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Equipamento | Bovinos de leite

EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE MAIS TEMPO LIVRE E CASCOS SAUDÁVEIS

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FILIPE GONÇALVES APOSTOU NO SISTEMA ROBOTIZADO DE ORDENHA PARA RESOLVER DUAS QUESTÕES MUITO IMPORTANTES NA SUA VACARIA: A GESTÃO DO TEMPO E A NECESSIDADE DE MELHORAR O PROBLEMA DE CASCOS DO EFETIVO. HÁ CERCA DE UM ANO, QUANDO O NEGÓCIO PASSOU PARA AS SUAS MÃOS, FILIPE DECIDIU FAZER MELHORIAS SIGNIFICATIVAS AO NÍVEL DO BEM-ESTAR ANIMAL E SUBSTITUIU A SALA DE ORDENHA EM ESPINHA, DE 5X5 PONTOS, POR DOIS ROBOTS LELY ASTRONAUT A5 EQUIPADOS COM O SISTEMA METEOR.

Entrevista a FILIPE GONÇALVES, SOCIEDADE AGRÍCOLA ESTRELA DO ALTO MINHO | Por RUMINANTES | Fotos FG

Em março passado, entrevistámos Filipe Gonçalves para perceber de que forma os melhoramentos feitos na vacaria o ano passado já estão a produzir os efeitos desejados, quer na melhoria dos problemas de cascos, quer no conforto dos animais.

O que mudou nesta vacaria nova?

A área total é a mesma, e o desenho também não é muito diferente do anterior, mantendo uma zona central ampla, como zona de recreio para as vacas. Alterei o alinhamento das camas das vacas, e mudei a zona das novilhas, tornando-a maior e com camas. O efetivo aumentou apenas 5 vacas. Depois destas alterações, a exploração pode funcionar com 2 a 3 pessoas. Quanto à área de produção de forragens, mantém-se nos 35 hectares, onde semeamos azevém e milho.

Onde se inspirou para o projeto da vacaria?

Em várias vacarias que visitei, mas principalmente numa holandesa. Adaptei o desenho, que já era parecido com o meu, e introduzi o sistema de luz automático, que permite ter uma intensidade luminosa de 250 lux em 16 horas diárias, ou seja, durante este período a vacaria está sempre bem iluminada. Mantive a cobertura translúcida em toda a zona central do estábulo, porque as vacas sempre gostaram muito de estar aí a apanhar sol, mas coloquei uma cortina elétrica para permitir cortar a claridade no pico do verão.

Como escolheu o local dos robots?

Para que todas as vacas estejam relativamente perto e tenham acesso aos dois robots, optámos por colocá-los no centro do estábulo.

O que mudou nas camas?

Passámos de 90 para 110 cubículos. Hoje temos tantas vacas como cubículos, algo que no passado não tínhamos. Mudámos também o sistema dos cubículos, que são totalmente abertos à frente, não têm “pilares” nem o tubo frontal, o que permite que as vacas estejam deitadas e possam olhar em frente sem terem obstáculos perto da cabeça, assim como também facilita os seus movimentos quando se deitam ou se levantam. Os colchões Promat têm 90 mm de espessura, em vez dos habituais 40 mm, o que os torna muito mais macios e confortáveis. O preço é superior mas compensa, não tenho tido qualquer tipo de lesão nas vacas.

E em termos de iluminação?

Com o sistema de iluminação Lely Light For Cows, temos sempre um dia longo. O sistema liga e desliga, e regula a intensidade da luz, em função da luminosidade existente. Ainda não consigo medir as vantagens em termos de resultados, porque a vacaria é totalmente nova e as vacas vêm de um período de stress enorme porque foi tudo mudado na mesma fase: o estábulo, os cubículos e o sistema de ordenha. Mas o que espero é conseguir produzir mais leite.

Que investimentos fez na limpeza da vacaria?

Comprei o Discovery 120 Collector, que permite ter a vacaria sempre limpa e evita a passagem dum trator a limpar e a incomodar as vacas. Com o trator limpava 2 vezes por dia; o Colector limpa 9 vezes por dia.

O robot Colector, da Lely, permite ter a vacaria sempre limpa.

OS ROBOTS 2 LELY ASTRONAUT A5 COM METEOR E MQC-C

Que sistema de ordenha tinham antes?

Sala de ordenha em espinha de 5x5 pontos.

Porque investiu em robots?

Para conseguir ter mais qualidade de vida. Com a sala de ordenha, era obrigado a entrar na exploração por volta das 5h30 só saindo pelas 21h30. Este sistema permite-me ter mais liberdade para gerir o tempo. Hoje entro na vacaria às 7h30 e saio às 19h30.

O investimento nos robots é maior que numa sala convencional?

No total, representa cerca de mais 30% que no sistema convencional, embora o investimento respeitante a obras de construção civil seja menor.

Porquê esta marca, e porquê o Meteor?

Acho que o robot Lely é atualmente o melhor do mercado. A opção pelo Meteor está relacionada com a necessidade de melhorar significativamente o problema de cascos que tinha no efetivo. Na sala antiga tinha um pedilúvio na saída dos animais da sala de ordenha. Este sistema é mais eficaz, faz a limpeza dos cascos através dum jato de água, sempre que as vacas vão ao robot. Lava diariamente e desinfeta a cada 2 dias.

O Astronaut, tem também um laboratório para a contagem de células somáticas (MQC-C) e a medição da condutividade elétrica do leite. Este laboratório faz uma análise a cada três ordenhas em vacas saudáveis e, em vacas “problemáticas”, em todas as ordenhas até estarem recuperadas.

Nota alguma melhoria nos problemas de cascos?

Penso que 90% dos problemas desapareceram, muitos dos quais estavam relacionados com micoses.

Como relaciona o robot com o bemestar animal?

Este sistema é muito melhor para o conforto das vacas. Temos implementado o sistema livre, em que as vacas vão ao robot quando querem e assim o leite não pressiona tanto o úbere. São elas que decidem livremente ser ordenhadas mais do que 2 vezes ao dia. No sistema anterior, eram ordenhadas 2 vezes à hora que nós decidíamos. Com o robot são elas que decidem a hora e o número de vezes que são ordenhadas. É tudo muito mais relaxante para os animais.

O que mudou na rotina das pessoas?

Mudou muito! Antes, tínhamos que ter sempre o mesmo número de pessoas na ordenha, o tempo todo. Agora, em termos de ordenha, trata-se apenas de levar para o robot as vacas que estão atrasadas, qualquer um de nós pode fazê-lo.

Como fizeram a transição de um sistema para o outro?

Foi uma transição muito complicada porque as vacas estiveram no estábulo durante os (muitos) meses em que as obras no estábulo estiveram a decorrer. Quase no final da obra instalei os robots. Um mês após a instalação dos robots destruí a sala de ordenha e no seu lugar fiz mais cubículos. Foram meses de muito stress para as vacas.

Ao fim de quanto tempo é que os animais entraram na rotina?

Ao fim de 2 meses praticamente já não tinha que levar vacas ao robot. Penso que esta vacaria não seja uma referência, por ter mudado tudo na mesma fase.

Quantas ordenhas por vaca e por dia dia têm?

Neste momento estamos com 3,2 ordenhas, com uma média de cerca de 7 minutos por ordenha. Temos como limite máximo diário 5 ordenhas por vaca. Temos 12,8 litros de leite por ordenha e 350 ordenhas diárias.

Qual é a produção atual de leite?

Estamos com uma média de produção diária por vaca de 41 litros. Anteriormente média estava em 35-36 litros mas, desde o novo estábulo foi concluído, tem-se mantido nos 41 litros (+17%). O objetivo é subir este valor, com a completa adaptação dos animais ao estábulo, boa reprodução e melhoramento genético do efetivo.

Vê diferenças na qualidade do leite?

Sim, hoje tenho um controlo muito bom sobre o que estou a produzir. Reduzi o número de mamites em 90%. Com o valor da CCS e da condutividade do leite consigo atuar muito depressa.

Os robots ordenham a mesma quantidade de leite?

Apesar de o acesso das aos 2 robots vacas ser totalmente livre, há um deles que ordenha mais leite por dia (mais cerca de 50 ordenhas). Habituei as vacas a ir mais a um deles, ao segundo da linha de alimentação, porque o sensor de descarga da ração está nesse robot. Assim, consigo garantir que a tremonha do primeiro está sempre cheia.

DADOS DA EXPLORAÇÃO

Nome Soc. Agríc. Estrela do Alto Minho, Lda.

Localização

Efetivo total Fonte Boa, Esposende

245

Nº de vacas em lactação 110

Nº de vacas secas 25

Área total exploração 35 hectares

Tipo de ordenha 2 robots Lely A5 com Meteor

Produção média dia/vaca 41 litros

ALIMENTAÇÃO

O que mudou na alimentação?

Na minha opinião, a alimentação é um dos pontos mais importantes numa vacaria com robot. É importante ter um nutricionista com experiência (eu trabalho com o José Alves, da De Heus).Antes, dava ração igual na manjedoura e nas boxes que estavam no parque. Atualmente, a ração do robot e da manjedoura são diferentes, principalmente a nível energético porque um programa alimentar correto (manjedoura + robot) pode eliminar por completo a necessidade de empurrar as vacas para o robot. No sistema com sala de ordenha, elas eram “empurradas” para a ordenha. Neste sistema de ordenha robotizada, se estiverem completamente satisfeitas, não têm tanta vontade de visitar o robot. Por isso é tão importante ter um sistema de arraçoamento que as leve a ter a necessidade de ir comer ração ao robot. Deixá-las com a sensação, que depois de comerem na manjedoura, ainda lhes falta qualquer coisa. A soma das duas no arraçoamento é que dá o equilíbrio.

Neste momento, com 6 kg na manjedoura e 6,9 kg no robot estamos a dar menos ração por litro de leite.

Como fez a transição na alimentação?

Cerca de 15 dias antes da mudança da

ordenha para o robot, passei para a nova ração. Conduzia as vacas para passarem no robot a comer a ração.

SAÚDE ANIMAL

O que melhorou?

De forma clara, passámos a ter uma melhor saúde do úbere (menos mamites), menos problemas de patas, melhor qualidade do leite e maior produção.

O que o preocupa mais?

A reprodução e a saúde do úbere. É para esses dados, que o robot me faculta, que eu mais olho. Também vejo o rácio entre gordura/proteína nas vacas recém paridas, por causa das cetoses. E o calendário do cio esperado. Para que as coisas corram bem, as vacas não podem ter problemas de cascos nem nos úberes.

GENÉTICA

Decidiram melhorar a genética por causa do robot?

Sim, basicamente vou fazer um melhoramento pela velocidade de descarga do leite. Nós temos animais Procross, estamos muito satisfeitos porque são animais mais resistentes, com melhor fertilidade e maior vida útil.

INDICADORES

Como analisa o investimento no robot?

Através do mapa geral gerado pelo computador (figura 1), obtenho muita informação, nomeadamente a média de leite produzido/vaca/dia e o leite que cada robot está a ordenhar. Neste momento tenho 2240 litros/robot/ dia, aquém do potencial do Astronaut, que é superior a 3000 litros. Ou seja, o robot tem 12% de tempo livre, quando até 8-10% não perde capacidade de ordenha, logo estamos a cerca de 20% da capacidade máxima de ordenha. Assim, uma das nossas prioridades é melhorar geneticamente o efetivo, para aumentar a velocidade de descarga de leite das vacas e poder ter mais animais.

Interessa-lhe mais a produção diária por animal ou por robot?

Por animal. Tenho um contrato de produção anual para cumprir, se puder fazê-lo com 100 vacas, não vou querer aumentar para 110.

Como avalia os resultados obtidos até agora?

“Acho que só ao fim de um ano se conseguem medir os resultados económicos. Existe uma grande diferença entre uma vaca que comece no robot antes ou depois de parir. Um animal que mude para o robot depois de parir, entra em stress, quebra a produção e nunca mais vai recuperar. Começo agora a fazer esse balanço, mas ainda é cedo.

Que medidas tomou para minimizar o aumento de preço dos fatores de produção?

Produzir melhores forragens, com mais proteína e energia. Por outro lado, vou tentar optar por variedades de milho mais eficientes, e gastar menos adubo. No caso do milho, penso reduzir de 400 kg/ha para os 320 kg/ha. Outra medida a tomar é na melhor gestão na aplicação dos fertilizantes, porque este trator tem GPS com barra de luzes permitindo uma aplicação sem sobreposição.

FIGURA 1 DADOS DO ECRÃ PRINCIPAL DO ROBOT REFERENTES AO DIA 4/3/2022

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