Revista Ruminantes 43

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RUMINANTES Como a dieta dos animais afeta os perfis nutricionais dos produtos animais

NUTRIÇÃO

043

ANO 11 | 2021 OUT/NOV/DEZ (TRIMESTRAL) PREÇO: € 5.00

A REVISTA DA AGROPECUÁRIA WWW.REVISTA-RUMINANTES.COM

EXEMPLAR DE OFERTA

Qualidade da carne

O impacto do maneio alimentar na qualidade da carcaça

Agricultura regenerativa Um caso de estudo numa exploração agrícola na Estremadura Espanhola

Saúde animal

Monitorizar as doenças IBR e BVD nas vacadas

Forragem

FOTOGRAFIA: FRANCISCA GUSMÃO

Os fatores que ditam a qualidade 01


02


EDITORIAL

REVISTA RUMINANTES #43

OUTUBRO . NOVEMBRO . DEZEMBRO 2021

C

DIRETOR Nuno Marques | nm@revista-ruminantes.com

Caro Leitor,

ontinuamos a assistir à publicação de muitos textos em que se critica e responsabiliza a agricultura e os agricultores pelas más práticas agrícolas e pelo impacto negativo no ambiente. São parte do problema ambiental que vivemos, dizem. Como já ouvi “a natureza não é vegan, nem carnívora”, na realidade, para que tudo funcione em equilíbrio, precisamos de todos a trabalhar da forma certa, do reino vegetal ao reino animal. Como dizem os irmãos Campa, agricultores e gestores da empresa Mundos Nuevos, na entrevista que concederam à Ruminantes neste número, “Na natureza é tudo uma sinfonia”. Estou certo de que os agricultores são parte da solução. Porque, por princípio, não esperam resultados imediatos dos seus investimentos: os produtores de leite, por exemplo, precisam de esperar muitos meses até que as vitelas cresçam e possam ser ordenhadas. Porque sabem que têm que selecionar bem os animais, alimentá-los e tratá-los corretamente pois, caso contrário, arriscam que ao fim de todo o tempo e dinheiro investido, estes sejam refugados. E porque estão cientes de que o preço de não fazer as coisas bem lhes pode sair muito caro. Como em qualquer atividade, também na agricultura há quem faça bem e quem faça mal. No setor agrícola, a utilização de práticas com maior ou menor impacto ambiental está muito ligada à forma como são estebelecidos os incentivos pela Comunidade Europeia e à necessidade de obter resultados rápidos. Hoje, os agricultores estão muito mais sensibilizados do que antes para produzir alimentos de forma mais sustentável, gastando menos água e privilegiando a saúde do animal e do solo. A tecnologia aplicada à agricultura e ao ambiente também tem contribuído muito para a otimização dos recursos. Os agricultores e a fileira que lhes está associada estão empenhados em encontrar os caminhos a seguir de forma sustentável. Esta vontade de fazer de acordo com o que é sustentável, é importantíssima. A inação é que não é uma alternativa, mas sim uma ameaça à sustentabilidade. A Comunidade Europeia, e mais concretamente Portugal, deve preocupar-se em promover as boas práticas e os processos de produção sustentáveis. A gestão correta das pastagens, as sementeiras diretas, as culturas de cobertura, a rotação de culturas, a compostagem dos resíduos ou os suportes para habitats polinizadores, entre outros exemplos, são práticas que podem ser implementadas em grandes ou pequenas explorações. A Comunidade Europeia deve abandonar os subsídios ao resultado final, como acontece presentemente com as ajudas ao leite que são pagas em função da produção. Mas, para que isso seja possível é necessário que exista um conjunto de compensações económicas aos agricultores, que minimizem o efeito da transição para práticas produtivas mais sustentáveis. Esta transição pode causar quebras de rendimento, quer pelo aumento dos custos produtivos, quer pela redução da produção, e essas perdas têm que ser medidas e valoradas para que as compensações sejam atribuídas de forma justa aos agricultores. As metodologias de quantificação têm vindo a desenvolver-se mas, como é dito pelo próprio Gabinete de Planeamento de Políticas e Administração Geral (GPP), no seu ofício datado de 20 de agosto último, "reconhece-se no entanto haver ainda um longo caminho a percorrer". Pena é que assim seja. Os recursos naturais, como o solo, são fáceis de delapidar mas demoram mais do que uma vida para repor. Nuno Marques

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COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Amâncio Cerqueira; André Antunes; António Moitinho; Carlos Padrão; Carlos Vouzela; Cristina Conceição; Deolinda Silva; Diogo Ribeiro; Diogo Salgueiro; Enrique Pernaute; Flávio Silva; Helena Beato; Huw McCONOCHIE; Javier Lopez; Joana Silva; Joana Tomás; João Maria Barreto; João Paulo Carneiro; João Ribeiro; João Santos; Joaquim Cerqueira; José Alves; José Freire; Jose Luis Madera; José Santos Silva; Juan Luis Campa; Luís Raposo; Luísa Paulo; Mafalda Resende; Maria do Carmo Moreira; Mário Cristóvão; Michelle Harvey; Pedro Campa; Pedro Castelo; Pedro Nogueira; Raquel Cortesão; Severiano Silva; Teresa Carita DESIGN E PRÉ-IMPRESSÃO Francisca Gusmão REDAÇÃO Francisca Gusmão, Inês Ajuda FOTOGRAFIA Francisca Gusmão, Francisco Marques IMPRESSÃO Jorge Fernandes Lda. Rua Quinta Conde de Mascarenhas , nº9, Vale Fetal, 2825-259 Charneca da Caparica Telefone: 212 548 320 ESCRITÓRIOS E REDAÇÃO Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto | 2780-051 Oeiras Telemóvel: 917 284 954 geral@revista-ruminantes.com PROPRIEDADE/EDITOR Aghorizons, Lda / Nuno Marques Contribuinte nº 510 759 955 Sede: Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto. | 2780-051 Oeiras GERENTE Nuno Duque Pereira Monteiro Marques DETENTORES DO CAPITAL SOCIAL Nuno Duque P. M. Marques (50% participação) Ana Francisca C. P. Botelho de Gusmão Monteiro Marques (50% participação) TIRAGEM 5.000 exemplares PERIODICIDADE Trimestral REGISTO Nº 126038 DEPÓSITO LEGAL Nº 325298/11 O editor não assume a responsabilidade por conceitos emitidos em artigos assinados, anúncios e imagens, sendo os mesmos da total responsabilidade dos seus autores e das empresas que autorizam a sua publicação. Reprodução proibida sem a autorização da Aghorizons Lda. Alguns autores nesta edição não adotaram o novo acordo ortográfico. O "Estatuto Editorial" pode ser consultado no nosso site em: www.revista-ruminantes.com/ estatuto-editorial www.revista-ruminantes.com www.facebook.com/RevistaRuminantes


#43 | out. nov. dez. 2021

SUMÁRIO

#43 OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO 2021

08 Forragens | Biodiversidade Produção de qualidade de 3 misturas forrageiras

14 Forragens | Biodiversidade Os ingredientes da forragem de qualidade

18 Forragens | Silagem Considerações na gestão de novos silos

20 Alimentação | Pequenos ruminantes O periparto na cabra leiteira

24 Publirreportagem | Nanta Granja circular

26 Alimentação | Vitelos Efeitos do Levucell SC em vitelos desmamados

28 Bem-estar-animal | Vitelos A importância do maneio do colostro

30 Alimentação | Vitelos Levedura hidrolisada na alimentação de vitelos

32 Alimentação | Vacas de carne O maneio alimentar e a qualidade da carne

36 Alimentação | Vacas de leite A gordura do leite e a alimentação das vacas

40 Alimentação | Vacas de leite Mais gordura e rentabilidade no leite

46 Alimentação | Vacas de leite Atenção à saúde dos cascos na transição!

50 Alimentação | Vacas de leite Alimentação e ordenha robotizada

52 Saúde animal | Vacas de carne Monitorizar as doenças IBR e BVD nas vacadas

42 Alimentação | Vacas de leite Doadores de grupos metilo

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SUMÁRIO

56 Indústria Caracterização nutricional de queijos com DOP na região Centro

68 Equipamento Chegou a Portugal mais um Kubota 6002

60 Agricultura regenerativa "Na Natureza é tudo uma sinfonia"

76 Bem estar animal | vacas de leite 78 Observatório matérias-primas Sistemas de limpeza para Visão ou alucinação? explorações pecuárias

80 Observatório do leite Retrospetivas e desafios

72 Equipamento Robots chegam ao ensino profissional

82 Índices VL e VL-Erva É urgente valorizar a produção nacional de leite

PRODUTO

86 Notícias de genética Questões de consaguinidade

90 Notícias | Vacas de leite Investigação leiteira, o que há de novo?

92 Produto Novidades em sistemas de ordenha robotizados GEA

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96 Produto Otimizador de escovagem dos tetos

97 Produto Robot de tratamentos e inoculações

98 Produto New Holland Roll-Bar 125 Nova enfardadeira de fardos redondos de câmara fixa

99 Formação Formações Farm-In Livestock Trainings

WWW.REVISTA-RUMINANTES.COM 06


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15

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REVISTA RUMINANTES

FORRAGENS | BIODIVERSIDADE E LEGUMINOSAS

PRODUÇÃO E QUALIDADE DE 3 MISTURAS FORRAGEIRAS

NESTE ESTUDO FEZ-SE A AVALIAÇÃO DE TRÊS MISTURAS FORRAGEIRAS PRODUZIDAS NA HERDADE DA COMENDA (INIAV-ELVAS), NO QUE SE REFERE À PRODUTIVIDADE E QUALIDADE DESSAS MISTURAS PARA UTILIZAR NA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CARNE POR Por Teresa Carita, João Paulo Carneiro e José Santos Silva, com a colaboração da equipa do projeto LegForBov | INIAV: Teresa Dentinho, Ana Paula Portugal; João Marques de Almeida;

A

CEBAL: Eliana Jerónimo; FMV: Rui Bessa; Susana Alves; Fertiprado: Ana Barradas; João Pedro Pereira; ELIPEC: António José Rodrigues.

produção pecuária extensiva é um dos elementos principais dos sistemas agrários típicos das regiões mediterrânicas. Baseia-se no pastoreio direto e maioritariamente respeita os processos ecológicos locais. As raças autóctones de ruminantes e de suínos são as que melhor se adaptam a estes sistemas de produção em que a base da alimentação são recursos naturais e locais. Estes sistemas agro-silvopastoris fornecem outros importantes serviços ecossistémicos (conservação da biodiversidade e de habitats; sequestro de carbono; prevenção de incêndios,

valorização da paisagem e enquadramento da atividade humana no ambiente), pelo que poderão ter um efeito positivo no ambiente e contrariar o despovoamento rural. Contudo, quando a gestão do pastoreio for incorreta (subpastoreio, sobrepastoreio) podem ser gerados impactos ambientais negativos e a degradação dos ecossistemas em que se desenvolve a atividade. Porque as alterações climáticas em curso terão cada vez mais impacto na Natureza e sendo a pecuária extensiva (onde se enquadra a produção de bovinos de carne) um sistema baseado no aproveitamento dos recursos naturais, é previsível que estas alterações afetem negativamente 08

este setor. Como consequência das alterações climáticas, prevê-se aumento da aridez, diminuição da disponibilidade de água e diferenças na produção e qualidade das pastagens, resultando em mudanças nas dietas e redução na disponibilidade de nutrientes para os animais. No que respeita às disponibilidades alimentares para o pastoreio dos herbívoros domésticos, a produção pecuária extensiva regista grandes variações entre anos e uma sazonalidade marcada. Assim, é importante implementar estratégias para a gestão forrageira das explorações de modo a disponibilizar aos animais uma alimentação equilibrada ao longo de todo ano, reduzindo o impacto negativo dos


Produção e qualidade de 3 misturas forrageiras

FORRAGENS | BIODIVERSIDADE E LEGUMINOSAS

períodos preocupantes de escassez de pastagem. A produção e conservação de forragens de qualidade é uma delas. O setor agrícola enfrenta sérios problemas que poderão pôr em causa a rentabilidade das explorações no respeito pelo Pacto Ecológico Europeu - dificuldades em atingir alguns dos objetivos fixados na Estratégia do Prado ao Prato. Espera-se um aumento da produção forragens havendo necessidade de encontrar soluções para alguns problemas relacionados com esta atividade: (i) a baixa eficiência do uso da água, dos agroquímicos e dos equipamentos agrícolas – esta situação reduz a eficácia da produção; (ii) a dificuldade na escolha das variedades e misturas em função das condições de produção (solo, clima, etc.); (iii) o conhecimento insuficiente sobre a(s) época(s) de corte em função do método de conservação; (iv) a incerteza sobre o uso das novas tecnologias. Além do referido, Portugal apresenta um elevado grau de dependência da importação de alimentos para animais, como são exemplo o milho e a soja. É absolutamente necessário encontrar soluções económicas e ambientalmente sustentáveis para produzir em Portugal alimentos que satisfaçam as necessidades da produção nacional de ruminantes e dos seus

derivados. Assim, também se conseguirá contribuir para a neutralidade carbónica e para o cumprimento das metas previstas na Estratégia Farm-to-Fork. Considerando o atrás referido e o afirmado por Thornton et al (2015), i.e., que a procura de proteína animal aumentará na medida que o poder económico das populações aumentar e que os hábitos alimentares mudarem, a produção animal continuará a ter um papel fundamental na cadeia de abastecimento alimentar. Assim, o INIAV, em parceria com a Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, o Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Alentejo (CEBAL), a Elipec e a FERTIPRADO, têm em execução um Grupo Operacional que, entre outros objetivos, pretende avaliar o potencial de produção e qualidade das forragens de diferentes misturas forrageiras de outono/ inverno, em diferentes fases do ciclo vegetativo, produzidas no Alentejo. Essas forragens, após serem conservadas em micro silos de fenossilagem são incluídas/ testadas em novas dietas com o objetivo de melhorar a sustentabilidade da engorda de novilhos. O Grupo Operacional: “LegForBov- Alimentos alternativos na produção de carne de bovino - PDR2020101-031179” é liderado pelo INIAV, tem o apoio do PDR 2020 - Portugal 2020 - União Europeia e integra os trabalhos acima descritos. ESPÉCIES E MISTURAS O valor nutritivo das forragens varia ao longo do ciclo vegetativo e depende das espécies e variedades vegetais usadas e do estado de desenvolvimento das plantas no momento em que são pastoreadas ou cortadas. Sendo assim, a escolha da(s) espécie(s)/variedades(s) deve ser criteriosa, quer se opte por semear uma espécie/variedade em estreme ou uma mistura de espécies e/ou variedades. Os principais aspetos a ter em consideração quando da escolha destas, são o tipo de solo, as condições climáticas dominantes, as caraterísticas das variedades das diferentes espécies disponíveis no mercado de sementes e a que tipo de animal se destina a forragem, assim como

os sistemas de exploração a que estarão sujeitos. MATERIAL E MÉTODOS A utilização de forragens ricas em leguminosas, com elevado teor em proteína e de elevada digestibilidade, pode ser uma forma de reduzir a quantidade de alimentos concentrados compostos a integrar na dieta de ruminantes. Neste projeto, optou-se por avaliar três misturas forrageiras e que foram desenhadas tendo em conta os seguintes princípios gerais: (i) garantirem uma boa harmonização das espécies/variedades com o ambiente do Alto Alentejo; (ii) conseguirem uma rápida instalação da mistura com o objetivo de inibir o estabelecimento de infestantes; (iii) apresentarem alguma versatilidade no conjunto das plantas que integram para assim se obter uma boa cobertura do solo apesar de alguma heterogeneidade deste. O obtentor das misturas, quando da escolha das variedades que as compõem, teve em conta que estas deveriam pertencer às duas principais famílias botânicas de espécies forrageiras: leguminosas e gramíneas. Assim, tirou partido das caraterísticas de ambos grupos de espécies, quer a nível da produção de matéria seca quer a nível do seu valor nutricional, que são diferentes e se complementam. Nos anos agrícolas de 2018/19 e 2019/20, foram estudadas nos campos experimentais do INIAV-Elvas (Herdade da Comenda) três misturas de gramíneasleguminosas forrageiras, sendo uma para cortes múltiplos (Mistura 1) e duas para corte único (Mistura 2 e Mistura 3). A 06/10/2018 e 22/10/2019, semearam-se cerca de 5 ha com cada mistura forrageira nos campos experimentais do INIAVElvas. O rendimento de matéria seca (MS) foi avaliado por cortes sequenciais ao longo das duas estações de crescimento – 2018/2019 e 2019/2020. A biomassa forrageira de cada mistura foi amostrada 4 vezes – quatro tempos - na primeira estação de crescimento e 3 vezes – três tempos - na segunda. Os cortes realizaram-se aos 66, 106, 171 e 204 dias

QUADRO 1 ESPÉCIES INCLUÍDAS NAS MISTURAS FORRAGEIRAS USADAS NESTE ESTUDO Designação

Componentes

Mistura 1

Azevém anual e trevos anuais

Mistura 2

Azevém anual, trevos anuais, ervilhaca-dos-cachos-roxos

Mistura 3

Azevém anual, triticale, trevos anuais, ervilhaca-dos-cachos-roxos

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QUADRO 2 PARÂMETROS DE REGRESSÃO DETERMINADOS PARA A PRODUÇÃO EM VERDE E DE MATÉRIA SECA E PARA A PROTEÍNA BRUTA, FIBRA EM DETERGENTE NEUTRO (NDF) E DIGESTIBILIDADE DA MATÉRIA SECA EM FUNÇÃO DO TEMPO DEPOIS DA SEMENTEIRA Coeficientes de regressão

Interceção (a)

Coeficiente linear (b)

Coeficiente quadrático (c)

2774.5

119.5

0.402

Mistura 2

-111,2

119.5

0.402

Mistura 3

-1144,2

119.5

0.402

Mistura 1

-709.3

47.87

Mistura 2

-1266.2

47.87

Mistura 3

-1016.6

47.87

Mistura 1

11,09

0,14

-0,0007

Mistura 2

11,19

0,14

-0,0007

Mistura 3

11,16

0,14

-0,0007

Mistura 1

78.9

-0.715

0.003

Mistura 2

79.9

-0.715

0.003

Mistura 3

81.1

-0.715

0.003

Mistura 1

51.2

0.608

-0.003

Mistura 2

51.7

0.608

-0.003

Mistura 3

50.4

0.608

-0.003

Matéria verde (kg) Mistura 1

Matéria seca (kg)

Proteína bruta (% MS)

NDF (% MS)

Digestibilidade MS (%)

(06/Dezembro/2018; 15/Janeiro/2019; 21/ Março/2019; 23/Abril/2019) na primeira estação e aos 117, 145 e 203 dias após a sementeira (10/Fevereiro/2020; 9/ Março/2020 e 6/Maio/2020), na segunda. Registou-se em cada caso a produção de matéria verde e determinou-se a composição florística. Foram colhidas amostras do material vegetal, para determinação dos teores em MS, proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (NDF) e da digestibilidade in vitro da MS (Dig). Com base no conjunto de dados obtidos determinaram-se as equações de regressão que melhor caracterizaram as evoluções das produções de matéria verde e de MS ao longo do tempo por unidade de área. Foram também estimadas as regressões para a evolução da composição química (percentagens na MS de PB e de NDF) e da digestibilidade, ao longo do período de crescimento das forragens. Na análise dos resultados tomou-se como elemento fundamental a PB porque este parâmetro tem grande relevância derivado a que: (i) pode ser o nutriente mais limitante à produção, permitindo

respostas de aumento de produção através de sua suplementação, (ii) é um nutriente de alto custo por unidade (€/ ponto percentual de proteína) e (iii) a eficiência da utilização da energia depende da disponibilidade em proteína, isto é, a energia pode ficar subaproveitada se ocorrer uma deficiência proteica ou pela falta de balanceamento das várias frações da proteína. Do estudo experimental usaram-se os valores da biomassa disponível em cada uma das datas de amostragem, e os resultados das determinações analíticas; estimaram-se os tempos médios para a obtenção de forragens com 16, 15 e 14 % de PB na MS. Para cada um desses tempos calcularam-se as produtividades de MS correspondentes, bem como a percentagens de NDF e a digestibilidade da MS esperadas. PRINCIPAIS RESULTADOS No quadro 2 apresentam-se os coeficientes das regressões determinadas para cada um dos parâmetros que foram considerados no trabalho. Nas figuras 1, 2, 3, 4 e 5 estão 010

apresentados os resultados referentes às evoluções da produção de MS por hectare, da PB e NDF na MS e da digestibilidade da MS em função do tempo decorrido após a sementeira. Nas figuras assinalam-se os resultados obtidos aos 150, 163 e 173 dias, que correspondem aos dias estimados para se obter teores de PB de 16, 15 e 14 %, respetivamente. MATÉRIA SECA Como apreciação conjunta das três misturas, e porque se verifica que as equações de expressão da fitomassa das 3 misturas (durante o intervalo entre cortes) foram lineares, as produções médias de MS variaram entre 8300 e 8900 kg/ha aos 200 dias após a sementeira, e os melhores resultados foram obtidos com a Mistura 1 (Figura 1). Os níveis de produção de MS deste estudo foram comparáveis aos verificados no estudo de Carita e Simões (2014) pois estes autores reportam valores de produtividade entre 3183 e 6018 kg.ha-1 para diferentes misturas forrageiras. As misturas do referido trabalho foram triticale e ervilhaca-dos-cachos-roxos (Vicia villosa) (6018 kg.ha-1), mas também, noutra modalidade, triticale, ervilhacados-cachos-roxos e chícharo-miúdo (Lathyrus cicera) (4127 e 5497 kg.ha-1), e ainda noutra modalidade triticale, ervilhaca-dos-cachos-roxos e chícharo (Lathyrus sativus) (3183 kg.ha-1). Carneiro (2020) com três misturas semelhantes (1- triticale e ervilhaca-doscachos-roxos; 2- triticale, ervilha dos campos (Lathyrus ochrus) e ervilhaca-doscachos-roxos; 3- triticale, chícharo-miúdo e ervilhaca-dos-cachos-roxos), semeadas nas mesmas condições do presente trabalho, obteve produções de MS bastante mais elevadas, 13830 kg.ha-1, 11390 kg.ha-1 e 15000 kg.ha-1 respetivamente. Os dados que Carneiro (2020) refere são apenas de produção de MS por hectare, não sendo mencionados parâmetros de qualidade. Porém, as misturas foram colhidas com as plantas em estádios fisiológicos mais avançados do que no nosso estudo, o que justifica, em parte, a maior produtividade referida pelo autor. PROTEÍNA No que se refere aos resultados dos teores de proteína (Figura 2), estes aumentaram até cerca dos 100 dias após a sementeira, o que provavelmente se justifica com a dominância das espécies semeadas sobre espécies infestantes.


Produção e qualidade de 3 misturas forrageiras

FORRAGENS | BIODIVERSIDADE E LEGUMINOSAS

FIGURA 1 PERFIL, EXPRESSO POR REGRESSÃO, DOS VALORES DE MATÉRIA SECA (MS) DISPONÍVEL COM O AVANÇAR DO CICLO Mistura 1

FIGURA 2 EVOLUÇÃO DA PROTEÍNA BRUTA COM O AVANÇAR DO CICLO

Mistura 2

10000 9000

18,0

8000

17,0

7000

16,0 kg/ha

6000 kg/ha

Mistura 2

19,0

Mistura 3

5000 4000

Mistura 3

15,0 14,0 13,0

3000

12,0

2000

11,0

1000 0

10,0 0

50 100 150 200 250

0

Dias

FIGURA 4 PERFIL DOS VALORES DE DIGESTIBILIDADE COM O AVANÇAR DO CICLO Mistura 1

Mistura 1 Mistura 2

65,0

50 100 150 200 250 Dias

FIGURA 3 EVOLUÇÃO DO NÍVEL DE NDF COM O AVANÇAR DO CICLO

Mistura 2

85,0

Mistura 3

60,0

80,0

55,0

75,0

50,0

70,0

kg/ha

kg/ha

Mistura 1

45,0

65,0

40,0

60,0

35,0

55,0

30,0

Mistura 3

50,0 0

50 100 150 200 250

0

Dias

Nos estados vegetativos seguintes, ou seja em datas posteriores de amostragem, a proteína vai diminuindo até atingir cerca de 11% na MS aos 200 dias após a sementeira. Em média, aos 150 dias após a sementeira o nível de proteína das misturas foi de 16% (Figura 2). Dos dados de Carita e Simões (2014) verificou-se que com o avançar do ciclo vegetativo das componentes da mistura implicou uma maior produção unitária mas teor de proteína mais baixo (17,4 contra 13,3), digestibilidade mais baixa (72,5 % contra 64,5 %) e NDF mais alto (33,1% contra 48,7 %). NDF No que respeita ao NDF (Figura 3) os valores na primeira data de corte cifraram-se entre 47 e 49%, diminuíram até cerca dos 120 dias após a sementeira e voltaram a subir até valores entre os 40 e 42% aos 150 dias após a sementeira e entre 57 a 60 % aos 200 dias após a sementeira.

50 100 150 200 250 Dias

DIGESTIBILIDADE Tal como no caso da proteína, os valores de digestibilidade da MS aumentaram até cerca dos 100 dias após a sementeira para valores superiores a 80%, o que se poderá explicar pela razão já atrás apontada (Figura 4). A digestibilidade diminuiu a partir daí até a valores de 55 a 57 % aos 200 dias após a sementeira. ESTIMATIVAS No quadro 3 apresentam-se os valores estimados da produção de fitomassa, imediatamente após o corte e antes da secagem (PMV) e após secagem a peso constante (PMS), e ainda os teores de PB, NDF e de digestibilidade da MS in vitro (Dig MS) para as três misturas, considerando 3 níveis de proteína (PB) na MS de 16%, de 15% e de 14%. Para um teor de proteína de 16% estimaram-se a PMS mais baixa para a 011

Mistura 2 (5975 kg.ha-1), intermédia a Mistura 3 (6206 kg.ha-1) e mais alta para a Mistura 1 (6466 kg.ha-1). Os valores de NDF variaram entre 40,0 % e 42,3 %, correspondendo o valor mais baixo à mistura mais produtiva (Mistura 1) e o valor mais alto à Mistura 3 que apresentou um nível de produção intermédio entre as outras duas misturas. A Mistura 1 e a Mistura 2 têm valores de digestibilidade de 76%, que se cifra uma unidade percentual acima do valor de digestibilidade estimado para a Mistura 3. O Mistura 1 foi a mistura que apresentou maior produção de MS para os três níveis de proteína avaliados. Para o mesmo período de tempo, as misturas foram quimicamente muito semelhantes entre si. Aos 150 dias após a sementeira e com um teor em proteína elevado (16%), o teor de fibra foi baixo (NDF entre 40 e 42.3% na MS) e a digestibilidade


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QUADRO 3 PRODUTIVIDADES DE MATÉRIA VERDE (PMV) E PRODUTIVIDADES DE MATÉRIA SECA (PMS), TEOR DE FIBRA DETERMINADA EM DETERGENTE NEUTRO (NDF) E DIGESTIBILIDADE IN VITRO (DIG MS) PARA NÍVEIS DE PROTEÍNA DE 16, 15 E 14%, PARA CADA MISTURA EM AVALIAÇÃO Mistura Mistura 1

Tempo (Dias)

PMV (Kg ha-1)

PMS (Kg.ha-1)

PB (%MS)

NDF (%MS)

Dig MS (%)

150

29707,4

6465,9

16

40.0

76,2

Mistura 2

151

27153,8

5975,1

16

41,3

76,3

Mistura 3

150

26025,9

6205,9

16

42,3

75,1

PMV (Kg.ha-1)

PMS (Kg.ha-1)

PB (%)

NDF (%)

Dig (%)

32737,4

7058,3

15

42,9

72,4

Mistura Mistura 1

162

Mistura 2

163

30131,8

6554,9

15

44,2

72,5

Mistura 3

163

29018,5

6789,3

15

45,2

71,3

PMV (Kg.ha-1)

PMS (Kg.ha-1)

PB (%)

NDF (%)

Dig (%)

173

35363,6

7553,3

14

46

68,5

Mistura 2

174

32727,5

7042,6

14

47,3

68,6

Mistura 3

173

31622,9

7279.0

14

48,3

67,3

Mistura Mistura 1

bastante elevada (entre 75.1 e 76.3%). Estes parâmetros refletem a forte presença de leguminosas e de plantas jovens nas misturas. Ao longo do tempo com a maturação das plantas o teor de proteína diminuiu e o teor de compostos parietais (NDF) aumentou, o que explica a diminuição dos valores de digestibilidade da MS. Apesar deste efeito esperado, aos 170 dias após a sementeira os valores obtidos para estas misturas correspondem ainda a uma digestibilidade elevada. CONCLUSÕES As 3 misturas utilizadas neste trabalho revelaram ter um comportamento muito semelhante quer no que se refere à produtividade quer à evolução dos parâmetros de qualidade ao longo do ciclo produtivo. Portanto, a escolha da mistura a semear dependerá essencialmente das condições edafoclimáticas das explorações, dos recursos disponíveis e dos objetivos da cultura (corte ou pastoreio e

corte), que determinarão a produtividade alcançada. A produção de MS foi muito semelhante entre as misturas e caracterizou-se por apresentar um padrão linear em todas as misturas. Nas condições deste trabalho, a variação de proteína de 16 para 14 % MS das misturas, resultou num aumento da produção de MS de cerca de 1200 kg e num aumento do ciclo de produção de cerca de 23 dias. Em todas as misturas a quebra na qualidade das forragens ocorreu cerca dos 100 dias após a sementeira. No intervalo dos teores de proteína considerados neste estudo, os valores de NDF situaram-se abaixo dos 50% MS e os de digestibilidade mantiveram-se acima de 65%, o que indica que em quaisquer dos casos se trataram de forragens de boa qualidade. No âmbito do Grupo Operacional LegForBov, e para além do estudo atrás descrito, estão em curso: (i) ensaios metabólicos para determinação 012

do valor nutritivo (degradabilidade ruminal, digestibilidade total e digestibilidade intestinal da proteína) das fenossilagens selecionadas; (ii) ensaios produtivos realizados em condições de experimentação e estudos em condições de produção comercial com vitelos cruzados; (iii) avaliação da qualidade dos produtos (carcaças e carne, obtidos. No final, os resultados dos ensaios permitirão estabelecer a estrutura dos custos com as diferentes dietas e conhecer os resultados produtivos com o que será possível estimar os indicadores técnico-económicos a esperar em cada uma das situações e avaliar sobre a viabilidade das soluções testadas. Para obter as referências bibliográficas, consultar os autores.


Full Line

Produção e qualidade de 3 misturas forrageiras

FORRAGENS | BIODIVERSIDADE E LEGUMINOSAS

Fertilizantes com futuro

Nutrientes protegidos 013


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FORRAGENS | BIODIVERSIDADE E LEGUMINOSAS

OS INGREDIENTES DA FORRAGEM DE QUALIDADE

RECENTEMENTE, A FERTIPRADO PROMOVEU UM ENSAIO ALARGADO DE FORRAGEIRAS, EM COLABORAÇÃO COM A UCANORTE. A DECISÃO DE REALIZAR ESTE ENSAIO FOI RESULTADO DA CONSTATAÇÃO DE QUE ESTARIA A HAVER UMA REGRESSÃO NA UTILIZAÇÃO DE MISTURAS RICAS EM LEGUMINOSAS, EM DETRIMENTO DE OUTRAS SOLUÇÕES COMO O TRITICALE, A AVEIA E O AZEVÉM EM FORRAGENS MONOESPECÍFICAS.

C

JOSÉ FREIRE Diretor Comercial e Marketing Fertiprado jfreire@fertiprado.com

om os elevados preços da soja e dos adubos azotados, a utilização de leguminosas como fonte de proteína e como fonte de azoto faz hoje mais sentido que nunca. O ensaio que publicámos, conduzido em condições de extrema proximidade com a realidade das explorações leiteiras da região, revelou resultados muito conclusivos no que diz respeito à importância da qualidade das forragens nas explorações leiteiras, sendo esta qualidade muito dependente da maior ou menor presença de leguminosas e do momento do corte: 1. Uma mistura rica em leguminosas 014

garante uma produção proteica média de cerca 800 kg de PB/ha. 2. É extremamente importante a escolha da mistura forrageira mais adequada tendo em consideração: a) O maneio: corte único ou multicorte b) O objetivo: feno, feno-silagem ou silagem c) O tipo de solo d) A duração do ciclo e) A relação quantidade/qualidade. 3. O ensaio fornece ainda importantes resultados que realçam a importância das decisões relativas ao momento ideal do corte. 4. A separação botânica das misturas revela o inequívoco contributo das leguminosas para a qualidade da forragem (gráficos 4 e 5).


Os ingredientes da forragem de qualidade

FORRAGENS | BIODIVERSIDADE E LEGUMINOSAS

• A mistura com maior produção após o corte de 20 de abril foi a mistura C-MIX AC, com uma produção acumulada de 8 003 kgMS/ha. Em termos qualitativos foram avaliados vários parâmetros dos quais destacamos a proteína (PB), é possível constatar, através dos gráficos 1,2 e 3, que entre a 23 de março e 20 de abril (27 dias) existe uma grande variação da proteína na forragem: • Na mistura AVEX AC a PB variou de 13,2% a 23 março para 10,3% a 20 de abril • A mistura mais proteica foi o FERTIFENO XL onde a variação foi de 20,2% para 15,3% nas mesmas datas de corte.

Para entender melhor os resultados de cada mistura é fundamental conhecer a sua composição florística em cada fase. Para tal foi feita uma amostragem representativa de cada mistura e posterior separação dos componentes nas categorias: leguminosas (trevos + ervilhaca); azevéns; aveia strigosa; aveia sativa; cevada híbrida; centeio híbrido; triticale onde foram registadas as produções e a análise de qualidade que apresentamos nos gráficos 4 e 5. Analisando o gráfico 4, importa salientar a grande diferença do valor proteico no mês de abril das leguminosas (19,5/18,0% PB) em comparação com as outras

GRÁFICO 1 PRODUÇÃO (kg MS/ha) E PROTEÍNA (% PB) DE CADA MISTURA NA PRIMEIRA DATA DE CORTE REALIZADA A 23 DE MARÇO 23 de março 2021 (155 dias) | Produção (kg MS/ha e proteina (% PB) 5000 17,5

4000

16,9

14,7

13,2

14,0

3000

16,3

17,4

20,0 15,0

2000

10,0

1000

5,0

0

SPEEDMIX S

SPEEDMIX XL

FERTIFENO AC FERTIFENO XL kg MS/ha

ENSAIO E RESULTADOS O ensaio realizado consistiu na sementeira de 8 misturas forrageiras ricas em leguminosas com 2 500 m2 dedicados a cada uma delas, num total de 2 ha. O campo esteve instalado em Beiriz e foi visitado por dezenas de técnicos e produtores. Foram feitos 3 cortes em 3 diferentes datas: - 23/03/2021 (155 dias pós sementeira); - 07/04/2021 (170 dias pós sementeira); - 20/04/2021 (183 dias pós sementeira), foi feita a separação botânica das misturas em todos os seus componentes e foi medida a sua produção e os seus parâmetros nutricionais. Passemos então a apresentar alguns dos resultados (gráficos 1, 2 e 3). Destacamos, nestes resultados, em termos produtivos: • As diferenças de produção na 1ª data de corte nas misturas de ciclo mais curto (Speedmix S, Avex AC, C-mix AC) em comparação com as misturas de ciclo mais tardio (Speedmix XL, Fertifeno AC, Fertifeno XL, Centauro AC e Tritimix L). • Na 2ª e 3ª data de corte estas diferenças de produção entre misturas mais precoces e as mais tardias vão sendo cada vez menores, pois as variedades mais tardias, que demonstram o seu grande potencial produtivo na primavera, compensam em parte o menor crescimento invernal.

25,0

20,2

AVEX AC

C-MIX AC

CENTAURO AC

TRITIMIX L

0

PB %

GRÁFICO 2 PRODUÇÃO (kg MS/ha) E PROTEÍNA (%PB) DE CADA MISTURA NA SEGUNDA DATA DE CORTE REALIZADA A 07 DE ABRIL 07 de abril 2021 (170 dias) | Produção (kg MS/ha e proteina (%PB) 8000

17,0

7000 6000

14,6

11,8

14,1

12,1

5000

13,2

12,6

14,3

4000 3000 2000 1000 0

SPEEDMIX S

SPEEDMIX XL

FERTIFENO AC FERTIFENO XL kg MS/ha

AVEX AC

C-MIX AC

CENTAURO AC

TRITIMIX L

20,0 18,0 16,0 14,0 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0

PB %

GRÁFICO 3 PRODUÇÃO (kg MS/ha) E PROTEÍNA (%PB) DE CADA MISTURA NA TERCEIRA DATA DE CORTE REALIZADA A 20 DE ABRIL 20 de abril 2021 (183 dias) | Produção (kg MS/ha e proteina (%PB) 9000 13,3

7000 6000 5000

18,0

15,3

8000

13 10,3

9,9

10,2

10,6

13,7

16,0 14,0 12,0 10,0

4000

8,0

3000

6,0

2000

4,0

1000

2,0

0

SPEEDMIX S

SPEEDMIX XL

FERTIFENO AC FERTIFENO XL kg MS/ha

015

AVEX AC PB %

C-MIX AC

CENTAURO AC

TRITIMIX L

0


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GRÁFICO 4 VARIAÇÃO DA PROTEÍNA BRUTA (PB) DE CADA UM DOS COMPONENTES DAS MISTURAS EM DUAS DATAS DE CORTE: 07 DE ABRIL E 20 DE ABRIL 20,0

15,0

10,0

5,0

0,0

7 de abril 2021 (170 dias) % PB

20 de abril 2021 (183 dias) % PB

GRÁFICO 5 VARIAÇÃO DA FIBRA NEUTRO DETERGENTE (FND) DE CADA UM DOS COMPONENTES DAS MISTURAS EM DUAS DATAS DE CORTE: 07 DE ABRIL E 20 DE ABRIL

65,0 60,0 55,0 50,0 45,0 40,0 35,0

7 de abril 2021 (170 dias) % PB

espécies de azevéns e cereais usados em corte único nomeadamente a aveia sativa (5,2%/4,4% PB). No gráfico 5 é possível conhecer a variação da fibra neutra em cada componente da mistura e também neste parâmetro existem diferenças acentuadas entre as leguminosas (40,4%/43,2% FND) em comparação com outros componentes, inclusivamente com o azevém (46,5%/51,8% FND). Observando conjuntamente o gráfico 4 e 5, é possível concluir que as leguminosas não só apresentam valores mais altos em proteína e mais reduzidos em fibra neutra, como também a variação ao longo do ciclo vegetativo é menor. Neste aspeto são muito importantes as leguminosas numa mistura devido ao “efeito travão” sobre a perda de qualidade, especialmente em cortes mais tardios.

20 de abril 2021 (183 dias) % PB

Neste momento a Fertiprado está envolvida em projetos de sustentabilidade com 3 grandes multinacionais da indústria leiteira. Todas elas buscam os valores da “economia circular”, “agricultura regenerativa”, “pegada de carbono”, etc. São os valores que os consumidores procuram, são os valores em que já todos acreditamos de uma ponta da cadeia à outra. A proteína produzida na própria exploração, não só é mais ecológica, como é também mais barata. A devolução dos resíduos digestivos dos animais à terra, não só é mais ecológica, como é mais barata. A fixação de azoto atmosférico, não só é mais ecológica, como é grátis. A produção de forragens ricas em leguminosas é um dos casos em que sustentabilidade ambiental e sustentabilidade económica andam lado a lado e de mão dada. 016

E A BIODIVERSIDADE? A biodiversidade influencia a produtividade das forragens pelas relações de competitividade e de sinergia que se estabelecem entre as diferentes espécies da consociação. Diferentes sistemas radiculares aumentam o volume de solo explorado e diferentes tipos de folhagem aumentam a capacidade fotossintética. A biodiversidade influencia a qualidade das misturas pois as plantas são nutricionalmente complementares. De uma forma simplista, podemos afirmar que as leguminosas aportam mais proteína e as gramíneas aportam fibra. Esta complementaridade acontece também ao nível das vitaminas, dos minerais e de outros oligoelementos fundamentais para o metabolismo dos animais. Recentemente a Fertiprado iniciou um outro projeto de investigação com diversas instituições publicas onde há já resultados interessantes que demonstram, por exemplo, que o azevém micorriza muito bem. Estas micorrizas são importantes para tornar disponível o fósforo que possa estar bloqueado no solo. Este fósforo é essencial para o processo de fixação de azoto por parte das leguminosas. Este é um bom exemplo da importância da biodiversidade nas misturas forrageiras. Fica aqui o levantar do véu de um próximo artigo. Até lá, bem-hajam!


Os ingredientes da forragem de qualidade

FORRAGENS | BIODIVERSIDADE E LEGUMINOSAS

017


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CONSIDERAÇÕES NA GESTÃO DE NOVOS SILOS TER EM CONSIDERAÇÃO AS VARIAÇÕES NA DIGESTIBILIDADE DO AMIDO, AO LONGO DO ANO, É UMA FORMA EFICAZ DE PREVENIR POTENCIAIS PROBLEMAS DE ACIDOSE E DE MAXIMIZAR, ECONOMICAMENTE, AS DIETAS.

RAQUEL CORTESÃO Especialista em nutrição animal Corteva Agriscience raquel.cortesao@corteva.com

A

antecipação das necessidades anuais da exploração, no que à silagem e ao milho diz respeito, é cada vez mais tida em conta de forma a garantir que as mudanças para novas silagens tenham o menor impacto na produção de leite e se evitem perdas desnecessárias. No entanto, dada a escassez de superfície, nem sempre é possível garantir que o silo se mantenha fechado durante o período ideal, sendo necessário abri-lo antes do ponto ótimo. O período mínimo de tempo que o silo deve permanecer fechado para obter uma silagem estável é, atualmente, de apenas 7 dias com a tecnologia Rapid React®. No entanto, sabemos que esta não é a situação ideal pelo menor aproveitamento do amido que teremos. O PROCESSAMENTO DO GRÃO E A DIGESTIBILIDADE DO AMIDO Um aspeto que, muitas vezes, não é tido em conta na avaliação de silos é o processamento do grão. Recentes evoluções ao nível dos processadores de grão têm vindo a ajudar na diminuição da

quantidade de grão não processado, grãos esses que escapam à digestão ruminal e intestinal levando a perdas energéticas. O nível de processamento do grão pode ser avaliado em campo com recurso ao PPC (Pioneer Processing Cup), um copo de aproximadamente 1 litro que deve ser cheio várias vezes ao longo do enchimento do silo. A silagem recolhida com esta ferramenta deve ser espalhada no chão e nesta porção não devem ser encontrados mais que 2-3 grãos inteiros ou mesmo meio-partidos. Pode também ser avaliado o nível de processamento a nível laboratorial, analisando o amido fecal e tendo como objetivo ter menos de 3 a 5% de amido nas fezes. Níveis superiores a estas percentagens podem indicar um processamento deficiente da silagem de milho (ou de outras fontes de amido), resultando no uso ineficiente de amido na dieta. Elevadas percentagens podem também predispor as vacas a doenças como a Síndrome do Intestino Hemorrágico (SIH). Existem vários fatores que os operadores da máquina podem ter em conta para melhorar o processamento nos corn cracker convencionais: - o comprimento do corte (cortes mais longos tornam mais difícil o processamento do grão); - o desgaste dos rolos (a vida útil é de 400-1000 horas dependendo do tipo de cracker); - o espaço entre os rolos (1 a 3 mm, dependendo do comprimento do corte e do estado de maturação do grão), - e, talvez o mais importante, o diferencial de velocidade entre os rolos (normalmente 20 a 40%). 018

QUE FATORES INFLUENCIAM A DIGESTIBILIDADE DO AMIDO? Sabe-se que tanto o ambiente como a genética podem ter impacto na composição do grão, assim como o estado de maturação na colheita. No gráfico 1, os dados mostram que entre o meio da linha de leite e o ponto negro o peso do grão aumenta em média 24% e o amido 27%. Já a digestibilidade do amido às 7h tende a aumentar apenas ligeiramente, enquanto a prolamina (proteína presente no grão) tende a diminuir à medida que o grão amadurece. As mudanças na composição com a maturidade da cultura são surpreendentemente pequenas (gráfico 2). A relação entre os níveis de prolamina e a digestibilidade do amido não é detetada. No entanto, as questões ambientais associadas à maturação do grão demonstram ter um impacto muito maior na disponibilidade de amido. Assim, a escolha de híbridos com base na digestibilidade do amido não terá um efeito significativo (gráfico 3) (Owens, 2013). COMO VARIA A DIGESTIBILIDADE DO AMIDO A programação de que falámos inicialmente visa cumprir o que consensualmente se considera o período mínimo de fecho do silo. Diversos estudos demonstram que as maiores variações na digestibilidade do amido ocorrem nos primeiros 3 a 4 meses (gráfico 4). Após este período, a forma como evolui a digestibilidade do amido também é conhecida. No caso das silagens de milho, a digestibilidade atinge alguma estabilidade ao fim de 6 meses de fermentação. Entre


Considerações na gestão de novos silos

FORRAGENS

os 2 meses de fermentação e os 10 meses, é esperado um aumento na degradabilidade de 53% para 69%. No entanto, se pensarmos na digestibilidade do amido de silos de pastone, temos que considerar que existe uma progressão até aos 12 meses de fecho do silo. São esperados aumentos de 68 para 85% entre os 60 dias e os 240 dias.

A humidade também influencia a evolução da digestibilidade. O aumento da degradabilidade entre 2 e 10 meses de silo fechado foi de 0,7% para silagens com menos de 30% de matéria seca e 25% para silagens com mais de 37,5% de matéria seca. A investigação sustenta que a digestibilidade do amido é fortemente

GRÁFICO 1 PESO DO GRÃO E TEOR DE AMIDO EM DIFERENTES HÍBRIDOS E PONTOS DE COLHEITA

80

+4%

300

Digestibilidade do amido às 7 h, % 70

Grão total

+24%

250

+4% +27%

200

Amido

150

100

GRÁFICO 2 COMPOSIÇÃO DO GRÃO E DIGESTIBILIDADE DO AMIDO ÀS 7 HORAS EM DIFERENTES HÍBRIDOS E PONTOS DE COLHEITA

Ponto negro

Meio da linha de leite

Maturação completa

Fração dos componentes secos, %

Peso dos componentes secos, mg

350

influenciada pelo fator tempo e que a forma de maximizar o aproveitamento energético da forragem é cumprindo um período mínimo de fecho que, idealmente, deverá rondar os 4 meses. Ter as variações na digestibilidade do amido ao longo do ano, em consideração, é uma forma eficaz de prevenir potenciais problemas de acidose e maximizar economicamente as dietas.

50

amido, %

a

Prolamida, % x 10

50 40 30 20

Meio da linha de leite a b NDF % a Cinza %

10

0

a

b

60

0

Ponto negro

Maturação completa

b

b

b b

a CP % Óleo % b

60 65 70 75 80

60 65 70 75 80

Matéria seca do grão

Matéria seca do grão

GRÁFICO 3 PESO DO GRÃO E TEOR DE AMIDO EM DIFERENTES HÍBRIDOS E PONTOS DE COLHEITA 80

GRÁFICO 4 EVOLUÇÃO DA DIGESTIBILIDADE DO AMIDO AO LONGO DO TEMPO DE ARMAZENAGEM

78

Digestão do amido in vitro às 7 h, %

76

65

74 72 60

70 68

55

66 64

50

62 60 Meio da linha de leite

Ponto negro

Maturação completa

45

33F88-2011

35F48-2011

35F48-2012

P0115-2011

P0448-2011

P0448-2012

P0705XR-2012

P0891-2011

P0891-2012

P1339XR-2012

P1376XR-2012

0

50 100 150 200 250 300

Tempo de armazenagem (dias)

019


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ALIMENTAÇÃO | PEQUENOS RUMINANTES

O PERI-PARTO NA CABRA LEITEIRA

QUANDO FALAMOS SOBRE CAPRINOS DE LEITE, TEMOS A FASE DE PERI-PARTO COMO, PROVAVELMENTE, O MAIS CRÍTICO MOMENTO DO SEU CICLO PRODUTIVO. A TRANSIÇÃO ENTRE O FIM DE UMA LACTAÇÃO E O INÍCIO DA SEGUINTE É, SEM DÚVIDA, UM MOMENTO DELICADO E É IMPORTANTE CONHECÊ-LO BEM. MUITOS DOS PROBLEMAS ORIGINADOS NESTA FASE PREJUDICAM GRAVEMENTE A RENTABILIDADE DAS EXPLORAÇÕES E PODEM AFETAR, DE ALGUMA FORMA, A SUA SUSTENTABILIDADE. FOTOS Luis Raposo

020


O peri-parto na cabra leiteira

ALIMENTAÇÃO | PEQUENOS RUMINANTES

LUIS RAPOSO Engenheiro zootécnico Dep.to Ruminantes Reagro l.raposo@reagro.pt

S

abendo à partida que existe em Portugal uma grande heterogeneidade entre os diferentes tipos de explorações dedicadas à produção de leite de cabra, não podemos deixar de constatar que, na produção atual, existem não só problemas comuns entre elas mas também idênticos a alguns dos que se observam nas explorações de leite de vaca. Por exemplo, a cetose em vacas leiteiras representa uma preocupação pelo enorme impacto económico que poderá ter na produtividade da exploração, mas numa exploração de caprinos de leite não deverá haver motivo de despreocupação, antes pelo contrário, é fortemente recomendável a tomada de medidas preventivas. Nas vacas de leite, ainda que esteja bem estabelecido que a génese da cetose começa mais cedo, a sua manifestação clínica ocorre em período pós-parto. Já em pequenos ruminantes, pelo contrário, os efeitos da cetose são normalmente sentidos alguns dias mais cedo, ainda na fase final de gestação. Não deixa de ser interessante notar que a cetose em pequenos ruminantes assume geralmente uma denominação diferente toxemia de gestação (TG). A TG ocorre quando há uma insuficiência no metabolismo energético, especialmente na fase final da gestação em que as necessidades aumentam exponencialmente, podendo também ocorrer no início da lactação. A doença manifesta-se no final da gestação e no início da lactação, quando as necessidades energéticas aumentam rapidamente e não são compensadas pela ingestão de alimentos nutricionalmente capazes de responder a essas necessidades. Nesta situação o animal tende a mobilizar e utilizar as suas reservas de gordura corporal por forma transformá-las em

glicose, a principal fonte de energia das células (lipomobilização). O fígado é o responsável por esta transformação, mas se este processo natural se intensifica ao ponto de as capacidades hepáticas se saturarem, aparecerão corpos cetónicos que intoxicam o animal e que serão responsáveis pelos sinais clínicos. É por isso que em explorações leiteiras se procura monitorizar a presença destes corpos cetónicos associada a níveis baixos de açúcar no sangue. Vários estudos (Doré et al., 2015) procuram desenvolver ferramentas de controlo do ácido betahidroxibutírico (BHBA) como forma de diagnóstico eficaz e alguns até mostraram que valores relativamente baixos de BHBA, detetados um mês antes do parto, já podem indicar um elevado risco de TG. Porém, enquanto em vacas de leite o controlo sistemático de BHBA’s pós-parto poderia representar uma boa ferramenta de controlo e diagnóstico de cetose, nas cabras infelizmente esse método não é igualmente aplicável porque a cetose começa antes do parto. Além disso, a criação de cabras é geralmente sazonal e baseada em métodos naturais, logo a data da fertilização e a data prevista do nascimento não são conhecidas individualmente, nem com precisão. Não é possível definir o "dia 0" nem o dia do parto, apenas se pode fazer uma estimativa de quando os partos ocorrerão através do tempo de gestação expectável. Por estes motivos é difícil monitorizar o BHBA em caprinos. No entanto, sabendo que a toxemia de gestação (TG) aparece geralmente de forma “silenciosa” e conduz, por esse motivo, a uma reação frequentemente tardia por parte do

Rebanho em pré-parto.

021

criador, torna-se imperativo conhecer os fatores que favorecem o seu aparecimento. A mobilização de reservas corporais por parte da cabra, descrita anteriormente, é uma resposta fisiológica à necessidade crescente de energia e, por isso, é esperado que aconteça sempre antes do parto e atinja o seu pico no momento do parto. Deste modo, o que é necessário é implementar estratégias nutricionais para impedir que esta resposta fisiológica, normal e expectável, se torne numa patologia com consequências indesejadas e prejudiciais à saúde dos animais e à rentabilidade da exploração. Neste sentido, facilmente se percebe que a TG não é uma doença infeciosa, mas sim com uma origem nutricional cuja ocorrência é frequente em explorações. De igual modo, é economicamente prejudicial aos interesses da exploração e, para a evitar, há que garantir o equilíbrio alimentar, com especial atenção nesta fase final da gestação (pré-parto). Vejamos porquê. Num lote de cabras em pré-parto, uma situação de desequilíbrio nutricional poderá significar que há um défice de ingestão de energia num momento em que as necessidades são especialmente elevadas. Esta situação pode ser motivada pelo fornecimento de alimentos pobres em energia ou por uma ingestão insuficiente, por exemplo, devido a forragens “volumosas”, pouco palatáveis ou pouco nutritivas. Em cabras prenhes é sempre vantajoso fornecer forragem de qualidade. Apesar da data do parto não poder ser determinada com precisão, como foi referido anteriormente, é importante ter presente que esta pode ocorrer antecipadamente caso o programa alimentar seja mal concebido ou mal implementado. Cabras mais velhas são mais sensíveis a estes fatores e gestações múltiplas agravam ainda mais esta sensibilidade. Quando não é evitada, a toxemia de gestação em caprinos tem uma evolução clínica muito rápida, sendo frequentemente fatal. Economicamente a TG penaliza o sucesso da fase reprodutiva não só pela mortalidade verificada em algumas cabras, mas também pelo mau início de lactação de outras, bem como pela fragilidade dos cabritos nascidos destas circunstâncias. Sem auxiliares de diagnóstico perfeitos para antecipar ou lidar com a TG, e sendo o peri-parto um período tão delicado na cabra leiteira, a melhor ferramenta que pode ser usada é mesmo a prevenção. A prevenção é


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essencialmente de cariz nutricional e consiste em manter um equilíbrio preciso e cuidado logo desde a fase de secagem e principalmente até ao final da gestação. É necessário ter presentes as necessidades nutricionais da cabra leiteira, com especial enfoque na componente energética e proteica. Considerando que os problemas no período peri-parto derivam principalmente do desequilíbrio energético, há que focar principalmente esse aspeto. Assim, o requisito energético consiste no somatório das necessidades de manutenção, de gestação, de lactação e de crescimento (este último para cabritas de 1ª barriga). As necessidades energéticas consideradas para a gestação visam essencialmente os dois últimos meses (período seco). A correta interpretação e avaliação das necessidades no período peri parto inclui inevitavelmente algumas variáveis difíceis de determinar, sendo que as necessidades de gestação serão tanto mais elevadas quanto maior o número de fetos, no caso de gestações gemelares. Uma ração equilibrada em termos de energia e proteína já representa por si só um excelente princípio, mas será necessário estabelecer e seguir um plano alimentar de "pré-parto", ajustado de acordo com a condição corporal das cabras em período seco. Vejamos algumas das sugestões relevantes neste período delicado:

- especialmente no final da lactação, evitar uma dieta demasiado “generosa”, que conduza a um depósito excessivo de gordura corporal e promova posteriormente demasiada lipomobilização; - no último mês de gestação há que formular rações não demasiado diferentes daquelas que serão fornecidas no início da lactação; - no final da gestação, a incorporação de precursores de glicose como o propionato, o propilenoglicol ou o sorbitol na dieta, permite prevenir a toxemia, mas este recurso deverá ser bem fundamentado e não mascarar um eventual erro alimentar; - o uso de aditivos como vitaminas e aminoácidos essenciais com ação lipotrófica contribui para melhorar o metabolismo energético e o efeito “hepatoprotetor”; - ativadores da flora ruminal poderão promover o apetite e assim estimular uma maior ingestão; - o fornecimento de forragens de qualidade, facilmente ingeríveis, quer no final da gestação quer no início da lactação, é recomendado; - procurar a homogeneidade dos lotes garantindo a maior proximidade possível relativamente à data prevista de partos; - procurar a maximização da ingestão de matéria seca, que na cabra, e

022

principalmente no período peri-parto, assume um significado muito importante; neste período devemos não apenas tentar maximizar a ingestão de alimentos mas também formular rações com alto conteúdo energético. Conclusão: Na cabra, a sazonalidade reprodutiva determinará a concentração dos partos. No entanto, uma dieta personalizada para este momento satisfaz, na melhor das hipóteses, apenas uma parte do grupo, porque as cabras não parem todas no mesmo dia. Antes de mais, é necessário otimizar todo o processo de produção e evitar que a formulação de um programa alimentar não seja apenas um exercício teórico. O parto e o período que o circunda (peri-parto) representam um momento extremamente crítico para a cabra leiteira. Ainda que tenhamos animais cada vez mais produtivos e melhoremos continuamente a sua genética, acima de tudo há que trabalhar na otimização das diferentes estratégias de maneio. Nesse sentido, o papel da nutrição certamente terá um peso muito importante. Não é apenas necessário formular uma ração equilibrada, mas sim pensar em alimentos específicos e necessidades reais. A cabra é um animal muito delicado, mas excecionalmente versátil.


O peri-parto na cabra leiteira

ALIMENTAÇÃO | PEQUENOS RUMINANTES

023


#43 | out. nov. dez. 2021

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PUBLIRREPORTAGEM NANTA

GRANJA CIRCULAR

ENTREVISTA COM JAVIER GALÁN, GERENTE DA EXPLORAÇÃO ESPANHOLA SAT LOS FRANCOS, LOCALIZADA EM PALENCIA, ESPANHA. A SAT LOS FRANCOS FOI PIONEIRA NA OBTENÇÃO DA CERTIFICAÇÃO "A" DA "GRANJA CIRCULAR" E DO CERTIFICADO DE CONFORMIDADE AENOR.

A

SAT Los Francos é uma empresa familiar dedicada à agricultura e à ovinocultura desde 1880. Com cerca de 1000 hectares de terras para cultivo e um rebanho de 1900 ovelhas leiteiras da raça Lacaune, a SAT Los Francos é uma empresa líder no setor agrícola. O desejo de excelência fê-los avançar na sustentabilidade, obtendo o certificado A da Granja Circular e o certificado de conformidade AENOR que atesta que atendem aos requisitos de sustentabilidade económica, ambiental e social, além daqueles relacionados com o bem-estar animal. Por que decidiu entrar na Granja Circular? Achámos muito interessante que alguém de fora nos fosse examinar de forma objetiva. A cada dia devemos melhorar um pouco, e essa foi uma boa forma de saber onde estava o nosso ponto de partida e de nos ajudar a detetar pontos

fracos ou possíveis melhorias na exploração. Além disso, esse tipo de iniciativa pode ajudar o setor a projetar uma imagem mais alinhada com a realidade, ou seja, a de uma exploração moderna, com gestão empresarial e preocupada com os desafios socioambientais. Qual foi o processo para obter a certificação? De que suporte precisou para obtê-lo? O primeiro contacto foi a contribuição periódica de dados da nossa exploração; produtivos, económicos, ambientais e sociais. Após essa primeira etapa, vieram as inspeções na própria pecuária na qual se tiveram em atenção aspetos como o maneio de dejetos, bem-estar e conforto animal, maneio de pessoal assalariado, emissões, etc. Por fim, a AENOR visitou as nossas instalações e tivemos que documentar os dados inicialmente fornecidos, ou o que nos era exigido naquele momento. Ao longo desse processo, utilizámos meios próprios da exploração. 024

Que boas práticas já tinha em vigor que o ajudaram a obter a certificação? Na nossa localização, e de acordo com o modelo de negócio que temos, para sermos viáveis, acreditamos que deve haver harmonia em tudo o que fazemos. Devemos cuidar dos animais, do meio ambiente e, principalmente, das pessoas que trabalham nesta empresa. A nossa exploração é mista, integrando agricultura e pecuária, com tudo o que isso significa em complexidade de maneio, mas também em benefícios em termos de produtividade, possibilidade de rotação de culturas, garantia da qualidade das forragens para o gado, devolução de nutrientes e melhoria do solo com estrume, etc. Um dos nossos objetivos prioritários é ter um rebanho saudável, e isso só se consegue com um protocolo de vacinação adequado, uma boa alimentação, bem-estar e um maneio adequado. Na agricultura procuramos produzir produtos de qualidade, diversificando


Granja circular

PUBLIRREPORTAGEM

"A GRANJA CIRCULAR PODE AJUDAR-NOS A SER MAIS EFICIENTES COMO EMPRESAS E COMO PESSOAS"

as culturas, adubando a terra e cuidando da melhor forma possível a nossa matéria-prima. Temos cerca de 100 hectares de árvores, pinheiros, choupos e nogueiras, que proporcionam benefícios indiscutíveis ao nosso planeta. Criámos microecossistemas, por meio de desfiladeiros, árvores, sebes, onde se reproduzem diferentes espécies de animais que mais tarde nos proporcionarão um grande benefício para as nossas plantações. Usamos energia renovável, fotovoltaica, para autoconsumo, para que o nosso impacto energético seja mínimo. Mas, acima de tudo, o pilar mais importante são as pessoas que trabalham na nossa exploração. Procuramos criar um ambiente amigável, porque acreditamos que é assim que alcançamos a nossa maior eficiência. A propriedade, a família López-Francos, tenta transmitir estes princípios sociológicos e ambientais na sua empresa. Que novas medidas teve que implementar para obter o certificado Granja Circular? A medida em que mais tivemos que trabalhar talvez tenha sido o reordenamento de todos os dados de que dispomos. Para pensar de forma "circular", precisávamos de obter dados específicos de forma simples, sem alterar muito o nosso trabalho diário.

O que acha da inclusão dos quatro pilares (sustentabilidade económica, ambiental, social e de bem-estar animal) no modelo? Acreditamos que estes pilares não devem ser separados. Devemos empenhar-nos pela excelência com os nossos animais, o meio ambiente e os trabalhadores e, claro, sermos viáveis.

ACERCA DO CONCEITO "GRANJA CIRCULAR" Granja Circular é a proposta da Nanta para promover a sustentabilidade das explorações pecuárias. Alinhado com o Roadmap da Nutreco 2025, é um modelo de sustentabilidade com o qual se pode demonstrar o grau de sustentabilidade de uma exploração agrícola com base em quatro pilares fundamentais – sustentabilidade económica, ambiental, social e de bem-estar animal. Com o Decálogo da Granja Circular como guia, o modelo de sustentabilidade da Nanta classifica as explorações em três categorias (A, B e C), com base nos seus resultados de sustentabilidade, e fornece recomendações para melhoria contínua. Com uma abordagem multidisciplinar, inclui várias ferramentas de cálculo e avaliação e tem indicadores solventes, mensuráveis e práticos, sendo possível a verificação da certificação de sustentabilidade pela AENOR. Mais informações em www.nanta.es/granja-circular.

Que benefícios e oportunidades acha que o certificado Granja Circular trará para o seu negócio? Sem dúvida irá melhorá-lo, pelo facto de se fazerem avaliações periodicamente. Além disso, poder partilhar dados com outras explorações e estabelecer comparações é um incentivo muito importante. Por outro lado, se conseguirmos que a sociedade realmente saiba o que fazemos, que as pessoas entendam o significado de um certificado de Granja Circular, que percebam o grande trabalho que a maioria dos agricultores e produtores pecuários estão a desenvolver, sendo sustentáveis no meio rural, começaremos a ter uma sociedade mais justa. Na maioria dos casos, ser agricultor implica ser sustentável. Acredito que o certificado Granja Circular seja uma ferramenta que, bem utilizada, nos pode ajudar a ser mais eficientes como empresas e como pessoas. 025

Nome da exploração

SAT 2126 Los Francos

Localização

Revenga de Campos, Palencia, Espanha

Número total de animais

2.691 fêmeas, incluindo ovelhas e borregas adultas e 152 machos

Tipo de produção

mista, produção de carne e leite de ovelha

Nº de animais em produção

1873 fêmeas com mais de um ano

Produção anual

1.070.000 litros

Equipa na exploração

22 pessoas (13 pecuária + 6 agroflorestal + 3 maneio)

Destaques no maneio

simplicidade, busca pela eficiência e, acima de tudo, procurar manter os animais saudáveis

Medidas de biossegurança

controlo adequado de visitas, EPI adequado, controlo sanitário rígido, controlo de agentes externos, etc.


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ALIMENTAÇÃO | VITELOS

EFEITO DO LEVUCELL SC EM VITELOS PRÉ-DESMAMADOS

NO ESTUDO DESCRITO AVALIOU-SE O IMPACTO DO LEVUCELL SC NAS CONDIÇÕES RUMINAIS E NO DESEMPENHO DO CRESCIMENTO DE VITELOS PRÉ-DESMAMADOS. Por Equipa técnica TECADI | FONTE Universidade de Lublin, Polónia 2018

CONTEXTO Os primeiros dois meses de vida são cruciais para os vitelos. É o momento no qual o trato digestivo dos jovens ruminantes evolui a partir das suas funções monogástricas iniciais. Ao mesmo tempo, os vitelos são separados das suas progenitoras antes deste processo estar completo. A má gestão do crescimento resultará na redução do desenvolvimento ruminal, diminuição do consumo de ração e crescimento, que pode levar ao aumento da diarreia e morbidade. No longo prazo, se a gestão das novilhas for abaixo do ideal, o seu desempenho como vacas adultas em lactação pode ser reduzido até 12%. Numerosos estudos de pesquisa independentes demostram uma ligação clara entre os ganhos de peso vivo pós-nascimento e o desempenho futuro na terceira lactação.

OBJETIVO Avaliar o impacto do Levucell SC nas condições ruminais e no desempenho do crescimento de vitelos pré-desmamados. MATERIAIS & MÉTODOS Localização: exploração leiteira, supervisionada pela Universidade de Lublin, Polónia Ano: 2018 Duração: 60 dias Animais: 12 vitelas Holstein saudáveis • Idade inicial: 5±1 dias, peso corporal inicial = 41,6±1,3kg, em boxes individuais Dieta: leite de substituição (125g/l) administrado duas vezes ao dia e ração farinada. Sem fibra (tabela 1). Tratamentos: 1) Controlo 2) Levucell SC 20: Saccharomyces cerevisiae CNCM I-1077 a 2 x 109 UFC/d Parâmetros medidos: • PV individual: 0, 30, 60 dias 026

• Ingestão individual de matéria seca (IMS): diariamente (leite e Starter) • Índice de conversão alimentar (IC): para os períodos 0-30, 30-60 e 0-60 dias • Pontuação fecal: diariamente, por bezerro e pelo mesmo operador - de 1 (líquido) a 3 ( fezes normais) • Digestibilidade total de proteína bruta (PB), gordura bruta (GB) e fibra bruta (FB) - 3 amostras/vitelo/período, em 3 períodos 5-10d, 25-30, 55-60d nos ensaios.

TABELA 1

d1>d3

d4>d60

Leite de substituição (21,7% de proteína bruta (PB), 3,25% de amido) Energia net: 1,16 UFL / kg

2x3 l/d

2x4 l/d

Ração farinada (17,7% de PB, 33,2% de amido) Energia net: 1,07 UFL / kg

0

Ad libitum


Efeito do Levucell SC em vitelos desmamados

ALIMENTAÇÃO | VITELOS

RESULTADOS LEVUCELL SC MELHORA O DESEMPENHO ZOOTÉCNICO EM VITELOS PRÉ-DESMAMADOS Levucell SC aumenta o peso corporal final dos vitelos em + 6,9% nos dois primeiros meses de vida.

Controlo

Levucell SC

p-Value

PV inicial, kg

41,3

41,8

0,699

PV 60d, kg

72,8

77,8

0,011

0,8

0,653

0,6

Levucell SC aumenta o GMD dos vitelos, especialmente durante o segundo mês (+ 18,2%; p = 0,04).

+14,3%

0,772

0,525a

0,428

0,397

0,6b

0,2 0 Controlo

O consumo individual total de MS foi mantido (1,47 vs. 1,43 kg/d) com Levucell SC durante o ensaio, o que leva a uma melhoria significativa de IC (-10,9%; p = 0,04).

a

Ganho médio diário (GMD, kg/d)

1

0,4

b

GMD 0-30

GMD 30-60

GMD 0-60

a,b: p<0,05

Levucell Índice de conversão alimentar (IC)

2,8

2,75a

2,7

-10,9%

2,6 2,5

2,45b

2,4 2,3

a,b: p<0,05

LEVUCELL SC AJUDA A MELHORAR A PONTUAÇÃO FECAL DOS VITELOS E A DIGESTIBILIDADE TOTAL DA PROTEÍNA • Levucell SC ajuda a melhorar o conforto digestivo dos vitelos com uma pontuação fecal constantemente aumentada durante o ensaio • Levucell SC melhora a digestibilidade da proteína bruta durante o último período (+ 2,7%).

Controlo

Levucell SC

Pontuação fecal (0-60 d)

2,05

2,61

<0,01

Proteína bruta, %

82,46b

84,67a

0,043

b

p-Value

a

LEVUCELL SC AUMENTA O BENEFÍCIO SOBRE O CUSTO ALIMENTAR (IOFC) COM UM ALTO RETORNO DO INVESTIMENTO Crescimento (kg/dia) * Com um peso vivo inicial de 42kg para atingir 80kg de peso vivo ao desmame. ** Com um custo de recria de 2€/vitelo/dia e um custo de Levucell SC de 0,04€/dia. ***Baseado em que uma melhoria de 100g no GMD equivalerão a 225kg de aumento de produção de leite durante a 1ª lactação (Bach and Ahedo, 20081). **** Com um preço de leite de substituição de 300€/ton.

Controlo

Levucell SC

0,525

0,600

Idade ao desmame (dias)*

73,7

63,6

Custo da recria (€/animal)

147

Benefício líquido a curto prazo** Previsão do aumento de leite na 1ª lactação (kg/ano)*** Previsão de benefício líquido a longo prazo****

130 +17€/animal +169 +51€/animal/ano

7:1 ROI de curto prazo 19:1 ROI de longo prazo

CONCLUSÃO LEVUCELL SC MELHORA O DESEMPENHO DE CRESCIMENTO DE VITELOS PRÉ-DESMAMADOS, MELHORANDO O ÍNDICE DE CONVERSÃO ALIMENTAR (-10,9%) E OFERECENDO MELHOR CONFORTO DIGESTIVO E MELHOR DIGESTIBILIDADE DA PROTEÍNA TOTAL. 027


#43 | out. nov. dez. 2021

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BEM-ESTAR ANIMAL | VITELOS

A IMPORTÂNCIA DO MANEIO DO COLOSTRO

A FALHA NA TRANSFERÊNCIA DE IMUNIDADE PASSIVA (TIP) É APONTADA COMO UM DOS FATORES RESPONSÁVEIS PELA ELEVADA TAXA DE MORBILIDADE DOS VITELOS. SE A TIP NÃO OCORRER COM SUCESSO, O VITELO TERÁ UMA DEFESA IMUNITÁRIA DEFICITÁRIA E RESPONDERÁ COM MAIOR DIFICULDADE EM CASOS DE DOENÇA, COMPROMETENDO O SEU CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO. POR Flávio Silva Cristina Conceição , Severiano R. Silva e Joaquim L. Cerqueira 1,2,

2

1

1,3

CECAV (Centro de Ciência Animal e Veterinária), Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro (UTAD); F.S. | 2MED (Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento), Departamento de Zootecnia, Universidade de Évora (UE) | 3Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo

1

E

xistem várias recomendações relativamente ao bem-estar dos vitelos nas explorações leiteiras, nomeadamente os cuidados com o vitelo recém-nascido e com o maneio do colostro. No entanto, a taxa de morbilidade e de mortalidade até ao desmame é ainda demasiado alta, pelo menos comparativamente com os animais adultos. A falha na transferência de imunidade passiva (TIP) é apontada como um dos principais responsáveis por estas taxas. Ocorrem, assim, prejuízos económicos para o produtor e interferências no bem-estar dos vitelos que podem ser evitados com um maneio adequado do colostro. A IMPORTÂNCIA DO COLOSTRO PARA O VITELO Devido às características específicas da placenta bovina, o vitelo nasce com uma imunidade muito baixa, pelo que precisa rapidamente de ingerir colostro após o nascimento, de modo a absorver a maior quantidade de imunoglobulinas possível. O colostro, muito pelo seu elevado valor nutricional e em anticorpos, é o alimento mais importante nas primeiras horas de vida. É através do colostro que a vaca transmite imunidade ao vitelo, denominando-se este processo de TIP. Se a TIP não ocorrer com sucesso, o vitelo terá uma defesa imunitária deficitária e, como tal, responderá com maior dificuldade em casos de doença e o seu crescimento e desenvolvimento ficarão comprometidos. Esta situação tem implicações no bemestar do vitelo e no rendimento da exploração. De modo a evitar falhas na TIP e oferecer aos vitelos as melhores condições de vida,

deverá fazer-se um adequado maneio do colostro. Existem três grandes aspetos a ter em conta relativamente ao maneio do colostro: tempo, quantidade e qualidade. QUANDO DEVO FORNECER O COLOSTRO AO VITELO? O mais rápidamente possível após o nascimento, pois o epitélio do intestino do vitelo tem a capacidade de absorver imunoglobulinas durante um curto período de tempo. Nas primeiras 2 horas, a taxa de absorção é máxima, diminuindo progressivamente até cerca de 24 horas de vida. Após este período, cessa a capacidade de absorção de imunoglobulinas ao nível do intestino. Portanto, será recomendado fornecer a primeira toma, ou então a dose completa, nas primeiras 2 horas de vida e uma segunda toma até às 12 horas, de modo a prevenir a falha da TIP. QUE QUANTIDADE DE COLOSTRO DEVO DAR AO VITELO? A quantidade de colostro a fornecer ao vitelo depende do seu peso vivo e da qualidade do colostro. Geralmente, recomenda-se fornecer 8 a 12% do peso vivo do vitelo nas primeiras 12 horas de vida. Considerando um peso vivo ao nascimento de 40 kg, a quantidade adequada deverá aproximar-se de 3,2 a 4,8 litros. O colostro poderá ser fornecido numa toma só ou dividido em várias tomas. Em todo o caso, a qualidade do colostro é determinante para indicar qual a quantidade mais adequada. É importante que o vitelo, independentemente da quantidade de colostro total administrada, ingira e absorva cerca de 200 g de imunoglobulinas. 028

COMO VARIA A QUALIDADE DO COLOSTRO? O colostro, comparativamente ao leite, apresenta uma quantidade superior em proteínas, gordura, minerais e vitaminas (tabela 1). Todavia, o aspeto de maior relevância para a aquisição de imunidade é a elevada concentração em anticorpos. Os anticorpos são glicoproteínas, usadas pelo sistema imunitário como defesa contra agentes patogénicos. A concentração em imunoglobulina G (IgG; anticorpo mais abundante no colostro) é geralmente utilizada para aferir a qualidade do colostro. Como valor de referência, colostro com 50 g/l de IgG é considerado de boa qualidade. Um outro fator importante que pode comprometer a qualidade de colostro é a sua contaminação bacteriana. Elevadas contaminações levam a uma diminuição da absorção das imunoglobulinas no intestino do vitelo e apresentam também um elevado risco patogénico. A saúde do úbere durante a lactação e durante o período seco; boas práticas de higiene, antes do parto, durante o procedimento de colheita do colostro e nos materiais usados para administrar o colostro ao vitelo, são essenciais para diminuir a contaminação microbiana. Um colostro fresco deverá apresentar valores inferiores a 100000 UFC/ml de contagem total bacteriana e inferior a 10000 UFC/ml de coliformes totais. A pasteurização do colostro é um método eficaz na diminuição da sua carga microbiana e deverá ser realizada conforme as recomendações técnicas, de modo a não provocar a desnaturação das imunoglobulinas.


A importância do maneio do colostro

BEM-ESTAR ANIMAL | VITELOS

COMO POSSO AVALIAR A QUALIDADE DO COLOSTRO? O aspeto visual do colostro, nomeadamente a cor e a densidade, fornece uma primeira impressão da sua qualidade, mas recomenda-se uma avaliação mais específica. A quantidade em imunoglobulinas poderá ser medida em laboratório, no entanto, existem métodos mais práticos e rápidos que podem ser usados na exploração. COLOSTRÓMETRO OU DENSÍMETRO O colostrómetro mede a gravidade específica do colostro. Esta medição fornece um valor indicativo da qualidade do colostro, pois existe uma correlação positiva entre a densidade do colostro e a concentração em imunoglobulinas. Este equipamento é comercializado com um sistema de cores que permite uma leitura visual ao operador de modo a avaliar corretamente a qualidade do colostro. Um valor na zona verde será considerado um colostro de boa qualidade, na zona amarela (ou verde claro) será de qualidade intermédia, na zona vermelha será de fraca qualidade. O colostrómetro, geralmente, mede valores entre 1,025 e 1,075, considerando-se um colostro de boa qualidade a partir de 1,045, de qualidade intermédia entre 1,035 e 1,045 e de fraca qualidade abaixo de 1,035. Uma gravidade específica de 1,045 corresponderá aproximadamente a 50 g/l de imunoglobulinas e uma gravidade específica de 1,035 corresponde a aproximadamente 20 g/l de imunoglobulinas. A conversão pode ser realizada através da seguinte fórmula: Teor em imunoglubulinas [g.l^(1)] =Gravidade específica ×2547-2614 Em todo o caso, é necessário ter em consideração que a leitura da densidade é influenciada por fatores como o teor em gordura e a temperatura do colostro. Assim sendo, de modo a reduzir o erro, a leitura deve ser realizada à temperatura ambiente (cerca de 22 °C). REFRATÓMETRO DE GRAU BRIX O refratómetro de grau Brix é uma ferramenta de precisão superior ao colostrómetro, uma vez que não é afetado pela temperatura. É um método indireto de medir a concentração em imunoglobulinas, através da determinação da percentagem de sólidos na solução. Segundo a literatura publicada, a partir de 18 a 23% Brix considera-se um colostro

aceitável, referindo ainda que valores de 21% estão associados a cerca de 50 g/l, ou seja, um colostro de boa qualidade. Devese, por isso, privilegiar sempre o colostro com maior valor de sólidos totais, ou seja, maior Brix. AVALIAÇÃO DA TIP NO VITELO É possível determinar se a TIP ocorreu com sucesso, através da quantificação de imunoglobulinas no vitelo. Esta determinação, idealmente, deve ser realizada entre as 24 horas e as 48 horas após a toma do colostro. Como método de referência, através do soro ou do plasma sanguíneo, determina-se em laboratório a quantidade de IgG existente, utilizando o limite mínimo de 10 g/l para assegurar a TIP. Um método indireto, mas de carácter mais prático, utiliza a quantificação das proteínas totais do soro ou do plasma com recurso a um refratómetro, considerando 5,2 g/dl como o valor mínimo para assegurar a TIP. Estes limites têm sido usados para determinar se o vitelo simplesmente falhou ou sucedeu na TIP. No entanto, as mais recentes indicações dos especialistas em vitelos, a nível mundial, referem que se deve apontar para os maiores valores possíveis de imunidade, uma vez que estão associados a melhores performances, saúde e bem-estar. CONCLUSÃO Um maneio do colostro adequado contribui para o sucesso da TIP para o vitelo e passa pelas seguintes recomendações: fornecer o colostro ao vitelo o mais rápido possível após o nascimento, preferencialmente nas primeiras 2 horas; avaliar a qualidade do colostro quanto ao teor em imunoglobulinas e calcular a quantidade em função da sua qualidade. A avaliação da qualidade do colostro pode ser realizada com recurso a um colostrómetro ou refratómetro de grau Brix. É importante recordar que a contaminação bacteriana do colostro afeta negativamente a absorção de imunoglobulinas ao nível do trato intestinal do vitelo, pelo que a higiene de todo o processo deve ser avaliada. Um bom objetivo é garantir que o vitelo ingere e absorve 200 g de imunoglobulinas. A TIP pode ser avaliada ao nível do vitelo através da quantidade de IgG e de proteínas totais no soro e no plasma sanguíneo; o valor de 5,2 g/dl é habitualmente referido como o valor mínimo para uma TIP de sucesso, no entanto, as mais recentes publicações demonstram benefícios na saúde do 029

vitelo com valores superiores. Portanto, o objetivo da TIP deverá ser sempre o mais alto possível e não apenas o valor mínimo, o que representa o limiar entre o sucesso e o insucesso. Nota: a bibliografia referida no texto poderá ser solicitada a os autores através do email: fsilva@uevora.pt

TABELA 1 COMPARAÇÃO DA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL MÉDIA ENTRE O COLOSTRO E O LEITE DE VACA Parâmetro

Colostro

Leite

Gravidade específica (%)

1.056

1.032

Sólidos totais (%)

23,9

12,9

Gordura (%)

6,7

4,0

Proteína total (%)

14,0

3,1

Caseína (%)

4,8

2,5

Albumina

6,0

0,5

Imunoglobulinas (%)

6,0

0,09

3,2

0,06

Lactose (%)

IgG (g/100 mL)

2,7

5,0

IgGF-I (µg/L)

341

15

Insulina (µg/L)

65,9

1,1

Cinzas (%)

1,11

0,74

Cálcio (%)

0,26

0,13

Magnésio (%)

0,04

0,01

Potássio (%)

0,14

0,15

Sódio (%)

0,07

0,04

Cloreto (%)

0,12

0,07

Zinco (mg/100 ml)

1,22

0,30

Manganésio (mg/100 ml)

0,02

0,004

Ferro (mg/100 ml)

0,2

0,05

Cobre (mg/100 ml)

0,06

0,01

Cobalto (µg/100 g)

0,5

0,1

Vitamina A (µg/100 ml)

295

34

Vitamina D (IU/g gordura)

0,89-1,81

0,41

Vitamina E (µg/g gordura)

84

15

Tiamina (µg/ml)

0,58

0,38

Riboflavina (µg/ml)

4,83

1,47

Biotina (µg/100 ml)

1,00-2,70

2,0

Vitamina B12 (µg/100 ml)

4,9

0,6

Ácido fólico (µg/100 ml)

0,8

0,2

Colina (mg/ml) Ácido ascórbico (mg/100 ml)

0,7

0,13

2,50

2,20

Adaptado de: S. M. Godden, J. E. Lombard, and A. R. Woolums, “Colostrum Management for Dairy Calves,” Vet. Clin. North Am. - Food Anim. Pract., vol. 35, no. 3, pp. 535–556, 2019, doi: 10.1016/j.cvfa.2019.07.005.


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ALIMENTAÇÃO | VITELOS

LEVEDURA HIDROLISADA NA ALIMENTAÇÃO DE VITELOS

COM O OBJETIVO DE DEMONSTRAR O EFEITO POSITIVO DE UMA LEVEDURA HIDROLISADA, KLUYVEROMYCES FRAGILIS (TECHNOYEAST, BIOCHEM ZUSATZSTOFFE), NA ALIMENTAÇÃO INICIAL DE VITELOS, REALIZOU-SE UM ENSAIO, NO NOROESTE DA ALEMANHA, COM 91 VITELOS HOLSTEIN FRIESIAN. POR Andrea Remmersmann, R&D Manager Yeast Products, Biochem Zusatzstoffe GmbH, Germany; Dr. Bastian Hildebrand, Technical Manager Central Europe, Biochem Zusatzstoffe GmbH, Germany | FOTOS Biochem Zusatzstoffe GmbH

É

JOÃO MARIA BARRETO (tradução e adaptação) Technical Sales Manager Iberia, Biochem barreto@biochem.net

do conhecimento de todos que os vitelos nascem com um fraco sistema imunitário. Além disso, a microbiota intestinal está em permanente mudança devido à continua alteração da composição da alimentação durante o período de recria. Por estas razões, os vitelos estão suscetíveis aos impactos negativos de agentes patogénicos, sofrendo muitas vezes de distúrbios intestinais e diarreias. Além disso, o trato gastrointestinal está em desenvolvimento e a capacidade de digestão dos nutrientes de origem vegetal nos vitelos é limitada. Por causa desses aspetos, é muito importante apoiar o desenvolvimento precoce e adequado da função digestiva e imunológica dos vitelos fornecendo nutrientes altamente digestíveis. 030

LEVEDURA HIDROLISADA, UMA MATÉRIA-PRIMA MULTIFUNCIONAL Durante os últimos anos, os produtos de levedura hidrolisada foram identificados como uma matéria-prima promissora para lidar com os aspetos mencionados no ponto anterior. Estes produtos fornecem componentes benéficos da parede celular assim como do citoplasma celular, que tem um efeito positivo no desenvolvimento e na função da fisiologia intestinal e, portanto, no desempenho do crescimento dos vitelos. As leveduras hidrolisadas são à base de células de levedura inteiras e processadas por diferentes métodos de forma a aumentar a funcionalidade dos diferentes componentes existentes, como os ácidos


O efeito de levedura hidrolizada na alimentação inicial de vitelos

ALIMENTAÇÃO | VITELOS

FOTO 1 ENSAIO DE CAMPO COM ALOJAMENTO INDIVIDUAL DOS VITELOS DESDE O DIA 1 ATÉ AO DIA 35 DO ENSAIO

GRÁFICO 1 EFEITO DA INCLUSÃO DO TECHNOYEAST NO GANHO MÉDIO DIÁRIO DOS VITELOS DO DIA 1 AO DIA 35 DO ENSAIO (MÉDIA, *p<0.1) 688* 667

30% % de vitelos com diarreia

Gramas por animal por dia

700

GRÁFICO 2 EFEITO DA INCLUSÃO DO TECHNOYEAST NA INCIDÊNCIA DE DIARREIA (PONTUAÇÃO 2/3) DESDE O DIA 1 ATÉ AO DIA 35 DO ENSAIO

650

600

25% 20% 15% 10% 5% 0%

550

0 10 20 30 Dias em ensaio

500 Controlo

TechnoYeast

nucleicos, os aminoácidos específicos ou os componentes da parede celular. Além disso, o processo de hidrólise leva a uma melhoria da digestibilidade da proteína. As cepas da levedura mais utilizadas são os Saccharomyces spp. das quais S. cerevisiae, vulgarmente denominada como fermento de padeiro, sendo esta a mais conhecida e estudada. Hoje em dia, existem outras cepas de leveduras, como por exemplo a Kluyveromyces fragilis, que recebem cada vez mais atenção pela sua aplicação como uma matéria-prima funcional. Os componentes da parede celular dentro do Kluyveromyces fragilis hidrolisado, principalmente os mananoligossacarídeos e ß-glucanos, permitem um efeito de estimulação imunológica e proteção contra os agentes patogénicos, o que é

TechnoYeast

Controlo

muito importante devido à baixa defesa imunológica dos vitelos. Além disso, estes componentes da parede celular têm uma função pré-biótica apoiando a população microbiana benéfica no trato intestinal e influenciando positivamente a sua funcionalidade. Além disso, os ácidos nucleicos dentro do citoplasma servem como fonte de nucleotídeos, que são particularmente necessários para o desenvolvimento de tecidos com alta taxa de replicação celular, beneficiando assim a funcionalidade intestinal e a defesa imunológica dos vitelos. Devido à capacidade limitada de digestão destes animais, o fornecimento de nutrientes altamente digestíveis é fundamental. Como componentes nutricionais hidrolisados, o Kluyveromyces fragilis fornece uma 031

quantidade significativa de proteínas altamente digestíveis e um perfil de aminoácidos vantajoso, o que contribui para melhores índices de crescimento. ENSAIO EM VITELOS Com o objetivo de demonstrar o efeito de uma levedura hidrolisada Kluyveromyces fragilis (TechnoYeast, Biochem Zusatzstoffe) em vitelos, realizou-se um ensaio no noroeste da Alemanha. Foram selecionados 91 vitelos Holstein Friesian com uma idade média de 17 dias, que foram divididos em dois grupos: um grupo tratamento (n = 44) e um grupo controlo (n = 47). Os vitelos foram alojados individualmente. Ambos os grupos receberam um leite de substituição com, ou sem suplementação, de 10 g de TechnoYeast por animal e dia, respetivamente. A suplementação da levedura hidrolisada ocorreu durante as primeiras 5 semanas do período de recria ( foto 1). Os parâmetros medidos foram: peso, incidência de diarreia e consistência fecal. Em relação ao desempenho do crescimento, os resultados mostraram um efeito positivo da suplementação com a levedura hidrolisada. Os vitelos do grupo tratamento apresentaram um maior ganho médio diário em comparação ao grupo controlo (gráfico 1). Portanto, o peso corporal médio no grupo tratamento foi significativamente maior em relação ao grupo controlo ao dia 35 (72,5 vs. 71,1 kg, p <0,05) (gráfico 1). As fezes foram pontuadas por um sistema pré-estabelecido (Pontuação 0 = bem formado, Pontuação 1 = moles, Pontuação 2 = fluido, Pontuação 3 = aguado). No decurso do ensaio, a incidência de diarreia (Pontuação 2/3) foi mais baixa no grupo tratamento, apesar de um início pior (gráfico 2). A consistência fecal foi em média melhor no grupo tratamento do que nos animais do grupo controlo, durante as 5 semanas do ensaio. Os vitelos do grupo tratamento mostraram melhor consistência fecal, especialmente na semana 1 (p <0,05), na semana 2 (p <0,1) e na semana 4 (p <0,1). Os resultados atuais estão em linha com outros estudos que mostram os efeitos positivos da TechnoYeast no desenvolvimento da fisiologia intestinal, digestibilidade de nutrientes e imunidade. A redução da ocorrência de diarreia e a melhoria do desempenho do crescimento permitem concluir que o TechnoYeast é uma excelente matéria-prima para uso na nutrição de vitelos, durante a fase inicial de recria.


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ALIMENTAÇÃO | VACAS DE CARNE

O MANEIO ALIMENTAR E A QUALIDADE DA CARNE NESTE ARTIGO VAMOS CENTRAR-NOS ESSENCIALMENTE NO IMPACTO DO MANEIO ALIMENTAR NA QUALIDADE DA CARCAÇA, DANDO ESPECIAL ATENÇÃO À GORDURA E À COLORAÇÃO DA CARNE.

A

PEDRO CASTELO Diretor Técnico Zoopan Eng. Zootécnico pedro.castelo@zoopan.com

DIOGO RIBEIRO Eng. Zootécnico Técnico-comercial Zoopan Diogo.Ribeiro@zoopan.com

qualidade da carne tem sido um assunto amplamente abordado por várias entidades e com diferentes objetivos. Um dos principais focos do conhecimento desta matéria é conseguir adaptar o produto final (a carne) às necessidades dos mercados. Existem diferentes fatores que podem influenciar a qualidade da carne, podendo estes ser divididos em pré e pós abate. No primeiro, podemos considerar essencialmente fatores como a idade, sexo, condição corporal, alimentação, genética, fator animal, entre outros (tabela 1). Já para o pós-abate, podemos ter em conta as condições de armazenamento, o tempo de maturação, tipo de pendura, fator tecnológico, etc. Quando falamos de carne, não podemos deixar de dar importância às 032

caraterísticas organoléticas desta, sendo elas a aparência, a textura, a suculência, o aroma e o sabor. Sabendo de antemão que estas características estão diretamente ligadas entre si e são influenciadas por diversos aspetos.

TABELA 1 FATORES QUE INFLUENCIAM A OBTENÇÃO DE GORDURA NA CARNE Raça

**

Categoria

**

Individual

**

Alimentação

**

Idade

*

Músculo

***


O maneio alimentar e a qualidade da carne

ALIMENTAÇÃO | VACAS DE CARNE

TABELA 2 EFEITOS SIGNIFICATIVOS DOS VÁRIOS TIPOS DE GORDURA SOBRE A QUALIDADE DA CARNE Gordura Subcutânea

Gordura intramuscular (Marmoreado)

Gordura intermuscular (Entremeada)

Deposição na superfície da carcaça

Deposição no músculo

Deposição entre os músculos

Frequentemente em excesso sobre carcaças de raças leiteiras

Importante para palatibilidade

Importante para palatibilidade

Grande parte eliminada na separação da carne

Carne mais tenra

Favorecido pelo teor em MG da ração

Depósito tardio

Depósito tardio

Depósito mais precoce

GRÁFICO 1 VELOCIDADE DE DEPOSIÇÃO DAS DIFERENTES GORDURAS

GRÁFICO 2 VELOCIDADE DAS DIFERENTES GORDURAS 120 117

110

100

90

90

Índice da cor encarnada - base 100 Controlo

Interna

Intermuscular

Subcutânea

Intramuscular

119

Vit. E (45 dias)

Vit. E (120 dias)

Fonte: Legrand, 1996.

Fonte: Hammond, 1992

GORDURA DA CARNE Na carne de bovino existem fundamentalmente 4 tipos de gordura: subcutânea, interna, intermuscular e intramuscular. Com efeitos significativos sobre a qualidade da carne apontamos a gordura subcutânea, a gordura intermuscular e a intramuscular (tabela 2). Em relação à velocidade de depósito das gorduras, esta varia consoante o tipo de gordura (gráfico 1). Sendo a gordura subcutânea um bom indicador do estado de acabamento do animal, sabe-se que é necessário prolongar esta fase para conseguir maior quantidade de gordura intramuscular. Relativamente aos fatores que fazem variar a obtenção de gordura, sabemos que a alimentação tem um papel preponderante. Um programa alimentar bem desenhado, para todas as fases de produção, consegue adequar as necessidades do animal ao objetivo pretendido no que se refere ao tipo e quantidade de gordura. Para conseguir um adequado controlo do depósito de gordura através da alimentação, é essencial ter em consideração a escolha das matérias-primas, o equilíbrio energia/ azoto (numa relação UF/PDI) e adaptar o tipo e a duração do acabamento.

Quando o objetivo é favorecer o depósito de gordura, a escolha das matérias-primas é essencial, devendo-se privilegiar matérias com fontes de glucose (Amido Bypass) e ricas em glúcidos rápidos, que promovam a produção de C:3 (ácido propiónico). Quando o objetivo é retardar a deposição de gordura, a escolha das matérias-primas deverá ter especial foco na produção de C2 (ácido acético) e C4 (ácido butírico), com baixos níveis de glúcidos rápidos. COLORAÇÃO DA CARNE Quando falamos na coloração da carne, referimo-nos a um conjunto de características, nomeadamente a cor do músculo, pigmentos, influência do pH, cor e quantidade de gordura. Sabemos que a alimentação tem pouco impacto na coloração da carne, sendo este aspeto mais influenciado por fatores como a raça, maneio, tipo de acabamento, idade, e músculo, entre outros. No entanto, existem estratégias para ajudar a que este aspeto seja mais controlável, nomeadamente através da suplementação com vitamina E que contribui para a estabilidade da cor e da oxidação da carne. Como se pode ver no gráfico 2, em que é possível ver os diferentes índices de cor encarnada nos diferentes grupos (com distintas suplementações de

033

vitamina E) —, o índice de cor encarnada é diretamente relacionável com a cor da carne, demonstrando que a suplementação com esta vitamina ajuda no controlo da coloração da carne. Podemos dividir as causas para os problemas da coloração da carne, essencialmente em 2 fases: carcaças quentes imediatamente após o abate, e carcaças frias 24 a 48 horas após o abate (tabela 3). Na primeira, podemos apontar como problemas o elevado teor em ferro, a idade ao abate e o peso da carcaça. No que toca a carcaças frias, como causas para uma incorreta cor da carne, indicamos os cuidados pré-abate (transporte e movimentação de animais), tempos de dieta, baixo teor de glicogénio no músculo e o não ocorrimento da correta baixa de pH. Conhecendo as interações dos fatores apresentados, sabemos que a interação entre estes é crucial para a correta coloração, nomeadamente uma correta baixa do pH.

TABELA 3 VARIAÇÃO DO PH COM O TEMPO <6

depois de 6 horas

5,7 a 5,9

depois de 24 horas

5,5 a 5,9

depois de 48 horas


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GRÁFICO 3 FATORES QUE INTERFEREM NAS RESERVAS DE GLICOGÉNIO MUSCULAR Glicogénio μmol/g de tecido

GRÁFICO 4 EVOLUÇÃO DO TEOR DE PIGMENTAÇÃO DORSAL EM BOVINOS DE RAÇA FRISIA, CHAROLAIS E LIMOUSINE μ/g fer/g músculo fresco 25

100 20 80 15 60 10

Frísia

40

Charolais 5

Limousine

20

Tempo (horas) Controlo

0 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

Idade (mês)

Recuperação Stress

(alimentação à discrição)

Relativamente ao pH do músculo, este sofre uma evolução após o abate, o que tem uma enorme influência sobre a cor da carne. No momento do abate, o músculo tem pH neutro, produzindo ácido lácteo na presença de glicogénio disponível, fazendo com que o pH da carne diminua. Este processo é essencial para conseguir uma coloração da carne correta. Por sua vez, se não existir glicogénio no músculo, o pH não baixa, deixando a carne escura. Este assunto remete para a importância de reservas de glicogénio muscular, já que, sem estas, a coloração da carne pode ficar comprometida.

O problema das reservas de glicogénio muscular é que este pode ser consumido antes do abate, o que está diretamente relacionado com uma dieta inadequada, despesas físicas exigentes e perturbações (stress, medo, dor) antes do abate (gráfico 3). No caso da pigmentação do músculo, sabemos que vários fatores inerentes ao animal têm influência. Nomeadamente: • raça (gráfico 4) – precocidade, as raças leiteiras têm uma pigmentação da carne superior; • sexo – as fêmeas, mais precoces que os machos, têm níveis de pigmentação

superiores para a mesma idade; • idade – idade ao abate, os animais mais velhos têm mais pigmentos (gráfico 4). Em conclusão, numa evolução não desejada, a carne fica escura pois o valor de pH não baixa pelo facto de as reservas de glicogénio serem insuficientes. A carne escurece sob o efeito da mioglobina. Numa evolução desejada, a carne adquire uma cor apropriada, devido ao baixo valor pH que atinge com a libertação de ácido lácteo (gráfico 5). Este processo é possível com o consumo de reservas de glicogénio.

GRÁFICO 5 EVOLUÇÃO DA COR DA CARNE APÓS O ABATE Cor da carne Escura

Mioglobina + Clara Encarnado vivo

EVOLUÇÃO NÃO DESEJADA A carne fica escura porque o pH não baixa: as reservas musculares em glicogénio são insuficientes. A carne continua a escurecer sob o efeito da oxidação da mioglobina (luz, oxigénio, etc.)

Metamioglobina

EVOLUÇÃO DESEJADA A carne fica clara devido à baixa de pH, porque há libertação de ácido láctico devido ao consumo de glicogénio de reserva. Abate

24 h

034

Oximioglobina 48 h

Tempo


O maneio alimentar e a qualidade da carne

ALIMENTAÇÃO | VACAS DE CARNE

035


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ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE

A GORDURA DO LEITE E A ALIMENTAÇÃO DAS VACAS

A INDUÇÃO DO SÍNDROME DA DEPRESSÃO DO TEOR DE GORDURA DO LEITE (SDG) PODE SER UMA BOA TÉCNICA DE MANEIO SOB DETERMINADAS CONDIÇÕES. CONTUDO, FREQUENTEMENTE, A INCIDÊNCIA DO SDG REPRESENTA UMA DIMINUIÇÃO DA VALORIZAÇÃO ECONÓMICA DO LEITE E UMA PERDA DE RENDIMENTO PARA A EXPLORAÇÃO. POR ESSA RAZÃO, TODAS AS ESTRATÉGIAS QUE POSSAM SER DESENVOLVIDAS PARA EVITÁ-LO SÃO IMPORTANTES E APRECIADAS PELOS PRODUTORES DE LEITE.

P

MANUEL D. SALGUEIRO Engenheiro Zootécnico Cevargado - Alimentos Compostos Unipessoal, Lda. diogo.salgueiro@cevargado.pt

rovavelmente, de todos os constituintes do leite, a gordura será o mais controverso. Sendo a sua principal fonte de energia (Bauman & Griinari, 2003), foi dos primeiros a ser utilizado no fabrico de vários derivados lácteos (Gerbault, et al., 2013). No entanto, também é o que mais tem contribuído para a controvérsia da influência negativa do leite e produtos lácteos na saúde dos consumidores (Lordan, et al., 2018; Huth & Park, 2012). Essa controvérsia provém de investigações passadas, relacionando o teor elevado de 036

ácidos gordos saturados do leite com o possível aumento do colesterol LDL e, por isso, com um maior risco de incidência de doenças cardiovasculares (Lordan, et al., 2018). Além disso, as recomendações alimentares provenientes de instituições de vários países, na segunda metade do séc. XX, aconselhando diminuir a ingestão de lípidos saturados e colesterol total, abalaram fortemente a confiança dos consumidores neste alimento e seus derivados (Jenkins & McGuire, 2006). Contudo, investigações recentes têm vindo a comprovar os benefícios do consumo de leite e produtos lácteos, bem como a


A gordura do leite e a alimentação das vacas

ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE

10500 10000 9500 9000 8500 8000 7500 7000

Ano

037

2019

2018

2017

2016

2015

2014

2013

2012

2011

2010

2009

2008

2007

2006

2005

2004

2003

6500 2002

A GORDURA DO LEITE E A ALIMENTAÇÃO DA VACA LEITEIRA O aumento da produtividade exige uma maior ingestão de nutrientes para satisfazer as necessidades nutricionais acrescidas. Uma vez que a capacidade de ingestão das vacas é limitada, os nutricionistas têm vindo a aumentar a densidade nutricional das dietas. Contudo, essas dietas também apresentam um potencial mais elevado para afetarem o padrão da fermentação ruminal e as populações microbianas presentes no rúmen (Dewanckele, et al., 2020). Por isso, a alimentação das vacas exerce um efeito marcante na quantidade e qualidade da

fisicamente efetiva (peNDF). Nas atuais condições de alimentação das nossas vacas leiteiras, em que a forragem mais utilizada é a silagem de milho, este tipo de dietas é frequente. Esta forragem tem vindo a ser melhorada ao longo dos últimos 20 anos, apresentando hoje um teor de amido elevado (Lage & Salgueiro, 2019). Este facto, associado à diminuição da incorporação de palha ou outras fontes de fibra longa, com o objetivo de aumentar a densidade energética e a ingestão de nutrientes necessários ao suporte da produção, poderão ser os fatores indutores do SDG. De salientar que estas dietas também poderão induzir situações de acidose ruminal nas vacas, originando a alteração do padrão da fermentação ruminal e o aparecimento do SDG. Contudo, a acidose ruminal não é condição necessária na indução do SDG, o qual pode manifestar-se mesmo quando o pH do ambiente ruminal está em valores normais (Dewanckele, et al., 2020). O SDG também pode ocorrer com o fornecimento de erva verde, em particular com as ervas jovens de primavera, ricas em açúcares e ácidos gordos insaturados e com um teor baixo de peNDF. Poderá ser uma situação com maior incidência nas vacas que se alimentam nos pastos luxuriantes dos Açores; - o segundo tipo é constituído por dietas suplementadas com gordura, seja de origem vegetal, animal ou marinha. A gordura é utilizada nas dietas das vacas leiteiras de alta produção por várias razões, entre as quais aumentar a densidade energética e, nalguns casos,

GRÁFICO 1 EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE MÉDIA AOS 305 DIAS (ANABLE, 2020)

2001

falta de causalidade entre a ingestão da gordura saturada do leite e a ocorrência de várias doenças, erradamente atribuídas ao seu consumo (Lordan, et al., 2018; Lordan & Zabetakis, 2017; Thorning, et al., 2016). Certamente será um dos motivos da recuperação do consumo de produtos lácteos, em especial no caso da manteiga e do queijo (FAO, 2020). Obviamente que a valorização dos constituintes do leite na fixação do preço à produção está dependente da sua procura no mercado. Por isso, a maior procura gera incentivos para a venda de leite com mais gordura. Deste modo, os produtores de leite conseguem um preço mais atrativo pelo produto e melhoram a rentabilidade económica da sua atividade. No entanto, outro fator que afeta fortemente a rentabilidade económica é a produtividade das vacas. Por isso, o seu aumento é um desafio diário comum a todas as explorações leiteiras, procurando diluir os custos de produção e manter, ou aumentar, a margem do negócio. No Gráfico 1 podemos observar que, nos últimos 20 anos, a produtividade das vacas nacionais aumentou quase 30% (ANABLE, 2020). Assim sendo, os criadores, bem como os nutricionistas que os aconselham, enfrentam dois objetivos que, sendo economicamente importantes, nem sempre são compatíveis.

gordura do leite (Bauman & Griinari, 2003). Um dos exemplos mais estudados deste efeito é o Síndrome da Depressão do Teor de Gordura do Leite (SDG). Bauman & Griinari (2001) definiram o SDG como uma redução na produção e teor de gordura do leite, bem como uma alteração na sua composição em ácidos gordos, mantendo inalterada a quantidade de leite produzida. A primeira comunicação do SDG foi há mais de 175 anos, quando o investigador francês Jean Baptiste Boussingault (1845), ao fornecer exclusivamente beterrabas a uma vaca, observou uma diminuição significativa no teor de gordura do leite produzido. No início do século XX, com o começo da alimentação das vacas baseada em princípios científicos, o SDG foi comunicado várias vezes (Bauman & Griinari, 2003). E em 1939, pela primeira vez, foi intencionalmente provocado num lote de vacas, manipulando a quantidade e o tamanho de partícula da fração grosseira da dieta (Powell, 1939). Desde a publicação desse trabalho muita investigação foi realizada permitindo, atualmente, prever as condições alimentares que estão na sua origem. Dois tipos de dietas são consistentemente associados à indução do SDG (Dewanckele, et al., 2020), e promovem a alteração das populações microbianas do rúmen (Fuentes, et al., 2009; Maia, et al., 2010; Rico, et al., 2015; Pitta, et al., 2018): - o primeiro tipo é constituído por dietas ricas em amido ou açúcares rapidamente fermentescíveis, e/ou com um teor baixo de fibra (NDF), ou de fibra

Produção 305 d (kg)

"(…) NOS ÚLTIMOS 20 ANOS A PRODUTIVIDADE DAS VACAS NACIONAIS AUMENTOU QUASE 30%."


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TABELA 1 UTILIZAÇÃO E BENEFÍCIOS DOS SUPLEMENTOS DE GORDURA (JENKINS & HARVATINE, 2014) Utilização de gordura

Benefício

Aumenta a densidade energética da dieta

Aumenta a produção de carne e leite e aumenta a condição corporal

Reduz a pulverulência e a separação das partículas nas misturas de matérias-primas

Melhora o manuseamento dos alimentos e a segurança

Altera o perfil de ácidos gordos da carne e do leite

Adequando-os às orientações nutricionais publicadas para os humanos e aumentando o seu consumo

Melhora a entrega de ácidos gordos insaturados aos tecidos

Melhora o funcionamento metabólico e fisiológico, assim como melhora o desempenho reprodutivo e a imunidade

Aumenta a gordura do leite

Aumenta a quantidade de sólidos do leite

melhorar a eficiência reprodutiva e a imunidade (Tabela 1). As gorduras podem ser divididas em dois grupos (Jenkins & Harvatine, 2014); as gorduras inertes no rúmen, como sejam os sabões cálcicos de ácidos gordos e a gordura hidrogenada, e as gorduras com potencial para afetar o ambiente ruminal, como sejam os óleos de origem vegetal (óleo de soja, de colza, de palmiste, etc.), as sementes integrais de oleaginosas (semente de algodão, semente de soja, etc.) e as gorduras de origem animal (sebo, banha, etc.). Mais recentemente, a inclusão de óleos e suplementos marinhos nas dietas das vacas leiteiras tem vindo a ganhar interesse (Nguyen, et al., 2019; Dewanckele, et al. 2020). O objetivo é aumentar a concentração de ácidos gordos polinsaturados no leite e produtos lácteos, por serem promotores da saúde humana. Aparentemente, estas gorduras exercem um efeito ainda mais acentuado do que as anteriores na indução do SDG (Dewanckele, et al., 2020). MECANISMO DE INDUÇÃO DO SDG Apesar de a investigação científica ter mostrado, com enorme clareza, quais as dietas que provocam o SDG, o mecanismo através do qual ele aparece permaneceu difícil de compreender. Para explicar a sua origem foram avançadas várias teorias, apontando o défice de percursores ou de compostos que intervinham no metabolismo da síntese de gordura do leite (Boussingault, 1845; Tyznik & Allen, 1951; Van Soest & Allen, 1959; McClymont & Vallance, 1962; Frobish & Davies, 1977). No entanto, todas elas foram sendo rejeitadas pela investigação que se seguia. Mais recentemente, foi apresentada uma teoria que tem vindo a receber bastante apoio da ciência.

A Teoria da biohidrogenação Os alimentos que fornecemos na dieta das vacas, possuem uma quantidade variável de gordura na sua composição. Esta fração do alimento, que é extraída com solventes orgânicos, é denominada de Gordura Bruta. Uma parte dela é constituída por lípidos à base de glicerol (triglicéridos, glicolípidos e fosfolípidos) que incluem na sua estrutura química uma molécula de glicerol à qual se ligam até três moléculas de ácidos gordos. Após a ingestão dos alimentos, alguns microrganismos do rúmen libertam enzimas, as lípases, que separam os ácidos gordos do glicerol. Os ácidos gordos predominantes nas forragens e concentrados utilizados na dieta das vacas são três, todos com 18 átomos de carbono na sua composição: 1) o ácido oleico, predominante em alguns óleos de plantas como o óleo de colza 2) o ácido linoleico, predominante em muitos óleos de plantas como o óleo de semente de algodão, o óleo de soja e o óleo de milho, 3) o ácido linolénico encontrado na maior

parte das espécies de plantas de pastagem (Jenkins & Harvatine, 2014). Estes ácidos gordos dizem-se insaturados porque possuem ligações duplas entre os átomos de carbono da sua estrutura e, quando presentes no rúmen, são tóxicos para as bactérias que nele coexistem (Perfield II & Bauman, 2005). Por isso, as bactérias rapidamente alteram a forma estrutural dessas moléculas e destroem as ligações duplas, substituindo-as por ligações simples, “saturando” os átomos de carbono com átomos de hidrogénio. O ácido gordo final é o ácido esteárico, predominante na gordura dos ruminantes, que é um ácido gordo saturado porque não possui ligações duplas entre os átomos de carbono presentes na sua estrutura (Jenkins & Harvatine, 2014). Ao processo de alteração da estrutura molecular, quebra das ligações duplas entre os átomos de carbono e saturação dos mesmos com hidrogénio chama-se biohidrogenação (Dewanckele, et al., 2020). A teoria da biohidrogenação estabelece que a alteração do padrão da fermentação ruminal, provocada pela dieta, altera a via da biohidrogenação, favorecendo a produção de isómeros intermédios que atuam ao nível da glândula mamária, promovendo a inibição da síntese de ácidos gordos (Bauman & Griinari, 2003). Na Figura 1 podemos observar um esquema da biohidrogenação do ácido linoleico. Se o padrão da fermentação ruminal for normal, o ácido linoleico é transformado em ácido esteárico, passando pela formação de trans-11 18:1. No entanto, a dieta fornecida às vacas pode determinar a alteração do padrão da fermentação ruminal, mudando a via seguida pela biohidrogenação. Na via alterada são formados isómeros

FIGURA 1 VIA NORMAL E ALTERADA DA BIOHIDROGENAÇÃO DO ÁCIDO LINOLEICO NO RÚMEN (ADAPTADO DE JENKINS & HARVATINE, 2014) SDG trans-10, cis-12 CLA

VIA ALTERADA

trans-10 18:1

Ácido linoleico (18:2)

Ácido Esteárico (18:0) cis-9, trans-11 CLA

VIA NORMAL

038

trans-11 18:1


A gordura do leite e a alimentação das vacas

ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE

intermediários que levam à formação do trans-10 18:1, o que é conhecido vulgarmente como “mudança trans-11 para trans-10” (Dewanckele, et al., 2020). Alguma quantidade desses intermediários é absorvida no duodeno, e alguns deles atuam ao nível da glândula mamária inibindo a síntese de novo de ácidos gordos. Aproximadamente metade dos ácidos gordos presentes na gordura do leite de vaca provêm desta síntese (Bauman & Griinari, 2003), por isso a sua inibição leva à diminuição do teor de gordura do leite. ESTRATÉGIAS ALIMENTARES PARA CONTROLAR A INCIDÊNCIA DO SDG A indução do SDG pode ser uma boa técnica de maneio sob determinadas condições. As vacas leiteiras no pós-parto encontram-se em balanço energético negativo, isto é, a quantidade de energia que ingerem é inferior à quantidade de energia que gastam para manter a produção e todas as funções vitais. Durante este período, a diminuição da produção de gordura para incorporação no leite permitiria poupar energia que poderia ser utilizada para outras necessidades do seu organismo. Contudo, frequentemente, a incidência do SDG representa uma diminuição da valorização económica do leite e uma perda de rendimento para as explorações. Por essa razão, todas as estratégias que possam ser desenvolvidas para evitar o SDG são importantes e apreciadas pelos produtores de leite. Como foi referido atrás, o excesso de gordura insaturada na dieta das vacas é um fator de risco. É uma boa prática evitar dietas com um teor de gordura excessivo, tendo especial cuidado com a concentração de ácidos gordos insaturados. A utilização de matérias-primas provenientes da indústria da destilação apresenta riscos acrescidos devido ao elevado teor destes constituintes. A incorporação destas matérias-primas nas dietas deve ser criteriosa e sujeita a um controlo apertado devido à variabilidade da composição, dependente largamente da sua origem (Tjardes & Wright, 2002). Também as forragens poderão ser uma fonte importante de ácidos gordos insaturados. As ervas jovens e, por vezes, a silagem de milho podem conter uma quantidade elevada destes compostos (Jenkins & Harvatine, 2014). Seria útil existir entre nós apoio laboratorial na determinação

da concentração de ácidos gordos nestes alimentos. Deste modo, os nutricionistas poderiam calcular a RUFAL (Carga de Ácidos Gordos Insaturados no Rúmen) tendo em consideração a contribuição de todos os alimentos utilizados, evitando ultrapassar os 3,5% na matéria seca da dieta. Qualquer nutricionista reconhece que o aumento da incorporação de alimentos concentrados em substituição dos alimentos grosseiros, para além do recomendado, resulta no aparecimento de acidose generalizada na manada. As causas para a acidose podem ser várias, desde a produção deficiente de tamponizantes salivares até à digestibilidade excessiva da dieta ou ao teor elevado de energia fermentável, resultando numa excessiva produção e acumulação de ácidos no ambiente ruminal. Esta diminuição do pH do ambiente ruminal provoca mudanças nas populações microbianas do rúmen, induzindo a alteração para a via alternativa da biohidrogenação (Jenkins & Harvatine, 2014). O respeito pelos valores mínimos recomendados de NDF e peNDF na dieta permite manter a produção de percursores da gordura do leite e a ruminação. A formulação com uma concentração de amido elevada requer a atenção para a rapidez com que a energia fermentável daí proveniente fica disponível. Não é indiferente utilizar amido proveniente do milho ou amido proveniente de outros cereais, pois as suas características diferem (Ferrareto, et al., 2013). Além disso, a mudança de silos pode alterar os parâmetros de degradabilidade do amido da silagem de milho o que, só por si, pode representar uma alteração significativa no equilíbrio da dieta (Newbold, et al., 2006). Atualmente, a utilização de aditivos para estabilizar o ambiente ruminal é uma prática corrente nas dietas das vacas leiteiras de alta produção. A investigação demonstrou que a utilização de leveduras é eficaz na prevenção do SDG, em especial na adaptação das vacas à dieta de pósparto (Longuski, et al., 2009), e estimula as populações bacterianas celulolíticas (Newbold, et al., 1996) e utilizadoras do lactato (Vohra, et al., 2016). Mais recentemente têm sido estudados alguns aditivos que promovem a estabilização da biohidrogenação ruminal (Baldin, et al., 2018; Pitta, et al., 2020; Copelin, et al., 2021; Lee, et al., 2021), provavelmente aumentando a quantidade e a diversidade de bactérias ruminais e favorecendo, deste modo, a capacidade de biohidrogenação. 039

O esforço colocado no desenvolvimento de dietas equilibradas, e tirando partido de soluções tecnologicamente avançadas, necessita de um maneio apurado para obter os resultados pretendidos. É de evitar a utilização de silagens mal fermentadas, com teor elevado de fungos e leveduras (> 10x106 CFU/g), que afetam a ingestão e são um risco para a incidência do SDG (Jenkins & Harvatine, 2014). Não devem ficar restos de silagem no silo, após o carregamento do reboque misturador. Esta silagem fermentará e, quando for carregada, contaminará toda a dieta preparada. Devem ser respeitados os tempos corretos de mistura para a preparação de uma dieta homogénea. Uma dieta com partículas demasiado grandes permite a escolha pelas vacas, enquanto o contrário prejudica a função ruminal (Trillo, et al., 2017). A dieta deverá ser distribuída mais do que uma vez ao dia, e empurrada frequentemente para a manjedoura. Isso encoraja as vacas a comerem pequenas quantidades, e mais vezes, permitindo maior estabilidade do pH ruminal (DeVries, et al., 2005). O espaço de manjedoura deve ser suficiente para que todas as vacas se alimentem ao mesmo tempo, e sem competição. Deste modo, o stress é diminuído melhorando a alimentação, em especial das vacas primíparas e das que apresentam a hierarquia mais baixa na manada (Humer, et al., 2018). Atualmente, a alimentação das vacas leiteiras de alta produção é um desafio que coloca à prova o profissionalismo dos seus tratadores. É necessária uma atenção constante aos pormenores porque até as mais pequenas alterações podem gerar grandes reações. Quando nos deparamos com um caso de SDG, deveremos analisar o que mudou, uma a duas semanas antes, para definirmos a correção. Após implementar a correção, também teremos de aguardar duas a três semanas até que a produção de gordura volte ao normal (Rico & Harvatine, 2013). Além disso, frequentemente o SDG tem uma origem multifatorial. A alteração ocorrida poderá ter despoletado todo o processo. Contudo, ao definir a correção deverá ser feita uma análise abrangente para detetar todos os outros fatores que, podendo estar envolvidos, foram escapando à nossa observação ao longo do tempo. Nota: a bibliografia referida no texto poderá ser solicitada ao autor através do email: diogo.salgueiro@ cevargado.pt.


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ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE

MAIS GORDURA E RENTABILIDADE NO LEITE A INCORPORAÇÃO DE RUMENSMART™ NAS DIETAS REDUZ O RISCO DE DEPRESSÃO DA GORDURA NO LEITE CAUSADO POR ALTOS NÍVEIS DE ÁCIDOS GORDOS POLINSATURADOS NA RAÇÃO. POR Enrique Fraile Pernaute, Ruminants Technical Advisor, Adisseo

O

teor de gordura no leite depende de muitos fatores, nutricionais e não nutricionais. Os fatores não nutricionais são: o momento produtivo em que os animais se encontram (a curva da percentagem de gordura no leite é inversa à da produção de leite), a genética (existem diferenças entre raças e entre animais da mesma raça) e o fator sazonal (a época do ano tem um impacto direto). A nutrição e o maneio da alimentação são os dois fatores que mais podem afetar o teor de gordura do leite. A gordura do leite é composta principalmente por triglicéridos e ésteres de ácidos gordos, principalmente resultantes da fermentação do rúmen. Existem aspetos como o pH ruminal, a gordura adicionada, o teor de fibra e o tamanho da partícula que afetam diretamente a fermentação ruminal e, por isso, afetam o teor de gordura do leite. Ao ter em atenção estes aspetos é possível melhorar o teor de gordura do leite. A dificuldade está em fazê-lo de uma forma eficiente e rentável para o agricultor, ou seja, aumentando a gordura e melhorando a rentabilidade da produção. Para alcançar estes benefícios, além de trabalhar as características nutricionais do arraçoamento, tornando as dietas o mais eficazes possível, podemos utilizar novos produtos que nos permitem melhorar o teor de gordura de forma rentável, aumentando a produção de gordura. Desde o seu lançamento em abril de 2021, o RumenSmart™ tem demonstrado ser uma ferramenta muito interessante para combater o efeito da depressão da gordura no leite (gráfico 1). Com uma ampla distribuição pela geografia

espanhola e portuguesa, em diferentes situações ambientais e climáticas, tem tido muito bons resultados em quintas na Galiza ou no levante em Espanha, em Portugal Continental e Ilhas que se traduzem em aumentos significativos na quantidade de gordura. Dependendo das diferentes situações, encontramos melhorias na gordura do leite entre 2 e 5 décimas, o que representa um aumento significativo na receita com a venda do leite. O retorno do produto é fácil de calcular, bastando multiplicar o valor de recompensa ou de penalização (por décima de gordura) pelas décimas de gordura acrescidas e pelo número de litros entregues por mês e, a este valor, subtrair o custo do produto. A sua utilização é recomendada nos casos em que se deseja reduzir a penalização por falta de gordura ou aumentar o bónus. Para o uso correto do RumenSmart™, recomenda-se uma avaliação inicial do arraçoamento para avaliar o interesse da sua utilização e para poder ajustar a dose, não sendo necessário alterar o arraçoamento.

GRÁFICO 1 % DE GORDURA NO LEITE 4,00 3,90 3,80 3,70 3,60 3,50 3,40 3,30 3,20

maio de 2021 (dias 1 a 30)

040

Após a experiência adquirida durante os meses de utilização, achámos necessário olhar para vários aspetos importantes ao avaliar a incorporação: - animais com nível de produção médio-alto: nestes animais existe uma maior velocidade de trânsito que pode afetar a bioidrogenação das gorduras não saturadas. - risco de acidose ou dietas com tendência à acidose: nessas situações, o RumenSmart™ perde eficácia. - nível de ácidos gordos polinsaturados (PUFA) na dieta: este será um fator muito importante, pois quanto maior o nível de insaturados, maior o risco de depressão da gordura do leite. É importante ressalvar que, por ser um produto que atua na população de microrganismos do rúmen, o seu efeito na melhoria da quantidade de gordura não é imediato, demorando no mínimo duas a três semanas para se observarem os efeitos. Devemos considerar que existem fatores ligados à dieta que afetam a quantidade de gordura e que não podem ser resolvidos pelo RumenSmart™, requerendo-se uma revisão mais aprofundada da dieta. Há um aspeto a ser considerado ao planear uma dieta de lactação. O RumenSmart™ reduz o risco de depressão da gordura no leite causado por altos níveis de PUFA na ração. Assim, ao ser incorporado nas dietas permite a utilização de quantidades mais elevadas de algumas matérias-primas, ou mesmo de novas matérias-primas, possibilitando uma poupança económica no resultado final. Em conclusão, o RumenSmart™ permite trabalhar a dieta para aumentar o teor de gordura e melhorar a rentabilidade da exploração. O mesmo leite, mais gordura, mais benefício.


Sistemas de limpeza para explorações pecuárias

BEM-ESTAR ANIMAL | VACAS DE LEITE

041


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DOADORES DE GRUPOS METILO

NESTE ARTIGO ABORDAMOS DOIS DOS PRINCIPAIS DOADORES DO GRUPO METILO, A METIONINA E A COLINA. ESTES DOIS NUTRIENTES TAMBÉM DESEMPENHAM PAPÉIS MUITO IMPORTANTES DURANTE O PERÍODO DE TRANSIÇÃO EM ASPETOS COMO BALANÇO ENERGÉTICO NEGATIVO OU A IMUNOSSUPRESSÃO, ENTRE OUTROS.

JAVIER LÓPEZ Technical Service Manager Southern Europe Ruminants Kemin EMENA javier.lopez@kemin.com

JOSE LUIS MADERA Sales Manager Spain and Portugal Kemin EMENA joseluis.madera@kemin.com

C

onsidera-se o período de transição aquele que decorre entre as três semanas anteriores ao parto e as três semanas seguintes. Nessa fase ocorrem várias condições, como a redução drástica da ingestão e o aumento significativo da necessidade de nutrientes, que tornam este período crítico para o sucesso de uma nova lactação. Essas condições também têm como consequência um grande aumento das patologias, provocando a saída de um grande número de animais da exploração nos primeiros 60 dias pós-parto, e impedindo que muitos não atinjam o seu potencial produtivo devido à preparação deficiente da lactação. 042

Para minimizar essas patologias, devemos dar atenção especial, entre outros fatores, à alimentação. Neste artigo, vamos debruçar-nos sobre dois dos principais doadores do grupo metilo, a metionina e a colina. Estes dois nutrientes também desempenham papéis muito importantes durante o período de transição em aspetos como balanço energético negativo ou a imunossupressão, entre outros. COLINA E METIONINA Até hoje, mantém-se a crença de que a metionina e a colina são intercambiáveis, ou seja, que o fornecimento de elevados níveis de metionina dispensa a suplementação de colina, e vice-versa. Essa crença existe porque ambos podem ser


Doadores de grupos metilo

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FIGURA 1 TRANSFERÊNCIA DE GRUPOS METILO ENTRE METIONINA E COLINA

{

Fosfatidiletanolamina

R—O—CH2—NH3+

SAM

Metionina

CH3–S–(CH2)2–CH–COOH

A METIONINA PODE AJUDAR A SINTETIZAR A COLINA

NH2

BHMT

3x

FUNÇÃO DA MEMBRANA DA CÉLULA ABSORÇÃO F.A. (QUILOMÍCRONS) E TRANSPORTE (LIPOPROTEINAS) ESFINGOMIELINA BÍLIS

Homocisteína

SAH

HS–(CH2)2–CH–COOH NH2

Fosfatidilcolina

NÃO RUMINANTES/RPC

CH3 R—O—CH2—CH2—N+—CH3

CDP - Colina

CH3

doadores do grupo metilo ( figura 1). A metionina contribui para a biossíntese da fosfatidilcolina através da sua função como doador de metilo. Num estudo realizado há vários anos foram utilizadas cabras em lactação, e colina e metionina radiomarcadas, para determinar a cinética e interconversões entre os dois compostos, 6% do grupo colina foi derivado da metionina (Emmanuel e Kennelly, 1984). A colina é um constituinte da fosfatidilcolina (PC), que é um componente das membranas celulares e dos glóbulos de gordura do leite. A PC também é uma componente das lipoproteínas responsáveis pelo transporte de gordura por todo o organismo. Como constituinte da lipoproteína de densidade

{

PEMT

Fosforilcolina

RUMINANTES

muito baixa (VLDL), a PC é necessária para a exportação de gordura do fígado. Com a aproximação do parto, a vaca sofre uma redução drástica na ingestão de matéria seca, ao mesmo tempo em que aumenta as sua necessidades para atender às necessidades do feto e à produção de colostro. Isto provoca um "balanço energético negativo" ( figura 2). Devido a essa situação, o animal tende a mobilizar a gordura depositada no tecido adiposo. Essa mobilização aumenta o transporte de ácidos gordos não esterificados (NEFA) dos tecidos adiposos para o fígado, para satisfazer as necessidades energéticas ( figura 3, página seguinte). A fosftildicolina é essencial para a

FIGURA 2 BALANÇO ENERGÉTICO NA VACA LEITEIRA Energia e manutenção do leite

Energia da alimentação

Parto 30

Periodo seco

Periodo seco

Mobilização da gordura

Dimetilglicina

Armazenamento da energia corporal 100

200

300 365 Adaptado de Schaumann, 2015.

043

A COLINA PODE REMETILAR A HOMOCISTEÍNA PARA METIONINA

Betaína

Colina CH3 HO—CH2—CH2—N+—CH3 CH3

exportação de triglicerídeos do fígado através de proteínas de baixíssima densidade (VLDL), por isso a metionina e a colina têm grande importância neste aspeto, evitando a cetose. Para além desse ponto em comum, a colina e a metionina têm as suas próprias funções no periparto. PRINCIPAIS VANTAGENS DA SUPLEMENTAÇÃO COM COLINA NO PERIPARTO A média dos principais estudos publicados mostra um aumento da produção quando se suplementa com colina em 6%. Em estudos que avaliaram a produção quando a suplementação de colina é interrompida, verificou-se que as vantagens na produção são mantidas durante a lactação. Além desses benefícios na produção, já bem conhecidos, a formulação de dietas periparto que satisfaçam as necessidades de colina tem outras vantagens que resumiremos a seguir. A deficiência de colina reduz a atividade da enzima Ca-ATPase, que é muito importante no transporte ativo do cálcio, influenciando a prevenção da hipocalcemia. As vacas suplementadas com colina têm maiores concentrações de cálcio nos dias 0,1,3 e 7 pós-parto (Zenobi et al, 2018). Além disso, neste estudo conclui-se que vacas suplementadas com colina apresentam menores temperaturas retais e menores incidências de metrite


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FIGURA 3 SÍNTESE DE LIPOPROTEÍNAS DE BAIXA DENSIDADE VLDL Energia disponível para a produção de leite Corpos cetónicos

Veiculos de transporte de lipoproteinas

(VLDL)

Mitocôndrias Fosfolípidos Proteínas

Oxidação

Excesso de gordura Falta de metionina/colina

Fígado gordo

Colesterol

Oxidação

Triglicéridos

Esterificação

Carnitina Gordura corporal

Mitocôndrias

Metionina

e retenção placentária. Esses resultados indicam uma melhor homeostase do cálcio em vacas suplementadas com colina. Este mesmo estudo (Zenobi et al, 2018) confirma um maior crescimento de bezerros de vacas que receberam suplementação com colina no periparto, em comparação com o grupo controlo, nos primeiros 12 meses de vida. Da mesma forma, observou-se que esses vitelos consumiram maior quantidade de substituto do leite e ração nos primeiros 21 dias de vida e, consequentemente, tiveram um maior crescimento. PRINCIPAIS VANTAGENS DA SUPLEMENTAÇÃO COM METIONINA NO PERIPARTO Além de partilhar com a colina a função de doador de grupos metilo, como foi referido acima, a metionina desempenha muitas outras funções durante o período de transição. Essa característica de doador de grupos metilo faz com que intervenha na exportação de triglicéridos para fora do fígado para evitar a síndrome do “fígado gordo” (lipidose hepática). Incrementar os níveis de metionina no periparto aumenta a produção de glutationa e taurina, que são antioxidantes intracelulares (Atmaca, 2004). A suplementação com metionina reduziu a inflamação e o stress oxidativo perto do parto, o que pode levar a uma maior ingestão (Osorio el al, 2013; Zhou et al, 2017). Num estudo realizado por Batistel & Loor (2017), foram observados um maior

Ácidos gordos (NEFA)

Lisina

peso ao nascer e um maior crescimento durante as primeiras nove semanas de vida, em crias cujas mães foram suplementadas com metionina durante o trabalho de parto. Além destas funções da metionina como nutriente, não podemos esquecer que cumpre a função de fazer parte das proteínas, ajudando a mitigar o balanço proteico negativo no período pós-parto ( figura 4). CONCLUSÕES Apesar de terem funções comuns, como a de doador de grupos metilo, a colina e a metionina têm muitas outras funções próprias. Por isso, em nenhum caso, a metionina pode evitar o uso de colina

e vice-versa. Embora seja verdade que níveis adequados de colina impedem a catabolização da metionina para sintetizar a fosfatildicolina, sobrando metionina para funções próprias. Estudos recentes demonstram que tanto a colina quanto a metionina podem regular a expressão genética devido à metilação do ADN. Por tudo isso, se queremos ter uma fase periparto com êxito ao nível da saúde, e maximizar o nível de produção na próxima lactação, devemos atender às necessidades de ambos os nutrientes. Para atender a essas necessidades, devemos suplementar 15g por vaca por dia de iões de colina biodisponível e 35g de metionina metabolizável.

FIGURA 4 BALANÇO PROTEICO NEGATIVO NO PÓS-PARTO 200

Balanço Proteína metebolizável (MP)

ATP

0

BPN = Défice de AA -200

-400

-600

0 7 14 21 28

Período desde o parto (d)

044


Doadores de grupos metilo

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KESSENT® e LysiGEM™

LIDERANDO UMA PECUÁRIA MAIS SUSTENTÁVEL A metionina e a lisina são os dois aminoácidos essenciais mais limitantes para a produção de leite em ruminantes. Os benefícios da metionina e da lisina são bem conhecidos, mas, quando usados em conjunto, fornecem benefícios adicionais além da suplementação individual de aminoácidos. Sem a sua inclusão, nunca seremos capazes de maximizar ou otimizar a nossa produção. KEMIN, sendo o único fornecedor de metionina e lisina amplamente comprovadas, oferece KESSENT e LYSIGEM.

kemin.com/ ruminant-essentialities

© Kemin Industries, Inc. and its group of companies 2021. All rights reserved. ® ™ Trademarks of Kemin Industries, Inc., U.S.A. 045 Certain statements, product labeling and claims may differ by geography or as required by government requirements.


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ATENÇÃO À SAÚDE DOS CASCOS NA TRANSIÇÃO!

PRESTAR ATENÇÃO À SAÚDE DOS CASCOS É UMA MANEIRA IMPORTANTE DE MELHORAR A GESTÃO DO PERÍODO DE TRANSIÇÃO E O DESEMPENHO GERAL DO REBANHO.

HUW McCONOCHIE Nutricionista de Vacas Leiteiras Zinpro Corporation

E

mbora a saúde geral do casco tenha sido um dos focos principais da Zinpro, o período de transição tem vindo a tornar-se cada vez mais importante. O recém-atualizado programa FirstStep®, de gestão e saúde do casco do gado leiteiro, através da sua equipa consultores especializados, irá ajudar a contribuir para um período de transição melhorado.

O período de transição, sendo uma fase crítica no ciclo produtivo das vacas leiteiras, tem tido avanços significativos, permitindo que as vacas entrem melhor na lactação, sejam mais produtivas, e voltem mais depressa à prenhez, sendo mais rentáveis. Sabemos cada vez mais sobre como estas vacas precisam de ser geridas e sobre os benefícios em termos da redução das doenças de transição e melhor saúde no geral. ÁREAS PRINCIPAIS DE FOCO Os pontos principais para a gestão da transição enquadram-se em várias áreas, como no espaço de alimentação, que deve ser adequado, para manter o consumo de matéria seca durante a transição. Outros pontos fundamentais são a taxa de ocupação, o design, assim como o tamanho dos cubículos que é importante para estimular tempos de repouso suficientes. 046

É importante fazer todos os possíveis para reduzir o stress nas vacas de transição: manter as mudanças em grupo ao mínimo e não mover os animais entre dois a sete dias antes do parto. Ter um local para as vacas parirem tranquilamente reduz outros riscos. Como as vacas em transição são mais propensas aos efeitos do calor do que as outras, deve-se tomar todas as medidas para reduzir as consequências do stress térmico, sempre que fizer sentido. A claudicação é um problema importante que afeta a saúde e a produtividade do rebanho, especialmente durante o período crítico de transição, pelo que se aconselha uma “tolerância zero” com vacas coxas neste período. Para as vacas fazerem uma boa transição, precisam de estar firmes em pé. A claudicação, ainda que ligeira, pode representar uma fonte de problemas em grande parte ligados à ingestão de matéria


Atenção à saúde dos cascos na transição

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melhor plano possível para a transição. Examina também o desempenho no início da lactação. Para além da produção de leite, analisa a incidência de doenças, incluindo a retenção de placentas, metrite e casos de abomaso deslocado. Os dados são avaliados de acordo com os padrões da indústria. Durante o processo de realização de uma avaliação, uma quantidade considerável de dados é recolhida pelo consultor, incluindo as consequências de certos fatores e as recomendações para lidar com as mesmas.

seca (IMS). As vacas coxas reduzem a IMS durante os períodos secos e de transição. Qualquer vaca coxa durante a transição tende a perder peso em excesso no início da lactação. A redução da IMS é uma característica chave das vacas que vêm a ter um aumento da incidência de doenças da transição, por isso é importante garantir que as vacas tenham patas saudáveis. A prevenção desempenha um papel fundamental, recomendando-se: - aparar os cascos das vacas um mês antes de as secar e, em seguida, avaliar todas as vacas identificadas com lesões novamente no momento da secagem. Se existir alguma lesão infeciosa no estábulo seco, as vacas devem fazer um banho de patas regularmente (pedilúvio); - aparar os cascos das novilhas 6 a 8 semanas antes do parto. O conforto do cubículo e os tempos de permanência prolongados ajudam a proteger as estruturas do casco. REDUZIR O IMPACTO DA CLAUDICAÇÃO NA TRANSIÇÃO Para ajudar os produtores a reduzir o impacto da claudicação na transição, recentemente, a Zinpro atualizou e ampliou o seu programa FirstStep, inicialmente desenvolvido para fornecer ferramentas abrangentes para avaliar a saúde dos cascos e fornecer planos de ação aos produtores de leite. O programa permite que os consultores vão às

explorações leiteiras e avaliem todos os potenciais fatores, identificados pela ciência e pela experiência, que possam predispor ao aparecimento de lesões nos cascos em vacas leiteiras. Basicamente consiste numa auditoria da saúde do casco mas, mais importante, cria recomendações e oferece diretrizes para melhorar a saúde do casco e reduzir os custos associados à claudicação. A avaliação pode incluir pontuação de locomoção, cronograma e técnica de aparamento de cascos, maneio e higiene de pedilúvios, fatores ambientais como pavimentos e design do cubículo, identificação de lesões nas patas e nutrição. No ano passado, a Zinpro começou a trabalhar num novo módulo para o FirstStep: o Transition Assessor. O objetivo foi ampliar o alcance do programa, aumentando o foco neste momentochave no ciclo de vida duma vaca. O novo módulo é baseado num trabalho que o investigador Nigel Cook e os seus colegas da Universidade de Wisconsin desenvolveram. As conclusões referem que a transição é um período de alto risco para a saúde do casco e que as vacas que transitam mal têm maior risco de desenvolver lesões nos cascos numa fase tardia da lactação. O Transition Assessor identifica os riscos - observando as instalações da exploração e as condições que devem existir para que se possa conceber o 047

IMPLEMENTAR FACILMENTE PEQUENAS ALTERAÇÕES PARA FAZER UMA GRANDE DIFERENÇA Depois de concluída a avaliação, os dados recolhidos são analisados, para desenvolver um plano de ação incluído num relatório detalhado que aborda os problemas centrais. Isto significa que os produtores podem concentrar-se primeiro nas áreas de gestão que lhe proporcionarão o melhor retorno, substituindo o trabalho de suposição por uma abordagem baseada em evidências. Agindo de acordo com as recomendações, o produtor pode priorizar as mudanças necessárias para melhorar o desempenho, muitas das quais podem ser bem pequenas e facilmente implementadas. Reconhecemos que nem todos têm a capacidade ou o financiamento disponível para fazer grandes mudanças. Pode ser que não haja espaço suficiente para um período de secagem de oito semanas, mas pode ser possível mudar para um período de secagem de seis semanas. A forma de agrupamento das vacas poderia ser alterada para um melhor aproveitamento das instalações? Existem maneiras de criar mais espaço para a alimentação? Como criar mais tempo durante o dia para as vacas se deitarem? Estas são pequenas mudanças práticas, mas realistas, que podem fazer uma grande diferença. É uma questão de aproveitar ao máximo o que se tem. MELHORAR AS INSTALAÇÕES DE TRANSIÇÃO PARA UM RETORNO POTENCIAL SIGNIFICATIVO Uma das melhores vantagens do Programa FirstStep é que também permite projetar instalações. Por exemplo, com base no efetivo e noutros fatores como o tipo de camas, o produtor pode projetar o cubículo perfeito para a sua exploração, melhorando o conforto da vaca e aumentando o tempo de descanso.


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Quando se trata de instalações para vacas em transição, é importante que os produtores percebam que, embora a instalação para vacas secas precise de apenas 15% da dimensão da instalação para vacas em ordenha (em sistemas de parto durante todo o ano), todas as vacas passam pelo período seco e a sua saúde e a sua performance são influenciadas por ele. Em termos de retorno sobre o investimento, a melhoria das instalações de transição pode representar um gasto relativamente pequeno, mas com um potencial retorno significativo. O FirstStep é muito centrado na vaca e, como é evidente, a vaca está no coração de todos os negócios de exploração de leite. Por vezes, parece haver relutância por parte dos produtores em fazer investimentos que farão uma diferença real para a vaca, como os cubículos com cama funda. O mesmo argumento se aplica ao investimento em instalações de transição. Ao planear instalações de transição é importante ter flexibilidade porque os números nem sempre podem ser previstos. Em explorações com partos sazonais, a transição é ainda mais importante porque há apenas uma hipótese por ano de acertar.

SUPLEMENTAR OS MINERAIS CERTOS PARA OBTER OS RESULTADOS CERTOS Para além de disponibilizar as instalações mais adequadas, é importante garantir que a dieta das vacas em transição seja corretamente formulada, incluindo o fornecimento de oligoelementos. Muitas pessoas acreditam que à medida que a vaca chega ao fim da lactação, a necessidade de oligoelementos diminui. As pessoas esquecem-se que dentro desta vaca há um bezerro a crescer. Com as novilhas ocorrem grandes mudanças, como o desenvolvimento do úbere. Esses processos requerem minerais. No caso da formação dos ossos e da pele, são predominantemente necessárias proteínas e macrominerais, mas os oligominerais são indispensáveis. Os dados de investigação sobre o período de transição mostram que a alimentação com a quantidade e fontes corretas de oligominerais, durante este tempo, leva a uma redução nas doenças de transição, bem como a melhorias na produção de leite e na saúde dos cascos nas primeiras 10 semanas de lactação. Quando obtém a suplementação correta com oligominerais, o animal fica com um sistema imunitário mais robusto. Se a vaca

tiver um melhor sistema imunitário, utiliza menos energia. Assim, dispõe de mais glicose para a produção, a par com um melhor desempenho reprodutivo e uma melhor saúde dos cascos. Há boas evidências que indicam que as vacas alimentadas com Zinpro Performance Minerals® têm melhor saúde dos cascos como resultado de um melhor equilíbrio de glicose. Isto decorre da maneira única como esses minerais são absorvidos através do transportador de aminoácidos. Em muitas explorações em que existem dois grupos de vacas secas, o grupo que está no início do período seco recebe uma suplementação mais barata. Quando se oferecem suplementos melhores a ambos os grupos, os problemas diminuem. O investimento vale a pena quando se olha para os resultados a longo prazo. Se mantivermos as vacas em pé, elas comerão mais, deitar-se-ão por mais tempo, produzirão mais leite e terão melhor sucesso reprodutivo. O retorno do investimento, se a prevenção da claudicação for implementada, pode ser considerável e o ponto de partida é a manutenção e o uso de registos eficazes de saúde dos cascos.

TRANSITION ASSESSOR - INSTALAÇÕES E GESTÃO RISCO ESTIMADO

RISCO ELEVADO

RISCO MODERADO

BAIXO RISCO

Espaço na manjedoura

< ou = 46 cm/vaca

46 cm/vaca - <75 cm/vaca

> ou = 75 cm/vaca

Manjedoura sem divisórias

Manjedoura com divisórias

Manjedoura com cornadis (possibilidade de trancar a cabeça da vaca)

<6 m2/vaca

6 m2 - 11 m2/vaca

> 11 m2/vaca

Cama dura ou cama de composto

Colchão com alguma cama

Cubículo com cama profunda (profundidade >8cm)

Sobreposição da área ocupada pela vaca com cubículos vizinhos (>8 cm)

Pequena sobreposição da área ocupada pela vaca com a de cubículos vizinhos ( 3 a 8 cm)

Sem sobreposição da área ocupada pela vaca com cubículos vizinhos

Obstrução frontal e lateral

Obstrução frontal

Sem obstrução frontal ou lateral

Sem ventoinhas ou sistema de arrefecimento com água

Ventoinhas sobre os cubículos, sem sistema de arrefecimento com água

Presença de ventoinhas sobre os cubículos e sistema de arrefecimento com água

Vacas recém-paridas Tipo de divisórias na manjedoura

120 cm/vaca

Vacas recém-paridas Área de parques com cama (alojamento livre sem cubículos)

X

Vacas recém-paridas Tipo de piso/cama nos cubículos

COMENTÁRIOS

X

Vacas recém-paridas Área que a vaca pode ocupar no cubículo

Vacas recém-paridas Presença de obstrução ao avanço da vaca para se deitar/levantar Vacas recém-paridas Gestão de temperaturas elevadas

Vacas recém-paridas As novilhas em pré-parto (últimas 3 semanas antes do parto) estão juntas com as vacas?

X Sim

Não

Nota: A Zinpro não garante a precisão deste relatório ou a sua utilidade para obter algum propósito. Os leitores não devem considerar este recurso como uma alternativa ao aconselhamento de um profissional qualificado.

048


Atenção à saúde dos cascos na transição

ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE

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049


#43 | out. nov. dez. 2021

REVISTA RUMINANTES

ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE

ALIMENTAÇÃO E ORDENHA ROBOTIZADA

O SUCESSO DAS EXPLORAÇÕES LEITEIRAS COM SISTEMAS DE ORDENHA ROBOTIZADA SÓ É ATINGÍVEL COM A ADOÇÃO DE UMA ESTRATÉGIA ALIMENTAR DESENHADA ESPECIFICAMENTE PARA ESTE MODELO DE PRODUÇÃO. PARA DAR RESPOSTA A ESTE DESAFIO A DE HEUS DESENVOLVEU O SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO ROBOTEXPERT.

JOSÉ ALVES Assistente Técnico Ruminantes De Heus Nutrição Animal S.A. jaalves@deheus.com

O

sucesso das explorações leiteiras com sistemas de ordenha robotizada só é atingível com a adoção de uma estratégia alimentar desenhada especificamente para este modelo de produção. O RobotExpert é a solução proposta pela De Heus a este novo desafio na nutrição da vaca leiteira. Neste artigo abordaremos o período inicial

de habituação dos animais à ordenha robotizada, a relação do equilíbrio e nível nutricional da dieta oferecida na manjedoura e a atividade dos animais, a importância da apetência do granulado disponibilizado no robot, as tabelas de alimentação, o alimento restante e por fim o maneio alimentar. O PERÍODO INICIAL DE HABITUAÇÃO Antes de se iniciar a ordenha no robot, é realizado um período de habituação dos animais à nova realidade. Na prática, o robot de ordenha funcionará como um alimentador automático durante algumas semanas com o objetivo de os animais ganharem rotinas de visita, ficando a conhecer o novo alimento e o novo objeto na exploração. A ordenha automática deverá ser iniciada apenas quando 80% dos animais estiverem a ingerir o granulado disponibilizado pelo equipamento. 050

EQUILÍBRIO DA MANJEDOURA E ATIVIDADE DOS ANIMAIS É necessário encontrar o equilíbrio entre a alimentação oferecida na manjedoura e aquela disponibilizada pelo equipamento de ordenha. Deverá existir uma diferença específica entre os kg de leite permitidos pelo alimento da manjedoura e a dieta total. Demasiada energia no alimento base provoca baixa atividade das vacas e diminuição das visitas ao robot. Como consequência, teremos um aumento do número de animais com atrasos entre ordenhas e perda geral de eficiência do sistema. Por outro lado, uma alimentação demasiado pobre em nutrientes e que não cubra as necessidades da vaca, não permitirá que esta expresse todo o potencial genético e atinja as performances desejadas. O teor de hidratos de carbono fermentescíveis da dieta é determinante para o nível de atividade dos animais,


Alimentação e ordenha robotizada

ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE

não sendo desejável valores demasiado elevados de amidos e açúcares. É necessário assegurar níveis de fibra efetiva adequados. O sistema de alimentação RobotExpert da De Heus permite construir dietas que, simultaneamente, cobrem as necessidades nutricionais dos animais e estimulam um elevado número de visitas ao robot. APETÊNCIA E EQUILÍBRIO DO CONCENTRADO DISPONIBILIZADOS NO ROBOT DE ORDENHA A principal motivação para a vaca visitar o robot é o apetite pelo alimento que aí lhe é oferecido, portanto a apetência do granulado e o seu equilíbrio são fatores chave de sucesso neste sistema. Devem ser retiradas as matérias-primas de menor apetência da composição destes concentrados e o processo de fabrico deve obedecer a protocolos específicos, de forma a garantir a dureza adequada do grão e a ausência de finos. Devem ainda existir protocolos próprios de transporte destes alimentos, da fábrica até à exploração, também de forma a evitar qualquer contaminação e manter a sua qualidade máxima. Estes alimentos devem ser formulados para que as diferentes frações proteicas e de hidratos de carbonos fermentescíveis estejam presentes de forma proporcional e de acordo com a velocidade de degradação e de fermentação ruminal de cada uma. Para se atingir este objetivo, a gama de

concentrados para robots de ordenha da De Heus obedece ao conceito Synchronized Fermentable Organic Substance (SFOS). Desta forma, assegura-se eficiência nutricional e saúde ruminal da vaca. AS TABELAS DE ALIMENTAÇÃO A alimentação disponibilizada aos animais no equipamento de ordenha é feita de acordo com determinados critérios. Essa informação é introduzida no software de gestão do robot sob a forma de tabelas de alimentação. De uma forma geral, a quantidade de granulado oferecido a cada animal está dependente da sua produção de leite ou dos dias pós-parto do momento. O grande objetivo é que o alimento oferecido esteja de acordo com o estado fisiológico e o nível produtivo do animal. Portanto, é importante que as tabelas de alimentação se adaptem à curva de lactação natural da vaca, ajudando a diminuir o défice energético pós-parto e a potenciar a produção dos animais. Uma vez que primíparas têm características diferentes das multíparas ao nível da capacidade de ingestão, das necessidades nutricionais e da curva de lactação é necessário a utilização de tabelas de alimentação específicas para cada classe de animais. O ALIMENTO RESTANTE Quando o alimento concentrado definido para ser oferecido no robot de ordenha a um determinado animal, por um conjunto de razões, não é 051

disponibilizado na sua totalidade, temos uma situação de alimento restante. Este é um problema grave e frequente, e que impossibilita que o arraçoamento definido pelo nutricionista seja cumprido, pondo em causa os resultados esperados. A utilização da ferramenta informática de análise do desempenho do robot de ordenha do sistema RobotExpert permite detetar de forma clara estas situações, facilitando a sua correção através das alterações necessárias na configuração do sistema de ordenha. MANEIO ALIMENTAR A obtenção dos resultados produtivos desejados está dependente das boas práticas de maneio alimentar da exploração. Portanto, é fundamental ter espaço à manjedoura suficiente de forma a evitar a competição entre os animais, distribuir o alimento na manjedoura 2 vezes por dia, empurrar o alimento na manjedoura várias vezes ao dia e utilizar forragens de boa qualidade de conservação e elevado valor nutricional. Se se acrescentarem estas boas práticas aos alimentos específicos e às dietas delineadas para explorações com ordenha robotizada, somando ainda o conhecimento técnico e as ferramentas que constituem o sistema de alimentação RobotExpert, estão reunidas as condições para a obtenção dos objetivos desejados.


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FOTO 1

SAÚDE ANIMAL | VACAS DE CARNE

MONITORIZAR AS DOENÇAS IBR E BVD NAS VACADAS ESTE ARTIGO TEM O OBJETIVO DE DEMONSTRAR A MAIS VALIA E A IMPORTÂNCIA DE MONITORIZAR OS PLANOS VACINAIS CONTRA A IBR E BVD, E EXPLICAR COMO O PODEMOS FAZER DE FORMA SIMPLES NUMA VACADA DE CARNE.

DEOLINDA SILVA Diretora Serviços Técnicos Ruminantes, Hipra Portugal deolinda.silva@hipra.com

A

implementação de planos de vacinação em vacadas de carne, com o objetivo de proteger o efetivo contra vírus como o IBR e BVD, é cada vez mais frequente. Estes vírus afetam a fertilidade e a produtividade, e a vacinação evita ou minimiza o seu impacto negativo. Em muitos casos, a decisão de

iniciar ou não a vacinação é tomada após a realização de análises sanguíneas por amostragem de um determinado número de animais da vacada. No entanto, a monitorização da evolução das doenças e da eficácia do plano vacinal após a vacinação não é realizada por rotina. Este artigo tem o objetivo de demonstrar a mais valia e a importância de monitorizar os planos vacinais contra a IBR e BVD, e também explicar como o podemos fazer de forma simples numa vacada de carne. A profissionalização e a necessidade de sustentabilidade no sector agropecuário motivam os produtores a procurar uma melhor eficiência reprodutiva e produtiva das suas explorações. No caso das vacadas de carne, obter o maior número de vitelos desmamados por ano é o principal objetivo e, para tal, é essencial um bom maneio 052

nutricional e animal, uma ótima gestão de recursos da exploração e um controlo das doenças infeciosas que afetam a fertilidade e a produtividade. Por outro lado, o aumento da pressão por parte do consumidor, da indústria e das entidades reguladoras para produzir carne com sustentabilidade, reduzindo o impacto ambiental e a utilização de antibióticos, conduziram a um alerta para a prevenção e para a utilização de vacinas para melhorar o estatuto sanitário do efetivo ( foto 1) A vacinação do efetivo contra qualquer doença tem dois objetivos: reduzir ou prevenir o aparecimento de sinais clínicos das doenças (ex. mortalidades embrionárias, abortos, pneumonias, etc.) e ao mesmo tempo bloquear a circulação dos vírus no rebanho e, desta forma,


Monitorizar as doenças IBR e BVD nas vacadas de carne

SAÚDE ANIMAL | VACAS DE CARNE

prevenir o aparecimento de novos animais infetados. No caso das vacadas de carne, a vacinação contra a IBR e o BVD pretende melhorar a fertilidade, prevenir as mortalidades embrionárias e os abortos causados por estes dois vírus, bloqueando a circulação viral dentro da vacada o mais eficientemente possível. Ambos os vírus têm uma particularidade específica, são capazes de gerar animais infetados para a vida (portadores latentes no caso da IBR e animais persistentemente infetados no BVD), que são o principal foco de infeção dentro do efetivo. Embora partilhem desta característica, é verdade que não geram estes animais portadores do vírus da mesma forma, sendo importante referir ambos os vírus separadamente. Uma característica comum a ambos os vírus é que a estratégia mais eficaz para controlar as novas infeções é combinar um plano vacinal adequado à realidade da vacada, com a monitorização laboratorial destas duas doenças no rebanho. A realização de uma avaliação pontual do efetivo para conhecer a situação epidemiológica da exploração em relação à IBR e ao BVD é muito comum antes de se iniciar um plano vacinal, mas monitorizar e avaliar as melhorias no estatuto sanitário após a vacinação é menos frequente, apesar de ser uma informação muito útil. De seguida será descrito como podemos, de forma simples e económica, monitorizar de acordo com o tipo de vírus e o objetivo do protocolo de vacinação. IBR (RINOTRAQUEÍTE INFECIOSA BOVINA) O vírus IBR é um Herpes Vírus, logo, ao infetar um novo animal, este permanecerá portador do vírus para a vida, alternando entre um estado de latência (sem demonstrar qualquer tipo de sintomas de doença) e um estado de reativação perante um momento de stress e imunodepressão (ex. transporte, parto, stress térmico, outras doenças, etc.), e neste último estado poderá infetar novos animais na vacada. Dentro de um rebanho a principal fonte de novas infeções da IBR é um animal portador latente, sendo que em explorações não vacinadas esse animal portador latente poderá infetar até cerca de sete novos animais durante a sua vida produtiva (A. Mauroy, 2018), enquanto em explorações vacinadas o objetivo é obter um número médio de novas infeções por cada animal infetado inferior a um. Tendo em conta este facto, para avaliar a

eficácia da vacinação, a via mais adequada é identificar anualmente o número de animais portadores (positivos a IBR) na exploração e pontuar este índice ao longo dos anos. Um objetivo a cumprir é que anualmente o número de positivos seja menor até serem alcançadas prevalências baixas (número de animais positivos inferior a 5%). Chegando a este patamar, a estratégia mais lógica será a de sacrificar os animais positivos para erradicar a doença da exploração. É importante notar que nem todas as vacinas permitem diferenciar os animais infetados, só as vacinas marcadas para o vírus IBR o fazem, tendo aumentado por este motivo a sua utilização em vacas de carne. QUAL É O MÉTODO MAIS FÁCIL DE MONITORIZAR OS ANIMAIS POSITIVOS PARA A IBR? Na realidade, a monitorização da IBR nas vacadas de carne só é viável se forem realizadas análises individuais de sangue por amostragem, ou seja, não sendo necessário analisar todos os animais do efetivo, evitando deste modo custos elevados com as análises laboratoriais. De facto, percentagens de 5 a 10% de animais amostrados são suficientes para se obter uma estimativa fiável ( foto 2). Nas explorações, ou se usa uma vacina marcada para IBR, ou não se vacina, e o meio de diagnóstico mais prático é o ELISA gE que, na presença de um resultado positivo, indica que os animais são positivos e portadores da IBR. Desta forma, ao avaliar o número total de amostras de sangue realizadas, podemos identificar o número total de positivos dentro dessa amostragem e, no seguimento, a percentagem dos animais infetados na exploração.

FOTO 2 Na monitorização da IBR nas vacadas de carne, percentagens de 5 a 10% de animais amostrados são suficientes para se obter uma estimativa fiável.

053

8 % de positivos < 8%: recomenda-se avaliar todo o efetivo de modo a identificar e refugar os animais positivos, almejando a erradicação da doença da vacada. 8 % de positivos > 8%: nestes casos, a vacinação e monitorização são essenciais para prevenir novas infeções e baixar a % de animais positivos (prevalência) na vacada. 8 % de positivos > 30%: a prevalência do vírus é média a alta, sendo recomendados protocolos de vacinação semestrais para bloquear a circulação viral de forma mais rápida e eficiente, com o objetivo de diminuir a prevalência o mais rapidamente possível. As vacinas vivas contra IBR são completamente seguras em animais gestantes e proporcionam uma resposta imunológica mais completa do que as vacinas inativadas. Se o objetivo do veterinário e produtor é diminuir anualmente o número de animais positivos a IBR, em situações de pressão viral muito elevada, os protocolos anuais não são suficientes para controlar o aparecimento de novas infeções (Dispas, 2013). A monitorização por rotina através do teste ELISA gE (semestral ou anual) permite decidir qual a estratégia de prevenção e de vacinação mais adequada para cada efetivo. BVD (DIARREIA VIRAL BOVINA) A BVD, é uma doença que afeta a nível mundial os rebanhos de bovinos. A circulação do vírus é muito comum na população bovina, sendo as novas infeções muito comuns. Ao contrário do vírus da IBR, um animal que fica infetado com BVD não será portador do vírus para a vida, desenvolverá a doença e excretará o vírus por um curto período (aproximadamente 12 dias). No entanto, se a infeção ocorrer numa fêmea gestante entre 60 e 120 dias, podem ocorrer duas situações: a morte do embrião (reabsorção precoce ou aborto) ou o nascimento dum animal persistentemente infetado (PI) para toda a vida. Este animal PI não identifica o vírus como um agente infecioso externo, logo o seu sistema de defesas não atua. Durante o seu tempo de permanência na vacada irá excretar continuamente o vírus, sendo a fonte de novas infeções dentro do efetivo. A implementação de medidas de prevenção é importante para proteger os animais e reduzir a circulação do vírus dentro da vacada e, desta forma, evitar a infeção de fêmeas gestantes e bloquear o


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FOTO 3 A pesquisa de anticorpos para a proteína p80 permitirá concluir se ocorreram ou estão a ocorrer novas infeções de animais na vacada.

aparecimento de novos animais PI. Para tal, a identificação e eliminação dos animais PI e a implementação da vacinação, é a estratégia mais eficaz a implementar nas vacadas. O tipo de vacina utilizada para a BVD pode determinar, ou não, a possibilidade de monitorizar o vírus a nível do animal individual, bem como a sua utilização em animais gestantes. Tendo o vírus BVD elevada afinidade para a infeção do embrião ou feto, uma vacina inativada, em comparação com uma vacina viva, é a única segura a 100%, ou seja, não haverá a possibilidade de infeção do feto pelo vírus da vacina quando forem vacinadas fêmeas gestantes. Outra vantagem da utilização de vacinas inativadas para BVD é permitirem a monitorização da circulação do vírus no rebanho através da pesquisa de anticorpos p80 (ELISA p80, foto 3), que é o teste de diagnóstico mais utilizado em programas de controlo e erradicação de BVD a nível laboratorial, pela sua facilidade de realizar e baixo custo. QUAL É O MÉTODO MAIS FÁCIL DE MONITORIZAR A CIRCULAÇÃO DE BVD NA VACADA? Tal como acontece com a IBR, o método mais simples e económico de identificar a circulação do vírus BVD numa vacada de carne é através da pesquisa de anticorpos contra o BVD no sangue mediante

testes laboratoriais (ELISA p80). Uma amostragem de 5% a 10% dos animais permitirá ter uma avaliação fiável da situação epidemiológica para BVD no rebanho. A pesquisa de anticorpos para a proteína p80 permitirá concluir se ocorreram ou estão a ocorrer novas infeções de animais na vacada. A proteína p80 é sintetizada pelo vírus quando este se multiplica no animal, ou seja, ocorre no momento em que o animal está a sofrer a doença ou quando foi vacinado com uma vacina viva (sendo uma vacina viva, o vírus vacinal também se irá multiplicar no animal). É por este motivo que as vacinas vivas não permitem avaliar se há novas infeções através da pesquisa de anticorpos p80, logo a avaliação da eficácia do plano de vacinação deixa de ser de implementação fácil e com uma boa relação de custobenefício ( foto 3). Um resultado positivo no ELISA p80 nos sangues dos animais amostrados significa que o vírus infetou esse animal recentemente. Ao analisar em conjunto todas as amostras de sangue realizadas, conseguimos estimar a % dos animais infetados e saber se o vírus BVD está a circular ativamente entre os animais. Existe uma relação entre a % de animais positivos aos anticorpos p80, a circulação do vírus e a probabilidade de existirem animais PI no rebanho (Bitsch and Ronsholt, 1995). 054

• Prevalências entre 0% a 10%: muito baixa circulação vírica e 4% de risco de ter um animal PI. • Prevalências entre 10% a 30%: baixa circulação vírica e 4% de risco de ter um animal PI. Manter a monitorização. • Prevalências > 30%: circulação vírica média a alta e 20% de risco de ter um animal PI. Manter a monitorização e pesquisa/ identificar os animais PI. Após a conclusão inicial sobre a existência, ou não, da circulação do vírus BVD no efetivo, no caso de existir uma prevalência média a alta, é aconselhável fazer uma pesquisa e identificação de animais PI no rebanho, através de testes que identificam a presença do vírus em animais suspeitos, para seu posterior refugo, não esquecendo de realizar a pesquisa em animais recém-nascidos. Esta amostragem pode ser feita pelo teste ELISA antigénio (análise de sangue) ou por um teste PCR (pesquisa de DNA do vírus em vários tipos de amostras recolhidas no animal, como sangue, tecido da orelha, etc.). Para concluir, só através da monitorização frequente da situação epidemiológica da vacada para os vírus IBR e BVD, se podem tomar decisões que otimizem e melhorem os resultados da vacinação. Os protocolos de vacinação, não sendo monitorizados, são um plano de controlo das doenças incompleto. Como tal, a utilização de vacinas que permitam diferenciar se existe ou não infeção, é uma das chaves para o sucesso do plano vacinal, permitindo avaliar os resultados e também tomar decisões sobre ajustes necessários a fazer ao longo do tempo no protocolo. A HIPRA, como laboratório de referência na saúde animal, está comprometida com o melhoramento da fertilidade e produtividade das explorações de bovinos de carne no extensivo. Com esse objetivo, disponibilizamos um serviço de diagnóstico ao médico veterinário e seus clientes que permite conhecer o estatuto sanitário do efetivo e, desta forma, propor um plano de controlo das doenças completo e adequado à realidade da vacada, melhorando o estatuto sanitário dos animais e a rentabilidade económica da vacada. Consulte o seu médico veterinário para definir quais as medidas preventivas e o protocolo de vacinação que melhor se alinham para a sua exploração.


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INDÚSTRIA

CARACTERIZAÇÃO NUTRICIONAL DE QUEIJOS COM DOP DA REGIÃO CENTRO O OBJETIVO DESTE TRABALHO FOI AVALIAR A COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE 3 DOS TIPOS DE QUEIJOS COM DOP PRODUZIDOS NA REGIÃO CENTRO - AMARELO DA BEIRA BAIXA, RABAÇAL E SERRA DA ESTRELA QUE CORRESPONDEM, RESPETIVAMENTE, A 4,0%, 0,6% E 6,6% DA PRODUÇÃO NACIONAL TOTAL DE QUEIJOS COM DOP (DGADR, 2020). POR Luísa Paulo1; Maria do Carmo Moreira2,3; Mafalda Resende1, Mário Cristóvão1, Helena Beato1; António Moitinho Rodrigues1,2,4 1 CATAA Zona Industrial, Rua A, 6000-459 Castelo Branco; 2 ESA-IPCB Quinta da Sra de Mércules, 6001-909 Castelo Branco; 3 Universidade de Cabo Verde, CP 379C, Praia; 4 CERNAS-IPCB Projeto FCT UID/AMB/00681/2020.

P

ortugal é dos países da União Europeia com maior número de produtos tradicionais qualificados. Atualmente são 205 dos quais 14 são queijos com Denominação de Origem Protegida (DOP) (Pico, São Jorge, Cabra Transmontano, Terrincho, Serra da Estrela,

Serpa, Nisa, Évora, Azeitão, Rabaçal, Beira Baixa [Amarelo da Beira Baixa, Picante da Beira Baixa e de Castelo Branco] e 1 com Indicação Geográfica Protegida (IGP) (Mestiço de Tolosa) (DGADR, 2021). Na Região Centro de Portugal estão 5 dos queijos com DOP. Para a produção destes queijos é utilizado leite cru de ovelha

(queijos de Castelo Branco e Serra da Estrela) ou mistura de leite cru de ovelha e cabra (queijos Amarelo da Beira Baixa, Picante da Beira Baixa e Rabaçal). São produtos de valor acrescentado que pretendem contribuir para valorizar economicamente o leite de pequenos ruminantes. O queijo é um produto

056

lácteo que resulta da fermentação do leite. É um alimento importante na dieta mediterrânea sendo geralmente bem tolerado e facilmente digerido. O seu valor nutricional advém da elevada concentração de nutrientes essenciais, proteínas, peptídeos bioativos, ácidos gordos, vitaminas e minerais (Ferrão e


Caracterização nutrional dos queijos DOP da Região Centro

FORRAGENS | BIODIVERSIDADE E LEGUMINOSAS

Guiné 2019). Destaca-se o teor de cálcio. Aproximadamente 35g de queijo curado fornecem 250mg de Ca. Além disso, em condições dietéticas normais, a biodisponibilidade de cálcio é maior no leite e produtos lácteos, como queijo, quando comparada com produtos vegetais (Rozenberg et al., 2016). Alguns queijos apresentam elevado teor de ácidos gordos saturados. Nestes casos, o consumo deve ser moderado devido à sua contribuição para o aumento do colesterol LDL que tem sido associada à ocorrência de doenças cardiovasculares (Guiné e Florença 2020). O objetivo deste trabalho

foi avaliar a composição nutricional de 3 dos tipos de queijos com DOP produzidos na Região Centro - Amarelo da Beira Baixa (QABB), Rabaçal (QR) e Serra da Estrela (QSE) que correspondem, respetivamente, a 4,0%, 0,6% e 6,6% da produção nacional total de queijos com DOP (DGADR, 2020). MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do Programa de Valorização da Fileira do Queijo da Região Centro. Resultou da avaliação de parâmetros físico-químicos de 68 queijos com DOP, 24 QABB, 11 QR e 33 QSE,

TABELA 1 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE QUEIJOS AMARELO DA BEIRA BAIXA (N=24), RABAÇAL (N=11) E SERRA DA ESTRELA (N=33) Parâmetro Humidade (%)

Proteína (%)

Gordura (%)

Cinzas (%)

Extrato seco (%)

Hidratos de carbono (%)

Valor energético (kcal/100 g)

Sódio (mg/100 g)

Sal (g/100 g)

Queijo com DOP

Média

Mínimo

Máximo

Amarelo da Beira Baixa

a

42,71 ±4,27

35,1

51,0

Rabaçal

37,62b±3,68

32,2

43,8

Serra da Estrela

43,50a±2,74

39,0

50,3

Amarelo da Beira Baixa

21,62b±1,47

19,5

24,2

Rabaçal

23,25a±1,28

20,8

25,2

Serra da Estrela

b

21,67 ±2,33

17,1

28,2

Amarelo da Beira Baixa

29,99ab±3,18

23,5

35,5

Rabaçal

a

31,66 ±2,95

27,0

36,4

Serra da Estrela

29,10b±3,07

19,0

33,9

Amarelo da Beira Baixa

4,25a±0,50

3,4

5,3

Rabaçal

4,19 ±0,40

3,7

5,0

Serra da Estrela

3,81b±0,53

3,0

5,1

Amarelo da Beira Baixa

57,29b±4,27

49,0

64,9

Rabaçal

62,38a±3,68

56,2

67,8

Serra da Estrela

56,50b±2,74

49,7

61,0

Amarelo da Beira Baixa

1,43 ±0,84

0,0

3,3

Rabaçal

3,27a±1,03

1,6

5,1

Serra da Estrela

1,93b±1,21

0,2

4,1

Amarelo da Beira Baixa

b

362,14 ±31,74

298,8

419,2

Rabaçal

391,06a±28,45

343,8

430,8

Serra da Estrela

356,24b±24,24

292,5

392,9

Amarelo da Beira Baixa

912,15 ±172,69

624,6

1295,9

Rabaçal

681,21b±174,66

440,2

990,3

Serra da Estrela

b

720,84 ±198,82

394,0

1193,3

Amarelo da Beira Baixa

2,28a±0,43

1,6

3,2

Rabaçal

1,70b±0,44

1,1

2,5

Serra da Estrela

1,80b±0,50

1,0

3,0

ab

b

a

a, b - notações diferentes na coluna do valor médio de cada parâmetro analisado indicam p≤0,05; ± desvio padrão.

057

NA REGIÃO CENTRO DE PORTUGAL ESTÃO 5 DOS QUEIJOS COM DOP. PARA A PRODUÇÃO DESTES QUEIJOS É UTILIZADO LEITE CRU DE OVELHA OU MISTURA DE LEITE CRU DE OVELHA E CABRA.

produzidos entre 2019 e 2021 e adquiridos em queijarias licenciadas e localizadas nas áreas geográficas de produção. As análises laboratoriais foram realizadas no Laboratório de FísicoQuímica do Centro de Apoio Tecnológico Agro-Alimentar de Castelo Branco (CATAA). Os métodos utilizados foram os seguintes: valor energético e hidratos de carbono- cálculo, Reg. (UE) N.º1169/2011 25 de outubro; gordura e gordura no resíduo seco - Van Gulik, NP2105:1983; ácidos gordos GC-FID, Método Interno; proteína e proteína no resíduo seco - Kjeldahl, Método Interno; sal EAA- Método Interno; humidade e humidade isenta de gordura - gravimetria, Método Interno; cinzas e cinzas no resíduo seco-gravimetria AOAC Official Method 935.42. RESULTADOS E DISCUSSÃO Parâmetros físico-químicos Na tabela 1 apresenta-se a composição nutricional média dos queijos QABB, QR e QSE com DOP. Verifica-se que o QR tem teores mais elevados (p≤0,05) de proteína, gordura, extrato seco, hidratos de carbono e valor energético. O QABB destaca-se pelos elevados valores (p≤0,05) de cinzas, sódio e sal. De realçar a elevadíssima percentagem de sódio, muito superior aos valores determinados para os QR e QSE. O QSE destaca-se


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"ALGUNS AUTORES TÊM REFERIDO QUE A GORDURA DO LEITE PROVENIENTE DE RUMINANTES EM PASTOREIO TEM UM PERFIL DE ÁCIDOS GORDOS DIFERENTE DO LEITE PROVENIENTE DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO MAIS INTENSIVOS."

TABELA 2 COMPOSIÇÃO QUÍMICA NO EXTRATO SECO DOS QUEIJOS COM DOP AMARELO DA BEIRA BAIXA (N=24), RABAÇAL (N=11) E SERRA DA ESTRELA (N=33) Parâmetro

Queijo com DOP

HIMG (%)

MGES (%)

PES (%)

CES (%)

Média

Mínimo

Amarelo da Beira Baixa

a

Máximo

60,89 ±3,85

54,2

66,7

Rabaçal

54,96b±3,36

48,4

59,9

Serra da Estrela

61,37a±3,10

56,7

69,9

Amarelo da Beira Baixa

a

52,27 ±2,72

48,0

59,3

Rabaçal

50,69a±2,41

46,1

55,1

Serra da Estrela

a

51,47 ±4,55

35,2

58,6

Amarelo da Beira Baixa

37,81a±1,95

33,5

41,6

Rabaçal

37,28a±0,63

36,0

38,4

Serra da Estrela

38,38a±4,08

32,9

52,4

Amarelo da Beira Baixa

7,44a±0,90

5,7

9,3

Rabaçal

6,73b±0,61

5,9

7,6

Serra da Estrela

6,76b±1,05

5,0

8,9

a, b - notações diferentes na coluna do valor médio de cada parâmetro analisado indicam p≤0,05; ± – desvio padrão; HIMG – humidade isenta de matéria gorda; MGES – matéria gorda no extrato seco; PES – proteína no extrato seco; CES – cinzas no extrato seco

por ter maior (p≤0,05) teor de humidade. Ao observarmos na tabela 2 a composição química no extrato seco, verificamos que a humidade isenta de matéria gorda (HIMG) é maior (p≤0,05) nos QABB e QSE e que, nos 3 tipos de queijos, os valores médios estão dentro do previsto nos respetivos Caderno de Especificações (CE) (tabela 3). Em 100% dos QABB, 91% dos QR e 52% dos QSE, foram obtidos os valores de HIMG previstos nos respetivos CE (tabela 2). Relativamente à matéria gorda no extrato seco (MGES), não se detetaram diferenças estatisticamente significativas nos 3 tipos de queijos e os valores médios determinados estão dentro dos valores previstos nos respetivos CE. Verificou-se que 100% dos QABB, 100% dos QR e 94% dos QSE obtiveram valores de MGES previstos nos respetivos CE. Limites para os teores de PES e CES apenas são referidos no CE do QSE. Para os dois parâmetros, os valores médios determinados foram superiores ao máximo previsto no CE. Em 97% dos QSE analisados, o valor de PES foi muito superior (tabela 3). Embora a PES tenha

TABELA 3 VALORES DE HIMG (HUMIDADE ISENTA DE MATÉRIA GORDA), MGES (MATÉRIA GORDA NO EXTRATO SECO), PES (PROTEÍNA NO EXTRATO SECO) E CES (CINZAS NO EXTRATO SECO) QUE CONSTAM DOS CADERNOS DE ESPECIFICAÇÕES DE TRÊS QUEIJOS COM DOP DA REGIÃO CENTRO Queijo com DOP

HIMG (%)

MGES (%)

PES (%)

CES (%)

Amarelo da Beira Baixa (A)

54 - 69

45 - 60

-

-

Rabaçal (B)

52 – 60

≥45

-

-

Serra da Estrela (C)

61 - 69

45 - 60

26 – 33

5,0 – 6,5

(A) Caderno de Especificações dos Queijos da Beira Baixa com DOP (https://tradicional.dgadr.gov.pt/pt/cat/queijos-e-produtos-lacteos/97-queijos-da-beira-baixa-dop-queijo-de-castelo-branco-queijo-picante-dabeira-baixa-e-queijo-amarelo-da-beira-baixa). | (B) Caderno de Especificações do Queijo Rabaçal com DOP (https://tradicional.dgadr.gov.pt/pt/cat/queijos-e-produtos-lacteos/92-queijo-rabacal-dop). | (C) Caderno de Especificações do Queijo Serra da Estrela (https://tradicional.dgadr.gov.pt/pt/cat/queijos-e-produtos-lacteos/31-queijo-da-serra-da-estrela).

TABELA 4 PERFIL DE ÁCIDOS GORDOS DOS QUEIJOS COM DOP AMARELO DA BEIRA BAIXA (N=24), RABAÇAL (N=11) E SERRA DA ESTRELA (N=33) Ácidos gordos (%)

Amarelo da Beira Baixa

Rabaçal

Serra da Estrela

Saturados Butírico(2)

C4:0

0,49a±0,15

0,48a±0,17

0,40a±0,15

Capróico

C6:0

a

0,72 ±0,17

0,72 ±0,20

0,66a±0,18

Caprílico

C8:0

1,20a±0,25

1,19a±0,27

1,17a±0,33

Cáprico(2)

C10:0

5,11 ±0,91

5,07 ±0,92

5,41a±1,09

Láurico(1)

C12:0

3,64a±0,47

3,65a±0,53

3,93a±0,81

Mirístico(1)

C14:0

10,19b±0,74

9,90b±0,90

11,07a±1,32

Palmítico(1)

C16:0

25,56b±1,15

29,38a±0,94

24,73b±1,33

Esteárico(2)

C18:0

12,68a±0,97

11,49b±0,81

12,43ab±1,56

Palmitoleico

C16:1

1,08a±0,13

1,11a±0,9

1,15a±0,15

Oleico(3)

C18:1

26,68a±1,38

25,86ab±1,85

24,58b±2,15

Linoleico(3)

C18:2

3,02b±0,43

3,80a±0,29

2,69c±0,30

Linolénico(3)

C18:3

b

0,90 ±0,10

c

0,56 ±0,11

1,08a±0,13

Saturados

-

a

61,35 ±2,21

a

63,29 ±3,00

61,66a±3,09

Monoinsaturados

-

27,77a±1,44

26,99ab±1,90

25,73b±2,09

Polinsaturados

-

4,46 ±0,49

4,90 ±0,56

4,42b±0,49

Hipercolesterémicos

-

39,39 ±1,78

a

42,92 ±2,20

39,72b±2,87

Neutros

-

18,27a±0,90

17,04b±0,71

18,24a±1,04

Hipocolesterémicos

-

30,61 ±1,42

30,22 ±2,08

28,35b±2,27

a

a

a

Monoinsaturados

Polinsaturados

b

b

a

058

a

a


Caracterização nutrional dos queijos DOP da Região Centro

FORRAGENS | BIODIVERSIDADE E LEGUMINOSAS

sido superior, consideramos benéfico uma vez que as proteínas presentes no queijo são proteínas de elevado valor biológico. Relativamente à CES, verifica-se que apenas 45% dos QSE analisados apresentaram valores dentro dos previstos no CE e que 55% ultrapassaram aquele valor. Consideramos que a maior percentagem de CES poderá estar relacionada com excesso de sal utilizado no processo de fabrico do queijo. Excesso de sal não é nutricionalmente benéfico para a saúde humana. Alguns autores têm referido que a gordura do leite proveniente de ruminantes em pastoreio tem um perfil de ácidos gordos diferente do leite proveniente de sistemas de produção mais intensivos (Kalač e Samková, 2010). A influência do pastoreio traduz-se no aumento de ácidos gordos polinsaturados como o ruménico (CLA C18:2 cis‑9,trans-11), linoleico (C18:2n-6) e α-linolénico (C18:3n-3). O ácido ruménico é um isómero geométrico e posicional do ácido linoleico, sendo o isómero mais abundante e biologicamente mais ativo que apresenta benefícios potenciais para a saúde humana (Teixeira, 2015).

Relativamente à percentagem de ácidos gordos (AG) C4:0, C6:0, C8:0, C10:0, C12:0, C16:1 e AG saturados, não se encontraram diferenças nos 3 tipos de queijos. Um destaque especial para o ácido butírico (C4:0). Embora a percentagem média de C4:0 tenha sido reduzida, o C4:0 é benéfico para saúde humana quando ingerido em pequenas quantidades. Regula a diferenciação das células da mucosa intestinal, induz a apoptose para controlar a inflamação e tem propriedades antineoplásicas (Collard et al., 2003). O QABB apresentou valores mais elevados de C18:0, C18:1 e de AG monoinsaturados e hipocolesterémicos. O QR apresentou valores mais elevados (p≤0,05) de C16:0, C18:2 e de AG polinsaturados e hipercolesterémicos. O QSE apresentou valores mais elevados (p≤0,05) de C14:0 e C18:3. Nos 3 tipos de queijos estudados os AG hipercolesterémicos variaram entre 42,92% e 39,39%, os AG hipocolesterémicos variaram entre 30,61% e 28,35% e os AG insaturados representaram cerca de ⅓ do total de AG identificados (tabela 4). 059

CONSIDERAÇÕES FINAIS Os queijos tradicionais portugueses com DOP são reconhecidos pelas suas características únicas associadas às áreas geográficas e aos processos artesanais de fabrico. Os processos de fabrico nas diversas queijarias e as condições de armazenamento dos queijos, contribuíram para as diferentes características físico-químicas dos queijos com DOP da Região Centro. As boas práticas de fabrico, incluindo a seleção criteriosa de matériasprimas e o cumprimento do período mínimo de cura, são determinantes para a obtenção de um produto final com boa qualidade nutricional. Relativamente à composição química dos 3 tipos de queijo, de destacar a quantidade muito elevada de sal, sódio e CES nos QABB. Os excessos de sódio e sal devem ser controlados trabalhando junto de todas as queijarias para reduzirem a quantidade de sal utilizado no fabrico do queijo. Até o QSE apresentou um valor médio de CES superior ao previsto no CE desta DOP. O QR apresentou teores mais elevados de proteína, gordura, extrato seco, valor energético e ácidos gordos C18:2, polinsaturados

e hipercolesterémicos. O QSE apresentou valores mais elevados de humidade e ácidos gordos C14:0 e C18:3. Embora o PES tenha sido superior ao previsto no CE, consideramos isso benéfico uma vez que são proteínas de elevado valor biológico. Nos 3 tipos de queijos com DOP da Região Centro, os valores médios de HIMG e MGES estão de acordo com os respetivos Cadernos de Especificações. Quanto aos ácidos gordos, o QR foi o que apresentou maior percentagem de ácidos gordos polinsaturados e hipercolesterémicos e o QABB foi o que apresentou valores mais elevados para o ácidos gordos monoinsaturados e hipocolesterémicos. Para obter as referências bibliográficas, consultar os autores. AGRADECIMENTOS Este trabalho foi financiado pelo Programa de Valorização da Fileira do Queijo da Região Centro; código do projeto - CENTRO 04-3928-FEDER-000014.


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AGRICULTURA REGENERATIVA

“NA NATUREZA É TUDO UMA SINFONIA

060


"Na Natureza é tudo uma sinfonia"

AGRICULTURA REGENERATIVA

POR ANDRÉ ANTUNES Agricultor, Consultor Agrícola e Médico Veterinário chaoricolares@gmail.com instagram.com/chao.rico.colares

A DETERIORAÇÃO PROGRESSIVA DOS SOLOS E A CONSEQUENTE PERDA DE FERTILIDADE E RENDIMENTO, OBRIGARAM OS GESTORES DA SOCIEDADE AGRICOLA MUNDOS NUEVOS A PROCURAR OUTRAS FORMAS DE FAZER AGRICULTURA. DONOS, POR HERANÇA, DE UMA EXPLORAÇÃO AGRÍCOLA COM CERCA DE 600 HECTARES PERTO DE RETAMAL DE LLERENA, NA PROVÍNCIA ESTREMENHA DE BADAJOZ, OS IRMÃOS JUAN LUIS E PEDRO DOMINGUEZ CAMPA COMEÇARAM, HÁ CERCA DE 8 ANOS, A IMPLEMENTAR UMA SÉRIE DE MUDANÇAS, NA PROCURA DA ABORDAGEM ACERTADA PARA CONTRARIAR O PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO QUE ASSOLA ESTA ZONA, FRUTO DE MÁS PRÁTICAS AGRÍCOLAS ANCESTRAIS E PRECIPITAÇÕES ANUAIS MÉDIAS DE 200 A 250MM NOS ÚLTIMOS 4 ANOS.

Entrevista a Juan Luis Dominguez Campa e Pedro Dominguez Campa, donos e gestores Sociedade Agricola Mundos Nuevos.

061


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N

a altura da chegada da PAC, quando Juan Luis Campa (JLC) e Pedro Campa (PC) tomaram conta da exploração, que tinha estado 40 anos dedicada à produção cerealífera, foram convertendo mais solo à agricultura, inclusivamente as manchas cobertas por giestas. Durante os 10 primeiros anos, como conta PC, as produções foram satisfatórias: “Atribuímos isso às práticas agrícolas – uso de charrua, grade de discos, aplicação de herbicidas e fertilização inorgânica com base em análises regulares ao solo. Pensávamos que éramos bons profissionais mas, entretanto, as produtividades foram baixando.” Do maneio dito convencional passaram então, em 2014, a integrar progressivamente, práticas regenerativas com base na produção de ovinos cruzados de Merino, como nos contou JL: “O uso correto do gado, a boa planificação do pastoreio são a chave da fertilidade do solo e esta, por sua vez, é a chave da vida, da produção, da sustentabilidade e da resiliência a longo prazo. De momento não vemos outra alternativa.” A transição para as práticas regenerativas teve início com a identificação dos elos mais frágeis da cadeia, como explicou PC: “No nosso caso eram a falta de água e de pastagem. A partir daí, tentámos perceber o que fazer para aumentar as suas disponibilidades. Para aumentar a água no solo implica tê-lo coberto e não mobilizar. Assim também não perdemos o solo fértil por erosão. O primeiro passo foi deixar de lavrar com charrua e aplicar mobilização superficial apenas nas zonas mais planas. Outra medida foi determinar a topografia do terreno e subsolar seguindo as linhas determinadas pela metodologia key-line. Quanto ao pastoreio, aumentámos o número de parques, tanto os provisórios elétricos como os fixos." André Antunes (AA): Que obstáculos encontraram na implementação dessas medidas? PC: No início, quando aplicámos o keyline “puro” em 20 ha demo-nos conta de que os parques ficavam demasiadamente estreitos e longos para se adaptarem à topografia. As ovelhas não se sentiam cómodas, para além de esse desenho implicar a construção de imensos caminhos para aceder a todos os parques. Tivemos que chegar a um compromisso entre o mais hidrologicamente aceitável, o mais económico possível e o mais prático para os animais e a logística.

"Neste momento, como mudámos a abordagem para pastoreio, a giesta traz-nos um extrato produtivo a mais. A semente é rica em proteína que aparece na altura em que é mais necessária, no final do verão, e as folhas podem ser comidas."

AA: Que diferenças veem desde que adotaram este modo de gestão do pastoreio? PC: A distribuição homogénea do esterco é evidente. Dantes não o era. Agora produzimos mais erva. Com o solo coberto, a pouca humidade que existe no ambiente aproveita-se mais. O orvalho aguenta-se mais tempo do que antes – é fácil de observar. Em relação ao solo é cedo para ver. Acreditamos que o solo ainda não está bem estruturado. O risco de compactação, mesmo através do pisoteio animal, especialmente quando chove, é alto. Ainda não tem suficiente matéria orgânica. AA: Como conseguem incorporar a Gestão Holística na planificação de atividades e na tomada de decisões? PC: No que diz respeito ao pastoreio, planificamos a curto prazo (2 semanas), e anotamos tudo o que podemos em relação a cada parque: quantas ovelhas entram, a data, o tempo de permanência, o tempo de descanso da parcela. Não fazemos tanto a planificação a longo prazo porque as condições variam muito. AA: Fazem atualmente algum tipo de sementeira de modo convencional para forragem? PC: De momento, absolutamente nada. O esforço não compensa. Não produz mais do que apenas com a gestão do pastoreio. O solo capacita a germinação das sementes que estão naturalmente no banco natural. Assim, prosperam em 062

cada momento as espécies que mais capacidades têm. Se semearmos, estamos a perturbar este equilíbrio. AA: A experiência de misturar algumas sementes no distribuidor de tacos de ração para as ovelhas deu resultado? PC: Sim, em algumas parcelas onde havia menos cobertura vegetal usámos algumas sementes nativas recolhidas por nós com uma ceifeira. Ao colocá-las no distribuidor juntamente com a ração, as ovelhas, ao comer, acabam por enterra-las com as patas. Notámos que essas zonas melhoraram, não sabemos ainda se pelas sementes que adicionámos ou apenas pelo impacto animal. Apercebemo-nos que em algumas zonas onde não pusemos sementes também se instalou um prado biodiverso apenas pelo impacto animal. AA: Fazem colheita e conservação das pastagens naturais? PC: Sim, em anos em que há excedente de pastagens ricas e biodiversas, fazemos feno. Quando o tempo está mais húmido e não há tempo de secar, fazemos fenossilagem. AA: Em relação à vegetação arbustiva predominante, têm duas situações completamente distintas: a esteva (Cistus ladanifera) que traz dificuldades e a giesta (Retama sphaerocarpa) que se apresenta como uma solução. PC: Numa das nossa quintas, que não possuí árvores, havia antigamente muitas giestas. Para a produção cerealífera eram um problema porque estorvavam a maquinaria pesada. Neste momento, como mudámos a abordagem para pastoreio, a giesta traz-nos um extrato produtivo a mais. A semente é rica em proteína que aparece na altura em que é mais necessária, no final do verão, e as folhas podem ser comidas. É um recurso nutricional de alta qualidade. Para além disso, as giestas são uma proteção contra o vento, sol e geadas e mantêm o orvalho por mais tempo. Por baixo das giestas a erva é mais alta e mais verde. Providenciam sombra para os animais e abrigo e alimentação para a fauna auxiliar e abelhas. Também têm uma raiz pivotante que recicla água e nutrientes e, como leguminosas, fixam o azoto atmosférico. A esteva, como não tem tantas utilidades, tentamos controlá-la.


"Na Natureza é tudo uma sinfonia"

AGRICULTURA REGENERATIVA

AA: Fazem uma aplicação composta de biofertilização e mineralização com pó de rocha, carvão vegetal e estrume. Como funciona? PC: Misturamos o estrume de limpeza dos estábulos das ovelhas com carvão vegetal e pó de pedra de pedreiras locais. Inoculamos esta mistura com microrganismos locais para ajudar a decompô-la. Aplicamos uma vez por ano em zonas onde achamos mais necessário. AA: Diz-se que as árvores necessitam ser visitadas. O que pensam sobre isto? JLC: Os animais são um elemento fundamental dos sistemas e os ruminantes ainda mais. Estabelece-se um diálogo entre a microbiologia do solo e do ruminante. As árvores não se deslocam e, se pensarmos que produzem muito mais frutos do que é necessário para a sua reprodução, facilmente chegamos à conclusão que isso é um modo de atrair os animais para o seu perímetro. Estes oferecem fertilização, distribuição de sementes, controlo de doenças... enfim é uma simbiose que devemos compreender e saber tirar proveito e que o sistema convencional vai destruindo. É cada vez mais raro encontrar pecuária e agricultura combinadas, como

era costume no passado, porque parece que se atrapalham uma à outra. Na realidade, na Natureza é tudo uma sinfonia e é muito mais barato dar-lhe a mão do que lutar contra ela. Os pastos melhoram com o impacto animal planeado e as árvores também beneficiam dessa relação. Solos mais cobertos representam estimulação da microbiologia subterrânea e isto fortalece todo o sistema. AA: Inclusivamente, as ovelhas podem interromper os ciclos de alguns parasitas das árvores... PC: Sim – Como é o caso de um escaravelho parasita da azinheira, Curculio elephas, que põe os ovos nas bolotas em julho. A partir de setembro, a larva desenvolve-se dentro do fruto. Quando passam os animais, as bolotas que estão afetadas e caíram são comidas pelas ovelhas, interrompendo-se assim o ciclo completamente. AA: No que respeita ao maneio reprodutivo, qual a raça que utilizam, quais as características e como é feita a planificação dos partos? PC: A raça que usamos é do tipo Merino – a mais usada por cá. É muito rústica e

está adaptada às condições climáticas da zona, parasitas, etc. Temos 1200 a 1300 reprodutoras, divididas em 2 lotes iguais. Num ano, um dos lotes pare 2 vezes e o outro 1 vez. No ano seguinte, inverte-se. Temos uma parição de meados de janeiro a meados de fevereiro, outra de meados de junho a meados de julho, e uma outra de meados de setembro a meados de outubro. Em média conseguimos desmamar 1,2 borregos por ano, dependendo da ação de predadores, doenças, etc. Na parição de janeiro/fevereiro vendemos os animais diretamente do campo, ainda a beber leite. Não se desmamam. Quando têm ± 23kg, aquilo que o mercado nos pede aqui, vamo-los vendendo. Nas outras duas parições desmamamos os animais com cerca de 45 dias e põem-se a ração e palha. Acabam também por vender-se com 23kg. AA: Fazem algum tipo de melhoramento genético ou refugo controlado? PC: Trazemos carneiros Merino que demonstraram ser de boa genética, de outras explorações, introduzindo assim bons sementais. Este ano estamos a começar a escolher as borregas da parição de primavera cujas mães melhor

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se adaptaram no ano transato à não suplementação para futuras reprodutoras, favorecendo assim fenótipos mais rústicos dentro do rebanho. AA: O objetivo de fazer um pastoreio não seletivo, com elevado efeito de manada, por vezes complica a gestão da condição corporal dos animais tão importante em épocas-chave como a prenhez, parto e lactação. Como gerem o aporte de energia, proteína e matéria seca? JLC: Há que encontrar o meio termo entre a condição corporal dos animais e o benefício que proporcionam como ferramenta de melhoramento do solo. Há muita teoria de como se deve deixar o pasto após o pastoreio – 10 cm de altura, 20 cm... é relativo, depende da época de crescimento da erva e também da condição corporal dos animais. Os animais, ao serem obrigados a um pastoreio total, acabam por quebrar a condição corporal. O equilíbrio é a chave. No caso dos ovinos, e com muitos partos, o ciclo natural (que é de um parto por ano na Primavera) permite maior descanso aos animais. Por outro lado, como existe mais erva nessa altura, torna tudo mais fácil, mas a realidade do mercado não nos permite tal luxo.

AA: Portanto, há que dar suplementação quando necessário. JLC: Temos que escolher. Se quisermos fazer o pastoreio ideal na altura seca temos que suplementar, senão os animais vão sofrer. AA: Passando para a área da veterinária e saúde animal, como organizam as vacinações e desparasitações? PC: Há já 12 anos que não usamos vacinações. Temos cuidado no maneio para que as variações não sejam muito bruscas para que os animais se vão adaptando às novas condições. Verificamos que isso é mais eficaz que vacinar. Antes tínhamos mais problemas, mesmo vacinando, sempre que não cuidávamos do maneio. Desparasitamos uma vez por ano com closantel, no verão, porque temos um problema importante com Oestrus ovis. Não usamos ivermectinas porque sabemos que têm um efeito destruidor nos insetos que incorporam o estrume e nas minhocas. Um solo que não está vivo irá produzir pouco pasto. Para problemas de ectoparasitas, como as bicheiras, fazemos aplicações tópicas de inseticidas. 064

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AA: Em relação à gestão da biodiversidade, qual a sua importância para a produção? PC: O valor da biodiversidade na exploração é incalculável. Por exemplo, o facto de existirem mais umas centenas de minhocas por m2 aumenta exponencialmente a capacidade de produzir solo e, logo, pasto. O mesmo se aplica para formigas, escaravelhos da bosta ou insetos polinizadores. AA: Ou seja, em agricultura regenerativa devemos atuar primariamente ao nível da fauna do solo e apenas depois dos animais superiores e das plantas. PC: Sim, o trabalho que esses seres fazem, em quantidade e qualidade, é difícil de quantificar. Não conseguimos imaginar a capacidade produtiva de um solo vivo. AA: Passemos à parte financeira. Quais são as vossas principais fontes de rendimento e o papel da pecuária regenerativa? PC: Substituímos toda a agricultura de sementeira anual por pecuária. Continuamos a ter rendimentos das ajudas e subsídios da PAC. Depois temos, como é óbvio, o rendimento da venda


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AGRICULTURA REGENERATIVA

Nas herdades foram instaladas 75 caixas de biodiversidade que funcionam como um complexo de ninhos para diferentes espécies. Têm proteção contra predadores, como formigas e roedores e contra as condições climatéricas. Têm também um compartimento para morcegos com capacidade para 50-60 morcegos e outro para insetos da fauna auxiliar – vespas parasíticas por exemplo. Estas caixas são um excelente investimento no capital biológico.

dos borregos. Desde que passámos para a pecuária regenerativa tivemos uma quebra de produção de ± 30% por ovelha/ ano mas, simultaneamente, uma forte redução dos custos de produção. Esta redução depende muito do que chove em cada ano. Em média, nos últimos anos poupámos cerca de 40-50% em fatores de produção. AA: Qual o ganho médio diário de peso por animal (GMD)? PC: Nas condições ideais, 250g por dia. Aumenta quando chegam aos 45-50 dias. AA: Quais são as principais despesas na vossa exploração? PC: Sobretudo mão-de-obra e alimentação externa dos animais. AA: Consideram que recebem o preço justo pelos borregos? JLC: Neste momento o preço está favorável porque, desde o incidente do covid-19, abriu-se um canal de comercialização com países árabes a partir do porto de Cartagena, em Espanha. O preço não está nada mal – ronda os €78 por animal. Não sei se é justo mas em relação a outros anos não nos podemos queixar. Contudo, o

mercado não favorece estes animais de qualidade premium, até os penaliza porque como vêm diretos do campo sofrem um grande stress no barco pela mudança brusca de alimentação. AA: Fazem também comercialização direta? JLC: Estamos a tentar mas, curiosamente, em Espanha, que deve ser o primeiro produtor europeu de borrego, não existe a tradição de comer esta carne fora das épocas festivas do Natal e Páscoa. O mercado não pede e, por outro lado, a carne convencional apresenta uma competição muito forte a nível de preços. Se conseguíssemos abrir mercados em restaurantes e talhos onde o consumidor começasse a encomendar esta carne de erva, isso funcionaria. É exemplo disso o movimento que nos chegou através dos Estados Unidos da carne 100% de pasto. Já temos uma associação de produtores em Espanha chamada deYerba – La Carne de Pasto, da qual somos sócios fundadores. O caminho é por aí mas vai ainda muito devagar. AA: Como corre a vossa página de vendas on-line? JLC: Começámos recentemente 065

mas vai andando bem. Principalmente, comercializamos os produtos dos nossos porcos ibéricos de montanheira, tanto carne fresca como charcutaria e alguma carne fresca de borrego. Aqui ganhamos a margem do revendedor e isso pode merecer a pena mas exige muito trabalho de processamento, marketing e vendas que nós subcontratamos a especialistas. Seguimos o nosso estilo e vamos criando uma carteira de clientes fiéis que cresce desde do início em 2017. AA: Comercializam a lã? JLC: A lã não é um produto rentável, há anos em que não chega a pagar a tosquia. AA: Apostaram desde cedo numa componente pedagógica na vossa exploração – tiveram visitas de ilustres nomes do mundo da Agricultura Regenerativa como Allan Savory, Joel Salatin, Jairo Restrepo. Qual a importância para vós deste facto? JLC: Foi muito importante. Para nós, que estávamos a começar a ver este mundo, foi muito inspirador ter, por exemplo, o Joel Salatin que já leva quase 40 anos de caminho feito partindo de uma exploração tão degradada que nem sequer conseguia


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espetar os postes no chão. Prende-te muito o entusiasmo destas pessoas, a sua maneira de ver o mundo. A visita de Allan Savory ao Mundos Nuevos foi um orgulho imenso para nós, foi incrível! AA: Mundos Nuevos é uma quinta demonstrativa do aleJAB, o hub ibérico do Savory Institute. JLC: Sim, criou-se esse satélite do Savory Institute na Península Ibérica dos quais também somos sócios fundadores. Temos gente que vem aqui fazer monitorização de parâmetros. É uma forma de estarmos ligados a uma rede que permite não estarmos isolados. É uma espécie de comunidade de produtores que usam as mesmas práticas. AA: Analisando casos de sucesso de transição para a agricultura regenerativa por esse mundo fora, verificamos que em muitos casos esta transição foi feita em desespero de causa por produtores que estavam sem nenhum outro tipo de alternativas, quer seja pela queda das ajudas estatais à agricultura quer por mudanças drásticas nas condições de mercado ou devido às alterações climáticas. É possível fazer uma transição profilática consciente antes de se estar "com a corda ao pescoço"? JLC: As mudanças são sempre difíceis e complexas. Levam-te a sair da zona de conforto – ainda que esta não seja nada de especial, mas é o que tu conheces, o trabalho que tens feito e mudar não é fácil se não houver uma razão. O normal é que seja a necessidade – por exemplo financeira — que leva à mudança. O ideal seria que as pessoas se dessem conta, antes da catástrofe, de que estão a perder solo fértil, mas isso não é nada fácil. AA: Em Espanha existem já algumas associações de apoio à Agricultura Regenerativa como a Associación Iberica de Agricultura Regenerativa, a aleJAB, a Actyva S. Coop, etc... Sentem o apoio necessário às vossas práticas? JLC: É impressionante o que essas associações conseguem fazer com os poucos meios de que dispõem. São ainda de pequena escala. Vejo que agora com a ajuda europeia de, por exemplo, os projetos LIFE cria-se possibilidade de ter orçamento. Toda a ajuda é importante. AA: A Agricultura é mais excitante agora para vós. Estão mais

apaixonados pelo que fazem? JC: Muito mais! Agora estamos na Dança da Vida, estamos a compartilhar território com muitos mais habitantes não humanos da nossa zona e isso é muito estimulante. Ir pisando o solo e ver quem habita nele, e o que pode estar a fazer sem pedir nada em troca. Nos últimos 6 anos percorri mais terreno a pé na minha exploração do que no resto da minha vida. O ar livre, o contacto com o solo – sentir se está mais duro ou mais húmido, mais quente ou mais frio. Isso no tractor, com o ar condicionado e o rádio ligados, janelas fechadas é impossível de perceber – estás totalmente desligado. Assim é muito mais estimulante – sentes-te parte do sistema – do ambiente. É muito bonito! AA: Se quando começaram soubessem o que sabem agora, o que fariam diferente? PC: Teríamos tido mais cuidado com alguns passos mais precipitados que demos, levados pelo entusiasmo quando descobrimos tudo isto. Por exemplo, em relação ao que falámos sobre o equilíbrio entre a condição corporal dos animais, o tipo de pastoreio e o solo; algumas vezes o rebanho foi-se um pouco abaixo e tivemos diminuição dos partos. Acho que faríamos as mudanças mais devagar, testaríamos em pequena escala e iríamos pouco a pouco. Mas as coisas são assim mesmo, há uma curva de aprendizagem para cada um. AA: E o que fariam igual? PC: Igual, claramente, a abordagem ao tema da importância da água e de ter o solo coberto. Isso continua a ser prioritário na nossa opinião. JLC: A mudança para esta abordagem, que passa de uma estratégia de fertilização para uma que funciona a energia solar, independentemente dos erros que por vezes se possam cometer. Isso é normal, é a aprendizagem. Aumentar a biodiversidade e melhorar o solo são objetivos inquestionáveis. AA: Para terminar, digam-nos algo que desejariam que todos os produtores de gado soubessem mas que não é do conhecimento geral. PC: Não sei até que ponto estamos conscientes da deterioração dos nossos solos em geral e das implicações catastróficas desse facto a nível mundial. A rotina da agricultura convencional dificulta esta tomada de consciência. JLC: Quando estamos muito perto das 066

coisas, às vezes perdemos a perpectiva. Mesmo quando olhamos todos os dias para elas. Como quando lavras com o tractor e vêm todos os pássaros a comer a bicharada que está no solo. O modelo atual da agricultura convencional, que separa a parte vegetal, dependente de imensos aportes externos da animal, acaba a produzir resíduos e a poluir, leva à dissociação. Os resíduos de uns são a comida de outros – não se pode dissociar. Na Natureza há imensa riqueza e optimização de recursos e sinergias várias. O modelo vigente atual não pode durar muito tempo tanto pelos gastos energéticos como pela criação de desperdício. PC: Gostaria de complementar dizendo que o sistema agrícola industrial, que parece que é muito eficaz, que produz muito, que dá de comer a muita gente tem gastos ocultos enormes que não se consideram, nomeadamente a contaminação de aquíferos e a extinção de muitos seres vivos, e que não se refletem no preço dos produtos. Envenenamo-nos constantemente pela água, ar e comida. Isso é difícil de quantificar e está vinculado a este modo de produzir. É uma questão a que se presta pouca atenção, mas para mim é uma verdade suprema! Nuno Marques (NM): Desde que mudaram para o sistema regenerativo, se as vossas ovelhas falassem o que diriam? PC: Acho que estão mais felizes: passam mais tempo no campo fazendo o que lhes dá mais prazer que é pastar. Antes havia muitos comedouros e muita competição pela comida. Agora, muito menos – acho que este sistema está mais de acordo com a sua natureza apesar de ainda termos de suplementar alguma coisa. Acho que nos agradeceriam! JLC: Poderá haver uma ou outra ovelha, dependendo da genética, que está habituada ao comedouro, aos estábulos e não gosta de sair para o campo. As raças industriais de engorda passam muito mal quando são introduzidas ao campo. Mas a ovelha Merina, a raça de referência desta zona acho que nos agradece.

LINKS DE INTERESSE Mundos Nuevos https://mundosnuevos.es AleJAB http://www.manejoholistico.net Actyva S. Coop http://www.cooperactyva.org Agricultura Regenerativa Ibérica https://www.agriculturaregenerativa.es De Yerba https://www.lacarnedepasto.com


"Na Natureza é tudo uma sinfonia"

AGRICULTURA REGENERATIVA

DE QUEM É A MELHOR FORRAGEM?

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Silagem de erva

Silagem de milho

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Forragens emergentes


#43 | out. nov. dez. 2021

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EQUIPAMENTO | KUBOTA M6002

CHEGOU A PORTUGAL MAIS UM KUBOTA M6002

A NOVA SÉRIE M6002 DA KUBOTA, FABRICADA A PENSAR NAS NECESSIDADES DAS EXPLORAÇÕES AGROPECUÁRIAS, DISPONIBILIZA 3 MODELOS: M6122, M6132 E M6142, E EQUIPA COM MOTOR KUBOTA DE 4 CILINDROS 6108 STAGE V COM POTÊNCIAS DE, RESPETIVAMENTE, 121 CV, 131 CV E 141 CV. EM SETEMBRO A RUMINANTES TESTEMUNHOU A ENTREGA DE MAIS UM KUBOTA 6142, NA EXPLORAÇÃO DE CARLOS PADRÃO, EM MACIEIRA DE RATES, BARCELOS. POR Ruminantes | FOTOS NM

O

primeiro trator Kubota da série M6002 — o modelo M6142, entregue em Portugal, foi para Macieira de Rates, em Barcelos. Na exploração de Carlos Padrão, é também o primeiro trator da marca Kubota a entrar. As razões da escolha, como nos disse, foram três: “gosto do trator,

tem uma excelente relação qualidade preço e o agente da marca trabalha bem”. Recebeu o trator há 2 meses e tem-no utilizado principalmente para trabalhar com a cisterna que “cheia representa cerca de 16 toneladas” e em trabalhos de campo como a lavoura e a sementeira. Da experiência que tem, destacou os seguintes pontos: 068

- a manobrabilidade que classifica como “muito boa”: “tem um excelente raio de viragem, que é muito importante para este tipo de vacarias, em que todo o espaço faz falta. O sistema de direção Bi-Speed, com que vem equipado, permite trabalhar sem problemas nestes espaços muito pequenos com um trator

deste tamanho e a cisterna. O raio de viragem é efetivamente muito curto.” - a cabina: “grande visibilidade, com todos os comandos com acesso muito fácil”. - a independência do depósito de combustível: “o depósito é grande, tem cerca de 230 litros, o que evita estar a pôr muitas vezes gasóleo.”


Chegou a Portugal mais um Kubota M6002

EQUIPAMENTO | KUBOTA M6002

A nova série M6002 da Kubota oferece 3 modelos: M6122, M6132 e M6142 Equipa com motor de 4 cilindros 6108 Stage V com potências de, respetivamente, 121 cv, 131 cv e 141 cv com um acréscimo de potência de 20 cv adicionais para operações de transporte. Equipa com uma nova transmissão Powershift de 8 velocidades com ajuste progressivo. Possui o modo de transmissão automático para estrada e para campo, permitindo o bloqueio, dentro de um dos grupos de powershift, entre determinado número de velocidades, por exemplo, se não queremos que nunca baixe da 3 velocidade, podemos definir que só vai andar entre a 3ª e a 8ª velocidade. A função “rearranque Xpress” permite parar o trator sem ter que ir com o pé ao pedal da embraiagem, basta travar. Ao acelerar, volta ao andamento.

À

Revista Ruminantes, João Ricardo Ribeiro, responsável pelo serviço pós-venda e assistência técnica da Reptractor — empresa concessionária da marca nipónica — falou sobre as vantagens do novo Kubota M6142 para as explorações agropecuárias. Ruminantes: A Kubota define este trator como “o trator ideal para quem procura grande manobrabilidade, visibilidade, conforto e desempenho”. Porquê? João Ricardo: Tem um eixo frontal totalmente novo, especificamente desenhado para este modelo. Não tem um único cardan, as transmissões são todas internas e em banho de óleo. Assim, a única limitação de brecagem é a

069

O exclusivo eixo dianteiro Kubota garante a máxima manobrabilidade. Ao mesmo tempo, a direção Bi-Speed garante um raio de viragem extremamente curto. A partir de um ângulo de direção de cerca de 35°, a velocidade de rotação das rodas dianteiras é aumentada para maior agilidade.

própria chaparia do trator. Para além disto, a Kubota montou nesta série o novo sistema Bi-Speed como equipamento standard, que consegue um raio de viragem de 4,3 metros. Este sistema pode estar em modo activo/ ligado ou inactivo/desligado. Quando está ligado, a partir do momento em que as rodas da frente ultrapassam os 35º de ângulo de viragem, é acionado um mecanismo que duplica a velocidade destas rodas. Isso faz com que a frente do tractor se desloque para aquela direcção mais rapidamente e em menor espaço, resultando portanto numa redução do raio de viragem. - Tem uma capacidade de elevação de 7000 kg no elevador traseiro e 2000 kg no eixo dianteiro. Todos os modelos estão equipados com uma bomba hidráulica CCLS (Com Sensor de Carga de Centro Fechado) de série


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que garante uma direção suave ao trabalhar com carregador frontal em espaços confinados. Este sistema fornece 115 l/min de óleo para os distribuidores hidráulicos e para os elevadores dianteiro e traseiro. - Os carregadores frontais são completamente novos e fabricados em parceria com a MX, podendo ter configuração hidráulica ou mecânica. Estão disponíveis 2 modelos com diferentes alturas de elevação e capacidades de elevação. O joystick está muito bem posicionado controla todas as funções: - Speed link System (engate/ desengate automático) - Auto-level System (reposiciona o balde na posição préselecionada) - Auto Unload System (controlo simultâneo da garra e do balde). - Cabina muito ampla, de 4 pilares com 1,66 de altura equipada com um banco

Premium Grammer, com claraboia no tejadilho para dar visibilidade para o carregador frontal quando este está na altura máxima, e cortina párasol. - Painel LCD no tablier, com muita informação, como a posição de elevação do hidráulico traseiro, a rotação da tomada de força traseira, o cálculo de dimensão do rodado (bitola dos pneus). Também permite fazer os cálculos das áreas trabalhadas (áreas /hora; área total de trabalho; consumo por área de trabalho realizada, bastando para isso colocar a largura da máquina com que está a trabalhar. - No apoio de braço, temos os comandos das principais funções do trator (inversor; controle do hidráulico; ativador da caixa automática; ativação das memórias do regime do motor (2 memórias, A e B);

tomada de força electrohidráulica; acelerador de mão. Todas as principais funções estão na nossa mão. Levantando a tampa do apoio de braços, encontramos outros tipos de comandos como o controlo da caixa de velocidades (maior ou menor agressividade) da caixa automática na passagem entre velocidades do powershift); controlador de intensidade do arranque do trator ao inversor (maior ou menor agressividade); controlador de aceleração máxima do trator; controlador do batente de elevação máximo do hidráulico e da velocidade de descida; o ativador do modo de trabalho em estrada ou em campo, controlador de binário do motor; e o DHC (permite fazer o ponto de embraiagem como se fosse mecânica); ajuste de sensibilidade do automático para a lavoura.

No apoio de braço e por baixo da tampa, temos os comandos das principais funções do trator.

- Novo painel de luzes completamente redesenhado, com temporizador de estacionamento, tem 2 opções de 1 e 5 minutos de iluminação até desligar automaticamente. - Corte de corrente geral do trator, não permite que o trator desligue instantaneamente, apenas depois de todas as funcionalidades estarem terminadas. - Ajuste da suspensão frontal, no modo bloqueado, o normal (configurado por nós, em 3 níveis possíveis) e o automático (consoante o peso que está colocado no hidráulico frontal ele ajusta a sensibilidade correta ao terreno) - Novo ar condicionado de 4 velocidades, com mais ventilação.

João Ricardo Ribeiro, responsável pelo serviço pós-venda e assistência técnica da Reptractor.

João Ricardo Ribeiro (Reptractor), Paulo Vieira (Tractores Ibéricos), Carlos Padrão (dono da exploração), José Ribeiro (Reptractor), Bruno Pignatelli (Tractores Ibéricos).

070


Chegou a Portugal mais um Kubota M6002

EQUIPAMENTO | KUBOTA M6002

NUKAMEL YELLOW ALIMENTO SUBSTITUTO DO LEITE COMPLETO PARA VITELOS

Nukamel Yellow é um substituto do leite feito à base de soro de leite, solúvel em àgua, que contém leite em pó. O seu conteúdo elevado de proteína consiste numa combinação de soro e caseína, excelente para optimizar o desenvolvimento dos vitelos. Além disso, Nukamel Yellow é reforçado com imunoglobulinas, para potenciar a saúde dos animais.

Produto com elevado nível de proteção contra diarreias BENEFÍCIOS CHAVE ü Cuidadosa seleção dos ingredientes lácteos

RICO EM IMUNOGLOBULINAS PRIMEIRA LINHA DE DEFESA IMUNITÁRIA

ü Leite em pó desnatado: óptimo sabor- melhora a ingestão

ü Protecção contra patógenos entéricos

do leite com 90% de conteúdo lácteo

ü Identificação e neutralização das bacterias e vírus

ü Elevados níveis de nutrientes- alimentação intensiva ü Imunoglobulinas - melhoram a saúde dos vitelos ao nível do intestino

ü Fonte: proteína de soro de leite ultrafiltrada

Resultados equivalentes a um leite com 50% de leite em pó 16 0

COMPOSIÇÃO

CONST. ANALÍTICOS

14 0 12 0

Kg 10 0 80 60 40

Proteína Bruta

24,0%

Soro de leite em pó

Gordura Bruta

20,0%

Fibra

0,02%

Óleos vegetais e gorduras (palm/coco – 60/40)

Cinza Bruta

8,0%

Humidade

4,0%

pH Lactose

Semanas

Nukamel Yellow

Imunoglobulinas

Produto similar

Ácido lático Óleo de manteiga

071

5.8-6.3

Leite em pó Proteína de trigo hidrolisada Premix

42,5% 1500 ppm 0,8% 2500 ppm

Distribuido por: Plurivet - Veterinária e Pecuária, Lda; Rua Prof. Manuel Bernardes das Neves no-30 Loja 2070-112 CARTAXO Tel: (+351) 243 750 230, E-mail: geral@plurivet.pt


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EQUIPAMENTO | ROBOT DeLaval V 300

ROBOTS CHEGAM AO ENSINO PROFISSIONAL

PARA COLOCAR TECNOLOGIA DE PONTA À DISPOSIÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PROFISSIONAL TÉCNICO DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA , A ESCOLA PROFISSIONAL DE AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO RURAL DE PONTE DE LIMA ADQUIRIU, EM ABRIL, UM ROBOT DE ORDENHA DeLaval V 300. FOMOS ATÉ À ESCOLA, E FALÁMOS COM AMÂNCIO CERQUEIRA, DIRETOR DO ESTABELECIMENTO DE ENSINO, E COM OS TÉCNICOS RESPONSÁVEIS PELA ASSISTÊNCIA AO ROBOT. POR Ruminantes | FOTOS FG Que indicadores utilizam para perceber se a vacaria está a funcionar bem? As produções leiteiras e o estado de saúde dos animais. As produções esperadas são aquelas que, no mínimo, nos paguem os custos de produção e as amortizações do que investimos. Estamos com uma média diária por vaca de 32,6 litros e o objetivo é chegar aos 35 litros. Como comercializam o leite? Vendemos à Agros. Em abril deixaram a sala de ordenha convencional e

iniciaram a ordenha com robot. Porquê? Porque acreditamos que podemos melhorar a produção de leite e porque, em termos de futuro, este sistema das estações de ordenha robotizadas dá muita qualidade de vida a quem está a fazer as ordenhas. Como relaciona o robot com o bem-estar animal? É uma relação bastante positiva. Penso que deu qualidade de vida aos animais, as vacas habituaram-se rapidamente, vão naturalmente ao robot para serem 072

Amâncio Cerqueira, diretor da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Ponte de Lima, acredita que o robot trouxe vantagens, quer em termos de bem-estar animal, quer em termos de qualidade de vida dos trabalhadores.

ordenhadas. Claro que vão ao robot porque também lhe damos alguma coisa em troca, neste caso ração. O stress animal que existe na sala de espera e na entrada dos animais para a ordenha convencional, não existe no robot. O sistema de tráfego que temos é totalmente livre. Que equipamento têm? Porquê? Um robot de ordenha DeLaval V 300, com BCS (câmara de medição de condição corporal), OCC (laboratório de contagem de células somáticas) e Delpro


Robots chegam ao ensino profissional

EQUIPAMENTO | VACAS DE LEITE

SOBRE A ESCOLA

adaptaram-se muito facilmente à aplicação, é muito intuitiva. A versão que os funcionários utilizam permite exclusivamente a visualização, não permite fazer alterações. Isto dá um descanso muito grande para quem tem que começar e tem medo de errar, pois não permite “estragar” nada. Se, da observação dos dados, houver necessidade de alterar alguma coisa, pedem para alterar.

A Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Ponte de Lima (EPADRPL), criada em 1992, insere-se numa vasta propriedade agrícola. É uma escola profissional pública vocacionada para o desenvolvimento rural do concelho de Ponte de Lima e aualmente oferece cursos na área agropecuária, na de gestão equina e na de restauração/gastronomia. O Curso Profissional Técnico de Produção Agropecuária assume um caráter de extrema importância na qualificação do tecido empresarial da região, tendo como principal objetivo formar futuros técnicos. A exploração agrícola da EPADRPL encontra-se dividida em diferentes setores de atividades: bovinicultura, ovinicultura, suinicultura, avicultura e apicultura.

(programa que faz a gestão de toda a informação). Foi o equipamento que ganhou o concurso público realizado e que cumpriu melhor o caderno de encargos definido. De qualquer forma, enquanto gestor da exploração, essa teria sido a minha opção. Que sistema de ordenha tinham? Uma sala de ordenha em espinha, com capacidade para 6 animais. Quanto tempo levavam a ordenhar as vacas? Cerca de 5 horas por dia, para as 2 ordenhas. A instalação do robot foi em abril, estamos no final de setembro. Como tem corrido? Confesso que tive algum receio, tanto que mantivemos a sala antiga montada. Mas agora, passados estes meses, sinto que já podemos “destruir” a sala antiga, porque de facto há uma grande fiabilidade na utilização do robot. Acima de tudo, há um ponto fundamental que está a funcionar em pleno, que é a assistência ao robot. Quando recebemos alarmes

Tiveram quebras de produção? E na qualidade do leite? Nunca tivemos quebra de produção de leite, e rapidamente superámos a que tínhamos. Relativamente à qualidade do leite, diminuímos bastante a CCS.

a meio da noite de problemas que não conseguimos resolver, a assistência da Harker vem de imediato. A qualidade da assistência e a celeridade são fundamentais neste negócio. Como fizeram a transição de um sistema para o outro? Como tínhamos tempo, optámos por passar as vacas, durante 30 dias, pelo robot apenas para comerem ração. Para as vacas de primeira lactação é muito fácil, elas entram, e como nunca foram ordenhadas encaram muito bem o braço do robot. As outras, de início estranharam, porque estavam habituadas à voz do tratador e a serem massajadas. Hoje, estão praticamente todas adaptadas, só 2 ou 3 vacas mais velhas é que ainda precisam de ser levadas para o robot. O que mudou na rotina das pessoas? Na brincadeira, diria que agora as pessoas não precisam de cá vir, apenas têm que estar de serviço. Têm a aplicação do robot e observam os alarmes para ver se há vacas a “vermelho”. As pessoas

Quantas ordenhas por vaca e dia têm? Nunca estivemos abaixo das 2. Hoje, temos 2,8. Temos uma regra implementada segundo a qual as vacas só podem ser ordenhadas num intervalo igual ou superior a 8 horas, ou seja, não podem fazer mais de 3 ordenhas/dia. Muito em breve teremos 55 ou mais animais em ordenha, e todas as ordenhas têm que ser rentáveis, porque têm sempre um custo associado (iodo, energia na bomba de vácuo...). Como referência não devemos ter ordenhas com menos de 13 kg, embora a regra do potencial máximo do número de ordenhas deva ser sempre um compromisso entre o efetivo que se tem e a produção de leite esperada. Ou seja, eu sei que quantas mais vezes o animal for ao robot, mais leite terei, mas a pergunta é: vale a pena? Decidiram melhorar a genética por causa do robot? Decidimos refugar animais porque quisemos melhorar o nosso potencial genético. Tínhamos animais com médias de 25 litros dia, hoje temos perto de 33 litros. Este melhoramento foi feito com a compra de animais, tendo em vista o bemestar animal, a longevidade e a produção leiteira. Também

073

adquirimos alguns animais muito bem conformados, para permitir aos nossos alunos participarem em concursos pecuários. Como é difícil conciliar os dois interesses, temos como que 2 linhas genéticas na exploração. Analisa o investimento no robot pelo leite ordenhado ou por vaca? O robot tem potencial para ordenhar 3000 a 3500 kg de leite por dia. Mas isto depende muito do fluxo de leite das vacas, se é rápido ou não. Este robot, além de conhecer todas as vacas, tem a função de pulsação inteligente. Assim, gere a relação entre o tempo que está a tirar leite (de 60 a 70%) e a massajar (40 a 30%). Há vacas que precisam de mais pré-massagem ou estimulação que outras. A ração que dão no robot é especial? Sim, tem que ser granulada e mais densa, dura e sem pó. E os ingredientes têm que ser mais apetentes. Quando começaram a dá-la? No robot. Não fizemos período de adaptação, quando terminou a ração “convencional” que tínhamos na exploração e que estávamos a dar no período de adaptação ao robot, passámos para a nova ração. O custo alimentar, antes do robot e agora, é igual? O custo mensal manteve-se, mas como passámos a produzir mais leite, penso que hoje o custo da alimentação por litro de leite baixou. O futuro da produção de leite, na região norte, passa pelos robots? Não tenho dúvida que sim. E estou certo de que se os alunos se habituarem a trabalhar com o robot, estarão preparados para trabalhar com qualquer tipo de ordenha. A nossa escolha deveu-se a isso.


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EQUIPAMENTO EXTRA Acerca dos extras instalados no robot DeLaval V 300, falámos com os técnicos assistentes da Harker, Ana Paiva e Carlos Manuel. BCS (Body Condition Score) – Câmara de medição da condição corporal Ana Paiva: O animal é identificado quando entra na estação de ordenha. É esta identificação que é utilizada na fotografia (imagem técnica em 3D) que é gerada quando o animal sai do robot e passa na zona da câmara. Com esta imagem e com a utilização de um algoritmo, o BCS faz a medição da condição corporal. A classificação passa para o Delpro, e aí é possível consultar quer a nível individual a evolução da classificação da condição corporal ao longo do ciclo de lactação, quer a nível do efetivo a posição do animal em relação aos outros animais do efetivo.

As medições são feitas sempre que o animal vai ao robot e estes dados ficam disponíveis no Delpro. Na prática, a leitura desta importante informação é muito simples. A classificação BCS é de 1 a 5. O programa assinala a linha ideal da classificação que os animais deveriam ter em cada momento da lactação, e também o intervalo adequado admissível com o valor máximo e mínimo. Graficamente aparece o ponto ideal, o máximo, o mínimo desejável e o valor do animal em análise. Portanto, desde o primeiro dia em que o sistema começa a funcionar, podemos perceber como está o efetivo em relação ao teórico/esperado. O programa também dá a informação da variação da classificação de cada animal, chamando a atenção, com alertas, se os valores variaram e quanto variaram. As informações fornecidas pelo BCS permitem suplementar/ corrigir nutricionalmente os animais que não estão a

conseguir manter-se dentro do intervalo definido como ideal para a condição corporal em cada fase da lactação, quer seja por excesso ou por deficit. Esta correção pode ser feita pela quantidade de ração fornecida no robot. O valor do investimento são cerca de 4000€. A licença de utilização e as atualizações estão incluídos no preço, não existem custos anuais de manutenção. OCC – Laboratório de contagem de células somáticas Carlos Manuel: Trata-se de um verdadeiro laboratório que faz a contagem exata das células somáticas no leite. As análises são feitas de acordo com o programa de análises que definimos. Esta definição pode estar relacionada com a condutividade detetada durante a ordenha, ou seja, sempre que a condutividade de um animal esteja fora dos parâmetros normais (valor alto), o robot dá instruções para se fazer uma

análise com OCC. Mas também podemos, caso desconfiemos de algum animal, dar instruções para analisar o leite desse animal em todas as suas ordenhas. A fiabilidade dos resultados é de 100%, já que se trata de um verdadeiro laboratório, ao contrário do que acontece com alguns robots no mercado que relacionam as medições de condutividade com a contagem de células somáticas através de uma tabela de equivalências. O custo deste laboratório é cerca de 9000 euros, tendo que haver um OCC por robot. Se se tratar de uma vacaria que costuma ter problemas frequentes com CCS, a amortização é rápida, porque evita que o leite vá para o tanque e provoque penalização na classificação do leite. Se é uma vacaria sem problemas, talvez este investimento possa não fazer sentido. O custo médio dos reagentes ronda os 30€ por vaca e ano, dependendo do programa de análises do produtor.

A equipa responsável pelo funcionamento do robot. OCC – Laboratório de contagem de células somáticas. As análises são feitas de acordo com o programa de análises definidos. Os resultados têm uma fiabilidade de 100%.

BCS (Body Condition Score) – Câmara de medição da condição corporal. As informações fornecidas pelo BCS permitem suplementar/corrigir nutricionalmente os animais que não estão a conseguir manter-se dentro do intervalo definido como ideal para a condição corporal em cada fase da lactação.

074


Robots chegam ao ensino profissional

EQUIPAMENTO | VACAS DE LEITE

O seu bem-estar, a sua rentabilidade O Programa Prima da Nanta é um programa de recria que melhora a rentabilidade das explorações através do bem-estar das vitelas. O Prima trabalha em quatro conceitos essenciais para o bem-estar dos animais: o colostro, a lactação, o desmame e os cuidados a ter com o ambiente, a saúde, o maneio, a higiene e o contexto social. O nosso programa oferece benefícios comprovados para o agricultor: maior desenvolvimento das vitelas, melhoria do seu sistema imunitário, redução do stress no desmame, antecipação da primeira inseminação e da idade do primeiro parto, mais produção de leite e maior vida produtiva da vaca.

Com o Prima as vitelas são mais felizes e o agricultor também.

nanta@nutreco.com

www.nanta.es/pt/profissional/programa-prima/ 075


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"Estou muito contente com a compra do Lely Discovery Collector 120. As vacas habituaram-se bem e encontram-se mais calmas." (Filipe Vendeiro, produtor)

Rodo mecânico

BEM-ESTAR ANIMAL | VACAS DE LEITE

SISTEMAS DE LIMPEZA PARA EXPLORAÇÕES PECUÁRIAS UM PISO LIMPO E SECO NO ESTÁBULO RESULTA EM MENOS ESTRUME NOS CUBÍCULOS, E EM CASCOS, CAUDAS E ÚBERES MAIS LIMPOS. DESTA FORMA PREVINEM-SE INFEÇÕES RELACIONADAS COM A HIGIENE, PROMOVENDO-SE O COMPORTAMENTO NATURAL E SAUDÁVEL DAS VACAS. POR Joana Tomás, Responsável de FMS (Farm Management Support), Lely Center V.N.Gaia, e-mail: atomas@alteiros.pt

A

s vacas leiteiras saudáveis oferecem uma produtividade ótima e requerem menos atenção. É frustrante que a mastite, a redução da fertilidade e os problemas de saúde dos cascos continuem a ser as três principais razões para o abate nas explorações leiteiras. Um piso limpo e seco mantém os pés, pernas, úberes e caudas mais limpos e ajuda a inibir o crescimento de bactérias, reduzindo os problemas podais e melhorando a saúde do úbere. • Saúde do úbere A mastite é um problema de saúde comum do úbere, causado por bactérias que penetram no úbere e levam posteriormente a uma infeção. Uma boa higiene é particularmente importante para inibir o crescimento de bactérias. Um piso limpo e seco impede as vacas de levar estrume para as camas, reduzindo o potencial de infeção. • Fertilidade As vacas sentem-se mais confortáveis para expressar o seu comportamento natural quando os seus pés estão saudáveis e o chão não é escorregadio. Isto facilita a deteção de vacas em cio, permitindo reduzir o intervalo entre partos.

• Saúde dos cascos Cascos saudáveis são importantes para uma vaca se deslocar livremente e fazer o que quiser: descansar, comer, beber ou ser ordenhada. Estima-se que em 80% das explorações de leite as vacas sofram de distúrbios nos cascos, ao longo de um ano. Estes distúrbios podem resultar em vacas aleijadas e em perdas económicas associadas. TIPOS DE PISO A escolha do tipo de piso é um fator importante na exploração, uma vez que as vacas podem desenvolver comportamentos de aversão em resposta aos pisos que lhes causem dor ou desconforto. O piso de uma exploração deve reunir condições para que as vacas caminhem de forma segura, evitando o medo de cair ou escorregar. Os pisos mais utilizados nas explorações são os pisos de cimento ripados ou os pisos lisos de cimento. Menos utilizados são os pisos com materiais de borracha (tabela 1). Uma má opção de piso pode acarretar sérios problemas para a saúde e o bemestar das vacas. O piso utilizado pode influenciar a saúde do casco, assim 076

como prejudicar a locomoção das vacas e influenciar a manifestação do comportamento de cio. A claudicação surge como causa de dor e desconforto em vacas de produção intensiva de leite, manifestando-se como um dos maiores problemas nas explorações. SISTEMAS DE LIMPEZA DO ESTÁBULO Existem vários mecanismos de limpeza que podem ser utilizados nas explorações, tais como os rodos mecânicos, o trator e os sistemas automáticos de limpeza do estábulo. • Rodos mecânicos Este tipo de sistema de limpeza é eficaz, mas pode magoar os animais que estão no local por onde o rodo está a passar, pelo que deve ser utilizado em períodos em que não estejam muitos animais, para evitar que as vacas se desloquem sobre a “onda” de dejetos. Da mesma forma, a limpeza com recurso ao trator pode ter as mesmas limitações. O ideal é que estes sistemas sejam utilizados quando as vacas não estão presentes, para que o trator ou o rodo possam passar e limpar os corredores corretamente.


Sistemas de limpeza para explorações pecuárias

BEM-ESTAR ANIMAL | VACAS DE LEITE

PISOS DE CIMENTO

PISOS DE BORRACHA

Prós

Contras

Prós

Contras

Baixos custos de implementação

Menos confortáveis

Mais confortáveis

Altos custos de implementação

Menos vacas deitadas nos corredores

Mais abrasivos e/ou escorregadios

Menos escorregadios

Mais vacas deitadas nos corredores

Maior desgaste e problemas nos cascos/patas

Menor desgaste e problemas nos cascos/patas

O percurso do rodo é realizado ao longo do corredor e finaliza na fossa ( fim do corredor) onde é descarregado o estrume recolhido. • Sistemas de limpeza automáticos Os sistemas de limpeza automáticos permitem uma limpeza regular do chão, inibindo o crescimento de bactérias e mantendo os cascos, úberes e caudas mais limpos. Isto não só aumenta a saúde dos cascos, como também contribui para a produtividade geral do rebanho. Os sistemas automáticos de limpeza do estábulo limpam o estrume 24 horas por dia, 7 dias por semana. O robot de limpeza de estrume, totalmente automatizado, atinge todas as partes do estábulo, melhorando claramente a higiene do chão, cubículos e animais. A raspagem diária do estrume deixa de ser necessária com os sistemas de limpeza automáticos. As rotas de limpeza e a frequência podem ser configuradas para corresponder ao ritmo do utilizador ou ao ritmo diário das vacas, tornando as coisas o mais simples possível. O programa pode ser ajustado com facilidade através do smartphone.

Pode escolher o robot de limpeza que melhor se adequa à sua vacaria. Existindo um específico para pisos ripados e outro para pisos lisos. Este último em comparação com os raspadores de estrume tradicionais, não empurra o estrume, mas aspira-o, fazendo com que a acumulação de estrume seja coisa do passado (Quadro 2). CONCLUSÃO Os estábulos são instalações que, devido à grande concentração de animais, são suscetíveis ao aparecimento de insetos e bactérias que podem provocar doenças nos animais e nos seus tratadores. Por estas razões, é necessário realizar uma limpeza minuciosa e regular a todo o estábulo desde o pavimento, paredes, bebedouros, comedouros, camas, entre outros, seguindo determinadas normas e procedimentos, de modo a oferecer as condições de higiene necessárias para assegurar a saúde e o bemestar dos animais e das pessoas, e garantir uma produção de qualidade. É importante que exista um mecanismo adequado de limpeza do estábulo para a remoção do estrume, para que os animais não estejam em constante contacto com a sujidade.

Pisos sujos e escorregadios são propensos a problemas de saúde, quedas e lesões. Vacas que se encontram em ambientes limpos e secos têm menos probabilidade de desenvolverem problemas de saúde. Uma boa higiene também passa pelo mecanismo de limpeza que se utiliza na exploração. É preciso ter atenção ao mecanismo utilizado e ao tipo de piso existente, pois muitas vezes os meios de limpeza podem desintegrar ou mudar as características das superfícies — uniformidade, dureza, fricção —, tornando-as mais abrasivas ou escorregadias. Sabe-se que um piso limpo e seco do estábulo resulta em menos estrume e em cubículos, cascos, caudas e úberes mais limpos, prevenindo infeções relacionados com a higiene e promovendo o comportamento natural e saudável das vacas. Isto facilita a deteção de cios, permitindo reduzir o intervalo entre partos. Cascos e úberes saudáveis contribuem significativamente para uma exploração leiteira economicamente rentável e um aumento da produtividade das vacas.

TABELA 1 ESPECIFICAÇÕES COMPARATIVAS DISCOVERY S90 E DISCOVERY COLLECTOR 120 Peso (kg)

DISCOVERY S90

DISCOVERY COLLECTOR 120

300

390 (peso máximo aprox. de 750)

Motorizado por

2 motores elétricos

2 motores elétricos

Determinação de direção

Roda multidirecional, giroscópio e ultra-som

Roda multidirecional, giroscópio e ultra-som

Piso

Piso ripado com um máx. de 3 graus de inclinação

Piso liso com um máx. de 3 graus de inclinação

Capacidade de limpeza máxima

240 vacas

500 m2 com 100 vacas, intervalo de limpeza recomendado de 2 horas

Capacidade deposito de água

-

70 litros

Consumo médio de energia

0,05 kWh por dia

125 W, 3 kWh por dia

077


#43 | out. nov. dez. 2021

REVISTA RUMINANTES

OBSERVATÓRIO DAS MATÉRIAS-PRIMAS

VISÃO OU ALUCINAÇÃO? Por João Santos; Fonte USDA s&d, relatório de março

O QUE FAZER Helmut Schmidt, o antigo chanceler da Alemanha, dizia que quem tem visões devia ir ao médico. O panorama para o preço das matérias primas continua a ser de preços altos, ao que agora se soma o preço da energia elétrica. O preço da eletricidade no mercado ibérico há 6 meses andava à volta de 45€/ MWh e agora está em cerca de 180€/MWh, e sem perspetiva de descer. Esta subida deve-se ao mercado de licenças de emissão de CO2, onde o CO2 estava nos 20€/tm e passou para os 60 e muitos. Soma-se o preço do gás natural, que tem subido, e o facto das centrais a carvão estarem a ser descomissionadas um pouco por toda a Europa. Para ajudar à festa, as energias renováveis por si só não têm capacidade de abastecer o mercado, em particular quando o vento não sopra, é noite ou não chove. Este corolário de eventos levou o mercado elétrico para este patamar de preço inimaginável há um par de meses. No meio disto tudo, não sei se opinar sobre o futuro será um exercício de visão ou de

alucinação, no entanto, a receita passará seguramente por cada um fazer uma análise fria da sua condição competitiva (custo fixos e variáveis), e ver se consegue ser competitivo em relação aos seus concorrentes, nacionais e internacionais. Em termos de compras a futuro de matérias primas, todo o mundo, com poucas exceções, não tem compras a diferido. O que o mercado nos está a dizer é que, com os preços atuais do leite, da carne e das matérias primas, teremos uma conta de resultados difícil de gerir no final do mês. Assim se, após uma análise à nossa posição competitiva, a conclusão for que estamos mal posicionados em termos de custos fixos e variáveis de produção, se não houver possibilidade de os baixar de forma célere, e estando a situação atual do mercado de matérias primas para se manter durante os próximos semestres, temos que pensar se vale a pena continuar a queimar dinheiro, ou se é melhor mudar de vida antes que seja tarde. O remédio para

a situação atual passa por uma de duas vias: destruição da procura de matérias primas para que estas baixem e/ou que subam os preços dos produtos (leite e carne), via menor oferta destes, vs. a procura atual. Dito isto, vamos ver então o que se está a passar na soja e no milho. PROTEÍNAS Até se está a tornar aborrecido falar da farinha de soja em Lisboa, uma vez que nos últimos 8 meses não sai da banda dos 380-400€/tm. Não estando barata, em relação aos cereais está oferecida. Os stocks finais mundiais estão numa situação confortável, tendo recuperado ao longo deste ano, com uma ligeira diminuição da importação de soja pela China e pela excelente colheita no Brasil (de 137 milhões de toneladas). É verdade que a falta de volatilidade no preço em Euros/tm em Lisboa, não reflete o que se passou no mercado a montante, uma vez que muito se passou. Assim, no mercado de fretes numa base de reposição da farinha Argentina, que foi/é a farinha 078

mais barata, durante todo este ano, o frete passou de cerca de 20€/tm para valer 40€/ tm. Uma vez que o mercado de fretes está em fogo, devido aos estímulos económicos que a China e os EUA estão a fazer para relançar a suas economias no pós-covid, comprando quantidades enormes de minério de ferro, carvão metalúrgico e térmico ao Brasil e à Austrália, os fretes nos navios graneleiros estam altíssimos. Estes 3 produtos representam 90% do mercado dos navios graneleiros. Depois, tivemos os prémios da farinha Argentina que estavam negativos e passaram a positivos, estando hoje sobre os 20$/tm. No sentido contrário, tivemos os futuros de Chicago e o Euro/Dollar que passou de 1,22 para 1,16. O que podemos esperar em relação aos preços da soja? Esta colheita que se está a apanhar nos EUA espera-se boa, pelo que juntamente com a boa colheita brasileira e os stocks nas mãos dos agricultores argentinos, o mercado deverá manter-se suficientemente abastecido para fornecer o


Visão ou alucinação?

OBSERVATÓRIO DE MATÉRIAS-PRIMAS

mercado chinês que se espera que continue a aumentar o seu consumo, (112,5 milhões de tm em 20/21 vs 117,7 em 21/22). Apesar dos brotes de Peste Suína Africana, que persistem, o número de suínos na China recuperou para os níveis antes da pandemia de 2018-19, ao que há que acrescentar o aumento de produção de aves e aquacultura. Chicago também regrediu um pouco nos preços, uma vez que a Administração Biden tem feito saber ao mercado da intenção de reduzir os mandatos de biodiesel e etanol de modo a aliviar a escalada que se estava a viver no complexo da soja e do milho nos EUA. A farinha de girassol ainda acaba por ser hoje uma alternativa barata versus outras oleaginosas, estando sobre os 210€/tm. Enquanto a colza,

isto acrescentarmos que os EUA chegaram a esta colheita com um nível muito baixo de stocks e que o Brasil teve uma Safrinha muito pequena, entraremos em 21/22 com o Brasil sem milho para exportar e com o milho dos EUA o mais caro na Europa, em parte devido aos direitos de importação impostos pela EU, que ainda estão em vigor pela guerra comercial. Assim, o milho mais barato que temos é o ucraniano, que tem que chegar até agosto de 2022. A cevada e o trigo também com preços altos, acima dos 270€/tm, e assim se espera que fiquem até à nova campanha.

devido a escassa colheita no Canadá, continua muito cara, e a pouca disponível na Europa, não permite que os preços da farinha desçam dos 290€. CEREAIS Os preços do milho nos portos nacionais estão claramente acima dos 250€/tm, e assim se espera que fiquem até à chegada do milho brasileiro em agosto de 2022. Cerca de 20€/tm da subida de preço, em relação ao que tínhamos em mente de preços antigos, está relacionado com o mercado de fretes de navios, tal como se passa na soja. Outra parte está relacionada com as importações de milho pela China, que se esperam que continuem ao mesmo ritmo que vimos em 20/21, ou seja, +/- 30 milhões de tm, para um país que pouco importava há dois anos. Se a

CONCLUSÃO Está tudo caro, as únicas coisas que estão baratas são a carne e o leite! O que o mercado terá que fazer é aquilo que comentámos ao

início deste texto. No caminho haverá seguramente a tentação de alguns países destorcerem o mercado via subsídios ou direitos de exportação, como é o caso da Rússia, que impôs 50€ (e fala-se que vai aumentar para 70€) os direitos de exportação para o trigo. Estas intervenções estatais, embora possam aparentemente trazer algum alivio a alguns, acabarão por agudizar o problema no médio prazo, e em particular prejudicar os países mais pobres que não têm recursos para subsidiar a pecuária/alimentação. Resta-me deixar uma nota de esperança. Após os ajustes, esta tormenta acabarão por passar e a agropecuária acabará por recuperar uma rentabilidade sustentável para continuar a alimentar-nos e a dar trabalho e riqueza ao interior do país. Despeço-me com amizade.

COLHEITAS MUNDIAIS Milhões de tn

14/15

15/16

16/17

17/18

18/19

19/29

20/21

21/22

Produção mundial

319,0

312,80

351,40

342,09

360,30

339,00

363,3

384,4

Stock finais

77,6

76,60

96,00

98,56

111,88

96,04

95,08

98,89

24%

27%

27%

29%

31%

28%

26%

26%

Produção Mundial

1008,80

961,90

1070,20

1076,20

1123,30

1116,50

1117,1

1197,8

Stock finais

208,20

210,90

227,00

341,20

320,80

303,10

297,6

297,6

21%

22%

21%

32%

29%

27%

25%

25%

Soja

Milho

Fonte USDA s&d, relatório de setembro.

079


#43 | out. nov. dez. 2021

REVISTA RUMINANTES

OBSERVATÓRIO DO LEITE

RETROSPETIVAS E DESAFIOS

CHEGADOS AO ÚLTIMO TRIMESTRE DO ANO, É TEMPO DE RESPIRAR FUNDO E PENSAR COM ORGULHO NOS DESAFIOS ULTRAPASSADOS ESTE ANO, MAS, ACIMA DE TUDO, OLHAR PARA A LINHA DO HORIZONTE E PARA O QUE 2022 E OS PRÓXIMOS ANOS NOS TRARÃO. A VACINAÇÃO EM LARGA ESCALA TROUXE COM ELA UM GRADUAL REGRESSO À NOVA NORMALIDADE, SENDO A ABERTURA DAS ESCOLAS, RESTAURANTES, TURISMO E EVENTOS PÚBLICOS UMA VERDADEIRA LUFADA DE AR FRESCO PARA OS SETORES ALIMENTARES. Por Joana Silva, Médica Veterinária | Fontes AHDB, BDayry, Depto. Agricultura, Água e Ambiente da Austrália, Einpresswire, Feed Strategy, Rabobank, USDA

F

azendo a retrospetiva do ano, entre janeiro e julho de 2021 registou-se um aumento de 2,3% na produção leiteira nos Estados Unidos e um decréscimo de 0,1% a nível europeu. O incentivo para muitos produtores europeus é baixo, relatando-se maiores custos de produção. Na primeira metade do ano, foram enviados mais animais europeus para refugo do que no período comparável de 2020. Na Oceânia, onde se prepara o início de uma nova temporada produtiva, o arranque deverá ser com o pé direito, fruto dos pastos verdes e dos preços apetecíveis. Na Austrália, graças à forte procura, os preços médios pagos ao produtor poderão crescer na casa dos 7% na temporada 2021/2022. Na América do Sul, o crescimento do setor deverá ser limitado pelo clima instável e pelo aumento dos custos de produção. Para o resto do ano, o panorama será modesto em termos de crescimento, e será a procura o principal fator

determinante da evolução dos preços do mercado. São apontados três fatores que poderão estrangular o crescimento do setor nos próximos meses: a redução das importações chinesas, a stockagem em massa devido aos constrangimentos logísticos sentidos a nível global e a possibilidade de futuros confinamentos devido à pandemia. As importações por parte da China, fortemente influenciadoras dos mercados mundiais, poderão começar a registar um abrandamento ainda este ano, fruto da conjugação do aumento da produção leiteira e dos stocks atuais. Beber leite chinês continua a pesar mais na carteira. No primeiro semestre de 2021, a recuperação dos efetivos suínos do surto de Peste Suína Africana levou a uma maior procura de cereais, o que resultou num aumento dos custos alimentares das explorações leiteiras e, consequentemente, do preço interno do leite, na ordem dos 15%.

De acordo com o Rabobank, o fecho do ano registará um aumento global da produção leiteira nas sete regiões-chave — Europa, Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália, Brasil, Argentina e Uruguai — na ordem dos 1,1%, valor inferior aos 1,6% registados em 2020. Apesar da previsão de ligeiro abrandamento do setor neste último trimestre, a transição para 2022 deverá ser em força comparativamente ao mesmo período do ano passado. Em 2022, a produção global de leite deverá crescer, impulsionada maioritariamente pelos Estados Unidos e Nova Zelândia, com aumentos mais modestos na Austrália e Europa. A nível logístico, as disrupções no comércio internacional, nomeadamente a nível do aumento generalizado dos custos de produção e transporte, ainda não parecem ter afetado significativamente a satisfação da procura, algo que, no entanto, poderá vir a acontecer a médio e longo prazo. Para o próximo ano, e no futuro próximo, foram

080

já identificadas algumas tendências apontadas para o sucesso do setor, bem como as principais ameaças, as quais detalharemos abaixo. A sustentabilidade da produção leiteira e a redução da sua pegada de carbono, das quais tanto falamos, encabeçam a lista. De acordo com a FAO, a produção pecuária é atualmente responsável por 14,5% das emissões de gases de efeito de estufa, 30% dos quais diretamente atribuídos à produção leiteira. Grandes companhias internacionais, como a Nestlé, estão a implantar estratégias para anularem a sua pegada de carbono até 2050. Tendo em conta a gravidade das alterações climáticas, será de todo natural que sejam exigidas à produção primária medidas concretas e eficazes para uma produção mais sustentável e viável a longo prazo. A volatilidade dos preços do leite continuará a ser uma preocupação, com o caos gerado pela pandemia a expor as fragilidades da cadeia de produção. A contribuir para


Retrospetivas e desafios

OBSERVATÓRIO DO LEITE

esta volatilidade estão também as trocas comerciais globais, não só a nível de produtos lácteos, mas também no que diz respeito a matérias-primas como os cereais. Se a China começar a “fechar a torneira” das importações, novos constrangimentos decerto surgirão. As características dos efetivos leiteiros também deverão mudar nos próximos anos, com uma tendência de aglutinação de efetivos pequenos em explorações maiores. Nos Estados Unidos, por exemplo, explorações acima das 5000 cabeças deverão tornar-se maioritárias e usufruir de condições de economia de escala. Isso trará desafios às indústrias paralelas da nutrição e saúde animal. No que toca aos custos de produção, especialmente a nível da alimentação, o desafio continuará, e será crescente à medida que os recursos, finitos, terão de satisfazer uma população global crescente. Fenómenos climáticos como secas e inundações são também uma ameaça à produção. Dada a importância destas matériasprimas, uma gestão rigorosa poderá ditar a diferença entre lucro e prejuízo na produção leiteira. Apesar de não estar isento

LEITE À PRODUÇÃO | PREÇOS MÉDIOS MENSAIS EM 2020/2021 ANOS

MESES

EUR/KG Continente

2020

2021

TEOR MÉDIO MG (%) 1

Açores

Continente

TEOR PROTEICO (%)

Açores

Continente

Açores

JULHO

0,306

0,277

3,68

3,68

3,19

3,13

AGOSTO

0,310

0,273

3,73

3,66

3,18

3,08 3,20

SETEMBRO

0,313

0,282

3,73

3,75

3,26

OUTUBRO

0,315

0,282

3,90

3,83

3,36

3,22

NOVEMBRO

0,315

0,288

3,90

3,90

3,36

3,29

DEZEMBRO

0,315

0,284

3,92

3,89

3,38

3,24

JANEIRO

0,315

0,282

3,94

3,83

3,35

3,20

FEVEREIRO

0,311

0,278

3,83

3,77

3,30

3,15

MARÇO

0,312

0,276

3,74

3,72

3,33

3,13

ABRIL

0,312

0,277

3,72

3,67

3,33

3,17

MAIO

0,312

0,275

3,75

3,67

3,33

3,12

JUNHO

0,310

0,276

3,71

3,65

3,30

3,11

JULHO

0,309

0,275

3,71

3,68

3,24

3,09

MG1 - Matéria Gorda

de desafios, o setor do leite e produtos lácteos é apontado como uma das áreas de maior evolução na próxima década, fruto do aumento da procura por produtos orgânicos e pela adoção de estilos de vida saudáveis. O crescimento de economias em desenvolvimento, com o consequente aumento do poder de compra, deverá também favorecer o setor, mesmo com as ameaças de alternativas vegetais. Ainda assim, a popularidade destas continuará a crescer, tendo sido responsáveis por 15% das vendas de lacticínios a nível do retalho em 2020. No que toca aos diferentes

produtos lácteos, o leite continuará a ser líder na escolha dos consumidores, sendo responsável por mais de 30% das receitas geradas no setor. Prevê-se que, nos próximos anos, o mercado dos iogurtes registe um crescimento significativo, impulsionado por economias como o Brasil, Índia e China. Relativamente aos principais players do mercado, a Europa deverá manter a sua posição fortificada no setor dos produtos lácteos, com grande margem de crescimento em queijos e sobremesas lácteas. Terá ainda de continuar a responder ao desafio da produção sustentável

e de qualidade de excelência, premissas inegociáveis para um número crescente de consumidores. A região ÁsiaPacífico deverá, na próxima década, crescer acima da média de outras regiões, quer pelo aumento do número de consumidores quer pela evolução dos canais de distribuição online. Os Estados Unidos continuarão a deter uma quota de mercado significativa, em grande parte devido aos elevados consumos domésticos de leite e queijo. Existe ainda uma ameaça de grande peso para o setor, apesar de muitas vezes não ser mencionada: a falta de mão de obra qualificada. Muitos dos produtores que terminam as suas carreiras não são substituídos pela geração seguinte, e muitos apontam como solução a automatização e robotização do setor de forma a colmatar estas lacunas. Desde sistemas de ordenha e alimentação automáticos a sistemas de monitorização por câmara ou GPS, a gestão de muitas explorações está a mudar, em paralelo com as tecnologias que tanto caracterizam o nosso século. Será a “desumanização” do setor o caminho futuro? Por cá, continuaremos a escrever apenas com recurso à tecnologia indispensável. Até para o ano.

PREÇOS DO LEITE 2014-2021 | PORTUGAL VS. EU-27 (€/100 KG)

081


#43 | out. nov. dez. 2021

REVISTA RUMINANTES

ÍNDICE VL E ÍNDICE VL-ERVA

É URGENTE VALORIZAR A PRODUÇÃO NACIONAL DE LEITE

CONSIDERA-SE INADMISSÍVEL QUE EM MAIO E JUNHO DE 2021 PORTUGAL TENHA CONTINUADO A SER O PAÍS DA UE27 ONDE O PREÇO PAGO À PRODUÇÃO DE LEITE FOI O MAIS BAIXO. EM JULHO OCUPOU O PENÚLTIMO LUGAR (0,2976 €/KG DE LEITE), LOGO A SEGUIR À LITUÂNIA (0,2916 €/KG DE LEITE). ESTES VALORES SÃO MUITO INFERIORES AOS PREÇOS PAGOS AOS PRODUTORES DOS 5 PAÍSES MAIORES PRODUTORES DE LEITE DA UE27. Por António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco; Carlos Vouzela, docente/investigador,

A

Faculdade de Ciências Agrárias e do Ambiente da Universidade dos Açores/IITAA; Nuno Marques, Revista Ruminantes.

nalisamos neste número da Ruminantes os Índices VL e VL - ERVA para o período de maio a julho de 2021. O Índice VL permite que o produtor de leite monitorize a rentabilidade da sua atividade empresarial, que está muito dependente dos custos da alimentação das vacas e do preço pago pelo leite produzido. Durante o trimestre em análise, o preço do leite pago aos produtores individuais do continente variou entre 0,312 €/kg em maio e 0,309 €/ kg em julho, tendo o preço médio de um leite com 3,72% de gordura e 3,29% de proteína sido inferior em 0,13 cêntimos/kg relativamente ao

trimestre anterior. Na Região Autónoma dos Açores o preço do leite pago aos produtores individuais variou entre 0,275 €/kg em maio e 0,276 €/kg em junho, tendo o preço médio do leite com 3,67% de gordura e 3,15% de proteína sido inferior em 0,17 cêntimos/kg relativamente ao preço pago pelo leite no trimestre anterior (SIMA-GPP, 2021). Os dados publicados pelo MMO (2021) permitem verificar que o preço médio do leite pago ao produtor no período de maio a julho de 2021 foi, mais uma vez, muito inferior em Portugal (0,2976 €/ kg) quando comparado com a média da UE27 (0,3597 €/ kg). Esta diferença de 5,87 cêntimos/kg seria o valor

necessário para melhorar a rentabilidade das explorações em Portugal. Significa que as principais organizações que recolhem e transformam leite em Portugal não conseguem acrescentar valor ao produto leite e que a grande distribuição valoriza pouco este produto. De acordo com o relatório Brand Footprinte da Kantar relativo ao ano 2020 (Kantar, 2021), a marca Mimosa foi, pelo nono ano consecutivo, a marca de bens de grande consumo mais escolhida pelos portugueses. No TOP10 das marcas mais escolhidas estão incluidas quatro marcas de produtos lácteos. Além da Mimosa, também a Terra Nostra (4.º lugar), a Gresso (5.º lugar) e a Agros (8.º lugar) fazem parte 082

do grupo. Três destas marcas pertencem à Lactogal Produtos Alimentares S.A. (Mimosa, Gresso e Agros). Tendo em consideração os dados apresentados no relatório (Kantar, 2021) estranha-se que as organizações cooperativas e empresas que compram o leite paguem tão mal aos produtores do continente e dos Açores. Considera-se inadmissível que em maio e junho de 2021 Portugal tenha continuado a ser o país da UE27 onde o preço pago à produção de leite foi o mais baixo. Em julho ocupou o penúltimo lugar (0,2976 €/kg de leite), logo a seguir à Lituânia (0,2916 €/ kg de leite). Estes valores são muito inferiores aos preços pagos aos produtores dos 5


É urgente valorizar a produção nacional de leite

ÍNDICE VL E ÍNDICE VL-ERVA

países maiores produtores de leite da UE27, com destaque para os preços pagos aos produtores franceses (0,3742 €/ kg), holandeses (0,3759 €/kg) e italianos (0,3596 €/kg) (MMO, 2021), curiosamente três países onde há grande transformação do leite em queijo. No trimestre em análise, os preços médios do milho e da cevada, matérias-primas utilizadas na formulação dos concentrados utilizados neste trabalho, sofreram um aumento de 6,1% e 0,6%, respetivamente, relativamente ao trimestre anterior. Pelo contrário, os bagaços de oleaginosas (soja44, colza e girassol) tiveram uma redução que variou -1,6% no bagaço de colza e -18,9% no bagaço de girassol. Também, os preços da palha e do fenosilagem sofreram um aumento de 1 cêntimo/kg. A variação do preço das matérias-primas traduziu-se num decréscimo de

1,6% nos custos da alimentação da vaca tipo do continente. Na Região Autónoma dos Açores, como consequência da maior utilização de pastagem na alimentação da vaca leiteira tipo durante a Primavera / Verão, os custos com a alimentação dos animais diminuíram 10,4% relativamente ao trimestre anterior. A evolução do preço do leite e dos custos com a alimentação refletiu-se no Índice VL e no Índice VL - ERVA que em julho de 2021 foi, respetivamente, de 1,547 e de 1,762. De referir que em julho de 2020 o Índice VL havia sido de 1,713 e o Índice VL - ERVA de 2,045. Um índice inferior a 1,5 (valor muito baixo) indica forte ameaça para a rentabilidade da exploração leiteira; um índice entre 1,5 e 2,0 (valor moderado) indica que a produção de leite é um negócio economicamente

EVOLUÇÃO DO ÍNDICE VL E ÍNDICE VL - ERVA JULHO 2020 A JULHO 2021 Mês

Índice VL

Índice VL - ERVA

jul-20

1,730

2,015

ago-20

1,757

1,989

set-20

1,704

1,987

out-20

1,633

1,596

nov-20

1,614

1,612

dez-20

1,611

1,590

jan-21

1,529

1,509

fev-21

1,505

1,481

mar-21

1,551

1,498

abr-21

1,538

1,775

mai-21

1,523

1,725

jun-21

1,535

1,749

jul-21

1,547

1,762

Os valores são influenciados pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor individual do continente (Índice VL) e da Região Autónoma dos Açores (Índice VL - ERVA) e também pelas variações mensais dos preços de 5 matériasprimas utilizadas na formulação do alimento composto e pelo preço dos outros alimentos que integram o regime alimentar da vaca leiteira tipo.

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083


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viável à medida que nos aproximamos do valor 2; um índice maior do que 2,0 (valor elevado) indica que estamos perante uma situação favorável para o sucesso económico da exploração (Schröer-Merker et al., 2012). Com um Índice VL de 1,547 pode afirmar-se que os produtores de leite do continente se encontram muito próximo do limiar de rentabilidade da exploração. Nos Açores o Índice VL-ERVA foi de 1,762 em julho, situação pouco interessante que, ainda assim, apenas reflete melhor a realidade dos produtores da ilha de S. Miguel onde se produz mais de 60% do total de leite

dos Açores e onde os preços pagos aos produtores são mais elevados do que nas restantes ilhas do Arquipélago. NOTAS - comparando o mês de julho de 2020 com o mês de julho de 2021 verifica-se que o preço do leite pago aos produtores do continente subiu 0,3 cêntimos e o preço pago aos produtores dos Açores baixou 0,2 cêntimos; - durante o trimestre em análise, houve variação no preço das principais matérias-primas que entram na formulação dos alimentos compostos da vaca tipo. Esta situação implicou uma redução de custos com a

alimentação das vacas no continente (-0,7%). Como nos Açores, entre abril e setembro, a quantidade de pastagem que entra na alimentação da vaca tipo é maior, verificou-se uma redução do custo total do regime alimentar formulado para calcular o Índice VL – ERVA (-10,4%); - no trimestre em análise, a palha e o feno-silagem de erva, alimentos forrageiros utilizados na formulação do regime alimentar, apresentaram um ligeiro aumento de preço; - as três considerações anteriores refletem-se no Índice VL e no Índice VL - ERVA que em julho de 2021 foram, respetivamente, de 1,547 e 1,762.

BIBLIOGRAFIA

• Kantar (2021). Brand Footprint Report - Kantar Worldpanel. https://www.kantar. com/campaigns/brand-footprint/explorethe-data, acesso em 19/09/2021. • MMO (2021). European milk market observatory – EU historical prices. https:// ec.europa.eu/info/food-farming-fisheries/ farming/facts-and-figures/markets/ overviews/market-observatories/milk_en acesso em 19-09-2021. • Schröer-Merker, E; Wesseling, K; Nasrollahzadeh, M (2012). Monitoring milk:feed price ratio 1996-2011. In: Chapter 2 – Global monitoring dairy economic indicators 1996-2011, IFCN Dairy Report 2012, Torsten Hemme editor, p 52-53. Published by IFCN Dairy Research Center, Schauenburgerstrate, Germany. • SIMA-GPP (2021). Leite à produção - Preços Médios Mensais. Sistema de Informação de Mercados Agrícolas, Gabinete de Planeamento e Políticas. https://sima.gpp.pt/sima/default/ lacteos?la=1&ini=2020 acesso em 19-09-2021.

ÍNDICE VL DE JULHO DE 2012 A JULHO DE 2021 2,0 1,9 1,8 1,7 1,6 1,5 1,4 1,3 1,2

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O ÍNDICE VL é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor no continente e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (concentrado 9,5 kg/ dia; silagem de milho 33 kg/dia; palha de cevada 2 kg/dia).

ÍNDICE VL-ERVA DE JULHO DE 2013 A JULHO DE 2021 2,7 2,6 2,5 2,4 2,3 2,2 2,1 2,0 1,9 1,8 1,7 1,6 1,5 1,4 1,3 1,2 1,1

O ÍNDICE VL – ERVA é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor na Região Autónoma dos Açores e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (primavera/verão 60 kg/dia de pastagem verde, 10 kg/dia de silagem de erva e de milho, 5,6 kg/dia de concentrado; outono/inverno 47 kg/dia de pastagem verde, 13,3 kg/dia de silagem de erva e de milho, 6,7 kg/dia de concentrado).

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jul. '13

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É urgente valorizar a produção nacional de leite

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GENÉTICA

QUESTÕES DE CONSANGUINIDADE

O ESTREITAMENTO DO POOL GENÉTICO NA RAÇA HOLSTEIN E AS CONSEQUÊNCIAS NEFASTAS DESTA SITUAÇÃO, OU O APURAMENTO DAS CARACTERÍSTICAS A SELECIONAR PARA OBTER ANIMAIS COM MAIOR LONGEVIDADE SÃO TEMAS QUE AFETAM A RENTABILIDADE DAS EXPLORAÇÕES E E PREOCUPAM OS INVESTIGADORES. Artigos traduzidos e adaptados por Ugenes, Lda.

DE DOIS TOUROS, 9 MILHÕES DE VACAS LEITEIRAS Por Maureen O’Hagan

(https://undark.org/2019/06/19/cowsholstein-diversity)

E

xistem apenas 2 cromossomas Y numa população de 9 milhões de Holstein. Que características se perderam com o tempo? O efetivo de vacas leiteiras nos Estados Unidos é superior a 9 milhões. A grande maioria delas são Holstein, bovinos grandes com manchas distintas em preto e branco (às vezes vermelho e branco). A quantidade de leite que produzem é surpreendente, devido à sua linhagem. Há alguns anos, quando investigadores da Universidade Estadual da Pensilvânia observaram atentamente as linhagens masculinas, descobriram que mais de 99% delas podem ser rastreadas até um de dois touros, ambos nascidos na década de 1960. Isso significa que, entre todos os Holstein machos do país, existem apenas dois cromossomas Y. “O que fizemos foi realmente estreitar a pool genética”, diz Chad Dechow, um dos investigadores. As fêmeas não tiveram melhores resultados. Na verdade, Dechow - um professor associado de genética de gado leiteiro - e outros, dizem que há muita similaridade genética entre elas, sendo o tamanho efetivo da população inferior a 50. Se os Holstein fossem animais selvagens, isso colocá-los-ia na categoria de espécies criticamente ameaçadas de extinção. “É basicamente uma grande família consanguínea”, diz Leslie B. Hansen, especialista em Holstein e professor da Universidade de Minnesota. Qualquer estudante de ciência sabe que

a homogeneidade genética não é favorável a longo prazo. Aumenta o risco de doenças hereditárias, ao mesmo tempo que reduz a capacidade de uma população de evoluir perante um ambiente em mudança. Os produtores de leite que lutam atualmente para pagar as suas contas não estão necessariamente focados nas perspetivas evolutivas dos seus animais. “Se limitarmos a diversidade genética da raça a longo prazo”, diz Dechow, “limitaremos a quantidade de mudança genética que pode ser feita ao longo do tempo”. Por outras palavras, poderemos chegar a um ponto em que não conseguimos sair de onde estamos. Não haverá mais melhorias na produção de leite. A fertilidade não vai melhorar. E se uma nova doença surgir, grandes faixas da população de vacas podem ser suscetíveis, já que muitas delas têm os mesmos genes. A Holstein é atualmente responsável pela grande maioria do leite que bebemos e por muito do nosso queijo e gelado. Pelo menos desde o século passado, estes animais foram valorizados pelas suas elevadas produções. Nos últimos 70 anos ou mais, os humanos introduziram uma série de métodos para aumentar ainda mais a produção. Em 1950, por exemplo, uma única vaca leiteira produzia cerca de 2400 kg de leite por ano. Hoje, uma Holstein produz em média mais de 10400 kg de leite. O “coeficiente de endogamia” para a raça Holstein está atualmente em torno de 8%, o que significa que, em média, um bezerro obtém cópias idênticas de 8% dos seus genes da sua mãe e do seu pai. Esta percentagem usa como linha de base o ano de 1960 e continua a aumentar 0,3 ou 0,4 a cada ano. “A consanguinidade está a acumular-se mais depressa do que nunca”, diz Dechow. Mas 8 por cento é demais? Os

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especialistas em laticínios continuam a debater essa questão. Alguns argumentam que as Holstein estão a cumprir o seu trabalho, produzindo muito leite e que são relativamente saudáveis. Hansen, entretanto, observa que se cruzar um touro com a sua filha, o coeficiente de endogamia é de 25 por cento; sob essa perspetiva, 8 parece muito. Ele e outros dizem que, embora a consanguinidade possa não parecer um problema agora, as consequências podem ser significativas. As taxas de fertilidade são afetadas pela endogamia e a fertilidade da raça Holstein tem vindo a cair significativamente. As taxas de fertilidade na década de 1960 estavam entre os 35 a 40 por cento, mas em 2000 caíram para os 24 por cento. Além disso, quando animais com grau de parentesco próximo são cruzados, é mais provável que as vacas obtenham duas cópias de genes recessivos indesejados que podem estar na origem de futuros problemas graves de saúde. “Algo precisa de mudar”, diz Hansen. Para Dechow, a preocupação está no ritmo do aumento da endogamia e no que isso significa para o futuro da raça. “Imagine que tem uma vaca com 100 genes realmente bons e 10 genes horríveis.

SE AS HOLSTEIN FOSSEM ANIMAIS SELVAGENS, ISSO COLOCÁ-LAS-IA NA CATEGORIA DE ESPÉCIES CRITICAMENTE AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO.


Questões de consanguinidade

GENÉTICA

Você decide eliminar aquela vaca do seu programa de criação porque ela tem 10 genes horríveis ”, diz ele, mas “perdeu também os 100 genes bons. Ou seja, está a perder o potencial genético a longo prazo. ” Dechow cresceu numa exploração de gado leiteiro, portanto, muito antes de conhecer os meandros do genoma da vaca, podia ver um pouco do que estava a acontecer. As Holstein parecem muito diferentes do que eram há 50 anos. Por um lado, foram criadas para ter úberes mais longos e mais largos, em vez de profundos. Um úbere profundo pode tocar o solo, tornando-o muito mais sujeito a infeções ou outros problemas, então essa foi uma mudança para melhor. Mas outras mudanças podem ser problemáticas. Por exemplo, as Holstein modernas são criadas para serem altas e magras, com ossos bastante protuberantes. Essa magreza é um subproduto da produção de leite, porque "elas estão a direcionar a energia que consomem para o leite", diz Dechow. Mas também é uma escolha estética. A vaca Holstein ideal, pelo menos na opinião das pessoas que julgam essas coisas, é "feminina e refinada". Isso significa magra e angulosa. O problema é que uma vaca alta e magra não é necessariamente a vaca mais saudável e o gado mais baixo e redondo tem maior probabilidade de engravidar. Há alguns anos, Dechow e outros começaram a questionar quão significativa foi a endogamia e a perda de diversidade. No início dos anos 50, existiam cerca de 1.800 touros representados na população. Eles sabiam que esse número era hoje menor, mas não tinham ideia de quão poucos havia. Dechow e seus colegas Wansheng Liu e Xiang-Peng Yue analisaram as informações do pedigree paterno de quase 63.000 touros Holstein nascidos desde 1950 na América do Norte. “Ficámos um pouco surpreendidos quando rastreámos as linhagens e remontámos a dois touros”, diz ele. Eles são chamados de Round Oak Rag Apple Elevation e Pawnee Farm Arlinda Chief. Cada um está relacionado com cerca de metade dos touros vivos hoje. Elevation e Chief superaram todos os outros touros no mercado. A Even Select Sires, empresa que comercializa sémen de touros, ficou surpreendida com o que descobriram. Charles Sattler, vice-presidente da empresa, encara estas notícias como uma espécie de verificação da realidade, mas não como motivo de alarme. “Provavelmente, a maior preocupação deve

ser: há algum gene realmente valioso que possamos ter perdido ao longo do caminho e que poderíamos usar hoje?” questiona. Não há muito tempo, havia outro cromossoma Y representado, o de Penstate Ivanhoe Star, nascido na década de 1960. O seu declínio demonstra um problema com toda esta consanguinidade. Na década de 1990, produtores de leite em todo o mundo começaram a notar vitelos com problemas graves de vértebras que não sobreviviam fora do útero. Na mesma época, nasceram vitelos mortos com uma condição chamada deficiência de adesão leucocitária.. Acontece que Star e seu filho prolífico, Carlin-M Ivanhoe Bell, tinham genes recessivos problemáticos que só surgiram após algumas gerações de consanguinidade. Após esta descoberta, os produtores pararam de criar vacas para os descendentes de Star e o problema foi resolvido. Mas será que outros problemas podem estar escondidos nos cromossomas dos nossos Holstein restantes? O que se perdeu com toda essa consanguinidade? Estas questões perturbaram Dechow o suficiente para que ele começasse a pesquisar alguns desses genes antigos, pesquisa essa que foi feita nos arquivos do Programa Nacional de Germoplasma Animal em Fort Collins, Colorado. Este local recolhe tecido ovariano, sangue e sémen de animais domesticados, e contém cerca de 7.000 amostras de sémen de touros Holstein. A equipa de Dechow encontrou duas amostras que não estavam relacionadas com o Chief ou o Elevation; então utilizaram nessas amostras para obterem óvulos de fêmeas de primeira linha, e criaram embriões para implantar em novilhas de reposição da Penn State. A ideia era combinar a genética Y da segunda metade do século passado com o DNA de fêmeas que estão entre os melhores exemplos da produção de leite atualmente. Ao longo de 2017, os animais deram à luz 15 bezerros, sete deles machos. O mais velho desses animais tem atualmente cerca de dois anos e dois deles têm agora os seus próprios vitelos. Todos os parâmetros do desenvolvimento destes bovinos serão medidos, e o seu DNA analisado e comparado com a população em geral. Também foram retiradas amostras de sémen dos touros e enviadas para o banco de germoplasma do Colorado. Dechow já consegue ver uma diferença na aparência desta descendência. São animais um 087

O PROBLEMA É QUE UMA VACA ALTA E MAGRA NÃO É NECESSARIAMENTE A VACA MAIS SAUDÁVEL E OS ANIMAIS MAIS BAIXOS E REDONDOS TÊM MELHOR FERTILIDADE E MELHOR VIDA PRODUTIVA.

pouco mais curtos do que a maioria dos Holstein e também mais pesados. Também são um pouco menos dóceis do que a média. A Select Sires recolheu amostras de sémen dos touros e analisou-as através do seu programa de classificação e obtiveram resultados medianos; os touros classificaram-se na média dos animais que existem atualmente . Eles ofereceram algumas dessas amostras para venda aos produtores de leite, mas as vendas até agora têm sido mínimas. Os produtores de leite hoje já estão com problemas financeiros e não é fácil convencê-los de que obter DNA de touros comuns é uma vantagem. Dechow ainda tem esperança de que haverá mais a ganhar com esta investigação, principalmente quando os animais que advieram dela se tornarem mais velhos. “O meu sonho incrível”, diz Dechow, “é que seremos capazes de mostrar que esta genética antiga ainda tem algo a oferecer”. VACAS MAIS VELHAS PAGAM MAIS CONTAS

Por TAYLOR LEACH 13 de janeiro de 2020 (https://www.dairyherd.com/news-news/

D

older-cows-pay-more-bills)

ê uma olhada à sua folha de despesas operacionais e provavelmente irá perceber que o custo de produzir animais de reposição está no topo. Atrás dos custos de alimentação e mão-de-obra, os custos de reposição geralmente são classificados em terceiro lugar nas despesas da exploração. Mas, e se esses custos pudessem ser reduzidos graças à ajuda de animais mais longevos? Durante a 2020 Leading Dairy Producers


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agora podem selecionar melhor essas características, incluindo características de vida produtiva.” No entanto, selecionar apenas certas características de saúde não garantirá animais com uma vida mais longa. De acordo com Kleinschmit, os produtores também precisam de se concentrar no cuidado dos seus animais de reposição para ajudar a garantir uma vida produtiva mais longa. “Fatores como a claudicação da novilha, a qualidade do colostro e uma nutrição adequada, afetam o desempenho da vaca à medida que elas passam de vitelas para novilhas e depois para vacas”, diz Klienschmit. “O objetivo para as nossas explorações é que as novilhas leiteiras comecem bem para que possam atingir níveis mais elevados de produção de leite

e também melhorar a longevidade dos nossos animais. Porquê? Porque vacas mais velhas são mais lucrativas. Produzem mais leite e pagam-se. Essas são as vacas que queremos manter por tanto tempo quanto for economicamente viável. As vacas mais velhas são as que pagam as contas.” TABELAS COM INFORMAÇÃO SOBRE CONSANGUINIDADE • Consanguinidade Vacas Holstein Agosto 2021 https://queries.uscdcb.com/eval/summary/ inbrd.cfm • Consanguinidade dos Touros Genómicos Agosto 2021 https://queries.uscdcb.com/eval/summary/ inbrd.cfm?R_Menu=HO.tyb#StartBody • Consanguidade Holstein Canada ano 2020 https://www.cdn.ca/document.php?id=566

EVOLUÇÃO DA CONSANGUINIDADE PARA AS VACAS HOLSTEIN OU VERMELHAS E BRANCAS (EUA, agosto 2021) Coeficientes de consaguinidade das vacas (pct)

Coeficientes de cruzamentos de vacas (pct)

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Consanguinidade futura esperada

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Ano de Nascimento das Holstein ou das Vermelhas e Brancas

EVOLUÇÃO CRESCENTE DA CONSANGUINIDADE PARA TOUROS JOVENS GENÓMICOS HOLSTEIN OU VERMELHOS E BRANCOS (EUA, agosto 2021) Consanguinidade do pedigree

Consanguinidade informação Genomica

Consanguinidade futura esperada

14 13 12 Consanguinidade (%)

Conference, realizada em Wisconsin, EUA, Dan Weigel, diretor de resultados de investigação da Zoetis, enfatizou a importância da longevidade e da rentabilidade vitalícia do rebanho leiteiro. “A vaca média deixa o rebanho entre a segunda e a terceira lactação”, diz Weigel. “Se pudéssemos estender esse período pelo menos por mais seis meses, a vaca poderia ter o potencial de atingir o seu pico de produtividade normalmente alcançado durante a quarta lactação. A ideia de ter um rebanho mais velho ajuda a melhorar a quantidade de leite que a exploração produz, como também pode ajudar a reduzir a quantidade de animais de reposição necessários e a melhorar algumas das decisões de abate.” A fim de alcançar um rebanho mais longevo, Daryl Kleinschmit, nutricionista investigador de laticínios da Zinpro Corporation, sugere a análise de táticas de maneio de vitelas para maximizar o desempenho da novilha durante a vida e melhorar a rentabilidade no rebanho leiteiro. “É importante minimizar ameaças à saúde e problemas de saúde ao longo da vida [das novilhas de reposição ]”, diz Kleinschmit. “Queremos maximizar o desenvolvimento destas novilhas, melhorando assim o seu desempenho e rentabilidade na exploração leiteira.” De acordo com Kleinschmit, demora em média duas lactações antes que um animal comece a ter retorno ao investimento. “Se pegar num grupo de novilhas hoje, quantas delas conseguirão chegar à segunda, terceira ou quarta lactação?” pergunta Kleinschmit. “Em média, menos de 50% das novilhas que passam pelo rebanho chegam ao ponto em que se pagam. Portanto, esperamos que as vacas que sobrevivem à segunda lactação não apenas se paguem por si mesmas, mas também aliviem o fardo pesado dos animais que não o fizeram. ” Mas como selecionar animais com uma vida mais longa? Segundo Weigel, o uso da genómica tem-se mostrado uma ferramenta valiosa. “A genómica pode mostrar que alguns desses animais de dois anos vão deixar o rebanho muito cedo”, diz Weigel. “Eles têm uma genética fraca no que toca à longevidade e algumas têm características de saúde precárias. A reprodução está mais avançada que nunca, portanto, já não é a razão número um pela qual os animais deixam o rebanho. A mastite é. Usando a tecnologia genómica, os produtores

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PROGRAMA DE CRUZAMENTOS DE 3 RAÇAS CIENTIFICAMENTE JÁ PROVADO Questões de consanguinidade

GENÉTICA

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%*

LUCRO DE VIDA PRODUTIVA

VIKINGRED

PARTO FACIL LONGEVIDADE SAUDE

+10PTS PONTOS NA TAXA DE CONCEÇÃO

-26%

DE CUSTOS DA SAÚDE

+8%

DE EFICIÊNCIA ALIMENTAR

ROBUSTEZ FERTILIDADE ADAPTABILIDADE MONTBELIARDE

PRODUÇÃO SÓLIDOS TAMANHO MÉDIO

+147

DIAS EM PRODUÇÃO

+14% VALOR DE REFUGO

VIKINGHOLSTEIN Fonte : Estudo de 10 anos de comparação de animais ProCROSS com as puras Holstein, pelo Professor Les Hansen da Universidade do Minnesota. * Para mais informação : www.ansci.umn.edu/sites/ansci.umn.edu/files/procross_10-year_study_results_kg_new.pdf

Os touros VikingRed, Montbeliarde e VikingHolstein estão disponíveis no nosso distribuidor 089 Ugenes-Unipessoal,Lda - Rua da Portela “Villa Mós” - Lapa - 2665-617 Venda do Pinheiro - Portugal Email: carlosserra@unigenes.com - Telf: +351 917 534 617


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VACAS DE LEITE

INVESTIGAÇÃO LEITEIRA O QUE HÁ DE NOVO? NESTA RUBRICA APRESENTAMOS RESUMOS DOS TRABALHOS MAIS RECENTES PUBLICADOS NO JOURNAL OF DAIRY SCIENCE. Traduzido e adaptado por Pedro Nogueira, Engº zootécnico, Trouw Nutrition/Shur-Gain, e-mail: Pedro.Nogueira@trouwnutritioncom

MELHORAMENTO GENÉTICO PARA A REDUÇÃO DA EMISSÃO DE METANO E AUMENTO DA EFICIÊNCIA ALIMENTAR NAS VACAS HOLSTEIN: UMA RESPOSTA INTERNACIONAL (Journal of Dairy Science Vol. 104 No. 8, 2021)

Este interessante artigo, de investigadores das universidades da Dinamarca, Austrália, Suíça e Canadá (Universidades de Guelph e Alberta), explora o papel da seleção genética dos animais como forma de reduzir as emissões de metano. A seleção de animais com menores emissões de metano (CH4) é uma das melhores abordagens para reduzir o CH4, uma vez que o progresso genético é permanente e cumulativo ao longo das gerações. Ainda assim, dizem os autores, uma vez que a seleção genética requer muitos animais com registos, e poucos países registam a emissão de CH4 ativamente, a combinação de dados de diferentes países poderia ajudar a acelerar a determinação de parâmetros genéticos precisos para a produção de CH4 e a construir uma população de referência em termos genómicos. Um aspeto importante da seleção genética é saber o impacto que a seleção de uma característica pode ter em outras características economicamente importantes. Os investigadores estabeleceram 3 objetivos para este estudo: estimar parâmetros genéticos de 7 características ligadas à produção de metano, bem como correlações entre essas características e indicadores de produção, manutenção e eficiência, usando um banco de dados multinacional. O segundo objetivo foi estimar correlações genéticas dentro de diferentes paridades e fases de lactação para a produção de CH4. O terceiro objetivo foi avaliar a resposta de parâmetros economicamente importantes, ao incluir-se parâmetros ligados à produção de CH4 no objetivo do melhoramento. Os autores indicam que são necessários aumentos na produção de leite para fazer

face à procura da crescente população mundial, e que esse aumento constante apresenta desafios de longo prazo de viabilidade econômica e sustentabilidade ambiental. A produção de laticínios (ou ruminantes) leva à produção de metano (o gás metano é gerado naturalmente pelos ruminantes através da fermentação entérica) e isso pode comprometer a sustentabilidade dos produtos lácteos. Segundo diversos autores citados no artigo, o gás CH4 produzido pela produção animal representa 17% das emissões globais de gases de efeito estufa e 2 a 12% das perdas de energia alimentar em ruminantes, tornando a redução das emissões de CH4 na produção pecuária um dos desafios deste século. Os autores referem vários estudos feitos na última década que mostram que os parâmetros genéticos ligados a produção de CH4 em bovinos leiteiros têm uma heritabilidade baixa a moderada, de 0,11 a 0,33, tornando a seleção genética uma forte abordagem para reduzir as emissões de CH4. Os autores referem que, além da necessidade de um grande número de dados, há também falta de consenso sobre qual a característica mais apropriada a ser incluída no critério de seleção, por exemplo, se deveria ser a produção diária de CH4 em g/cabeça/dia, ou produção de CH4 por kilo de matéria seca ingerida (CH4 (g/d)/MSI (kg/d)), por exemplo, ou outros? Para este estudo, foram usados dados de um grande banco de dados internacional, de 4 países, com mais de 15.000 registos de produção diária de CH4 por vaca (g/d) de cerca de 3.000 vacas. Os autores concluíram que o metano está altamente correlacionado positivamente com outras características economicamente importantes, como a produção de leite, o peso vivo e o consumo de matéria seca e que, por esta razão, é importante ter um critério de seleção que seja ajustado para as características de produção. Os autores dizem que o CH4 residual (metano 090

realmente produzido pelo animal vs. produção de metano prevista), ajustado em função do peso corporal metabólico e da produção de leite corrigido para a energia, parece ser a melhor opção para este critério. Além disso, o CH4 residual está positivamente correlacionado com o consumo alimentar residual, o que implica que animais com menor emissão de CH4 também são mais eficientes na conversão da dieta. Os autores dizem que a atribuição de um valor económico negativo para o metano poderia ajudar a reduzir substancialmente a produção de metano, mantendo ao mesmo tempo um aumento na produção de leite. EFEITOS DO PROLONGAMENTO DO PERÍODO VOLUNTÁRIO DE ESPERA DO PARTO ATÉ À PRIMEIRA INSEMINAÇÃO NA CONDIÇÃO CORPORAL, PRODUÇÃO DE LEITE E PERSISTÊNCIA DA LACTAÇÃO. (Journal of Dairy Science Vol. 104 No. 7, 2021)

Este artigo, de investigadores da Universidade de Wageningen, na Holanda, analisou os efeitos de 3 diferentes períodos voluntários de espera (PVE) desde o parto até a primeira inseminação no peso corporal, condição corporal, produção de leite e persistência da lactação. Também identificou as características individuais das vacas no início da lactação que contribuíram para a produção de leite e persistência de vacas com diferentes PVE. Os autores afirmam que o intervalo entre partos de 1 ano (IEP) está geralmente associado à maximização da produção de leite, devido ao pico de produção de leite estar associado ao parto. No entanto, a extensão do IEP pode beneficiar a saúde das vacas e a eficiência da produção, devido a menos períodos de transição (período pré-parto-período pós-parto) por unidade de tempo. A extensão do IEP pode afetar o


Investigação leiteira, o que há de novo?

NOTÍCIAS | VACAS DE LEITE

desempenho da lactação, devido a haver menos dias secos por ano, menor impacto negativo da gravidez na produção de leite e uma maior produção de sólidos do leite no final da lactação. O estudo usou 154 vacas leiteiras Holstein-Frisian que foram aleatoriamente alocadas a três PVE diferentes: 50, 125 ou 200 dias, e foram observadas durante uma lactação completa mais as primeiras 6 semanas da lactação subsequente, ou até ao refugo. Os autores referem que é comum ter como objetivo um intervalo entre partos de 12 meses, uma vez que o parto está associado a um pico na produção de leite por volta da semana 4 até à semana 7 de lactação. Perto do parto, no entanto, as vacas passam por várias transições, como o período de secagem, o parto e o início da próxima lactação. Durante essas transições, as vacas têm um risco aumentado de desenvolver doenças e distúrbios metabólicos, o que significa que com um IEP de 1 ano, as vacas passam por essas transições todos os anos. Por outro lado, com um IEP de 1 ano, é comum ter vacas ainda com uma forte produção na altura da secagem, o que aumenta

o risco de infeções do úbere no período de seca e no pós-parto. Um dos motivos para aumentar o PVE entre o parto e a primeira inseminação é reduzir o número de transições por unidade de tempo, bem como reduzir a produção de leite na altura da secagem. No entanto, dizem os autores, vacas com um IEP mais alargado têm menos picos de produção de leite por unidade de tempo em comparação com vacas com um IEP de 1 ano. Isso pode resultar numa menor produção de leite por vaca, por ano. Os autores explicam que os estudos feitos para avaliar a produção de leite com um IEP mais longo, normalmente concentram-se na produção de leite de 305 dias. Vacas com um IEP alargado, no entanto, têm períodos de lactação mais longos e menos dias secos por ano, o que influencia a produção média de leite por dia e por ano. Por causa disso, eles sugerem (citando vários outros investigadores) que, em alternativa à produção de leite em 305 dias, a produção de leite poderia ser expressa como a produção de leite por dia de IEP, o que teria em consideração períodos de lactação mais longos ou diferenças em dias secos por ano.

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As conclusões do estudo foram que para vacas primíparas e multíparas, quando o PVE foi alargado até ao dia 125, não houve efeito sobre a produção de leite ou leite corrigido para gordura e proteína por dia de IEP. Para vacas primíparas, estender o PVE até aos 200 dias não afetou o rendimento por dia de IEP, embora, para vacas multíparas, estender o PVE para 200 dias tenha resultado num rendimento menor por dia de IEP. Além disso, vacas com um PVE mais longo tiveram menor produção à secagem. Os autores dizem que este facto pode beneficiar a saúde do úbere durante o período seco e possivelmente também na lactação subsequente. O estudo também mostrou que vacas multíparas com um PVE mais longo apresentaram maior condição corporal no período de secagem e nas primeiras semanas da lactação subsequente, o que pode ter consequências negativas em termos de saúde metabólica e na adaptação a uma nova lactação. Em resumo, os autores afirmam que o PVE poderia ser estendido de 50 dias para 125 dias, sem afetar a produção diária por dia de intervalo entre partos.


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digeR UMOTEST COOPEX MONTBELIARDE

EFICIÊNCIA ALIMENTAR DA RAÇA MONTBELIARDE

ROBOTS DE ORDENHA GEA

A NOVA GERAÇÃO DairyROBOT R9500 E DairyPROQ

U

ma nova geração dos sistemas de ordenha automática DairyRobot R9500 (Edition 2021) e DairyProQ da GEA, vai trazer melhorias para o módulo de tecnologia de ordenha, o processo de ordenha In-Liner Everything e a unidade de ordenha MilkRack, entre outros benefícios. Este novo conceito de serviço também reduzirá os custos de manutenção e minimizará os tempos de paragem do sistema, enquanto o pacote de software abrangente visa otimizar a ordenha. A comprovada tecnologia In-Liner Everything executa todas as etapas do processo de ordenha - estimulação, limpeza/pré-imersão, préordenha, ordenha e imersão - em apenas um único procedimento. O agente de imersão no processo In-Liner Everything é aplicado tanto na tetina como no teto, o que significa que a superfície de borracha da tetina também é humedecida. Como resultado desta abordagem, o agente de imersão desinfeta a pele do teto, bem como a tetina. Isso pode eliminar a necessidade de desinfeção intermediária

com ácido peracético. Seguidamente, a câmara e a tetina são limpas em paralelo. Estas melhorias no processo não apenas reduzem o tempo do processo, permitindo mais ordenhas por dia, mas também protegem o meio ambiente e reduzem os custos operacionais. A inovação para o DairyRobot R9500 Edition 2021 permite agora que, com apenas um clique no controlo MView, seja ativado um modo de separação conveniente. Isso permite que os animais cujo leite está a ser separado sejam ordenhados com o grupo, sem lavagem ou limpeza intermediária após cada vaca, o que economiza tempo e reduz o consumo de água, detergente e energia. Também significa que os sistemas de ordenha estão prontos para nova utilização mais rapidamente. Para a nova geração de sistemas de ordenha automática, a GEA reviu fundamentalmente os intervalos regulares de serviço e os pacotes de serviço. Materiais de maior durabilidade e intervalos entre manutenções mais prolongados resultam em custos de manutenção significativamente mais baixos. Além disso, os módulos de tecnologia de ordenha foram

aprimorados. Os módulos reprojetados da empresa com componentes técnicos otimizados garantem uma vida útil mais longa. O espaço de instalação alargado permite melhor acessibilidade aos componentes do módulo e a substituição mais rápida das peças de serviço de controlo para uma ordenha contínua e um tempo de inatividade minimizado. O novo sistema também apresenta um MilkRack otimizado: novos segmentos dos copos aumentam a vida útil dos cabos de aço e permitem que a posição de limpeza seja ajustada com menos manutenção. E torna o sistema menos suscetível à contaminação. Até quatro robôs de ordenha podem ser ligados à unidade de abastecimento do DairyRobot R9500 Edition 2021, o que aumenta a eficiência energética e fornece flexibilidade para uma expansão futura. Módulos de espaço vazio opcionais foram desenvolvidos de acordo com o carrossel de ordenha DairyProQ. Eles podem ser usados para reduzir os custos de investimento e aumentar a capacidade de produção no momento apropriado, adaptando módulos adicionais da sala de ordenha.

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Para atender às suas necessidades, uma vaca deve ser alimentada adequadamente. Mas qual é a quantidade certa de alimento para produzir leite de qualidade? O digeR é uma ferramenta de fenotipagem e um método de avaliação genética da eficiência alimentar, com base em análises do perfil dos ácidos gordos do leite. Fornece indicadores sobre a eficiência ruminal, por vaca e por lactação. Estes indicadores permitem classificar os animais do rebanho de acordo com a sua eficiência alimentar e tomar decisões em relação à reposição e reprodução, tendo em consideração esta nova informação.

www.umotest.com

VELITEX SAS

BRAÇADEIRA PARA PRENDER COBERTURA DE SILAGEM Uma braçadeira de arame rígido em aço inoxidável adequada para todas as larguras de parede de silo, desde paredes removíveis até paredes sólida de 5 a 25 cm. O objetivo é segurar as lonas no lugar antes e durante o enchimento do silo, e durante o corte frontal da pinça, sem rasgar a lona, que é mantida no lugar verticalmente às paredes durante o enchimento. Os clipes são embalados em caixas de 25. | http://velitexsas.com


GEA DairyRobot R9500, nova edição 2021 Uma maior rentabilidade para a sua exploração o A nova geração dos nossos sistemas de ordenha robotizada proporciona um maior número de ordenhas e uma maior produção de leite diária, com uma redução dos custos operacionais.

Mais informação aqui

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SISTEMA NOFENCE

CERCAS VIRTUAIS PARA O GADO As cercas virtuais são um sistema de cerca que não prejudica os animais, permitindo conter o gado ou movê-lo de sítio sem utilizar cercas físicas fixas. Utilizam sensores GPS (Global Positioning System) e tecnologias sem fios para controlar os movimentos e a localização dos animais numa determinada zona. O sistema Nofence consiste em coleiras com transmissores que conectam cada animal a uma aplicação. Através dessa aplicação, o utilizador pode definir os limites das suas pastagens e alterá-los com o toque de um dedo. As cercas tradicionais dependem da visão do animal. As cercas elétricas funcionam porque o animal vê a cerca e lembra-se que tocá-la causa-

O sistema Nofence consiste em coleiras com transmissores que conectam cada animal a uma aplicação.

-lhe desconforto. Em vez disso, a tecnologia Nofence Grazing concentra-se no sentido da audição do animal. É colocada uma coleira a cada animal. Quando um

animal se aproxima muito da fronteira virtual, a coleira emite um som que vai gradualmente aumentando de intensidade. Como o animal interpreta esse sinal como um aviso de que um

choque elétrico está para vir, inverte o sentido e volta ao pasto para desligar o som e evitar o choque. Se o animal ignorar o aviso sonoro e continuar a deslocar-se em direção ao limite estabelecido, um choque elétrico ligeiro, com a duração de meio segundo, é gerado como último recurso para impedi-lo de deixar a zona de pastoreio delimitada. A aplicação também permite localizar animais individualmente, utilizando o GPS. A cerca virtual Nofence Grazing Technology facilita o maneio do rebanho maximizando a utilização dos recursos e satisfazendo as necessidades comportamentais naturais dos animais.

BIOMIN

FUMzyme SILAGE Complementamos a nossa GAMA DIOXIDOS

Como aplicar FUMzyme®: 1) Dissolva 7g do produto num mínimo de 50 ml de água por tonelada de material fresco. 2) Adicione ao depósito do pulverizador. 3) Aplique o produto durante a colheita. 4) Continue o processo de fabrico da silagem normalmente.

G-Mix Power

Golden Mix

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Em 2020, de quase 6.000 amostras de milho analisadas em todo o mundo, 82% estavam contaminadas com fumonisinas. Esta micotoxina causa perdas económicas significativas para os produtores devido a uma quebra no desempenho zootécnico. A empresa Biomin apresenta o FUMzyme® Silage como o único desativador de fumonisina aplicável à silagem. É um aditivo único, aplicado no milho (milho planta inteira, 094

milho grão húmido), na época da colheita ou no enchimento do silo, que desintoxica as fumonisinas nocivas em poucos minutos, para que a silagem resultante seja segura para a alimentação de porcos e ruminantes. FUMzyme® Silage é o único produto aprovado pela UE que comprovadamente remove fumonisinas de material ensilado, e é um avanço significativo na gestão dos riscos ligados às micotoxinas. | www.biomin.net


Inovações de destaque

EQUIPAMENTO | RUMINANTES

DIN, S.A.

GHP | GENES DIFFUSION

PARCERIA PARA DESENVOLVER A NUTRIÇÃO ANIMAL Desenvolver novas soluções e produtos inovadores na área da nutrição animal é o objetivo das parcerias estabelecidas entre o Laboratório de Investigação e Desenvolvimento da DIN, SA e diversas entidades nacionais e internacionais. Os projetos envolvem dezenas de pessoas, nomeadamente, professores, investigadores, bolseiros, responsáveis de empresas, especialistas em nutrição animal, técnicos de laboratório e ainda técnicos de produção da DIN, SA. “Temos duas atividades de I&D [Investigação & Desenvolvimento] a decorrer: a Eco-Pig e a R&W Clean”,

adianta Rosa Gomes, responsável pelo laboratório. O primeiro projeto procura desenvolver uma “mistura alimentar inovadora para acabamento de machos de raças de suínos autóctones, ao ar livre, com benefícios para a qualidade da carne e para a sustentabilidade do sistema”. Já o projeto R&W Clean está focado em novas soluções de “sensorização de parâmetros ambientais e biológicos para o auxílio à desmedicalização no setor agropecuário”. Nestes e noutros projetos de I&D, o laboratório é responsável pela investigação e pelo controlo de qualidade.

PROGRAMA PARA GENÉTICA DE ALTO DESEMPENHO Inovador e baseado numa tecnologia exclusiva para análise da microbiota das vacas do rebanho, o programa GHP permite determinar, para cada touro Holstein, índices genéticos adaptados ao ambiente de cada rebanho. É destinado a criadores de Holstein que tenham genotipado todas as suas fêmeas e realizado monitoração de desempenho. Desenvolve-se em 4 etapas simples que não requerem qualquer adaptação no maneio diário da reprodução: - análise do ambiente de reprodução por sequenciamento da microbiota intestinal; - personalização de índices por meio de técnicas de inteligência artificial, com base num

Fertilizantes com futuro

Nutrição ativada

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algoritmo combinando dados da microbiota, genotipagem e monitorização do desempenho; - aconselhamento sobre acasalamentos individualizados; - monitorização do desempenhos genéticos. Graças a estes índices 100% personalizados, os produtores dispõem de uma ferramenta adicional de precisão, permitindolhes utilizar, sem dúvidas, o melhor reprodutor para cada uma das suas vacas e, no final, melhorar significativamente a rentabilidade da exploração. www.genesdiffusion.com


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SHELT-AIR | INSTITUT DE L’ÉLEVAGE

BARN-E | JOZ

OTB | LELY

SOLUÇÕES DE VENTILAÇÃO NATURAL

ROBOT DE CHORUME PARA PAVIMENTOS

OTIMIZADOR PARA A ESCOVAGEM DOS TETOS

Nos projetos de renovação ou na construção de estábulos de raiz, um dos elementoschave é a ventilação, devido ao seu impacto na saúde, bem-estar e desempenho dos animais, mas também na saúde dos trabalhadores e na durabilidade dos equipamentos. O dimensionamento das aberturas de ventilação é complexo, porque depende da localização do edifício, do tipo e número de animais, do volume do edifício e do seu período de ocupação. Tendo em conta estes diferentes parâmetros, o Shelt-air permite, à distância de alguns cliques, aos produtores, consultores e veterinários, diagnosticar os edifícios existentes e escolher facilmente as melhores soluções técnicas para garantir uma boa ventilação natural de um estábulo novo ou para renovar a existente. O Sheltair também dá acesso a um catálogo de produtos quebravento, permitindo a escolha dos produtos mais adequados. Está disponível em várias versões, incluindo uma versão “light” gratuita para web e smartphone. | www.idele.fr

O robot de chorume Le Barn-E foi especialmente desenhado para os pavimentos sólidos em betão, mas limpa facilmente pavimentos modulares, de borracha e outros. Além disso, o robot de chorume pode recolher e transportar chorume de vaca de várias maneiras. Com uma altura inferior a 70 cm, o robot é de construção modular e muito fácil de manter. O Barn-E trabalha de forma autónoma e utiliza tecnologia transponder (emissor-recetor) para se localizar no estábulo. Durante o seu percurso, recolhe o chorume do chão na parte da frente. Seguidamente, o chorume é elevado e transportado para um depósito na frente do robot por um carregador rotativo. O robot de chorume Le Barn-E recolhe o chorume em vez de raspá-lo para frente. No total, o robot pode processar de 370 a 500 litros. É adequado para vacas graças aos seus cantos arredondados. O robot é silencioso pelo que é aceite pelas vacas sem provocar agitação. | www.joz.nl

O objetivo da Lely é obter uma ordenha rápida, suave e completa para todas as vacas. Cada animal é diferente e as suas necessidades variam ao longo da lactação. Portanto, o objetivo de otimizar o tempo de escovagem é reduzir a bimodalidade (ou seja, atraso na ejeção do leite) sem comprometer a capacidade do robô, o conforto da vaca ou a saúde do úbere. Reduzir a bimodalidade é muito importante para uma boa saúde dos tetos e conforto da vaca. Na verdade, após várias bimodalidades, podem ocorrer danos irreparáveis aos tecidos do teto e ocorrer hiperceratose dos esfíncteres. Para uma ordenha bem sucedida, a preparação é essencial. As escovas Lely limpam e estimulam os tetos antes da ordenha, com um tempo de escovagem predefinido. | www.lely.com

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FEEDR® | SIEPLO ROBOT

ALIMENTAÇÃO TOTALMENTE AUTOMÁTICA

Trata-se de um robot totalmente autónomo, que mistura e distribui a ração com grande precisão. O FEEDR economiza muito tempo em tarefas diárias repetitivas, por exemplo, pode economizar 5 horas por dia numa exploração de engorda com 2.000 bezerros. O enchimento da tremonha leva apenas 5-10 minutos. O FEEDR está sempre conectado através de uma rede WLAN segura, a um computador, para receber todas as informações, graças ao registo completo do que é distribuído por grupo definido num determinado período. Uma única máquina pode alimentar cerca de 200 vacas leiteiras, 2.000 bezerros/ touros, 2.000 cabras/ovelhas por dia, dependendo da ração, podendo distribuir alimento até 10 vezes por dia. A segurança das pessoas e animais é assegurada por amortecedores ao redor da máquina e scanners de objetos à frente e atrás. A instalação é possível em quase todos os tipos de edifícios, com um custo de conversão ou construção muito baixo. www.sieplo.com


Inovações de destaque

EQUIPAMENTO | RUMINANTES

UKAL ELEVAGE

SURESHOT | PHARM ROBOTICS

VIGILÂNCIA DO AQUECIMENTO DA FORRAGEM EM TEMPO REAL

ROBOT DE TRATAMENTOS

O especialista em pecuária Ukal, com a colaboração da Quanturi (líder em soluções conectadas para monitorização de temperatura e análise de dados de materiais fermentáveis), lançou no mercado o sistema de monitorização de forragens Haytech. Com 40 cm de comprimento, robusto, visível e equipado com sondas de temperatura conectadas, este dispositivo é colado em fardos quadrados e redondos. Graças a ele, o utilizador pode ser informado em tempo real de qualquer sobreaquecimento. Esta solução conectada funciona por rede wi-fi num raio de 200 m ou via conexão GPRS, graças a um cartão de dados SIM integrado (Haytech GPRS). A Ukal também possui o Haytech Pack contendo 10 sondas, que podem ser alargadas até 200 unidades para atender a todos os tipos de explorações agrícolas.

O sistema robotizado Sureshot automatiza o processo de inoculação fornecendo tratamentos, vacinas e aportes minerais para vacas leiteiras. As inoculações são automaticamente registadas no sistema de gestão do produtor de leite.

www.pharmrobotics.net

www.ukal-elevage.com

Roundup® GPS Plus é uma marca registada do Grupo Bayer

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BOHNING AG

PROTEÇÃO DE CASCO EM PLÁSTICO, DURÁVEL

NEW HOLLAND ROLL-BAR 125

ENFARDADEIRA DE FARDOS REDONDOS DE CÂMARA FIXA A nova Roll-Bar 125 é a sucessora da enfardadeira mais vendida no segmento das enfardadeiras de câmara fixa, a BR6090. Baseia-se no ADN sólido da sua antecessora, com o comprovado sistema de câmara de compressão Roll-BarTM, e melhora ainda mais o seu desempenho, operacionalidade e durabilidade com novas funcionalidades. Disponível em duas versões, alimentador de rotor e cortador de rotor, a nova enfardadeira apresenta um estilo novo e moderno com uma grande proteção lateral, que permite fácil acesso para operações de manutenção. A enfardadeira Roll-Bar 125 destaca-se pela sua flexibilidade: a combinação do grande rolo de piso, do rolo iniciador e das barras de

rotação de fardos do sistema de câmara de compressão Roll-Bar asseguram uma formação precoce do núcleo e uma ação de rolamento positiva num grande número de culturas (palha seca a silagem húmida) e condições. A nova funcionalidade mais visível da Roll-Bar 125 é a proteção lateral. A sua robusta estrutura soldada assegura durabilidade, enquanto as dobradiças superiores da porta, a ampla abertura e os suportes dos amortecedores a gás proporcionam fácil acesso aos pontos de serviço para manutenção. Também possui um espaço protegido para armazenar rolos de rede de reserva. O quadro principal da enfardadeira foi modificado e foi acrescentado um amortecedor em ambos

os lados, entre o quadro principal e a porta traseira, para assegurar um fecho suave. As luzes da dianteira foram reposicionadas para acomodar as novas proteções laterais do novo design. Sob o capô, a nova enfardadeira apresenta melhorias que proporcionam maior durabilidade e reduzem os custos de manutenção: correntes de transmissão de elevada qualidade com pinos cromados e placas endurecidas, que têm um ciclo de vida mais longo, e novos rolamentos selados que evitam a contaminação por pó. Um comprovado inversor hidráulico de rotor com embraiagem de funcionamento livre está agora disponível nos modelos de alimentador de rotor, para um desligar fácil em caso de bloqueio do rotor. 098

O Bohning® Block foi desenvolvido por uma empresa norte-americana com a cooperação de especialistas em aparamento de cascos. Esses aparadores encontravam frequentemente problemas com as proteções de cascos de plástico que existiam no mercado: não aderiam bem ao casco, apesar da preparação adequada, criando trabalho extra para os aparadores e mais despesas para os produtores. O Bohning® Block apresenta as seguintes vantagens: - é estável: o padrão em favo de mel cria uma ligação ultra-forte com a cola e evita o desperdício de cola; - dura até 3 meses em ambientes de alto desgaste. Pode ser invertido para ser usado em qualquer lado do casco; - para aplicá-lo, basta limpar e preparar o casco, criando uma superfície plana. Seguidamente, aplicar o Bohning® Block com cola epóxi bicomponente, seguindo as especificações da cola (não é necessário aquecer o bloco).

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NUTRIÇÃO

COMO A DIETA DOS ANIMAIS AFETA O PERFIL NUTRICIONAL DOS PRODUTOS ANIMAIS

É VERDADE QUE OS SISTEMAS ALIMENTARES INDUSTRIAIS PRODUZEM ALIMENTOS A UM CUSTO MENOR. NO ENTANTO, ESSE CUSTO ESTÁ OCULTO E VAI SER PAGO NOUTRO LUGAR, EVENTUALMENTE À CUSTA DA NOSSA SAÚDE. NESTE ARTIGO FALAMOS SOBRE O IMPACTO DA DIETA NOS PERFIS NUTRICIONAIS Mais informação sobre dietas nutricionalmente densas em www.westonaprice.org

S

e está a ler este artigo, é provável que tenha algum interesse em saúde e bemestar. Se sim, pode ter notado que alimentos diferentes fazem-no sentir e ter um desempenho diferente. Pão e massa podem fazê-lo sentir-se cansado à tarde. O açúcar pode trazer-lhe energia, mas apenas brevemente, antes de notar uma quebra. Comer proteína e gordura, como abacate e ovo pode, ao invés, mantê-lo saciado por muito tempo. Em geral, quanto mais alimentos integrais e não processados comemos, melhor nos sentimos. Isto é assim porque evoluímos para comer

Michelle Harvey é terapeuta nutricional e health food chef. O seu foco são as dietas não-restritivas, os alimentos integrais e a reabilitação dos conhecimentos ancestrais como guia para o bem-estar. Pode segui-la em: michellechristineharvey@gmail.com Instagram.com/michelleharvey.

esses alimentos ao longo de milhões de anos. A introdução da agricultura deu-se apenas há cerca de doze mil anos atrás e os alimentos tornaram-se cada vez mais industrializados no início de 1900. Quando se trata de animais, aplicam-se exatamente os mesmos princípios. As vacas pastam e estão preparadas para comer erva, as cabras são desfolhadoras e comem uma grande diversidade de plantas e as galinhas comem insetos, vermes e vegetais. O desvio desta "norma natural" leva frequentemente a problemas e isso é, infelizmente, a norma. Atualmente, 70% a 99% (dependendo do animal) da carne e leite são produzidos

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por explorações onde se usa alimentação concentrada. Ficam alguns exemplos de como o perfil de nutrientes dos produtos animais muda de acordo com suas dietas. RÁCIO DE ÁCIDOS GORDOS OMEGA 6:3 O rácio ómega 6:omega 3 nos nossos tecidos é de cerca de 2:1. Quando se trata de comparar os valores de ómega 6 na carne bovina alimentada com pasto, versus a carne bovina alimentada com grãos, os números são bastante semelhantes. No entanto, a quantidade de ómega 3 na carne alimentada com pasto é 2 a 5 vezes superior. Por exemplo, o rácio ómega 6:3 numa vaca


Como a dieta dos animais afeta os perfis nutricionais dos produtos animais

NUTRIÇÃO

alimentada com erva é cerca de 1,5:1, enquanto num animal alimentado com grãos será mais perto de 6,5:1. Isto é importante porque quanto mais ómega 6 é consumido, menos ómega 3 fica disponível para os tecidos. Isso significa que, se duas pessoas comerem a mesma quantidade de ómega 3, mas uma comer muito mais ómega 6, essa pessoa terá menos ómega 3 disponível para utilizar. Infelizmente, o uso generalizado de óleos de sementes industriais para cozinhar e em quase todos os alimentos embalados, representa um consumo de cerca de dez vezes mais ómega 6 em comparação com ómega 3. Equilibrar esse rácio é muito importante porque esses ácidos gordos essenciais atuam em conjunto para equilibrar a inflamação no corpo como um todo (1). ÁCIDO LINOLEICO CONJUGADO O ácido linoleico conjugado (CLA) é um potente protetor e antioxidante que é encontrado principalmente na carne e nos lacticínios. Em estudos com animais,

quantidades muito pequenas de CLA bloquearam todos os três estágios de cancro: 1) iniciação, 2) promoção e 3) metástase. Outro estudo determinou que as mulheres com maior quantidade de CLA nas suas dietas tiveram uma redução de 60 por cento no risco de cancro da mama. O CLA é encontrado em quantidades 2 a 3 vezes maiores na carne bovina de animais alimentados a erva em comparação com os alimentados com grãos. É melhor escolher uma carne bem marmoreada porque o CLA está mais concentrado nas células de gordura. Quando os animais são alimentados com grãos como milho e soja, em vez de erva, o pH do seu sistema digestivo muda, inibindo o crescimento das bactérias que ajudam a produzir CLA. Se deseja otimizar o seu consumo de CLA, a escolha de carne com gordura criada a pasto é a melhor opção (2). ANTIOXIDANTES, VITAMINAS E MINERAIS A carne alimentada a pasto também contém consideravelmente mais

antioxidantes, vitaminas e minerais. Carotenóides tais como o beta-caroteno (um precursor da vitamina A) são encontrados como pigmentos em alimentos vegetais. Animais alimentados com grãos contêm menos carotenóides porque os próprios grãos contêm-nos em menor quantidade e, portanto, não passam para a carne. Esses pigmentos carotenóides são o que torna a gordura de vacas alimentadas com erva amarelada, tanto na carne como na manteiga. Ao fazer compras, pode olhar para a gordura amarela da carne como um indicador - o animal tinha uma dieta rica em erva. Isso também explica por que é que a manteiga feita em diferentes épocas do ano tem diferentes intensidades de amarelo - as vacas comem pastos distintos em diferentes épocas do ano. Como consumidores, somos naturalmente atraídos pela manteiga com uma coloração amarelo rico, muitas vezes sem saber porquê. Uma vez que a maioria da manteiga é derivada de vacas alimentadas com grãos, as empresas de lacticínios adicionam betacaroteno sintético à manteiga para torná-la mais atraente para os consumidores.

A RECEITA DA MICHELLE Ensopado de flocos de aveia Esta receita permite aproveitar o melhor perfil nutricional do leite, já que não vai ao lume, enquanto mantém os benefícios dos flocos de aveia, nomeadamente os amidos resistentes que alimentam a flora bacteriana no cólon. Também ajuda a destruir parte do ácido fítico - um anti-nutriente conhecido, que durante a noite se decompõe em contacto com o leite. | prep 5 min | INGREDIENTES • 1/3 chávena flocos de aveia • 1 chávena de leite cru • 1 colher de sopa de mel • 1 colher de chá de passas de uva • ½ colher de sopa de canela • ¼ colher de sopa de cravinho + cardamomo + noz-moscada • 1 pitada de sal

PREPARAÇÃO 1. colocar todos os ingredientes numa tijela, misturar bem e deixar a ensopar de 1 dia para o outro 2. de manhã poderse-á de ter que adicionar mais leite, dependendo do tipo de flocos de aveia usados 3. colocar por cima qualquer combinação desejada de fruta fresca, granola, mel, pólen, etc...

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Verifique sempre os rótulos para garantir que a sua manteiga é naturalmente amarela da dieta da vaca e não de um aditivo alimentar (3). É verdade que os sistemas alimentares industriais produzem alimentos a um custo menor, no entanto, o custo está oculto e é pago noutro lugar, como constatado sucintamente nesta citação de Michael Pollan: “Comida barata é uma ilusão. Não existe comida barata. O custo real da comida é pago em algum lugar. E se não for pago na caixa à saída, é cobrado do meio ambiente ou a fundos públicos sob a forma de subsídios. E é cobrado à sua saúde.” Espero que estes exemplos acrescentem seriedade ao argumento para escolher produtos de origem animal criados à base de pasto, como também ajudem o consumidor a escolher aqueles que são mais nutritivos. FONTES: (1) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/ PMC284686; (2) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/ PMC2846864; https://academic.oup.com/ carcin/article/20/6/1019/2733494 https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/803913; (3) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/ PMC2846864.


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Como a dieta dos animais afeta os perfis nutricionais dos produtos animais

NUTRIÇÃO

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