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Produção | Vacas de leite

PRODUÇÃO | VACAS DE LEITE CRUZAR E CRESCER

CÉSAR SILVA É DONO DA MAIOR EXPLORAÇÃO LEITEIRA DE MONTEMOR-O-VELHO, A QUINTA DO MUROZ, QUE FICA NA LOCALIDADE DE BEBEDOURO. HÁ 2 ANOS, QUANDO VISITÁMOS A VACARIA, ESTAVA NO PROCESSO DE CONVERSÃO PARA PROCROSS. HOJE, CERCA DE 50% DO EFETIVO E 40% DAS VACAS EM LACTAÇÃO JÁ SÃO CRUZADAS. O PRÓXIMO OBJETIVO É DUPLICAR O NÚMERO DE VACAS EM ORDENHA, TODAS EM PROCROSS.

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Entrevista a César Silva, sócio gerente da Quinta do Muroz, Lda. e Abílio Pompeu, nutricionista | Por Ruminantes | Fotos Francisca Gusmão

Para chegar às 700 vacas em ordenha há vários investimentos em curso. Desde logo, um outro pavilhão para 300 vacas e uma ordenha rotativa de 50 pontos. Foi acerca destes investimentos e também da mudança para Procross que falámos com César Silva e com Abílio Pompeu, nutricionista da exploração.

Há 2 anos estivemos aqui, o que se passou de novo entretanto?

Aumentei bastante o efetivo, passei de 760 animais para 1020 (fêmeas), e de 348 vacas em ordenha para 440. Em termos de instalações, construímos pavilhões para as vacas em produção e um pavilhão estufa, em sistema de cama quente, com capacidade para 320 cabeças para a recria e para as vacas secas. Está em construção mais um pavilhão para 300

César Silva, sócio gerente da Quinta do Muroz, e Abílio Pompeu, nutricionista da exploração.

vacas e uma ordenha rotativa de 50 pontos. Queremos ter 650 a 700 vacas em ordenha.

Em 4 anos vai duplicar o número de vacas em ordenha?

Sim, é por isso que tenho que fazer estes investimentos. Nomeadamente, temos que investir numa nova sala de ordenha, porque atualmente demoramos 14 horas por dia, nas 2 ordenhas diárias dos animais em lactação. No final deste ano esperamos ter a sala a funcionar.

Como pensa garantir o aprovisionamento das forragens para este aumento do efetivo?

A palha vem toda de Espanha. A silagem de erva é produzida por nós e utilizada apenas nas novilhas. Relativamente à silagem de milho, temos que comprar cerca de 30% do que necessitamos.

Em 2019, quando aqui estivemos, disse-nos que ia investir cada vez mais na genética do programa Procross. Seguiu por essa via?

Temos vindo a aumentar o número de animais Procross. Este ano tomámos a decisão de fazer todas as inseminações de acordo com o programa Procross. Estamos comprometidos a 100% com o programa.

Porquê?

Porque as vacas têm mais dias de vida, ficam prenhes com mais facilidade, têm menos problemas de saúde (descargas celulares, mamites), e produzem o mesmo que as outras que temos. Aliás, nos meses mais quentes do verão passado andaram com médias diárias superiores às Holstein em cerca de 2 litros. A mudança de genética tem por base dados concretos e significativos que fomos recolhendo na exploração, e que representam muito dinheiro.

Em que medida a aposta no programa Procross contribuiu para o aumento do efetivo que está a fazer?

Muito. Hoje, cerca de 50% do efetivo e 40% das vacas em lactação já são cruzadas.

Qual é o grau de satisfação, até ao momento, com este programa?

Estou bastante satisfeito, só tenho pena de não ter acreditado nisto há mais tempo. Tinha dúvidas e tive que ver para crer. Comecei a cruzar, devagar, em 2015, e só agora decidi pôr todo o efetivo no programa Procross. Tenho menos problemas do que com as Holstein.

Qual é o seu critério de análise da exploração, produção de leite aos 305 dias ou na vida útil das vacas?

Para mim, o importante é a quantidade de leite que as vacas “deixam” na exploração ao longo da sua vida útil.

Quantas lactações faziam as suas vacas?

Com o efetivo puro Holstein nunca consegui passar de 1,7 lactações por animal, em média.

ABÍLIO POMPEU, NUTRICIONISTA DA QUINTA DO MUROZ, ESTÁ SATISFEITO COM A TRANSIÇÃO PARA O PROGRAMA PROCROSS: "NESTE MOMENTO TEMOS CERCA DE 50% DE CADA TIPO DE ANIMAIS [HOLSTEIN PURAS E CRUZADAS] E, SE OBSERVARMOS AS VACAS PURAS HOLSTEIN VEMOS QUE, COMENDO O MESMO ARRAÇOAMENTO A CONDIÇÃO CORPORAL TEM UMA DIFERENÇA ABISSAL: CHEGA A SER DE 1,5 A 2 PONTOS (NUMA ESCALA DE 0 A 5) ABAIXO DAS CRUZADAS, PRODUZINDO PRATICAMENTE O MESMO LEITE."

Como nutricionista desta exploração, como analisa as vacas Procross?

Há um ponto que é visível, mas não lhe consigo quantificar com precisão, e que se refere à menor capacidade de ingestão de MS por dia destes animais comparados com as Holstein. Lembro-me perfeitamente de trabalhar com ingestões de 23 ou 24 kg de MS, dependendo do período do ano, quando tínhamos apenas Holstein, e agora temos entre 21,5 e 22,5 kg de MS.

Os responsáveis pelo programa Procross falam numa diminuição de consumo da ordem dos 5%, o que se confirma nesta exploração, estamos com menos 1,5 a 2 kg menos de MS por vaca.

Menos MS ingerida e a mesma quantidade de leite produzida?

Sim, são efetivamente mais eficientes, produzem o mesmo leite com menos alimento.

E relativamente à condição corporal?

É um aspeto curioso porque comendo menos e produzindo a mesma quantidade de leite, poderíamos esperar uma diminuição da condição corporal. Mas não, não perdem condição corporal. Esta vacaria é um bom exemplo, neste momento temos cerca de 50% de cada tipo de animais e, se observarmos as vacas puras Holstein vemos que, comendo o mesmo arraçoamento a condição corporal tem uma diferença abissal: chega a ser de 1,5 a 2 pontos (numa escala de 0 a 5) abaixo das cruzadas, produzindo praticamente o mesmo leite.

Face a esta diferença de eficiência, que cuidados tem na formulação do arraçoamento?

Neste momento tenho alguns cuidados porque temos 50% de efetivo puro e 50% cruzado. Não posso formular sem pensar que poderei estar a engordar excessivamente as cruzadas, algo que não interessa de todo. Quando era tudo puro Holstein esse receio não existia, a preocupação era não perder a condição corporal.

Quantos parques de produção e quantos arraçoamentos utiliza?

Trabalhamos com “parque único” de produção de leite e um único tipo de arraçoamento. Temos grupos porque não cabem todas no mesmo parque, mas em cada parque estão todo o tipo de animais, com diferente idade, produção, fase da lactação... e comendo sempre o mesmo arraçoamento. Mais tarde iremos ter um parque para os animais de 1ª lactação.

Qual é o arraçoamento para as vacas em produção?

Silagem de milho, dreche de cerveja, palha, farinha de milho, soja e um concentrado (vitaminas, minerais...).

Que índice de conversão conseguem?

Estamos com cerca de 1,6 kg de leite para 1 kg MS, mas dizem-me que se pode chegar a 1,8 de conversão.

Qual a razão para refugarem tantos animais?

A principal razão é a fertilidade, cerca de 80%. Depois vêm as mamites e por fim os problemas de patas. Os animais cruzados são significativamente melhores. Neste momento estamos com 390 dias de intervalo entre partos. A média nacional está nos 430 dias.

Como explica estes resultados?

Do ponto de vista nutricional, enquanto uma vaca estiver com balanço energético negativo, a perder peso, não fica prenha. Estas vacas cruzadas não perdem praticamente peso, e ao fim de 35-40 dias estão prenhes.

Que indicadores utiliza para perceber que a exploração está bem?

Para mim, é muito importante saber o intervalo entre partos (IEP). Uma vaca que produz 12000 litros aos 305 dias, ou seja, cerca de 39 litros por dia, tem uma

DADOS GERAIS DO REBANHO

Efetivo total 1020 (fêmeas)

Nº vacas em ordenha 442

Nº ordenhas por dia 2

Tempo de ordenha do efetivo 14 horas/dia

Produção média diária/vaca 32 litros

GB (%)

PB (%)

Taxa de refugo 3,4

3,3

33% Holstein e 18% Procross

Idade ao 1º parto 25 meses

IEP (intervalo entre partos) 386 dias

Dias em aberto 106

Dias em lactação 180

Nº I.A. vaca adulta gestante 2,5 doses

1º dia de inseminação 46 dias

Nº lactações/vaca (média do rebanho) 2,3

boa produção se tiver um IEP de 365 dias. Mas se o IEP passar para 420 dias, esta produção diária baixa significativamente. Penso que um IEP inferior a 400 dias é um bom número. Atualmente estamos com 386 dias mas já estivemos nos 420 dias.

Outros dados importantes são os que resultam da comparação dos dados produtivos e reprodutivos de um determinado mês com os dados homólogos de anos anteriores. E, por fim, o consumo de matéria seca por animal.

O que trouxe de novo o programa Procross a esta exploração?

Estas vacas vivem mais anos, são mais saudáveis, comem menos e produzem o mesmo leite. O Procross trouxe mais lactações e mais quantidade de leite na vida útil do animal. Temos uma recria com muito menos animais, porque a longevidade dos animais é superior. Não vamos ter uma taxa de refugo de 35% como temos com as Holstein puras.

A ideia é ter 4 lactações por vaca, em média, ou seja, 20 a 25% de taxa substituição.

O que é, para si, uma boa produção por vida útil e vaca?

Em Portugal há quem faça 39000 litros por vida útil e vaca, nós estamos com 19000.

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