RUMINANTES
042
ANO 11 | 2021 JUL/AGO/SET (TRIMESTRAL) PREÇO: € 5.00
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Leite biológico
S. Miguel • Ordenha móvel nas Sete Cidades • A carne em vez do leite, uma alternativa • Produzir com base nas forragens
Produzir leite 100% de pastagem no Alentejo
Cabras leiteiras
Uma exploração exemplar em tecnologia e bem-estar animal
Reiter Respiro R7 RD O pick-up encordoador flexível mais suave com a forragem
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EDITORIAL
REVISTA RUMINANTES #42
JULHO . AGOSTO . SETEMBRO 2021 DIRETOR Nuno Marques | nm@revista-ruminantes.com Foto FG
D
Caro Leitor,
epois de muitos meses de pandemia nos dificultarem as viagens, nesta edição conseguimos voltar aos Açores, a S. Miguel, onde visitámos produtores de leite e de carne. O gosto desses produtores pelos seus negócios mantém-se mas a dececionante situação do preço do leite na Ilha preocupa-os. É difícil entender como se chega à situação de ter o preço mais baixo da Europa numa região com condições únicas para a produção de leite diferenciado, e com uma imagem de marca forte como os Açores. Como é que, passados tantos anos, continua a não haver capacidade para transformar e comercializar o leite em produtos de valor acrescentado, para conseguir manter num patamar elevado o preço pago aos produtores? Foram erros sucessivos de quem promoveu a quantidade de leite, com subsídios por litro de leite produzido, sem pensar nas condições para comercializar a preço justo? O curioso é que são as estruturas que foram criadas para comercializar e “defender” o preço do leite aos produtores, as que mais contribuem para que o leite não suba neste momento. Nesta edição apresentamos os resultados de uma prova cega de leite. Nesta prova foram analisadas sensorialmente, por consumidores do concelho de Castelo Branco e limítrofes, três amostras de leite produzidas, embaladas e comercializadas em Portugal, das marcas preferidas pelos lares portugueses em 2020. Dois dos leites provieram de vacas alimentadas predominantemente com silagem de milho, e o terceiro de vacas com um regime alimentar principalmente assente em pastagem de gramíneas e leguminosas e feno-silagem de erva. Os resultados obtidos mostraram que os consumidores não percecionaram diferenças significativas na cor e no sabor das várias amostras de leite, não obstante as diferenças nos sistemas alimentares das vacas. Seria interessante que se continuassem estes estudos, de forma mais abrangente, para se perceber se os sistemas alimentares utilizados têm de facto influência na escolha dos consumidores, o que, apenas com base nos resultados deste estudo, parece não acontecer. Em maio conhecemos, em Avis, outra forma de olhar para o negócio da produção de leite de vaca. Na Herdade do Vale de Arneiro, a família Sanganha opera em modo de produção biológico há cerca de 20 anos. Problemas com um surto de brucelose obrigaram, na altura, ao abate total do efetivo e a repensar o negócio: em vez de terem as vacas estabuladas, no modo convencional, optaram por ter os animais permanentemente nas pastagens, fazendo o pastoreio rotacional. Se a quebra da produção de leite se verificou, como era esperado, também os custos de produção tiveram uma redução drástica, resumindo-se hoje, quase exclusivamente, à mão de obra e à prestação de serviços para a produção de forragens para conservar. No reconhecimento da excelência do leite como este poderá estar o sucesso futuro desta abordagem corajosa. Os preços das matérias-primas mantêm-se altos. O custo extra de produzir carne e leite continua, inexplicavelmente, aos ombros dos agricultores. Esperamos que, quanto antes, esse valor passe para a distribuição e para o consumidor final. Os negócios são saudáveis quando são interessantes para todas as partes e, no que toca a este aspecto, nem a grande distribuição costuma mostrar bom senso, nem a indústria de lacticínios portuguesa tem conseguido acrescentar valor ao leite que compra, como conseguem noutros países. Nuno Marques 03
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Abílio Pompeu, André Antunes, André Oliveira, António Castanheira, António J. Meia Bota, António Moitinho, Carlos Vouzela, Cátia Pintado, César Silva, Cristina Miguel, Emanuel Garcia, Emanuel Gonçalo, Enrique Pernaute, Estrela Rego, Helder Duarte, Jaime Alves, Joana Silva, Joana Tomás, João Sanganha, João Santos, Jorge Franco, Jorge Gonçalo, José Caiado, José Carlos Mendes, José Fragoso de Almeida, José João Mendes, Luís Raposo, Michelle Harvey, Miguel Miranda, Miguel Rodrigues, Nelson Medeiros, Pedro Castelo, Pedro Nogueira, Roberto Ruiz, Sara Garcia, Sara Martins, Tércio Medeiros, Thomas Reiter. DESIGN E PRÉ-IMPRESSÃO Francisca Gusmão REDAÇÃO Francisca Gusmão, Inês Ajuda FOTOGRAFIA Francisca Gusmão, Francisco Marques IMPRESSÃO Jorge Fernandes Lda. Rua Quinta Conde de Mascarenhas , nº9, Vale Fetal, 2825-259 Charneca da Caparica Telefone: 212 548 320 ESCRITÓRIOS E REDAÇÃO Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto | 2780-051 Oeiras Telemóvel: 917 284 954 geral@revista-ruminantes.com PROPRIEDADE/EDITOR Aghorizons, Lda / Nuno Marques Contribuinte nº 510 759 955 Sede: Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto. | 2780-051 Oeiras GERENTE Nuno Duque Pereira Monteiro Marques DETENTORES DO CAPITAL SOCIAL Nuno Duque P. M. Marques (50% participação) Ana Francisca C. P. Botelho de Gusmão Monteiro Marques (50% participação) TIRAGEM 5.000 exemplares PERIODICIDADE Trimestral REGISTO Nº 126038 DEPÓSITO LEGAL Nº 325298/11 O editor não assume a responsabilidade por conceitos emitidos em artigos assinados, anúncios e imagens, sendo os mesmos da total responsabilidade dos seus autores e das empresas que autorizam a sua publicação. Reprodução proibida sem a autorização da Aghorizons Lda. Alguns autores nesta edição não adotaram o novo acordo ortográfico. O "Estatuto Editorial" pode ser consultado no nosso site em: www.revista-ruminantes.com/ estatuto-editorial www.revista-ruminantes.com www.facebook.com/RevistaRuminantes
#42 | jul. ago. set. 2021
SUMÁRIO
#42 JULHO AGOSTO SETEMBRO 2021
08 Produção | Vacas de leite O leite do vulcão das Sete Cidades
12 Alimentação | Vacas de leite Produzir leite a baixo custo em Arrifes
14 Alimentação | Vacas de leite Ensaios de beterraba nos Açores
16 Produção | Bovinos de carne Trocar o leite pela carne
18 Nutrição | Leite de vaca Perceção sensorial de 3 leites portugueses
22 Produção | Cabras de leite Produzir leite de cabra em Penalva de Alva
28 Produção | Novilhas Da recria ao 1º parto, em busca da competitividade
32 Nutrição | Aberdeen-Angus Plano nutricional em teste de desempenho produtivo
36 Bem-estar | Vacas de leite O impacto da luz em animais estabulados
40 Produção | Vacas de leite Stress térmico O trio de prevenção
42 Produção | Vacas de leite Cruzar e crescer, na Quinta do Muroz
56 Equipamento 27 metros cúbicos e mais quallidade na mistura
60 Equipamento O primeiro pick-up encordoador flexível
46 Agricultura regenerativa Produzir leite 100% de pastagem no Alentejo
66 Equipamento New Holland BB 890 Plus Balanço após 1 ano de utilização
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brevemente em portugal
a 4ª dimensão da fertilidade
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#42 | jul. ago. set. 2021
SUMÁRIO
68 Equipamento Uma rotativa de 30 pontos no Planalto Mirandês
72 Equipamento Como ter um laboratório móvel na exploração
74 Equipamento Amamentadoras automáticas de vitelos
76 Equipamento Maior capacidade para ganhar tempo
78 Equipamento Cobertura de silos
80 Observatório matérias-primas À procura da estabilidade
82 Observatório do leite Falando-se de números, sustentabilidade e insetos
84 Índices VL e VL-Erva Quem quererá destruir a produção de leite de vaca em Portugal?
86 Notícias Investigação leiteira, o que há de novo
88 Notícias | Bovinos Metano, bovinos e erro no cálculo do IPCC
90 Notícias Rede BovINE Controlo diário da ingestão
90 Notícias Rede BovINE Monitorização em tempo real
91 Notícias Selos de bem-estar animal em pequenos ruminantes
92 Nutrição Sobre o valor nutricional do leite
94 Notícias Simpósio Nanta, recria de vitelas
94 Notícias Identificação elétrónica de ovinos
WWW.REVISTA-RUMINANTES.COM 06
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REVISTA RUMINANTES
PRODUÇÃO | VACAS DE LEITE
O LEITE DO VULCÃO JAIME ALVES É PRODUTOR DE LEITE NO VULCÃO DAS SETE CIDADES. NA SUA OPINIÃO, O LEITE PRODUZIDO NO VULCÃO É ÚNICO, DEVIDO SOBRETUDO À VEGETAÇÃO AUTÓCTONE E À PUREZA DA ÁGUA DAS NASCENTES. PORÉM, LAMENTA O FACTO DE A EXCECIONALIDADE DO PRODUTO NÃO SER RECONHECIDA POR QUEM LHO COMPRA E RECLAMA A APROPRIAÇÃO INDEVIDA DA DESIGNAÇÃO “SETE CIDADES” POR ALGUMAS EMPRESAS DO SETOR DOS LATICÍNIOS. Entrevista a Jaime Rui Costa Alves | Por Ruminantes | Fotos Francisca Gusmão
N
a zona do vulcão das Sete Cidades, que dispensa mais apresentações, há hoje cerca de 30 produtores de leite. No total, produzem 5,5 milhões de litros anualmente que vendem à Unileite. Sendo esta uma zona de excecional beleza mas também de grande fragilidade paisagística, o desenvolvimento de atividades económicas obedece a um plano de ordenamento e a um conjunto de regras que condicionam a sua utilização. O objetivo é proteger a qualidade da água das lagoas e a preservação dos matos e da floresta natural, principalmente através do controlo do uso das pastagens. Por isso, produzir leite nesta região é mais dispendioso, embora não seja compensatório em termos do preço pago aos produtores que acreditam que o leite
que produzem deveria ser tratado como um produto diferenciado. O que representa ser produtor nas Sete Cidades? Na minha opinião, representa produzir um leite de qualidade superior porque as vacas estão sempre na pastagem. Nesta zona, cerca de 30 produtores fazem leite de pastagem pelo sistema tradicional de ordenha móvel. Aqui, a pastagem tem características que conferem uma qualidade diferente ao leite. A água é de nascente, pura e sem custos. Porém, apesar da sua qualidade, este leite é vendido ao preço de qualquer outro, o que parece ser um incentivo a estabular as vacas e a produzir somente em função da quantidade, o que contraria a realidade das Sete Cidades. 08
O negócio é rentável? Já foi melhor, o leite já foi pago a mais 10 cêntimos por litro e os fatores de produção já estiveram mais baratos. Como está não é sustentável. Como fazem o maneio alimentar? As vacas estão na pastagem todo o ano, e no verão comem apenas erva verde. No inverno, para além da pastagem damos silagem de erva e de milho. A ração é dada para chamar as vacas. Como é o maneio dos animais? O maneio é o tradicional desta localidade única e de beleza extraordinária. Os animais dormem sempre na pastagem. No verão, ordenhamos as vacas em dois locais diferentes e, no inverno, em três. As vacas vão percorrendo as diferentes pastagens e nós
O leite do vulcão
PRODUÇÃO Jaime Rui Costa Alves é produtor de leite na zona do vulcão das Sete Cidades e explora uma área de 89 hectares. Nesta zona existem 30 produtores de leite que produzem um total de 5,5 milhões de litros anualmente. Na foto ao lado, os seus filhos.
deslocamos a ordenha, os bebedouros e os comedouros. É tudo móvel. É no verão, quando as vacas estão sempre nas pastagens de maior altitude, que aproveitamos para produzir silagem de milho e de erva nas parcelas mais baixas. Tudo o que é produzido nessas parcelas é aí armazenado, ou seja, não transportamos forragens entre parcelas. O que privilegia na genética? Privilegio aquilo que são as minhas prioridades: boa mobilidade (boas patas), longevidade, e produção. Os meus animais são Holstein puros, mas alguns cruzo com Angus porque os vitelos têm o dobro do valor dos Holstein e o sémen é gratuito. É um incentivo do governo regional para quem cruza com Angus e para manter a renovação dos efetivos leiteiro e aumentar o rendimento em vitelos. Como se traduz isso em custos com saúde animal? Praticamente não tenho custos com a saúde, porque os animais estão muito bem adaptados às pastagens, e também porque os acompanho de perto. Qual a idade média do efetivo adulto? A média está nos 7 anos. A vaca mais velha que tive tinha 14 anos, e
atualmente tenho muitas vacas com 10 anos a produzir e sem problemas. Refuga muitos animais? Não, nesta fase em que tenho o efetivo estabilizado até vendo algumas novilhas. Quantas inseminações faz por vaca prenhe? Uma inseminação única. As vacas que não ficam prenhes vão para o touro.
O que faria de diferente na comercialização do leite das Sete Cidades? Criaria uma marca própria de produtos com o leite aqui produzido. E não permitiria que outras empresas se servissem do nome “Sete Cidades” sem que recolhessem aqui o leite desses produtos de que fazem publicidade.
DADOS DA EXPLORAÇÃO
Há muitas vacas que não pegam à primeira? Sim, ainda bastantes.
Nome
Jaime Rui Costa Alves
Localização
Sete Cidades
Área da exploração
89 ha
Que instalações e equipamentos tem? Instalações fixas propriamente ditas não tenho. A ordenha móvel de 8 pontos, bem como os equipamentos são móveis.
Nº empregados
1
Efetivo total
140 animais
Nº vacas em ordenha
85
Nº de touros
3
Raça
Holstein
Idade ao 1º parto
30 meses
Como é feita a recria? Quando os vitelos nascem, vêm para um parque perto de casa e permanecem aí até aos 6 a 7 meses. Depois, passam para outros parques, mais afastados, onde permanecem por mais um ano. Qual é a alimentação dos vitelos? Pastagem e muito pouca ração, cerca de 1 kg por dia, por vitela. 09
Produção média diária
24,5 litros
Nº ordenhas por dia
2
Tempo de ordenha do efetivo
4 horas/dia
Nº de lactações médio anual
4a5
GB (%)
3,7
PB (%)
3,2
CCS
< 400.000 células/ml
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REVISTA RUMINANTES
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010
O leite do vulcão
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Aumenta a estabilidade aeróbica do silo
• Maior valor nutricional da silagem. • Redução do aquecimento da frente do silo. • Redução dos fungos e leveduras responsáveis pela degradação da silagem.
Redução rápida do pH
• Menos perdas durante a fermentação. • Mais açúcares disponíveis. • Menor degradação da proteína.
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11 CFT
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Para silagem de Milho
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011
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REVISTA RUMINANTES
Os irmãos Nelson e Tércio Medeiros ocupam-se da gestão da exploração, em Arrifes, São Miguel. Atulamente possuem um efetivo de 130 vacas adultas, 120 das quais em lactação. As vacas lactantes estão permanentemente na pastagem, só saindo para serem ordenhadas ou quando acedem à zona da manjedoura.
Nova sala de ordenha, GEA 2X10 com DemaTron 70.
EQUIPAMENTO | VACAS DE LEITE
PRODUZIR LEITE A BAIXO CUSTO EM ARRIFES
OS IRMÃOS MEDEIROS SENTIRAM A NECESSIDADE INVESTIR NUMA SALA DE ORDENHA NOVA, PARA MELHORAR AS CONDIÇÕES DE TRABALHO E DIMINUIR O TEMPO GASTO COM A ORDENHA. PORÉM, NA ORIENTAÇÃO DO NEGÓCIO MANTÊM A IDEIA DO PAI: “NÃO PRODUZIR O MÁXIMO DE LEITE, MAS PRODUZIR LEITE BARATO”. Entrevista a Nelson e Tércio Medeiros | Por Ruminantes | Fotos FG
É
na fértil zona de Arrifes que se encontra a vacaria da família Massa Medeiros, gerida atualmente pelos irmãos Nelson e Tércio Medeiros. O negócio, que mantêm em sociedade com o seu pai, já vem do avô. Hoje o efetivo está nas 130 vacas adultas, 120 das quais em lactação. A produção média é de 26 litros/ vaca/dia, vendidos à Unileite como Leite de Pastagem.
No total, a exploração compreende 53 hectares. O centro de exploração está numa parcela de 10 ha, onde as vacas são ordenhadas e pastoreiam. Na área restante pastoreiam as novilhas e as vacas secas, e semeia-se erva (azevém local) e milho (ciclo 500) para silagem. As vacas comem silagem de milho e de erva 365 dias por ano, em quantidade variável em função da quantidade de
pastagem existente. A ração fornecida depende da fase da lactação e da quantidade de leite que cada vaca produz. Todas comem, no mínimo, 2 kg de ração por ordenha.. As vacas em lactação estão sempre na pastagem, só saindo para serem ordenhadas ou quando acedem à zona da manjedoura. Recentemente, os irmãos Medeiros sentiram a necessidade investir numa 012
sala de ordenha, modelo GEA 2X10 com DemaTron 70 —, num tanque de leite com o dobro do tamanho e na cobertura de um pavilhão. As razões na base da decisão foram a melhoria das condições de trabalho e a diminuição do tempo gasto com a ordenha. Como orientação do negócio, porém, mantêm a ideia do pai: “não produzir o máximo de leite mas produzir leite barato”. “Este continua a ser o nosso lema”, dizem os irmãos.
Produzir leite a baixo custo em Arrifes
EQUIPAMENTO | VACAS DE LEITE
José Manuel Viveiros, técnico GEA na Associação Agrícola S. Miguel, supervisionou a instalação da nova sala de ordenha. Trata-se de uma unidade com 2x10 pontos, com sistema de controlo de ordenha DemaTron 70 (GEA) patenteado para contraste leiteiro. Permite uma alimentação manual de soga, por ativação caem 700 a 800 g de ração por vaca. As portas ajustamse automaticamente no seu todo e animal a animal, ficando numa posição de 85º.
Américo Massa Medeiros começou o negócio em sociedade com o seu pai. Tanque de refrigeração Serap, 8000 litros KB2, com termoacumulador de 400 litros para aquecer a água a 50-60ºC para fazer a lavagem do tanque e da sala de ordenha. Equipa com o sistema Rainbow (informa sobre a temperatura do leite quando sai da vaca até chegar aos 3ºC, já arrefecido). Tem também um medidor electrónico da quantidade de leite.
Em janeiro de 2021 investiram numa nova sala de ordenha. Porquê? Investimos para melhorar as condições de trabalho e diminuir o tempo gasto com a ordenha, que rondava 5 a 6 horas por dia, no total das 2 ordenhas. Nesta sala demoramos metade do tempo. Que balanço faz destes 5 meses? Temos muito mais conforto para os operadores, maior facilidade na execução dos procedimentos da ordenha, mais higiene, maior conforto para as vacas, muito mais informação sobre a produção de leite e maior precisão no fornecimento de ração por animal. A produção não subiu, mas isso também depende da fase da lactação em que estavam os animais quando passámos para a nova
sala. Os gastos com a ração foram otimizados.
DADOS DA EXPLORAÇÃO
Que indicadores utilizam para ver se o negócio vai no bom caminho? O indicador mensal que utilizamos é a diferença entre o que faturamos e o que gastamos. O objetivo é ficar com o máximo possível do nosso lado. Já temos uma previsão dos gastos mensais que vamos ter ao longo do ano. Os custos estão bastante controlados, não compramos forragens fora, apenas a ração, que é o principal custo que temos mas que agora está mais controlado. Que custos têm com a saúde animal? Não são representativos. Nós investimos pouco em genética para termos poucos custos com saúde animal. 013
Nome
Américo Massa Medeiros
Localização
Arrifes, S. Miguel (Açores)
Área da exploração (ha)
53
Área do centro de exploração (ha)
10
Culturas
Azevém, milho para silagem
DADOS DO REBANHO Produção total de leite/ano (litros)
± 1.000.000
Efetivo total -
210
Raça
Holstein
Nº de vacas em ordenha
120
Nº de ordenhas/ dia
2 (6h00 e 17h30)
Tempo gasto por ordenha (total efetivo)
1h20
Consumo de concentrado (kg/vaca/dia)
7
Produção média diária (litros/vaca)
26
GB (%)
4,2
PB (%)
3,2
CCS (cél/ml)
260.000
Idade ao abate
7 anos
Idade ao 1º parto
24 meses
Nº I.A. vaca adulta gestante
1,5 a 2 doses
#42 | jul. ago. set. 2021
REVISTA RUMINANTES
Variedade Manja
Variedade Geronimo
ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE
ENSAIOS DE BETERRABA NOS AÇORES
EMANUEL GARCIA É PRODUTOR DE LEITE NA ILHA AÇORIANA DE SÃO MIGUEL. A SUA EXPLORAÇÃO ESTÁ SITUADA NA LOCALIDADE DA RELVA, ONDE TEM VINDO A DESENVOLVER ENSAIOS COM ALGUMAS VARIEDADES DE BETERRABA TENDO EM VISTA O SEU INTERESSE NA ALIMENTAÇÃO DO GADO. Por Ruminantes | Fotos FG, Emanuel Garcia
E
m comparação com o milho, a beterraba é uma cultura mais versátil, como nos disse Emanuel, já que “permite ser pastoreada ou colhida para posterior utilização”. A Ruminantes visitou, em maio, dois campos, cultivados simultaneamente, no outono, com as variedades de Geronimo e Manja, que serão dados às vacas e à recria em julho. A Geronimo é uma variedade de beterraba forrageira, muito usada para pastoreio direto, em que parte da raiz fica fora da terra. O teor de matéria seca (MS) é de 12-16%. Precisa de 4 aplicações de herbicida para o controlo de infestantes. A empresa KWS está a desenvolver uma variedade de pastoreio menos exigente em aplicações de herbicida.
A Manja é uma nova variedade de beterraba sacarina que exige apenas metade das aplicações de herbicida (Conviso One, da Bayer). Esta variedade tem entre 20-22% de matéria seca e um teor de açúcar mais elevado comparativamente com as variedades forrageiras. Segundo Emanuel Garcia o custo de uma tonelada de matéria seca das variedades Geronimo e Manja ficou, respectivamente, em 66€ e 71€. "Sabemos que a beterraba ingerida pelos animais vai competir diretamente com a energia fornecida pelos cereais incorporados através das rações na dieta das vacas em ordenha", disse Emanuel. Nota: Nesta altura o preço de mercado de uma tonelada de MS de farinha de milho estava em cerca de 285€/ton (250€: 0,87 MS= 287€).
Variedade Manja
• Produção de 30 ton MS/hectare • Genética superior e avançada • Tolerância ao herbicida Conviso One (foramsulfurão+tiocarbazona-Metil) • Planta muito resiliente às adversidades climatéricas (encharcamento/granizo) • Campo livre de infestantes todo o ciclo • Excelente sanidade da folha durante todo o ciclo • Instalação homogénea tanto no campo como entre plantas. • Alto teor de MS (20-22%) e açúcares (67%/kg MS) • Permite uma ampla janela de consumo e armazenamento • Não suporta o pastoreio direto, dado o nível de enterramento da sua raiz • Só deve ser colhida de forma mecânica • Ideal para otimizar arraçoamentos em vacas leiteiras de alta produção e gado de engorda em regime intensivo/ confinamento)
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Variedade Geronimo
• Produção de 25 ton. MS/hectare • Excelente versatilidade (pastoreio e/ ou recolha) • Alta produtividade em matéria forrageira (MF), porém com teor de MS mais baixo (12-16%) • Utilizável por todas as classes de gado, à exceção de gado com menos de 6 meses de idade. • Esquema de aplicação de herbicidas convencional, ou seja, mais complexo e falível • Ideal para consumo em fresco, quer em pastoreio quer em TMR • Menor sanidade do sistema foliar
Stress térmico, o trio de prevenção
ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE
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#42 | jul. ago. set. 2021
REVISTA RUMINANTES
PRODUÇÃO | BOVINOS DE CARNE
TROCAR O LEITE PELA CARNE
“O LEITE É A MINHA PAIXÃO”, DISSE-NOS MIGUEL RODRIGUES QUANDO LHE PERGUNTÁMOS SE TINHA PENA DE DEIXAR O NEGÓCIO DO LEITE. “MAS A ESTE PREÇO E COM POLÍTICAS QUE PAGAM PARA PRODUZIR LEITE E PAGAM PARA CONVERTER LEITE EM CARNE, É COMPLICADO”. AOS 41 ANOS, DEDICADO À PRODUÇÃO DE LEITE POR CONTA PRÓPRIA DESDE 2007, MIGUEL RODRIGUES DECIDIU CONVERTER O NEGÓCIO PARA A PRODUÇÃO DE CARNE.
P
Entrevista a Miguel Rodrigues | e-mail: miguelbotelhorodrigues79@gmail.com | Por Ruminantes | Fotos FG
ara esta decisão contribuiu a entrada em vigor da portaria que possibilita a reconversão de explorações de produção de leite em produção de carne de bovino, através da qual o Governo pretende uma reconversão das explorações de leite em explorações de carne onde as indústrias manifestam haver excesso. No final de 2020, Miguel entregou o leite pela última vez. Nessa altura, na sua exploração (30 hectares para pastoreio e produção de forragens), tinha 80 vacas em produção, sala de ordenha fixa, tanque de refrigeração de leite, uma produção anual de leite superior a 500.000 litros e produção média anual por vaca de 9000 litros.
Porque trocou o leite pela carne? A última vez que entreguei leite foi no último dia de 2020. Tinha os problemas que qualquer exploração de leite tem, mas sempre os consegui ultrapassar. O único que não consegui resolver foi o preço do leite pouco atrativo e o facto de não haver um rumo na fileira do leite agravou o problema: uns dizem para produzir, outros para reduzir, paga-se o leite pela quantidade e depois paga-se para haver desistências na produção de leite. Tudo isto cria descrédito na fileira. Decidi manter-me na pecuária mas converter a exploração para bovinos de carne. 016
Quais são as grandes mudanças do leite para a carne? O número de vacas vai ser superior às de leite (ainda não é). Atualmente tenho um efetivo com 130 animais com 30 vacas aleitantes mas poderei chegar às 108. Em 2022 tenho que ter 70% dos animais aleitantes, e em 2023 tenho que ter 70% das fêmeas lactantes. Onde comprou os animais? Que raça procura? Tenho comprado noutras ilhas dos Açores, em explorações de boa genética. A opção foi pela limousine, pela qualidade e rentabilidade da carcaça, e também pelo gosto que tenho por essa raça.
Trocar o leite pela carne
PRODUÇÃO Com o apoio técnico e de próximidade que a ADP Fertilizantes me proporciona, vou apostar em consociações com mais leguminosas, de forma a ter um plano de fertilização mais adequado. E utilizar sementes perenes com o intuito de que as pastagens se mantenham por 4 anos, para não ter que mobilizar os solos com tanta frequência, diminuindo deste modo a erosão.
Nestes 5 meses a produzir carne, o que mudou? A atividade é muito diferente. Antes tinha que me levantar cedo e ir buscar o empregado para fazer a ordenha. Um ia buscar os animais e outro preparava a ordenha... fizesse chuva ou sol. Agora faço o trabalho e jogo com as abertas do tempo. O maneio das vacas também é diferente, as vacas de leite são mais mansas mas muito exigentes. As de carne, depois de habituadas à exploração e ao maneio das pessoas, tornam-se também tranquilas. Como é um dia normal de trabalho? Quando chego, de manhã, observo com cuidado os animais no campo, para perceber se algum está doente ou em cio, mudo as cercas e vejo se o bebedouro tem água limpa e suficiente. Depois, olho para o terreno para ver se está todo bem pastoreado e decido a nova cerca de pastagem. Qual é o maneio alimentar destes animais? Continuamos com silagem de erva para os períodos de escassez, e silagem de milho para o acabamento dos animais. Neste momento, não utilizamos rações.
Como faz a gestão da pastagem? De início alterei as adubações, aumentei o fósforo e reduzi o azoto. Quanto à gestão propriamente dita, tento fazer uma rotação das cercas elétricas de forma a conseguir uma rotatividade tal que me permita ter já alguma fibra quando volto ao inicio, à primeira zona pastoreada. Nas sementeiras de setembro/outubro vou apostar em consociações com mais leguminosas, de forma a ter um plano de fertilização mais adequado. E utilizar sementes perenes com o intuito de que as pastagens se mantenham por 4 anos, para não ter que mobilizar os solos com tanta frequência, diminuindo deste modo a erosão. As vacas dormem a campo, passam todo o dia no campo. No acabamento dos animais, ainda não decidi, mas poderá passar pela semiestabulação.
da fibra. A erva que aqui temos, nos meses de novembro/dezembro/janeiro, tem muito pouca fibra, ao contrário do sítio de origem desses animais, que tem variedades de azevém com mais fibra.
Como foi a transição dos animais para a sua exploração? Houve situações curiosas. Os animais que comprámos na ilha de Sta Maria, quando chegaram passavam o tempo a comer, algumas até ficaram mal dispostas, e sempre que podiam iam para a mata ou para os caminhos à procura
Será melhor este negócio da carne do que vender o leite ao preço base de 0,2055 €/litro? Seguramente vou ter mais qualidade de vida, mas a ideia é conseguir ter a mesma faturação com menos custos de mão-de-obra e menos fatores de produção.
017
Como vai comercializar os animais? A ideia é juntar os meus animais com os de outros. para termos alguma dimensão. Serão seguramente animais de pastagem, mas estamos abertos a fazer acabamentos diferentes em função do mercado, por encomenda. Quando pensa atingir a velocidade de cruzeiro na exploração? No mínimo daqui a 3 anos. Neste período vou ter tempos difíceis porque, do ponto de vista económico, durante este período a exploração não vai vender praticamente nada.
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REVISTA RUMINANTES
NUTRIÇÃO | LEITE DE VACA
PERCEÇÃO SENSORIAL DE 3 LEITES PORTUGUESES
PODERÁ A QUALIDADE SENSORIAL DE LEITES PROVENIENTES DE VACAS SUJEITAS A REGIMES ALIMENTARES DIFERENTES SER PERCECIONADA PELOS CONSUMIDORES? NESTA PROVA, REALIZADA NO INÍCIO DESTE ANO, FORAM ANALISADAS SENSORIALMENTE, POR CONSUMIDORES, TRÊS AMOSTRAS DE LEITE UHT MEIO GORDO, PRODUZIDAS, EMBALADAS E COMERCIALIZADAS EM PORTUGAL. POR Cristina Miguel Pintado , Cátia Baptista1, Sara Martins , António Moitinho Rodrigues , Nuno Marques 1
1
1
1,2,3
4
CATAA, Centro de Apoio Tecnológico Agro Alimentar, 6000-459 Castelo Branco; cristinamiguel.cataa@gmail.com | Escola Superior Agrária – Instituto Politécnico de Castelo Branco, 6001-909 Castelo Branco | 3CERNAS-IPCB, Centro de Estudos de Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade, Instituto Politécnico de Castelo Branco | 4Revista Ruminantes
O
leite e os produtos lácteos são fontes de proteínas, gorduras e micronutrientes que têm impacto positivo na saúde humana (Garcia et al., 2019). Por exemplo, contribuem para satisfazer as necessidades diárias de aminoácidos essenciais, cálcio e vitamina D, nutrientes necessários para uma adequada saúde óssea (Huth et al., 2013; DawsonHughes et al., 2010).
2
Em Portugal, nos últimos cinco anos, o grau de autoaprovisionamento médio de leite foi de 107% (produz-se mais leite do que se consome), verificando-se uma tendência para a estabilização do consumo per capita em torno de 200 ml/habitante/dia (INE, 2020), quantidade que é 11% superior à média da UE-28. De acordo com o relatório anual da Brand Footprint (Kantar, 2021), entidade que avalia o ranking das marcas mais escolhidas pelos consumidores,
entre os 10 produtos mais escolhidos pelos consumidores portugueses em 2020 estão quatro marcas de leite e produtos lácteos de origem nacional. Durante os últimos anos têm sido notórias as mudanças no comportamento dos consumidores que procuram, cada vez mais, alimentos saudáveis e sustentáveis produzidos com recurso a práticas que minimizem o impacto ambiental e protejam a saúde e bem-estar dos animais. 018
Alinhado com esta estratégia, o setor do leite e dos produtos lácteos depara-se com o desafio de produzir alimentos de elevada qualidade, quer sensorial quer nutricional e, ao mesmo tempo, usar métodos que preservem o ambiente, assegurem o bem-estar das vacas e garantam benefícios económicos. No que concerne à qualidade sensorial do leite, o regime alimentar das vacas pode, ou não, ter influência numa avaliação realizada por um
Perceção sensorial de 3 leites portugueses
NUTRIÇÃO | LEITE DE VACA
FIGURA 2 SELEÇÃO DO LEITE PREFERIDO, CONSIDERANDO A APRECIAÇÃO GLOBAL
Leite A
4 Produzido em Portugal Continental 4 De vacas alimentadas predominantemente com silagem de milho 4 A marca desta amostra foi escolhida por 46,2% dos lares portugueses em 2020
painel provadores treinados, como refere Manzocchi et al. (2021). Mas será que essas diferenças sensoriais são percecionadas pelos consumidores? Neste trabalho foram analisadas sensorialmente, por consumidores, três amostras de leite produzidas, embaladas e comercializadas em Portugal. As marcas destas amostras, designadas por A, B e C, foram opção, respetivamente, para 46,2%, 86,5% e 56,2% dos lares portugueses em 2020 (Kantar, 2021). Os leites A e B provieram de vacas alimentadas predominantemente com silagem de milho, e o leite C foi obtido de vacas cujo regime alimentar assenta principalmente na pastagem de gramíneas e leguminosas e fenossilagem de erva. Este trabalho foi delineado para responder às seguintes questões: 1. Considerando a apreciação global, qual é a amostra de leite preferida dos consumidores? 2. Os consumidores
27%
41%
32%
Leite B
4 Produzido em Portugal Continental 4 De vacas alimentadas predominantemente com silagem de milho 4 A marca desta amostra foi escolhida por 86,5% dos lares portugueses em 2020
conseguem percecionar diferenças na cor, no cheiro e no sabor das amostras de leite?
B, produzidos no continente português, provieram de vacas alimentadas predominantemente com silagem de milho. Por sua vez, o leite C, oriundo da Região Autónoma dos Açores, foi obtido de vacas cujo regime alimentar assenta principalmente na pastagem de gramíneas e leguminosas e em fenossilagem de erva.
MATERIAL E MÉTODOS Amostras de leite Foram objeto de prova três leites UHT Meio Gordo produzidos, embalados e comercializados em Portugal, aos quais foram atribuídos os códigos A, B e C. Os leites A e
Leite B
4 Produzido na Região Autónoma dos Açores 4 De vacas cujo regime alimentar assenta predominantemente na pastagem de gramíneas e leguminosas e na fenossilagem de erva 4 A marca desta amostra foi escolhida por 56,2% dos lares portugueses em 2020
FIGURA 1 RECRUTAMENTO DE CONSUMIDORES DE LEITE PARA CONSTITUIÇÃO DE PAINEL PARITÁRIO DE 90 INDIVÍDUOS, COM IDADES COMPREENDIDAS ENTRE 15 E 64 ANOS.
Seleção do painel de consumidores de leite Com recurso à Base de Dados de Consumidores disponível no Centro de Apoio Tecnológico Agro Alimentar (CATAA) e à divulgação nas redes sociais, foram recrutados consumidores de leite UHT Meio Gordo, sem adição de qualquer substância. Para constituir um painel paritário e estratificado uniformemente, por cinco classes de idade entre 15 e 64 anos (15-24; 25-34; 35-44; 45-54; 55-64 anos), foram selecionados 90 consumidores (n=90), residentes maioritariamente no concelho de Castelo Branco e limítrofes (Figura 1). Provas sensoriais A sessão de análise sensorial teve lugar no Laboratório de Análise Sensorial do CATAA, concebido segundo a ISO 8589:2007. As amostras (18 ml de leite) foram servidas à temperatura ambiente, em copos de 30 ml de capacidade e apresentadas ao consumidor após 35-45 minutos de
019
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REVISTA RUMINANTES
TABELA 1 RESULTADOS OBTIDOS NA PROVA DE ORDENAÇÃO DAS AMOSTRAS DE LEITE, SEGUNDO A PREFERÊNCIA DOS CONSUMIDORES Leite
Pontuação média Todos os consumidores
Género feminino
Género masculino
A
1,96
2,07
1,84
B
2,19
2,18
2,20
C
1,86
1,76
1,96
N
90
45
45 2,978
Teste de Friedman X2
5,267
4,311
Graus liberdade
2
2
2
p-value
0,072
0,116
0,226
TABELA 2 RESULTADOS OBTIDOS NAS PROVAS TRIANGULAR PARA IDENTIFICAR A AMOSTRA DIFERENTE QUANTO À COR, AO CHEIRO E AO SABOR Cor
Cheiro
Sabor
Leite A versus Leite B
35
40
28
Leite A versus Leite C
37
38
37
Leite B versus Leite C
35
33
29
permanência no copo tapado. Após codificação com três algarismos, as amostras foram apresentadas aleatoriamente. Na cabine de prova também foram colocados guardanapos e um copo de água, visto que, na avaliação gustativa, os consumidores foram incentivados a beber água entre amostras. Efetuou-se a prova de ordenação segundo a preferência do consumidor, considerando a apreciação global, seguindo as indicações da ISO 8587:2006/Amd 1:2013. Foram apresentadas simultaneamente as três amostras, solicitando ao consumidor que as provasse da esquerda para a direita, pela ordem apresentada, e que, posteriormente, outorgasse três pontos à amostra que preferisse, dois pontos à seguinte e um ponto à amostra de leite preterida. Foi solicitado aos consumidores que justificassem a escolha da amostra preferida. Seguidamente, efetuaramse provas triangulares (de escolha forçada), relativamente a um determinado atributo, apresentando simultaneamente três amostras, duas iguais e
uma diferente. A tarefa dos consumidores consistiu em identificar a amostra com cor diferente, com cheiro diferente e com sabor diferente, nas respetivas tríades apresentadas. Para o efeito, foram preparados conjuntos de amostras para cada um dos atributos anteriormente referidos. A apresentação das amostras e das tríades foi aleatória (ISO 4120:2004). Tratamento estatístico Relativamente à escolha da amostra preferida, primeiramente calculou-se a frequência relativa. Para a prova de preferência considerou-se a Hipótese nula (H0): “Não há diferença significativa na preferência das três amostras de leite” e utilizou-se o teste de Friedman, para um nível de significância (α) de 0,05. Para saber se as diferenças entre as amostras de leite, no que concerne à cor, ao cheiro e ao sabor, foram percecionadas pelos consumidores, efetuaramse provas triangulares para cada um dos atributos sensoriais, comparando as amostras, duas a duas. Para concluir que existem diferenças
percetíveis com base no teste triangular, são necessárias, no mínimo, 38 respostas corretas, considerando n=90 e α=0,05 (ISO 4120:2004).
percetíveis, consideramos de interesse dar continuidade a este estudo, envolvendo consumidores de outras regiões do país.
RESULTADOS E DISCUSSÃO No que concerne à preferência dos leites A, B e C pelos consumidores, 41% dos consumidores selecionou a amostra B alegando “Melhor sabor” (10 consumidores), “Sabor mais intenso” (7), “Sabor mais suave” (7), “Sabor mais doce” (6), “Mais consistência” (3) e “Sabor familiar e característico a leite” (3) para justificar a sua escolha (Figura 2). Ainda relativamente à preferência manifestada pelos consumidores, e considerando um nível de significância de 5%, os resultados do teste de Friedman mostraram que não existe diferença significativa (p>0,05) entre leites, para a totalidade dos provadores, sem diferenciação entre géneros (Tabela 1). Os resultados obtidos nas provas triangulares permitem concluir que os consumidores não detetaram diferenças na cor e no sabor das amostras analisadas, para um nível de significância de 5%. Já para o cheiro, o leite A pôde ser distinguido dos outros dois leites pelo painel de 90 provadores não treinados, mas estes consumidores não percecionaram diferenças entre B e C (Tabela 2). Considerando n=90 e α=0,05, é necessário um número mínimo de 38 respostas corretas para concluir que existem diferenças percetíveis, baseadas no teste triangular (ISO 4120:2004). Quando foram apresentados os leites A e C, 37 consumidores identificaram corretamente a amostra diferente no que concerne à cor e ao sabor. Dada a proximidade do número de respostas corretas (37) com o número mínimo de 38 respostas para concluir que existem diferenças
CONCLUSÕES A análise sensorial, por 90 consumidores da região de Castelo Branco, das três amostras de leite objeto de estudo, permitiu obter resposta às questões inicialmente colocadas, considerando um nível de significância de 0,05. 4 Considerando a apreciação global, qual é a amostra de leite preferida dos consumidores? Não existe diferença significativa entre leites, no que concerne à preferência manifestada pelos consumidores. 4 Os consumidores conseguem percecionar diferenças na cor, no cheiro e no sabor das amostras de leite? Analisando sensorialmente os leites dois a dois, estes consumidores não percecionaram diferenças significativas na cor e no sabor. No que concerne ao cheiro, os consumidores conseguiram percecionar diferenças entre os leites A e B e entre A e C, mas não detetaram diferenças entre B e C. Em conclusão, os resultados obtidos mostram que não foram percecionadas diferenças na cor e no sabor do leite, proveniente de vacas sujeitas a regimes alimentares diferentes. Relativamente ao cheiro, o leite A (procedente de vacas maioritariamente alimentadas com silagem de milho) foi percecionado de forma diferente dos outros leites. Perante os resultados obtidos, consideramos de interesse dar continuidade a este estudo, envolvendo consumidores de outras regiões do país. Nota: A bibliografia referida no texto poderá ser solicitada aos autores através do e-mail cmiguel@cataa.pt
020
Perceção sensorial de 3 leites portugueses
NUTRIÇÃO | LEITE DE VACA
Após muitos anos de experiência no desenvolvimento de pastagens e forragens, construímos um portfólio exclusivo de gramíneas festulolium. Mas não estagnámos nessa categoria. Estamos constantemente a desenvolver gramíneas PLUS novas e aprimoradas, com potencial para melhorar o rendimento, a qualidade e a persistência numa ampla variedade de climas.
021
ruminantes outubro . novembro . dezembro 2019
13
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REVISTA RUMINANTES
José João Mendes e José Carlos Mendes, sócios gerentes da Várzea Bio. Instalações da exploração caprina.
Navete de alimentação que distribui o concentrado e suplementos necessários, de acordo com condições pré-estabelecidas.
022
Produzir leite de cabra em Penalva de Alva
PRODUÇÃO | CABRAS DE LEITE
DADOS DA EXPLORAÇÃO Nome
Varzea Bio
Localização
Caldas de S. Paulo, Penalva de Alva, Oliveira do Hospital
Área total da exploração
20 ha
Área do centro de exploração
0,7 ha
Área em pastoreio
9 ha
Raça
Murciana Granadina, tatuadas e registadas na Caprigran (Livro Genealógico Espanhol)
Efetivo total
400
Animais adultos
379
Cabras em ordenha
205
Total leite produzido por ano
124.587 litros
Produção leite média/cabra/305 dias
630 litros (40% de 1ª lactação)
Dias em ordenha médio
265 dias
Produção de leite/dia/cabra
2,25 litros
Sala de ordenha
DeLaval, 24 boxes e 12 pontos de ordenha
Ordenhas/dia
1
Tempo de ordenha
1h50, para 205 cabras
Nº empregados
2 pessoas a tempo inteiro + os 2 sócios
PRODUÇÃO | CABRAS DE LEITE
PRODUZIR LEITE DE CABRA EM PENALVA DE ALVA
A ESCASSEZ DE LEITE DE CABRA NAS QUEIJARIAS DA REGIÃO, QUE OBRIGAVAM A RECORRER AO PAÍS VIZINHO, ESTEVE NA BASE DA DECISÃO DO NEGÓCIO DE JOSÉ CARLOS MENDES E JOSÉ MENDES. HOJE, A VÁRZEA BIO TEM 205 CABRAS MURCIANA GRANADINA EM ORDENHA, MAS A IDEIA PARA O FUTURO PRÓXIMO É CHEGAR ÀS 250.
H
Entrevista a José Mendes; José Carlos Mendes | Por Ruminantes | Fotos F. Marques, N. Marques
á cinco anos, chegavam à exploração de Penalva de Alva as primeiras cabras, dando início a um projeto de produção de leite que avançou pela mão de dois sócios: José Carlos, professor aposentado de eletrotecnia, e José Mendes, eletricista com um gosto especial pelos pequenos ruminantes a que se habitou na infância. Mas o propósito do projeto implementado em Penalva de Alva vai muito além da produção de leite de cabra e da venda de genética, como nos contaram os sócios: “Quando fizemos o projeto da exploração, definimos como objetivo que teríamos em consideração o meio ambiente, os trabalhadores e o bem-estar animal.
Assim, temos também pomares de pereiras, castanheiros, apiários e uma unidade de agroturismo ainda em fase de acabamento." A quem vendem o leite? Vendemos para uma queijaria. Por enquanto pagam-nos por quantidade, mas quando definimos o preço está implícito a qualidade que costumamos ter na exploração (5,9% GB e 3,7% PB). Porque escolheram a raça Murciana? O nosso objetivo era conseguir ter uma ordenha por dia, para permitir fazer um horário normal de 8 horas por dia com apenas uma equipa de ordenha, a par de boas produções e qualidade no leite. Não encontrámos raças alternativas à Murciana.
023
CABRAS EM PRODUÇÃO As cabras em lactação estão sempre estabuladas, com acesso permanente a parques exteriores, para que todas as condições de bem-estar animal lhes sejam proporcionadas. Que maneio alimentar fazem? Utilizamos o Caprikomplet, da Nanta, e feno. A ração é distribuída 6 vezes por dia pelo robot de alimentação (em navetes). A navete tem 4 compartimentos, que permite utilizar até 4 produtos diferentes e fazer transições graduais entre 2 produtos. Os animais estão distribuídos por lotes de produção: • Alta: +de 2,5 litros / até 2,2 kg ração por animal + feno à descrição;
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REVISTA RUMINANTES
• Média: 1,5 a 2,5 litros e + de 60 dias de lactação / 900gr por litro de leite produzido + feno à descrição; • Baixa: menos de 1,5 litros de produção/900gr por litro de leite produzido, com um mínimo de 1kg + feno à descrição; • Pré-parto; • Pós-parto. Caso não sejam animais de IA, são colocadas ao macho no lote da média produção (1,5-2,5 litros dia e mais 60 dias em lactação). SALA DE ORDENHA Esta sala de ordenha tem uma pulsação especifica para esta raça, e retiradores automáticos, ou seja, mesmo que o operador não intervenha, as tetinas caiem automaticamente, evitando mamites. Que dados recolhem? Conseguimos ter a produção diária de cada animal, e o programa permite-nos utilizar vários filtros para fazer diferentes análises. São emitidos diferentes alertas da sala de ordenha, nomeadamente sempre que a produção baixa 20%. Também utilizamos o programa no maneio reprodutivo e para proibir a ordenha de animais que estão com intervalo de segurança por algum tratamento a que foram sujeitos, ou são animais em pós-parto que não devem ser ordenhados.
Qual é a primeira coisa que fazem quando chegam à exploração? Dou uma volta a ver os animais, e como eles se encontram, desde o cabriteiro até ao pavilhão de produção. Quais os parâmetros que medem no melhoramento genético? Contamos com o apoio de um técnico espanhol que vem de 6 em 6 semanas. Conhece bem muitas explorações portuguesas e também explorações da Capigran. É responsabilidade dele, e nossa, a escolha do sémen, embora procuremos sempre uma boa conformação do úbere, produção e rusticidade. Que dados recolhem para contraste? Temos a nossa medição eletrónica, que nos fornece os dados. O técnico da Caprigran tem os seus próprios medidores e faz a recolha de uma amostra de leite e a medição da quantidade, por animal, a cada 6 semanas. Que oportunidades existem neste negócio? Penso que ter quantidade e qualidade de leite numa exploração com todas as condições de produção e bem-estar animal é uma oportunidade, porque nesta região não há muitas.
Que investimentos fez na exploração a pensar no bem-estar animal? Dentro do pavilhão tivemos um cuidado especial com o arejamento, pondo várias ventoinhas e portas cruzadas, para evitar correntes de ar e cheiros. Temos parques exteriores para todos os animais, todos eles com livre acesso à manjedoura. O acesso à ordenha também é sempre feito pelo interior. A limpeza das camas é frequente, de forma a que as cabras nunca tenham que se ajoelhar para aceder ao comedouro. Temos ainda escovas para as cabras em todos os parques. Qual é o principal custo na produção de um litro de leite? Os custos com a alimentação, e os custos fixos e amortizações relacionadas com as instalações e equipamentos. Esses são os mais significativos. A sala de ordenha, a navete de alimentação, a porta separadora, a sala do leite e os restantes equipamentos também representam um valor significativo. O que nos preocupa é o facto de o custo da alimentação não estar relacionado com o preço do leite. Há períodos, como agora, em que o preço dos alimentos sobe mas o preço do leite não. Que custos têm com a saúde animal? Alguns, na maioria relacionados com a prevenção e não com medidas curativas.
Atrás: José João Mendes (sócio gerente Várzea Bio), Jorge Nunes (técnico responsável pela exploração), Orlindo Miguel (Nanta). À frente: José Carlos Mendes (sócio gerente Várzea Bio), Rui Ribeiro (Varzea Bio) e João Mateus (Nanta).
024
Produzir leite de cabra em Penalva de Alva
PRODUÇÃO | CABRAS DE LEITE
Quais são os três principais indicadores para a tomada de decisões? Temos sempre presente o custo do litro de leite relacionado com o preço da ração e da palha, e o custo, em alimentação e maneio, de cada animal que temos na exploração. Temos tudo registado. Todas as manhãs entro no programa da exploração para ver as produções, lanço as faturas que chegaram e faço uma breve análise. Ao sábado de manhã, fazemos uma análise mais cuidada e tentamos perceber onde podemos melhorar. Posso dizer-lhe, por exemplo, que de janeiro de 2020 até hoje estamos a gastar mais 8 cêntimos por litro de leite. Se fossem iniciar hoje o negócio, o que faria de diferente? Não começava com todos os animais com 3 a 6 meses de vida, como começámos, mas sim com uma parte de animais adultos, porque se começa a faturar logo de início. CABRITEIRO Tem aquecimento com piso radiante, bomba de calor e renovação de ar. MANEIO DE CRIA E RECRIA Os cabritos são desmamados da mãe aos 5 dias, depois de beberem o colostro.
Depois vão para a fase 1, os parques de cria, onde são ensinados a mamar. Daí passam para a fase 2, onde mamam sozinhos, e finalmente para a fase 3 onde mamam e comem ração. Com 1 mês de vida iniciam o consumo de ração. Aos 2 meses, com 12 kg peso vivo, deixam de beber leite. Nesta altura, saem do cabriteiro e passam para os parques de recria onde podem aceder à pastagem. A primeira cobrição é feita aos 9 meses de vida, ou aos 30 kg de peso vivo, ou seja, com 70% do peso em adulto. Neste período, comem Nanta 1 (iniciação) e Nanta 2. Depois, passam à ração de recria (Cererecria) até ao préparto (45 dias antes do parto). Porque optaram pela Nanta e pelo Caprikomplet? O sistema alimentar que tínhamos criava muitas diarreias. O Caprikomplet é um produto desenhado para os animais poderem comer sem criar distúrbios alimentares. Por outro lado, antes não tínhamos o devido acompanhamento técnico no que toca à alimentação e agora temos visitas frequentes, trocamos impressões e não temos tido problemas. Isto é muito importante para nós, estamos contentes com este serviço.
DADOS GLOBAIS DA EXPLORAÇÃO Obtidos através do programa Gestimilk Período de 12 meses – 2020 DADOS ANIMAIS Secos
20,33
Preparto
31,250
Ordenha
138,30
Total de animais
189,90
DADOS DE REPRODUÇÃO Partos
203
Partos/animal/ano
1,07
DADOS PRODUÇÃO Dias de ordenha
265,82
Litros/animal/ano
454,94
Produção/lactação
331,32
Litros/animal ordenhado
624,69
% Eficácia de ordenha
72,83%
Telas de proteção para controlo da ventilação.
Passagem inferior de acesso à sala de ordenha.
Tetinas de amamentação.
Estação da navete com acesso a 4 produtos diferentes.
Nebulizadores para a refrigeração do estábulo.
Parques exteriores para as cabras em produção.
025
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REVISTA RUMINANTES
026
Produzir leite de cabra em Penalva de Alva
PRODUÇÃO | CABRAS DE LEITE
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LIMPA E HIGIENIZA 027
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REVISTA RUMINANTES
PRODUÇÃO | NOVILHAS
DA RECRIA AO 1º PARTO, EM BUSCA DA COMPETITIVIDADE
NUM CONTEXTO DESFAVORÁVEL PARA O SETOR DA PRODUÇÃO, TANTO DE CARNE COMO DE LEITE, QUE TEM VINDO A ENFRENTAR UMA ALTERAÇÃO DAS TENDÊNCIAS DE CONSUMO (POR QUESTÕES DE “OPINIÃO” E MUITAS VEZES FALTA DE INFORMAÇÃO), JUNTA-SE AGORA UM FORTE AUMENTO DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO DEVIDO AO AUMENTO SUCESSIVO DO CUSTO DAS MATÉRIAS PRIMAS. ESTE E OUTROS FATORES TÊM-SE REVELADO MUITO DESAFIANTES AO SETOR EM GERAL, E EM PARTICULAR À SUSTENTABILIDADE DE CADA EXPLORAÇÃO.
É
LUIS RAPOSO Engenheiro zootécnico Dep.to Ruminantes Reagro l.raposo@reagro.pt
sabido que a sustentabilidade das explorações requer permanentes melhorias nas suas práticas de boa gestão e na sua rentabilidade. Se, por um lado, alguns dos fatores adversos a esta sustentabilidade não estão sob domínio do produtor, é verdade que muitos outros estão ao seu alcance e só dependem da sua atuação. Para isso, é importante e necessário controlar custos (estruturais e operacionais) e procurar aumentar as receitas da exploração. Relativamente ao 028
aumento da receita da exploração, um dos objetivos poderá passar pelo aumento do número de vitelos vendidos, e para atingir esse objetivo é importante procurar: - a obtenção de 1 vitelo/vaca/ano; - maximizar o número de animais produtivos dentro da exploração; - minimizar a mortalidade de vitelos antes do desmame; - reduzir os períodos não produtivos (vacas e novilhas) e otimizar os critérios de renovação do efetivo.
Da recria ao 1º parto, em busca da competitividade
PRODUÇÃO | NOVILHAS
PREPARAÇÃO DO PARTO: UM FATOR CHAVE PARA O CONJUNTO VACA-VITELA Uma boa preparação do parto pode conduzir a um parto fácil e a um bom início de lactação. Uma vez que as condições de parto são sempre mais difíceis em animais muito magros, ou muito gordos, a preparação da vaca para o parto requer uma dieta adequada. Já no pós-parto, a atenção especial dada à alimentação contribuirá para uma boa produção de leite por parte das vacas e, por sua vez, para o bom crescimento das vitelas. Os partos difíceis requerem habitualmente a intervenção humana (seja a assistência dada pelos criadores ou, em casos mais críticos, a assistência veterinária) e, a médio prazo, impactam negativamente a eficiência reprodutiva.
Nomeadamente, o intervalo entre partos (IEP) aumenta em média 10 dias quando a condição de parto muda de fácil para difícil. Se o parto for muito difícil, esse intervalo (IEP) pode ser aumentado em 41 dias em comparação com o parto fácil. Esta degradação das performances reprodutivas, associada à dificuldade de parto, leva a reformas antecipadas das vacas e também a problemas de saúde, como por exemplo, ao aumento da frequência de metrites e ao decréscimo do sucesso na inseminação seguinte. No gráfico 1 podemos verificar que à medida que se complicam as condições de parto, a percentagem de metrites aumenta e a taxa de fertilidade das vacas na inseminação seguinte diminui. Estas situações acarretam não só maiores custos à exploração, como reduzem substancialmente a produtividade e a
GRÁFICO 1 CONSEQUÊNCIAS REPRODUTIVAS DA DIFICULDADE DE PARTOS EM VACAS
30
Taxa de sucesso 1ª IA
25 % Metrites
68
27,1
64,6
65
21,6
20
62
15
59 10,4
10
58,4
56
5
53
54,9
0
Parto fácil
Parto assistido
50
Parto difícil (± cesariana)
Fonte: Vallet et al.
GRÁFICO 2 O INTERESSE DA CONCENTRAÇÃO DE PARTOS NA MELHORIA DO IEP (4 ESTRATÉGIAS) 405 396
395
392 388
385
375
385
343 371
375
377
378 371
365 Charolês
373
Limousine
Blonde D'Aquitaine
Fonte: IDELE, 2016
1 período de 3 meses que concentra 90% dos partos 2 períodos de 3 meses que concentra 90% dos partos 1 período de 6 meses que concentra 90% dos partos Partos não concentrados
029
386
Taxa de fertilidade 1ª IA
% Metrites
rentabilidade retirada do efetivo. De acordo com um estudo do Institut de l'Elevage, o planeamento para que ocorra a concentração de partos numa época programada do ano, permite obter melhores resultados quer ao nível do IEP, quer da mortalidade. Esta estratégia permite aos criadores estarem mais focados no efetivo, porque a maioria dos animais está no mesmo estágio reprodutivo (gestação, parto, lactação, reprodução, etc.). Além disso, quer sejam realizados em um ou em dois períodos separados, os partos concentrados permitem a possibilidade de implementar dietas mais adequadas a cada fase (préparto e pós-parto) assim como organizar trabalhos específicos e rotinas de maneio para esse grupo de animais (Gráfico 2). A IMPORTÂNCIA DO 1º PARTO Antecipar a idade ao primeiro parto poderá ser também uma forma de aumentar a rentabilidade, no entanto requer algum planeamento técnico por parte do criador. Obviamente que, tal como acontece noutros parâmetros, a variação entre raças terá influência, dado que há raças mais precoces que outras. Poderá ser vantajoso permitir que o grupo de novilhas primíparas (1ª barriga) tenha os seus partos concentrados num momento diferente e desencontrado do resto do efetivo, pois essa poderá ser uma forma de prestar a atenção e o cuidado necessários a um grupo de animais mais inexperiente. Geralmente esse cuidado é justificado quer pela necessidade de assistências que este grupo de vacas poderá requerer, quer pelo impacto que poderá ter na sobrevivência dos vitelos daqui nascidos. Mesmo nas explorações que apostam nos partos concentrados apenas num período, esta estratégia pode ser interessante. Um dos primeiros fatores de sucesso na optimização destes critérios, e na antecipação da idade ao primeiro parto, é o controlo do crescimento (peso vivo PV) em idades e momentos específicos: desmame, 1ª inseminação e parto. O sucesso da 1ª inseminação para novilhas de 15 meses está intimamente relacionado com o peso vivo da novilha à data da inseminação (Gráfico 3). Além disso, quanto melhor for a condição corporal da novilha na 1ª gestação, maior será o potencial de longevidade reprodutiva dessa novilha (Gráfico 4). Do mesmo modo, também a curto prazo se verifica que a boa condição
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corporal em cada gestação se revela benéfica no momento do respetivo parto e no sucesso da gestação seguinte. A importância do controlo do crescimento (GMD) e do peso vivo das novilhas revela-se também muito importante na tomada de decisão sobre o momento do início da sua vida reprodutiva, uma vez que não deverá ser apenas a idade o fator de decisão. Além disso, esta decisão poderá ter impacto e consequências ao longo de toda a vida reprodutiva do animal. Para isso, mais uma vez é essencial criar um programa alimentar adequado e alcançar um crescimento sustentado e constante, evitando a engorda excessiva dos animais ou o recurso exagerado aos crescimentos compensatórios. A dieta terá um papel importante na obtenção de resultados e nas metas atingidas.
GRÁFICO 3 TAXA DE SUCESSO DA GESTAÇÃO DA NOVILHA PARA UM 1º PARTO AOS 24 MESES, DEPENDENDO DO PV À INSEMINAÇÃO 100% 90%
83,8
80% 62,5
60% 50%
<430 kg
460-490 kg
430-460 kg
>490 kg
Fonte: Farriet et al., 2008, 3R
GRÁFICO 4 LONGEVIDADE REPRODUTIVA DAS NOVILHAS DE ACORDO COM O PESO AOS 18 MESES (TENDO UM 1º, 2º, 3º OU 4º PARTO) 100%
76
75%
80
58
53
50%
REDUZIR A MORTALIDADE As condições sanitárias em que os vitelos nascem são decisivas para a sua sobrevivência, motivo pelo qual é recomendável que os partos ocorram em zonas limpas e nas quais o acompanhamento e supervisão dos partos possa ser feito com facilidade e regularidade. Os primeiros cuidados prestados aos vitelos jovens são muito importantes nos primeiros dias de vida e as condições de “alojamento” são essenciais para controlar distúrbios respiratórios e digestivos. Do ponto de vista alimentar, o crescimento dos vitelos requer, em algumas situações, suplementação. Dependendo do maneio alimentar e da estratégia implementados na exploração, esta necessidade de suplementação dos vitelos, desde as primeiras semanas de vida, está muitas vezes relacionada com uma alimentação deficiente da vaca ou,
95,5
91,7
58
38
38
43 28
25
25%
31
16
0% Com um 1º parto
Com um 2º parto
Fonte: CA, Pays de la Loire, 2010
simplesmente, com a incapacidade da vaca em amamentar convenientemente. Em vacas de 1ª barriga, especialmente com a antecipação do 1º parto, é fortemente recomendável o acompanhamento e a atenção dada nos primeiros meses pós parto. Em todos os casos, pode dar-se também a necessidade de um desmame precoce, seja para aliviar a vaca, seja para garantir a sobrevivência do vitelo. Por fim, um protocolo de vacinação protege os animais jovens de patologias como BVD, salmonela, enterotoxemia, etc.. 030
Com um 3º parto Leves
Com um 4º parto Médias
Pesadas
CONCLUSÃO Quando falamos sobre competitividade e rentabilidade, partimos do princípio de que a redução das perdas está salvaguardada e reduzida aos mínimos possíveis. Ainda assim, não quero deixar de referir que a atenção dada à mortalidade dos vitelos e aos períodos improdutivos de todo o efetivo deverão ser sempre temas prioritários dentro de uma exploração. A soma de muitas “pequenas perdas” pode representar uma enorme perda final!
Da recria ao 1º parto, em busca da competitividade
PRODUÇÃO | NOVILHAS
031
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NUTRIÇÃO | ABERDEEN-ANGUS PORTUGAL
PLANO NUTRICIONAL EM TESTE DE DESEMPENHO PRODUTIVO NUMA PARCERIA ENTRE A ABERDEEN-ANGUS PORTUGAL, A ASSOCIAÇÃO DE CRIADORES DE BOVINOS MERTOLENGOS E A ZOOPAN, S.A., FOI DESENHADO O PLANO NUTRICIONAL DOS 12 MACHOS ADMITIDOS A TESTE DE DESEMPENHO PRODUTIVO, NESTA QUE FOI A 1ª EDIÇÃO PARA A RAÇA EM PORTUGAL. POR Pedro Castelo , Sara Garcia , Aberdeen Angus Portugal 1
1
O
2
Diretor Técnico Zoopan, Eng. Zootécnico, pedro.castelo@zoopan.com | 2Eng. Zootécnica, Depto. técnico-comercial, sara.garcia@zoopan.com
s testes de desempenho produtivo em estação têm como objetivo avaliar o potencial de crescimento de animais em condições de igualdade de maneio e ambiente, bem como a sua capacidade de conversão de alimento. A Zoopan já acompanha há diversos anos a componente de maneio alimentar dos animais Mertolengos no Centro de Testagem, localizado na Herdade de Currais e Simalhas, onde decorreu o teste. Tendo em conta que se trata de animais de raças diferentes, com objetivos produtivos distintos, o plano alimentar
teve que ser ajustado de acordo com as seguintes premissas: - animais da Raça Aberdeen-Angus: a raça é reconhecida pela precocidade, pela valorização de forragens e pela qualidade da carne, tendo necessidades nutricionais específicas; - animais jovens: ainda em crescimento, com idade média de entrada em teste de 290 dias, tendo necessidades elevadas de proteína e proteína de qualidade – PDI’s e matérias-primas; - elevada digestibilidade do alimento; - prevenção de problemas podais, que podem ocorrer quando os animais ganham muito peso num curto espaço de 032
tempo, comprometendo a capacidade do esqueleto de sustentar este aumento; - machos reprodutores vs. engorda/ acabamento: dado tratar-se de animais cujo objetivo é seguirem para reprodução (quer no criador de origem, quer nos produtores compradores), o plano alimentar teve em linha de conta obter crescimentos sustentados – GMD objetivo de 1450 g/dia – de modo a que os animais não engordassem demasiado (animais sujeitos a planos alimentares altamente energéticos vão obviamente colocar mais peso, mas podemos estar a comprometer a sua fertilidade); - plano alimentar seguro: equilíbrio entre
Plano nutricional de desempenho produtivo
NUTRIÇÃO | ABERDEEN-ANGUS PORTUGAL
Para complementar e corrigir a componente forrageira foi formulado um alimento composto.
energia/proteína/fibra; - níveis de vitaminas e minerais (alguns dos quais orgânicos) elevados; - forragens disponíveis: ter em linha de conta as forragens disponíveis no Centro de Testagem e o seu respetivo stock, e ajustar de acordo com as características nutricionais das mesmas; - custo por tonelada de matéria seca: otimizar o custo do alimento de acordo com os objetivos de performance que se pretendem; - preocupações ambientais, no que diz respeito às emissões de metano, recorrendo a estratégias para as minimizar. Os animais têm origem em 12 criadores, de origens tão dispersas como Mértola ou Tomar, onde são sujeitos a diferentes tipos de maneio e alimentação, entre outros fatores. Tendo isto em conta, foram sujeitos a um período de habituação visando o estabelecimento de hierarquias, a adaptação às instalações, ao maneio e ao alimento. Este período de adaptação teve a duração de 23 dias, no qual era expectável que os GMD fossem diferentes do que seriam durante o período efetivo do teste. O teste de desempenho produtivo, propriamente dito, teve a duração de 105 dias, iniciando-se em 19 de agosto e
terminando em 2 de dezembro de 2020. As pesagens aos 12 animais em teste foram realizadas em jejum, com intervalos de 21 dias, sendo a média dos pesos de entrada em teste de 401,50 kg, e a média de pesos de saída do teste de 583,25 kg. Para além das pesagens, foram realizadas 13 medições biométricas aos animais (no início, meio e final do teste) e foi ainda avaliada a qualidade da carne (gordura intramuscular, subcutânea e área do lombo), com recurso a ecografia. De modo a definir a alimentação dos animais durante o período de teste, e dado tratar-se de um plano alimentar personalizado, de acordo com as forragens disponíveis (silagem de milho, feno, fenosilagem de sorgo, etc.), foram realizadas análises para conhecer a sua composição nutricional (Tabela 1). Para complementar e corrigir a componente forrageira foi formulado um alimento composto, para colocar também no unifeed, com as características indicadas na Tabela 2 e fabricado na Nutrimonte (Évora). De referir que tanto a Associação de Criadores de Bovinos Mertolengos (proprietária do Centro de Testagem), como a Aberdeen-Angus Portugal
TABELA 1 EXEMPLO DE ANÁLISE DA SILAGEM DE MILHO
TABELA 2 CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS DO ALIMENTO CONCENTRADO
Análise da silagem de milho
Características nutricionais ( /Kg MB)
Parâmetro
Valor
Unidade
Matéria Seca
29,40
%
UFV
0,84
Proteína Bruta
7,04
NDF ADF
Valor
Unidade
Matéria seca
88,07
%
UFV/Kg MS
UFV
0,99
% MS
Proteína bruta
16,78
40,90
% MS
PDIN
22,20
% MS
PDIE
ADL
2,80
% MS
Amido
38,10
% MS
Fibra bruta
17,80
% MS
Valor
Unidade
Cálcio
12,06
g
UFV
Fósforo
4,69
g
%
Vit. A
10,00
1000 UI
118,30
g
Vit. D3
1,50
1000 UI
110,39
g
Vit. E
40,00
mg
PDIA
59,59
g
Vit. B1
8,00
mg
Fibra bruta
8,46
%
Mn
77,24
mg
Amido
35,28
%
Zn
111,74
mg
TABELA 3 PLANO ALIMENTAR DOS ANIMAIS EM TESTAGEM Quantidades Kg
Características nutricionais ( / Kg MS) MS
UFV
PDIN
PDIE
PDIA
Ca
P
UFV
g
g
g
g
g
MB
MS
%
Silagem milho ACBM
6,00
2,10
35,00
0,88
49,17
72,65
12,41
2,00
1,80
Feno ACBM
1,60
1,12
70,00
0,60
43,41
68,75
20,32
3,50
2,40
Farinha Angus + Mertolengo
5,50
4,84
88,07
1,13
134,31
125,34
67,66
13,69
5,32
033
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GRÁFICO 1 INGESTÃO MÉDIA DE MS POR ANIMAL, AO LONGO DO PERIODO DE TESTE (EM KG) 16,00
14,86
3,0
14,49
14,00 12,00
GRÁFICO 2 GANHO MÉDIO DIÁRIO AO LONGO DO PERÍODO DE TESTE (EM GRAMAS)
11,14
2,5
12,10
10,94 10,99
10,10 10,00 9,50
9,85
10,44 9,11
2,438
2,0 8,39
1,5
8,00 6,00
1,771
1,667
1,810
1,438
14,86 1,438
1,429
11
12
0,5
2,00
0,0
0,00 1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
1
12
Ingestão média MS por animal (kg)
2
3
10,00
8,4
8,00
7,0
6,2
5,7
6,8
5,9
6,4
5,6
7,3
6,6
5,9
5,0
4,00 2,00 1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
IC
evidenciaram as suas preocupações com as emissões de metano e as suas consequências ambientais. Assim sendo, e à semelhança dos testes anteriores, os planos alimentares foram desenhados também a pensar na eficiência da digestão e no impacto ambiental. Desta forma, foi utilizado um aditivo à base de óleos essenciais e de leveduras inativas, que faz parte integrante do núcleo incorporado no alimento concentrado – Adimix Bovinos 50. O objetivo deste aditivo é modelar as fermentações microbianas sem perturbar a flora ruminal, de forma a resultar num aumento da produção de ácidos gordos, nomeadamente de ácido propiónico, em detrimento do ácido acético. Ao reduzir o ácido acético no rúmen, a produção de metano vai reduzir significativamente, o que representa uma economia de energia por parte do animal e um benefício importante para o ambiente. Utilizando assim as forragens e o alimento concentrado disponíveis, em conjunto com toda a informação referente aos animais, chegámos ao plano alimentar desenhado para estes animais (representados na Tabela 3) no qual se podem ler as quantidades de
4
5
6
7
8
9
10
GMD
GRÁFICO 3 ÍNDICE DE CONVERSÃO (IC) MÉDIO AO LONGO DO PERÍODO DE TESTE
0,00
1,657
1,533
1,0
4,00
6,00
1,971
1,790
cada forragem e alimento concentrado por animal e por dia, durante uma determinada fase do teste. Com base neste plano alimentar, foi feito o controlo da ingestão por animal e por dia, através das estações de alimentação Hokofarm, durante todo o período de adaptação e de teste. A ingestão média de matéria seca por animal, ao longo do teste, encontra-se representada no Gráfico 1, onde se pode verificar que os animais ingeriram entre 8,4 a 14,9 kg de matéria seca (MS), o que significa uma média de ingestão de MS durante o teste de cerca de 11 kg por animal (Gráfico 1). Se se compararem estes valores de ingestão com a bibliografia existente para a ingestão de matéria seca previsional para estes animais — que indica um consumo previsto de matéria seca na ordem dos 2,25% do peso vivo —, conclui-se que estes animais se encontram dentro do expectável, uma vez que o seu consumo de MS médio, durante o período de teste, corresponde a 2,23% do peso vivo médio dos animais presentes a teste (Gráfico 2). No que aos ganhos médios diários (GMD) diz respeito, como foi indicado 034
anteriormente, o plano alimentar tinha como objetivo médio um acréscimo de 1450 g por animal e por dia. Da análise do Gráfico 2, pode verificar-se que todos os animais tiveram crescimentos acima do objetivo pretendido, sendo o GMD médio do teste na ordem das 1700 g. Este é um bom indicativo de que os animais responderam ao alimento que lhes foi apresentado, conseguindo obter crescimentos sustentados e não exagerados, como pretendido (Gráfico 3). Quanto ao índice de conversão (IC), medida usada para avaliar a eficiência alimentar, verificou-se um IC médio dos animais em teste de 6,4, o que significa que, em média, estes animais necessitam de ingerir 6,4 kg de MS para colocarem 1 kg de peso vivo. Assim sendo, da análise do Gráfico 3 resulta que um animal com um valor de IC mais baixo necessitará de ingerir menos alimento para repor 1 kg de peso vivo. É de extrema importância ressalvar que para o cálculo do IC foi considerada a totalidade da matéria seca ingerida pelo animal, isto é, considerando a totalidade da mistura ( forragens + alimento concentrado). Esta informação é relevante visto que, em outros testes de performance o cálculo do IC considera apenas a componente alimento concentrado, não ficando a informação da quantidade de forragem (palha ou feno) que o animal ingeriu para complementar esse alimento concentrado. Para melhor caracterizar o desempenho produtivo e a eficiência alimentar de machos Aberdeen-Angus, é necessária a realização de mais testes em estação, de forma a acumular dados sobre o desempenho destes animais nas condições edafoclimáticas do nosso território, e sujeitos a diferentes maneios alimentares.
Plano nutricional de desempenho produtivo
NUTRIÇÃO | ABERDEEN-ANGUS PORTUGAL
035
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BEM-ESTAR ANIMAL | VACAS DE LEITE
O IMPACTO DA LUZ EM ANIMAIS ESTABULADOS
NO CASO DOS RUMINANTES EM CONFINAMENTO, PARTICULARMENTE NAS VACAS DE LEITE, NEM SEMPRE EXISTE A CONSCIÊNCIA DA IMPORTÂNCIA DA LUZ NOS RESULTADOS TÉCNICOS E ECONÓMICOS DAS EXPLORAÇÕES. MAIS RECENTEMENTE, E A REBOQUE DO BEM-ESTAR ANIMAL NAS EXPLORAÇÕES LEITEIRAS, O TEMA DA ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL E NATURAL GANHOU UM NOVO DESTAQUE. FOTO De Heus; BIBLIOGRAFIA Consultar o autor: aoliveira@deheus.com
ANDRÉ OLIVEIRA Engenheiro Zootécnico Assistente Técnico de Ruminantes De Heus Nutrição Animal aoliveira@deheus.com
N
a avicultura, a importância da luz é reconhecida. O fotoperíodo é alvo de inúmeros estudos e a iluminação artificial é projetada ao pormenor dentro dos pavilhões. Mas no caso dos ruminantes em confinamento, particularmente nas vacas de leite, nem sempre existe a consciência da importância da luz nos resultados técnicos e económicos das explorações. Embora os primeiros trabalhos sobre o efeito da luz na produção e reprodução 036
de bovinos tenham surgido na década de 70 do século passado, o estudo deste tema em ruminantes tem focado sobretudo nos bovinos em pastoreio e, portanto, ao ar livre. Mesmo nestas condições, as espécies ovina e equina são consideradas mais sensíveis ao efeito do fotoperíodo sazonal do que os bovinos (Gregory, J., 2009). Mais recentemente, e a reboque do bem-estar animal nas explorações leiteiras, o tema da iluminação artificial e natural ganhou um novo destaque que procuramos resumir neste artigo.
O impacto da luz em animais estabulados
BEM-ESTAR ANIMAL | VACAS DE LEITE
VALORES DE 20 LUMENS SIGNIFICAM, NA PRÁTICA, DESCONFORTO E INSEGURANÇA PARA A ESPÉCIE BOVINA.
CARACTERÍSTICAS DA LUMINOSIDADE A TER EM CONTA 4 Intensidade: medida em Lux ou fc no sistema inglês (1 fc equivale a 10,76 Lux) 4 Duração: medida em horas de luz por dia, sazonalidade 4 Índice de aproximação ao branco: medido em CRI 4 Eficiência: em lúmens/Watt (a intensidade da luz relativa ao tamanho da lâmpada) A intensidade da luz, “Lux”, representa os lúmens/m2; O método para medição de lúmens ANSI é definido pelo documento IT7.215, de 1992 da American National Standards Institute e é reconhecido internacionalmente como o método de cálculo do brilho incidente a partir de uma fonte luminosa. Quando dizemos que um determinado local possui 150 lux de incidência luminosa, significa que nesse local estão a incidir 150 lúmens/m2. A duração da luz dentro dos pavilhões deve aproximar-se o mais possível das 16 horas. Deve-se reservar nos locais de descanso o mínimo de 6 horas de luz, a uma intensidade não maior do que 100 lux (Gregory, 2009). Outros autores consideram necessário até 8 horas de escuridão (para a vaca leiteira podemos considerar menos de 20 lux), em alternância com as 16 horas diurnas durante toda a fase produtiva da vaca. O contrário seria necessário durante a fase seca.
ESQUEMA 1 DURAÇÃO DA LUZ DENTRO DOS PAVILHÕES
secagem
pico
8 h dia 16 h dia 16 h noite 8 h noite 16 h dia 8 h noite
inseminação
Parto
nascimento 16 h dia 8 h noite
Puberdade
Desmame
início da lactação
EFEITO DA LUMINOSIDADE SOBRE A PRODUÇÃO O efeito das estações do ano em sistemas extensivos de produção de carne está há muito demonstrado, ainda que o mesmo efeito sobre a produção de leite se possa atribuir em grande parte às variações na quantidade e qualidade da forragem disponível (2009, Gregory). Já os resultados de Martin J. A., 2006, sugerem que parte da diminuição no volume e na qualidade do leite ao longo do ano, nos sistemas lácteos da Nova Zelândia, se deve a mudanças no fotoperíodo. Além do efeito na produção da hormona IGF-I, indutora da proliferação celular ao nível da glândula mamária, o aumento das concentrações de melatonina plasmática vem associado com a diminuição das concentrações de prolactina plasmática. No caso específico de vacas de leite confinadas, Richard, 2007, da Universidade de South Dakota e outros autores não encontram nenhum benefício na produção de leite por via da suplementação de luz artificial durante as 24 horas do dia. Os mesmos autores admitem, no entanto, que a duração de 16 a 18 horas de luz intercalada com 6 horas de escuridão contínua, favorece e estimula a ingestão dos animais em confinamento. Já em 2014, Zerbidelli encontrou o melhor efeito sobre a produção de leite, recorrendo à suplementação da luz natural com luz artificial em vacas leiteiras, até submeter os animais em confinamento a 150 Lux por um período de 16 horas ao dia. Neste estudo, curiosamente, a partir de 500 lux, o efeito da luz sobre a produção de leite é limitado, fazendo o autor concluir que “por motivos económicos” se recomenda que a soma da suplementação de luz artificial e natural se mantenha nos 150 lux. Na prática, os operadores comerciais recomendam a instalação de sistemas de controlo de luminosidade que conseguem 16 horas de luz entre os 150 e 200 lux. Aproveitando o facto de as vacas não definirem a luz vermelha, alguns sistemas mais modernos instalam uma luz de transição vermelha entre o período diurno e noturno, o que possibilita os trabalhos dentro do pavilhão, proporcionando às vacas o conforto da luz decrescente no final do dia. 037
GRÁFICO 1 EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO DE LUZ NATURAL COM ARTIFICIAL (ZERBIDELLI, 2014) 3,5 3,0 3,0 2,1723 1,5 1,0 0,5 0,0 0,5 0
150,0
300
400
500
LUX
EFEITO DA LUMINOSIDADE SOBRE O BEM-ESTAR Os bovinos têm uma visão periférica ampla, mas uma definição de cores limitada entre o espectro verde e o azul, o que faz com que tenham uma menor definição de cores e de profundidade. Por isso, são receosos em espaços fechados e bloqueiam frequentemente quando submetidos a variações bruscas de luminosidade. Falar de bem-estar na exploração é falar de tranquilidade e calma no ambiente onde os animais repousam, visibilidade na área de alimentação e segurança nas áreas por onde se deslocam. No caso das explorações leiteiras, assume particular importância a ausência de stress nas salas de ordenha e a segurança e conforto dos ordenhadores. O índice de aproximação ao branco (CRI) deve ser maior do que 80 na ordenha e próximo de 100 em todos os lugares onde é necessário contrastar as cores, como por exemplo nas salas de intervenção veterinária. No caso das ordenhas robotizadas, nas passagens, degraus e esquinas, é fundamental reduzir ao máximo as zonas de contraste luz e sombra porque estas provocam receio aos animais durante o seu acesso à ordenha automática.
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MEDIÇÕES FEITAS EM PORTUGAL Foram avaliados 32 lotes de vacas de leite, distribuídos por 26 explorações na área geográfica compreendida entre Vizela e Montemor-o-Velho, o que corresponde à latitude média N 40.837119. Fizeram-se medições da intensidade da luz (lúmens) e altura (m) do telhado. As medições foram efetuadas em 3 pontos da manjedoura à altura da cabeça dos animais, em explorações de 2 ordenhas diárias, entre as 16 e as 17 horas da tarde, entre o dia 15 e 30 do mês de maio de 2021. Foram utilizados os dados do último contraste anual
GRÁFICO 2 MEDIÇÕES DA INTENSIDADE DA LUZ
55
> 150 Lux
45
< 150 Lux
publicado para estabelecer a correlação entre as variáveis: intensidade da luz, produção e intervalo entre partos. Independentemente das correlações entre as variáveis, dividiram-se as medições por lotes de animais: entre os que apresentaram alguma medição abaixo de 150 lux, e os outros onde a intensidade da lux foi sempre acima dos 150 lux (Gráfico 2). Quando agrupámos os lotes por existência, ou não, de alguma medição menor que 150 lux, obtivemos os resultados apresentados na tabela apresentada a seguir.
tomar consciência dos efeitos positivos da uniformidade da luz dentro dos pavilhões. Com base nos vários autores consultados, e nas medições feitas nas explorações em Portugal, podemos fazer as recomendações observadas na tabela abaixo.
INTENSIDADE DA LUZ EM LÚMENS Valores médios de luz dentro do pavilhão
150-200
Manjedoura
150-200
Camas e parques de espera
50-150
Corredores
150-250
Sala de ordenha
200-250
Sala do tanque
100-150
Variável
Produção diária
Produção vida útil
P-P
Altura pavilhão
> 150 lux
33,2
30896
437
5,9
Sala/espaços intervenção veterinária
800-1000
< 150 lux
31,2
22730
455
4,5
Espaços gerais dentro do pavilhão
150-200
Diferença
-2,0
-8166
+18
-1,4
Escritório
500-800
CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES As performances produtivas e reprodutivas são multifatoriais e não podem ser explicadas somente pela intensidade ou duração da luz dentro dos pavilhões. No entanto, o estudo aponta para a necessidade de
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Por ser um tema recente, não há consenso sobre a influência da luz na produção de leite em bovinos em confinamento. Atendendo aos benefícios no bem-estar, fertilidade e atividade, recomendamos o controlo da quantidade e uniformidade da luz dentro dos pavilhões.
O impacto da luz em animais estabulados
BEM-ESTAR ANIMAL | VACAS DE LEITE
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REVISTA RUMINANTES
PRODUÇÃO | VACAS DE LEITE
STRESS TÉRMICO O TRIO DE PREVENÇÃO
A INCLUSÃO NA RAÇÃO DE UMA FONTE PURA DE SELÉNIO ORGÂNICO (SELISSEO®), JUNTAMENTE COM FONTES DE METIONINA PROTEGIDA (SMARTAMINE®M, METASMART®) E VITAMINA A (MICROVIT® A SUPRA RUMINANTE) AJUDA A MINIMIZAR O IMPACTO NEGATIVO QUE O STRESS TÉRMICO TEM NA PRODUÇÃO Por Enrique Fraile Pernaute, Ruminants Technical Advisor, Adisseo | Foto Adisseo
C
om o aumento progressivo das temperaturas, a gestão do stress térmico da vaca leiteira constitui um problema em toda a Europa. A maioria dos produtores está bem ciente dos mecanismos de defesa dos bovinos para reduzir os danos causados pela sucessão de dias com temperaturas e humidades altas. Os produtores estão também familiarizados com as medidas a implementar nas instalações para minimizar o impacto destas condições no bemestar da vaca leiteira e, consequentemente, na sua capacidade de produção.
Quanto à alimentação de verão, existe uma variedade de soluções, desde a formulação de dietas muito apetitosas e digestivas, contendo diferentes fontes de energia, e devidamente integradas, até estratégias "ad hoc" de preparação e administração de alimentos. No entanto, é essencial ter em conta que qualquer medida dietética adaptada quando a sensação de calor se torna claramente percetível para o ser humano, chega tarde. Ou seja, quando o rebanho está em sofrimento há algum tempo, ativou os seus mecanismos de adaptação ao stress
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térmico e, portanto, já reduziu o consumo de alimentos. Neste caso, a conta será paga de setembro a dezembro. Na questão do stress térmico, o importante é a prevenção. NUTRIÇÃO PREVENTIVA A ideia é que os produtores atuem antecipadamente a partir do final da primavera, com uma utilização adequada na dieta de três suplementos que podem prevenir o stress "oxidativo" induzido pelo calor, e a redução dos problemas de produção e de reprodução que aparecem, a saber: uma fonte pura de selénio
Stress térmico, o trio de prevenção
ALIMENTAÇÃO | VACAS DE LEITE
Oxidação do DNA
Núcleo
Proteinas
Lipossomas
Oxidação das proteinas
ROS Membranas
Respiração
Mitocondria Peroxidação dos lípidos
Ao nível celular, os stresses oxidadtivos resultam numa produção acrescida de Reactive Oxygen Species (ROS) Fonte: Adisseo
orgânico (Selisseo®), metionina protegida (Smartamine® M ou Mestasmart®) e vitamina A protegida (Microvit® A Supra ruminante). O selénio orgânico é o nutriente-chave. Os animais suplementados com Selisseo® são mais resistentes ao stress oxidativo e mantêm o seu desempenho e a sua saúde em geral. Isto porque o selénio (Se) desempenha um papel fundamental dentro do sistema antioxidante: é um componente fundamental de dois aminoácidos: selenometionina (SeMet) e selenocisteína (SeCys). Atualmente, 25 selenoproteínas foram identificadas em tecidos animais, e mais de metade delas estão direta ou indiretamente envolvidas na manutenção do equilíbrio do redox corporal e da defesa antioxidante (por exemplo, a peroxidase glutation). As selenoproteínas também estão envolvidas no metabolismo da tiroide, na função do sémen, bem como nas respostas inflamatórias e imunes. SeMet é a forma de armazenamento natural de selénio, enquanto SeCys é a forma ativa encontrada no local catalítico de selenoproteínas.
Selisseo® é uma fonte pura de selénio orgânico composto 100% por selenomethionina hidroxianaloga que, depois de absorvida ao nível intestinal atinge a corrente sanguínea até se instalar nos órgãos de armazenamento ( fígado, rins, pâncreas e músculos), criando no animal uma espécie de "apólice de seguro" de selénio funcional. A partir daqui, se necessário, como em dias com temperaturas e humidades elevadas em que a ingestão de matéria seca, e portanto também de antioxidantes, diminui significativamente, as reservas corporais de selénio são mobilizadas para manter uma produção correta de selenoproteínas. Estas realizarão prontamente a sua ação antioxidante e imunológica estimulante, permitindo o desempenho produtivo e reprodutivo da vaca. NÃO APENAS SELÉNIO A utilização de selénio orgânico (Selisseo®) numa dose de 0,2 mg/kg de matéria seca, pode ser complementada com a adição de dois outros nutrientes que, graças às suas sinergias com o selénio, têm uma forte ação antioxidante: •Metionina protegida M (Smartamine® M ou Mestasmart®): a adição de metionina desempenha um papel importante no equilíbrio do aminoácido na ração, bem como na atividade antioxidante do corpo como precursor da enzima glutation. E exerce uma ação preventiva fundamental nas desordens metabólicas pós-parto, que no verão podem atingir a sua máxima incidência. Assim, está indicada para ser considerada, nas dietas secas com fontes de metionina de elevada biodisponibilidade por by-pass, numa dose média de Smartamine® M 041
(8-12 gramas/cabeça/dia em unifeed) ou Metasmart® (metionina protegida para alimento granulado, a ser considerada no alimento). • Vitamina A protegida (Microvit® A Supra Ruminante): o retinol é um nutriente essencial, uma vez que as bactérias do rúmen não conseguem sintetizá-lo em quantidades suficientes para as suas necessidades, portanto, é necessário garantir um fornecimento de vitamina A. O problema é que a degradação no rúmen da vitamina A é bastante elevada, e a percentagem de retinol que atinge o intestino é inferior à fornecida. Por esta razão, é interessante fornecer fontes protegidas de vitamina A (Microvit® A Supra ruminante) a qual, não sendo degradada pelas bactérias do rúmen, permite que o retinol fornecido atinja o intestino na sua totalidade com a subsequente absorção. Desta forma, contribui para o apoio ao sistema imunitário (prevenção de mamites), bem como, pela sua atividade antioxidante, ao nível do útero (prevenção de infeções da placenta e pós-parto e estimulação dos ovários para a produção de hormonas reprodutivas). A inclusão na ração de uma fonte pura de selénio orgânico (Selisseo®), juntamente com fontes de metionina protegida (Smartamine®M, Metasmart®) e vitamina A (Microvit® A Supra Ruminante), produz resultados seguros. Se as medidas de prevenção forem tomadas a tempo, muito antes de as vacas começarem a mostrar os primeiros problemas devidos ao stress térmico, podemos acautelar os seus efeitos e minimizar o impacto negativo que estes têm na produção.
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PRODUÇÃO | VACAS DE LEITE
CRUZAR E CRESCER
CÉSAR SILVA É DONO DA MAIOR EXPLORAÇÃO LEITEIRA DE MONTEMOR-O-VELHO, A QUINTA DO MUROZ, QUE FICA NA LOCALIDADE DE BEBEDOURO. HÁ 2 ANOS, QUANDO VISITÁMOS A VACARIA, ESTAVA NO PROCESSO DE CONVERSÃO PARA PROCROSS. HOJE, CERCA DE 50% DO EFETIVO E 40% DAS VACAS EM LACTAÇÃO JÁ SÃO CRUZADAS. O PRÓXIMO OBJETIVO É DUPLICAR O NÚMERO DE VACAS EM ORDENHA, TODAS EM PROCROSS. Entrevista a César Silva, sócio gerente da Quinta do Muroz, Lda. e Abílio Pompeu, nutricionista | Por Ruminantes | Fotos Francisca Gusmão
P
ara chegar às 700 vacas em ordenha há vários investimentos em curso. Desde logo, um outro pavilhão para 300 vacas e uma ordenha rotativa de 50 pontos. Foi acerca destes investimentos e também da mudança para Procross que falámos com César Silva e com Abílio Pompeu, nutricionista da exploração.
César Silva, sócio gerente da Quinta do Muroz, e Abílio Pompeu, nutricionista da exploração.
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Há 2 anos estivemos aqui, o que se passou de novo entretanto? Aumentei bastante o efetivo, passei de 760 animais para 1020 ( fêmeas), e de 348 vacas em ordenha para 440. Em termos de instalações, construímos pavilhões para as vacas em produção e um pavilhão estufa, em sistema de cama quente, com capacidade para 320 cabeças para a recria e para as vacas secas. Está em construção mais um pavilhão para 300
Cruzar e crescer
PRODUÇÃO | VACAS DE LEITE
vacas e uma ordenha rotativa de 50 pontos. Queremos ter 650 a 700 vacas em ordenha. Em 4 anos vai duplicar o número de vacas em ordenha? Sim, é por isso que tenho que fazer estes investimentos. Nomeadamente, temos que investir numa nova sala de ordenha, porque atualmente demoramos 14 horas por dia, nas 2 ordenhas diárias dos animais em lactação. No final deste ano esperamos ter a sala a funcionar. Como pensa garantir o aprovisionamento das forragens para este aumento do efetivo? A palha vem toda de Espanha. A silagem de erva é produzida por nós e utilizada apenas nas novilhas. Relativamente à silagem de milho, temos que comprar cerca de 30% do que necessitamos. Em 2019, quando aqui estivemos, disse-nos que ia investir cada
vez mais na genética do programa Procross. Seguiu por essa via? Temos vindo a aumentar o número de animais Procross. Este ano tomámos a decisão de fazer todas as inseminações de acordo com o programa Procross. Estamos comprometidos a 100% com o programa. Porquê? Porque as vacas têm mais dias de vida, ficam prenhes com mais facilidade, têm menos problemas de saúde (descargas celulares, mamites), e produzem o mesmo que as outras que temos. Aliás, nos meses mais quentes do verão passado andaram com médias diárias superiores às Holstein em cerca de 2 litros. A mudança de genética tem por base dados concretos e significativos que fomos recolhendo na exploração, e que representam muito dinheiro. Em que medida a aposta no programa Procross contribuiu para o aumento do efetivo que está a fazer? Muito. Hoje, cerca de 50% do efetivo 043
e 40% das vacas em lactação já são cruzadas. Qual é o grau de satisfação, até ao momento, com este programa? Estou bastante satisfeito, só tenho pena de não ter acreditado nisto há mais tempo. Tinha dúvidas e tive que ver para crer. Comecei a cruzar, devagar, em 2015, e só agora decidi pôr todo o efetivo no programa Procross. Tenho menos problemas do que com as Holstein. Qual é o seu critério de análise da exploração, produção de leite aos 305 dias ou na vida útil das vacas? Para mim, o importante é a quantidade de leite que as vacas “deixam” na exploração ao longo da sua vida útil. Quantas lactações faziam as suas vacas? Com o efetivo puro Holstein nunca consegui passar de 1,7 lactações por animal, em média.
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REVISTA RUMINANTES
ABÍLIO POMPEU, NUTRICIONISTA DA QUINTA DO MUROZ, ESTÁ SATISFEITO COM A TRANSIÇÃO PARA O PROGRAMA PROCROSS: "NESTE MOMENTO TEMOS CERCA DE 50% DE CADA TIPO DE ANIMAIS [HOLSTEIN PURAS E CRUZADAS] E, SE OBSERVARMOS AS VACAS PURAS HOLSTEIN VEMOS QUE, COMENDO O MESMO ARRAÇOAMENTO A CONDIÇÃO CORPORAL TEM UMA DIFERENÇA ABISSAL: CHEGA A SER DE 1,5 A 2 PONTOS (NUMA ESCALA DE 0 A 5) ABAIXO DAS CRUZADAS, PRODUZINDO PRATICAMENTE O MESMO LEITE."
Como nutricionista desta exploração, como analisa as vacas Procross? Há um ponto que é visível, mas não lhe consigo quantificar com precisão, e que se refere à menor capacidade de ingestão de MS por dia destes animais comparados com as Holstein. Lembro-me perfeitamente de trabalhar com ingestões de 23 ou 24 kg de MS, dependendo do período do ano, quando tínhamos apenas Holstein, e agora temos entre 21,5 e 22,5 kg de MS. Os responsáveis pelo programa Procross falam numa diminuição de consumo da ordem dos 5%, o que se confirma nesta exploração, estamos com menos 1,5 a 2 kg menos de MS por vaca. Menos MS ingerida e a mesma quantidade de leite produzida? Sim, são efetivamente mais eficientes, produzem o mesmo leite com menos alimento. E relativamente à condição corporal? É um aspeto curioso porque comendo menos e produzindo a mesma quantidade de leite, poderíamos esperar uma diminuição da condição corporal. Mas não, não perdem condição corporal. Esta vacaria é um bom exemplo, neste momento temos cerca de 50% de cada tipo de animais e, se observarmos as vacas puras Holstein vemos que, comendo o mesmo arraçoamento a condição corporal tem uma diferença abissal: chega a ser de 1,5 a 2 pontos (numa escala de 0 a 5) abaixo das cruzadas, produzindo praticamente o mesmo leite.
Face a esta diferença de eficiência, que cuidados tem na formulação do arraçoamento? Neste momento tenho alguns cuidados porque temos 50% de efetivo puro e 50% cruzado. Não posso formular sem pensar que poderei estar a engordar excessivamente as cruzadas, algo que não interessa de todo. Quando era tudo puro Holstein esse receio não existia, a preocupação era não perder a condição corporal. Quantos parques de produção e quantos arraçoamentos utiliza? Trabalhamos com “parque único” de produção de leite e um único tipo de arraçoamento. Temos grupos porque não cabem todas no mesmo parque, mas em cada parque estão todo o tipo de animais, com diferente idade, produção, fase da lactação... e comendo sempre o mesmo arraçoamento. Mais tarde iremos ter um parque para os animais de 1ª lactação. Qual é o arraçoamento para as vacas em produção? Silagem de milho, dreche de cerveja, palha, farinha de milho, soja e um concentrado (vitaminas, minerais...). Que índice de conversão conseguem? Estamos com cerca de 1,6 kg de leite para 1 kg MS, mas dizem-me que se pode chegar a 1,8 de conversão. Qual a razão para refugarem tantos animais? A principal razão é a fertilidade, cerca de 80%. Depois vêm as mamites e por fim os problemas de patas. Os animais cruzados são significativamente melhores. Neste momento estamos com 390 dias de intervalo entre partos. A média nacional está nos 430 dias. Como explica estes resultados? Do ponto de vista nutricional, enquanto uma vaca estiver com balanço energético negativo, a perder peso, não fica prenha. Estas vacas cruzadas não perdem praticamente peso, e ao fim de 35-40 dias estão prenhes. Que indicadores utiliza para perceber que a exploração está bem? Para mim, é muito importante saber o intervalo entre partos (IEP). Uma vaca que produz 12000 litros aos 305 dias, ou seja, cerca de 39 litros por dia, tem uma 044
DADOS GERAIS DO REBANHO Efetivo total
1020 (fêmeas)
Nº vacas em ordenha
442
Nº ordenhas por dia
2
Tempo de ordenha do efetivo
14 horas/dia
Produção média diária/vaca
32 litros
GB (%)
3,4
PB (%)
3,3
Taxa de refugo
33% Holstein e 18% Procross
Idade ao 1º parto
25 meses
IEP (intervalo entre partos)
386 dias
Dias em aberto
106
Dias em lactação
180
Nº I.A. vaca adulta gestante
2,5 doses
1º dia de inseminação
46 dias
Nº lactações/vaca (média do rebanho)
2,3
boa produção se tiver um IEP de 365 dias. Mas se o IEP passar para 420 dias, esta produção diária baixa significativamente. Penso que um IEP inferior a 400 dias é um bom número. Atualmente estamos com 386 dias mas já estivemos nos 420 dias. Outros dados importantes são os que resultam da comparação dos dados produtivos e reprodutivos de um determinado mês com os dados homólogos de anos anteriores. E, por fim, o consumo de matéria seca por animal. O que trouxe de novo o programa Procross a esta exploração? Estas vacas vivem mais anos, são mais saudáveis, comem menos e produzem o mesmo leite. O Procross trouxe mais lactações e mais quantidade de leite na vida útil do animal. Temos uma recria com muito menos animais, porque a longevidade dos animais é superior. Não vamos ter uma taxa de refugo de 35% como temos com as Holstein puras. A ideia é ter 4 lactações por vaca, em média, ou seja, 20 a 25% de taxa substituição. O que é, para si, uma boa produção por vida útil e vaca? Em Portugal há quem faça 39000 litros por vida útil e vaca, nós estamos com 19000.
PROGRAMA DE CRUZAMENTOS DE 3 RAÇAS CIENTIFICAMENTE JÁ PROVADO Cruzar e crescer
PRODUÇÃO | VACAS DE LEITE
+33
%*
LUCRO DE VIDA PRODUTIVA
VIKINGRED
PARTO FACIL LONGEVIDADE SAUDE
+10PTS PONTOS NA TAXA DE CONCEÇÃO
-26%
DE CUSTOS DA SAÚDE
+8%
DE EFICIÊNCIA ALIMENTAR
ROBUSTEZ FERTILIDADE ADAPTABILIDADE MONTBELIARDE
PRODUÇÃO SÓLIDOS TAMANHO MÉDIO
+147
DIAS EM PRODUÇÃO
+14% VALOR DE REFUGO
VIKINGHOLSTEIN Fonte : Estudo de 10 anos de comparação de animais ProCROSS com as puras Holstein, pelo Professor Les Hansen da Universidade do Minnesota. * Para mais informação : www.ansci.umn.edu/sites/ansci.umn.edu/files/procross_10-year_study_results_kg_new.pdf
Os touros VikingRed, Montbeliarde e VikingHolstein estão disponíveis no nosso distribuidor 045 Ugenes-Unipessoal,Lda - Rua da Portela “Villa Mós” - Lapa - 2665-617 Venda do Pinheiro - Portugal Email: carlosserra@unigenes.com - Telf: +351 917 534 617
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AGRICULTURA REGENERATIVA
PRODUZIR LEITE 100% DE PASTAGEM NO ALENTEJO 046
Produzir leite 100% de pastagem no Alentejo
AGRICULTURA REGENERATIVA
POR ANDRÉ ANTUNES Agricultor, Consultor Agrícola e Médico Veterinário chaoricolares@gmail.com Instagram.com/chao.rico.colares
NA HERDADE DO VALE DE ARNEIRO, CONCELHO DE AVIS, CONSEGUEM-SE RESULTADOS DE EXCELÊNCIA EM GRANDE ESCALA E PREPARA-SE O CAMINHO PARA O JULGADO, ATÉ AQUI , IMPOSSÍVEL - PRODUZIR NO ALENTEJO O MELHOR LEITE DO PAÍS, BIOLÓGICO, 100% DE PASTAGEM E SEM QUALQUER TIPO DE EXTERNALIDADE NO SISTEMA - SÓ COM O QUE PROPORCIONA A NATUREZA. E TUDO ISTO COM RESILIÊNCIA AMBIENTAL E FINANCEIRA, SEQUESTRANDO MUITO CARBONO PELO CAMINHO E CONSTRUINDO UM ECOSSISTEMA BIODIVERSO.
João e Miguel Sanganha, sócios gerentes da exploração.
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André Antunes: Bom dia João! Obrigado por nos receberes – é um enorme prazer visitar este vosso projeto e além de tudo, poder ver animais e natureza em plena harmonia, colaborando para produzir este bem essencial que é o leite, e com altos padrões de qualidade. Faz-nos, por favor, uma breve contextualização da tua exploração.. João Sanganha: Obrigado pela visita – é um prazer receber pessoas novas e mostrar aquilo que fazemos que acho que é diferente e importante, especialmente para os dias de hoje com a conjuntura atual de pandemia e crise alimentar e nutricional que temos visto. A nossa exploração chama-se Herdade do Vale de Arneiro, fica no concelho de Avis. Nós operamos em modo de produção biológico há cerca de 20 anos. A nossa operação começou quando tivemos um surto de brucelose. Éramos uma vacaria convencional em modo intensivo – as vacas estavam estabuladas. Produzíamos e comprávamos forragens e produzíamos assim o leite. Quando surgiu este problema de sanidade, do qual desconhecemos a fonte, fomos obrigados
a parar, com um abate total do efetivo, ficámos cerca de 2 anos sem animais. Este evento deu-nos a oportunidade de repensar a nossa operação e sobretudo possibilitou que começássemos mais devagar. Foi o meu pai que decidiu comprar vacas e pôr os animais em pastagens com pastoreio rotacional banal como é feito na generalidade do nosso país. Verificámos que as vacas, quando vinham à ordenha, produziam leite a um custo muito mais reduzido, o que nos agradou bastante. Eram quantidades reduzidas mas permitiam pagar as contas: tínhamos poucos custos fixos, muito poucos equipamentos, tanto que definimos o nosso objetivo futuro em produzir com zero máquinas, excetuando o equipamento de ordenha, usando apenas o pasto para a alimentação dos animais. A partir daí fomos aumentando o efetivo, instalámos prados permanentes nos pivots todos, e fomos evoluindo assim até aos dias de hoje. Qual o efetivo atual e área total da exploração? Neste momento ordenhamos 450 vacas que estão separadas em 2 grupos. Um
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dos grupos é dos animais em tratamento, quando têm descargas ou outras patologias que requerem tratamento para que assim possamos isolá-las e controlar os intervalos de segurança dos tratamentos. Em modo de produção biológico, estes intervalos são o dobro do convencional. Exploramos 1300 ha, divididos em 3 marcas de exploração, e um total de 1400 animais. De leite, são cerca de 700/800 CN, sobretudo Jerseys. Fazemos monta natural com touros Jersey, a cobrir as novilhas que são a única fonte de reposição, sendo todas pelo menos F1 de Jersey. O objetivo é ter o efetivo com pelo menos 50% de genética Jersey. Na carne, somos criadores da raça Aberdeen/ Angus. Temos também animais cruzados com Limousine. Quando começámos, adquirimos alguns animais cruzados de Limousine, mas desde aí só entra sémen que eventualmente compramos para melhoramento genético (somos uma exploração fechada). Qual é a estrutura administrativa? É familiar. Trabalha o meu pai, eu, o meu irmão e o nosso cunhado. Temos 9 colaboradores que ajudam nas operações da ordenha, alimentação dos animais e algumas operações culturais.
Produzir leite 100% de pastagem no Alentejo
AGRICULTURA REGENERATIVA
Qual é a vossa carga de trabalho horária? Sobretudo na parte de gestão da nossa família, trabalhamos muito. Eu e o meu irmão só descansamos uma tarde por semana – um no domingo, outro no sábado. Esta é a grande dificuldade de quem é produtor de leite – conseguir ter qualidade de vida e encontrar tempo para si próprio e para a família. A família ajuda nisto, porque apoia-nos muito naquilo que fazemos, compreende quando saímos de noite e chegamos de noite a casa. Fazemos aquilo que gostamos, mas reconhecemos que é uma prioridade atingirmos maior qualidade de vida. Quais as vantagens e inconvenientes em estarem no modo de produção biológico de pastagem? A qualidade de vida dos animais é uma vantagem. Trabalhamos com a natureza e não contra ela. Os animais seguem o seu ciclo natural. As novilhas parem quando atingem condição natural para isso. A sua alimentação é natural – são herbívoros – devem comer apenas erva e forragens dela derivadas. Disto tudo resulta um produto de altíssima qualidade nutricional
para quem o consuma. As poupanças em fatores de produção são outra vantagem importante. Embora a produção por animal seja reduzida, as despesas por litro de leite produzido são baixíssimas. Praticas o pastoreio holístico na tua exploração - alta densidade, curta duração, longo descanso e adaptação dinâmica às necessidades. É uma técnica conhecida de Agricultura Regenerativa. Quais as vantagens mais imediatas que notaste desde que fizeste a transição, há 4 anos? A mudança foi dramática. Na altura tínhamos cerca de 280 vacas em ordenha. Quando começámos a usar mais estas práticas de pastoreio holístico, verificámos que as produções de pastagem aumentaram exponencialmente. É fácil de relacionar com o efetivo de animais. Neste momento temos 450 vacas em pastagem, usamos menos área que usávamos antes e a tendência é para seguir este padrão. Para aproveitar melhor o valor forrageiro temos que acelerar um pouco as rotações. Tem sido fantástico – diminuímos muito os custos. Estamos há cerca de um ano a alimentar as vacas exclusivamente
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com pastagem ou forragem conservada. Não damos um grama de cereal ou concentrado aos animais. Apenas suplementação mineral para carências nessa área, e luzerna desidratada biológica como ferramenta para gerir a fibra. Para resumir, quais são os principais desafios de uma grande exploração como a vossa, em modo de produção biológica e de pastoreio holístico? Melhorar a qualidade de vida como em qualquer exploração de leite é um desafio presente. Não é só importante os animais estarem bem – também nós necessitamos de melhorar a nossa qualidade de vida. Gostamos do que fazemos, mas sentimos que ainda há caminho a percorrer na melhoria da qualidade de vida. Na suplementação energética existem desafios. A proteína é fácil de compensar com a luzerna e com os prados, mas a energia não. A solução mais fácil é usar a silagem de milho, o milho grão, mas nós definimos como premissa fundamental produzir leite de pastagem. Se fazem noutros lugares do mundo, e Avis não é em Marte, também aqui podemos fazer e já fazemos – agora é só melhorar. No
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fundo, tem tudo a ver com a otimização do tempo em que os animais permanecem no parque, promovendo um pastoreio algo seletivo para poderem ter acesso a carboidratos suficientes. Em relação às movimentações diárias de animais do pasto para a ordenha é algo que se pode otimizar, mas acaba por constituir um acréscimo de mão-de-obra. O sistema de bebedouros e vedações elétricas é mais complexo, mas mais uma vez é uma questão de hábito e mão-de-obra acrescida. Certamente que compensa, no final, dado os aumentos de rentabilidade. A nível de solos e operações culturais, o que é que nos podes explicar? São cerca de 240 ha de regadio. No pastoreio direto são 120 ha efetivos, 20 ha para recria das bezerras, 100 ha de prados regados para as vacas em produção e 100 ha para produção de forragens anuais de outono/inverno e primavera/verão, que são conservados para suplementar os animais. O resto são pastagens naturais. Já semeámos no passado, mas os custos são proibitivos e a experiência diz-nos que através do pastoreio holístico vamos ter pastos muito melhores do que aqueles instalados. Não digo que um dia, quando tivermos quantidades suficientes de matéria orgânica e quisermos introduzir, por exemplo, umas luzernas ou uns trevos não o façamos, mas sempre com sementeira direta por cima da pastagem natural, sem qualquer tipo de mobilização. Mais do que isso é deitar dinheiro fora.
Com luzerna, já fizemos uma experiência numa parcela de sequeiro com 3% de matéria orgânica e ficámos estupefactos com o resultado. Se é possível ali, será também noutros sítios. Fazem mobilização do solo? Nas parcelas com culturas anuais usamos apenas um chisel com asas de andorinha, só a 10-15 cm de profundidade – muito superficial só para produzir um leve efeito de monda, para dar mais possibilidades aos cultivos que vamos instalar para produção de fenossilagem. Não usamos charrua nem fresa, e a grade de discos é usada muito pontualmente, sobretudo para regularização da superfície do solo. É um engano para o agricultor fazer mobilização – é um depósito a prazo de nutrientes que se perde. Há produções maiores nos primeiros anos, mas as terras ficam paupérrimas passado uns anos e vão erodindo, e o resultado é o abandono da terra ou a constante utilização de fertilização para compensar.
A presença de escaravelhos é resultado da aplicação reduzida de desparasitantes.
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Como fazem o controlo de infestantes sem mobilização e sem uso de herbicidas? As infestantes cada vez mais as percebemos antes como bioindicadores de um problema ou desequilíbrio que temos no solo. Controlamo-las com o pastoreio holístico – muita carga animal numa área muito reduzida com longos períodos de repouso. O custo é zero – as vacas comem as infestantes – só não o farão com o pastoreio corriqueiro normal que é muito seletivo – se introduzirmos a cerca elétrica e obrigarmos ao efeito manada, como acontece em ambiente natural com a pressão de predadores. Quanto maior for a carga animal, maior é o efeito avassalador na pastagem no ano seguinte. Utilizam cultivos de cobertura? Fazemos erva do sudão e sorgo com sementeira direta nos prados permanentes, para corte a dente, para maximizar a produção de pastagem no pico do verão, onde chegamos a ter 40º C. O sorgo reage muito bem a essas temperaturas. O prado resguarda-se assim. A título de exemplo, no ano passado, fizemos sementeira direta, nalguns sítios com fracos resultados e, noutros, com até cerca de 15 ton por ha. Quase um "pasture cropping" mas sem venda do grão à parte. A erva do sudão, por exemplo, tem um efeito descompactador do solo importante e verificámos isso este ano nas zonas onde foi instalado, com maior produção de pastagem. O efeito de sombra permitiu que essa pastagem tivesse um microclima
Produzir leite 100% de pastagem no Alentejo
AGRICULTURA REGENERATIVA
que lhe permitiu desenvolver-se mais. Nas áreas onde semeamos o sorgo de sementeira direta sobre a pastagem, tivemos uma "infestação" de trevo-branco como nunca tínhamos observado. Problemas desses, venham eles... Sim. É o resultado de pensar fora da caixa e fazer estas coisas diferentes. Qual o espaçamento entrelinhas? É de 15 cm, usamos um Semeato de sementeira direta. Esperamos que no futuro com a ajuda de, por exemplo o Professor Calegari – entrevistado da última edição da revista Ruminantes, se possa evoluir no nosso país nessa técnica de Agricultura Regenerativa. Sim. Temos que analisar essa possibilidade e adaptá-la ao nosso clima árido e seco. Em relação às culturas forrageiras anuais de outono/inverno, o que é que usam? Usamos misturas muito diversas – quanto maior a mistura que conseguirmos encontrar melhor. Os nossos solos são muito heterogéneos e temos toxicidades de manganês e ferro, zonas mais alagadas e outras mais secas. A nossa forma de combater isso é com uma mistura grande de sementes, não mobilizar ou mobilizar minimamente e fazer sementeira direta aproveitando o pasto natural. Fazem rotações? Como usamos muita variedade, não sentimos que seja necessária tanta rotação entre as zonas. Como fazem a gestão da fertilidade do solo? Nas zonas de toxicidade de ferro e manganês, usámos aplicações de calcário dolomítico a cerca de 3 ton/ha para melhorar e tentar eliminar esse problema. Nos parques onde fizemos isso – o Rumex, que é um bioindicador desta toxicidade do solo, reduziu imenso a incidência logo no primeiro ano de aplicação. Vemos também mais cultivares e mais espécies a aparecer, nomeadamente em sequeiro. No regadio, o elevado impacto animal, de cerca de 300 cabeças por ha em 3 ou 4 horas, acaba por ajudar muito. Já chegámos a 1200 cabeças por ha em 4 horas. Esta ferramenta – o efeito manada, é potentíssima.
Fazem análises ao solo? Fazemos análise ao solo com coordenadas nos pontos onde foram feitas essas colheitas para perceber qual o incremento de matéria orgânica (MO) e outros indicadores ao longo do tempo. Neste momento temos uma média ponderada de MO em toda a exploração de 1,87%. Esperamos que vá subir. As produções são maiores, logo deverá vir daí...
optaríamos por ela. O solo precisa dos animais e para isso eles têm de estar saudáveis. Acreditamos que com a genética é possível fazer algum tipo de melhoramento, selecionando os animais que melhor se comportam neste tipo de operação, apresentando mais resistência aos parasitas e selecionando-os como reprodutores. Assim, a desparasitação passará a ser uma opção pontual e não um tratamento anual.
E às pastagens? Fazemos apenas das forragens para conservação – matéria seca, proteína, etc. Geralmente as nossas forragens são de fraca qualidade e as produções em volume acontecem apenas agora no mês de maio. É muito difícil entrar na terra antes disso por problemas de atascamento, porque os solos são muito argilosos. Para sermos autossuficientes em forragem decidimos optar por volume, em vez de qualidade, e colmatamos a falha com a luzerna desidratada.
Ao nível de bem-estar animal e comportamento notas melhorias desde que estás neste sistema de pastoreio holístico? Sim, os animais têm maiores taxas de fertilidade. O intervalo entre partos é de 12/13 meses. 95% do efetivo está aí. Os 5% restante são refugados. Temos animais a mais porque os vitelos não morrem – temos muito sucesso na recria – o efetivo cresce muito. É um sinónimo do efeito positivo destas práticas para os animais.
Fazem análises alternativas, como foliares, seiva, Brix? Ainda não, mas no futuro pretendemos experimentar, também para perceber que suplementações minerais os animais podem necessitar. Que profilaxia de doenças parasitárias e infeciosas fazem? Temos problemas com as fascíolas devido às várias zonas de várzeas e de baixios com regadio. Isto obriga-nos, infelizmente, a desparasitar grande parte dos animais uma vez por ano nos animais jovens. Também vacinamos. Nas vacas de leite só pontualmente e com aqueles desparasitantes permitidos, devido às regulamentações do biológico e aos intervalos de segurança. É uma limitação muito grande. Como curiosidade, não usamos antibióticos de secagem para as nossas vacas – elas seguem o seu ciclo normal. Quando a produção baixa muito, as vacas são retiradas do grupo de produção e secam-se naturalmente. Usam Ivermectina? Infelizmente, sim. Sabemos que tem um efeito devastador na fauna coprófaga. Não sentem esse efeito? Os escaravelhos estão cá. mas provavelmente poderiam ser mais. Se houvesse uma alternativa. decerto que 051
Que programa de fertilidade seguem? Temos 3 explorações. Uma dedica-se à produção de leite e vacas secas, outra é para a recria de novilhas, produção de forragens e vacada de carne. E a outra é para produção da raça Aberdeen– Angus em linha pura. No leite, usamos touros Angus com monta natural permanentemente disponível. Tudo o que são novilhas a entrar, são beneficiadas com as Jersey numa primeira inseminação com sémen sexado de Jersey, e na segunda oportunidade com os touros Jersey. No efetivo de leite em produção temos touros Angus para impedir o crescimento do efetivo de leite, porque as nossas vacas duram imenso tempo – em média 9 anos. Na semana passada refugámos uma vaca com 13 anos em produção. Isto dá-nos uma fonte de rendimento extra que são os vitelos cruzados de carne, que têm procura. Como é feito o maneio dos vitelos? Todas as fêmeas Jersey são criadas aqui, por nós. Os vitelos de carne são todos vendidos, machos e fêmeas, com 15 dias de vida. Quando os animais nascem, as vacas ficam aqui numas boxes com camas de palha sempre seca para os partos, quando não é possível parir no campo onde a assepsia é melhor. Temos colostro congelado que utilizamos com a ajuda de uma sonda, que administramos nas primeiras horas de vida do animal para
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assegurar este aporte. Este provém de vacas vacinadas, o que confere imunidade ao vitelo. Depois damos leite quente das mães provindo da exploração – não usamos leite em pó e desconheço se há algum à venda em Portugal certificado para modo de produção biológico. Quanto mais rápido conseguirmos desmamá-los e pô-los na pastagem melhor. Suplementamos também os vitelos com luzerna que está sempre disponível. Damos uma pequena quantidade de farinha biológica – que é um ponto onde queremos melhorar. Qual é o destino dos vitelos? Temos uma série de clientes que procuram os vitelos da raça AberdeenAngus pela qualidade que têm associado à vaca Jersey que também tem boa qualidade de carne. Temos desde o cliente que compra um vitelo para ter em casa, como o que carrega 20 ou 30 vitelos. Acabamos por perder um bocado o controlo do que acontece. Creio que seja para engorda e abate. Fala-nos um pouco da seleção feita para vacas A2/A2. Todo o sémen de Jersey que compramos é A2/A2 BB. Há umas décadas, todo o leite era A2/A2. A partir do momento em que se começou a introduzir genética, para obter resultados individuais por animal muito altos, houve uma mutação num gene que fez com que passasse a haver leite A2/A2 e leite A1/A2, sendo este último, na atualidade, o mais prevalente nas prateleiras do supermercado. O que acontece é que a maioria das pessoas que pensa ser intolerante ao leite é, na verdade, intolerante à proteína codificada pelo gene A1/A2 – a beta-caseína. O leite A2/ A2 acaba por ser equivalente neste sentido ao leite sem lactose que tem preços proibitivos. A nossa intenção é produzir esse tipo de leite, também para acrescentar valor ao nosso produto e à qualidade nutricional para as pessoas que consomem esse tipo de leite. Ter de imediato esse leite obrigaria a uma análise genética individual dos animais e a refugar os não desejados. Como é feita a gestão hídrica? Temos dois tipos: a água dos bebedouros e a água da rega. Nos bebedouros temos várias fontes desde furos, poços e até rede de rega. Como não usamos fertirrega a água acaba por vir pura das barragens. Para o regadio, temos uma barragem a uma cota mais elevada que os nossos pivots, que recebe as águas
por bacia hidrográfica e valas em curva de nível que ajudam a aumentar a área da bacia hidrográfica, o que faz com que coloquemos a água armazenada por gravidade nos pivots a custo zero. Apenas necessitamos da energia usada para a locomoção do pivot. As cartas de spray dos pivots estão alteradas para poder regar desta forma, com aspersores de baixo débito. A pressão varia entre 2 e 4 bar. Há poucos sítios onde são necessárias bombas para ajudar. O tratamento de efluentes é difícil de gerir? Temos uma lagoa de efluentes impermeável, de betão, onde vão parar todos os estrumes das vacas que vêm à ordenha ou das que estão estabuladas para receber algum suplemento de forragem. Esse é o único fertilizante que aplicamos nas nossas terras, com a ajuda de uma cisterna ou de um espalhador de estrume. Que tamanho têm os parques, de modo geral? Varia. Temos parques desde 1 a 5 ha no leite. Na carne ainda não atingimos estes níveis, mas para lá caminhamos. Como temos que conduzir os animais à ordenha, definimos corredores com 7 metros de largura para que uma pessoa sozinha consiga encaminhar um grupo de animais pela exploração toda. Temos um corredor-mestre que passa pela exploração toda, inclusivé para os animais de carne, e que depois segmenta para o resto da exploração. Acompanhado destes está a rede de bebedouros. Neste momento, este é o fator limitante para a evolução da cerca elétrica. Contudo, aconselho toda a gente a experimentar esta estratégia de pastoreio numa zona pequena. No ano a seguir estarão certamente a usá-la no efetivo todo. Connosco foi assim – começámos com um grupo de novilhas e no ano a seguir estavam já as vacas todas. Agora, quando as vacas passam mais de 3 dias no mesmo parque, ficamos nervosos porque sabemos que é tempo de mais e o pastoreio começa a ser seletivo e prejudica. Quais os tempos mínimos e máximos que os animais ficam no mesmo parque? Para o gado de leite, o mínimo são 3h e o máximo são 12h. Para a carne ainda não conseguimos estas marcas. Pode ser de 3 dias a 1 semana, dependendo do tamanho das parcelas e do número de animais em pastoreio. Tentamos segmentar o máximo – a margem de progressão está aí. No resto 052
da exploração tentamos fazer isso para aumentar o número de animais que a terra suporta – neste momento estamos no limite única e exclusivamente por falta de vedação elétrica e rede de bebedouros. Com tudo instalado, poderíamos neste momento ter o dobro dos animais que temos. Poderemos eventualmente ver-nos limitados pelos regulamentos de exploração e biológicos que não nos permitem ter mais do que 2 CN por ha. Isto parece-me absurdo – o critério deveria ser aquilo que o solo suporta e não um regulamento sem sentido no papel. Isso vai ter de mudar, no futuro. Estás a ler um livro da Temple Grandin – interessam-te os métodos alternativos de maneio dos animais? Estamos a estudar as suas soluções. São muito interessantes – fogem ao convencional, mas resultam muito bem. Coisas muito simples, como conduzir os animais em pastagem, na manga, tudo de modo a reduzir o stress. São dicas que nos passariam ao lado, mas com uma simples leitura damo-nos conta da importância. Recomendo vivamente! As vacas de leite podem ver as suas produções muito afetadas pela ansiedade. Exatamente – o facto de passar uma pessoa a falar mais alto é suficiente para uma retração da vaca, por medo, e para provocar uma interrupção da ordenha. Qual a produção média animal/ano? Estamos em cerca de 10 litros/vaca/ dia. São 2500 l–3000 l/vaca/ano. A produção é ininterrupta. As vacas secam naturalmente, sem o uso de antibióticos. São produções muito modestas que, comparadas com as de operações iguais à nossa, noutros sítios do planeta, não são assim tão más, especialmente no clima do nosso Alentejo. Na Nova Zelândia, com o clima favorável, onde chove quase 3 vezes mais, e com o uso de concentrados na ordenha, anda na ordem dos 17 litros. Acho que não estamos nada mal! Claro que, comparado com o convencional, seria motivo para refugar a vaca. Isso leva-me à próxima pergunta. Qual é a diferença de custo na alimentação dos animais, antes da transição e agora? Os nossos gastos nessa área agora são, quase exclusivamente, na mão de obra e na prestação de serviços para produção de forragens para conservar. Compramos
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também a luzerna desidratada, cereais bio para a alimentação das bezerras, palha para camas e, por vezes, compramos algumas forragens para complementar as que temos em stock (é uma forma de importar nutrientes para a exploração). O efetivo aumentou e compramos cada vez menos comida de fora. Abolimos a ração, à exceção de muito pouca quantidade nos bezerros. Antes comprávamos um camião de farinha por mês, agora compramos 3 de cereal por ano, que depois trituramos para dar aos animais. De luzerna, compramos 1 camião de 2 em 2 meses. Somos muito agressivos na contenção de custos em tudo o que é supérfluo. A nossa maneira de pensar é “se vou gastar 1 euro tenho de ter 3 de volta”. Poucas coisas se qualificam para isto. Os agricultores estão rodeados e são abordados por toda uma variedade de produtos de que não necessitam. Há muita indústria alimentada à custa dos agricultores e o nosso dinheiro desaparece todo aí. Compramos o produto X que acrescenta tantos % na produção, ou o inoculante Y que dá mais 10% da qualidade da fibra. Temos muitas dúvidas desses resultados, especialmente em modo de produção biológico de pastagem onde isso é totalmente marginal e irrelevante. Achas que o futuro está em caminhar para a abolição de todos os fatores externos e trabalhar cada vez mais seguindo os ciclos naturais, aumentando o lucro e melhorando os solos? Definitivamente, produtos animais 100% de pastagem. O consumidor vai estar também mais alerta para isto – e perceber as qualidades organoléticas do leite produzido desta forma , que o torna muito rico em ómega 3 e mais baixo em ómega 6. Mais proteína, ácido linoleico conjugado mais elevado. Produtos que ajudam a prevenir doenças cardiovasculares. A título de exemplo o rácio de ómega 3/ómega 6 de um leite normal é 1; o de um leite de pastagem chega a 5,7. A condução dos animais dos pastos à ordenha é uma dificuldade? Nem por isso, o caminho passa por investir mais em vedações elétricas. Temos um pequeno problema que são os pivots. A segmentação da pastagem, aqui, representa um problema. Quanto melhor o sistema, menos a mão-de-obra necessária, mas há, obviamente, um aumento na mão-de-obra.
O preço que vos pagam pelo leite é razoável? Falando de leite convencional, não podemos conceber que 1 litro de leite custe o mesmo que se paga por um café em Lisboa. O biológico tem de ter um valor superior, por todas as dificuldades em produzi-lo. Falta que as pessoas que bebem leite tenham cada vez mais consciência ambiental e procurem leite produzido por animais ao ar livre em pastagens e não comprem leites baratos maioritariamente importados. A produção de cereais não deveria destinar-se ao consumo das vacas. Elas são herbívoras, não granívoras. Tentemos produzir leite a partir de forragens – um leite de grande qualidade e mais remunerado. O consumidor manda, a indústria vai atrás e a cadeia muda. E em relação aos decisores políticos? Por exemplo, em relação às limitações do número de cabeças normais por ha? Acho que a decisão da limitação do MPB em 2 CN por ha é um crime. Deve ser de acordo com a capacidade daquela exploração. Nos Açores, por exemplo, é absurdo tendo em conta a produção de forragem que eles têm. Também na questão dos subsídios agroambientais, se se passar a fasquia é-se logo muito penalizado. O agricultor está a ajudar a regenerar o solo e ainda por cima leva um corte nos subsídios. Parece-me que, em Portugal, nem os decisores políticos nem a academia científica, têm este conhecimento. Deviam passar mais pelo montado, pelo campo, pelo sistema agrossilvopastoril e perceber que o caminho está aqui. Os fogos foram um alerta que tivemos há uns anos mas, aparentemente, não foi suficiente para mudar a vontade política. Está quase a chegar ao mercado português um tipo de verificação de regeneração ecológica, que é o Land to Market, apresentado pelo Savory Institute que vai através do protocolo EOV de monitorização ecológica validar a regeneração do solo. Nos EUA, já existem grandes empresas de produção de leite biológico como a Alexander Farms, também A2/A2. Conheço, o lema deles é Biológico Regenerativo. Exato! Vocês pensam explorar este caminho. Sim, estamos empenhados nisso. Já entrámos em contacto com a aleJAB nesse 054
sentido porque a regeneração já cá está – basta medi-la. Porque não ter esse selo que ajuda a comercializar o nosso produto? Mais uma vez é o consumidor a ditar a velocidade e força com que estas coisas irão entrar. Quais os autores que mais te influenciaram neste caminho? A primeira influência que tive foi através da TedTalk do Alan Savory que achei muito contagiante e impressionante, o depoimento dele e a abordagem que fez despertou em mim a sensação de que havia um caminho diferente para fazer as coisas. Já estávamos nesse caminho com o biológico, mas ajudou a aprofundar. Depois, li os livros do Savory Institute, de "Holistic Management". Li também o Greg Judy – "Comeback Farms" e livros do Jim Gerrish sobre o pastoreio de gestão intensiva. Estes foram os 3 principais no início, mas a leitura é uma constante e a encomenda de livros dos EUA muito frequente, já que por cá pouco ou nada se encontra. Neste momento, estou a ler um livro da Temple Grandin e ao mesmo tempo um livro sobre cultivos de cobertura. Tenho mais livros sobre pastoreio, pastagens e maneio dos animais. Que conselhos darias a um produtor de leite convencional, ou mesmo biológico, que esteja interessado em entrar no caminho da regeneração? O que é que correu mal e o que correu bem? O primeiro erro que cometemos foi pensar que o energizador eléctrico para as vedações tinha potência infinita. Desperdiçámos muita energia a fazer cercas elétricas de pouca qualidade, o que se traduziu em vacas a partir as cercas a toda a hora. Recomendo um bom aparelho logo ao início, uma boa cisterna para abeberamento se não for possível instalar uma rede de bebedouros, começar com um pequeno número de animais e ir adaptando. Posso passar o dia aqui a falar de benefícios, mas não há nada como chegar à nossa exploração e vermos o resultado que isto tem. Uma pessoa que tenha um grupo pequeno de animais e saiba o que gasta por ano com eles, se adotar estas práticas vai ver que o stock de pasto que previu existir vai dobrar. O potencial da pastagem está lá, é só respeitar o crescimento natural das plantas e usar longos tempos de repouso. Obrigado, João e toda a família Sanganha e colaboradores, excelente trabalho!
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Silagem de erva
Silagem de milho
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Forragens emergentes
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EQUIPAMENTO | KUHN SPW INTENSE 27.2 CL
27 METROS CÚBICOS E MAIS QUALIDADE NA MISTURA PARA ANTÓNIO JOSÉ MEIA BOTA, PROPRIETÁRIO DE UMA EXPLORAÇÃO DE ENGORDA DE BOVINOS LOCALIZADA EM BENAVENTE, O FOCO DO NEGÓCIO ESTÁ EM TER TODOS OS ASPETOS DO NEGÓCIO INFORMATIZADOS. A AQUISIÇÃO DE UM UNIFEED AUTOMOTRIZ DE 27M3, EQUIPADO COM BALANÇA COM TRANSFERÊNCIA DE DADOS POR GPRS, FOI A SOLUÇÃO ENCONTRADA PARA CONSEGUIR, DA FORMA MAIS RÁPIDA E COM MAIOR CONFORTO PARA O OPERADOR, OTIMIZAR A QUALIDADE DA MISTURA. Entrevista a António José Meia Bota | Por Ruminantes | Fotos Francisca Gusmão
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27 metros cúbicos e mais qualidade na mistura
EQUIPAMENTO | Kuhn SPW Intense 27.2 CL
António José Meia Bota é o proprietário da exploração Meia Bota II, Lda.
DADOS DA EXPLORAÇÃO
A
exploração Meia Bota II, iniciada há 5 anos por António José Meia Bota, em Benavente, abrange duas áreas de negócio: a exportação de animais vivos com mais de 300 kg ou já com peso de abate, para Israel, que representa 60% dos nossos animais; e a venda para o mercado nacional de cruzados de Angus para a Sonae, Mercadona, e Campicarn. No primeiro ano venderam 6.000 animais. Atualmente vendem 10.000 bovinos/ano. Na exploração estão sempre cerca de 4.500 animais.
Os animais são comprados ao desmame, com 200 a 250 kg, e 6 a 7 meses de idade, de preferência cruzados com Limousine, Charolês ou Angus. Permanecem na exploração a engordar, até à idade de serem vendidos. Quando chegam, os animais são pesados individualmente, vacinados e encaminhados para os parques. Ao fim de 21 dias, fazem o rapelle da vacina, e são agrupados em função da aptidão de cada um para as áreas de negócio que temos (exportação ou engorda). O controlo do peso é feito através dos parques-
Localização
Flor do Grilo, Barrosa, Benavente
Área total
72 ha
Área do centro de exploração
7 ha
Culturas
milho e erva para silagem, e prados permanentes para pastoreio
Nº de animais na exploração
4.500
Nº de empregados
12 (só na engorda)
piloto, onde os animais são pesados todas as 5ª feiras, à mesma hora. Os pesos e ganhos médios diários dos diferentes parques pilotos são extrapolados para os animais que estão nos outros parques da exploração. Nestes parques medimos o ganho médio diário dos animais e o consumo de alimento, daí a importância do equipamento que agora comprámos. O unifeed KUHN SPW Intense 27.2 CL permite-nos medir com exatidão a fiabilidade do alimento distribuído nos parques e a quantidade de alimento fornecido aos animais.
057
O que são bons resultados de crescimento? Em média, os machos devem sair para abate com 12 meses de vida e cerca 550 kg peso vivo. As fêmeas com a mesma idade devem ter cerca de 400 kg. No final da engorda os animais devem ter um crescimento superior, em média, a 2 kg/dia. Como fazem o maneio alimentar? Os animais mais jovens vão para o prado permanente. Os mais desenvolvidos ficam nos parques, temos três arraçoamentos: - até aos 400/450 kg peso vivo: 65% de silagem + 35% de ração
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- até aos 40 dias finais: 85% ração de engorda + 15% de silagem e palha - últimos 40 dias: ração de acabamento e palha As forragens utilizadas são: silagem de milho, silagem de erva, palha Por questões logísticas não temos conseguido trabalhar com as duas silagens ao mesmo tempo, mas no próximo ano esperamos já poder utilizar a silagem de erva para os animais até aos 400 kg e daí para a frente a silagem de milho. Relativamente ao alimento concentrado, utilizamos 3 concentrados diferentes. Porque optaram por um unifeed automotriz? Essencialmente para obter melhor qualidade na mistura, melhores condições para o operador e também por uma questão de rentabilização dos equipamentos. Antes, tínhamos unifeeds rebocados, sendo necessário um trator e uma pá carregadora. Isto também obrigava o operador a sair e entrar no trator uma série
da exploração que são antigas e limitam as manobras. Uma máquina grande como esta ganha muito em ter os dois eixos direcionais, para manobrar em pequenos espaços.
de vezes por dia. Para além destas razões, a capacidade também era reduzida. Por isso, decidimos avançar para uma máquina que fizesse tudo, de forma mais rápida, com maior conforto para o operador e com uma melhor qualidade da mistura.
Em quantos anos espera amortizar este investimento? Normalmente consideramos 5 anos para amortizar este tipo de investimento. Neste caso, acho que vai mesmo ficar porque trabalha 365 dias por ano.
Porque optou por este modelo de 27 m3? Pela quantidade de animais que temos atualmente e também porque, no futuro, pretendemos chegar aos 5.000 animais. Quanto tempo espera ganhar com esta máquina? Antes fazíamos cerca de 15 carros unifeed/dia. Agora vamos reduzir para 1/3, ou algo mais porque nem todas as misturas que fazemos completam um carro. Pensamos reduzir para metade o tempo gasto com esta atividade. O raio de viragem da máquina teve influência na escolha? Sim, porque temos zonas
Este equipamento é fiável na execução do arraçoamento estabelecido? Sim, elimina muitos erros. O unifeed está ligado ao nosso computador e temos informação fidedigna, instantânea, do que se está a passar com as pesagens, etc. Com este software passamos a informação diretamente para a máquina e portanto não há hipótese de o operador errar porque a máquina deixa apenas carregar a quantidade estabelecida no arraçoamento.
O unifeed SPW Intense 27.2 CL, vendido pela empresa OVS (revendedor Kuhn), foi o primeiro modelo da Fase 5 fabricado no mundo inteiro. Tem 27m3, com 2 sem-fins em inox, cuba revestida a inox e balança com transferência de dados por GPRS. Tem um motor de 6 cilindros, de 7,7 litros, que debita 252 cv, e uma fresa como motor de 200 cv. A distribuição é feita à frente, com tapete transversal que permite colocar o alimento dos 2 lados, com deslocação de 25 cm para cada lado. Este motor permite carregar até 3,4 ton silagem de milho por minuto. Os períodos de manutenção são a intervalos de 1.000 horas. A visibilidade é assegurada por câmaras na retaguarda, laterais e no interior da cuba. Tem iluminação led no interior e nas laterais.
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Isto permite-nos ter tudo certo em termos de stock dos diferentes ingredientes do arraçoamento. Em conclusão, como vê este investimento? O foco do negócio está em ter todos os aspetos do negócio informatizados, ter dados concretos ao dia e, se possível, à hora. Esta máquina vai-nos permitir ter esses dados que, neste momento, não são totalmente rigorosos. Daqui a quanto tempo consegue ter estes dados, de forma a perceber o que ganhou? Desenvolvemos internamente um programa de gestão que, com este equipamento, nos permitirá obter todos os dados relativos à gestão do negócio. Daqui a 6 meses já saberei dar os números certos de uma engorda. Ao dia de hoje, sabemos que a compra do animal representa 55%, a alimentação representa 40% e 5% são custos diversos.
Até adquirir o unifeed automotriz, a exploração tinha 2 unifeeds rebocados que faziam 14 a 15 misturas diárias. Isso obrigava a ter 2 tratores em permanência e uma telescópica dedicada ao carregamento dos carros, para além dos operadores. Com o automotriz Kuhn SPW Intense 27.2 CL é somente necessário 1 operador. Também reduziu para quase metade o número de carregamentos: os 2 unifeeds tinham uma capacidade de 15 m3 cada, e o novo tem uma capacidade de 27 m3.
27 metros cúbicos e mais qualidade na mistura
EQUIPAMENTO | Kuhn SPW Intense 27.2 CL
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EQUIPAMENTO | REITER RESPIRO R7 RD
O PRIMEIRO PICK-UP ENCORDOADOR FLEXÍVEL
EM MAIO, FOI ENTREGUE O PRIMEIRO PICK-UP ENCORDOADOR DE TAPETE TRANSPORTADOR PARA TRATORES COM SISTEMA DE CONDUÇÃO INVERTIDA — REITER RESPIRO R7 RD, À EMPRESA JOAQUIM ROQUE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS, LDA.THOMAS REITER, O SEU INVENTOR, ESTEVE PRESENTE E EXPLICOU-NOS A TECNOLOGIA INOVADORA USADA NESTAS MÁQUINAS PARA RESOLVER MUITOS PROBLEMAS DOS PRODUTORES DE GADO RELACIONADOS COM A QUALIDADE DA FORRAGEM.
M
ontámos ontem o primeiro pick up encordoador de condução invertida Reiter Respiro R7, de 7 metros, em Portugal. Já o testámos e estamos prontos para ir para o campo. Esta é uma máquina de condução invertida, nunca conduzimos por cima da cultura, o que permite obter o melhor produto possível", começou por explicar Thomas Reiter, dono da empresa que dá nome à marca e, simultaneamente, o engenheiro responsável pelo desenvolvimento destas máquinas.
Entrevista a Thomas Reiter | Por Ruminantes | Fotos Reiter, FG
Após uma experiência de quase 20 anos na Pöttinger, Thomas Reiter decidiu criar a sua própria empresa para desenvolver uma tecnologia que acredita ser crucial para resolver muitos problemas relacionados com a qualidade da forragem para o gado: eliminar pedras, areia e cinzas, e também a contaminação, nomeadamente, por clostridium. As primeiras máquinas Reiter, com montagem frontal, foram vendidas em 2016 e em 2018 venderam as primeiras máquinas rebocadas. "Temos atualmente 500 máquinas a trabalhar, em 26 países em todo
Thomas Reiter, dono e inventor da Reiter, delocou-se a Portugal para entregar uma Reiter Respiro R7 RD à empresa Joaquim Roque, Prestação de Serviços, Lda., em Montemor-o-Novo.
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o Mundo, sendo a Alemanha o principal mercado, com 50 unidades, disse Thomas Reiter." "LEVANTAR" É A NOSSA SOLUÇÃO A Reiter considera que caminho para o futuro na colheita das forragens exige um repensar fundamental, desde o corte, espalhamento, encordoamento e colheita da forragem, até ao seu levantamento. Os encordoadores de pick-up Respiro são revolucionários nas suas características. O pick-up elástico de pequeno diâmetro em combinação com os dentes curvos e o rotor transportador
O primeiro pick-up encordoador flexível
EQUIPAMENTO | REITER RESPIRO R7 RD
Compacto em transporte: largura 2,40 m, sem oscilações
oferecem: - uma forragem mais limpa devido à redução notável de impurezas de todos os tipos; - melhor qualidade do alimento; - menos perdas de material, refletindo-se no conteúdo em proteína, e no menor desgaste dos componentes da máquina; - cordões fofos, ausência de emaranhamento, velocidade de trabalho elevada, flexibilidade total na largura de trabalho, possibilidade de formação de cordões à esquerda e à direita; - melhor saúde animal. Quais são as principais diferenças desta máquina face às existentes no mercado? A principal vantagem da nossa diferenciação reside no sistema de pick-up flexível, de pequeno diâmetro, que consegue adaptar-se ao solo. O contacto com o solo, quando existe, faz-se sobre 4 discos que giram livremente, semelhantes aos que existem numa gadanheira de tambor tradicional, o que impede que que os dentes toquem no solo. Um rolo situado à frente do rotor, encaminha a forragem que é levantada pelo pick-up e
conduzida suavemente para o tapete transportador", explicou Thomas Reiter. Para além disso, "desenvolvemos um novo sistema de fixação dos dentes com um design especial que impede a perda de dentes. A ação suave de deslizamento dos discos, impede a compactação do solo e não danifica a cultura. Como se reflete esta tecnologia na forragem? A maior vantagem é a preservação da qualidade do produto colhido: com uma colheita mais limpa, conseguese uma maior produtividade e menos problemas de saúde animal. Um dos principais problemas da forragem, em Portugal, são as cinzas... Nós vendemos o modelo R9 para a Nova Zelândia onde existem muitos solos vulcânicos, cuja cinza é extremamente abrasiva. O cliente fez 4.000 hectares com a máquina e conseguiu reduzir em mais de 50% os custos com desgastes de material. Neste sistema de pick-up, os dentes não tocam no solo e a forragem é puxada suavemente. (continua na pág. seguinte) 061
Quanto maior for a quantidade de folha colhida, mais proteína se obtém. A percentagem de proteína (35%) está diretamente relacionada com a quantidade das folhas colhidas. MENOS PERDAS DE MASSA FOLIAR = MAIS PROTEINA BRUTA (PB) luzerna, rendimento da colheita: 10.000 kg MS/ha e ano (MS = matéria seca)
encordoamento suave com RESPIRO
mais massa foliar por ex. 285 kg MS/ha e ano com 35% conteúdo PB
100 ha luzerna
Poupança em concentrado de proteina 7.000 Euro/ano 70.000 Euro/10 anos
285 kg MS x 0,35 PB
maior rentabilidade: 2 kg soja = 1 kg PB 100 x 0,7 = 70 Euro/ha e ano
2 kg soja = 1 kg PB = 0,7 Euro**
mais proteina bruta 100 kg PB/ha e ano = 1% mais PB por ha e ano
** Preço de mercado da soja (48% PB) = 350 Euro/ton
FORRAGEM BÁSICA = MAIS ENERGIA rendimento das culturas: 7.500 kg MS/ha e ano (MS = matéria seca)
menos contaminação 12 g cinza bruta/kg MS = 0,12 MJ ENL/kg MS mais energia
mais energia 900 MJ ENL/ha e ano
100 ha prado
Mais dinheiro por litro* 10.000 Euro/ano 100.000 Euro/10 anos
energia necessária para 1 kg de leite: 3,1 MJ ENL (4% gordura)
maior rentabilidade: 100 Euro/ha e ano
preço do leite = 0,35 Euro**
290 kg mais de leite
** exemplo realista para a média
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A TECNOLOGIA RESPIRO EM DETALHE Tecnologia Respiro
• Pick-up elástico, de diâmetro reduzido, sem excêntrico.
Pick-up de diâmetro reduzido • Pick-up de máquinas concorrentes: rígido, de grande diêmetro, com excêntrico.
• Pequena distância entre as pontas dos dentes • Velocidade de impacto baixa nos dentes • Potente mesmo com erva curta • Permite o arrastamento dos dentes.
Sistema anti-perdas
Pick-up sem excêntrico
Pick-up elástico
Rotor transportador e rolo encordoador
Disco deslizante próximo dos dentes
Geometria dos dentes
• A bobina dos dentes suportada a partir do interior • 1 parafuso M8 aperta 6 dentes duplos • Substituição fácil e rápida dos dentes.
• Permite um fluxo uniforme do material • Adaptação automática à quantidade da forragem • Funcional mesmo com erva curta
• Possível devido ao diâmetro reduzido • Isento de manutenção • Desgaste apenas dos dentes.
• Disco deslizante 20 cm atrás dos dentes • Melhor seguimento do solo • Rotação livre baixo desgaste • Ampla superfície de contacto
• Melhor adaptação ao solo • Melhor qualidade de encordoamento • Contacto suave com o solo • Desgaste reduzido dos dentes.
• Melhor seguimento do solo • Melhor qualidade de encordoamento • Desgaste reduzido • Deixa as pedras no solo.
Especificações técnicas RESPIRO R7 rd Largura de trabalho do encordoador lateral [m]
7,00 + Cordão
Largura do tapete [mm]
1000
Comprimento de transporte [m]
2,67
Largura de transporte [m]
2,40
Altura de transporte [m]
3,80
Altura em estacionamento [m] Peso [kg] Performance [ha/h] Ligações hidráulicas exigidas Ligações elétricas exigidas
3,60 3380 5-10 2 DA + LS 7 pin
Colaboradores da empresa Joaquim Roque Prestação de Serviços, Lda. e Bráulio Moreira da empresa importadora Alledier.
062
O primeiro pick-up encordoador flexível
EQUIPAMENTO | REITER RESPIRO R7 RD
PLATINUM FORAGE INOCULANTS POWERED BY L. hilgardii CNCM I-4785
LIBERTE O VALOR DA SUA FORRAGEM A silagem de qualidade é vital para o desempenho dos seus animais. Os inoculantes para forragens da gama MAGNIVA ™ Platinum da Lallemand Animal Nutrition combinam a acção do L. hilgardii CNCM I-4785 - uma estirpe de bactérias exclusiva e recém-patenteada que melhora a estabilidade aeróbia, reduz o pH e reduz o desenvolvimento de leveduras e fungos – com o L. buchneri NCIMB 40788. Esta combinação apenas está disponível nos inoculantes para forragem MAGNIVA Platinum.
A sua exploração tem potencial de vitória. Atinja-a com MAGNIVA Platinum.
Informações sobre o nosso portfólio completo de inoculantes para forragens:
LallemandAnimalNutrition.com
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QualitySilage.com
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www.lallemandanimalnutrition.com
#42 | jul. ago. set. 2021
REVISTA RUMINANTES
CÁLCULOS EXEMPLIFICATIVOS DO RETORNO SOBRE O INVESTIMENTO - Tecnologia respiro R7 vs. tecnologia convencional | Benefícios verificados no estábulo e no campo QUADRO 1 | DADOS DA EXPLORAÇÃO EXEMPLIFICATIVA área total de cultivo
100
nº de cortes
5
nº de vacas
350
idade atual do rebanho
5
custos por kg de silagem de MS produção média de leite preço do leite
ano
0,09
€
9500
kg leite/ vaca e ano
0,32
€/kg
1º corte (ha)
100
7 massa fenada colhida ton/ha
2º corte (ha)
100
7 massa fenada colhida ton/ha
3º corte (ha)
100
7 massa fenada colhida ton/ha
4º corte (ha)
100
7 massa fenada colhida ton/ha
5º corte (ha)
100
7 massa fenada colhida ton/ha
total
500
35 massa fenada colhida ton/ha
conteúdo em MS
30%
Média MS kg / m²
1,050
Média MS kg / ha
10500
MENOS CONTAMINAÇÃO, FORRAGEM LIMPA
ha
QUADRO 2 | POTENCIAL BENEFÍCIO COM A TECNOLOGIA RESPIRO (ANUAL) Valor alimentar cortes
ha
Massa fenada colhida ton/corte
MS colhida ton/corte
rácio de redução de cinzas g/kg DM
1º corte
100
700
210
4,4
924
€ 9,33
€ 932,74
2º corte
100
700
210
5
1050
€ 10,60
€ 1059,94
3º corte
100
700
210
6
1260
€ 12,72
€ 1271,92
4º corte
100
700
210
6,4
1344
€ 13,57
€ 1356,72
5º corte
100
700
210
8
1680
€16,96
€ 1695,90
total
500
3500
1050
5,96
6258
€ 12,63
€ 6317,22
Teor de matéria seca (MS)
30%
Valor alimentar acrescentado/ ha
€ 63,0 (€ 12,6/ha cortado)
Maior valor alimentar
€ 6317,2 (€12,6 x 500 ha)
total cinzas kg
maior valor alimentar / ha cortado
maior valor alimentar total
QUADRO 3 | BENEFÍCIO ACRECENTADO DA TECNOLOGIA RESPIRO PARA A VIDA ÚTIL Ingestão de alimento maior ingestão de alimento conteúdo de energia ingestão adicional de energia necessidades de energia por kg leite mais leite por vaca e dia
Maior longevidade, idade média do rebanho kg MS/vaca & dia
0,1
MJ NEL/kg MS
5,8
custo por novilha
MJ NEL/dia
0,58
MJ NEL/kg leite
3,17
aumento do desempenho da vida útil
0,2
benefício por novilha vendida
desempenho na vida útil em kg leite aumento da idade do rebanho
preço do leite
€ 0,32
maior longevidade por hectare cortado
maior produção por vaca e dia
€ 0,06
maior longevidade
dias de lactação por ano
300
mais produção por vaca e ano
€ 18
mais leite por hectare cortado Maior ingestão de alimento
€ 12,3 € 6147,6
€ 1100,00 kg
28500
years
0,1
kg
29450 € 55,00 € 7,7 € 3850,0
menos custos veterinários custos veterinários antes
€/kg leite
€ 0,0130
custos veterinários depois
€/kg leite
€ 0,0125
poupança delta
€/kg leite
€ 0,0005
€
€ 4,75
delta por vaca menos custos veterinários por hectare cortado
€ 4,75
poupança em custos veterinários
€ 1 663
potencial de lucro total por hectare cortado
€ 35,95
potencial total de benefício por ano
€ 17977
064
O primeiro pick-up encordoador flexível
EQUIPAMENTO | REITER RESPIRO R7 RD
Balanço do investimento
QUADRO 4 | BENEFÍCIO ACRECENTADO DA TECNOLOGIA RESPIRO PARA A VIDA ÚTIL Exploração área total de cultivo nº de cortes total de hectares trabalhados anos de uso total de hectares
ha
100
#
5
ha
500
anos
5,0
ha
2500
Máquina RESPIRO R7 rd - preço de compra
€
85000
RESPIRO R7 rd - preço de revenda
€
37715
pick-up encordoador de rotor duplo - preço de compra
€
25000
pick-up encordoador de rotor duplo - preço de revenda
€
11093
custos adicionais da tecnologia RESPIRO
€
33378
€
EM 5 ANOS
Benefício da gestão fora do estábulo
€
31586
Benefício adicional da gestão dentro do estábulo
€
58301
Benefício adicional devido à tecnologia RESPIRO
€
89987 EM 5 ANOS
PROVEITO
€
56509
065
#42 | jul. ago. set. 2021
REVISTA RUMINANTES
EQUIPAMENTO | NEW HOLLAND BB 890 PLUS
BALANÇO APÓS 1 ANO DE UTILIZAÇÃO
PARA OTIMIZAR A OPERAÇÃO DE ENFARDAMENTO DO AZEVÉM, QUE CULTIVA PARA FENOSSILAGEM COMO ALIMENTO PARA OS ANIMAIS, O CASAL DE QUINTANELAS ADQUIRIU, HÁ UM ANO, UMA ENFARDADEIRA NEW HOLLAND BIG BALER 890 PLUS, COMO NOTICIÁMOS. VOLTÁMOS AGORA A QUINTANELAS PARA SABER SE AS EXPETATIVAS SE CUMPRIRAM.
E
m junho de 2020 visitámos o Casal de Quintanelas [Ruminantes jul/ ago/set 2020], uma das vacarias modelo do nosso país, situada no Sabugo, concelho de Sintra, para ver em trabalho a nova enfardadeira New Holland Big Baler 890 Plus. Um ano volvido, fomos ouvir o testemunho de António Castanheira, gestor daquela sociedade agrícola, sobre o desempenho da máquina. A exploração abrange 250 hectares cuja cultura predominante é o azevém
Entrevista a António Castanheira | Por Ruminantes | Fotos F. Marques, N. Marques
para fenossilagem e feno, que constitui cerca de 60% da forragem fornecida aos animais. Que considerações faz sobre a New Holland Big Baler 890 Plus após um ano de trabalho? Antes do investimento nesta enfardadeira, quando fazíamos a silagem nos silos trincheira, o processo demorava 30 dias desde o início até fechar o ultimo silo. Hoje, a mesma área de erva é cortada e armazenada em 15 dias, como fenossilagem, com muito mais qualidade
"No sistema anterior não podia obter mais de 35% MS, porque não conseguia calcar bem a silagem. Com esta enfardadeira, a silagem é cortada à entrada, com cerca de 10-12 cm, e é imediatamente comprimida."
066
devido à rapidez do processo. Conseguimos entrar na terra no período ideal, mesmo antes do espigamento, e terminar a operação praticamente ainda nesta fase. Por outro lado, esta máquina permite-nos entrar ainda mais cedo na terra do que seria esperado com o sistema anterior, porque tem duplo rodado e pneus mais largos. Melhorou a qualidade das forragens? Temos seguramente forragens 20% melhores do que pelo processo anterior. Começa logo, como já referido, com
Balanço após 1 ano de utilização
EQUIPAMENTO | NEW HOLLAND BB 890 PLUS
ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS
" Continuamos a ter que gastar dinheiro em plástico, cerca de 5000€ por ano, mas temos muito mais qualidade na forragem armazenada."
a rapidez do processo. Logo após estar concluído, o fardo é enrolado com o plástico e o processo fermentativo inicia-se de imediato. É completamente diferente de transportar a colheita para um silo trincheira que vai estar aberto durante 2 dias. A qualidade da fermentação é muito melhor. Com este sistema posso fazer a fenossilagem com o teor de matéria seca (MS) que quiser. Optei por ter 45-50% MS (cerca de 2 dias depois do corte). No sistema anterior não podia obter mais de 35% MS, porque não conseguia calcar bem a silagem. Com esta enfardadeira, a silagem é cortada à entrada, com cerca de 10-12 cm, e é imediatamente comprimida. Como é o processo de enfardamento, atualmente? O feno é cortado e espalhado. Dois dias depois, entra em campo um trator com um ajuntador (com largura de 6 m, antes não podia exceder 3 m), seguida pela enfardadeira. Não só se faz o dobro do trabalho numa só passagem, como
a velocidade da máquina é superior. O processo antigo obrigava a ter tratores e reboques a transportar a erva cortada, agora só fazemos o transporte depois de ter tudo cortado e, enfardado e plastificado. As análises nutricionais à fenossilagem repercutem estas vantagens? A primeira grande diferença está na utilização de forragens. Antes não podíamos utilizar mais de 35% de forragens no arraçoamento. Agora utilizamos 45% devido ao upgrade na qualidade e a produção de leite mantevese. Em relação à proteína, aumentámos 2 a 3 pontos percentuais. Só aqui estamos a ganhar bastante porque incorporamos muito mais alimento fabricado por nós, sem custos acrescidos. Se pensarmos na quantidade de nutrientes por hectare, este ano foi muito bom. Chegámos a fazer 3 cortes em muitas terras, algo que raramente acontecia mas que, com a possibilidade 067
de cortar mais cedo do que o habitual, pode vir a tornar-se mais frequente. No nosso caso, a utilização de fenossilagem permitiu utilizar os silos de trincheira para armazenar silagem de milho para o ano todo e, portanto, não tivemos que investir em silos novos, que era a alternativa que tínhamos. Fazer um silo de trincheira para 2000 toneladas de silagem representa cerca de metade do valor da enfardadeira. Continuamos a ter que gastar dinheiro em plástico, cerca de 5000 € por ano, mas temos muito mais qualidade na forragem armazenada. Que informações da enfardadeira usam? Os registos relativos aos teores de MS são muito importantes quando fazemos o feno. Se a humidade for em excesso podemos correr riscos. Desta forma, sabemos exatamente o que temos e podemos tomar melhores decisões. Na fenossilagem utilizamos muito essa informação para definir e
Dimensões do fardo largura x altura e comprimento (cm)
80 x 90 e 100/260
Largura do pick-up MaxiSweep™ (DIN 11220) (m)
1,96
Nº de facas
9 ou 19
Proteção das facas
Molas individuais
Potência mínima da TDF (kW/cv)
100/136
Sistema de atamento/ Nº de cordéis
Tipo nó duplo / 4
identificar os diferentes lotes, quando armazenamos, para depois fazer a melhor utilização dos mesmos Antes de começar a enfardar, o operador identifica a propriedade onde vai trabalhar e no final, a máquina dá-lhe a média de MS e o número de fardos. No final do dia esses dados são exportados para o computador da exploração. Em termos de desperdícios, esta máquina trouxe vantagens? Em dias de vento, cortar com o corta forragem e enviar para o reboque origina quebras de 10% ou mais. Com este sistema, não há perdas. Que dados obtêm sobre a quantidade de forragem? A quantidade de fardos e a MS em cada parcela, dados que antes não tínhamos. Outra informação, instantânea e importante, é a compressão com que se está a fazer os fardos que pode ser ajustada quando se está a enfardar. O fardos perdem peso ao longo tempo? Ainda não disponho dessa informação. É um teste que quero fazer, pesar 3 ou 4 fardos agora, e depois passado 6 meses, para perceber se o peso variou. Estamos a pôr 6 voltas de plástico para que haja o mínimo de entrada de oxigénio.
#42 | jul. ago. set. 2021
REVISTA RUMINANTES
EQUIPAMENTO | SALA DE ORDENHA ROTATIVA
UMA ROTATIVA DE 30 PONTOS NO PLANALTO MIRANDÊS O TEMPO GASTO COM A ORDENHA DOS ANIMAIS, MAS TAMBÉM A ESCASSEZ DE MÃO-DE-OBRA E A TRANQUILIDADE DO PROCESSO, FORAM FATORES DECISIVOS PARA A AQUISIÇÃO, EM 2019, DE UMA SALA DE ORDENHA ROTATIVA DE 30 PONTOS, PELOS GESTORES DA EMPRESA GONÇALO SOCIEDADE AGRO-PECUÁRIA, LDA. Entrevista a Jorge e Emanuel Gonçalo | Por Ruminantes | Fotos Francisca Gusmão
É
na localidade Duas Igrejas, ou Dues Eigreijas, em língua mirandesa, que os irmãos Gonçalo — Jorge, Maria e Emanuel — gerem um negócio de produção de leite de vaca que começou, há muitos anos, com os seus pais. Todo o leite que produzem (cerca de 2 milhões de litros/ano) é vendido para uma queijaria de Trancoso.
A exploração tem uma área total de 131 hectares e um efetivo de 350 vacas, das quais 230 em ordenha. As forragens para a alimentação dos animais são semeadas na exploração: 25 ha de milho silagem em regadio, 30 ha de azevém, centeio, triticale e aveia para silagem e fenos. E ainda trigo para grão. Compram fora apenas a silagem de milho por falta de área.
As vacas em produção estão estabuladas. As novilhas e vacas secas, sempre que o clima permite, permanecem na pastagem. O alimento é fornecido através do unifeed: silagem de milho, sorgo e erva; feno de aveia; concentrado; massa de cerveja e polpa de beterraba. Recentemente foram instaladas estações de alimentação na vacaria e colares nas vacas,
068
para permitir dosear o alimento em função das necessidades específicas dos animais. Porque investiram numa nova sala de ordenha rotativa? Para poupar tempo, a nós e às vacas. Fizemos este investimento em 2019. Antes tínhamos uma sala em espinha, 2x6/12, e demorávamos 4 horas/ ordenha, ou seja, cerca de 8
Uma rotativa de 30 pontos no Planalto Mirandês
EQUIPAMENTO | SALA DE ORDENHA ROTATIVA
Os irmãos Jorge, Maria e Emanuel Gonçalo dividem as suas atividades diárias na gestão da exploração leiteira que, atualmente, conta com um efetivo de 350 vacas, das quais 230 estão em ordenha.
horas por dia para ordenhar 100 vacas. A nova sala rotativa é de 30 pontos, interior, e permitenos reduzir bastante o tempo de ordenha e o número de pessoas envolvidas nesta tarefa. Porque escolheram uma ordenha rotativa? Devido à menor necessidade de mão de obra e à rapidez com que se faz a ordenha. Com a giratória, se for mesmo necessário, conseguimos fazer a ordenha só com uma pessoa, ainda que demore mais algum tempo. Visitámos explorações em Espanha, nos Estados Unidos e no Canadá, para percebermos qual o tipo de sala que mais se adequava às nossas necessidades, uma vez que as obras de construção civil são significativas no custo de instalação. Que aspetos mais valorizam numa sala de ordenha?
O tempo de ordenha, a mão-de-obra, e também a tranquilidade do processo para nós e para os animais. Qual é a diferença de investimento entre rotativa e paralela? Os preços são diferentes, a giratória implica mais custos, sobretudo no aspeto da construção. Além disso, precisa de mais área: esta sala de 30 pontos ocupa cerca de 15x15 metros. E a manutenção, como se compara? Só temos esta sala há dois anos e ainda não tivemos nada de excecional no que se refere à manutenção, tirando a substituição, anual, de alguns tubos, borrachas e tetinas. Quantas vacas em ordenha justificam uma sala rotativa? Penso que a partir das 200 vacas. 069
As vacas entram de forma natural na sala de ordenha? Sim, temos uma cancela de arrasto que permite, de forma bastante natural, trazer os animais para a ordenha. Que tipo de informações obtêm da sala? Nomeadamente a produção de leite por animal, por ordenha e por dia, os cios, a atividade dos animais, entre outras. Os alertas das vacas em cio são aqueles para que olhamos primeiro. Em quantos anos pensam amortizar o investimento? Entre 10 a 12 anos. Que indicadores utilizam para gerir a exploração? O valor recebido mensalmente pelo leite vendido, e o valor despendido na compra dos fatores de produção.
DADOS DA EXPLORAÇÃO Nome
Gonçalo Soc. Agro-Pecuária Lda
Área da exploração
131 hectares (70 são alugados)
Efetivo total
350
Nº de vacas em ordenha
230
Nº de ordenhas/ dia
2
Tempo por ordenha
2h (com lavagem da sala)
Nº de pessoas na sala de ordenha
2
Produção média diária/ vaca
32 litros
GB (%)
3,94
PB (%)
3,44
CCS
220.000 cél/ml
Idade ao 1º parto
24 meses
Rendimento/ hora
150 vacas
Nº de trabalhadores
5
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REVISTA RUMINANTES
Todo o estábulo está equipado com sistema corta-vento Vervaeke.
A sala possui um sistema de medição eletrónica do leite por infra vermelhos Fi7.
Os animais possuem colares de identificação eletrónica.
A cancela de arrasto automática, no parque de espera, encaminha as vacas para a ordenha.
No sistema DelPRO podem-se ligar todo o tipo de equipamentos da DeLaval, como o de vitelos, estações de alimentação, medidores, portas seletoras e equipamento relativo à saúde e reprodução.
A antena de atividade deteta os cios e também a atividade dos animais.
Foram instalados tapetes de borracha na sala rotativa e no parque de espera, para maior conforto dos animais.
EQUIPAMENTOS INSTALADOS NA VACARIA
4 Sistema DelPRO: liga todos os equipamentos da DeLaval, como o equipamento de vitelos, estações de alimentação, medidores, portas seletoras e equipamento relativo à saúde e reprodução.
4 Sala de ordenha DeLaval rotativa: interior de 30 pontos, com sistema DelPRO. 4 Estações de alimentação: colocadas nos parques, permitem ao nutricionista fazer tabelas de arraçoamento para cada vaca em função de parâmetros como a produção de leite, o número e a fase da lactação, por forma a ajustar a quantidade de ração que cai no comedouro. O ajuste é feito a cada 7 dias.
4 Equipamentos High Performance • Unidade de ordenha Top Flow com capacidade de 360 cc Harmony • Sistema de medição eletrónica do leite por infravermelhos “Fi7” • Sistema de gestão de rebanhos Delpro • Sistema de deteção de cios AM2 • Porta seletora automática DSG2 • Parque de espera com cancela de arrasto e raspador de limpeza • Borracha p/ plataforma das vacas e parque de espera R18P
4 Antena de atividade: serve para detetar os cios e a atividade dos animais. Quando a atividade sai do padrão, é enviado um aviso para o telemóvel. O sistema conhece a atividade habitual de cada animal: se está a 100% é porque tudo está normal, se está muito abaixo, o produtor deverá ir ver o que se passa. Muito acima dos 100, é normalmente sinal de cio. 4 Porta seletora automática: permite separar vacas que estão por exemplo com antibiótico, com o cio (nível máximo de alarme)... são automaticamente separadas. Pode separar para até 4 parques diferentes. 4 Cancela de arrasto automática no parque de espera: vai-se movendo (automaticamente ou de forma manual) direcionando as vacas para a ordenha. No final da ordenha, ao voltar para trás, limpa o parque atrás de um arrastador de borracha. 4 Tapetes de borracha: na sala rotativa e no parque de espera, para maior conforto dos animais.
Os irmãos Jorge, Maria e Emanuel Gonçalo (atrás). Joselito Atenor (distribuidor da DeLaval) e Carlos Manuel (técnico da Harker XXI).
070
4 Outros Equipamentos • 2x escova de vacas mod. Swing • 2x estação de alimentação FSC2 • Revestimento da manjedoura em PVC FTC • Sistema de alimentação artificial de vitelos CF500 2 estações • Sistema arrastador de estrumes de correntes Joz • Cortina corta-vento Vervaeke • Logetes Jourdain Euro BP • Cornadis Jourdain Safety • Silo 31M3 em fibra “Millenium”
Uma rotativa de 30 pontos no Planalto Mirandês
EQUIPAMENTO | SALA DE ORDENHA ROTATIVA
GAMA DE UNIFFEDS
AUTOMOTRIZES E REBOCADOS
Travessa Cruz de Pedra nº 4/6 | 4750-543 Lijó, Barcelos | maciel.lda.comercial@gmail.com | +351 253 808 420
071
#42 | jul. ago. set. 2021
REVISTA RUMINANTES
O retorno sobre o investimento estima-se em 18 meses, embora esteja dependente dos preços das matérias-primas. Quanto mais elevados estes estiverem e quanto maior for o efetivo, melhor será o retorno.
EQUIPAMENTO | EvoNIR
COMO TER UM LABORATÓRIO MÓVEL NA EXPLORAÇÃO NA EXPLORAÇÃO FONTE DE LEITE DÁ-SE A MAIOR IMPORTÂNCIA À ALIMENTAÇÃO.. SUPRIR AS NECESSIDADES ESPECÍFICAS DO EFETIVO DE VACAS DE LEITE, OTIMIZAR O GASTO DE MATÉRIAS-PRIMAS E CONSEGUIR FORNECER UM ALIMENTO COM UMA QUALIDADE CONSTANTE, SÃO OBJETIVOS QUE JORGE FRANCO, GESTOR DA EXPLORAÇÃO, PRIORIZA. A AQUISIÇÃO DE UM EvoNIR DG, HÁ UM ANO, TROUXE VANTAGENS IMPORTANTES. Entrevista a Jorge Franco | Por Ruminantes | Fotos Francisco Marques
A
Fonte de Leite é uma exploração situada na Azambuja que pertence ao Grupo Ortigão Costa. Atualmente tem um efetivo de 830 vacas em lactação e um total de cerca de 1450 animais. Para a alimentação dos animais, usam silagem de erva, silagem de milho, feno, palha, colza e farinha de milho. O
concentrado é comprado fora. Conforme a disponibilidade de terrenos, cultivam, ou compram fora com base no teor de MS das forragens e decidem a altura de corte em função dos interesses próprios. Há cerca de 1 ano, decidiram adquirir um NIR do reconhecido especialista em alimentação animal Dinamica Generale — representado em Portugal pela empresa Maciel
Jorge Franco, gestor da exploração, e José Grosso, operador da máquina.
072
Máquinas—, para acoplar ao unifeed automotriz. Para se certificarem de que os animais estavam a ter uma alimentação otimizada, faziam cerca de 3 análises por semana ao alimento. "O trabalho e o tempo que demoravam estas análises, não permitiam uma fiabilidade tão grande como com o NIR. Além disso, o NIR analisa instantaneamente, várias vezes.”, disse Jorge Franco que
Como ter um laboratório móvel na exploração
EQUIPAMENTO | EvoNIR
está “bastante satisfeito” com a compra deste equipamento: “Vai de encontro às expetativas que eu tinha.” Como principais vantagens, o gestor da Fonte de Leite realça a fiabilidade do sistema e a certeza de estar a dar às vacas exatamente aquilo que quer dar: “a qualidade da mistura disponibilizada é mais consistente porque medimos a qualidade das forragens todos os dias.” Quais os nutrientes que analisa com o NIR? Humidade, matéria seca (MS), amido, proteína, ADF’s, NDF’s, cinza, fibra. Em termos de alimentação, o que trouxe a utilização do NIR? Conseguimos ajustar melhor a quantidade de MS às necessidades dos animais e diminuir o alimento que sobra. Fabricamos cerca de 45 toneladas de alimento/ dia, e desde que começámos a usar o NIR poupámos cerca de 20 toneladas em 2 meses (±1%). Aos preços atuais das matérias-primas, este valor é significativo. Por que ordem são feitas as misturas? Colocamos primeiro os alimentos fibrosos (palha e fenos, quando entram), depois os concentrados, as silagens de erva e milho e, finalmente, as leveduras. O consumo de MS por animal variou? E a produção de leite? Sim, o consumo de MS aumentou e a produção de leite subiu. Foi uma evolução interessante que ainda pode melhorar. Melhorámos também a eficiência produtiva (litros de leite/kg MS). Notaram melhorias na saúde animal? Desde o início do ano que temos notado menos problemas, nomeadamente
nas fases de transição: menos ocorrências de deslocamentos de abomaso, diarreias e hipocalcemias. Acho que para estes resultados contribuiu, sem dúvida, uma alimentação mais precisa e consistente. O nutricionista utiliza os dados recolhidos pelo NIR? Neste momento, ainda só está a utilizar os dados da MS. Antes de adquirirmos o NIR, fazíamos análises 3 vezes por semana à MS, aqui na exploração; agora usamos os valores dados pelo NIR. Em relação aos outros dados nutricionais disponibilizados pelo NIR, ainda estamos numa fase de ajustes. Vamos fazendo medições e comparando os valores com os resultados das análises feitas em laboratório. Têm acesso remoto à plataforma onde está a informação? Sim. existe uma APP com toda a informação do NIR, onde podemos consultar as análises efetuadas, assim como os ajustes realizados no TMR. Com que assiduidade fazem análises para verificar se os valores dados pelo NIR são coincidentes com os valores das análises laboratoriais? Nos primeiros 2 meses fizemos com bastante frequência, e posso afirmar que a precisão do NIR é muito elevada. Além disso, todos os meses fazemos, no mínimo, 1 análise laboratorial às silagens e ao TMR. Quantos anos são necessários para pagar o investimento no NIR? Numa primeira análise, pensámos que se poderia pagar em 18 meses. Quanto mais elevados estiverem os preços das matérias primas, como agora, e maior for o efetivo, maior será o payback e mais se justifica um investimento destes. 073
Quantas pessoas estão treinadas para trabalhar com o NIR? Uma pessoa e um suplente. Nós trabalhamos de acordo com uma das opções que o equipamento oferece, em que o operador se limita a seguir as recomendações dadas pelo NIR relativamente à quantidade a carregar de cada ingrediente, após a análise. Confiamos na precisão do NIR. Que vantagens viram, até agora, neste equipamento? Fez diminuir, significativamente, a quantidade de sobras de alimento na manjedoura. O NIR analisa constantemente a mistura, e o carregamento, para alertar quando é atingido o teor pretendido de MS de cada ingrediente. A quantidade de silagem é ajustada em função do teor de humidade. Qual a possibilidade de errar? Desde que o NIR não tenha uma avaria, a probabilidade de erro é muito reduzida. O sistema está sempre a analisar, faz as contas automaticamente, corrige o peso de carga, e pára logo que tem a quantidade certa de MS de cada ingrediente. Na opção de automático, o operador não pode carregar quantidades diferentes do estabelecido no NIR. Que conselhos daria a outros produtores? Penso que este tipo de ferramenta é tão importante numa vacaria grande, como numa pequena. Talvez numa vacaria pequena possa levar mais tempo a pagar, depende do ponto de partida (sobras de alimento, produção de leite...), mas a precisão com que se trabalha o fator com maior importância no custo de produção — a alimentação — é enorme.
Qual é, para si, a principal vantagem do NIR? A precisão com que se trabalha a alimentação, que é o principal fator do custo de produção do leite. Conseguimos alimentar as vacas de forma mais eficiente. É como ter um laboratório móvel que está junto aos alimentos.
DADOS DA EXPLORAÇÃO Nº de vacas em lactação
930
Efetivo total
1450
Produção média/ animal/dia (litros)
39,5
TG (%)
3,7%
TP (%)
3,4%
FEEDELIO IC Precision Feeding Systems FEEDELIO 8000-IC, da Dinamica Generale, é um kit que pode ser instalado a qualquer momento em qualquer um dos misturadores de ração do mercado. Rastreie a precisão de carga e descarga dos seus operadores diretamente no seu smartphone, graças à aplicação disponível para Android e iOS.
• Indicador de peso DG8000-IC • Software DTM Core (versão Cloud IC) • Modem GPRS para transferência de dados confiável • Aplicativo DTM
BENEFÍCIOS
4 Controlo totalmente automático do tempo de trabalho e custos, desde a preparação da receita até a alimentação de cada grupo de animais. 4 Controlo dos tempos de trabalho. 4 Controlo e gestão do stock. 4 Controlo de matéria seca para cada ingrediente. 4 Intuitivo, fácil de usar. 4 Arraçoamento e programas de distribuição montados no pc e rapidamente transferidos para a balança com o modem GPRS. 4 Gestão de recusas. 4 Controlo do operador através de login específico. 4 Totalmente integrado com sistemas de análise NIR. 4 Gestão e rastreabilidade de premix. 4 Controlo de alimentação ideal para produção máxima de carne bovina e leiteira.
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REVISTA RUMINANTES
EQUIPAMENTO | VITELOS
AMAMENTADORAS AUTOMÁTICAS DE VITELOS
TODOS OS PRODUTORES DE LEITE PROCURAM VACAS BOAS PRODUTORAS E COM UMA VIDA LONGA MAS, PARA ISSO, DEVEM PRIMEIRO OTIMIZAR A RECRIA DAS VITELAS. A AMAMENTADORA AUTOMÁTICA DE VITELOS GARANTE UM ÓTIMO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DOS ANIMAIS. OS VITELOS PODEM DESFRUTAR DO SEU COMPORTAMENTO NATURAL E BEBER SEMPRE QUE QUISEREM, DE FORMA CONTROLADA, ENQUANTO QUE O TRABALHO É REDUZIDO AO MÍNIMO. AFINAL, AS VITELAS DE HOJE SÃO AS VACAS ALTAS PRODUTORAS DE AMANHÃ.
JOANA TOMÁS Responsável de FMS (Farm Management Support) Lely Center Vila Nova de Gaia atomas@alteiros.pt
Q
uando um vitelo bebe da mãe, normalmente bebe em quantidades adequadas e distribuídas ao longo do dia. No entanto, na agricultura atual, quando o vitelo é alimentado manualmente, o consumo é limitado a uma ou duas vezes
por dia. É por isso que a Lely introduziu a amamentadora automática de vitelos que fornece a quantidade e concentrações certas ao longo do dia, assemelhando-se assim ao comportamento natural do animal. A amamentadora automática de vitelos oferece vários benefícios como: - elevada taxa de crescimento; - um melhoramento significativo no desenvolvimento dos órgãos do aparelho digestivo, devido ao facto de o alimento ser distribuído em pequenas e exatas quantidades e ao longo do dia; - um desmame gradual e sem stress; - adequação a todos os tamanhos de efetivos;
- facilitação da habituação das novilhas ao sistema automático de ordenha, devido ao facto de os animais aprenderem desde tenra idade a obter o leite; - economia de tempo; - mais dados recolhidos; - flexibilidade da mão-de-obra; - benefícios económicos, com uma manutenção mínima. ALIMENTAÇÃO Assim que um vitelo entra numa estação de amamentação é identificado e, de acordo com o seu plano de alimentação, a amamentadora automática de vitelos decide se o animal tem permissão ou não para beber e a quantidade a que tem direito. A quantidade mínima e máxima de leite por visita pode ser definida para cada vitelo, de modo que o alimentador
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determinará automaticamente o alimento distribuído por animal. Vantagens da amamentadora automática de vitelos: - prepara, na hora, o alimento para cada visita em pequenas e exatas quantidades; - o alimento é disponibilizado a 39º C, a temperatura adequada para o sistema digestivo dos bovinos; - o leite fresco é distribuído de forma exata, em pó ou numa combinação de ambos; - não existem interrupções quando o animal está a beber e na preparação do alimento; - a quantidade de leite por visita pode depender da idade do vitelo; - fornece um alto rendimento
Amamentadoras automáticas de vitelos
EQUIPAMENTO | VITELOS
e taxa de mistura. Traz bons ganhos de peso, mesmo com um grande número de vitelos para alimentar; - contribui para a diminuição da mortalidade (Gráfico 1); - contribui para a melhor saúde dos vitelos (Gráfico 2). GRÁFICO 1 MORTALIDADE DOS VITELOS COM ALIMENTADORES AUTOMÁTICOS: De acordo com 88% dos utilizadores dos alimentadores automáticos de vitelos, a mortalidade dos vitelos é menor ou semelhante ao sistema tradicional de amamentação de vitelos. ND
2%
Superior
10%
Igual
51%
37%
Inferior
GRÁFICO 2 MELHOR SAÚDE DO VITELO: De acordo com os utilizadores da amamentadora automática de vitelos, o estado de saúde dos vitelos melhorou em comparação com os sistemas de alimentação tradicionais. Não, piora
1% Não há diferenças
ND Sim, significativo
7%
33%
18%
45% Sim, ligeiramente
HIGIENE A limpeza da amamentadora automática é feita automaticamente, resultando numa melhor higiene da máquina e pode ser melhorada através da instalação de opções extra, tais como: • A Hygienebox, que garante uma ótima higiene até à tetina e através de um processo de limpeza completo, em dois passos e totalmente automatizado. • A tetina amarela (Yelloteat) que é uma tetina feita de um material que repele a sujidade. • Uma sequência de limpeza com os consumíveis Lely (Lely Calm Cid e Lely Calm Lin). A MÁQUINA O sistema de alimentação automático, que no conjunto fornece os benefícios acima referidos, é composto por várias partes: - uma função de aprendizagem. Através do toque num botão, é libertado um jato de leite que ajuda a ensinar os seus vitelos; - uma simples corrente evita que os vitelos mais pequenos saiam da box no momento de aprendizagem; - o tamanho da box ajusta-se facilmente ao tamanho dos vitelos; - está disponível em dois modelos, cada um dos quais em várias versões. Ambos os modelos incluem equipamento padrão com opções adicionais (Tabela 1);
FIGURA 1 EXEMPLO DE UM PROJETO DE INSTALAÇÃO DE UMA AMAMENTADORA DE VITELOS COM DUAS BOXES Parque para vitelos até ±30 dias
Base 1 m com altura máxima em relação à cota das boxes 2
Parque para vitelos dos ±30 aos 70 dias Ponto de água com passador macho 3/4" Tomada trifásica de 16 A a 1 metro do chão
075
TABELA 1 DIFERENÇAS ENTRE OS MODELOS LELY CALM COMPACT+ E VARIO+ Lely Calm
Nº Vitelos
Estações de alimentação
Leite em pó
Compact+
50
1–2
35 kg
Vario+
120
1–4
35/50 kg
- uma estação de bebida, composta por uma caixa de higiene interna e externa da tetina, leitor e unidade de tetina; - detergentes para a limpeza diária, para garantir uma excelente higiene; - um software inteligente online proporciona uma visão em tempo real sobre o comportamento de bebida dos vitelos. INSTALAÇÃO DA AMAMENTADORA AUTOMÁTICA DE VITELOS Para otimizar o funcionamento da amamentadora automática de vitelos, há que ter em consideração os seguintes aspetos: - a amamentadora automática de vitelos deve ser colocada numa sala/local, separado, para que permaneça limpa, seca e livre de pó; - o local onde está a amamentadora deve permitir a conexão ao Wi-Fi; - a amamentadora deve estar perto da área de alimentação. Os vitelos destreinados precisam de uma mangueira de sucção curta, até 3 m, enquanto que os vitelos mais velhos podem aguentar até 8 m. Quanto mais próxima a amamentadora estiver da área de alimentação, mais quente sairá o leite; - os produtos de limpeza utilizados na amamentadora automática não devem conter cloro, pois pode danificar os materiais da Hygienebox e o seu funcionamento. De preferência, deve utilizar os detergentes feitos para o efeito; - certifique-se de que o processo de limpeza é feito a uma temperatura superior a
40ºC . Esta é a temperatura a partir da qual ocorre a fusão das gorduras; - a dimensão dos parques pode ser variável, de acordo com o número de vitelos pretendido, respeitando as regras de bemestar animal (Figura 1). CONSELHOS DO FARM MANAGEMENT SUPPORT (FMS) • Os vitelos devem estar alojados num local confortável, seco, limpo, com alguma luminosidade e livre de correntes de ar. • Devem ser criados grupos homogéneos de animais, de acordo com a idade ou o peso. • Durante a fase de adaptação, os vitelos devem ser mantidos num grupo pequeno, para permitir: - Melhor acesso à amamentadora automática. - Redução do risco de doenças. - Gestão mais fácil do alimento. Depois de escolher a localização adequada e proceder à instalação, a amamentadora automática de vitelos permite verificar o desempenho dos vitelos a qualquer altura. A amamentadora possui funções diversas, botões rápidos e registos chave a que pode rapidamente aceder para alterar informações. A amamentadora automática de vitelos pode ser ligada ao programa de gestão avançado Lely Horizon, dando uma visão geral, clara e fácil de todos os vitelos através do seu PC, smartphone ou tablet. Permite também criar relatórios e gráficos das quantidades de leite por animal. É possível alimentar apenas com leite fresco, em pó ou com uma combinação de ambos, e ainda escolher o modelo mais adequado às necessidades.
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Os painéis de comando, os ecrãs e o joystick estão instalados no lado direito da cabina. As imagens são captadas por câmaras de vídeo instaladas nas laterais da máquina.
EQUIPAMENTO | KUHN SPV POWER 17.1 DL
MAIOR CAPACIDADE, PARA GANHAR TEMPO
UMA FRESA MAIS POTENTE, UM RAIO DE VIRAGEM MAIS CURTO E UMA CABINE MAIS BAIXA E COM MAIOR VISIBILIDADE. ESTAS SÃO ALGUMAS DAS VANTAGENS QUE SOBRESSAEM NO NOVO UNIFEED AUTOMOTRIZ VERTICAL ADQUIRIDO PELA QUINTA DA COSTA, LDA..
E
m maio de 2021 a empresa investiu num novo unifeed automotriz vertical, um KUHN - SPV Power 17.1 DL. O objetivo foi essencialmente aumentar a capacidade, passando de 14 m3 para 17 m3. Com este unifeed, que tem capacidade para alimentar 110 vacas, a expectativa é passar de 2 para 1 carro por dia e, com isso, ganhar tempo. Uma fresa mais potente, um raio de viragem mais curto e uma cabine mais baixa e com maior visibilidade são algumas das vantagens que sobressaem no novo modelo relativamente ao anterior. A escolha foi para um modelo vertical. Na opinião de Miguel Miranda este tipo de
Entrevista a Miguel Miranda | Por Ruminantes | Fotos Francisco Marques
máquina tem menor desgaste e consegue uma mistura menos prensada: “Espero vir a ter uma melhor homogeneidade da mistura, e um alimento mais solto.” Como outra vantagem de peso, Miguel referiu a balança incorporada que permite
exportar para as tabelas alimentares do computador da exploração os dados registados ao longo do dia (quantidade de cada alimento, hora a que foram distribuídos, etc.). Estes dados podem ser cruzados com os dados recolhidos pelos 076
robots de ordenha, permitindo uma análise mais detalhada. Rodrigo Gonçalves, responsável técnico pela marca Kuhn na Auto Industrial, destacou outros pontos positivos da máquina: - pelo facto de serem semfins verticais, o desgaste das chumaceiras em relação aos horizontais praticamente não existe; - o motor do sem-fim é hidráulico e está assente por baixo da cuba, não sendo necessário mexer no interior da cuba no caso de ser necessária alguma intervenção no mesmo; - no caso de os fardos serem introduzidos inteiros, não existe impacto sobre o motor, graças a uma caixa de rotor assente em banho de óleo que amortece os impactos.
Maior capacidade, para ganhar tempo
EQUIPAMENTO | Kuhn SPV Power 17.1 DL
Fresa de 2,10 m com 1,95 m de corte efetivo, e pode cortar até uma altura de 5,30 m. Está equipada com um motor hidráulico de 120 cv.
Possibilidade de regulação da fresa.
Os tapetes de descarga, devido à largura da boca, permitem descarregar até 3400 kg de mistura por minuto.
Motor John Deere de 4.5 litros, 170 cv
O unifeed possui direção traseira e tração dianteira, com distribuição de peso 70% - 30%. A balança digital pode ser calibrada na máquina, ou através de computador caso o cliente queira transferir o arraçoamento que tem no computador para o unifeed, através de uma pen ou wireless.
O tapete transportador permite 2400 kg de silagem de milho por minuto.
DADOS DA EXPLORAÇÃO Nome
Quinta da Costa
Localização
Chorente, Barcelos
Nº de empregados
4
Área total explorada
35 ha
Culturas
Milho e erva
Nº de robots
2
A cuba é quinada, o que contribui para a homogeneidade final da mistura. O sem-fim e as laterais da bacia são em k-nox para aumentar exponencialmente a durabilidade.
DADOS DO REBANHO Nº total de animais
252
Nº vacas em ordenha
110
Nº médio de ordenhas/vaca/dia
2,7
Produção média diária/vaca
38 a 40 litros
Teor de proteína
3,3%
Teor de gordura
3,6%
Contagem de células somáticas
170.00
Maneio alimentar (mistura no unifeed)
Silagem de erva e de milho, concentrado, 2 vezes/dia
Esq. para dta.: João Ribeiro e Bruno Sá (Reptractor), Miguel Miranda (Quinta da Costa), Avelino Ribeiro (Reptractor), Manuel Miranda e Ricardo Miranda (Quinta da Costa).
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EQUIPAMENTO | COBERTURA DE SILOS
COMO CONSEGUIR SILAGENS DE QUALIDADE
FALÁMOS COM DOIS AGRICULTORES QUE INSTALARAM SOLUÇÕES DE TECNOLOGIA RECENTE, NAS SUAS EXPLORAÇÕES, PARA A COBERTURA DOS SILOS. OS PRODUTOS DA MARCA ALEMÃ BÖCK, QUE SÃO DISTRIBUIDOS EM PORTUGAL PELA EMPRESA NUTRIGENETIK: O PLÁSTICO BLUE 9, A REDE GITTERFLEX E OS FIXADORES SILOCLIP. Entrevista a Joaquim Silva, Nutrigenetik, António Estrela Rego, médico veterinário e produtor de leite, Helder Duarte, produtor de leite | Por Ruminantes | Fotos Böck, A. E. Rego
A
Nutrigenetik | Contacto: Joaquim Silva | Morada: Rua Rio Este, nº20 4480-297 Junqueira- Vila do Conde | Telemóvel: 961 729 568 | E-mail: geral@nutrigenetik.pt
cobertura dos silos com plástico, com pneus ou terra por cima, como forma de conservar a forragem está a cair em desuso. Hoje, existem soluções mais fáceis de implementar que garantem a obtenção duma silagem de elevada qualidade e evitam desperdícios. Esta é a opinião de Joaquim Silva, gerente da Nutrigenetik, a empresa que representa em Portugal os produtos da marca alemã Böck. Falámos com dois agricultores, clientes da Nutrigenetik — António Estrela Rego, médico veterinário e produtor de leite em São Miguel, Açores, e Helder Duarte, sócio-gerente da empresa Agroleite, em Canha — que instalaram estas novas soluções nas suas explorações, mais precisamente os plásticos Blue 9 e a rede Gitterflex® para a
cobertura dos silos, e o sistema de fixadores Siloclip®. "Os fatores a ter em conta para a obtenção de uma forragem de qualidade são vários, nomedamente: a hora a que se faz o corte, o espalhamento da forragem, a compactação, e por fim o fecho do silo", afirma Joaquim Silva: "O silo tem que ser fechado de forma a garantir que não haja qualquer entrada de ar, nem saída de gases produzidos pela silagem." O conceito comercializado pela Nutrigenetik aposta na qualidade do plástico e dos materiais, mas "é essencial que o procedimento seja feito de forma correta para garantir que, no final, não haja silagem que apodreça. A silagem tem que ser bem compactada desde o início até ao fim, e depois ser bem tapada e fechada”, concluiu Joaquim Silva. António Estrela Rego instalou
este sistema há quase um ano e vê como principais vantagens a eliminação dos ataques dos ratos, a facilidade em cobrir os silos e a qualidade da forragem obtida: "Primeiro, é um trabalho mais leve, só trabalhamos com rede e plástico, não há pneus nem terra para transportar para a parte superior do silo, apenas sacos de pedra ou brita para fixar, a cada 10 metros, as zonas de união das redes de cobertura. Em segundo lugar, é um trabalho mais limpo, não utilizamos nem pneus nem terra, que trazem sempre muita sujidade à área dos silos. E como não há podres, também não temos esse problema para resolver. E, por fim, obtemos uma silagem limpa, sem desperdícios nem silagem podre, o que é muito bom porque nunca corremos o risco de pôr dentro do carro unifeed alguma silagem deteriorada. Na Agroleite usam silagens a
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partir dos 3 meses de vida em todos os lotes de produção. Por isso, "é fundamental a sua estabilidade, conservação e qualidade", disse-nos Helder Duarte. "A grande parte das nossas forragens são conservadas na forma de silagens em silos de trincheira. Temos 4 silos de 4.000 toneladas com abertura de ambos os lados, o que nos permite ter em stock 16.000 toneladas de silagens e produzir até 24.000 ton anualmente com armazenamento correto." Já usaram outros sistemas de cobertura, mas desde há um ano adotaram o plástico com barreira de oxigénio e o Siloclip®: "o sistema com o plástico Blue 9 permite não usar o plástico de película, o que poupa uma aplicação de plástico. O sistema Siloclip® veio revolucionar a forma como se fecha a lateral do silo.
Como conseguir silagens de qualidade
EQUIPAMENTO | COBERTURA DE SILOS
6 ou 7 dias após a cobertura do silo, produz-se o efeito balão. Depois, os gases resultantes da fermentação são progressivamente reabsorvidos e o plástico adere à silagem, estando criadas as condições para uma boa conservação. Se o plástico não inchar é sinal de que algum processo não correu bem.
O sistema Siloclip® veio revolucionar a forma como se fecha a lateral do silo. Conjuntamente com o uso de um plástico na lateral e o Siloclip® obtivemos o máximo de facilidade e rapidez na cobertura e o mínimo de perdas de silagem.
Conjuntamente com o uso de um plástico na lateral e o Siloclip® obtivemos o máximo de facilidade e rapidez na cobertura e o mínimo de perdas de silagem. Em relação aos cuidados recomendados a quem opta por este sistema, Helder Duarte é perentório: "Sigam as recomendações do vendedor e não se esqueçam das regras básicas: cobrir rapidamente e destapar apenas o necessário."
FIGURA 1 PLÁSTICO BLUE EM COMPARAÇÃO COM OUTROS PLÁSTICOS Número de camadas
Força de tração
Permeabilidade ao oxigénio
9 camadas
5 camadas 3 camadas
FIGURA 2 PLÁSTICO BLUE 9 - CAMADAS
UV 18 meses - Estabilidade Camada de estiramento e desgaste Oferece elasticidade única Liga as camadas Barreira de oxigénio Liga as camadas Oferece elasticidade única Camada de estiramento e desgaste Leveza - impermeabilidade
O NOVO PLÁSTICO BLUE 9 (FIGURA 1) É PRODUZIDO A PARTIR DE 9 CAMADAS DIFERENTES (FIGURA 2). UMA MISTURA INTELIGENTE DE MATERIAIS OFERECE FORÇA MÁXIMA - AINDA QUE A ESPESSURA SEJA DE APENAS 80 MICRONS. A CAMADA SUPERIOR AZUL OFERECE UMA ESTABILIDADE UV DE 18 MESES E PREVINE O REAQUECIMENTO DA SILAGEM. O BÖCK BLUE 9 NÃO REQUER PELÍCULA, POUPANDO ASSIM TEMPO DE TRABALHO.
7 DICAS PARA OBTER UMA SILAGEM DE QUALIDADE 1. Timing
Colher o milho com uma percentagem de matéria seca entre 25% e 37%, em pedaços de 4-12mm. Colher a erva com uma percentagen de matéria seca entre 30% e 35%, em pedaços de 15-25mm.
2. Estrutura do Silo
Consumo da face exposta do silo 2,5mt/semana mínimo durante o verão, 2mt/semana mínimo durante o inverno.
3. Evitar oxigénio
Compactação óptima: máx. 3-4 km/h, máximo de 30cm por camada. Ensilar, compactar e cobrir em 24 horas. Peso de compactação: 1/5 (milho) ou 1/3 (erva) do peso total de silagem descarregada/hora. Calcar 2-3 vezes por camada, sem interrupções.
4. Cobertura rápida
A cobertura tem que ser feita logo após a compactação. Se chover, cubra imediatamente.
5. Selagem ótima
Evitar a corrosão das paredes do silo, que se produzem por ácidos de fermentação. Isso também impedirá a entrada de água e oxigénio que podem estragar a silagem que está encostada às paredes.
6. Use as melhores coberturas
Os plásticos com barreira de oxigénio garantem fermentação ótima e perfeita estabilidade aeróbica.
7. Proteção Completa
A rede Gitterflex® protege o plástico de danos causados por animais e condições climatéricas; combinada com Siloclip e sacos pode substituir os velhos pneus e poupar tempo.
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OBSERVATÓRIO DAS MATÉRIAS-PRIMAS
À PROCURA DA ESTABILIDADE Por João Santos; Fonte USDA s&d, relatório de março
A VOLATILIDADE E A ESTABILIDADE De agosto do ano passado até março de 2021, assistimos a uma subida mais ou menos linear dos preços da matériasprimas agrícolas. De janeiro a abril deste ano os preços estiveram estáveis, num patamar alto. A partir de maio, devido à possibilidade de os States flexibilizarem os mandatos de biocombustíveis, que aumentavam em junho para 13%, a soja e o milho tiveram, e vão continuar, a ter uma volatilidade extrema devido aos avanços e recuos que estas medidas possam ter nos States; uma vez que, à margem do que o Presidente Biden possa decidir, também os tribunais podem ter uma palavra a dizer. Se a isto acrescentarmos a incerteza habitual sobre o ritmo de importações da China e o “weather market” no Estados Unidos, temos reunidas as condições para
assistir a tudo menos a estabilidade nos preços nos próximos meses. Poderíamos dizer que isto não nos interessa mas, na verdade, a generalidade dos países onde os consumidores ( fábricas) costumam comprar a longo prazo, e que ainda tem contratos feitos antes da subida de agosto de 2020, já terminaram, na sua maioria, esses contratos. Assim, a generalidade das fábricas de ração, um pouco por todo o mundo, estão muito pouco compradas neste momento mas, em particular, a partir de setembro deste ano. Donde, comprar a deferido matérias primas sem ter a carne ou o leite vendido, é muito arriscado, uma vez que não estamos a fechar a margem e as matérias primas vão continuar a ter grandes variações de preços. Sendo fácil acontecer ficar mal comprado, comparando com os vizinhos, quer estejam na Polónia ou
na aldeia ao lado. E nada nos garante que os preços da carne e do leite não baixem. PROTEÍNAS Já era sabido que os Estados Unidos, em junho, passavam o seu mandato de incorporação de biocombustíveis para 13% e que isso iria “chupar” todo o óleo vegetal e gorduras para os States. Tornou-se ainda mais difícil equilibrar procura/oferta, como aconteceu em maio, com os preços do óleo, em Chicago, a chegarem a valores nunca vistos; e por arrasto o grão de soja. O mesmo aconteceu com a colza no Canadá. Um pouco por todo o mundo, os óleos subiram. As dificuldades técnicas e comerciais de rebalancear o mercado do óleo, em particular a exportação massiva de óleo de soja da Argentina e do Brasil para os States, não se materializa. E, assim, criou-se uma situação no mercado do óleo nunca vista nestes dois
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países, com um desconto de 250-300 dólares/tonelada em relação ao óleo nos States, causando uma enorme distorção em todo o mercado mundial, em todo o complexo da soja. A meados de junho, o Presidente Biden disse que estaria a repensar os níveis de incorporação, ou isentar algumas refinarias da obrigação de fazerem o blend de biocombustíveis, e com alguns recursos das refinarias, no Supremo Tribunal dos States, a poderem ter decisões favoráveis, começou a fazerse uma correção nos preços do óleo em Chicago e, por arrastamento, no grão de soja e na farinha. E também no milho, por causa do etanol. Como consequência, em Lisboa, os preços de farinha de soja variaram no último trimestre entre 430€ e 370€ ton para o disponível. Não sabendo ainda o que finalmente acontecerá aos
À procura da estabilidade
OBSERVATÓRIO DAS MATÉRIAS-PRIMAS
biocombustíveis nos States, a meteorologia poderia ter estado um pouco mais favorável e um pouco mais de chuva teria sido bem-vinda. No final de junho, finalmente apareceu a chuva, mas mesmo assim o tempo apresentouse muito quente. Hoje estão reunidas as condições para um resto de verão muito tenso em relação às condições meteorológicas. Por outro lado, o Brasil obteve uma respeitável colheita de 137 milhões, mas as últimas previsões da BAGE são de uma colheita na Argentina de 43 milhões, longe dos 56 milhões que já teve num passado recente. Para dificultar a situação, a bacia do rio Paraná está a sofrer uma seca extrema, com um caudal muito baixo, reduzindo a capacidade dos navios de navegarem carregados desde o “coração” da soja na Argentina (Rosário), obrigando-os a fazer um dispendioso segundo porto no sul do Brasil ou a virem parcialmente vazios. Esta situação vai conduzir ao aumento dos prémios de farinha soja nesta origem, o principal fornecedor mundial de farinha de soja. Paralelamente, devido à escassez de navios, os fretes continuam a subir. Depois de mais de 10 anos com fretes extremamente baixos, hoje custam o dobro do preço de há
CEREAIS A correção que vimos na farinha de soja em Lisboa, de 500€ para menos de 400€ ton, nos últimos meses, não se vê nem viu no milho, e há duas justificações para tal: por um lado, a política de biocombustíveis nos States e, por outro, a sementeira da Safra no Brasil que terminou umas 3 semanas mais tarde do que seria desejável (nov/ dez), o que conduziu a uma Safrinha, a segunda colheita, maioritariamente de milho, a ser plantada muito tarde já na época seca. A falta de humidade nos solos durante a sementeira, e o tempo seco que se tem mantido, irão traduzirse numa Safrinha curta, que não terá o efeito de inundar o mercado mundial a partir de julho-agosto, como tem sido habitual nos últimos anos. As colheitas serão exatamente antes do início das do milho no hemisfério norte. Assim sendo, o preço do milho para o disponível não tem descido dos 250€, e as ofertas de milho para 2022 não descem dos 220€. Com isto, nos próximos semestres não voltaremos a ver o milho à volta de 170€, como nos tínhamos habituado nos últimos anos. Para ajudar, em Espanha a colheita de cevada está a tocar os 7 milhões de toneladas, havendo ofertas de cevada colocada em Portugal sobre os 210€. É também de esperar
12 meses, e com tendência para subirem. Dito isto, não me atrevo a dar uma previsão da evolução dos preços. No entanto, no fundamental continuamos a ver a China a importar mais de 100 milhões de toneladas de grão de soja. Os stocks finais, à conta de uma colheita muito boa no Brasil, melhoraram mas por outro lado temos uma situação muito tensa de stock baixos nos States. Assim, vamos continuar a ter muita volatilidade e, atrevo-me a dizer que talvez tenhamos maior probabilidade de ver o mercado subir, do que descer. Em relação à farinha de colza, em Portugal, a produção local será muito reduzida no que resta de 2021, devido à política adotada pelo Estado, este ano, para o biodiesel que favoreceu os óleos usados importados e o HVO importado, em detrimento da incorporação de óleos de colza e soja produzidos em Portugal. Com isto, em particular, e com a reduzida procura de óleo de colza para o biodiesel nacional, a extração de colza em Portugal será muito limitada, e a farinha importada fica a um valor proteico que perde competitividade em relação à soja, pelo que será de esperar que a colza continue a sair das fórmulas.
uma colheita muito boa de trigo na Europa, podendo haver abundância de trigo forrageiro que hoje está claramente mais barato que o milho nos portos nacionais, tanto o da velha como o da nova colheita. Assim, para quem pode, é de começar a usar mais estes dois últimos cereais em detrimento do milho. CONCLUSÃO Não posso dizer que os tempos vindouros sejam fáceis ou estáveis, não havendo uma relação de um para um entre os preços das matériasprimas e os da carne e leite, podendo até haver uma relação inversa, no curto prazo. O que podemos dizer é que todo o mundo está numa situação bastante similar. Por isso, temos que manter a disciplina nas compras de matérias primas, em particular os que se habituaram a comprar muito à la longue, recomendo comprar mais no curto prazo, mais vezes e menos quantidade, porque será difícil antever os movimentos futuros. E, mais uma vez, centrarmo-nos na redução dos custos, tanto os fixos como os variáveis, uma vez que esses, sim, serão os fatores diferenciadores de cada pecuária. Despeço-me com amizade.
QUADRO 1 COLHEITAS MUNDIAIS Milhões de tn
14/15
15/16
16/17
17/18
18/19
19/29
20/21
21/22
Produção mundial
319,00
312,80
351,40
342,09
360,30
339,00
364,10
385,50
Stock finais
77,60
76,60
96,00
98,56
111,88
96,04
88
92,55
24%
24%
27%
29%
31%
28%
24%
24%
Produção Mundial
1008,80
961,90
1070,20
1076,20
1123,30
1116,50
1125,00
1189,9,30
Stock finais
208,20
210,90
227,00
341,20
320,80
303,10
280,60
289,40
21%
22%
21%
32%
29%
27%
25%
24%
Soja
Milho
Fonte USDA s&d, relatório de junho.
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REVISTA RUMINANTES
OBSERVATÓRIO DO LEITE
FALANDO-SE DE NÚMEROS, SUSTENTABILIDADE E INSETOS
A PANDEMIA TEVE, COMO JÁ VIMOS ANTERIORMENTE, UM IMPACTO PROFUNDO NOS PADRÕES DE CONSUMO A NÍVEL MUNDIAL. O GRADUAL REGRESSO A UMA NOVA NORMALIDADE, QUE ESTAMOS A ATRAVESSAR, NÃO TRARÁ CERTAMENTE UMA REGRESSÃO COMPLETA AOS ANTIGOS COSTUMES. O SETOR LEITEIRO, QUE EM 2020 SE DESTACOU PELA RESILIÊNCIA, TERÁ ASSIM DE OLHAR PARA O PASSADO COM ATENÇÃO E TIRAR DELE AS LIÇÕES QUE LHE PERMITIRÃO CRESCER NO PÓS-PANDEMIA. Por Joana Silva, Médica Veterinária | Fontes Agência Reuters, Feed Additive, McKinsey & Company, Research and Markets, The Dairy Site
O
confinamento e respetivas restrições abriram uma janela à experimentação, com 33% dos consumidores a admitir terem comprado novas marcas. Para 20%, essa descoberta de novidades terá mesmo sido uma das suas prioridades diárias. As preocupações financeiras também não terão ficado esquecidas, com 32% dos consumidores a considerarem as promoções como uma alavanca à compra de produtos lácteos. Em paralelo, 42% dos consumidores terão optado por alternativas ao leite devido às suas preocupações ambientais, um aumento de 14% face a 2019. A conjuntura pandémica também favoreceu o comércio online, um fenómeno transversal a todas as idades e não apenas aos mais novos, como poderíamos pensar. De facto, 40% dos novos utilizadores deste canal de
compra terão 60 anos ou mais. Apesar da fidelização de muitos clientes ao canal online, cerca de 60% dos consumidores ainda preferem as lojas físicas para as suas compras de leite e derivados. Até 2029, e de acordo com as previsões da FAO, a produção leiteira deverá crescer na ordem dos 1,6% ao ano, atingindo-se as 997 milhões de toneladas no final da década. Em países onde o pastoreio é predominante, o aumento da produção dever-se-á ao crescimento do número de cabeças, enquanto em países onde o setor é mais industrializado se assistirá a um aumento de produtividade por animal. Atualmente, existirão a nível mundial cerca de 150 milhões de explorações leiteiras, que produzem entre si 850 milhões de toneladas de leite anuais. Os bovinos são responsáveis por 81% dessa produção, sendo os restantes 19% assegurados por búfalos
(15%), ovinos, caprinos e camelos. Em 2020, o efetivo bovino leiteiro chegou aos 137 milhões de animais, com uma previsão de pelo menos mais um milhão no final deste ano. Prevê-se que mais de metade do crescimento da produção até à próxima década seja assegurado pela Índia e Paquistão. Na UE, atualmente o segundo maior produtor leiteiro, o crescimento deverá ficar aquém da média mundial, devido essencialmente a constrangimentos ambientais e procura interna limitada. O aumento do rendimento leiteiro no continente deverá rondar os 1% anuais, com uma paralela redução dos efetivos na ordem dos 0,6%. A grande maioria dos produtos lácteos são hoje consumidos maioritariamente no local onde são produzidos, sendo o leite em natureza uma matéria-prima perecível. No entanto, o comércio internacional do leite e
082
derivados tem um peso importante na economia de muitos países, e poderá ser uma fonte importante da satisfação da procura de produtos de valor acrescentado, como o queijo e manteiga, em sociedades que estão a registar mudanças radicais de padrões de consumo devido a uma maior urbanização, aumento do poder económico e globalização. Na China, a divulgação da opinião generalizada da classe médica relativamente aos benefícios do consumo de leite ao longo do ano passado levou a que, durante a pandemia, se gerasse um frenesim de procura e uma explosão de nascimentos de novas explorações leiteiras. Atualmente o terceiro produtor mundial de leite, a China terá um desafio difícil em saciar a procura doméstica: as trinta e quatro milhões de toneladas de leite produzidas no ano passado apenas conseguiram satisfazer 70% das necessidades de consumo interno. O consumo
Falando-se de números, sustentabilidade e insetos
OBSERVATÓRIO DO LEITE
per capita anual é de 6,8 litros de leite, um valor modesto quando comparado com os 50 litros nos Estados Unidos, por exemplo, mas tudo indica que a expansão da produção e consumo será uma realidade. No entanto, com elevados custos de produção e escassez de água e solo disponíveis, a China não se livra do rótulo de ser um dos países onde produzir leite sai mais caro – com um preço de venda ao público a roçar o dobro do preço praticado no Reino Unido ou nos Estados Unidos. O mercado de leite e derivados obtidos através de produção biológica atingiu em 2020 os 20 biliões de dólares, com uma previsão de crescimento sólido pelo menos até 2026. Estes produtos caracterizam-se pela riqueza nutricional em antioxidantes, vitaminas, ácidos gordos Ómega 3 e ácido linoleico conjugado – mais conhecido como CLA. Além da perceção generalizada do público acerca dos benefícios destes produtos, existem igualmente incentivos monetários e formativos por parte de instituições governamentais. Na Europa, foi recentemente adotada nova legislação para a produção biológica e respetiva rotulagem, de modo a garantirse um comércio justo para os produtores e distribuidores. Além do aumento da procura, outros fatores irão
contribuir para o crescimento da agricultura biológica, como a modernização das cadeias de distribuição e aprovisionamento, a disponibilização destes produtos online e os avanços tecnológicos, que permitirão desenvolver produtos cada vez mais saudáveis e que satisfaçam as exigências dos consumidores modernos. No mercado concorrencial ao leite, um estudo levado a cabo pela Universidade de Maastricht terá comprovado que a proteína obtida a partir de insetos é nutricionalmente equitativa à proteína do leite, tendo ambas a mesma performance a nível de digestão, absorção e estímulo de síntese muscular. Esta aparenta ser a primeira fonte proteica alternativa que se consegue “bater” com a proteína láctea – até agora, as alternativas vegetais disponíveis no mercado revelaram possuir um nível baixo de aminoácidos essenciais e, consequentemente, um perfil de aminoácidos incompleto. Apesar da perceção que muitos consumidores - especialmente nas sociedades ocidentais têm da alimentação à base de insetos, considerada repugnante, a produção destes animais para consumo humano é associada a uma maior sustentabilidade ambiental, apontando-se uma poupança
na ocupação de solo na ordem dos 98% face à produção agrícola com ruminantes, e consequentemente uma menor pegada de carbono. A preocupação do setor leiteiro com a sustentabilidade ambiental é algo que também já abordámos várias vezes, e que continua a ser uma das prioridades dos seus intervenientes. Na Universidade de Harper Adams, na Inglaterra, focada na especialização do ensino agrícola, tem sido desenvolvido trabalho de investigação que visa minimizar o impacto ambiental da produção leiteira através da atuação sobre o teor de proteína da dieta dos bovinos e consequente minimização das emissões de azoto. Estudos governamentais no Reino Unido mostraram que, em 2019, 88% das emissões de amónia provinham da
EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO LEITE CRÚ ABRIL 2021 COMPARATIVAMENTE COM ABRIL 2020 Roménia Eslováquia Portugal Finlândia Chipre Grécia Itália Espanha Croácia Estónia Áustria Eslovénia Bulgária França
PREÇOS DO LEITE PAGO AOS PRODUTORES EU* (peso média)
Hungria Alemanha UE* Dinamarca Letónia Rep. Checa Holanda Suécia Polónia Malta Lituania Bélgica Irlanda**
* sem o Reino Unido ** valores estimados para abril 2021
* sem o Reino Unido ** valores estimados para maio 2021 Fonte dos gráficos : Observatório Europeu do Leite; Member States Reg. (EU) No 2017/1185 Article 12(a) - Annex II.4(a))
083
agricultura e, destas, 28% foram atribuídas à produção leiteira. Neste estudo, os investigadores utilizaram fontes proteicas alternativas à corrente silagem de erva, como o trevo vermelho – conhecido por apresentar um elevado teor de proteína altamente degradável – a luzerna e a silagem de ervilha-forrageira. A maior degradabilidade e aproveitamento destas matérias-primas minimiza a necessidade de recorrer a fontes secundárias de aporte proteico através de suplementos, e permitiu, segundo o estudo, aumentar a percentagem de aproveitamento da proteína da dieta de 25% para 35% e minimizar assim as excreções de azoto para o ambiente. Em paralelo, a utilização de fontes alternativas de proteína permitiu reduzir o custo de produção, tudo isto sem afetar a performance das vacas leiteiras.
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REVISTA RUMINANTES
ÍNDICE VL E ÍNDICE VL-ERVA
QUEM QUERERÁ DESTRUIR A PRODUÇÃO DE LEITE VACA EM PORTUGAL?
DESDE HÁ VÁRIOS MESES QUE TEMOS VINDO A ASSISTIR E A ALERTAR PARA O BAIXO VALOR DO LEITE PAGO AO PRODUTOR PORTUGUÊS. NA ATUAL SITUAÇÃO SÓCIO ECONÓMICA, EM QUE OS PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS E DAS MATÉRIAS-PRIMAS SOBEM NO MERCADO INTERNACIONAL, EM QUE AS DIFICULDADES SÃO IGUAIS EM TODA A EUROPA E EM QUE SE PRETENDEM TORNAR MAIS IGUAIS OS CIDADÃOS EUROPEUS, NÃO SE PODE ACEITAR ESTA ENORME DIFERENÇA DE PREÇOS PAGOS AOS PRODUTORES DE LEITE. Por António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco; Carlos Vouzela, docente/investigador, Faculdade de Ciências
A
nalisamos neste número da Ruminantes os Índices VL e VL-ERVA para o período de fevereiro a abril de 2021. Os dados do SIMAGPP (2021) mostram-nos que o preço médio do leite pago aos produtores individuais no continente variou entre 0,311 €/kg em fevereiro e 0,312 €/kg em março e abril. Na Região Autónoma dos Açores, o preço médio do leite pago aos produtores individuais foi mais elevado em fevereiro (0,278 €/ kg) e mais baixo em março (0,276 €/kg). Consultando os dados publicados pelo Milk Market Observatory (MMO) verificamos que o preço médio do leite pago ao produtor entre fevereiro a abril de 2021 foi, mais
Agrárias e do Ambiente da Universidade dos Açores/IITAA; Nuno Marques, Revista Ruminantes.
uma vez, muito inferior em Portugal (0,2999 €/kg) quando comparado com a média da UE27 (0,3519 €/kg) (MMO, 2021). No mês de abril de 2021 Portugal foi mesmo o país em que o preço do leite pago ao produtor foi o mais baixo da UE27, com o inconcebível valor de 0,3001 €/kg de leite com 3,70% de gordura e 3,28% de proteína. No mesmo mês de abril, os preços pagos aos produtores de leite dos 5 países da UE27 com maior produção anual de leite foram os seguintes: Alemanha 0,3560 €/ kg; França 0,3649 €/kg; Holanda 0,3600 €/kg; Polónia 0,3310 €/ kg e Itália 0,3600 €/kg. Será que querem destruir a produção de leite de vaca em Portugal? Será esse o grande objetivo das organizações cooperativas e outras que compram leite no nosso país? Desde há vários
meses que temos vindo a assistir e a alertar para o baixo valor do leite pago ao produtor português. Na atual situação sócio económica, em que os preços dos combustíveis e das matérias-primas sobem no mercado internacional, em que as dificuldades são iguais em toda a Europa e em que se pretendem tornar mais iguais os cidadãos europeus, não se pode aceitar esta enorme diferença de preços pagos aos produtores de leite. Durante o trimestre em análise, os preços das 5 principais matérias-primas utilizadas na formulação dos alimentos compostos utilizados neste trabalho sofreram um aumento médio de 13,6%. No continente português, aquele aumento traduziu-se no acréscimo de 2,3% nas
084
despesas com a alimentação da vaca tipo, embora o preço pago pelo leite tenha diminuído 1,1% relativamente ao trimestre anterior. Nos Açores, o aumento das matérias-primas teve pouco impacto nos custos com a alimentação da vaca uma vez que na primavera os animais têm maior consumo diário de pastagem. Houve mesmo uma ligeira redução dos custos com a alimentação. No entanto, a redução acentuada de 2,7% no preço do leite relativamente ao semestre anterior anulou o efeito favorável da diminuição dos custos alimentares. A evolução do preço do leite e dos custos da alimentação refletiu-se no Índice VL e no Índice VL-ERVA que, em abril de 2021 foram, respetivamente, de 1,538 e de 1,775. De referir que, um ano antes, em abril de
Quem quererá destruir a produção de leite de vaca em Portugal?
ÍNDICE VL E ÍNDICE VL-ERVA
ÍNDICE VL JULHO 2012 A ABRIL 2021 2,0 1,9 1,8 1,7 1,6 1,5 1,4 1,3 1,2
jan.'21
abr'21
jan. '21
abr'21
jan. '20
jan. '19
jan. '18
jan. '17
jan. '16
jan. '15
jan. '14
jan. '13
jul. '12
1,1 1,0
O ÍNDICE VL é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor no continente português e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (concentrado 9,5 kg/ dia; silagem de milho 33 kg/dia; palha de cevada 2 kg/dia).
ÍNDICE VL-ERVA JULHO 2013 A ABRIL 2021 2,7 2,6 2,5 2,4 2,3 2,2 2,1 2,0 1,9 1,8 1,7 1,6 1,5 1,4 1,3 1,2 1,1 jan. '20
jan. '19
jan. '18
jan. '17
jan. '16
jan. '15
jan. '14
jul. '13
1,0
O ÍNDICE VL – ERVA é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor na Região Autónoma dos Açores e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (primavera/verão 60 kg/dia de pastagem verde, 10 kg/dia de silagem de erva e de milho, 5,6 kg/dia de concentrado; outono/inverno 47 kg/dia de pastagem verde, 13,3 kg/dia de silagem de erva e de milho, 6,7 kg/dia de concentrado).
2020, o Índice VL havia sido de 1,695 e o Índice VL - ERVA de 2,054. Curiosamente, na Região Autónoma dos Açores o Índice VL-ERVA foi em fevereiro 1,481 e em março 1,498, em ambos os casos inferior a 1,5. Esta situação acontece pela primeira vez em 94 meses de análise de dados, desde julho de 2013, altura em que iniciámos a determinação do Índice VL-ERVA. De realçar que o Índice VL-ERVA reflete a realidade da produção de leite mais favorável existente na ilha de S. Miguel onde se produz cerca de 60% do total de leite dos Açores. Um índice igual ou inferior a 1,5 (valor muito baixo) indica forte ameaça para a rentabilidade da exploração leiteira; um índice entre 1,5 e 2,0 (valor moderado) indica que a produção de leite é um negócio viável; um índice maior do que 2,0 (valor elevado) indica que estamos perante uma situação muito favorável para o sucesso económico da exploração (Schröer-Merker et al., 2012).
NOTAS - no continente português, comparando os meses abril de 2020 e abril de 2021, verificase que se mantiveram iguais os preços do leite pago aos produtores. No entanto, nos Açores o preço em abril de 2021 foi 1,3 cêntimos/kg mais baixo do que em abril de 2020; - durante o trimestre em análise houve um aumento do preço de todas as matériasprimas que entram na formulação dos alimentos compostos. Esta evolução contribuiu para aumentar os preços, não só do alimento composto como também do regime alimentar formulado para o cálculo do Índice VL; - no trimestre em análise, o preço dos alimentos forrageiros utilizados na formulação do regime alimentar manteve-se; - as três considerações anteriores refletem-se nos Índice VL e Índice VL-ERVA que, em abril de 2021, foram, respetivamente, 1,538 e 1,775; 085
- pela primeira vez, em 94 meses de análise, o Índice VLERVA calculado para os Açores foi inferior a 1,5 - meses de fevereiro e março de 2021; - se em abril de 2021 os produtores portugueses tivessem recebido o valor médio pago aos
produtores da UE27 (0,3544 €/ kg de leite), os 5,4 cêntimos/kg pagos a mais permitiriam que as explorações tivessem maior rentabilidade, contribuindo para a sustentabilidade financeira da produção de leite de vaca em Portugal.
EVOLUÇÃO DO ÍNDICE VL E ÍNDICE VL - ERVA ABRIL 2020 A ABRIL 2021 Mês
Índice VL
Índice VL - ERVA
abr-20
1,695
2,054
mai-20
1,726
2,010
jun-20
1,739
2,042
jul-20
1,730
2,015
ago-20
1,757
1,989
set-20
1,704
1,987 1,596
out-20
1,633
nov-20
1,614
1,612
dez-20
1,611
1,590 1,509
jan-21
1,529
fev-21
1,505
1,481
mar-21
1,551
1,498
abr-21
1,538
1,775
Os valores são influenciados pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor individual do continente (Índice VL) e da Região Autónoma dos Açores (Índice VL ERVA) e pelas variações mensais dos preços de 5 matérias-primas utilizadas na formulação do concentrado e pelo preço dos outros alimentos que integram o regime alimentar da vaca leiteira tipo.
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REVISTA RUMINANTES
VACAS DE LEITE
INVESTIGAÇÃO LEITEIRA O QUE HÁ DE NOVO? NESTA RUBRICA APRESENTAMOS RESUMOS DOS TRABALHOS MAIS RECENTES PUBLICADOS NO JOURNAL OF DAIRY SCIENCE. Traduzido e adaptado por Pedro Nogueira, Engº zootécnico, Trouw Nutrition/Shur-Gain, e-mail: Pedro.Nogueira@trouwnutritioncom
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DE ALUNO DE PÓS-GRADUAÇÃO: EDEMA DO ÚBERE EM VACAS LEITEIRAS – UM POTENCIAL PROBLEMA DE BEM-ESTAR ANIMAL Journal of Dairy Science Vol. 104 No. 6, 2021
Este artigo de revisão bibliográfica, da Universidade Estadual do Colorado, descreve o edema do úbere (EU) em gado leiteiro e os fatores associados à sua origem. O edema do úbere é um distúrbio metabólico não infecioso. Os autores resumem os fatores associados ao EU tais como a genética, a nutrição, o stress oxidativo e as mudanças fisiológicas em novilhas em fase de pré-parto. Referem também que o EU afeta negativamente a vida produtiva de uma vaca leiteira, nomeadamente porque as estruturas de suporte do úbere podem ser quebradas devido a danos nos tecidos, e a inflamação dos tetos pode torná-los sensíveis, tornando mais difícil a fixação das unidades de ordenha. A quantidade de leite produzida diminui devido à acumulação de líquido nos espaços dos tecidos. O risco de doenças secundárias, como mastite ou dermatite do úbere, também aumenta e as vacas podem exibir comportamentos negativos, semelhantes aos observados em casos de mastite, como diminuição do tempo em que estão deitadas e agitação frequente na sala de ordenha. Todos esses fatores têm impacto económico no lucro da exploração. A investigação indica que o edema do úbere é comum em vacas leiteiras, sendo que 66% das vacas têm EU pelo menos uma vez. Os autores afirmam que é reduzido o número de estudos recentes sobre o bem-estar dos animais com este problema, e que também faltam métodos de avaliação standardizados para avaliar com precisão a gravidade do EU. O interesse dos autores por este problema é a sua conexão com o bem-estar animal, uma vez que o EU pode causar dor, indicando que vacas
leiteiras com EU precisam de ser avaliadas objetivamente quanto à dor. A ordenha torna-se uma experiência desagradável tanto para o ordenhador como para a vaca, resultando em potenciais lesões, infeções ou abate precoce, afetando a rentabilidade e o bem-estar do animal. O edema do úbere manifesta-se como uma acúmulação de fluido linfático dentro e ao redor dos espaços intersticiais da glândula mamária. Durante a gravidez, o aumento da pressão fetal na região pélvica faz com que a circulação do sangue e do fluido linfático seja prejudicada, resultando na acumulação de fluido nos tecidos do úbere. O edema do úbere, com base em diversos artigos sobre o assunto, tem sido associado ao excesso de sal na dieta, maior idade ao primeiro parto, condição corporal acima do ideal, características genéticas, alterações fisiológicas durante a maturação e desenvolvimento do úbere, stress oxidativo, aumento do stress causado por transferências das vacas entre diferentes áreas, ao retirar ou trazer novos animais para o grupo, superlotação e stresse por calor. Um estudo revelou que novilhas com parto no inverno tinham 3,68 vezes mais possibilidade de desenvolver EU do que no verão. Os locais de acumulação de líquido incluem o peito, o úbere, o umbigo e, em casos extremos, as pernas e a vulva. O edema torna-se menos severo e diminuiu de prevalência à medida que os animais têm mais partos. A revisão aborda vários fatores que contribuem para o EU bem como riscos secundários associados. Aspetos como a inadequação ou falta de suplementação em proteína, sais aniónicos e minerais aumentam o risco de edema do úbere. Os autores afirmam que o EU pode ser reduzido no curto prazo ajustando a nutrição e, no longo prazo, possivelmente mudando os parâmetros de seleção genética.
O PESO CORPORAL DAS NOVILHAS LEITEIRAS ESTÁ POSITIVAMENTE ASSOCIADO À REPRODUÇÃO E PERMANÊNCIA NA EXPLORAÇÃO Journal of Dairy Science Vol. 103 No. 5, 2020
Este estudo, originário da Nova Zelândia, investigou as relações entre o peso vivo (PV) e a permanência na exploração, e o peso vivo e o padrão de partos de novilhas leiteiras da Nova Zelândia. Isto é interessante, pois vários investigadores mencionam a importância de registar o peso e o ganho médio diário de novilhas, mas raramente vemos estudos que utilizem essa informação. Os autores trabalharam com 5 raças e cruzamentos diferentes: Holstein-Friesian (F), Holstein-Friesian crossbred (FX), Jersey (J), Jersey crossbred (JX) e HolsteinFriesian × Jersey crossbred (FJ). Com base no PV aos 6, 12 e 15 meses de idade, eles analisaram a sua relação com a permanência na exploração, a taxa de parto e a taxa de fertilidade nos primeiros 3 partos. Os autores referem que explorações com maiores níveis de longevidade das vacas apresentam maior proporção de vacas adultas e de alta produção e menor proporção de novilhas de recria, em comparação com explorações com pouca longevidade. Para este estudo, eles usaram como medida de sobrevivência das vacas, a capacidade de permanência (STAY). A capacidade de permanência não requer registo de dados de abate, uma vez que STAY é definida como a probabilidade de um animal sobreviver até uma determinada idade, uma vez que teve a oportunidade de atingir essa idade. Os autores, referindo-se a outro estudo feito na Nova Zelândia, dizem que a heritabilidade da sobrevivência das novilhas é baixa, o que sugere que os fatores ambientais influenciam a sobrevivência das novilhas até os 25 meses de idade em maior extensão do que a genética. Outros estudos mostraram que um maior número de novilhas Holstein-Friesian
086
mais pesadas (≥ 343 kg a cobrição) estava presente no início da primeira (93% vs. 82%) e na segunda (76% vs. 62%) lactações em comparação com as novilhas mais leves (≤ 290 kg), enfatizando os benefícios de ter novilhas Holtein-Friesian mais pesadas à cobrição, para a sua sobrevivência na exploração. Os autores usaram registos do peso corporal de 189 936 novilhas leiteiras, nascidas na Nova Zelândia entre 2006 e 2013, nas temporadas de parto da primavera. Aproximadamente 92% das novilhas criadas pariram pela primeira vez aos 2 anos, 76% pela segunda vez aos 3 anos e 61% pela terceira vez aos 4 anos. O estudo descobriu uma relação curvilínea positiva entre o peso corporal pré-reprodutivo e a capacidade de permanência, bem como os parâmetros reprodutivos de novilhas leiteiras. Novilhas que eram mais pesadas aos 6, 12 e 15 meses de idade eram mais propensas a permanecer na exploração para o primeiro, segundo e terceiro parto, e eram mais propensas a parir cedo (dentro da estação de partos, visto que os partos na Nova Zelandia são sazonais) ao primeiro parto em comparação com as novilhas que eram mais leves independentemente do grupo de raças. Para novilhas na área de maior peso da faixa de peso no estudo atual, os autores encontraram um leve declínio no STAY e no desempenho reprodutivo em comparação com novilhas na faixa média de peso. Consequentemente, eles concluem, para novilhas que estão acima da média em PV, o benefício de aumentar o PV antes da primeira cobrição será pequeno e poderá até resultar num ligeiro declínio no STAY. Para novilhas que estão abaixo da média de PV, benefícios consideráveis para o STAY e para o desempenho reprodutivo podem ser alcançados melhorando as práticas de recria com o objetivo de obter novilhas mais pesadas durante a fase de recria pré-reprodução.
Investigação leiteira, o que há de novo?
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REVISTA RUMINANTES
Esquema simplificado do ciclo do metano: na troposfera, em cerca de 20 anos, é hidrolisado em CO2 que depois é assimilado pelas plantas; O restante é utilizado pelas bactérias do solo e em conjunto com o Carbono dos resíduos das plantas fica sequestrado no húmus (vulgarmente “matéria orgânica”), por várias décadas, ultrapassando o tempo de permanência do CH4 na atmosfera.
AMBIENTE | VACAS DE LEITE
METANO, BOVINOS E ERRO NO CÁLCULO DO IPCC
NOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO ANIMAL DE RUMINANTES, EM PARTICULAR COM BOVINOS, DESDE QUE O NÚMERO NÃO AUMENTE 35%, O METANO PRODUZIDO NÃO CONSTITUI QUALQUER RISCO AMBIENTAL. Por José Pedro P Fragoso de Almeida, Prof. Coordenador da ESA/IPCB
A
s preocupações ambientais são uma questão corrente na nossa sociedade. Em 2019, o relatório da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) sobre a emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE), atribuiu à fermentação entérica dos animais domésticos a maior quota de produção de metano do setor agrícola. Tendo em consideração que este gás tem um efeito direto no aquecimento global, Portugal entrou em pânico: artigos em jornais e revistas, rádio, declarações do Ministro do Ambiente, culminando com uma tomada de posição do Reitor da Universidade de Coimbra, proibindo o consumo de carne de vaca nas cantinas. Tais notícias e posições públicas, incentivaram o debate nacional. Porém, na altura, nenhuma entidade apresentou uma explicação técnico-científica convincente, deixando assim a sociedade oscilante entre o receio e as “frases feitas”, algumas delas bastante exacerbadas. Acalmados agora os “ânimos”, penso que está na altura de esclarecer alguns dos factos mais relevantes e avaliar de forma correta os sistemas de produção animal com ruminantes: 1. A APA tem a responsabilidade de produzir um relatório das emissões nacionais de GEE. Para isso, usa uma metodologia adotada pelos países que subscreveram os compromissos do protocolo de Kyoto, desenvolvida pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas). Esta metodologia estabelece que todos os GEE devem ser contabilizados pelo potencial de aquecimento a 100 anos com referência ao CO2 (o que se designa por “CO2 equivalente” ou CO2e). No caso do metano (CH4), essa equivalência era realizada pelo fator 28, atualizado posteriormente para 25, ou seja, 1 kg de CH4 teria o mesmo potencial de aquecimento do que 25 kg de CO2 em 100 anos. Foi esta a equivalência usada no relatório da APA de 2019 e que causou tantas notícias alarmantes; 2. Em 2019, na revista “Climate and Atmospheric Science”, foi publicado um estudo sobre este tema (Cain et al., 2019). A conclusão principal é de que a metodologia usada pelo IPCC para contabilizar o metano (CO2e), não reflete o potencial de aquecimento real deste gás. Esta conclusão baseia-se no facto do metano, contrariamente ao que era considerado (100 anos), desaparecer da atmosfera até 20 anos após a emissão (cerca de metade degrada-se nos 8-9 anos iniciais). Refira-se também, que o metano é assimilado pelas bactérias metanotróficas do solo, das pastagens utilizadas pelos bovinos, sendo o restante hidrolisado em CO2 e água na troposfera. Considerando assim esta realidade, este grupo de cientistas propôs um método alternativo para cálculo do potencial de aquecimento global do metano (GWP*). Com este método é possível calcular o efeito do metano na temperatura global, a partir da 088
quantidade de metano emitida. 3. Assim, tomando como base de calculo o GWP*, Cain et al. (2019) recalcularam os valores de emissão de metano, tendo concluído que em 2019 foram sobrevalorizados em mais do dobro. Porém, a dinâmica do metano com o tempo de vida na atmosfera curto, traz outras implicações. Se considerarmos um número estabilizado de bovinos, no momento anterior ao da contabilização, então a produção de metano emitido não tem qualquer consequência ambiental (como referem Cain & Lynch, 2019 noutro estudo); caso o número de bovinos diminua 10%, então estes sistemas de produção animal passam a funcionar como importantes sequestradores de metano; no caso do número de bovinos ser 35% superior ao do relatório, verificar-seiam os valores calculados. Em conclusão, segundo Cain & Lynch (2019), nos sistemas de produção animal de ruminantes, em particular com bovinos, desde que o número não aumente 35%, o metano produzido não constitui qualquer risco ambiental. Para além disso, outros trabalhos mostraram que, quando a produção de ruminantes é baseada no pastoreio e considerando o sistema como um “todo” (solo-pastagemanimal-atmosfera), estes sistemas são um importante “sumidouro” de carbono, contribuindo dessa forma para o único sequestro de carbono que ocorre a nível global - o do setor Agro-Florestal.
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REVISTA RUMINANTES
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PUBLICAMOS, NESTE NÚMERO DA REVISTA, AS DUAS DEMONSTRAÇÕES MAIS RECENTES NO ÂMBITO DO PROJETO BOVINE DECORRIDAS, RESPETIVAMENTE, EM MAIO, NO CENTRO DE TESTAGEM DA RAÇA MERTOLENGA, EM ÉVORA, E, EM JUNHO, NA EXPLORAÇÃO DA AGRIANGUS EM ASSEICEIRA, TOMAR. Por Fontes M.1, Stilwell G.1, Lemos J.P.1, Pais J.2, Maio C.3, Rocha H.3
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Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa | 2Associação Criadores Bovinos Mertolengos | 3Promert – Agrupamento de Produtores de Bovinos Mertolengos S.A. Mais informação na plataforma de arquivo de todas as boas práticas e inovações identificadas pelo projeto BovINE, em https://hub.bovine-eu.net/login www.bovine-eu.net | Este projeto tem o apoio financeiro do programa de inovação e investigação Horizonte 2020 da União Europeia, ao abrigo do contrato nº 862590
CONTROLO DIÁRIO DA INGESTÃO INDIVIDUAL DE ALIMENTO COM O SISTEMA RIC DA HOKOFARM A ingestão de alimento residual (RFI – Residual Feed Intake) é definida como a diferença entre o consumo real de alimento de um animal e o consumo de alimento calculado para satisfazer as necessidades nutricionais do mesmo animal, calculadas com base no seu peso metabólico e no seu ganho médio diário (GMD) durante um período de teste padronizado. Basicamente, o RFI quantifica a variação no consumo de alimento de animais com o mesmo peso vivo e o mesmo GMD. Animais mais eficientes consomem menos alimento do que o esperado e têm um RFI negativo ou baixo, enquanto que animais menos eficientes consomem mais alimento que o esperado e têm um RFI positivo ou alto. Considerando que a alimentação pode representar até 70% dos custos de produção de carne de bovino, monitorizar e melhorar a eficiência alimentar de futuros reprodutores, pode ser uma estratégia com impacto económico importante no retorno financeiro de um produtor.
Alguns ensaios indicam que melhorar a eficiência alimentar de um rebanho em 5% pode significar uma melhoria no resultado económico da exploração quatro vezes maior, quando comparado com o resultado obtido com uma melhoria de 5% no GMD. Durante a última década, a investigação sobre eficiência alimentar em bovinos, principalmente a efetuada na Austrália, Canadá e Estados Unidos, mostrou que a seleção de animais com valor de RFI baixo está relacionada com os seguintes resultados: - não afeta o crescimento, rendimento de carcaça ou a qualidade da carne; - para um animal mais
eficiente, há redução no consumo de alimento quando comparado com outro animal menos eficiente e de peso e GMD idênticos; - redução na produção de metano e esterco, reduzindo a pegada de carbono dos bovinos; - tem pouco ou nenhum efeito na idade à puberdade; - não afeta o padrão de partos nas primíparas; - não tem efeito negativo sobre a taxa de gestação, parto ou desmame; - tem um efeito positivo sobre a gordura corporal ou peso, especialmente durante períodos de stress; - reduz os custos com alimentação.
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MONOTORIZAÇÃO EM TEMPO REAL
A monitorização em tempo real, através do sistema SenseHub da Allflex, com a utilização de sensores em brincos auriculares ou em colares, permite recolher dados sobre cada animal, que alimentam algoritmos sofisticados para analisar comportamentos associados à atividade, ruminação e alimentação. Esta análise permite obter informação em tempo real sobre reprodução e bem-estar de cada animal bem como do grupo em que está inserido. Como exemplo temos a informação sobre a ciclicidade reprodutiva e identificação da janela de oportunidade para otimizar a taxa de sucesso na inseminação artificial (https:// www.allflexsa.com/products/ monitoring/beef-monitoring/).
NOTÍCIAS
PEQUENOS RUMINANTES | FARMIN-TRAININGS
SELOS DE BEM ESTAR ANIMAL Por Roberto Ruiz, Ina Beltrán de Heredia
NEIKER-Instituto Basco de Pesquisa e Desenvolvimento Agrário, Aliança Basca de Pesquisa e Tecnologia (BRTA), Campus de Arkaute , 01080 Vitoria-Gasteiz
A
sociedade, ou pelo menos uma proporção dos cidadãos (representada neste caso por parte dos consumidores), cada vez mais exige que os alimentos sejam produzidos em sistemas sustentáveis e, portanto, com respeito pelos animais e o ambiente. Assim, é essencial que os animais sejam manipulados em condições que assegurem o seu bemestar, tanto durante a sua criação, o crescimento ou a produção, bem como durante o transporte e abate. Por isso, é necessário implementar procedimentos e metodologias que sirvam para identificar e diferenciar os alimentos que são produzidos dentro do que podemos considerar desenvolvimento sustentável. Neste contexto, o selo *Welfair™ nasce em Espanha por volta de 2019 , fruto da colaboração e experiência de dois centros de pesquisa, IRTA e NEIKER, em torno de dois projetos europeus: Welfare Quality e AWIN Welfare Indicators. O objetivo destes projetos é identificar os alimentos de origem animal provenientes de explorações cujo bem-estar foi monitorizado (tanto na exploração ou unidade de produção como no local de abate). No final é obtida uma pontuação mínima necessária em todos os indicadores analisados e em estrita conformidade com as disposições da Comunidade Europeia.
No caso da produção de pequenos ruminantes, particularmente dos borregos de engorda, o selo Welfair™ significa que a carne é proveniente de borregos criados em instalações, quintas ou engordas, sujeitas a uma avaliação e monitorização do bemestar, com base no protocolo de avaliação do bem-estar de borregos desenvolvido no projeto AWIN® . Este selo também indica que os borregos foram abatidos num matadouro também submetido a avaliação, obtendo em ambos os casos (na exploração e no matadouro) a pontuação necessária para a obtenção da certificação. Para isso, uma vez verificada a conformidade com a legislação em vigor, é realizada uma rigorosa auditoria de bem-estar animal por meio da observação direta dos animais e do seu ambiente. Desta forma, a avaliação do bem-estar animal é realizada principalmente a partir de indicadores baseados nos próprios animais e, portanto, incide diretamente na observação dos indivíduos e do seu comportamento. Para isso, avalia-se uma amostra de indivíduos da exploração ou matadouro (cujo número depende do tamanho do efetivo ou da capacidade da empresa) de acordo com indicadores definidos e padronizados. Entre os indicadores avaliados, estão, por exemplo, a sujidade dos
animais, condição corporal, incidência de doenças, claudicação, diarreia, ou alguns aspetos de comportamento (nomeadamente estereotipias ou comportamentos anormais). Assim, o objetivo é avaliar o estado real dos animais, para além das condições onde são criados (acesso a alimento, disponibilidade de água, espaço para se mover, etc.), ou onde são abatidos.
Com isto, o certificado Welfair ™ permite que os produtores e os responsáveis pelos matadouros conheçam o estado de bem-estar animal nas suas instalações, o que contribui para promover a melhoria contínua em termos de boas práticas, respeitosas e sustentáveis, dando aos consumidores a garantia da qualidade do alimento de origem animal que está a comprar.
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#42 | jul. ago. set. 2021
REVISTA RUMINANTES
NUTRIÇÃO | LEITE DE VACA
SOBRE O LEITE
ESTE ARTIGO CONTINUA O TEMA DO ÚLTIMO PUBLICADO NA RUMINANTES AINDA SOBRE "O DILEMA OMNÍVORO". OS LATICÍNIOS AINDA SÃO UM "DILEMA" PARA MUITAS PESSOAS E AS OPINIÕES SOBRE ELES VARIAM MUITO. POR UM LADO, HÁ QUEM OS CONDENE COMO ALIMENTOS QUASE TÓXICOS, POR OUTRO, HÁ QUEM OS CONSIDERE COMO SUPERALIMENTOS NUTRICIONALMENTE DENSOS. Mais informação sobre dietas nutricionalmente densas em www.westonaprice.org
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leite contém proteínas, probióticos, gorduras ómega 3, cálcio, vitaminas A, B, C, D, E, K, magnésio, fósforo, ferro e ácido linoleico conjugado (CLA). Apesar deste impressionante perfil de nutrientes, nem todo o leite é produzido igualmente e nem todas as pessoas estão equipadas para digeri-lo. Para determinar se os laticínios
podem fazer parte de uma dieta saudável, deve-se ter em consideração quer a qualidade e o tipo de leite , quer a tolerância individual aos laticínios. Por Michelle Harvey, terapeuta nutricional e health food chef. O seu foco são as dietas não-restritivas, os alimentos integrais e a reabilitação dos conhecimentos ancestrais como guia para o bem-estar. Pode segui-la em: michellechristineharvey@gmail.com Instagram.com/michelleharvey
A QUALIDADE E O TIPO DE LEITE Como acontece com qualquer alimento, o caminho que percorreu para o seu prato ou copo é o fator determinante de quão salutar pode ser. 092
Leite de uma operação de laticínios industrializada, em que as vacas são alimentadas com cereais não biológicos e recebem hormonas de crescimento e antibióticos, não é saudável nem para nós nem para a terra nas quais essas explorações operam. Vacas leiteiras alimentadas com pastos bem geridos nutrem a terra e, por sua vez, dão origem ao um leite igualmente nutritivo e livre
Sobre o leite
NUTRIÇÃO
NÚMERO RELATIVO DE DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS, LIGADAS A SURTOS, CAUSADOS POR VÁRIAS CATEGORIAS DE ALIMENTOS ADAPTADOS PARA CONSUMO
Laticínios Frutas e hortaliças Categorias de alimentos
de contaminantes. O leite de vacas criadas a pasto contém níveis mais elevados de ácido linoleico conjugado (CLA) e ácidos gordos essenciais (1). A opção por laticínios produzidos em pastagens é certamente melhor que por produtos produzidos industrialmente. Os laticínios crus criados em pastagens são os mais adequados em termos de densidade de nutrientes, porque a pasteurização reduz a quantidade de manganês, cobre e ferro, destrói grande parte da vitamina C e diminui a biodisponibilidade da vitamina B6. A pasteurização também destrói algumas das proteínas do leite que atuam como cofatores para absorver outros nutrientes como a vitamina A. Isso significa que, apesar de certos nutrientes estarem presentes no leite pasteurizado, não é certo que sejamos capazes de absorvê-los de forma eficiente. Se fizer a escolha de beber leite cru, certifique-se de que é de um agricultor em quem confia, que segue práticas de higiene rigorosas, já que o risco de contaminação é maior do que com o leite pasteurizado. No entanto, tenha em mente que o risco relativo de doenças de origem alimentar devido ao consumo de produtos lácteos é muito menor do que na maioria outros grupos de alimentos, como frutos do mar, aves, carne ou mesmo frutas e vegetais (ver gráfico). Diferentes raças de vacas, cabras e ovelhas dão origem a laticínios de diferentes qualidades que são mais ou menos adequados a diferentes necessidades bioindividuais. Por exemplo, o leite de cabra contém menos lactose quando comparado com o leite de vaca, enquanto o leite de búfala contém mais gordura e o leite de camelo contém 3 vezes mais vitamina C. Dentro da categoria do leite de vaca, diferentes raças produzem leite com diferentes
Carne de porco Carne de vaca Ovos Aves Peixe e marisco
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Número de doenças em relação às causadas por produtos lácteos Nota: Usou-se a média anual de doenças ligadas a surtos de laticínios como base.
tipos de caseína. As caseínas são o maior grupo de proteínas do leite, constituindo 80% da proteína total. A beta-caseína é o tipo mais comum de caseína e vem em duas formas: beta-caseína A1 (geralmente encontrada em raças de vacas originárias do norte da Europa) e beta-caseína A2 (geralmente encontrada em raças de vacas originárias do sul da França). O leite normal contém betacaseína A1 e A2, no entanto, o que é conhecido como “leite A2” contém apenas beta-caseína A2. Há algumas evidências que sugerem que o leite A2 é mais digerível e menos propenso a causar o inchaço ou desconforto intestinal às vezes associado ao leite. A TOLERÂNCIA INDIVIDUAL AOS LATICÍNIOS Depois de considerar o tipo e a qualidade do leite que consome, a próxima questão é como o seu corpo reage aos laticínios a um nível bioindividual. Existem dois fatores a serem considerados aqui: - o primeiro é a sua predisposição genética. Todos 093
nós temos a capacidade de digerir lactose quando bebés, quando bebemos o leite das nossas mães. No entanto, a evolução ditou que num momento durante a infância, a função não é mais necessária e o gene da lactose é “desligado”. No entanto, com o advento da pecuária leiteira há ± 8.600 anos atrás, aconteceu que muitas pessoas desenvolveram uma mutação genética que permitiu a persistência da capacidade de digerir a lactose. Esta mutação provou ser muito útil para os humanos por muitos motivos, como ter acesso a uma fonte de nutrição em meses de inverno, quando as colheitas não crescem. Não só essa mutação explodiu em certas populações, como também evoluiu independentemente entre os continentes. No entanto, a capacidade específica de cada ser humano de digerir lactose depende ainda se ambos ou só um dos progenitores terem o cromossoma mutante. Se houver um cromossoma normal e um mutante, isso resulta numa capacidade "mais fraca" de digerir lactose que pode piorar com o tempo
devido a uma saúde intestinal deficiente; - isto leva-nos ao próximo fator que pode afetar a capacidade de digerir a lactose, que é uma saúde intestinal deficiente. Células intestinais danificadas têm uma menor capacidade de digerir a lactose e isso pode resultar em reações comuns, como o inchaço e gases. Pessoas com intolerância ao glúten muitas vezes também têm problemas com laticínios, por causa da forma como as proteínas do leite reagem de forma cruzada com o glúten. Pessoas com o síndrome do supercrescimento bacteriano no intestino delgado (SIBO) também se verão afetadas porque as bactérias fermentarão os açúcares do leite e isso causará irritação. Uma saúde intestinal deficiente pode ser o resultado de muitos fatores, tais como a ingestão de alimentos processados pró-inflamatórios, o contacto com pesticidas, a ingestão de contaminantes na água, o uso excessivo de produtos farmacêuticos, infeções bacterianas ou fúngicas e o stress. É importante que não presumamos ter intolerância à lactose não tendo descartado todos estes fatores. Espero que este artigo seja útil para clarificar como escolher os produtos lácteos nutricionalmente mais densos e que, ao mesmo tempo também se adequam às necessidades bioindividuais de cada um.
Bibliografia
1) https://www.sciencedirect.com/science/ article/abs/pii/S0377840106002616 2) https://www.sciencedirect.com/ science/article/abs/pii/0308814694900507 3) https://www.westonaprice.org/healthtopics/abcs-of-nutrition/vitamin-b6-theunder-appreciated-vitamin/ 4) https://33q47o1cmnk34cvwth15pbvt12 0l-wpengine.netdna-ssl.com/wp-content/ uploads/ 5) https://pubmed.ncbi.nlm.nih. gov/24986816/https://pubmed.ncbi.nlm. nih.gov/27039383/)
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REVISTA RUMINANTES
II SIMPÓSIO NANTA
RECRIA DE VITELAS
CERCA DE 400 PROFISSIONAIS DO SETOR ASSISTIRAM AO II SIMPÓSIO #RECRIACOMPRIMA, CELEBRADO NO FORMATO DIGITAL NO PASSADO MÊS DE MAIO. INTERVIERAM TRÊS ESPECIALISTAS NESTA ÁREA: TREVOR DEVRIES, JOÃO COSTA E KEN NORDLUND.
A
influência do bem-estar, da nutrição e das instalações, no rendimento das vitelas, foi o tema da segunda edição do Simpósio #RecriaComPrima. O evento, de carácter bienal, teve lugar num interessante formato online, que conseguiu reunir cerca de 400 veterinários, produtores e outros profissionais do sector dos bovinos leiteiros, em direto. O objetivo: maximizar o rendimento da recria de vitelas. Trevor DeVries (Universidade de Guelph) falou sobre a importância da alimentação e do maneio das vitelas para melhorar o seu comportamento. Entre os pontos chave para garantir um bom crescimento, DeVries
destacou uma administração correta do leite para garantir benefícios a curto e longo prazo: “menos stress, melhor função imunológica, assim como uma maior eficiência de conversão, para além de atingir uma idade mais precoce à primeira inseminação e um melhor desempenho na lactação”. O especialista referiu o desmame como um dos grandes desafios, e destacou a importância dum programa de desmame gradual: “O starter será importante, mas não podemos esquecer a administração de forragem”, disse. Neste sentido, explicou as diferentes vantagens de administrar a forragem no início da vida do animal: “estimular o consumo de alimentos sólidos antes e depois do desmame, melhorar as papilas do rúmen
e promover uma maior quantidade de ácidos gordos voláteis aí produzidos”. João Costa (Universidade de Kentucky) centrou a sua apresentação nas tecnologias de precisão para vitelas e as suas aplicações ao maneio, nomeadamente, a utilização de tecnologias na monitorização do comportamento e de vários parâmetros fisiológicos. No caso concreto dos sistemas automatizados de alimentação de vitelas, destacou a vantagem de individualizar programas de alimentação e desmame e permitir monitorizar o desempenho dos animais. Ken Nordlund (Universidade Wisconsin-Madison) analisou o alojamento para vitelas e o seu impacto na saúde dos animais. Nordlund apresentou
diferentes sistemas e maneios da ventilação nos estábulos, assinalando a importância de garantir uma boa ventilação, para além do estábulo, no parque ou no microambiente da vitela, para garantir a higiene do ar ao seu redor, uma vez que “altas contagens de bactérias nos parques têm sido associadas a uma prevalência crescente de vitelas com problemas respiratórios”. Assim, definiu como ideal nos estábulos, um mínimo de 10 m2 de cama por vitela, a drenagem das camas e a ventilação natural com tubo de pressão positiva suplementar. Nordlund também referiu como fator chave o sistema “tudo dentro, tudo fora”, para minimizar a possível transmissão de doenças e garantir a limpeza e desinfeção dos pavilhões.
IDENTIFICAÇÃO ELETRÓNICA
I
O BRINCO QUE FAZ A DIFERENÇA
ndependentemente da aptidão para carne ou leite, a fileira dos ovinos, tem sentido as vantagens da grande procura destes animais para o mercado de exportação. Desde logo, pela melhoria no preço de venda mas também porque a procura deixou de ser fortemente sazonal, concentrada nas épocas da Páscoa e do Natal, passando a ser muito regular, ao longo de todo o ano.
Contudo, no dia 7 de Junho a DGAV publicou um nota informativa onde se pode ler (ponto 4) que: “Os ovinos e caprinos destinados a trocas comerciais intracomunitárias ou com países terceiros são identificados individualmente na exploração de nascimento.” Ou seja, a maior procura de borregos, regular ao longo do ano, vai ficar limitada aos borregos aos quais foi aplicado um brinco eletrónico na 094
exploração de nascimento. O pequeno investimento num par de brincos, de cerca de €1, vai fazer toda a diferença, tornando o borrego exportável e, portanto, alvo de maior procura. Cabe aos OPP e aos detentores de ovelhas cuidarem da aplicação deste brinco, assegurando que o sexo do animal fica correntemente registado no SNIRA.
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