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Agricultura regenerativa

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AGRICULTURA REGENERATIVA OS 5 PRINCÍPIOS DA SAÚDE DO SOLO

UM DOS PASSOS ESSENCIAIS PARA COMEÇAR UMA CAMINHADA SÓLIDA E COM RISCOS REDUZIDOS NA TRANSIÇÃO PARA A AGRICULTURA REGENERATIVA É COMPREENDER O SOLO COMO UM COMPLEXO DE ORGANISMOS VIVOS E ARTICULAR BEM OS 5 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA SAÚDE DO SOLO. AO NÃO PERDER ESTES MANDAMENTOS DE VISTA, O AGRICULTOR OU GESTOR DA EXPLORAÇÃO PODE TER A CERTEZA QUE TOMA AS DECISÕES ACERTADAS, QUALQUER QUE SEJA A TÉCNICA OU ABORDAGEM A SEGUIR.

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Foto Francisco Marques (Herdade da Lobeira, Montemor-o-Novo)

Manter o solo coberto, minimizar a perturbação do solo, apostar na diversidade vegetal, manter raízes vivas no solo e integrar gado. São estes os cinco princípios essenciais a observar para manter a saúde dos solos ou regenerar aqueles que se foram degradando por via de uma utilização menos devida.

1. MANTER O SOLO COBERTO

Olhe para baixo, que percentagem do seu solo é protegida por resíduos? A erosão deve ser minimizada antes de tudo. Manter o solo coberto começa na superfície.

Para maximizar a saúde do solo e regenerar solos degradados, cada um dos 5 princípios conta, mas manter o solo coberto é o mais importante porque não se pode construir solo quando se está a perdê-lo. De seguida expomos as razões pelas quais manter a armadura do solo deve ser a sua primeira linha de defesa ao iniciar a sua viagem para a melhoria da saúde do solo.

Controlar a erosão

O vento e a água são forças poderosas. Uma gota de chuva de 5 milímetros atinge o solo a 20km/h. A erosão pelo vento pode

POR ANDRÉ ANTUNES Agricultor, Consultor Agrícola e Médico Veterinário chaoricolares@gmail.com Instagram.com/chao.rico.colares

começar a velocidades do vento tão baixas como 20-25 km/h. A erosão ocorre quando a energia cinética da chuva ou do vento destrói os agregados do solo. Ao manter o solo coberto com os resíduos das culturas anteriores e/ou plantas vivas, a energia da gota de chuva ou do vento é absorvida pela cobertura.

Reduzir a pressão das ervas daninhas

A cobertura reduz a quantidade de luz solar que atinge a superfície do solo. Para as sementes de ervas daninhas que requerem luz solar para se estabelecerem, uma boa cobertura terá efeito inibidor. Quaisquer ervas daninhas que germinem terão de enfrentar um ambiente com pouca luz e poderão não ter energia para crescer através do resíduo. Algumas coberturas vivas, como o centeio, têm um efeito alelopático nas sementes de ervas daninhas e impedem a sua germinação.

Manter temperaturas moderadas do solo

A armadura do solo age como uma manta em tempo frio e uma sombra em tempo quente. As raízes e a vida debaixo do solo não funcionam bem, e podem mesmo morrer, com temperaturas extremamente flutuantes.

Promover a retenção de humidade

Ao sombrear a superfície do solo, as taxas de evaporação são grandemente reduzidas, permitindo que mais água disponível para as plantas seja armazenada para utilização pelas culturas. A redução das taxas de evaporação também ajuda na prevenção do movimento de sais para a superfície do solo, através da capilaridade.

Reduzir a compactação superficial ou encrustamento

Quando os agregados do solo são decompostos pelo poder erosivo da chuva, são deixados como partículas individuais de areia, limo, argila e matéria orgânica. Quando a areia, o limo e a argila já não são mantidos juntos num agregado, entopem os poros do solo e formam camadas visíveis na superfície do solo. Estas crostas compactas impedem a infiltração de água e a germinação de sementes.

Proporcionar condições ideiais para a biologia do solo

Ter uma cobertura de resíduos significativa na superfície do solo proporciona tanto a casa como a despensa para alimentar a vida do solo. A manutenção desta camada de resíduos é importante para fomentar as populações de minhocas, uma vez que a sua principal fonte de alimento é a matéria vegetal morta e em decomposição. As minhocas servem como arejadores e fertilizadores do solo.

2. MINIMIZAR A PERTURBAÇÃO DO SOLO

Minimize a lavoura tanto quanto possível. Dessa forma, começarão a construir-se agregados de solo, espaços porosos, biologia no solo e matéria orgânica.

A perturbação do solo acontece de três formas, tendo cada uma delas impacto em importantes funções do solo:

Perturbação física

A forma mais óbvia de perturbação do solo é através da sua mobilização. Em comparação com os solos não mobilizados, os solos lavrados apresentam: - diminuição da infiltração e armazenamento da água. A lavoura destrói os agregados do solo e separa as vias e poros naturais criados pelas raízes, minhocas e biota do solo. Quando estas vias são quebradas, a capacidade de infiltração da água da precipitação no solo fica reduzida. O armazenamento de água no solo é reduzido porque os agregados que criam espaço poroso para a água ser retida são destruídos, bem como a matéria orgânica. A matéria orgânica do solo pode suportar até 20 vezes o seu peso em água. - redução da matéria orgânica. A lavoura destrói a matéria orgânica, expondo-a ao ar. Quando exposta ao ar, a matéria orgânica é consumida por bactérias “oportunistas” e perdida através da erosão. - aumento da erosão. A erosão da água aumenta devido a taxas de infiltração reduzidas e efeito enxurrada; e a erosão do vento aumenta porque a lavoura deixa menos resíduos protetores na superfície.

Perturbação biológica

Embora não seja tão evidente visualmente como uma perturbação física como a lavoura, a perturbação biológica também tem impacto no funcionamento do solo. Toda a vida do solo necessita de energia para sobreviver. Essa energia é fornecida pelas plantas. As plantas captam CO2 e luz solar, através da fotossíntese, para produzir energia, nomeadamente açúcares, alguns dos quais são transferidos através das raízes para a vida abaixo do solo. É importante que, tanto quanto possível, existam raízes vivas no solo. Incluir culturas de cobertura nas rotações é uma ótima forma de alargar e diversificar a presença de raízes vivas. Uma gestão adequada do pastoreio também aumentará a capacidade da planta absorver luz solar.

Perturbação química

A perturbação química ocorre pelo uso excessivo de fertilizantes, herbicidas, inseticidas e fungicidas. Um sistema de cultivo diversificado pode ajudar a reduzir a dependência de pesticidas e fertilizantes.

3. APOSTAR NA DIVERSIDADE VEGETAL

Tente imitar a natureza. Use, tanto quanto possível, gramíneas de inverno e verão e herbáceas de folha larga, com três ou mais espécies entre cultivos e culturas de cobertura em rotação. Pastagens naturais e diversidade de plantas cultivadas aumentam a saúde do solo e dos animais.

Maximizar a Diversidade Vegetal

Os solos de pastagens naturais foram construídos sob uma comunidade vegetal muito diversificada. Esta comunidade vegetal consistia em gramíneas, leguminosas fixadoras de azoto, flores silvestres, herbáceas de folha larga e outras, todas com diferentes tipos de raízes mais ou menos profundas. O ecossistema não se limitava a alimentar os herbívoros, também dava subsistência aos fungos do solo, bactérias e invertebrados. Portanto, parece fazer sentido que, se quisermos construir solos saudáveis, precisemos de alimentar o solo com uma “dieta” saudável e diversificada.

Como é que se maximiza a diversidade vegetal?

- Se tiver pastagens perenes originais, pode já ter muitas das plantas nativas. Para manter ou aumentar a diversidade da sua comunidade vegetal, uma gestão adequada do pastoreio é fundamental. Mude a estação de utilização anualmente, adeque o efetivo e faça rotações regularmente. - No que diz respeito à produção das plantas anuais, tente imitar a comunidade vegetal nativa, que consistia em gramíneas de estação quente e fria e em herbáceas de folha

larga. Isto pode ser feito através da rotação de culturas e da utilização de culturas de cobertura. Exemplos de culturas comuns em cada categoria: • Gramíneas da estação fria (aveia, trigo de primavera e de inverno, centeio) • Gramíneas da estação quente (milho, milho-painço, sorgo, erva do sudão) • Plantas de folha larga da estação fria (ervilhas, lentilhas, linho, mostarda) • Folha larga da estação quente (soja, girassol, feijão-frade) - Se um ou dois destes tipos de cultura não se enquadrarem na sua operação, considere plantar uma mistura de culturas de cobertura com esse tipo de espécies na mistura. Ao ter as quatro categorias na sua rotação, pode ajudar a alimentar um microbioma de solo mais diversificado.

- Ao escolher espécies para a sua mistura de culturas de cobertura, não se esqueça de considerar outros objetivos que tenha. Por exemplo: - utilizar o excesso de humidade; - produzir forragens para o gado - suprimir as ervas daninhas; - construir matéria orgânica; - reduzir a compactação; - promover a fixação de azoto.

4. MANTER RAÍZES VIVAS NO SOLO

Mantenha as plantas a crescer durante todo o ano para alimentar o solo. As culturas de cobertura podem acrescentar carbono ao solo, fornecendo uma importante fonte alimentar para os microrganismos. Comece em pequena escala para encontrar a melhor opção para a sua exploração.

Maximizar as raízes vivas

As plantas são a fonte de energia para um solo saudável. Os ecossistemas nativos tinham raízes vivas no solo todo o ano. Ter raízes vivas nos solos utilizados para a agricultura de produção, durante o máximo de tempo possível, é importante.

A Rizosfera

Através da fotossíntese, as plantas captam a luz solar e o CO2 para criar energia para a reprodução, crescimento das folhas, caules e raízes. Uma grande quantidade da energia da fotossíntese é utilizada para produzir exsudados, segregados através das raízes. À medida que a raiz cresce, ela também liberta células. As células e os exsudados formam a rizosfera que é um lugar muito ativo. Bactérias, protozoários, fungos e numerosos outros organismos do solo vivem na rizosfera, que se estende a alguns milímetros da superfície da raiz. As bactérias e os fungos alimentam-se dos exsudados. Protozoários e nemátodes alimentam-se das bactérias e dos fungos. Toda esta alimentação cria despojos, e são exatamente estes que a planta procura.

Prolongamento da época de crescimento

Como prolongar a quantidade de tempo em que uma raiz viva interage com o solo? A maioria das nossas culturas comerciais tem uma raiz viva durante 12-15 semanas após a plantação, o que é menos de 30% do ano. Os ecossistemas nativos têm uma raiz viva durante 60% ou mais do ano. As rotações diversificadas de culturas e as culturas de cobertura ajudam a preencher as lacunas. Mesmo nas zonas mais frias temos potencial para uma cobertura viva antes da plantação de culturas comerciais e no pós-colheita.

Algumas oportunidades para a maximização das raízes vivas:

- misturas diversificadas de culturas de cobertura com sementeira direta após a colheita. - a sementeira intercalar em milho permite que a cultura de cobertura se estabeleça e cresça bem no outono depois da colheita, e mesmo até à próxima época de cultivo se forem utilizadas bienais ou perenes na mistura. - sementeira de centeio após a colheita, precedendo uma cultura de verão. O centeio é resistente ao inverno, e começará a crescer bem na primavera. - estabelecer perenes em áreas de produção salina ou marginal. - na transição para sementeira direta a partir da lavoura convencional, alguns anos de luzerna podem ajudar a facilitar a transição.

5. INTEGRAR GADO

O pastoreio no outono/inverno de culturas de cobertura e resíduos de cultivos aumenta o plano de nutrição do gado numa altura em que a qualidade das forragens pode ser baixa, aumenta a atividade biológica do solo em terras de cultivo e melhora o ciclo de nutrientes. A gestão adequada das pastagens melhora a saúde do solo.

Integração da pecuária

Animais, plantas e solos têm desempenhado um papel sinérgico ao longo do tempo geológico. Nos últimos anos, os animais têm desempenhado um papel reduzido devido ao facto de serem colocados em confinamento - poucas explorações agrícolas incluem o gado como parte do seu funcionamento global.

Razões para devolver o gado à paisagem

• Rácio equilibrado de carbono/nitrogénio: o pastoreio de outono ou inverno para converter os resíduos anuais de culturas com elevado teor de carbono em matéria orgânica, com baixo teor de carbono, equilibra a razão carbono/nitrogénio e gere os nossos resíduos de rotação de culturas de sementeira direta. • Melhor recrescimento: o pasto anual e/ou perene de primavera ou verão, com períodos curtos de pastoreio seguidos de longos períodos de recuperação, permite que as plantas cresçam de novo e captem luz solar e CO2 adicionais • Redução da exportação de nutrientes: em vez de transportar o alimento para um estábulo: podemos inverter os papéis e ter o gado a pastar, reduzindo a exportação de nutrientes das nossas terras de cultivo e campos de feno. Isto permite reciclar a maioria dos nutrientes, minerais, vitaminas e carbono. • Gestão da pressão das ervas daninhas: o pastoreio, em vez da aplicação de herbicidas, ajuda a gerir a pressão das ervas daninhas. •Dieta nutricional superior: as culturas de cobertura de pastagens e/ou resíduos de culturas permitem-nos tirar o gado dos prados naturais mais cedo no outono, prolongando o período de recuperação da erva e proporcionando uma dieta nutricional mais elevada do gado • Redução de efluentes: o pastoreio reduz os efluentes do gado associados ao seu confinamento, ajudando a gerir as preocupações com a qualidade da água e a gestão dos nutrientes.

Como é que devolvemos o gado à paisagem?

• Culturas de cobertura de pastagens de inverno e de outono e resíduos anuais de culturas; • Pastoreio de verão de uma cultura de cobertura de estação completa, permitindo uma recuperação adequada das plantas, seguida de uma segunda passagem durante o outono ou inverno; • Alimentação de inverno em campos de feno por desenrolamento de bolas ou pastoreio de fardos (bale grazing); • Pastoreio de perenes e sua gestão como parte da rotação de culturas.

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