vida do animal, para evitar que ele chegue ao pulmão. Pretende-se uma imunidade do trato respiratório superior e inferior que impeça o vírus de vingar e entrar nos pulmões. O especialista alertou-nos para o papel fundamental das IgA na proteção contra o vírus. Concluiu a sua apresentação dizendo que a prevenção da doença respiratória, em adição a corretas medidas de maneio, deve incluir um programa de vacinação baseado em estratégias modernas que confiram uma resposta imunitária equilibrada e duradoura, e que a vacinação intranasal combinada com revacinação da mesma vacina por via intramuscular são o futuro das vacinas respiratórias. Deolinda Silva reforçou a apresentação de Colin Lindsay, afirmando que o futuro já é o presente. Relembrou que existem dois períodos na vida do animal em que existe maior risco de infeção. “O primeiro é a fase inicial da vida, em que a imunidade está comprometida e, além disso, não é a adequada. As mães podem ter uma elevada quantidade de anticorpos em circulação e pode haver um bom maneio do colostro, mas o que temos maioritariamente são as IgG, que não são as imunoglobulinas locais que necessitamos. Estas IgG podem estar em circulação e não impedem que o vírus entre no pulmão. As IgA (imunoglobulinas locais) são menos de 10% da constituição do colostro e têm um tempo de semi-vida curto (2,5 dias). Por estas razões dizemos que a imunidade que existe nesta fase inicial da vida não é adequada para lidar com o vírus sincicial. Além disso existem outros momentos de stress que vão ocorrendo ao longo da vida do animal como o desmame, agrupamentos de animais e contactos de risco com animais portadores assintomáticos, entre outros”. Dentro de uma exploração os animais jovens


Vírus sincicial respiratório bovino

FIGURA 1 COMPLEXO DBR

FIGURA 2 CEDO, FÁCIL E FLEXÍVEL

EM MESES Ambiente (ventilação, temperatura, humidade) Condições climatéricas

Maneio e nutrição: alimento, diversas origens,...

IM - Intranasal; IN - Intramuscular Agentes infeciosos Vírus (BRSV, PI3, BVD,...) Bactérias, Micoplasma,...

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0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Tipo de animal: Idade, raça, genética,…

Protocolos sanitários: Vacinas, fármacos,…

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são os mais afetados e a infeção nesta fase pode acarretar consequências ao longo da vida. Lesões numa fase muito precoce da vida podem aumentar a predisposição para a ocorrência de outros episódios respiratórios em idade adulta. A ESTRATÉGIA DA HIPRA O problema da vacinação numa fase precoce da vida é que na maioria das vezes estamos a vacinar na presença de imunidade materna. Porém, esta imunidade maternal nem sempre é suficiente para conferir a proteção necessária e pode interferir com a eficácia de uma vacina parenteral administrada em fase precoce da vida do animal. Para ultrapassar esta limitação podemos optar pela vacinação intranasal, estimulando assim a imunidade local, a produção de IgA e a imunidade celular (células T citotóxicas entre outros componentes, que são necessários para combater os vírus) e a memória para reconhecimento futuro. Esta estratégia consiste em pulverizar as cavidades nasais dos vitelos com a vacina de forma a atingir e induzir a resposta no tecido linfóide NALT (tecido linfóide associado à nasofaringe). É neste tecido que o vírus se vai replicar (vacina viva) e estimular a imunidade. No entanto, a realidade é que existem vários sistemas de produção com diferentes fatores de risco, diferentes tipos de animais com diferentes idades e diferentes pesos e existem vários períodos de risco ao longo da vida dos animais. Por esta razão, a aplicação de uma vacina intranasal nem sempre é exequível e também pode não conferir a duração de imunidade adequada para aquele grupo de animais. A solução para prevenir a doença respiratória causada pelo BRSV tem de ser adaptável às diferentes realidades para que os médicos veterinários e os produtores possam adotar a estratégia mais adequada e eficaz para a exploração em causa. Consciente disso, a HIPRA decidiu disponibilizar uma estratégia em vez de uma

excreção viral: 70% dos vitelos, 5 dias após o desafio, estavam livres do vírus. No final do ensaio, após eutanásia e necrópsia de todos animais, verificou-se uma redução de 50% das lesões pulmonares.

O PAINEL DE ORADORES PRESENTE NA APRESENTAÇÃO DA NOVA ESTRATÉGIA CONTRA O VÍRUS BRSV.

simples vacina para este vírus, ou seja, um programa de vacinação completo para o vírus sincicial que se adapta às várias realidades. Esta estratégia consiste na única vacina viva para o vírus BRSV que pode ser aplicada por via intranasal ou intramuscular. Esta estratégica cumpre os dois objetivos requeridos para a prevenção deste vírus: - redução da sintomatologia clínica – menos animais doentes e com sintomas menos severos; - redução da excreção viral – diminuindo a circulação do vírus na exploração, diminuímos as novas infeções. A empresa decidiu dar oportunidade, para testar esta solução, a um cientista independente, John Ellis, professor na Universidade Saskatchewan (Canadá) especialista em BRSV. Um grupo controlo e um grupo vacinado a partir dos 7 dias de idade foram expostos à estirpe mais virulenta do vírus que o cientista tinha armazenada. No grupo controlo registou-se uma mortalidade de 50% dos animais (eutanásia devido à sintomatologia severa). No grupo vacinado após o desafio com a mesma estirpe, verificou-se uma redução de 89% na mortalidade. A necessidade de realizar eutanásia verificou-se apenas para um animal. Verificou-se também uma elevada redução da

CEDO, FÁCIL E FLEXÍVEL A empresa propõe diferentes protocolos que se podem adaptar às diferentes realidades. Um protocolo combinado com uma primeira vacinação intranasal (a partir dos 9 dias de idade), seguida de um reforço por via intramuscular 2 meses após a primeira estimulação alcançando-se uma duração de imunidade até aos 8 meses de idade; um segundo protocolo no qual é utilizada a vacinação intranasal apenas com uma aplicação que confere imunidade durante alguns meses; ou um terceiro protocolo para animais mais velhos (a partir das 10 semanas de idade) que consiste em duas aplicações intramusculares com 1 intervalo de 3 semanas, que conferem uma duração de imunidade de 6 meses (ver Figura 2). Os protocolos podem ser reforçados com vacinações semestrais de forma a prolongar a duração da imunidade. Em conclusão, com esta nova estratégia para a prevenção da doença respiratória causada pelo BRSV, a HIPRA oferece uma solução que se adapta às diferentes necessidades dos médicos veterinários e produtores: 1. vacinação em idade precoce; 2. imunidade de longa duração; 3. redução dos sintomas respiratórios 5 dias após a vacinação intranasal e redução da excreção viral; 4. flexibilidade na aplicação (intranasal ou intramuscular) e 3 protocolos de vacinação disponíveis. Com este lançamento na área da doença respiratória, a HIPRA reforça o seu compromisso com a prevenção no sector bovino e com a inovação, desenvolvendo produtos tecnológicos de qualidade adaptados às necessidades dos seus clientes. RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

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SAÚDE E BEM-ESTAR | DOENÇAS DOS OLHOS

O QUE OS OLHOS NOS PODEM DIZER 52

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O que os olhos nos podem dizer

A PARTIR DOS OLHOS PODEMOS IDENTIFICAR UMA SÉRIE DE SITUAÇÕES E MESMO DIAGNOSTICAR CERTAS DOENÇAS, ALGUMAS DELAS MUITO GRAVES. A EXPRESSÃO “TEM OS OLHOS TRISTES” É CONHECIDA DE TODOS E TODOS SABEM BEM QUE QUASE SEMPRE SE RELACIONA COM ENFERMIDADE E MAL-ESTAR.

GEORGE STILWELL MédicoVeterinário Faculdade de Medicina Veterinária Universidade de Lisboa

A

pesar de primeiro podermos pensar que este artigo irá abordar o que os nossos próprios olhos nos podem dizer quanto à saúde dos animais, a verdade é que iremos descrever as alterações que podem ocorrer nos olhos dos ruminantes e conversar um pouco sobre o significado que podem ter. A partir dos olhos podemos identificar uma série de situações e mesmo diagnosticar certas doenças, algumas delas muito graves. A expressão “tem os olhos tristes” é conhecida de todos e todos sabem bem que quase sempre se relaciona com enfermidade e mal-estar. O orgão visual dos bovinos, comumente chamado olho, é formado por estruturas encontradas na maioria dos mamíferos – o globo ocular e as suas estruturas acessórias como as pálpebras (incluindo uma chamada 3ª pálpebra, que não existe nos humanos), a

conjuntiva, o aparelho lacrimal, uma série de músculos que permitem mexer o olho dentro da órbita, tecidos periórbita, gordura e fáscia bulbar. O olho está alojado na órbita que é formada pelos ossos frontal, lacrimal, zigomático, esfenóide e temporal. A córnea tem uma forma elíptica, com um diâmetro horizontal maior do que o vertical o que permite que tenham um maior campo visual horizontal e alguma deficiência na distinção na vertical. A visão é fraca e essencialmente panorâmica. Não se apercebe de objectos acima da linha da cabeça, a menos que se movam. É bastante sensível ao movimento e aos contrastes de luz/sombra mas têm dificuldade em focar rapidamente objectos próximos o que explica o sobressalto que ocorre quando algo se move rapidamente próximo da cabeça. Tem maior facilidade e tendência para se mover do escuro para o claro. Conhecer e perceber estas noções é muito importante já que facilita imensamente o maneio e, assim, evita conflitos e stress durante a contenção. Os ruminantes não são, portanto, os campeões do sentido da visão. Antes pelo contrário. O que não quer dizer que a possam dispensar ou que os olhos perfeitamente saudáveis não lhes façam muito jeito. Para além disso a córnea, e outros tecidos adjacentes, são extremamente sensíveis, o que faz com que lesões, mesmo pequenas, possam causar grande desconforto, perda de peso, quebra de produção, etc. As alterações nos olhos podem ser divididas em dois grandes grupos: as que são compostas por lesões ou disfunções; e as que resultam apenas de mudanças na expressão, apesar do olho estar intacto. Comecemos pelo segundo grupo. OLHOS SEM LESÕES

Olhos semi-cerrados e imóveis podem indiciar estados de dor. Para além disso, nas situações de sofrimento, parecem indiferentes ao que os rodeia. Não se movem à procura de ameaças nem em resposta a estímulos (sonoros ou luminosos). No caso dos ruminantes, perceber isto é muito importante já que os sinais de dor são muito subtis…o que não quer dizer que a dor seja ligeira. Pupilas dilatadas fazem os olhos parecer mais escuros. Pode surgir em resposta a ambientes com pouca luz, permitindo maior estímulo dos receptores no fundo do olho, mas também é típico em casos de stress, de lesões neurológicas e de doenças metabólicas, como falta de cálcio. Pode surgir também por

acção de medicamentos ou trauma que atinja o sistema nervoso central. A este estado de pupila bem aberta, chama-se midríase. O globo ocular afundado na órbita é bem conhecido daqueles que cuidam de vitelos jovens, já que é um dos primeiros e dos mais importantes sinais de desidratação. O afundamento, endoftalmia, é tão específico que houve quem propusesse uma fórmula que calcula a percentagem de desidratação multiplicando 1,7 pela distância, em milímetros, entre globo ocular e bordo da órbita. Os olhos, nestas situações, também normalmente perderam o brilho e a vivacidade. Uma outra razão pode levar a um afundamento – a perda da gordura que num animal saudável se encontra na zona posterior do globo ocular. O desaparecimento dessa gordura acontece em animais emaciados, ou seja, que não comem há muito tempo. Os tais olhos tristes de que falávamos acima, não são fáceis de descrever, mas são facilmente identificados por aqueles que têm muitos anos a olhar por e a olhar para ruminantes. Na verdade, os “olhos tristes” é uma conjunção mais ou menos completa das características que já descrevemos: imóveis, escuros, sem brilho, ligeiramente afundados e com pálpebras parcialmente fechadas. Ainda há a possibilidade de movimentos anormais e repetidos dos olhos dentro da órbita. Estas oscilações, como um tremor, podem ocorrer no sentido vertical ou horizontal e mais para o interior ou mais para o lado exterior da órbitra. A estas movimentações chamamos nistagmos e normalmente associam-se a lesões neurológicas, que podem ser primárias ou resultar de intoxicações, doenças infecciosas ou desequilíbrios metabólicos. Provavelmente a alteração funcional mais significativa, que pode acontecer sem lesão aparente do olho, é a cegueira. Desconfiamos que o animal está cego quando mostra relutância a mexer-se, não nos segue com o olhar, esbarra em objectos ou outros animais, responde exageradamente a ruídos ou movimentos próximos e não fecha os olhos ao chamado estímulo de ameaça, que consiste em aproximar rapidamente a mão dos olhos. A cegueira sem alterações visíveis dos olhos, resulta quase sempre de lesão nervosa (a nível do nervo óptico ou do centro óptico) por doença infecciosa, toxinas, carência em vitamina A ou B1, etc.

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O que os olhos nos podem dizer

DA ESQ. PARA A DTA: QUERATO-CONJUNTIVITE INFECCIOSA DOS BOVINOS (FASE AGUDA); CONJUNTIVA DE ANIMAL AFECTADO POR ENTEROTOXÉMIA (CLOSTRIDIOSE); CARCINOMA SOBRE A CÓRNEA DE UMA VACA DE CARNE.

A EXPRESSÃO "OLHAR TRISTE", TÃO USADA PELOS MAIS EXPERIENTES, É UMA REALIDADE E DEVE SER PERCEBIDA. É UMA FORMA DAQUELES QUE NÃO FALAM A NOSSA LÍNGUA NOS DIZEREM QUE NÃO SE SENTEM BEM. OLHOS COM LESÕES Existem doenças que afectam só, ou quase só, os olhos e existem aquelas em que as alterações surgem como mais um sinal num quadro clínico complexo. Não sendo este o local para descrever em pormenor as doenças, apenas indicamos aqui algumas das modificações mais comuns de forma a que sejam um alerta para procura de uma assistência veterinária atempada. Lesões nas pálpebras – uma série de tumores podem crescer a nível das pálpebras. Os papilomas aparecem na pele podendo atingir os bordos das pálpebras. Devem ser retirados pois causam desconforto e eventualmente lesão do olho. Outros tumores geralmente aparecem primeiro na 3ª pálpebra sendo os primeiros sinais um espessamento do bordo desta. Os pólipos são benignos e podem apenas causar desconforto, mas os carcinomas são malignos e rapidamente invadem outras áreas e órgãos. O produtor deve estar alerta para estas situações e pedir o apoio veterinário logo à primeira suspeita. Esta é uma doença particularmente frequente nos Açores. Outras lesões possíveis são geralmente de origem traumática – lacerações, abcessos etc… o que deve chamar a atenção para a possibilidade de existirem animais agressivos com cornos, objectos cortantes (chapas ou arame farpado) em locais inapropriados, ou mesmo más práticas. O espessamento das pálpebras sem lesão aparente que chegam a causar o encerramento total do olho, pode surgir em casos de alergias – a medicamentos ou ao próprio leite (alergia à caseína). 54

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O blefarospasmo (abrir e fechar repetidamente as pálpebras) é uma alteração funcional que normalmente ocorre por resposta a dor e inflamação. Conjuntivite e outras inflamações – o primeiro sinal de conjuntivite é o lacrimejamento. Este pode ser unilateral ou bilateral, sendo importante fazer a distinção pois indica se estamos perante uma doença sistémica ou local. Por exemplo, uma das razões mais frequentes para conjuntivite com lacrimejamento profuso unilateral é a presença de um corpo estranho no saco conjuntival. O corpo-estranho mais habitual é a pragana, sendo que esta se aloja bem fundo obrigando a um muito bom exame dos olhos. A conjuntivite bilateral surge em doenças víricas como a causada pelo vírus do IBR ou, em casos graves de infecção por um helminte chamado Thelazia. O aspecto do corrimento ocular também ajuda na distinção da doença, sendo que pode ir de aquoso ou seroso até purulento, conforme há infecção bacteriana ou não. A doença ocular mais comum em ruminantes é a querato-conjuntivite infecciosa causada por diferentes bactérias (nos bovinos a principal culpada é a Moraxela bovis). Como o nome indica caracteriza-se por inflamação da conjuntiva e da córnea. Esta é uma doença, típica do fim do Verão início do Outono, que pode levar à destruição completa do olho com ruptura e prolapso do globo ocular. Deve ser alvo de cuidados médicos urgentes que decidirá o melhor curso de tratamento e principalmente as medidas necessárias à prevenção de mais casos. Relembro que é uma doença que causa enormes dores sendo

que na fase aguda o tratamento analgésico é muito importante. A conjuntiva pode ainda dar-nos um outro tipo de informação extremamente importante através da alteração da sua cor/tom. Por exemplo, a conjuntiva esbranquiçada indica estados de anemia ou pré-choque; cor vermelha viva pode indicar estados febris; cor acinzentada pressupõe problemas de oxigenação do sangue (pneumonias, por exemplo); mucosa arroxeada ou vasos engorgitados acontece em casos de infecções graves com toxémia, como por exemplo nas infecções por certos clostrídeos. Queratite e outras causas de opacidade – para além da querato-conjuntivite referida mesmo antes, existem outras doenças que afectam as estruturas mais internas do globo ocular. Alguns animais podem apresentar esta opacidade logo ao nascimento, fazendo suspeitar de infecção por vírus do BVD. Outras doenças infecciosas como a listeriose (animais adultos alimentados com silagens infectadas) ou a colibacilose (vitelos lactantes infectados por estirpes muito virulentas de E. coli), produzem opacidades muito severas de ambos os olhos. Há, portanto, imensa informação encerrada nos olhos dos nossos animais. Devemos olhá-los com atenção porque mesmo pequenas alterações podem ter um importante significado. A expressão olhar triste, tão usada pelos mais experientes, é uma realidade e deve ser percebida. É uma forma daqueles que não falam a nossa língua nos dizerem que não se sentem bem. E nós queremos que os nossos animais se sintam sempre bem.


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Skin and Wound Hidrogel: 60 ml e 250 ml (AV nº 929/00/19PUVPT)

✓ Não é necessário enxaguar

M ÁLCOOL • • SE

Feridas e cortes

Alívio de prurido

Olhos

LIMPA E HIGIENIZA

Elimina Bactérias

Picadas de insectos

Alívio das zonas de calor

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SAÚDE E BEM-ESTAR | SAÚDE DO ÚBERE

USO PRUDENTE DE ANTIBIÓTICOS EM BOVINOS DE LEITE 1A PARTE TERAPIA DA MASTITE CLÍNICA EM FUNÇÃO DO AGENTE

A

MARISA BERNARDINO DVM, Zoetis Portugal marisa.bernardino@zoetis.com

RICARDO BEXIGA PhD, Faculdade de Medicina Veterinária da UL ricardobexiga@fmv.ulisboa.pt

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mastite constitui, a nível global, a doença responsável pelo consumo de maior quantidade de antibióticos nas explorações de bovinos de aptidão leiteira. Esta doença é também mais frequente nestes animais e a que maior impacto económico acarreta na maioria das explorações. A repercussão económica desta doença relaciona-se, diretamente, com o custo do tratamento, a diminuição da produção de leite, a necessidade de mão de obra extra, a diminuição da produção, a implicação de descarte do leite das vacas afetadas e, indiretamente, com o seu impacto negativo na fertilidade e na vida produtiva futura do animal, podendo conduzir ao aumento da mortalidade ou do refugo precoce. Para minimizar este impacto na produção e, na tentativa de recuperar rapidamente o animal com mastite, a tendência da maioria das explorações é recorrer ao tratamento imediato com antibiótico. Pol e Ruegg (2007), concluíram que cerca de 80% dos antibióticos utilizados nas explorações de bovinos de leite são aplicados no tratamento ou na prevenção desta doença. Esta antibioterapia, para além de afetar também a rentabilidade das explorações, pode levar ao aparecimento de resíduos no leite e conduzir ao desenvolvimento de resistências aos antibióticos, comprometendo assim a eficácia da sua futura utilização nos animais e nas pessoas. Vários estudos têm vindo a demonstrar que, em muitos casos, o recurso à antibioterapia é desnecessário, pois cerca de 30% das amostras de leite mastítico que chegam ao laboratório não apresentam qualquer crescimento (Bradley et al. 2007; Barret et al. 2005; MaKovec e Ruegg, 2003). Noutro estudo, cerca de 40% das amostras foram positivas a agentes Gram negativos ou não bacterianos, como algas, leveduras, fungos (Roberson, 2003), o que indica que não beneficiam do tratamento antibiótico, devido às suas elevadas taxas de autocura, podendo este, inclusivamente, revelar-se prejudicial à recuperação do animal (dependendo do agente envolvido). Com os objetivos de se obterem resultados terapêuticos satisfatórios e, em simultâneo, desacelerar as antibiorresistências, parece fazer

cada vez mais sentido direcionar a terapia da mastite ao agente. Para que isso seja possível, é necessário requerer um diagnóstico da causa desta doença, realizado individualmente e antes da preconização do tratamento, caso se trate de uma mastite ligeira, isto é, em que se observam alterações apenas no aspecto do leite – grau 1 ou moderada, em que, para além do leite, também o úbere está alterado (com sinais de inflamação) – grau 2. A utilização de culturas na exploração como base de abordagem ao tratamento da mastite clínica, quando comparada com a antibioterapia não seletiva para as mastites destes graus, revelou trazer avultados benefícios económicos. Este procedimento também não implicou diferenças significativas nos dias para a cura (clínica e bacteriológica), na produção de leite pós-cura, na contagem de células somáticas e na taxas de recidiva e de sobrevivência após a infeção (Vasquez et al. 2017; Lago et al., 2011). A juntar a estes benefícios, este tipo de abordagem revelou-se uma excelente ferramenta para a utilização prudente dos antibióticos em saúde do úbere, levando a reduções da sua utilização na ordem dos 30 a 70% (Lago et al., 2011; Mansion de-Vries et al., 2016; Kock et al. 2018; Schmenger et al. 2019 (não publicado) e estudos internos Zoetis). Por estes motivos e com o objetivo de reduzir as antibiorresistências, a utilização deste tipo de sistemas de “cultura na exploração” integra, desde 2015, a lista de orientações para a utilização prudente de agentes antimicrobianos em medicina veterinária, publicada pela Comissão Europeia (Jornal Oficial da União Europeia, 2015). O sistema On Farm Culture by Zoetis (OFC by Zoetis) permite detetar, de uma forma rápida (até 24h) e prática (na exploração), os principais agentes bacterianos de mastite, a fim de aumentar a probabilidade de sucesso terapêutico e, em simultâneo, alinhar a terapia com o uso prudente de antibióticos, direcionando-a ao agente em causa, e evitando, assim, custos acrescidos com medicamentos e perdas de leite desnecessárias. O OFC by Zoetis inclui três meios de cultura seletivos, i.e, que permitem o crescimento de


Uso prudente de antibióticos em bovinos de leite

determinadas bactérias e inibem o de outras, possibilitando, desta forma e consoante o(s) meio(s) onde ocorreu o crescimento, identificar o agente presente na amostra de leite (Fig.1). O sucesso da implementação de um sistema de cultura na exploração é fortemente condicionado pela higiene /assepsia aplicada em todo o procedimento, desde a colheita da amostra de leite à cultura da mesma nas placas que contêm os meios seletivos, por forma a se obter um crescimento de agentes provenientes apenas do interior da glândula mamária e não externos a esta. Assim sendo, uma vez identificado o quarto com mastite, deverá proceder-se à colheita asséptica da amostra, segundo o seguinte procedimento (Fig.2): a) lavar o teto com líquido de pre-dipping (ou semelhante); b) secá-lo com papel; c) promover a assepsia da extremidade do teto, com álcool (em toalhetes ou algodão em rama); d) eliminar os primeiros jatos; e) utilizar um copo de colheita esterilizado, de abertura o mais estreita possível. A tampa do copo, caso não seja acoplada ao mesmo, deve ser mantida na mão do operador durante toda a colheita (e não pousada); f) Manter o copo afastado do teto e proceder à ordenha de uma pequena quantidade de leite (aproximadamente 5-10 ml), mantendo o copo com uma inclinação de 45º, a fim de evitar a contaminação da amostra com

detritos do exterior do teto. A amostra deverá ser refrigerada imediatamente e a cultura na exploração deverá ser feita, o mais rapidamente possível e até 24h após a colheita. Durante este procedimento, o local de trabalho deverá estar limpo e arrumado e o operador estar munido de luvas. Após 18-24 horas de incubação a 37ºC, a cultura deve ser interpretada. Desde a deteção dos sinais de mastite até à interpretação, o animal deverá estar sob terapia antiinflamatória, a fim de se promover o seu bem-estar e recuperação, reduzindo a dor e a inflamação. Idealmente, o anti-inflamatório deverá ter intervalo de segurança nulo para o leite, para que o tratamento não implique descarte do leite produzido, quando o resultado da cultura não for indicativo de utilização de antibiótico. A interpretação ditará a utilização de antibiótico, caso estejamos perante um agente Gram + (exemplo: Staphylococcus spp.; Streptococcus spp.; Enterococcus spp.) ou a manutenção da vigilância clínica e da terapia anti-inflamatória (sem recurso à antibioterapia), caso se trate de uma cultura em que não houve crescimento em 24 horas ou apenas cresceram agentes Gram – (ex. E.coli; Serratia spp.). Um estudo recente realizado pela Faculdade de Veterinária da Universidade de Milão revelou uma sensibilidade média de 73,57% para identificação de agentes Gram positivos e de 85,13% para Gram negativos e uma

especificidade média de 55,69% e 58,39%, respetivamente. Estes resultados foram obtidos a partir da interpretação de 450 placas de leite mastítico, realizada por quatro operadores não microbiologistas, com apenas uma hora de treino acerca do On Farm Culture by Zoetis, tendo os resultados sido comparados com os do laboratório do Istituto Zooprofilattico (Bronzo e Moroni, 2019; comunicação oral). Estes resultados, bem como os obtidos em estudos realizados em condições semelhantes (Sipka et al. 2019), ressaltam a importância de um treino direcionado ao operador, muito além do procedimento descrito no manual de instruções dos testes de cultura na exploração (Fig. 3). O melhor partido destes sistemas de cultura é conseguido quando integrados num programa completo de qualidade de leite. As primeiras amostras testadas em Portugal, com o sistema OFC by Zoetis, revelaram uma capacidade de redução de utilização do antibiótico (resultado Gram negativo ou sem crescimento em 24h) de 53% face à terapia não seletiva de tratamento de mastites clínicas (n=186; estudo não publicado). O OFC by Zoetis constitui, desta forma, uma excelente estratégia de decisão terapêutica nas mastites clínicas, revelando-se de fácil utilização “a campo”, mesmo por técnicos não especializados e estando de acordo com os objetivos do Plano Nacional de Combate a Resistência aos Antimicrobianos (PNCRAM) estabelecido pela DGAV. • Bibliografia: consultar os autores.

FIG.1 MEIOS DE CULTURA DO OFC BY ZOETIS, EVIDENCIANDO CRESCIMENTO DE COLIFORMES. (FONTE: ZOETIS) FIG.3 SESSÃO DE TREINO DOS OPERADORES AQUANDO DA INSTALAÇÃO DO OFC BY ZOETIS. (FONTE: ZOETIS)

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FIG. 2 PROCEDIMENTO DE COLHEITA ASSÉPTICA DE AMOSTRA DE LEITE INDIVIDUAL A) PRÉ-DIPPING - 30 SEGUNDOS; B) LIMPEZA E SECAGEM DO TETO; C) ASSEPSIA DA EXTREMIDADE DO TETO; D) ELIMINAÇÃO DOS PRIMEIROS JATOS; E) RECOLHA DE LEITE COM TUBO A 45º; F) REFRIGERAÇÃO IMEDIATA..

FIG.1

FIG.3

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SAÚDE E BEM-ESTAR | CUIDADOS COM OS CÃES DA EXPLORAÇÃO

CÃES DE TRABALHO

É OBRIGATÓRIO IDENTIFICAR O SEU CÃO E VACINAR COM A VACINA ANTIRRÁBICA. TER UM CÃO É ASSUMIR A RESPONSABILIDADE DE LHE PROPORCIONAR TODAS AS CONDIÇÕES PARA O SEU BEM-ESTAR: ALIMENTAÇÃO, SAÚDE, ALOJAMENTO E EXERCÍCIO.

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Por Margarida Carvalho Médica Veterinária; Fotos Francisco Marques

ão de guarda, cão pastor ou simplesmente cão de companhia, são diversos os motivos que levam à presença do “melhor amigo do homem” numa exploração. Há quem os considere até membros da família! Ainda assim, os cuidados com estes animais são por vezes esquecidos ou relegados para segundo plano. São vários os cuidados que deve ter com o seu animal de estimação e estes visam não só a saúde do próprio animal, mas também a dos outros animais da exploração e até a saúde pública e alguns deles são mesmo requisitos legais. É obrigatório identificar o seu cão, vacinar com a vacina antirrábica. Ter um cão é assumir a responsabilidade de lhe proporcionar todas as condições para o seu bem-estar (alimentação, saúde, alojamento, exercício). Nunca é de mais relembrar que os maus-tratos a animais de companhia são, atualmente, punidos por lei.

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ALIMENTAÇÃO A alimentação do seu animal deve ser adequada de forma a responder a todas as necessidades nutricionais e energéticas. Todos conhecemos o argumento: “antigamente eles comiam os restos”, mas existem vários motivos pelos quais as sobras da nossa comida não são uma alimentação adequada. As nossas refeições não são formuladas de acordo com as necessidades deles, e alguns alimentos que fazem parte da nossa alimentação podem ser tóxicos para o nosso animal. O mais cómodo para o dono será optar por uma ração comercial formulada de acordo com a idade e o nível de atividade física do animal. No entanto, é possível confecionar as refeições do seu cão, com o aconselhamento do médico veterinário sobre os alimentos a eleger, as quantidades e o tipo de confeção. Importante também é controlar a condição corporal do cão: a obesidade acarreta vários problemas de saúde, entre os quais o desgaste das articulações.

SAÚDE Eleja um médico veterinário para o seu cão! O médico veterinário (MV) é o único profissional competente para tratar e medicar um animal, ou prestar aconselhamento sobre a saúde e bem-estar do mesmo. As recomendações relativas a medidas de vacinação e desparasitação são feitas caso a caso, tendo em conta: - a idade do animal; - a localização geográfica: a prevalência de determinadas doenças varia de região para região; - o quotidiano: é um cão que vive maioritariamente no interior ou exterior? Tem acesso ao exterior sem supervisão? Tem contacto com outros animais? Todas estas respostas influenciam nos cuidados a ter com o seu animal; - os donos: existem crianças em casa? Se sim, deve desparasitar o seu animal com maior frequência.


As forragens vencedoras do 2019

PORQUÊ VACINAR? A vacinação deve começar ainda em cachorro, por volta das 8 semanas (por vezes ainda mais cedo). A vacinação inicial, também chamada primovacinação, previne o aparecimento de doenças importantes que podem levar à morte do animal, como a parvovirose, e algumas das quais são zoonoses, como a leptospirose. Deve fazerse o reforço desta vacina de acordo com periodicidade definida em consulta. Além desta vacina, e da vacina antirrábica, existe atualmente profilaxia para outras doenças como a Leishmaniose, a Dirofilariose, a febre da carraça ou a tosse do canil. LEISHMANIOSE É uma doença parasitária crónica transmitida pelos flebótomos (insetos voadores parecidos aos mosquitos). Existe em várias zonas do país, e como está associada a estes insetos é mais frequente em climas quentes. As zonas de maior risco são aquelas na proximidade de águas paradas, matas e jardins. Estes insetos alimentam-se predominantemente ao final do dia. Manifesta-se frequentemente por perda de pele, lesões na pele, crescimento anormal das unhas, emagrecimento, aumento dos gânglios linfáticos e problemas renais e hepáticos. Prevenção: impedir a picada do “mosquito” através do recurso a antiparasitários (ampolas e coleiras), sempre que possível evitar a exposição nos locais onde existe maior número destes insetos e o horário em que se alimentam. DIROFILARIOSE É uma doença causada pelo parasita Dirofilaria immitis. É transmitida pelo mosquito. Na fase adulta, o parasita aloja-se nas artérias pulmonares e no coração, trazendo sérias consequências para estes órgãos. Prevenção: existem formas de prevenir a doença com recurso a fármacos

nomeadamente sob a forma de comprimidos mensais ou injeção anual. Informe-se junto do MV. OUTROS PERIGOS NO CAMPO • Praganas: no campo, em particular na primavera e no verão, este torna-se um problema comum. Agarra-se ao pelo e patas do animal podendo perfurar a sua pele e causar infeções. Além disso podem ainda alojar-se nas narinas, ouvidos e olhos causando sérios problemas. Esteja atento! • Golpe de calor: o golpe de calor é uma situação bastante perigosa, frequente no verão, que ocorre quando o organismo não é capaz de compensar o aumento da temperatura. Esta situação pode levar à falência de vários órgãos e culminar na morte do animal. Para evitar esta situação o dono deve lembrar-se que o cão precisa de ter sempre sombra disponível, água fresca ao dispor, não deve fazer exercício no período de maior calor e nunca deve ser deixado num espaço quente e fechado (ex.: carro). • Lagarta do pinheiro ou “processionária”: estas lagartas, que numa determinada fase do seu ciclo estão no solo, têm o corpo coberto de pelos urticantes que libertam uma toxina. Nos cães, devido à sua atitude curiosa, a principal zona de contacto é o focinho e a boca e por vezes os olhos. Este contacto resulta em sinais clínicos variados como anorexia, hipersalivação, prurido intenso, edema e necrose da língua (língua preta). Em caso de suspeita pode lavar com água corrente para retirar os pelos, mas nunca esfregar as zonas afetadas. Dirija-se rapidamente para o MV. PORQUÊ DESPARASITAR? Os parasitas internos alojam-se na grande maioria dos casos no trato gastrointestinal dos animais e aproveitam o seu alimento. No entanto, podem também alojar-se noutros órgãos com consequências mais graves.

AF_Anuncio OFC by Zoetis DGAV04122019.pdf 1 04/12/2019 11:36:32

Muitos destes parasitas podem também infetar outros animais da exploração e quem nela trabalha pela ingestão não intencional dos oócistos excretados nas fezes. É importante cumprir o calendário de desparasitação proposto pelo médico veterinário, que poderá prever intervalos mais curtos entre desparasitações no caso de contacto com crianças. Existem também os “parasitas externos” que se alimentam pela “mordida” dos animais. Este grupo inclui as pulgas, carraças, flebótomos, moscas e mosquitos. Além do desconforto que podem ocasionar são também importantes vetores de algumas doenças como é o caso da leishmaniose. Muitos produtos no mercado têm períodos de atuação relativamente curtos (4 semanas) e nem conferem proteção contra todos estes grupos. Sugestão: Anote num calendário que esteja afixado num local visível as datas de desparasitação. PORQUÊ ESTERILIZAR? É conhecido o problema da sobrepopulação de animais em Portugal. Frequentemente os animais que são fruto de uma gravidez indesejada acabam por ser abandonados à sua sorte. A esterilização é a forma mais segura e definitiva de impedir a reprodução dos animais de companhia. Além disso, ajuda a prevenir problemas de próstata, comportamentos desadequados e agressividade nos machos, tumores de mama e infeções uterinas nas fêmeas. Um animal esterilizado terá também menos tendência para a fuga e consequentemente menor probabilidade de acidentes como o atropelamento. Se quiser que o seu animal se reproduza deve questionar: o futuro dos animais que irão nascer, se tem condições para os ter ou a certeza de que encontrará donos e se conhece os riscos associados à gravidez e ao parto da cadela.

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Sala de ordenha paralela DeLaval P500

3 CARLOS SANTOALHA, DIRETOR COMERCIAL DA HARKER XXI, E JOSÉ SANTOALHA, DIRETOR GERAL DA HARKER XXI.

1 MEDIDOR ELECTRÓNICO COM TECNOLOGIA DE INFRA-VERMELHOS. 2 PORTAS SEQUENCIAIS COM DUPLA FUNÇÃO.

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2 4 4 FRENTES COM MELHOR INDEXAÇÃO DE EFETIVOS MISTOS E MAIOR FOLGA NA SAÍDA DAS VACAS. 5 EQUIPA TÉCNICA DO HARKER XXI ESPECIALIZADA NA MONTAGEM DESTAS SALAS. 6 A SALA DE ORDENHA DeLaval PARALELA P500 É A PRIMEIRA A SER MONTADA NA EUROPA. PARA ALÉM DAS FUNCIONALIDADES EXISTENTES, OFERECE TAMBÉM UM PROCESSO DE ORDENHA SINCRONIZADO.

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EQUIPAMENTO | SALA DE ORDENHA

SINCRONISMO

A SALA DE ORDENHA PARALELA DeLaval P500 INCORPORA O PRIMEIRO PESEBRE COM SISTEMA AMERICANO A SER MONTADO NA EUROPA, E TRAZ UMA ABORDAGEM TOTALMENTE NOVA AO PROCESSO DE ORDENHA DAS VACAS: TUDO SE RESUME AO “SINCRONISMO” – MOVIMENTOS SINCRONIZADOS NA ENTRADA, POSICIONAMENTO, ORDENHA E SAÍDA DOS ANIMAIS.

C

arlos Santoalha, Diretor Comercial da Harker XXI, veio até Barcelos, à exploração Rolo & Freitas, mostrar-nos a nova sala de ordenha, a primeira a ser montada na Europa, com o sistema de pesebre americano. Trata-se de uma sala de ordenha paralela 2x20/40 DeLaval com pesebre P500 sistema americano. É fabricada nos EUA e possui equipamento com medição eletrónica, identificação e software de gestão DelPro.

DELAVAL SYNCHROARC™

O que oferece de diferente em relação aos modelos de ordenha paralela?

Em que consiste esta sala?

A sala de ordenha DeLaval paralela P500 representa a evolução mais significativa verificada nas salas paralelas. Mais do que apenas uma série de pequenas mudanças, representa uma abordagem totalmente nova no processo de ordenha das vacas, com calma, rapidez e eficiência. Numa palavra, tudo se resume ao “sincronismo” – movimentos sincronizados na entrada, posicionamento e saída dos animais. A DeLaval P500 oferece todas as funcionalidades significativas das salas já existentes, mas também um processo de ordenha sincronizado recentemente desenvolvido, com várias tecnologias patenteadas: - DeLaval SynchroArcTM Consiste num sistema de Prisão de Pescoço com fundo aberto, sem obstruções, cujo desenho permite uma melhor indexação de efetivos mistos, tem menos requisitos de espaço vertical e oferece maior folga para as vacas na saída da ordenha; - DeLaval SynchroSweep™ As portas sequenciais de controlo independente, suspensas e sem sobreposição, também são levantadas durante a ordenha, incentivando as vacas a deixar a plataforma de ordenha com mais rapidez. Este sistema reduz o stress das vacas ao ser removido durante a ordenha; - DeLaval SynchroControlTM Esta tecnologia permite ao produtor fazer a configuração dos controlos de acordo com a sua rotina de ordenha, disponibilizando o feedback necessário para garantir a operação adequada. As configurações são personalizáveis.

simples para a maioria das explorações. O objetivo é garantir que as vacas se movam da forma mais rápida e eficiente possível, transmitindo calma ao animal. Mais informação, mais automação e mais funcionalidades, traduzem-se numa sala mais segura, confortável e com menos pessoas.

DELAVAL SYNCHROSWEEP™

- Um ambiente de ordenha mais calmo; - Um pesebre mais robusto, portas sequenciais mais silenciosas e mais leves; - Zero obstruções na saída das vacas; - Três opções de controlo do fluxo das vacas; - Redução de até 56% no tempo de saída das vacas; - Redução de até 30% na largura total da plataforma; - Mais conforto para as vacas: portas sequenciais removidas durante a ordenha. Qual o perfil da exploração que deve optar por este tipo de ordenha?

Clientes profissionais com efetivos com mais de 150 animais. Qual é o rendimento desta ordenha?

160 animais/hora.

O preço é mais elevado?

Sim, em cerca de 20%.

O que pode ganhar um produtor em investir num equipamento destes?

Na prática o que significa sistema "Sincronismo"? Este sistema de pesebre foi projetado para promover o fluxo livre de vacas, maximizando o seu rendimento; melhor indexação para ajudar o produtor a aumentar a eficiência das suas rotinas de ordenha; tudo com uma área de ocupação menor e menos requisitos de altura para minimizar os custos de instalação e tornar a adaptação muito mais

O produtor ganha na redução do tempo de ordenha, na durabilidade do pesebre pois é mais robusto e está preparado para trabalhar de forma mais intensiva (20 horas por dia). O sincronismo é mais cómodo para o operador e para os animais e, consequentemente, traduz-se num aumento da produção de leite pelo conforto que proporciona aos animais. Que tipo de informação fornece este modelo de sala de ordenha?

É uma sala de ordenha com software de gestão DelPro - produção de leite, fluxos, patadas, reprodução, saúde do úbere e gestão de saúde dos animais. RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

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EQUIPAMENTO | ROBOT DE ORDENHA

SISTEMAS VOLUNTÁRIOS DE ORDENHA OS SISTEMAS VOLUNTÁRIOS DE ORDENHA SÃO UMA SOLUÇÃO COMPLETA DE ORDENHA AUTOMÁTICA DESENVOLVIDA PARA OTIMIZAR A PRODUÇÃO E A QUALIDADE DO LEITE, O CONFORTO E HIGIENE ANIMAL, E A CONDIÇÃO HUMANA.

JOAQUIM LIMA CERQUEIRA Centro de Ciência Animal e Veterinária (CECAV), UTAD - Vila Real Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (ESA-IPVC) CERQUEIRA@ESA.IPVC.PT

S

endo a ordenha uma atividade diária, executada pelo menos duas vezes ao dia e de grande exigência para os seus operadores. E com a atual dificuldade em dispor de mão-de-obra especializada para estas funções, a ordenha robotizada é uma alternativa cada vez mais requisitada e com grande crescimento futuro. Lembre-se que esta tecnologia foi implementada pela primeira vez em 1992 na Holanda e em 2006 em Portugal. Os sistemas voluntários de ordenha (SVO) são uma solução completa de ordenha automática desenvolvida para otimizar a produção e a qualidade do leite, o conforto e higiene animal, e a condição humana, procurando a máxima eficiência. A utilização da tecnologia do SVO permite ao produtor dispor de mais tempo para tarefas mais produtivas, assim como dar maior atenção ao maneio geral das vacas (alimentação, reprodução, saúde do úbere, entre outras) na recria, e ainda desenvolver novas tarefas. INTERVALO ENTRE ORDENHAS

Na passagem dos sistemas de ordenha convencional para os SVO verifica-se um aumento de produção de leite entre 15 a 20%, estando diretamente relacionado com a menor

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pressão interna do úbere entre ordenhas, possibilitando otimizar os mecanismos fisiológicos da glândula mamária para a produção de leite. Dependendo de múltiplos fatores, a frequência de ordenha ideal do SVO seria de 2,6 a 2,8 ordenhas por dia/vaca com velocidade aproximada de 2,6 kg/min. O aumento na frequência de ordenha diminui o efeito inibidor de secreção de leite pelas células mioepiteliais e desta forma, estimula maior secreção quando as cisternas do úbere são esvaziadas pela ordenha. Ordenhas mais curtas também contribuem para a saúde do úbere, dado que existe uma menor exposição às forças de vácuo, provocando menor tensão ao nível dos tecidos dos tetos. A fase da lactação também influencia a frequência de ordenha, sendo que no início da lactação (até 120 dias em lactação) e em vacas de maior produção, a frequência de visitas ao robot é superior devido à maior secreção de leite. Este aumento leva à necessidade de maior ejeção para evitar o aumento exagerado da pressão interna do úbere, dores e desconforto aos animais. As vacas mais produtivas apresentaram um comportamento alimentar mais agressivo, sendo mais ativas, procurando ser ordenhadas predominantemente no início e no final do dia. HIGIENIZAÇÃO E ESTIMULAÇÃO DA VACA

No SVO as caraterísticas morfológicas da vaca, como formato e tamanho do úbere e a colocação dos tetos, são fundamentais, pois poderá existir dificuldade no engate das tetinas em vacas com úberes profundos ou muito longos e com tetos muito fechados e curtos, capazes de provocar constrangimentos no desempenho do SVO. O sistema de lavagem dos tetos na ordenha robotizada permite uma suave e correta estimulação sensitiva do úbere, levando à libertação

de ocitocina para a corrente sanguínea e consequente relaxamento das células mioepiteliais da glândula mamária, permitindo uma ejeção do leite mais rápida e completa. O tempo que medeia entre a preparação do úbere e a colocação das tetinas deve oscilar entre 60 a 90 segundos e está diretamente associado ao aproveitamento do reflexo de descida do leite, sendo o fator mais importante na otimização da eficiência da ordenha. Períodos de tempo demasiado longos entre estas duas operações do SVO limitam a produção leiteira das vacas. A descida do leite ocorre entre 20 a 90 segundos após o início da lavagem dos tetos. Os sistemas de lavagem com escovas rotativas ou por intermédio de tetina no SVO permitem uma adequada higienização e estimulação dos tetos, regulando a libertação de ocitocina de forma natural. Estes equipamentos são desinfetados após cada lavagem, o que previne a contaminação cruzada. Normalmente, na ordenha robotizada, a velocidade e precisão do engate é um fator crucial para a capacidade de ordenha do robot, assim os sistemas de deteção dos tetos por scanner tridimensional garantem uma acoplagem rápida e precisa para diferentes tipos de tetos. Este sistema realiza de forma correta a desinfeção dos tetos após a ordenha (pós-diping), o que nem sempre se verifica nos sistemas de ordenha convencionais. COMPORTAMENTO DAS VACAS

A competição por recursos é um importante fator de perturbação social, gerando comportamentos agressivos e instabilidade hierárquica nos animais. Vários estudos têm demonstrado que as vacas com estatuto de dominância mais elevado visitam frequentemente o SVO durante o dia, entre as 12:00 e 18:00 h, enquanto as vacas submissas durante a noite (0:00 às 6:00 h), aproveitando


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Sistemas voluntários de ordenha

FIG. 1 ASPETO GERAL DO SISTEMA DE ESTABULAÇÃO COM 2 ROBOTS DE ORDENHA E CERCA DE 120 VACAS EM LACTAÇÃO.

VACA

CONFORTO

SAÚDE

ALIMENTAÇÃO

FIG. 2 LAVAGEM DOS TETOS NA ORDENHA ROBOTIZADA.

ORDENHA ROBOTIZADA (QUALIDADE DO LEITE)

TRÁFEGO LIVRE

REPRODUÇÃO

os momentos de maior sossego e silêncio no estábulo. No SVO as vacas deslocam-se voluntariamente à unidade de ordenha, tendo como principal estímulo a administração de concentrado de elevada palatibilidade que, através da adição de aromatizantes e substâncias palatibilizantes, têm demonstrado capacidade para atrair as vacas ao robot. A maioria dos estudos realizados demonstram que as novilhas se adaptam mais facilmente ao SVO comparativamente às vacas multíparas. A deteção eletrónica do comportamento de passos, coices e recusas do animal à ordenha possibilita identificar animais calmos ou agitados e a partir de alterações comportamentais, detetar distúrbios mais rapidamente nas vacas. Também permite monitorizar a quantidade de concentrado administrado por vaca e o tempo de ruminação, fazendo um acompanhamento mais rigoroso da atividade ruminal. Fazendo o cruzamento de dados registados pelo sistema robotizado de ordenha (atividade, ruminação, produção de leite e peso vivo) é possível identificar vacas em cio e desta forma diminuir os intervalos entre partos e os dias em aberto. O SVO com o auxílio de câmaras substitui a observação humana, permite a monitorização do animal e a deteção de mudanças comportamentais que avaliam a condição corporal e eventuais problemas de claudicação, possibilitando reagir em tempo oportuno. Simultaneamente menor número de visitas ao robot e à manjedoura, assim como menor tempo de ruminação, sinalizam possíveis problemas de claudicação. As vacas com problemas podais (classificação ≥ 3 numa escala de 5) revelam menor frequência de visita ao robot, tendo muitas vezes que ser encaminhadas pelo produtor. Um sistema incorporado na balança do robot que deteta diferenças na distribuição do 64

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FIG. 3 ENGATE DAS TETINAS NA ORDENHA ROBOTIZADA.

peso do animal sobre os quatro membros, sinalizando o início do processo de claudicação antes do aparecimento de sinais clínicos, tem-se revelado de grande utilidade. Desta forma, as tecnologias utilizadas nas ordenhas robotizadas podem compensar a observação humana e detetar fatores de desconforto e stresse.

acompanhado de rugosidade. Um dos fatores mais importantes capaz de desencadear o aparecimento da hiperqueratose é a prática da sobreordenha, que no SVO é mitigada pelo facto das tetinas serem sempre retiradas automaticamente em função do caudal de saída do leite de cada quarto, prevenindo o aparecimento desta patologia.

SAÚDE DO ÚBERE

CONCLUSÕES

O SVO permite ordenhar mais frequentemente, com períodos de ordenha mais curtos, o que reduz o tempo para as bactérias se multiplicarem na glândula mamária e gera menor impacto sobre a condição dos tetos. A baixa CCS no leite (<200.000 cél/ml) é um indicador valioso da saúde do úbere. Alguns trabalhos mencionam um aumento da CCS após a implementação da ordenha robotizada, e esse facto pode estar relacionado com o aumento da frequência de ordenha que mantém o esfíncter dos tetos aberto por mais tempo, permitindo assim mais facilmente a infeção por agentes microbianos. Contudo após o período de adaptação das vacas ao SVO, por norma, os valores de CCS tendem a baixar e estabilizar em patamares perfeitamente aceitáveis. O sistema integrado do SVO realiza a monitorização da CCS por vaca de forma bastante eficiente e emite alertas para os desvios à qualidade do leite mais importantes. Quaisquer efeitos adversos devido ao baixo desempenho do equipamento de ordenha ou eventos acidentais nas vacas poderão ser observados pelas mudanças na cor do teto, por edema no úbere, na condição da base do teto, na pele ou especialmente no esfíncter do teto. A hiperqueratose ou calosidade do teto é outro indicador importante de bem-estar animal, definida pelo aparecimento de um anel espesso no orifício do teto, por vezes

A robotização do processo de ordenha é uma tendência mundial e uma resposta aos custos e à escassez de mão-de-obra. É também uma oportunidade de melhoria da qualidade de vida dos produtores e das rotinas de trabalho nas explorações leiteiras. Os dados recolhidos no SVO por vaca também poderão ser utilizados em programas de melhoramento genético. O avanço tecnológico em diversas áreas tem permitido que novos sensores e equipamentos estejam disponíveis a custos cada vez mais acessíveis. Para que estas tecnologias possam auxiliar a rápida tomada de decisões pelos produtores, os dados registados devem ser devidamente integrados e interpretados por software adequado e modelos matemáticos. A maior eficiência na deteção de cio e o diagnóstico precoce de doenças reprodutivas são também exemplos de como estas tecnologias podem contribuir para o aumento da eficiência reprodutiva em bovinos leiteiros. A pecuária de precisão em bovinos leiteiros representa uma melhoria significativa na eficiência da gestão dos recursos da exploração, contribui para a redução do impacto ambiental, e melhoria do bemestar animal e sustentabilidade do sistema produtivo. NOTA: Para obter a bibligrafia, contacte o autor: cerqueira@esa.ipvc.pt


RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

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EQUIPAMENTO | ROBOT DE ORDENHA

O ROBOT QUE TROUXE A MUDANÇA

CONFRONTADO COM UMA CRESCENTE NECESSIDADE DE MÃO-DE-OBRA, LEONEL BARBOSA DECIDIU SUBMETER UM PROJETO PARA A AQUISIÇÃO DE UM ROBOT, QUE INSTALOU HÁ DOIS MESES. OS RESULTADOS TÊM-NO SURPREENDIDO.

E

m 2012, Leonel decidiu tomar conta do negócio da família. Começou com 40 vacas e uma ordenha de 6 pontos. A partir daí tem vindo sempre a melhorar. Criou condições de bem-estar animal e investiu numa ordenha de 12 pontos. Foi nessa altura que se viu confrontado com a necessidade de mãode-obra duas vezes por dia, sete dias por semana, e com a dependência criada por esta situação. Por isso, em 2017 decidiu submeter um projeto para a aquisição de um robot que instalou há dois meses. Os bons resultados têm-no surpreendido.

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Por Ruminantes

Com tantos produtores a abandonarem o negócio, qual é o segredo para se manter nesta atividade?

O segredo é o amor pelas vacas. Além disso, com os investimentos feitos em tecnologia, é gratificante perceber que a cada mês conseguimos mais leite com o mesmo número de animais e com melhores condições de bem-estar. Qual é o principal fator no custo de produção?

O que representa a maior parte das nossas

despesas é a alimentação, cerca de 50% da faturação. Aqui na exploração produzimos milho e silagem para o ano todo, fazemos azevém e misturas para a recria, e temos 7 hectares onde produzimos aveia para as vacas secas. Qual é a coisa de que mais se orgulha no que diz respeito à exploração?

Em seis anos conseguimos triplicar a produção! Estamos a tirar mais 7 a 8 litros de leite por vaca, por dia. É um facto que também aumentámos o número de animais,


O robot que trouxe a mudança

que praticamente duplicou, mas o aumento da produção e rentabilidade por animal triplicou.

daí, não houve um carregamento em que a produção não aumentasse. Em média, subiram no mínimo 5 litros/vaca/dia.

Que fatores considera responsáveis por estes resultados, sem contar com o aumento do número de animais?

Qual é a primeira coisa que faz quando chega à vacaria de manhã?

A genética, o bem-estar animal e o aperfeiçoamento da alimentação.

Qual era o sistema de ordenha que tinha, e quantas ordenhas por dia fazia?

Antes deste investimento tínhamos uma sala de ordenha tradicional, em espinha, com 12 pontos e fazíamos duas ordenhas por dia. Porquê um robot de ordenha?

Por um lado, para reduzir a mão-de-obra necessária. Comecei a perceber que a obrigatoriedade de ter no mínimo duas pessoas para a ordenha, duas vezes por dia, sete dias por semana não tinha futuro. Por outro lado, por pensar que podia aumentar a produtividade e que uma terceira ordenha seria essencial. Quantas vacas tem por robot?

Atualmente são 53, a expectativa é chegar às 60 a 65, não mais. Fazemos três ordenhas por vaca. Que raciocínio esteve na base da escolha do modelo Lely Astronaut 5?

Escolhi este modelo por uma questão de mercado, esta é a zona onde existem mais robots Lely instalados neste momento. Tinha colegas com esta marca que se mostravam satisfeitos. Isto deixou-me mais à vontade, porque quando vamos começar o conhecimento é nulo, e é bom termos com quem trocar ideias. Outro fator que me agradou foi a prestação da marca ao nível da assistência. Sempre apostou na genética para concursos. Muda alguma coisa quando se pensa na genética para o robot?

Sempre gostei de concursos, gosto de ver animais bonitos, grandes e refinados. Provavelmente não podemos fazer disso um modelo para a nossa vacaria. Mantive aqui uma minoria de animais para concurso, mas no geral apostei em animais com mais força, mais produtivos e com maior velocidade de ordenha. Hoje, com o robot, a velocidade de ordenha é uma característica essencial juntamente com a facilidade de colocação dos tetos. O robot tem tempos limitados, temos que tentar que o maior numero de vacas vá lá e ocupe o menor tempo possível. Por exemplo, tinha aqui um animal que tive que

DADOS DA EXPLORAÇÃO Gerente: Leonel Baptista Barbosa Poiares, Ponte de Lima Área da exploração: 30 ha Produção de leite anual: 830 000 litros Efetivo total: 162 Raça: Holstein Frisia Nº de vacas em ordenha: 67 Nº de ordenhas por dia: 3 Tempo de ordenha do efetivo: 7 min. (tempo de ocupação da box) Nº de lactação média anual: 2,2 GB (%): 3,7 PB (%): 3,5 CCS: 110.000 cél./ml Idade ao 1º parto: 25 meses IEP (intervalo entre partos): 400 dias Nº I.A. vaca adulta gestante: 2,1 Nº I.A. média da exploração: 1,8

É dirigir-me ao computador. Vou ver se existem problemas de saúde. O robot dá-nos a informação se algum animal tem temperatura elevada, ou se há descargas em algum teto. É normal que surjam alguns “falsos alarmes”. Por exemplo: nos animais recém paridos o robot deteta uma cor “estranha” no leite e emite um alarme. Mas cada vez que o robot nos envia uma mensagem de problemas de condutividade, temos que ir ver. Temos que ir até ao animal e perceber qual é o problema pois há o risco de ter uma mamite grave. Com o robot, consigo fazer mais ordenhas a esses animais para limpar o úbere. Muitas vezes, como o robot deteta estes problemas de condutividade de forma precoce, conseguimos trazer o animal e começar um tratamento mais simples sem precisar de partir logo para os antibióticos. Numa ordenha convencional, só passadas doze horas sabíamos como estava o animal. Costuma ter vacas atrasadas?

Não. Mas é essencial prestar atenção ao estado dos cascos. É um fator muito importante, se não andarem bem, os animais não vão até ao robot. Como se consegue aumentar a eficiência do robot (mais litros de leite por dia, por robot)?

passar para a ordenha convencional, pois só conseguia tirar meio litro por minuto (quando tenho animais a dar 1,5-2 litros). Tinha outro a fazer 3 ordenhas, e de cada vez que ia à box estava 18 minutos. Ocupava o robot uma hora por dia para ordenhar uma vaca. É impensável. Não pode acontecer. Qual é o seu objetivo, maximizar a produção por vaca ou a produção por robot?

A minha medida de rentabilidade é a produção por robot. Estamos nos 2.380 litros por dia e o meu objetivo é chegar aos 2.700 litros. Hoje, a média está nas três ordenhas e em cerca de 40 litros/vaca/dia. Em relação ao sistema que tinha (com 2 ordenhas diárias), a produção aumentou?

Bastante. Quando instalámos o robot, os animais que passaram para este sistema só tiveram uma quebra de produção na adaptação, nos primeiros dois dias. A partir

Ter atenção às patas, e tentar reduzir os dias em aberto. Quanto mais depressa os animais ficarem novamente gestantes, mais leite vão produzir. Só há duas razões para a vaca ir ao robot: a ração e o desconforto do leite no úbere. Se as deixarmos muitos dias em aberto, o robot deteta que o animal está a dar menos leite e, consequentemente, dá-lhe menos ração. E como os animais não se sentem desconfortáveis por terem pouco leite no úbere, dirigem-se menos vezes à ordenha. Se inseminarmos o mais cedo possível, com sucesso, isto não vai acontecer. Vamos ter animais a produzir mais. Passados 2 meses de utilização do robot, que balanço faz?

Não estava à espera que fosse correr tão bem. Tinha bastante receio...Temia pelos animais. Atualmente, penso que nos custa mais a nós, proprietários, adaptarmo-nos ao robot, do que às vacas. Custa-nos mais a nós chegar aqui de manhã e dizer: “não vou ordenhar vacas porque já estão ordenhadas” e ir fazer outras atividades.

ESTAMOS NOS 2.380 LITROS POR DIA E O MEU OBJETIVO É CHEGAR AOS 2.700 L. HOJE, A MÉDIA ESTÁ NAS 3 ORDENHAS E 40 L./VACA/DIA. RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

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As forragens vencedoras do 2019

"O ROBOT TEM UMA EXCELENTE CAPACIDADE DE DETETAR OS PROBLEMAS. ASSIM, PODEMOS AGIR DE FORMA PREVENTIVA (…)." Em termos de saúde animal, o robot melhorou alguma coisa?

Sim. O robot tem uma excelente capacidade de detetar os problemas. Assim, podemos agir de forma preventiva sem ter que partir para grandes tratamentos. Reduzimos bastante a utilização de antibióticos. Antes só conseguíamos detetar os animais que faziam retenções quando estes deixavam de comer ou pela sua sujidade no pós-parto. Com o robot recebemos imediatamente alarmes relativamente ao aumento de temperatura ou à diminuição da ruminação. O robot trouxe-lhe muito mais informação. Perde muito tempo a fazer a gestão da informação que recebe?

Não. Cerca de meia hora de manhã, meia hora ao meio dia e meia hora à noite. Selecionei os parâmetros que para mim são mais importantes, e são estes que me aparecem primeiro no monitor. Em termos de ração, mudou alguma coisa com o robot?

Sim, no robot essa questão é fundamental. Se

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RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

queremos que as vacas vão ao robot, elas têm que gostar da ração que lhes é dada. Toda a ração que é dada no robot tem que ser muito palatável. Que quantidades dá no robot?

O máximo que estão a comer no robot são 8kg, animais que estão a produzir bastante. No carro unifeed, como base são 7kg (silagem de milho, soja e colza). Na zona dos vitelos têm também um alimentador Lely há cerca de seis meses. O que conseguiu com esse investimento?

Consegui reduzir muitos problemas nos vitelos. Tinha muito mais diarreias e alguma mortalidade associada. Atualmente conseguimos dar mais leite, com menos problemas, e elas aproveitam-no muito melhor. Isto faz com que seja possível ter vacas ao primeiro parto mais cedo. Os problemas que temos nos primeiros dias vão refletir-se com frequência nos animais adultos, principalmente as pneumonias e as diarreias, que os atrasam muito.

Se as suas vacas falassem, o que diriam do investimento no robot?

Acho que me iriam perguntar porque é que demorei tanto tempo a fazê-lo. Acho que andam muito melhor. Tenho os animais mais distribuídos pela vacaria, mais animais a comer, mais animais deitados e mais animais a caminhar. Que indicadores utiliza para ver se o seu negócio vai num bom caminho?

Preocupo-me em ver no final do mês, quando faço contas, o que faturei e as contas que tenho para pagar... Esse balanço funciona como um indicador. Se deixar 50% do que faturei, para mim está bem. Tem objetivos anuais, além dos 2.700 litros/dia por robot?

Além do aumento da produção, não pretendo aumentar significativamente o efetivo. Espero que o leite suba de preço para tomar uma decisão importante durante o próximo ano: submeter o projeto para ter um segundo robot.


O novo marco na poupança de energia

A Lely apresenta o Astronaut A5 Nós olhamos para as vacas e ouvimos os clientes. Um novo braço híbrido completo é o resultado. Com o poder do ar, mas sem qualquer consumo. Com um número limitado de movimentos elétricos rápidos e decisivos, tornamos o braço mais eficiente do que nunca. É por isso que o Astronaut A5 lhe oferece a melhor forma de ordenhar, a Si e ás suas vacas.

Saiba mais sobre este novo marco na ordenha no seu Lely Center.

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EQUIPAMENTO | ORDENHA

ROBÔS DE ORDENHA OPINIÃO, EXPERIÊNCIA E TESTEMUNHO

CARLOS NEVES Produtor de leite carlosneves74@sapo.pt

P

ediram-me a opinião sobre o robô de ordenha. Já recebi muitas visitas e já respondi a muitas perguntas, mas nunca o tinha feito por escrito. Após 7 anos de experiência como proprietário de um robô de ordenha e tendo recebido uma mensagem com essa pergunta, acho que a partilha da minha resposta pode ser útil para outros que tenham interesse na matéria. Não me lembro de quando ouvi falar do robô de ordenha pela primeira vez, mas recordome que a perspetiva de acabar com a “prisão” da ordenha logo me entusiasmou. É uma tecnologia com mais de 20 anos.

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Em 2004 organizámos na AJADP uma inesquecível viagem ao País Basco para ver 2 robôs Lely (contacto por um chat da internet com produtores espanhóis, ainda não havia Lely Center em Portugal) e 2 robôs Delaval (colaboração total do Eng. Santoalha e da equipa Harker). A viagem, a primeira que organizámos, foi memorável. Vimos os robôs, quase ficámos bloqueados na neve da autoestrada de montanha a caminho de Pamplona e no fim de tudo, com estradas cortadas e um motorista nervoso, regressámos ao Porto via Madrid e descemos o então IP5 às 4 da manhã com o autocarro a derrapar nas curvas como nunca vi nem quero voltar a ver. Sobrevivemos para contar e em 2006 o José António e a Manuela instalaram o primeiro robô de ordenha em Portugal, DeLaval (aviso já que este artigo não pretende defender nenhuma côr). Poucos anos mais tarde a Lely instalou os seus primeiros robôs e depois vieram a Sac, Gea, Boumatic… Em 2012 tivemos um projeto aprovado para a Quinta do Sinal e o robô começou a funcionar em 2013. A sala de ordenha foi encerrada e imediatamente vendida. Recuperei uma antiga bomba de vácuo para que pudesse ter uma ordenha portátil alternativa para algum animal que não se conseguisse deslocar ao robô e permanecesse na enfermaria. Antes dessa data passou-se uma coisa muito importante, a decisão de comprar robô e a escolha da marca. Optei pelo robô, partindo do que li, dos vendedores que ouvi e sobretudo do testemunho de vários colegas que já tinham robô e me disseram que podia confiar porque funcionava! É muito importante visitar vacarias com robô, com os vendedores e sem vendedores. Passar algum tempo a ver como as vacas interagem,

como se fizeram as obras de adaptação ou construção, saber como avaliam as escolhas que fizeram. Uma vacaria deve durar dezenas de anos. Um robô pode durar 20 anos, porque vão surgindo atualizações, e portanto convém escolher bem antes de comprar. Instalei o robô no lado da vacaria oposto à ordenha e, a 19 de fevereiro de 2013, ao fim da ordenha da manhã fechámos a porta da ordenha e abrimos a porta do robô na outra ponta da vacaria. Acompanhámos em permanência as primeiras 24 horas das vacas com o robô, jantámos no local, depois às 24h00 fui descansar e voltei para render o Hugo, nosso funcionário, às 5h da madrugada. Depois fomos reduzindo a vigilância até entrar em velocidade de cruzeiro. É importante seguir os conselhos técnicos ou a experiência dos colegas que nos antecederam, falando com vários para avaliar se a sua experiência é um caso isolado, se corresponde a um padrão ou houve algum stress pessoal entre o cliente e a empresa que possa afetar a avaliação. Aconselho também a fazer toda a formação disponibilizada pela empresa e procurar ter um colega a quem ligar em caso de dúvida. Os primeiros dias e o primeiro mês são fundamentais para a adaptação das vacas e dos donos ao robô, pelo que devem ser planeados para quando há menos trabalho nos campos, para podermos estar a 100% focados nas vacas e na máquina. O robô é muito bom para quem não gosta da ordenha, tem problemas de coluna, ou mesmo articulações ou tendinites nos braços.Por outro lado, é importante que a pessoa goste de vacas porque vai deixar de as “empurrar” todas juntas para a ordenha, e vai ter de passar pelo meio delas para ir buscar alguma


Robots de ordenha

"MAIORES VANTAGENS DOS ROBÔS DE ORDENHA: EXIGEM MENOS ESPAÇO QUE UMA SALA DE ORDENHA E FUNCIONAM MESMO! REDUZEM O TRABALHO E DÃO MAIS FLEXIBILIDADE!" atrasada. Há sempre alguma atrasada (haverá mais ou menos vacas a tocar conforme a vacaria, a localização do robô, o maneio, a saúde dos cascos, o número total de vacas, etc.) É fundamental ter boa assistência, sempre disponível, porque estamos completamente dependentes dela. Há coisas simples que devemos aprender a resolver mas há coisas complexas e peças específicas que dependem da assistência. Também aqui o meu conselho é "não inventem, o barato sai caro". MAIORES VANTAGENS DOS ROBÔS DE ORDENHA Exigem menos espaço que uma sala de ordenha e funcionam mesmo! Reduzem o trabalho e dão mais flexibilidade! Há milhares de robôs a funcionar em todo o mundo; ordenham as vacas mais vezes, ao seu ritmo; É mais leve o trabalho de tocar vacas do que meter tetinas na ordenha; Há sensores adicionais muito úteis e podemos dar ração na quantidade adaptada a cada vaca, bem como suplementar no pós-parto; PONTOS MENOS POSITIVOS Custo de investimento elevado face ao baixo preço do leite; Devemos fazer bem as contas, com previsão cautelosa das receitas

porque o que vier acima é lucro; Ter poucas vacas ou pouco leite por vaca não paga o investimento! Aconselho apresentar projeto de investimento para receber apoio ou procurar robô de ocasião, mas atualizado e com garantia da marca; Custo de manutenção superior a uma ordenha convencional; Consumos de água e energia superior a uma sala de ordenha que funcione 3 ou 4 horas por dia; Não permite aumentar o número de vacas a cada ano que passa, a evolução terá de ser em múltiplos de 50/60 vacas por cada robô; Um amigo com experiência avisou-me que o robô é “um filho que nunca cresce”, quer dizer, continua a chamar de noite se tiver uma avaria, mas às vezes passam-se meses sem uma chamada e no meu caso melhorou muito após o primeiro ano com as atualizações que foram introduzindo. NOTAS FINAIS • Não é necessário ser engenheiro informático para ter robô, mas é preciso tirar uns minutos de manhã e à noite para ver os gráficos e listagem de vacas atrasadas, doentes, mamites, etc. Às vezes corre tudo bem durante uns tempos, depois facilitamos e esquecemos de vigiar.

• Não é verdade que ficamos presos em casa por causa do robô, apenas alguém tem de ficar "de piquete" a meia hora de distância, até pode ser um vizinho que também tenha robô igual. • Há que pensar como vamos aproveitar o tempo livre que passamos a ter. • É preciso rigor e protocolos de atuação, para não esquecer as rotinas obrigatórias e não facilitar quando tudo corre bem. • A escolha de uma ração apetente e um nutricionista competente é um fator importante do sucesso, porque a ração do robô e a da manjedoura vão influenciar a deslocação voluntária das vacas ao robô. • Há quem aponte um refugo de 10% de vacas que não se adaptam ao robô (no meu caso foi muito menos), sendo uma parte antecipação da reforma de animais que já iriam deixar a vacaria pouco depois. É importante selecionar a genética para robô, com boa separação dos tetos, velocidade de ordenha e outras características importantes. • Os robôs parecem ter vindo para ficar, mas vão ser uma entre outras opções à disposição da liberdade de escolha de cada um, depois de avaliar as suas condições e situação pessoal.

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ECONOMIA | OBSERVATÓRIO DE MATÉRIAS PRIMAS

SALTOS E SALDOS

MAIS EURO, MENOS EURO, OS PREÇOS DA FARINHA DE SOJA E DO MILHO REGISTARAM APENAS PEQUENAS VARIAÇÕES NA DÉCADA QUE FINDOU. A QUE AGORA SE INICIA ADIVINHA-SE CHEIA DE DESAFIOS.

O

título deste Observatório de Matérias Primas é um pouco técnico mas enquadra bem o que foram os últimos anos da década que terminou e, em jeito de futurologia, o que será o inicio daquela em que acabámos de entrar. Mais euro, menos euro, os preços da farinha de soja e do milho, na década que terminou, apenas tiveram pequenas variações. No que respeita à farinha de soja, foram exceções dois eventos: a seca ocorrida em 2011/2012 nos EUA, Brasil e Argentina que empurrou os preços temporariamente para os 500€ (que paulatinamente foram convergindo para os 300€ +/-30€); e um curto período em maio/junho de 2018, devido ao excesso de chuva na Argentina, em que os preços estiveram acima de 400€. Por outro lado, no milho desde a seca de 2011//12, os preços desceram dos 240€ para os 170€, e aí se mantiveram (+/5€) durante a maior parte deste período. Em muito contribuiu para esta estabilidade nos preços, a possibilidade de importar milho brasileiro com a aprovação pela União Europeia, da variedade MIR162, em 2015. Este evento possibilitou ter, na

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Por João Santos

segunda metade do ano, acesso ao milho que geralmente neste período é o mais competitivo no mercado internacional. Ou seja, excetuando alguns períodos, como maio passado em que, com o receio do excesso de chuva no período de sementeiras nos EUA, assistimos a um pico de 190€ nos portos nacionais, o preço tem estado estabilizado nos últimos anos em cerca de 175€. Assim, após este preâmbulo sobre volatilidade ou a falta dela, vamos ver como estamos hoje, e as perspectivas para o futuro. Lembro que a causa de haver pouca volatilidade são os stocks elevados e o excesso de capacidade em todas as suas vertentes, face a uma procura estável. CHINA

Em linha com o anterior número do Observatório MP, voltamos a dedicar um ponto aparte ao maior consumidor de soja no mundo, de notar: i) A guerra comercial com os Estados Unidos continua sem fim à vista. É possível que no início deste ano seja assinado a Parte 1 do acordo, ou seja, um acordo parcial para salvar a cara de um e de outro, e talvez para salvar o mundo de entrar em recessão, uma vez que da desaceleração económica não nos salvamos.

No entanto, com acordo ou sem acordo, a soja brasileira será a mais barata a partir de fevereiro, e os chineses compram “preço”, logo os EUA vão continuar com stocks altos. ii) Segundo fontes do ministério da agricultura chinês, a redução de efetivos de suínos está nos 50% devido à peste suína africana. No entanto, no início de dezembro já se começou a falar que a redução/abate de efetivos tinha abrandado, havendo mesmo algum incremento de efetivos em relação ao mês anterior. Recomendo que acompanhem o que seguramente é um factor critico para o aumento da procura de soja. Não nos podemos esquecer que nos últimos 12 meses o aumento do preço da carne de porco no mercado chinês foi de 110%, e que há um fortíssimo incentivo para beneficiar desta subida dos preços; resta saber se as medidas biossanitárias implementadas serão suficientes para travar o surto da peste. PROTEÍNAS

A sementeira tardia nos EUA, conduziu a um rendimento de 46.9 bushels por acre, o que não é mau, mas comparado como os 50.6 de 2018/19 representa uma redução 24 milhões de toneladas. Espera-se que o USDA, no seu

relatório de janeiro, atualize o rendimento em alta, uma vez que foram poucas as geadas e, tirando a sementeira tardia, a meteorologia foi benigna para a campanha da soja. No Brasil, em meados de janeiro, começa-se a colher soja no Mato Grosso, e já pouco pode afetar o que se espera que seja uma colheita recorde de cerca de 130 milhões de toneladas. Se a esta última somarmos uma colheita igualmente boa de milho, é de esperar pressão de colheita uma vez que não há espaço para armazenar tantas toneladas. Outro dia, li um artigo sobre a evolução do PIB no mundo. A Argentina e um país africano devastado por ditaduras e guerras partilham o primeiro lugar, pela negativa, na evolução do PIB, numa análise dos últimos 70 anos. É triste ver um país como a Argentina, que já foi uma referência de democracia e um dos países mais ricos do mundo, andar para trás em vez de andar para a frente. Tudo indica, pelo resultado das ultimas eleições, que não vai mudar de rumo: a expetativa é que em janeiro incumpram com as suas obrigações com os credores internacionais. O governo já anunciou uma subida de impostos na exportação de soja de 15% (33% no total),


Observatório de matérias primas

estando assim instalada uma guerra entre o governo e os agricultores. Como efeito colateral do resultado das eleições, o grupo Vicentin, que representa 20% da capacidade de extração de soja na Argentina, entrou em insolvência, o que fez com que os prémios da farinha argentina subissem 30$ durante o mês de dezembro. Com a elevada inflação instalada, vamos voltar a assistir à retenção dos agricultores que irão vendendo a soja a conta gotas ao longo do ano, sendo esta a melhor forma de se protegerem da inflação. No terreno, as condições meteorológicas são ideais para a soja. Por outro lado, a última safra de palma não foi a melhor, o que conduziu a um forte aumento do preço do óleo de palma e, por arrasto, de todo o complexo de óleos vegetais. O que, no caso da soja, veio melhorar em muito as margens de extração que estavam muito baixas, pelo que, com

boas margens em todo o mundo, iremos dentro de pouco tempo assistir a um desequilíbrio da farinha. No Canadá continua a haver colza (canola) barata, uma vez que a China continua zangada com o Canadá, por causa da Huawei, e a Europa continuará a ser o único receptor. No entanto, a questão para haver mais extração na Europa é haver procura para o biodiesel. De momento, embora no papel se devesse extrair mais colza, a realidade é que o mercado está parado, pelo que a farinha está mais firme do que era costume, e é provável que assim se mantenha, pelo menos até haver alguma evolução pela procura de biodiesel. Em relação ao girassol, os preços deverão ajustar-se um pouco à alta por efeito da colza, no entanto, como não é provável uma subida na farinha de soja, e com a abundância de pastos que a chuva de novembro/dezembro

trouxeram para Portugal, o potencial de subida também fica limitado. CEREAIS

Esta campanha foi muito boa para o trigo, no entanto o mesmo não se pode dizer para o trigo forrageiro que há pouco (para bem dos agricultores!) donde o preço do mesmo está acima dos 200€ nos portos portugueses e assim se espera que se mantenha até à nova campanha. A produção dos EUA foi ligeiramente inferior à do ano passado, o que conduziu a uma redução dos stocks finais mundiais, no entanto continua a haver muita fartura. O preço nos portos portugueses está sobre os 180€ e é previsto que aí se mantenha, pelo menos até chegar a segunda colheita brasileira, a safrinha. O potencial de subida em relação aos níveis atuais é limitado, uma vez que os stocks mundiais ainda se mantêm muito elevados.

PRODUÇÃO MUNDIAL E STOCKS FINAIS DE MILHO E SOJA MILHÕES DE TM

14/15

15/16

16/17

17/18

18/19

19/20

PRODUÇÃO FINAL

319

312,8

351,4

340,47

358,2

337,5

STOCKS FINAIS

77,6

76,6

96,0

98,56

109,8

96,4

24%

24%

27%

29%

31%

29%

PRODUÇÃO FINAL

1008,80

961,9

1070,2

1076,2

1124,5

1108,6

STOCKS FINAIS

208,2

210,9

227,0

341,2

319,2

300,6

21%

22%

21%

32%

28%

27%

SOJA

MILHO

NOTAS FINAIS

A década de 20 advinha-se cheia de desafios: i) o envelhecimento da população portuguesa, entre outros motivos, dificulta encontrar mão-de-obra para o campo; pelo que, à semelhança de outras paragens, a necessidade de atrair emigrantes vai estar aí; ii) as mudanças dos hábitos de consumo; iii) a necessidade de investir em produção de valor acrescentado e a certificação dos processos produtivos e produtos; iv) olhar para a estrutura de custos e ir melhorando os custos fixos e variáveis em relação à concorrência continuará a ser uma necessidade urgente. No que respeita às matériasprimas e à soja em particular, será curioso ver como é que a procura da soja vai reagir quando a crise da peste suína africana passar na China, e esta reponha os efetivos perdidos. Será que os chineses continuarão a querer comer a mesma quantidade de carne de porco que comiam antes, ou haverá uma alteração dos hábitos de consumo para mais peixe e frango, como se tem visto no último ano? Por fim, no lado da oferta, a expansão da área de cultivo no Brasil não parece estar para parar, assim como os melhoramentos nas práticas agrícolas e sementes, que têm contribuído para uma contínua melhoria dos rendimentos de produção... daqui a 10 anos cá estaremos para ver como correu. Despeço-me com amizade...

FONTE: USDA s&d relatório de dezembro.

Preço (€/ton)

PREÇOS SEMANAIS DAS PRINCIPAIS MATÉRIAS PRIMAS, NO PORTO DE LISBOA

360

MILHO

340

CEVADA

320 300

TRIGO

280

SOJA 44

260

COLZA

240

GIRASSOL

220 200 180 160 140 120

Semanas, desde 31 de dezembro de 2109 a 3 de janeiro de 2020

03/01/2020

31/12/2018

100

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ECONOMIA | OBSERVATÓRIO DO LEITE

SENTIMENTOS MISTOS

A ENTRADA EM 2020 FAZ-SE COM CARTEIRAS MAIS RECHEADAS PARA PRODUTORES DO SETOR. OU ASSIM O AFIRMAM ALGUMAS MANCHETES. NO ENTANTO, NÃO SE FAZ SENTIR DE IGUAL FORMA PELAS DIFERENTES REGIÕES. Por Joana Silva, Médica Veterinária

O

novo ano já nos bateu à porta e, de acordo com aquela que já é a nossa tradição, iniciamolo com mais uma edição deste Observatório, o primeiro desta nova década. A entrada em 2020 faz-se com carteiras mais recheadas para produtores do setor. Ou assim o afirmam algumas manchetes. Depois de um verão impactado negativamente pelas altas temperaturas e pluviosidade escassa, especialmente em países como a França, Alemanha e Polónia, assiste-se agora a uma fortificação dos mercados devido aos menores custos de produção e um crescimento da oferta aquém da procura. Esta tendência, no entanto, não se faz sentir de igual forma pelas diferentes regiões. Se nos Estados Unidos os produtores rejubilam com as margens de lucro (apesar da ameaça de recessão para a segunda metade do ano), na Europa fazem-se contas aos níveis baixos de stock

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RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

de forragens. Já na América do Sul, as condições económicas da população tornam-na relutante à absorção do aumento de custos e, na Oceânia, a seca na Austrália e a instabilidade meteorológica na Nova Zelândia estão a pesar fortemente sobre o desenvolvimento das pastagens e custos com alimentação. Face a este cenário, aconselha-se cautela até percebermos de que forma os preços do leite e derivados se vão repercutir ao longo da cadeia de valor até aos consumidores e seus padrões de consumo, especialmente quando várias economias se veem ensombradas por um cenário de recessão. Desta forma, e numa altura em que se tem vindo a assistir a um abrandamento da atividade económica global com tensões comerciais e aumento da desconfiança dos consumidores, é fácil perceber porque tem sido difícil para os produtores converterem as (aparentes) condições favoráveis do mercado em aumentos diretos da produção.

Os mercados europeus veemse constrangidos no que toca à expansão dos seus efetivos e consequente aumento da produção, devido quer à disponibilidade de matéria-prima alimentar quer às restrições ambientais. De facto, os efetivos leiteiros têm vindo a “encolher” no velho continente: só no primeiro semestre de 2019 assistiu-se a uma diminuição do número de animais produtores na ordem dos 2,4% na Alemanha e dos 1,2% em França, o equivalente a menos cem mil e quarenta e uma mil cabeças, respetivamente, face ao mesmo período do ano anterior. Por estas razões, as previsões de crescimento da produção para 2020 são em tudo modestas, não excedendo os 0,7%. No entanto, este será aparentemente mais que suficiente para suportar uma evolução positiva de apenas 0,2% na procura o que, a verificar-se, significa que terão de ser encontrados destinos para esse excedente produtivo. Nos Estados Unidos, 2019

acabou com um aumento do efetivo produtor, com mais dez mil cabeças em setembro e outubro, o que se refletiu num aumento da produção nacional na ordem dos 1,8% neste período. Para 2020 são feitas previsões de crescimento que chegam aos 1,5%. No entanto, a volatilidade do dólar devido às eleições deste ano e a ameaça de recessão para o segundo semestre poderão pôr em perigo estes valores. Na Austrália, e nos primeiros quatro meses da temporada 2019/20, a produção caiu 5,5%, o que se traduz numa perda de 190 milhões de litros. O cenário atual, com a ocorrência de incêndios e ameaças de seca, levou a uma desvalorização das previsões produtivas para este ano na ordem dos 5,8%. No entanto, algumas regiões do sudeste australiano poderão mais facilmente beneficiar do fortalecimento dos preços devido às suas reservas de silagem. Na vizinha Nova Zelândia, o ano de 2019 acabou fortemente beneficiado pelas exportações


Observatório do leite

para a China as quais, só no mês de outubro, foram 30% superiores face ao mesmo mês do ano anterior. Para esta temporada, a volatilidade das condições meteorológicas irá ditar um de dois desfechos, em tudo opostos: crescimento favorável da produção ou diminuição da mesma até menos 0,5% face ao ano anterior. No Brasil, o fecho do ano foi agridoce: se por um lado a procura por parte dos consumidores tem vindo a recuperar, com crescimento da venda de produtos de valor acrescentado como o queijo e os iogurtes, por outro esta recuperação não foi suficiente para compensar as margens perdidas face ao início de 2019. Por outro lado, os custos com a alimentação têm vindo a aumentar desde julho passado e, consequentemente, os produtores nacionais entram em 2020 com menores margens e falta de incentivos à produção. Poderá ainda assistir-se ao abate de animais para produção de carne, já que esta tem vindo a atingir preços históricos no mercado doméstico. Já na Argentina, o consumo de leite per capita em 2019 foi de 175 litros, menos 15 litros face ao ano anterior. Esta diminuição acompanha a profunda recessão que o país enfrenta enfrenta um aumento da inflação que chega aos 50%, e incide sobretudo em produtos como queijo, iogurtes e sobremesas lácteas. Com um novo executivo que tomou posse em dezembro, teremos de aguardar para ver que medidas poderão beneficiar o setor durante o ano que agora começa. Na China, e dependendo de quão cheias estão as despensas depois de uma forte aposta na importação durante o primeiro semestre de 2019, poder-se-á assistir a um abrandamento das importações, especialmente durante o primeiro semestre de 2020. Para este ano prevê-se ainda um crescimento da produção leiteira na ordem dos 2%, favorecido pelo aumento dos efetivos nacionais. A aptidão dos mercados pelos diferentes constituintes do leite também sofre alterações este ano, com o foco agora sobre a proteína em detrimento da gordura, com a manteiga descendo do seu pedestal do estrelato para dar lugar a produtos como o queijo e o leite em pó desnatado. A necessidade de adaptação e capitalização destas novas tendências será também um desafio para este ano, e poderá conduzir a alguma volatilidade de preços.

TABELA 1 PREÇO DO LEITE STANDARDIZADO (1) PAÍSES

COMPANHIA

PREÇO DO LEITE (€/100 KG) OUTUBRO 2019

MÉDIA DOS ÚLTIMOS 12 MESES (5)

ALEMANHA

Alois Müller

31,48

32,45

DINAMARCA

Arla Foods

32,48

32,95

FRANÇA

Danone Lactalis (Pays de la Loire) Sodiaal

34,64 34,99 36,19

34,95 34,93 35,32

INGLATERRA

Dairy Crest (Davidstow)

35,16

32,86

IRLANDA

Glanbia Kerry

29,15 30,00

30,53 31,18

ITÁLIA

Granarolo (North)

41,27

38,71

HOLANDA

DOC Cheese Friesland Campina

34,27

35,86

N. ZELÂNDIA

Fonterra (3)

29,17

29,01

EUA (4)

EUA

42,39

35,98

PREÇO MÉDIO LEITE (2)

Fonte: LTO; (1) Preços sem IVA pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes empresas leiteiras para 4,2% de MG, 3,4% de teor proteico e CCS de 249,999/ml . (2) Média aritmética . (3) Baseado na previsão mais recente . (4) Reportado pela USDA . (5) Inclui o pagamento suplementar mais recente.

TABELA 2 LEITE À PRODUÇÃO, PREÇOS MÉDIOS MENSAIS EM 2018/2019 MESES

2018

2019

EUR/KG Contin.

Açores

TEOR MÉDIO DE MATÉRIA GORDA (%) Contin.

Açores

TEOR PROTEICO (%) Contin.

Açores

OUTUBRO

0,315

0,300

3,78

3,79

3,29

3,25

NOVEMBRO

0,324

0,307

3,95

3,87

3,35

3,29

DEZEMBRO

0,323

0,308

3,91

3,85

3,33

3,26

JANEIRO

0,318

0,297

3,92

3,73

3,34

3,20

FEVEREIRO

0,328

0,296

3,89

3,68

3,30

3,20

MARÇO

0,312

0,291

3,82

3,59

3,29

3,20

ABRIL

0,314

0,290

3,77

3,65

3,29

3,23

MAIO

0,311

0,285

3,72

3,64

3,27

3,19

JUNHO

0,310

0,286

3,71

3,65

3,30

3,15

JULHO

0,310

0,285

3,70

3,62

3,28

3,14

AGOSTO

0,311

0,285

3,75

3,68

3,27

3,16

SETEMBRO

0,314

0,289

3,80

3,72

3,30

3,22

OUTUBRO

0,315

0,293

3,89

3,82

3,34

3,29

Fonte: SIMA; Gabinete de Planeamento e Políticas.

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ECONOMIA | ÍNDICE VL E ÍNDICE VL-ERVA

PREÇOS DO LEITE ABAIXO DA MÉDIA

O PREÇO MÉDIO DO LEITE PAGO AOS PRODUTORES PORTUGUESES, NOS MESES DE AGOSTO, SETEMBRO E OUTUBRO, FOI MUITO INFERIOR AO PREÇO MÉDIO PAGO POR KG DE LEITE AOS PRODUTORES DA UE28. Por António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco; Carlos Vouzela,

A

docente/investigador, Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores/IITAA; Nuno Marques, Revista Ruminantes

nalisamos neste número da Ruminantes os Índices VL e VL - ERVA para o período de agosto a outubro de 2019. Durante o trimestre em análise, o preço médio do leite pago aos produtores individuais do continente variou entre 0,311 €/kg em agosto e 0,315 €/kg em outubro. Na Região Autónoma dos Açores o preço médio do leite pago aos produtores individuais variou entre 0,289 €/ kg em agosto e 0,294 €/kg em outubro (SIMA-GPP, 2019). Quando comparado com o preço médio pago por kg de leite aos produtores da UE28 em agosto, setembro e outubro (0,343 €/kg), o preço médio do leite pago aos produtores portugueses no mesmo período foi muito inferior (0,305 €/kg). Se os produtores portugueses fossem pagos com o valor médio recebido pelos nossos congéneres europeus, esta grande diferença de 3,8 cêntimos/kg de leite seria fundamental para garantir o sucesso económico de qualquer exploração leiteira em Portugal.

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RUMINANTES | JAN/FEV/MAR 2020

A situação é de tal forma grave que, no mês de outubro de 2019, Portugal integrou o grupo de 4 países da UE28 com valores mais baixos para o leite pago ao produtor (Portugal 0,308 €/ kg; Estónia 0,305 €/kg; Lituânia 0,294 €/kg; Letónia 0,287 €/kg) (MMO, 2019). Considera-se que esta situação, recorrente desde há muitos meses, tem que acabar. Exige-se o esforço imediato de quem recolhe e transforma o leite para acrescentar valor ao produto recolhido, permitindo vender e pagar melhor aos produtores. Nos Açores, em algumas ilhas, as empresas de transformação têm começado a trabalhar neste sentido, com a apresentação, no mercado, de novos produtos com maior valor acrescentado. No entanto, o efeito desta iniciativa ainda não é muito visível economicamente. Relativamente ao trimestre anterior, com exceção da cevada, o preço médio das matérias-primas que entraram na formulação dos alimentos compostos utilizados neste trabalho diminuíram. Destacamse o bagaço de girassol (-18,3%)

e o bagaço de colza (-14,8%). No continente, a redução do preço das matérias-primas e da palha relativamente ao trimestre anterior provocou uma diminuição no custo da alimentação da vaca leiteira tipo (-2,1%). Na Região Autónoma dos Açores, o preço do alimento composto também diminuiu (-2,3%). No entanto, como a partir de outubro o regime alimentar da vaca tipo inclui menor consumo de pastagem e maior consumo de alimento composto e de alimentos conservados, verificou-se um aumento de 4,3% no custo total do regime alimentar em comparação com o trimestre anterior. A evolução do preço do leite e dos custos da alimentação refletiu-se no Índice VL e no Índice VL - ERVA que em outubro de 2019 foi, respetivamente, de 1,782 e de 1,797. De referir que em outubro de 2018 o Índice VL havia sido de 1,767 e o Índice VL - ERVA de 1,792. Um índice inferior a 1,5 (valor muito baixo) indica forte

ameaça para a rentabilidade da exploração leiteira; um índice entre 1,5 e 2,0 (valor moderado) indica que a produção de leite é um negócio economicamente viável; um índice maior do que 2,0 (valor elevado) indica que estamos perante uma situação muito favorável para o sucesso económico da exploração (Schröer-Merker et al., 2012). Durante o trimestre em análise, o Índice VL atingiu o valor mínimo de 1,761 em agosto e o Índice VL-ERVA o valor mínimo 1,797 em outubro. Pode-se concluir que os produtores de leite do continente e dos Açores se encontram numa situação muito pouco favorável com o rendimento da sua atividade empresarial baixo e muito instável (comportamento yoyo). De realçar que o Índice VL-ERVA reflete a realidade da produção de leite muito mais interessante da ilha de S. Miguel, que produz cerca de 60% do total de leite dos Açores, o que significa que noutras ilhas do Arquipélago a conjuntura será bastante mais desfavorável.


Índice VL-ERVA

ÍNDICE VL JUL. 2012 A OUT. 2019 2,0 1,9 1,8 1,7 1,6 1,5 1,4 1,3 1,2

out. '19

jan. '19

jan. '17

jan. '16

jan. '15

jan. '14

jan. '13

jul. '12

jan. '18

1,1 1,0

O ÍNDICE VL É INFLUENCIADO PELA VARIAÇÃO MENSAL DO PREÇO DO LEITE PAGO AO PRODUTOR NO CONTINENTE E PELAS VARIAÇÕES MENSAIS DOS PREÇOS DOS ALIMENTOS QUE CONSTITUEM O REGIME ALIMENTAR DA VACA LEITEIRA TIPO (CONCENTRADO 9,5 KG/DIA; SILAGEM DE MILHO 33 KG/DIA; PALHA DE CEVADA 2 KG/DIA).

ÍNDICE VL-ERVA JUL. 2013 A OUT. 2019 2,7 2,5 2,3 2,1 1,9 1,7 1,5 1,3

out. '19

jan. '19

jan. '18

jan. '17

jan. '16

jan. '15

jan. '14

jul '13

1,0

O ÍNDICE VL – ERVA É INFLUENCIADO PELA VARIAÇÃO MENSAL DO PREÇO DO LEITE PAGO AO PRODUTOR NA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES E PELAS VARIAÇÕES MENSAIS DOS PREÇOS DOS ALIMENTOS QUE CONSTITUEM O REGIME ALIMENTAR DA VACA LEITEIRA TIPO (PRIMAVERA/VERÃO 60 KG/DIA DE PASTAGEM VERDE, 10 KG/DIA DE SILAGEM DE ERVA E DE MILHO, 5,6 KG/DIA DE CONCENTRADO; OUTONO/INVERNO 47 KG/DIA DE PASTAGEM VERDE, 13,3 KG/DIA DE SILAGEM DE ERVA E DE MILHO, 6,7 KG/DIA DE CONCENTRADO).

NOTAS

- O preço do leite pago aos produtores do continente em outubro de 2019 foi igual ao de outubro de 2018; pelo contrário o valor pago aos produtores dos Açores foi inferior em 0,7 cêntimos/kg; - Durante o trimestre em análise houve uma redução no preço das principais matérias-primas que entram na formulação dos alimentos compostos. Esta evolução contribuiu para reduzir o preço do alimento composto e da alimentação tipo das vacas do continente; - Embora nos Açores o preço do alimento composto também tenha diminuído, como a partir de outubro a vaca leiteira tipo passou a ingerir menor quantidade de pastagem os custos

com a alimentação da vaca tipo aumentaram; - As três considerações anteriores refletiram-se no Índice VL e no Índice VL ERVA que em outubro de 2019 foi, respetivamente, de 1,782 e 1,797. BIBLIOGRAFIA

MMO (2019). European milk market observatory – EU historical prices. https://ec.europa.eu/agriculture/marketobservatory/milk acesso em 29-12-2019. Schröer-Merker, E; Wesseling, K; Nasrollahzadeh, M (2012). Monitoring milk:feed price ratio 1996-2011. In: Chapter 2 – Global monitoring dairy economic indicators 1996-2011, IFCN Dairy Report 2012, Torsten Hemme editor, p 52-53. Published by IFCN Dairy Research Center, Schauenburgerstrate, Germany. SIMA-GPP (2019). Leite à produção Preços Médios Mensais. Sistema de Informação de Mercados Agrícolas, Gabinete de Planeamento e Políticas. http://sima.gpp.pt:8080/sima/default/ lacteos?la=1&ini=2019 acesso em 29-12-2019.

EVOLUÇÃO DO ÍNDICE VL E ÍNDICE VL– ERVA OUT. 2017 A OUT. 2019 Mês

Índice VL

Índice VL - ERVA

out-18

1,767

1,792

nov-18

1,802

1,823

dez-18

1,783

1,826

jan-19

1,761

1,764

fev-19

1,831

1,768

mar-19

1,746

1,742

abr-19

1,757

2,080

mai-19

1,754

2,053

jun-19

1,698

2,040

jul-19

1,713

2,045

ago-19

1,761

2,083

set-19

1,783

2,118

out-19

1,782

1,797

OS VALORES SÃO INFLUENCIADOS PELA VARIAÇÃO MENSAL DO PREÇO DO LEITE PAGO AO PRODUTOR INDIVIDUAL DO CONTINENTE (ÍNDICE VL) E DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES (ÍNDICE VL - ERVA) E PELAS VARIAÇÕES MENSAIS DOS PREÇOS DE 5 MATÉRIASPRIMAS UTILIZADAS NA FORMULAÇÃO DO CONCENTRADO E PELO PREÇO DOS OUTROS ALIMENTOS QUE INTEGRAM O REGIME ALIMENTAR DA VACA LEITEIRA TIPO.

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AS PESSOAS DA DE HEUS PORTUGAL (ESQ. P/ DTA: JOÃO LOBO, DIRETOR GERAL; PEDRO TORRES, DIRETOR DE VENDAS DA ÁREA NORTE; JOOST JANSSENS, GESTOR DE PRODUTO MUNDIAL DE HEUS PARA RUMINANTES; CÉSAR NOVAIS, GESTOR DE PRODUTO RUMINANTES.

EMPRESAS | DIA DO PRODUTOR DE LEITE DE HEUS

PRODUZIR LEITE COM ORGULHO

NO PASSADO DIA 11 DE DEZEMBRO, EM VILA NOVA DE FAMALICÃO, JUNTARAM-SE CERCA DE 350 PRODUTORES DE LEITE PARA ASSISTIR A UMA JORNADA TÉCNICA ONDE FORAM APRESENTADAS AS MAIS RECENTES FERRAMENTAS QUE A DE HEUS PÕE AO SERVIÇO DOS SEUS CLIENTES. Por RUMINANTES

A

partir de 2025, a De Heus vai ter todas as suas fábricas europeias a produzir alimentos para animais, exclusivamente a partir de matérias primas de origem sustentável. Foi com esta notícia que João Lobo, diretor geral da filial portuguesa, iniciou o discurso de abertura do Dia do Produtor de Leite De Heus. No passado dia 11 de dezembro, em Vila Nova de Famalicão, juntaram-se cerca de 350 produtores de leite para assistir a uma jornada técnica onde foram apresentadas as mais recentes ferramentas que a multinacional holandesa põe ao serviço dos seus clientes. A sustentabilidade esteve na ordem do dia. Para além do ambicioso objetivo de ter todas as fábricas na Europa a produzir alimentos para os animais exclusivamente a partir de matérias primas de origem sustentável, a De Heus obriga-se a si mesma a cumprir 78

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uma série de medidas “que visam garantir a sustentabilidade do próprio negócio, do negócio dos seus clientes e do Planeta”, disse João Lobo. Afirmou ainda que a De Heus apoia a diversidade das escolhas alimentares da população, mas acredita na importância de proteger os seus produtores, promovendo o debate e o esclarecimento da opinião pública sobre os benefícios do que produz, pois quer contribuir para uma melhor e mais responsável alimentação das pessoas: “Nós não fabricamos rações, alimentamos famílias, as nossas, as vossas e as de quem consome os produtos que os senhores produzem.” Referindo-se à atual controvérsia sobre a responsabilidade imputada aos produtores de carne de vaca dos efeitos climáticos nefastos, o diretor geral da De Heus lembrou a importância da atividade dos agricultores: “Neste momento, o setor agropecuário, particularmente o da produção de carne de vaca, é fortemente atacado na comunicação

social com a famosa pegada de carbono e as consequências para o meio ambiente. (…) É um facto que as vacas produzem metano, mas também é um facto que são os agricultores os precursores de uma economia circular que, através da produção forrageira para a alimentação do gado contrariam a pegada de carbono e produzem oxigénio para a atmosfera. (…) Poderíamos perguntar-nos o que aconteceria com os subprodutos da alimentação humana (bagaço de soja, colza, girassol, corn gluten feed, polpa de citrinos, etc.), se não fosse a nossa economia circular a transformá-los em alimentos para os animais que depois vão gerar novo alimento para as populações.” Mas se ouvimos falar muito da carne, também o leite é alvo de discursos extremistas e “injustificados”, disse João Lobo, para quem o leite é, “porventura o melhor alimento do mundo dada a sua relação entre a quantidade e a qualidade de nutrientes


Dia do Produtor de Leite De Heus

AS PESSOAS DA DE HEUS PORTUGAL (ESQ. P/ DTA: ; JOSÉ ALVES, ASSISTENTE TÉCNICO RUMINANTES; MIGUEL PENAFORTE, ASSISTENTE TÉCNICO RUMINANTES. ENTREGA DOS PRÉMIOS MMM E FORRAGENS AOS VENCEDORES.

e o seu custo para a população em geral.” Para ajudar a esclarecer opiniões sobre assuntos tão polémicos, a De Heus Portugal iniciará em 2020, em Portugal, um projeto a que chamou Comunicar Ciência. Este projeto publicará, nos meios de comunicação digitais e tradicionais, artigos de base técnica procurando desmistificar “alguns mitos populistas e demagógicos tão em voga nos dias que correm e que, de uma forma geral, opinam contra o consumo de proteínas animais." O QUE DISSERAM OS ESPECIALISTAS DA DE HEUS Joost Janssens, gestor de produto mundial De Heus para ruminantes, trabalha em nutrição de vacas leiteiras há mais de 35 anos e dá formação a produtores e a técnicos. Na sua intervenção, destacou as semelhanças entre os produtores de leite holandeses e os portugueses: a falta de terra, o preço da terra, a dificuldade em arranjar mão de obra e a pressão ambiental sobre a produção de leite. Fatores que levaram os agricultores a procurar aumentar a dimensão das suas explorações e a especializarem-se para conseguirem aumentar a rentabilidade. "Uma das questões mais importantes é como podemos alcançar o máximo poder do rúmen", disse Janssens, "O rúmen é o segredo de uma vaca e é através dele que conseguimos transformar fibra em leite." O aumento do número de lactações por vaca é outro desafio que se coloca aos produtores que "em Portugal ronda as duas e na Holanda aproxima-se das quatro." Janssens apontou ainda a longevidade animal como outro fator muito importante na rentabilidade duma

exploração, afirmando que "um dos segredos é conseguir ter animais mais duradouros.” Para ajudar os produtores a obterem melhores resultados nas suas explorações, a De Heus desenvolveu os programas SFOS (utilização ótima do poder ruminal); Kaliber (recria de novilhas), Feed Expert (otimização das dietas) e Robot Expert (otimização da ordenha robotizada) e MMM (monitorização da margem do leite). César Novais, gestor de produto De Heus de vacas leiteiras em Portugal, mostrou as vantagens da utilização do programa MMM- Margin Monitor Milk, um programa que mede a eficiência produtiva e a rentabilidade económica das explorações, permitindo tomar decisões sobre a alimentação e o maneio da exploração. O resultado mais importante que esta ferramenta informática fornece é a margem do leite, ou seja, a diferença entre a receita do leite e os custos de alimentação. Fornece também dois relatórios: o benchmark da exploração e o benchmark entre as explorações. O primeiro permite-nos comparar os resultados de todos os MMM da exploração e ver a evolução, ao longo do tempo, das margens e dos custos da alimentação. O segundo permite comparar os resultados da nossa exploração com o mercado. Miguel Penafort, assistente técnico Ruminantes De Heus Portugal, apresentou o programa de recria de novilhas Kaliber, que permite alcançar os 3 objetivos fundamentais que se procuram numa novilha: garantir que exprime todo o seu potencial genético; evitar a deposição de gordura corporal; conseguir atingir os 2 anos de

idade a fazer o seu 1º parto com um peso aproximado de 570 kg. José Alves, assistente técnico Ruminantes De Heus Portugal, falou sobre a abordagem De Heus às ordenhas robotizadas: o RobotExpert, que permite otimizar o desempenho dos robots de ordenha. Referi ainda as vantagens e desvantagens da ordenha robotizada e os desafios que este sistema de ordenha coloca aos técnicos e aos produtores. No final das apresentações, foram revelados os vencedores dos prémios nas categorias MMM e Forragens. Na primeira categoria foram premiadas as 3 explorações, em avaliação desde o início deste ano, com os melhores indicadores de MMM. Na categoria Forragens foram premiadas, pelo ALIP, as forragens de milho e erva com melhor avaliação produzidas durante este ano.

ALGUNS NÚMEROS DA DE HEUS

• Alimenta vacas que produzem um total de cerca de 26,5 milhões de litros de leite por dia. • Alimenta cerca de 300.000 animais de carne diariamente. • Alimenta ovelhas e cabras que produzem um total de cc. 2 milhões de litros de leite por dia. • Tem 29 laboratórios em todo o mundo e analisa cerca de 750.000 análises anualmente. • Possui 66 fábricas em 17 países. • Entrou em Portugal em 2015

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Notícias e novidades de produto

GUIA DE NUTRIÇÃO PREMIER ATLAS A empresa britânica do setor da alimentação animal Premier Nutrition, lançou o Premier Atlas: uma matriz de ingredientes que pretende ajudar os especialistas a formular rações com ainda mais precisão. Esta matriz contém mais de 260 matérias--primas e 40 mil nutrientes e funciona como uma ferramenta de utilização diária, permitindo aos nutricionistas e consultores fazer a escolha dos materiais que melhor se adaptam à realidade de cada exploração e aumentar a performance dos animais. A matriz dá a conhecer em profundidade cada uma das matérias-primas e nutrientes, incluindo detalhes sobre a sua produção e processamento que podem afetar o seu valor nutricional. Este guia reflete ainda algumas preocupações ambientais, contemplando alternativas à soja como subprodutos da indústria dos biocombustíveis. A publicação está disponível de forma gratuita para todos os clientes da Premier Nutrition em suporte de papel e digital, sendo atualizada de forma regular.

UNIÃO DE ESFORÇOS EM PROL DO AMBIENTE A multinacional Alltech e a empresa holandesa especialista em nutrição de bovinos de leite Ingenieursbureau Heemskerk, estão a desenvolver uma tecnologia para otimizar a absorção e digestão de proteínas em bovinos, reduzindo assim as emissões de amoníaco. Esta tecnologia inclui a introdução de um ingrediente natural para neutralizar a amónia e reduzir os valores de ureia no sangue e no leite, e a sua excreção e consequente libertação de amoníaco. Outra parte da resposta passa pela inclusão de uma fonte não proteica de nitrogénio que contribuirá para o crescimento de proteína microbiana no rúmen e que, aliada ao balanço de aminoácidos, permite reduzir significativamente o nitrogénio da dieta e a sua excreção. Paralelamente, as duas empresas estão a trabalhar numa solução para eliminar o amoníaco acumulado nas instalações de armazenamento do estrume. Com estas soluções, a parceria espera reduzir as emissões de amoníaco (NH3) em 38.000 toneladas/ano. Este trabalho vai ao encontro das resoluções do Parlamento Europeu que, em novembro, declarou emergência climática e ambiental pedindo à União Europeia a redução de 55% das emissões até 2050. 80

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MICRO DAIRY MBA

APRENDER A GERIR

CURSO DE GESTÃO E DECISÕES ECONÓMICAS EM EXPLORAÇÕES LEITEIRAS No passado mês de novembro teve lugar, em Tomar, o curso de gestão e decisões económicas em explorações leiteiras microDairyMBA. Este curso foi levado a cabo pela start-up farmIN, em parceria com o consultor Vitor Cabrera e o nutricionista Israelita Steven Rosen Steven Rosen. No primeiro módulo, Steven Rosen abordou temas relacionados com indicadores económicos, lucro, instalações, gestão ambiental e nutrição. No segundo módulo, Victor Cabrera abordou temas relacionados com a tomada de decisões inteligentes. O especialista ajudou os formandos na utilização das

ferramentas/programas de apoio à decisão que o mesmo criou e disponibilizou gratuitamente na internet (http://dairymgt. info/tools.php). As ferramentas de apoio à decisão podem facilmente ajudar-nos a decidir entre refugar/não refugar, que tipo de sémen usar, definir o valor de uma vaca, maximizar o IOFC e até mesmo apurar custos de alimentação e protocolos reprodutivos. Victor Cabrera e Steven Rosen definiram o nível de conhecimento da audiência como acima da média, com “um sentido crítico muito apurado e capaz de suportar decisões económicas de alto impacto”.

BOVINE - BEEF INNOVATION NETWORK

CARNE SUSTENTÁVEL

O PROJETO BOVINE - BEEF INNOVATION NETWORK EUROPE APOIA A PRODUÇÃO DE CARNE DE BOVINO SUSTENTÁVEL. Apesar de existirem na Europa mais de 250 mil explorações ligadas à produção de carne de bovino, não existe uma rede alargada preparada para responder às suas necessidades. BovINE - Beef Innovation Network Europe, é um projecto financiado pela União Europeia que apresenta como principal objetivo criar a tal rede transnacional dedicada à divulgação do conhecimento adquirido ao longo de anos de investigação nesta importante área de produção. Para garantir a sustentabilidade do setor da carne de bovino na Europa, o BovINE irá interligar investigadores, técnicos, produtores e outros elementos relevantes, estimulando o diálogo, a troca de informações e a procura

conjunta de soluções. O projeto irá partilhar ideias inovadoras e estimular a adoção de métodos comprovados pela investigação, mas ainda não adotados pela produção. Portugal está representado neste consórcio através da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, o Agrupamento de Produtores de Bovinos Mertolengos e conta ainda com a preciosa colaboração da revista Ruminantes para a devida divulgação. No fim de janeiro irá decorrer a reunião de lançamento na Irlanda após o que faremos aqui uma descrição mais detalhada dos objetivos e métodos de trabalho.


Notícias e novidades de produto

ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES

DIVULGAR CONHECIMENTO A COOPERATIVA AGRÍCOLA DO BOM PASTOR, C.R.L., INICIA UMA PARCERIA COM A REVISTA RUMINANTES.

A Cooperativa Agrícola do Bom Pastor, C.R.L., inicia, agora, uma nova e importante parceria, com a Revista Ruminantes. Esta parceria, que se inicia neste número, visa divulgar, em benefício dos agricultores, uma boa informação técnica, tecnológica e científica, com valor para todos agricultores açorianos que fazem da produção bovina a sua atividade. Nomeadamente, sobre temas do especial interesse dos agricultores do nosso arquipélago, como: a riqueza dos solos; pastagens e forragens e consociação de sementes; reprodução animal; nutrição animal e a valorização necessária na fileira do leite, entre outros.

Queremos ter Associados mais fortes e acreditamos que o êxito dos seus negócios passa pelo acesso à informação. Por outro lado, queremos dar-nos a conhecer como organização cooperativa, e partilhar com todos os leitores o muito e bem que se faz na produção animal nas nossas Ilhas, em particular na bovinicultura de leite e de carne. Esta colaboração reforça a presença da Revista junto dos mais de 700 associados da Cooperativa Bom Pastor espalhados por toda a ilha de S. Miguel, bem como junto de clientes seus de todas as outras ilhas açorianas, levando a todos temas da atualidade e de inegável interesse.

CASCA DE LARANJA PARA COBRIR SILAGEM Para reduzir a utilização de plástico e providenciar uma fonte de fibra às suas vacas, o jovem produtor britânico Henry Tyrrel utilizou 60 toneladas de casca de laranja para cobrir a sua silagem. De acordo com a notícia publicada na revista Farmers Weekly, a solução testada é ligeiramente mais cara do que o plástico preto utilizado convencionalmente, mas representa um menor desperdício já que tudo é aproveitado pelo animal. Todo o processo é realizado da forma tradicional, com exceção da cobertura. A ideia é que a casca de laranja forme uma crosta com 10-15cm de espessura, cobrindo toda a silagem. Os especialistas alertam para os possíveis inconvenientes deste processo, uma vez que, se a silagem não ficar bem isolada poderão desenvolver-se bolores e outros microrganismos.

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Notícias e novidades de produto

RAÇAS

SUPLEMENTAÇÃO COM ALHO PARA REDUZIR AS EMISSÕES DE METANO A empresa Suiça Mootral afirma ter a solução para a redução de emissões de metano por ruminantes em cerca de 38%. O suplemento desenvolvido pela Mootral combina os compostos ativos do alho e os flavonoides derivados do limão. Ao atuar sobre um grupo especifico de microrganismos – Archaea – responsáveis pela produção de metano no rúmen, inibindo a sua atuação, este suplemento reduz as emissões sem afetar os outros microrganismos essenciais à digestão. De acordo com um estudo recente realizado numa exploração escocesa abrangendo 400 vacas, este efeito de redução nas emissões pode ser conseguido pela adição de 15g do suplemento à dieta diária das vacas. No mesmo estudo, os investigadores registaram um aumento de 8% na produção leiteira. A empresa afirma ainda que o suplemento não altera o cheiro ou sabor do leite. Este suplemento tem um custo de aproximadamente 65€ por vaca/ano.

ABERDEEN ANGUS

ASSOCIAÇÃO DE CRIADORES ABERDEEN ANGUS REFORÇA POSIÇÃO JUNTO DOS CRIADORES A Associação de Criadores Aberdeen Angus Portugal pretende reforçar este ano, a sua posição junto dos criadores e zelar pela qualidade dos animais inscritos no Livro Genealógico Português da Raça. Assim, já no final do ano passado, em conjunto com a Certis, iniciou as visitas técnicas aos criadores espanhóis aderentes ao Livro Genealógico Português da Raça. Estas visitas permitem, além do controlo e registo dos animais, conhecer a realidade dos criadores nestas regiões e apoiá-los na resolução de problemas. Além disso, a Associação disponibilizou já,

no seu website, os resultados da avaliação genética BreedPlan do mês de dezembro. Este programa de avaliação genética já é utilizado em diferentes países permitindo uma avaliação objetiva dos animais, atribuindo EBV’s (valores genéticos estimados) a vários parâmetros produtivos importantes, permitindo assim o melhoramento da raça. No website da associação é possível pesquisar valores de EBV dos animais, encontrar criadores, aceder a relatórios de avaliação mensal e avaliação de touros e outras ferramentas que podem ser bastante úteis aos produtores.

SUPLEMENTAÇÃO

ÓLEOS ESSENCIAIS DE OREGÃOS COM POTENCIALIDADE ANTIMICROBIANA Um estudo realizado pela Universidade de Reading no Reino Unido verificou uma redução nos níveis da bactéria Escherichia coli resistente a cefalosporinas da 4a geração, após a administração de óleo essencial de orégãos nas dietas das vitelas. Os investigadores monitorizaram a presença de bactérias resistentes à cefquinoma nas fezes dos vitelos alimentados com o mesmo leite de desperdício, com ou sem suplementação com óleo de orégãos (Orego-Stim). No grupo não suplementado verificou-se que 44,1% das E. coli presentes eram resistentes a esta cefalosporina, enquanto no grupo suplementado este número foi de apenas 12,6%. Mais estudos estão em curso no sentido de perceber o mecanismo através do qual este óleo atuou sobre a diminuição da resistência ao antibiótico. Os resultados promissores obtidos nesta experiencia são uma “luz ao fundo do túnel” numa altura em que crescem as resistências aos antimicrobianos. 82

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EXTRATO DE ORÉGÃOS

A SUPLEMENTAÇÃO DA DIETA DE VACAS DA RAÇA JERSEY COM EXTRATO DE ORÉGÃOS PARECE AUMENTAR A TAXA DE ALIMENTAÇÃO E A PRODUÇÃO DE LEITE. A suplementação da dieta de vacas da raça Jersey com extrato de orégãos parece aumentar a taxa de alimentação e a produção de leite destes animais. Um estudo, realizado por investigadores da Universidade Federal de Rio Grande do Sul e Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), pretendeu avaliar os efeitos da suplementação com extratos de orégãos e chá verde no comportamento alimentar e social, consumo alimentar e condições de saúde de vacas de leite durante o período de transição. Para esse efeito, 24 vacas Jersey foram selecionadas a cerca de 28 dias do parto e permaneceram em estudo até ao 21º dia de lactação. As vacas foram divididas em três grupos – um suplementado com extrato de orégãos, outro suplementado com extrato de chá-verde e um grupo de controlo. Neste estudo, o consumo destes suplementos não afetou o consumo alimentar no período antes

do parto. No entanto, depois do parto, o grupo suplementado com extrato de orégão registou um aumento do consumo de matéria seca de 1,3kg (vs. grupo de controlo). Paralelamente, o extrato de orégãos parece aumentar a eficiência alimentar, reduzindo o tempo de alimentação e as visitas ao alimentador. Além disso, as vacas do grupo que consumiu extrato de orégão produziram mais leite corrigido para energia (ECM) do que as vacas dos outros dois grupos, e foram mais eficientes, produzindo mais 0,3 kg de leite por kg de alimento consumido em comparação com o grupo que consumiu extrato de chá verde. Ambos os grupos suplementados com extratos vegetais registaram alterações nas interações sociais com redução da agressividade. Não se verificaram diferenças entre os diferentes grupos relativamente à ocorrência de doença.


Notícias e novidades de produto

TUBERCULOSE BOVINA

ALIMENTO SUBSTITUTO DO LEITE COMPLETO PARA BORREGOS A Plurivet aumentou a gama de alimentos substitutos do leite completo, com o lançamento do LAMMOMEL 24/24 em Portugal. Trata-se de um alimento criado e destinado especificamente para borregos desde o nascimento, sendo ele adequado para ser usado na alimentação automática ou através de baldes de aleitamento. Os principais benefícios deste alimento, totalmente adaptado às necessidades nutricionais dos borregos, incluem um elevado nível de nutrientes, proporcionando crescimento e desenvolvimento máximos. Composição: soro de leite em pó, óleos vegetais (palma/coco – 60/40), leite em pó, proteína de trigo hidrolisada, premix. Constituintes Analíticos: proteína bruta: 24,0%; gordura bruta: 24,0%; cinza bruta: 7,5%; fibra bruta: 0,04%; cálcio: 1,0%; fósforo: 0,7%; sódio:0,5%.

TESTE RÁPIDO

EXPLORAÇÕES NO REINO UNIDO TESTAM TESTE RÁPIDO PARA DETEÇÃO DE TUBERCULOSE BOVINA A empresa britânica PBD Biotech procura explorações em áreas muito afetadas pela tuberculose bovina para testar o seu novo teste rápido, enquanto procura a aprovação da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal). Uma exploração no País de Gales que, nos últimos três anos, perdeu mais de metade do seu efetivo devido à tuberculose bovina, teve permissão para testar o novo teste rápido PBD Biotech’s Actiphage para o Mycobacterium bovis. A exploração localiza-se em Ceredigion, uma zona muito afetada pela doença. O produtor Chris Mossman decidiu experimentar este teste após tomar conhecimento de um caso de sucesso de erradicação da doença numa exploração em Devon. Este novo

teste pode detetar a doença em seis horas a partir de uma amostra de sangue ou leite, permitindo a identificação rápida dos animais doentes, evitando assim a disseminação da doença. Ao contrário dos testes atualmente autorizados, este teste não depende da resposta imunitária ao agente e, além disso, tem uma maior sensibilidade que os testes de tuberculina intradérmica utilizados pelos serviços oficiais. O produtor acredita que pode ter perdido muitos animais desnecessariamente quando o governo decretou que naquela zona, os animais com resultados inconclusivos deveriam ser encaminhados para abate.

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Notícias e novidades de produto

6 biliões de toneladas de matéria

OUTROS NÃO-EDÍVEIS

CEREAIS

OUTROS EDÍVEIS

13%

1%

3% SUBPRODUTOS

• Culturas forrageiras: silagens de cereais e leguminosas, beterraba forrageiras. • Resíduos de culturas: palhas e restolhos, ponta da cana de açúcar, caule de bananeira, • Subprodutos: farelos, farinhas de glúten de milho, melaço, polpa de beterraba, resíduos de fábricas de cervejas, destilarias e industria dos biocombustíveis. • Outros não edíveis: cereais de segunda categoria, lavaduras, farinhas de peixe, aminoácidos sintéticos, cal. • Outros edíveis: pellets de mandioca, grãos e soja. óleo de colza e óleo de soja.

5% PASTAGEM E FOLHAS

BAGAÇOS DE OLEAGINOSAS

46%

5% RESÍDUOS DAS COLHEITAS

19% CULTURAS FORRAGEIRAS

Composição global da alimentação animal (fonte GLEAM 2.0)

8%

ALIMENTAÇÃO | GASES COM EFEITO DE ESTUFA

A SUSTENTABILIDADE DA ALIMENTAÇÃO ANIMAL DESCONSTRUINDO OS ARGUMENTOS “CONTRA” Por Margarida Carvalho, Médica Veterinária

A

produção animal, e em particular o setor dos ruminantes, enfrenta nos dias de hoje fortes pressões para diminuir o impacto no ambiente. Atualmente, a pecuária está debaixo de um enorme criticismo causado pela difusão de informação (tantas vezes mal fundamentada) relacionada com os seus efeitos negativos no ambiente e bem-estar animal. É inegável o impacto ambiental e este prende-se com a utilização de água, terra e a emissão de gases com efeito de estufa. É urgente cuidar da nossa casa comum! Paralelamente, as Nações Unidas estabeleceram o ano de 2030 como a meta para o objetivo de acabar com a fome no mundo. De acordo com a FAO, é expectável que a população mundial atinga os 8,3 biliões de pessoas em 2030. Com o aumento populacional aumenta também a necessidade de alimentos, pelo que é necessário investir no desenvolvimento do setor agrícola. Hoje, mais do que nunca, é fundamental dotar os produtores e a indústria de conhecimento que lhes permita continuar a produzir (mais e melhor) e, simultaneamente, diminuir a pegada de carbono. É também necessário ter consciência e ajudar a difundir a ideia de que esta indústria tem investido muito 84

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em investigação e tecnologia no sentido de alcançar uma maior sustentabilidade. No final do mês de outubro, vários elementos da imprensa nacional partilharam os resultados de um estudo de investigação divulgado pela IACA (Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais). Segundo esse estudo 85% da população portuguesa gostaria de ter mais informação sobre a alimentação dos animais de produção. 7 em cada 10 portugueses consideram ainda que a alimentação animal tem um forte impacto na alimentação humana. A maioria dos portugueses considera ainda que é importante reduzir a pegada ambiental do setor, mas desconhece algumas das medidas que o setor já utiliza nesse sentido. Assim, podemos fazer a diferença ao informar corretamente quem nos rodeia. Propomo-nos por isso a desfazer alguns dos argumentos mais utilizados contra a produção animal relacionados em particular com a alimentação. “OS BOVINOS CONSOMEM CEREAIS QUE PODIAM SER UTILIZADOS NA ALIMENTAÇÃO HUMANA” Um dos argumentos frequentemente utilizados contra a produção animal é que a

sua alimentação consiste maioritariamente em cereais que, além de poderem ser utilizados na alimentação humana, contribuem para a desflorestação. Na verdade, de acordo com uma investigação da FAO em 2010, apenas 32% de toda a produção de cereais foi utilizada na produção animal. Só 13% da alimentação animal é composta por cereais (gráfico 1) e se considerarmos apenas a dieta dos ruminantes este valor cai para 10%. Na verdade, 86% da alimentação animal global consiste em materiais que os seres humanos não são capazes de digerir. As características do trato gastrointestinal destes animais, entre as quais a sua flora bacteriana, torna-os capazes de utilizar também materiais fibrosos como a erva, o feno ou a silagem de milho, que não são digeridos pelos humanos ou outros seres monogástricos, transformando-os em energia metabolizável e convertendo 0,6g de proteína de baixa qualidade em 1g de proteína de elevada qualidade. Nos EUA, mais de 85% das calorias da alimentação do gado provém de erva, forragens e outros materiais vegetais não adequados à alimentação humana. Os ruminantes conseguem extrair energia metabolizável dos resíduos das


Notícias e novidades de produto

colheitas e desperdício gerado por várias indústrias como a dos biocombustíveis ou do processamento de plantas. Estes desperdícios, caso não fossem destinados à alimentação animal, seriam eliminados com maior prejuízo para o ambiente (e para as indústrias). “A PECUÁRIA USA TERRAS QUE PODERIAM SER UTILIZADAS PARA CULTIVO” Atualmente, cerca de 11% das terras são utilizadas para culturas vegetais e aproximadamente 30% como pastagem de ruminantes. No entanto, isso não significa que toda esta área poderia ser utilizada para o cultivo. De acordo com a FAO, na produção de alimentos para animais são utilizados 2,5 biliões de hectares de terra, o que corresponde a cerca de metade da área agrícola global. Desta área, 2 biliões de hectares estão alocados a pastagem sendo que na sua maioria (1,3 biliões de hectares) não podem ser convertidos em terra de cultivo. Isto significa que 57% da terra utilizada para alimentação animal não pode ser destinada à alimentação humana. Além disso, o setor tem um impacto muito positivo no combate aos incêndios e na fixação de populações em áreas rurais. Paralelamente, quando bem executado, o pastoreio contribui favoravelmente para a saúde dos solos.

“PARA PRODUZIR 1 KG DE CARNE DE BOVINO (SEM OSSO) SÃO NECESSÁRIOS 2,8KG DE ALIMENTOS EDÍVEIS PARA ALIMENTAÇÃO HUMANA” Embora seja verdade, importa comparar a qualidade nutricional da carne com a qualidade nutricional desses alimentos. É frequente a divulgação de resultados de estudos que analisam o impacto ambiental apenas em função das emissões de gases com efeito de estufa pelas calorias de alimento produzido. Perante esta avaliação simplista é verdade que os cereais produzem menos gases com efeito de estufa por 100 calorias de alimento produzidas. Todavia, as calorias não são o único critério importante numa dieta, e a densidade nutricional dos cereais é relativamente baixa. É importante salientar que os animais são responsáveis por 1/3 da proteína mundial e os ruminantes em particular têm a capacidade de converter biomassa que não pode ser utilizada para a alimentação humana em proteína de elevada qualidade, biodisponível e com bom teor de aminoácidos essenciais. É verdade que alguns alimentos de origem vegetal, como o feijão, são boas fontes de proteína, no entanto falham no aporte de alguns dos aminoácidos essenciais. Alguns investigadores nos seus estudos limitam o valor das carcaças a menos de metade do seu peso que produz calorias edíveis. Esta perspetiva põe de parte o valor económico de outras partes da carcaça

como a pele, tão usada numa diversidade de produtos (ex.: indústria do vestuário e calçado). E quando se fala em proteger o ambiente, é preciso ter em conta também as consequências ambientais de produzir sinteticamente alternativas para a confeção destes produtos. Assim, a alimentação animal, embora seja um produto intermédio, pode contribuir para alcançar o objetivo de uma produção animal mais sustentável. Além da escolha de matérias primas, este setor tem vindo a apoiar-se no conhecimento científico sobre nutrição animal para desenvolver uma alimentação mais eficiente e em simultâneo mais amiga do ambiente. Não é só a indústria de produção de alimentos para os animais que deve trabalhar com este objetivo, esta preocupação deve ser transversal a todos nós englobando também o produtor e o consumidor. O produtor pode ter um papel ativo nesta área, procurando informar-se sobre a origem dos alimentos que usa, preferindo produtos amigos do ambiente e, sempre que possível, produzidos localmente. Em simultâneo, pode contribuir com o seu exemplo e conhecimento prático para informar o consumidor que poderá assim fazer escolhas informadas e conscientes. Talvez faça sentido, cada vez mais, produzir a carne, o leite e os alimentos para estes animais perto dos locais de consumo, pois consumir carne. leite ou o que quer que seja que venha de longe não é ser amigo do ambiente.

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Equipamento

KRONE

PREMOS 5000

Esta é, simultaneamente, uma máquina de colheita e uma fábrica com a capacidade de transformar palha em pellets de elevada qualidade que podem ser utilizados em camas, alimentação animal e como combustível. Fácil de manobrar, atinge um rendimento de até 5.000 kg por hora. Para garantir a qualidade dos pellets, o PREMOS 5000 vem equipado com dispensadores de óleo e água, que permitem otimizar os níveis de humidade e a capacidade de adesão das partículas. Uma vez que a matéria prima atinge 70 a 100º C na altura de compactação, o equipamento tem também integrado uma ventoinha que permite o arrefecimento dos pellets para evitar a sua deterioração durante o armazenamento.

NEW HOLLAND T5 DYNAMIC COMMAND™

NOVA TRANSMISSÃO

JRH WATER MANAGEMENT

ARMAZENAMENTO DE ÁGUAS PLUVIAIS

Porque não armazenar a água da chuva para utilizar no verão, quando mais precisar? O sistema de armazenamento de águas pluviais da JRH Water Management tem a capacidade de reter e armazenar grandes quantidades de águas dos telhados para uso futuro na exploração. Enquanto os sistemas tradicionais têm uma capacidade limitada para manter a água em boas condições, o equipamento da JRH têm um sistema de tratamento químico da água de forma a torná-la limpa e permitir o seu armazenamento por longos períodos. Além disso os seus tanques de depósito têm grandes dimensões permitindo o armazenamento de grandes volumes de água.

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OS NOVOS MODELOS DA GAMA T5 PROMETEM ELEVADA MANOBRABILIDADE EM EXPLORAÇÕES MISTAS E LEITEIRAS ONDE O TRABALHO COM CARREGADOR E O TRANSPORTE SÃO FUNDAMENTAIS. A New Holland Agriculture acrescentou à gama de tratores T5 os modelos Dynamic Command™. Estes novos modelos prometem elevada manobrabilidade e produtividade em explorações mistas e leiteiras, onde o trabalho com carregador e o transporte são aspetos fundamentais das operações diárias, bem como trabalhos pesados à TDF, tais como corte, enfardamento, lavoura ligeira e preparação do solo. A transmissão semi-powershift Dynamic Command 24x24, que equipa os novos modelos, foi concebida para eficiência. Oferece uma vasta escolha de velocidades dentro das três gamas, que correspondem às mais frequentemente usadas ao efetuar atividades no campo ou na estrada. Esta característica permite ao operador adaptar a velocidade do trator ao trabalho com precisão, sem mudar a gama. Embraiagens dedicadas para marcha à frente e marchaatrás garantem um inversor controlado, mesmo em declives acentuados, enquanto que a mudança de gama é totalmente robotizada. A transmissão Dynamic Command permite mudanças de direção quase instantâneas, ideais para operações intensivas com carregador, que podem ser efetuadas com muito mais rapidez e

suavidade. Juntamente com características como o StartStop, que permite trabalhos com carregador sem embraiagem a velocidades mais baixas, resulta em conforto de funcionamento, redução da fadiga e produtividade melhorada. O T5 Dynamic Command incorpora o motor de quatro cilindros NEF FPT NEF Fase V com tecnologia ECOBlue™ HI-eSCR2, de 4,5 litros, que atinge uma potência máxima de 140 hp e fornece um binário máximo de 630 Nm @ 1300 rpm no modelo topo de gama T5.140. Tem 2,695 mm de altura, 2,490 mm de distância entre eixos e um ângulo de viragem de 550. Equipa com a cabina Horizon com apoio de braço SideWinder™ e um novo painel de visibilidade extremamente alta, juntamente com o para-brisas dianteiro monobloco e amplas áreas envidraçadas para facilitar o trabalho com o carregador. Modelo

Potência máx. (hp)

Potência nominal (hp) 100

T5.110

110

T5.120

120

110

T5.130

130

120

T5.140

140

130


A New Holland escolhe lubrificantes

A EXPERIÊNCIA DE CONDUZIR UM AZUL

BTS

NOVA SÉRIE T5 AUTO COMMAND™

PREPARE-SE PARA UM NOVO NÍVEL DE CONFORTO E RENDIMENTO COM ESTA VERSÃO DE TRATOR PREMIUM Ajuste de velocidades infinitas Auto Command™ Cabina Horizon™ para melhor visibilidade e mais espaço Ergonómico pousa braços Sidewinder™ II para uma condução intuitiva e precisa Potente motor NEF 4,5 litros e 140 CV NEW HOLLAND TOP SERVICE 00800 64 111 111* APOIO E INFORMAÇÃO 24/7. *A chamada é gratuita desde que efetuada a partir de um telefone fixo. Se a chamada for feita de um telemóvel, consulte as taxas com o seu operador.

www.newholland.pt


As forragens vencedoras do 2019

FENDT

KATANA 650

Com um rendimento de colheita mais elevado em relação à sua precedente, a Ensiladora automotriz Fendt Katana 650 equipa de série com o sistema inteligente de tração integral BalancedGrip. Este sistema reforça a aderência em encostas íngremes impedindo as rodas de patinar quando o peso é insuficiente no eixo da frente. Um novo dispositivo de retificação aumenta significativamente a vida útil das facas. A frente de milho 460Plus está agora disponível na versão premiada StalkBuster. O motor da Katana 650 cumpre os requisitos dos regulamentos de emissões da Fase V da UE.

KUBOTA M7003

MAIS TECNOLOGIA

A KUBOTA IRÁ LANÇAR, NO FINAL DO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2020, A SUA NOVA SÉRIE DE TRATORES M7003, EVOLUÇÃO DA ATUAL M7002.

FENDT

CARGO T955

Este não é um elevador telescópico normal, afirma o construtor, mas sim uma ligação inteligente entre um elevador telescópico e um carregador, combinando as vantagens de ambos os conceitos. Este novo elevador apresenta um design robusto, com componentes de grandes dimensões, em especial o braço telescópico; oferece um curto raio de viragem, de menos de 4 metros, graças às quatro rodas direcionais; a estabilidade contra capotagem é significativamente maior em comparação com veículos articulados. Com uma altura total de 2,65 m, também é mais baixo do que muitos carregadores de rodas. Possui ainda um potente sistema hidráulico.

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A Kubota irá lançar, no final do primeiro trimestre de 2020, a sua nova série de tratores M7003, evolução da atual M7002 e que foi revelada ao mundo agrícola em novembro, no decorrer do salão Agritechnica, em Hanover. Esta nova linha de tratores contará com um motor Kubota da Fase V, com três níveis de potência máxima, a começar nos 130 cv e a acabar nos 170 cv atingíveis no regime de 1900 rpm, garantindo a marca o incremento de potência adicional (power boost) entre 5 e 20 cv. Segundo o comunicado do construtor, as preocupações ambientais, a sustentabilidade e a necessidade de permanecer na vanguarda tecnológica continuam na ordem do dia. Por estas razões o novo motor conta com o reforço de tratamento de gases de escape, com a adoção das tecnologias DPF e SCR para reduzir as emissões de óxido de azoto. Tal como já acontecia com as séries que a antecederam, os M7003 estarão disponíveis com transmissões KVT ou Powershift. Esta última terá como novidade a função Xpress Restart, que controla automaticamente a embraiagem quando se pisa o pedal do travão. Desta forma, o operador poderá parar o trator sem recorrer à embraiagem. Já o Multi Speed Control, um sistema de assistência hidráulica variável, permite que possa ajustar-se a direção de acordo com a aplicação do trator e os requisitos de velocidade. Outras especificações de interesse, incluem:

- Tecnologia TIM (Tractor Implement Management): o sistema de gestão do trator-implemento (TIM) é uma comunicação bidirecional que permite ao implemento controlar automaticamente as funções do trator. Otimiza a qualidade da relação entre trator e implementos. - Função «Swap valve” (intercâmbio de distribuidores): Disponível em todos os monitores Kubota 7″ e monitores Kubota Pro 12″ instalados no M7003. Esta função permite sincronizar os comandos dos distribuidores eletrónicos/joysticks com qualquer um dos distribuidores traseiros. - Ar condicionado de série e espelhos com aquecimento elétrico estão disponíveis como opção. - Várias opções de iluminação para maior visibilidade. A série M7003 oferece três níveis diferentes de configurações de luz, incluindo LEDs. Mel McGlinchey, gerente de marketing da unidade de negócios de tratores europeus da Kubota Holding, afirmou: “A série M7003 é baseada no sucesso do seu antecessor e atinge um novo nível de desempenho em todos os momentos. Esta nova série utiliza os mais recentes avanços tecnológicos para aumentar o desempenho do motor e melhorar a capacidade de manobra e eficiência, contribuindo também para a melhoria da sustentabilidade e do cuidado ambiental."


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Lagoa da Amentela - EN 118, km 38,6 2130-073 Benavente Peças e Assist. Técnica: Tel. 263 519 800 Fax. 263 519 810 www.forte.pt


Equipamento/Eventos/Feiras

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6º ENCONTRO TÉCNICO DE PRODUÇÃO DE LEITE

11 a 13 fevereiro 2020 Tulare, Califórnia, EUA www.worldagexpo.com

ALUS NUTRITION

CAINTHUS

A Cainthus desenvolve sistemas de vídeo vigilância que utilizam a inteligência artificial para monitorizar os animais e o seu ambiente, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Este sistema analisa as condições de bem-estar dos animais, a sua performance e a produtividade. O nível de precisão dos sistemas Cainthus permite já o reconhecimento e monitorização individual dos animais. Com o ALUS nutrition, o produtor consegue observar o comportamento dos animais e garantir que têm acesso a água e alimentos, bem como perceber os padrões alimentares e otimizar a distribuição, de forma a melhorar os consumos e diminuir o desperdício.

27 e 28 março 2020 Poussay, França www.salonherbe.com

Qta. Fonte Boa, Vale de Santarém GPS: 39.201137, -8.739566 Contacto: Ricardo Bexiga (Tm. 961 061 464)

INTERVENÇÕES EM DESTAQUE E ORADORES A VACARIA COM 50L DE MÉDIA Por: Tiago Barros: Filho de produtor leiteiro, médico veterinário, doutor em nutrição em vacas leiteiras. Atualmente é diretor técnico de apoio internacional na empresa Feed Components. KUHN

INTELLIMIX

Merecedor de uma medalha de Prata no Lamma Show, o sistema de controlo de mistura Kuhn Intellimix permite operar um reboque misturador de 3 senfins com um trator de baixa potência, colocando menos pressão sobre a TDF e sobre o motor do trator. Reduz também a pressão sobre a caixa de velocidades e sobre os órgãos de rolamento do reboque. O sistema funciona através de uma transmissão de variação contínua que é integrada nos comandos do trator através de ISOBUS. Isto permite uma redução no binário de arranque até 50% e - através de alterações automatizadas nas velocidades dos senfins em resposta à carga - otimiza o uso de energia durante todo o processo de mistura e alimentação. Com a abertura e o fecho da porta do tegão ativando automaticamente a alternância entre os modos de mistura automática (auto-mix) e alimentação automática (auto-feed), e com a possibilidade de predefinir a velocidade do sefim passível consoante a variabilidade das condições do tegão, a operação é totalmente automatizada e não requer a intervenção do operador.

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FEIRAS INTERNACIONAIS

COMO MOVER AS VACAS USANDO OS SEUS SENTIDOS Por: Xavier Liste Pose: Mestre em Produção de leite e em Assessoria e gestão de explorações de bovinos leiteiros. Atualmente é produtor leiteiro e trabalha como médico-veterinário na cooperativa Seragro. CONTROLO DE DOENÇAS INFECCIOSAS COM IMPACTO NA REPRODUÇÃO Por: Luís Costa: Médico-Veterinário, Doutor na especialidade de Reprodução, Prof. Catedrático na Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa. As áreas de interesse científico e de aplicação técnica principais são a biotecnologia e a medicina da reprodução. PREVENIR DOENÇAS METABÓLICAS EM VACAS PELO MANEIO DOS VITELOS Por: Leonel Leal: Engº. Zootécnico, com doutoramento num projeto conjunto entre a Nutreco e a Universidade de Wageningen. A sua investigação foca-se na fisiologia e eficiência em bovinos leiteiros e aleitantes, e na nutrição funcional de vitelos. Atualmente lidera a equipa de Investigação e Desenvolvimento em vitelos na Trouw Nutrition.

15 a 18 setembro 2020 Rennes, França www.space.fr

7 a 9 outubro 2020 Clermont-Ferrand, França www.sommet-elevage.fr

8 a 12 novembro 2020 Paris, França https://en.simaonline.com

11 a 15 novembro 2020 Bolonha, Itália www.eima.it

10 a 20 novembro 2020 Hannover, Alemanha www.eurotier.com


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O seu bem estar, a sua rentabilidade O Programa de recria Prima da Nanta melhora a rentabilidade das explorações através do bem estar das vitelas. O Prima trabalha em quatro conceitos essenciais para o bem-estar dos animais: o colostro, a lactação, o desmame e os cuidados a ter nas diferentes variáveis como o meio ambiente, a saúde e ambiente social. O nosso programa oferece benefícios comprovados para o agricultor: maior desenvolvimento das vitelas, melhoria do seu sistema imunitário, redução do stress no desmame, antecipação da primeira inseminação e da idade do primeiro parto, mais produção de leite e maior vida produtiva da vaca. Com o Prima as vitelas são mais felizes e o agricultor também.

nanta@nutreco.com


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