Revista Ruminantes 44

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RUMINANTES Como a dieta dos animais afeta os perfis nutricionais dos produtos animais

NUTRIÇÃO

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ANO 12 | 2022 JAN/FEV/MAR (TRIMESTRAL) PREÇO: € 7.00

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Ovinos

Entrevista a dois criadores da raça Berrichon du Cher em Portugal

Ramo Grande A raça de bovinos de carne dos Açores

Produzir leite biológico na Ilha Terceira Entrevista a um produtor

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#44

EDITORIAL

Caro Leitor,

T

REVISTA RUMINANTES #44

JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2022

razemos para o ano novo uma questão antiga: a dos baixos preços do leite à produção no nosso país. Há anos que este preço se posiciona entre os mais baixos da União Europeia. Em dezembro de 2021, Portugal foi o país onde o litro de leite foi mais mal pago (€31,74) abaixo do preço médio da EU em 9 cêntimos (*).

O que se passa que justifique o arrastar desta situação? Ao que nos é dado ver, os produtores têm vindo a modernizar os seus equipamentos e a melhorar os processos de trabalho, para se tornarem mais competitivos e se adaptarem à legislação que tem vindo a ser introduzida. O leite produzido hoje em Portugal, entregue às cooperativas, respeita os parâmetros de qualidade definidos para toda a UE. O nó górdio parece estar a jusante, na indústria e nos seus braços comerciais cooperativizados. São estes que não têm sido capazes de devolver (entenda-se “pagar”) aos seus sócios o preço justo pelo leite produzido, pela incapacidade de o transformar em produtos de valor acrescentado superior ao do leite UHT. Estou certo que se estivéssemos a falar de futebol, os sócios já teriam posto a sua direção na rua depois de tantos anos sem ganhar. Aqui isso não acontece, ou porque os associados ainda têm margem para aguentar financeiramente, ou porque o sistema implementado na organização cooperativista não lhes disponibiliza as ferramentas necessárias para se substituírem à direção; ou, por outras razões que desconheço. Mas, repito, num clube de futebol ou numa empresa privada, uma administração que não cumprisse os seus objetivos há tantos anos, já estaria na rua. O problema do preço do leite em Portugal não é recente e a insatisfação dos produtores também não. Curiosamente, a “administração” do sistema cooperativo, que tem a grande responsabilidade de criar valor ao leite dos produtores, continua intocável. O problema, para eles está sempre nos outros, nas grandes superfícies. Esquecendo que estas, como qualquer player saudável num mercado normal, procuram comprar a quem lhes venda melhor qualidade, a um preço mais conveniente. Não é à grande distribuição que cabe salvar o setor. E o que tem feito a Lactogal, ao longo dos últimos anos, pelo futuro dos produtores de leite? Em Portugal, onde as organizações cooperativas têm um peso enorme no setor leiteiro, o preço do leite ao produtor é baixo. Ao contrário, noutros países onde os operadores privados têm uma importância maior, o leite é bem pago ao produtor. Estará o problema no sistema cooperativo? Na qualidade da gestão das últimas administrações? Na forma como se nomeiam os administradores das cooperativas? Porque será que os milhares de produtores, (sócios indiretos da Lactogal) não substituem os administradores? Será que não se podem revoltar porque o sistema não permite? Será que quem faz oposição não se revolta porque está à espera de ir para o “sistema”, e manter tudo na mesma? O tempo está a correr contra os produtores e as “esmolas” de alguns cêntimos por litro de leite que lhes vão sendo oferecidas só parecem estar contribuir para o seu progressivo entorpecimento. Acho que os produtores devem olhar para dentro, e perceber porque é que as empresas privadas estão dispostas a pagar mais do que o sistema cooperativo. Costuma-se dizer que “em equipa que ganha não se mexe”. E nas que perdem sistematicamente?

(*) Milk Market Observatory, 4 de janeiro de 2022.

Desejo-lhe um bom ano! Nuno Marques

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DIRETOR Nuno Marques | nm@revista-ruminantes.com COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Ana Lage, Ana Luísa Pavão, André Antunes, Anselmo Pires, António Cannas, António Moitinho, António Vieira, Carlos Vouzela, Cor Smit, George Stilwell, Gonçalo Pereira, Henry Ruessink, Joana Silva, Joana Tomás, João Marques, João Santos, Joaquim Carvalho, Joaquim Gomes, Jorge Nunes, José Sequeira, Luís Cesteiro, Luís Raposo, M. Pacheco, Manuel Die, Manuel Laureano, Nuno Lobinho, Nuno Rosado, Pedro Castelo, Pedro Nogueira, Pilar Rosado, Ricardo Bexiga, Sara Garcia, Sebastião Caldeira Fernandes, T. Viveiros, Tarcísio Medeiros, Vitoriano Medeiros. DESIGN E PRÉ-IMPRESSÃO Francisca Gusmão REDAÇÃO Francisca Gusmão, Inês Ajuda FOTOGRAFIA Francisca Gusmão, Francisco Marques IMPRESSÃO Jorge Fernandes Lda. Rua Quinta Conde de Mascarenhas , nº9, Vale Fetal, 2825-259 Charneca da Caparica Telefone: 212 548 320 ESCRITÓRIOS E REDAÇÃO Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto | 2780-051 Oeiras Telemóvel: 917 284 954 geral@revista-ruminantes.com PROPRIEDADE/EDITOR Aghorizons, Lda / Nuno Marques Contribuinte nº 510 759 955 Sede: Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto. | 2780-051 Oeiras GERENTE Nuno Duque Pereira Monteiro Marques DETENTORES DO CAPITAL SOCIAL Nuno Duque P. M. Marques (50% participação) Ana Francisca C. P. Botelho de Gusmão Monteiro Marques (50% participação) TIRAGEM 5.000 exemplares PERIODICIDADE Trimestral REGISTO Nº 126038 DEPÓSITO LEGAL Nº 325298/11 O editor não assume a responsabilidade por conceitos emitidos em artigos assinados, anúncios e imagens, sendo os mesmos da total responsabilidade dos seus autores e das empresas que autorizam a sua publicação. Reprodução proibida sem a autorização da Aghorizons Lda. Alguns autores nesta edição não adotaram o novo acordo ortográfico. O "Estatuto Editorial" pode ser consultado no nosso site em: www.revista-ruminantes.com/ estatuto-editorial www.revista-ruminantes.com www.facebook.com/RevistaRuminantes


#44 | jav. fev. mar. 2022

REVISTA RUMINANTES

#44 JANEIRO FEVEREIRO MARÇO 2022

06 Genética | Bovinos de carne Recuperar a raça Ramo Grande Entrevista ao produtor J. Nunes

08 Genética | Bovinos de carne Produzir e criar Ramo Grande Entrevista a Luísa Pavão

14 Produção | Bovinos de leite Produzir leite biológico na Ilha Terceira

20 Bem-estar animal | Vitelos A influência do frio

24 Forragens | CNF 21 Avaliação do valor nutritivo das forragens

30 Forragens | CNF 21 Prémio silagem de milho Entrevista ao produtor A. Vieira

32 Forragens | CNF 21 Prémio silagem de erva Entrevista ao produtor C. Smit

34 Alimentação | Bovinos de leite Pastone, um stock energético barato

36 Forragens| Eragrostis Tef Teff, uma alternativa para primavera/verão

38 Genética | Ovinos de carne A raça Berrichon Du Cher Entrevista a Luís Cesteiro técnico da associação da Raça

40 Genética | Ovinos de carne Entrevista aos criadores da raça Berrichon Du Cher, Nuno e Pilar Rosado

46 Alimentação | Vacas de leite O período seco e o pré-parto

50 Alimentação | Bovinos Capota de amêndoa, uma fonte de fibra

52 Granja Circular Nanta Gerir melhor para preparar o futuro

44 Genética | Ovinos de carne Entrevista ao criador da raça Berrichon Du Cher, Nuno Lobinho

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#44

SUMÁRIO

56 Indústria | Lacticínios Entrevista a José Sequeira, CEO da Lacticínios do Paiva

58 Saúde e bem-estar Otimização da ordenha

62 Equipamento Problemas podais em vacarias autorizadas

64 Equipamento Entrevista ao produtor Henry Ruessink

66 Equipamento Entrevista ao produtor Joaquim Carvalho

68 Agricultura regenerativa Os 5 princípios da saúde do solo

72 Agricultura regenerativa "Del sol al suelo" 15 meses depois | Entrevista a M. Die

74 Observatório de Matérias-Primas Sem querer ofender ninguém

76 Observatório do Leite Depois da pandemia, a inflação

78 Índice VL e Índice VL-Erva Produção de leite, uma morte anunciada

82 Empresas Entrevista a Vitoriano Medeiros Falcão, presidente da Cooperativa Bom Pastor

85 Alimentação | Vacas de leite Biofeed, a alimentação biológica da Nanta

86 Notícias | Bovinos de leite Investigação leiteira, o que há de novo

88 Política europeia O futuro da produção biológica na UE e o setor do leite

90 Nutrição | Pequenos ruminantes Os pequenos ruminantes e a De Heus

93 Produto Duas inovações premiadas na feira World Ag Expo

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GENÉTICA | BOVINOS DE CARNE

PRODUZIR E CRIAR RAMO GRANDE

JORGE NUNES É UM DOS MAIORES PRODUTORES DA RAÇA RAMO GRANDE NOS AÇORES E O MAIOR NA ILHA TERCEIRA. O SEU PAI, ANTÓNIO NUNES, FOI UMA DAS PESSOAS QUE MAIS FEZ PELA PRESERVAÇÃO DESTA RAÇA, QUE ESTEVE, ATÉ HÁ POUCOS ANOS, EM SÉRIO RISCO DE EXTINÇÃO. À ATIVIDADE DE NEGOCIANTE DE GADO A QUE O SEU PAI SE DEDICAVA, JORGE PREFERE A DE PRODUTOR DE GENÉTICA E DE CARNE, SEMPRE E EXCLUSIVAMENTE COM AS VERMELHAS RAMO GRANDE. Por RUMINANTES Fotos FG 06


Produzir e criar Ramo Grande

GENÉTICA | BOVINOS DE CARNE

Nome da exploração

Jorge Nunes

Localização

Doze Ribeiras

Nº de empregados

o próprio

Nº de total de animais

95

Nº de fêmeas reprodutoras

35

Nº de machos reprodutores

2

Área da exploração

230 alqueires (23 hectares)

Sistema alimentar

Pastagem, milho verde, silagem de milho, rolos de erva e palha.

Idade de venda dos animais

8-9 meses, após o desmame

Jorge Nunes, produtor/criador da raça Ramo Grande

É

na freguesia das Doze Ribeiras, situada a oeste da Ilha Terceira, que Jorge Nunes tem 230 alqueires (cerca de 23 hectares) de terra, distribuídos por zonas baixas, médias e altas. Os 95 animais, que atualmente compõem o seu efetivo, com 35 reprodutoras e 2 machos, estão o ano inteiro na pastagem. Jorge esteve sempre nesta atividade, como nos conta, e sempre com a raça Ramo Grande. Houve um tempo, no início em que, confessa, esteve inclinado a dedicar-se ao negócio do leite “porque

a raça Ramo Grande não tinha incentivos mas, entretanto, o Governo Regional começou a apoiar a sua preservação.” Apaixonado pela vida que escolheu, Jorge acredita que os "bons exemplares" não são obra do acaso, mas sim "o resultado dum trabalho contínuo, de muitos anos." Que características tem que ter o produtor que vende animais para reprodutores, comparativamente com aquele que só vende carne para consumo? A diferenciação não está no produtor, 07

está sobretudo nos animais. Os animais falam por si e são o resultado dum trabalho contínuo, e de muitos anos, para se obterem bons exemplares. Como descreve a sua exploração? Estes 230 alqueires estão distribuídos por zona baixa, média e alta. As vacas passam em todas as zonas ao longo do ano. No inverno passam rapidamente na zona alta que tem pouca erva. No verão, é na zona baixa que se faz a palha e o milho e elas andam mais na zona média e alta. Por norma, só voltam à mesma parcela depois de 4 a 5 semanas.


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António Nunes é um dos produtores que maior importância teve na preservação da raça Ramo Grande. Hoje, é o seu filho Jorge quem leva o negócio.

Que indicadores utiliza, no negócio de genética, para perceber se está no bom caminho? O principal é a quantidade de animais que vendo para recria (genética). Quanto mais vender, melhor. Isso varia com a procura. Há anos e alturas do ano em que existe menos procura e tenho que abater, o que não é o mesmo que vender para recria. Se produzisse só para abate não era bom, porque esta é uma raça mista. A recria é uma mais valia. Atualmente vendo cerca de 40 a 50% dos animais para reprodutores e para juntas de bois.

critérios de seleção, mas são animais que podem chegar a produzir 20 litros diários.

Que características sobressaem na raça Ramo Grande? São animais muito dóceis e calmos, de grande envergadura mas muito fáceis de manejar. Isto tem bastante que ver com o maneio mas também com a sua própria genética.

Que custos tem na produção destes animais? A mão-de-obra, o aluguer de máquinas para determinados serviços, e o veterinário que não representa um custo significativo. Este gado é muito rústico, muito ambientado ao nosso clima.

Como faz a seleção dos animais? Pelo padrão da raça. Tomo atenção aos chifres, à conformação (são animais que nascem com 50 a 70 kg, bastante compridos), à pelagem (o pelo não deve ser demasiado claro nem escuro), e ao porte. A produção de leite não faz parte dos meus

Onde compra reprodutores para o seu efetivo? Faz inseminação artificial? Em qualquer uma das outras ilhas, se necessário. Não uso inseminação artificial, os meus touros já deram sémen para isso mesmo.

Aos 10 meses, animais de raças exóticas que comessem o mesmo que estes poderiam ter mais peso? Não creio. Acredito, sim, que tenham um melhor rendimento de carcaça. As raças exóticas usadas aqui têm uma carcaça mais pequena, o osso é mais miúdo e portanto dão maior percentagem de carne. A percentagem de carcaça de animais Ramo Grande, com 10 meses, ronda os 55%.

08

Em termos de seleção, que objetivos tem para os próximos 5 anos? Estou dentro dos parâmetros que ambicionei, embora gostasse de ampliar a área para poder ter mais animais. Como comercializa os seus animais? Vendo cerca de 40 a 50% dos animais para recria, para todas as ilhas, e o restante para carne aqui na Ilha Terceira. Acha que a carne da raça Ramo Grande se consegue diferenciar da restante? Há quem diga que é uma carne mais suculenta, embora não nos paguem mais por ela. Em breve teremos o selo DOP que poderá ajudar a valorizá-la. O maneio alimentar está diretamente relacionado com o maneio reprodutivo? A cobrição é feita a partir de dezembro, para que as vacas possam parir a partir de setembro até abril-maio. Depois dessa altura, vem uma fase com pouca erva e, além disso, as crias que são criadas no verão não se desenvolvem tão bem.


Fertilizantes com futuro

Nutrientes protegidos 09


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GENÉTICA | BOVINOS DE CARNE

RECUPERAR A RAMO GRANDE DOS AÇORES

O PROCESSO DE RECONHECIMENTO DA CARNE RAMO GRANDE DOP, ATUALMENTE EM FASE DE CONCLUSÃO, É DECISIVO PARA A VALORIZAÇÃO DA RAÇA E DA SUA CARNE. PARA CHEGAR ATÉ AQUI FOI PRECISO RECUPERAR A RAÇA, QUE ESTAVA EM VIAS DE EXTINÇÃO, TRABALHANDO NA MANUTENÇÃO DA DIVERSIDADE GENÉTICA E NO CONTROLO DOS NÍVEIS DE CONSANGUINIDADE, UTILIZANDO TECNOLOGIAS GENÓMICAS DE PONTA. SOBRE ESTE PROCESSO, QUE TEM VINDO A SER DESENVOLVIDO PELA DIREÇÃO REGIONAL DA AGRICULTURA DOS AÇORES, EM COLABORAÇÃO COM A ASSOCIAÇÃO DE CRIADORES DE BOVINOS DA RAÇA RAMO GRANDE, FALÁMOS COM ANA LUÍSA PAVÃO, SECRETÁRIA TÉCNICA DO LIVRO GENEALÓGICO DA RAÇA. Por RUMINANTES Fotos FG 010


Recuperar a Ramo Grande dos Açores

GENÉTICA | BOVINOS DE CARNE

Ana Luísa Pavão, Secretária Técnica do Livro Genealógico da raça Ramo Grande, falou-nos sobre o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pela Direção Regional da Agricultura dos Açores, em colaboração com a Associação de Criadores de Bovinos da Raça Ramo Grande.

A

raça açoriana de bovinos conhecida por Ramo Grande esteve até há poucos anos em sério risco de extinção. Dos registos existentes, sabe-se que teve origem na Ilha Terceira: aquando do povoamento do Arquipélago dos Açores, no século XV, vieram bovinos de diversas regiões do Continente, presumivelmente das raças Alentejana, Mirandesa, Minhota e Algarvia que terão dado origem à “vermelha” Ramo Grande. Com o decorrer do tempo, estes bovinos foram-se estendendo a outras ilhas, porém, a introdução de raças exóticas mais produtivas levou a que o efetivo de Ramo Grande se tivesse tornado cada vez mais depauperado. Só em 1995, após o reconhecimento da raça Ramo Grande pela Direção Geral de Veterinária e a introdução do Livro Genealógico, se começou a trabalhar na recuperação do reduzido censo remanescente. Ana Luísa Pavão, Engenheira Zootécnica e Secretária Técnica do Livro Genealógico da raça Ramo Grande, falou-nos sobre o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido: “Na altura, o número de animais Ramo Grande era muito reduzido, a raça estava em sério risco de extinção e o objetivo foi tomar medidas de preservação do património genético que existia. Fizeram-se classificações morfológicas, registos de

várias ações que incluem a pesagem e a classificação morfológica dos animais. O objetivo é selecionar os animais com base nos maiores ganhos médios diários (GMD) e numa conformação mais correta, mantendo determinadas características da raça como a corpulência, a estrutura óssea e a cor da pelagem, características que os produtores identificam como pertencendo à raça Ramo Grande. Qual é o peso médio destes animais à nascença? Entre 56 e 58 kg, são animais que nascem grandes mas não têm dificuldade de partos porque as vacas também são corpulentas e têm uma bacia larga. Uma vaca destas anda nos 700 kg e o touro de cobrição nos 900 kg (dependendo da idade). Pesamos os animais à nascença, e de 3 em 3 meses nas explorações. O objetivo é obter o peso estimado aos 4 meses e aos 7 meses, de forma a determinar os valores genéticos de cada bovino, tanto em termos de capacidade de crescimento como maternal.

genealogias e procedeu-se à identificação dos animais nas várias ilhas onde a raça então existia (Ilhas Terceira, São Jorge e Santa Maria). Começámos também a fazer colheitas de sémen (porque o número de machos era muito reduzido) para poder utilizar em inseminação artificial. Este foi um passo importante porque permitiu a muitos criadores de menor dimensão poderem desenvolver a raça em linha pura. A partir daí, a raça foi-se organizando e divulgando através de concursos e exposições pecuárias. Nessa altura, foram introduzidas as medidas agroambientais da PAC que permitiram aos produtores receber apoios para manter a raça autóctone e compensar a perda de rendimento comparativamente aos produtores que criavam animais de raças exóticas mais produtivas, especializadas na produção de carne. Essa medida foi decisiva na manutenção da raça. A população foi aumentando de forma progressiva nas ilhas onde já existia, e começou a estender-se a outras como o Faial, o Pico e São Miguel. Atualmente encontra-se em todas as ilhas do Arquipélago. Desde a década de 1990, que evolução houve na raça? Em termos de conservação e melhoramento implementou-se um programa de melhoramento genético com 011

Que outras características são avaliadas? A docilidade ou temperamento, as características produtivas e reprodutivas, a idade ao 1º parto (28 meses em média porque os criadores querem animais corpulentos e pensam que cobrindo mais tarde obtêm animais maiores), o intervalo entre partos e a longevidade produtiva. Qual é o número total de vacas aleitantes existentes no Arquipélago, comparativamente com o número de vacas da raça Ramo Grande? Existem cerca de 35.000 vacas aleitantes, maioritariamente cruzadas, das quais 1300 são da raça Ramo Grande. Qual é o rendimento de carcaça dum Ramo Grande? Anda à volta de 55%. Quantos criadores de fêmeas e de machos Ramo Grande existem hoje no Arquipélago? São 240 criadores registados (incluindo aqueles que têm apenas uma junta de bois), para um total de 1250 fêmeas e 70 machos adultos. Qual é a motivação dos criadores da Ramo Grande? O gosto pela raça, a ligação histórica, a docilidade dos animais e a rusticidade.


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PADRÃO DA RAÇA Aspeto geral: esqueleto forte e articulações largas, grande estatura. Sendo longilíneos, o terço anterior é mais desenvolvido que o posterior o que se coaduna com uma raça portadora de excepcionais qualidades de trabalho. Pele e pelagem: a cor da pelagem é o vermelho mais ou menos intenso, simples, ou, raras vezes, malhado em determinadas zonas específicas. A coloração predominante das aberturas naturais é a almarada, a coloração escura existe numa percentagem pouco significativa de animais. No que respeita à cor das órbitas, a coloração clara é a que apresenta maior número de animais nas várias ilhas. Cabeça: bem desenvolvida, marrafa pouco farta e assente numa protuberância frontal pouco saliente. O perfil é predominantemente convexo, caracterizado por uma protuberância frontal proeminente ou arredondada, em calote esférica, órbitas não salientes. Os cornos apresentam um tamanho médio e são predominantemente opistóceros. Pescoço: regularmente desenvolvido apresentando o bordo superior reto ou pouco convexo, enquanto que o inferior é provido de barbela que, por ser pouco desenvolvida, quase passa despercebida.

Em que ilhas está presente a raça? Neste momento, em todas. No entanto, só no ano passado é que introduzimos estes animais nas Flores e no Corvo. Na Terceira e em São Jorge, onde o Ramo Grande teve a sua origem, era uma raça muito utilizada no trabalho. Fazem medição do leite produzido? Neste momento não fazemos. Há explorações em que a produção poderá chegar a 20 litros ou mais por vaca/ dia. Não temos registos sistemáticos de proteína e gordura. Como se consegue recuperar uma raça que está quase extinta, sem correr o risco da consanguinidade? Através de um trabalho técnico rigoroso, essencialmente tentando minimizar o acasalamento de animais que são parentes próximos, aumentando o número de machos reprodutores e diversificando as suas origens, e rodando os machos entre explorações. Por outro lado, em 2019 começámos a utilizar a seleção genómica, com marcadores moleculares, através de uma parceria com a Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, através da equipa liderada pelo Professor Luís

Telo da Gama. A Ramo Grande foi, aliás, a primeira raça em Portugal a recorrer à seleção genómica. Esta é uma forma mais rápida de controlar questões como a consanguinidade, o parentesco, e de potenciar a resposta à seleção, nomeadamente para características difíceis de selecionar como, por exemplo, a longevidade e a qualidade da carne, entre outras. Como é feita a inseminação? Cerca de 40% das fêmeas são fertilizadas por inseminação artificial e as restantes por cobrição natural. O sémen é cedido pela DRAg aos produtores que colaboram no programa de melhoramento. O que pensa do cruzamento com Ramo Grande? Se houver valorização dos vitelos, vejo-o com bons olhos, principalmente se a Ramo Grande for uma linha mãe, ou seja, sendo as mães Ramo Grande, e os touros de outras raças especializadas de carne. Na prática, esses cruzamentos para carne já se fazem, com bons resultados, aproveitando a docilidade e a fertilidade da Ramo Grande e as características em termos de conformação para carne das raças 012

paternas. Os vitelos têm bons ganhos de peso porque estas mães podem ter melhor produção de leite do que as da raça paterna. O que pensa sobre ter a raça Ramo Grande como linha-mãe, para que mais produtores a pudessem utilizar para cruzar? Esse é um objetivo, embora naturalmente já exista uma parte das fêmeas em cruzamento. Mas essa situação só pode existir se pudermos garantir animais puros. Por enquanto estamos fundamentalmente a tentar aumentar e consolidar o efetivo puro. Onde gostaria que a raça estivesse daqui a 5 anos? Gostava que se conseguisse uma maior diversidade genética e uma melhoria no controlo da consanguinidade. No que se refere à carne, o processo de reconhecimento da carne Ramo Grande DOP está atualmente numa fase final; seria bom que já estivesse a funcionar em pleno, que a carne fosse bem valorizada, e que os produtores optassem por ter esta raça não apenas pelo subsídio, mas pela diferenciação e valorização do produto.


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PRODUÇÃO | BOVINOS DE LEITE

FAZER LEITE BIOLÓGICO NA ILHA TERCEIRA

A PERCEÇÃO DAS CONDIÇÕES ÚNICAS DOS AÇORES PARA UM MODO DE PRODUÇÃO DE LEITE MAIS NATURAL, COM MENOS CUSTOS E COM MAIORES PROVEITOS, IMPEROU NA DECISÃO DE ANSELMO PIRES, PRODUTOR E PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE JOVENS AGRICULTORES TERCEIRENSES, DE CONVERTER A SUA EXPLORAÇÃO PARA MODO BIOLÓGICO. EM NOVEMBRO PASSADO, VISITÁMOS A SUA EXPLORAÇÃO NA FREGUESIA DE STA. CRUZ DA PRAIA DA VITÓRIA. Por RUMINANTES Fotos FG

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Fazer leite biológico na Ilha Terceira

PRODUÇÃO | BOVINOS DE LEITE

ENTREVISTA A ANSELMO PIRES PRODUTOR DE LEITE BIOLÓGICO

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Neto e filho de produtores de leite, Anselmo Pires deu continuidade à atividade da família. Atualmente é também presidente da Associação de Jovens Agricultores Terceirenses.

A

instabilidade provocada pela abolição das quotas, a volatilidade dos mercados e os aumentos sucessivos do preço dos fatores de produção não proporcionavam as condições ideais para aumentar o negócio. Assim, em 2017, quando surgiu a hipótese de produzir leite em modo biológico com apoios à produção, Anselmo Pires decidiu iniciar o processo de conversão da sua exploração. Se não corresse bem, não era difícil voltar para trás, além do mais “para entrar no biológico são precisos 2 anos, mas para sair é rápido, basta comprar produtos convencionais”, pensou. Concluiu o processo de transição em 2019 e, atualmente, entrega o leite biológico que produz na Unicol. A exploração de Anselmo Pires abrange uma área total de 21 hectares de área e fica situada na freguesia de Sta. Cruz da Praia da Vitória. As parcelas — que no Arquipélago também são denominadas "serrados" ou "pastos" — distribuem-se pela média altitude (200m) e baixa altitude,

a uma distância de 2 km do mar. No que toca à mão-de-obra, conta com a ajuda do seu pai e, pontualmente, recorre ao exterior para reparar muros e limpeza dos terrenos: “Quando passei do sistema convencional para o biológico a mão-deobra manteve-se basicamente a mesma, mas com menos tempo no trator e mais no “manual”, essencialmente na limpeza dos muros e terrenos”, disse Anselmo. Quando passou a produzir leite em modo biológico? Em 2017 entrámos no modo de produção biológico, mas só em 2019 é que o leite começou a ser vendido ao público como biológico. Qual a principal motivação para esta mudança? A minha exploração sempre foi rentável, mas sempre achei que o modelo de produção utilizado nos Açores não deveria ser muito intensivo. Como além de produtor sou dirigente associativo, e porque não sou adepto do “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”, decidi partir 016

para este modelo e, assim, mostrar com atos que acredito que é possível fazer, com resultados, algo de diferente nos Açores. Claro que associada a esta transição para o modo biológico, existe uma remuneração adequada para a qual a indústria contribuiu, que consiste num prémio de 12 cêntimos adicionais por litro em relação ao modo convencional. Se tivesse que voltar ao convencional, voltava a mudar todo o maneio? Não. Mantinha quase tudo, talvez utilizasse um herbicida para a limpeza das pastagens, pois facilitaria muito o maneio. Mesmo que não me pagassem mais pelo leite, eu hoje teria alterado sistema de produção para modo biológico. Sente-se mais seguro com este modo de produção? Sem dúvida. Estou menos dependente de fatores externos do que a maioria dos meus colegas. A base da alimentação dos meus animais é a pastagem, que tem melhorado de ano para ano. Deixei,


Fazer leite biológico na Ilha Terceira

PRODUÇÃO | BOVINOS DE LEITE

António Pires, pai de Anselmo Pires, é a mão direita do filho na exploração, onde continua a ir todos os dias, faça chuva ou faça sol.

por exemplo, de produzir milho. Os meus custos de produção, relativamente aos fatores de produção, são muito inferiores, por isso tenho muito mais espaço de manobra para enfrentar uma crise como aquela que estamos a passar agora, com os fatores de produção a atingirem preços altíssimos.

Neste momento, a curva de produção de leite é menos acentuada entre o período de maior e de menor produção, a diferença não é significativa, a curva está a transformar-se numa linha reta. No modo convencional tinha um pico de produção na primavera, e no verão uma quebra acentuada, agora não.

Que alterações aconteceram quando passou do modo convencional para biológico? A primeira foi a redução do efetivo. Fizemos uma transição brusca para o modo biológico, em que abandonei as fertilizações, o milho de silagem, os rolos de erva e uma série de rotinas, o que levou a uma quebra inicial na disponibilidade de forragem. Passei de 35 vacas em ordenha para 30. Mas, curiosamente, hoje produzo praticamente a mesma quantidade de leite. As vacas comem muito mais erva, pastam mais.

O que mudou na genética? Nada. Em termos de melhoramento, olho bastante para os touros que conseguem ter um maior aproveitamento das pastagens, gordura e proteína.

Com o maneio alimentar atual, a curva de produção de leite na sua exploração passou a ser mais marcada?

E na alimentação? Retirei a silagem de milho, troquei a ração convencional por uma biológica e passei a explorar muito mais o potencial das pastagens. Como melhorou as pastagens? Apenas o facto de não utilizar os fertilizantes azotados parece que fez aparecer as leguminosas. Passei a fazer uma rotação de animais mais longa, se antes fazia a cada 25-30 dias, agora faço a cada 017

Produção leite total vacaria/ano

200.000

Efetivo total

45

Raça

Holstein

Vacas em ordenha

27 a 29

Ordenhas por dia

2

Tempo de ordenha do efetivo

45 + 40 minutos

Produção média diária

20 a 30 litros

Nº médio de lactações

4

GB (%); PB(%)

3,8; 3,2

CCS

150.000 células/ml

Idade ao abate

6/7 anos

Idade ao 1º parto

24 meses

Nº I.A. vaca adulta gestante

1,5 doses

Custo com saúde animal

Residual


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Que indicadores de rentabilidade usa? Analiso os custos de produção, a produção de leite, e sei qual o valor que tenho que faturar por mês para estar tranquilo.

"[AS VACAS] MUDAM PARA UMA NOVA PARCELA 2 VEZES POR DIA. EM MÉDIA, POR DIA, AS 30 VACAS TÊM ACESSO A 0,6 HECTARES. SÓ VOLTAM À MESMA PARCELA APÓS 30 A 35 DIAS."

TARCÍSIO MEDEIROS, TÉCNICO DE PRODUÇÃO ANIMAL NA UNICOL: "EM 2023 A ILHA TERCEIRA TERÁ CERCA DE 20 PRODUTORES DE LEITE BIOLÓGICO"

30-35 dias, ou seja, as vacas estão na mesma pastagem cerca de 10 vezes num ano. Que etapas teve que cumprir neste processo? Estive 2 anos a cumprir as regras de produção de modo biológico, vendendo um produto que não era considerado biológico. O que ganhou com esta mudança? Reduzi os custos de produção (menos gasóleo, zero adubos, zero herbicidas), aumentei a faturação, e ainda tenho benefícios dos apoios governamentais. O governo regional atribui algumas majorações a quem produz neste sistema. E, curiosamente, os animais bebem muito menos água, porque comem muito mais erva. Em que consiste a alimentação das vacas? Pastagem, rolos de erva (contratadas

fora, mas feitas nas pastagens da exploração) e ração biológica (200 g/ litro de leite). Como é feito o maneio das pastagens? Os animais estão em parcelas relativamente pequenas, e de cada vez que se ordenha (2 vezes por dia) passam para uma nova parcela. Ou seja, mudam para uma nova parcela 2 vezes por dia. Em média, por dia, as 30 vacas têm acesso a 0,6 hectares. (0,3-0,4 ha por parcela). Só voltam à mesma parcela passados 30 a 35 dias. Uma vez por ano faço uma correção do pH das terras, porque aqui temos terras ácidas. Que equipamentos utiliza neste sistema? Cercas elétricas, bebedouros e ordenha móvel. Mesmos os vitelos estão sempre ao ar livre, perto de casa, e bebem leite duas vezes por dia até aos 3 meses. 018

A produção de leite em modo biológico na Ilha Terceira está a crescer. Hoje, do total de 650 explorações representando 150 milhões de litros anuais, existem 8 em modo biológico que produzem cerca de 1,5 milhões de litros (o que corresponde a 1% da produção total de leite da Ilha). De acordo com Tarcísio Medeiros — técnico de produção animal na Unicol que presta apoio técnico aos produtores de leite biológico durante e após o processo de certificação — em 2023 mais 9 produtores terão concluído o processo de conversão e estarão a vender leite biológico certificado para o mercado. De acordo com o técnico da Unicol, que acompanhou a visita da Ruminantes, foi da indústria que partiu a iniciativa de pagar à produção um prémio pelo leite biológico. A demanda do mercado por este tipo de leite permite que os produtores em biológico recebam 12 cêntimos adicionais por litro. Além disso, à possibilidade de “ganharem mais dinheiro”, junta-se a “poupança nos fatores de produção” no modo biológico, diz Tarcísio. Relativamente às diferenças entre o modo de produção convencional e o biológico, Tarcísio refere que se aplicam as mesmas normas que para os produtores europeus. Salienta o controlo de infestantes sem herbicidas, que não são permitidos, e o encabeçamento: são permitidos 2 CN por hectare.


Fazer leite biológico na Ilha Terceira

PRODUÇÃO | BOVINOS DE LEITE

019


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Figura 1

Figura 2

SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL | VITELOS

A INFLUÊNCIA DO FRIO

O PRESENTE ESTUDO TEVE COMO OBJETIVO AVALIAR ATÉ QUE PONTO O MANEIO DE VITELOS RECÉM-NASCIDOS, PRESOS COM ESTACAS E CORRENTES NA PASTAGEM, NO TEMPO FRIO, PODE DAR ORIGEM A UMA INCIDÊNCIA DE DOENÇAS, A MAIOR MORTALIDADE OU A UM MENOR GANHO DE PESO.

N

Por Pacheco, M., Viveiros, T., Stilwell, G.; Laboratório de Investigação em Comportamento e Bem-estar Animal (CIISA) Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa; stilwell@fmv.ulisboa.pt | Fotos George Stillwell

os Açores, é muito comum prenderem-se os vitelos recém-nascidos na pastagem com estacas e correntes ( figura 1). Um dos maiores problemas desta prática tradicional é a exposição ao calor e/ou ao sol excessivos, ou ao frio/chuva/vento excessivos. Neste estudo avaliou-se até que ponto este maneio, levado a cabo no tempo frio, pode dar origem a uma incidência maior de doenças, a maior mortalidade ou a um menor ganho de peso. Entraram no estudo vários grupos de vitelos mantidos em diferentes condições de alojamento. Na primeira visita, poucos dias após o nascimento, fez-se o cálculo do peso dos vitelos e mediu-se a temperatura (termografia por infravermelhos) de diversas áreas do vitelo. Nas seguintes visitas, o peso e o ganho médio diário foram novamente calculados e foram

registadas as ocorrências de doenças ou mortes. Para além disso, recolheram-se dados relativos ao parto, quantidade e via de administração de colostro, quantidade e via de administração de leite e a temperatura ambiente nos dias das visitas. O STRESS TÉRMICO NO CRESCIMENTO DE VITELOS A termorregulação é a capacidade dos animais homeotérmicos em manter a sua temperatura corporal dentro de um certo intervalo, apesar da exposição a diferentes temperaturas ambientes (Bligh 1998; Stull and Reynolds 2008). Em caso de condições climáticas extremas, que não possam ser compensadas pelos mecanismos termorreguladores, os animais sofrem stress térmico que tem efeitos negativos a nível do bem-estar animal (Silanikove 2000) e a nível económico (Donovan et al. 1998; Roland et al. 2016), já que o desempenho do vitelo é muito afetado 020

pela temperatura ambiente (Bateman et al. 2012). Os bovinos, dentro de um intervalo de temperatura ambiental específico conhecido como a zona termoneutra (TNZ), conseguem manter a sua temperatura corporal constante com custos fisiológicos mínimos e produtividade máxima (Kadzere et al. 2002; Roland et al. 2016). Os limites da zona de neutralidade térmica não são constantes e são determinados por diversos fatores (Jones and Heinrichs 2013) como a humidade, exposição à radiação solar, velocidade do vento e precipitação (Silva 2012). Os fatores que podem aumentar a perda excessiva de calor corporal pelos vitelos incluem uma alta relação superfície/massa corporal, pele pouco espessa, pequena quantidade de gordura subcutânea, controlo vascular cutâneo pobre e perda de calor por evaporação quando a pele está húmida após o nascimento ou devido


A influência do frio

SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL | VITELOS

a precipitação (Gonzalez-Jimenez and Blaxter 1962; Thompson 1973; Buttler et al. 2006). De uma perspetiva de desempenho e bem-estar, os vitelos devem ser criados na sua zona de neutralidade térmica (Silanikove 2000). O stress térmico como resultado de temperaturas acima ou abaixo da TNZ pode resultar em perdas económicas devido ao aumento da morbilidade e mortalidade, e impactos negativos no desempenho dos vitelos (Roland et al. 2016). O frio pode afetar também negativamente a imunidade dos vitelos (Carroll et al. 2012) já que ocorre uma diminuição da taxa de absorção de colostro, prejudicando a transferência passiva de imunidade (Olson et al. 1980; Carrol et al. 2012). Segundo Young (1981) os efeitos a longo prazo do stress pelo frio e aclimatização (mudanças adaptativas fisiológicas) envolvem mudanças complexas de fatores hormonais e fisiológicos. Na prática, estes resultam num aumento da produção de calor em repouso e, portanto, num aumento das necessidades de energia para manutenção, aumento do apetite e uma diminuição na função digestiva (Young 1981; Mellor and Stafford 2004). Assim, e de acordo com Toghiani et al. (2020) animais em stress térmico pelo frio têm um mau desempenho a nível de crescimento e a nível reprodutivo, assim como uma maior taxa de mortalidade. A digestão é feita com menor eficiência, o que leva a um crescimento mais lento (Young 1981; Toghiani et al. 2020). O stress térmico pelo frio em animais alojados no exterior pode ser reduzido através da construção de abrigos (Roland et al. 2016) ou da utilização de casacos (cobrejões). Sendo essencial evitar prender os animais em estaca, já que impede a procura de abrigo, mudança postural, aumento da locomoção e agrupamento dos animais, ações realizadas pelos animais com o objetivo de preservar o calor corporal (Silva 2012). Adicionalmente, de modo a garantir a manutenção da temperatura, é essencial fornecer energia extra, recorrendo a um aumento quantitativo do alimento fornecido aos animais que se encontram a temperaturas baixas (Stull and Reynolds 2008). A energia extra pode ser garantida através do aumento da quantidade total de alimento, da percentagem de sólidos do leite, ou através da inclusão de gorduras na dieta (National Research Council 2001).

CASO DE ESTUDO – PROTEGER OS VITELOS RECÉM-NASCIDOS DO FRIO Objetivos O objetivo geral do Estudo consistiu em comparar imagens termográficas de vitelos criados em diferentes condições de alojamento e maneio: estabulados; mantidos no exterior preso a estacas; mantidos no exterior presos a estacas, mas com um casaco (coberjão) ( figura 2); mantidos no exterior soltos com a mãe. Um segundo objetivo foi o de comparar o crescimento e a saúde dos animais nos diferentes grupos, através da realização de medições do perímetro torácico e avaliação da incidência de doenças/ mortalidade durante os primeiros dois meses de vida. Material e Métodos Neste trabalho foram incluídas oito explorações da ilha de São Miguel, Açores. A participação dos produtores foi voluntária e selecionada de acordo com os grupos pretendidos e de forma a representar as diversas formas de maneio dos vitelos recém-nascidos nos Açores. Deste modo, realizaram-se três visitas, durante o Inverno de 2020-2021, a cada vitelo: uma do nascimento até aos 7 dias de idade; outra, cerca de um mês após a primeira visita; e a última cerca de dois meses após a primeira visita. Para este estudo, foi utilizado um termógrafo portátil da marca Milwaukee® M12 7.8 KP Thermal Imager. Foram tiradas fotografias térmicas da área orbital, da área do coração, do membro anterior e do membro posterior. Para além da realização da imagem termográfica aos animais, mediu-se o perímetro torácico dos mesmos nas três visitas. A medição foi realizada com a fita métrica Animeter, própria para bovinos. Resultados e Discussão Um dos momentos mais importantes na vida dos vitelos é o primeiro dia de vida, e o segundo período de maior suscetibilidade é a primeira semana de vida, já que, nesta fase, os vitelos são extremamente frágeis (Hulbert and Moisá 2016). Neste estudo, fez-se o acompanhamento dos vitelos durante os primeiros 2 meses de vida, visto ser o período mais problemático. Todos os vitelos incluídos no estudo nasceram de partos normais. Ou seja, os nossos resultados não terão sido influenciados por diferenças nas condições do parto (Lorenz et al. 2011b). 021

Houve uma relação significativa entre a quantidade de colostro bebido pelo vitelo e a probabilidade de ele vir a adoecer, mostrando, mais uma vez, que o maneio do colostro é fundamental para a garantir a saúde e o desenvolvimento dos bovinos jovens. Relativamente às doenças mais comuns neste estudo, 3,33 % teve um episódio de diarreia, 20 % apresentou doença gastrointestinal e respiratória e 20 % morreu no primeiro mês de vida. No segundo mês de vida, os valores diminuíram sendo que 16,67 % apresentou doença gastrointestinal e 8,33 % doença respiratória. Constatámos que a taxa de mortalidade foi muito elevada, e bastante superior ao observado noutros estudos, em que as taxas variam entre 2,1 % e 14 % até ao desmame (Abuelo et al. 2019). A taxa de mortalidade dentro de cada grupo atingiu valores de 22,22 % no grupo “estabulado”, 40 % no grupo “exterior sem casaco”, 18,18 % no “exterior com a mãe”, sendo nula nos animais do grupo “exterior com casaco”. Vários fatores podem justificar estes valores, sendo que o facto de haver uma elevada mortalidade no grupo estabulado pode dever-se a fracas condições de higiene e de ventilação, tornando surtos de doenças infeciosas mais frequentes e graves. No caso dos animais no exterior, parece haver alguma relação com um estado de hipotermia e, por isso, de imunodepressão. Relativamente ao crescimento observado durante o presente estudo, observou-se um maior crescimento entre a segunda e a terceira visita. Esta conclusão vai de acordo com Thulier (2015) que afirma que a maioria dos vitelos tem pouco ganho de peso após a primeira semana de vida, tal como acontece na medicina pediátrica – até se espera que os bebés saudáveis percam algum peso após o nascimento, devendo readquirir o peso do nascimento às duas semanas de idade. O Ganho Médio Diário (GMD) neste estudo foi de 0,56 kg/dia, e apenas o efeito da instalação influenciou-o significativamente. O GMD dos animais “estabulados”, “exterior sem casaco” e “exterior com casaco” foram significativamente superiores ao dos animais das explorações “exterior com mãe”. Esta diferença pode ser influenciada por diversos fatores, como o facto de dentro do grupo “exterior com a mãe” termos animais que ficaram 2 dias e outros que ficam 3 semanas com a progenitora, e posteriormente foram transferidos para


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outro tipo de instalação. Para além disto, a separação dos vitelos da mãe é um fator de stress e implica uma adaptação a um meio completamente diferente do anterior, podendo ser a causa de uma perda de peso transitória. No que diz respeito às instalações e à morbilidade no primeiro mês de vida, esta foi bastante superior no grupo estabulado, com diferenças significativas entre o grupo “estabulados“ e os restantes grupos. No entanto, não houve diferença entre o grupo “exterior com casaco” e os outros dois grupos no exterior. Isto revela que a criação de animais em regime de estabulação pode proporcionar piores condições, no que diz respeito à transmissão de doenças. Ou seja, a estabulação só por si não garante a saúde do vitelo. Fatores como a falta de higiene, de ventilação, as temperaturas e humidades elevadas e a elevada densidade de animais, podem facilitar as doenças infeciosas. No entanto, também se concluiu que o casaco não parece ser o suficiente para reduzir a morbilidade dos vitelos criados no exterior, mas seriam precisos mais estudos para se comprovar estes resultados. Estes resultados, indicam-nos que o alojamento individual no exterior tem melhores resultados ao nível da prevenção de doenças, do que o alojamento em espaços muito fechados (Lorenz et al. 2011a). Porém, de acordo com Lorenz et al. (2et al.011a), a prática de manter vitelos no exterior, ou seja, sem qualquer abrigo, demonstrou aumentar a probabilidade de ocorrência de doença em comparação com as restantes classes, devido à exposição dos vitelos às condições de vento e humidade que prejudicam a saúde e o bem-estar dos animais. A realidade é que nos Açores muitos vitelos recémnascidos são retirados à mãe e colocados em estaca no exterior sem qualquer tipo de proteção contra as condições ambientais, muitas vezes ainda molhados, passando de um ambiente uterino quente para o exterior frio e húmido, favorecendo a perda de calor pelos vitelos. Para além disso, alguns dos vitelos pertencentes ao grupo “exterior com a mãe”, após o período de 3 semanas eram colocados no exterior em estaca. Os restantes vitelos desse grupo eram agrupados após 2 a 5 dias com as mães. Para além do stress térmico sofrido pelos animais, a separação da mãe para posterior agrupamento ou colocação

em estaca são todos fatores indutores de stress, tanto para as mães como para os vitelos. Neste estudo não foi possível fazer as imagens termográficas em condições controladas, as temperaturas ambiente obtidas no estudo foram obtidas através do termómetro da carrinha, o que não é de todo o método ideal, para além disso não foi possível obter as temperaturas no interior das instalações. Neste estudo apenas a Temperatura Máxima na área do Coração parece ter sido significativamente influenciada pela Temperatura ambiente, e a Temperatura Máxima do Membro Posterior foi significativamente influenciada pelo Tempo, Instalação e Quantidade de Colostro. CONCLUSÃO Um fator muito importante e favorável aos vitelos participantes neste estudo foi o facto de 100 % dos partos serem eutócicos. Verificámos que muitos vitelos ingeriram uma quantidade de colostro muito baixa (1,5 a 2 litros) o que poderá ter justificado uma elevada prevalência de doenças infeciosas. Assim, é essencial alertar os produtores que a quantidade ideal de colostro deve andar perto dos 12% do peso do vitelo à nascença, ou seja, 5 a 6 litros. Nos animais em estudo, a administração de colostro quando realizada pelo tratador, foi efetuada com um balde simples ou biberão, o que torna evidente a necessidade de realizar uma boa higiene dos baldes e biberões utilizados para a administração de colostro em quantidade suficiente e de boa qualidade. A taxa de morbilidade e mortalidade obtida neste estudo foi bastante elevada. A mortalidade foi mais elevada em vitelos separados de imediato das mães e nos vitelos do grupo “exterior sem casaco”, seguido do grupo “estabulado” e do grupo “exterior com a mãe” o que nos indica que existem grandes falhas no maneio do vitelo recém-nascido quando são retirados à mãe, muito provavelmente relacionadas com a administração de colostro e as práticas de higiene. Para além disso, conclui-se que a falta de proteção contra as condições ambientais tem grande influência na mortalidade dos vitelos, já que os animais no "exterior sem casaco" e com a mãe apresentaram mortalidades bastante elevadas e nos animais no "exterior com casaco" a

022

mortalidade foi nula. Nos animais pertencentes ao grupo “exterior com casaco” o GMD foi mais elevado e a mortalidade foi nula. Já os animais do grupo “estabulado” apresentaram um GMD superior à média, mas uma morbilidade muito elevada. Podemos então afirmar que o uso de casaco em animais mantidos no exterior poderá ser uma forma de mitigar os efeitos do frio excessivo em vitelos recémnascidos, mas serão precisos mais estudos para confirmar esta conclusão. Assim, é difícil concluir qual das instalações é a mais adequada para garantir as menores taxas de morbilidade e mortalidade e um maior GMD. A verdade é que é essencial a proteção contra as condições atmosféricas, como a chuva, vento e humidade elevada, seja através da estabulação com condições adequadas, da utilização de casacos ou da abolição de correntes e estacas de modo a permitir a procura de abrigo por parte dos vitelos. O GMD foi superior nos vitelos estabulados, no entanto os mesmos apresentaram uma elevada taxa de mortalidade e morbilidade, o que leva a grandes prejuízos financeiros atuais e futuros, já que a presença de doença pode prejudicar o desenvolvimento e a produção futura dos animais afetados. Os vitelos pertencentes ao grupo “exterior com casaco” revelaram um GMD muito elevado (0,742 kg/dia) e uma taxa de mortalidade de 0%, o que é muito interessante, e deve ser estudado. Infelizmente, esta modalidade é muito pouco utilizada nas explorações de S. Miguel, tendo sido impossível obter um maior número de vitelos para este grupo. Sugere-se a abolição do alojamento exterior em estaca de vitelos recémnascidos sem qualquer proteção contra as condições ambientais, prática que continua a ser muito comum nas explorações micaelenses. Julgamos que é muito importante garantir a proteção contra as condições atmosféricas seja através de estabulação dos animais, ou através da utilização de casacos. O aumento do número de animais e da duração do estudo é essencial para chegar a conclusões mais significativas no que diz respeito ao melhor método de cria e recria de vitelos nos Açores. Referências Bibliográficas Serão disponibilizadas pelos autores, a pedido dos interessados. Contactar: stilwell@fmv.ulisboa.pt.


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CONCURSO NACIONAL DE FORRAGENS

CNF 2021

EM 2021, À SEMELHANÇA DE ANOS ANTERIORES, CONCORRERAM AO CONCURSO NACIONAL DE FORRAGENS (CNF) TODAS AS AMOSTRAS QUE ENTRARAM NA ALIP ENTRE 1 DE JANEIRO E 31 DE JULHO DE 2021. ESTE ANO, O CNF CONTOU COM 2 CATEGORIAS DE FORRAGENS: SILAGEM DE ERVA E SILAGEM DE MILHO. FORAM SELECIONADAS 1575 AMOSTRAS DE SILAGENS DE MILHO E 977 DE SILAGENS DE ERVA, DE ACORDO COM AS REGRAS CONSTANTES NO REGULAMENTO DO CONCURSO.

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Avaliação do valor nutritivo das forragens apresentadas ao Concurso Nacional de Forragens Por: ANA LAGE; ALIP – ASSOCIAÇÃO INTERPROFISSIONAL DO LEITE E LACTICÍNIOS Entrega dos prémios aos produtores das silagens vencedoras Por: REVISTA RUMINANTES EMPRESAS PATROCINADORAS DOS PRÉMIOS: LALLEMAND, LUSOSEM

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AVALIAÇÃO DO VALOR NUTRITIVO DAS FORRAGENS APRESENTADAS AO CNF ANA LAGE ALIP - Associação Interprofissional do Leite e Lacticínios ana.lage@alip.pt

H

á mais de um ano que a produção pecuária tem vindo a sofrer aumentos sucessivos nos preços dos fatores de produção, em especial nos alimentos compostos que utiliza na dieta dos animais. É certo que ocorreram aumentos do preço da carne e do leite à produção, em especial nos últimos 3 meses. No entanto, foi longo o período em que o aumento do preço dos fatores de produção não teve o correspondente aumento no preço dos produtos vendidos pelas empresas agrícolas. Isso originou uma deterioração das margens de comercialização e, em última análise, da rentabilidade da sua atividade diária. Nestes momentos torna-se ainda mais importante recorrer a forragens de boa qualidade, que possam substituir uma percentagem superior da dieta dos animais, permitindo à empresa poupar no consumo dos alimentos compostos. Portugal, em toda a sua extensão, possui condições excelentes para a produção de boa forragem. Além disso, os meses quentes e soalheiros, a partir de Março, permitem a produção de forragem excedente, a qual pode ser sujeita a conservação. Por isso, há já muito tempo que os agricultores adotaram processos de conservação dessa forragem e conseguiram, ao longo dos anos, ir melhorando o maneio dos mesmos com o

objetivo de obterem forragens conservadas com um valor nutritivo o mais semelhante possível ao da forragem inicial. A base de dados da Associação Interprofissional do Leite e Laticínios (ALIP) permite observar, com bastante clareza, a evolução distinta que tem vindo a ocorrer na ensilagem da cultura de Inverno e na cultura de Verão. No caso da silagem de milho, a melhoria tem sido bastante positiva, havendo atualmente excelentes silagens à disposição das empresas agrícolas para alimentarem as suas manadas [1] [2]. Já no caso da silagem de erva, ainda é necessário alterar bastante o maneio utilizado na sua produção, de forma a melhorar ainda mais o valor nutritivo da forragem inicial [3] [4] [5]. É inquestionável o trabalho importante que tem vindo a ser realizado pelo Concurso Nacional de Forragens (CNF), através da difusão das boas práticas na produção de forragem e no incentivo à sua aplicação através do prémio que atribui anualmente às melhores silagens sujeitas a análise no laboratório da ALIP [6] [7]. Esperamos que a revista “Ruminantes” continue a promover este concurso e a atribuir este prémio, contribuindo para o incentivo dos agricultores à produção de boas forragens. Como nos anos anteriores, concorreram ao CNF todas as amostras que deram entrada no laboratório da ALIP entre 1 de janeiro e 31 de julho de 2021. Foram selecionadas 1575 amostras de silagens de milho e 977 de silagens de erva, de acordo com as regras constantes no regulamento do concurso. Na avaliação de uma silagem de erva entram vários parâmetros. No gráfico 1 estão representados os teores médios em matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra de detergente neutro (NDF), digestibilidade da matéria orgânica (DMO), açúcares totais e cinza total, bem como a amplitude de variação dos mesmos, nas amostras de silagens de erva apresentadas a concurso. Podemos observar que existe uma enorme variação em todos os parâmetros analíticos. O teor em MS é aquele que varia 026

mais, com um valor médio de 37,1 %, máximo de 90,5 % e mínimo de 15,7 %. A seleção do melhor momento de corte da cultura e uma pré-fenação adequada das plantas permitem controlar este parâmetro da silagem. O excesso de humidade prejudica a qualidade nutricional e a palatabilidade da forragem fermentada, diminuindo o seu valor nutritivo e limitando a sua utilização em animais de elevada produção. Pelo contrário, uma silagem demasiado seca dificulta a compactação, afetando negativamente a fermentação e a sua acidificação, prejudicando a estabilidade aeróbica após a abertura do silo. A silagem de erva pode ser uma excelente fonte de proteína para as vacas leiteiras. Num ano em que os preços das matériasprimas utilizadas na suplementação proteica das dietas atingiram valores recorde, a disponibilidade de silagens de erva com o teor proteico adequado permitiria diminuir significativamente os custos com a alimentação das vacas. Contudo, o teor médio em PB foi de 11,7 %MS, o que é um valor baixo para uma silagem de erva. Podemos observar pelo gráfico 1 que também existem silagens com este parâmetro bem mais elevado, o valor máximo foi de 27,7 %MS, contudo é importante melhorar muito mais o maneio da ensilagem da erva para que esta silagem possa ser considerada uma boa alternativa às matérias-primas convencionais. O teor de fibra nesta silagem também é bastante elevado. No caso do teor em NDF, o valor médio obtido foi de 50,5 %MS, sugerindo o corte da forragem num estádio vegetativo avançado. É certo que uma parte desta fibra está disponível para a degradação ruminal, podendo ser utilizada na alimentação das vacas. Contudo, ao observarmos a tabela 1 podemos verificar que o teor em ADL, fração da fibra que é indegradável, é bastante elevado. Além disso, conjugando este valor com o valor da digestibilidade da matéria orgânica (DMO = 63,1 %MS), podemos suspeitar que a proporção do NDF que é indegradável e, em consequência, indigestível para as vacas será elevada. Esta é uma das razões por que a


Avaliação do valor nutritivo das forragens apresentadas ao CNF

CONCURSO NACIONAL DE FORRAGENS 2021

silagem de erva, frequentemente, é utilizada pelos criadores na alimentação das vacas secas e das novilhas, reservando a silagem de milho para as vacas leiteiras de alta produção. O teor em açúcares totais nas silagens de erva apresenta uma variação muito elevada, observando-se o valor mínimo inferior a 1,6 %MS e o valor máximo de 33,2 %MS. Esta variação reflete a enorme variedade de plantas presentes nas forragens iniciais, a altura do dia em que terão sido cortadas, bem como a duração da pré-fenação a que estiveram sujeitas. Quanto maior for o teor de açúcares, mais intensa será a fermentação da forragem no silo, facilitando a preservação da matéria seca. Relativamente à cinza total, verifica-se que o teor médio foi de 10,4 %MS. Neste parâmetro, a variação também foi muito elevada, apresentando um teor mínimo de 4,5 %MS e um teor máximo de 29,6 %MS. Podemos observar na tabela 1 os valores da composição mais detalhada das silagens de erva do ano 2020, das amostras apresentadas ao CNF 2021, bem como a composição nutricional da vencedora. Quando comparamos a média das amostras apresentadas ao CNF 2021 com os valores médios de 2020 (tabela 1), constatamos que, para quatro parâmetros analíticos (MS, pH, Cinza Total, PB), não existiram diferenças estatisticamente significativas (p<0,05). Contudo, observouse uma diminuição do teor em Proteína Solúvel e em Azoto Amoniacal (-6,26 %MS e -0,45 %MS, respetivamente) sugerindo uma melhoria na conservação da proteína das forragens iniciais. Também se verifica ao nível da fibra uma melhoria significativa, tendo diminuído os valores em todos os parâmetros (NDF, ADF, ADL e FB). Devido à influência elevada que o teor de fibra exerce sobre a DMO, também é sem surpresa que se verifica um aumento de 2,28% neste parâmetro. O teor em açúcares também aumentou significativamente (+1,99 %MS).

A MS das silagens de milho apresentadas ao CNF 2021 tem um valor médio de 34,2% com um máximo de 61,7 % e um mínimo de 22,9 %. Quando comparado com o valor médio da campanha anterior (33,9 %), verificamos que não apresentam diferenças estatisticamente significativas (p<0,05). Deste modo, estamos perante valores que se situam no intervalo recomendado de 30 a 35% [8], permitindo um bom processo de conservação e a maximização da ingestibilidade. O teor em amido é um dos parâmetros mais importantes na silagem de milho, por ser a fonte de energia, característica principal desta forragem. Ao observarmos o teor médio obtido nas amostras que concorreram ao CNF 2021, verificamos uma diminuição significativa face à campanha de 2019-20 (32,5 %MS vs. 33,5 %MS). Além disso, nas amostras a concurso verifica-se uma variação considerável, notando-se um teor mínimo em amido de 13,7 %MS e um

Por isso, concluímos que a evolução na qualidade das silagens de erva foi favorável face ao ano passado. Foram silagens mais bem conservadas, com teor em fibra mais baixo, maior digestibilidade e também com teor em energia mais elevado. Na tabela 1 também podemos observar os resultados da silagem de erva vencedora. Apresenta um teor em MS de 42,9%, em PB de 24,59 % MS, em NDF de 36,1% MS e a DMO de 79,3% MS, o que lhe confere um elevado valor nutritivo. Conforme dito atrás, a categoria da silagem de milho contou com 1575 amostras a concurso. Na tabela 2 estão presentes os valores médios dos parâmetros analisados na ALIP, referentes às amostras no período do concurso e às amostras da campanha anterior (2019-20). No gráfico 2 estão representados os valores médios e a amplitude entre o máximo e o mínimo de alguns daqueles parâmetros analíticos: MS, Amido, NDF, DMO e Cinza Total.

GRÁFICO 1 VALORES MÉDIOS E VARIAÇÃO DOS TEORES EM MATÉRIA SECA (MS), PROTEÍNA BRUTA (PB), FIBRA DE DETERGENTE NEUTRO (NDF), DIGESTIBILIDADE DA MATÉRIA ORGÂNICA (DMO), AÇÚCARES TOTAIS E CINZA TOTAL DAS SILAGENS DE ERVA APRESENTADAS AO CNF 2021 100,0 90,0 MS em % e restantes em %MS

80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 MS

PB

NDF

DMO

Açúcares totais

Cinzas

TABELA 1 VALORES MÉDIOS DAS SILAGENS DE ERVA DA CAMPANHA 2020, DAS AMOSTRAS APRESENTADAS AO CNF 2021 E DA AMOSTRA VENCEDORA Matéria Seca

pH

Cinza Total

Proteína Bruta

Proteína Solúvel

Azoto Amoniacal

NDF

ADF

ADL

Fibra Bruta

Açúcares Totais

DMO

ENL

UFL

UFC

PDIE

PDIN

C2020

36,71a

4,11a

10,17a

11,64a

49,94a

9,01a

53,71a

36,98a

5,11a

31,10a

4,15a

60,81a

1,22a

0,72a

0,62a

5,67a

6,73a

CNF2021

37,08a

4,10a

10,38a

11,74a

43,68b

8,56b

50,45b

34,99b

4,44b

29,84b

6,14b

63,09b

1,27b

0,75b

0,66b

5,84b

6,70b

Vencedora

42,9b

4,12a

12,0b

24,59b

52,6c

9,4c

36,1c

24,3c

2,7c

21,5c

3,7c

79,3c

1,62c

0,95c

0,90c

9,03c

13,80c

MS – Matéria Seca; PB – Proteína Bruta; NDF - Fibra de Detergente Neutro; ADF – Fibra de Detergente Ácido; DMO – Digestibilidade da Matéria Orgânica; ENL - Energia Net Leite; UFL - Unidades Forrageiras Leite; UFC - Unidades Forrageiras Carne; PDIE – Proteína Digestível Intestino limitada pela Energia; PDIN – Proteína Digestível Intestino limitada pelo Azoto. a, b, c - Valores na mesma coluna com notações diferentes diferem significativamente (p<0,05).

027


#44 | jav. fev. mar. 2022

REVISTA RUMINANTES

teor máximo de 62,0 %MS. Serão vários os fatores que influenciam o teor em amido das silagens de milho. Contudo, o estado de maturação no momento do corte será aquele que mais influencia este parâmetro. À medida que o estado de maturação da planta do milho avança, aumenta a proporção da espiga em relação ao total da planta. Esta alteração na proporção da espiga origina o aumento dos teores em MS e Amido. Por outro lado, a proporção de folhas e caules diminui, originando uma diluição dos componentes fibrosos da planta, e levando à diminuição dos teores em NDF. Conforme pode observar-se na tabela 2, as amostras das silagens de milho concorrentes ao CNF 2021, quando comparadas com as da campanha 2019-20, apresentaram, em média, o teor em NDF muito aproximado (42,06 %MS vs. 42,00 %MS), não sendo esta diferença estatisticamente significativa. Note-se ainda que, em termos de variação, foram encontradas amostras com teor em NDF de 24,9 %MS e outras com 61,6 %MS. Talvez a altura de corte do caule da planta possa explicar estes valores mais baixos, enquanto o baixo desenvolvimento da espiga possa responder pelos valores mais elevados. Também os valores da DMO das silagens de milho apresentaram uma elevada variação (entre 53,7 %MS e 81,7 %MS). Contudo a variação é menor porque, embora a composição morfológica da planta do milho se altere ao longo do seu desenvolvimento, as variações contrárias entre o teor em amido (promovendo maior digestibilidade) e a diminuição da digestibilidade do NDF limitam a diferença entre os valores extremos [8]. Relativamente ao teor em cinza total, o valor médio observado mostra que a maioria das silagens de milho não foram contaminadas com terra, pois apresentam teores em cinzas inferiores a 4 %MS. Quando comparamos o valor médio obtido nas amostras do CNF 2021 (3,2 %MS) com aquele obtido na campanha anterior (3,4 %MS)

verificamos uma descida estatisticamente significativa. Como também podemos observar na tabela 2, a amostra vencedora difere estatisticamente em todos os parâmetros analíticos relativamente à média das amostras do CNF 2020. Apresenta um teor em MS de 37,7 %, um teor em amido de 44,8 %MS e um teor em NDF de 35,1 %MS. Face a estes resultados, podemos constatar que estamos perante uma silagem com elevado valor energético. Na apreciação final podemos dizer que a média das amostras de silagem de milho do CNF 2021, quando comparada com a média da campanha anterior é superior no teor em MS e inferior no teor em Cinzas, o que é desejável. No entanto, são silagens com mais NDF e menos Amido, apresentando também menor DMO. Apesar disso, podemos dizer que a produção de silagem de milho é um processo bastante controlado pelos agricultores. Relativamente à silagem de erva, a composição química observada mostra que

esta forragem ainda terá de melhorar bastante na sua composição para que possa ser utilizada convenientemente na alimentação das nossas vacas de alta produção. As boas práticas de ensilagem, nomeadamente o momento do corte e a existência e duração da pré-fenação, bem como a utilização de espécies e variedades com teor mais elevado de PB, podem representar um contributo para melhorar o valor nutritivo das silagens produzidas. BIBLIOGRAFIA

[1] A. Lage, “A Importância da Maturidade na Qualidade Nutricional das Silagens de Milho,” Ruminantes, vol. 32, pp. 34-37, 2019. [2] M. D. Salgueiro e A. Lage, “A Variação do Teor em Proteína das Silagens de Milho em Portugal,” Ruminantes, vol. 34, pp. 52-54, 2019. [3] A. Lage, “Silagens de Erva: Avaliação da Qualidade Nutricional,” Ruminantes, vol. 28, pp. 28-30, 2018. [4] A. Lage e M. D. Salgueiro, “Silagens de Erva em Portugal Continental,” Ruminantes, vol. 37, pp. 16-19, 2020. [5] A. Torres, A. Lage, E. Morgado e S. Azevedo, “Melhores Práticas de Ensilagem da Erva,” A Força da União, vol. 10, pp. 16-20, 2011. [6] A. Lage, “Avaliação do Valor Nutritivo das Forragens Apresentadas ao Concurso Nacional de Forragens 2019,” Ruminantes, vol. 36, pp. 12-15, 2020. [7] A. Lage, “Avaliação do Valor Nutritivo das Forragens Apresentadas ao CNF,” Revista Ruminantes, Vols. %1 de %211 (Jan, Fev, Mar), pp. 12-15, 2021. [8] C. Demarquilly, “Facteurs de Variation de la Valeur Nutritive du Mais Ensilage.,” Productions Animales, vol. 7, pp. 177-189, 1994.

GRÁFICO 2 VALORES MÉDIOS E VARIAÇÃO DOS TEORES EM MATÉRIA SECA (MS), AMIDO, FIBRA DE DETERGENTE NEUTRO (NDF), DIGESTIBILIDADE DA MATÉRIA ORGÂNICA (DMO) E CINZA TOTAL DAS SILAGENS DE MILHO APRESENTADAS AO CNF 2021 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0

MS

Amido

NDF

DMO

Cinza Total

TABELA 2 VALORES MÉDIOS DAS SILAGENS DE MILHO DA CAMPANHA 2019-20, DAS AMOSTRAS APRESENTADAS AO CNF 2021 E DA AMOSTRA VENCEDORA MS

pH

Cinza Total

PB

NDF

ADF

ADL

Amido

FB

DMO

ENL

UFL

UFC

PDIE

PDIN

C2019-20

33,95a

3,84a

3,42a

7,00a

42,00a

24,90a

3,13a

33,52a

20,59a

70,00a

1,57a

0,92a

0,82a

6,67a

4,30a

CNF 2021

34,16a

3,83b

3,24b

7,17b

42,06a

24,71b

3,10b

32,52b

20,21b

69,82b

1,57a

0,92a

0,82a

6,69b

4,40b

Vencedora

37,7

3,88

2,9

6,18

35,1

19,5

2,4

44,8

17,0

73,1

1,66

0,98

0,89

6,84

3,80c

b

c

c

c

b

c

c

c

c

c

b

b

b

c

MS – Matéria Seca; PB – Proteína Bruta; NDF - Fibra de Detergente Neutro; ADF – Fibra de Detergente Ácido; DMO – Digestibilidade da Matéria Orgânica; ENL - Energia Net Leite; UFL - Unidades Forrageiras Leite; UFC - Unidades Forrageiras Carne; PDIE – Proteína Digestível Intestino limitada pela Energia; PDIN – Proteína Digestível Intestino limitada pelo Azoto. a, b, c - Valores na mesma coluna com notações diferentes diferem significativamente (p<0,05).

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#44 | jav. fev. mar. 2022

REVISTA RUMINANTES

Filipa Setas e António Cannas, da Lusosem, entregaram o prémio aos irmãos António e Carlos Vieira, da Socimilk.

FORRAGENS | CNF 2021

PRÉMIO SILAGEM DE MILHO PATROCINADOR LUSOSEM | VENCEDOR SOCIMILK, LDA. Por RUMINANTES Fotos FG

O

s irmãos António e Carlos Vieira nasceram no negócio da produção de leite de vaca. O seu pai comprou a primeira vaca quando eram crianças, há cerca de 50 anos, como fonte de alimento para os filhos. O leite que sobrava era entregue no posto de recolha. Foi assim que nasceu o negócio familiar que tem vindo a crescer até hoje. Em 2012, António e Carlos Vieira criaram a empresa Socimilk que tem, atualmente, um efetivo de 350 animais com 215 vacas em ordenha.

FORRAGENS Fazem toda a silagem de milho e silagem de erva de que necessitam na própria exploração. O custo por hectare para fazer o milho de silagem ronda 1500€/ha, “porque as máquinas são nossas, explica António, “caso contrário poderia chegar aos 1800€/ha.” No que se refere à produção de matéria verde, “este ano foi de 60 toneladas/ha com o ciclo de 400. Ou seja, por estas contas o custo da tonelada da silagem rondará os 25€”, conclui.

INSTALAÇÃO Anualmente, a primeira operação na preparação do terreno para a cultura do milho que fazem é uma subsolação a 70 cm. Seguidamente, antes de entrar o semeador, passa uma cavadora com um pulverizador acoplado para a desinfeção do terreno e um rolo com “arames” grossos para alisar o solo e enterrar as ervas. António explica: “A cavadora trabalha a 27-30 cm e com esta operação consigo envolver a terra quente com a fria, e incorporar a matéria orgânica, melhor do que fazia antes com a charrua. Isto funciona porque estes terrenos

PERFIL NUTRICIONAL DA AMOSTRA VENCEDORA DO CNF Matéria Seca

pH (25ºC)

Cinzas

Proteína Bruta

Fibra NeutroDetergente (NDF)

Fibra ÁcidoDetergente (ADF)

Lenhina ÁcidoDetergente (ADL)

Amido

Fibra Bruta

Digestibilidade Matéria Orgânica

ENL

Unidades Forrageiras Leite (UFL)

Unidades Forrageiras Carne (UFC)

PDIE

PDIN

37,7

3,88

2,9

6,18

35,1

19,5

2,4

44,8

17,0

73,1

1,66

0,98

0,89

6,84

3,80

030


Prémio Silagem de Milho

CONCURSO NACIONAL DE FORRAGENS 2021

têm muita matéria orgânica”. “Esta operação demora cerca de 1 hora por hectare”, continua António: “Na Holanda chegam a montar o semeador atrás da cavadora, mas utilizam tratores mais potentes. Para este modelo, de 3 metros de largura, preciso de um trator com 200 cavalos (170 cv na tomada de força). Por fim semeia, “com um semeador de discos porque a terra fica um pouco comprimida”. SEMENTEIRA Utilizam sementes de ciclo médio, 300 nos terrenos de sequeiro e 400 nos de regadio. “Aqui há pouca água, não posso ir para ciclos muito longos. Já fiz 500, mas é muito raro”, diz António. As variedades dos milhos utilizados foram: Dekalb Ciclo 300 - DKC 5144 com inoculante 11A44 da Pioneer e Ciclo 400 - DKC 5741 com inoculante 11CFT da Pioneer. ARMAZENAMENTO E CONSERVAÇÃO As máquinas são todas próprias, realizam as operações quando entendem que é a altura certa. A. Vieira: “Considero o calcamento o segredo duma silagem.

Faço-o com uma retroescavadora e normalmente fecho o silo em 24 horas. António tem a noção de que a utilização de máquinas de cortes com frentes cada vez maiores aumenta a velocidade de enchimento dos reboques e, por consequência, exige uma velocidade de calcamento da silagem cada vez maior que só se consegue com máquinas próprias, como é o seu caso. Relativamente aos inoculantes, considera-os essenciais para uma boa conservação da silagem e estabilidade aeróbica. DADOS DA EXPLORAÇÃO Empresa

Socimilk, Lda.

Gerência

António e Carlos Vieira

Localização

Santa Joana, Aveiro

Área

80 hectares

Nº de empregados

4-5

Efetivo

350 animais

Animais em produção

215

Produção média diária

31

Recria

toda na exploração

Idade ao 1º parto

26 meses

AF_NUTRIÇÃO_ANIMAL_LG_Ruminantes_MeiaPagBaixo_A5_Ed1-2022_FINAL 6 de janeiro de 2022 10:36:14

031

Cavadora utilizada na preparação do solo para a sementeira. Possui um pulverizador acoplado para a desinfeção do terreno, e um rolo com arames grossos para alisar o solo e enterrar as ervas.


#44 | jav. fev. mar. 2022

REVISTA RUMINANTES

José Caiado, membro do júri do Concurso Nacional de Forragens, entregou o prémio a Cor Smit e sua Equipa.

FORRAGENS | CNF 2021

PRÉMIO SILAGEM DE ERVA PATROCINADOR LALLEMAND | VENCEDOR SAGOVARAS, LDA Por RUMINANTES Fotos NM

O

vencedor do prémio Silagem de Erva foi a empresa Sagovaras, Lda., sediada em Grândola. Cor Smit, de nacionalidade holandesa, é o proprietário desta empresa de produção de leite, desde o ano 2000. Iniciou atividade em Portugal com 70 vacas que trouxe da Holanda e com uma ordenha em segunda mão que já tinha. Com um pequeno investimento em obras necessárias, começaram a ordenhar no final desse ano. Desde aí, conta Cor Smit, “foi sempre a crescer. Em 2007, quando tínhamos 250 vacas em produção, construímos uma nova sala de

ordenha. Hoje temos cerca de 360 vacas em produção e estamos a planear um novo pavilhão com capacidade para mais de 500 animais.” A produção média atual é de 38 litros leite/dia/vaca. Nas vacas em ordenha incorporam 3 kg de MS de azevém por vaca. FORRAGENS Semeiam 50 hectares de azevém (dos quais 40 ha são em regadio), e 32 ha de erva do sudão em regadio. Na restante área semeiam triticale e misturas com azevém, para silagens. Não semeiam milho por causa dos javalis.

SEMENTEIRA O azevém é semeado por sementeira direta, sem mobilização. Este ano, pela primeira vez, utilizaram um APV com grade rápida e um semeador. Não pode avaliar as vantagens deste método porque não choveu. Até agora tem utilizado apenas azevém puro. A amostra vencedora do concurso era da variedade Jivet. Planeia, em breve, experimentar misturas com trevos. CORTES E ADUBAÇÕES Cortam o o mesmo campo com um intervalo de 5-6 semanas, fazendo 4 a 5 cortes por campo por ano.

PERFIL NUTRICIONAL DA AMOSTRA VENCEDORA DO CNF Matéria Seca

pH (25ºC)

Cinzas

Proteína Bruta

Proteína Solúvel

Azoto Amoniacal

Fibra NeutroDetergente (NDF)

Fibra ÁcidoDetergente (ADF)

Digestibilidade da Matéria Orgânica

ENL

Unidades Forrageiras Leite (UFL)

Unidades Forrageiras Carne (UFC)

PDIE

PDIN

Fibra Bruta

Açucares Totais

42,9

4,12

12,0

24,59

52,6

9,4

36,1

24,3

79,3

1,62

0,95

0,90

9,03

13,80

21,5

3,7

032


Prémio Silagem de Erva

CONCURSO NACIONAL DE FORRAGENS 2021

Reboque com pick-up e picadora, de rodas largas. Detalhe das facas.

Estam sempre a cortar, parcelas de 25 ha, a cada 2-3 semanas. As regas são feitas por pivot sempre que cortam. Nessa altura, fazem também adubações, exceto no último corte que deixam espigar para ter mais fibra: 2 aplicações de 75 kg de Yara Sulfamid (66 kg de azoto e enxofre), e ainda 25 m3/ha de estrume. O primeiro corte é feito em novembro e o último em maio. ARMAZENAMENTO E CONSERVAÇÃO Entre começar a cortar e fechar o silo demora 36 horas. Todos os silos de azevém são cobertos com casca de laranja húmida, e os silos de milho são cobertos com casca de tomate. Depois, levam cobertura de filme plástico e areia para selar o silo. Há cerca de 11 anos que Cor Smit utiliza a casca de laranja, por ser “um alimento ácido e rico em açucares”. Ao fim de 15 dias o silo está pronto a ser utilizado. A casca de laranja, propriamente dita, só é dada às novilhas, não às vacas em produção, por desconhecer como poderia afetar a produção de vacas com produção alta. No calcamento dos silos utiliza tratores

de roda larga e não a pá carregadora: “pesa 11 ton, tem pneus estreitos, deixa o azevém todo preto. Quando a silagem está muito molhada, prefiro calcar menos, não tenho medo que se estrague porque utilizo a casca de laranja.” OS RESULTADOS 25% PB, 43% de MS com 83% de digestibilidade Cor Smit também se mostrou surpreendido com a qualidade da silagem vencedora, e providenciou uma explicação: “O nível de PB foi realmente elevado, costumo ter entre 22-23%. Penso que o fator “frio” ajudou na qualidade da silagem, porque reduz o “crescimento da fibra” e aumenta a proteína na planta. Cortamos sempre o azevém à noite, depois da ordenha da tarde, pelas 18 horas. As máquinas estão engatadas ao trator, por isso não se perde tempo. Faço cerca de 10ha/hora, ou seja, às 21 horas, quando regresso, tenho 30 ha cortados. Se não houver nevoeiro, nem humidade, logo pela manhã do dia seguinte, estamos a juntar a erva. À tarde recolhemos a forragem com um reboque que leva a produção de 4 ha de azevém. Comprei esta máquina há um ano, recolhe e corta 033

"HÁ CERCA DE 11 ANOS QUE COR SMIT UTILIZA A CASCA DE LARANJA, POR SER “UM ALIMENTO ÁCIDO E RICO EM AÇUCARES”. NO FINAL DE 15 DIAS O SILO ESTÁ PRONTO A SER UTILIZADO."

a forragem (pick-up e picadora) e tem rodas largas ( fotos acima). A elevada percentagem de cinzas da amostra vencedora (12%) deve-se, na opinião de Cor Smit, à areia que vai com a erva para o silo. “Penso que a percentagem de cinzas não tem relação com a altura de corte, mas sim com a calibração do “junta pasto” (encordoador) e com os diferentes tipos de solo que temos. Para melhorar esta questão, comprei recentemente um junta pasto de tapete (Reiter Respiro R3 profi). A produção de MS/ha varia entre 10 e 12 toneladas, sendo o 3º corte aquele que tem uma percentagem mais elevada.


#44 | jav. fev. mar. 2022

REVISTA RUMINANTES

ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE LEITE

PASTONE, UM STOCK ENERGÉTICO BARATO

A PRODUÇÃO DE PASTONE (SILAGEM DE GRÃOS HÚMIDOS), ASSUME UM PAPEL PREPONDERANTE NA RENTABILIDADE DAS EXPLORAÇÕES. DEVE SER ENCARADA COMO UM STOCK ENERGÉTICO DA EXPLORAÇÃO, COM CUSTOS SIGNIFICATIVAMENTE MAIS BAIXOS SE ATENDERMOS A UMA MESMA QUANTIDADE DE ENERGIA DISPONIBILIZADA.

ANTÓNIO CANNAS Desenvolvimento Técnico Lusosem S.A. acannas@lusosem.pt

N

os tempos que correm, os produtores pecuários de um modo geral e os de leite em particular, veem-se confrontados com novos

desafios originados pelo preço das matérias primas, e em particular dos cereais, os quais afetam muito negativamente a rentabilidade das explorações. Em regra, para a produção de pastone, o grão deverá ter uma humidade que oscile entre os 28 e os 33% (com a aparição do ponto negro, não haverá mais deposição de amido no grão). A um pastone com maior teor de humidade do grão, corresponde uma melhor digestibilidade do amido. Por outro lado, teores baixos de humidade do grão levam a uma maior dificuldade de compactação

O processamento do grão destinado a pastone, deve ter em conta a humidade do mesmo no momento da colheita.

034

do silo e à necessidade de fazer um processamento mais meticuloso do grão. Tal como ocorre com a silagem de milho (planta inteira), a silagem de pastone tende a aumentar a digestibilidade do amido à medida que o tempo de conservação aumenta! Não são necessários investimentos suplementares para levar a cabo a tarefa, na medida em que o pastone pode ser ensilado com o auxílio de uma ceifeira debulhadora. Esta, por sua vez, alimenta de grão uma automotriz adaptada com um tegão na sua frente e que


Pastone, um stock energético barato

ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE LEITE

O processamento do grão destinado a pastone, deve ter em conta a humidade do mesmo no momento da colheita.

mói o grão diretamente para o silo ou para um reboque. Outro processo consiste na moagem, através de um moinho que enche diretamente um rolo em forma de salsicha. O inconveniente deste último método é que dificulta a mecanização da recolha do pastone para o unifeed. Já nos silos de trincheira, haverá que assegurar um dimensionamento que assegure uma remoção mínima diária de 10 a 20 cm na frente de silo, em função da temperatura ambiente, de forma a assegurar uma boa conservação. Por último, importa referir que a utilização de inoculantes ou de conservantes à base de ácido propiónico, favorecem não apenas a fermentação, como a conservação da matéria ensilada.

A produção de pastone deve ser encarada como um stock energético da exploração, com custos significativamente mais baixos se atendermos a uma mesma quantidade de energia disponibilizada. Em primeiro lugar, por kg de matéria seca (MS) produzida, a quantidade de energia disponibilizada pelo pastone é semelhante àquela que é facultada pela farinha de milho. Assim sendo, na tabela 1 temos os valores energéticos expressos em UFL/kg MS do pastone vs. farinha de milho*. Quanto ao custo de produção do pastone, os valores oscilam significativamente entre aqueles que se verificam na região norte, onde a quantidade de regas é menor e com um custo energético associado inferior e a região sul, com regas muito frequentes e custos

associados à água utilizada e à energia, mais elevados. Tomaremos como valor médio de produção de pastone os 1.800€/ha e um valor actual de 310€/TM para a farinha de milho. A tabela 2 baseia-se na quantidade de energia UFL/TM tal qual disponibilizada pela farinha de milho e a quantidade necessária de pastone (TM tal qual) para suprir esse mesmo montante energético. Para igualar a mesma quantidade de energia disponibilizada por 1 TM de farinha de milho, necessitamos de 1358 kg (tal qual) de pastone. Tomando por exemplo prático a rentabilidade em pastone da Sociedade Agropecuária Irmãos Ferreira Gomes em Paços de Ferreira, na qual a colheita de pastone, para

TABELA 1 Concentrado Energético

um ciclo FAO 400 foi de 17,9 TM com 27,9% MS, corrigida a 33% de humidade do grão, a colheita representa 20,4 TM/ha. Com um custo de 1.800€/TM, o valor da TM de pastone (tal qual) é de 88€. Sabendo que será necessário fornecer ao efetivo 1.358kg de pastone para igualar a quantidade de energia disponibilizada por uma TM de farinha de milho, chegamos à conclusão que o custo inerente à alternativa “PASTONE” é de 88 x 1,358 TM = 120€ contra os 310 despendidos com a farinha de milho. Resumindo: - 120€ para alcançar 1.165 UFL, utilizando pastone; - 310€ para obter os mesmos 1.165 UFL, utilizando farinha de milho. *- fonte: www.feedtables.com

TABELA 2 UFL INRA 2018/kg MS

Concentrado Energético

Farinha de milho

1,33

Farinha de milho

Pastone

1,28

Pastone

035

% MS

UFL/kg MS

UFL/TM

87,6

1,33

1.165

67

1,28

0,858


#44 | jav. fev. mar. 2022

REVISTA RUMINANTES

FORRAGENS | TEFF (ERAGROSTIS TEF)

TEFF, UMA ALTERNATIVA PARA PRIMAVERA/VERÃO

A LUSOSEM LANÇOU NO MERCADO UMA ALTERNATIVA CULTURAL PARA A PRODUÇÃO DE FORRAGENS NA PRIMAVERA/VERÃO: A TEFF (ERAGROSTIS TEF) É UMA GRAMÍNEA DA FAMÍLIA DAS POACEAE. TEM NÍVEIS DE CONSUMO DE ÁGUA E FERTILIZANTES RELATIVAMENTE BAIXOS, ATINGE BONS NÍVEIS DE PRODUÇÃO E QUALIDADE E PERMITE VÁRIOS CORTES ANUAIS.

MANUEL LAUREANO Engenheiro agrónomo Lusosem mlaureano@lusosem.pt

N

os tempos atuais, a capacidade de produção de alimentos para animais na exploração é um fator chave para a rentabilidade da atividade pecuária em Portugal.

A par desta realidade, o cenário atual em que todos vivemos pressiona de forma clara todos os operadores para encontrar alternativas e estratégias que permitam atingir e responder às necessidades do mercado com a maior rentabilidade possível e maximizando a sustentabilidade ambiental dos processos envolvidos. Foi neste contexto que a Lusosem iniciou e promove o desenvolvimento da cultura de Teff em Portugal como mais uma ferramenta importante no âmbito da produção de forragens, particularmente no período primavera-verão/início de outono, com níveis de consumo de água e fertilizantes relativamente mais baixos e níveis de produtividade e qualidade que 036

consideramos muito interessantes nas nossas condições de solo e clima. INTRODUÇÃO Teff (Eragrostis tef) é uma gramínea da família das Poaceae, com origem estimada na Etiópia onde é muito utilizada para produção de grão. É uma planta C4, autopolinizante, intermédia entre planta de climas tropicais e de climas temperados. Sendo uma planta sensível ao aumento do fotoperíodo, no início do outono reduz fortemente a sua atividade, acabando por terminar o seu ciclo. Apesar da sua divulgação a nível mundial ter sido inicialmente como


Teff, uma alternativa para primavera/verão

FORRAGENS | TEFF (ERAGROSTIS TEF)

produtora de grão, atualmente é utilizada essencialmente como cultura forrageira estando o seu sucesso relacionado com a possibilidade de produção de forragens na primavera-verão, com relativamente baixos níveis de consumo de água e fertilizantes e atingindo bons níveis de produção e qualidade. Permite vários cortes, podendo ser utilizada para pastoreio direto ou para a produção de feno ou mesmo silagem. ADAPTAÇÃO GEOGRÁFICA E TIPO DE SOLOS Não considerando situações extremas, não são conhecidas condições particularmente limitantes para a adaptação da cultura, sendo possível a sua utilização em praticamente todo o tipo de solos e níveis de pH, sendo uma cultura bastante tolerante tanto a condições temporárias de falta como de excesso de água. TEMPERATURA É uma cultura muito sensível à geada em todas as fases do ciclo vegetativo, reduzindo ou mesmo parando fortemente o seu crescimento a temperaturas abaixo de 10-12ºC, não sobrevivendo a temperaturas abaixo de 0-5ºC. Sementeiras realizadas em situações de temperatura limite poderão conduzir a perdas importantes e à perda de capacidade competitiva relativamente a infestantes. As condições ótimas de temperatura para o desenvolvimento da cultura são acima de 18ºC, não sendo particularmente condicionada por temperaturas mais elevadas, podendo haver alguma afetação em condições particularmente mais extremas. FERTILIDADE Apesar de ser uma cultura com baixas exigências, responde a melhores condições de nutrição e fertilidade. O elemento mais crítico é, de longe, o azoto, com necessidades totais da cultura ao longo de todo o ciclo de 80 a 100 unidades deste elemento, preferencialmente repartidas ao longo do ciclo. Como programa base pode ser considerada a opção de 20 unidades de N à sementeira e 20 unidades após cada corte, assumindo 3 a 5 cortes ao longo do ciclo. Disponibilidades em excesso de azoto podem favorecer a acama e não são conhecidas toxicidades por acumulação em excesso de azoto na planta. Em situações de muito baixa fertilidade em fósforo pode ser benéfica a aplicação de 20 unidades deste elemento à sementeira.

SEMENTEIRA Este é o ponto mais crítico desta cultura. Com sementes particularmente pequenas (2,9 milhões de sementes/ kg) e uma consequente baixa dose por hectare (10 a 12 kg/ha), as condições de sementeira são um fator crítico e muitas vezes de insucesso desta cultura. A cama da semente deve estar bastante bem preparada devendo ser assegurada uma relativa firmeza da zona superficial. A profundidade de sementeira não deve ultrapassar os 0,3 cm devendo ser assegurado um bom contacto entre a semente e o solo. A passagem leve de um rolo sem arrastamento de terra, ou uma rega muito ligeira após sementeira, são opções importantes a considerar. Recomenda-se a opção por sementeira na linha. Considerando que a temperatura é um dos fatores relevantes para o sucesso da cultura, recomendam-se sementeiras a partir de meados de abril/início de maio. Datas de sementeira mais tardias, não sendo limitantes em termos de desenvolvimento da cultura, conduzem a potenciais reduções do número de cortes possíveis. Sendo asseguradas as corretas condições de temperatura, humidade e profundidade de sementeira, é expectável a emergência ocorrer entre 5 a 7 dias. NECESSIDADES HÍDRICAS Uma vez instalada, é reconhecida a considerável tolerância da planta de Teff a condições de falta de água e temperaturas elevadas. No entanto, e apesar das necessidades de água serem relativamente baixas, a adequada disponibilidade hídrica no solo é um fator muito relevante para esta cultura desde a sementeira, sendo importante que, para a germinação, seja assegurado um correto nível de humidade. Em situações limitantes de disponibilidade hídrica, verifica-se uma paragem total do crescimento da cultura e consequente fim da cultura se as condições se mantiverem. No entanto, é de referir que em situações limite de falta de água foi relativamente comum novas retomas de crescimento e produção após a reposição dos níveis de humidade do solo. As necessidades hídricas totais estão fortemente dependentes da região, do solo e do número de cortes. No entanto, e tendo como base a experiência em Portugal nos últimos dois anos, devem ser assegurados entre 25 a 40 mm por semana para níveis de produtividade totais entre 037

13 a 18 ton de matéria seca em 3 a 5 cortes ao longo do ciclo (abril/maio a meados de setembro). COLHEITA Considerando datas de sementeira de abril/maio e considerando as condições normais de desenvolvimento da cultura, é expectável a realização de 3 a 5 cortes até meados de setembro. O primeiro corte deverá acontecer entre 40 a 50 dias após sementeira e os seguintes em intervalos indicativos de 30 dias. O estado fenológico ideal de corte deverá ser sempre antes do espigamento da cultura, uma vez que, tal como em outras espécies forrageiras, colheitas mais tardias conduzem não só a quebras importantes da qualidade da forragem, como a redução de capacidade produtiva nos cortes subsequentes. Os cortes devem ser realizados entre 7 a 10 cm acima do solo, sob pena de reduzir de forma importante a produtividade dos cortes seguintes. As produtividades acima referidas (13 a 18 ton/ha) são valores já atingidos em Portugal e em linha com as referências técnicas existentes. Sendo possível a sua utilização em pastoreio direto, esta opção só deve ocorrer após a correta instalação da cultura pelo que só se recomenda a primeira entrada de animais pelo menos 35 a 40 dias após a sementeira. Apesar de ser uma cultura relativamente versátil em termos de utilização, é na produção de feno que esta cultura se destaca particularmente, tendo sido conseguidos níveis de qualidade bastante interessantes (12 a 16% de proteína com 90 % de MS). A forragem de Teff apresenta uma elevada palatibilidade não havendo registos da existência de toxicidade pela presença de compostos tóxicos para animais. NOTAS FINAIS Apesar de ser uma cultura ainda com níveis de utilização em Portugal relativamente reduzidos, a Lusosem acredita ser uma cultura que pode e deve ser considerada como uma alternativa relevante na produção anual de forragens. Os níveis de qualidade e produtividade potenciais, associados a níveis de consumo de fertilizantes e água mais baixos, constituem um cenário que pode ser particularmente relevante no quadro atual da produção de alimentos para animais. Fonte: “Teff Grass: Crop Overview and forage production guide”, Barenbrug USA.


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GENÉTICA | OVINOS DE CARNE

BERRICHON DU CHER

EM DEZEMBRO PASSADO, FOMOS AO ENCONTRO DE LUÍS CESTEIRO, TÉCNICO DA ASSOCIAÇÃO QUE GERE O LIVRO GENEALÓGICO DA RAÇA OVINA BERRICHON DU CHER EM PORTUGAL, PARA CONHECER DOIS CRIADORES DESTA RAÇA DE ORIGEM FRANCESA, NO ALENTEJO. Por RUMINANTES Fotos FG

D

a história desta raça sabe-se que teve origem numa antiga população de Berry impregnada com sangue Merino espanhol no final do século XVIII, e depois sangue inglês até ao final do século XIX, para melhorar a produção de carne. Os animais da Raça Ovina Berrichon du Cher são bem conformados e precoces, marcam bem a sua descendência, sendo utilizados quer em puro ou em cruzamento industrial. São bastante usados em cruzamento terminal com as raças rústicas longilíneas ou com raças prolíficas, para a

Luís Cesteiro, técnico da Associação que gere o Livro Genealógico da Raça Ovina Berrichon du Cher em Portugal.

038

produção de borregos pesados, sem excesso de gordura. Atualmente, no seu país de origem, França, existem cerca de 40.000 fêmeas, das quais mais de 3280 em Controlos de Performance. "Em 2019, dois criadores (entrevistados neste artigo), vieram ter com a nossa Associação no sentido de iniciarmos a gestão do Livro Genealógico desta Raça em Portugal e hoje, depois do reconhecimento por parte da DGAV (Direcção Geral de Alimentação e Veterinária), existem 8 criadores, dispersos do Alentejo ao Minho, com mais de 100 fêmeas inscritas no Livro Genealógico, com tendência a aumentar",


Berichon Du Cher

GENÉTICA | OVINOS DE CARNE

FOTO DA ESQUERDA E DE CIMA Ovelhas da Herdade da Defesa da Atalaia (Vila Fernando, Elvas). FOTO DE BAIXO Machos reprodutores da exploração de Nuno Lobinho (Barro Branco, Borba).

contou Luís Cesteiro. Na opinião deste técnico, a Raça tem várias aptidões que justificam o seu interesse no nosso país, nomeadamente por ser “excecional melhoradora e produtora de carne, pela aptidão maternal das fêmeas e por se adaptar bem às condições climáticas do Alentejo e do País em geral.” Além disso, refere, “a raça Berrichon du Cher, tem a vantagem de ter um trabalho de melhoramento contínuo, desde há muitos anos, em França. É possível escolher por catálogo, os machos que pretendemos." Nota: A raça Berrichon Du Cher é representada em Portugal pela Associação Portuguesa de Criadores de Ovinos da Raça Merina Precoce, sediada em Alter do Chão, que gere os dois Livros Genealógicos. Fazer parte da Associação implica o pagamento de uma joia no valor de €150,00 (paga uma única vez, no momento da inscrição como associado), de uma quota anual base de €200,00 (calculada em duodécimos, depois da aprovação como Associado), acrescida de € 3,50 por fêmea adulta inscrita, com mais de 1 ano de idade.

PRINCIPAIS APTIDÕES DA RAÇA • Conformação: os borregos são maioritariamente classificados “U” na grelha “Europ”, sem excesso de gordura • Precocidade: os borregos têm um crescimento rápido (350 g GMD para machos simples). Abate entre os 100 e os 130 dias, com 35-40 kg;

• Ciclo ovárico contínuo: 60% dos borregos nascem de setembro a novembro. • Adaptabilidade: explorada em complemento às culturas das zonas cerealíferas, em produção estabulada, a Raça Ovina Berrichon du Cher adaptase igualmente muito bem a um sistema extensivo, com parições na Primavera.

DADOS DA RAÇA Idade de maturidade sexual (machos e fêmeas)

8 meses

Idade média ao 1º parto

16 meses

Intervalo entre partos

270 dias

Idade média de abate

70 dias

Peso médio da carcaça / % de rendimento da carcaça

13 kg / 49

Peso: à nascença / aos 30 dias / aos 70 dias

4,5 kg / 10-12 kg / 37kg partos simples, 33 kg partos duplos

Peso machos adultos / Peso fêmeas adultas

100 a 140 kg / 70 a 80 kg

GMD 30/70 dias

350 g

Prolificidade

1,624

Mais informações podem ser pedidas através do telefone 960 151 771 ou do Email apcormp@gmail.com https://www.geodesheep.com/fr/berrichon-du-cher.html.

039


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ENTREVISTA A UM PRODUTOR DE BERRICHON DU CHER

NA DEFESA DA ATALAIA

PILAR ALEXANDRA ROSADO E NUNO ROSADO FORAM OS PRIMEIROS PRODUTORES EM PORTUGAL A ADQUIRIR UM REBANHO DE BERRICHON DU CHER. NA HERDADE QUE GEREM, EM VILA FERNANDO, CONCELHO DE ELVAS, JUNTARAM ÀS VACAS ALEITANTES EM MODO DE PRODUÇÃO BIOLÓGICO, A CRIAÇÃO DE OVELHAS DESTA RAÇA FRANCESA. Por RUMINANTES Fotos FG Como surgiu a ideia de trabalhar com esta raça? Já tínhamos alguns animais Suffolk, e procurávamos encontrar outra raça para o cruzamento industrial para vender borregos para carne, mas o valor do borrego há 5 anos não era o que é agora. Então, optámos por uma raça pura. Numa pesquisa para encontrar o animal que melhor se adaptava às nossas condições edafoclimáticas, e de que gostássemos, surgiu a Berrichon du Cher. Estivemos indecisos entre esta e a Romane, mas

somos apenas dois e a Romane tem um maneio mais exigente. Uma das razões pelas quais escolhemos Berrichon du Cher foi pelo ciclo ovárico contínuo, pois podemos escolher a época mais conveniente, a nosso ver, para ter os animais a parir. Quanto vale o negócio da genética comparativamente com o da carne? São negócios que não se podem comparar, uma vez que têm objetivos diferentes, ainda que sejam essenciais um 040

ao outro. Além disso, envolvem volumes de produção diferentes. Como caracterizam os vossos animais? Procuramos ter um leque grande de genética, isto porque queremos satisfazer as necessidades dos produtores. Temos, por um lado, animais com traços predominantemente cárnicos que seguem para cruzamentos industriais para produção de carne. E, por outro lado, animais com traços maternais


Entrevista a um produtor de Berrichon Du Cher

GENÉTICA | OVINOS DE CARNE

Nuno Rosado, Carolina Sequeira Cabral e Pilar Alexandra Rosado apostaram na raça Berrichon Du Cher. Hoje têm um efetivo puro de 60 fêmeas reprodutoras e 2 machos, provenientes de 5 casas entre França, Espanha e Portugal.

que se destacam, que na sua maioria seguem para casas de produtores que pretendem dar continuidade à linha pura. Para tal ser possível, até à data comprámos ovelhas em 5 casas diferentes, tanto em França e em Espanha como, mais recentemente, em Portugal. Atualmente, temos um total de 60 fêmeas reprodutoras e 2 machos. Como fazem a seleção? Olhamos à conformação de acordo com o padrão da raça, aos aprumos, compramos animais que vêm dos centros de seleção e, de preferência, com a máxima pontuação. No catálogo do centro de testagem, por onde escolhemos, existem vários parâmetros pelos quais os animais são avaliados: aprumos e vistas do animal, ganhos médios diários, entre outros. Os carneiros que aqui temos vêm de centros de testagem de 2 casas.

Já pensaram fazer inseminação artificial? Já pensámos nisso, mas não é fácil encontrar palhetas de sémen aqui ou mesmo em França. Em Inglaterra sim, mas lá o mercado está mais direcionado para os concursos morfológicos do que para a produção propriamente dita. O que nós queremos são animais produtivos, rústicos, que acompanhem os rebanhos. Se tivessem que pôr a herdade toda a produzir ovelhas, optavam por esta raça pura ou cruzada? Cruzada. O ideal seria ter machos Berrichon du Cher e ovelhas Romane. Em termos de seleção, que objetivos têm para os próximos 5 anos? Melhorar, sempre. Essencialmente aumentar o valor genético dos nossos animais e, se o mercado assim o exigir, 041

aumentar o rebanho para dar resposta às sucessivas encomendas que vamos recebendo. É também muito importante continuar com o trabalho de divulgação da raça, uma vez que existem ainda muitos produtores que desconhecem o valor que a Berrichon Du Cher pode acrescentar a um rebanho. Como comercializam os animais? No início desta pequena aventura decidimos criar uma página no Facebook (Berrichon Du Cher & Suffolk Defesa Da Atalaia) para mostrar os nossos animais. À medida que o tempo foi passando a página foi crescendo e, atualmente, temos vídeos que chegam às três mil visualizações. Além desta página é muito importante o passar da palavra entre os produtores. Também temos estado presentes nas feiras agrícolas do alentejo e que têm sido muito importantes para divulgação e consequente venda dos animais.


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Como é o sistema alimentar? É baseado em pastagens e forragens. Os animais apenas são suplementados no pré e pós-parto de forma a termos a certeza de que a aquando do parto têm as reservas suficientes para suprir as necessidades das crias e delas. Depois do parto, o maneio difere um pouco entre as ovelhas que tiveram partos simples ou duplos. No primeiro caso, geralmente, a ovelha e o respetivo borrego são isolados das restantes nas primeiras 24 horas pós-parto. Depois deste período começamos a formar outro rebanho de ovelhas já paridas. No caso dos partos duplos, a duração do período em que estão isoladas das restantes depende muito da vitalidade dos borregos, que por serem dois exige mais cuidado. Aos borregos, ao fim de 10 dias, é-lhes dado acesso a comedouros seletivos com ração durante a noite e durante o dia acompanham as mães na pastagem. O maneio alimentar está diretamente relacionado com o maneio reprodutivo? Sim. A época de partos é em novembrodezembro e os animais são desmamados aos 2-2,5 meses. Portanto, as ovelhas e

os borregos são separados no início da primavera, o que permite às reprodutoras recuperarem totalmente a condição corporal que tenham perdido durante a lactação, e assim estarem em perfeitas condições para iniciarem um novo ciclo. Por norma, os machos começam a acompanhar os rebanhos entre julho e agosto. Como escolhem as borregas de substituição? O critério é pela mãe. Têm que ser ovelhas com grande potencial genético e sempre de partos duplos. Se forem de partos duplos de 2 fêmeas, ainda melhor, mas esse é um critério pessoal. Com quantos animais ficam para substituição? Não temos conseguido ficar com fêmeas, porque as encomendas têm sido muitas, mas este ano fizemos questão de ficar com 10 para aumentar o efetivo e fazer a substituição de animais que já tinham atingido o final da sua vida reprodutiva. Qual o destino final dos animais que criam? Como já referimos, tentamos ter sempre animais com traços mais cárnicos e outros 042

com traços mais maternais. Tendo isto em conta, o produtor escolhe aquilo que mais lhe convém para a sua situação. É mesmo muito raro enviarmos um animal direto para o matadouro e, quando isto acontece é mesmo porque este não corresponde às nossas expectativas e como tal não podemos nem queremos vendê-lo como reprodutor. Enquanto criadores de genética, a confiança que os outros produtores depositam em nós é muito importante e, por isso, todos os animais que saem da nossa exploração têm a nossa garantia de como vão estar à altura das exigências do comprador. Que indicadores utilizam, num negócio de genética, para perceberem se o negócio está no bom caminho? Por um lado, o facto dos produtores ficarem satisfeitos com os animais que levaram e voltarem à procura de mais e, consequentemente, trazerem outros compradores. E, por outro, conseguirmos vender todos os animais como reprodutores, que é o que tem acontecido. Para mais informações, contacte: Nuno Rosado | Email: defesa.atalaia@gmail.com Tel. 967 130 370


Entrevista a um produtor de Berrichon Du Cher

GENÉTICA | OVINOS DE CARNE

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ENTREVISTA A UM PRODUTOR DE BERRICHON DU CHER

UMA RAÇA COM FORTE APTIDÃO MATERNAL

HÁ CINCO ANOS, NUNO LOBINHO DECIDIU INVESTIR NUM REBANHO PURO DE BERRICHON DU CHER PARA VENDER COMO GENÉTICA. NA SUA EXPLORAÇÃO, SITUADA EM BARRO BRANCO, CONCELHO DE BORBA, TEM ATUALMENTE 40 FÊMEAS E 4 MACHOS EM REGIME EXTENSIVO PERMANENTE QUE VENDE AO DESMAME ENTRE OS 3 OS 4 MESES DE IDADE. Por RUMINANTES Fotos FG

N

os próximos anos tenho as encomendas preenchidas, diz-nos Nuno Lobinho. Há cinco anos decidiu introduzir um rebanho de ovelhas Berrichon, sem grandes certezas, pois só tinha tido contacto com a raça na exploração dum criador vizinho e pela internet. Os animais que vende são essencialmente para cruzamentos industriais. “São vendidos ao desmame por volta dos 3,5-4 meses, se eu tivesse mais área, e mais tempo, tinha só reprodutores para vender numa idade mais avançada.” Para onde vende os animais? Atualmente vendo para o Alentejo em

particular para Mértola, Espanha, e tenho as próximas encomendas para os Açores. Porque se tornou criador de genética e não de carne? Já tive outras raças para obter machos e fêmeas puras para genética, e não se adaptaram bem. Vi a Berrichon Du Cher e gostei muito da morfologia. Comprei os primeiros animais em Espanha, mas depois optámos por ir a França, com outros criadores, onde existem as linhas que achámos mais adequadas trazer para Portugal. Lá, comprei 10 fêmeas e 2 machos numa primeira vez, e depois outras 10 fêmeas e outro macho também da mesma casa. Foi nas visitas a França que percebemos a importância da parte 044

maternal, além da cárnica. Como eles dizem “Num país onde não houver uma boa linha maternal, é escusado introduzirem animais só com aptidão cárnica.” Porque escolheu esta raça? Por várias razões: a aptidão maternal, a adaptação ao clima, a facilidade de partos, o tamanho dos borregos à nascença e o seu desenvolvimento. São animais que não necessitam de estar estabulados, tanto podem estar em produção intensiva como extensiva. Têm uma boa adaptabilidade às nossas condições. Nesta parcela, por exemplo, o grande problema de verão são os picos, mas passo com o corta-matos e elas comem tudo.


Entrevista a um produtor de Berrichon Du Cher

GENÉTICA | OVINOS DE CARNE

Nuno Lobinho (com a sua filha) confia o trabalho de pastoreio aos seus 6 cães Border Collie.

Como seleciona os seus animais? Sobretudo pela parte maternal (partos duplos, qualidades maternais, peso ao desmame). Temos que ter animais mais corpulentos à vista, mas eu sou mais apologista da linha maternal. Como só introduzo a ração aos borregos aos 30-31 dias, peso os borregos aos 30 dias e avalio a aptidão leiteira das mães. Quantos partos tem por ano? Já tive 3 em 2 anos. Atualmente tenho 1 por ano: um lote vai parir em janeiro e o outro em março. Divido em 2 períodos porque vou repescar as ovelhas que não ficaram prenhes à primeira cobrição, o que não tem acontecido com frequência porque a fecundidade tem sido boa. Tenho os carneiros sempre separados. Quando os junto com as ovelhas há o efeito do macho e a sincronização dos cios. Antes de os introduzir desparasitoos. Se for uma altura em que há menos comida, dou-lhes um alimento com mais energia e proteína para fazer o flushing cerca de 8 ou 12 dias antes e vitaminas AD3E. Compra sempre os reprodutores em França? Sim. Normalmente faço uma seleção dos meus, com o cuidado de não haver consanguinidade.

E as fêmeas? Já comprei muitas fora, mas agora quero começar a ficar com algumas. Quando compra os carneiros, que fatores procura? Prefiro animais de linha maternal e reparo na morfologia — não quero carneiros que tenham os ossos muito grossos —, prefiro-os longilíneos e com cabeças mais pequenas para evitar problemas de parto. Nunca tive problemas a esse nível, são animais que parem e ficam logo no campo, principalmente se o tempo estiver bom, mesmo se forem partos duplos. Prefiro fêmeas de partos duplos e olho também aos ganhos médios diários e ao peso ao desmame. Como comercializa os seus animais? Já vendi para Espanha, mas hoje em dia a procura no nosso país é tanta que, por agora, quero vender cá para divulgar mais a raça e arranjar mais criadores. Quero que se sintam tão satisfeitos como eu. O seu cliente habitual compra os animais para cruzamento industrial ou para genética? Tenho muita gente interessada em fêmeas, para genética e para fazer efetivos, mas também tenho muitos criadores que têm outras raças e compram só machos para pôr nas explorações porque adaptam-se bem e 045

não causam problemas de parto. Além disso, o Berrichon Du Cher, como deriva de uma raça Merina, adapta-se muito bem ao extensivo, pode andar como uma Merina sem problemas. Como é o maneio alimentar? Baseia-se no pastoreio e nos fenos. Compro feno, 12 fardos grandes por ano de boa qualidade e têm chegado para o ano todo. Não dou ração, exceto na altura antes dos partos e na iniciação dos borregos após a avaliação aos 30 dias. Estes animais estão sempre com a cara na terra, deixam tudo limpo, são pouco selectivos. Já pensou em fazer presunto de borrego? Tenho isso em perspetiva, com o Berrichon Du Cher ou com animais cruzados. Qual o valor de partida para um animal puro desta raça? Depende muito. Há animais destes que chegam a valer quase 10.000 euros. Eu também já fiz a experiência de deixar animais até aos 8 meses e depois vendê-los mais caros (600 a 700 euros). Para mais informações, contacte: Nuno Lobinho | Email: nunolobinho @sapo.pt Tel. 965 450 333


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ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE LEITE

O PERÍODO SECO E O PRÉ-PARTO

UMA MÁ GESTÃO DO PERÍODO SECO NAS VACAS LEITEIRAS PODE TER UM IMPACTO NEGATIVO NÃO SÓ NA PRODUÇÃO DE LEITE, MAS TAMBÉM NA REPRODUÇÃO E NA SAÚDE DOS ANIMAIS, PODENDO DAR ORIGEM A PROBLEMAS METABÓLICOS E INFECIOSOS.

LUIS RAPOSO Engenheiro zootécnico Dep.to Ruminantes Reagro l.raposo@reagro.pt

N

o período seco da vaca leiteira, normalmente 60 dias, ocorrem inúmeras mudanças fisiológicas de enorme importância para o seu ciclo produtivo. É fundamental compreender que este não é apenas um período de descanso da vaca, mas sim um período no qual se pretende proporcionar uma transição adequada entre duas lactações: uma que termina e outra que se inicia em breve, já que os 60 dias do período seco coincidem com os últimos 2 meses de gestação da vaca. Para proporcionar uma transição adequada e conseguir um bom arranque da lactação,

há que ter em consideração alguns pontos chave neste período, desde requisitos nutricionais, como também fatores relacionados com o maneio, sanidade e bem-estar. Uma má gestão do período seco pode ter um impacto negativo não só na produção de leite, mas também na reprodução e na saúde das vacas, podendo dar origem a problemas metabólicos e infeciosos. Para iniciar o período seco, há que proceder à secagem da vaca cerca de 45 a 60 dias antes do parto. Este processo poderá variar de acordo com o maneio da exploração, a condição corporal das vacas e o seu nível de produção. Especialmente quando o nível de produção é elevado, um método de secagem progressiva poderá ter um impacto benéfico no comportamento da vaca, nomeadamente, na redução do stress e do desconforto dos animais. A figura 1 demonstra a relação entre o método de secagem utilizado e o seu efeito no comportamento dos animais. Neste caso, o método de secagem progressiva está relacionado com períodos médios de descanso mais prolongados quando comparado com um método de secagem 046

mais abrupto. Além disso, existe também, posteriormente, um efeito melhorador da produção leiteira no início da lactação seguinte. A redução da frequência da ordenha para apenas uma por dia nos últimos 5 a 7 dias de lactação, também ajuda a atingir estes objetivos. Uma vez iniciado o período seco, permite-se a recuperação e reestruturação da glândula mamária da vaca (úbere), tão importante e necessário após o longo período da lactação anterior, e consequentemente a renovação das suas células secretoras. Períodos secos muito curtos penalizam esta renovação e, por conseguinte, penalizam a produção da lactação seguinte. Se, por outro lado, forem demasiado longos, também se revelam penalizadores ( figura 2). Como resultado, vários estudos mostram uma degradação dos marcadores do fígado, assim como um aumento do stress oxidativo, durante períodos secos demasiado curtos. Além disso, existe ainda um efeito de interação entre a duração do período seco e o método de secagem praticado, no qual o efeito adverso de períodos secos curtos aumenta em caso de secagem abrupta.


O período seco e o pré-parto

ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE LEITE

FIGURA 2 EFEITO DA DURAÇÃO DA SECAGEM NA PRODUÇÃO LEITEIRA DA LACTAÇÃO SEGUINTE

100 Taxa de produção leiteira corrigida (kg/dia)

Duração média dos periodos de descanso (min)

FIGURA 1 EFEITO DO MÉTODO DE SECAGEM SOBRE O COMPORTAMENTO

90 80 70 Secagem progressiva

60 50

Secagem abrupta

0

1

2

3

4

5

6

7

28

27,6

28

27,0

27

26,6

27 26 26

25,6

25 25

Nº de dias do período seco

0-2

3-5 6-8 Nº de semanas em período seco

9-12

Fonte: Rajala, Schultz et al., 2017

Fonte: Kok et al., 2017

FIGURA 4 EFEITO DO TEOR EM FIBRA NA INGESTÃO EM PRÉ-PARTO

45

2,2%

40

2,0%

2,03% Ingestão (% peso vivo)

Produção leiteira (kg/dia)

FIGURA 3 EFEITO DA DURAÇÃO E DO MÉTODO DE SECAGEM SOBRE A PRODUÇÃO LEITEIRA NOS PRIMEIROS 120 DIAS DE LACTAÇÃO

35

Secagem abrupta

30

Secagem progressiva

25

25-44

45-54

55-64

1,8% 1,68% 1,6%

1,4%

65-79

29,7

Duração do período seco

42,5

53,6

NDF (%MS) Fonte: Gott et al., 2017

Este efeito é verificado pela consequente redução na produção leiteira ( figura 3). O período de pré-parto, sensivelmente as últimas 3 semanas do período seco, é o período de maior proximidade do parto, no qual o crescimento acelerado do feto, a síntese de colostro, e a depressão da imunidade e da capacidade de ingestão de alimento aumentam substancialmente as necessidades nutricionais da vaca. Para colmatar estas alterações, o objetivo é maximizar o consumo de matéria seca. Do ponto de vista nutricional, como demonstra a figura 4, um dos principais fatores de variação na ingestão é o teor de fibra da ração, que determina também o seu volume. Para favorecer a ingestão e a digestibilidade da ração no início da lactação, a forragem principal deve

1,64%

começar a ser fornecida desde a fase de pré-parto, permitindo à população microbiana do rúmen adaptar-se e garantir uma contínua dinâmica das suas fermentações. Ainda assim, a ingestão durante as últimas 3 semanas de gestação regista geralmente uma diminuição gradual que se acentua mais durante os últimos 7 dias anteriores ao parto ( figura 5). Algumas medidas de maneio poderão ser adotadas com o objetivo de tentar minimizar variações na ingestão das vacas, mas a redução de ingestão nos dias que antecedem o parto é sempre uma certeza. Durante o período de pré-parto, a ingestão de matéria seca diminui enquanto a exigência de nutrientes aumenta. Por isso é importante garantir uma dieta bem balanceada e torna-se indispensável aumentar a sua concentração. 047

Fonte: Hayirli et al., 2002

Existe uma relação importante entre os níveis de ingestão registados nos períodos antes e após o parto. No entanto, é o nível de ingestão imediatamente anterior ao parto que apresenta maior relação com o nível de ingestão dos primeiros 21 dias de lactação. Por esse motivo, maior do que a necessidade de maximizar a ingestão nas três semanas antes do parto, é o desafio de ter sucesso na transição para a ração de início da lactação e controlar a ingestão de energia nestes períodos. Durante grande parte do período seco, as necessidades energéticas são relativamente baixas. É por isso que na primeira parte desta fase o nível de energia ingerida representa um desafio, já que, apesar das reduzidas necessidades energéticas das vacas, a sua capacidade de ingestão ainda é alta. Deste modo, a


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FIGURA 5 EVOLUÇÃO DA INGESTÃO ANTES DO PARTO

FIGURA 6 IMPORTÂNCIA DO NÍVEL DE AMIDO DEGRADÁVEL NO PRÉ-PARTO

2,0

Ensaio 1

MSI (% peso vivo)

(Dann et Nelson, 2011)

Nível de amido degradável da ração (% MS)

1,6 1,4 1,2 1,0

Ensaio 2

(McCarthy et al., 2015)

1,8

-21

-19

-17

Fase de pré-parto

15,3

Início de lactação

21,5

11,5 +6,2

20,2

+8,7

Primíparas

Respostas zootécnicas (desvio em relação ao lote de controlo)

Multíparas

Ingestão (kg MS)

+0,8

-1,5

Produção leiteira (kg)

+1,2

-3,7

BHB (mg/dl)

-1,7

-1,5

-15

-13

-11

-9

-7

-5

-3

-1

Dias anteriores ao parto Fonte: NRC, 2001

Fonte: Overtan, 2015

Os hidratos de carbono são uma das principais fontes de energia numa ração de início de lactação. Por esse motivo a eficácia de uma ração nessa fase baseiase não só na adaptação previamente feita à ração de pré-parto, mas também ao adequado conteúdo em hidratos de carbono fermentescíveis em ambos os momentos ( figura 6). A adaptação da flora ruminal aos hidratos de carbono fermentescíveis é particularmente importante na fase de pré-parto, dado que a sua proporção aumenta de forma drástica na mudança para a ração de início de lactação. Uma boa gestão desta transição tem um impacto direto tanto ao nível da ingestão voluntária como da produção leiteira. De igual modo, também algumas das soluções existentes para o suporte do metabolismo energético no arranque da lactação, nos mostram que o seu real interesse requer que a sua distribuição comece logo pré-parto ( figura 7).

principal armadilha a evitar é o excesso de consumo de energia. A sobrealimentação e o excesso de energia neste período poderão diminuir a sensibilidade à insulina, predispondo as vacas para uma diminuição da ingestão e conduzindo assim a uma ainda maior mobilização de reservas corporais no início da lactação. Assim, nas diferentes fases do período seco, quando falamos sobre fornecimento de energia, o desafio consiste em garantir uma ingestão que, por um lado satisfaça as necessidades, mas por outro evite os excessos. Dada a natureza variável da ingestão no pré-parto, é importante ajustar a densidade energética da ração de acordo com a ingestão realmente observada. Ou seja, perante uma ingestão de 10 kg de MS num lote de elevada percentagem de primíparas (novilhas), por exemplo, será necessária uma densidade energética mais elevada que num lote onde exista uma elevada percentagem de vacas multíparas que regista por exemplo uma ingestão de 15 kg MS.

Relativamente às necessidades proteicas, são também relativamente moderadas em fase de pré-parto e podem ser atendidas com rações formuladas com cerca de 12-13% MAT. Para cobrir as necessidades adicionais necessárias para o crescimento, pode ser recomendável aumentar a ingestão de proteína digestível. Um reforço do teor de proteína by-pass pode melhorar o crescimento e o início da lactação das vacas primíparas. APORTE DE MINERAIS As necessidades de cálcio aumentam drasticamente após o parto e para responder a esta necessidade o metabolismo da vaca tenta adaptar-se de várias formas: aumentando a absorção intestinal, libertando cálcio ósseo e reduzindo a excreção renal. O aporte de cálcio deve ser calculado de acordo com a estratégia implementada para prevenir as situações de hipocalcemia. Em grande parte dos casos de febre do leite, existe uma relação muito estreita entre

FIGURA 7 EFEITO DO APORTE DE METIONINA DIGESTÍVEL 21 DIAS ANTES E ATÉ 30 DIAS APÓS O PARTO 18

42

Controlo

17

MetDi

Ingestão (kg MS)

16

15,2

15 14 13 12

12,2

12,7

38,1

38 35,7

13,3

34

11

32,6 30,4

30

10 9 8

Pré-parto

26

Pós-parto Fonte: Osório et al., 2013

Produção leiteira (kg)

TP (g/kg) Fonte: Osório et al., 2013

048


O período seco e o pré-parto

ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE LEITE

hipocalcemia, metabolismo energético e distúrbios de saúde do peri-parto. No caso de um Balanço catiónicoaniónico da dieta (DCAB) positivo na dieta pré-parto, o teor de cálcio da ração deve ser baixo para estimular a mobilização a partir de reservas ósseas. No caso de uma ração com DCAB negativo, é necessário compensar o aumento das perdas de cálcio por

excreção urinária e, por conseguinte, aumentar o teor da ração. As rações com um baixo nível DCAB permitem aumentar a concentração de cálcio no sangue e reduzir a frequência de vários distúrbios pós-parto: febre do leite, retenção placentária, metrite, acetonemia subclínica. O controlo desses distúrbios pode favorecer uma melhor produção de leite. Para ser totalmente eficaz, o DCAB

FIGURA 9 EFEITO DO TEOR DE POTÁSSIO DA RAÇÃO DE PRÉ-PARTO EM CASOS DE FEBRE DO LEITE

FIGURA 8 EFEITO DO NÍVEL DE DCAB EM PRÉ-PARTO, SOBRE A PRODUÇÃO LEITEIRA NOS 21 PRIMEIROS DIAS DE LACTAÇÃO

25 20

42,1

42

Vacas leiteiras com febre do leite Vacas leiteiras saudáveis

43,8

44

Nº de vacas

Produção leiteira (kg)

46

40,5 40 38 36

da ração nas 3 semanas anteriores ao parto deverá ser negativo ( figura 8). Quer a ração de pré-parto seja formulada com um DCAB negativo ou não, deve ser dada também especial atenção ao seu teor de potássio. Algumas forragens têm níveis muito variáveis e às vezes muito altos de potássio. Em excesso, o potássio perturba o metabolismo do cálcio e do magnésio e aumenta os casos de febre do leite ( figura 9).

12

15 10

10 18

5

+183

+59

0

-74

DCAB em pré-parto (mEq/kg MS)

10

10

2,1%

3,1%

2 1,1%

Teor em K (%MS)

Fonte: Sweenet et al., 2015

Fonte: Horst et al., 1997

049


#44 | jav. fev. mar. 2022

REVISTA RUMINANTES

Uma mão cheia de amêndoas contem 6 g de proteina, 4 g de fibra e 13 g de gordura insaturada.

A casca da amêndoa pode ser utilizada para diversos fins, nomeadamente para as camas dos animais.

A capota é a parte mais exterior da amêndoa. É um subproduto da produção de amêndoas, representando uma oportunidade para a produção de ruminantes.

Figura 1 A composição da amêndoa (adaptado de Almond Board of California, Março de 2016)

NUTRIÇÃO | BOVINOS

CAPOTA DE AMÊNDOA UMA FONTE DE FIBRA

QUANDO A DISPONIBILIDADE DAS FONTES DE FIBRA CONVENCIONAIS É REDUZIDA E CHEGA ÀS EXPLORAÇÕES A PREÇOS ELEVADOS, O PRODUTOR PODE OPTAR POR UTILIZAR FONTES DE FIBRA ALTERNATIVAS EXISTENTES NO MERCADO, COMO A CAPOTA DE AMÊNDOA. POR Pedro Castelo, Diretor Técnico Zoopan, Eng. Zootécnico, pedro.castelo@zoopan.com | Sara Garcia, Eng. Zootécnica, Depto. técnico-comercial, sara.garcia@zoopan.com Foto F123rtf (barmalini)

D

evido à conjuntura mundial e ao seu interesse económico, a produção de amêndoa tem vindo a crescer exponencialmente em Portugal. Por esta razão, a disponibilidade de capota de amêndoa tem também vindo a aumentar, sendo um subproduto com elevado interesse nutricional para ruminantes. Atualmente são utilizadas inúmeras matérias-primas como fontes de fibra, que servem para equilibrar a dieta dos animais em termos de energia/fibra/proteína. No entanto, existe uma grande variabilidade das fontes de fibra no que diz respeito ao valor nutritivo, à digestibilidade e ao valor efetivo da fibra. A utilização de valores mínimos de fibra bruta e fibra efetiva é indispensável em ruminantes de elevada performance

(submetidos a um programa alimentar que permite exprimir o seu potencial genético, produção de carne ou leite). É fundamental para prevenir problemas metabólicos, como é o caso da acidose. FACTOS SOBRE A FIBRA

• A fibra é um ingrediente essencial na dieta dos ruminantes. Aporta energia, mantém o normal funcionamento do rúmen e tem um impacto elevado sobre a gordura no leite; • O valor da “fibra efetiva” de um alimento ou dieta é crítico. Refere-se à capacidade de um alimento para estimular a atividade de mastigação e, consequentemente, a produção de saliva. A produção de saliva funciona como um tampão, de forma a manter o pH ruminal em valores ideais para o crescimento da população microbiana no rúmen: 6,2 a 6,6; 050

• Se não houver fibra longa ou fibra efetiva, não haverá mastigação suficiente durante a alimentação e ruminação e, portanto, não será produzida saliva suficiente, levando a uma queda do pH ruminal e a um aumento do risco de acidose ruminal; • Os animais podem sofrer dois tipos de acidose: - acidose ruminal subclínica, quando o pH ruminal está entre 5,5 e 6 - as vacas podem não parecer doentes, mas ocorre uma ligeira diminuição no consumo de alimento ingerido, uma redução do teor de gordura no leite e ocorrência de diarreias; - acidose láctica, quando o pH do rúmen está abaixo dos 5,5 e o animal está visivelmente doente. Neste caso ocorre uma acentuada diminuição do consumo de alimento e, consequentemente, da produção.


Capota de amêndoa, uma fonte de fibra

NUTRIÇÃO | BOVINOS

A CAPOTA DE AMÊNDOA ENQUANTO FONTE DE FIBRA ALTERNATIVA

oportunidade de obter uma fonte de fibra alternativa em quantidade e com um baixo custo. A capota de amêndoa é a casca mais exterior do fruto (Figura 1), e pode representar até 50% deste, sendo retirada durante a colheita, ainda no campo. Devido ao seu valor nutricional, a capota de amêndoa pode representar um complemento às forragens, tendo em conta o seu valor médio de fibra efetiva (quando colocada inteira à disposição dos animais), sendo também uma fonte razoável de energia, com elevada palatibilidade para os animais. Terá sempre que ser vista como um complemento à dieta, tendo em conta o seu nível baixo de proteína. A capota de amêndoa é também bastante rica em minerais, como é o caso do ferro, manganês e zinco. Na figura 2 está representada a diferença entre cada uma das fontes de fibra consideradas para esta análise, no que diz respeito à energia metabolizável, à

De acordo com o FAOSTAT 2015, os Estados Unidos da América são os maiores produtores mundiais de amêndoa (Prunus dulcis L.), detendo cerca de 58% da produção mundial deste fruto de casca rija, seguidos pela Espanha, com 7% da produção mundial, e pela Austrália, com 5%. De acordo com o último Recenseamento Agrícola (INE, 2019), entre 2009 e 2019 a área destinada a amendoal duplicou em Portugal, estando maioritariamente distribuída nas regiões de Trás-osMontes, Alentejo e Algarve. Consequência deste aumento da área destinada a esta cultura, também a disponibilidade dos subprodutos da amêndoa aumentou. Sem por um lado, para um produtor de amêndoas, a capota de amêndoa (também chamada de “casca verde” ou “cascarão”) representa um resíduo, para uma exploração pecuária pode representar uma

FIGURA 2 COMPARATIVO ENTRE AS ESPECIFICAÇÕES NUTRICIONAIS DE DIFERENTES FONTES DE FIBRA Energia metabolizável (MJ ME/kg matéria seca) Palha

0

Feno

Capota de amêndoa

5

Proteina bruta (% matéria seca) Palha

0

Trigo

10 Capota de amêndoa

Feno

5

15 Trigo

10

15

Fibra neutro detergente (NDF)

Capota de amêndoa

Trigo

0

25

Palha

Feno

50

75

100

Valor fibra efetiva (baixo/médio/elevado) Capota de amêndoa

Trigo Baixo

Feno Médio

Palha Elevado

proteína bruta, à fibra neutro detergente (NDF) e ao valor de fibra efetiva. Da análise deste gráfico comprova-se o descrito acima acerca do interesse nutricional da capota de amêndoa no que diz respeito ao seu valor de fibra e de energia. A figura 3 complementa este comparativo, considerando também o nível de digestibilidade da capota de amêndoa, quando comparada com a palha de vários cereais e ainda com o bagaço de palmiste. Tendo em conta a elevada disponibilidade da capota de amêndoa em algumas regiões do país, ficam algumas sugestões relativamente à utilização deste subproduto: - deverá ser introduzida gradualmente na dieta dos animais (ruminantes) da exploração; - deve ser considerada um suplemento; - complementar com alimentos ricos em proteína e energia, para equilibrar a composição da dieta; - como se trata de um subproduto, deverá ser manuseado com cuidado – se em contacto com humidade, poderá desenvolver fungos, aumentando o risco de aparecimento de micotoxinas; - se possível, misturar a capota de amêndoa com outras forragens de melhor qualidade nutricional, com recurso a unifeed; - se a capota de amêndoa for oferecida aos animais separadamente, limitar a sua incorporação na dieta a 30% da matéria seca ingerida por animal e por dia; - a utilização da capota de amêndoa não exclui na totalidade a utilização de uma palha/feno de qualidade; - muitos produtores de amêndoa solicitam análises à composição nutricional da capota de amêndoa, pelo que o produtor pecuário deverá também solicitar o acesso a essas mesmas análises nutricionais.

FIGURA 3 VALORES NUTRITIVOS DE ALGUMAS FONTES DE FIBRA ALTERNATIVAS Alimento

Matéria seca* (%)

Energia metabolizada (MJ/kg MS)

PB (%)

NDF (% MS)

Digestibilidade

Valor fibra efetiva

Capota de amêndoa (inteira)

90 (88-92)

10 (8,5-10,5)

5 (4-6)

35 (30-45)

Médio

Médio

Capota de amêndoa (moída)

90 (88-92)

10 (8,5-10,5)

5 (4-6)

35 (30-45)

Médio

Reduzido

Palha de cevada

89 (74-93)

6,5 (2,2-8,5)

2,8 (0,2-28,8)

77 (55-87)

Reduzido

Elevado

Palha de aveia

89 (73-93)

6,2 (4,3-10)

2,8 (0,1-11,9)

73 (55-79)

Reduzido

Elevado

Bagaço de palmiste

94 (91-96)

11,1 (9,3-12,4)

15,7 (14,8-16,3)

65 (55-74)

Médio

Reduzido

Palha de arroz

85 (52-94)

6,7 (5,3-8,9)

4,0 (1,9-5,0)

63 (54-69)

Reduzido

Elevado

Palha de trigo

92 (65-96)

5,1 (3,8-9,3)

2,8 (0,2-8,8)

73 (54-86)

Reduzido

Elevado

* O valor nutritivo dos alimentos pode ter uma variabilidade elevada.

051


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REVISTA RUMINANTES

António Gomes (sócio), Joaquim Gomes (sócio), Paulo Neto (funcionário), João Marques (Nanta)

Silo de pastone. O pastone foi introduzido na exploração como cultura complementar ao milho.

052


GRANJA CIRCULAR | CERTIFICAÇÃO NANTA

GERIR MELHOR PARA PREPARAR O FUTURO

NA SOCIEDADE AGRÍCOLA IRMÃOS FERREIRA GOMES ESTÁ EM CURSO UM PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO EM SUSTENTABILIDADE - "GRANJA CIRCULAR", DESENVOLVIDO PELA NANTA E CERTIFICADO PELA AENOR. EM FOCO ESTÃO OS ASPETOS AMBIENTAL, SOCIAL, ECONÓMICO E DE BEM-ESTAR ANIMAL. Por Ruminantes | Fotos FG

A

Sociedade Agrícola Irmãos Ferreira Gomes, dedica-se à produção de leite de vaca. Esta empresa, situa-se na localidade de Fontão, no concelho de Paços de Ferreira, e tem atualmente 125 vacas em produção e um total de 1,6 milhões de litros por ano. Todo o leite ordenhado é entregue aos Lacticínios Paiva para produção de queijo. Há 3 anos iniciaram um projeto de certificação desenvolvido pela Nanta e certificado pela AENOR, com vista à certificação em sustentabilidade nas vertentes ambiental, social, económica e bem-estar animal. Este programa de certificação é exclusivo para clientes da Nanta. Em dezembro passado, falámos com Joaquim Gomes, um dos sócios da empresa, sobre a importância deste passo para o futuro do negócio. A ALIMENTAÇÃO É utilizada silagem de milho, silagem de erva, milho pastone, palha, dreche e alimento concentrado. Os três últimos são adquiridos fora da exploração. O arraçoamento é feito para um lote único de produção, distribuído, por unifeed, duas vezes por dia. Todas as vacas em produção têm acesso ao mesmo alimento. A GENÉTICA Só utilizam a raça Holstein. Trabalham com uma empresa de sémen no melhoramento genético do efetivo. Os critérios estão orientados em cerca de 40% para produção de leite, 30% para a vida produtiva e 30% para patas.

OS PRINCIPAIS INDICADORES NA GESTÃO DO NEGÓCIO Diariamente, ao chegar à exploração, observam o parque de partos e, seguidamente, a manjedoura para perceber se sobrou alimento do dia anterior. Os indicadores de gestão do negócio são: o custo alimentar vaca/dia (média de 5,6 euros/vaca/dia para 2021, faltando apurar dezembro), e sobretudo o IOFC da exploração - margem libertada em média por cada animal para pagar todos os restantes custos não alimentares e gerar lucro. Nesta exploração temos para 2021 um IOFC de 5,4 euros ( faltam apurar novembro e dezembro à data da entrevista). Em 2021, a incorporação de pastone produzido na exploração, ajudou a manter a margem bruta do negócio, face à subida observada no custo dos alimentos concentrados adquiridos fora da exploração. Porque é que decidiram aderir à Granja Circular? Quando aderimos a este projeto, em 2019, considerámos que seria uma maisvalia termos a exploração certificada. Por um lado, permite-nos uma melhor gestão, já que temos auditorias que nos obrigam a manter os registos de tudo o que se passa. Por outro, recebemos continuamente orientações sobre como melhorar processos de trabalho e sobre a sustentabilidade económica: são analisados os custos de produção do leite e propostas alternativas para otimizar esses custos.

053

Que passos envolveu o processo para conseguir a Classificação A da "Granja Circular" e o Certificado de Conformidade da AENOR? Desde 2012, antes de decidirmos aderir a este projeto, que temos vindo a trabalhar com a Nanta, principalmente nos aspetos económico e de bem-estar animal. Muita informação já estava compilada e com protocolos de trabalho estabelecidos. A parte económica e de bem-estar animal foi relativamente fácil. Na parte ambiental tivemos que melhorar vários aspetos, nomeadamente no que se refere ao armazenamento de chorume, à formação de crosta sobre as lagoas (para impedir a libertação de azoto) e ao espalhamento e enterramento do chorume e estrumes. Quais as melhorias prioritárias a implementar identificadas pelas auditorias feitas no âmbito da Certificação Granja Circular? Em termos de bem-estar animal, as camas das vacas em produção são uma prioridade, até porque se irão refletir na produção de leite da exploração. Mas teremos que aguardar por um contexto económico mais favorável. Porque considera importante ir além da sustentabilidade ambiental e englobar também a sustentabilidade social e económica, assim como o bem-estar animal? A sustentabilidade ambiental é uma exigência para nós, enquanto empresa, porque nos preocupamos com o meio ambiente que nos rodeia. E é também, cada vez mais, uma exigência do


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REVISTA RUMINANTES

consumidor final. A sustentabilidade social, por sua vez, tem reflexos imediatos nos resultados produtivos e financeiros da exploração, porque se relaciona muito com a satisfação, formação e bem-estar dos empregados. Pensando no futuro, que benefícios pensa que o certificado de Granja Circular trará para o seu negócio? Prevê novas oportunidades? Penso que vai ser o caminho do futuro. As empresas de lacticínios vão ter que comprar em explorações certificadas, para poderem certificar os seus produtos. Acredito que, se produzir de acordo com todas as exigências europeias e do mercado, de forma comprovada pela certificação, terei mais facilidade em vender o meu leite e a melhor preço. Recomenda esta certificação a outros produtores? Sim. A certificação faz com que se esteja sempre a medir a rentabilidade económica da exploração, e a avaliar o cumprimento das obrigações europeias sobre o ambiente e o bem-estar animal. Espero que, futuramente, esta certificação seja um aspeto de diferenciação que permita ao produtor vender mais facilmente e melhor o seu produto.

As medidas que tivemos que tomar para conseguir a certificação transformaram-se, direta ou indiretamente, em mais receitas ou em menos custos e têm vindo a preparar a exploração para o futuro. ACERCA DE GRANJA CIRCULAR A Granja Circular é a proposta da Nanta para promover a sustentabilidade das explorações pecuárias. Alinhado com o Roadmap da Nutreco 2025, é um modelo de sustentabilidade com o qual se pode demonstrar o grau de sustentabilidade de uma exploração agrícola com base em quatro pilares fundamentais – sustentabilidade económica, ambiental, social e de bem-estar animal. Com o Decálogo da Granja Circular como guia, o modelo de sustentabilidade da Nanta classifica as explorações em três categorias (A, B e C) com base nos seus resultados de sustentabilidade e fornece recomendações para melhoria contínua. Com uma abordagem multidisciplinar, inclui várias ferramentas de cálculo e avaliação e tem indicadores solventes, mensuráveis e práticos, sendo possível a verificação da certificação de sustentabilidade pela AENOR. Mais informações em www.nanta.es/pt-pt/ granja-circular. 054

DADOS GERAIS DA EXPLORAÇÃO Nome

Irmãos Ferreira Gomes

Localização

Fontão, Carvalhosa, Paços de Ferreira

Tipo exploração

Vacas leiteiras, estabuladas

Efetivo total

300

Nº vacas em ordenha

125

Produção anual

1,6 milhões litros

Equipa na exploração

3 pessoas

Medidas de biossegurança

Vedação perimetral da exploração, Controlo de acessos, Necrotério, controlo de animais domésticos errantes, protocolos vacinais e sanitários.

Nº ordenhas diárias

2

Tempo de ordenha do efetivo

4 horas/dia

Lotes de produção

Lote único

Produção média anual do rebanho

34 litros/vaca/dia

GB(%)

3,9

PB(%)

3,3

CCS

250.000 cél./ml

Idade ao 1º parto

24 meses

Nº I.A./vaca gestante (2021)

1,8


GAMA DE UNIFFEDS

AUTOMOTRIZES E REBOCADOS

Travessa Cruz de Pedra nº 4/6 | 4750-543 Lijó, Barcelos | maciel.lda.comercial@gmail.com | +351 253 808 420

055


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REVISTA RUMINANTES

José Sequeira, CEO e acionista da empresa Lacticínios do Paiva, ladeado pelos engenheiros responsáveis pela produção, Ricardo Valente e Jorge Fernandes.

INDÚSTRIA | LACTICÍNIOS DO PAIVA

"ESTAMOS NO MERCADO INTERNACIONAL"

MAIS DO QUE UMA EMPRESA AGROALIMENTAR PORTUGUESA ESPECIALIZADA EM LACTICÍNIOS E SEUS DERIVADOS, A LACTICÍNIOS DO PAIVA, S.A ORGULHA-SE DE SER HOJE UM IMPORTANTE POLO DE DINAMIZAÇÃO SOCIOECONÓMICA DE TODA A REGIÃO DURIENSE E TRANSMONTANA. ENTREVISTÁMOS JOSÉ SEQUEIRA, CEO E ACIONISTA, QUE NOS CONTOU COMO TEM VINDO A PREPARAR A EMPRESA PARA O FUTURO

N

Por RUMINANTES | Fotos FG

os últimos anos, a empresa Lacticínios do Paiva tem procedido a contínuos investimentos na modernização dos seus equipamentos tecnológicos, nas estruturas necessárias para a realização dos processos associados ao Sistema de Gestão de Segurança Alimentar implementado e no recrutamento de recursos humanos especializados.

Assim preparada, “a Lacticínios do Paiva quer continuar a crescer internacionalmente, principalmente na Europa”, contou José Sequeira, presidente e acionista da empresa, à Ruminantes, em entrevista no passado mês de dezembro. A empresa Lacticínios do Paiva iniciou a sua atividade em 1933, mas em 1992 foi adquirida pela empresa Sequeira e Sequeira, S.A., uma empresa de distribuição alimentar por grosso e retalho com grande 056


"Estamos no mercado internacional"

INDÚSTRIA | LACTICÍNIOS PAIVA

experiência na comercialização de queijos: “Juntou-se uma atividade produtiva ( fabrico de queijos) a uma empresa com muito conhecimento comercial”, explicou José Sequeira. Em 1992 a empresa transformava apenas leite de vaca, de muitos pequenos produtores da região, totalizando cerca de 12 mil litros por dia, para fazer queijo prato e bola. Hoje a empresa recebe o leite de mais de 50 produtores na região norte (Barcelos, Famalicão, Paços de Ferreira), totalizando 100.000 litros diários. Como é transformado o leite recolhido? Maioritariamente é transformado em queijo, fresco ou curado. Fazemos manteiga e ainda vendemos o soro concentrado. O queijo fresco representa cerca de 13% das vendas da empresa. Que investimentos têm previstos? Estamos a criar infraestruturas para melhorias ambientais. Vamos também aumentar a fábrica para termos maior capacidade de produção com uma nova linha de queijo fatiado, maior capacidade de frio e, essencialmente, estruturas para o futuro.

Têm algum critério para selecionar os produtores de leite? O nosso critério principal é a qualidade do leite produzido na exploração. Fazemos o controlo diário de todo o leite que entra na fábrica, embora também sejam feitos controlos ao leite quer nas explorações, quer por parte das direções regionais. Também olhamos às infraestruturas das explorações. As explorações com certificação em bem-estar animal, ambiental, social… são mais interessantes como fornecedores? Todas as certificações são interessantes para os produtores, em primeiro lugar porque ajudam a melhorar os métodos de trabalho, e também porque ajudam na venda do leite. Nós próprios somos certificados e isso tem-nos trazido vantagens nos pontos referidos. Há certificações que nos permitem vender em

Onde querem chegar? Nos próximos 5 anos poderemos estar a recolher 150.000 litros de leite por dia. Mantemos a perspetiva de produzir o mesmo tipo de produtos que fazemos hoje. Em 2022 vamos lançar novos produtos, também dentro desta linha atual. Em que mercados comercializam os queijos? Já não vivemos apenas com Portugal. Se tivéssemos que trabalhar só com o mercado nacional, não sobrevivíamos. A exportação tem corrido bem e representa hoje cerca de 18%. A ideia é continuar a crescer internacionalmente, principalmente na Europa. 057

todo o lado, e isso é muito bom. O mesmo se passará com as explorações leiteiras que tenham boas certificações. Porque deve um produtor de leite vender aos Lacticínios do Paiva? Um ponto importante que nos diferencia dos outros é que nós não limitamos o crescimento dos produtores, temos como política deixar produzir mais leite, se essa for a vontade deles. Não pomos travão à produção de leite. Por outro lado, há segurança de escoamento porque nós estamos no mercado internacional. Para além disso, nesta empresa qualquer produtor tem acesso fácil a falar com quem decide, existe essa proximidade. Alguma vez perdeu um produtor de leite que não desejava perder? Nunca. Somos uma empresa que olha para o futuro. Nós

só poderemos existir se tivermos produtores, por isso o objetivo é comum, temos que ter um relacionamento equilibrado e interessante para ambas entidades. É isso que tentamos fazer. Neste momento, atravessamos um período difícil para os dois lados, estamos no meio de uma guerra de preços. Mas os produtores acreditam na empresa, e nós acreditamos nos produtores. A nossa estratégia é continuar a crescer, de uma forma consolidada. Com que critério paga o leite? Como é habitual, litros/ gordura/proteína do leite, de acordo com uma tabela. Qual é o produto estrela dos Lacticínios do Paiva? O queijo amanteigado e também cada vez mais o nosso Queijo Fresco Ultra filtração "o único produzido em Portugal".


#44 | jav. fev. mar. 2022

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FIGURA 1 Medidores de vácuo digitais portáteis VaDia® (Biocontrol, Noruega)

SAÚDE E BEM-ESTAR | BOVINOS DE LEITE

OTIMIZAÇÃO DA ORDENHA O TRABALHO APRESENTADO TEVE POR OBJETIVO CARACTERIZAR A PREVALÊNCIA DE ORDENHA BIMODAL E SOBREORDENHA EM VÁRIAS EXPLORAÇÕES LEITEIRAS EM PORTUGAL CONTINENTAL, ASSIM COMO DETERMINAR FATORES DE RISCO PARA A SUA OCORRÊNCIA A NÍVEL DE VACA E DE VACARIA. Por Sebastião Caldeira Fernandes (Serbuvet, Lda); Gonçalo Pereira (Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa);

A

Ricardo Bexiga (Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa; Serbuvet, Lda)

ordenha corresponde à atividade desempenhada numa exploração leiteira com maior dispêndio de mão-de-obra, podendo as tarefas relacionadas com a ordenha (condução das vacas à sala e para os parques, preparação do úbere, ordenha, lavagem do sistema) chegar a utilizar 50% da força de trabalho disponível na exploração. Nos Estados Unidos da América, no ano de 2018, os custos relacionados com o trabalho numa exploração leiteira corresponderam em média a 10,6% da receita bruta da

operação. Como tal, pela sua importância na estrutura do trabalho na produção de leite e na saúde do úbere, a otimização do processo de ordenha tem o potencial de reduzir os encargos duma vacaria. A secreção do leite nos alvéolos da glândula mamária é contínua, mas a sua remoção ocorre periodicamente. Nos intervalos entre ordenhas, o leite é armazenado em dois compartimentos: parte permanece nos alvéolos e pequenos ductos (leite alveolar) e parte é armazenado nos grandes ductos e na cisterna da glândula (leite cisternal). A quantidade de leite armazenada em 058

cada compartimento é dinâmica, sendo que 8 a 12 horas após uma ordenha, cerca de 20% do leite é cisternal e 80% encontra-se armazenado como leite alveolar. A estimulação táctil dos tetos e do úbere leva à libertação de oxitocina, seja pela sucção do vitelo, pelas mãos do ordenhador ou pelo movimento das tetinas. Cerca de 30 segundos após o início dessa estimulação, há um aumento significativo nas concentrações sanguíneas de oxitocina que levam à transferência do leite alveolar para a cisterna da glândula mamária, evento também conhecido por descida do leite.


Otimização da ordenha

SAÚDE E BEM-ESTAR | BOVINOS DE LEITE

A estimulação pré-ordenha procura promover a libertação de oxitocina e a descida do leite de forma a que quando as unidades de ordenha são colocadas nos tetos, haja ejeção do leite alveolar para a cisterna antes que ocorra a remoção do leite cisternal. Quando todo o leite armazenado na cisterna é removido antes da ejeção do leite alveolar, existe um período de redução ou mesmo ausência transitória de fluxo de leite, um fenómeno denominado de ordenha bimodal. Nestes períodos, o vácuo na ponta do teto aumenta, exacerbando forças de estiramento e compressão sobre os tetos, podendo também ocorrer uma penetração maior do teto no interior da tetina, comprometendo o fluxo de leite durante a ordenha. A ordenha bimodal pode resultar de uma estimulação inadequada da glândula mamária antes da colocação da unidade de ordenha ou de um período entre a estimulação e a colocação da unidade de ordenha (período de latência) demasiado curto. As recomendações atuais apontam para que a glândula mamária seja estimulada durante pelo

CARACTERIZAÇÃO Participaram neste trabalho 21 vacarias leiteiras do sul de Portugal continental, sendo que cada uma delas foi visitada uma vez durante a ordenha da tarde. Durante essa visita foram cronometrados os procedimentos de ordenha nos animais aos quais foi realizada uma avaliação dinâmica de vácuo na ordenha, incluindo qualquer tempo de contacto com os tetos (remoção dos primeiros jatos, colocação de desinfetante pré-ordenha, limpeza com papel, toalha ou escova mecânica) e o tempo decorrido desde a estimulação inicial até se colocarem as unidades de ordenha no animal. Foi recolhida informação acerca do número de lactações, número de dias em leite, produção, e outros indicadores do contraste leiteiro nestes animais. Foi também recolhida informação relativa às definições dos retiradores automáticos de tetinas, quando estes existiam. As medições do vácuo foram realizadas com dois medidores de vácuo digitais portáteis VaDia® (Biocontrol, Noruega, figura 1). Na figura 2 é possível visualizar um registo

menos 15 segundos, e para que decorram de 90 a 120 segundos entre o início da estimulação e a colocação da unidade de ordenha. Para além da ordenha bimodal, também a sobreordenha leva a perda de eficiência da ordenha. A sobreordenha define-se como o período em que o fluxo de leite desce abaixo de 300 g/minuto para todo o úbere ou abaixo de 75 g/minuto para um quarto individual. Durante a sobreordenha, existe uma redução da pressão intramamária para cerca de 90% do vácuo de ordenha, com um aumento nos níveis de vácuo e nas variações cíclicas no vácuo do bucal das tetinas, resultando em alterações relacionadas com congestão sanguínea nos tetos. Foi realizado um trabalho cujo objetivo foi caracterizar a prevalência de ordenha bimodal e sobreordenha em várias explorações leiteiras em Portugal continental, assim como determinar fatores de risco para a sua ocorrência a nível de vaca e de vacaria.

FIGURA 2 Registo gráfico digital de vácuo demonstrativo de uma ordenha padrão. O eixo vertical corresponde ao vácuo medido em kPa e o eixo horizontal ao tempo medido em intervalos de 30 segundos. A linha azul corresponde ao registo do vácuo no tubo curto de leite, a linha preta ao registo do vácuo na câmara do bucal de um teto anterior e a linha verde ao registo do vácuo na câmara do bucal de um teto posterior. As setas indicam quatro momentos da ordenha identificados. Seta azul corresponde ao início da ordenha, a seta amarela ao início do pico de fluxo, a seta preta ao início da sobreordenha e a seta cor-de-rosa ao fim da ordenha.

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30 FIGURA 3 Registo gráfico digital de vácuo demonstrativo de uma ordenha bimodal. A caixa vermelha salienta o aumento do vácuo abrupto nos 3 canais após o início da ordenha, correspondendo, portanto, a uma ordenha bimodal e a caixa amarela corresponde a um período de sobreordenha.

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FIGURA 5

FIGURA 6

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FIGURA 8

FIGURA 4 FIGURA 4 FIGURA 5 FIGURA 6 FIGURA 7 FIGURA 8

Tetos com coloração azulada e presença de anel visível na base do teto. Hiperqueratose grau I Hiperqueratose grau II Hiperqueratose grau III Hiperqueratose grau IV

gráfico digital de vácuo de uma ordenha padrão e na figura 3, um registo gráfico equivalente, mas numa ordenha bimodal e com sobreordenha. A condição dos tetos ( figura 4) foi avaliada nos primeiros 30 a 60 segundos após a remoção da unidade de ordenha para detetar a presença de alterações de curto prazo: firmeza da ponta do teto (1-normal, 2-firme, 3-cuneiforme), cor do teto em tetos não pigmentados (1-rosado, 2-vermelho, 3-azul) e presença de marcas na base do teto (1-sem marcas visíveis, 2-anel visível na base do teto, 3-anel palpável na base do teto). Foi também avaliada a presença de hiperqueratose nos tetos ( figuras 5 a 8). O que encontrámos? A percentagem de vacas com ordenha bimodal foi de 41,7%, um valor mais elevado do que tem sido reportado noutros países. A probabilidade de encontrarmos ordenha bimodal numa vaca aumentava com o aumento de número de dias em leite do animal, provavelmente porque o estado de enchimento da glândula

mamária diminui à medida que a lactação vai avançando. A probabilidade de ocorrer ordenha bimodal aumentava também quando diminuía o tempo entre a estimulação inicial do úbere e a colocação das tetinas, porque é necessário um intervalo de tempo para que haja circulação de oxitocina e transferência do leite do compartimento alveolar para a cisterna. A probabilidade de ocorrer ordenha bimodal aumentava, quando diminuía o tempo total de estimulação na rotina pré-ordenha. A estimulação táctil dos tetos leva à libertação de oxitocina a partir do lobo posterior da hipófise, podendo um aumento no tempo de estimulação levar a uma concentração mais elevada de oxitocina com contração mais forte ou de um maior número de células mioepiteliais, responsáveis pela ejeção de leite dos alvéolos. Verificou-se também que a nível da vacaria, havia uma redução da probabilidade de ocorrer bimodalidade quando havia maior número de passagens realizadas durante a rotina de ordenha, o que poderá ter a ver com o aumento do 060

tempo entre a estimulação e a colocação das tetinas. Das 606 vacas para as quais foi obtido um registo gráfico de vácuo na ordenha, o tempo médio de sobreordenha foi de 59 segundos, com 77,1% das vacas submetidas a pelo menos 30 segundos de sobreordenha. Estes valores também são mais elevados do que os reportados noutros estudos. Encontrou-se uma relação entre a recolocação da unidade de ordenha e a presença de sobreordenha. Quando a unidade de ordenha é recolocada, o sistema de ordenha não ativa o retirador automático das tetinas por um período predeterminado, independentemente do fluxo de leite, o que leva a que os retiradores automáticos sejam ativados quando já se verifica sobreordenha. A recolocação da unidade de ordenha é uma ação tomada pelo ordenhador, que implica este decidir, geralmente após ordenha à mão ou palpação do úbere, que a ordenha de um animal em particular não ocorreu de forma completa. Verificámos que estes critérios se mostraram maioritariamente


Otimização da ordenha

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inadequados, levando a sobreordenha. A utilização de modo manual para os retiradores automáticos mostrou também estar associada a aumento do tempo de sobreordenha no presente trabalho. Em modo manual, o fim da ordenha é determinado pelo ordenhador, seja porque a sala de ordenha não dispõe de retiradores automáticos, seja porque o ordenhador opte por este modo. Em modo manual, os ordenhadores avaliam o fluxo de leite periodicamente e decidem quando remover a unidade de ordenha. O aumento da sobreordenha ocorre por algum grau de subjetividade e imprecisão na avaliação feita pelo ordenhador, frequentemente ajudadas pela crença de que uma ordenha completa reduz o risco de ocorrência de mastites. Para além disso, a realização de múltiplas tarefas pelos ordenhadores pode agravar mais o tempo de sobreordenha por determinar uma menor vigilância sobre o fluxo de leite e uma intervenção manual mais tardia. Finalmente, verificou-se tanto mais sobreordenha quanto menor era o fluxo de retirada definido para os retiradores automáticos. Nas 19 vacarias com

retiradores automáticos, observou-se que o fluxo mediano definido para os retiradores automáticos era de 400 g/min, um valor muito mais baixo do que é mencionado na maior parte dos trabalhos internacionais, o que pode explicar em grande parte o elevado nível de sobreordenha observado, sendo por isso uma das principais oportunidades para melhoria. O presente trabalho identificou um decréscimo no leite ordenhado quando se observava ordenha bimodal, uma observação já realizada por outros anteriormente. Esta redução de leite recolhido de um animal com ordenha bimodal poderá estar relacionado com a penetração do tecido da base do teto para dentro do bucal da tetina, com constrição e possivelmente obstrução parcial da comunicação entre cisterna da glândula e cisterna do teto. Para além disso, a congestão sanguínea do teto por aumento do nível de vácuo (resultante da não saída de leite), reduz também a secção transversal do canal do teto, levando também à redução da saída do leite. Foram observadas alterações de curto prazo nos tetos em 78.4% das vacas

e lesões de hiperqueratose nos tetos de 33,6% das vacas avaliadas. Ambos estes tipos de alterações resultam provavelmente de sobreordenha e períodos prolongados de ordenha com baixo fluxo de leite. As alterações congestivas e a hiperqueratose têm sido relacionadas com um aumento do risco de ocorrência de infeções intra-mamárias, para além de levarem a dor e desconforto no processo da ordenha. É importante implementar algumas medidas corretivas nas ordenhas para diminuir a ocorrência de ordenha bimodal e sobreordenha. Estas medidas passarão em muitas situações por definições de retiradores automáticos para fluxos mais elevados por minuto, assim como por tempos de estimulação da glândula mamária mais elevados ou intervalos mais longos entre estimulação inicial e colocação das unidades de ordenha. Espera-se que medidas corretivas deste tipo, quando justificadas, permitam reduzir alterações nos tetos, levando simultaneamente a uma melhoria da qualidade de leite, do bem-estar animal e a um aumento da eficiência da ordenha.

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PROBLEMAS PODAIS EM VACARIAS AUTOMATIZADAS A SAÚDE DOS CASCOS PODE TER UM IMPACTO SIGNIFICATIVO NO COMPORTAMENTO DAS VACAS DEVIDO À DOR E AO DESCONFORTO, SENDO UMA DAS PRINCIPAIS RAZÕES DO ABATE DAS VACAS LEITEIRAS, LOGO DEPOIS DOS DISTÚRBIOS REPRODUTIVOS E DAS MASTITES. POR Joana Tomás, Responsável de FMS (Farm Management Support), Lely Center V.N.Gaia, e-mail: atomas@alteiros.pt

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ualquer modificação que cause uma anomalia na marcha ou na postura do animal torna-se, muitas vezes, numa condição clínica que contribui para a degradação da eficiência técnica e económica das explorações. São várias as medidas que podem ser tomadas para reduzir os riscos de problemas podais, sendo a prevenção, geralmente, a melhor estratégia. Por isso, a Lely desenvolveu dois equipamentos que previnem as claudicações – o Lely Walkway e o Lely Meteor. Neste artigo poderá saber mais, dum estudo apresentado pela Lely na sua última

conferência sobre claudicação no rebanho, no Reino Unido, acerca do efeito do Lely Meteor na dermatite digital (DD) em vacas leiteiras.

o que se traduz em menos problemas podais, num aumento na produção de leite e num rebanho com menos stress.

vertical. Isto permite que as vacas passem sem serem perturbadas e garante que o pedilúvio permanece sempre limpo.

LELY WALKWAY Para garantir uma higiene perfeita e uma saúde ótima dos cascos, a realização de pedilúvios regulares é essencial, principalmente nas explorações automatizadas em que a saúde ideal do casco é importante para as visitas regulares ao robot de ordenha e à manjedoura. Os pedilúvios standard são muitas vezes difíceis de utilizar. Sujam-se facilmente, são prejudiciais para o ambiente e têm uma manutenção cara. Ao contrário do Lely Walkway que é um pedilúvio automatizado,

Como funciona O Lely Walkway é extremamente amigável para os animais. Com apenas um toque num botão, a banheira, que se encontra normalmente na posição vertical, é movida para a posição horizontal. Em seguida, o pedilúvio enche-se automaticamente com água e dois produtos químicos nas proporções corretas. Após a utilização, o pedilúvio é esvaziado automaticamente e totalmente lavado com bicos de pulverização, sendo de seguida devolvido à posição

Lely Walk Liquid Muitos dos líquidos utilizados para cuidar dos cascos contêm formalina, sulfato de cobre ou ambos. Estas substâncias põem em risco a saúde das pessoas e das vacas, além de prejudicarem o ambiente. Além disso, vimos que alguns produtores adicionam antibióticos ao líquido. Isto requer a supervisão de um veterinário, tornando-se bastante dispendioso. O Lely Walk Liquid, por outro lado, é um desinfetante inofensivo e ecológico.

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Problemas podais em vacarias automatizadas

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LELY METEOR O Lely Meteor é a primeira solução no mercado para lidar com as doenças dos cascos de A a Z. Foca-se não só nas vacas em lactação, mas também nas vacas jovens e secas. Durante as primeiras semanas (primeira fase), a abordagem do Lely Meteor centra-se na identificação e no tratamento de doenças dos cascos em todos os grupos de animais. A saúde dos cascos aumenta significativamente num curto espaço de tempo, graças à política de tolerância zero. Numa segunda fase, o foco passa a ser os tratamentos preventivos para garantir a saúde dos cascos. Os pulverizadores do Lely Meteor estão instalados no sistema de ordenha automática Lely Astronaut, limpando os cascos antes de cada ordenha e pulverizandoos de seguida com um produto de desinfeção. As vacas secas e as vitelas podem ser tratadas regularmente com um pulverizador móvel. As vacas com cascos saudáveis são mais produtivas e precisam de menos atenção. A adoção de uma abordagem abrangente, com tratamento corretivo e preventivo, melhora a saúde dos cascos em toda a exploração. Desta forma aumenta a satisfação do trabalho dos colaboradores, como também a produtividade e o bem-estar dos animais.

Estudo sobre o efeito do Lely Meteor na dermatite digital Nas várias apresentações na Conferência, houve vários especialistas não pertencentes à Lely que concordaram com o facto de nem a pulverização única nem o banho de um só pé, por si só, terem um efeito significativo na redução da dermatite digital. É consensual a ideia de ser necessária uma abordagem completa. O Lely Meteor centra-se na redução e prevenção de doenças infeciosas dos cascos, envolvendo os seguintes aspetos: 1. Cuidados regulares e funcionais com os cascos (incluindo conselhos de gestão agrícola) 2. Pulverização automática para limpeza e desinfeção dos cascos posteriores 3. Pulverização móvel para limpeza e desinfeção de animais jovens e vacas secas

por dermatite digital): • Pontuaçao 1: < 2 cm • Pontuação 2: 2 cm - 4 cm • Pontuação 3: > 4 cm) Estes cascos foram tratados com o bálsamo Lely Meteor e as ligaduras foram aplicadas. As lesões que não foram curadas receberam tratamentos repetidos até estarem curadas. O tratamento foi implementado de acordo com uma estratégia de tolerância zero: todas as lesões foram tratadas e registadas. A diferença no teste de proporções (R 3.2.4, R Core Team (2016), Áustria) foi utilizada para determinar se a percentagem de vacas leiteiras com dermatite digital diminuiu.

Material e métodos Uma pesquisa realizada pelo Lely Farm Management Support (FMS) mostra o efeito do Lely Meteor na dermatite digital (DD) em vacas leiteiras, apresentando: 1. O efeito do tratamento do casco na box de tratamento 2. O efeito da abordagem completa ao longo do tempo Os cascos das vacas foram cortados e as lesões foram pontuadas de acordo com o sistema de pontuação Digiklauw (pontuação da lesão

Fatores críticos de sucesso O sucesso da saúde do casco está intimamente relacionado com os seguintes aspetos: • Trabalho em equipa com o aparador de cascos e o veterinário. É importante que os aparadores de cascos sejam qualificados e treinados nesta nova maneira de trabalhar. O Lely Meteor requer mais do que apenas 'aparar'. Deve ser aplicada uma estratégia de tolerância zero em combinação com o registo de todas as lesões.

Resultados O tratamento com o bálsamo Lely Meteor e as ligaduras que foram aplicados nos cascos das vacas resultaram numa grande melhoria (ver figuras 1 e 2).

• Um ambiente limpo no estábulo. • A motivação dos produtores/trabalhadores e o ambiente de trabalho. Certifique-se de que têm uma boa visão dos cascos durante o corte: proporcione luz adequada, limpe o casco com água e use um alicate. Faça um tratamento - trate todos os animais ao mesmo tempo para reduzir a pressão infeciosa. • Por último, mas não menos importante, preste atenção aos animais jovens e às vacas secas. Conclusão A claudicação não afeta apenas o bem-estar das vacas. Quando negligenciada pode ter consequências económicas significativas nas explorações. As vacas coxas sentem dor, logo o seu comportamento natural fica limitado, o que faz com que as visitas ao robot e/ou à manjedoura sejam reduzidas. Ou seja, quando a vaca não consegue atender às suas necessidades biológicas, a sua produção diminui e a fertilidade é reduzida, podendo levar ao abate precoce. Estimase que um caso de claudicação custa, em média, 93 euros. Por isso, é importante a deteção precoce. A utilização do Lely Walkway ou do Lely Meteor tem um efeito significativo na cura/ prevenção de problemas podais, sendo uma solução eficaz em explorações leiteiras com sistemas de ordenha robotizada.

Figura 2 PERCENTAGEM DE VACAS LEITEIRAS COM DERMATITE DIGITAL (%) 100 90 80 70 60 50

Figura 1 O tratamento resultou numa redução de 40% na primeira semana, com todas as lesões curadas em um mês (ver na Figura 3). Figura 2 Pontuação média de lesões, percentagem de cascos tratados com dermatite digital (nº = 99 vacas leiteiras numa exploração). A proporção é significativamente diferente (p <0,05) entre medições.

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40 30 20 10 0 1º tratamento

2º tratamento

3º tratamento

4º tratamento


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Henry Ruessink e sua mulher, Brenda Hovenier, fazem a gestão diária da vacaria, com a ajuda de 5 empregados. Têm 320 vacas em ordenha, 55 vacas secas e cerca de 200 novilhas e vitelos.

Os parques exteriores estão equipados com grandes bebedouros DeLaval de 1.000 litros em material resistente.

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UMA SALA À MEDIDA

HENRY RUESSINK E A SUA MULHER, BRENDA HOVENIER, GEREM UMA VACARIA EM MUGE, SALVATERRA DE MAGOS, COM 320 VACAS EM ORDENHA. NO FINAL DO ANO PASSADO INSTALARAM UMA NOVA SALA DE ORDENHA PARA SUBSTITUIR A ANTIGA QUE TINHA QUASE 30 ANOS, UMA DELAVAL EM ESPINHA DE PEIXE 50º 2X30, SWING-OVER COM 30 PONTOS DE ORDENHA E BRAÇO SEMI-ROBOTIZADO. Por RUMINANTES | Fotos FG 064


Uma sala à medida

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SALA ORDENHA ESPINHA PEIXE 50º 2X30/30 ML3100 DELAVAL

Através dos brincos, chips e coleiras, temos acesso a muita informação.

• Modelo Linha Média Swing-Over c/30 pontos de ordenha • Braço semi-robotizado, com retirador • Medidor do leite FI7; sensores da posição do braço dto/esq; luz de aviso do estado da ordenha • Identificação ISO com brincos de orelha HDX • Sistema de deteção de cios com atividade alta, baixa e relativa • Gestão DelPro do estábulo • Porta separadora automática para análise/controlo do rebanho • Cancela de aproximação no parque de espera • Tanque de refrigeração de leite 32.000 litros, horizontal

Q

uatro anos após terem instalado a primeira vacaria em Portugal, Henry e o seu pai mudaram para a exploração atual, então com cerca de 120 vacas. Em 2012, Henry ficou sozinho a gerir o negócio, tendo vindo a ampliar as instalações e o efetivo. Hoje, com a sua mulher, Brenda Hovenier, e a ajuda de 5 empregados têm 320 vacas em ordenha, 55 vacas secas e cerca de 200 novilhas e vitelos. As vacas em produção estão estabuladas em sistema livre de cama quente, enquanto as novilhas e as vacas secas têm também acesso a parques exteriores. No final do ano passado, uma nova sala de ordenha veio substituir a antiga que tinha quase 30 anos. Trata-se de uma DeLaval em espinha de peixe 50º 2x30, swing-over com 30 pontos de ordenha e braço semi-robotizado. As principais vantagens destacadas por Henry, na conversa que tivemos em dezembro passado, foram a poupança de tempo de 5 horas diárias e também o acesso a muita informação sobre os animais e a produção. Que alimentos utilizam na exploração? Silagem de milho, silagem de erva; palha e ração. Compramos tudo ao mesmo fornecedor, desde há muitos anos. Distribuímos tudo com o unifeed. Quantos lotes de vacas têm em produção? Temos 3 grupos, todos com a mesma alimentação. Um grupo é de recém-paridas, e os outros dois estão com os touros.

Que razões levaram a este investimento? A sala anterior (AlfaLaval 2x8/16 Espinha de Peixe 30º) já tinha 28 anos e era muito simples: não tínhamos qualquer tipo de registos nem dados de produção por vaca. O leite ia diretamente para o tanque, nem sequer vasos tínhamos. Além disso, demorávamos 10 a 11 horas por dia a ordenhar. A nova sala comporta 30+30 animais e tem 30 pontos de ordenha. Quando os 30 animais de um dos lados terminam de ser ordenhados, o braço semirobotizado desloca-se para o outro lado, onde as vacas já estão preparadas para serem ordenhadas. Este sistema permite ter uma sala de ordenha com um elevado rendimento (150 animais/hora) e um investimento inferior, pois temos metade dos pontos de ordenha duma sala convencional. Para a sala convencional ser mais rápida que este modelo de ordenha, terá que ter 3 operadores, em vez de 2. Com o mesmo número de operadores, o rendimento é semelhante.

Porque têm touros cruzados Holstein x Sueco Vermelho? Porque dão o mesmo leite do Holstein puro e a vida produtiva das vacas é superior. Temos muitas vacas com mais de 5 lactações, com boas produções. A que altura, depois do parto, põem as vacas com os touros? Se estiver tudo normal, ao fim de 4 a 5 semanas. Sempre tiveram este cruzamento? Não, houve anos em que cruzámos com Jersey, outros com Fleckvieh e Montbéliard. Que indicadores na exploração são importantes para si? A vida útil das vacas. As vacas não têm que dar 12 mil ou 14 mil litros por lactação, se derem 8 ou 9 mil litros e produzirem por mais um ano, melhor. As vacas com elevadas produções têm muitos problemas e duram menos. Além de que recriar uma novilha de substituição representa um gasto elevado de tempo e dinheiro. Portanto, ligo muito à idade com que vão para o refugo, deixo-as ficar enquanto produzem bem.

Porque escolheu uma sala com esta configuração? A opção por este tipo de

sala, em “espinha de peixe”, está relacionada com a largura disponível (8 metros). Tinha que ser feita dentro da área de construção já existente, e este local era o único possível. Se tivéssemos espaço, teríamos optado por uma sala paralela de saída rápida frontal, com este tipo de braço (semi-robotizado). Ficaria uma sala super-otimizada e quase imbatível. Seria mais curta do que esta e a saída dos animais muito mais rápida. Que aspetos valorizou nesta compra? Principalmente o preço, a mão-de-obra necessária e a marca. O facto de ter uma sala de 60 (30+30) vacas com apenas 30 pontos de ordenha, diminui muito o preço e faz-se bem a ordenha com 2 operadores. Em relação à marca, sempre trabalhámos com a Harker/DeLaval, sem problemas e com uma boa assistência, por isso decidimos continuar. Quanto tempo levam agora a ordenhar? Cerca de 2,5 horas por ordenha. Cada lote de 30 vacas está 7 a 8 minutos na sala, e 30 minutos em espera até entrar na ordenha. O que faz com o tempo diário que “ganhou”? Passei a ter tempo para fazer o que estava atrasado e para estar com os meus filhos.

DADOS GERAIS DA EXPLORAÇÃO

Quando instalaram a nova sala de ordenha? Começámos a ordenhar em novembro passado. O que tem esta sala de novo, face à antiga? Desde logo, a tecnologia incorporada que permite que tenhamos registos de tudo relativamente a cada animal. 065

Nome da exploração

Ruessink Agro Pecuária Unip., Lda.

Localização

Muge, Santarém

Área da exploração

15 hectares

Produção leite total/ano

3 milhões litros

Nº de empregados

5

Efetivo total

580 vacas

Nº vacas em ordenha | Nº ordenhas/dia

320 | 2

Tempo de ordenha

± 2,5 horas por ordenha (2 pessoas)

Produção leiteira média aos 365 dias

9.000 litros

GB (%) | PB (%) | CCS

4,0 | 3,5 | 250.000 cél/ml

Idade ao 1º parto

23 meses

Inseminação

8 touros cruzados (Holstein x Sueco Vermelho)

Média anual de lactações por vaca

5


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-4 HORAS A ORDENHAR

GANHAR TEMPO FOI A PRINCIPAL MOTIVAÇÃO PARA ADELINO E JOAQUIM CARVALHO, PROPRIETÁRIOS DE UMA VACARIA EM MINHOTÃES, CONCELHO DE BARCELOS, DECIDIREM INVESTIR NUMA SALA DE ORDENHA GIRATÓRIA. ATÉ AQUI, DIARIAMENTE, GASTAVAM-SE 8 HORAS POR DIA NUMA OPERAÇÃO QUE HOJE SE FAZ EM METADE DO TEMPO. A DECISÃO FOI PARA UMA SALA GEA DE 40 PONTOS QUE, NA OPINIÃO DESTES PRODUTORES, TROUXE MAIS QUALIDADE DE VIDA ÀS PESSOAS E MAIOR BEM-ESTAR ANIMAL. Por RUMINANTES Fotos FG

A

exploração de Adelino e Joaquim Carvalho está situada em Minhotães, Barcelos, e têm 105 hectares para produzir forragens para o efetivo. O milho (100 ha com ciclos de 500 e 600) e a erva (105 ha de azevém x aveia) são produzidos na exploração. Na alimentação do gado utilizam silagem de milho e de erva, palha e mistura de matérias-primas. Fornecem o concentrado nas boxes de alimentação em função da

produção de leite por vaca (em média 3 kg por vaca/dia). Em 2019 investiram numa sala de ordenha giratória de 40 pontos. Porquê? Numa exploração de leite, a ordenha é muito importante, e nós estávamos a perder cerca de 4 horas por ordenha na sala antiga (GEA em espinha 20+20). No total, gastávamos 8 horas por dia com 2 pessoas.

Robot de limpeza.

Porque escolheu uma sala giratória? Por estarmos convencidos de que, para este número de 066

animais em ordenha, é a mais adequada. É muito mais rápida e tem a grande vantagem de não termos de parar a ordenha por causa de algum animal que demore mais tempo a ser ordenhado. Neste sistema, uma vaca que não seja ordenhada nos 7 a 8 minutos definidos, continua para a segunda volta sem paragens. Que aspetos valoriza mais numa sala de ordenha? Quando comprámos esta sala tomámos em consideração vários aspetos, principalmente o tempo de ordenha e o


Menos 4 horas a ordenhar

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Joaquim Carvalho gere a exploração em conjunto com o seu irmão, Adelino Carvalho.

bem-estar animal. O facto de alterarmos a localização da ordenha, que antes estava no centro da exploração, também melhorou muito o ambiente de trabalho. Este local é muito mais arejado e luminoso, e podemos regular os portões em função do clima. Quantas pessoas são necessárias para fazer a ordenha? Fazemos com 3 pessoas. Duas estão na parte inicial, a limpar e colocar as tetinas, e a terceira está na parte final para controlar se correu tudo bem. Penso que 3 pessoas é o ideal, mas no limite poderíamos fazer com duas. Hoje em dia ordenhamos cerca de 200 vacas por hora com 3 pessoas. Como compara a manutenção desta sala com as outras? Basicamente é idêntica, porque o sistema é o mesmo. Se olharmos ao consumo de água, talvez possa ser ligeiramente

superior, porque montámos tudo com bicos automáticos de saída de água. A partir de quantas vacas em ordenha se justifica ter uma giratória? Na minha opinião, a partir de 150 vacas já justifica. Ainda que o investimento seja superior, consegue-se ganhar muito tempo com este tipo de sala e o operador tem uma qualidade de trabalho superior. Numa exploração como a nossa, em que somos poucos e fazemos todas as tarefas na exploração e no campo, qualquer hora a mais ajuda. O que faria de diferente se fosse comprar hoje a sala? Mudava apenas uma coisa, comprava com 50 pontos em vez de 40. Qual o processo para as vacas se dirigirem para a ordenha? Temos 2 tocadores (cancelas de aproximação) e 2 parques de

espera. No primeiro (80 m2) as vacas têm acesso à manjedoura e aos bebedouros. No segundo (400 m2) já só têm à água. O que ganhou com esta nova sala? Qualidade de vida para nós e menos stress para as vacas. A porta separadora também nos facilita muito o trabalho. Que tipo de informação obtêm da sala? Registos da produção por animal, total da ordenha, deteção de cios, saúde animal, quebras acentuadas da produção de leite e condutividade, entre outras.

sítios com o chão de vigas. Mantém a vacaria muito mais limpa. Que indicadores utiliza para gerir a exploração? Olhamos muito ao custo da alimentação, que neste momento está muito elevado. Pensa aumentar o efetivo nos próximos 5 anos? Não. Achamos que este é o tamanho certo para esta exploração.

DADOS GERAIS DO REBANHO

Em quantos anos pensa ter este investimento amortizado? As nossas contas foram feitas a pensar amortizar em 7 anos.

Produção leite /ano

Adquiriram também um robot de limpeza, porquê? Porque ajuda muito, limpa todos os parques, mesmo nos

Produção média/dia

067

4 M litros

Efetivo total (Hostein)

960

Vacas em ordenha

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Nº ordenhas/dia

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Tempo/ordenha

2h30m

GB | PB | CCS Idade ao 1º parto

32 litros 4,11 | 3,29 | 180.000 25/26 meses


#44 | jav. fev. mar. 2022

REVISTA RUMINANTES

AGRICULTURA REGENERATIVA

OS 5 PRINCÍPIOS DA SAÚDE DO SOLO

UM DOS PASSOS ESSENCIAIS PARA COMEÇAR UMA CAMINHADA SÓLIDA E COM RISCOS REDUZIDOS NA TRANSIÇÃO PARA A AGRICULTURA REGENERATIVA É COMPREENDER O SOLO COMO UM COMPLEXO DE ORGANISMOS VIVOS E ARTICULAR BEM OS 5 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA SAÚDE DO SOLO. AO NÃO PERDER ESTES MANDAMENTOS DE VISTA, O AGRICULTOR OU GESTOR DA EXPLORAÇÃO PODE TER A CERTEZA QUE TOMA AS DECISÕES ACERTADAS, QUALQUER QUE SEJA A TÉCNICA OU ABORDAGEM A SEGUIR. Foto Francisco Marques (Herdade da Lobeira, Montemor-o-Novo)

M

anter o solo coberto, minimizar a perturbação do solo, apostar na diversidade vegetal, manter raízes vivas no solo e integrar gado. São estes os cinco princípios essenciais a observar para manter a saúde dos solos ou regenerar aqueles que se foram degradando por via de uma utilização menos devida.

1. MANTER O SOLO COBERTO

Olhe para baixo, que percentagem do seu solo é protegida por resíduos? A erosão deve ser minimizada antes de tudo. Manter o solo coberto começa na superfície. Para maximizar a saúde do solo e regenerar solos degradados, cada um dos 5 princípios conta, mas manter o solo coberto é o mais importante porque não se pode 068

construir solo quando se está a perdê-lo. De seguida expomos as razões pelas quais manter a armadura do solo deve ser a sua primeira linha de defesa ao iniciar a sua viagem para a melhoria da saúde do solo. Controlar a erosão O vento e a água são forças poderosas. Uma gota de chuva de 5 milímetros atinge o solo a 20km/h. A erosão pelo vento pode


Os 5 princípios da saúde do solo

AGRICULTURA REGENERATIVA

os poros do solo e formam camadas visíveis na superfície do solo. Estas crostas compactas impedem a infiltração de água e a germinação de sementes. POR ANDRÉ ANTUNES Agricultor, Consultor Agrícola e Médico Veterinário chaoricolares@gmail.com Instagram.com/chao.rico.colares

começar a velocidades do vento tão baixas como 20-25 km/h. A erosão ocorre quando a energia cinética da chuva ou do vento destrói os agregados do solo. Ao manter o solo coberto com os resíduos das culturas anteriores e/ou plantas vivas, a energia da gota de chuva ou do vento é absorvida pela cobertura. Reduzir a pressão das ervas daninhas A cobertura reduz a quantidade de luz solar que atinge a superfície do solo. Para as sementes de ervas daninhas que requerem luz solar para se estabelecerem, uma boa cobertura terá efeito inibidor. Quaisquer ervas daninhas que germinem terão de enfrentar um ambiente com pouca luz e poderão não ter energia para crescer através do resíduo. Algumas coberturas vivas, como o centeio, têm um efeito alelopático nas sementes de ervas daninhas e impedem a sua germinação. Manter temperaturas moderadas do solo A armadura do solo age como uma manta em tempo frio e uma sombra em tempo quente. As raízes e a vida debaixo do solo não funcionam bem, e podem mesmo morrer, com temperaturas extremamente flutuantes. Promover a retenção de humidade Ao sombrear a superfície do solo, as taxas de evaporação são grandemente reduzidas, permitindo que mais água disponível para as plantas seja armazenada para utilização pelas culturas. A redução das taxas de evaporação também ajuda na prevenção do movimento de sais para a superfície do solo, através da capilaridade. Reduzir a compactação superficial ou encrustamento Quando os agregados do solo são decompostos pelo poder erosivo da chuva, são deixados como partículas individuais de areia, limo, argila e matéria orgânica. Quando a areia, o limo e a argila já não são mantidos juntos num agregado, entopem

Proporcionar condições ideiais para a biologia do solo Ter uma cobertura de resíduos significativa na superfície do solo proporciona tanto a casa como a despensa para alimentar a vida do solo. A manutenção desta camada de resíduos é importante para fomentar as populações de minhocas, uma vez que a sua principal fonte de alimento é a matéria vegetal morta e em decomposição. As minhocas servem como arejadores e fertilizadores do solo.

2. MINIMIZAR A PERTURBAÇÃO DO SOLO

Minimize a lavoura tanto quanto possível. Dessa forma, começarão a construir-se agregados de solo, espaços porosos, biologia no solo e matéria orgânica. A perturbação do solo acontece de três formas, tendo cada uma delas impacto em importantes funções do solo: Perturbação física A forma mais óbvia de perturbação do solo é através da sua mobilização. Em comparação com os solos não mobilizados, os solos lavrados apresentam: - diminuição da infiltração e armazenamento da água. A lavoura destrói os agregados do solo e separa as vias e poros naturais criados pelas raízes, minhocas e biota do solo. Quando estas vias são quebradas, a capacidade de infiltração da água da precipitação no solo fica reduzida. O armazenamento de água no solo é reduzido porque os agregados que criam espaço poroso para a água ser retida são destruídos, bem como a matéria orgânica. A matéria orgânica do solo pode suportar até 20 vezes o seu peso em água. - redução da matéria orgânica. A lavoura destrói a matéria orgânica, expondo-a ao ar. Quando exposta ao ar, a matéria orgânica é consumida por bactérias “oportunistas” e perdida através da erosão. - aumento da erosão. A erosão da água aumenta devido a taxas de infiltração reduzidas e efeito enxurrada; e a erosão do vento aumenta porque a lavoura deixa menos resíduos protetores na superfície. Perturbação biológica Embora não seja tão evidente visualmente como uma perturbação física como a lavoura, a perturbação biológica 069

também tem impacto no funcionamento do solo. Toda a vida do solo necessita de energia para sobreviver. Essa energia é fornecida pelas plantas. As plantas captam CO2 e luz solar, através da fotossíntese, para produzir energia, nomeadamente açúcares, alguns dos quais são transferidos através das raízes para a vida abaixo do solo. É importante que, tanto quanto possível, existam raízes vivas no solo. Incluir culturas de cobertura nas rotações é uma ótima forma de alargar e diversificar a presença de raízes vivas. Uma gestão adequada do pastoreio também aumentará a capacidade da planta absorver luz solar. Perturbação química A perturbação química ocorre pelo uso excessivo de fertilizantes, herbicidas, inseticidas e fungicidas. Um sistema de cultivo diversificado pode ajudar a reduzir a dependência de pesticidas e fertilizantes.

3. APOSTAR NA DIVERSIDADE VEGETAL

Tente imitar a natureza. Use, tanto quanto possível, gramíneas de inverno e verão e herbáceas de folha larga, com três ou mais espécies entre cultivos e culturas de cobertura em rotação. Pastagens naturais e diversidade de plantas cultivadas aumentam a saúde do solo e dos animais. Maximizar a Diversidade Vegetal Os solos de pastagens naturais foram construídos sob uma comunidade vegetal muito diversificada. Esta comunidade vegetal consistia em gramíneas, leguminosas fixadoras de azoto, flores silvestres, herbáceas de folha larga e outras, todas com diferentes tipos de raízes mais ou menos profundas. O ecossistema não se limitava a alimentar os herbívoros, também dava subsistência aos fungos do solo, bactérias e invertebrados. Portanto, parece fazer sentido que, se quisermos construir solos saudáveis, precisemos de alimentar o solo com uma “dieta” saudável e diversificada. Como é que se maximiza a diversidade vegetal? - Se tiver pastagens perenes originais, pode já ter muitas das plantas nativas. Para manter ou aumentar a diversidade da sua comunidade vegetal, uma gestão adequada do pastoreio é fundamental. Mude a estação de utilização anualmente, adeque o efetivo e faça rotações regularmente. - No que diz respeito à produção das plantas anuais, tente imitar a comunidade vegetal nativa, que consistia em gramíneas de estação quente e fria e em herbáceas de folha


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larga. Isto pode ser feito através da rotação de culturas e da utilização de culturas de cobertura. Exemplos de culturas comuns em cada categoria: • Gramíneas da estação fria (aveia, trigo de primavera e de inverno, centeio) • Gramíneas da estação quente (milho, milho-painço, sorgo, erva do sudão) • Plantas de folha larga da estação fria (ervilhas, lentilhas, linho, mostarda) • Folha larga da estação quente (soja, girassol, feijão-frade) - Se um ou dois destes tipos de cultura não se enquadrarem na sua operação, considere plantar uma mistura de culturas de cobertura com esse tipo de espécies na mistura. Ao ter as quatro categorias na sua rotação, pode ajudar a alimentar um microbioma de solo mais diversificado. - Ao escolher espécies para a sua mistura de culturas de cobertura, não se esqueça de considerar outros objetivos que tenha. Por exemplo: - utilizar o excesso de humidade; - produzir forragens para o gado - suprimir as ervas daninhas; - construir matéria orgânica; - reduzir a compactação; - promover a fixação de azoto.

4. MANTER RAÍZES VIVAS NO SOLO

Mantenha as plantas a crescer durante todo o ano para alimentar o solo. As culturas de cobertura podem acrescentar carbono ao solo, fornecendo uma importante fonte alimentar para os microrganismos. Comece em pequena escala para encontrar a melhor opção para a sua exploração. Maximizar as raízes vivas As plantas são a fonte de energia para um solo saudável. Os ecossistemas nativos tinham raízes vivas no solo todo o ano. Ter raízes vivas nos solos utilizados para a agricultura de produção, durante o máximo de tempo possível, é importante.

A Rizosfera Através da fotossíntese, as plantas captam a luz solar e o CO2 para criar energia para a reprodução, crescimento das folhas, caules e raízes. Uma grande quantidade da energia da fotossíntese é utilizada para produzir exsudados, segregados através das raízes. À medida que a raiz cresce, ela também liberta células. As células e os exsudados formam a rizosfera que é um lugar muito ativo. Bactérias, protozoários, fungos e numerosos outros organismos

do solo vivem na rizosfera, que se estende a alguns milímetros da superfície da raiz. As bactérias e os fungos alimentam-se dos exsudados. Protozoários e nemátodes alimentam-se das bactérias e dos fungos. Toda esta alimentação cria despojos, e são exatamente estes que a planta procura. Prolongamento da época de crescimento Como prolongar a quantidade de tempo em que uma raiz viva interage com o solo? A maioria das nossas culturas comerciais tem uma raiz viva durante 12-15 semanas após a plantação, o que é menos de 30% do ano. Os ecossistemas nativos têm uma raiz viva durante 60% ou mais do ano. As rotações diversificadas de culturas e as culturas de cobertura ajudam a preencher as lacunas. Mesmo nas zonas mais frias temos potencial para uma cobertura viva antes da plantação de culturas comerciais e no pós-colheita. Algumas oportunidades para a maximização das raízes vivas: - misturas diversificadas de culturas de cobertura com sementeira direta após a colheita. - a sementeira intercalar em milho permite que a cultura de cobertura se estabeleça e cresça bem no outono depois da colheita, e mesmo até à próxima época de cultivo se forem utilizadas bienais ou perenes na mistura. - sementeira de centeio após a colheita, precedendo uma cultura de verão. O centeio é resistente ao inverno, e começará a crescer bem na primavera. - estabelecer perenes em áreas de produção salina ou marginal. - na transição para sementeira direta a partir da lavoura convencional, alguns anos de luzerna podem ajudar a facilitar a transição.

5. INTEGRAR GADO

O pastoreio no outono/inverno de culturas de cobertura e resíduos de cultivos aumenta o plano de nutrição do gado numa altura em que a qualidade das forragens pode ser baixa, aumenta a atividade biológica do solo em terras de cultivo e melhora o ciclo de nutrientes. A gestão adequada das pastagens melhora a saúde do solo. Integração da pecuária Animais, plantas e solos têm desempenhado um papel sinérgico ao longo do tempo geológico. Nos últimos anos, 070

os animais têm desempenhado um papel reduzido devido ao facto de serem colocados em confinamento - poucas explorações agrícolas incluem o gado como parte do seu funcionamento global. Razões para devolver o gado à paisagem • Rácio equilibrado de carbono/nitrogénio: o pastoreio de outono ou inverno para converter os resíduos anuais de culturas com elevado teor de carbono em matéria orgânica, com baixo teor de carbono, equilibra a razão carbono/nitrogénio e gere os nossos resíduos de rotação de culturas de sementeira direta. • Melhor recrescimento: o pasto anual e/ou perene de primavera ou verão, com períodos curtos de pastoreio seguidos de longos períodos de recuperação, permite que as plantas cresçam de novo e captem luz solar e CO2 adicionais • Redução da exportação de nutrientes: em vez de transportar o alimento para um estábulo: podemos inverter os papéis e ter o gado a pastar, reduzindo a exportação de nutrientes das nossas terras de cultivo e campos de feno. Isto permite reciclar a maioria dos nutrientes, minerais, vitaminas e carbono. • Gestão da pressão das ervas daninhas: o pastoreio, em vez da aplicação de herbicidas, ajuda a gerir a pressão das ervas daninhas. •Dieta nutricional superior: as culturas de cobertura de pastagens e/ou resíduos de culturas permitem-nos tirar o gado dos prados naturais mais cedo no outono, prolongando o período de recuperação da erva e proporcionando uma dieta nutricional mais elevada do gado • Redução de efluentes: o pastoreio reduz os efluentes do gado associados ao seu confinamento, ajudando a gerir as preocupações com a qualidade da água e a gestão dos nutrientes. Como é que devolvemos o gado à paisagem? • Culturas de cobertura de pastagens de inverno e de outono e resíduos anuais de culturas; • Pastoreio de verão de uma cultura de cobertura de estação completa, permitindo uma recuperação adequada das plantas, seguida de uma segunda passagem durante o outono ou inverno; • Alimentação de inverno em campos de feno por desenrolamento de bolas ou pastoreio de fardos (bale grazing); • Pastoreio de perenes e sua gestão como parte da rotação de culturas.


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AGRICULTURA REGENERATIVA | PASTAGENS

DEL SOL AL SUELDO 15 MESES DEPOIS

CONDICIONADO PELAS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DA SUA EXPLORAÇÃO, MARCADAS POR VERÕES EXTREMAMENTE SECOS E PROLONGADOS E PELA ESCASSEZ DE CHUVA, MANUEL DIE DEFENDE A IMPORTÂNCIA DE MANTER O SOLO COBERTO DE VERÃO PARA CONSEGUIR REGENERAR AS PASTAGENS. 15 MESES DEPOIS DE O TERMOS ENTREVISTADO, FALOU-NOS SOBRE NOVAS ESTRATÉGIAS PARA CONTORNAR AS DIFICULDADES INERENTES À "TREMENDA SAZONALIDADE NA QUALIDADE E QUANTIDADE DOS PASTOS."

V

Por André Antunes, agricultor e médico veterinário; Ruminantes | Fotos FG

oltámos a falar com Manuel Die, veterinário criador de bovinos de carne em regime extensivo na Herdade de vale do Grou, em Campo Maior. Passados 15 meses da última entrevista (Ruminantes nº39, outubro de 2020), quisemos saber como tem evoluído o negócio e a regeneração das pastagens. Que descobertas tem feito e que estratégias têm resultado melhor

na busca por estabelecer espécies perenes nas pastagens naturais da herdade? O que tenho verificado é que, na maioria dos casos, a pauta de pastoreios que é usada para as anuais não é suficiente para as perenes se instalarem. É necessário um período de repouso do pastoreio substancialmente mais longo para aparecerem de forma espontânea e, depois, igualmente longos períodos para a manutenção. Tenho algumas zonas que estiveram em repouso quase dois 072

anos, pelo menos duas primaveras, e foi aí que tive melhores resultados. Noutras zonas, seis meses de repouso não foram suficientes para a instalação. Pelo menos, é isso que indicam as minhas experiências. Em relação à manutenção de cobertura ou resíduo, durante o Verão, para proteger o solo. O que opina? O ideal é que exista cobertura do solo no verão, para diminuir a temperatura junto ao solo e reduzir a evaporação. É um tema complicado, por exemplo, por vezes


Del sol al sueldo 15 meses depois

AGRICULTURA REGENERATIVA | ENTREVISTA A MANUEL DIE

o pasto de cobertura tombado também acaba por limitar o primeiro crescimento outonal. Pensando nas perenes, sim, é sempre bom ter um bom "chapéu" durante o verão. Pensa fazer uma experiência nova no próximo verão que consiste na implantação de uma cultura de cobertura por sementeira direta tardia, com o objetivo de melhoramento dos solos e apoio à instalação de perenes. Em que consiste? Sim, a ideia é atrasar a sementeira para evitar a concorrência inicial com as anuais nativas e apoiar a instalação com rega nas fases iniciais, já que nessa altura (maio-junho) as condições de humidade e temperatura não possibilitam a instalação em sequeiro puro. Tem feito um esforço grande para a comercialização de carne de vitela, o que não é muito comum no Sul de Portugal. O que o levou a tomar essa decisão? A produção de carne de vitela está mais adaptada às nossas condições. Isso

tem a ver com a dificuldade de engordar os animais com erva, dada a tremenda sazonalidade na quantidade e qualidade dos pastos. Para uma engorda de qualidade é necessária alguma estabilidade ao longo do ano na produção forrageira e, aqui, essa relação só existe do final do inverno até ao início do verão. Uma forma de dar a volta a isso é ter um período de abate curto, em que se sacrificam animais com pouco peso - a vitela após desmame ou com desmame um pouco mais tardio - animais jovens, portanto. Para que produtores, como eu, não tenham de passar por processos de engorda complicados, passase diretamente da cria para a mesa. Deste modo evita recorrer-se a fatores externos como feno, silagem, concentrados ou movimentações dos animais para pastos melhores. Fale-nos do projeto de transumância em Burgos. Como surgiu a ideia? A ideia surgiu de modo a poder descansar os pastos dos animais no verão e aproveitar zonas de melhores pastos no Norte da Península - neste caso uma mata de carvalhos de utilidade pública que necessita muito do impacto animal. É uma

parceria com a alcaldia de Agés. O maior custo envolvido é o transporte. A primeira fase do projeto está já em curso e consiste no estabelecimento de uma manada de animais rústicos adaptados. Depois, começaremos a fazer a transumância. Agora tenho lá cerca de 80 animais. Em junho partirão animais daqui para lá, que voltarão em outubro/novembro. Adicionalmente ao descanso de pastos no verão, aqui a ideia é atrasar o início do pastoreio no outono, evitando o risco de sobrepastoreio quando tudo está a nascer. Porque escolheu a raça asturiana Casina? Por ser uma raça de montanha, pequena, precoce e muito rústica. Além disso, são animais mansos de maneio fácil. A ideia é depois cruzá-los com a minha manada de Aberdeen-Angus x Mertolenga. Pretendo, no futuro próximo, fechar a minha vacada a genética externa e começar a selecionar só a partir de dentro. Excelente trabalho! Obrigado e até breve! Boa sorte no caminho da regeneração!

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OBSERVATÓRIO DAS MATÉRIAS-PRIMAS

SEM QUERER OFENDER NINGUÉM Por João Santos; Fonte USDA s&d, relatório de março

O LEITE Nos largos anos que já escrevo na Ruminantes, nunca falei do leite, em primeiro lugar porque os meus conhecimentos sobre o assunto são reduzidos e em segundo porque na Ruminantes há especialistas que escrevem sobre o mesmo. No entanto, acompanhando as notícias à distância, estou escandalizado com o diferencial de preço pago pelo leite à pecuária nacional versus o preço pago no mercado de referência do norte da Europa. Não quero ofender ninguém, nem pretendo ser o mago que vai trazer a solução mágica para que este diferencial de preço seja mais reduzido, ou que não seja negativo. No entanto… Penso não errar ao caracterizar o setor nacional da transformação do leite como tendo dois operadores, sendo o primeiro o dominante em Portugal Continental com uma quota de mercado superior a 50% na distribuição de leite, e o segundo na ilha São Miguel, no

seu todo produtora de grandes excedentes de leite vendidos maioritariamente como UHT no território Continental. Quer nos Açores, quer no Continente, os operadores dominantes do setor são cooperativas que estão as serviço dos seus sócios, os produtores de leite. Assumindo que a descrição anterior não anda muito longe da realidade, diria que as condições são as ideais para que o preço pago ao agricultor seja em linha ou mais alto que o preço pago no norte da Europa, região esta claramente excedentária em leite. Cá, os supermercados só têm, praticamente, dois fornecedores “à mão”. Não querendo defendê-los, creio que, claramente, fazem bem o seu trabalho ao tentarem comprar ao preço mais baixo possível. Assim, e não querendo ofender os dois vendedores de leite, creio que estes é que estão a fazer mal o seu trabalho. E explico porquê! O preço de qualquer produto

está indexado a um mercado de referência: nos cereais é a bolsa de Chicago, no porco é a bolsa de Lérida, no petróleo é a bolsa de Londres (Brent) e por aí fora. Qualquer movimentação nestas bolsas conduz automaticamente a uma correção em todos os recantos do mundo. Os excessos ou escassezes pontuais de cada mercado local podem fazer com que o preço local tenha um diferencial positivo ou negativo, maior ou menor em relação ao mercado de referência, mas que acompanha este na direção que toma (a este diferencial normalmente temos que acrescentar o custo de transporte). Este diferencial designa-se por prémio que, como explicado atrás, pode ser positivo ou negativo em relação ao mercado de referência. Voltando aos nossos dois vendedores de leite, o seu trabalho é muito simples: seguir o preço do leite no mercado de referência e ir ajustando todos os dias o preço a que vendem o leite UHT, passando essa

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alteração ao preço pago aos agricultores, os seus patrões. Os senhores dos supermercados não têm alternativa a comprar a estes dois senhores. E ainda menos de um dia para o outro. Adicionalmente, no caso de S. Miguel creio que a atuação é ainda menos compreensível. Partindo da base que é um produto único, produzido numa região única, e tendo fundos Comunitários e do Estado Central “às pazadas”, há que ter a capacidade organizativa para valorizar o leite açoriano: i) na transformação em produtos de valor acrescentado; ii) tentando vendê-lo em mercados que paguem por essas características; iii) se tem que ser biológico, que seja; iv) regular os stocks com uma fábrica de leite em pó; v) se for caso disso, exportar agressivamente para um mercado distante para, assim, limpar o excesso sem estar a pôr em causa o preço de venda


Sem querer ofender ninguém

OBSERVATÓRIO DAS MATÉRIAS PRIMAS

de toda a produção, como atualmente fazem. Continuar como agora, não pode ser. Vender leite UHT mal e ao desbarato e pagar menos de 25% do que pagam nos mercados do norte da Europa aos produtores, tem que acabar. Sem querer ofender, não é preciso ter a quarta classe para fazer melhor. A acrescentar que, como iremos ver, a viabilidade das vacarias não melhorará por uma forte correção dos preços das matérias-primas. PROTEÍNAS Os meses de sementeira no sul do Brasil e na Argentina foram especialmente secos, e como o verão é verão, tipicamente não é de esperar grandes chuvas nestas regiões. Assim, é de esperar que a campanha de soja no Brasil seja pior que a anterior, e o mesmo será verdade para a Argentina. Até os argentinos ceifarem toda a soja, em meados de abril, é de esperar que o USDA e outros analistas vão prevendo, ao longo das semanas, correções em baixa da produção destes dois países. Não é de esperar que a colheita no Brasil seja superior a 139 milhões de TM e a da Argentina não deverá superar as 46.5 milhões de TM estimadas no relatório de janeiro do USDA. Hoje já há quem diga que há que retirar 5 milhões de TM a estas duas projeções. Infelizmente, com alguma segurança, é de prever que a farinha de soja em Lisboa, até ao final do ano, esteja na banda alta dos 400€/tm.

Em relação à farinha de colza: a procura de colza no Canadá para biodiesel, tornou a canola demasiado cara para vir para a Europa. Por seu lado, a procura de colza na Europa, puxada pelo biodiesel e pelos fabricantes de rações não-OGM, criou uma procura de tal forma forte que a tornou demasiado cara para os operadores. Nos portos nacionais, o bagaço de colza está acima de 350€ e assim deverá estar até chegar o verão com a nova colheita. O preço do grão de colza na Europa está num valor inimaginável de 800€/tm. Em relação à farinha de girassol: também não há muita disponibilidade, com os preços acima dos 320€ até à nova campanha. Atendendo à falta de semente de girassol no Mar Negro, é de antever que os preços também não desçam até setembro.

Mesmo assim, de momento, estamos a falar de valores acima de 240€. A questão da falta de chuva no sul da América do Sul, só tenderá a reduzir o rendimento por hectare destes países, pelo que, produzindo o Brasil na Safra menos milho, vai necessitar que mais quantidade da Safrinha fique no Brasil, havendo menos disponibilidade para exportar. Em relação ao trigo e à cevada, tem estado a ser oferecidos acima dos 300€ nos portos nacionais. Se as condições de chuva em Espanha forem regulares, é provável que possamos ver os agricultores espanhóis a vender cevada abaixo dos 300€. No entanto, não antevejo que estes cereais possam ficar mais baratos do que o milho ao longo de 2022.

CEREAIS O mundo não estava preparado para que a China passasse de não importar quase nada, para importar 30 milhões de toneladas de cereais (milho), em 2020. Em 2022 continua a não estar preparado. Para termos uma referência desta procura adicional, este ano a Ucrânia deve produzir 42 milhões de toneladas. Assim, e apesar de um aumento da produção mundial, temos os preços do milho em Lisboa a 270€, à espera que a Safrinha chegue em agosto.

CONCLUSÃO A base de todos os negócios é a margem, e esta é maior ou mais pequena de acordo com o equilíbrio entre a procura e a oferta. Por outras palavras, de acordo com a relação entre a capacidade instalada e o consumo. No caso da produção do leite, a situação portuguesa é demasiado má para ser verdade: existe uma entropia que não deixa o setor nacional da produção de leite gerar a margem que os seus congéneres do norte da Europa conseguem, estando ambos numa realidade de custos semelhante. Assim, aqui ficam os meus votos para que a fileira se organize e corrija a parte das receitas. Uma vez que, pelo lado dos custos não é de esperar em 2022 uma melhoria. Despeço-me com amizade.

COLHEITAS NA CHINA milhões de tm

19/20

20/21

21/22

18,10

19,60

16,40

Importação

98,50

99,80

100,00

Procura

109,20

111,60

116,70

26,8

34,48

34,08

260,80

260,70

272,60

7,60

29,50

26,00

Procura

278,00

285,00

294,00

Stocks finais

200,50

205,70

210,20

SOJA Produção

Stocks finais MILHO Produção Importação

COLHEITAS MUNDIAIS milhões de tm

14/15

15/16

16/17

17/18

18/19

19/20

20/21

21/22

Produção mundial

319,0

312,80

351,40

342,09

360,30

39,00

366,20

372,60

Stock finais

77,6

76,60

96,00

98,56

111,88

96,04

99,88

95,20

24%

24%

27%

29%

31%

28%

27%

26%

Produção mundial

1008,80

961,90

1070,20

1076,20

1123,30

1116,50

1122,80

1207,00

Stock finais

208,20

210,90

227,00

341,20

320,80

303,10

292,20

303,10

21%

22%

21%

32%

29%

27%

26%

25%

SOJA

MILHO

Fonte USDA s&d, relatório de janeiro

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OBSERVATÓRIO DO LEITE

DEPOIS DA PANDEMIA, A INFLAÇÃO

O NOVO ANO JÁ NOS BATEU À PORTA, E É COM IMENSO GOSTO QUE VOS DAMOS AS BOAS VINDAS A MAIS UMA EDIÇÃO DO NOSSO OBSERVATÓRIO. Por Joana Silva, Médica Veterinária | Fontes Agriland, AHDB, Dairy Global, Comissão Europeia, Farmers Weekly, Rabobank, The Dairy Site, USDA

O

novo ano já nos bateu à porta, e é com imenso gosto que vos damos as boas vindas a mais uma edição do nosso Observatório. O final do ano passado não foi animador para alguns produtores-chave, com o clima desfavorável a impactar negativamente a produção na Oceania e o estrangulamento das margens dos produtores europeus e norte-americanos a dificultar o crescimento da produção, mesmo com um novo fôlego na procura e a melhoria dos preços do leite. As dificuldades logísticas, sentidas maioritariamente no segundo semestre de 2021, abrandaram o crescimento das exportações, que baixou de 6% no primeiro semestre para 3% no terceiro trimestre do ano.

Ainda assim, as previsões apontam para que a tendência de melhoria seja uma constante este ano, com a expectável dominância sobre a pandemia – mesmo com a ameaça da nova variante – e a esperança da recuperação económica. A maior "liberdade" dos cidadãos com o aliviar das restrições também será um impulsionador de produtos lácteos de valor acrescentado, como natas e queijos, cujo consumo é tendencialmente maior fora do ambiente doméstico como, por exemplo, nos restaurantes. Na Europa, de acordo com as previsões da UE, 2022 será também um ano de recuperação e de maiores volumes de leite produzidos, mesmo com a contínua tendência de redução dos efetivos. A evolução positiva deverá ser transversal aos principais produtos lácteos ( figura 1).

076

Especialmente para a Europa Ocidental, o queijo continuará a ser uma aposta segura para todos os intervenientes, desde a produção, passando pelos retalhistas e culminando nos consumidores. Menos saborosas estão as relações entre alguns países, com a Bielorrússia a aplicar desde o dia 1 de janeiro um embargo às importações de produtos agrícolas da União Europeia, Estados Unidos, Noruega, entre outros. O embargo será alegadamente fundamentado nas sanções aplicadas ao país. Na América do Sul, apesar da seca sentida em alguns países, a Argentina e o Chile têm vindo a registar aumentos da produção. Apesar do mercado interno estar a conseguir absorver a produção de queijo, o mesmo não se aplica ao leite em pó, cujos stocks são um problema

em algumas partes da região. A redução das importações por parte do Brasil e os constrangimentos logísticos globais contribuem para agravar a situação. Apesar da recuperação prevista a diferentes níveis, o crescimento da produção deverá ser ensombrado pelo aumento significativo dos custos no setor primário e em serviços como a energia e os combustíveis, mas também pelas incertezas meteorológicas, falta de mão de obra qualificada e quebras de qualidade na alimentação dos efetivos. No Reino Unido, por exemplo, atingiu-se um aumento de cerca de 3 cêntimos por litro de leite, um máximo histórico em sete anos, com uma previsão de aumento paralelo de 5 a 6 cêntimos nos custos de produção. De facto,


Depois da pandemia, a inflação

OBSERVATÓRIO DO LEITE

FIGURA 1 UE27 - PRODUÇÃO DE PRODUTOS LÁCTEOS 2021

2%

1%

0%

-1%

-2% Queijo

Manteiga

Numa nota mais esperançosa e, à semelhança do ano passado, 2022 quer-se “verde” na produção primária. No âmbito do Pacto Ecológico Europeu, a União Europeia reservou uma verba de 185,9 milhões de euros para a promoção de produtos agrícolas orgânicos, sustentáveis e em conformidade com altos padrões de bemestar animal. Este projeto abrange toda a cadeia “do prado ao prato”, e pretende também ser uma poderosa ferramenta não só junto dos

consumidores europeus, mas também fortificar os produtos agrícolas além-fronteiras em mercados estratégicos, como o Japão, Coreia do Sul, Canadá e México, ganhando quota de mercado e aumentando a sua competitividade. De acordo com o mais recente relatório da Comissão Europeia, relativamente à evolução do setor na próxima década, é expectável que, em 2031, 15% de toda a área agrícola cultivável seja dedicada à produção biológica.

WMP (Leite em pó integral)

Alimento concentrado +22%

2020

Pastagens e forragens +10%

Custos totais

A sustentabilidade essencial à continuidade do setor poderá, segundo a Comissão Europeia, abrandar os crescimentos da produção para 0,5% ao ano, atingindo-se em 2031 as 162 milhões de toneladas de leite, mesmo com uma estimativa de menos 1,5 milhões de cabeças, fruto do aumento da produtividade e inovações tecnológicas. A produção biológica deverá totalizar 8% do total no final da década, uma evolução significativa face ao peso de 3,5% registado em 2019.

FIGURA 3 LEITE À PRODUÇÃO | PREÇOS MÉDIOS MENSAIS EM 2020/2021 ANOS

2021

Outras despesas essenciais +4%

SMP (Leite em pó desnatado)

Fonte: AHDB, https://ahdb.org.uk/news/eu-predicts-growth-recovery-in-2022

FIGURA 2 CUSTOS POR LITRO 2021e Alteração de gastos relativa a 2020

Alimento concentrado -2%

2022

3%

Alteração anual em toneladas

a inflação é apontada como um dos maiores desafios para 2022 no setor agrícola, incluindo o leiteiro, e poderá estrangular as margens dos produtores mesmo com um mercado recetivo a aumentos de produção. O aumento dos custos de produção não é algo estranho ao setor leiteiro. No seu mais recente relatório, o Teagasc, a Autoridade de Desenvolvimento Agrícola e Ambiental da Irlanda, caracteriza a variação dos custos de diversas variáveis em 2021 face ao ano anterior (Figura 2), com uma maior pressão sentida a nível da alimentação e da energia e combustíveis. A nível dos fertilizantes, por exemplo, é apontado um aumento de preços na casa dos 120%. Para 2022, o relatório aponta para um aumento da produção irlandesa na ordem dos 3% (versus um aumento de 6% registado em 2021), com um aumento dos custos de produção de 13%, o que deverá arrastar a margem líquida por litro de leite para uma perda de 23% face a 2021, aproximando-se assim dos valores registados no ano de 2020. Será expectável que estes números se tornem familiares além-fronteiras.

Eletricidade e combustíveis +11%

Fonte: Agriland, https://www.agriland.ie/farming-news/outlook-21decrease-in-net-margin-for-dairy-sector-expected/

MESES

EUR/KG

TEOR MÉDIO MG1 (%)

Açores

Continente

Açores

Continente

Açores

NOVEMBRO

0,315

0,288

3,90

3,90

3,36

3,29

DEZEMBRO

0,315

0,284

3,92

3,89

3,38

3,24

JANEIRO

0,315

0,282

3,94

3,83

3,35

3,20

FEVEREIRO

0,311

0,278

3,83

3,77

3,30

3,15

MARÇO

0,312

0,276

3,74

3,72

3,33

3,13

ABRIL

0,312

0,277

3,72

3,67

3,33

3,17

MAIO

0,312

0,275

3,75

3,67

3,33

3,12

JUNHO

0,310

0,276

3,71

3,65

3,30

3,11

JULHO

0,309

0,275

3,71

3,68

3,24

3,09

AGOSTO

0,310

0,276

3,77

3,73

3,29

3,10

SETEMBRO

0,312

0,279

3,79

3,78

3,30

3,13

OUTUBRO

0,328

0,289

3,89

3,79

3,31

3,19

NOVEMBRO

0,330

0,293

3,96

3,85

3,36

3,24

Fonte: SIMA, Gabinete de Planeamento e Políticas; MG(1) - Matéria gorda

077

TEOR PROTEICO (%)

Continente


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REVISTA RUMINANTES

ÍNDICE VL E ÍNDICE VL-ERVA

PRODUÇÃO DE LEITE, UMA MORTE ANUNCIADA

ANUNCIA-SE A MORTE DE UM SETOR QUE CONTRIBUI PARA REDUZIR A DEPENDÊNCIA ALIMENTAR. EM DIÁLOGO COM ALGUNS PRODUTORES EUROPEUS, SOMOS FREQUENTEMENTE QUESTIONADOS SOBRE A SITUAÇÃO INADMISSÍVEL QUE VIVE A PRODUÇÃO DE LEITE EM PORTUGAL. NÃO COMPREENDEM COMO EM PORTUGAL, ONDE OS PRODUTORES É QUE “MANDAM” ATRAVÉS DAS SUAS ORGANIZAÇÕES COOPERATIVAS, OS PREÇOS PAGOS À PRODUÇÃO SÃO TÃO BAIXOS, MUITO MAIS BAIXOS DO QUE O PREÇO PAGO PELOS OPERADORES PRIVADOS DOS SEUS PAÍSES ONDE QUEM "MANDA" SÃO AS EMPRESAS. Por António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco; Carlos Vouzela, docente/investigador, Faculdade de

A

Ciências Agrárias e do Ambiente da Universidade dos Açores/IITAA; Nuno Marques, Revista Ruminantes.

nalisamos neste número da Ruminantes os Índices VL e VL - ERVA para o período de agosto a outubro de 2021. Durante o trimestre em análise, o preço médio do leite pago aos produtores individuais do continente variou entre 0,310 €/kg, em agosto, e 0,328 €/kg, em outubro. Na Região Autónoma dos Açores o preço médio do leite pago aos produtores individuais variou entre 0,276 €/kg, em agosto, e 0,289 €/kg, em outubro (SIMA-GPP, 2021). Quando comparado com o preço médio de 0,3739 €/kg de leite pago aos produtores da UE27 (agosto, setembro e outubro de 2021), verifica-se que o preço médio de 0,3048 €/kg de leite pago aos produtores portugueses

é muitíssimo inferior de tal forma que, se os produtores portugueses fossem pagos com o valor médio recebido pelos nossos congéneres europeus, esta grande diferença de +6,91 cêntimos por kg de leite (MMO, 2021) seria suficiente para garantir o sucesso económico de qualquer exploração leiteira em Portugal. A situação é de tal forma grave que, no terceiro trimestre de 2021, Portugal foi o país da UE27 onde o leite foi pago aos produtores ao preço médio trimestral mais baixo, 0,3048 €/ kg (agosto 0,2987 €/kg, setembro 0,3007 €/kg e outubro 0,3149 €/ kg). A título comparativo, nos 5 países maiores produtores de leite da UE27, os preços médios do mesmo trimestre foram em França 0,3875 €/kg, na Holanda 0,3842 €/kg, em Itália 0,3728 €/ kg, na Alemanha 0,3777 €/kg e

na Polónia 0,3467 €/kg. Até em Espanha o leite foi pago a um preço muito superior (+2,95 cêntimos/kg). Consideramos que esta situação, recorrente desde há vários meses, tem que acabar sob pena de destruirmos o setor leiteiro em Portugal. Exige-se o esforço imediato de quem recolhe e transforma o leite de acrescentar valor a este produto. No continente e em algumas ilhas da Região Autónoma dos Açores, os operadores privados que recolhem e transformam o leite têm vindo a trabalhar neste sentido, desenvolvendo e apresentando no mercado novos produtos lácteos, com maior valor acrescentado. Em diálogo com alguns produtores europeus, somos frequentemente questionados sobre a situação inadmissível

078

que vive a produção de leite em Portugal. Não compreendem como em Portugal, onde os produtores é que “mandam” através das suas organizações cooperativas, os preços pagos à produção são tão baixos, muito mais baixos do que o preço pago pelos operadores privados dos seus países onde quem “manda” são as empresas. Relativamente ao trimestre anterior, as fontes proteicas (bagaços de colza, girassol e soja44) diminuíram 4,8%, enquanto as fontes de glúcidos facilmente fermentescíveis (cevada e milho) aumentaram 6,3%. Esta evolução de preços provocou uma diminuição de 0,36% no preço médio das cinco principais matérias-primas que entraram na formulação dos alimentos compostos utilizados neste trabalho. Relativamente aos


Produção de leite, uma morte anunciada

ÍNDICE VL E ÍNDICE VL-ERVA

ÍNDICE VL JULHO 2012 A OUTUBRO 2021 2,0 1,9 1,8 1,7 1,6 1,5 1,4 1,3 1,2 1,1 setembro

jan.'21

jan. '20

jan. '19

jan. '18

jan. '17

jan. '16

jan. '15

jan. '14

jan. '13

jul. '12

1,0

O ÍNDICE VL é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor no continente e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (concentrado 9,5 kg/ dia; silagem de milho 33 kg/dia; palha de cevada 2 kg/dia).

ÍNDICE VL-ERVA JULHO 2013 A OUTUBRO 2021 2,7 2,6 2,5 2,4 2,3 2,2 2,1 2,0 1,9 1,8 1,7 1,6 1,5 1,4 1,3 1,2 1,1 setembro

jan.'21

jan. '20

jan. '19

jan. '18

jan. '17

jan. '16

jan.

jan. '14

jul. '13

1,0

O ÍNDICE VL – ERVA é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago aos produtores na Região Autónoma dos Açores e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (primavera/verão 60 kg/dia de pastagem verde, 10 kg/dia de silagem de erva e de milho, 5,6 kg/dia de concentrado; outono/inverno 47 kg/dia de pastagem verde, 13,3 kg/dia de silagem de erva e de milho, 6,7 kg/dia de concentrado).

alimentos forrageiros, a palha, a silagem de milho e o feno-silagem aumentaram de preço em cerca de 9% devido aos aumentos dos preços dos adubos, dos combustíveis e dos custos com o transporte. No continente e relativamente ao trimestre anterior, a ligeira redução do preço médio das matérias-primas e o aumento do preço das forragens provocou um aumento no custo da alimentação da vaca leiteira tipo (+2,42%), enquanto na Região Autónoma dos Açores o aumento foi de 6,8%. Esta situação é influenciada pela alteração do regime alimentar da vaca tipo nos Açores que, a partir de outubro, inclui menor consumo de pastagem e maior consumo de alimento composto e de alimentos conservados.

A evolução do preço do leite e dos custos da alimentação refletiu-se no Índice VL e no Índice VL - ERVA que em outubro de 2021 foi, respetivamente, de 1,566 e de 1,517. De referir que em outubro de 2020 o Índice VL havia sido de 1,633 e o Índice VL ERVA de 1,596. Um índice inferior a 1,5 (valor muito baixo) indica forte ameaça para a rentabilidade da exploração leiteira; um índice entre 1,5 e 2,0 (valor moderado) indica que a produção de leite é um negócio economicamente viável, refletindo-se com uma maior positividade quanto mais próximo estiver do valor 2,0; um índice maior do que 2,0 (valor elevado) indica que estamos perante uma situação muito favorável para o sucesso económico da exploração de leite (Schröer-Merker et al., 2012). 079

EVOLUÇÃO DO ÍNDICE VL E ÍNDICE VL - ERVA OUTUBRO 2020 A OUTUBRO 2021 Mês

Índice VL

Índice VL - ERVA

out-20

1,633

1,596

nov-20

1,614

1,612

dez-20

1,611

1,590

jan-21

1,529

1,509

fev-21

1,505

1,481

mar-21

1,551

1,498

abr-21

1,538

1,775

mai-21

1,523

1,725

jun-21

1,535

1,749

jul-21

1,547

1,762

ago-21

1,490

1,742

set-21

1,511

1,765

out-21

1,566

1,517

Os valores são influenciados pela variação mensal do preço do leite pago aos produtores do continente (Índice VL) e da Região Autónoma dos Açores (Índice VL - ERVA) e também pelas variações mensais dos preços de 5 matérias-primas utilizadas na formulação do alimento composto e pelo preço dos outros alimentos que integram o regime alimentar da vaca leiteira tipo.


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REVISTA RUMINANTES

Durante o trimestre em análise, o Índice VL atingiu o valor mínimo de 1,490 em agosto e o Índice VL-ERVA o valor mínimo 1,517 em outubro. Pode-se concluir que os produtores de leite do continente e dos Açores continuam a enfrentar uma situação muito pouco favorável com um baixo e instável rendimento da sua atividade empresarial. De realçar que o Índice VL-ERVA reflete a realidade da produção de leite muito mais interessante da ilha de S. Miguel onde se produz cerca de 60% do total de leite dos Açores e onde estão localizados operadores privados que conseguem acrescentar muito valor ao leite produzido localmente. Isto significa que em outras ilhas do Arquipélago a conjuntura é bem mais desfavorável.

Muito recentemente, o Governo Regional dos Açores pressionou as empresas de recolha e transformação do leite no sentido de valorizarem mais o preço do leite ao produtor. Caso em contrário, acionaria mecanismos oficiais que se poderiam refletir negativamente nas mesmas. Esta medida, provavelmente, já se poderá sentir nos resultados do próximo trimestre.

NOTAS

- no continente e nos Açores, o preço médio do leite pago aos produtores foi superior em outubro de 2021 relativamente a outubro de 2020, no continente +1,3 cêntimos/kg, nos Açores mais +0,7 cêntimos/kg; - durante o trimestre em análise houve um aumento do

preço do milho e da cevada e uma redução dos preços dos bagaços de colza, girassol e soja44. A evolução de preços destas matérias-primas teve implicações no preço dos alimentos compostos formulados para as vacas tipo do continente e do Açores, respetivamente, de -1,3% e -0,7% relativamente ao trimestre anterior; - embora nos Açores o preço do alimento composto também tenha diminuído, como a partir de outubro a vaca leiteira tipo passa a ingerir menor quantidade de pastagem, os custos com a alimentação da vaca tipo aumentam; - os preços dos alimentos forrageiros subiram relativamente ao trimestre anterior. Considera-se que esta

73º CONGRESSO

MMO (2021). European milk market observatory – EU historical prices. https:// ec.europa.eu/info/food-farming-fisheries/ farming/facts-and-figures/markets/overviews/ market-observatories/milk_en acesso em 29-12-2021. Schröer-Merker, E; Wesseling, K; Nasrollahzadeh, M (2012). Monitoring milk:feed price ratio 1996-2011. In: Chapter 2 – Global monitoring dairy economic indicators 1996-2011, IFCN Dairy Report 2012, Torsten Hemme editor, p 52-53. Published by IFCN Dairy Research Center, Schauenburgerstrate, Germany. SIMA-GPP (2021). Leite à produção - Preços Médios Mensais. Sistema de Informação de Mercados Agrícolas, Gabinete de Planeamento e Políticas. https://sima.gpp.pt/sima/default/ lacteos?la=1&ini=2020 acesso em 29-12-2021.

AO ARTIGO DA TECADI PUBLICADO NA REVISTA RUMINANTES Nº 43, PÁG. 27

CENTRO DE CONGRESSOS DA ALFÂNDEGA DO PORTO 5 A 9 DE SETEMBRO DE 2022

P

BIBLIOGRAFIA

ERRATA

FEDERAÇÃO EUROPEIA DE CIÊNCIA ANIMAL

ortugal acolherá o 73º Congresso da Federação Europeia de Ciência Animal (EAAP2022), uma das maiores conferências de ciência animal a nível mundial. O evento decorrerá no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, entre 5 e 9 de setembro de 2022. Trata-se de uma oportunidade única para o encontro entre investigadores, indústria e produtores, favorecendo a troca de ideias, experiências e promovendo o trabalho conjunto para a implementação de novas técnicas e inovação na produção. Ao longo da sua existência, a APEZ tem participado e promovido um conjunto de ações relacionadas com a área da ciência animal, sendo, em Portugal, uma das principais entidades representantes

evolução está relacionada com o forte aumento de preços dos adubos, dos combustíveis e do transporte; - as quatro considerações anteriores refletiram-se no Índice VL e no Índice VL ERVA que em outubro de 2021 foi, respetivamente, de 1,566 e 1,517.

desta área do conhecimento e de atuação profissional. A APEZ tem uma ligação estreita com a Federação Europeia de Zootecnia (European Federation of Animal Science - EAAP) que representa os interesses profissionais de investigadores e académicos, profissionais do sector, produtores, departamentos oficiais do sector, organizações de produtores, entre outros, ligados à produção animal na Europa. A Missão da EAAP, que a APEZ partilha, é promover a discussão, debate e disseminação de conhecimento relacionado com a produção animal entre a comunidade científica e organizações com interesse no sector. A EAAP tem, actualmente, 34 países membros (http://www.eaap. org/Content/members.htm), sendo Portugal país membro da EAAP desde 1954.

"EFEITO DO LEVUCELL SC EM VITELOS DESMAMADOS"

Por lapso, publicámos o gráfico referente a Ganhos Médios Diários (GMD, kg/d) com valores incorretos. Publicamos abaixo o mesmo gráfico com os valores corretos.

LEGENDA: Levucell aumenta o GMD dos vitelos, especialmente durante o segundo mês (+18,2%; p= 0,04).

080


081


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REVISTA RUMINANTES

COOPERATIVISMO

"A MUDANÇA TEM QUE OCORRER PARA UMA MELHOR CAPACIDADE DE GESTÃO QUE JÁ TIVEMOS." ENTREVISTA A VITORIANO MEDEIROS FALCÃO, PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA COOPERATIVA AGRÍCOLA BOM PASTOR. Por RUMINANTES | Foto FG

E

m vésperas de eleições para a nova Direção da Cooperativa Agrícola Bom Pastor, entrevistámos Vitoriano Medeiros Falcão, atual Presidente. A conversa começou pelo tema da situação menos boa que o setor leiteiro nacional atravessa, a que o responsável da Bom Pastor se mostrou apreensivo: "O novo ciclo de dificuldades, determinado pelo baixo preço do leite e pelo crescente custo de fatores de produção, situação que tem penalizado os nossos associados e a atividade da nossa cooperativa, que é desenvolvida na área do abastecimento de fatores de produção, máquinas e equipamentos agrícolas e prestação de serviços diversos aos agricultores. A situação é muito crítica, pois os produtores vêm reduzidos os valores recebidos do leite, em simultâneo com a subida vertiginosa de todos os custos de produção, incluindo mão-de-obra e todos os custos de contexto. Perante este cenário, a Bom Pastor tem amortecido as dificuldades dos associados, vindo a reduzir ao máximo as suas margens comerciais, antecipando o pagamento de prémios comunitários aos produtos lácteos para garantir as disponibilidades de tesouraria a muitos agricultores. Tem também promovido campanhas de produção com alargamento de prazos de pagamento e multiplicado os serviços de apoio aos agricultores." Qual o papel da Bom Pastor num mundo rural de S. Miguel/Açores? Olhando para as principais preocupações que assolam o nosso mundo e a Europa em particular, um

dos maiores desafios da agricultura da próxima década será o da sua adaptação às exigências crescentes determinadas pelas alterações climáticas. Os agricultores vão ser chamados a responder ao desafio da sustentabilidade ambiental, ou seja, a produzir de forma a provocar o menor impacto possível sobre o ambiente. No caso açoriano, importa afirmar que a nossa agricultura, ao contrário de tanta outra que se faz por esse mundo fora, é ambientalmente sustentável, pelas condições geográficas e climáticas em que se desenvolve, sem exaurir solos. Neste quadro de produção ambientalmente sustentável, temos que exigir das nossas agroindústrias mais competência na leitura das oportunidades do mercado, para posicionar os nossos produtos nas prateleiras dos consumidores, afirmando e enfatizando a sua proveniência. É importante também que saibam dirigir a transformação do leite de acordo com as efetivas necessidades de mercado e não para segmentos onde existe excesso de oferta. Desta forma tem agido uma das unidades industriais da Ilha, posicionando produtos no mercado com uma dinâmica indutora de uma imagem de felicidade dos animais nas nossas pastagens, assente numa forte campanha de visibilidade. Outras, ainda, procuram mercados especializados e/ou com alguma base alternativa ao mercado nacional, o que lhes tem permitido obter melhores resultados. Como exemplos, e num produto em que o mercado é excedentário em Portugal, o leite UHT, a Bel desenvolveu e lançou o “Programa Leite das Vacas Felizes” e a Pronicol, na ilha Terceira, integrada na Lactogal, lançou 082

o primeiro “Leite Biológico Açoriano”. Só depois apareceu a Unileite com o “Leite de Pastagem” que, olhando para as prateleiras das superfícies comerciais, não é valorizado como os outros. Que balanço faz destes 3 anos de mandato e o que implementaram de novo para os associados? O balanço que fazemos do nosso mandato é muito positivo. Conseguimos reduzir os prazos de pagamento das vendas a crédito e recuperar algum crédito que podia prescrever; aumentámos, de forma muito acentuada, 40% o volume de vendas (2018 a 2021) o que foi feito com base na competitividade obtida com a redução das margens comerciais, com a oferta de mais referências e produtos e com uma dinâmica de maior proximidade aos agricultores. Por outro lado, conseguimos estabelecer novas parcerias para a comercialização de produtos e bens necessários, com melhores condições de preço e pagamento. Convocámos entidades públicas para disponibilizarem os seus serviços de atendimento dos agricultores na sede da nossa cooperativa. Encontrámos forma de entregar bens como fertilizantes, rações e

"TEMOS QUE EXIGIR DAS NOSSAS AGROINDÚSTRIAS MAIS COMPETÊNCIA NA LEITURA DAS OPORTUNIDADES DO MERCADO."


Entrevista a Vitoriano Medeiros Falcão

COOPERATIVA BOM PASTOR

até gasóleo agrícola nas explorações dos nossos associados, sem custos acrescidos. Apostámos no estabelecimento de parcerias e créditos de campanha para aumentar a eficiência das produções forrageiras, reduzindo a dependência de compras de alimentos para os animais e redistribuímos resultados dos exercícios sociais por forma a compensar a fidelidade dos associados, entre outras iniciativas. Porque queremos estar sempre ao lado dos nossos associados e dos agricultores em geral, criámos uma delegação no Concelho do Nordeste, onde temos muita produção de leite, com um armazém como ponto de vendas, onde temos os mesmos produtos com preços idênticos aos praticados na nossa sede social, e convocámos as entidades públicas a disponibilizarem os seus serviços de atendimento aos agricultores na sede da nossa cooperativa. O que ficou por fazer? Para quem tem sonhos e ambição, há sempre coisas que ficam por fazer. Apesar de termos melhorado a área

de exposição de máquinas e alfaias agrícolas, continuamos longe de termos as infraestruturas adaptadas, em dimensão e qualidade, à nossa atividade comercial. O investimento na construção duma loja agrícola, com espaço para comercializar e degustar os nossos produtos de lácteos, para comercializar produções agrícolas excedentárias dos associados, nomeadamente de primores agrícolas, numa espécie de loja, de e para as famílias de agricultores, é um objetivo ainda por concretizar, mas que temos a certeza constituirá um local privilegiado e de procura da população em geral. À semelhança do apoio que damos à cultura do milho forrageiro, iremos trabalhar na melhoria das práticas de uso dos solos, nomeadamente para a produção de leguminosas, com recurso a modernas tecnologias de análise dos solos e monitorização das culturas, para uma produção de precisão, com menores custos e mais amiga do ambiente. Ficou também por acentuar a intercooperação com outras organizações de produtores, que potenciasse, por 083

"CRIÁMOS UMA DELEGAÇÃO NO CONCELHO DO NORDESTE, ONDE TEMOS MUITA PRODUÇÃO DE LEITE, COM UM ARMAZÉM COMO PONTO DE VENDAS(...)"

exemplo, a concentração de compras ou a partilha de recursos, por exemplo com outras cooperativas congéneres e com a mesma atividade económico-social, no interior das quais ainda existe resistência à união de esforços. O negócio do leite em Portugal, e particularmente nos Açores, atravessa um período difícil. Porquê? O negócio do leite em Portugal tem protagonistas muito fortes e dominantes. Apesar dos Açores representarem uma área territorial muito diminuta face ao todo nacional, na produção de leite


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REVISTA RUMINANTES

representam praticamente um terço da produção nacional. A questão que se coloca é que os maiores grupos nacionais têm unidades industriais nos Açores, o que lhes permite aproveitarem-se de produtos lácteos açorianos nas suas referências comerciais. Algumas unidades industriais locais desenvolveram novos conceitos para a comercialização dos seus produtos e encontraram mercados e parcerias que os valorizam; enquanto que a restante produção industrial láctea açoriana, detida pelo setor cooperativo, não tem sabido projetar, promover e valorizar no mercado muitas das suas marcas, nem tem conseguido reforçar, como seria desejável, a força de marcas de grande e boa aceitação no mercado nacional e exterior. Como é o caso dos queijos de S. Jorge, que merecem melhor visão, bem como um conjunto de pequenas produções, com características muito especiais, com maiores exigências na distribuição mas com grande potencial de vendas. Esta abordagem tarda em ser bem feita pela Lactaçores, empresa cooperativa com funções comerciais, de capitais exclusivamente regionais, da qual faz parte a Unileite como sua maior parceira. Com efeito, a Lactaçores tem privilegiado a produção de leite UHT para o mercado nacional, onde tal produto é excedentário, em vez de incrementar a produção de queijo, de que o nosso principal mercado é deficitário. Por outro lado, a Lactaçores tem que reconhecer e aproveitar o potencial de uma especialização das outras unidades industriais que a integram, desde logo do Queijo São Jorge, uma das melhores referências do mercado do queijo e que, por isso, tem de constituir fonte de melhoria da fileira do leite naquela ilha e, naturalmente, do rendimento dos seus produtores. O sucesso do setor cooperativo leiteiro dos Açores será garantido com uma nova abordagem, mais ambiciosa, da Lactaçores, que reconheça e valorize cada uma das suas parceiras na especialização e que as torne sustentáveis. Da parte da Cooperativa Agrícola do Bom Pastor, podemos e devemos tomar a responsabilidade de intervir diretamente para uma correta e melhor gestão da Unileite. Tal não tem acontecido pela dicotomia criada nas últimas eleições para os órgãos sociais de ambas as organizações que permitiram a renovação da sua gestão, mas mantiveram as orientações de gestão da Unileite. Se houver uma reversão da

gestão da Unileite e um novo e profícuo relacionamento com as demais associadas da Lactaçores, baseado no respeito pelas características e valor de cada uma, com uma clara orientação do negócio para segmentos de maior valorização, a situação de todos os cooperantes, em todas as Ilhas, sairá beneficiada. Qual é a razão pela qual se está a pagar o leite a um baixo preço? A razão dos baixos preços pagos pelo leite de muito boa qualidade, que produzimos, está na deriva da gestão incompetente que tomou conta das nossas organizações que o transformam e comercializam (Unileite/Lactaçores). A gestão das nossas organizações, que transformam o leite e que comercializam os nossos produtos lácteos, mostra-se incapaz de valorizar o setor e, como se percebe, disso se aproveitam os agentes privados. O que é necessário para valorizar o leite dos nossos associados e dos produtores, em geral, é substituir a incompetência por gente séria e capaz. Gente que perceba do negócio, que saiba gerir, que saiba perceber e ler os sinais e indicadores do mercado, que direcione a capacidade industrial para a produção de produtos de que o mercado carece, e não para produtos onde o mercado é excedentário, como é o caso do leite UHT, ou que saiba estabelecer parcerias comerciais estáveis que, conjuntamente com a sua capacidade industrial, garantem a valorização de todo o leite rececionado. A Bom Pastor tem uma indústria de lacticínios que é a Unileite. Nesta união de cooperativas representamos mais de 88% do leite que lhe é entregue para transformar. Por sua vez, a Unileite é a maior cooperativa das que constituem a Lactaçores, que comercializa a produção das associadas. Depende de nós a capacidade de convocar as pessoas certas e tecnicamente capazes de reerguer o setor. Vai levar tempo, mas não temos dúvidas de que é o que deve e tem de ser feito. Se olharmos ao nosso redor, as unidades industriais privadas têm apresentado bons resultados anuais, sem o mesmo nível de apoio financeiro público (comunitário e regional) que tem sido dirigido ao setor cooperativo. Ora, esta constatação impõe a conclusão de que uma mudança tem de ocorrer para uma melhor capacidade de gestão, que já tivemos. 084

"A GESTÃO DAS NOSSAS ORGANIZAÇÕES, AS QUE TRANSFORMAM O LEITE E QUE COMERCIALIZAM OS NOSSOS PRODUTOS LÁCTEOS, MOSTRA-SE INCAPAZ DE VALORIZAR O SETOR E, COMO SE PERCEBE, DISSO SE APROVEITAM OS AGENTES PRIVADOS."

Que medidas gostaria de ver implementadas pelo governo regional nos próximos 4 anos? Temos tido na Secretaria Regional da Agricultura, ao longo dos anos, um bom e diligente ator na definição das medidas de política que toma em articulação com organizações e dirigentes dos agricultores. Nunca sentimos falta de solidariedade por parte dos sucessivos titulares da nossa secretaria que, se mais não fizeram ou fazem, tal se deve ao facto de não existirem tantos recursos como todos gostaríamos. As medidas que hoje são necessárias já não se prendem com a dimensão das explorações, nem com a sua dispersão parcelar. Na estrutura fundiária deram-se passos importantes e devem manter-se e, se possível, também se devem melhorar todas as medidas que, no seu conjunto, reduziram o capital de queixa. Hoje importa refletir em questões como: - o arrendamento rural, nele se devendo compreender novos modelos de exploração de terra alheia; - o crescimento dos perímetros de reserva agrícola, para continuar a investir em infraestruturas que trazem benefício aos produtores; - as medidas adequadas à promoção e valorização do que produzimos e comercializamos; - a identificação de ineficiências; a desburocratização de processos e redução de carga administrativa; - a regulação do trabalho agrícola; - a capacitação científica e de investigação das unidades agroindustriais; - a investigação e experimentação de novos produtos, entre outras. Transversalmente a todo o setor devíamos refletir muito e começar a desenhar as medidas para a transição ambiental da nossa agricultura. A agenda ambiental será determinante no futuro próximo da nossa agricultura e vai requerer muitos recursos e grande determinação.


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NOTÍCIAS | PRODUTO

POPULAÇÃO DE GADO CAIU NA UE EVOLUÇÃO DAS POPULAÇÕES DE GADO (2001 = 100 com base no efetivo, UE, 2001 - 2020)

Suínos

BIOFEED

A ALIMENTAÇÃO BIOLÓGICA DA NANTA Biofeed é a nova marca da Nanta. Trata-se duma ração biológica, elaborada com ingredientes da agricultura biológica, comprometida com a produção biológica local. De acordo com o princípio "Da exploração à mesa", é fundamental assegurar que os animais sejam alimentados com as melhores matérias-primas disponíveis como primeiro elo da cadeia de produção de alimentos saudáveis e sustentáveis. Biofeed consiste em alimentos biológicos completos e equilibrados para cada espécie (vacas, ovelhas e cabras, porcos, aves, coelhos e cavalos), formulados com níveis ótimos de nutrientes, adaptados às necessidades de cada fase de produção. Para ovinos e caprinos, oferece soluções tanto para a produção de leite e carne, como para todas as fases de produção (iniciação, crescimento e engorda, manutenção, produção e extensiva). A alta palatabilidade e a segurança digestiva, para garantir bons resultados técnicos, são algumas das suas características mais notáveis. Para os bovinos de leite, garantem uma alta produção e qualidade do leite e uma alta ingestão de matéria seca. Quanto aos bovinos de carne, a Biofeed incorpora uma gama completa para o arranque, crescimento, engorda e acabamento de vitelos, bem como uma ração em tacos para os bovinos ao ar livre. Na criação de coelhos, conta com uma ração formulada para coelhos de todas as idades, especialmente para coelhas reprodutoras e machos, e outra para coelhos em fase de crescimento. Para a suinicultura, dispõe de alimentação de desmame de leitões, porcas, porcos de engorda e porcos em regime extensivo. Na avicultura, proporciona uma vasta gama de rações equilibradas para a alimentação de galinhas poedeiras e frangos. Por último, a Biofeed dispõe de rações biológicas equilibradas para cavalos de alto rendimento, crias e manutenção, formuladas com níveis ótimos de fibras, proteínas, gorduras, minerais e amido, que oferecem uma boa digestibilidade e totalmente livres de pó para evitar problemas respiratórios. Os produtos Biofeed estão disponíveis em sacos de 25kg, na avicultura dispõe também de sacos de 5kg para os produtores particulares. Mais info: www.biofeednutrition.com.

Bovinos

O relatório da Eurostat intitulado “Números chave na cadeia alimentar europeia – edição 2012” dá conta que durante as duas últimas décadas houve um declínio nas populações de gado na EU. Com efeito, entre 2001 e 2020, o efetivo total de gado suíno, bovino, caprino e ovino caiu cerca de 8,9%.

Ovinos

Caprinos

Em 2020 existiam na EU 146 milhões de suínos, 76 milhões de bovinos e 75 milhões de ovinos e caprinos. Este relatório, que reporta ainda questões como a densidade do gado nos diversos países, a produção de carne, a produção de leite e de cereais pode ser consultado na íntegra no site da Eurostat.

Complementamos a nossa GAMA DIOXIDOS

G-Mix Power

Golden Mix

Power Blue Mix

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BOVINOS DE LEITE

INVESTIGAÇÃO LEITEIRA O QUE HÁ DE NOVO? NESTA RUBRICA APRESENTAMOS RESUMOS DOS TRABALHOS MAIS RECENTES PUBLICADOS NO JOURNAL OF DAIRY SCIENCE. Traduzido e adaptado por Pedro Nogueira, Engº zootécnico, Trouw Nutrition/Shur-Gain, e-mail: Pedro.Nogueira@trouwnutritioncom

“PERCEÇÕES DO PRODUTOR DE LEITE, DO APARADOR DE CASCOS E DO VETERINÁRIO RELATIVAMENTE ÀS BARREIRAS E ÀS FUNÇÕES DE CADA UM NO MANEIO DOS PROBLEMAS DE CASCOS”

(Journal of Dairy Science Vol. 104 No. 11, 2021)

Este artigo, escrito por investigadores da Universidade de Minnesota e uma empresa de consultoria de Guelph, Ontário, tentou abordar as perceções sobre os problemas de cascos, as perceções sobre os papéis de cada interveniente na gestão dos problemas de cascos e as barreiras existentes no melhoramento da gestão dos problemas de cascos dentro dos grupos de produtores de leite, veterinários e aparadores de cascos. Os autores referem que, embora as claudicações sejam uma das principais preocupações relativamente ao bem-estar animal na indústria de laticínios, nem sempre há a melhor comunicação entre as partes interessadas (acima mencionadas) no que diz respeito ao maneio das claudicações nas explorações leiteiras. Este estudo, realizado através de discussões facilitadas de 1 hora, identificou alguns aspetos que podem ajudar a melhorar a colaboração entre produtores de leite, aparadores de cascos e veterinários, no sentido de melhorar a gestão dos problemas de cascos em explorações leiteiras. Há cada vez mais interesse em compreender a psicologia e as experiências das principais partes interessadas relativamente à adoção ou recomendação de estratégias de gestão de doenças em explorações leiteiras. A razão para isso, dizem os autores, é que as estratégias mais meticulosas de controle e prevenção de doenças são de pouca utilidade se as partes interessadas não as implementam ou apoiam e, portanto, é importante

compreender as barreiras enfrentadas pelos agricultores e consultores agrícolas à medida que eles tomam decisões sobre a saúde e o bem-estar das vacas. Os autores dizem que os agricultores, em última análise, são os que tomam as decisões de gestão, financeiras e éticas nas suas explorações e que os investigadores estão cada vez mais a direcionar a sua atenção para as motivações dos agricultores e as barreiras sentidas no maneio dos problemas podais. Eles citam, como exemplo, um estudo que descobriu que os agricultores eram motivados pela dor e sofrimento de vacas coxas e tinham orgulho em ter uma manada saudável. Os agricultores também relataram falta de tempo e mãode-obra como barreiras importantes para a implementação de práticas de maneio das claudicações. Outras barreiras relatadas incluíram a falta de equipamento e a falta de conhecimento ou treino necessário. Por outro lado, referem os autores, quer os veterinários quer os aparadores de cascos são partes integrantes para a compreensão do maneio das claudicações, visto que muitas vezes assumem funções de aconselhamento ou suporte. As conclusões deste estudo foram que os produtores de leite, aparadores de cascos e veterinários que participaram consideraram os problemas de cascos um problema de saúde e um desafio de maneio altamente complexo. Parte dessa complexidade está relacionada com o facto de que as relações entre a patologia, as instalações e o maneio nem sempre são bem compreendidas ou fáceis de mudar, e também com o facto de que muitas vezes não haver acordo sobre uma definição de claudicação, normalização dos seus sinais, e a interconexão das claudicações com outras questões de saúde e maneio. Os autores afirmam que estas questões pareceram contribuir para a resignação 086

dos participantes de que os problemas de cascos são inevitáveis. Eles também concluíram que, apesar das preocupações comuns sobre as claudicações entre estes grupos (produtores, veterinários e aparadores de cascos), os entrevistados relataram uma falta de comunicação, especialmente entre os aparadores de cascos e os veterinários. Os participantes expressaram o desejo de trabalhar juntos de forma mais produtiva, com os aparadores de cascos e os veterinários a valorizar a capacidade de transmitir uma mensagem consistente aos agricultores. Os autores dizem que estas descobertas sugerem que o aumento da comunicação e colaboração entre o agricultor, o aparador de cascos e o veterinário na tomada de decisões pode ajudar a alcançar melhorias no maneio dos problemas podais. “EFEITOS DAS DOENÇAS RESPIRATÓRIAS DOS BEZERROS NA SAÚDE E NO DESEMPENHO DAS VACAS LEITEIRAS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA E METAANÁLISE” (Journal of Dairy Science Vol. 104 No. 7, 2021)

Este artigo, de investigadores canadianos e franceses, reviu a literatura científica sobre os efeitos da Doença Respiratória de Bovinos (DRB) na saúde e no desempenho de vacas leiteiras, especialmente os seus efeitos a curto e longo prazo. Para isso, os autores selecionaram apenas estudos que relatam casos de DRB de ocorrência natural desde o nascimento até 12 meses de idade em vitelas leiteiras na Europa e América do Norte. O estudo avaliou 4 desfechos: probabilidade de mortalidade, probabilidade de refugo da exploração antes do parto, ganho médio diário (GMD) e produção de leite durante a primeira lactação.


Investigação leiteira, o que há de novo?

NOTÍCIAS | BOVINOS DE LEITE

Os autores, citando vários outros autores, explicam que a doença respiratória bovina é uma das doenças infeciosas mais comuns em vitelos leiteiros na América do Norte e na Europa, referindo que a doença é causada por vírus e bactérias e que ocorre predominantemente antes dos 6 meses de idade, quando a imunidade passiva transmitida pela mãe desaparece ou quando as defesas respiratórias são enfraquecidas por fatores de stress. Referem que a DRB causa perdas económicas substanciais para as explorações leiteiras individuais, bem como para a indústria leiteira como um todo. Os custos gerais da DRB em vitelos estão associados ao custo imediato do tratamento da doença e aos efeitos negativos da DRB na saúde e no desempenho. Os custos do tratamento incluem produtos farmacêuticos e mão de obra, e os efeitos na saúde e no desempenho incluem, entre outros, aumento da mortalidade, aumento do abate prematuro, aumento da idade ao primeiro parto, redução do GMD e redução da produção de leite na primeira lactação. Os autores dizem que os dados sobre saúde e desempenho, especialmente os efeitos de curto e longo

prazo da DRB na vitela, são escassos, mas é importante ter um melhor entendimento das perdas económicas globais associadas à DRB, a fim de decidir quais as medidas preventivas de DRB devem ser implementadas em explorações leiteiras. Os autores indicam que entre os resultados para os quais foi obtida informação sumarizada, os efeitos a curto prazo da DRB (ou seja, mortalidade e GMD) foram provavelmente estimados com maior precisão do que os efeitos a longo prazo (ou seja, probabilidade de refugo antes do primeiro parto e produção de leite durante a primeira lactação). Os autores explicam que a mortalidade e a redução do GMD são consequências diretas da DRB, enquanto que a probabilidade de refugo antes do primeiro parto e a probabilidade de menor produção de leite dependem de outros fatores, como por exemplo de decisões dos produtores (ou seja, venda, refugo, reprodução), da fertilidade, do GMD e da idade ao primeiro parto. Eles fornecem como exemplo o caso de uma novilha com um GMD reduzido, diagnosticada com DRB enquanto vitela, que pode levar a

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uma decisão de não a inseminar aos 15 meses de idade ou abatê-la / vendê-la após apenas 1 ou 2 tentativas de inseminação mal sucedidas o que, portanto, poderia afetar diretamente o probabilidade de remoção do rebanho antes do primeiro parto. Por outro lado, os efeitos de longo prazo da DRB foram provavelmente subestimados, uma vez que as novilhas mais severamente afetadas com a DRB em vitelas, morrem ou são removidas do rebanho antes do primeiro parto. No geral, com base no modelo usado para analisar a literatura científica, os autores concluíram que novilhas com diagnóstico de DRB durante a fase de vitelas tinham uma probabilidade de morrer 2,85 vezes mais elevada e uma probabilidade de refugo (mortas, abatidas ou vendidas) antes do primeiro parto 2,30 mais elevada em comparação com novilhas não diagnosticadas com esta condição. Novilhas com DRB em vitela também tiveram um ganho médio diário reduzido de 0,067 kg/dia e produziram 121,2 kg de leite a menos durante a primeira lactação.


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POLÍTICA EUROPEIA | FARM TO FORK

O FUTURO DA PRODUÇÃO BIOLÓGICA NA UE E O SETOR DO LEITE

EM 2019 A UNIÃO EUROPEIA (UE) LANÇOU A TÃO ESPERADA ESTRATÉGIA DO “PRADO AO PRATO” (FARM TO FORK). ESTA ESTRATÉGIA TEM VINDO A FUNCIONAR COMO UMA DAS BASES DO MANDATO DA ATUAL COMISSÃO EUROPEIA, SENDO A FUNDAÇÃO DE MUITAS DAS SUAS DECISÕES, DOCUMENTOS, DEBATES E AÇÕES. Por RUMINANTES | Foto 123RTF

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m 2019 a União Europeia (UE) lançou a tão esperada estratégia do “prado ao prato” ( farm to fork). Esta estratégia tem vindo a funcionar como uma das bases do mandato da atual Comissão Europeia, sendo a fundação de muitas das suas decisões, documentos, debates e ações. Um dos objetivos da estratégia do “prado ao prato” é o aumento da produção biológica em pelo menos 25% da terra agrícola da UE até 2030. O objetivo é bastante vago, não incidindo sobre um tipo de produção biológica específica, ou ainda não estabelecendo se a percentagem a obter deve ser calculada como um total europeu ou individualmente

em cada Estado Membro. Apesar de este objetivo não ter qualquer vínculo legislativo, tem alguma importância, uma vez que é um dos poucos que é comum à estratégia “do prado ao prato” e à estratégia da Biodiversidade (Plano da Comissão Europeia para proteger a natureza e reverter a degradação dos ecossistemas). A inclusão do objetivo da produção biológica nos dois planos demonstra que a Comissão Europeia vê a produção biológica com uma chave para uma produção europeia mais sustentável, mas também como a chave para uma regeneração e aumento da biodiversidade na UE. A falta de detalhe por trás do objetivo tem levado a várias discussões sobre que produções agrícolas deverão

aumentar mais as suas quotas de produção biológica e que países terão mais dificuldades em cumprir os objetivos. Enquanto a maior parte das organizações não governamentais aplaudiram este objetivo e até afirmaram ficar aquém do necessário, as associações de produtores agrícolas e da indústria de produção animal temem que este alvo seja impossível de atingir e até possa prejudicar os produtores dos diferentes setores. A Comissão Europeia publicou também uma nova legislação de produção biológica e um plano de ação. Por um lado, a nova legislação tornou-se mais restrita em alguns aspetos como a parte de bem-estar animal (há por exemplo maior detalhe nos

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requisitos para a aquacultura). Por outro lado, o plano não providencia qualquer objetivo concreto para a aquacultura, continuando apenas a referir-se a um aumento substancial, sem um valor específico, tirando muita da pressão deste setor. Segundo o plano de ação da UE, se as tendências continuassem exatamente iguais, em 2030, devido ao crescimento que se tem verificado nos últimos anos, a produção biológica ocuparia pelo menos 15 a 18% da terra agrícola europeia. Igualmente no plano de ação, os Estados Membros da União Europeia são convidados a fazer os seus planos e demonstrar como conseguirão atingir os objetivos a nível nacional. Estes deverão começar a surgir este ano.


O futuro da produção biológica na UE e o setor do leite

POLÍTICA EUROPEIA

MAS O QUE SIGNIFICA TUDO ISTO EM TERMOS PRÁTICOS PARA O SETOR DO LEITE? O setor leiteiro é um setor bastante importante no que diz respeito ao uso de terras agrícolas. No entanto, apenas 4% destas terras são dedicadas à produção biológica. Um aumento da produção biológica para tentar atingir os objetivos propostos pela UE traz alguns medos à indústria, como o da pressão nos stocks de leite devido a uma menor produção, o aumento dos custos de produção (principalmente durante a transição na qual os produtos ainda não são vendidos como biológicos) e na dificuldade de tradução destes custos de produção em valores finais mais altos ao consumidor. De acordo com a análise económica e financeira do banco ING, os seguintes pontos determinarão o sucesso desta conversão na indústria leiteira:

1. O apoio dos Estados Membros e do setor leiteiro: será muito importante que os países da UE bem como o setor leiteiro estejam confiantes e apoiem este objetivo. Neste momento há alguma resistência devido ao medo destes 25% levarem a um retrocesso nos objetivos de diminuir a pegada de carbono do setor. É também essencial que os grandes produtores, como a França, Alemanha e Espanha, estejam totalmente dispostos a cumprir o objetivo. Se tal não acontecer, dificilmente este será atingido. 2. Implementar um conjunto de regulamentos que sejam coerentes A transformação de um setor necessita de uma abordagem holística que inclui a mudança a todos os níveis da cadeia de fornecimento, bem como transversal aos vários setores como o da saúde, ambiental e

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da agricultura. Presentemente, o banco ING não se demonstra muito positivo que tal aconteça referindo as difíceis negociações da Política Agrícola Comum, nas quais se revelou ser bastante difícil direcionar fundos para práticas agrícolas mais sustentáveis. 3. Superar custos de transição e riscos A transição para a produção biológica, bem como os riscos ligados à mesma, são obstáculos importantes que levam a um aumento de custos ao nível do produtor. Tais custos terão que ser distribuídos ao longo da cadeia de fornecimento e provavelmente uma percentagem cairá sobre o consumidor, que deverá estar preparado para pagar. 4. Criar consciencialização do consumidor e intenção de

pagar um valor extra Será essencial que o número de cidadãos europeus dispostos a pagar por alimentos mais saudáveis aumente e concretize essa vontade. Caso contrário, sem procura não haverá um crescimento tão acentuado da produção leiteira biológica tal como é necessário para cumprir o objetivo de 25%. Esta Comissão Europeia é uma das mais progressistas e proativas dos últimos tempos, tendo como um dos principais objetivos tornar a produção da UE mais sustentável, sendo um dos veículos o aumento da produção biológica. Isto significa que, até 2030 a pressão da UE, e consequentemente dos governos nacionais, irá aumentar para atingir os 25% de terreno agrícola biológico, pelo que o setor deve estar atento a qualquer novidade vinda de Bruxelas.


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OS PEQUENOS RUMINANTES E A DE HEUS

INOVAÇÃO, TECNOLOGIA E SUSTENTABILIDADE COM OS ALICERCES NO PASSADO, A DE HEUS PROJETA O FUTURO DA NUTRIÇÃO E O MANEIO DE OVINOS E CAPRINOS POR Departamento de Pequenos Ruminantes De Heus

F

oi no final da década de 80 que a Saprogal (empresa adquirida em 2015 pela De Heus) se começou a dedicar ao maneio e alimentação dos pequenos ruminantes. Estas espécies eram, nessa altura, tidas como ruminantes de inferior importância e, como tal, descuradas no que respeita às suas necessidades alimentares específicas ao longo da sua vida produtiva e do seu estado fisiológico. A forma negativa como eram encarados os pequenos ruminantes foi na altura uma oportunidade para a Saprogal se dedicar à sua alimentação e apostar nestas espécies, ajudando a produção a adotar técnicas e programas alimentares que permitissem alimentar de uma forma mais correta e eficaz, permitindo atingir melhores resultados económicos e animais mais saudáveis. Foram, a partir dessa altura, realizadas inúmeras ações de divulgação nas zonas mais representativas do país para a espécie ovina, tentando transmitir as boas práticas de maneio e apresentando os mais modernos programas alimentares. Com estas ações, a Saprogal foi-se diferenciando e criando

notoriedade junto da produção. Em 2015, com a aquisição da Saprogal pela De Heus – empresa posicionada no top 10 mundial em nutrição animal - foi realizado em Portugal um enorme investimento industrial e tecnológico e foram implementadas as mais modernas ferramentas para ajudar na elaboração das melhores dietas para os nossos animais. Juntando a experiência e knowhow local com todo o conhecimento e partilha global e as novas ferramentas, podemos afirmar que a De Heus está hoje em dia na vanguarda da oferta de produtos e serviços aos seus clientes com explorações de pequenos ruminantes. Isto permite aos clientes não só atingirem os melhores resultados como adotarem as mais modernas práticas de trabalho que a legislação e os consumidores exigem, respeitando a saúde e o bem-estar animal. Alimentar os Animais com Responsabilidade (Responsible Feeding) é o lema da De Heus a nível internacional e esse comprometimento leva a empresa a desenvolver os melhores 090

produtos e serviços de forma que também os nossos clientes possam progredir de acordo com as tendências da sociedade em termos de respeito pela saúde e bem-estar dos animais. PRODUÇÃO DE CARNE

Sendo no início dos anos 80 a produção de carne em ovinos a principal atividade nesta espécie, foi também aqui que a Saprogal inicialmente investiu e procurou desenvolver e levar aos produtores as melhores técnicas de alimentação. As ações visavam chamar à atenção para as necessidades alimentares das ovelhas consoante o seu estado fisiológico. Sempre foi dada especial importância a uma alimentação adequada nas fases da cobrição, pré-parto e amamentação. No borrego o foco sempre foi dado à fase de amamentação e à capacidade leiteira da mãe. Fomos os pioneiros a recomendar a suplementação dos borregos durante esta fase, criando alimentos próprios para esta fase, saindo os jovens borregos mais bem preparados para o posterior desmame. Nos sistemas mais intensivos de 3 partos


Os pequenos ruminantes e a De Heus: inovação, tecnologia e sustentabilidade

NUTRIÇÃO | PEQUENOS RUMINANTES

em 2 anos, fomos igualmente os primeiros a preconizar o desmame precoce, com a ajuda da suplementação de produtos específicos para o efeito. Em meados dos anos 90, começámos a fornecer as engordas intensivas de borregos que iam surgindo, criando e desenvolvendo os produtos adequados para cada situação. Inovámos e fomos vanguardistas no desenvolvimento de um produto para ser administrado à descrição, sem administração de alimento fibroso (palha), a não ser o necessário para a cama dos animais. E hoje, passados mais de 30 anos, ao olharmos para a quantidade de produtores que nos acompanham, que cresceram e desenvolveram o seu negócio em parceria connosco e com a nossa colaboração, e para todos aqueles que continuam a acreditar nas nossas soluções, verificamos que estávamos certos. Mas, os desafios na produção de carne não acabaram. A luta pela sustentabilidade económica e ambiental dos nossos produtores é cada vez maior. Afortunadamente, enquanto De Heus, temos hoje ainda mais e melhores ferramentas para ajudar os nossos clientes e uma cultura de procura permanente das melhores e mais sustentáveis soluções para oferecer aos nossos clientes. Desta forma eles consiguem trabalhar com eficiência zootécnica e económica nas suas explorações. Desenvolvemos globalmente o programa Natural Power que tem como objetivo conseguir adaptar as explorações a produzirem sem o recurso à utilização de antibióticos nos alimentos e respeitando a saúde e o bem-estar animal. PRODUÇÃO DE LEITE

Nos anos 90, as explorações intensivas de leite de ovelha passaram a ser uma realidade, especialmente nas bacias tradicionais e devido ao nome dos seus afamados queijos que, posteriormente, evoluíram para Regiões com denominação de origem protegida (DOP). À medida que estas explorações iam surgindo, foi necessário criar uma alimentação adequada, que fizesse face às necessidades alimentares destas ovelhas produtivas. A Saprogal, já líder nas explorações de ovinos de carne, facilmente se implantou nestas bacias leiteiras de leite de ovelha, nomeadamente Serpa, Azeitão, Castelo Branco e Évora. Também nesta área técnica a Saprogal foi pioneira no desmame ultra-precoce de borregos, com a ajuda de

alimentos criados para o efeito. Conseguiuse, assim, um maior aproveitamento de leite para comercializar ou produzir queijo. No início do ano 2000, e para a região de Serpa, elaborámos um planning pioneiro para produção de leite ao longo de todo o ano, dividindo o rebanho em 3 grupos de produção, identificados com coleiras de diferentes cores, e alimentados de acordo o seu estado fisiológico e nível produtivo. Também nesta altura, implementámos um programa de análises de leite, visando a melhoria das suas qualidades químicas e microbiológicas, assim como a contagem das células somáticas. Este sistema foi largamente difundido e ainda hoje se encontra atual. À medida que se foram apurando geneticamente as raças de ovelhas de leite, também a nível de alimentação nos fomos posicionando por forma a dar resposta às diferentes necessidades alimentares, criando produtos específicos para as diferentes situações, atitude que ainda hoje se mantem. À semelhança dos ovinos, surgiram em Portugal explorações intensivas de produção de leite de cabra, tecnicamente evoluídas e especializadas. Para as explorações de maior dimensão desenvolvemos produtos específicos, adequados às necessidades das mesmas e fomos mais uma vez pioneiros no desenvolvimento de produtos para serem administrados à descrição às cabras em produção de leite. Para os cabritos foram adotados programas semelhantes ao dos borregos, havendo mesmo produtos comuns para ambas as espécies. Assim como na carne, também os produtores de leite têm hoje de ser cada vez mais profissionais para conseguirem sobreviver neste mercado global onde vivemos. Com a chegada da De Heus a Portugal chegaram também uma série de ferramentas que permitiram complementar a nossa experiência e know-how acumuladas e prepararmos melhor o futuro. São ferramentas como o FeedExpert e o MMM (MarginMonitorMilk) que nos permitem encarar com confiança o futuro, garantindo a melhor e a mais profissional abordagem às explorações dos nossos clientes: FeedExpert – programa de arraçoamento de última geração, que permite determinar com exatidão as necessidades nutricionais de cada espécie animal, em cada fase de produção, e estabelecer um adequado programa alimentar, de acordo com 091

as disponibilidades e qualidades das forragens de cada exploração. Integrado nas plataformas De Heus à escala mundial, com nutrientes e algoritmos próprios e com possibilidade de intercambio internacional entre técnicos; MMM (MarginMonitorMilk) e ferramentas de análise comparativa dos resultados entre explorações que calculam a margem bruta das explorações de leite e permitem comparar os seus indicadores com os de outras explorações, permitindo a identificação rápida de oportunidades de melhoria, mantendo sempre sigilosa a sua identificação. PRODUTOS DE ELEVADA QUALIDADE, SEM MEDICAMENTOS E MAIS AMIGOS DO AMBIENTE

Para assegurar a qualidade dos seus produtos, a De Heus tem implementado um rigoroso e expedito controle de qualidade - conjunto de técnicas, competências, métodos e processos que se iniciam no controlo de qualidade das matérias-primas, passam por procedimentos industriais rigorosos e complexos e prosseguem com um exigente controlo de qualidade do produto acabado para a casa do cliente QA & QC (Quality Assurance & Quality Control). Todas as matérias-primas são alvo de um controlo à receção à fábrica, sendo rejeitadas caso não estejam de acordo com os parâmetros pré-definidos. Este controlo rigoroso das matérias-primas, juntamente com o rastreio do processo de fabrico nas 2 unidades de produção altamente automatizadas do Cartaxo e Trofa, permitem assegurar o fabrico de produtos de elevada qualidade. A necessidade de inovar e ir ao encontro das tendências da sociedade na busca por uma produção mais sustentável e amiga do planeta impeliu a De Heus a investir no seu programa Natural Power. Este programa inclui pesquisas e investigação que permitiram identificar e definir um conjunto de substâncias naturais, alternativas a medicamentos e antibióticos, à base de extratos de plantas e algas, óleos essenciais e moléculas fitoquímicas para uso na formulação de rações de animais. Esses conhecimentos, complementados com ajustes nas formulações e nas dietas permitiram-nos ser novamente pioneiros produzindo alimentos para borregos, sem medicamentos. Para além do impacto direto nos animais pela diminuição de utilização de antibióticos, também a nível ambiental


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REVISTA RUMINANTES

começamos a tentar minimizar o seu impacto, na medida em que as formulações dos produtos são feitas por forma a mitigar as excreções de ureia, promovendo um melhor ambiente, saúde e longevidade dos animais, sem nunca esquecer a rentabilidade das explorações. Neste campo específico o caminho ainda é longo, mas já em 2022 esperamos ter todas as nossas unidades a nível global dotadas de meios para controlar a pegada de carbono dos nossos alimentos e dessa forma calcular também a pegada de carbono das produções dos nossos clientes, para juntos conseguirmos definir novas formas de produzir cada vez mais e mais sustentáveis. AS SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS MAIS AVANÇADAS EM NUTRIÇÃO E MANEIO ANIMAL COM O MÁXIMO RESPEITO PELA SUSTENTABILIDADE

É com grande realismo que encaramos o futuro reconhecendo todos os desafios que o mesmo nos impõe, a nós como empresa e aos nossos clientes, mas é grande o otimismo com que o iremos abordar, dada a forma como nos preparámos e o que investimos para que, inovando, nos preparemos ainda melhor. Neste processo nunca esquecemos para quem trabalhamos e as suas necessidades – os nossos clientes, que produzem com limitações geográficas, edáficas e climáticas próprias e envoltos na nossa realidade económico-comercial. A qualidade dos nossos produtos é garantida por toda uma equipa que trabalha diariamente nas fábricas para fornecer os melhores produtos. A competência dos nossos técnicos é posta à prova diariamente e avaliada pelos nossos clientes. Finalmente, as nossas principais ferramentas - FeedExpert, MMM e Programa Natural Power, aliadas a uma visão sustentável que corre nas “veias” da De Heus, dão-nos a confiança de podermos oferecer aos nossos clientes as melhores, mais modernas, mais sustentáveis e mais rentáveis soluções. Um longo, mas proveitoso caminho, percorrido pela De Heus, em prol dos pequenos ruminantes, só possível porque crescemos juntos com os produtores e com a produção, seja localmente em Portugal, seja à escala global. Para mais informações sobre ferramentas ou programas De Heus poderá contactar-nos através do e-mail Info. pt@deheus.com ou visitar-nos em www. deheus.pt ou no Facebook e LinkedIn.

ASSOCIATIVISMO | APCORS

A RAÇA SUFFOLK EM PORTUGAL

A

Associação Portuguesa de Criadores de Ovinos de Raça Suffolk (APCORS) foi fundada no dia 29 de novembro de 2019, motivada pelo empenho de um conjunto de 17 criadores fundadores, com o objetivo de representar todos os criadores da raça Suffolk e, conforme descritos nos Estatutos fundadores, apoiar o desenvolvimento, melhoramento genético e promoção da raça Suffolk. A criação do Livro Genealógico Português da Raça Suffolk antecedeu à criação da APCORS, estando este sob gestão da APORMOR, a qual desenvolve as obrigações legais associadas à gestão de um Livro Genealógico. Contudo o trabalho associado a uma raça pura vai muito para além do seu Livro Genealógico e como tal a APCORS tem como missão um conjunto de outras obrigações, estando planeadas para 2022 um conjunto de atividades, nomeadamente: • Campeonato e concursos Suffolk para 2022 – onde se destaca a existência de pelo menos quatro concursos, com um concurso no centro/norte do País, e cujas pontuações serão contabilizadas para o campeonato nacional. Serão também criadas novas secções “Pedigree” e “Trabalho” para tornar os concursos cada vez mais representativos da realidade nacional, dividida em dois grandes grupos de seleção; • Revista Suffolk para 2022 – encontrase em preparação o número 2 da revista Suffolk, pretendendo-se que continue a trazer informação relevante ao setor da ovinicultura e que os criadores possam explorar cada vez mais as qualidades diferenciadoras da raça Suffolk; • Dia aberto Suffolk 2022 – o primeiro dia aberto Suffolk, a realizar no primeiro trimestre de 2022, congregará os criadores de todo o País e será dedicado ao tema “Suffolk, a raça OK – zero mortos”; • Centro de testagem de borregos Suffolk 2022 – previsto para os primeiros meses deste ano, no Instituto Politécnico de Castelo Branco, e para o qual se pretende contar

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com o/os melhores animais (entre 3 e 4 meses) de cada criador, que possam ser criados em condições equivalentes, e assim classificá-los de forma justa com base no seu desempenho (GMD, IC, massa muscular, etc.). Pretende-se igualmente criar uma certificação adicional para estes animais e eventualmente realizar um leilão como nos melhores centros de testagem do mundo. Está também a ser ponderada a possibilidade de fazer uma testagem de fêmeas; A APCORS tem já oficialmente o seu site próprio, www.acsuffolk.pt onde constam os criadores Suffolk associados, que se distribuem já por todo o país. No site pode também ser consultada a genealogia dos animais Suffolk criados em Portugal e aceder à sessão privada do genpro, onde cada criador pode consultar os dados dos seus animais, inserir fotografias, imprimir fichas, entre outras funcionalidades, fortemente promotoras do acréscimo de informação e organização que se pretende implementar no universo Suffolk nacional. Encontra-se igualmente disponível um formulário on-line para quem pretender ser associado da Associação Portuguesa de Criadores Suffolk, e assim participar na vida da Associação, utilizar os seus serviços, usufruir das diversas regalias e descontos para associados, entre outras vantagens. A Associação de Criadores Suffolk definiu assim como missão salvaguardar os objetivos de seleção e melhoramento da raça Suffolk em Portugal, apoiando os criadores associados com toda a informação associada à raça e aos seus animais. Os primeiros passos da Associação de Criadores Suffolk estão agora em marcha, estando esta associação aberta à entrada de novos sócios, bastando para tal que sejam legítimos proprietários de animais da raça Suffolk. A APCORS está segura de que o futuro da raça Suffolk deve estar nas mãos dos seus criadores e que a organização e a informação são fundamentais para que a raça Suffolk continue a evoluir de forma tão promissora como tem feito até agora.


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PRODUTO | NOTÍCIAS

TJ HOOF HUB

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TJ HOOF CARE A TJ Hoof Hub, premiada na World Ag Expo, é uma aplicação móvel de gestão de dados, revolucionária e abrangente, desenhada para responder às necessidades dos aparadores profissionais de cascos. Através desta aplicação, estes profissionais ficarão capacitados para documentar digitalmente todo o seu trabalho, incluindo fotografias para acompanhamento do progresso dos tratamentos, assim como gerar vários relatórios de saúde do casco, gerir e visualizar o seu calendário, criar perfis de clientes personalizados, criar

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itens de tratamento e preços personalizados ou gerar faturas e receber pagamentos. "Entendemos a enorme variação que existe neste negócio no que toca à estrutura do próprio negócio e ao fluxo de trabalho, por isso quisemos criar um programa que pudesse funcionar em qualquer cenário." Este programa funciona através de uma assinatura cujo valor depende da utilização, o que significa que o custo do usuário será baseado no número de animais introduzidos no sistema a cada mês. Mais info: www.tjhoofhub.com

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O sistema Teatwand Parallel, premiado na World Ag Expo, é o primeiro e único sistema automatizado de pulverização de tetos em salas de ordenha paralelas. Utiliza um sistema de pórtico para transportar cada braço de pulverização pela sala de ordenha, para pulverizar com precisão os tetos das vacas, antes e depois da ordenha. Uma instalação típica para uma sala de 40-60 baias consiste em quatro braços geridos por um sistema de controlo centralizado. Os bicos de pulverização são posicionados diretamente sob os tetos das vacas, garantindo

uma colocação de pulverização precisa e consistente. O “Teatwand Automatic Teat Spraying System” resultou duma parceria entre um dos principais consultores de mastite da Nova Zelândia e Gary Arnott, engenheiro de automação (e atualmente CEO da empresa). A Onfarm Solutions foi formada para resolver os problemas associados à baixa cobertura de pulverização de tetos associada aos sistemas automatizados de pulverização de tetos que existiam então no mercado. Mais info: https: //www.onfarmsolutions.com


Coadjuvante na ação de tratamento profissional de feridas ANTI Skin & Wound ✓ O Effivet contém uma tecnologia patenteada e mimetiza o sistema imunitário, contendo o ácido hipocloroso que atua naturalmente no organismo.

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Solução Oftálmica ✓ O Effivet Oftálmico é aplicável na limpeza, infeções e inflamações oculares, em caso de olhos arranhados ou afetados por queimaduras, picadelas, poluentes e contaminantes. ✓ Também é útil para remover manchas lacrimais e para remover detritos em redor da área do olho. ✓ Alívio da sensação de ardor e comichão ✓ Em casos de feridas, ajuda na redução da inflamação. ✓ Não enxaguar. Apresentações: Líquido: 60 ml (N.º de AV: 931/00/19PUVPT)

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O seu bem-estar, a sua rentabilidade O Programa Prima da Nanta é um programa de recria que melhora a rentabilidade das explorações através do bem-estar das vitelas. O Prima trabalha em quatro conceitos essenciais para o bem-estar dos animais: o colostro, a lactação, o desmame e os cuidados a ter com o ambiente, a saúde, o maneio, a higiene e o contexto social. O nosso programa oferece benefícios comprovados para o agricultor: maior desenvolvimento das vitelas, melhoria do seu sistema imunitário, redução do stress no desmame, antecipação da primeira inseminação e da idade do primeiro parto, mais produção de leite e maior vida produtiva da vaca.

Com o Prima as vitelas são mais felizes e o agricultor também.

nanta@nutreco.com

www.nanta.es/pt/profissional/programa-prima/ 096


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Política europeia

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