Revista Ruminantes 45

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RUMINANTES A REVISTA DA AGROPECUÁRIA WWW.REVISTA-RUMINANTES.COM

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ANO 12 | 2022 ABR/MAI/JUN (TRIMESTRAL) PREÇO: € 7.00

EXEMPLAR DE OFERTA

Forragens

Duas plantas não convencionais em estudo nos Açores

2 vacarias

Agricultura regenerativa FOTOGRAFIA: FRANCISCA GUSMÃO

Entrevista a Francisco Alves, gestor da Herdade de São Luís

modernas no norte de Portugal

Observatório de materias-primas Erros do passado pagos hoje

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ROBOT EXPERT ALIMENTAÇÃO INTELIGENTE TESTEMUNHO FILIPE VENDEIRO

Na De Heus sabemos que para se atingir a máxima eficiência e tirar o melhor proveito das ordenhas robotizadas é necessária uma abordagem integrada que otimize as várias dimensões da exploração leiteira. Foi por isso que desenvolvemos RobotExpert, o Sistema de Alimentação Inteligente para explorações com robots de ordenha. O Sistema RobotExpert foi recentemente aplicado na exploração leiteira Sociedade Agropecuária Estrela do Alto Minho. Situada em Fonte Boa, concelho de Esposende, esta exploração é gerida por Filipe Vendeiro, tendo atualmente cerca de 110 vacas em produção. A exploração beneficiou de obras profundas em 2020, que melhoraram de forma muito significativa o bem-estar animal e as condições de trabalho. Em abril de 2021, foi instalado um sistema de ordenha robotizada com dois equipamentos.

‘’Comecei a trabalhar com a De Heus há 4 anos e num curto espaço de tempo tive uma grande melhoria da rentabilidade da exploração, com um aumento muito significativo da margem do leite. Portanto, tenho uma relação de confiança com a De Heus e foi de forma natural que, quando coloquei os robots em Abril de 2021, continuei a trabalhar com eles. Têm conhecimentos e ferramentas específicas para ordenha robotizada tanto na área da nutrição como na configuração do próprio robot. Estou muito satisfeito com os resultados obtidos.’’ Filipe Vendeiro Quer saber mais sobre o RobotExpert? Contacte-nos: info.pt@deheus.com 02


#45 EDITORIAL

C

REVISTA RUMINANTES #45

Caro Leitor,

ABRIL . MAIO . JUNHO 2022 DIRETOR Nuno Marques | nm@revista-ruminantes.com

ontinuo a acreditar que o projeto europeu faz sentido, mas questiono-me se tem sido bem gerido, nomeadamente no que concerne à dependência energética e militar. As pessoas que nós, europeus, decidimos pôr ao comando deste enorme navio revelaram, agora, ter pouca visão de futuro, cometendo vários erros importantes, estratégicos e de avaliação, da escolha dos seus fornecedores de energia às opções energéticas. Também tenho dúvidas acerca da coesão entre os países europeus. Como é bom não esquecer, em horas de aflição, como no início da pandemia, foi o salve-se quem puder, chegando até a desviarem-se ventiladores e máscaras que haviam sido encomendados por outros países. Se hoje houvesse que ratear cereais e bens alimentares essenciais, por escassez de recursos, acredito que se passaria o mesmo. Todos os países desenvolvidos têm uma agricultura forte e defendem a sua soberania alimentar. Cá, porém, o debate sobre a dependência externa de bens agrícolas só é reacendido em períodos críticos, como este que estamos a viver com o conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia. Na última crise financeira, há cerca de 11 anos, falouse muito da importância de termos uma agricultura mais forte, de os portugueses consumirem o que é português e de o Estado ser muito mais rigoroso nas suas políticas de investimento e promoção da agricultura portuguesa. Dez anos anos passados sobre a aflição, Portugal continua basicamente no mesmo grau de dependência, sem um plano de consenso e de futuro para o setor agrícola, que o torne menos dependente do exterior. É precisamente neste ponto, o da dependência do exterior, que os ruminantes podem ter um papel muito interessante quando comparados com outras espécies animais, como os suínos ou as aves: os ruminantes têm a capacidade de transformar pastagens e forragens em leite e carne, sem necessidade de recorrer fortemente a matérias-primas de que somos dependentes, como os cereais. Nos ruminantes existem oportunidades que devem ser promovidas. Concentrem-se os políticos na sua avaliação e promoção, ao invés de gastarem tanto tempo e dinheiro com falsas questões ambientais. As crises, como a que vivemos agora, afetam tanto os consumidores como os produtores. A uns, porque veem o custo de vida aumentado; aos outros, os produtores, porque não conseguem refletir imediatamente o aumento do preço dos fatores de produção no preço de venda dos seus produtos; ainda mais, quando operam maioritariamente em mercados “tipo commodity”, como o leite UHT, em que o preço é quase o único argumento de venda. Já os mercados de “nicho”, como podem ser os de certos tipos de manteigas, queijos e carnes, não sentem tanto estas crises; são quase sempre mais caros de produzir mas têm, também, preços de venda superiores. A questão dos “nichos” é que obrigam a um pensamento diferente sobre o negócio, em que a relação com o cliente é mais emocional do que comercial. Entrar no mercado com produtos de nicho requer muito trabalho de quem produz e de quem comercializa: é preciso criar uma narrativa por trás do negócio, assim como ter consistência e sustentabilidade no que se produz. Os mercados de nicho beneficiam muito do turismo, e Portugal pode, nesta altura, beneficiar com esta guerra em relação a outros países, como a Turquia e a Grécia, que nesta altura, por razões de segurança, não se revelam tão atrativos como destinos de férias. Ao dia de hoje, ainda temos nichos bastante explorados por produtos que vêm de fora, como se aqui não houvesse tão bom, ou melhor! Nuno Marques

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COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Ana Paiva; André Antunes; António Moitinho; Bruno Palaio; Carlos Magalhães; Carlos Manuel; Carlos Vouzela; Deolinda Silva; Diogo Ribeiro; Fernando Magalhães; Filipe Lino; Francisco Alves; George Stilwell; Hélder Nunes; J.E.P. Santos; Joana Silva; João Diogo Ferreira; João Maria Barreto; João Santos; Marie-Laure Ocaña; Marta Rodrigues; Nuno Magalhães; Pedro Nogueira; Ricardo Bexiga; Sara Garcia; Tanja Krageloh. DESIGN E PRÉ-IMPRESSÃO Francisca Gusmão REDAÇÃO Francisca Gusmão, Inês Ajuda FOTOGRAFIA Francisca Gusmão, Francisco Marques IMPRESSÃO Jorge Fernandes Lda. Rua Quinta Conde de Mascarenhas , nº9, Vale Fetal, 2825-259 Charneca da Caparica Telefone: 212 548 320 ESCRITÓRIOS E REDAÇÃO Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto | 2780-051 Oeiras Telemóvel: 917 284 954 geral@revista-ruminantes.com PROPRIEDADE/EDITOR Aghorizons, Lda / Nuno Marques Contribuinte nº 510 759 955 Sede: Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto. | 2780-051 Oeiras GERENTE Nuno Duque Pereira Monteiro Marques DETENTORES DO CAPITAL SOCIAL Nuno Duque P. M. Marques (50% participação) Ana Francisca C. P. Botelho de Gusmão Monteiro Marques (50% participação) TIRAGEM 5.000 exemplares PERIODICIDADE Trimestral REGISTO Nº 126038 DEPÓSITO LEGAL Nº 325298/11 O editor não assume a responsabilidade por conceitos emitidos em artigos assinados, anúncios e imagens, sendo os mesmos da total responsabilidade dos seus autores e das empresas que autorizam a sua publicação. Reprodução proibida sem a autorização da Aghorizons Lda. Alguns autores nesta edição não adotaram o novo acordo ortográfico. O "Estatuto Editorial" pode ser consultado no nosso site em: www.revista-ruminantes.com/ estatuto-editorial www.revista-ruminantes.com www.facebook.com/RevistaRuminantes


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SUMÁRIO

#45 ABRIL MAIO JUNHO 2022

08 Equipamento | Bovinos de leite Uma aposta forte no bem-estar animal

16 Agricultura regenerativa "O truque do maneio está no equilíbrio"

21 Agricultura regenerativa Melhorar a infiltração e retenção de água nos solos

22 Agricultura regenerativa O que é o Pastoreio Holístico Planeado?

24 Saúde e bem-estar | Ovinos As principais causas de alta mortalidade em borregos

28 Alimentação | Bovinos de leite Silagem de milho, energia vs. fibra

30 Alimentação | Bovinos de leite Stress por calor

32 Saúde e bem-estar | Bovinos de leite Os oligoelementos minerais na redução do stress oxidativo

38 Saúde e bem-estar | Bovinos de leite A água no aleitamento das vitelas

40 Forragens | Bovinos de leite O potencial de duas forragens não convencionais

44 Forragens Controlo precoce das infestantes no milho

46 Forragens Fazer mais com menos: soluções de fertilização inovadoras

48 Saúde e bem-estar | Bovinos de leite

50 Saúde e bem-estar | Bovinos de leite Prevenir pneumonias causadas pelo BRSV

54 Saúde e bem-estar| Bovinos de leite Criar vitelas de leite em grupo ou isoladas?

As "3 grandes" causas da claudicação

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SUMÁRIO

58 Leite | Bovinos de leite O que é o leite A2?

60 Empresas | De Heus Está pronto para o futuro?

62 Alimentação | Bovinos de leite Soluções naturais à base de plantas

64 Equipamento | Bovinos de leite Mais tempo livre e cascos saudáveis

70 Observatório matérias-primas Erros do passado pagos hoje

72 Observatório do leite O Conflito a Leste e o seu impacto no setor leiteiro

74 Índices VL e VL-Erva A produção de leite no caminho do abismo

76 Bovinos de leite Investigação leiteira

78 Notícias Agriangus realiza II Leilão de reprodutores

82 Notícias O Projeto BovINE participou nas 13as Jornadas do HVME

82 Notícias As escovas são importantes para as vacas

83 Notícias Dicas para ajudar a enfrentar períodos de seca

84 Produto Kuhn Merge Maxx 440 F amplia a gama de ajuntadores de tapete frontal

86 Produto A nova enfardadeira premium Pro-Belt da New Holland

88 Produto Os Novos Turbofarmer 50.8 e 45.11 da Merlo

88 Produto Silofarmer, o robot para ovinos e caprinos

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EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE

UMA APOSTA FORTE NO BEM-ESTAR ANIMAL

“FILHO DE PEIXE SABE NADAR” É UMA EXPRESSÃO UTILIZADA NA LÍNGUA PORTUGUESA QUANDO SE QUER DIZER QUE OS FILHOS HERDARAM BOAS QUALIDADES DOS PAIS. O DITADO POPULAR APLICA-SE À EMPRESA FAMILIAR AGROCARTUCHO, EM QUE O GOSTO PELO NEGÓCIO DO LEITE JÁ VAI NA TERCEIRA GERAÇÃO E A VONTADE DE PRODUZIR MELHOR LEVOU, RECENTEMENTE, À CONSTRUÇÃO DUMA NOVA VACARIA E À AQUISIÇÃO DE 2 ROBOTS DE ORDENHA DELAVAL. Por RUMINANTES | Fotos FG 010


Uma aposta forte no bem-estar animal

EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE

S

entado em frente a uma janela panorâmica sobre a vacaria, e com a ajuda de um monitor onde passam imagens “em direto” da movimentação das vacas no estábulo, Carlos controla o negócio. Através das câmaras consegue perceber, em detalhe e em tempo real, o que se passa com cada animal, bem como intervir no robot, através do computador, sem ter que sair do lugar: “No dia a dia, é muito mais fácil perceber o que se passa com as vacas e tomar as devidas medidas, além de que a observação do seu comportamento através das câmaras permite-nos aprender muito”.

A opção por robots versus uma nova sala de ordenha não foi difícil. Na base da decisão estiveram três razões principais: o número de vacas, a tranquilidade da ordenha e a menor dependência de mãode-obra. “Tendo atualmente 90 vacas e não querendo aumentar para além das 120 (nesse caso teríamos que ir para um “carrossel”, os robot pareceram-nos a opção certa”, diz Carlos. Não menos importante, referiu, é a tranquilidade do processo: “Torna-se um trabalho menos pesado, além de que é menos dependente de mão-deobra. Ainda assim, alerta, o robot não faz tudo sozinho: “O robot pode dar problemas a qualquer hora do dia, e mesmo durante 011

a noite, mas mesmo assim permite-nos ter muito mais liberdade devido aos sistemas de aviso, não temos que estar sempre ali.” Por fim, a questão da mão-de-obra também pesou: “Antes tínhamos uma sala de ordenha de sistema tandem em espinha, 4x4, onde ordenhávamos 8 vacas de cada vez. Demorávamos 2 horas de manhã e outras 2 à tarde, em que tínhamos que estar sempre presentes, não podia falhar”. OS CRITÉRIOS ENVOLVIDOS NA ESCOLHA DO ROBOT

Os robots adquiridos são da marca DeLaval, modelo V310. Na sua escolha tiveram em conta a possibilidade de ter


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acesso aos animais, através dum fosso, para poderem executar algumas tarefas manualmente (ex. colocar as tetinas à mão, tocar nos animais), caso ocorra alguma avaria, evitando paragens até à chegada do técnico. A adaptação dos animais aos robots foi muito rápida, cerca de 2 dias (em que houve necessidade de encaminhar as vacas para o robot, mesmo durante a noite). Esta rapidez deveu-se, na opinião da técnica da Harker XXI, Ana Paiva, ao facto de as vacas estarem habituadas a ser ordenhadas naquela posição e a comer nas boxes de alimentação. O maneio também foi apontado como uma razão importante para a fácil adaptação dos animais ao robot. Durante os primeiros dias, notou-se uma ligeira quebra na produção que, de acordo com os produtores se relaciona com a mudança no regime alimentar: as vacas comiam a maior parte da energia da dieta na manjedoura e passaram a consumi-la no robot. Passados 2 meses da entrada dos robots, a produção “tem vindo a aumentar sustentadamente”, diz Carlos Magalhães. Mas “ainda é cedo para esperar resultados. Começámos por acertar as vacas e agora estamos a acertar a alimentação”. A DeLaval integra um sistema de pulsação inteligente que, através do reconhecimento do comportamento de

cada animal em ordenha, otimiza o tempo de ordenha por animal, sendo feita uma adaptação da pulsação e massagem a cada animal, conseguindose diminuir o tempo médio por ordenha (tempo desde que fecha a porta de entrada e abre a porta de saída). Com este sistema é possível ter mais animais por robot. Nesta exploração, temos uma média de 13 kg de leite por ordenha, com a duração média de 6 minutos.

- consumo de ração e nº de visitas das vacas aos robots.

O que mudou na alimentação das vacas com a introdução dos robots? De acordo com o plano definido pelo nutricionista, aumentámos a quantidade de energia no robot e reduzimo-la na manjedoura.

A VACARIA

Já notaram aumentos nos custos da alimentação? Ainda é cedo e não é fácil fazer esses cálculos agora, dado o período turbulento que atravessamos. Na antiga vacaria, o custo médio de alimentação por vaca, com uma produção média de 36 litros, era na ordem de 5 €, hoje já ultrapassou os 6,5 €. Para onde olham quando chegam à exploração? - produção total de leite dos robots; - produção de leite/vaca/dia;

Porque escolheram a Harker XXI? Já conhecíamos esta empresa. Desde 1997 que trabalhamos com a Harker XXI e nunca tivemos queixas. Se estas vacas falassem, o que diriam? "Porque é que não fizeste isto mais cedo?" Inaugurada no início de 2022, a vacaria tem uma superfície coberta de 2200 m2. Possui 2 corredores de alimentação (4,75 metros de largura) e 130 cubículos. Tem maternidade e um parque para vacas no cio. Os cubículos, de 1,25 metros de largura, são inclinados para maior conforto e drenagem da humidade e estão equipados com tapetes de borracha sobre colchão de esponja de 3 cm. O investimento total, incluindo o trator e as vacas, rondou 1M €. O ROBOT

O robot instalado, modelo DeLaval VMS V310, integra o laboratório Herd Navigator™ HN100 que fornece análises precisas do leite, úteis para se traçar um plano de ação para cada vaca e para o rebanho, obter melhores resultados de reprodução e ter menos custos com a saúde.

O Herd Navigator HN100 analisa a reprodução e permite também detetar quistos foliculares, cios e abortos.

Na exploração foram instalados 2 robots DeLaval VMS V310 que ordenham atualmente 95 vacas.

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Uma aposta forte no bem-estar animal

EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE

O HN500, o modelo topo de gama, analisa a nutrição (beta hidróxido de butirato), a reprodução (progesterona) e as mamites (lactato desidrogenase). O modelo HN100, adquirido por esta exploração, analisa apenas a reprodução, através de um algoritmo que otimiza o número de amostras necessárias para acompanhar, com precisão, o ciclo reprodutivo da vaca. A principal vantagem deste sistema, como explica Ana Paiva, técnica Harker XXI, comparando com os sistemas convencionais de deteção de cios (medidores de atividade...), "é permitir perceber, com antecedência, se o animal vai entrar em cio. Os sistemas convencionais estão baseados no aumento de estradiol mas, antes deste, aumenta a progesterona (cerca de 48 horas antes de a vaca entrar em cio), o que permite com maior antecedência definir a altura certa de inseminar. Se a vaca ficar gestante, o nível de progesterona mantém-se alto, caso contrário, baixa." O HN100 permite também detetar quistos foliculares, cios e abortos, mas não exclui a necessidade de acompanhamento do médico veterinário. As análises são feitas através de reagentes, cujo custo por vaca ronda 60 €/vaca/ano. "Em comparação com os detetores de cio convencionais (acelerómetro), que custam 150 €/vaca e duram 10 anos, a diferença estará em

45 €, mas os acelerómetros não são tão rigorosos nem detetam os quistos, nem os abortos", explicou Ana Paiva. O custo do laboratório é de 12000 €. OPTIDUO STD - O SISTEMA AUTOMATIZADO DE RECOLOCAÇÃO DE ALIMENTO DA MANJEDOURA

O Optiduo é um robot que mistura o alimento depositado na manjedoura, empurrando-o simultaneamente para que fique ao alcance das vacas. O arejamento do alimento torna-o mais apetecível pelas vacas. A mistura é feita por um sem-fim que roda sempre para a direita e para fora, garantindo que qualquer objeto que esteja na manjedoura não entra para dentro da zona do sem-fim. Desta forma, evitam-se acidentes com animais ou objetos que apareçam pela frente. Carlos Manuel, técnico da Harker XXI, falou-nos sobre as vantagens deste equipamento, cujo preço ronda os 23900 €. Qual é a expetativa do produtor que compra o Optiduo? Já não precisa de perder tempo a empurrar o alimento para a manjedoura. Por outro lado, pode fazer menos unifeeds, sem perder a qualidade da mistura.

Optiduo STD: o sistema automatizado de recolocação do alimento da manjedoura.

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Pode também esperar maior produção de leite porque, com este sistema, a cada duas horas o alimento está a ser empurrado para junto das vacas, não acontecendo aquilo que por vezes se passa nas vacarias em que os animais não chegam ao alimento. Este robot também permite distribuir ração (kg/metro percorrido). Como “navega” o Optiduo? Desloca-se através de uma linha de indução que está no solo, e tem 4 pistas para percorrer. Parte da pista exterior e, a cada volta que dá, vai passando para a pista seguinte, aproximando-se da manjedoura. Pode ser programado para passar pela manjedoura até 10 vezes por dia. Tem uma navegação adaptativa, ou seja, se encontrar pela frente um monte de alimento maior, passa para a pista exterior seguinte para empurrar o alimento para dentro, e depois volta à pista em que se encontrava. Isto poupa as baterias, porque permite adaptar-se à velocidade que tinha prevista. O produtor pode escolher o número de pistas em que pretende que robot trabalhe. Um produtor que faça 2 unifeeds por dia, provavelmente não utiliza todas as pistas. Sempre que o robot se desvia alguns centímetros da linha de indução, imobiliza-se.


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Da esq. para a dta: Carlos Magalhães, Deolinda Magalhães, Nuno Magalhães e Fernando Magalhães; Júlio Ribeiro, Carlos Manuel e Ana Paiva (Harker XXI).

COMO TUDO COMEÇOU

A exploração Agrocartucho fica na localidade de Calvelo, no concelho de Ponte de Lima. Pertence à família Magalhães há 3 gerações e continua hoje pela mão de Carlos, com a ajuda do seu sobrinho, Fernando, e o apoio técnico do seu irmão, Nuno. A aprendizagem do negócio de produção de leite começou há 50 anos com “meia dúzia” de animais ordenhados numa sala coletiva, que complementavam o negócio de gado da família. Quando o efetivo aumentou, adquiriram a primeira ordenha própria. Corria então a década de 90 e entrava para o negócio o filho mais velho, Carlos Magalhães, na altura estudante na Escola Profissional de Ponte de Lima. Em 1995, equipam a vacaria com tapetes, cubículos e algumas máquinas, e continuam a aumentar o número de vacas; até que 2002, já com 60 animais, compram a sala ordenha que se manteve até à aquisição dos robots, no início deste ano. A entrada recente de Fernando Magalhães para o negócio, levou a novos investimentos, para permitir uma gestão mais eficaz e modernizada. Fernando terminou a sua formação em engenharia agrícola e decidiu dedicar-se em exclusivo à atividade da exploração com o seu tio. Nasce então o projeto da nova vacaria.

OUTROS EQUIPAMENTOS EQUIPAMENTOS HIGH INSTALADOS PERFORMANCE • Tanque 12.000 litros com T200 controlo de refrigeração; • 2 robots VMS V310; • Unifeed Neon Plus 12M3; • Herd Navigator HN100; • Escovas rotativas pendulares DeLaval; • Câmara com tecnologia • Silo em fibra para ração 18m3/10000 kg e linha “InSight”; sem-fim 75; • Tetina totalmente separada • Sistema de aleitamento Combi CF1000 para vitelos; tecnologia “PureFlow”; • Sistema de ligação remota RFC • Logetes para vacas Euro BP dupla cabeça/cabeça; • Tapete para cama de vacas DeLaval M40R; tecnologia “InControl”; • Cornadis Safety (mód. 7 lugares /5 m); • Sistema de gestão de rebanho • Ventiladores CMP 7M com caixa comando e variador “Delpro”; 5.5Kw; • Sistema de deteção de cios • Sistema de refrigeração das vacas “Cow Cooling” com “AM2”; ventiladores DDF1200; • Medidores de leite “MM27”, 4, • Conjunto de 5 portões Vervaeke com sistema manual ordenha real por quartos; para do topo da vacaria; • Optiduo STD, Sistema • 4 Lâmpadas CL6000 com sensor e caixa de controlo; automatizado de recolocação • Termoacumulador 500 litros; de alimento da manjedoura; • Parque de espera com portas elevatórias com sistema de • Permutador de placas comando à distância e portas separadoras de 2 vias. BMPR 37.

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DADOS DA EXPLORAÇÃO Nome exploração

Agrocartucho

Localização

Calvelo, Ponte de Lima

Efetivo

211 animais

Raça

Holstein

Nº de vacas em ordenha

95

Taxa de reposição de novilhas

100%

Produção total de leite da vacaria/ano

900.000 litros

Nº de ordenhas por vaca/dia

3

Nº de lactações médias das vacas

2,1

Gordura bruta média do leite

3,7%

Proteína bruta média do leite

3,25%

Nº de células somáticas

135.000

Idade média ao 1º parto

24 meses


De acordo com um estudo de campo, 28% das vacas sofre de cetose subclínica, com a consequente redução da quantidade e qualidade do leite produzido1,2,3

Menos cetose. Mais leite

4,5

A medição de BHBA em amostras de Controlo Leiteiro, permite aferir os resultados do maneio dos problemas metabólicos e da cetose.4, 5 Também pode utilizar o Keto-Test para implementar um programa de monitorização da cetose na sua própria exploração.

RECARREGA ENERGIA

A cetose subclínica é uma doença metabólica subtil, que tem consequências negativas na produção de leite e na reprodução: menos 411 litros de leite3 e uma redução de 20-50% na taxa de conceção à primeira inseminação6. Como prevenir a cetose? Com os dados do Controlo Leiteiro de BHBA4,5, ou com o Keto-Test7 poderá monitorizar a cetose na sua exploração, e com o seu médico veterinário poderá definir o programa que melhor se adapte às suas necessidades. A Elanco, com os seus produtos e serviços, ajuda-o a ter um período de transição com êxito: vacas saudáveis, mais produtivas e mais férteis. 1. Bach A., Andreu C., 2016. «A field study about incidence, risk factors, and consequences of ketosis in dairy cattle”. World Buiatric Congress, Dublin, July 2016. | 2. Vanholder T. et al., 2015 “Risk factors for subclinical and clinical ketosis and association with production parameters in dairy cows in the Netherlands” J. Dairy Sci. 98 :880–888 | 3. Ospina P. et al. 2010. «Association between the proportion of sampled transition cows with increased nonesterified fatty acids and β-hydroxybutyrate and disease incidence, pregnancy rate, and milk production at the herd level” J. Dairy Sci. 93 :3595–3601 | 4. Viña C. et al., 2017. “Study on some risk factors and effects of bovine ketosis on dairy cows from the Galicia region (Spain)” Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition 101 (2017) 835-845. | 5. Guadagnini et al., 2019 Prevalence and risk factors associated with ketosis detected in dhi control samples in catalonia. XXIV Congreso Internacional Anembe de Medicina Bovina Sevilla 22 Mayo 2019. | 6. Walsh R. B. et al., 2007. “The Effect of Subclinical Ketosis in Early Lactation on Reproductive Performance of Postpartum Dairy Cows”J. Dairy Sci. 90:2788-2796. | 7. Carrier J. Et al., 2004 “Evaluation and Use of Three Cowside Tests for Detection of Subclinical Ketosis in Early Postpartum Cows” Journal of Dairy Science Vol. 87, No. 11, 2004. Keto-test tem o número de registo AV: 348/00/12PUVPT. Keto-Test, Elanco e a barra diagonal são marcas registadas de Elanco ou suas filiais. ©2019 Elanco Animal Health, Inc. ou suas afiliadas . PM-PT-19-0070

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AGRICULTURA REGENERATIVA

"O TRUQUE DO MANEIO ESTÁ NO EQUILÍBRIO"

NA HERDADE DE SÃO LUÍS, NA SERRA DE MONFURADO (ÉVORA), OPERA UM PRODUTOR PORTUGUÊS DE REFERÊNCIA DE PORCO ALENTEJANO. FRANCISCO ALVES, GESTOR DA EXPLORAÇÃO QUE A RUMINANTES VISITOU EM MARÇO PASSADO, MOSTROU-NOS COMO TEM IMPLEMENTADO O SISTEMA EXTENSIVO DE MANEIO REGENERATIVO PARA GARANTIR A CONTINUIDADE DA SAÚDE DOS SOLOS DA HERDADE. Fotos FG 016


"O truque do maneio está no equilíbrio"

AGRICULTURA REGENERATIVA

Francisco Alves, gerente da empresa Porcus Natura.

É

POR ANDRÉ ANTUNES Agricultor, Consultor Agrícola e Médico Veterinário chaoricolares@gmail.com Instagram.com/chao.rico.colares

na Ermida de São Luís da Mogueira, Serra de Monfurado, no concelho de Évora, que fica a Herdade de São Luís. Na paisagem circundante predomina o montado de sobreiros e azinheiras, embora a herdade compreenda também "cerca de 50 ha de áreas mais limpas, das quais 25 ha são de regadio", como nos explicou Francisco Alves: "É uma herdade agrossilvopastoril, com muita biodiversidade e algumas linhas de água. Temos também atividade cinegética. A herdade está na nossa família há 5 gerações e eu trabalho lá desde os 20 anos. Quando comecei, o 017

meu pai tinha 300 vacas e 200 porcas reprodutoras. Ao longo do tempo temos vindo a equilibrar as espécies, reduzindo algumas e aumentando outras." A empresa Porcus Natura, dedicada à criação e comercialização de porcos alentejanos, representa a atividade principal da exploração. Para além do porco alentejano, coexistem aqui outras espécies: gado bovino cruzado de Angus, ovinos Merina Preta e cabras Serpentina. Esta diversidade, diz Francisco, é indispensável para se conseguir implementar o sistema extensivo de maneio regenerativo, que acredita ser essencial para que o solo se mantenha produtivo.


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Para definir os parques de pastoreio, utilizam redes elétricas móveis.

Qual é o efetivo animal? Temos 250 vacas, 80 porcas reprodutoras da raça Alentejana, 100 cabras Serpentina e 50 ovinos Merino Preto. Os porcos, cabras e ovelhas estão todos inscritos no livro genealógico. Nas vacas temos cruzamentos de Mertolenga, Angus e BBB. Quantos empregados têm? Atualmente, temos apenas um, para além da colaboração de estagiários. Qual a atividade que lhe dá mais prazer na exploração? Depois de ter aprendido a trabalhar com as diferentes espécies, o que gosto mais é de observar e aprender a forma mais eficiente de obter resultados no contexto agrossilvopastoril do montado. Como é um dia típico na herdade? Começa por uma volta às 4 espécies de animais que temos aqui, para ver se está tudo bem: os brincos de nascimentos, as parições, etc. Depois, começamos a fazer os parques para o dia seguinte. Rodamos todas as espécies, no máximo, de 2 em 2 dias.

Qual é o tipo de maneio geral entre todas as espécies? A vaca, que é o maior herbívoro e o mais eficiente, vai para as áreas mais abertas e produtivas. Ajuda-nos a andar mais rápido e a ter maior impacto em terreno aberto. Utilizamos sempre a vaca à frente. Os porcos têm um maneio muito específico, na altura da montanheira andam em áreas mais abertas para aproveitar melhor a bolota, e utilizamo-los como ferramenta específica de pré-sementeira ou distúrbio no solo. As cabras andam atrás das vacas, em zonas com infestações de silvas ou outras arbustivas, para limpar e ajudar à sucessão para pastagem nova e a prevenir os fogos; nas linhas de água controlam algumas espécies de árvores e arbustos, sem as eliminar, ajudando a segurar as margens.

herdade, pareceu-me fazer muito sentido introduzir as cabras. São uma ferramenta essencial, especialmente nas zonas muito fechadas e com elevada densidade de árvores e plantas arbustivas, dado que nós escolhemos não utilizar mobilização profunda dos solos, nem herbicidas. Sempre tivemos aqui um bom renovo de sobreiros e azinheiras, mas a qualidade da pastagem estava a diminuir. Com as cabras, percebi que podemos contrariar convenientemente essa sucessão menos desejada e, ao mesmo tempo, produzir mais quilos de carne e originar uma nova fonte de rendimento na exploração. Temos cabras há muitos anos, mas só recentemente começámos com este tipo de pastoreio dirigido. A paixão foi crescendo à medida que tudo se tornou mais fácil e os resultados foram óbvios e muito rápidos.

Como surgiu o interesse pelas cabras? Quando tomei conhecimento da Agricultura Regenerativa, apercebi-me de que os animais têm um papel muito importante no ecossistema. Tendo em conta as características da nossa

Que vantagens têm as cabras em relação às ovelhas? A cabra tem uma forma diferente de impacto de outra espécie qualquer. O ovelha é como uma vaca de menor dimensão, come principalmente erva, enquanto que a cabra procura ramos e

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"O truque do maneio está no equilíbrio"

AGRICULTURA REGENERATIVA

No dia de 1 de março, através de um projeto comunitário em conjunto com as organizações Climate Farmers e Volterra, foram plantadas na Herdade de S. Luís mais de 1000 árvores ao longo das cercas dos parques. As espécies selecionadas foram: amendoeiras, azinheiras, figueiras, laranjeiras medronheiros, macieiras, nogueiras, oliveiras, romanzeiras e sobreiros.

Quantos cabritos saem, em média, por parição? À volta de 1,3. Não porque tenhamos muita mortalidade, mas porque ainda estamos numa curva ascendente de seleção das cabras que tenham 2 cabritos. Os partos são naturais, por exemplo agora, em meados de março, temos os últimos da parição que começou há cerca de dois meses. Conseguem vender bem os cabritos pelo facto de terem mais idade? Para onde vendem? Até agora não temos tido problemas, conseguimos escoar tudo o que produzimos. Temos aumentado o efetivo a pouco e pouco, de acordo com a procura que temos deste tipo de cabrito com mais peso que o habitual. Trabalhamos com um talho que é nosso parceiro, para restaurantes e para o cliente final. Enquanto conseguirmos, não vendemos estes animais do modo tradicional.

folhagens para roer, plantas mais fibrosas e espinhosas. A cabra procura estas plantas 80% do tempo e só no restante come erva. Além disso, é mais ágil, pode saltar, trepar, subir. A ovelha tem o obstáculo da lã, logo, procura sítios mais abertos com o receio de ficar presa. Encontra dificuldade em fazer este tipo de planeamento de pastoreio adaptativo de parques múltiplos com as cabras? Temos que olhar para todas as espécies da mesma maneira. Normalmente o problema não está no animal, mas no tipo de maneio que fazemos. Nós trabalhamos com redes elétricas de 1 metro de altura que qualquer cabra salta facilmente; o truque é estabelecer o equilíbrio entre a área dos parques, o número de animais e o tempo que passam em cada parcela. Deste modo, os animais mantêm-se calmos dentro do espaço em que pretendemos produzir o impacto. Se respeitarmos os períodos naturais dos animais pastoreio, amamentação, ruminação — e os movermos para um novo parque com

alimento abundante, na altura certa, eles vão entrar com voracidade e vão querer comer outra vez. É a rotina, e o equilíbrio entre descanso e atividade, que é necessário atingir, para que tudo corra bem. Como é o maneio reprodutivo das cabras? A raça Serpentina tem aptidão mista, mas como neste caso é só para produção de carne, o maneio é muito simples, especialmente para o impacto incisivo e dirigido como pretendemos. Temos o rebanho todo junto e evitamos vender animais muito jovens, para que eles permaneçam o maior tempo possível na exploração, para termos mais carga de impacto. Pela mesma razão, melhoramos a sua qualidade de vida, para além de obtermos uma carne mais saudável e de maior qualidade. Os machos estão todos juntos. Não fazemos desmame, os cabritos mamam na mãe até quererem, o que evita problemas de mamites, já que as mães secam naturalmente. Com que idade vende os cabritos? Entre os 6 e os 8 meses. 019

Quais são, na sua opinião, os maiores obstáculos do produtor pecuário em Portugal, nomeadamente no domínio da Agricultura Regenerativa? Diria que se devem separar os mundos da produção e da comercialização. Há um caminho a percorrer, num e noutro, para se ganhar experiência e conseguir obter o valor acrescentado neste tipo de produto. Ao nível da produção, é muito mais fácil, eficiente e barato produzir com o maneio regenerativo, não existem tantos custos associados e conseguem-se obter melhores margens. Porém, apesar de nos últimos 50 anos ter havido uma evolução tecnológica na agricultura, esta não foi acompanhada pela evolução da gestão do pastoreio. Por exemplo, existem cercas e redes eléctricas excelentes, mas temos falta de conhecimento em como dirigir os animais da forma mais correta para servir o contexto. Aconselho os produtores a fazerem experiências, verão que de um dia para o outro as coisas mudam para melhor e não quererão voltar atrás. O pastoreio extensivo tradicional é mais ineficiente a vários níveis. O obstáculo inicial para produzir com o maneio regenerativo é a ideia de que há que fazer parques todos os dias e mover os animais. No nosso caso, com a mão de obra que temos disponível, damos a volta às espécies todas e ficamos com o resto do dia livre para outras atividades. Como temos as diferentes espécies em grupos


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únicos, movemo-las mais rapidamente, e se percebemos que existe algum problema, intervimos de imediato. Além disso, este maneio é favorável ao crescimento da erva e à saúde dos animais. Os animais nascem todos no campo, nunca estão debaixo de telha. Havendo abertura regulamentar e legislativa, vê os matadouros móveis como uma vantagem? Sim, claro. Uma das coisas difíceis de gerir com este maneio é o abate e o processamento de lotes pequenos. Com um matadouro móvel passando perto das explorações com regularidade, teríamos animais prontos para abater a cada 2 meses. Isto aumentaria a nossa rentabilidade, o bem-estar animal e a qualidade da carne. Se os resíduos ficassem na exploração, ainda seria melhor. Teve dificuldades no desenho e implementação da rede de abeberamento para os animais? É necessário ter cuidado com essa parte. Já tínhamos água em todas as cercas convencionais com 50-70 ha. Usamos um bebedouro móvel para conseguir levar água a todas as partes da parcela. Como podemos fazer as formas que quisermos com as redes elétricas móveis, conseguimos chegar aos pontos de água, usando a imaginação. Outra técnica é ir avançando a linha da frente do fio elétrico, não fechando atrás e deixando o bebedouro no início. Desde que não haja recrescimento forte para trás — falamos de 3 ou 4 dias —, os animais continuam a comer para a frente, não fazem sobrepastoreio e voltam sempre para beber água. Passados esses dias, passam-se para um novo parque para dar descanso ao último. Ao nível dos cuidados veterinários, imagino que tenha havido uma diminuição drástica das despesas... O maneio é o mais importante, um solo cada vez mais saudável leva a animais mais saudáveis e a menos problemas e necessidade de intervenção. Com o maneio tradicional, sem rotação ou com rotações muito lentas como faziam antes, tinham mais problemas? Sim, no porco notámos muita diferença. Desde o momento que os animais fazem rotações e não ficam na mesma cerca muito tempo, deixou de haver problemas. Tinhamos um plano profilático muito

pesado. Hoje em dia não aplicamos ou damos nada. Fazem algumas desparasitações? Também não. Não usamos ivermectina há muito tempo. Podemos sempre fazer colheitas coprológicas e, se houver algum caso esporádico, tratamos isoladamente ou refugamos. Não temos qualquer feedback negativo dos matadouros. Nos ovinos e caprinos vamos também fazendo uma seleção para animais cada vez mais adaptados a esta alimentação sem suplementos, o que tem levado a animais mais resilientes, de porte mais pequeno mas muito robusto. As rotações rápidas em que os parques têm períodos de repouso prolongados sem animais, juntamente com o pastoreio multiespécies, ajudam a quebrar os ciclos dos parasitas. Sim, por exemplo, no caso da Fasciola, conseguimos planear as rotações para evitar colocar animais nas zonas mais alagadas onde existe o caracol que transporta o parasita. Como estão os pastos depois deste inverno tão seco? Temos planeados tempos de recuperação longos. Estamos em março e já há mais de um mês que não damos comida à mão a qualquer tipo de animal. O mês de dezembro foi duro, tivemos que dar comida à mão mais cedo, embora isso tenha sido estratégico para poder dar mais descanso aos parques e agora ter crescimento. Num ano normal, com este longo período de descanso, a erva estaria agora com o dobro da altura. Que culturas anuais forrageiras costuma fazer? De inverno, fazemos misturas de trevos, vicias e azevéns. De verão, misturas com erva do sudão, grão, etc. E outras, como por exemplo abóbora, para alimentar os porcos. O objetivo é criar misturas para ajudar a melhorar o solo e desbloquear alguns nutrientes. Faz sementeira direta? Sim, e em zonas e situações específicas usamos os porcos para uma passagem de pré-sementeira. Teve consultorias com o Ademir Calegari e com o Ben Taylor-Davies. Como foi este contacto com “pesos020

pesados” da Agricultura Regenerativa mundial? Foi muito positivo. São duas pessoas com muita experiência, muitos anos de trabalho em contextos distintos. Chegamos à conclusão que queremos todos chegar ao mesmo destino, com ferramentas diferentes. O que me ajudou muito foi perceber que temos um potencial produtivo muito maior do que pensamos. Só temos é que promover as boas práticas e eliminar as más. Mesmo com solos muito pobres e degradados, é possível melhorar, utilizando as ferramentas certas para obter maior eficiência e produção. Já faz pastoreio dirigido, mas disse-me que vai começar a usar uma tabela de pastoreio. De que tipo? Vou usar o modelo do Allan Savory, o Pastoreio Holístico Planeado. É uma ferramenta muito útil para perceber o trabalho que queremos fazer com as 4 espécies, como está a responder o pasto ao pastoreio que estamos a fazer e a previsão do pastoreio que queremos fazer no futuro. Assim, podemos olhar para o passado e planear melhor o futuro com essa informação. O que acha do EOV (Ecological Outcome Verification) do Savory Institute? O EOV é essencial para termos uma base mais científica dos resultados deste tipo de pastoreio. Se queremos caminhar numa certa direção, a base do EOV ajuda-nos a perceber e tratar melhor os dados. É muito importante poder descrever o que tínhamos antes, onde estamos e a estimativa de para onde vamos. Além disso, dá-nos informação da biodiversidade que vamos ganhando com esta gestão do pastoreio. Como vê o futuro da Herdade de São Luís? O futuro é caminhar para um equilíbrio entre as 4 espécies que temos. Queremos continuar a aumentar os efetivos de cabras e ovelhas, mantendo o número de vacas e porcos. Ou seja, tornarmo-nos mais eficientes com o mesmo número de hectares, utilizando ferramentas diferentes. Outro objetivo que temos é chegar cada vez mais com os nossos produtos ao cliente final e colocá-los na restauração conseguindo um valor acrescentado. Mais informações em: https://www.instagram.com/ herdadesluis_porcusnatura/ https://pt-pt.facebook.com/porcusnatura/


Melhorar a infiltração e retenção de água nos solos

AGRICULTURA REGENERATIVA

MELHORAR A INFILTRAÇÃO E RETENÇÃO DE ÁGUA NOS SOLOS Por André Antunes, Agricultor e Médico Veterinário

HÁ UNS ANOS APANHEI UMA FRASE SOLTA DO GABE BROWN*, QUE ME FEZ POR FIM COMPREENDER A IMPORTÂNCIA DE O SOLO ESTAR PREPARADO PARA “RECEBER” A CHUVA. Dizia ele algo, como: “Quando cai uma tromba de água na minha zona e vejo as minhas barragens e charcas vazias, ao contrário das dos meus vizinhos que estão cheias, fico contente porque sei que a água está no sítio certo”. Verifiquei a taxa de infliltração dos seus solos (200 mm/h!), ao fim de 20 anos de aplicar técnicas de agricultura regenerativa nos seus 700 ha. Diz ele: “O mais importante não é a quantidade de chuva que cai, mas sim a que consegues reter”. Os solos que Gabe começou a trabalhar há mais de 20 anos têm hoje em dia um teor médio de 6,1% de matéria orgânica. Começaram com 1,6%. Numa zona de clima difícil, onde só chovem 430 mm em média por ano e os invernos têm temperaturas mínimas abaixo de -10ºC. Um solo sem compactação e com percentagens de matéria orgânica altas é muito resiliente à seca. A descompactação de um solo começa na parte química com a correção dos excessos de principalmente Mg ou K; depois pela parte física, sendo necessário quebrar o calo de lavoura com um subsolador e técnica apropriados; e finalmente pela parte biológica, com a instalação de plantas com raízes profundas e pivotantes que ocupam as brechas criadas. Porque é que a mobilização cria solos pouco resistentes à seca? Um solo saudável não mobilizado ou pouco mobilizado mantém intactos os agregados que possibilitam que a água percole (se desloque a camadas mais profundas, lentamente), em vez de se perder. Percebemos que um solo é saudável, com

os ciclos da água e nutrientes funcionais, quando funciona como uma esponja que absorve e retém a água, recarregando os aquíferos lentamente e reciclando e libertando os nutrientes nas proporções ideais, conforme o coberto vegetal necessita. O uso frequente, com maneio correto, de culturas de cobertura é essencial. Há espécies de folha larga que protegem o solo, diminuindo a evapotranspiração (e.g. chicória, trigo sarraceno). Outras, de raiz aprumada e profunda que descompactam e reciclam nutrientes (e.g. nabo, rábano), algumas com extensos sistemas radiculares que criam muita biomassa no solo e bombeiam exsudados ativamente (e.g. aveias, erva do sudão) e outras. O importante é incluir uma ou mais espécies de, pelosmenos, 4 grupos (gramíneas, leguminosas, brássicas e herbáceas de folha larga), observar, tirar conclusões e adaptar. A implantação e favorecimento de perenes, quando possível, aumenta ainda mais a resiliência ao stress hídrico. Quando chega a altura de enfardar ou pastorear, aquele resíduo deixado a mais, que parece um desperdício não aproveitar, pode vir a ser um extraordinário investimento no capital solo, valendo, no futuro, muitas vezes, o valor da perda instantânea. O favorecimento do microbioma do solo, nomeadamente quando falamos de associações micorrízicas, é também essencial porque aumenta a superfície de absorção das plantas e otimiza a obtenção de nutrientes nas formas e proporções corretas, diminuindo as necessidades hídricas. Como se consegue isto? Fazendo sementeira direta, evitando aplicações de fósforo desnecessárias, eliminando ou reduzindo o uso de herbicidas e fazendo 021

aplicações de inoculantes microbiológicos de espécies nativas como, por exemplo, recorrendo à técnica de compostagem Johnson-Su. Podem também usar-se metodologias de desenho hídrico da paisagem como o “Keyline Design” inventado em 1954 pelo australiano P.A. Yeomans. Esta é uma técnica que visa otimizar a utilização dos recursos hídricos de uma paisagem. A "linha-chave" denomina uma característica topográfica específica relacionada com o fluxo natural da água. Por fim, o uso do impacto animal tem uma importância enorme, especialmente em zonas mais secas de pastos naturais. Utilizado em manadas compactas de elevada densidade animal instantânea por parcela, durante períodos curtos seguidos de períodos de repouso longos sem animais, com uma planificação de pastoreio apropriada – permite uma melhoria no ciclo da água no solo, por exemplo, quebrando o encrustamento superficial que naturalmente se forma nestes climas e ajudando a incorporar a matéria orgânica dos resíduos vegetais e bostas no solo. Com todas estas técnicas na caixa de ferramentas, o segredo é compreender quais as que se adequam melhor ao seu contexto e perceber quando e como aplicá-las, para melhorar a infiltração e retenção de água nos seus solos. Às vezes, só fazendo experiências se consegue chegar a conclusões, por isso não tenha medo de errar, nem que seja em pequena escala. Parafraseando, de novo, o nosso amigo Gabe Brown: "Se eu não falhar em algo todos os anos, não estou a tentar coisas novas suficientes". * Gabe Brown é um dos pioneiros da agricultura regenerativa. É agricultor e gere a sua exploração diversificada com cerca de 2.000 hectares no estado de Dakota do Norte, EUA.


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AGRICULTURA REGENERATIVA | ALEJAB • SAVORY NETWORK

O QUE É O PASTOREIO HOLÍSTICO PLANEADO? Adaptado e traduzido por André Antunes, Agricultor e Médico Veterinário | info@alejab.net | Foto FG

PODE DEFINIR-SE O O PASTOREIO HOLÍSTICO PLANEADO COMO UMA METODOLOGIA QUE AJUDA A ASSEGURAR QUE O GADO ESTÁ NO LUGAR CERTO, NA ALTURA IDEAL, COM O COMPORTAMENTO CORRETO. PRINCÍPIOS-CHAVE 1. Reduzir ao menor número possível os grupos de animais. Assim obtém-se a melhor relação de recuperação pastoreio/ planta (períodos de pastoreio mais curtos e intensos e períodos de recuperação mais longos). Quando os animais são concentrados num grande rebanho, a maioria dos locais só terá gado presente durante 10%, ou menos, do tempo. 2. Planear tempos de recuperação das plantas, antes de planear tempos de pastoreio. Esta é uma razão pela qual é necessário construir uma tabela de pastoreio, no início de cada ano ou época de crescimento.

3. Densidade máxima por tempo mínimo. Animais que permanecem juntos em manada são mais eficazes a desincrustar a superfície e incorporar matéria orgânica no solo com os cascos. A distribuição do estrume e urina vai também ser mais homogénea. Animais dispersos em grandes superfícies não produzem estes efeitos. 4. O sobrepastoreio ocorre sobre plantas individuais e relaciona-se com o tempo em que os animais estão presentes e não com o número de animais que existem ao todo. O sobrepastoreio ocorre normalmente em três alturas diferentes: - quando as plantas são expostas aos animais durante demasiados dias, e os animais estão por perto para voltar a comê-las quando estas tentam crescer de novo; - quando os animais se afastam, mas regressam demasiado cedo e voltam a comer as plantas enquanto estas ainda estão a utilizar a energia armazenada para reformar as folhas; - imediatamente após a dormência, quando nas plantas estão a crescer novas folhas a partir da energia armazenada. 022

5. Calcular o Encabeçamento (número total de animais) com base no total de forragem disponível e o tempo de duração para evitar o sobrepastoreio. Embora saibamos agora que o sobrepastoreio de plantas não está relacionado com o número de animais, mas sim com o tempo em que os animais estão presentes, o Encabeçamento continua a ser um conceito útil. Juntase a este a Capacidade de Suporte Forrageiro que corresponde ao número de animais que determinada exploração pode alimentar com base na forragem disponível durante a época de crescimento e de não crescimento, acrescida de um mês (Reserva de Seca). O encabeçamento para a época de crescimento é calculado com base nos DAH (dias-animal/hectare) estimados, nas previsões meteorológicas e no histórico passado de produção. 6. A Reserva de Seca é planeada como reserva de tempo e não como área de pastagem. Tradicionalmente, áreas de pastagem são deixadas por pastorear como reserva, ou seguro, contra anos secos. No entanto, esta é uma prática arriscada. Reduz a produtividade animal em anos médios ou melhores, porque há


O que é o Pastoreio Holístico Planeado?

AGRICULTURA REGENERATIVA

menos forragem disponível e aumenta a propensão para incêndios em zonas mais secas. Para maximizar a produção em cada ano e distribuir a "reserva de seca" pela maioria do terreno, reservamos dias de pastagem distribuídos pela maior parte ou pela totalidade do terreno disponível. 7. Planear numa tabela de pastoreio. A tabela de pastoreio fornece uma imagem clara de onde o gado precisa de estar e quando, e isto determina como os gestores planeiam os seus movimentos para trás ou para a frente. É também essencial para monitorizar e ajustar, ou controlar, o plano. Se for necessário, ajustar os períodos de pastagem na época de crescimento, o efeito nos períodos de recuperação das plantas em todas as divisões de pastagens do terreno deve ser fácil de ver. Isto é muito difícil de perceber se não se utilizar uma tabela. 8. Definir um plano na tabela para a época de crescimento antes do início do crescimento principal. O objetivo deste plano é cultivar a quantidade máxima possível de forragem durante a

época de crescimento, para que os animais tenham o suficiente para comer durante todo o ano e para que as plantas não sejam sobrepastoreadas. 9. Definir um plano na tabela para a época de não crescimento, assim que a erva pára de crescer. O objetivo deste plano é preparar o solo e as plantas para o próximo período de crescimento e racionar a forragem restante durante os próximos meses - até um mês ou mais depois de se esperar que o crescimento principal comece. Este "mês ou mais" adicional torna-se a reserva de seca a ser utilizada se a próxima estação de crescimento começar mais tarde. Nota: Em regiões onde toda a estação de crescimento pode durar apenas um mês, ou onde existem duas estações de crescimento com um período de chuvas curto e outro longo, um gráfico de pastoreio é normalmente prolongado por dois anos. 10. Monitorizar o plano. Nunca nada ocorre exatamente de acordo com

o plano. O que se espera que aconteça, raramente se concretiza totalmente. Assim, o planeamento é sempre um processo de planeamento, monitorização, controlo/ajuste e replaneamento se necessário: • Monitorização das taxas de crescimento diárias das plantas. • Monitorização ambiental ao nível de paisagem. 11. O Pastoreio Holístico Planeado é um processo e não uma receita. Não há dois anos iguais, a terra muda todos os anos e o clima também. As pessoas envolvidas também mudam, assim como a economia e a sociedade à sua volta. Assim, seguindo apenas uma receita e pastoreando o mesmo local ao mesmo tempo e da mesma maneira, ano após ano; movendo animais a melhores pastos de cada vez; ou simplesmente deixando-os vaguear, não permitirá aos gestores melhorar muito as suas terras. Tal abordagem é atraente, no entanto, porque seguir uma receita parece muito mais fácil do que planear para toda a complexidade.

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SAÚDE E BEM-ESTAR | OVINOS

AS PRINCIPAIS CAUSAS DE ALTA MORTALIDADE EM BORREGOS

OS BORREGOS MAIS FRÁGEIS NECESSITAM DE AJUDA EXTRA. A INGESTÃO RÁPIDA DE ENERGIA E IMUNOGLOBULINAS É VITAL PARA GARANTIR A SUA SOBREVIVÊNCIA.

A

TANJA KRÄGELOH Product Management Biochem

JOÃO MARIA BARRETO Technical Sales Manager Ibéria Biochem barreto@biochem.net

taxa de mortalidade em borregos continua a ser alta, até 15% ou mesmo mais, e as tentativas para reduzi-la são muitas vezes inconsistentes. O primeiro dia de vida é o mais crítico: até 50% da mortalidade em borregos antes do desmame pode ocorrer nas primeiras 24 horas de vida! Como tal, há que evitar os fatores de risco e definir estratégias adequadas de forma a conseguir um período de sucesso após o parto. Quais são as principais razões para a mortalidade dos borregos? 1. Dificuldades ao nascimento 2. Rejeição do borrego por parte da ovelha 3. Doenças infeciosas 4. Malformações congénitas Quais os fatores de risco que podemos definir? Existem vários fatores de risco que influenciam essas causas de morte. O peso 024

dos borregos ao nascimento é um fator importante, que pode ser influenciado pela alimentação das ovelhas no período pré-parto. Pesos elevados ao nascimento, ou partos múltiplos, podem resultar em problemas no parto por uma falta grave de oxigénio. Lesões cerebrais causadas por hipoxia afetam o comportamento dos borregos, que deixam de ser capazes de ficar de pé, de mamar ou de vocalizar. Além disso, a gestão da sanidade da exploração, rotinas de vacinação e alojamento afetam de forma significativa a pressão dos agentes patogénicos e o risco de doenças infeciosas. Logo após o nascimento, os borregos podem estar sujeitos a baixas temperaturas e, como tal, é fundamental que consigam regular a sua temperatura corporal, o que poderá ser difícil pois são bastante pequenos. Os borregos recém-nascidos mantêm a temperatura corporal utilizando as reservas energéticas provenientes da gordura corporal e, também, pelo aumento da atividade muscular por meio


As principais causas de alta mortalidade em borregos

SAÚDE E BEM-ESTAR | OVINOS

de tremores. A quantidade das reservas de gordura corporal vai depender do peso dos borregos ao nascimento, o que está diretamente relacionado com a alimentação da ovelha no período préparto. Consegue-se assim perceber a importância do maneio alimentar das ovelhas gestantes, pois a sua alimentação vai influenciar diretamente a mortalidade neonatal dos borregos. No período pré-parto, a transferência de anticorpos da ovelha para o borrego não é possível, devido à estrutura da placenta. A transferência da imunidade faz-se pela ingestão do colostro nas primeiras horas de vida. O sucesso da transferência da imunidade passiva (anticorpos maternos) depende principalmente do tempo que medeia entre o nascimento e a primeira ingestão do colostro e também da sua qualidade. Os borregos com reduzida capacidade de mamar, por incapacidade de ficar de pé logo após o nascimento ou por dificuldade em mamar por causa de ovelhas assustadas ou inexperientes, podem ficar com uma reduzida capacidade de adquirir uma imunidade passiva adequada. Considerando que cerca de 20% das ovelhas produzem um colostro de baixa qualidade (<50 g/l de Imunoglobulina G) e que ovelhas com partos múltiplos geralmente apresentam baixa qualidade do seu colostro, a procura por uma alternativa eficaz é normal. Como ajudar os borregos da melhor maneira? Para garantir um peso ideal dos borregos ao nascimento, deve ser fornecida uma dieta equilibrada às ovelhas ( figura 1).

Os borregos pequenos têm dificuldade em manter a sua temperatura corporal, enquanto os borregos mais pesados têm um maior risco de distócia. A ecografia, como ferramenta de avaliação do número de fetos gestantes e da pontuação da condição corporal, pode ajudar a adaptar a dieta das ovelhas. A figura 2 recomenda como agir se os borregos nascerem fracos ou com uma temperatura corporal baixa. A hipotermia dos borregos deve ser evitada fornecendo abrigo, isolamento e reduzindo o tamanho do grupo. Grupos pequenos também podem ajudar a melhorar a ligação entre borrego e ovelha, para que seja possível uma amamentação precoce. Além disso, é muito importante a ingestão adequada de colostro, pois as consequências de uma ingestão insuficiente são vastas, como o aumento do risco de hipotermia e a suscetibilidade a agentes patogénicos. Pelo menos 50 ml de colostro/kg de peso vivo devem ser ingeridos pelos borregos nas primeiras 18 horas de vida. Contudo, em locais onde a temperatura é baixa, essa quantidade pode aumentar até 280 ml/kg. Além disso, os borregos são expostos a diferentes microrganismos logo após o nascimento, alguns dos quais podem ser patogénicos. Se a pressão do agente patogénico for alta e a oferta de colostro for inadequada, o risco para o desenvolvimento de várias doenças é maior. A diarreia é o sintoma clínico mais comum na mortalidade neonatal em borregos e pode estar associada a uma falha na transferência de imunidade das ovelhas para os borregos. Contudo, por vezes, as rotinas de maneio das explorações são difíceis de alterar, apesar de todos os

FIGURA 1 ESTRATÉGIAS PARA UM PARTO BEM-SUCEDIDO

Nota: para consultar a bibliografia, contacte o autor.

FIGURA 2 COMO AJUDAR OS BORREGOS E CABRITOS MAIS FRACOS COM HIPOTERMIA ✓ Verificar a temperatura • Abaixo de 37º (hipotermia severa) • Entre 37ºC e 39ºC (hipotermia leve) ✓ Verificar a qualidade do colostro e garantir a sua ingestão ✓ Suplementar com colostro artificial, se necessário ✓ Secar e aquecer o borrego ✓ Se não conseguir manter a cabeça erguida: dar uma injeção de glucose ✓ Favorecer o desenvolvimento da microbiota intestinal

MANTER UMA BOA HIGIENE E EVITAR A HIPOTERMIA GARANTIR A INGESTÃO DE COLOSTRO DE BOA QUALIDADE LOGO APÓS O NASCIMENTO

esforços. Muitas vezes deparamo-nos com colostros de baixa qualidade, ou mesmo com a falta dele, devido ao tamanho das ninhadas. Estar preparado nestas alturas ajuda bastante. Existem diferentes maneiras de ajudar com suplementos alimentares, dependendo da situação da exploração: ✓ Pastas de fácil aplicação ricas em colostro bovino, energia, oligoelementos, vitaminas e prebióticos, que fornecem energia extra e imunoglobulinas (anticorpos); ✓ O substituto do colostro deve estar disponível na exploração para algum caso de emergência, ou seja, quando não houver colostro disponível; ✓ A qualidade do colostro deve ser verificada. Se a qualidade não for boa, o colostro precisa de ser melhorado com colostro artificial. Se forem usados substitutos, totais ou parciais, de colostro, não se pode apenas olhar para o nível das imunoglobulinas, mas também para a concentração de gordura que deve ser assegurada para evitar uma hipotermia. Estas concentrações são essenciais para um substituto de colostro, uma vez que os borregos e os cabritos apenas são capazes de ingerir pequenos volumes por toma (até 250 ml, dependendo do peso corporal). Devem ser administrados pequenos volumes por toma, sendo que se devem dar várias tomas por dia durante o primeiro dia de vida. Os pré & probióticos vão ajudar a desenvolver uma flora intestinal inicial, promovendo uma proteção contra os agentes patogénicos.

DAR UMA BOA ALIMENTAÇÃO ÀS OVELHAS GESTANTES VIGILÂNCIA E BOA ASSISTÊNCIA NO PARTO

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SILAGEM DE MILHO ENERGIA VS. FIBRA ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE LEITE

NA PRODUÇÃO DE LEITE DE VACA, A ALIMENTAÇÃO É UM PONTO FUNDAMENTAL A QUE DEVE SER DADA A DEVIDA IMPORTÂNCIA, UMA VEZ QUE TEM IMPLICAÇÕES AO NÍVEL PRODUTIVO, REPRODUTIVO E AINDA IMPACTO NA QUALIDADE DO LEITE. PARA ALÉM DESTAS, A ALIMENTAÇÃO PODE SIGNIFICAR 40 A 65% DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO DE UMA EXPLORAÇÃO LEITEIRA, EM QUE O IMPACTO DA SUBIDA DAS MATÉRIAS PRIMAS E O SEU APROVISIONAMENTO SE FAZEM SENTIR.

DIOGO RIBEIRO Eng. Zootécnico Técnico de Nutrição diogo.ribeiro@zoopan.com

SARA GARCIA Eng. Zootécnica Técnico de Nutrição sara.garcia@zoopan.com

S

endo a silagem de milho um dos principais alimentos utilizados para a produção de leite de vaca, ao longo deste artigo vamos descrever algumas das valorizações da qualidade de silagem de milho para a produção leiteira. A silagem de milho tornou-se um pilar da alimentação de vacas leiteiras, muito devido à sua simplicidade de cultivo (boas condições edafoclimáticas em Portugal), segurança alimentar e, principalmente, ao seu elevado valor nutricional a um preço competitivo. A qualidade da silagem de milho pode diferir, tendo em conta diversos fatores: a época de colheita, a maturação da planta aquando do corte, a composição química, o tamanho das partículas aquando da colheita, o processo de fermentação e a

conservação adequada. A avaliação da qualidade das silagens baseia-se na sua composição química e, essencialmente, no seu valor nutritivo. As silagens diferem entre si e existem diferenças significativas tanto em composição química, como em valor alimentar, que vão obviamente impactar as performances zootécnicas dos animais cuja dieta integra a silagem. Desta forma, será sempre necessário analisar a forragem, de modo a poder ajustar os planos alimentares. 32 - 33% MS NA PLANTA INTEIRA O teor em matéria seca (% MS) é um dos dados que é primeiramente analisado quando falamos de silagem. Este critério permite transformar os pesos do produto em bruto em rendimento, stock e quantidades distribuídas. A colheita da silagem de milho faz-se geralmente entre os 30 e os 35% de matéria seca da planta inteira, sendo que o compromisso ideal entre rendimento, digestibilidade das fibras e qualidade de conservação se situa entre 32 e 33% MS (gráfico 1). Uma colheita muito precoce não permitirá otimizar o rendimento e a silagem sofrerá perdas por escorrimento dos sucos, levando a uma ingestão mais baixa. Uma colheita tardia torna a silagem mais difícil de ensilar e pode comprometer a qualidade de conservação. 1. Grão leitoso - Milho com < 28 % MS: os grãos devem ser “tocados” para assegurar uma digestão correta; 2. Grão pastoso – Milho com 28 a 32 % MS: os grãos devem ser cortados para que o amido pastoso fique acessível através da digestão de bactérias do rúmen; 3. Grão vítreo – Milho com mais de 32 % MS: os grãos devem ser fracionados para otimizar a digestão. A matéria seca decompõe-se em matéria 028

orgânica e mineral (ou cinzas). A taxa média de cinza bruta deverá ser da ordem dos 4% MS. Se for superior a 6% MS, é sinal de contaminação com terra aquando da colheita, aumentando o risco de proliferação de bactérias butíricas e ainda de diluição do valor alimentar da silagem de milho. A DIGESTIBILIDADE DA FIBRA DIMINUI DE ACORDO COM O ESTADO DE MATURAÇÃO As fibras são um componente indispensável na dieta dos ruminantes que, dependendo das suas características químicas e físicas, podem interferir diretamente na digestão ruminal e, indiretamente, na qualidade do leite. Assim, as fibras representam uma parcela importante na qualidade da silagem de milho. As paredes vegetais representam essencialmente fibra. Estas formam o esqueleto de gramíneas e leguminosas com cadeias de celulose revestidas de hemicelulose e pectinas, com diferentes concentrações de lenhina (tabela 1). A celulose representa quase metade das paredes celulares dos vegetais, tendo estas diferentes digestibilidades. A hemicelulose e as pectinas têm diferentes origens, sendo estas facilmente digeríveis. Em relação à lenhina, esta aumenta com a idade da planta, fazendo aumentar a rigidez e diminuindo a digestibilidade da forragem. Todos estes componentes têm interações entre si. O teor em fibra pode ser medido de várias formas: fibra bruta (FB), NDF, ADF, ADL (tabela 2). Ainda em relação às fibras, no que diz respeito à ingestão e digestão, sabemos que estão ligados aos valores de NDF,


Silagem de milho - energia vs. fibra

ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE LEITE

ADF e ADL. Assim, sabemos que o valor da hemicelulose, alimento rapidamente digerível da forragem, é obtido da diferença de NDF e ADF. Da mesma forma, o valor de lenhina (ADL) é obtido subtraindo o ADF. Com isto, sabemos que o valor de NDF reflete a ingestibilidade dos alimentos, enquanto o valor de ADF ilustra a fibrosidade e digestibilidade. Um valor de ADF alto significa menor digestibilidade, devido à alta proporção de lenhina. No gráfico 2, pode comprovar-se que, para valores mais baixos de NDF, o valor de UFL será mais elevado, tendo por isso impacto na produção de leite. Conforme os valores de NDF vão aumentando, o teor de UFL (/Kg MS) vai diminuindo. O mesmo acontece com o ADF. Valores mais baixos de ADF representam um teor em energia superior na forragem, sendo por isso mais impactantes positivamente na produção de leite (gráfico 3). A digestibilidade da parede vegetal vai diminuindo conforme o estado de maturação da planta. Entre 33 e 38% MS, a digestibilidade da NDF diminui 4 pontos, o que equivale a perdas de produção de

leite na ordem dos 0,4 litros por vaca e por dia, para planos alimentares compostos por 45% de silagem de milho. É importante alcançar um mínimo de 17-18% de fibra bruta (em relação à matéria seca) nas dietas, em que 75% deverão ser aportados pelas forragens.

Analisando a correlação entre amido e UFL (gráfico 4), pode verificar-se que uma silagem de milho, para bons resultados na produção de leite, deverá ter valores de amido entre 32 a 42, representando asssim, valores de energia dentro de 0.85 e 0.95 UFL.

VALORES DE AMIDO BASTANTE VARIÁVEIS Relativamente à energia das forragens, podemos falar essencialmente em 2 parâmetros: o amido e as Unidades Forrageiras. O amido representa essencialmente as reservas de glúcidos presentes nos vegetais. Este pode ser dividido em 3 grupos devido à sua diferente degradabilidade digestiva: amido solúvel, amido lento e amido by-pass. Quando falamos de forragens para a produção de leite, neste caso silagem de milho, a energia pode ser expressa em valores de UFL (Unidades Forrageiras para o Leite). Esta representa o valor de energia presente no alimento de referência, a cevada (1 UFL = energia em 1 kg de cevada, que equivale a 1700 kcal de energia para a lactação).

TABELA 1 COMPOSIÇÃO DA FIBRA BRUTA

GRÁFICO 1 RELAÇÃO ENTRE MS (%) E UFL (ENERGIA)

Hemicelulose Fibra Bruta

0,85 0,80 0,75 0,70 0,65

ADF

ADL

TECHNA, 8500 Silagem de milho

1,00

y= 0,0059 x +1,1583 R2 = 0,6432

0,90 0,85 0,80 0,75 BONS VALORES PARA PRODUÇÃO DE LEITE

0,70 0,65 0,60 25

10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60

30

35

40

45

50

55

60

65

70

NDF (%MS)

GRÁFICO 4 RELAÇÃO ENTRE AMIDO (%MS) E UFL (ENERGIA)

GRÁFICO 3 RELAÇÃO ENTRE ADF (%MS) E UFL (ENERGIA) 1,10

1,10

1,05

y= 0,0013 x +1,1705 R2 = 0,6432

1,00

1,05 1,00

0,95

0,95

UFL (/kg MS)

UFL (/kg MS)

NDF

Lenhina

MS (%)

0,90 0,85 0,80 0,75 BONS VALORES PARA PRODUÇÃO DE LEITE

0,70 0,65 0,60

Celulose

0,95

UFL (/kg MS)

0,90

Celulose

TABELA 2 COMPOSIÇÃO DA PAREDE VEGETAL

1,05

BONS VALORES PARA PRODUÇÃO DE LEITE

UFL (/kg MS)

0,95

Hemicelulose Lenhina

1,10

1,00

Pectinas

Paredes Vegetais

GRÁFICO 2 RELAÇÃO ENTRE NDF (%MS) E UFL (ENERGIA)

1,10 1,05

0,60

Cinzas

15

17

19

21

0,90 0,85 0,80 0,75 0,70

BONS VALORES PARA PRODUÇÃO DE LEITE

0,65 23

25

27

29

31

33

35

37

0,60

39

ADF (%MS)

0

5

10

15

20

25

30

AMIDO (%MS)

029

35

40

45

50


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STRESS POR CALOR

O STRESS POR CALOR SEVERO PODE CAUSAR GRANDES PERDAS FINANCEIRAS QUE PODEM CHEGAR A 422 €/VACA. ESTIMA-SE QUE 80% DESTAS PERDAS ESTEJAM ASSOCIADAS A PERDA DE PRODUTIVIDADE E 20% A PROBLEMAS DE SAÚDE. SOB CONDIÇÕES DE STRESS ELEVADAS, O FORNECIMENTO DE LEVUCELL SC EM QUANTIDADE SUPERIOR AJUDA A MANTER A EFICIÊNCIA ALIMENTAR. J.E.P Santos, Universidade da Flórida, 2020 | Tradução por Equipa Técnica Tecadi

O

stress por calor severo pode causar grandes perdas financeiras que podem chegar a 422 €/vaca (St Pierre et al., 2003). Estima-se que 80% destas perdas estejam associadas a perda de produtividade e 20% a problemas de saúde. Algumas destas perdas podem atribuir-se a problemas de acidose ruminal (e redução da digestibilidade do alimento com ela relacionada), ao comportamento alimentar, à higiene do leite (contagem de células somáticas) e à fertilidade. Alimentar com grande quantidade de hidratos de carbono fermentáveis e baixos níveis de ingestão de forragem pode causar um aumento de ácidos provenientes da fermentação (baixando o pH ruminal) e um decréscimo da produção de proteína microbiana. OBJETIVO Sob condições severas de stress por calor, avaliar o impacto do LEVUCELL SC sobre: - eficiência alimentar; - funcionamento do rúmen e comportamento alimentar.

MATERIAIS & MÉTODOS Local

Departamento de Ciência Animal, Universidade da Florida, Gainesville, USA

Época

Verão

Duração

Maio a setembro; condições de stress por calor (THI: 80)

Animais

60 vacas leiteiras (n=60)

Dieta

Silagem de milho (41,4%), feno de luzerna (10,2%); dresh húmido de cerveja (5,2%), mistura de grãos (43,2%) e 240g/dia de bicarbonato de sódio

Tratamentos 1) Grupo Controlo 2) Grupo Tratado: LEVUCELL SC 20: 10x109 UFC/cabeça/dia (dose standard : equivalente a 0,5g/vaca/dia) 3) Grupo Tratado: LEVUCELL SC 20: 20x109 UFC/cabeça/dia (dose específica p/ condições de stress: equivalente a 1,0 g/vaca/dia) Medições

030

Produção de leite, comportamento alimentar, pH ruminal e AGV (rumenocentese), colheita de sangue, digestibilidade total


Stress por calor

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DESAFIO AO RÚMEN DURANTE AS CONDIÇÕES DE STRESS POR CALOR

Fornecer LEVUCELL SC durante situações de stress térmico ajuda a manter o benefício a partir da alimentação (IOFC) com alto retorno do investimento (ROI).

Stress por calor: THI>68

Controlo Ruminação Eficiência Alimentar

1,70

1,83

Volume negócios (€/vaca/dia)*

10,56

11,16

VALOR MÉDIO DA DIETA

Custo alimentar (€/vaca/dia)**

3,52

3,58

FND

29,1%

IOFC (€/vaca/dia)

7,04

PB

16,6%

AMIDO

26,0%

pH do rúmen <5,8 Risco de acidose Digestibilidade e balanço energético Performance: Eficiência alimentar

CONCLUSÃO SOBRE A EFICIÊNCIA ALIMENTAR Sob condições de stress elevadas, o fornecimento de LEVUCELL SC em quantidade superior ajuda a manter a eficiência alimentar (+8% +130g Leite ECM/kg MSI). RESULTADOS LEVUCELL SC melhora o comportamento alimentar…

1,83

1,83

1,81

1,79

1,75 1,73 1,71 1,67

1,70

1,65 CONTROLO LEVUCELL SC 10X109 UFC/cabeça/dia

LEVUCELL SC 20X109 UFC/cabeça/dia

Melhor atividade de mastigação com a dosagem recomendada para stress térmico

Tempo de mastigação (min/kg IMS)

Eficiência alimentar kg leite ECM/kg matéria seca ingerida, MSI

1,85

1,69

30

23,40 20

15

p<0,05

Intervalo entre períodos de regurgitação (min)

Leite corrigido por energia (ECM) (kg/vaca/dia)

37,20

37 36,5

36,10

36

35,20

34,5 CONTROLO LEVUCELL SC 10X109 UFC/cabeça/dia

120 110

80

CONTROLO LEVUCELL SC 10X109 UFC/cabeça/dia

LEVUCELL SC 20X109 UFC/cabeça/dia

p<0,10

Redução da % de vacas com pH<5.8

3,42

3,45

3,36 3,30 CONTROLO LEVUCELL SC 10X109 UFC/cabeça/dia

90,70

LEVUCELL SC melhora a eficiência ruminal.

% de vacas com pH ruminal <5,8

Gordura do leite (%)

3,55

3,35

96,50

90

LEVUCELL SC p<0,05 20X10 UFC/cabeça/dia

3,50 3,40

122,20

100

3,60

3,20

p<0,10

LEVUCELL SC 20X109 UFC/cabeça/dia

9

Apesar do aumento da produção de leite, há uma melhoria numérica da gordura do leite

3,30

CONTROLO LEVUCELL SC 10X109 UFC/cabeça/dia

130

37,5

3,25

22,90

Comportamento de ruminação melhorado, com menos tempo entre os períodos de regurgitação

38

35

26,70

25

+2,00 kg de leite

35,5

+0,54 € /cabeça/dia ROI: 5:1

*Com um preço do leite de 300€/1000kg **Com um custo alimentar de 0,17€/kg e um custo do Levucell SC de 0,12€/cabeça/dia.

+ 7,6% de eficiência alimentar +130 g de leite/kg MSI

1,77

7,58

Lucro Líquido

RESULTADOS Fornecer LEVUCELL SC às vacas mostrou melhoria significativa da eficiência alimentar e da produção de leite corrigida para a gordura, com melhoria quantitativa do teor butiroso.

1,79

LEVUCELL SC Dosagem recomendada para stress térmico: 20x109 UFC/cabeça/dia

LEVUCELL SC 20X10 UFC/cabeça/dia

NS

9

031

50 40 30

42,90

34,90

20 10 0

CONTROLO LEVUCELL SC 10X109 UFC/cabeça/dia

7,72 LEVUCELL SC 20X109 UFC/cabeça/dia

p<0,10


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RESULTADOS LEVUCELL SC promove a digestibilidade da dieta e o fornecimento da energia.*

Aumento do pH ruminal 6,5

6,33

6,1 5,9 5,7 5,5

5,99

Melhor digestibilidade total da matéria seca

6,03

CONTROLO LEVUCELL SC 10X109 UFC/cabeça/dia

LEVUCELL SC 20X109 UFC/cabeça/dia

p<0,10

LEVUCELL SC reduz a inflamação.

Digestibilidade total matéria seca (%)

pH ruminal

6,3

73 72 71 70 69 68 67 66 65

90 80 70

79,20

75,70

66,30

60 50 CONTROLO LEVUCELL SC 10X109 UFC/cabeça/dia

68,30 CONTROLO LEVUCELL SC 10X109 UFC/cabeça/dia

LEVUCELL SC 20X109 UFC/cabeça/dia

p<0,01

Mais ácidos gordos de cadeia curta

LEVUCELL SC 20X109 UFC/cabeça/dia

p<0,10

Ácidos gordos de cadeia curta (nM)

Amilóide A sérica (ug/ml)

Redução dos níveis séricos de proteína amilóide A (indicador de inflamação)

71,80

70,90

130 125 120 115 110 105 100

110,30

121,40

117,70

CONTROLO LEVUCELL SC 10X109 UFC/cabeça/dia

LEVUCELL SC 20X109 UFC/cabeça/dia

p<0,05

Maior digestibilidade total da FND

SABER MAIS SOBRE MECANISMOS AVANÇADOS DE INFLAMAÇÃO

45

55,20 47,50

49,20

CONTROLO LEVUCELL SC 10X109 UFC/cabeça/dia

2) LEVUCELL SC ajuda a reduzir a transferência dos mensageiros de inflamação (citoquinas) para o sangue. 3) LEVUCELL SC reduz os compostos inflamatórios como a proteína amilóide A que é segregada pelo fígado.

55 50

40

LEVUCELL SC 20X109 UFC/cabeça/dia

p<0,05

Maior teor em energia da dieta*

Fígado

Corrente sanguínea

SAA

Energia Net Leite (ENL) da dieta (Mcal/kg)

1) LEVUCELL SC ajuda a reduzir a inflamação da parede do rúmen (Bach et al., 2018).

Epitélio ruminal

FNDd total (%)

60

CONCLUSÃO GLOBAL

1,88 1,86 1,84 1,82 1,80 1,78 1,76 1,74 1,72 1,70 1,68

1,81 1,72

1,76

CONTROLO LEVUCELL SC 10X109 UFC/cabeça/dia

LEVUCELL SC 20X109 UFC/cabeça/dia

*= (Energia para leite + energia para peso corporal)/ matéria seca ingerida.

LEVUCEL SC AJUDA Sob stress por calor: THI>68

Sob altas condições de stress, fornecer uma dose mais elevada de LEVUCELL SC ajuda a manter a eficiência alimentar num grau ainda superior (+8% +130g Leite ECM/kg MSI) com efeitos positivos na: 4 Função ruminal, redução da inflamação subaguda e comportamento de ingestão. 4 Digestibilidade total e fornecimento de energia relacionado.

Ruminação pH do rúmen Inflamação Digestibilidade e balanço energético

Nem todos os produtos estão disponíveis em todos os mercados nem as alegações associadas estão permitidas em todas as regiões.

Performance: Eficiência alimentar, produção e gordura do leite

032

p<0,05


O RÚMEN: UM POTENTE MOTOR QUE IMPULSIONA O RENDIMENTO DA EXPLORAÇÃO

ATÉ

7 6 ATÉ

% MAIS LEITE % MAIS CARNE

OBTÉM MAIS POTÊNCIA DO RÚmen LEVUCELL SC, a Levedura Viva Específica para o Rúmen, pode melhorar o rendimento da exploração durante todas as etapas da produção de leite e carne, ajudando a proteger o meio ambiente ao produzir mais com a mesma quantidade de alimento. LEVUCELL SC ajuda a maximizar a energia e a melhorar o pH do rúmen (reduzindo o risco de acidose ruminal sub-aguda), a favorecer o desenvolvimento do rúmen e a aumentar a digestibilidade da fibra. Alimente todos os dias com LEVUCELL SC, a Levedura Viva Específica para o Rúmen, e prepare a sua exploração para atingir a máxima eficiência.

*Saccharomyces cerevisiae CNCM I-1077

(*)Nem todos os produtos estão disponíveis em todos os mercados, nem se aceitarão alegações em todas as regiões.

LALLEMAND ANIMAL NUTRITION www.lallemandanimalnutrition.com Distribuído por Tecadi, Lda www.tecadi.pt | info@tecadi.pt | Tel. 243329050

033


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SAÚDE E BEM-ESTAR | BOVINOS DE LEITE

OS OLIGOELEMENTOS MINERAIS NA REDUÇÃO DO STRESS OXIDATIVO

CONSIDERA QUE TEM TIDO UM MANEIO ADEQUADO DO SEU REBANHO, MAS AINDA ASSIM NÃO TEM CONSEGUIDO ATINGIR OS OBJETIVOS DE PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO QUE TINHA IDEALIZADO? PENSA QUE OS INDICADORES REPRODUTIVOS DA SUA EXPLORAÇÃO SÃO SATISFATÓRIOS, MAS PODERIAM SER OTIMIZADOS? TEM IMPLEMENTADO MEDIDAS PREVENTIVAS PARA MELHORAR A SAÚDE DO ÚBERE E QUALIDADE DO LEITE, MAS AINDA NÃO CONSEGUIU ATINGIR OS SEUS OBJETIVOS?

MARTA RODRIGUES Médica Veterinária Suporte Técnico e Regulamentar Vetlima m.rodrigues@vetlima.com

S

abia que o stress oxidativo pode estar na base destes problemas em momentos críticos? A ingestão diária de oligoelementos minerais é essencial para prevenção do stress oxidativo e manutenção da saúde do efetivo, mas é variável e nem sempre corresponde às suas necessidades. Neste artigo abordamos a sua importância e 034

analisamos os momentos mais críticos do ciclo de produção dos bovinos, onde a necessidade da sua suplementação aumenta em relação ao contributo das dietas de manutenção. O stress oxidativo é uma condição biológica comum a humanos e animais. Existem inúmeras áreas de investigação na medicina humana que identificam o stress oxidativo como potencial causa de várias


Os oligoelementos minerais na redução do stress oxidativo

SAÚDE E BEM-ESTAR | BOVINOS DE LEITE

doenças no homem. Mais recentemente, estas linhas de investigação foram desenvolvidas na Medicina Veterinária, percebendo-se igualmente que o stress oxidativo está também na base do desenvolvimento de várias doenças. Na medicina de produção e transversalmente a várias áreas (bovinicultura, suinicultura, avicultura) têm-se demonstrado de forma consistente que o stress oxidativo impacta na performance produtiva e reprodutiva dos animais ( figura 1). O stress oxidativo não é mais do que um desequilíbrio entre a produção de

espécies reativas de oxigénio (EROs) e a sua correta remoção pelos sistemas enzimáticos e não enzimáticos do organismo. A produção de espécies reativas de oxigénio é um fenómeno fisiológico decorrente do normal metabolismo das células. No entanto, quando o organismo não tem capacidade de as eliminar eficazmente estabelece-se então dano celular. Podemos fazer uma analogia muito válida, comparando o efeito do stress oxidativo nas células ao efeito que o oxigénio tem sobre a superfície de uma maçã cortada exposta

FIGURA 1 REPRESENTAÇÃO DOS EFEITOS DO STRESS OXIDATIVO SOBRE AS CÉLULAS. ESTE EFEITO É COMPARÁVEL AO PODER OXIDANTE DO AR (COM OXIGÉNIO) SOBRE A SUPERFÍCIE CORTADA DE UMA MAÇÃ

Célula normal

Célula atacada por radicais livres

Célula com stress oxidativo

FIGURA 1 REAÇÕES QUÍMICAS QUE LEVAM À ELIMINAÇÃO DAS ESPÉCIES REATIVAS DE OXIGÉNIO (EROS), COM A PRODUÇÃO DE ÁGUA. O CORRETO FUNCIONAMENTO DESTES ANTIOXIDANTES (ENZIMAS) GARANTE QUE O STRESS OXIDATIVO NÃO IMPACTA NA SAÚDE DOS ANIMAIS

Radical livre prejudicial

Antioxidante 1

Intermediário menos prejudicial

Antioxidante 2

035

Água inócua

ao ar. O fenómeno que tem lugar numa célula exposta a stress oxidativo é muito semelhante ao da maçã oxidada. Assim sendo, quando este fenómeno toma determinadas dimensões, coloca em causa não só a saúde da célula, mas também nalgumas circunstâncias a própria viabilidade da mesma, podendo levar à sua morte. Podemos estar a falar duma célula germinativa (oócito ou espermatozoide), ou duma célula do sistema imunitário presente por exemplo na glândula mamária ou nas vias respiratórias. Isto significa que apesar de existirem células mais predispostas que outras ao stress oxidativo, este é um fenómeno que pode afetar várias células, vários órgãos, vários sistemas e daí, tão rapidamente impactar na saúde e performance dos animais. COMO SE CONTROLA Sendo o stress oxidativo um fenómeno fisiológico e natural, é possível, no entanto, controlá-lo. Na produção de leite, ao conseguirmos interferir no maneio dos animais podemos de alguma forma atenuar o stress oxidativo. Todas as medidas que conseguirmos implementar no sentido de garantir o correto espaço de manjedoura, o acesso ininterrupto a alimento e uma cama confortável ajudam a mitigar o stress oxidativo. Do ponto de vista alimentar, conseguimos atenuar também o stress oxidativo formulando dietas com base nas recomendações internacionais que garantam as quantidades ideais de 2 importantes grupos de antioxidantes: - vitaminas: A, D e C (esta última pouco relevante nos ruminantes uma vez que estes a conseguem produzir ao contrário do Homem); - minerais (oligoelementos): cobre, zinco, selénio e manganês. Estes minerais são importantes auxiliares de enzimas (neste caso antioxidante) que têm o papel de eliminar estes compostos prejudiciais das células. Neste artigo iremos focar-nos essencialmente nos oligoelementos minerais, porque apesar de estes estarem presentes nas dietas dos animais, como o próprio nome indica – oligo – estão presentes em pequena quantidade, sendo a sua presença determinante para a sua saúde e reprodução.


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OLIGOELEMENTOS MINERAIS NA DIETA – SERÃO SUFICIENTES? É certo que hoje em dia se conseguem oferecer dietas de elevadíssima qualidade às vacas: não só no que diz respeito às forragens produzidas como aos concentrados e núcleos que se adicionam. No entanto, os ruminantes são inerentemente pouco eficientes na absorção de oligoelementos minerais, mesmo quando alimentados com dietas muitíssimo equilibradas. Isto faz com que em determinados momentos críticos do ciclo de vida de produção e reprodução das vacas, a alimentação não seja suficiente para atingirmos a melhor performance dos animais ( figura 3). Existem vários estudos científicos que descrevem porque razão os ruminantes não conseguem obter da dieta a quantidade ideal de oligoelementos minerais. Na tabela 1 estão, de forma resumida, enunciadas as principais razões pelas quais as necessidades são elevadas e a disponibilidade muitas vezes baixa. IMPACTO DO STRESS OXIDATIVO NA SAÚDE, PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO Sendo a gestão do stress oxidativo fulcral em todas a células da vaca, é ainda mais importante em células metabolicamente mais ativas como é o caso de células reprodutivas, ou células do sistema imunitário. Sabe-se hoje, que o stress oxidativo descontrolado impacta na saúde e fertilidade dos animais. ✓ Imunidade • Maior incidência de mamites • Aumento de células somáticas • Resposta imunitária ineficiente contra infeções • Falha vacinal ✓ Reprodução • Diminuição da fertilidade • Aumento de mortes embrionárias • Aumento de retenções placentárias Estando a gestão do stress oxidativo intimamente dependente de corretos níveis de oligoelementos minerais, facilmente se entende que a sua deficiência ainda que subclínica, se pode traduzir em problemas reprodutivos (tabela 2) É certo que a produção das vacas de leite é altamente dependente de vários fatores que vão desde o ambiente em que estão instaladas, à gestão da alimentação

assistente estratégias de maneio que pode adotar na sua exploração para reduzir o impacto do stress oxidativo, nomeadamente no que diz respeito a um fornecimento mais preciso de oligoelementos minerais.

( formulada e oferecida na manjedoura) e ao próprio conforto. Garantir estas premissas é o primeiro passo para melhores resultados. No entanto, estamos hoje numa agricultura de precisão em que já não basta produzir, mas sim, garantir a melhor performance de cada unidade produtiva que temos na exploração – a vaca. Analise com o seu veterinário

Para consultar a bibliografia utilizada, contacte o autor.

FIGURA 3 MOMENTOS CRÍTICOS DO CICLO DE PRODUÇÃO DOS BOVINOS ONDE A SUPLEMENTAÇÃO ORAL DE OLIGOELEMENTOS MINERAIS NÃO É SUFICIENTE PARA OTIMIZAR A PERFORMANCE DOS ANIMAIS

TABELA 1 CAUSAS DA BAIXA DISPONIBILIDADE DE OLIGOELEMENTOS MINERAIS NOS BOVINOS EM MOMENTOS CRÍTICOS Antagonismo com outros minerais

A presença de ferro ou enxofre na dieta em determinadas quantidades forma complexos com os oligoelementos minerais impedindo a sua correta absorção

Diminuição da ingestão de matéria seca

No final da gestação, por exemplo, há grande canalização de nutrientes para o vitelo e a vaca simultaneamente come menos

Aumento da excreção dos minerais em períodos de stress

• Transporte • Vacinações • Exposição a micotoxinas

Baixa biodisponibilidade oral

A maioria dos oligoelementos minerais apresenta muito baixa absorção oral:

1-5%

10-20%

0,15-1,2%

34%

TABELA 2 DEFICIÊNCIA DE OLIGOELEMENTOS MINERAIS E IMPACTOS NA REPRODUÇÃO JÁ DESCRITOS NA LITERATURA

Morte embrionária Fertilidade Puberdade atrasada

Partos difíceis Atividade ovárica

036

Abortos Atividade ovárica Taxa de conceção

Crescimento embrionário Morte embrionária Atividade ovárica Retenções placentárias


Zn Zinco

Mn

Manganês

037

Se

Selénio

Cu Cobre


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SAÚDE E BEM-ESTAR | VITELAS

A ÁGUA NO ALEITAMENTO DAS VITELAS

NUM INQUÉRITO REALIZADO PELA NANTA A 206 PRODUTORES DE LEITE COM TODO O TIPO DE SISTEMAS DE ALIMENTAÇÃO, CONSTATÁMOS QUE 36% NÃO DÃO IMPORTÂNCIA SUFICIENTE AO FORNECIMENTO DE ÁGUA ÀS VITELAS, NÃO LHES DANDO ACESSO A ÁGUA OU SÓ O FAZENDO ÀS VEZES. Por Filipe Lino, Serviço Técnico Comercial, Grupo NANTA

M

uitos produtores acreditam que o teor de água do leite ou do leite de substituição é suficiente para saciar a sede das vitelas. Sabemos também que a maior parte da água que as vitelas ingerem durante o aleitamento, provém da ingestão de leite, ou do leite de substituição, sendo menos de 20% proveniente da ingestão voluntária de água potável (Thomas et al, 2007). Então, por que é aconselhado que as vitelas tenham acesso a água potável, limpa e fresca, logo nos primeiros dias de vida? Para garantir o seu bem-estar e saciar a sua sede. A liberdade de sede é uma das 5 liberdades fundamentais que devem ser cumpridas na recria de vitelas. A água é um nutriente básico e as vitelas precisam de ter acesso a ela desde o nascimento ou a partir dos primeiros dias de vida. Muitos produtores esperam, em média, 15 dias para oferecer água às vitelas. No entanto, durante este período as vitelas podem ingerir voluntariamente cerca de 0,75 kg de água por dia. As vitelas recém-nascidas têm uma necessidade de água inerentemente maior do que as mais velhas, uma vez que o seu teor de água corporal ao nascimento é de 80% do peso vivo, contra 70% aos 40 dias de idade. Quando as vitelas bebem água, esta é dirigida para o rúmen, enquanto a água que forma parte do leite é dirigida ao abomaso

devido ao reflexo de sucção e consequente ativação da goteira esofágica. A água no rúmen permite o desenvolvimento das bactérias ruminais e a fermentação de grãos e fenos. O fornecimento de água ad libitum é necessário porque: - aumenta a ingestão de starter. Os ensaios realizados pela NANTA mostram que, independentemente da quantidade de leite fornecido, as vitelas que não têm acesso a água até ao desmame consomem 31% menos starter e têm um ganho médio diário 38% inferior ao das vitelas que têm livre acesso a água; - estimula o desenvolvimento do rúmen. O leite, ou o leite de substituição, é um alimento que, quando bem administrado (tetina) e através da ativação da goteira esofágica, é digerido no abomaso, ao passo que a água bebida vai para o rúmen, criando um ambiente húmido que favorece a colonização bacteriana e a fermentação do alimento. Na ausência de água, o desenvolvimento do rúmen é retardado significativamente; - reduz a gravidade das diarreias e ajuda a recuperação. As vitelas com diarreia bebem mais água para compensar as perdas nas fezes e evitar a desidratação. Devemos verificar diariamente se as vitelas bebem água. Isto é especialmente importante em 4 momentos-chave: 038

- ao nascimento: o teor de água corporal das vitelas recém-nascidas desce de 80% para 70% nos primeiros 40 dias de vida. Existe uma relação inversa entre a água corporal e o teor de gordura corporal, visto que o depósito de gordura mobiliza a água corporal; - no peridesmame: as vitelas bebem 1 litro de água por dia durante a 1ª semana de vida, mas à medida que o fornecimento de leite diminui e a ingestão de starter aumenta, o consumo de água pode chegar até aos 9 litros por dia na 8ª semana de vida; - quando têm diarreia: para prevenir a desidratação e compensar a perda de água; -quando a temperatura ambiente é elevada: o consumo aumenta 33% à medida que a temperatura ambiente atinge os 21°C, podendo duplicar quando ultrapassa os 32°C. Pontos importantes • Disponibilizar água e starter, em baldes limpos e desinfetados, desde os primeiros dias de vida da vitela. • Assegurar a limpeza diária dos baldes de água, sem vestígios de starter ou leite, e livres de fungos/fezes/urina. • A temperatura da água deve estar entre 16-18ºC. Desde o nascimento até ao desmame, as vitelas bebem mais 7-8% de água se estiver morna do que se estiver fria (6-8ºC).


Pastone, um stock energético barato

ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE LEITE

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HEDYCHIUM GARDNERIANUM E PITTOSPORUM UNDULATUM

O POTENCIAL DE 2 FORRAGENS NÃO CONVENCIONAIS

EM PORTUGAL, ESTÃO A DECORRER VÁRIOS PROJETOS COM O INTUITO DE VALORIZAR E INCORPORAR SUBPRODUTOS DAS AGROINDÚSTRIAS NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL. NOS AÇORES, O FOCO DO ESTUDO SÃO PLANTAS INVASORAS QUE SÃO FORNECIDAS TRADICIONALMENTE AOS BOVINOS EM ÉPOCAS DE MAIOR ESCASSEZ DE PASTAGEM, NOMEADAMENTE AS ESPÉCIES HEDYCHIUM GARDNERIANUM E PITTOSPORUM UNDULATUM, SENDO ESTAS PLANTAS UTILIZADAS COMO FONTE DE FIBRA NA DIETA DOS ANIMAIS.

HELDER NUNES EngºZootécnico Investigador pós doutoramento Instituto de Investigação e Tecnologias Agrárias e do Ambiente (IITAA) helder.pb.nunea@uac.pt

N

as próximas décadas, a humanidade terá como principal desafio produzir alimentos de elevada qualidade para alimentar mais 3 mil milhões de pessoas e, simultaneamente, utilizar técnicas e sistemas que sejam economicamente viáveis e ambientalmente sustentáveis, assegurando sempre a saúde e bem-estar dos animais.

Para enfrentar este desafio, é necessário realizar uma nova abordagem à produção pecuária, que passa pela valorização dos sistemas de pastagens permanentes e agrosilvo-pastoris, os quais irão desempenhar um papel fundamental na produção sustentável de animais. Contudo, como em todos os sistemas de produção, estes também apresentam limitações, sendo o maneio das pastagens umas das maiores dificuldades encontradas, uma vez que a produção de pastagem não é constante ao longo do ano. Além da sazonalidade, nos últimos anos, temos vindo a observar períodos mais longos de seca que, por consequência, reduzem a disponibilidade de pastagens para a produção de forragens convencionais. A tendência para as próximas décadas é um agravamento desta situação para a bacia do Mediterrâneo prevendo-se, de acordo com o relatório do Painel Intergovernamental sobre 040

Mudanças Climáticas (IPCC) de 2021 que, nas próximas décadas, os períodos de seca sejam ainda mais prolongados, reduzindo a quantidade de água disponível e diminuindo a capacidade de produção destas regiões. Para mitigar a carência de alimentos para os animais, estão a ser promovidas diversas estratégias a nível mundial. Na União Europeia, o incentivo surge no âmbito do Pacto Ecológico Europeu que pretende reforçar a economia circular, transformando resíduos agrícolas ou agroflorestais em alimentos para os animais, reduzindo deste modo os desperdícios destas indústrias. Além disto, para alcançar as metas propostas pelo European Green Deal é necessário mitigar a emissão de gases com efeito estufa (GEE) provenientes da pecuária, sendo a redução da fermentação entérica produzida pelos ruminantes, nomeadamente do metano (CH4), uma das vias para atingir os


O potencial de duas forragens não convencionais

FORRAGENS | BOVINOS DE LEITE

objetivos da neutralização carbónica até 2050. No atual contexto, a introdução de alimentos não convencionais na dieta dos ruminantes poderá ser uma das estratégias adotadas para dar resposta aos desafios atuais na produção pecuária, garantindo um equilíbrio entre a natureza, os sistemas alimentares e a biodiversidade permitindo uma sustentabilidade económica e ambiental. Em Portugal, estão a decorrer vários projetos com o intuito de valorizar e incorporar subprodutos das agroindústrias na alimentação animal, dando a conhecer o seu valor nutritivo, tendo como objetivo diminuir o custo da alimentação animal, evitando a importação de matérias-primas e garantido a produção atual, de forma a ser rentável para os produtores. Nos Açores, o foco do estudo está nas plantas invasoras que são fornecidas tradicionalmente aos bovinos em épocas de maior escassez de pastagem, nomeadamente no verão, nos meses de agosto e setembro e durante o inverno, entre os meses de novembro e fevereiro, quando as condições climatéricas são adversas para a produção de pastagem, especialmente nas zonas altas das ilhas, sendo estas plantas utilizadas como fonte de fibra na dieta dos animais. Das forragens não convencionais usadas na alimentação dos animais açorianos, destacamos o Hedychium gardnerianum, vulgarmente conhecido por Conteira, Roca de Velha ou Jarroca, existindo ainda outros nomes comuns, dependendo da ilha em que nos encontramos e o Pittosporum undulatum, conhecido na maioria das ilhas como Incenso ou Faia do Norte, estando esta última planta referenciada, no caderno de especificações da Carne Ramo Grande (produto com DOP) como parte integrante da alimentação dos bovinos dessa raça autóctone. Na última década, foram efetuados vários estudos sobre estas duas plantas em diferentes vertentes tais como: - o conhecimento da sua composição química;

- o seu potencial nutritivo e a sua valorização como alimento; - na identificação de metabólitos secundários capazes de interferir na reprodução; - no potencial destas plantas como agentes mitigadores na produção de metano entérico. Se observarmos os resultados da composição química das duas plantas não convencionais, apresentados no quadro 1, verificamos que ambas possuem um baixo valor nutricional. Numa análise mais pormenorizada, verificamos que a Hedychium gardnerianum, que é uma herbácea, apresenta um valor de matéria seca (MS) significativamente inferior ao do Pittosporum undulatum que é uma árvore. Apesar de na alimentação animal serem utilizadas apenas as folhas e caules jovens do Pittosporum undulatum, podemos observar que os resultados, em relação aos teores de lignina, refletem bem as diferenças existentes entre as duas plantas: o Pittosporum undulatum apresenta valores de lignina em detergente ácido (ADL) muito superiores aos registados pela Hedychium gardnerianum, 193.2 g kg-1 de MS e 91.3 g kg-1 de MS, respetivamente. Porém, a Hedychium gardnerianum apresenta um valor de fibra em detergente neutro (NDF) muito superior ao obtido pelo Pittosporum undulatum, apesar de que em termos proteicos a Hedychium gardnerianum apresenta um valor de 120 g kg-1 MS. Já o valor de proteína bruta do Pittosporum undulatum é de 79.6 g kg-1 de MS, não atingindo o valor mínimo necessário para o funcionamento normal do rúmen que, de acordo com Franco et al. (2017), é de 80g kg-1 MS de proteína bruta. Em relação à digestibilidade da matéria seca in vitro, como esperado, os valores obtidos são baixos, sendo semelhantes em ambas as plantas (tabela 1). Apesar do baixo valor nutricional destas plantas, os produtores açorianos poderão utilizar ambas como fonte de fibra na dieta dos ruminantes, devidamente suplementadas com fontes energéticas

e proteicas. O Hedychium gardnerianum, durante o verão, poderá desempenhar um papel importante na alimentação dos bovinos, uma vez que é uma forragem com um elevado teor de água. De salientar ainda que, mesmo sendo baixo, o valor nutritivo destas forragens não convencionais endógenas dos Açores é superior ao da maioria do feno e da palha importada para a região quando há escassez de alimentos. Além disso, estas plantas são invasoras na região, são de fácil acesso aos produtores e permitem uma redução com os custos na alimentação dos bovinos, incrementando os lucros da exploração. De forma a valorizar nutritivamente estas plantas, têm sido efetuados vários estudos com tratamentos químicos, mais concretamente com hidróxido de sódio e ureia. A valorização nutritiva do Hedychium gardnerianum tem sido alvo de vários estudos (Moselhy et al., 2014; Borba et al., 2015b; Moselhy et al., 2015; Maduro Dias et al., 2017) com o objetivo de promover o uso desta planta, pois esta é uma das espécies invasoras que se propagam mais rapidamente, sendo extremamente abundante nos Açores. Dias et al., (2020) utilizaram diferentes concentrações de hidróxido de sódio para aumentar o valor nutritivo do Hedychium gardnerianum uma vez o hidróxido de sódio atua sobre os componentes da parede celular, hidrolisando as ligações covalentes entre a lignina e os hidratos de carbono estruturais. Consequentemente, ocorre a solubilização da hemicelulose e dos compostos fenólicos, diminuindo o valor do NDF, facilitando a ação dos microrganismos do rúmen na degradação da celulose e da hemicelulose. Os autores concluíram, com este ensaio, que a aplicação do tratamento químico com hidróxido de sódio influenciou a composição química do Hedychium gardnerianum, reduzindo o NDF e a fibra em detergente ácido (ADF), aumentando a digestibilidade da matéria seca e da matéria orgânica in vitro. Num outro ensaio realizado por Borba et al., (2015b), o Hedychium gardnerianum foi sujeito a um tratamento químico com ureia.

TABELA 1 COMPOSIÇÃO QUÍMICA E VALOR NUTRITIVO DO HEDYCHIUM GARDNERIANUM E DO PITTOSPORUM UNDULATUM Matéria Seca (g kg-1)

Proteína Bruta g kg-1 MS

NDF g kg-1 MS

ADF g kg-1 MS

ADF g kg-1 MS

ADF g kg-1 MS

Cinza Bruta g kg-1 MS

% DMS g kg-1 MS

H. gardnerianum

134.0

120.3

715.5

360.9

91.3

22.5

113.3

36.4

P. undulatum

334.3

79.6

380.2

355.9

193.2

30.2

78.7

37.7

AMOSTRAS

Legenda: NDF (fibra em detergente neutro), ADF (fibra em detergente ácido, ADL(Lignina em detergente ácido), EE (Extrato Etéreo), DMS (Digestibilidade da matéria seca).

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GRÁFICO 1 CURVA DE PRODUÇÃO DE GÁS IN VITRO (AJUSTADO COM MODELO EXPONENCIAL) APÓS A INCORPORAÇÃO DA DIETA DE RUMINANTES POR DIFERENTES NÍVEIS DE HEDYCHIUM GARDNERIANUM EM FLUIDO RUMINAL TAMPONADO, DURANTE 96 HORAS.

GRÁFICO 2 CURVA DE PRODUÇÃO DE GÁS IN VITRO (AJUSTADO COM MODELO EXPONENCIAL) APÓS A INCORPORAÇÃO DA DIETA DE RUMINANTES POR DIFERENTES NÍVEIS DE PITTOSPORUM UNDULATUM EM FLUIDO RUMINAL TAMPONADO, DURANTE 96 HORAS.

Pittosporum undulatum

50

Produção de gás (ml 200 mg-1 MS)

Produção de gás (ml 200 mg-1 MS)

Hedychium gardnerianum

37,5 25 12,5 0

0

25

50

75

100

50 37,5 25 12,5 0

0

25

Tempo de incubação (horas)

Padrão

HG100

HG75

HG50

HG25

Neste estudo, ao Hedychium gardnerianum foram adicionados 5% da MS de ureia, tendo os tratamentos tido a duração de 0, 5, 10, 15 e 30 dias. Após os tratamentos, foi possível observar um aumento significativo (p<0,05) do conteúdo em proteína bruta. Em relação ao NDF e ao ADF não se verificou qualquer variação entre os tratamentos, não tendo sido também registada qualquer diferença significativa na digestibilidade da matéria seca in vitro. A ureia, quando aplicada nesta forragem em verde, não obteve o mesmo efeito que noutros alimentos fibrosos de baixa qualidade, como por exemplo a palha, uma vez que o teor de proteína bruta do Hedychium gardnerianum é muito superior quando comparado com o de outros alimentos fibrosos. A conservação de forragens não convencionais através da silagem também foi alvo de um estudo realizado por Moselhy et al., (2015) em que o objetivo principal foi avaliar o efeito da aplicação dum inoculante com bactérias lácticas (BAL), melaço e ureia, nas características de ensilagem do Hedychium gardnerianum. Os resultados deste estudo revelaram que a adição de melaço, ureia mais melaço e uma combinação de ureia com um inoculante melhoram as características da fermentação, a digestibilidade e o valor nutritivo das silagens produzidas, indicando também existir uma boa conservação da silagem com Hedychium gardnerianum, registandose um pH baixo, uma perda mínima de MS, uma baixa produção de NH3-N (g/Kg de azoto total) e a ausência de ácido butírico. Observou-se também que o tratamento de melaço e melaço com ureia melhorou a estabilidade aeróbia destas silagens.

50

75

100

Tempo de incubação (horas)

Padrão

PU100

FORRAGENS NÃO CONVENCIONAIS NA MITIGAÇÃO DE METANO Estima-se que aproximadamente 14,5% das emissões de gases com efeito estufa antropogénicas globais provém da agricultura (Roque et al., 2021). A maioria das emissões de GEE da produção pecuária está na forma de CH4, que é produzido em grande parte através da fermentação entérica e, em menor grau, da decomposição do estrume. As emissões entéricas de CH4, além de contribuírem para as emissões totais de GEE agrícolas, também representam uma perda de energia de 11% do consumo de energia da dieta (Moraes et al., 2014). Portanto, uma redução das emissões entéricas de CH4 diminui a contribuição agrícola total para as mudanças climáticas, e pode melhorar a produtividade das explorações por meio da conservação da energia dos alimentos. Atualmente, para mitigar as emissões entéricas de CH4 foram realizadas diferentes abordagens com o foco no uso de aditivos alimentares, manipulação da dieta e qualidade da forragem. Uma das abordagens utilizadas é a introdução de plantas não convencionais na alimentação dos ruminantes que através da ação de alguns metabólitos secundários sobre os microrganismos ruminais permitem uma redução da produção de metano. No âmbito do projeto “Valorização nutritiva de fibras vegetais dos Açores: uma abordagem à produção sustentável de alimento fibroso para a alimentação animal e o seu efeito mitigador da produção de gases de efeito de estufa”, foi desenvolvido um estudo in vitro, onde foi analisada a produção de biogás, após a incorporação 042

PU75

PU50

PU25

em diferentes percentagens (25, 50, 75 e 100%) de Hedychium gardnerianum e de Pittosporum undulatum numa alimentação base contendo pastagem e silagem. Os resultados preliminares obtidos neste estudo (ainda não publicado) indicam que existe uma redução na produção de biogás (gráficos 1 e 2) comparativamente com uma alimentação padrão. Num ensaio realizado in vitro por Moselhy et al., (2014), os autores observaram que a inclusão de Hedychium gardnerianum e de Pittosporum undulatum numa percentagem de 50%, ou superior, obteve um efeito mitigador na produção de metano sem alterar significativamente os parâmetros ruminais. Apesar destes alimentos possuírem potencial para reduzir a metanogénese, o seu mecanismo de ação ainda é pouco conhecido, devendo-se continuar a estudar estes recursos não convencionais como possíveis mitigadores da produção de CH4 entérico. Em síntese, os ruminantes poderão ser considerados “recicladores naturais” capazes de utilizar alimentos não convencionais, como o Hedychium gardnerianum e o Pittosporum undulatum, quando incorporados numa dieta devidamente balanceada. Isto numa perspetiva de minimizar a importação de fontes alimentares fibrosas em épocas em que escasseiam as pastagens, reduzindo os custos com a alimentação dos animais,permitindo ainda contribuir para a neutralidade carbónica através da redução da emissão de CH4, tornando deste modo a produção animal sustentável ambientalmente. Nota: para consultar a bibliografia, contacte o autor.


Fertilizantes com futuro

MASTER K MASTER STARTER

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FORRAGENS | CULTURAS EXTENSIVAS

CONTROLO PRECOCE DAS INFESTANTES NO MILHO O CONTROLO PRECOCE DAS INFESTANTES É ESSENCIAL PARA PROTEGER A CULTURA DO MILHO E OBTER MAIOR RENDIMENTO POR HECTARE NA COLHEITA, PARTICULARMENTE EM SEMENTEIRAS PRECOCES. Por Equipa Syngenta Portugal

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ara as plantas de milho jovens, as infestantes não são apenas um concorrente indesejável, por água, nutrientes e luz, mas também condicionam os mecanismos de desenvolvimento da cultura, levando-a a concentrar a maior parte da energia na emissão de folhas e caules, em detrimento do desenvolvimento das raízes. Este instinto de “sobrevivência” do milho pode comprometer irremediavelmente o seu potencial de produção, mesmo que as infestantes sejam eliminadas após a sua emergência. Sabe-se que as infestantes com mais de 5 cm competem com a cultura pelos recursos (água, nutrientes, luz) de que esta precisa para crescer, levando a um impacto negativo no desenvolvimento do milho que pode reduzir a sua produtividade. Atualmente, os cientistas são unânimes em dizer que, para evitar perdas de produção superiores a 5%, deve manter-se o milho livre de infestantes desde a terceira até à oitava folha da cultura. As perdas por concorrência com as infestantes nas

primeiras etapas são irreversíveis e não se podem recuperar através da eliminação das infestantes numa fase mais avançada do ciclo cultural. Um estudo recente mostra que a concorrência pelos recursos não é a única causa das perdas de produção que acontecem no início do desenvolvimento da cultura. O Professor Clarence J. Swanton, da Universidade de Guelph, em Ontário (Canadá), avaliou o impacto das infestações precoces de infestantes na produtividade do milho. A pesquisa foi iniciada depois deste investigador observar perdas de produção em campos de milho, com abundância de humidade e nutrientes, e em situações onde as infestantes não eram suficientemente altas para tirar a luz ao milho. Qual seria então a razão para as perdas de produção quando as infestantes estavam presentes na fase de emergência do milho? O milho acelera o desenvolvimento da parte aérea e reduz a emissão de raízes. 044

Sabe-se que a presença de infestantes reduz o desenvolvimento das raízes do milho e isto pode resultar na perda de produção. Tendo em conta a fisiologia das plantas do milho, Clarence J. Swanton sugere que o desenvolvimento normal das raízes é inibido por uma mudança nas características da luz causada pelas infestantes que emergem ao mesmo tempo que o milho. Nas folhas do milho são os recetores de luz ( fitocromos) que detetam as mudanças na luz. Quando as infestantes emergem ao mesmo tempo que a cultura, os fitocromos contidos nas células das plantas do milho identificam a categoria particular de frequências de luz refletida pelas infestantes, levando as plantas do milho a adotar uma estratégia de crescimento para evitar a sombra, emitindo um caule mais alto e folhas maiores ( fotos A e B). À primeira vista isto parece positivo mas, na realidade, um sistema radicular forte é essencial para o desenvolvimento da planta do milho em todo o seu ciclo de vida e, caso a maior parte da energia da planta


Controlo precoce das infestantes no milho

FORRAGENS | MILHO

seja aplicada no desenvolvimento da parte aérea em detrimento das raízes, o máximo potencial de produtividade da cultura fica comprometido. Esta descoberta explica por que o milho afetado pela concorrência das infestantes nas primeiras etapas de desenvolvimento nunca demonstra todo o seu potencial de produção, mesmo que as infestantes sejam eliminadas após a emergência da cultura e esta seja alvo de uma adequada estratégia de nutrição. O IMPACTO SOBRE A ORIENTAÇÃO DAS FOLHAS Esta investigação também pôs em relevo o impacto das infestantes na direção e orientação das folhas de milho. Nos testes descobriu-se que, na ausência de infestantes, uma maior percentagem de folhas de milho cresce perpendicular às linhas, resultando numa cobertura mais rápida da entrelinha; num melhor desenvolvimento das plantas e na eliminação mais eficaz das infestantes na entrelinha. Por outro lado, onde há mais infestantes o milho percebe a sua presença através da mudança de luz refletida e produz mais folhas orientadas em paralelo à linha, o que resulta num atraso na cobertura da entrelinha e numa menor capacidade para fazer sombra às infestantes ( fotos C e D). CONTROLO PRÉ-EMERGÊNCIA CONTROLO PÓS-EMERGÊNCIA Dos estudos sobre a concorrência precoce das infestantes, pode concluir-se que: - as infestantes causam danos à colheita, contrariamente ao que se pensava até agora; - as infestantes não controladas, que emergem juntamente com a cultura, produzem uma perda de produção significativa e irreversível; - o controlo precoce das infestantes é

importante, porque estas afetam a qualidade da luz que incide sobre as plantas do milho; - o controlo das infestantes antes do desenvolvimento da raiz do milho é um passo crucial para maximizar o potencial

Foto A: Reflexo da luz num campo sem infestantes V/VD = 1,2

Foto B: Reflexo da luz num campo com infestantes V/VD = 0,1 a 0,9 As infestantes modificam a relação V/VD entre as frequências de radiação da luz vermelha e vermelho distante (Swanton, 2009)

Foto C: Controlo pré-emergência

produtivo da cultura, o que confirma a necessidade de um controlo herbicida eficaz na pré-emergência. IMPACTO DAS INFESTANTES NA FLORAÇÃO DO MILHO E NO NÚMERO DE GRÃOS POR MAÇAROCA A concorrência das infestantes nas primeiras etapas de crescimento do milho é uma forma de stress que tende a atrasar o desenvolvimento natural da cultura e que pode afetar negativamente os parâmetros de produção do milho. As infestantes podem causar um atraso da floração do milho, o que por sua vez provoca um atraso ainda mais pronunciado no momento da colheita, dando lugar a dificuldades operativas no campo e a riscos acrescidos de danos no grão, por exemplo, por ataques de piral ou formação de micotoxinas. Por outro lado, os estudos científicos comprovam que as plantas do milho “programam” o tamanho futuro da maçaroca quando estão no estado de 7 a 10 folhas, pelo que é muito importante que nesta etapa a cultura não seja afetada por stress ou danos de nenhum tipo. Ensaios realizados pela Syngenta comprovam que o stress provocado na cultura pela presença de infestantes pode resultar em menor número de grãos por maçaroca e, por conseguinte, numa queda de produção. Por estas razões, é importante proteger o milho da melhor maneira desde o início da concorrência das infestantes. A Syngenta dispõe de uma completa gama de soluções herbicidas para a cultura do milho para um controlo eficaz das infestantes desde as fases mais precoces do ciclo de desenvolvimento da cultura.

Foto D: Controlo pós-emergência

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FORRAGENS | FERTILIZANTES

FAZER MAIS COM MENOS

NO ÂMBITO DE UMA AGRICULTURA QUE RESPEITA O MEIO AMBIENTE, A TIMAC AGRO DESENVOLVE SOLUÇÕES DE FERTILIZAÇÃO INOVADORAS QUE MELHORAM A FERTILIDADE FÍSICA, BIOLÓGICA E QUÍMICA DOS SOLOS, FORNECENDO AS DOSES JUSTAS PARA AS NECESSIDADES DO SOLO, E ATUAM SOBRE A EFICIÊNCIA DAS UNIDADES FERTILIZANTES FORNECIDAS PARA GARANTIR A PRODUTIVIDADE E QUALIDADE DAS COLHEITAS.

A

2ª década do século XXI está a ser marcada, não por um, mas por dois fenómenos impactantes: desde 2020 que o mundo parou com a pandemia provocada pelo vírus da Covid-19. Passados 2 anos, a hipótese de uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que se veio a efetivar, provocou alterações profundas nos mercados, cujas dimensões ainda nem temos bem noção. Para já, a única certeza é a continuidade da tendência de subida de preços, em toda a cadeia e em todas as atividades económicas. Sabemos também que a nova abordagem ao setor agrícola, seguindo o modelo da Intensificação Sustentável pressupõe a redução racional do uso dos fatores de produção e da terra por via do aumento da eficiência da sua utilização. Procurando, “em duas palavras”, fazer mais com menos.

Por Equipa Técnica Timac Agro | Foto 123RTF

Por isto, as dificuldades provocadas pelo aumento dos custos devem ser encaradas como uma oportunidade única para efetivar algumas das práticas que vêm sendo apontadas como determinantes para adotarmos este modelo. Por outro lado, uma agricultura mais eficiente que permita fazer face às alterações climáticas e proteção dos ecossistemas implica gerir melhor todos os inputs na atividade agrícola. Não podemos abdicar da proteção das culturas, da nutrição ou da energia para semear ou colher. Não podemos deixar de regar, mas podemos reduzir as perdas de água ou usar adubos tecnológicos que nos permitam ser mais eficientes na utilização dos nutrientes. Isso já está hoje ao nosso alcance. Na Timac Agro, há décadas que defendemos e praticamos o uso racional dos fertilizantes, com soluções eficientes que nos permitem simultaneamente 046

trabalhar qualidade e quantidade da produção, reduzindo as unidades aplicadas através da valorização de cada uma delas. Então, como ajudar os produtores a fazer mais, com menos? Physiostart, a importância de um bom arranque… Diz o povo, na sua imensa sabedoria que “pau que nasce torto tarde ou nunca se endireita”. A verdade por trás destas palavras é que sabemos desde há muito que garantir um bom arranque das nossas culturas é meio caminho andado para o sucesso da produção final. Um bom arranque permite que a cultura resista melhor a pragas e doenças, que cubra mais depressa o terreno e abafe infestantes, com naturais reduções ao nível da utilização de produtos fitofarmacêuticos. Um bom arranque permite também um maior e mais rápido desenvolvimento do


Fazer mais com menos

FORRAGENS | FERTILIZANTES

sistema radicular da cultura, fundamental para uma correta absorção de nutrientes, e para reforçar a tolerância ao stress, permitindo no limite a aplicação de menos água e maior racionalidade na utilização de fertilizantes. A utilização de um starter como o Physiostart permite fornecer os nutrientes em doses ideais para o arranque da cultura, estimulando o desenvolvimento radicular e vegetativo através de extratos naturais de aminopurinas, obtidos a partir das algas mais tolerantes ao stress do mundo. Physiolith Os benefícios da correção do solo têm sido devidamente validados ao longo dos anos. O aumento da disponibilidade de nutrientes e a redução de bloqueios permitem aumentar a fração de nutrientes assimiláveis para a cultura. Solos com pH próximos da neutralidade estão mais disponíveis para disponibilizar nutrientes para as plantas. Veja-se o caso do fósforo cuja disponibilidade decresce cerca de 50% se o pH descer de 7 para 6! Assim manter o pH do solo neutro é muito importante para aumentar a disponibilidade dos nutrientes

para as plantas, e assim garantir a melhor nutrição, com um solo saudável, e mesmo reduzindo os nutrientes aplicados. Se há um produto que permite verdadeiramente fazer mais com menos é o Physiolith o nosso calcário marinho de excelência, conhecido pelo seu enorme poder corretivo, de tal forma que as doses de aplicação recomendadas são ¼ das de calcário terrestre. O Physiolith, por ter uma estrutura mais porosa derivada de conchas, corais e outras estruturas marinhas, é muito mais eficaz e duradouro a corrigir o pH dos solos. Além disto possui ainda o complexo natural Physio +, que é um forte estimulante do crescimento e do enraizamento. ADN Performance O recurso a substâncias bioestimulantes, como extratos de algas e plantas ou ácidos orgânicos tem sido uma ferramenta de confiança para os agricultores enfrentarem um mundo em mudança. Na Timac Agro, para além de várias gamas como o Vitalfit, Fertiactyl ou Maxifruit, com provas dadas no terreno juntaram-se, a partir de 1 de janeiro de 2022, 5 novas gamas de bioestimulantes

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que compõem o conceito ADN Performance, fazendo face às novas exigências da agricultura moderna. Estas novas gamas (Genaktis, Kaoris, Seactiv, Irys e Astelis) são fruto de 10 anos de desenvolvimento e ensaios de campo, e focam-se em 3 grandes pilares: A melhorar a expressão do potencial genético das culturas, D - reduzir o impacto do stress e N - facilitar o transporte e absorção de nutrientes. Todos estes aspetos permitem reforçar (aumentar a Performance) das plantas, equiparando-as a atletas de alta competição. Este reforço permite valorizar todos os nutrientes aplicadas, otimizando processos fisiológicos e aumentando a tolerância das culturas ao stress. Tudo isto permite aumentar produções e ao mesmo tempo reduzir a necessidade de mais fatores de produção, orientando a agricultura para o já referido modelo da Intensificação Sustentável. Estes são apenas algumas das nossas soluções que contribuem para uma agricultura moderna, que valoriza o papel do agricultor e que assegura a qualidade sem pôr em causa a sustentabilidade.


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SÉRIE DE ARTIGOS SOBRE AS '3 GRANDES' CAUSAS DA CLAUDICAÇÃO' 1 Úlceras da sola 2 Lesões de linha branca 3 Dermatite Digital 4 Claudicação como doença de transição 5 Implicações para a longevidade da vaca

SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL | BOVINOS DE LEITE

AS 3 GRANDES CAUSAS DA CLAUDICAÇÃO

EXISTEM TRÊS LESÕES PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS ​​PELA MAIORIA DAS CLAUDICAÇÕES NAS EXPLORAÇÕES LEITEIRAS. ESTAS INCLUEM AS LESÕES NÃO INFECCIOSAS - ÚLCERAS DA SOLA E LESÕES DE LINHA BRANCA, E A LESÃO INFECCIOSA - DERMATITE DIGITAL. ESTAS SÃO GERALMENTE REFERIDAS COMO AS "3 GRANDES".

MARIE-LAURE OCAÑA Dairy Technical Services Manager Zinpro Corporation mlocana@zinpro.com

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úlcera da sola está associada a um custo económico significativo, como resultado da quebra de produção de leite, menor desempenho reprodutivo, perda de peso, aumento do risco de retirada do rebanho como refugo sem valor económico, e custo de reposição da vaca. As úlceras da sola são caracterizadas pela ulceração da sola na zona 4 ( figuras 1 e 2), geralmente na unha lateral das patas traseiras. As úlceras da sola raramente são vistas noutras unhas. O início de 048

uma úlcera da sola muitas vezes pode ser percebido como um hematoma na região da zona 4. Essa contusão inicial é causada pela pressão do osso do pé ou falange distal contra o cório, de onde o novo tecido do corno é gerado. Historicamente, acreditava-se que as úlceras da sola estavam associadas ao comportamento, especialmente ao tempo excessivo em pé e ao tempo insuficiente deitado (<12 horas), principalmente durante o período de transição, quando a unha é mais vulnerável. Essa vulnerabilidade está associada ao


As "3 grandes" causas da claudicação

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relaxamento de músculos e tendões, bem como à remodelação do tecido conjuntivo na altura do parto. Essas estruturas são responsáveis ​​por manter a falange distal no lugar dentro da cápsula da unha. O movimento excessivo da falange distal dentro da cápsula da unha leva ao aumento da pressão no cório e a um risco aumentado de hematomas. Também se pensou que esta situação fosse exacerbada em vacas magras ou vacas com perda excessiva de condição corporal no início da lactação, devido ao afinamento da almofada digital. A almofada digital atua como um amortecedor entre a falange distal e o cório. A influência do comportamento na etiologia das úlceras da sola também é suportada pelo efeito das elevadas temperaturas no verão e do aumento do tempo em pé, resultando numa maior incidência de úlceras da sola no outono e no início do inverno. Recentemente, no entanto, tornou-se evidente que a inflamação desempenha um papel importante no aparecimento de úlceras da sola. A inflamação pode interferir com o suprimento sanguíneo para o cório, além de ter um efeito negativo na integridade das fibras do tecido conjuntivo que mantêm a falange distal na posição. Também foi demonstrado que o efeito do balanço energético negativo vai além do afinamento da almofada digital; está associado a uma redução do fornecimento de glicose para o crescimento de queratinócitos no casco que produz o osso. A implicação da inflamação no desenvolvimento de úlceras da sola

explica por que as vacas que enfrentam problemas como doenças, acidose ruminal e distúrbios metabólicos correm mais risco de desenvolver úlceras de sola. A prevenção de úlceras da sola requer uma abordagem holística, devido à natureza multifatorial da condição. Descrevemos algumas formas de reduzir a incidência de úlceras da sola: - fornecer um espaço de descanso adequado (10 m2 por vaca em cama, ou no mínimo, 1 cubículo por vaca); - os cubículos devem ter as dimensões corretas para o peso vivo da vaca, sendo o ideal ter uma cama com material solto superior a 10 cm. Isto é especialmente importante durante o período de transição; - evitar pressões sobre a disponibilidade temporal da vaca, reduzindo os tempos de ordenha e de espera, o tempo gasto na realização de observações de vacas novas e fornecer espaço adequado para a alimentação e o fornecimento eficiente de ração; - implementar estratégias eficazes de redução de calor para que as vacas sejam encorajadas a deitarem-se no tempo quente; - evitar a inflamação. A inflamação pode vir de uma variedade de fontes, incluindo doenças, saúde intestinal comprometida e até de uma mobilização excessiva de gordura corporal; - garantir um período de transição suave; - proceder ao aparamento funcional regular dos cascos e ao aparamento terapêutico imediato de vacas identificadas como coxas; - prestar atenção à ingestão alimentar e à fonte de minerais para ajudar as vacas a gerir a sua resposta imunológica e a garantir uma ótima saúde intestinal. O aparamento funcional regular do casco

FIGURA 2 ÚLCERA DA SOLA NA ZONA 4

FIGURA 1 ZONAS DA UNHA

Vista abaxial (de fora)

Vista de baixo

é importante, pois alivia a pressão na interface, entre a falange distal e o cório na zona 4 da unha lateral posterior. As vacas com mais idade beneficiam de um aparamento funcional duas vezes por ano, 1 mês antes da secagem e aos 90-110 dias em produção. As novilhas também podem beneficiar de um aparamento funcional de 8 a 10 semanas antes do parto, o que ajudará a reduzir a incidência de úlceras da sola em animais de primeira lactação. Prestar atenção imediata às vacas que apresentam sinais de claudicação ajudará a melhorar o prognóstico de vacas com úlceras da sola declaradas ou em processo de desenvolvimento. Quanto mais tempo a condição persistir e se manifestar, maiores serão as possibilidades de danos irreversíveis na falange distal. A ação corretiva imediata baseia-se na modelação e remoção do tecido necrótico, aplicação dum bloco na unha saudável e administração de analgésico. Os cubículos confortáveis e espaçosos também contribuem para a recuperação das vacas. Em resumo, as úlceras da sola são uma doença multifatorial e, portanto, requerem uma abordagem holística para a sua prevenção. A gestão do tempo, a disponibilização de cubículos confortáveis ​​e bem projetados, a aplicação de protocolos robustos de aparamento de cascos e a identificação de claudicações são fundamentais. Um fator importante que contribui para o sucesso da gestão da saúde do casco é o tratamento rápido e eficaz de todas as lesões, o mais cedo possível, juntamente com um programa preventivo que inclua o uso de Zinpro Performance Minerals®, como Availa® Dairy.

Vista axial (de dentro)

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PREVENIR PNEUMONIAS CAUSADAS PELO BRSV

O BRSV É UM DOS PRINCIPAIS VÍRUS ENVOLVIDOS NA DOENÇA RESPIRATÓRIA BOVINA, SE NÃO O MAIS IMPORTANTE. A INFEÇÃO POR BRSV ESTÁ ASSOCIADA A UMA ALTA MORBILIDADE DE ATÉ 80% E A UMA MORTALIDADE QUE PODE CHEGAR A 20% EM ALGUNS SURTOS. NESTE ARTIGO ABORDAMOS AS NOVAS ESTRATÉGIAS DE VACINAÇÃO PARA PREVENIR AS PNEUMONIAS CAUSADAS PELO BRSV NA RECRIA LEITEIRA. Fotos RUMINANTES

DEOLINDA SILVA Diretora Serviços Técnicos Ruminantes, Hipra Portugal deolinda.silva@hipra.com

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recria leiteira é o segundo maior custo de uma exploração leiteira, a seguir à nutrição, podendo uma novilha de substituição

custar entre 1078 € e 1752 € (média de 1442 €) de acordo com um estudo realizado em 10 explorações leiteiras da zona norte de Portugal (SVA, 2012). Com o objetivo de obter retorno económico deste investimento, consideram-se como principais metas produtivas para a recria leiteira as seguintes: - duplicar o peso do nascimento nos primeiros 2 meses de vida; - atingir 50% do peso adulto aos 12 meses; - idade ao 1º parto de 24 meses (85 a 90% do peso vivo adulto). Para se conseguir atingir estes objetivos de peso e crescimento nos primeiros 2 anos de vida é esperado que, desde o 050

nascimento ao 1º parto, o ganho médio diário seja cerca de 800 g. As novilhas que parem com um peso inferior ao esperado são uma opção cara, porque têm a sua vida produtiva limitada, a produção de leite e a fertilidade diminuídas, afetando a rentabilidade económica da exploração. IMPACTO DA DOENÇA RESPIRATÓRIA BOVINA (DRB) NA RECRIA LEITEIRA A DRB é uma grande preocupação nas explorações leiteiras devido ao seu impacto negativo na rentabilidade e no bem-estar animal, resultando de uma interação complexa de agentes


Prevenir pneumonias casudades pelo BRSV

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infecciosos (vírus e bactérias), maneio, instalações, nutrição e stress. É também uma das principais causas de morbilidade (responsável por 12,4% dos tratamentos antes do desmame) e mortalidade (22,5% pré-desmame) na recria leiteira, principalmente durante o 1º ano de vida. O seu impacto produtivo e económico em bovinos leiteiros está bem demonstrado. A curto prazo, os custos associados à DRB são: - mão de obra associada à identificação de animais doentes e seu tratamento; - custos com diagnóstico e médico veterinário, custos com tratamentos; - baixa produtividade e morte direta ou indireta dos animais afetados. A longo prazo podemos observar: - redução do ganho médio diário (até 200 g/dia) que pode originar uma redução em 22% da produção de leite na 1ª lactação; - aumento da mortalidade (antes e após o 1º parto); - atraso na idade da concepção e 1º parto de 1 a 6 meses; - aumento da incidência de mortalidade embrionária e abortos; - aumento do risco de distócia; - aumento do intervalo entre partos; - diminuição da produção leiteira e da vida produtiva, entre outros custos. Na Holanda foi determinado que o custo médio anual atribuído à DRB é de 31,20 €/ novilha (entre 18,40 € - 57,10 €) e que a ocorrência de surtos de pneumonias em novilhas com idade superior a 15 meses resultou num custo de 27€/ novilha (entre 17,10 € - 43,10 €). De acordo com este estudo, os custos com maior impacto foram o tratamento e a perda de produção futura. O PAPEL DO BRSV (VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓRIO BOVINO) NA DRB O BRSV é um dos principais vírus envolvidos na doença respiratória bovina, se não o mais importante, sendo os outros agentes os vírus BVD, IBR, PI3 e Coronavírus, e as bactérias Mannheimia haemolytica, Histophilus somni, Pasteurella multocida e Mycoplasma bovis. A distribuição do BRSV é mundial, causando frequentemente surtos de pneumonias durante o inverno e ocasionalmente no verão, estando envolvido em 60% dos casos de pneumonia em vitelas leiteiras. A incidência do BRSV está fortemente associada à densidade animal e idade, sendo frequente a

circulação deste vírus na população bovina. A infeção por BRSV está associada a uma alta morbilidade de até 80% e a uma mortalidade que pode chegar a 20% em alguns surtos (Sarmiento-Silva, 2012). A infeção entre animais ocorre por via aérea (inalação de aerossóis). Casos clínicos severos são mais frequentes em animais com menos de 6 meses, mas a infeção por este vírus pode ocorrer em qualquer faixa etária, principalmente quando o BRSV entra pela primeira vez na exploração. Os sintomas podem ser graves, variando desde morte súbita até depressão, temperatura, respiração pela boca, extensão da cabeça, formação de espuma na boca e esforço respiratório intenso. Os casos afetados com menor gravidade podem apresentar temperatura, dificuldade em respirar, descargas dos olhos e nariz. O BRSV ataca o revestimento das vias respiratórias, causando danos que aumentam a oportunidade de infeção bacteriana secundária. Os animais que sobrevivem podem permanecer com danos crónicos a longo prazo nos pulmões. É bem reconhecido que, à medida que a gravidade e o número de casos repetidos num animal aumenta, o grau de danos nos pulmões e a taxa de mortalidade também aumentam. PERÍODOS DE RISCO PARA AS PNEUMONIAS CAUSADAS PELO BRSV Existem dois principais períodos de risco para as pneumonias causadas pelo virus sincicial respiratório bovino: - a fase inicial da vida, porque a imunidade dos vitelos não é a adequada para combater este vírus. Para combater o BRSV é necessário imunidade local (vias respiratórias superiores) que o impeçam de atingir os pulmões. Em idade precoce, a imunidade do colostro das mães pode fornecer algum grau de proteção. No entanto, apenas uma pequena proporção da proteção fornecida pelo colostro sai da corrente sanguínea para proteger o revestimento das vias respiratórias. Estes anticorpos específicos estão apenas presentes durante um curto período. Assim, embora as amostras de sangue dos vitelos possam demonstrar uma proteção adequada na corrente sanguínea efetiva, a proteção local mais importante no revestimento das vias respiratórias, que é mais difícil de avaliar, diminui rapidamente. - períodos de stress que ocorrem no dia a dia de uma exploração, como o desmame, agrupamento de animais e contactos de 051

risco com animais portadores do BRSV que não apresentam sintomas da doença (ex. animais adultos). COMO PREVENIR O BRSV? Existem duas ferramentas para prevenir a doença respiratória causada pelo BRSV: o maneio e a vacinação. Um bom maneio permite-nos controlar os fatores de risco de DRB relacionados com o animal, ambiente, maneio e nutrição. No entanto, também se sabe que no caso do BRSV, na ausência de um plano vacinal adequado, mesmo que se trate de uma exploração com os fatores de risco acima referidos controlados, podem ocorrer surtos de pneumonias causados pelo BRSV que originam mortalidades elevadas. Este facto é crucial em relação ao BRSV: independentemente do maneio, se não temos uma imunidade geral adequada, os problemas irão ocorrer. ABORDAGENS ATUAIS DE VACINAÇÃO NA PREVENÇÃO DO BRSV Estão disponíveis no mercado diversas vacinas para controlo e prevenção do BRSV. Estas vacinas podem ser administradas por via intranasal para estimular a imunidade local e rápida, ou sistémica (via intramuscular ou subcutânea), em diferentes idades. A proteção dos vitelos jovens, com menos de 12 semanas, através da vacinação sistémica é sempre um desafio, devido à interferência da imunidade colostral (anticorpos maternais em circulação). As vacinas intranasais ultrapassam esta questão e têm sido uma resposta a esta questão. VACINAÇÃO INTRANASAL SEGUIDA DE REFORÇO INTRAMUSCULAR O conceito de expor o sistema imunitário a diferentes partes dos vírus e por diferentes vias (abordagem heteróloga sensibilização-reforço) irá alcançar uma resposta imunitária mais equilibrada, mais potente e mais duradoura. A aplicação inicial da vacina “pelo nariz” em idade precoce origina duas respostas importantes. Primeiro, proporciona uma imunidade/proteção local no revestimento das vias respiratórias em vitelos muito jovens, desde a primeira semana de vida, independentemente da imunidade colostral. Depois, esta primeira dose por via intranasal funciona como preparação para a segunda dose que pode


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ser administrada por via intramuscular, mais tarde. A segunda dose vem reforçar a proteção e oferece uma maior duração da imunidade. Existe uma enorme variação da eficácia e duração da imunidade das diferentes vacinas e vias de administração. É essencial seguir as recomendações dos fabricantes relativamente ao intervalo entre doses, via de administração e idade dos animais a vacinar. CONCLUSÕES O BRSV é uma causa importante de doença respiratória e é comum nas explorações leiteiras, sendo os animais jovens os mais afetados. O BRSV é disseminado pelo ar e infeta as vias respiratórias superiores e os pulmões, e a imunidade dos animais em idade precoce contra este vírus não é a adequada. A imunidade local das vias respiratórias (superiores e inferiores) é essencial para a proteção contra este vírus. A resposta

imunitária às vacinas convencionais para o BRSV (via intramuscular) pode ser afetada pelos anticorpos maternais. As vacinas intranasais aportam três principais vantagens na vacinação contra o BRSV: - induzem a imunidade local “no nariz” (mucosa nasal) essencial para o BRSV; - não são afetadas pelos anticorpos maternais; - estimulam a memória do sistema imune para um posterior reforço da vacinação. Este reforço posterior da vacina por via intramuscular, quando a imunidade de origem materna tiver diminuído, vai reforçar a imunidade local e sistémica proporcionando uma duração da imunidade protetora. A estratégia combinada de vacinação intranasal, seguida de revacinação por via intramuscular, é a tecnologia de ponta nas vacinas respiratórias para o BRSV, sendo uma ferramenta importante para a proteção contra as pneumonias e contra este vírus. 052

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FOTO 1 Box individual, sem espaço exterior.

FOTO 3 Alojamento em grupos de 3 ou 4 vitelas com zona de recreio mais ampla.

FOTO 2 Box individual, com espaço exterior.

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CRIAR VITELAS DE LEITE EM GRUPO OU ISOLADAS?

1ª PARTE: OS PRÓS - NA PRIMEIRA PARTE DESTE ARTIGO, IREMOS ABORDAR ESSENCIALMENTE AS DESVANTAGENS DA RECRIA DE VITELAS ISOLADAS DE OUTROS ANIMAIS E AS VANTAGENS DA ADOÇÃO DO SISTEMA EM PARES OU EM PEQUENOS GRUPOS.

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Por George Stilwell, Médico Veterinário, Faculdade Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa, email: stilwell@fmv.ulisboa.pt Fotos FG

questão de criar vitelas de leite em grupo ou isoladamente, continua a despertar intensa discussão. Há vantagens em isolar os animais recém-nascidos ou o contacto social é útil ao seu desenvolvimento? Se for decidido criar em grupo, que cuidados adicionais deveremos ter? Qual a dimensão ideal para os grupos e a partir de que idade deveremos juntar as vitelas? Como sempre, vou tentar, dentro do possível, suportar as informações e as recomendações em evidências científicas robustas através da consulta daquilo que tem sido publicado ao longo dos últimos anos. Aliás, será dessa evidência científica que nascerão os regulamentos e as diretivas legislativas que se estão a preparar no âmbito da estratégia da UE “do Prado ao Prato” e que afetarão o sector leiteiro nos próximos anos. Nesta primeira parte da peça iremos abordar essencialmente as desvantagens da recria de vitelas isoladas de outros animais e as vantagens da adoção do sistema em pares ou em pequenos grupos. Num próximo número da revista Ruminantes, iremos falar sobre as potenciais desvantagens da utilização de grupos e ainda tecer algumas

considerações acerca da composição do grupo ideal… se é que isso existe. O QUE ACONTECE NA NATUREZA Pouco antes do parto, as fêmeas gestantes da maior parte dos ruminantes selvagens e também dos bovinos mantidos em regime extensivo, tendem a isolar-se para que o nascimento se faça numa área longe da interferência dos restantes membros da manada. Durante os primeiros dias após o parto, a mãe mantem o recém-nascido escondido entre arbustos ou vegetação alta enquanto pasta nas proximidades. A cria praticamente não se movimenta e é totalmente dependente do leite fornecido pela mãe, sendo alimentada aproximadamente 8 a 12 vezes por dia durante a primeira semana de vida, mamando por períodos de aproximadamente 10 minutos. Terminado este período de adaptação, o vitelo passa a seguir a vaca integrandose definitivamente na manada. Após a segunda semana de vida, começa a aumentar a distância de afastamento da vaca, a interagir com os pares e a formar pequenos grupos com outros

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vitelos, se existirem. A constatação deste comportamento na Natureza, desencadeou a vontade de se estudar e de se perceber até que ponto a perturbação desta sequência de acontecimentos, influenciava o desenvolvimento e o bemestar dos vitelos criados em condições mais intensivas (especialmente nas manadas produtoras de leite em que a cria é retirada da mãe pouco depois do nascimento). A par da razão zootécnica, uma outra incentivou a investigação científica – a crescente exigência dos consumidores para que sejam proporcionadas condições aos animais de produção para poderem expressar o seu comportamento natural. A SITUAÇÃO ATUAL NA PRODUÇÃO Todos sabemos o que tipicamente acontece nas vacarias de leite em regime intensivo: as crias são separadas da vaca logo após o nascimento (quase sempre dentro das primeiras 12 horas), alimentados com colostro pelo produtor e transferidas para compartimentos individuais, com ou sem acesso a uma pequena área de exercício ( fotos 1 e 2).


Criar vitelas de leite: em grupo ou isoladas?

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Dependendo da finalidade ( fêmeas de substituição ou machos/fêmeas para engorda) e do maneio e instalações disponíveis, o tempo em que se mantem o vitelo nestes compartimentos varia entre aproximadamente 1 semana e as 8 semanas. A partir dos 2 meses a legislação (Decreto-Lei n.º 48/2001, de 10 de Fevereiro) obriga a que os animais passem a estar em grupos, excecionandose animais doentes e aqueles que nascerem em explorações muito pequenas (menos de 6 vitelos). Interessa, por isso, avaliar e discutir apenas o interesse ou não do agrupamento de vitelas entre o nascimento e os dois meses de idade. O CONTACTO SOCIAL Há bastante evidência científica que sugere que os vitelos recriados num ambiente rico em termos sociais, são menos medrosos e normalmente assumem posições dominantes quando misturados em grupos, mais tarde na vida (Veissier et al., 1994). Ou seja, têm maior facilidade em se encaixar na complexa organização social que compõe uma manada, evitando estados mentais de ansiedade e frustração que comprometem a sua saúde e bem-estar. No mesmo sentido, Jensen e Larsen (2014) e Paula Vieira et al. (2010), mostraram que as vitelas mantidas em isolamento eram mais reativas e mostravam mais sinais de medo perante situações novas, incluindo serem colocadas na presença de vitelas estranhas, e vocalizavam mais quando eram desmamadas, quando comparadas com animais mantidos em pares desde o nascimento. Estas constatações podem ter uma enorme importância se levarmos em conta que as novilhas e as vacas leiteiras irão enfrentar variadíssimas situações de novidade ao longo da vida – mudanças na dieta, mudanças frequentes de parques, reagrupamento com novas parceiras sociais, contacto com humanos desconhecidos, para além de todos os procedimentos de ordenha. Se conseguimos garantir que estes não são momentos causadores de grande stress, teremos animais mais fáceis de lidar, mais saudáveis, mais férteis e mais produtivos ( foto 3). Também o desenvolvimento cognitivo parece ser afetado pelo isolamento desde idade precoce. Tem sido demonstrado que para estas vitelas será mais difícil aprender novas tarefas, como, por exemplo, dirigirse à ordenha, manter-se quieta durante a ordenha, entrar numa manga ou adotar os

cubículos para descansar. Uma experiência conduzida por uma equipa da Universidade de British Columbia mostrou que as vitelas criadas em pares aprendiam muito mais depressa qual o botão a pressionar para obter uma refeição de leite, do que aquelas que tinha sido mantidas em boxes individuais. Ou seja, animais criados isoladamente exibem aptidões cognitivas deficientes e dificuldades de aprendizagem, o que reduz a sua capacidade em se adaptar a ambientes e a maneios que são necessariamente mutáveis e inconstantes. Igualmente amplamente comprovado por diversos estudos, é a maior e mais precoce ingestão de alimento sólido que ocorre nas vitelas que se encontram em grupo. Comparando animais mantidos em boxes individuais até ao desmame ( fotos 1 e 2) com animais criados em pares ou em pequenos grupos ( foto 3), comprovouse que as segundas começavam a comer concentrado mais cedo, comiam maior quantidade e chegavam ao desmame com pesos superiores (Paula Vieira, et al. 2010). Esta diferença pode ser explicada pelo “princípio de facilitação social” sugerido por Galef e Laland (2005) como sendo o desencadear de um comportamento particular apenas por ver outros envolvidos nesse mesmo comportamento. Ou seja, as vitelas que observam outras vitelas a procurar e a comer algo, têm maior tendência também a investigar e a experimentar esse alimento. E, sendo uma espécie gregária, em que a sincronização de comportamentos é natural, haverá mais refeições a decorrer durante o dia. É consensual que a atividade e o movimento são componentes importantíssimos do desenvolvimento corporal dos animais. O exercício muscular em vitelas é essencial a um crescimento harmonioso e deve ocorrer ao longo de todo o dia. Esta atividade deve incluir marcha, interações sociais e mesmo o ato de brincar que é composto por corridas, pinotes, cabriolas, coices etc… (Jensen et al, 2015). A negação desta atividade não tem apenas consequências físicas, já que sendo bastante elevada a motivação para exercer exercício, a impossibilidade causa tédio, frustração e stress. Um outro benefício da manutenção desde cedo de vitelas em grupo tem a ver com aspetos mais práticos. É consensual que a recria em grupo leva, normalmente, a uma redução da necessidade de mão-de-obra por cabeça. Um estudo recente relatou que a "redução do trabalho" e o "tempo livre" estavam entre as principais razões 055

apontadas por produtores para a adoção do sistema de recria em grupo (Hötzel et al., 2014). O desenvolvimento de sistemas automatizados de alimentação para vitelas ainda acelerou mais a adoção de alojamentos em grupo, principalmente nas explorações leiteiras de maiores dimensões (Kung et al., 1997). De referir ainda um estudo (Jensen et al., 2014) em que se procurou saber até que ponto a visualização e mesmo o contacto físico limitado entre animais colocados em dois compartimentos contíguos (como a legislação obriga), poderia colmatar as desvantagens do isolamento. A resposta foi que este contacto social limitado não faz grande diferença em termos de desenvolvimento. Ou seja, não compensa ou sequer minimiza os efeitos da separação. Finalmente, há razões éticas, partilhadas por produtores e consumidores, para a preferência pelo sistema em grupos desde tenra idade (Boogaard et al., 2010; Ventura et al., 2013). Num momento em que se quer promover e certificar boas-práticas na produção de bovinos no geral e de vacas leiteiras em particular, é importante que a recria adote procedimentos que obtenham a maior aprovação possível. A prática de isolamento social dos animais jovens normalmente causa uma enorme apreensão na sociedade em geral e nos consumidores em particular. A imagem da produção de leite em sistemas nos quais os bovinos, como animais gregários, são essencialmente mantidos em grupo, tem muito mais hipóteses de levar a um aumento dos seus clientes. CONCLUSÕES Conclui-se, portanto, que fortes e consistentes evidências cientificas demonstram que há prejuízos sociais, cognitivos, comportamentais e mesmo de desenvolvimento físico, associados à instalação isolada de vitelas de leite. Por outras palavras: está suficientemente comprovado que o contacto social nos primeiros 2 meses de vida, melhora a capacidade de aprendizagem, a adaptação a situações de novidade, a habituação mais rápida a alterações de maneio, para além de garantir maiores ganhos de peso até ao desmame. Haverá algumas desvantagens em agrupar animais tão jovens? Porque razão a tradição tem favorecido a recria em isolamento? Sobre eventuais riscos, falaremos num segundo artigo a publicar brevemente.


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Figura 1 A produção de β caseína A1 ou A2 é determinada pela presença de formas diferentes do gene que codifica para a sua produção (Semex).

Figura 2 Exemplos de leite A2 disponíveis no mercado de outros países.

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O QUE É O LEITE A2?

O LEITE A2 É UMA ALTERNATIVA AO LEITE CONVENCIONAL CUJO MERCADO TEM CRESCIDO DE FORMA RÁPIDA, EM VÁRIOS PAÍSES ESPALHADOS PELOS VÁRIOS CONTINENTES. A SUA PRODUÇÃO DEPENDE DA GENÉTICA DAS VACAS, NÃO PODENDO SER SINTETIZADO COM A ADIÇÃO DE COMPONENTES PELA INDÚSTRIA. APESAR DE AINDA NÃO SER COMERCIALIZADO EM PORTUGAL, EXISTEM PRODUTORES QUE HÁ VÁRIOS ANOS TOMARAM A DECISÃO DE FAZER SELEÇÃO GENÉTICA INCLUINDO ESTA CARACTERÍSTICA. 1

Por Ricardo Bexiga1, Bruno Palaio2 Faculdade de Medicina Veterinária; Serbuvet, Lda. 2 Sociedade Agro-Pecuária Palaio, Lda | Autor correspondente: ricardobexiga@fmv.ulisboa.pt

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leite é um dos alimentos mais nutritivos que existem sendo constituído por cerca de 87% de água e 13% de sólidos. Entre estes sólidos encontram-se entre 3,5 e 4,0% de proteína, dos quais quase 80% são caseína, sendo os restantes 20% as proteínas do soro de leite, predominantemente α e β-lactalbumina. As caseínas por sua vez podem ser de 4 tipos - αS1, αS2, β e κ – tendo a β caseína, 12 variantes genéticas (A1, A2, A3, B, C, D, E, F, G, H, I, J). O tipo de β caseína presente no leite é por isso determinado pela composição genética da vaca que produz o leite, correspondendo a β caseína a 25 a 30% da proteína do leite. A diferença estrutural entre a β caseína A1 e A2 reside num único aminoácido, mas é suficiente para toda a conformação tridimensional desta proteína ser diferente, o que por sua vez afeta os padrões de clivagem enzimática durante a digestão. De facto, a clivagem enzimática da β caseína A1 é mais fácil, resultando num número mais elevado de péptidos do que os que resultam da ação enzimática sobre a β caseína A2.

A produção de β caseína A1 ou A2 é determinada pela presença de formas diferentes do gene que codifica para a sua produção. As vacas podem receber um alelo A1 ou A2 de cada progenitor, podendo por isso cada animal ser portador do gene nas variantes A1A1, A1A2 ou A2A2 ( figura 1). QUAL O INTERESSE NO LEITE COM β CASEÍNA DA VARIANTE A2? A lactose, o único açúcar presente no leite, é clivada a nível do intestino delgado pela enzima lactase, em glucose e galactose. A ausência da enzima lactase numa porção significativa da população humana adulta, impede essa clivagem, levando à passagem de lactose para o intestino grosso onde é metabolizada por bactérias, com consequentes sinais clínicos como dor abdominal, flatulência e diarreia. Esta incapacidade de digerir a lactose e o quadro clínico associado constituem a chamada intolerância à lactose, responsável por muitas pessoas abandonarem o consumo de leite ou procurarem variantes de leite sem lactose. No entanto, raras vezes será confirmado que a responsabilidade pelos sinais clínicos consequentes ao consumo de leite 058

serão de facto atribuíveis à intolerância à lactose. Existe ampla evidência na literatura científica de que os sinais clínicos atribuídos à intolerância à lactose poderão também ser atribuídos à digestão da β caseína A1. Vários estudos realizados em humanos mostraram diferenças significativas na ocorrência de inchaço abdominal, dor abdominal, frequência de defecação e consistência das fezes, entre pessoas, após consumo de leite proveniente de vacas com genótipo A1A1, A1A2 e A2A2. Parece, portanto, que pelo menos uma parte das pessoas que se dizem intolerantes à lactose poderão, de facto, estar a sentir os efeitos do consumo da β caseína A1. Vários estudos têm incidido sobre outros potenciais efeitos sobre a saúde, relativamente ao consumo de leite dito de tipo A1 ou A2. Parece não haver evidência de que o consumo de leite A2, comparativamente com o leite A1, tenha efeitos protetores contra as doenças cardiovasculares ou contra a diabetes mellitus. Parece, no entanto, haver indícios que apontam para uma menor tendência para inflamação do tipo alérgico. De facto, a ingestão de leite A2 será menos pro-


O que é o leite A2?

LEITE | BOVINOS DE LEITE

inflamatória do que a ingestão de leite A1, podendo por isso ser protetora contra a asma e outro tipo de condições alérgicas. Existem evidências de que o consumo dos leites com diferentes tipos de β caseína leva também a diferenças em termos cognitivos. Testes realizados para avaliar a velocidade e eficiência do processamento de informação, revelaram que participantes que consumiam leite A2 demonstravam velocidades de processamento ligeiramente mais rápidas, assim como níveis de erro inferiores. O MERCADO DO LEITE A2 Apesar de ainda não ser vendido leite A2 em Portugal, internacionalmente existem mercados em que este leite já está presente há alguns anos, incluindo a Nova Zelândia, Austrália, Estados Unidos da América, Canadá e China. O mercado global de leite A2 foi avaliado em 8.5 biliões USD em 2020, com uma previsão de que atinja 25.5 biliões USD em 2027. Esta subida esperada no consumo deste tipo de leite terá a ver com uma procura dos consumidores pelos chamados alimentos funcionais, alimentos cujo consumo se considera trazer benefícios, seja em termos de saúde, seja noutras áreas como a área cognitiva.

Esta tendência manifesta-se não apenas no leite na forma líquida, mas também no leite em pó para bebés, tendo sido lançadas no mercado internacional várias formulações com leite A2 ( figura 2). COMO PRODUZIR LEITE A2 Ao contrário de outros leites com determinadas características do ponto de vista da sua composição, como o leite enriquecido em cálcio ou em ácidos gordos Omega 3, o leite com β caseína A2 não pode ser sintetizado em fábrica pela adição de um suplemento ao leite. A produção de leite A2 depende do genótipo das vacas presentes numa determinada vacaria, relativamente ao gene que codifica para a síntese de β caseína. Tal como escrito anteriormente, esse genótipo pode ser A1A1, não levando a qualquer síntese de β caseína A2; A1A2, que leva à produção de β caseína A1 e A2; ou A2A2, situação em que apenas é sintetizada β caseína A2. Para termos um genótipo A2A2 numa vaca, este animal teve de receber um alelo A2 da mãe e outro alelo A2 do pai, algo que só acontecerá com a seleção de touros A2A2 no efetivo de uma vacaria ao longo de gerações. A generalidade das empresas fornecedoras de sémen, hoje em dia,

possuem touros nos seus catálogos com o genótipo A2A2 ( figura 3). Isso acontece para várias raças de vacas leiteiras, sem que tenha qualquer influência noutro tipo de características. A determinação do genótipo de cada animal pode ser realizada de forma individual, através do envio de uma amostra de sangue para um laboratório que esteja apto a realizar essa análise, podendo ser feita em Portugal. A determinação da presença da proporção de β caseína A1 e A2 pode ser realizada a partir do leite de tanque, sendo no entanto uma análise disponível em poucos laboratórios (tanto quanto os autores sabem, não disponível na Europa), e bastante dispendiosa. A produção de leite A2 carece também, geralmente, de certificação por uma entidade externa. Esta situação poderá ser uma barreira à massificação da produção e venda de leite A2, mas sem dúvida que a maior barreira reside no facto de o processo de produção deste tipo de leite depender de uma decisão estratégica tomada vários anos antes de poder ser utilizada como um fator de diferenciação para a vacaria leiteira, pois implica um trabalho de seleção genética que levará anos até ter o efeito pretendido.

FIGURA 3 EXEMPLO DE UM TOURO COM GENÓTIPO A2A2, QUE OBRIGATORIAMENTE PASSARÁ UM ALELO A2 À DESCENDÊNCIA (FONTE: SEMEX)

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POWERING PROGRESS | COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL DE HEUS

ESTÁ PRONTO PARA O FUTURO?

ESTÁ PRONTO PARA O FUTURO? A PRODUÇÃO LEITEIRA ESTÁ A MUDAR RAPIDAMENTE. NOVOS DESENVOLVIMENTOS SUCEDEM-SE E OS DESAFIOS SÃO ENORMES. GESTÃO DA INFORMAÇÃO, ORDENHA ROBOTIZADA, REDUÇÃO DE MEDICAMENTOS, ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS, PEGADA DE CARBONO, POLUIÇÃO AMBIENTAL, APENAS PARA MENCIONAR ALGUNS. ESTÁ PREPARADO PARA ESTAS MUDANÇAS? A DE HEUS ESTÁ A ACOMPANHAR TODAS ESTAS TENDÊNCIAS DO MERCADO E A AVALIAR O SEU IMPACTO PARA UM PRODUTOR AGRO-PECUÁRIO. COMO PODE A DE HEUS AJUDÁ-LO A ESTAR PRONTO PARA O FUTURO? Por Equipa Técnica Ruminantes De Heus

TENDÊNCIAS DE MERCADO Rebanhos maiores, menos explorações Em quase todos os países, vemos uma tendência de crescimento da dimensão média das explorações agrícolas e uma redução do número dessas explorações agrícolas. Em Portugal, o número de explorações leiteiras é apenas 25% do que era há 20 anos. E as explorações são 3 vezes maiores do que eram há 20 anos. Grandes explorações agrícolas significam um nível acrescido de complexidade e uma maior necessidade de tempo dedicado à gestão por parte do agricultor. Maior escolarização dos agricultores O nível de estudos dos agricultores tem

vindo a aumentar ao longo do tempo. Reflexo da maior escolarização da sociedade em geral, mas também como resposta à crescente complexidade da gestão de uma exploração agrícola, que requer uma gestão crescentemente profissionalizada. A produção leiteira é um negócio exigente de recursos, num contexto em rápida mudança. Volatilidade dos preços do leite e dos alimentos para animais Gerir uma exploração agrícola seria muito mais fácil com um preço fixo elevado do leite e um baixo preço de alimentação, mas infelizmente os preços são voláteis. Sempre foi assim, mas como os investimentos são cada vez mais elevados e 060

as explorações agrícolas maiores, os riscos das diferenças de preços tendem a ser maiores. E, por conseguinte, a necessidade de uma elevada eficiência alimentar (kg de leite por quilograma de ingestão de matéria seca) é mais importante do que nunca. Dataficação/gestão da informação do setor dos laticínios Há uma enorme quantidade de dados numa exploração leiteira. Produção diária de leite de cada vaca, medida com registo automático de leite numa ordenha ou num robot. Gordura, proteína, lactose, ureia, contagem de células somáticas das entregas do tanque de leite. Muitas explorações têm dados de controlo do leite de vacas individuais com níveis de leite,


Está pronto para o futuro?

COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL DE HEUS

gordura e proteínas. Dados de fertilidade sobre inseminações, gravidez e intervalos entre partos. Dados sobre as quantidades de alimento no misturador. E cada vez mais explorações têm dados de sensores de condições ambientais (temperatura, humidade), ruminação, etc. O agricultor tem o desafio de, num contexto de crescente complexidade, transformar todos estes dados em informações úteis à tomada de decisões no contexto da sua exploração agrícola. Aumento da ordenha robotizada O número de sistemas de ordenha automática aumentou consideravelmente nos últimos anos. Na Holanda, 30% dos agricultores já ordenham com um robot. E mais de 70% dos sistemas de ordenha recém-comprados são robots. Em Portugal esse número ainda não é tão alto, mas certamente aumentará rapidamente. A mão-deobra é escassa e cara. Com um sistema de ordenha robotizada pode ordenhar mais vacas com menos mão-de-obra, facilitando o seu trabalho. Mas o robot é um investimento elevado, pelo que um agricultor que tem um robot, quer otimizar o seu uso. E múltiplos fatores podem influenciar o funcionamento do robot, desde o comportamento de um animal, à sua dieta, ingestão de ração, saúde e produção de leite. Maximizar a eficácia do seu robot, bem como o retorno sobre o seu investimento, exige uma abordagem integrada, já que todos os elementos estão ligados entre si. Sustentabilidade A somar às mencionadas tendências económicas e tecnológicas, há uma série de tendências sobre a sustentabilidade da produção de leite. E temos de nos preparar para isso também. A população mundial está a crescer e a procura de alimentos está a aumentar. Nos próximos 30 anos, o mundo terá de produzir mais alimentos do que nos últimos 6.000 anos. O mercado mundial de lacticínios deverá crescer 2% a 3% ao ano. É importante produzir estes alimentos de forma sustentável, com o menor impacto ambiental. Isto significa uma elevada eficiência de azoto e fósforo, alta eficiência alimentar, baixa emissão de metano e uma baixa pegada de carbono. Além destas questões de sustentabilidade ambiental, há um interesse crescente em melhorar a saúde e o bem-estar dos animais e reduzir a utilização de medicamentos.

A AGRICULTURA DO FUTURO A atenção aos detalhes Os agricultores do futuro são cada vez mais empreendedores e gestores. É impossível a um agricultor dominar todos os aspetos da vida de uma exploração agrícola. Por outro lado, resultados rentáveis dependem de fazer (quase) tudo bem feito, tal como no desporto de alta competição. O diabo está nos detalhes. Por isso, os agricultores, tal como os desportistas, precisam de uma boa estrutura de suporte. Aconselhamento As tendências de mercado acima referidas traduzem-se numa elevada necessidade de aconselhamento de qualidade. Com foco em excelentes resultados técnicos, mas também na rentabilidade, eficiência e retorno do investimento. E sempre que possível com previsibilidade de resultados, de forma a reduzir o risco. Agricultura rentável, saudável e sustentável Há um ditado que diz "Os vencedores têm um plano, os perdedores têm uma desculpa". Isto significa que, para os bons empreendedores, é importante saber onde querem estar em 3-5 anos, quais os seus objetivos. E os seus parceiros de negócio, que os suportam nos processos de tomada de decisão, devem conhecer e compreender estes objetivos, e poder fazer uma boa análise da exploração agrícola: qual é o fator mais limitativo desta exploração para atingir os objetivos? Qual o impacto financeiro das alterações propostas? Tradicionalmente, o técnico de nutrição animal, o veterinário e o contabilista são os apoios mais importantes para um agricultor. A colaboração entre estes é fundamental para ajudar o agricultor da melhor forma possível para o futuro, de forma a obter uma agricultura rentável, saudável e sustentável. COMO PODE A DE HEUS AJUDÁ-LO A ESTAR PRONTO PARA O FUTURO? Na De Heus todos os dias trabalhamos para garantir o acesso a alimentos seguros e saudáveis a uma população global em crescimento. Fazemo-lo fornecendo aos nossos clientes os produtos e serviços de que precisam para cuidar dos seus animais e gerir o desenvolvimento sustentável dos seus negócios. Enquanto empresa presente em mais de 20 países, aplicamos o nosso 061

conhecimento e experiência em conceitos nutricionais, ferramentas e produtos de que os nossos clientes precisam para cuidar dos seus animais e gerir o seu negócio de forma sustentável. E a nossa equipa técnicocomercial está preparada para lado a lado com os nossos clientes apoiá-los a alcançar os seus objetivos. OS PRINCIPAIS CONCEITOS NUTRICIONAIS DA DE HEUS Kaliber O plano de recria de novilhas Kaliber vai ajudá-lo a criar novilhas bem desenvolvidas e a reduzir a idade ao primeiro parto no seu rebanho, de modo a melhorar significativamente o retorno económico da sua exploração. Prelacto O Plano Prelacto para o Período Seco, da De Heus, vai ajudá-lo a optimizar o período de transição entre lactações para melhorar o desempenho das suas vacas e reduzir significativamente o impacto de doenças no seu rebanho. SFOS A De Heus usa o seu próprio sistema de cálculo de dietas para vacas leiteiras. A sigla SFOS é abreviatura de Synchro Fermentable Organic Substance e dá nome a um modelo tecnológico que tem por base a procura do equilíbrio das necessidades do rúmen. RobotExpert O Sistema de Alimentação Inteligente RobotExpert descreve a relação entre os diversos fatores que influenciam a ordenha robotizada. Quer o seu objetivo seja melhorar a eficácia do seu robot, aumentar a capacidade de produção das suas vacas, ou libertar tempo no seu robot, a nossa análise na exploração vai ajudá-lo a otimizar o comportamento do seu robot. Margin Monitor Milk O Margin Monitor Milk (MMM), que tem como objetivo monitorizar a eficiência e a rentabilidade das explorações permitindo calcular os custos de alimentação, a eficiência alimentar, o custo por litro de leite e, finalmente, a Margem do Leite da exploração. CoolCare A solução CoolCare ajuda à fertilidade animal, saúde e bem-estar na sua exploração, mantém o desempenho animal e reduz o stress causado pelo calor.


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SOLUÇÕES NATURAIS À BASE DE PLANTAS

AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS QUE JÁ SÃO EVIDENTES, COM MAIOR OU MENOR EXPRESSÃO, A NÍVEL GLOBAL, TÊM CONDUZIDO AO AUMENTO DA SENSIBILIDADE DOS CONSUMIDORES PARA A SUSTENTABILIDADE DOS MÉTODOS DE PRODUÇÃO DOS BENS QUE ADQUIREM. SÃO VALORIZADOS PRODUTOS CUJO PROCESSO DE FABRICO COMPREENDE PRÁTICAS QUE REDUZAM O DESPERDÍCIO AO LONGO DA CADEIA E COM REDUZIDA PEGADA AMBIENTAL. Por Equipa Técnica DIN

A

indústria de laticínios deve considerar esta nova conjuntura, de forma a ir de encontro às expetativas dos consumidores. Todos os intervenientes da cadeia devem adaptar-se a um “novo” mercado que apresenta novas exigências, mas sobretudo aqueles que se situam ao nível da produção primária – produtores pecuários, produtores de matérias-primas e fabricantes de alimentos para animais. As soluções nutricionais naturais à base de plantas da gama Vivactiv ajudam os produtores de leite nesta transição.

MELHORA A FUNÇÃO DIGESTIVA Os produtos da gama Vivactiv exercem a sua ação ao longo de todo o sistema digestivo: desde o aumento da salivação ao aumento da fermentação ruminal, até ao estímulo de enzimas digestivas no intestino para uma melhor absorção de nutrientes. Como resultado, constatamos um melhor aproveitamento proteico e energético, assim como um aumento da eficiência alimentar. Dependendo do tipo de dieta e do nível de produção, este aproveitamento pode aumentar até 5% ao nível energético e até 10% ao nível da proteína. A valorização de energia 062

e proteína é atribuída a cada produto consoante o tipo de arraçoamento, resultando assim num valor mais preciso da alimentação e/ou da dieta completa. Paralelamente, ao regular a fermentação ruminal, a solução da gama Vivactiv contribui para uma melhor estabilização do pH ruminal, o que reduz o risco de timpanismos ou acidose. Esta mais-valia origina assim uma melhor saúde ruminal do rebanho, o que permite também um aumento do nível de cereais mais fermentescíveis, o que pode também reduzir a necessidade de compra de fontes de energia mais caras, como por exemplo gordura protegida.


Soluções naturais à base de plantas

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ORIGINAL E NATURAL A gama Vivactiv é uma solução 100% natural baseada em extratos de plantas e oligoelementos. No âmbito da nossa pesquisa de aditivos fitogénicos, foram testados mais de 260 ingredientes ativos, tanto individualmente como combinados, assim como em diferentes doses, com o objetivo de encontrar a melhor associação/combinação entre a redução do metano ( figura1) e a melhoria do desempenho (tabela 2). Vários desses estudos foram realizados e publicados em parceria com institutos públicos de pesquisa (ver figura e tabela). Os nossos estudos evidenciaram que o azoto ureico no leite (MUN) diminuiu significativamente, enquanto aumentou a produção de leite. Isto é um sinal claro de uma melhor eficiência proteica, pois o azoto excretado na urina está linearmente correlacionado com o nível de MUN no leite. Assim, a gama Vivactiv permite reduzir significativamente a excreção de azoto urinário e, por conseguinte, a poluição ambiental (reduzindo as emissões de NH3).

RENTÁVEL COM EMISSÕES MAIS BAIXAS O custo do investimento é, muitas vezes, um obstáculo para que as preocupações ambientais se tornem uma prioridade. Com a gama Vivactiv, os agricultores podem reduzir significativamente as emissões de carbono e azoto, ao mesmo tempo que ganham dinheiro graças à redução nos custos de alimentação, sem comprometer os desempenhos. Por exemplo, o ganho para um fabricante de ração é de cerca de 10 a 20 €/ton, dependendo da formulação, o que se reflete em 300000 a 600000 € para uma fábrica que produza 3000 ton de ração para ruminantes. Para o produtor, o ganho é de 0,20 a 0,35€ por vaca e dia, o que numa exploração de 500 vacas leiteiras corresponde a cerca de 45000 €/ano. Para garantir a melhor eficiência, a gama Vivactiv dispõe de três produtos adequados para diferentes dietas (tabela1) Os produtos Vivactiv podem ser incluídos nos alimentos compostos complementares, alimentos minerais ou diretamente no misturador móvel na exploração. Na gama Vivactiv existem também produtos adequados para a agricultura biológica. Concluindo, a gama Vivactiv oferece produtos de origem natural com um custo acessível e totalmente “amigos do ambiente” ao proporcionar a obtenção de alimentos mais sustentáveis.

compra de matérias-primas importadas, muitas vezes mais dispendiosas e menos sustentáveis. Como exemplo, num rebanho de 500 vacas podemos reduzir a compra de bagaço de soja até aproximadamente 70 ton por ano, apenas com a diminuição do nível de proteína total da dieta. É possível ir ainda mais longe, substituindo a totalidade ou parte do bagaço de soja por fontes proteicas de menor qualidade (como por exemplo colza e girassol). Adicionalmente, a gama Vivactiv contribui para uma redução da emissão de gases com efeito estufa, como o metano, entre 6,5 e 10% (CCPA-INRA, 2011). Esta redução é possível devido ao facto de os extratos vegetais que compõem a gama Vivactiv terem uma ação direta sobre as bactérias metanogénicas e a população de protozoários. As emissões de amoníaco também são reduzidas até 13% devido ao uso mais eficiente do azoto ingerido, representando uma diminuição de cerca de 15 ton/ano de amoníaco num rebanho de 500 vacas. Outra vantagem é a diminuição da taxa de degradação do amido rápido. Isso permite aumentar o uso de outros cereais como o trigo, cevada ou centeio com maior segurança, face a problemas de acidose ou timpanismos, promovendo assim uma melhor segurança digestiva.

AGRICULTURA SUSTENTÁVEL Ao valorizar a alimentação, como descrito, a gama Vivactiv permite o uso de outras fontes de matérias-primas locais ou de mais forragens, tornando os produtores menos dependentes da

TABELA 1 GAMA DE PRODUTOS VIVACTIV TURBOVIV

AMIVIV

RUMIVIV

Dietas equilibradas

Dietas ricas em amido; para produção de carne; dietas com baixa relação concentrado/forragem

Para proteger a soja ou outros tipos de fontes de proteicas

FIGURA 1 EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM VIVACTIV NOS GASES COM EFEITO ESTUFA

TABELA 2 IMPACTO DA SUPLEMENTAÇÃO DE VIVACTIV NA EFICIÊNCIA PROTEICA

Impacto de 5 extratos de plantas e duas doses na produção de metano in vitro 100

Ingestão, kg MS

Redução %

80 60 40 20 0

1

2 0 - Controlo

3 Óleo Essencial Dose 1

4

Testemunha

Vivactiv

25,9

25,5

Produção de leite, kg

36

37,9

MUN, mg/dL

10,3

9,75

Eficiência FCM/DMI

1,45

1,56

Graziottin e para o JDS 2020 * FCM: Leite corrigido por energia DMI: Ingestão de Matéria Seca.

5

Dose 2

Macheboeuf et al, Animal Feed science and Technology 2007.

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Uma aposta forte no bem-estar animal

PRODUÇÃO | BOVINOS DE LEITE

EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE

MAIS TEMPO LIVRE E CASCOS SAUDÁVEIS

FILIPE GONÇALVES APOSTOU NO SISTEMA ROBOTIZADO DE ORDENHA PARA RESOLVER DUAS QUESTÕES MUITO IMPORTANTES NA SUA VACARIA: A GESTÃO DO TEMPO E A NECESSIDADE DE MELHORAR O PROBLEMA DE CASCOS DO EFETIVO. HÁ CERCA DE UM ANO, QUANDO O NEGÓCIO PASSOU PARA AS SUAS MÃOS, FILIPE DECIDIU FAZER MELHORIAS SIGNIFICATIVAS AO NÍVEL DO BEM-ESTAR ANIMAL E SUBSTITUIU A SALA DE ORDENHA EM ESPINHA, DE 5X5 PONTOS, POR DOIS ROBOTS LELY ASTRONAUT A5 EQUIPADOS COM O SISTEMA METEOR. Entrevista a FILIPE GONÇALVES, SOCIEDADE AGRÍCOLA ESTRELA DO ALTO MINHO | Por RUMINANTES | Fotos FG

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E

m março passado, entrevistámos Filipe Gonçalves para perceber de que forma os melhoramentos feitos na vacaria o ano passado já estão a produzir os efeitos desejados, quer na melhoria dos problemas de cascos, quer no conforto dos animais. O que mudou nesta vacaria nova? A área total é a mesma, e o desenho também não é muito diferente do anterior, mantendo uma zona central ampla, como zona de recreio para as vacas. Alterei o alinhamento das camas das vacas, e mudei a zona das novilhas, tornando-a maior e com camas. O efetivo aumentou apenas 5 vacas. Depois destas alterações, a exploração pode funcionar com 2 a 3 pessoas. Quanto à área de produção de forragens, mantém-se nos 35 hectares, onde semeamos azevém e milho. Onde se inspirou para o projeto da vacaria? Em várias vacarias que visitei, mas principalmente numa holandesa. Adaptei o desenho, que já era parecido com o meu,

e introduzi o sistema de luz automático, que permite ter uma intensidade luminosa de 250 lux em 16 horas diárias, ou seja, durante este período a vacaria está sempre bem iluminada. Mantive a cobertura translúcida em toda a zona central do estábulo, porque as vacas sempre gostaram muito de estar aí a apanhar sol, mas coloquei uma cortina elétrica para permitir cortar a claridade no pico do verão. Como escolheu o local dos robots? Para que todas as vacas estejam relativamente perto e tenham acesso aos dois robots, optámos por colocá-los no centro do estábulo. O que mudou nas camas? Passámos de 90 para 110 cubículos. Hoje temos tantas vacas como cubículos, algo que no passado não tínhamos. Mudámos também o sistema dos cubículos, que são totalmente abertos à frente, não têm “pilares” nem o tubo frontal, o que permite que as vacas estejam deitadas e possam olhar em frente sem terem obstáculos perto da cabeça, assim como também facilita os seus movimentos quando se

deitam ou se levantam. Os colchões Promat têm 90 mm de espessura, em vez dos habituais 40 mm, o que os torna muito mais macios e confortáveis. O preço é superior mas compensa, não tenho tido qualquer tipo de lesão nas vacas. E em termos de iluminação? Com o sistema de iluminação Lely Light For Cows, temos sempre um dia longo. O sistema liga e desliga, e regula a intensidade da luz, em função da luminosidade existente. Ainda não consigo medir as vantagens em termos de resultados, porque a vacaria é totalmente nova e as vacas vêm de um período de stress enorme porque foi tudo mudado na mesma fase: o estábulo, os cubículos e o sistema de ordenha. Mas o que espero é conseguir produzir mais leite. Que investimentos fez na limpeza da vacaria? Comprei o Discovery 120 Collector, que permite ter a vacaria sempre limpa e evita a passagem dum trator a limpar e a incomodar as vacas. Com o trator limpava 2 vezes por dia; o Colector limpa 9 vezes por dia.

O robot Colector, da Lely, permite ter a vacaria sempre limpa.

Filipe Gonçalves junto a um dos robots Astronaut A5 com Meteor. 066


Mais tempo livre e cascos saudáveis EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE

OS ROBOTS 2 LELY ASTRONAUT A5 COM METEOR E MQC-C

Que sistema de ordenha tinham antes? Sala de ordenha em espinha de 5x5 pontos. Porque investiu em robots? Para conseguir ter mais qualidade de vida. Com a sala de ordenha, era obrigado a entrar na exploração por volta das 5h30 só saindo pelas 21h30. Este sistema permite-me ter mais liberdade para gerir o tempo. Hoje entro na vacaria às 7h30 e saio às 19h30. O investimento nos robots é maior que numa sala convencional? No total, representa cerca de mais 30% que no sistema convencional, embora o investimento respeitante a obras de construção civil seja menor. Porquê esta marca, e porquê o Meteor? Acho que o robot Lely é atualmente o melhor do mercado. A opção pelo Meteor está relacionada com a necessidade de melhorar significativamente o problema de cascos que tinha no efetivo. Na sala antiga tinha um pedilúvio na saída dos animais da sala de ordenha. Este sistema é mais eficaz, faz a limpeza dos cascos através dum jato de água, sempre que as vacas vão ao robot. Lava diariamente e desinfeta a cada 2 dias. O Astronaut, tem também um laboratório para a contagem de células somáticas (MQC-C) e a medição da condutividade elétrica do leite. Este laboratório faz uma análise a cada três ordenhas em vacas saudáveis e, em vacas “problemáticas”, em todas as ordenhas até estarem recuperadas. Nota alguma melhoria nos problemas de cascos? Penso que 90% dos problemas desapareceram, muitos dos quais estavam relacionados com micoses. Como relaciona o robot com o bemestar animal? Este sistema é muito melhor para o conforto das vacas. Temos implementado o sistema livre, em que as vacas vão ao robot quando querem e assim o leite não pressiona tanto o úbere. São elas que decidem livremente ser ordenhadas mais do que 2 vezes ao dia. No sistema anterior,

eram ordenhadas 2 vezes à hora que nós decidíamos. Com o robot são elas que decidem a hora e o número de vezes que são ordenhadas. É tudo muito mais relaxante para os animais. O que mudou na rotina das pessoas? Mudou muito! Antes, tínhamos que ter sempre o mesmo número de pessoas na ordenha, o tempo todo. Agora, em termos de ordenha, trata-se apenas de levar para o robot as vacas que estão atrasadas, qualquer um de nós pode fazê-lo. Como fizeram a transição de um sistema para o outro? Foi uma transição muito complicada porque as vacas estiveram no estábulo durante os (muitos) meses em que as obras no estábulo estiveram a decorrer. Quase no final da obra instalei os robots. Um mês após a instalação dos robots destruí a sala de ordenha e no seu lugar fiz mais cubículos. Foram meses de muito stress para as vacas. Ao fim de quanto tempo é que os animais entraram na rotina? Ao fim de 2 meses praticamente já não tinha que levar vacas ao robot. Penso que esta vacaria não seja uma referência, por ter mudado tudo na mesma fase. Quantas ordenhas por vaca e por dia dia têm? Neste momento estamos com 3,2 ordenhas, com uma média de cerca de 7 minutos por ordenha. Temos como limite máximo diário 5 ordenhas por vaca. Temos 12,8 litros de leite por ordenha e 350 ordenhas diárias. Qual é a produção atual de leite? Estamos com uma média de produção diária por vaca de 41 litros. Anteriormente média estava em 35-36 litros mas, desde o novo estábulo foi concluído, tem-se mantido nos 41 litros (+17%). O objetivo é subir este valor, com a completa adaptação dos animais ao estábulo, boa reprodução e melhoramento genético do efetivo. Vê diferenças na qualidade do leite? Sim, hoje tenho um controlo muito bom sobre o que estou a produzir. Reduzi o número de mamites em 90%. Com o valor da CCS e da condutividade do leite consigo atuar muito depressa. 067

DADOS DA EXPLORAÇÃO Nome

Soc. Agríc. Estrela do Alto Minho, Lda.

Localização

Fonte Boa, Esposende

Efetivo total

245

Nº de vacas em lactação

110

Nº de vacas secas

25

Área total exploração

35 hectares

Tipo de ordenha

2 robots Lely A5 com Meteor

Produção média dia/vaca

41 litros

Os robots ordenham a mesma quantidade de leite? Apesar de o acesso das aos 2 robots vacas ser totalmente livre, há um deles que ordenha mais leite por dia (mais cerca de 50 ordenhas). Habituei as vacas a ir mais a um deles, ao segundo da linha de alimentação, porque o sensor de descarga da ração está nesse robot. Assim, consigo garantir que a tremonha do primeiro está sempre cheia. ALIMENTAÇÃO

O que mudou na alimentação? Na minha opinião, a alimentação é um dos pontos mais importantes numa vacaria com robot. É importante ter um nutricionista com experiência (eu trabalho com o José Alves, da De Heus).Antes, dava ração igual na manjedoura e nas boxes que estavam no parque. Atualmente, a ração do robot e da manjedoura são diferentes, principalmente a nível energético porque um programa alimentar correto (manjedoura + robot) pode eliminar por completo a necessidade de empurrar as vacas para o robot. No sistema com sala de ordenha, elas eram “empurradas” para a ordenha. Neste sistema de ordenha robotizada, se estiverem completamente satisfeitas, não têm tanta vontade de visitar o robot. Por isso é tão importante ter um sistema de arraçoamento que as leve a ter a necessidade de ir comer ração ao robot. Deixá-las com a sensação, que depois de comerem na manjedoura, ainda lhes falta qualquer coisa. A soma das duas no arraçoamento é que dá o equilíbrio. Neste momento, com 6 kg na manjedoura e 6,9 kg no robot estamos a dar menos ração por litro de leite. Como fez a transição na alimentação? Cerca de 15 dias antes da mudança da


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ordenha para o robot, passei para a nova ração. Conduzia as vacas para passarem no robot a comer a ração. SAÚDE ANIMAL

O que melhorou? De forma clara, passámos a ter uma melhor saúde do úbere (menos mamites), menos problemas de patas, melhor qualidade do leite e maior produção. O que o preocupa mais? A reprodução e a saúde do úbere. É para esses dados, que o robot me faculta, que eu mais olho. Também vejo o rácio entre gordura/proteína nas vacas recém paridas, por causa das cetoses. E o calendário do cio esperado. Para que as coisas corram bem, as vacas não podem ter problemas de cascos nem nos úberes. GENÉTICA

Decidiram melhorar a genética por causa do robot? Sim, basicamente vou fazer um melhoramento pela velocidade de descarga do leite. Nós temos animais Procross,

estamos muito satisfeitos porque são animais mais resistentes, com melhor fertilidade e maior vida útil. INDICADORES

Como analisa o investimento no robot? Através do mapa geral gerado pelo computador ( figura 1), obtenho muita informação, nomeadamente a média de leite produzido/vaca/dia e o leite que cada robot está a ordenhar. Neste momento tenho 2240 litros/robot/ dia, aquém do potencial do Astronaut, que é superior a 3000 litros. Ou seja, o robot tem 12% de tempo livre, quando até 8-10% não perde capacidade de ordenha, logo estamos a cerca de 20% da capacidade máxima de ordenha. Assim, uma das nossas prioridades é melhorar geneticamente o efetivo, para aumentar a velocidade de descarga de leite das vacas e poder ter mais animais. Interessa-lhe mais a produção diária por animal ou por robot? Por animal. Tenho um contrato de produção anual para cumprir, se puder

FIGURA 1 DADOS DO ECRÃ PRINCIPAL DO ROBOT REFERENTES AO DIA 4/3/2022

068

fazê-lo com 100 vacas, não vou querer aumentar para 110. Como avalia os resultados obtidos até agora? “Acho que só ao fim de um ano se conseguem medir os resultados económicos. Existe uma grande diferença entre uma vaca que comece no robot antes ou depois de parir. Um animal que mude para o robot depois de parir, entra em stress, quebra a produção e nunca mais vai recuperar. Começo agora a fazer esse balanço, mas ainda é cedo. Que medidas tomou para minimizar o aumento de preço dos fatores de produção? Produzir melhores forragens, com mais proteína e energia. Por outro lado, vou tentar optar por variedades de milho mais eficientes, e gastar menos adubo. No caso do milho, penso reduzir de 400 kg/ha para os 320 kg/ha. Outra medida a tomar é na melhor gestão na aplicação dos fertilizantes, porque este trator tem GPS com barra de luzes permitindo uma aplicação sem sobreposição.


Lely Horizon

dados, conselhos, a sua performance A minha vaca é saudável? Quanto é que ganho com isso? Quanto vou produzir nos próximos meses? Aqui está um exemplo do que o Horizon, a nova plataforma de gestão da exploração online, tem para oferecer • A margem sobre o custo de alimentação por vaca e por rebanho • A previsão da produção de leite para os próximos 6 meses • Conselho «Temos de insiminar», de acordo com o índice da vaca • Conselho «Acetonemia» para prevenir o risco de cetose • Otimização do tempo das escovas para uma ordenha mais rápida

Para mais informações visite www.lely.com | www.alteiros.pt/

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069


#45 | abr. mai. jun. 2022

REVISTA RUMINANTES

OBSERVATÓRIO DAS MATÉRIAS-PRIMAS

ERROS DO PASSADO PAGOS HOJE

M

uito terão ouvido falar estas semanas sobre a invasão russa à Ucrânia. Nenhuma mente esclarecida e justa pode defender a posição da Rússia, e também não serei eu a fazê-lo. No entanto, temos que compreender que vários fatores, por ação e omissão, levaram ao que hoje estamos a viver. Em particular a Europa Ocidental que, como um todo, tem uma parte importante de culpa. Com o desmoronamento da União Soviética, o território da Rússia ficou sem portos de água profunda no Mar Negro, onde poder atracar a sua frota de navios de guerra. Assim, como parte do acordo da separação da Ucrânia da União Soviética, o Estado da Ucrânia acordou alugar a base naval de Sebastopol à Rússia. O contrato durava até 2014, sendo depois extensível. Cerca do ano 2010, a União Europeia e a Ucrânia negociavam um acordo de integração económica, essencialmente de livre comércio. Negociações que avançaram muito devagar e sempre com muita resistência por parte dos países da União Europeia que são excedentários em produtos agrícolas e não

Por João Santos; Fonte USDA s&d, relatório de março

queriam ter concorrência dos agricultores ucranianos. Quando finalmente foram ultrapassadas as dificuldades e se conseguiu chegar a um acordo, não houve a preocupação de negociar outro similar com a Rússia, e como o acordo negociado com a Ucrânia a obrigava, de certa forma, a cortar os laços comerciais com a Rússia, esta não ficou nada contente. Adicionalmente, a União Europeia também pressionou a Ucrânia a não renovar o acordo da concessão da base naval de Sebastopol, na península da Crimeia, à Rússia. Com isto estamos em 2013 e, como consequência destas duas questões, a Rússia, a 20 de fevereiro de 2014, invade a Crimeia e posteriormente fomenta uma rebelião na região leste da Ucrânia, onde assistimos a uma guerra. Em 24 de fevereiro passado, a Rússia decide uma invasão em larga escala, com o objetivo de anexar toda a Ucrânia à Rússia, ou assim parece. Antes da tomada da Crimeia pelos russos, havia exportação de produtos agrícolas dos portos da Crimeia que terminaram com a invasão russa, uma vez que a comunidade internacional não reconhece essa ocupação/ conquista e, juridicamente,

ninguém no seu devido juízo vai carregar um navio nesses portos com o risco de ele ser apresado por algum juiz, quanto mais não seja a passar as águas territoriais da Turquia, no Bósforo. Já podem imaginar o que se passará caso o legitimo governo da Ucrânia caia e, no seu lugar, a Rússia ponha um governo fantoche a governar uma Ucrânia ocupada. Donde, à margem de desejar o melhor para o povo ucraniano, e o fim rápido da guerra, devemos todos fazer votos para que o legitimo e democrático governo Ucraniano se mantenha quando a paz for finalmente alcançada, uma vez que, de outra maneira, o retomar da Ucrânia como grande país abastecedor de matérias primas agrícolas ficará seriamente condicionado. A UCRÂNIA AGRÍCOLA

À margem da produção pecuária, que se tem desenvolvido muito em todos os setores, em particular em aves e porcos, para Portugal e todos os países deficitários de cereais, a Ucrânia é um importante fornecedor. Soja e colza Em relação à soja, esta ainda é uma cultura pouco estendida, no entanto, tem um papel

070

importante para a colza vendida em Portugal. Não porque Portugal importe muita colza da Ucrânia, mas porque a soja da Ucrânia é não-ogm, tendo muita procura nos mercados do nordeste da Europa, que agora, sem a possibilidade de lhe aceder, a substituem com maior incorporação de farinha de colza. Hoje, em Lisboa, a farinha de colza estaria pouco mais ou menos ao mesmo nível da farinha de soja. Assim, a função da farinha de colza na Europa é fornecer uma base de proteína não-ogm, mais que o seu valor nutricional comparado com a soja. Girassol A produção da Ucrânia é cerca 30% da produção mundial. A sua semente também é exportada, no entanto, a exportação de semente de girassol é pouco relevante, uma vez que a política industrial da Ucrânia tem sido, via impostos na exportação, fomentar que seja extraído o óleo em fábricas locais, e exportada a farinha e o óleo de girassol para todo o mundo. A farinha de girassol tem um papel importante a desempenhar como fonte de proteína não-ogm, pelo que, tal como dito em relação à colza, a sua valorização proteica é secundária, comparada com a necessidade de ter proteína não-ogm. Com a situação atual


Erros do passado, pagos hoje

OBSERVATÓRIO DAS MATÉRIA-PRIMAS

na Ucrânia, e representando a Ucrânia 30% da produção mundial de girassol, temos o preço do óleo de girassol quase ao nível do azeite. Milho A produção mundial são 1206 milhões de toneladas, pelo que a produção da Ucrânia de 42 milhões é relativamente pouco relevante. Acontece que a Ucrânia, em 20/21, exportou 80% da sua produção (23 milhões). Estas exportações alimentam, em particular, Portugal, Espanha e Holanda entre outubro e julho. Portugal importa cerca de 1.5 milhões de toneladas de milho ucraniano todos os anos. Estes 23 milhões de exportação comparam com o incremento de 22 milhões de toneladas que a China tem/teve de 19/20 para 20/21, e que estão na base do preço ter passado de 170 €/tn nos portos de Portugal durante vários anos, para os 250 € desde finais de 2020. Trigo Comparando com a produção mundial de 778 milhões, os 33 milhões da Ucrânia, são pouco significativos. No entanto, se perguntarmos aos egípcios se são poucas toneladas, os 16 milhões exportados (64% da produção) pela Ucrânia em 20/21, eles dirão que ajudaram a encher a barriga de 106 milhões de egípcios com pão, do pequeno-almoço ao jantar. Em relação à Ucrânia, resta dizer que neste final de março, não há exportações de nada desde os seus portos no Mar Negro. Nas fronteiras

terrestres, a oeste, existe alguma movimentação de comboios e camiões com cereais, mas nada que se compare com o volume que era exportado pelos portos. Resta saber por quanto tempo mais, com o desenrolar da guerra.

Adicionalmente, não podemos esquecer que a farinha de soja é um produto transformado, que na sua produção é consumido muito gás natural (para produção de vapor) e eletricidade. Com os preços atuais da energia, a farinha terá um sobre custo de 30-50 € em relação a 6 meses atrás. Assim é de esperar que a farinha de soja continue a ser oferecida sobre os 600 € em Lisboa, e atendendo ao panorama de redução de stocks finais, é mais provável que os preços subam do que desçam.

Proteínas A farinha de colza em Lisboa, tendo por base os preços praticados no norte da Europa, deveria valer, teoricamente, cerca de 580 €. A farinha de girassol está sobre os 400 €, e assim deve permanecer até à nova colheita. Em relação à soja, o tempo na América do Sul não podia ter sido pior. Desde janeiro que não para de chover na zona do equador, provocando perda de rendimento no norte do Brasil por excesso de água. No Sul do Brasil e na Argentina a situação é a inversa, um clima muito seco e perda de rendimento devido à seca. Entre uma coisa e outra, se em dezembro falávamos numa colheita no Brasil de 150 milhões de toneladas de soja, agora já se fala em 120 milhões, e na Argentina, os 50 milhões previstos em dezembro, estão agora em 40. Em ambos os casos, temos que ter presente um velho dito: colheitas grandes acabam por ser sempre maiores, e as pequenas menores serão. A China, entretanto, já recuperou o efetivo de porcos que tinha antes da crise da peste suína, em 2019. Com isto não é de esperar um abrandamento acentuado das suas importações, antes pelo contrário, pelo que o mercado terá que contar com estas compras de soja.

Cereais Com o choque da guerra, nas semanas após o seu início, a preocupação dos operadores/ importadores em Portugal foi perceber onde substituir as compras feitas com base na Ucrânia. Optaram pela América do Norte, Brasil e Roménia. O passo seguinte dos operadores foi oferecer milho com origem nessas regiões, tendo havido negócios acima dos 400 € por tonelada. No final de março, as ofertas até agosto já estão claramente abaixo dos 400 €, e de agosto a dezembro abaixo dos 350 €. Tudo isto são valores muito elevados, para quem esteve tantos anos habituado a comprar milho a 170 €. No entanto, caso a sementeira não seja feita na Ucrânia este mês de abril, e/ou o governo do Presidente Zelensky seja substituído por outro no desenrolar da guerra, podemos esquecer que o milho ucraniano vá chegar aos portos nacionais a partir de outubro. A isto temos que acrescentar o dito

CONCLUSÃO

Podemos estar tranquilos que os operadores de mercado encontraram e encontrarão alternativas para abastecer os portos nacionais de cereais (milho), felizmente; embora sejamos um país pobre, ainda há dinheiro para pagar pelos preços pedidos, não vai faltar produto para alimentar aos nossos animais. No entanto, devemos todos ter esperança para que a guerra termine o quanto antes, para assim permitir aos agricultores ucranianos fazerem as sementeiras de primavera, e em setembro termos milho para importar deste povo ucraniano que nos deve encher a todos de orgulho e amizade. A paz esteja convosco. COLHEITAS DA UCRÂNIA Milhões tm

20/21

21/22

Produção

3,10

3,50

Exportação

1,50

0,90*

Produção

30,30

41,90

Exportação

23,70

20,00*

Produção

25,40

33,00

Exportação

16,30

19,20*

SOJA

MILHO

TRIGO

COLHEITAS MUNDIAIS Milhões de tm

em relação à soja na América do Sul, ou seja, a produção de milho também vai ser pouca, pelo que quando o Brasil estiver a colher a Safrinha (a segunda colheita), pouco já haverá da Safra de milho e muita da Safrinha terá que ficar no Brasil para consumo interno. Assim, podemos esquecer de ter milho barato a partir de agosto, como nos tínhamos habituado.

14/15

15/16

16/17

17/18

18/19

19/20

20/21

21/22

Produção mundial

319,00

312,80

351,40

342,09

360,30

339,00

366,20

353,80

GIRASSOL

Stocks finais

77,60

76,60

96,00

98,56

111,88

96,04

99,88

89,96

Produção

13,90

16,90

24%

24%

27%

29%

31%

28%

27%

25%

Produção mundial

49,70

56,90

Produção mundial

1008,80

961,90

1070,20

1076,20

1123,30

1116,50

1122,80

1206,10

% Ucrânia

28%

30%

Stocks finais

208,20

210,90

227,00

341,20

320,80

303,10

292,20

301,00

21%

22%

21%

32%

29%

27%

26%

25%

SOJA

MILHO

071

Fonte: USDA s&d relatório de março 2022 * Previsões


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REVISTA RUMINANTES

OBSERVATÓRIO DO LEITE

O CONFLITO A LESTE E O SEU IMPACTO NO SETOR LEITEIRO QUANDO PARECIA QUE O MUNDO ESTARIA NUMA ROTA DE RECUPERAÇÃO APÓS DOIS ANOS DE PANDEMIA, EIS QUE SURGE UMA NOVA ONDA DE DESESTABILIZAÇÃO COM A INVASÃO DA UCRÂNIA PELOS RUSSOS, JÁ DESCRITA COMO UMA CATÁSTROFE HUMANITÁRIA. A INCERTEZA GLOBAL QUE SE VIVE É RECEITA CERTA PARA A VOLATILIDADE, FENÓMENO QUE INFELIZMENTE NÃO É ESTRANHO AO SETOR LEITEIRO.

A

Por Joana Silva, Médica Veterinária | Fontes AHDB, Dairy Global, European Dairy Association, FAO, Rabobank, The Dairy Site

disrupção a nível dos mercados agrícolas internacionais é já uma realidade. Nos últimos anos, a Ucrânia tem vindo a tornar-se um dos principais abastecedores de matérias-primas para o setor leiteiro: produz 12% das exportações mundiais de trigo, 16% das de milho e 18% das de cevada. Juntas, a Ucrânia e a Rússia são responsáveis por 29% dos volumes de exportação mundiais de cereais. Relativamente ao setor leiteiro, a Bielorrússia é atualmente o principal parceiro comercial da Rússia, recebendo cerca de 85% das suas exportações. A Ucrânia, por outro lado, está substancialmente mais dependente da UE, que absorve 76% das suas necessidades de importação, assumindo a Bielorrússia 23% das restantes. Apesar da clara dependência da UE, os volumes exportados para a Ucrânia constituem

apenas 1,6% da totalidade das suas exportações. O aumento do preço dos cereais já se está a fazer sentir em vários países, Portugal inclusive. Além das disrupções a nível do abastecimento desta matéria-prima, estão também previstas dificuldades a nível de produtos como o gás natural e os fertilizantes. Relativamente a estes últimos, seis nações sulamericanas – Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai – estão a trabalhar numa proposta que apela à exclusão dos fertilizantes das sanções aplicadas à Rússia, a apresentar às Nações Unidas e à FAO. O Brasil é atualmente o maior importador mundial de fertilizantes agrícolas: 85% do total utilizado é importado e mais de um quinto (nove milhões de toneladas) é proveniente da Rússia. De acordo com dados da FAO, o aumento dos preços de matérias-primas e bens alimentares poderá ir de 8 a 20%. Os crescentes custos

de produção, aliados à falta de mão de obra qualificada, às condições climáticas desfavoráveis e à instabilidade qualitativa das matériasprimas continuarão a ser os principais fatores limitativos ao crescimento da produção. Uma ameaça significativa à segurança alimentar, o cenário de conflito armado irá lançar também ainda mais incerteza sobre os preços do leite e derivados, que se deverão manter elevados pelo menos até ao final do primeiro semestre do ano. A aparente estagnação da produção em algumas regiões-chave é igualmente impulsionadora do aumento de preços, em paralelo com uma procura que se tem fortificado nos últimos tempos. De facto, a produção leiteira na Europa e Nova Zelândia tem-se mantido essencialmente constante nos últimos doze meses, com um ligeiro aumento registado nos Estados Unidos, o qual não se prevê que se mantenha em alta

072

devido à redução dos efetivos. No entanto, com uma pesada inflação a nível mundial e as expectativas de recuperação económica cada vez mais ensombradas, a pergunta para um milhão é: até quando se manterão estes preços lá no alto? Até agora, a procura de produtos lácteos, apesar do aumento dos preços, não parece estar a ser significativamente afetada pela negativa mas, com as dificuldades económicas crescentes, é de prever um impacto negativo na procura destes bens num futuro não muito distante, caso os aumentos de preços continuem a suplantar a inflação. O (imprevisível) desenrolar do conflito pode ainda trazer outro azedume: caso a China se alie à Rússia, incorrendo muito provavelmente em sanções económicas, a disrupção dos canais comerciais entre a China e várias potências mundiais pode afetar significativamente


O conflito a Leste e o seu impacto no setor leiteiro

OBSERVATÓRIO DO LEITE

países como a Nova Zelândia, por exemplo, onde 40% das suas exportações anuais são absorvidas pelo gigante asiático. No que diz respeito à Rússia, as importações leiteiras não se deverão revelar, pelo menos para já, um calcanhar de Aquiles pois, dadas as sanções aplicadas em 2014 com a anexação da Crimeia, o país investiu recursos consideráveis na produção leiteira nacional. No entanto, as implicações do conflito para o povo russo não serão menosprezáveis. Olhando para os principais indicadores demográficos, em 2021, a Rússia assistiu a um declínio histórico na sua população desde o fim da União Soviética, com menos um milhão de pessoas. Para este declínio contribuíram também as mortes derivadas da pandemia. A pobreza de uma grande fatia da população – 12,1% vive abaixo do limiar da pobreza do país e para 60% dos cidadãos metade do seu rendimento é gasto em alimentação - é igualmente um obstáculo ao crescimento comercial de produtos de valor acrescentado, como o queijo. Apesar dos investimentos a nível produtivo, o consumo per capita de queijo e similares na Rússia é de 6,8 kg, muito abaixo dos 18,4 kg registados na União Europeia. A contribuir para

®

NUTRIÇÃO ANIMAL

CONSULTADORIA

OBJECTIVOS

este fenómeno estará também uma certa impopularidade dos queijos nacionais face aos seus concorrentes europeus que eram anteriormente comercializados no país. Para além das sanções comerciais generalizadas, também empresas do setor leiteiro já se mobilizaram contra a Rússia. A Lely anunciou que irá deixar de vender robôs de ordenha tanto à Rússia, como à vizinha Bielorrússia. No entanto, citando o seu comprometimento para com o bem-estar animal e o

aprovisionamento alimentar dos dois países, a empresa irá continuar a fornecer peças e consumíveis para os equipamentos já existentes. Também a cooperativa Arla, cujos volumes de vendas na Rússia atingiram os cinquenta e cinco milhões de euros no ano passado, anunciou a suspensão da sua atividade no país, incluindo importações e operações logísticas em território russo. Serão afetados setenta postos de trabalho. A Danone também anunciou a suspensão de investimentos na Rússia, garantindo apenas

o fornecimento básico de produtos lácteos e fórmulas infantis. A conjuntura atual levou a que as previsões para o primeiro semestre do ano tenham sido revistas em baixa, com o Rabobank a apontar já para uma queda de 0,7% na produção dos sete exportadores de topo – UE, Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália, Uruguai, Brasil e Argentina – face ao ano passado. Apesar do aumento de 4% em 2021 e, face ao que vimos acima, as exportações deverão cair em 2022.

LEITE À PRODUÇÃO | PREÇOS MÉDIOS MENSAIS EM 2021/2022 ANOS

MESES

2021

JANEIRO

2022

EUR/KG

TEOR MÉDIO MG1 (%)

TEOR PROTEICO (%)

Continente

Açores

Continente

Açores

Continente

Açores

0,315

0,282

3,94

3,83

3,35

3,20

FEVEREIRO

0,311

0,278

3,83

3,77

3,30

3,15

MARÇO

0,312

0,276

3,74

3,72

3,33

3,13

ABRIL

0,312

0,277

3,72

3,67

3,33

3,17

MAIO

0,312

0,275

3,75

3,67

3,33

3,12

JUNHO

0,310

0,276

3,71

3,65

3,30

3,11

JULHO

0,309

0,275

3,71

3,68

3,24

3,09

AGOSTO

0,310

0,276

3,77

3,73

3,29

3,10

SETEMBRO

0,312

0,279

3,79

3,78

3,30

3,13

OUTUBRO

0,328

0,289

3,89

3,79

3,31

3,19

NOVEMBRO

0,330

0,293

3,96

3,85

3,36

3,24

DEZEMBRO

0,329

0,298

3,93

3,88

3,34

3,24

JANEIRO

0,356

0,317

3,86

3,85

3,19

3,19

Fonte: SIMA, Gabinete de Planeamento e Políticas.

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#45 | abr. mai. jun. 2022

REVISTA RUMINANTES

ÍNDICE VL E ÍNDICE VL-ERVA

A PRODUÇÃO DE LEITE NO CAMINHO DO ABISMO OS ÍNDICES VL E VL-ERVA DO SEMESTRE EM ANÁLISE INDICAM QUE OS PRODUTORES DE LEITE DO CONTINENTE E DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES ESTÃO A PASSAR POR UMA SITUAÇÃO MUITO DIFÍCIL, COM TENDÊNCIA PARA PIORAR DURANTE O PRIMEIRO SEMESTRE DO ANO 2022 EM QUE SE PREVÊM AUMENTOS DOS PREÇOS DA ENERGIA, DOS COMBUSTÍVEIS, DOS ADUBOS, DAS MATÉRIAS-PRIMAS E DE OUTROS FATORES DE PRODUÇÃO, FRUTO, FUNDAMENTALMENTE, DO CONFLITO ARMADO ENTRE A RÚSSIA E A UCRÂNIA. Por António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco; Carlos Vouzela, docente/investigador,

Faculdade de Ciências Agrárias e do Ambiente da Universidade dos Açores/IITAA; Nuno Marques, Revista Ruminantes | Email: nm@revista-ruminantes.com.

A

nalisamos neste número da Ruminantes os Índices VL e VL-ERVA para o período de novembro de 2021 a janeiro de 2022. De acordo com os dados do SIMA-GPP (2022), durante o trimestre em análise o preço médio do leite pago aos produtores individuais do continente variou entre 0,330 €/kg, em novembro, e 0,356 €/kg, em janeiro. Por sua vez, na Região Autónoma dos Açores o preço médio do leite pago aos produtores individuais variou entre 0,293 €/kg, em novembro, e 0,317 €/kg em janeiro. De acordo com dados do MMO (2022), o preço médio do leite pago ao produtor no período de novembro de 2021 a janeiro de 2022 foi, mais

uma vez, muito inferior em Portugal (0,3261 €/kg) quando comparado com a média da UE27 (0,4110 €/kg), uma diferença de 8,49 cêntimos/ kg que, aplicada a Portugal, contribuiria para o sucesso económico dos produtores de leite. Em janeiro de 2022 Portugal foi, mais uma vez, o país da UE27 onde o kg de leite foi pago ao produtor ao preço mais baixo. Esta situação inaceitável, tem-se vindo a repetir nos últimos meses. É urgente inverter esta tendência. Relativamente ao trimestre anterior, o preço médio das principais matérias-primas que entraram na formulação dos alimentos compostos utilizados neste trabalho sofreram um aumento que variou entre +3,8% no milho e +20,8% no bagaço de girassol. A evolução

do preço das matérias-primas e dos alimentos forrageiros provocou um aumento de 6,5% no preço do alimento composto e de 4,1% no custo da alimentação da vaca leiteira tipo do continente. Na Região Autónoma dos Açores, o regime alimentar do trimestre em análise incluiu menor consumo de pastagem e maior consumo de alimento composto e de alimentos conservados. Este regime alimentar provocou um aumento de 15,9% no custo da alimentação da vaca tipo. A evolução do preço do leite e dos custos da alimentação refletiu-se no Índice VL e no Índice VL - ERVA que em janeiro de 2022 foi, respetivamente, de 1,614 e de 1,596. De referir que um ano antes, em janeiro de 2021, o Índice VL havia sido de 1,529 e o Índice VL - ERVA de 1,509. 074

Um índice inferior a 1,5 (valor muito baixo) indica forte ameaça à rentabilidade da exploração leiteira; um índice entre 1,5 e 2,0 (valor moderado) indica que a produção de leite é um negócio viável; um índice maior do que 2,0 (valor elevado) indica que estamos perante uma situação muito favorável para o sucesso económico da exploração (Schröer-Merker et al., 2012). Durante o trimestre em análise, o Índice VL atingiu o valor mínimo de 1,520 em dezembro de 2021 e o Índice VL-Erva o valor mínimo de 1,515 em novembro de 2021. Com valores muito próximos de 1,5 durante o semestre em análise, os Índices VL e VL-Erva indicam que os produtores de leite do continente e da Região Autónoma dos Açores estão a passar por uma situação


A produção de leite no caminho do abismo

ÍNDICE VL E ÍNDICE VL-ERVA

ÍNDICE VL DE JULHO DE 2012 A JANEIRO DE 2022

O ÍNDICE VL é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor no continente e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (concentrado 9,5 kg/ dia; silagem de milho 33 kg/dia; palha de cevada 2 kg/dia).

ÍNDICE VL-ERVA DE JULHO DE 2013 A JANEIRO DE 2022

O ÍNDICE VL – ERVA é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor na Região Autónoma dos Açores e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (primavera/verão 60 kg/dia de pastagem verde, 10 kg/dia de silagem de erva e de milho, 5,6 kg/dia de concentrado; outono/inverno 47 kg/dia de pastagem verde, 13,3 kg/dia de silagem de erva e de milho, 6,7 kg/dia de concentrado).

muito difícil, com tendência para piorar durante o primeiro semestre do ano 2022 em que se prevêm aumentos dos preços da energia, dos combustíveis, dos adubos, das matérias-primas e de outros fatores de produção, fruto, fundamentalmente, do conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia. De realçar que o Índice VL-ERVA reflete a realidade da produção de leite muito mais focada na ilha de S. Miguel que produz cerca de 60% do total de leite dos Açores. Nas outras ilhas do Arquipélago a conjuntura é bastante mais desfavorável. NOTAS

- em janeiro de 2022, o preço do leite pago aos produtores do continente foi superior em 4,1 cêntimos/kg relativamente ao preço pago em janeiro de 2021.

Nos Açores, o valor pago por kg de leite também foi superior em 3,5 cêntimos/kg relativamente ao preço pago em janeiro de 2020; - durante o trimestre em análise, no continente houve um aumento de 4,1% nos custos com a alimentação da vaca tipo. Nos Açores os custos com a alimentação da vaca tipo dispararam 15,9%; - não se verificaram diferenças representativas nos custos dos alimentos forrageiros utilizados na formulação do regime alimentar das vacas tipo; - as considerações anteriores refletem-se no Índice VL e no Índice VL - ERVA que em janeiro de 2022 foram, respetivamente, de 1,614 e 1,596. Nota: para consultar a bibliografia, contacte os autores.

075

EVOLUÇÃO DO ÍNDICE VL E ÍNDICE VL - ERVA JANEIRO DE 2021 A JANEIRO DE 2022 Mês

Índice VL

Índice VL-Erva

jan-21

1,529

1,509

fev-21

1,505

1,481

mar-21

1,551

1,498

abr-21

1,538

1,775

mai-21

1,523

1,725

jun-21

1,514

1,732

jul-21

1,547

1,762

ago-21

1,490

1,742

set-21

1,511

1,765

out-21

1,566

1,517

nov-21

1,550

1,515

dez-21

1,520

1,524

jan-22

1,614

1,596

Os valores são influenciados pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor individual do continente (Índice VL) e da Região Autónoma dos Açores (Índice VL - ERVA) e pelas variações mensais dos preços de 5 matérias-primas utilizadas na formulação do concentrado e pelo preço dos outros alimentos que integram o regime alimentar da vaca leiteira tipo.


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BOVINOS DE LEITE

INVESTIGAÇÃO LEITEIRA O QUE HÁ DE NOVO? NESTA RUBRICA APRESENTAMOS RESUMOS DOS TRABALHOS MAIS RECENTES PUBLICADOS NO JOURNAL OF DAIRY SCIENCE. Traduzido e adaptado por Pedro Nogueira, Engº zootécnico, Trouw Nutrition/Shur-Gain, e-mail: Pedro.Nogueira@trouwnutritioncom

“FATORES RELACIONADOS COM O MANEIO DAS VACAS SECAS E SUAS ASSOCIAÇÕES COM A QUANTIDADE E QUALIDADE DO COLOSTRO NUMA GRANDE EXPLORAÇÃO LEITEIRA COMERCIAL” Journal of Dairy Science Vol. 105 nº 2, 2022

O objetivo deste estudo, realizado por investigadores da Universidade Freie de Berlim, foi avaliar a associação de fatores relacionados com o maneio de vacas secas e a quantidade (kg) e qualidade do colostro (% brix) em vacas Holstein, numa grande exploração leiteira comercial (2500 vacas Holstein, média de 11500 kg leite/ vaca), durante um período de 3 anos. Os empregados da exploração registaram a quantidade de colostro (n = 7567) e avaliaram a qualidade do colostro numa subamostra de animais (n = 2600) usando um refratómetro digital Brix. Os autores explicam que a produção de colostro ocorre durante as últimas semanas de gestação. A nutrição materna pré-parto e o maneio nutricional podem afetar a produção de colostro. Vacas leiteiras no pré-parto têm uma maior necessidade de energia e proteína em resposta à síntese de tecido mamário e colostro, bem como exigências para o desenvolvimento uterino e fetal. Além da composição da ração, o maneio nutricional, como o tempo de exposição às dietas pré-parto, pode afetar a produção de colostro. Vários estudos relataram que a concentração de IgG no colostro é semelhante para vacas com períodos secos curtos em comparação com vacas com períodos secos convencionais. Vacas sem períodos secos, no entanto, tiveram menor qualidade de colostro comparativamente a períodos secos

convencionais. Isto indica que o período de colostrogénese não foi suficiente para a acumulação de gamaglobulinas nessas vacas. Neste estudo, a quantidade média de colostro foi de 4,0 kg, 5,1 kg e 5,5 kg para vacas na 1ª, 2ª e ≥ 3ª lactações, respetivamente. Na primeira lactação, a quantidade de colostro das novilhas foi afetada pelo mês de parto, sexo do vitelo e mortalidade perinatal (geralmente definida como a morte do vitelo antes, durante ou até 48 horas após o parto). A idade ao primeiro parto e a facilidade de parto tenderam a afetar a quantidade de colostro. A duração da gestação e os dias no parque de pré-parto não foram associados à quantidade de colostro. A quantidade de colostro em vacas primíparas foi maior em abril (4,1 kg) e menor em novembro (3,2 kg). O sexo do vitelo foi associado à quantidade de colostro (vitela= 3,50 ± 0,26 kg; vitelo = 3,76 ± 0,27 kg; gêmeos = 2,97 ± 0,66 kg). A mortalidade perinatal foi associada à redução da quantidade de colostro em vacas primíparas. Uma associação positiva tendeu a ocorrer entre a idade ao primeiro parto e a quantidade de colostro (+ 0,07 ± 0,04 kg para cada mês de aumento na idade ao primeiro parto). Em vacas multíparas, a quantidade de colostro foi afetada pelo mês de parto, facilidade de parto, sexo do vitelo, mortalidade perinatal, produção de leite na lactação anterior e duração do tempo passado no parque de vacas secas e de préparto, embora isso tenha desempenhado um papel menor. A duração da gestação não foi associada à quantidade de colostro. A quantidade de colostro em vacas multíparas foi maior em maio (5,5 kg) e menor em outubro (3,8 kg). Houve um aumento linear na quantidade de colostro com a dificuldade de parto ( facilidade de

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parto 0 = 4,23 ± 0,26 kg; nível 1 = 4,77 ± 0,21 kg; nível 2 = 4,98 ± 0,22 kg; nível 3 = 5,30 ± 0,22 kg). O sexo do vitelo foi associado à quantidade de colostro (vitela = 4,42 ± 0,21 kg; vitelo = 5,00 ± 0,21 kg; gêmeos = 5,03 ± 0,30 kg). A mortalidade perinatal foi associada à redução da quantidade de colostro em vacas multíparas. Houve uma associação positiva entre a produção de leite na lactação anterior e a quantidade de colostro. Um aumento na produção de leite na lactação anterior de 1000 kg foi associado a um aumento na quantidade de colostro de 0,1 kg. Vacas que permaneceram mais tempo no parque de vacas secas (0,05 ± 0,003 kg por dia) e de pré-parto (0,06 ± 0,010 kg por dia) tiveram um aumento linear na quantidade de colostro produzido. Os autores concluem dizendo que a variação na produção de colostro ao longo do ano pode ter o potencial de afetar a morbilidade e a mortalidade dos vitelos devido ao fornecimento inadequado de colostro. O armazenamento de colostro de alta qualidade pode ser uma opção para lidar com estas flutuações.

“INSTALAÇÕES, NUTRIÇÃO E PRÁTICAS DE MANEIO PARA VACAS SECAS, VACAS EM PRÉ-PARTO E VACAS RECÉMPARIDAS EM EXPLORAÇÕES LEITEIRAS CANADIANAS – UM ESTUDO DESCRITIVO RETROSPETIVO” Journal of Dairy Science Vol. 105 No. 2, 2022

Este artigo, de investigadores da Universidade de Guelph e Elanco Animal Health, teve como objetivo descrever as práticas de maneio das explorações leiteiras canadianas usando uma ferramenta de avaliação de risco


Investigação leiteira, o que há de novo?

NOTÍCIAS | BOVINOS DE LEITE

e de identificar e delinear potenciais oportunidades de maneio. Mediante solicitação dos veterinários ou dos produtores, uma avaliação de risco do maneio durante a transição do período seco para pós-parto (The Vital 90, Elanco) foi realizada por observadores treinados durante as visitas às explorações (74 explorações com Holsteins e 4 com Jerseys). A maioria das explorações eram do Ontário (n= 4), enquanto as restantes estavam em Alberta (n=5), Columbia Britânica (n=4), Manitoba (n=1), Ilha do Príncipe Eduardo (n=2), Newfoundland (n=1) e Saskatchewan (n=1). Os tipos de estabulação mais comuns observados eram estabulação livre (54%) e cama de palha (81%) nos períodos secos e de pré-parto, respetivamente. Os autores resumem os principais objetivos do maneio do período de transição como sendo maximizar a ingestão de nutrientes e a disponibilidade de energia, controlar os equilíbrios minerais e otimizar a imunidade. Referem ainda que as melhores práticas de gestão, definidas por pesquisas e diretrizes organizacionais, nem sempre são as práticas observadas nas explorações. Um aspeto fundamental é que a melhoria da gestão da transição e a motivação para a mudança são normalmente promovidas através de referências de benchmarking e pela capacidade de detetar problemas, que não são possíveis sem bons registos e uma análise contínua da saúde e desempenho do rebanho. O artigo explica que a ferramenta de avaliação de risco, Vital 90 dRisk, foi desenvolvida por um grupo de especialistas em produção de leite e foi criada para providenciar uma avaliação objetiva do maneio. Inclui 79 perguntas sobre nutrição, maneio das instalações e sobre o conforto das vacas secas, em pré-parto e vacas frescas. Os observadores preenchem cada inquérito em tempo real, na exploração, enquanto avaliam cada período (a ferramenta foi desenvolvida para iPad). O observador pergunta ao produtor, veterinário e nutricionista, questões para discutir os diferentes tópicos identificados (8 tópicos), mas o relatório final inclui apenas os 3 tópicos prioritários. Embora os autores reconheçam que o resultado do estudo possa ser um pouco tendencioso, uma vez que as explorações que participaram podem ser mal geridas (sendo o processo iniciado frequentemente nestes casos pelo veterinário) ou excecionalmente geridas

(muitas vezes iniciado pelo produtor), os resultados deste estudo indicam que há oportunidade de melhorar o maneio ao longo dos períodos secos (“far-off ” e “close-up”) e de pós-parto. Entre os 3 períodos estudados, os parâmetros que mostraram maior potencial de melhoria estão ligados ao período seco (“far-off ”). Os principais problemas destacados neste estudo (em todos os períodos) incluíram a densidade animal (sobrelotação nos períodos seco e pré-parto), falta de acesso e disponibilidade de água e falta de estratégias de redução de calor durante o período seco (“far-off ” e “close-up”) e de

pós-parto. Também foi identificado que as vacas conseguiam escolher a dieta (sorting) em 60% dos parques no período seco e em 31% dos parques de pós-parto. Além disso, em 73% das explorações, os protocolos de monitorização da saúde das vacas frescas não estavam em vigor. Os autores concluem dizendo que este trabalho identificou algumas áreas de oportunidade nas práticas de maneio das vacas em transição, que podem ajudar veterinários, consultores e produtores de leite a avaliar, identificar e definir problemas de maneio durante a transição nas explorações leiteiras.

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AGRIANGUS REALIZA II LEILÃO DE REPRODUTORES

O LEILÃO APRESENTOU 48 MACHOS E, PELA PRIMEIRA VEZ, UMA SELEÇÃO DE 22 FÊMEAS QUE, TAL COMO OS MACHOS, SÃO FRUTO DE UM DEDICADO E CRITERIOSO ESQUEMA DE SELEÇÃO, NO QUAL RECORREMOS AOS MAIS AVANÇADOS MÉTODOS, TECNOLOGIAS E GENÉTICA DISPONÍVEIS GLOBALMENTE. Por João Diogo Ferreira, gerente Agriangus | Fotos NM

O

II Leilão de Reprodutores da Agriangus foi novamente um sucesso, num ano muito especial em que celebramos o nosso 10º Aniversário. Para além dos 48 machos, não poderíamos ter melhor ocasião para disponibilizar pela primeira vez, uma seleção de 22 fêmeas que, tal como os machos, são fruto de um dedicado e criterioso esquema de seleção, no qual recorremos aos mais avançados métodos, tecnologias e genética disponíveis globalmente. O nosso esquema de seleção rege-se pelos princípios básicos de qualquer exploração sustentável – partos não assistidos de animais dóceis, crescimento rápido até uma puberdade precoce, possibilitando um acabamento rápido que favorecerá a obtenção de carne de qualidade

ou na manutenção de fêmeas férteis, de tamanho moderado e produtivas. No ano passado a Agriangus investiu numa das Estações de Testagem de Eficiência Alimentar mais avançadas da Europa, tornando-se o primeiro criador a disponibilizar dados do consumo alimentar de todos os Reprodutores aos seus clientes. Consideramos que a seleção e manutenção de animais mais eficientes será fundamental para garantir um futuro próspero do setor, assegurando uma utilização eficiente dos preciosos recursos alimentares, cada vez mais escassos e dispendiosos. Nesta testagem surgem dados pioneiros, como o Índice de Conversão Ajustado, que considera as diferenças na idade e tamanho do animal durante o teste (diferenças não consideradas na maioria das testagens). Este índice é o valor do índice de conversão

multiplicado pelo peso médio metabólico do grupo do teste dividido pelo peso médio metabólico do indivíduo. Apresentámos igualmente os valores do Scanning (ecografia) das massas musculares, destinados a aferir o perfil quantitativo e qualitativo das massas musculares de cada animal (qualidade da carne) e os EBVs (Estimated Breeding Values) de cada animal, dando uma aproximação do valor genético dos indivíduos. Estes valores expressam a diferença entre o valor genético dos animais e o da população base com a qual são comparados. Os EBVs são publicados nas unidades de medida, por exemplo, kg para o peso. Assim, um valor para o caractere peso aos 400 dias de idade (400WT) de +12kg, significa que o animal é geneticamente superior 12kg à população base.

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Estes valores permitem estabelecer comparações indiretas entre animais criados em grupos contemporâneos diferentes (ex: diferentes idades e explorações), desde que exista uma ligação genética nos seus pedigrees. Contámos com a presença de cerca de 180 entusiastas, assim como de dezenas no formato online. A média de venda dos 70 lotes (machos e fêmeas) foi de 3500 €. O macho mais valorizado atingiu os 5550 € (lote 3), um embrião adquirido ao Rancho Canadiano Red Six Mile, um dos melhores criadores do mundo. Nas fêmeas o valor mais elevado foi para a Agriangus Mina M6115, uma fêmea com um super pedigree, vendida por 5000 €. Agradecemos a presença e confiança de todos os participantes.


Erros do passado pagos hoje

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O PROJETO BOVINE PARTICIPOU NAS 13AS JORNADAS DO HVME O PROJETO BOVINE — BEEF INNOVATION NETWORK EUROPE — esteve presente na 13ª edição das jornadas do Hospital Veterinário Muralha de Évora (HVME), em março passado, com o objetivo de divulgar os conteúdos que tem identificado durante a sua execução, no âmbito da produção de carne de bovino. Esta divulgação consistiu em duas palestras. A primeira foi uma apresentação da Promert, SA e da ACBM (1). Da apresentação efetuada, destacamos o sistema de classificação da carcaça e da carne implementado na Austrália, a importância da eficiência alimentar na seleção de animais, a gestão holística do pastoreio, os planos alimentares para a redução na produção de metano, os processos de certificação para o bem-estar e a utilização de sensores e tecnologias associadas para monotorização dos animais em produção. A segunda comunicação, a cargo do parceiro FMVULisboa, abordou o tema da avaliação e certificação de bem-estar nas engordas. Foi destacada a exigência crescente por parte dos mercados e dos consumidores em conhecer as condições em que os animais são produzidos desde o nascimento até ao abate (do Prado ao Prato). Sendo as engordas um dos

momentos da produção mais escrutinados e para o qual já existem protocolos de avaliação validados e aceites pelo mercado, foram referidos alguns pormenores relacionados com a forma como se poderá avaliar o bem-estar nesta fase de produção. Foi identificado o tipo de medidas mais usual (indicadores baseados nos sinais dos animais) e ainda a forma como se avaliam e classificam as várias vertentes do bem-estar animal (alimentação, saúde, instalações, comportamento e relação homem-animal). Finalmente foi discutida a problemática da rotulagem, que se apresenta atualmente pouco regulamentada e controlada, sendo de esperar uma maior clarificação por parte da Comissão Europeia num futuro próximo. Paralelamente, o consórcio apresentou um poster descritivo sobre o processo de funcionamento do projeto BovINE(2) e os seus objetivos. Por último, importa referir que todas as inovações e boas práticas associadas à produção de carne de bovino, que o consórcio BovINE tem identificado desde o início, encontram-se disponíveis na plataforma Beef Knowledge Hub (3). Passe por lá, pesquise o assunto do seu interesse utilizando palavras chave e deixe o seu comentário.

(1) Disponível no link: https://www.mertolenga.com/BovINE%20HVME%2011-03-2022.pdf (2) Disponível no link: https://www.mertolenga.com/Poster%20BovINE%20Vfinal.pdf (3) Disponível no link: https://hub.bovine-eu.net/.

PREOCUPAÇÕES DO SETOR AGROPECUÁRIO DA UE Fonte: Farm Europe

O SETOR PECUÁRIO EUROPEU ENFRENTA UM NÚMERO CRESCENTE DE PREOCUPAÇÕES. Estas incluem os custos crescentes de energia, fertilizantes e ração, bem como o crescente impacto económico de doenças veterinárias (peste suína africana e gripe aviária altamente patogénica). Na Alemanha, o governo federal quer reduzir a proporção de alimentos de origem animal (até 80% para carne) e focar-se numa dieta mais baseada em vegetais. Também não há acordo à vista dentro da coalizão sobre várias questões agrícolas importantes, como edição de genes e imposto de bem-estar animal. Quase uma dúzia de países da UE juntaram-se à Irlanda para rejeitar a tentativa da Comissão Europeia de vincular o consumo de carne ao câncro no seu novo programa de promoção de alimentos. A invasão da Ucrânia pela Rússia pode ter sérias consequências para a pecuária na Europa. Neste contexto de

extrema vulnerabilidade duma parte do mundo agrícola, a Comissão Europeia indica que irá propor nos próximos dias “medidas excecionais” para mitigar os desequilíbrios do mercado. O Parlamento Europeu aprova o relatório sobre o bem-estar dos animais, abrindo caminho para novas regras da UE, e os eurodeputados pedem que as atuais regras de bem-estar dos animais da UE sejam harmonizadas e aplicadas de forma mais rigorosa. Os Estados-Membros da UE aprovaram a colocação no mercado de um aditivo alimentar inovador para vacas leiteiras que reduz as emissões de metano. A Comissão continua a apoiar a coordenação da comunidade de investigação sobre o desenvolvimento, ensaio e demonstração de práticas agrícolas de carbono. Um grupo de peritos, reunindo autoridades e partes interessadas dos EstadosMembros, apoiará a Comissão no desenvolvimento de normas para a certificação das remoções de carbono.

COMUNICADO DIN, S.A.

DIN CRIA GRUPO I&D A OTIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO ANIMAL IMPLICA UMA CONSTANTE EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO e da diferenciação em produtos, maneio e serviços. Desenvolvemos por isso novos conhecimentos zootécnicos com vista à maximização da eficácia das dietas, promoção da saúde e do bem-estar animal. As pesquisas da DIN, S.A. 080

enquadram-se numa perspetiva a longo prazo que integra as exigências da sociedade em concordância com o respeito pelas pessoas, animais e ambiente. Criamos por isso o Grupo I&D da DIN, S.A., onde convidamos os nossos clientes a pertencer a uma equipa multidisciplinar que visa encontrar soluções que contribuam para melhoria da eficiência produtiva.


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A IMPORTÂNCIA DAS ESCOVAS PARA AS VACAS Fonte: Journal of Dairy Science®

AS VACAS LEITEIRAS TÊM UM IMPULSO NATURAL PARA SE LIMPAREM E coçarem em locais do seu corpo difíceis de alcançar. Quando tem oportunidade, o gado leiteiro usa escovas mecânicas, diariamente, em todas as fases da sua vida. Um novo estudo publicado no Journal of Dairy Science®, conduzido por investigadores do Animal Welfare Program, Faculty of Land and Food Systems, Universidade de British Columbia, Vancouver, Canadá, foi o primeiro a caracterizar o uso de escovas estacionárias em vitelas desmamadas. Vacas sem acesso a escovas tendem a esfregar a cabeça e o corpo contra as paredes dos estábulos e as bordas dos bebedouros, correndo o risco de se magoarem. Além disso, o gado jovem parece ser

motivado a manipular objetos com a boca. Estudos anteriores perceberam que animais jovens com acesso a escovas estacionárias ou cordas de cânhamo penduradas que podiam manipular oralmente, apresentavam níveis reduzidos de comportamentos orais anormais, não nutritivos e potencialmente prejudiciais, como enrolar a língua e chupar superfícies pontiagudas. Fornecer acesso a escovas no seu ambiente é, portanto, uma questão de bem-estar para o gado. No entanto, vitelas desmamadas são frequentemente alojadas em ambientes simples, sem acesso a escovas ou objetos para manipulação oral. Escovas rotativas permitem que o gado limpe áreas do corpo de difícil acesso, mas escovas estacionárias podem ser mais económicas e oferecer

oportunidades para outros comportamentos, como a manipulação oral. A investigadora principal Marina von Keyserlingk, observou: “Embora o fornecimento de escovas para gado leiteiro se esteja tornando mais comum, fornecer objetos para manipulação oral tem sido pouco explorado. Este parece ser um comportamento importante para o gado jovem.” Portanto, este estudo examinou não apenas a higiene, mas também comportamentos orais focados nas escovas, além de explorar as preferências das novilhas quanto ao tipo e posicionamento das escovas. Na fase 1 do estudo, quatro escovas retangulares foram presas à cerca do parque onde estava o grupo experimental, de quatro novilhas. Nesta fase também se investigou

082

se as novilhas preferiam cerdas mais macias ou mais rígidas, a orientação vertical ou horizontal das escovas, ou qualquer localização particular das escovas dentro do estábulo. Na fase 2 da experiência, as novilhas foram movidas para estábulos de circulação livre, com escovas presas horizontalmente nos rails do estábulo ou sem escovas. Após cinco dias, foram adicionadas escovas aos estábulos que anteriormente não tinham nenhuma, para examinar quaisquer efeitos após esse período de privação. Ambas as fases da experiência utilizaram câmaras de vídeo para registo e observação dos comportamentos dos animais. A equipa de investigação descobriu que as novilhas começaram a usar as escovas quase imediatamente, embora nunca tivessem


PRODUTO | NOTÍCIAS

sido expostas a escovas anteriormente. Na primeira fase, as escovas foram usadas principalmente para se coçarem (aproximadamente 60% do uso da escova), principalmente na cabeça, mas também fizeram bastante manipulação oral da escova (aproximadamente 40%). Após um pico de utilização no primeiro dia, o uso das escovas foi constante ao longo desta fase, e todas as novilhas usaram cada escova pelo menos uma vez.

tempo, reforçando a visão da equipa de que esse é um comportamento importante para bovinos jovens. Além disso, a indiferença no uso de escovas com diferente rigidez de cerdas, bem como na orientação horizontal versus vertical, sugere que o tipo de escovas fornecidas pode ser menos importante do que a disponibilização das mesmas. “No nosso estudo, os padrões de uso de escovas ao longo dos dias sugerem que as

Na fase 2, (aproximadamente 75%) a utilização maioritária das escovas foi oral. As novilhas inicialmente privadas de escovas nesta fase apresentaram maior uso das escovas após a sua colocação nas baias (cerca de três vezes mais do que as novilhas que tiveram acesso a escovas o tempo todo). A manipulação oral das escovas em todas as etapas da experiência permaneceu consistente ao longo do

escovas estacionárias são funcionalmente relevantes para o comportamento natural das novilhas e mantêm o seu interesse ao longo do tempo, características importantes para melhoramentos ambientais relevantes”, disse o Prof. von Keyserlingk. “Dadas as evidências recentes que indicam que vacas adultas são altamente motivadas para utilizarem escovas, privar o gado de tais recursos pode ter efeitos negativos no seu bem-estar”.

DICAS PARA ENFRENTAR PERIODOS DE SECA Fonte: K-State Research and Extension News

ASSIM COMO OS ECONOMISTAS AGRÍCOLAS ACONSELHAM os produtores de carne bovina a seguirem uma estratégia de gestão do risco quando se trata da comercialização de gado, esses mesmos princípios são importantes ao prever a seca, dizem os especialistas da Universidade de Kansas State. “Ter um plano e um plano de contingência é importante para mitigar o risco quando se trata de seca”, disse Brad White, diretor e veterinário do Beef Cattle Institute. O nutricionista Phillip Lancaster considera que existem várias opções para os produtores:

“Uma opção é plantar culturas tolerantes à seca que possam ser colhidas para alimentação no futuro”. Outra opção é retirar o gado dos pastos mais cedo para conservar os recursos alimentares. Lancaster denominou essa prática de “destocking”. “Uma forma de fazer o “destock” nas pastagens é desmamar os bezerros cedo, aos quatro meses de idade”, disse ele. Ao fazer isso, a vaca deixará de produzir leite e manterá sua condição corporal com menos recursos alimentares. “Uma vaca em lactação

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consome 20-30% mais forragem do que uma vaca não lactante por dia, portanto, ao desmamar os bezerros cedo, o consumo de forragem diminuirá”, disse Lancaster. Olhando para o futuro a vários meses, Lancaster sugeriu que os produtores considerassem alimentos alternativos para atender às necessidades energéticas do rebanho. “O feno comprado é uma opção cara em relação ao valor energético que fornece; recursos alimentares, como subprodutos ou cascas de soja, oferecem energia a um custo mais barato”, disse Lancaster. “Alimentar o gado

com uma dieta energética mais moderada que usa menos forragem e ainda atende às necessidades nutricionais do rebanho pode realmente reduzir a conta de ração”. Para saber se estão enfrentando uma situação de seca, White deu esta dica: “Com uma régua, meça a altura do capim no pasto em junho, julho e agosto e depois compare essas imagens de ano para ano para ver se existe um padrão.” Ouça aqui o podcast: https://ksubci. org/2021/05/21/high-commodity-pricesdrought-management-implants-in-youngcalves-vaccinating-in-warm-weather/.


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MERGE MAXX 440 F AMPLIA A GAMA DE AJUNTADORES DE TAPETE FRONTAL O NOVO AJUNTADOR FRONTAL DE TAPETE MERGE MAXX 440 F, DA KUHN pode trabalhar sozinho, ou em complementaridade com os modelos Merge Maxx 760, 950 e 1090 ,ou ainda com um ajuntador de rotor da gama GA. Junta a forragem, minimizando a contaminação e reduzindo os custos de operação com máquinas de colheita.

do volume de forragem, o rolo Windguard auto ajusta-se para cima ou para baixo para obter o melhor fluxo de forragem para os tapetes.

que é ideal para otimizar a formação do cordão traseiro e facilitar as operações seguintes. Também é uma boa solução para separar cordões demasiadamente grandes para facilitar a secagem.

O modelo Merge Maxx 440 F tem um tapete com aproximadamente 1 metro de largura para otimizar o transporte da forragem e a formação do cordão lateral. O ajuste da tensão do tapete é centralizado e não necessita de ferramentas.

Como a descarga é separada, a forragem é distribuída entre os dois lados (um exclusivo Kuhn), resultando num cordão central posterior muito homogéneos em forma e densidade, qualquer que seja a máquina posterior utilizada. Assim, facilita-se o enfardamento de fardos redondos, sendo o acondicionamento de fardos perfeitamente cilíndricos favorável à sua conservação e ao seu armazenamento.

O seu pick-up de 3 metros de largura forma um cordão de aproximadamente 1,40 m. A descarga pode ser feita só para um ou de ambos os lados, o

O pick-up de pequeno diâmetro, com rolo Windguard, otimiza a recolha da forragem, a elevação e a transferência para os tapetes. Dependendo

Uma articulação pendular integrada no chassis permite ao pickup uma deslocação de ±10º para que a máquina se adapte às irregularidades do terreno. Para uma estabilidade perfeita nas inversões, na estrada e nas cabeceiras, o sistema de pêndulo é bloqueado automaticamente quando a máquina é levantada. Além disto, uma suspensão hidráulica também protege constantemente o cordão. Por fim, dois grandes patins giratórios guiam a máquina para evitar raspar o solo e para proteger o cordão durante os movimentos laterais do trator nas curvas. Estes patins são reguláveis ​​em altura para

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se adaptarem a múltiplas situações (altura de corte, tipo de forragem, encordoamento de palha). O modo de trabalho, a velocidade do tapete e a formação do cordão podem ser ajustados diretamente da cabine do trator, sem que o motorista precise sair. Um manómetro está situado no campo de visão do tratorista para alertá-lo sobre qualquer aumento anormal de pressão na máquina. A tampa traseira do canal de evacuação da forragem é em material translúcido para permitir visualizar o fluxo de forragem durante o trabalho. Também estão disponíveis equipamentos opcionais, como uma rede de contenção para limitar a dispersão de resíduos vegetais, ou um conjunto de 2 espelhos retrovisores para melhorar a visibilidade lateral.


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NEW HOLLAND AMPLIA A OFERTA DE ENFARDADEIRAS DE CÂMARA VARIÁVEL COM A ENFARDADEIRA PREMIUM PRO-BELT

SAMCO LANÇA GAMA CTS 1600 DE NOVOS REBOQUES COM APANHADOR DE FARDOS CILÍNDRICOS

A New Holland Agriculture ampliou a sua oferta de enfardadeiras de fardos redondos de câmara variável com a nova série Pro-Belt de fardos redondos. Esta série integra uma caixa de velocidades dividida para alta eficiência mecânica e robustez e possui um design simplificado com menos componentes e peças móveis mais fortes. O rotor de 520 mm de diâmetro

O apanhador de fardos CTS 1600 de acionamento hidráulico apanha os fardos do chão, levanta-os e gira-os no reboque, apenas através do joystick do operador. O reboque é carregado automaticamente, empilhando dois fardos, lado a lado, em altura dupla, num total de 16 fardos. Os sensores integrados ajustam a posição das laterais ao tamanho dos fardos, enquanto

para trabalhos pesados, em combinação com o Active Drop Floor, fornece feedback constante ao operador, permitindo-lhe maximizar a produtividade, com um alto rendimento e alimentação contínua. Apresenta um desempenho igualmente bom em silagem e palha seca. Tem uma capacidade de até 30 toneladas por hora e 140 kg/m3 em palha.

as barras de fixação ao longo da parte superior e traseira impedem qualquer movimento durante o transporte. Um sistema hidráulico de deteção de carga da Danfoss controla as funções principais. O reboque pode descarregar simultaneamente oito fardos (em quatro pilhas de dois). Para mais informações: https://www.samco.ie/ machinery/bale-trailer/.

KUBOTA FABRICA O 10.000º M7

A fábrica francesa da Kubota levou menos de seis anos e meio para produzir o 10.000º trator M7. A produção da gama de três modelos (130-170cv) começou no outono de 2015. Fabricado na fábrica de tratores de Bierne, perto de Dunquerque, o M7 é comercializado em 32 países, incluindo Europa, América do Norte, Austrália e Japão. Em Portugal conta com 42 unidades vendidas. 086


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#45 | abr. mai. jun. 2022

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MERLO OS NOVOS TURBOFARMER 50.8 E 45.11

SILOFARMER O ROBOT PARA OVINOS E CAPRINOS

NEW HOLLAND SISTEMA DE AUTOMATIZAÇÃO PARA ENFARDADEIRAS GANHA MEDALHA DE PRATA

A Merlo anunciou a chegada de dois novos modelos para a gama "High Capacity" dedicada à agricultura, o TF50.8 e o TF45.11, disponíveis em três versões. Os dois novos Turbofarmer substituem os de igual capacidade presentes na gama Merlo, introduzindo algumas inovações de realce. Os novos TF50.8 e TF45.11 estão equipados de série com a tecnologia Hi-Flow (HF), composta por um distribuidor hidráulico de última geração desenvolvido pela Merlo e associado a uma bomba hidráulica de alto caudal. Graças à tecnologia Hi-Flow, o Merlo é capaz de oferecer desempenho recorde e soluções de gerenciamento exclusivas que possibilitam agilizar e simplificar as operações diárias dos utilizadores. O novo distribuidor hidráulico Merlo integra todas as funções comuns dos distribuidores hidráulicos (eletroválvulas, controlos independentes, controlo da inclinação transversal do chassi) com novas funções inovadoras, como a descida por gravidade, a elevação vertical, o Set Point, a gestão flutuante e a entrega contínua de óleo.

O Robot System, robot de alimentação da Silofarmer, foi especialmente desenvolvido para explorações de ovinos e caprinos. A tremonha de 800 litros do Silofarmer Robot System permite distribuir todo o tipo de misturas de rações concentradas, minerais ou farinhas. O robot carrega automaticamente e desloca-se de acordo com uma rota definida através de fios enterrados no solo. O seu motor eléctrico alimentado por quatro baterias permite-lhe deslocar-se de 20 a 40 m/min enquanto empurra a forragem, conseguindo vencer inclinações de até 15%.

A New Holland Agriculture foi galardoada com a Medalha de Prata para a Inovação pela Sociedade Agrícola Alemã DLG (Deutsche LandwirtschaftsGesellschaft), pelo seu inovador sistema de automatização para enfardadeiras. Este sistema foi concebido para maximizar a produtividade do enfardamento e o conforto do operador, com base no volume do cordão, espessura da camada, carga da máquina e carga do motor do trator. Conduz automaticamente o trator sobre o cordão: um sensor LiDAR (deteção de luz e alcance) fiável com IMU (Inertial Measurement Unit ou Unidade de Medida Inercial) deteta a posição e a secção transversal do cordão, e o sistema adapta automaticamente a velocidade de avanço.

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A orientação automática da enfardadeira assegura o enchimento uniforme da câmara de compressão, utilizando sempre a capacidade máxima disponível sem exceder o limite. O resultado é uma maior produtividade com mais fardos por dia e uma maior durabilidade para a enfardadeira. Uma funcionalidade avançada permite ao operador definir o peso do fardo desejado e o sistema irá prever o peso dos fardos em movimento, ajustando-se constantemente de acordo com um algoritmo. O resultado é um peso de fardo consistente, um formato de fardo perfeito e alta qualidade mesmo em condições de mudança de cultura e rendimento — sem a intervenção do operador.


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