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Equipamento | Bovinos de leite

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EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE UMA APOSTA FORTE NO BEM-ESTAR ANIMAL

“FILHO DE PEIXE SABE NADAR” É UMA EXPRESSÃO UTILIZADA NA LÍNGUA PORTUGUESA QUANDO SE QUER DIZER QUE OS FILHOS HERDARAM BOAS QUALIDADES DOS PAIS. O DITADO POPULAR APLICA-SE À EMPRESA FAMILIAR AGROCARTUCHO, EM QUE O GOSTO PELO NEGÓCIO DO LEITE JÁ VAI NA TERCEIRA GERAÇÃO E A VONTADE DE PRODUZIR MELHOR LEVOU, RECENTEMENTE, À CONSTRUÇÃO DUMA NOVA VACARIA E À AQUISIÇÃO DE 2 ROBOTS DE ORDENHA DELAVAL. Por RUMINANTES | Fotos FG

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Sentado em frente a uma janela panorâmica sobre a vacaria, e com a ajuda de um monitor onde passam imagens “em direto” da movimentação das vacas no estábulo, Carlos controla o negócio. Através das câmaras consegue perceber, em detalhe e em tempo real, o que se passa com cada animal, bem como intervir no robot, através do computador, sem ter que sair do lugar: “No dia a dia, é muito mais fácil perceber o que se passa com as vacas e tomar as devidas medidas, além de que a observação do seu comportamento através das câmaras permite-nos aprender muito”.

A opção por robots versus uma nova sala de ordenha não foi difícil. Na base da decisão estiveram três razões principais: o número de vacas, a tranquilidade da ordenha e a menor dependência de mãode-obra. “Tendo atualmente 90 vacas e não querendo aumentar para além das 120 (nesse caso teríamos que ir para um “carrossel”, os robot pareceram-nos a opção certa”, diz Carlos. Não menos importante, referiu, é a tranquilidade do processo: “Torna-se um trabalho menos pesado, além de que é menos dependente de mão-deobra. Ainda assim, alerta, o robot não faz tudo sozinho: “O robot pode dar problemas a qualquer hora do dia, e mesmo durante a noite, mas mesmo assim permite-nos ter muito mais liberdade devido aos sistemas de aviso, não temos que estar sempre ali.” Por fim, a questão da mão-de-obra também pesou: “Antes tínhamos uma sala de ordenha de sistema tandem em espinha, 4x4, onde ordenhávamos 8 vacas de cada vez. Demorávamos 2 horas de manhã e outras 2 à tarde, em que tínhamos que estar sempre presentes, não podia falhar”.

OS CRITÉRIOS ENVOLVIDOS NA ESCOLHA DO ROBOT

Os robots adquiridos são da marca DeLaval, modelo V310. Na sua escolha tiveram em conta a possibilidade de ter

acesso aos animais, através dum fosso, para poderem executar algumas tarefas manualmente (ex. colocar as tetinas à mão, tocar nos animais), caso ocorra alguma avaria, evitando paragens até à chegada do técnico.

A adaptação dos animais aos robots foi muito rápida, cerca de 2 dias (em que houve necessidade de encaminhar as vacas para o robot, mesmo durante a noite). Esta rapidez deveu-se, na opinião da técnica da Harker XXI, Ana Paiva, ao facto de as vacas estarem habituadas a ser ordenhadas naquela posição e a comer nas boxes de alimentação. O maneio também foi apontado como uma razão importante para a fácil adaptação dos animais ao robot.

Durante os primeiros dias, notou-se uma ligeira quebra na produção que, de acordo com os produtores se relaciona com a mudança no regime alimentar: as vacas comiam a maior parte da energia da dieta na manjedoura e passaram a consumi-la no robot.

Passados 2 meses da entrada dos robots, a produção “tem vindo a aumentar sustentadamente”, diz Carlos Magalhães. Mas “ainda é cedo para esperar resultados. Começámos por acertar as vacas e agora estamos a acertar a alimentação”.

A DeLaval integra um sistema de pulsação inteligente que, através do reconhecimento do comportamento de cada animal em ordenha, otimiza o tempo de ordenha por animal, sendo feita uma adaptação da pulsação e massagem a cada animal, conseguindose diminuir o tempo médio por ordenha (tempo desde que fecha a porta de entrada e abre a porta de saída). Com este sistema é possível ter mais animais por robot. Nesta exploração, temos uma média de 13 kg de leite por ordenha, com a duração média de 6 minutos.

O que mudou na alimentação das vacas com a introdução dos robots?

De acordo com o plano definido pelo nutricionista, aumentámos a quantidade de energia no robot e reduzimo-la na manjedoura.

Já notaram aumentos nos custos da alimentação?

Ainda é cedo e não é fácil fazer esses cálculos agora, dado o período turbulento que atravessamos. Na antiga vacaria, o custo médio de alimentação por vaca, com uma produção média de 36 litros, era na ordem de 5 €, hoje já ultrapassou os 6,5 €.

Para onde olham quando chegam à exploração?

- produção total de leite dos robots; - produção de leite/vaca/dia; - consumo de ração e nº de visitas das vacas aos robots.

Porque escolheram a Harker XXI?

Já conhecíamos esta empresa. Desde 1997 que trabalhamos com a Harker XXI e nunca tivemos queixas.

Se estas vacas falassem, o que diriam?

"Porque é que não fizeste isto mais cedo?"

A VACARIA

Inaugurada no início de 2022, a vacaria tem uma superfície coberta de 2200 m2 . Possui 2 corredores de alimentação (4,75 metros de largura) e 130 cubículos. Tem maternidade e um parque para vacas no cio. Os cubículos, de 1,25 metros de largura, são inclinados para maior conforto e drenagem da humidade e estão equipados com tapetes de borracha sobre colchão de esponja de 3 cm. O investimento total, incluindo o trator e as vacas, rondou 1M €.

O ROBOT

O robot instalado, modelo DeLaval VMS V310, integra o laboratório Herd Navigator™ HN100 que fornece análises precisas do leite, úteis para se traçar um plano de ação para cada vaca e para o rebanho, obter melhores resultados de reprodução e ter menos custos com a saúde.

O Herd Navigator HN100 analisa a reprodução e permite também detetar quistos foliculares, cios e abortos.

O HN500, o modelo topo de gama, analisa a nutrição (beta hidróxido de butirato), a reprodução (progesterona) e as mamites (lactato desidrogenase). O modelo HN100, adquirido por esta exploração, analisa apenas a reprodução, através de um algoritmo que otimiza o número de amostras necessárias para acompanhar, com precisão, o ciclo reprodutivo da vaca.

A principal vantagem deste sistema, como explica Ana Paiva, técnica Harker XXI, comparando com os sistemas convencionais de deteção de cios (medidores de atividade...), "é permitir perceber, com antecedência, se o animal vai entrar em cio. Os sistemas convencionais estão baseados no aumento de estradiol mas, antes deste, aumenta a progesterona (cerca de 48 horas antes de a vaca entrar em cio), o que permite com maior antecedência definir a altura certa de inseminar. Se a vaca ficar gestante, o nível de progesterona mantém-se alto, caso contrário, baixa." O HN100 permite também detetar quistos foliculares, cios e abortos, mas não exclui a necessidade de acompanhamento do médico veterinário.

As análises são feitas através de reagentes, cujo custo por vaca ronda 60 €/vaca/ano. "Em comparação com os detetores de cio convencionais (acelerómetro), que custam 150 €/vaca e duram 10 anos, a diferença estará em 45 €, mas os acelerómetros não são tão rigorosos nem detetam os quistos, nem os abortos", explicou Ana Paiva. O custo do laboratório é de 12000 €.

OPTIDUO STD - O SISTEMA AUTOMATIZADO DE RECOLOCAÇÃO DE ALIMENTO DA MANJEDOURA

O Optiduo é um robot que mistura o alimento depositado na manjedoura, empurrando-o simultaneamente para que fique ao alcance das vacas. O arejamento do alimento torna-o mais apetecível pelas vacas.

A mistura é feita por um sem-fim que roda sempre para a direita e para fora, garantindo que qualquer objeto que esteja na manjedoura não entra para dentro da zona do sem-fim. Desta forma, evitam-se acidentes com animais ou objetos que apareçam pela frente. Carlos Manuel, técnico da Harker XXI, falou-nos sobre as vantagens deste equipamento, cujo preço ronda os 23900 €.

Qual é a expetativa do produtor que compra o Optiduo?

Já não precisa de perder tempo a empurrar o alimento para a manjedoura. Por outro lado, pode fazer menos unifeeds, sem perder a qualidade da mistura.

Pode também esperar maior produção de leite porque, com este sistema, a cada duas horas o alimento está a ser empurrado para junto das vacas, não acontecendo aquilo que por vezes se passa nas vacarias em que os animais não chegam ao alimento.

Este robot também permite distribuir ração (kg/metro percorrido).

Como “navega” o Optiduo?

Desloca-se através de uma linha de indução que está no solo, e tem 4 pistas para percorrer. Parte da pista exterior e, a cada volta que dá, vai passando para a pista seguinte, aproximando-se da manjedoura. Pode ser programado para passar pela manjedoura até 10 vezes por dia. Tem uma navegação adaptativa, ou seja, se encontrar pela frente um monte de alimento maior, passa para a pista exterior seguinte para empurrar o alimento para dentro, e depois volta à pista em que se encontrava. Isto poupa as baterias, porque permite adaptar-se à velocidade que tinha prevista.

O produtor pode escolher o número de pistas em que pretende que robot trabalhe. Um produtor que faça 2 unifeeds por dia, provavelmente não utiliza todas as pistas. Sempre que o robot se desvia alguns centímetros da linha de indução, imobiliza-se.

Da esq. para a dta: Carlos Magalhães, Deolinda Magalhães, Nuno Magalhães e Fernando Magalhães; Júlio Ribeiro, Carlos Manuel e Ana Paiva (Harker XXI).

COMO TUDO COMEÇOU

A exploração Agrocartucho fica na localidade de Calvelo, no concelho de Ponte de Lima. Pertence à família Magalhães há 3 gerações e continua hoje pela mão de Carlos, com a ajuda do seu sobrinho, Fernando, e o apoio técnico do seu irmão, Nuno.

A aprendizagem do negócio de produção de leite começou há 50 anos com “meia dúzia” de animais ordenhados numa sala coletiva, que complementavam o negócio de gado da família. Quando o efetivo aumentou, adquiriram a primeira ordenha própria. Corria então a década de 90 e entrava para o negócio o filho mais velho, Carlos Magalhães, na altura estudante na Escola Profissional de Ponte de Lima. Em 1995, equipam a vacaria com tapetes, cubículos e algumas máquinas, e continuam a aumentar o número de vacas; até que 2002, já com 60 animais, compram a sala ordenha que se manteve até à aquisição dos robots, no início deste ano.

A entrada recente de Fernando Magalhães para o negócio, levou a novos investimentos, para permitir uma gestão mais eficaz e modernizada. Fernando terminou a sua formação em engenharia agrícola e decidiu dedicar-se em exclusivo à atividade da exploração com o seu tio. Nasce então o projeto da nova vacaria.

EQUIPAMENTOS HIGH PERFORMANCE • 2 robots VMS V310; • Herd Navigator HN100; • Câmara com tecnologia

“InSight”; • Tetina totalmente separada tecnologia “PureFlow”; • Sistema de ligação remota RFC tecnologia “InControl”; • Sistema de gestão de rebanho

“Delpro”; • Sistema de deteção de cios

“AM2”; • Medidores de leite “MM27”, 4, ordenha real por quartos; • Optiduo STD, Sistema automatizado de recolocação de alimento da manjedoura; • Permutador de placas

BMPR 37. OUTROS EQUIPAMENTOS INSTALADOS • Tanque 12.000 litros com T200 controlo de refrigeração; • Unifeed Neon Plus 12M3; • Escovas rotativas pendulares DeLaval; • Silo em fibra para ração 18m3/10000 kg e linha sem-fim 75; • Sistema de aleitamento Combi CF1000 para vitelos; • Logetes para vacas Euro BP dupla cabeça/cabeça; • Tapete para cama de vacas DeLaval M40R; • Cornadis Safety (mód. 7 lugares /5 m); • Ventiladores CMP 7M com caixa comando e variador 5.5Kw; • Sistema de refrigeração das vacas “Cow Cooling” com ventiladores DDF1200; • Conjunto de 5 portões Vervaeke com sistema manual para do topo da vacaria; • 4 Lâmpadas CL6000 com sensor e caixa de controlo; • Termoacumulador 500 litros; • Parque de espera com portas elevatórias com sistema de comando à distância e portas separadoras de 2 vias. DADOS DA EXPLORAÇÃO Nome exploração Localização

Efetivo Agrocartucho Calvelo, Ponte de Lima

211 animais

Raça

Holstein Nº de vacas em ordenha 95 Taxa de reposição de novilhas 100% Produção total de leite da vacaria/ano 900.000 litros

Nº de ordenhas por vaca/dia 3 Nº de lactações médias das vacas 2,1

Gordura bruta média do leite 3,7%

Proteína bruta média do leite 3,25%

Nº de células somáticas 135.000

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