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Alimentação | Bovinos

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Política europeia

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Uma mão cheia de amêndoas contem 6 g de proteina, 4 g de fibra e 13 g de gordura insaturada.

A casca da amêndoa pode ser utilizada para diversos fins, nomeadamente para as camas dos animais.

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Figura 1 A composição da amêndoa (adaptado de Almond Board of California, Março de 2016)

A capota é a parte mais exterior da amêndoa. É um subproduto da produção de amêndoas, representando uma oportunidade para a produção de ruminantes.

NUTRIÇÃO | BOVINOS CAPOTA DE AMÊNDOA UMA FONTE DE FIBRA

QUANDO A DISPONIBILIDADE DAS FONTES DE FIBRA CONVENCIONAIS É REDUZIDA E CHEGA ÀS EXPLORAÇÕES A PREÇOS ELEVADOS, O PRODUTOR PODE OPTAR POR UTILIZAR FONTES DE FIBRA ALTERNATIVAS EXISTENTES NO MERCADO, COMO A CAPOTA DE AMÊNDOA.

POR Pedro Castelo, Diretor Técnico Zoopan, Eng. Zootécnico, pedro.castelo@zoopan.com | Sara Garcia, Eng. Zootécnica, Depto. técnico-comercial, sara.garcia@zoopan.com Foto F123rtf (barmalini)

Devido à conjuntura mundial e ao seu interesse económico, a produção de amêndoa tem vindo a crescer exponencialmente em Portugal. Por esta razão, a disponibilidade de capota de amêndoa tem também vindo a aumentar, sendo um subproduto com elevado interesse nutricional para ruminantes.

Atualmente são utilizadas inúmeras matérias-primas como fontes de fibra, que servem para equilibrar a dieta dos animais em termos de energia/fibra/proteína. No entanto, existe uma grande variabilidade das fontes de fibra no que diz respeito ao valor nutritivo, à digestibilidade e ao valor efetivo da fibra.

A utilização de valores mínimos de fibra bruta e fibra efetiva é indispensável em ruminantes de elevada performance (submetidos a um programa alimentar que permite exprimir o seu potencial genético, produção de carne ou leite). É fundamental para prevenir problemas metabólicos, como é o caso da acidose.

FACTOS SOBRE A FIBRA

• A fibra é um ingrediente essencial na dieta dos ruminantes. Aporta energia, mantém o normal funcionamento do rúmen e tem um impacto elevado sobre a gordura no leite; • O valor da “fibra efetiva” de um alimento ou dieta é crítico. Refere-se à capacidade de um alimento para estimular a atividade de mastigação e, consequentemente, a produção de saliva. A produção de saliva funciona como um tampão, de forma a manter o pH ruminal em valores ideais para o crescimento da população microbiana no rúmen: 6,2 a 6,6;

• Se não houver fibra longa ou fibra efetiva, não haverá mastigação suficiente durante a alimentação e ruminação e, portanto, não será produzida saliva suficiente, levando a uma queda do pH ruminal e a um aumento do risco de acidose ruminal; • Os animais podem sofrer dois tipos de acidose: - acidose ruminal subclínica, quando o pH ruminal está entre 5,5 e 6 - as vacas podem não parecer doentes, mas ocorre uma ligeira diminuição no consumo de alimento ingerido, uma redução do teor de gordura no leite e ocorrência de diarreias; - acidose láctica, quando o pH do rúmen está abaixo dos 5,5 e o animal está visivelmente doente. Neste caso ocorre uma acentuada diminuição do consumo de alimento e, consequentemente, da produção.

A CAPOTA DE AMÊNDOA ENQUANTO FONTE DE FIBRA ALTERNATIVA

De acordo com o FAOSTAT 2015, os Estados Unidos da América são os maiores produtores mundiais de amêndoa (Prunus dulcis L.), detendo cerca de 58% da produção mundial deste fruto de casca rija, seguidos pela Espanha, com 7% da produção mundial, e pela Austrália, com 5%.

De acordo com o último Recenseamento Agrícola (INE, 2019), entre 2009 e 2019 a área destinada a amendoal duplicou em Portugal, estando maioritariamente distribuída nas regiões de Trás-osMontes, Alentejo e Algarve. Consequência deste aumento da área destinada a esta cultura, também a disponibilidade dos subprodutos da amêndoa aumentou.

Sem por um lado, para um produtor de amêndoas, a capota de amêndoa (também chamada de “casca verde” ou “cascarão”) representa um resíduo, para uma exploração pecuária pode representar uma oportunidade de obter uma fonte de fibra alternativa em quantidade e com um baixo custo. A capota de amêndoa é a casca mais exterior do fruto (Figura 1), e pode representar até 50% deste, sendo retirada durante a colheita, ainda no campo. Devido ao seu valor nutricional, a capota de amêndoa pode representar um complemento às forragens, tendo em conta o seu valor médio de fibra efetiva (quando colocada inteira à disposição dos animais), sendo também uma fonte razoável de energia, com elevada palatibilidade para os animais. Terá sempre que ser vista como um complemento à dieta, tendo em conta o seu nível baixo de proteína. A capota de amêndoa é também bastante rica em minerais, como é o caso do ferro, manganês e zinco.

Na figura 2 está representada a diferença entre cada uma das fontes de fibra consideradas para esta análise, no que diz respeito à energia metabolizável, à proteína bruta, à fibra neutro detergente (NDF) e ao valor de fibra efetiva. Da análise deste gráfico comprova-se o descrito acima acerca do interesse nutricional da capota de amêndoa no que diz respeito ao seu valor de fibra e de energia.

A figura 3 complementa este comparativo, considerando também o nível de digestibilidade da capota de amêndoa, quando comparada com a palha de vários cereais e ainda com o bagaço de palmiste.

Tendo em conta a elevada disponibilidade da capota de amêndoa em algumas regiões do país, ficam algumas sugestões relativamente à utilização deste subproduto: - deverá ser introduzida gradualmente na dieta dos animais (ruminantes) da exploração; - deve ser considerada um suplemento; - complementar com alimentos ricos em proteína e energia, para equilibrar a composição da dieta; - como se trata de um subproduto, deverá ser manuseado com cuidado – se em contacto com humidade, poderá desenvolver fungos, aumentando o risco de aparecimento de micotoxinas; - se possível, misturar a capota de amêndoa com outras forragens de melhor qualidade nutricional, com recurso a unifeed; - se a capota de amêndoa for oferecida aos animais separadamente, limitar a sua incorporação na dieta a 30% da matéria seca ingerida por animal e por dia; - a utilização da capota de amêndoa não exclui na totalidade a utilização de uma palha/feno de qualidade; - muitos produtores de amêndoa solicitam análises à composição nutricional da capota de amêndoa, pelo que o produtor pecuário deverá também solicitar o acesso a essas mesmas análises nutricionais.

FIGURA 2 COMPARATIVO ENTRE AS ESPECIFICAÇÕES NUTRICIONAIS DE DIFERENTES FONTES DE FIBRA

FIGURA 3 VALORES NUTRITIVOS DE ALGUMAS FONTES DE FIBRA ALTERNATIVAS

Energia metabolizável (MJ ME/kg matéria seca)

Palha

0

5 Proteina bruta (% matéria seca)

0

Palha

5

Capota de amêndoa

Fibra neutro detergente (NDF)

Trigo Capota de amêndoa Feno

Feno

0 25 50

Valor fibra efetiva (baixo/médio/elevado)

Trigo Capota de amêndoa

Baixo Médio Capota de amêndoa

10

Feno

10

Trigo

75

Trigo

Palha

Feno

15

15

100

Palha

Elevado

Alimento Matéria seca* (%) Energia metabolizada (MJ/kg MS) PB (%) NDF (% MS) Digestibilidade Valor fibra efetiva

Capota de amêndoa (inteira) 90 (88-92) 10 (8,5-10,5) 5 (4-6) 35 (30-45) Médio Médio Capota de amêndoa (moída) 90 (88-92) 10 (8,5-10,5) 5 (4-6) 35 (30-45) Médio Reduzido Palha de cevada 89 (74-93) 6,5 (2,2-8,5) 2,8 (0,2-28,8) 77 (55-87) Reduzido Elevado Palha de aveia 89 (73-93) 6,2 (4,3-10) 2,8 (0,1-11,9) 73 (55-79) Reduzido Elevado

Bagaço de palmiste 94 (91-96) 11,1 (9,3-12,4) 15,7 (14,8-16,3) 65 (55-74) Médio Reduzido Palha de arroz 85 (52-94) 6,7 (5,3-8,9) 4,0 (1,9-5,0) 63 (54-69) Reduzido Elevado Palha de trigo 92 (65-96) 5,1 (3,8-9,3) 2,8 (0,2-8,8) 73 (54-86) Reduzido Elevado

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