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Produção | Bovinos de carne
by RUMINANTES
PRODUÇÃO | BOVINOS DE CARNE TROCAR O LEITE PELA CARNE
“O LEITE É A MINHA PAIXÃO”, DISSE-NOS MIGUEL RODRIGUES QUANDO LHE PERGUNTÁMOS SE TINHA PENA DE DEIXAR O NEGÓCIO DO LEITE. “MAS A ESTE PREÇO E COM POLÍTICAS QUE PAGAM PARA PRODUZIR LEITE E PAGAM PARA CONVERTER LEITE EM CARNE, É COMPLICADO”. AOS 41 ANOS, DEDICADO À PRODUÇÃO DE LEITE POR CONTA PRÓPRIA DESDE 2007, MIGUEL RODRIGUES DECIDIU CONVERTER O NEGÓCIO PARA A PRODUÇÃO DE CARNE.
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Entrevista a Miguel Rodrigues | e-mail: miguelbotelhorodrigues79@gmail.com | Por Ruminantes | Fotos FG
Para esta decisão contribuiu a entrada em vigor da portaria que possibilita a reconversão de explorações de produção de leite em produção de carne de bovino, através da qual o Governo pretende uma reconversão das explorações de leite em explorações de carne onde as indústrias manifestam haver excesso.
No final de 2020, Miguel entregou o leite pela última vez. Nessa altura, na sua exploração (30 hectares para pastoreio e produção de forragens), tinha 80 vacas em produção, sala de ordenha fixa, tanque de refrigeração de leite, uma produção anual de leite superior a 500.000 litros e produção média anual por vaca de 9000 litros.
Porque trocou o leite pela carne?
A última vez que entreguei leite foi no último dia de 2020. Tinha os problemas que qualquer exploração de leite tem, mas sempre os consegui ultrapassar. O único que não consegui resolver foi o preço do leite pouco atrativo e o facto de não haver um rumo na fileira do leite agravou o problema: uns dizem para produzir, outros para reduzir, paga-se o leite pela quantidade e depois paga-se para haver desistências na produção de leite.
Tudo isto cria descrédito na fileira. Decidi manter-me na pecuária mas converter a exploração para bovinos de carne.
Quais são as grandes mudanças do leite para a carne?
O número de vacas vai ser superior às de leite (ainda não é). Atualmente tenho um efetivo com 130 animais com 30 vacas aleitantes mas poderei chegar às 108. Em 2022 tenho que ter 70% dos animais aleitantes, e em 2023 tenho que ter 70% das fêmeas lactantes.
Onde comprou os animais? Que raça procura?
Tenho comprado noutras ilhas dos Açores, em explorações de boa genética. A opção foi pela limousine, pela qualidade e rentabilidade da carcaça, e também pelo gosto que tenho por essa raça.
Com o apoio técnico e de próximidade que a ADP Fertilizantes me proporciona, vou apostar em consociações com mais leguminosas, de forma a ter um plano de fertilização mais adequado. E utilizar sementes perenes com o intuito de que as pastagens se mantenham por 4 anos, para não ter que mobilizar os solos com tanta frequência, diminuindo deste modo a erosão.
Nestes 5 meses a produzir carne, o que mudou?
A atividade é muito diferente. Antes tinha que me levantar cedo e ir buscar o empregado para fazer a ordenha. Um ia buscar os animais e outro preparava a ordenha... fizesse chuva ou sol. Agora faço o trabalho e jogo com as abertas do tempo.
O maneio das vacas também é diferente, as vacas de leite são mais mansas mas muito exigentes. As de carne, depois de habituadas à exploração e ao maneio das pessoas, tornam-se também tranquilas.
Como é um dia normal de trabalho?
Quando chego, de manhã, observo com cuidado os animais no campo, para perceber se algum está doente ou em cio, mudo as cercas e vejo se o bebedouro tem água limpa e suficiente. Depois, olho para o terreno para ver se está todo bem pastoreado e decido a nova cerca de pastagem.
Qual é o maneio alimentar destes animais?
Continuamos com silagem de erva para os períodos de escassez, e silagem de milho para o acabamento dos animais. Neste momento, não utilizamos rações.
Como faz a gestão da pastagem?
De início alterei as adubações, aumentei o fósforo e reduzi o azoto.
Quanto à gestão propriamente dita, tento fazer uma rotação das cercas elétricas de forma a conseguir uma rotatividade tal que me permita ter já alguma fibra quando volto ao inicio, à primeira zona pastoreada. Nas sementeiras de setembro/outubro vou apostar em consociações com mais leguminosas, de forma a ter um plano de fertilização mais adequado. E utilizar sementes perenes com o intuito de que as pastagens se mantenham por 4 anos, para não ter que mobilizar os solos com tanta frequência, diminuindo deste modo a erosão.
As vacas dormem a campo, passam todo o dia no campo. No acabamento dos animais, ainda não decidi, mas poderá passar pela semiestabulação.
Como foi a transição dos animais para a sua exploração?
Houve situações curiosas. Os animais que comprámos na ilha de Sta Maria, quando chegaram passavam o tempo a comer, algumas até ficaram mal dispostas, e sempre que podiam iam para a mata ou para os caminhos à procura da fibra. A erva que aqui temos, nos meses de novembro/dezembro/janeiro, tem muito pouca fibra, ao contrário do sítio de origem desses animais, que tem variedades de azevém com mais fibra.
Como vai comercializar os animais?
A ideia é juntar os meus animais com os de outros. para termos alguma dimensão. Serão seguramente animais de pastagem, mas estamos abertos a fazer acabamentos diferentes em função do mercado, por encomenda.
Quando pensa atingir a velocidade de cruzeiro na exploração?
No mínimo daqui a 3 anos. Neste período vou ter tempos difíceis porque, do ponto de vista económico, durante este período a exploração não vai vender praticamente nada.
Será melhor este negócio da carne do que vender o leite ao preço base de 0,2055 €/litro?
Seguramente vou ter mais qualidade de vida, mas a ideia é conseguir ter a mesma faturação com menos custos de mão-de-obra e menos fatores de produção.