Revista Ruminantes 46

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RUMINANTES

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ANO 12 | 2022 JUL/AGO/SET (TRIMESTRAL) PREÇO: € 7.00

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Saúde e bem-estar A importância da hidratação em borregos e cabritos

Genética

Agricultura regenerativa

A experiência de Diogo e Rodrigo Ribeiro da Cunha, numa herdade no Lavre

A Portugal Rural quer criar uma linha superior para melhorar o retorno.

Genética

A procura pela ovelha ideal. Entrevista a Rui de Lacerda 01


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#46 EDITORIAL

REVISTA RUMINANTES #46

JULHO . AGOSTO . SETEMBRO 2022

A

DIRETOR Nuno Marques | nm@revista-ruminantes.com

Caro Leitor,

diversidade do negócio pecuário em Portugal e a pluralidade de abordagens na gestão dos recursos, por parte dos agricultores, são uma fonte rica de conhecimento. Ao longo destas 46 edições da Revista tive, necessariamente, a oportunidade de conhecer e conviver com muitos produtores de leite e carne, no nosso país e também no estrangeiro. Em todos os sítios, todas as pessoas que conheci se moviam, no final, pelo mesmo e único objetivo: ganhar dinheiro. Porém, no que à forma de gestão dos negócios se refere, assim como aos processos de produção, as abordagens são quase tão variadas, nos seus detalhes, como o número de produtores que existem. Pessoas diferentes trabalham de maneiras diferentes. Há produtores que procuram aumentar a produtividade do seu negócio ao máximo, investindo nos meios tecnológicos mais recentes, na melhor genética e em todos os meios ao seu alcance para melhorar resultados. Outros procuram alcançar um rendimento anual definido, através de uma produção com custos controlados, investimentos baixos e pouco risco. Normalmente, a filosofia associada a esta forma de produção low cost funciona a médio/longo prazo e os investimentos que são feitos nas explorações geridas nessa perspetiva devem estar adaptados às condições limitantes, nomeadamente às condições edafo-climáticas. Na escolha de raças, por exemplo, procura-se a genética que transmita as características que melhor se adaptem às condições limitantes, para poupar custos e fatores de produção. Aprendi, com os exemplos que tenho conhecido, que há sempre várias formas de chegar ao mesmo "sítio". Por isso, cada um deve poder escolher o seu caminho, sem ter necessariamente que achar que o caminho do outro está errado. É na diversidade que as empresas e os setores económicos conseguem evoluir e, também, através da partilha do conhecimento. A revista Ruminantes orgulha-se muito de contribuir para esta partilha, há 12 anos, contando com a indispensável colaboração dos seus parceiros de negócio que aqui publicitam os seus produtos e serviços. E agradece aos seus leitores as muitas mensagens de motivação, que têm sempre o sabor do combustível para um motor. Pela oportunidade, e por resumir aquilo que queremos ser, enquanto ferramenta de trabalho, partilhamos as palavras que nos chegaram de Rui de Lacerda, um jovem, agricultor, médico veterinário, que entrevistámos neste número: Penso que é bem merecido o reconhecimento, pelo excelente trabalho que tem vindo a ser desenvolvido. Na verdade, a revista Ruminantes é o elo de ligação entre todos os criadores de ovinos, bovinos e caprinos de Portugal. Local que possibilita a troca de ideias, de experiências e opiniões, que nos faz inovar, nos faz avançar, ser mais profissionais. E não poderia deixar de mostrar a minha admiração por pessoas que trabalham arduamente para que o setor agropecuário português possa estar ao mais alto nível, sem pedir NADA em troca! Por todas estas razões, fica o meu agradecimento à Revista Ruminantes, desejando as melhores felicidades a este grupo de trabalho. (Rui de Lacerda) E depois dum longo interregno, motivado sobretudo pela pandemia, voltamos, a pedido de muitos leitores, à Ruminarte. É com enorme satisfação que tornamos a ter esta rubrica na última página na Ruminantes, fruto de uma colaboração que se mantém, desde o primeiro número da Revista, com o fotógrafo António Cannas. Boas férias. Nuno Marques 03

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO André Antunes, António Avelino, António Moitinho, Augusto de Vale Gato, Carlos Vouzela, Daniel Rocha, Diogo Ribeiro da Cunha, George Stilwell, Helena Leão, Javier Lopez, Joana Silva, Joana Tomás, João Santos, João Valente, José Caiado, José Guilherme, José Luis Madera, Marie-Laure Ocaña, Pedro Nogueira, Rodrigo Ribeiro da Cunha, Rui de Lacerda, Susana Sousa. DESIGN E PRÉ-IMPRESSÃO Francisca Gusmão REDAÇÃO Francisca Gusmão, Inês Ajuda FOTOGRAFIA Francisca Gusmão, Francisco Marques IMPRESSÃO Jorge Fernandes Lda. Rua Quinta Conde de Mascarenhas , nº9, Vale Fetal, 2825-259 Charneca da Caparica Telefone: 212 548 320 ESCRITÓRIOS E REDAÇÃO Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto | 2780-051 Oeiras Telemóvel: 917 284 954 geral@revista-ruminantes.com PROPRIEDADE/EDITOR Aghorizons, Lda / Nuno Marques Contribuinte nº 510 759 955 Sede: Rua Alexandre Herculano nº 21, 5º Dto. | 2780-051 Oeiras GERENTE Nuno Duque Pereira Monteiro Marques DETENTORES DO CAPITAL SOCIAL Nuno Duque P. M. Marques (50% participação) Ana Francisca C. P. Botelho de Gusmão Monteiro Marques (50% participação) TIRAGEM 5.000 exemplares PERIODICIDADE Trimestral REGISTO Nº 126038 DEPÓSITO LEGAL Nº 325298/11 O editor não assume a responsabilidade por conceitos emitidos em artigos assinados, anúncios e imagens, sendo os mesmos da total responsabilidade dos seus autores e das empresas que autorizam a sua publicação. Reprodução proibida sem a autorização da Aghorizons Lda. Alguns autores nesta edição não adotaram o novo acordo ortográfico. O "Estatuto Editorial" pode ser consultado no nosso site em: www.revista-ruminantes.com/ estatuto-editorial. www.revista-ruminantes.com www.facebook.com/RevistaRuminantes


#46 | jul. ago. set. 2022

SUMÁRIO

#46 JULHO AGOSTO SETEMBRO 2022

22 Alimentação | Bovinos de carne Dieta de bovinos de acabamento

38 Equipamento | Bovinos de leite "Mecanizar compensa". Entrevista à família Rocha pela aquisição de um automotriz

50 Genética | Ovinos de carne "Melhor sem lã" Entrevista ao agricultor e médico veterinário Rui de Lacerda

08 Produção | Bovinos de carne A genética da Portugal Rural Entrevista a Helena Leão

14 Produção | Ovinos de leite Produzir leite de ovelha com excelência

16 Alimentação | Bovinos de leite Leite de substituição: o que está para além do rótulo

24 Alimentação | Bovinos de leite Aminoácidos e proteína no sistema NASEM 2021

30 Alimentação | Bovinos de carne II teste de eficiência alimentar Aberdeen Angus Portugal

34 Alimentação | Forragens Ponto ideal da colheita de silagem de milho

42 Saúde e bem-estar | Bovinos de leite 44 Saúde e bem-estar | Bovinos de leite A saúde dos cascos e as 3 É preferível criar vitelas grandes causas da claudicação. de leite em Parte 2: Lesões da linha branca grupo ou isoladas?

58 Agricultura biológica A empresa El Encinar de Humienta investe em bovinos em modo biológico

54 Agricultura regenerativa

"De volta às manadas" Entrevista aos irmãos Diogo e Rodrigo Ribeiro da Cunha

46 Saúde e bem-estar A importância da hidratação em borregos e cabritos

60 Agricultura regenerativa "A importância dum gráfico de pastoreio". A abordagem de Allan Savory

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62 Equipamento | Bovinos de leite Mantém-se o sossego na vacaria?

64 Equipamento | Bovinos de leite Robots de ordenha: como otimizá-los

70 Equipamento | Bovinos de leite Os benefícios do empurrador automático de alimentos

72 Índice VL e Índice VL-Erva A produção de leite nacional está em total decadência

76 Observatório do Leite O 2º semestre do ano e alguma ficção científica

78 Observatório das Matérias-Primas Afinal, há ou não há inflação?

80 Bovinos de leite Investigação leiteira

82 Bovinos de leite Estratégias nutricionais para reduzir o impacto do stress térmico

84 Ovinos de Carne II Dia Aberto Suffolk Testagem de Machos Suffolk 2022

85 Notícias Diagnosticar com facilidade a quantidade e qualidade da carne

86 Notícias FarmIN Livestock Trainings Formação “Qualidade da carne de bovinos"

86 Livro "As ilustres Raças. Ilustração de Raças Autóctones Portuguesas"

87 Notícias Cimertex e Merlo: os novos eWorker, uma gama 100% elétrica

87 Produto Delta® Green Uma alternativa "Verde" ao monopropilenoglicol

88 Produto CattleEye: aplicação do sistema em explorações leiteiras

89 Produto A nova enfardadeira Kubota de câmara fixa, modelo BF 3500

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GENÉTIICA | BOVINOS DE CARNE

A GENÉTICA DA PORTUGAL RURAL

"O OBJETIVO DE APOSTARMOS NA GENÉTICA FOI CRIAR UMA LINHA SUPERIOR PARA PODERMOS TER UM RETORNO MELHOR EM TERMOS DO PRODUTO QUE ESTAMOS A TRABALHAR, MESMO NO CRUZAMENTO INDUSTRIAL." FOI SOBRE A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE MELHORAMENTO GENÉTICO NA PRODUÇÃO QUE ENTREVISTÁMOS HELENA LEÃO, MÉDICA VETERINÁRIA RESPONSÁVEL PELO NEGÓCIO DE PECUÁRIA DA PORTUGAL RURAL. Por RUMINANTES | Fotos FG, Pt Rural 08


A genética da Portugal Rural

GENÉTICA | BOVINOS DE CARNE

Helena Leão, médica veterinária, trabalha na Portugal Rural desde 2015 e é responsável pela administração com responsabilidade direta na pecuária. Exemplo de um dos parques onde decorre um ensaio para avaliar o desempenho dos animais alimentados com suplemento de hidroponia.

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unto ao lago de Alqueva, entre a vila de Portel e a aldeia da Amieira, fica o conjunto de herdades que fazem parte da empresa Portugal Rural. No total são 2500 hectares dedicados à olivicultura em sistema intensivo e à produção de bovinos de carne maioritariamente da raça Limousine. A natureza pobre e rochosa da maioria dos solos, com muitas zonas declivosas de difícil acesso, não permitia melhor aproveitamento do que a aposta na produção de gado bovino. A juntar às

vacadas de cruzamento industrial “herdadas” na aquisição de algumas das propriedades, surgiu a ideia de criar uma vacada de linha pura Limousine com o objetivo de apuramento genético e de criação dos melhores reprodutores. Hoje a Portugal Rural conta com um efetivo de 600 vacas reprodutoras, sendo cerca de 10% Limousine em linha pura e o restante em cruzamento industrial de carne para abate ou para venda ao desmame. A empresa trabalha quer com inseminação artificial (IA), quer com monta natural de touros Limousine e Angus.

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Foi em maio passado que visitámos a Portugal Rural e entrevistámos Helena Leão, responsável pela administração com responsabilidade direta na pecuária. Desde a gestão do efetivo pecuário, aos serviços veterinários, alimentação e coordenação de trabalhos com o pessoal, Helena acompanha tudo o que se passa no dia-a-dia da empresa. Proveniente duma família de produtores de bovinos, trabalha na Portugal Rural desde 2015, após ter concluído a licenciatura em medicina veterinária e um estágio, na área da produção, no Hospital Veterinário Muralha de Évora.


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Como foi o percurso desde que entrou? Em 2015, quando ingressei na empresa havia uma vacada de cruzamento industrial de 100 vacas. Até 2018 fomos comprando grupos de novilhas, para iniciar a vacada com um efetivo novo, com uma percentagem grande de Limousine, por questões de mercado. Tínhamos, nessa altura, perto de 300 animais. Entretanto, surgiu a oportunidade de comprar mais duas herdades que também tinham vacadas, pelo que duplicámos o efetivo de vacas reprodutoras em 15 dias. Na altura foi complicado. Tudo o que tínhamos em termos de stocks de disponibilidade alimentar “estoirou”, para além de todo o trabalho que foi preciso pôr em dia (acertar épocas de cobrição, tirar touros, desmamar bezerros, fazer ecografias, refugar, etc.). Desde então, tem vindo a ser feito um acerto para chegar à nossa linha de trabalho e ao nosso objetivo. Em 2020 estabilizámos em termos de efetivo. Da área total do Grupo, que são cerca de 2500 ha, definimos 1500 ha para as vacas e subdividimos essa área para o maneio rotacional em vários parques, com cerca de 30-40 ha cada, rede de abeberamento e instalámos prados permanentes. Estamos no segundo ano dessa instalação, fazemos 120 a 130 ha por ano e o objetivo é estendê-la a todas as parcelas trabalháveis em termos agrícolas. Queremos diminuir os custos de produção, para reduzir ao máximo a suplementação à mão e conseguir ter uma alimentação de melhor qualidade. Atualmente, temos 600 vacas divididas por 4 vacadas principais de 120 a 130 vacas cada, à exceção das puras que têm um tratamento à parte. Cada uma destas vacadas tem uma área afeta para fazer o maneio rotacional. O ano passado iniciámos a engorda. De 400 bezerros cruzados, de Angus ou Limousine, engordámos 100. Este ano estamos a fazer um ensaio só com cruzamento com Limousine, embora tenhamos Angus também noutro grupo de engorda. Quando introduzimos o Angus, foi com a ideia da facilidade de partos, só as novilhas de primeira barriga é que eram cobertas com Angus. Entretanto, começámos a engordar e percebemos a procura do Angus para carne. Por estratégia, acabámos por comprar mais touros Angus para cobrição e desde a época passada já temos vacas adultas a serem cobertas também com Angus. Portanto, nos bezerros da produção deste

ano já vamos ter um número muito maior de Angus, que também vamos engordar. Porque apostaram no negócio da genética, e na Limousine? Na nossa perspetiva, pela forma como as coisas evoluíram, a exigência atualmente é tão grande que, ou nos profissionalizamos no que fazemos e nos diferenciamos por algum ponto, ou ficamos pelo caminho. Isso vê-se nos leilões, quem acompanha sabe que os animais que se diferenciam pela qualidade têm uma melhor valorização. Ainda não chegámos ao ponto de podermos ter algum tipo de majoração, de sermos premiados pela carne que estamos a produzir. Ainda não estamos lá, mas em termos de genética, na venda do animal vivo e tendo em conta aquilo que ele nos vai dar com o seu potencial genético, já há alguma diferenciação naquilo que recebemos por isso. O objetivo de apostarmos na genética foi esse: criar uma base de genética superior para podermos ter um retorno melhor em termos do produto que estamos a trabalhar. Mesmo no cruzamento industrial. Aliás, eu acho que o foco de trabalho do melhoramento genético não deve assentar exclusivamente na linha pura. Os cruzamentos sempre existiram, se temos boas vacas a serem inseminadas com bons touros, por consequência o produto vai ser muito melhor e por isso, se não é, devia ser mais valorizado. O que pretendem conseguir com o melhoramento genético? Animais adaptados ao campo, com rusticidade e bom desempenho. Numa vacada de carne há requisitos mínimos que são necessários para alcançarmos um bom resultado e nos diferenciarmos: as vacas devem ser boas mães, não ter problemas no parto e ter boas qualidades leiteiras. Todos estes critérios envolvem genética. Se estou a trabalhar para carne, procuro um bom desenvolvimento músculo-esquelético. Qual é o percurso dos animais reprodutores desde que nascem até serem vendidos? Os novilhos para cobrição são vendidos entre os 16 e os 18 meses. As novilhas, até à data, temos ficado com todas. Até serem desmamados, por volta dos 6-7 meses, andam com as mães a campo. Durante a fase de aleitamento, fazemos suplementação no campo com comedouros seletivos. Depois do desmame, separamos machos e fêmeas e fazemos 010

uma pequena recria de 1 a 2 meses para adaptação após saída das mães. Em seguida, são transferidos para parques com alguma inclinação e com alguma pedra, que os obriga a desenvolver rusticidade. Estamos a fazer reprodutores para funcionarem como touros de cobrição de outras vacas, sem problemas de adaptação. Que parâmetros regista para selecionar os animais? O crescimento, ganhos médios diários, conformação (cárnicos, élevage. O acompanhamento e a avaliação morfológica são feitos também pela Associação, Em termos de fêmeas, não entrámos ainda em fase de seleção porque o nosso objetivo tem sido mantê-las. Nos reprodutores já temos animais com idade de começar a sair, e a avaliação que fazemos deles a nível interno passa muito pelo acompanhamento do seu desenvolvimento e tentar perceber a que se adaptam mais, para conseguirmos satisfazer os critérios dos nossos compradores. A Limousine é uma raça tranquila, comparativamente com a Angus? Os animais Angus parecem, a campo e na nossa interação com eles, mais calmos. Mas na manga e no curral são mais stressados que os Limousine, tornando-se mais defensivos. Uma vantagem da raça Angus é não ter cornos. Fazem essa seleção na Limousine? Ainda não fazemos essa seleção ao nível das características genéticas. Mas não tenho dúvidas de que representa uma vantagem não ter cornos em termos de maneio. Aliás, nós descornámos todos os animais nas vacadas cruzadas. Nas vacas puras, a presença dos cornos tem a ver com o lado estético e acabamos por deixar ficar, mas sobretudo na alimentação nos comedouros faz uma grande diferença. Os touros batem-se muito menos. Onde alimenta a sua genética e a que olha quando vai comprar? Compramos animais e sémen. Paralelamente, temos feito trabalhos na área da reprodução na exploração, nomeadamente transferência embrionária, superovulação e recolha de embriões. Para o efetivo de linha pura, inicialmente comprávamos a criadores nacionais, mas posteriormente começámos a mandar


A genética da Portugal Rural

GENÉTICA | BOVINOS DE CARNE

vir de França, para não correr riscos em termos de consanguinidade e diversificar o mais possível. Tivemos em conta a aptidão leiteira, o desenvolvimento músculoesquelético e os cuidados maternais. Em termos de touros para cobrir as vacadas cruzadas, temos comprado cá em Portugal.

principais e o máximo de potencial que nos pode dar.

Em termos de seleção, que objetivos tem para os próximos 5 anos? Atualmente temos 40 reprodutoras puras, acho que podemos aumentar este número até 60 num futuro próximo. Pensamos vender reprodutores também para Espanha.

Para cada 100 animais puros que cria, qual é o objetivo de venda desejável? O máximo possível, porque existe muita procura. A maioria das explorações que têm cruzados e que trabalham com carne já perceberam aquilo que falámos no início: se tiverem um touro bom para cobrir as vacas, aliado a uma boa nutrição e a uma condição corporal desejada, têm melhores resultados e o produto que retiram daqueles animais é muito mais valorizado.

O negócio da genética requer muito conhecimento e leva o seu tempo. Como se gere um negócio destes? É necessário fazer muita pesquisa, falar com muita gente da área, tentar absorver o máximo de informação possível, estudar a raça. E tentar perceber com os técnicos da associação que características têm mais procura, porque há clientes para tudo: uns preferem a linha Elevage, em que os animais são mais esqueléticos, mais altos e há quem prefira animais completamente cárnicos, ou animais mistos. O essencial é conhecer a raça e as suas características

De que forma se poderia incentivar os produtores a melhorarem a genética das suas vacadas? Por exemplo, através de leilões das raças, como a Apormor faz em setembro, subvencionando a todos os sócios um montante em função do valor do animal. Sei de clientes de colegas nossos que compram animais puros para cruzamento industrial para carne, e que esperam pela altura do leilão para comprar exemplares mais diferenciados. De forma indireta, é um incentivo aos produtores a melhorarem a genética das suas vacadas. E são iniciativas

Estufas para a produção de cevada em hidroponia e amostra da cevada germinada (foto de baixo).

Confirmação do embrião na palhinha, parte do processo de transferência embrionária.

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independentes de publicidade. Acho que outras associações deviam fazer o mesmo. Outro exemplo, o governo dos Açores que promove o melhoramento genético dos seus animais ao ajudar os produtores na compra de exemplares de raça pura no Continente. Eu acho que faz sentido trabalhar a genética, mesmo para carne. Por exemplo, quando se fala em Angus, a primeira ideia que nos vem à cabeça é carne, porque o Angus tem uma característica peculiar, intrínseca à raça, que é o marmoreio. Mas, na minha opinião, esta característica precisa de ser trabalhada. Acabamos por subaproveitar o valor que a raça nos pode dar. E isto porquê? Recebemos uma majoração por kg de carne na raça Angus, face a outras raças, mas temos custos de produção diferentes, porque o índice de conversão da raça Angus é diferente do da raça Limousine. Os rendimentos de carcaça são diferentes. Se fizermos as contas, no final o resultado líquido acaba por ser igual. O que é que nos pode dar a diferenciação? Trabalhar para conseguir obter o máximo de potencial da raça que, no caso da Angus, é o marmoreio da carne. Para criar carne com marmoreio não se pode tratar a engorda de maneira igual. A

Manga de tratamentos do curral anti-stress (foto abaixo).


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gordura demora mais tempo e custa mais dinheiro a fazer. A alimentação deve ser afinada para conseguir tirar esse potencial da raça. Só que para fazermos esse trabalho precisamos de ter alguém que nos pague por isso. Eu acho que já há um nicho de mercado que valoriza esse tipo de produto. Mas podia ser muito mais explorado, e não só no que se refere ao Angus. Devia-se estimular os produtores a trabalharem de acordo com a procura que existe. Porque é que tem a raça Limousine? Por razões maioritariamente comerciais. É uma raça muito completa que consegue aliar várias qualidades. E em termos de procura. também tem muito interesse. Para carne, a Limousine apresenta um rendimento de carcaça excecional e um bom GMD. Bem trabalhados, os touros, são bons em termos de potencial como reprodutor, e as vacas são boas mães, têm facilidade de parto; em termos de criação dos vitelos não temos tido problemas. São animais dóceis, e geralmente fáceis de trabalhar. Quando vai comprar um reprodutor, quais os primeiros critérios para que olha? Perímetro escrotal, exame andrológico, controlo sanitário, performances do animal (GMD, peso, classificação e peso ao nascimento - 40 a 50 kg). Em termos de saúde animal, há alguma coisa que a preocupe ou que deva preocupar quem anda no negócio? A besnoitiose bovina. Preocupa-me porque já me debati com esse problema e porque me sinto impotente para conseguir controlar a doença. Sabemos que ela existe e que está a ganhar uma expressão cada vez maior no Alentejo. Se fizermos uma pesquisa de anticorpos nas vacadas do Alentejo, a maioria vai apresentar animais positivos. A besnoitiose bovina é uma doença silenciosa, e preocupa-me principalmente nos machos porque eles tornam-se inférteis. Representam um investimento brutal na genética e quando entram numa vacada que tem a doença instalada, pouco tempo depois deixam de cobrir. Na altura, resolvemos esse assunto eliminando os animais que tinham essa sintomatologia. Fizemos o mesmo nos touros da vacada industrial. A partir daí, fizemos pesquisa de anticorpos à besnoitiose a todas as vacas da exploração e tentámos fazer essa gestão de forma

racional. Não é viável eliminar as vacas todas, até porque há umas que testam positivo à besnoitiose e não vêm a desenvolver a doença. O problema é que, se estão em contacto com os touros, acabam por passar-lhes. Acho que as maioria das pessoas ainda desvaloriza esta doença, que causa perdas económicas muito grandes na parte reprodutiva, e as únicas medidas de que eu tenho conhecimento para prevenir é evitar que o vetor ataque e fazer desparasitações mais frequentes. Faz sentido existir um certificado de saúde animal ligado ao comércio de genética? Acho que sim. O controlo sanitário é imperativo na venda de genética. Têm épocas de cobrição quer na vacada industrial quer na pura. Os machos são sujeitos a algum exame prévio? Sim, um exame andrológico, em todas as épocas, faz parte do protocolo. Utiliza inseminação artificial e transferência de embriões. Porquê? Sim, fazemos tudo na exploração. Falando da transferência de embriões, que é menos comum, a ideia de desenvolver essa biotecnologia aqui surgiu com o objetivo de conseguir o melhoramento genético das nossas vacas num espaço de tempo mais curto. Na altura, não era uma técnica comum de ser utilizada nas explorações, mas comprar um embrião congelado, para a dimensão que tínhamos, tinha um custo alto. Então, para perceber os resultados com a técnica, decidimos começar por fazer o trabalho em casa, em parceria com a Universidade de Lisboa, com o Dr. Nestor: superovulamos as vacas a que chamamos dadoras, inseminamos, e ao mesmo tempo preparamos recetoras na vacada industrial, por sincronização, para receber os embriões destas dadoras. Através de lavagem intra-uterina, fazemos recolha dos embriões. Já fizemos alguns protocolos. A percentagem de sucesso nos embriões tem sido muito variável. Trabalhamos sempre com 2 vacas por cada protocolo e é raro termos tido as 2 dadoras a responder bem. O máximo que conseguimos foi 20 (12+8) embriões viáveis. Daqueles que pomos nas recetoras, temos uma taxa de sucesso de cerca de 50%, conseguir 60% seria o desejável. Já tenho uma filha desse embrião, que já foi superovulada, e filhos de embriões a cobrir nas nossas vacadas cruzadas. 012

Ainda que os resultados possam ser melhorados, acho que já ganhámos pelo facto de conseguirmos encurtar gerações. Se faz sentido começar a utilizar a técnica para ir buscar uma genética superior? Talvez faça. Entrando agora no negócio dos reprodutores, não sei se na venda da carne, presentemente, conseguimos pagar o investimento nessa genética. Mas pode começar a fazer sentido procurar embriões congelados que custam mais dinheiro mas que nos trazem uma genética superior. Assim, poderemos vir a ter um retorno disso mais tarde, uma vez que já estamos mais familiarizados com a técnica. A que idade cobrem a 1ª novilha? Aos 20 meses. Porque não mais cedo? Por um lado porque as vacas de carne são normalmente mais tardias que as de leite, depois porque as fêmeas de substituição com que temos ficado têm sido nossas. E tem-nos parecido que elas só atingem a estrutura ideal por volta dessa idade. Qual é a alimentação delas? Até aos 6 meses andam com as mães, e daí até aos 20 meses têm um suplemento com concentrado, na fase de crescimento, fenossilagem ou pastagem dependendo daquilo que houver disponível. Fazem uma recria pós desmame e andam sempre a campo. Como é a alimentação das vacas puras? Estão sempre em parques mais perto do monte. Recebem uma suplementação, se houver limitação de fenossilagem, que guardamos para estas vacas. Temos uma ração que usamos especificamente para os reprodutores em linha pura e elas comem essa alimentação a campo e, normalmente, quando começa a erva a aparecer, fazem pastoreio. Mas normalmente, durante o ano, 50% é dado à mão. Para que época programam os partos? De meados de outubro até março. Evitamos os meses mais quentes de verão em que podem ocorrer mais problemas com os bezerros à nascença, com bicheiras, e temos maior disponibilidade alimentar. No inverno, com erva, é mais fácil controlar a qualidade e a produção leiteira das vacas e, por consequência, temos melhores bezerros do que no verão. Como gerem a utilização de IA e


A genética da Portugal Rural

GENÉTICA | BOVINOS DE CARNE

monta natural? Nas vacas puras aliamos as duas formas, na época fazemos IA com sincronização de cio e touro por repasse. Assim, tentamos cobrir o maior número de vacas num espaço de tempo mais curto. Nas vacas cruzadas já fizemos inseminação e sempre que achamos necessário para otimizar taxas, fazemos. Entretanto, este ano, adotámos outro método: diminuir os intervalos entre partos para otimizar. O ótimo será ter 1 bezerro/ vaca/ano. O que começámos a fazer nas vacadas maiores foi agrupar e sincronizar as vacas vazias da época anterior e as vacas com tempo pós parto suficiente para se poderem cobrir novamente. Fazemos um trabalho de sincronização com hormonas e 1 touro a cobrir 8 vacas. Parece-me que vamos conseguir o resultado esperado.

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Qual é a taxa de sucesso da IA? Cerca de 50%. Na vacada industrial, qual é o critério para refugar as vacas? A idade (10 anos), o temperamento, o histórico reprodutivo (se não fica prenha nem de IA nem de touro, sai fora), se abortou, se teve alguma infeção no pós parto que comprometa o seu desempenho reprodutivo ou se rejeitou o bezerro. Apenas do ponto de vista zootécnico, prefere cruzar as vacas com Limousine ou com Angus? É uma pergunta difícil, porque são raças muito diferentes. Ganha-se mais dinheiro com a Limousine, mas vendem-se mais caras as cruzadas com Angus. O Angus tem uma ingestão superior e na engorda pode ter um custo de produção ligeiramente superior ao Limousine. Qual é o maneio alimentar da vacada industrial? Os animais estão sempre a campo e suplementamos na época de escassez de água. Fazemos rotação de pastagens e na altura de escassez, suplementamos (40%). Normalmente, compramos fora cerca de metade de tudo o que precisamos para a alimentação ( feno, fenossilagem, silagem de milho). A hidroponia com cevada, que produzimos nas nossas estufas, é um complemento que incorporamos na dieta de engorda. Temos a decorrer ensaios para avaliar o desempenho dos animais que comem o suplemento de hidroponia vs. os que não comem. Também avaliamos se este suplemento é um tipo de alimento que nos traz alguma característica diferenciada na qualidade da carne. Teremos resultados para o final do verão. Este ensaio está a ser feito em parceria com o Professor José Silva, do INIAV.

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REVISTA RUMINANTES

PRODUÇÃO | OVINOS DE LEITE

PRODUZIR LEITE DE OVELHA COM EXCELÊNCIA PARA CONSEGUIR GARANTIR A QUANTIDADE DE LEITE DE OVELHA NECESSÁRIA PARA O FABRICO DO QUEIJO, EM 2019, JOSÉ GUILHERME DECIDIU CONSTRUIR UMA EXPLORAÇÃO PRÓPRIA DE OVELHAS LEITEIRAS. A EXCELÊNCIA DO PROJETO MERECEU A CERTIFICAÇÃO WELFAIR™ BASEADA NOS REFERENCIAIS EUROPEUS WELFARE QUALITY®️ E AWIN®.

S

ituada no Baixo Alentejo, no Monte Vale de Faia, perto de Serpa, a Queijaria Guilherme iniciou a sua atividade em 2001, dando continuação a uma tradição familiar no fabrico artesanal de queijo. O negócio nasceu pela mão de José Guilherme e da sua mãe, numa pequena fábrica, com leite comprado a produtores da região. No início, produziam apenas queijo de cabra, fresco e curado, só mais tarde começaram a produzir também queijo de ovelha. À medida que o negócio aumentava, a quantidade de leite de ovelha disponível para o fabrico de queijo tornava-se um

Por RUMINANTES | Fotos FG, Queijaria Guilherme

obstáculo ao crescimento, devido à sazonalidade da produção. Por isso, em 2019, José Guilherme decidiu investir numa exploração de ovelhas leiteiras, a Vale de Faia Agropecuária que também tem ovinos de carne em extensivo. Para além desta empresa, existem mais duas: a Queijaria Guilherme, que faz a transformação do leite e uma terceira empresa de enchidos tradicionais. No total, já contam com 60 empregados. Porque decidiu começar a produzir leite de ovelha? Pela sazonalidade da produção de leite nesta região, que nos deixava praticamente sem leite no verão. O nosso objetivo com 014

esta exploração é ter leite ao longo de todo o ano, para abastecer as necessidades na queijaria. Qual é a produção média por animal? Cerca de 1,5 litros/dia, com 7% de gordura e 5,80-6,0% de proteína. Como é o plano reprodutivo? Tentamos que cada animal tenha 3 partos em 2 anos. Fazemos sincronização de cios, principalmente nas épocas menos favoráveis, de forma a termos partos de 2 em 2 meses. INSTALAÇÕES O pavilhão das ovelhas em produção


Produzir leite de ovelha com excelência

PRODUÇÃO | OVINOS DE LEITE

A equipa da exploração Vale de Faia Agropecuária.

A sala de ordenha instalada é uma GEA de 24 pontos, que em breve será de 48. Está equipada com o sistema “pastor”, que empurra os animais para a sala de ordenha.

foi construído de raiz. O ambiente é semi-controlado, através de cortinas que sobem e descem automaticamente em função dos parâmetros pré-definidos para a temperatura e ventilação. A sala de ordenha instalada é uma GEA de 24 pontos. Está equipada com o sistema “pastor”, que empurra os animais para a sala de ordenha. Todos os animais da exploração estão chipados, o que permite ao sistema identificá-los, medir e registar dados como a quantidade de leite produzida na ordenha, a condutividade e os dias de lactação, e transferir estes dados para o sistema de gestão do rebanho, o Dairy Plan. Sempre que existe alguma diferença de produção significativa, o sistema acende uma luz vermelha no ponto de ordenha onde se encontra esse animal. Quanto tempo demora a ordenha? Um pouco mais de 2 horas para 400 animais. Uma das pessoas da ordenha vai ao parque buscar as ovelhas para a sala de espera e a partir daí é o “pastor” que as empurra para a sala. Como organiza os parques? Temos as ovelhas em parques de alta e baixa produção. A produção é medida diariamente, mas só periodicamente são classificadas e mudadas de lote.

ALIMENTAÇÃO A alimentação é à base de forragens e concentrado. O maneio alimentar é igual todo o ano? Não, depende da temperatura exterior. Quanto mais calor está, mas rica tem que ser a mistura, pois com o calor os animais têm tendência a ingerir menos. SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL Somos uma das primeiras empresas de ovinos leiteiros a ter a certificação em bemestar animal. Porque procurou esta certificação? Porque a produção animal para mim só faz sentido se tivermos total preocupação com os animais. Entendo que o bem-estar animal é algo que é correspondido pelos animais com uma maior produção, e a certificação obriganos a sermos cada vez melhores neste aspeto. O que faz aos borregos? Ficamos com as filhas das melhores reprodutoras para reposição. Os outros vendemos para engordas. A QUEIJARIA Que marcas e produtos comercializam? A marca principal é a Guilherme, que é 015

a nossa, mas também fazemos as marcas de algumas grandes superfícies, como o Continente, a Auchan e a Mercadona. Em termos de produtos, fazemos queijos frescos e curados de cabra, o curado e amanteigado de ovelha, o requeijão e o almece de ovelha. Quantos litros de leite recolhem por ano? Cerca de 2,2 milhões de litros. Atualmente, 60% do leite que entra na queijaria é de cabra e 40% de ovelha. Em quantos produtores recolhem leite? Em 28 produtores, que se encontram num raio de 70 km. Que requisitos têm que cumprir esses produtores? Fazemos acompanhamento e auditorias aos produtores de leite que são nossos fornecedores, de forma a incentivá-los a melhorar as explorações, em termos produtivos, de bem-estar animal, de higiene e da qualidade do leite. Como é feita a comercialização do queijo? É vendido em grandes superfícies e armazenistas, canal HORECA e comércio tradicional.


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ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE LEITE

LEITE DE SUBSTITUIÇÃO: O QUE ESTÁ PARA ALÉM DO RÓTULO

EXISTE UMA GRANDE VARIEDADE DE LEITES DE SUBSTITUIÇÃO NO MERCADO COM DIFERENÇAS SIGNIFICATIVAS DE PREÇO. ESTAS DIFERENÇAS ESTÃO NORMALMENTE RELACIONADAS COM O PERFIL NUTRICIONAL DO LEITE E COM A FONTE E A QUALIDADE DAS MATÉRIAS-PRIMAS UTILIZADAS. É IMPORTANTE QUE, NA ESCOLHA DE UM LEITE DE SUBSTITUIÇÃO, OS PRODUTORES ENTENDAM ESSAS DIFERENÇAS E TOMEM DECISÕES INFORMADAS COM O OBJETIVO DE MAXIMIZAR O DESEMPENHO DO ANIMAL E O RETORNO ECONÓMICO. Foto NM

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SUSANA SOUSA Médica Veterinária e Engenheira Zootécnica Gestora de Gama – Nutrição s.sousa@vetlima.com

ode ser difícil avaliar um leite de substituição apenas a partir da informação existente no rótulo. Isto acontece porque, legalmente, a informação que nele deve constar obriga apenas a enumerar os ingredientes que este contém por ordem decrescente e a declarar os constituintes analíticos: proteína, gordura, fibra e cinza brutas, cálcio, fósforo e sódio. Em relação aos aditivos (vitaminas, oligoelementos, aminoácidos, etc.) existe a obrigatoriedade de serem declarados apenas os que têm estabelecido um teor máximo de incorporação e apenas para quando é providenciado a um animal criado para alimentação humana. 016

Estes parâmetros são importantes, numa fase inicial, para dar uma indicação geral da qualidade do leite de substituição mas, para avaliar, comparar produtos e tomar uma boa decisão de compra, é necessária informação mais detalhada. Esta informação não vem mencionada no rótulo, mas é determinante para prever o desempenho do produto, avaliar se este é o adequado às necessidades da exploração e qual a relação custo-benefício. A tabela 1 mostra alguns valores de referência que normalmente podemos encontrar no mercado dos leites de substituição. Tentar compreender o rótulo pode não ser uma tarefa fácil, mas existem algumas


Leite de substituição: o que está para além do rótulo

ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE LEITE

perguntas-chave que podem e devem ser colocadas antes de tomar uma decisão de compra. 1. Quais as fontes proteicas utilizadas? 2. Qual a percentagem de leite desnatado e de soro de leite em pó que tem na sua composição? 3. Qual o perfil de aminoácidos do leite? 4. Qual é o seu conteúdo energético? 5. Qual o tipo de gordura utilizada? 6. O que diz o teor de fibra e cinzas do leite? 7. Tem aditivos que promovem e protegem a saúde intestinal do animal? PROTEÍNA O valor recomendado de proteína bruta num leite de substituição deve variar entre 20 e 26%. A proteína fornece aminoácidos essenciais para a síntese de tecidos necessários ao crescimento estrutural do animal. Existem várias fontes proteicas disponíveis que variam em biodisponibilidade para o animal e presença de fatores anti-nutricionais. Estão basicamente divididas em matérias-primas lácteas e não lácteas, sendo estas últimas normalmente de origem vegetal. Matérias-Primas Proteicas Lácteas São os ingredientes mais dispendiosos nos leites de substituição pois têm uma digestibilidade superior às proteínas não lácteas e fornecem um perfil de aminoácidos mais adequado ao crescimento dos animais. Existem várias matérias-primas lácteas disponíveis no mercado, sendo as mais utilizadas: o soro de leite, o concentrado de proteína de soro (WPC), o soro de leite deslactosado, o leite em pó desnatado (SMP) e a caseína. Proteínas de soro ou proteínas de leite em pó desnatado: Durante muito tempo esteve instituída a ideia de que, nos primeiros dias de vida dos vitelos, a principal fonte proteica num leite de substituição deveria ser o leite desnatado. No entanto, ao longo dos anos, o aumento substancial do uso de leite desnatado em nutrição humana tem diminuído a sua disponibilidade e aumentado muito o seu preço em relação às proteínas de soro. Como resultado, as proteínas provenientes do soro lácteo são atualmente as fontes proteicas mais utilizadas nos leites de substituição. Vários estudos têm demonstrado não haver diferenças significativas no impacto do valor nutritivo das proteínas provenientes do soro e do leite desnatado,

TABELA 1 VALORES DE REFERÊNCIA NORMAIS NOS LEITES DE SUBSTITUIÇÃO Nutriente

Mín

Máx

Comentários

Proteína bruta (%)

20

26

Níveis mais elevados para maiores taxas de crescimento

Gordura bruta (%)

15

22

Principal fonte de energia para além da lactose

Fibra bruta (%)

0

0,5

Níveis superiores indicam a inclusão de proteína não láctea

Cinza bruta (%)

6

8

Os ingredientes utilizados afetam o nível de cinzas

Vitamina E (mg/kg)

0

250

Níveis mais elevados têm maior custo, mas melhoram a imunidade do animal

Selénio (mg/kg)

0

0,5

0,5 mg/kg é a inclusão máxima legal no alimento completo

no crescimento dos vitelos. Terosky et al., (1997), num estudo realizado em vitelos, alimentados até às 8 semanas com leites de substituição contendo as seguintes percentagens de proteínas lácteas (SMP:WPC): 100:0, 67:33, 33:67 ou 0:100, não encontraram diferenças no ganho de peso vivo, ganho médio diário, consumo de matéria seca ou eficiência alimentar, com o aumento da inclusão de WPC. Do mesmo modo, Marsh e Boyd (2011) não encontraram diferenças no peso ao desmame, peso às 12 semanas, ganho médio diário, ingestão de matéria seca e eficiência alimentar em vitelos Holstein alimentados com leites de substituição contendo SMP ou WPC. A principal diferença que existe entre estas duas fontes proteicas reside no tempo de digestão, pois enquanto a fração proteica do soro de leite e do concentrado de proteína de soro é essencialmente constituída por lactoalbuminas e lactoglobulinas que são digeridas mais rapidamente pois não coagulam, a fração proteica do leite desnatado é constituída por caseína, que forma um coágulo durante a digestão. Este coágulo proporciona ao vitelo a sensação de saciedade e de "enchimento intestinal" durante um período mais longo. Embora algumas pesquisas (Longenbach e Heinrichs, 1998) tenham indicado que a formação do coágulo em vitelos alimentados com dietas à base de caseína é benéfica para

a digestão porque ocorre uma libertação lenta dos nutrientes no abomaso, outros estudos (Petit et al., 1988) não encontraram qualquer relação entre a formação do coágulo com a melhoria da digestibilidade dos nutrientes. Alguns autores referem ainda que a redução do coágulo é benéfica porque, como reduz a sensação de saciedade dos animais, estes começam a ingerir alimentos sólidos mais cedo, o que é benéfico para o desenvolvimento ruminal. Comercialmente existem dois tipos principais de leites de substituição: os leites formulados com proteína à base de leite desnatado em pó (Skim-based) e os leites formulados com proteína à base de soro (Whey-based). A escolha de cada um depende em grande parte do sistema de produção e dos objetivos pretendidos, no entanto, existem situações em que faz mais sentido utilizar um ou outro (tabela 2). Percentagem de leite desnatado e de soro de leite em pó: um aspeto muito importante e que deve ser questionado, tem que ver com a quantidade de leite desnatado e de soro de leite em pó que o leite de substituição tem na realidade. Num leite skim-based, o leite desnatado em pó deve surgir na lista de matérias-primas do rótulo antes do soro de leite e de outras matérias-primas proteicas. Por outro lado, se o leite for whey-based será o soro de leite a aparecer em primeiro lugar. No entanto, isto não nos diz nada a respeito da quantidade destes ingredientes na fórmula do leite.

TABELA 2 RAZÕES PARA A ESCOLHA DE LEITES DE SUBSTITUIÇÃO DE ACORDO COM A SUA FORMULAÇÃO BASE Leite Skim-based

Leite Whey-based

Preferência do produtor em utilizar um leite de substituição “mais semelhante” ao leite materno integral

Quando é necessário um leite de substituição mais económico

Em explorações com problemas digestivos recorrentes e mais desafios ao nível da higiene, do maneio e doenças

Em explorações com uma situação sanitária mais estável, com menos problemas de higiene, de maneio e doenças

Em explorações que vendem os vitelos com 2-3 semanas de idade e pretendem crescimentos muito intensivos nesse período

Sistemas combinados de criação de vitelas de substituição e vitelos de carne

017


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Por exemplo, um leite com 23% de proteína e 18% de gordura bruta e que no seu rótulo tem como primeira matériaprima o leite desnatado em pó, pode na realidade ter 30, 40, 50 ou mesmo 60% de leite desnatado na fórmula. Se este valor não estiver declarado a única forma de o saber é questionando o fabricante. Matérias-Primas Proteicas Vegetais As fontes de proteína vegetal podem ser utilizadas com sucesso, como uma alternativa mais económica, na formulação de leites de substituição. No entanto, a sua escolha tem de ser criteriosa, pois nem todas são apropriadas para esta fase de desenvolvimento do animal. A proteína de trigo hidrolisada ou glúten de trigo hidrolisado é a proteína vegetal mais utilizada em leites de substituição para vitelos. Contém um teor de fibra e cinzas reduzido e contém uma percentagem muito maior de proteína em comparação com o concentrado de proteína de leite ou o leite desnatado. Além disso, não contém fatores antinutricionais, e a sua digestibilidade é muito elevada, cerca de 95% para matéria seca, matéria orgânica e proteína bruta. No entanto, ao se usar esta matéria-prima na formulação de leites de substituição, é necessário ter especial atenção ao nível de aminoácidos, especialmente ao teor de lisina. Um aspeto muito importante é que o glúten de trigo utilizado tem de ser hidrolisado. Não confundir com glúten de trigo normal. A hidrólise é um processo no qual as proteínas são cortadas enzimaticamente em pedaços menores, ficando assim “pré-digeridas”. Se esta etapa não for aplicada ao glúten de trigo, a matéria-prima é pouco solúvel, o que torna a sua utilização pouco adequada em leites de substituição. Outra alternativa económica às proteínas lácteas é o concentrado proteico de soja. A popularidade das proteínas de soja decorre da sua ampla disponibilidade, custo relativamente reduzido e perfil de aminoácidos favorável. No entanto, como a soja contém fatores antinutricionais como antigénios e inibidores enzimáticos, que causam reações alérgicas e inflamação no trato digestivo, reduzindo a digestão da proteína e a absorção de minerais, esta tem de ser sujeita a um tratamento adicional para poder ser utilizada em leites de substituição. O concentrado proteico de soja contém um teor de fibra mais elevado que o glúten de trigo hidrolisado e uma digestibilidade

mais baixa (50-75%), pelo que, só deve ser administrado a vitelos a partir da 3ª ou 4ª semana de vida e em quantidades moderadas.

rótulo existe alguma informação sobre os níveis de aminoácidos. Se não existir esta informação é aconselhável que a solicite junto do fabricante.

PERFIL DE AMINOÁCIDOS Mais do que o teor de proteína bruta de um leite de substituição, o nível de aminoácidos que constitui esta mesma proteína é crucial para que os animais possam manifestar todo o seu potencial genético. Os vitelos necessitam de aminoácidos específicos para o crescimento muscular e um correto funcionamento do sistema imunológico. Os aminoácidos desempenham um papel indispensável na eficiência de utilização da proteína aumentando a deposição proteica (Yasuhiko, 2004). Vários estudos têm sido realizados com o objetivo de definir uma concentração ideal de aminoácidos para os vitelos (Klemesrud et al., 2000; Hile et al, 2007, 2008). Vitelos alimentados com leites de substituição suplementados com lisina e metionina tiveram maior peso e maiores ganhos médios diários do que vitelos alimentados com leite de substituição sem esses aminoácidos (Jenkins e Emmons, 1983; Kanjanapruthipong, 1998). Hill et al., (2008), suplementaram com diferentes percentagens de lisina, metionina e treonina leites de substituição produzidos com soro de leite como fonte proteica. Eles concluíram que para otimizar o ganho médio diário de vitelas jovens com menos de 5 semanas de idade, necessitavam de ingerir diariamente 17 g de lisina e a relação metionina/lisina e treonina/ lisina deveria ser de 0,31 e menor que 0,60 respetivamente. Bai et al., (2020), num estudo realizado em vitelos Holstein nos primeiros 14 dias de vida, onde se comparou a utilização de um leite de substituição com 24% de proteína e 20% de gordura bruta (24:20) e um leite com 22% de proteína e 20% de gordura bruta com o mesmo nível de aminoácidos suplementado com aminoácidos sintéticos (AA22:20), obteve resultados idênticos ou melhores no crescimento dos animais, com um menor custo de alimento por kg de peso vivo ganho. Assim, é possível formular leites com menores teores de proteína bruta, desde que os níveis de aminoácidos essenciais para o animal estejam assegurados. Muitas das fórmulas comerciais que atualmente existem continuam a basear-se apenas na concentração de proteína bruta, pelo que, é muito importante verificar se no

ENERGIA As principais fontes de energia utilizadas na formulação dos leites de substituição são as gorduras e os hidratos de carbono. Uma unidade de gordura fornece cerca de duas vezes mais energia que uma unidade de hidrato de carbono.

018

Óleos e gorduras Os leites de substituição são normalmente formulados com 15 a 22% de gordura bruta. Leites com um teor de gordura mais elevado fornecem mais energia e são frequentemente usados ​​ em climas mais frios. A gordura é a principal fonte de energia utilizada nos leites de substituição. Em ruminantes, estudos realizados por Toullec et al., (1969) mostraram que os ácidos gordos de cadeia curta (≤ 8 carbonos) são 100% digeríveis, enquanto os ácidos gordos de cadeia média e insaturados de cadeia longa são 95% digeríveis. Os ácidos gordos saturados de cadeia longa são entre 80 e 90% digeríveis. O que realmente determina a digestibilidade de uma gordura não é a sua origem ou fonte, mas sim o seu perfil de ácidos gordos (tabela 3). A manteiga é a melhor fonte de gordura para vitelos porque é nutricionalmente única e, comparada com outras gorduras, contém uma proporção relativamente alta (15 a 20%) de ácidos gordos saturados de cadeia média altamente digerível (Raven, 1970). No entanto, a sua utilização em nutrição humana e o seu elevado preço tornam impossível a sua utilização em leites de substituição. Outras gorduras animais, como o sebo ou a banha, deixaram de ser utilizadas devido, por um lado, à sua menor digestibilidade, mas também devido à crescente preocupação da opinião pública em relação à transmissão de determinadas doenças, com é o caso da encefalopatia espongiforme bovina. Atualmente, as gorduras mais utilizadas nos leites de substituição são misturas de óleos vegetais como o óleo de palma, óleo de coco e óleo de soja, cujo perfil de ácidos gordos e digestibilidade é muito semelhante à gordura do leite integral. Estas gorduras são emulsionadas em maior ou menor grau no processo de fabrico. Atualmente existem processos tecnológicos que combinam a gordura com proteínas lácteas e emulsificantes,


019


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TABELA 3 VALORES DE DIGESTIBILIDADE DE VÁRIOS TIPOS DE GORDURA FONTE GORDURA

DIGESTIBILIDADE GB (%)

REFERÊNCIA

Manteiga

95-97

Raven, 1970

Óleo de coco

92-96

Toullec et al., 1980

Óleo de palma

92-97

Sebo

87-94

Banha

88-96

originando misturas finas, muito fluídas e totalmente homogeneizadas. Estas gorduras encapsuladas em proteínas (PEFs) conferem uma elevada resistência à oxidação e boa estabilidade em emulsão. Quanto mais emulsificada for uma gordura, mais digerível ela será. No entanto, esta informação não vem mencionada no rótulo e a única maneira de o saber é questionando o fabricante do leite.

ingredientes deve ser consultada para confirmar as fontes de proteína. Mas atenção, um leite de substituição com um teor de fibra bruta zero no rótulo pode na verdade ter até 0,04% de fibra na sua composição, pois os valores são arredondados para baixo quando são inferiores a 0,05% e para 0,1% quando são superiores a 0,05%.

Hidratos de Carbono A lactose, tem cerca de metade do valor energético da gordura e é o principal hidrato de carbono presente no leite. Normalmente, os leites de substituição contêm cerca de 40-50% de lactose, sendo esta uma importante fonte de energia para o vitelo. Após o nascimento, a lactase é a principal enzima produzida pelo vitelo para digerir hidratos de carbono (lactose). Enzimas como a amilase e maltase para a digestão de amidos só começam a aumentar em número e atividade à medida que o vitelo cresce, pelo que a utilização de amidos nos leites de substituição deve ser moderada nas primeiras 2-3 semanas de vida.

CINZA O teor de cinza bruta é uma indicação do nível de minerais presentes no leite de substituição e não deve ser superior a 8%. Uma análise padrão das cinzas mostra que estas são compostas principalmente por sódio, potássio e cloro provenientes principalmente do soro de leite em pó, que é um subproduto da indústria dos queijos. De acordo com o NRC, o leite integral de vaca contém cerca de 6% de cinzas. Portanto, podemos supor que um leite de substituição com um nível de cinzas de 6 a 7 % será apropriado para o vitelo. Níveis superiores a 8% devem ser evitados, pois apresentam riscos específicos para a saúde do vitelo como: desidratação celular, ingestão reduzida de matéria seca, diarreia, dor abdominal e outros problemas gastrointestinais.

FIBRA Uma vez que as proteínas lácteas não contêm nenhuma fibra, o valor de fibra bruta declarado no rótulo está relacionado com a quantidade e o tipo de proteína vegetal que o leite tem na sua composição. Níveis de fibra acima de 0,15% indicam a presença de uma fonte de proteína vegetal, mas níveis abaixo de 0,15% não significam necessariamente a ausência de proteína vegetal. No entanto, se os níveis de fibra forem iguais ou superiores a 0,50%, então o leite tem certamente na sua composição uma fonte de proteína de inferior qualidade e consequentemente de inferior digestibilidade, como é o caso do concentrado de proteína de soja ou farinha de soja. Neste caso a lista de

SAÚDE INTESTINAL Os vitelos nascem com um trato gastrointestinal estéril, pronto para ser colonizado por microrganismos. Estabelecer um ambiente intestinal saudável e equilibrado, o quanto antes, é essencial para a saúde e desenvolvimento de vitelos pré-desmamados. A microbiota intestinal (ou população de microrganismos intestinais) desempenha um papel importante na saúde dos animais, especialmente durante períodos de stress e quando há uma maior suscetibilidade à doença, uma vez que cerca de 70% do sistema imunológico do vitelo reside no intestino. Numa altura em que cada vez mais se fala na redução do uso de antimicrobianos,

020

a utilização de determinados aditivos ou suplementos pode ajudar a estabelecer uma microbiota saudável e reforçar o sistema imunitário. Assim, é importante verificar no rótulo do leite se este tem na sua composição probióticos, ácidos orgânicos e fitogénicos. Probióticos: no rótulo estes aditivos devem vir declarados como “Estabilizadores da flora intestinal” e normalmente os mais utilizados são o Enterococcus faecium e o Lactobacillus rhamnosus. A sua principal função é a de promover e estabilizar a microflora intestinal comensal e criar um ambiente intestinal saudável, auxiliando a enfrentar problemas de saúde. Ácidos orgânicos: no rótulo estes aditivos são geralmente declarados como “Conservantes” e normalmente o mais utilizado é o ácido cítrico, mas outros também podem ser utilizados como o ácido sórbico, málico ou fumárico. A sua principal função é criar e manter um pH baixo no trato digestivo e, deste modo, evitar o crescimento de bactérias patogénicas como a E.coli, Salmonella spp. e Clostridium spp. Fitogénicos: são óleos essenciais e extratos de plantas e quando são declarados surgem no rótulo como “Compostos aromatizantes” ou “Substâncias aromáticas e apetentes”. A sua utilização está relacionada essencialmente com propriedades bioativas bacteriostáticas, antiinflamatórias e antioxidantes que muitos óleos essências possuem, para além de estimularem a ingestão de alimento. Desta forma, espero que este artigo tenha contribuído para o esclarecimento de algumas dúvidas que possam existir sobre a temática dos leites de substituição. O viteleiro é sem dúvida uma parte importante de qualquer exploração leiteira e o leite de substituição tem um peso económico importante nos custos totais da exploração. Por isso, comprar com base apenas no preço e nos valores declarados de gordura, proteína, fibra e cinzas limita a capacidade de fazer um correto julgamento de valor sobre o produto selecionado. Como foi referido no início deste artigo, é necessário obter informação mais detalhada para avaliar, comparar produtos e tomar uma boa decisão de compra. Nota: para consultar a bibliografia utilizada, contacte a autora.


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ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE CARNE

DIETA DE BOVINOS DE ACABAMENTO

EM SISTEMAS INTENSIVOS OS BOVINOS DE CARNE SÃO NORMALMENTE ALIMENTADOS COM DIETAS RICAS EM AMIDO (ATÉ 90% DE CONCENTRADO), O QUE PODE AUMENTAR O RISCO DE ACIDOSE. A FASE DE ACABAMENTO É O PERÍODO MAIS CRÍTICO E É FREQUENTEMENTE DESAFIANTE MANTER A EFICIÊNCIA ALIMENTAR ESPERADA COM UMA ELEVADA QUALIDADE DA CARNE. Por Equipa Técnica TECADI Foto FG, PT Rural.

E

m sistemas intensivos, os bovinos de carne são normalmente alimentados com dietas ricas em amido (até 90% de concentrado), o que pode aumentar o risco de acidose. A fase de acabamento é o período mais crítico e é frequentemente desafiante manter a eficiência alimentar esperada com uma elevada qualidade da carne. Antes do abate, pode ocorrer stress oxidativo devido ao transporte e ao agrupamento dos animais. A sobreprodução de radicais livres leva a uma peroxidação lipídica e perdas na funcionalidade celular, quando as defesas antioxidantes não são suficientes. Levucell SC é uma solução conhecida que melhora a eficiência alimentar por estimular a função ruminal e manter um bom estado de saúde. Alkosel (levedura enriquecida com selénio) e Melofeed (sumo concentrado de melão, rico em superóxido dismutase - SOD) suportam o sistema de defesa antioxidante.

IMPACTO DA PEROXIDAÇÃO LIPÍDICA NA QUALIDADE DA CARNE Luz

Oxigénio

Luz

Bactéria

Parte do músculo com oxigénio, bactéria e luz

Gordura

Gordura

Vasos sanguíneos

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Oxigénio

Bactéria


Dieta de bovinos de acabamento

ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE CARNE

MATERIAIS & MÉTODOS Local

Universidad Politécnica, Dept Animal Production, Madrid, Espanha

Animais

39 bovinos Angus suplementados durante 52 dias na fase de acabamento

Dieta

• 86% de alimento concentrado granulado (9,5 kg/d) : milho (53%), trigo (25%) e outros; • 14% de palha (1,5 kg/d)

Tratamentos

1) Controlo (sem probióticos desde a receção) 2) Antiox+LSC: Alkosel (0,3g Alkosel/animal/d= 0,6 mg Se/animal/d) + Melofeed (50 mg/animal/d= 130 IU SOD/ animal/d) + LEVUCELL SC 10 ME Titan (8 mil milhões UFC/animal/dia). Neste grupo, Levucell SC foi incluído desde o período de adaptação (208 dias antes do ensaio)

Parâmetros

• Performance: Ingestão diária individual de concentrado, peso vivo diário individual, peso e preparação individual da carcaça; • Parâmetros da qualidade da carne: Na costeleta de carne entre a 6ª e a 7ª costela toráxica, espessura mínima 2,5cm, embalado a vácuo a -21ºC antes da análise. Parâmetros: cor da carne com espectrocolorimetria; tenrura da carne (método por Warner-Braztler).

VALORES NUTRICIONAIS DA DIETA TOTAL (% MS)

44,6

Amido

20,1

Proteína bruta

11,2

Fibra bruta

5,2

RESULTADOS ANTIOXIDANTES (ALKOSEL E MELOFEED) COMBINADOS COM LEVUCELL SC AJUDAM A MELHORAR A TONALIDADE ENCARNADA E A TEXTURA DA CARNE = TENRURA MELHORADA

52,5

Firmeza da Carne

F2 (força máxima para cortar) hab

Indíce colorimétrico hab

Tonalidade da côr da carne

52

52 51,5 50

50,1

49,5 49

Controlo

ANTIOX +LSC

6 5,5

5,64

5

4,69

4,5 4 3,5 3 2,5 2

Controlo

ANTIOX +LSC

*:p<0,10

O LEVUCELL SC COMBINADO COM ANTIOXIDANTES MELHORA A PERFORMANCE NO ACABAMENTO Controlo

Levucell SC + AntiOx

Melhoria (%)

7,91

7,03*

11%

PV ao abate

578,50

592,90

2,5%

Peso da carcaça fria

314,40

320,00

1,8%

IC durante o acabamento (kg MSI/ kg PV)

Durante o acabamento (52d)

Controlo

Antioxidantes + Levucell SC

GMD total (kg/d)

1,27

1,37

IC

7,91

7,03*

0,37 €

0,53€

Benefício sobre o custo alimentar (€/ animal/dia)* Benefício líquido direto (€/animal/dia) Benefício indireto

+0,16 € Melhor cor e tenrura

* Cálculo com base no preço da carne de 3,20€/kg, um custo alimentar de 190€/ ton e custo de inclusão de produção de 0,08€/animal/d.

A CONJUGAÇÃO DE ANTIOXIDANTES + LEVUCELL SC AUMENTA O BENEFÍCIO LÍQUIDO PARA O PRODUTOR E A QUALIDADE DA MARCA PARA A INDÚSTRIA DE CARNES > BENEFÍCIO LÍQUIDO PARA A INDÚSTRIA COM BASE NA MELHORIA DA QUALIDADE DA CARNE • A cor e tenrura da carne foram melhoradas, o que é de grande valor para a indústria de carnes e também para o consumidor final. • Antioxidantes como o selénio são também reconhecidos para melhorar o prazo de validade da carne. > BENEFÍCIO LÍQUIDO PARA O PRODUTOR COM BASE NA MELHORIA DA EFICIÊNCIA ALIMENTAR

023

CONCLUSÃO

Em bovinos de acabamento, o fornecimento de Alkosel e Melofeed ajuda a melhorar a qualidade da carne. O fornecimento de LEVUCELL SC, Alkosel e Melofeed melhora o crescimento e o Índice de Conversão durante o acabamento, aumentando o retorno do investimento em 0,16€/animal/dia.


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ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE LEITE

AMINOÁCIDOS E PROTEINA NO NOVO SISTEMA NASEM 2021

APÓS 20 ANOS DA PUBLICAÇÃO DA 7ª REVISÃO DAS GUIDELINES NUTRICIONAIS PARA VACAS LEITEIRAS DO NRC*, A ACADEMIA NACIONAL DE CIÊNCIAS, ENGENHARIA E MEDICINA DOS EUA PUBLICOU, NO FINAL DO ANO PASSADO, A 8ª EDIÇÃO SOB O NOME DE NASEM 2021. NESTA NOVA REVISÃO ATUALIZAM-SE AS EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DO GADO BOVINO LEITEIRO, INCLUINDO INFORMAÇÃO DE ESTUDOS REALIZADOS NOS ÚLTIMOS ANOS. ESTE TRABALHO ESTÁ DIVIDIDO EM 20 CAPÍTULOS NOS QUAIS SÃO ABORDADAS AS DIFERENTES SECÇÕES DA NUTRIÇÃO DO GADO BOVINO LEITEIRO. *NRC (National Research Council) | Fotos FM

JAVIER LÓPEZ Technical Service Manager Southern Europe Ruminants Kemin EMENA javier.lopez@kemin.com

JOSÉ LUIS MADERA Sales Manager Spain and Portugal Kemin EMENA joseluis.madera@kemin.com

N

este artigo resume-se o capítulo 6 do NASEM 2021, que se debruça sobre proteína e, mais especificamente, sobre os aminoácidos que a compõem, as suas necessidades e contribuições. Nesta oitava edição do NRC, os responsáveis ​​por abordar o tema das proteínas e aminoácidos (AA) foram Marc D. Hanigan (Virginia Tech), Jeff Firkins (Estado de Ohio) e Hellene Lapierrre (Ag Canada). PROTEÍNA E AA A proteína bruta (PB) é definida como a quantidade de azoto (N) x 6,25, assumindo que 100 g de proteína verdadeira contêm 16 g de N.

024

Nessa proteína, cada alimento tem uma proporção de proteína verdadeira e uma proporção de azoto não proteico (NNP). Além disso, cada alimento possui uma taxa de degradação proteica (Kd), uma composição de aminoácidos da proteína não degradável e uma digestibilidade intestinal desses AA. Os AA absorvidos são vitais para a manutenção, crescimento, reprodução e lactação em vacas leiteiras. Os AA, além de serem usados para a construção de proteínas, também estão envolvidos em muitas outras funções metabólicas. Por exemplo, a lisina serve como precursor para a gliconeogénese. A metionina também é convertida em S-adenosilmetionina, que intervém em


Aminoácidos e proteina no novo sistema NRC (NASEM 2021)

ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE LEITE

centenas de reações metabólicas. A metionina e a lisina também intervêm conjuntamente na formação da carnitina. Devido ao papel central das proteínas na função celular, a síntese proteica é regulada. Demonstrou-se que os AA exercem controlo através de vias de sinalização intracelular, incluindo o nível de rapamicina em mamíferos (mTOR) e as vias integradas de resposta ao stress (Arriola Apelo et al., 2014). Quando a proteína degradável (RDP), ou a proteína não degradável (RUP), estão em excesso, ou quando os AAs metabolizáveis ​​ não estão adequadamente equilibrados, os seus esqueletos de carbono são metabolizados para produção de energia, porém o excesso de N representa um problema ambiental. AA METABOLIZÁVEIS Dos primeiros 20 AA que compõem as proteínas, 9 são geralmente classificados como AA essenciais (EAA). Os EAA são AA cujos esqueletos de carbono não podem ser sintetizados pelas células do animal em quantidade suficiente para atender às suas exigências. Estes aminoácidos são: histidina (His), isoleucina (Ile), leucina (Leu), lisina (Lys), metionina (Met), fenilanina (Phe), treonina (Thr), triptofano (Trp) e valina (Val). Além destes, a arginina (Arg) também pode ser essencial em determinadas circunstâncias. Na edição atual (NASEM 2021), o fluxo pós-ruminal de AA é estimado usando um método fatorial baseado em previsões de proteína microbiana (MCP), RUP e proteína duodenal endógena. O fluxo de AA metabolizáveis individuais, considerando o aporte líquido de AA, é calculado usando a composição correspondente de AA dos alimentos, transformada em MCP e RUP e tendo em conta as suas respetivas digestibilidades. AA na proteína microbiana (MCP) Para a composição de AA da MCP, o comité adotou a abordagem derivada de Sok et al (2017). Apesar de ainda manter um perfil de AA constante, esta abordagem modificou o perfil de AA ao ter em conta a contribuição dos protozoários para o fornecimento de MCP. Também abordou as diferenças nos perfis de AA entre bactérias em fase fluida e partículas. A conversão de MCP em TP foi determinada utilizando recuperações de AA que representam as perdas por hidrólise, em vez de assumir 80% de proteína verdadeira (TP) em MCP como foi feito no NRC 2001. Da

mesma forma, assume-se cerca de 80% de digestibilidade intestinal na TP. As recomendações são orientadas para todos os EAA, exceto para a Arg. A abordagem usada para recomendações de AA segue a usada para a MP, e utiliza-se uma eficiência combinada alvo para cada AA, assumindo que os requisitos de energia são satisfeitos adequadamente. No entanto, devido à eficiência variável do uso de AA para vários processos pós-absortivos, as exigências de PM e AA não são constantes e estão relacionadas com o aporte de energia e o estado fisiológico das vacas. AA metabolizáveis em proteína não degradável White et al. (2017) avaliaram a variação da degradação ruminal e a digestibilidade intestinal de cada AA essencial em função de cada alimento. Apesar disto, o comité considerou que a informação disponível não era suficiente para poder avaliar com precisão o perfil de AA da proteína não degradável de cada alimento, e as diferentes degradabilidades ruminais de cada AA, por isso, considerou o mesmo perfil de AA do alimento inicial. As alterações no perfil de AA antes e depois da degradação ruminal são provavelmente maiores em alimentos com elevada degradação ruminal (Boucher et al., 2009) e menores nos alimentos com maior proporção de proteína não degradável. Quando os alimentos são tratados com calor excessivo, os AA podem sofrer alterações que transformam as ramificações de L para C, com as quais terão menor digestibilidade intestinal. Nesse tipo de tratamento, o AA que sofre maior redução na sua digestibilidade intestinal é a Lys. Previsão da proteína do leite a partir de aminoácidos essenciais e aporte de energia O modelo NASEM 2021 utiliza uma abordagem onde se valorizam os efeitos individuais aditivos de três ou mais EAA e a energia fornecida. Esta abordagem argumenta ainda que a síntese de proteína e a sinalização celular respondem pelo menos a Met, Leu, ILe, Thr, insulina e concentrações de acetato (Appuhamy et al., 2012, 2014; Arriola Apelo et al., 2014c). O fornecimento relativo de cada EAA também atua na regulação do transporte ativo de AA no fígado (Myers et al., 2000), e na glândula mamária (Bequette et al., 2000; Hanigan et al., 2000), resultando numa 025

eficiência variável de transferência do intestino para as células mamárias, o que explicaria as respostas decrescentes ao aumento da proteína metabolizável (PM) fornecida (Whitelaw et al., 1986; Lapierre et al., 2007). Equação de cálculo de produção de proteína láctea (NASEM 2021)

Como limitação desta equação, devemos levar em consideração que a produção média de proteína dos animais sobre a qual foi desenvolvida era de 920 g de proteína verdadeira por dia. PROTEÍNA METABOLIZÁVEL E RECOMENDAÇÕES DE AA Este modelo altera o conceito tradicional de resposta linear na produção de proteína láctea aos aportes de proteína metabolizável e AA, para um modelo multifatorial com respostas aditivas, no qual não se pode definir um requisito constante para qualquer das variáveis. A abordagem fatorial requer inicialmente a identificação e quantificação das funções que criam uma solicitação líquida direta no fornecimento de EAA, seja a secreção de proteínas ou a acumulação de proteínas, muitas vezes referidas como requisitos de NP. Estas funções utilizam diretamente os EAA que são eliminados, numa rede base, do grupo disponível de EAA e, portanto, devem repor-se pelo menos numa quantidade equivalente oportunamente. A segunda etapa é atribuir uma eficiência de utilização do fornecimento de PM ou EAA para suportar estas diferentes funções. As recomendações são calculadas dividindo a exigência de NP por uma eficiência. SECREÇÃO E ACUMULAÇÃO Para o cálculo adequado das necessidades de cada EAA, o modelo baseia-se no cálculo de secreções e acumulações. As secreções incluem proteínas verdadeiras exportadas no leite e funções metabólicas essenciais, mas não produtivas, como perdas urinárias inevitáveis, manutenção e proteínas fecais metabólicas. As perdas urinárias


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inevitáveis foram amplamente revistas na literatura. As perdas metabólicas fecais de EAA estão relacionadas com as proteínas secretadas no trato digestivo com a finalidade de digestão e proteção, não digeridas e excretadas nas fezes. As acumulações incluem ganhos líquidos de proteínas corporais, como o crescimento e a gestação. Outra secção importante refere-se à composição de EAA de cada proteína das secreções e acumulações, determinada através de revisões exaustivas da literatura. Para estimar essas exigências líquidas de EAA, multiplicamos a quantidade de proteína líquida para cada função pela respetiva composição em EAA, somada para cada EAA. O terceiro componente é determinar a eficiência com que são usados os EAA digeridos para cobrir secreções e acumulações. Para uma vaca em lactação, a eficiência de um EAA (EffEAA) é variável e considerada igual para as funções da proteína do leite, caspa, perda metabólica fecal e crescimento. A eficiência da gestação foi estabelecida em 0,33. A eficiência das perdas urinárias endógenas considera-se 1, uma vez que essas excreções não são como proteínas, mas produtos finais do metabolismo dos AA. Com estas premissas, as eficiências variáveis ​​de cada EAA foram calculadas a partir de fornecimentos e produções observadas de proteína de leite reportadas em 215 publicações (921 tratamentos). A partir destas relações, determinaram-se os objetivos de eficiência para cada EAA, assumindo que as necessidades energéticas são adequadamente satisfeitas pela ração. Assim, para cada EAA é prevista uma recomendação, calculando a soma de cada secreção ou acreção dividida pela

sua eficiência correspondente (objetivo EffEAA para proteína do leite, caspa, perda metabólica fecal e crescimento). Na prática, o cálculo do EffEAA também pode ser usado para avaliar se o EAA previsto fornecido a partir de uma ração é suficiente para atender às necessidades de um nível de produção esperado: se o EffEAA teórico de alguns EAA necessário para cobrir o MPY esperado é maior do que o objetivo EffEAA, isso indica que o fornecimento desses EAA pode estar em falta. Finalmente, embora a ênfase esteja em equilibrar as rações com base no EAA em vez de na PM, os mesmos princípios podem ser usados ​​para determinar as recomendações da PM. EFICIÊNCIA DE UTILIZAÇÃO DE PROTEÍNA METABOLIZÁVEL E AA A eficiência de utilização de cada AA é variável, ou seja, cada AA possui uma determinada eficiência de uso. Usa-se o conceito de eficiência de uso combinada para proteína do leite, pele, crescimento e perda metabólica fecal. No entanto, para determinar essa meta de eficiência de uso, avalia-se apenas a produção de proteína láctea, uma vez que os demais parâmetros não são tão simples de avaliar. Assume-se que os parâmetros “não produtivos" se encontram satisfeitos antes que a produção máxima de proteína láctea seja atingida. USO ÓTIMO DA EFICIÊNCIA DA PROTEÍNA METABOLIZÁVEL E AA Ao contrário de outros modelos, as eficiências de uso da PM e dos AA baseadas na produção de proteína láctea são variáveis. Essas eficiências variam dependendo dos aportes de cada AA em relação às suas exigências. Devemos ter em conta que para o seu cálculo temos por 026

TABELA 1 EFICIÊNCIA ÓTIMA DE CADA AA AA

Eficiência ótima de cada AA

His

0,75

Ile

0,71

Leu

0,73

Lys

0,72

Met

0,73

Phe

0,6

Thr

0,64

Trp

0,86

Val

0,74

base que as exigências de energia estão satisfeitas. As eficiências ótimas podem ser usadas nas dietas para determinar quais os AA que estão em excesso e quais estão a limitar a produção (tabela 1). Se um AA apresentar uma eficiência maior que o objetivo, este AA estará a limitar a produção de proteína. Pelo contrário, se um AA tiver uma eficiência muito inferior à eficiência do objetivo, isso indica-nos que este AA se encontra em excesso para a proteína do leite. Exemplo de fornecimentos adequados de EAA para uma vaca adulta não prenha (650 kg de peso corporal) que consome 26 kg/dia de uma dieta com 34 % de FDN, de acordo com as eficiências do objetivo. Na tabela 2 podemos ver como aumentam as exigências de cada AA e de PM ao incrementar-se o nível de produção de proteína láctea. A tabela 3 mostra a relação ótima de cada AA com a PM em função do nível de produção de proteína verdadeira no leite.


Aminoácidos e proteina no novo sistema NRC (NASEM 2021)

ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE LEITE

TABELA 2 GRAMAS DE PM E CADA AA EM FUNÇÃO DA PRODUÇÃO DE PROTEÍNA VERDADEIRA NO LEITE g/proteína láctea

g/dia His

Ile

Leu

Lys

Met

Phe

Thr

Trp

Val

Prot. Metabolizável

1000

55

112

187

159

50

117

110

26

125

2122

1200

63

130

216

183

58

134

124

30

144

2411

1400

71

147

245

208

67

152

139

34

162

2701

TABELA 3 RELAÇÃO ÓTIMA DE CADA AA RELATIVAMENTE À PM EM FUNÇÃO DO NÍVEL DE PRODUÇÃO DE PROTEÍNA VERDADEIRA NO LEITE g/proteína láctea

%PM His

Ile

Leu

Lys

Met

1000

2,6

5,29

8,83

7,48

2,35

1200

2,61

5,37

8,97

7,6

2,42

1400

2,62

5,22

9,08

7,69

2,46

5,63

Neste novo modelo, essa relação não é fixa como em outros modelos. A proporção de cada AA relativamente à PM aumenta à medida que a produção de proteína aumenta. BALANÇO POR AA INDIVIDUAIS Os AA são nutrientes utilizados para a construção de todas as proteínas. Os AA metabolizáveis de forma individual também têm outras funções. Por exemplo, a metionina é imprescindível para uma série de reações metabólicas. Um exemplo disso é a função de dador de grupos metilo em muitas reações de transmetilação (Manjarin et al., 2014). Além disso, alguns AA desempenham um papel ativo na sinalização intracelular, especialmente na sinalização mTOR (Arriola Apelo et al., 2014). O conhecimento atual limita a estimativa de recomendações de EAA ao seu efeito TABELA 4 TIPOLOGIA DO ANIMAL Tipo de animal

Vaca lactante

Phe

Thr

Trp

Val

5,51

5,14

1,23

5,89

5,57

5,16

1,24

5,96

5,19

1,25

6,01

TABELA 5 PRODUÇÕES OBJETIVO DA DIETA Item

Valor

Unidad

Produção leite

40

kg/d

Produção gordura

3,7

%

Produção proteína bruta

3,2

%

Lactose

4,85

%

Produção gordura

1,48

kg/d

Produção proteína

1,28

kg/d

Lactose

1,94

kg/d

Leite corrigido por energia (ECM)

41,6

kg/d

Ingestão matéria seca

24,96

kg/d

IMS prevista de acordo com o animal

25,77

kg/d

IMS prevista de acordo com o animal e a fibra

24,96

kg/d

IMS

3,57

% BW

ECM/IMS

1,67

kg/kg

Raça

Holstein

Ganho peso

0,4

kg/d

Peso

700

kg

Ganho reservas

0,4

kg/d

Peso adulto

740

kg

0,01

kg/d

Idade

54

meses

Ganhos útero grávido

Condição corporal

3

(1-5)

Ganhos peso total

0,81

kg/d

% primíparas

33

(0-100)

Dias em leite

150

Dias

Idade ao 1º parto

24

Meses

Dias prenhez

50

Dias

Temperatura

22

ºC

027

sobre a secreção e acumulação de proteínas e à eficiência de utilização associada. É necessária mais investigação para explorar as interações entre EAA e energia (Arriola Apelo et al., 2014). A proteína metabolizável não é um bom preditor da produção de proteína láctea. Por exemplo, a eliminação de His, Lys ou Met duma mistura total de AA infundida pós-ruminalmente não diminuiu significativamente a proteína metabolizável fornecida, mas fez decrescer 20% a proteína láctea produzida (Weekes et al., 2006). A proporção de AA essenciais relativamente à PM varia de 42% a 48% (média de 45,4%) (Doepel et al., 2004). Por exemplo, uma ração que forneça 3000 g/ dia de PM, fornecerá entre 1260 g/dia e 1440 g/dia de AA essenciais. Lee et al. (2012) e Giallongo et al. (2016) ao incluir Lys, Met e His ruminalmente protegidas reduziram o fornecimento de PM em 450g/dia, mantendo a produção de proteína do leite. Isto demonstra a importância de cada AA e não apenas da sua quantidade. Também indica a vantagem de combinar vários AA ruminalmente protegidos para obter ótimos resultados, sendo os dois principais a Met e a Lys. A His também poderá limitar a produção de proteína láctea em dietas com muito pouca proteína, uma vez que a proteína microbiana é pobre neste AA. No NASEM 2021 sugere-se que quando os requisitos individuais de cada AA essencial forem bem conhecidos, como já são conhecidos os de Lys e Met, não será necessário equilibrar as rações por PM, sendo possível equilibrá-las pelas exigências de cada AA essencial. Exemplo prático Nesta secção apresenta-se um caso prático de formulação de uma dieta para vacas leiteiras tendo em consideração os requisitos em AA (tabela 4). A tabela 5 indica os inputs de produção, ganho de peso, etc. que queremos satisfazer com a dieta. Também nos indica a previsão de IMS. Como se pode ver na tabela, a dieta é formulada com uma quantidade de IMS de 24,96 kg, comoprevê o NASEM 2021 com base no tipo de animal e na fibra da dieta. Na tabela 6 (página seguinte) apresentase a composição da dieta. A quantidade de cada ingrediente é expressa sobre a matéria seca da dieta total. Como podemos observar na tabela 7, a dieta possui 17% Proteína Bruta e 26% de amido, 2,74 Mcal/kg de Energia Metabolizável e 9,4% de PM em relação à matéria seca.


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TABELA 8 VALORES PRODUTIVOS PREVISTOS

TABELA 6 DIETA Ingrediente

% SMS

Silo milho médio

36,55

Silo azevém médio

16,72

Farinha milho

12,83

Farinha soja 48% PB

8,85

Farinha colza

8,1

Farinha cevada

7,35

DDGs milho

3,45

Casca soja

3

Item

Sem RPAA

Com RPAA

Unidade

Leite permitido por ENL

35,07

35,24

kg/dia

Leite permitido por PM

35,38

35,94

kg/dia

Previsão de produção por nutrientes

34,4

34,8

kg/dia

Previsão de produção proteína verdadeira

1,11

1,14

kg/dia

Previsão de produção de gordura

1,25

1,26

kg/dia

TABELA 9 EXIGÊNCIAS E APORTES DE AA

TABELA 10 EFICIÊNCIA DE UTILIZAÇÃO DE AA PREVISTOS

Sabão cálcico

1,29

Carbonato cálcico

0,75

Bicarbonato sódico

0,7

Óxido magnésio

0,11

Ureia

0,11

His

67

62

62

His

0,75

0,83

0,85

Corretor vit-min

0,11

Ile

134

139

139

Ile

0,71

0,64

0,65

Fosfato dicálcico

0,08

Leu

227

224

224

Leu

0,73

0,72

0,74

Lys

193

177

193

Lys

0,72

0,73

0,67

Met

61

53

61

Met

0,73

0,78

0,69

TABELA 7 TIPOLOGIA DO ANIMAL Nutriente

Valor

Matéria seca, %

49,3

Forragem, % MS

52,7

PB, % MS

17,0

EM, Mcal/kg

2,64

PM, % MS

9,4

ENL, Mcal/kg

1,74

RUP, % MS

5,1

RDP, % MS

11,9

FND, % MS

20,5

FND, % MS

33,6

Amido, % MS

26,0

Açúcar, % MS

5,6

Cinzas, % MS

7,1

Gostaria de salientar que esta dieta, apesar de ter 17% de PB, cobre apenas as necessidades de pouco mais de 35 kg de leite com 3,7% de gordura e 3,2% de proteína. O mesmo vale para os AA. As tabelas 8, 9, 10 e 11 simulam e comparam a dieta anterior com outra igual equilibrada em metionina e lisina. Podemos verificar como as dietas equilibradas em AA permitem uma maior produção de leite, gordura e proteína. Na Tabela 9 constam os aportes da dieta atual e suplementada com RPLys e RPMet, bem como as exigências.

Exigências g/d

Fornecimento g/d

Fornecimento g/d

Sin AA

Con AA

Nesta tabela representam-se os cinco AA que influenciam a produção de proteína. Pode-se ver que os três AA que não satisfazem os seus requisitos são Lys, His e Met. Na tabela 10 pode-se verificar que na dieta sem RPAA os três AA com uma eficiência de uso superior ao objetivo (portanto, deficitários) são Lys, Met e His. Como anteriormente exposto, vemos na tabela 11 a influência da suplementação de cada AA na produção de proteína verdadeira no leite. A dieta com RPLys e RPMet permite uma produção de 1147 g de proteína verdadeira por dia, enquanto a dieta sem RPAA permite apenas 1112 g. Destes 35 gramas adicionais, 18 gramas são devidos à lisina e 15 gramas à metionina. O NASEM 2021 prevê que, por cada grama de Met adicionada à dieta, são produzidos 1,65 grama de proteína verdadeira. Para a Lys, estabelece 1,14 g de proteína por g de proteína verdadeira. CONCLUSÕES O novo sistema NASEM 2021, assim como os demais sistemas (INRA, CNCPS), a cada atualização dão maior importância aos requisitos individuais de cada AA na formulação. Todos os sistemas convergem na ideia de descobrir quais são as exigências de cada AA. Nos últimos anos, muitos estudos seguiram essas linhas de investigação, 028

Exigências g/d

Fornecimento g/d

Fornecimento g/d

Sin AA

Con AA

TABELA 11 PRODUÇÃO PREVISTA DE PROTEÍNA g/d Intercept

Sin AA

Con AA

DE Non-Protein

-139

-139

Arg

635

635

His

0

0

Ile

91

91

Leu

121

121

Lys

97

97

Met

201

219

EAA

95

110

Otros AA

-147

-147

Proteína permitida por nutrientes

159

159

1112

1147

especialmente no que toca à Met e à Lys. São precisamente estes dois AA cujas exigências são mais conhecidas, por serem os principais AA limitantes na produção de leite. O comité científico por detrás do NASEM estabelece como um dos seus objetivos em futuras revisões poder formular dietas de acordo com as exigências de cada AA, sem levar em consideração a PM. Com isto poderemos conseguir uma maior eficiência proteica, obter maior produção de leite e menor excreção de N para o meio ambiente.


029


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ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE CARNE

II TESTE DE EFICIÊNCIA ALIMENTAR ABERDEEN ANGUS PORTUGAL

NA 2ª EDIÇÃO DO TESTE DE EFICIÊNCIA ALIMENTAR DE MACHOS ABERDEEN ANGUS, O PLANO NUTRICIONAL FICOU A CARGO DA ZOOPAN, S.A. Por Sara Carvalho Garcia, Técnica de Nutrição ZOOPAN, S.A., sara.garcia@zoopan.com; Aberdeen-Angus Portugal, pedro.vaz@aberdeen-angus.pt; Associação Criadores Bovinos Mertolengos, pais@mertolenga.pt | Fotos Sara Garcia Fotografias

A

raça é conhecida pela valorização de forragens e tem necessidades nutricionais específicas, característica que pudemos comprovar no teste anterior. O desenho do plano alimentar do Teste de Performance foi realizado tendo em consideração as necessidades nutricionais específicas e a fase fisiológica em que se encontravam os animais: • Animais jovens: ainda em crescimento, tendo necessidades elevadas de proteína de qualidade – Proteínas Digestíveis no Intestino (PDIs) e matérias primas; • Elevada digestibilidade do alimento;

• Prevenção de problemas podais: podem ocorrer quando os animais ganham muito peso num curto espaço de tempo, comprometendo a capacidade de sustentação do esqueleto e potenciando o aparecimento de problemas de aprumos e/ ou locomoção; • Machos reprodutores vs. engorda/ acabamento: dado tratarem-se de animais cujo objetivo é seguirem para reprodução, o plano alimentar teve em linha de conta a obtenção de crescimentos sustentados – GMD objetivo de 1450 g/dia. Animais sujeitos a planos alimentares altamente energéticos vão obviamente colocar 030

TABELA 1 CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS DO ALIMENTO CONCENTRADO Valor

Unid.

Valor

Unid.

Matéria Seca

88,01

%

Ca

11,20

g

UFV

1,03

UFV

P

3,98

g

Proteína Bruta

15,52

%

Vit. A

10,00

1000 UI

PDIN

112,73

g

Vit. D3

1,50

1000 UI

PDIE

113,07

g

Vit. E

40,00

mg

62,26

g

Vit. B1

8,00

mg

Fibra Bruta

4,97

%

Mn

76,19

mg

Amido

41,33

%

Zn

105,66

mg

PDIA


II Teste de Eficiência Alimentar Aberdeen Angus Portugal

ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE CARNE

TABELA 2 PLANO ALIMENTAR INICIAL DOS ANIMAIS EM TESTAGEM Quantidades

Características nutricionais (por kg de matéria seca)

kg Silagem Erva ACBM

MS

UFV

PDIN

PDIE

PDIA

Ca

P

MB

MS

%

UFV

g

g

g

g

g

6,00

2,37

39,52

0,66

45,52

56,23

13,58

4,60

2,60

Palha ACBM

0,39

0,35

90,00

0,31

22,00

44,00

11,00

5,45

1,02

Concentrado Angus + Mertolengo

6,00

5,28

88,01

1,18

128,10

128,48

70,74

12,72

4,52

mais peso, mas a sua fertilidade pode ser comprometida. • Plano alimentar seguro: equilíbrio entre energia/proteína/fibra; • Níveis de vitaminas e minerais elevados, alguns dos quais orgânicos, o que aumenta a sua biodisponibilidade; • Forragens disponíveis: ter em linha de conta as forragens disponíveis no Centro de Testagem e o seu respetivo stock, e ajustar de acordo com as características nutricionais das mesmas; • Custo por kg de matéria seca: optimizar o custo do alimento de acordo com os objetivos de performance que se pretendem.

para podermos monitorizar a evolução de peso dos animais, não devendo ser consideradas para o cálculo do GMD do teste. De modo a definir a alimentação dos animais durante o período de teste, e dado tratar-se de um plano alimentar personalizado, de acordo com as forragens disponíveis (silagem de erva, palha, fenosilagem de azevém, etc.), foram realizadas análises para conhecer a sua composição nutricional. Para complementar a componente forrageira, foi formulado um alimento composto personalizado ( farinado) para colocar também no unifeed, com as características indicadas na tabela 1 e fabricado na Nutrimonte, em Évora. Utilizando assim as forragens e o alimento concentrado disponíveis, em conjunto com toda a informação referente aos animais, chegámos ao plano alimentar desenhado que é descrito na tabela 3, na qual se podem ler as quantidades de cada forragem e alimento concentrado por animal e por dia.

ADAPTAÇÃO Em qualquer teste de eficiência alimentar, os animais são sujeitos a um período de adaptação, durante o qual se pretende que se habituem às novas condições de maneio, sobretudo ao novo regime alimentar, no qual a base é forragem complementada com alimento concentrado. No período de adaptação, que teve a duração de 21 dias, foi colocada à disposição dos animais uma mistura preparada diariamente com unifeed, com base em silagem de erva e alimento concentrado, na proporção 52:48. As pesagens efetuadas durante o período de adaptação servem apenas de referência,

INGESTÃO MÉDIA DE MATÉRIA SECA Com base neste plano alimentar, foi feito o controlo da ingestão diária individual, através das estações de alimentação (Hokofarm), durante todo o período de adaptação e de teste.

GRÁFICO 1 INGESTÃO MÉDIA DIÁRIA DE MATÉRIA SECA POR ANIMAL, AO LONGO DO TESTE

11,91

11,78

11,02 10,80

12,21

12,04 11,36 9,28

9,05

1,600

1,525

1,600

1,400

9,78

Média

1,892

2,000 1,800

13,40

GANHOS MÉDIOS DIÁRIOS No que aos ganhos médios diários (GMD) diz respeito, como foi indicado anteriormente, o plano alimentar tinha como objetivo médio um acréscimo de peso de 1450 g por animal e por dia. Da análise do gráfico 2 pode verificar-se que todos os animais obtiveram crescimentos

GRÁFICO 2 GANHO MÉDIO DIÁRIO DURANTE TODO O PERÍODO DE TESTE (KG)

Ingestão diária (kg MS/dia)

12,34

A ingestão média de matéria seca (MS) por animal ao longo do teste encontra-se representada no gráfico 1, através do qual e com uma leitura rápida, se pode verificar que os valores variam entre 9,05 a 13,4 kg de matéria seca por dia, o que significa uma média diária de ingestão de MS durante o teste de cerca de 11,25 kg por animal. Comparando estes valores de ingestão com a bibliografia existente para a ingestão de MS previsional para estes animais, que indica um consumo previsto de MS na ordem dos 2,25% do peso vivo, conclui-se que os animais presentes nesta segunda testagem ingeriram uma quantidade inferior de matéria seca. Este deveu-se a um consumo de MS médio durante o período de teste, que corresponde a 2,1% do seu peso vivo médio. Ainda assim, fica a ressalva de que a ingestão média de matéria seca dos 12 animais presentes a teste aumentou, quando comparada com a ingestão do grupo de testagem anterior – 11 kg de MS versus 11,25 kg de MS.

1,433 1,100

1,200

1,708 1,492

1,300

1,258 1,275

1,458

1,133

1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

031

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12


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sustentados, sendo o GMD médio do grupo testado da ordem das 1430 g, sendo por isso um bom indicativo de que os animais responderam ao alimento que lhes foi apresentado, conseguindo obter crescimentos sustentados e não exagerados, como pretendido. De notar que, quando comparados com os animais presentes no teste anterior, estes animais obtiveram crescimentos mais baixos. Na procura por fatores que possam ter afetado estas diferenças de crescimentos – apesar de não serem considerados preocupantes, uma vez que todos os animais se encontravam saudáveis, e com pesos corretos para a idade – pode ser apontado o facto de terem existido alterações do plano alimentar a que foram sujeitos, devido aos stocks de forragens disponíveis, aos seus preços elevados e com subidas constantes durante o período de teste, que não permitiram a homogeneidade desejável no que à alimentação diz respeito. Da informação recolhida ao longo do teste, outro dos fatores que diferiu para a primeira edição do teste, foi a questão relacionada com o plano profilático a que os animais foram sujeitos à entrada do teste. ÍNDICE DE CONVERSÃO Quanto ao índice de conversão (IC), medida usada para avaliar a eficiência alimentar, pôde verificar-se um IC médio dos animais em teste de 8,24, o que significa que, em média, estes animais necessitaram de ingerir 8,24 kg de MS para aumentar 1 kg de peso vivo. Assim sendo, da análise do gráfico 3 resulta que um animal com um valor de IC mais baixo necessitará de ingerir menos alimento para repor 1 kg de peso vivo. É de extrema importância ressalvar que, para o cálculo do IC, foi considerada a totalidade da matéria seca ingerida pelo animal, isto

é, considerando a totalidade da mistura ( forragens + alimento concentrado). Esta informação é relevante visto que, em outros testes de performance, o cálculo do IC considera apenas a componente alimento concentrado, não ficando a informação da quantidade de forragem (palha ou feno) que o animal ingeriu, para complementar esse alimento concentrado.

Por outro lado, animais com valores de RFI elevados, serão animais que vão ingerir maior quantidade de alimento para repor 1 kg de peso vivo, tornando-os por isso, animais menos eficientes do ponto de vista alimentar. Fica ainda a nota de que estes valores de RFI são sempre comparativos entre animais contemporâneos, uma vez que vão considerar a ingestão média do grupo e o GMD médio.

RFI – RESIDUAL FEED INTAKE No âmbito deste teste foi também feita uma análise ao Residual Feed Intake (RFI) ou Consumo Alimentar Residual (CAR). O RFI não é mais que a diferença entre o Consumo Alimentar Real e o Consumo Alimentar Esperado, em função do peso metabólico do animal, tornando este valor uma medida alternativa da eficiência alimentar de um determinado animal. Trata-se de um índice com uma heritabilidade na ordem dos 40%, o que falando de fatores produtivos, o torna num índice com heritabilidade elevada. Sabendo que, cerca de 70% das necessidades nutricionais de um animal representam necessidades de manutenção, se conjugarmos os valores de RFI e de GMD de um animal, podemos trabalhar de forma a melhorar a eficiência alimentar da exploração, contribuindo também assim, para uma maior eficiência económica da mesma (tendo em conta que a alimentação representa a maior fatia de custos). No gráfico abaixo, é apresentado o RFI dos 12 animais presentes a teste (gráfico 4). Desta forma, a análise do gráfico 4 deverá ser feita no sentido em que, animais com valor de RFI negativo ou com baixo RFI são animais que ingerem menos alimento para colocar 1 kg de peso vivo, tornando-os assim, animais mais eficientes do ponto de vista alimentar.

CONCLUSÕES Após a análise de todos os dados recolhidos ao longo do teste e após a elaboração deste artigo, pode concluir-se que uma vez mais, os animais Aberdeen Angus são animais que respondem bem a planos alimentares à base de forragens, valorizando-as, característica já amplamente descrita para a raça. Os ganhos médios diários suportam esta conclusão, uma vez que o plano alimentar foi desenhado para uma média de 1450 g, e a média deste grupo situou-se nas 1430 g. De modo a serem evitados alguns desvios de ganho médio diário entre pesagens, nas edições futuras dos testes de eficiência alimentar deverão ser tidas em linha de conta algumas notas: - plano profilático de entrada igual ao dos animais já presentes no Centro de Testagem; - prevenir o stock de forragens, de modo a permitir aos animais terem acesso a um plano alimentar mais constante durante todo o período de teste. As últimas notas vão para a AberdeenAngus Portugal e para os seus Criadores, que aceitaram o desafio de participar no teste de eficiência alimentar, de modo a que exista mais informação disponível sobre a raça em Portugal, e também para a Associação de Criadores de Bovinos Mertolengos, por receber no seu Centro de Testagem animais de outras raças, pelo bem da bovinicultura nacional.

GRÁFICO 3 ÍNDICE DE CONVERSÃO (IC) MÉDIO

GRÁFICO 3 CONSUMO ALIMENTAR RESIDUAL (RFI) RFI

IC

032


033


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ALIMENTAÇÃO | FORRAGENS

A SILAGEM DE MILHO É A PRINCIPAL FONTE DE FORRAGEM NA ALIMENTAÇÃO DAS VACAS LEITEIRAS EM PORTUGAL CONTINENTAL. TENDO EM CONTA QUE AS VACAS LEITEIRAS DE ELEVADA PRODUÇÃO NECESSITAM DE UMA GRANDE INGESTÃO DE ENERGIA PARA MANTER A PRODUÇÃO E AS RESTANTES NECESSIDADES. É DE EXTREMA IMPORTÂNCIA COLHER O MILHO NA ALTURA IDEAL E PERCEBER QUAIS OS FATORES QUE AFETAM A SUA QUALIDADE. ASSIM, PODEMOS OBTER UMA FORRAGEM EXCELENTE PARA FORNECER AOS ANIMAIS E REDUZIR OS CUSTOS ALIMENTARES.

PONTO IDEAL DE COLHEITA DA SILAGEM DE MILHO FÁTIMA SILVA Assistente Técnica de Ruminantes Área Norte - De Heus mfsilva@deheus.com

A

silagem de milho é a principal fonte de forragem na alimentação das vacas leiteiras em Portugal continental. Tendo em conta que as vacas leiteiras de elevada produção necessitam de uma grande ingestão de energia para manter a produção e as restantes necessidades. É de extrema importância colher o milho na altura ideal e perceber quais os fatores que afetam a sua qualidade. Assim, podemos obter uma forragem excelente para fornecer aos animais e reduzir os custos alimentares. Entre os fatores que influenciam a qualidade da silagem de milho destacamos: 1. Maturação da planta 2. Processamento mecânico • Tamanho da partícula • Processamento do grão 3. Seleção da variedade da semente

MATURAÇÃO DA PLANTA As concentrações de amido e NDF são influenciadas pelo estado de maturação da planta. À medida que o grau de maturação vai avançando, a concentração de NDF na planta inteira diminui, enquanto a concentração de amido na planta inteira aumenta, como se pode observar na figura abaixo ( figura 1). Também a matéria seca da planta varia com o seu estado de maturação. Fazer a colheita da planta com um teor em matéria seca desadequado aumenta as perdas por fermentação e diminui o valor nutritivo da silagem. Colher o milho demasiado húmido provoca fortes escorrimentos, perdas durante o armazenamento e diminuição

da ingestão pelos animais. Por outro lado, fazer a colheita com um teor exagerado de matéria-seca da planta promove o desenvolvimento fúngico no silo, uma vez que não se consegue fazer uma compactação correta da silagem para expulsar o oxigénio, e criar as condições de anaerobiose para uma boa fermentação. Silagens demasiado secas têm normalmente menor digestibilidade e, consequentemente, um valor energético mais baixo. O valor ideal de matéria-seca de uma silagem de milho situa-se entre os 30 a 35%. Podemos determinar a percentagem de matéria-seca da planta de milho quando a cultura ainda está instalada no campo, através dos seguintes passos:

FIGURA 1 EVOLUÇÃO DA MATURAÇÃO DA PLANTA INTEIRA DE MILHO 60 52,0

50

44,4

41,3

40,5

42,0

40 (%) 30

30,1

37,2

37,4

35,1

28,7

20 10

32,4

18,2

Dentado

1/4 linha do leite

Matéria seca

034

2/3 linha do leite

NDF

Amido

Linha negra


Ponto ideal de colheita da silagem de milho

ALIMENTAÇÃO | FORRAGENS

PASSO 1: PERCENTAGEM DE ESPIGAS Crescimento e condições da cultura

Espigas (%)

Más condições de crescimento, elevada densidade de plantas. Cultura bem desenvolvida com espigas pequenas.

≤40

Condições de crescimento médias, densidade média de plantas. Cultura bem desenvolvida com grandes espigas ou cultura média com espigas médias.

50

Boas condições de crescimento, baixa densidade de plantas. Cultura menos desenvolvida com espigas relativamente grandes.

60

PASSO 2: MATÉRIA SECA DO CAULE E FOLHAS Condição das folhas e do caule

MS do caule e folhas (%)

Planta completamente verde com fluido a sair do caule

18

75% da planta verde e caule ainda húmido

21

50% da planta verde e caule praticamente seco

24

25% da planta verde e caule completamente seco

27

Planta sem partes verdes (a cultura parece completamente morta)

30

PASSO 3: MATÉRIA SECA DAS ESPIGAS Estado

Linha de leite

Características

MS espiga (%)

Formação da linha de leite

Semente branca na sua maioria, com a ponta de cima amarelo-esbranquiçada. Assemelha-se a "leite".

35

Recorte dentado

Ponta de cima mais amarela, conteúdo menos fluído. Sai líquido ao fazer pressão com a unha.

40

½ linha de leite

Ponta completamente amarela. Metade da semente sólida.

45

¾ linha de leite

Ponta amarelo torrada. Semente maioritariamente sólida.

50

Sem linha de leite

Ponta amarelo torrada. Semente completamente sólida e difícil de carregar com a unha. Não sai humidade ao carregar. Os grãos mais acima da espiga começam a ficar mais pontiagudos e a amassar.

55

Maturação completa

Grão duro, difícil de pressionar com a unha. As partes mais vidradas são mais duras. Parte de baixo da semente preta.

60

FIGURA 2 EVOLUÇÃO DA MATURAÇÃO DA PLANTA INTEIRA DE MILHO

100 % de matéria seca recuperada

Após estes 3 passos devemos combinar os resultados numa tabela, que pode obter-se junto da equipa da De Heus, para determinar a matéria seca da planta inteira. A linha de leite do grão de milho também é utilizada como indicador do momento ideal de colheita. A digestibilidade da planta aumenta até à fase de ½ da linha de leite, e daí em diante começa a diminuir gradualmente de acordo com o avanço da maturação da planta. Como se observa na figura 2, o intervalo ótimo de colheita varia entre ½ e ¾ da linha de leite.

95

Perdas por imaturidade e escorrimentos do silo

Intervalo ótimo de colheita

Perdas no campo e humidade inadequada para boa ensilagem

90 85 80 75 70 75

70

65

60

55

Humidade da planta inteira (%)

035

50

45


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PROCESSAMENTO MECÂNICO (TAMANHO DA PARTÍCULA, PROCESSAMENTO DO GRÃO) A maturação da planta, assim como o processamento mecânico da mesma, alteram o tamanho da partícula e influenciam a compactação da silagem de milho. O tamanho da partícula da silagem de milho pode ser afetado pelo tamanho de corte, variedade da semente, maturação e processamento. O processamento mecânico da silagem de milho é extremamente importante, pois vai influenciar a digestibilidade do amido e do NDF. Na tabela 1 constata-se que, com o aumento do espaçamento entre rolos para processamento do grão, a digestibilidade do amido diminui. Ou seja, quanto mais pequenas as partículas do grão, maior o seu aproveitamento por parte dos animais. De modo a aumentar a digestibilidade do amido, o primeiro

objetivo da colheita é destruir a película exterior que protege o grão para que o amido seja exposto e permita o ataque pelos microrganismos do rúmen da vaca. O sistema shredlage é um bom exemplo de que é possível obter tamanhos de partícula maiores, sem comprometer o processamento do grão e a digestibilidade da silagem de milho. Por outro lado, a digestibilidade da fibra (NDF) parece estar mais relacionada com a maturação da planta do que propriamente com o tamanho da partícula. SELEÇÃO DA VARIEDADE DA SEMENTE A seleção da semente é um assunto complexo e que depende de vários fatores e, por isso mesmo, aconselhamos que se informe junto do fornecedor de sementes da sua confiança. Contudo, importa ressalvar a importância de escolher o ciclo

FAO mais adequado aos seus terrenos de acordo com a disponibilidade de água, tipo de solo e demais características dos campos a serem cultivados. Em conclusão, importa reter que o ponto de colheita da silagem de milho determina os parâmetros nutricionais da mesma, e que a sua digestibilidade é influenciada pela maturação da planta, processamento mecânico e seleção da variedade da semente. O objetivo deste artigo é transmitir a importância de fazer uma colheita desta forragem no melhor momento possível e, para isso, é necessário ter em consideração a matéria seca da planta e a linha de leite do grão. Cada vez mais é importante que a silagem seja colhida no momento adequado pelos motivos evidenciados na figura 2, de modo a obter uma maior eficiência da forragem na alimentação das vacas leiteiras. NOTA: para consultar a bibliografia, contacte o autor.

TABELA 1 DIGESTIBILIDADE DO AMIDO E NDF DA SILAGEM DE MILHO DE ACORDO COM DIFERENTES TAMANHOS DE CORTE E ESPAÇAMENTO ENTRE ROLOS Tamanho de corte teórico (mm)

19

19

19

25

25

Espaçamento entre rolos (mm)

Nenhum

2

8

2

8

Digestibilidade amido (%)

79,4

83,1

75,8

87,7

75,3

Digestibilidade NDF (%)

20,1

29,7

30,6

35,4

23,2

ENCONTRO DE PRODUTORES DE LEITE COM ORDENHA ROBOTIZADA A De Heus organizou no passado mês de junho, na Póvoa de Varzim, o seminário "RobotExpert - Os segredos dos robots de ordenha” ao qual assistiram mais de 100 participantes. O seminário contou com especialistas De Heus de 3 países diferentes que apresentaram a solução RobotExpert da De Heus e exemplos reais da sua implementação em explorações com robots de ordenha. A reunião terminou com uma mesa-redonda. O 1º robot de ordenha surgiu por volta de 1980, na Holanda. Hoje, em Portugal, existem cerca de 174 robots, de 5 marcas diferentes, em 103 explorações. A De Heus trabalha com diferentes universidades e institutos, para além de 2 explorações de leite, com 10 robots, com quem contratualizou a investigação que pretende desenvolver.

Um dos assuntos abordados neste seminário centrou-se nas razões que levam o produtor a optar pelo robot de ordenha: as vantagens decorrentes da flexibilidade laboral, redução das necessidades de mãode-obra qualificada, aumento da frequência de ordenha e da produção, bem como da monitorização e da alimentação individualizada. Falou-se também nos novos desafios que a implementação dum novo sistema coloca ao produtor: - a exploração tem um desenho adequado ao robot de ordenha? - as minhas vacas são as adequadas (úbere, potencial genético...)? - as forragens que tenho são as adequadas? - os técnicos que me ajudam na nutrição e suporte ao robot têm a formação necessária? - irei adaptar-me a esta nova realidade?...

A ferramenta RobotExpert(1), de apoio aos produtores de leite com ordenha robotizada, foi também assunto neste seminário. Não perca, na próxima edição, uma completa sobre os conteúdos apresentados neste seminário. (1) RobotExpert é uma abordagem completa à ordenha robotizada, contribuindo para a obtenção dos resultados desejados.

036

PRODUTORES HOLANDESES NO CARTAXO

No passado dia 21 de junho, a De Heus organizou um encontro técnico com mais de 30 produtores de leite holandeses do sul de Portugal. Durante a manhã, que decorreu num hotel em Santarém, Joost Janssens e Gerrit Koersen apresentaram as soluções nutricionais da De Heus para a produção leiteira. Depois do almoço, os participantes visitaram a fábrica De Heus no Cartaxo, onde ficaram a conhecer em maior detalhe os mais recentes investimentos da empresa no processo de fabrico, bem como as iniciativas desenvolvidas na área da Qualidade.


SISTEMAS NIR: SAIBA COM PRECISÃO O QUE AS SUAS VACAS COMEM

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Tapete de descarga bilateral com ímanes rotativos.

Videocâmara para vigilância dos pontos estratégicos da máquina.

Lubrificação centralizada e automática.

Ventilador reversível para limpeza do radiador.

A fresa dianteira è composta por um tambor de 2 metros de largura com bomba Bosch e canal de alimentação de 700 mm de largura.

Da esq. para a dta.: João Antão (gerente SEAC, representante da Matrix), Vitor Rocha (produtor), Daniel Rocha (produtor), Rui Rodrigues (comercial Harker), Flávio Rocha (produtor)

EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE

MECANIZAR COMPENSA EM MAIO PASSADO, FOMOS ATÉ CÁSSEMES, NO CONCELHO DE OVAR, CONHECER O PROJETO DA FAMÍLIA ROCHA E O SEU MAIS RECENTE INVESTIMENTO: UM UNIFEED AUTOMOTRIZ VERTICAL MATRIX, QUE VEIO CONTRIBUIR PARA UMA MELHORIA NA ALIMENTAÇÃO DAS VACAS. Por Ruminantes Fotos FG 038


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cortada e fofa. Antes, saía esmagada.

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A

exploração leiteira de Vítor Rocha é muito antiga. Há quatro gerações que as vacas de leite são o principal sustento da família. A tradição parece querer continuar, porque os seus filhos, Daniel e Flávio, também já trabalham aqui. “Este negócio começou no tio do meu avô”, começou por contar Daniel. “Na altura era uma exploração com 5 animais. Depois passou para o meu avô, que levou a exploração até aos 15 animais em ordenha e ampliou a capacidade da vacaria para 30 animais adultos, mais a recria. Entretanto, já com o meu pai, a vacaria foi evoluindo e há cerca de 8 anos, quando vim trabalhar com o meu pai, começámos a investir mais a sério no negócio." "Hoje, temos 81 vacas em ordenha, num efetivo total de 180 animais. O objetivo é chegar às 90 vacas em ordenha.” Quantas pessoas trabalham na exploração? Eu, o meu pai e o meu irmão fazemos tudo, exceto as ordenhas que são feitas pela minha mãe e pela minha tia.

Porque investiram num novo unifeed? O que tínhamos já tinha muito tempo de vida e alguns problemas, e já era pequeno para os animais que temos. Para além disso, como era rebocado, levávamos muito tempo a fazer a mistura. Agora, conseguimos cortar facilmente os rolos de erva, de feno e de sorgo, e a mistura fica muito mais homogénea.

São auto-suficientes na produção da forragem? Sim. Em cerca de 30 hectares produzimos o alimento necessário para o efetivo: maioritariamente milho para silagem, luzerna e sorgo. Que investimentos realizou nos últimos meses? Comprámos um unifeed automotriz Vertical Matrix modelo Rover Jumbo Up 18M3, da Italmix. Para além disso, adquirimos um sistema de aleitamento artificial CF1000S Pó para Vitelos da DeLaval, escovas para as vacas e ventoinhas de refrigeração. Adquirimos ainda um trator John Deere série 6000. A vossa produção de leite tem vindo a subir: passou de 950 mil litros, em 2021, para mais de 1 milhão de litros, previstos, em 2022. Porquê? Foi devido aos vários investimentos que temos vindo a fazer, essencialmente o unifeed e a ventilação. O que mudou na alimentação com o novo unifeed? Mudou o produto final. Agora temos uma mistura

Que fatores tiveram em consideração quando decidiram comprar este equipamento? Os três principais pontos foram: ser automotriz, ter picadora e ter um tapete de descarga bilateral com ímanes rotativos. Depois, tivemos em consideração as dimensões (altura, comprimento e largura) para não comprometer a circulação da máquina dentro da vacaria. Passadas 100 horas de utilização, que balanço faz? Ainda que tenha feito outros investimentos, como o caso das ventoinhas, penso que o novo automotriz tem grande responsabilidade no aumento da produção de leite e na sua qualidade (mais gordura e proteína) e na melhor e mais homogénea condição corporal dos animais. Permite--nos ter uma alimentação específica para as vacas secas (antes não conseguíamos cortar as forragens de forma adequada, pelo facto de ser pouca quantidade), o que permite que ingiram a quantidade de alimento adequado. E também fazer uma mistura para as novilhas que aumentou a sua ingestão diária. Por outro lado, dispensámos uma máquina (um trator). Nota melhorias na saúde das suas vacas? Vejo que comem mais,

039

ruminam mais e a pelagem está mais mais bonita. Relativamente ao consumo, uma vaca em produção, que consumia em média cerca de 49-50 kg de alimento, hoje consome cerca de 52-53 kg. Diminuíram os desperdícios de alimento? Completamente. As vacas já não escolhem como antes, em que pela manhã tínhamos a palha grada... Onde se notou mais foi nas vacas secas e nas novilhas. Quanto tempo poupam com este unifeed? Antes demorávamos cerca de 2h 15m por dia (apenas 1 distribuição diária) para fazer os 2 unifeeds para a exploração. Agora levamos 1 hora diária para fazer 3 unifeeds, acrescentámos uma mistura específica para as vacas secas. Que ingredientes entram no unifeed? Silagem milho, silagem erva, palha, sorgo, luzerna (pré-fenada) e ração. Como analisam o investimento no unifeed? Pelo aumento da produção e pela qualidade do leite, pela melhor condição corporal das vacas, pelo brilho da pelagem e pelo aumento da capacidade de ingestão de matéria seca. Adquiriram um sistema de aleitamento artificial para os vitelos. Como foi a adaptação dos animais? Sim, adquirimos um CF1000S Pó para Vitelos da DeLaval. A adaptação ao sistema correu bem. O equipamento foi instalado em fevereiro passado, estávamos numa fase de poucos partos, tínhamos poucos animais e a transição foi simples. Agora, todos os que nascem adaptam-se rapidamente.


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Têm problemas de mortalidade? Nunca tivemos. Damos uma vacina nasal antes de iniciarem o sistema de aleitamento, e damos um bom leite, o Nanta Platinium. E temos sempre um bom acompanhamento médico veterinário. Qual é o maneio dos vitelos até aos 70 dias? Quando os vitelos nascem, vão para boxes individuais. Nos primeiros 5 dias são alimentados com o leite da mãe. Depois, são brincados e passam para um parque onde está a primeira alimentadora que tem uma bomba para ajudar na iniciação ao sistema de amamentação. São ajudados a ir à tetina uma a duas vezes, e depois já fazem tudo sozinhos. Passados 10 a 15 dias, passam para o parque seguinte, com uma alimentadora sem a bomba, onde estão até aos 70 dias de vida.

E depois dos 70 dias de vida? Os vitelos são desmamados e passam para a recria, que é feita em parques de grupo, até à 1ª inseminação que é feita por volta dos 14 meses, dependendo do peso e da estrutura da novilha. Que vantagens tem este sistema de aleitamento? Poupa-se tempo, dinheiro e os animais estão muito mais tranquilos. Praticamente não temos diarreias. Os vitelos bebem leite muitas vezes por dia (chegam a 6-7 tomas), enquanto no sistema anterior só bebiam 2 vezes. Chegam aos 70 dias com uma condição corporal muito melhor e com menos problemas. Qual é o segredo para o sucesso? Uma boa relação entre o nutricionista, o médico veterinário e nós, com o propósito de trabalharmos para as vacas.

DADOS DA EXPLORAÇÃO Estabulação

Sistema livre

Sala de ordenha

Convencional, de 5x2 pontos

Tempo de ordenha diário

4h 30m

Nº de ordenhas por dia

2

Produção de leite anual

> 1 milhão litros em 2022 (previsão); 950 mil litros em 2021

Efetivo total

180 animais

Raça

Holstein Frísia

Nº de vacas em ordenha

81

Produção diária aos 365 dias por animal

32 litros (previsão de 35 litros no final do ano).

Nº médio de lactações por vaca

3,5

Gordura bruta média do leite

3,8

Proteína bruta média do leite

3,4

Nº de células somáticas

180.000 a 230.000

Idade média ao 1º parto

23 a 25 meses

Nº inseminações por vaca adulta gestante

1,4

Sistema de aleitamento artificial CF1000S Pó para Vitelos da DeLaval

As escovas DeLaval fizeram parte das aquisições mais recentes da vacaria.

040


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SÉRIE DE ARTIGOS SOBRE "A SAÚDE DOS CASCOS E AS 3 GRANDES CAUSAS DA CLAUDICAÇÃO" 1. Úlceras da sola

2. Lesões da linha branca

3. Dermatite Digital 4. Claudicação como doença do periodo de transição 5. Implicações para a longevidade da vaca

SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL | BOVINOS DE LEITE

LESÕES DA LINHA BRANCA TAL COMO OS OUTRAS CAUSAS IMPORTANTES PARA A INCIDÊNCIA DE CLAUDICAÇÃO EM EXPLORAÇÕES LEITEIRAS, AS LESÕES DA LINHA BRANCA REPRESENTAM UM CUSTO ECONÓMICO SIGNIFICATIVO PARA OS PRODUTORES. TAL DEVE-SE À QUEBRA DE RENDIMENTO, À DIMINUIÇÃO DO DESEMPENHO REPRODUTIVO, AO AUMENTO DA PERDA DE PESO, AO MAIOR RISCO DE REMOÇÃO DO REBANHO COMO DESCARTE INVOLUNTÁRIO DE VALOR ECONÓMICO REDUZIDO E, AINDA, AO CUSTO DE SUBSTITUIR A VACA NO REBANHO.

MARIE-LAURE OCAÑA Dairy Technical Services Manager Zinpro Corporation mlocana@zinpro.com

A

s lesões da linha branca ocorrem quando o material córneo da parede do casco se separa do material córneo da sola, devido a danos na zona da linha branca. Estas lesões são causadas por uma combinação de alterações internas e externas com um enfraquecimento na linha branca, devido à instabilidade da terceira falange na cápsula de material córneo da unha. As lesões são mais frequentemente vistas em apenas uma ou em ambas as unhas laterais posteriores, e a incidência é maior em vacas pesadas e de alto rendimento, em condições confinadas ( figuras 1 e 2). Ao invés de ser um único tipo de lesão, o termo refere-se a um grupo de lesões que representam uma progressão em termos 042

de gravidade e consequentes perdas. A progressão leva à hemorragia, começando por uma fissura até progredir para um abcesso. Todas as lesões têm como causa principal a instabilidade da terceira falange e existem três teorias que explicam o porquê desta causa: - mudanças no suprimento de sangue no corium (parte da sola que produz novo tecido para o crescimento do casco), o que pode resultar na quebra da ligação entre a terceira falange e a cápsula de material córneo da unha. - um aumento da atividade enzimática pode aumentar o tecido conjuntivo que suspende a terceira falange, levando à instabilidade. Estas alterações enzimáticas podem ser desencadeadas por alterações


Lesões da linha branca

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hormonais no parto e, potencialmente, por alterações nutricionais que resultam no aumento do risco de acidose ruminal subaguda. - alterações na espessura e na composição da almofada adiposa digital que podem resultar na redução do suporte da terceira falange. A parede da unha externa da pata posterior está sujeita a maiores forças de impacto do solo, quando a vaca está em pé ou a andar. A linha branca que fica a dois terços para trás da unha é mais suscetível a lesões. A parede da unha exterior está muitas vezes com sobrecrescimento, o que aumenta o peso que a vaca suporta em certas partes da unha e contribui para a formação de lesões. A hemorragia e o enfraquecimento da estrutura da linha branca, juntamente com o traumatismo provocado pelo solo, podem resultar numa fissura em que o material córneo da parede se separa da sola. Podem também ocorrer impactações com pedras e outros materiais. Se esta impactação não for aliviada, pode ocorrer septicémia e formação de abcesso, espalhando-se ao longo das lamelas podendo depois emergir na faixa coronária. Se isso não acontecer, a septicémia e o abcesso podem atingir os tecidos mais profundos e criar uma septicémia digital. Para além disso, as lesões da linha branca podem resultar de um corte e/ou desgaste excessivo das unhas, por exemplo, quando as vacas caminham longas distâncias em superfícies cimentadas ou, quando se remove casco excessivamente, levando à exposição do corium na linha branca na zona da unha. A doença da linha branca é mais comum em vacadas não estabuladas e quando as superfícies por onde as vacas circulam são escorregadias ou traumáticas. Também existem lesões em touros de carne, que podem resultar de um maneio alimentar deficiente combinado com excesso de peso sobre as patas posteriores. TRATAMENTO A prevenção deve ser uma prioridade: • As condições dos estábulos e dos pisos são um fator contributivo para muitas lesões. Uma combinação de sobre-densidade animal, espaço de alimentação limitado, pisos de ripas e um corredor livre de alimentação, em vez de cornadis ou de manjedouras com separadores, aumentam ainda mais este risco. Utilize o programa FirstStep® da Zinpro e, mais especificamente, o Walking Surface Assessor para identificar onde podem ser feitas melhorias para beneficiar a saúde dos cascos.

• A transição das novilhas para o efetivo adulto deve ser feita de forma gradual, especialmente em relação a novos alimentos e ambientes. • A alimentação deve ser ajustada para reduzir o risco de acidose ruminal subaguda. • O equilíbrio do casco deve ser corrigido regularmente para evitar a sobrecarga da unha lateral das patas posteriores. • Adicione 20mg/dia de biotina e Zinpro Performance Minerals®, incluindo zinco, cobre, manganês e cobalto à dieta. O tratamento imediato é importante para reduzir a gravidade dos problemas e as consequentes perdas económicas: • A hemorragia difusa da linha branca é mais provável em vacas recém-paridas ou vacas com problemas nutricionais graves e onde as condições impedem o descanso adequado dos animais. Animais afetados devem ser transferidos para uma zona com camas ou levados para o pasto para permitir a sua recuperação. • Hemorragias profundas mais localizadas, fissuras e abscessos simples na unha externa da pata posterior devem ser tratados com aparamento funcional do casco. A parede em volta da lesão deve ser removida o suficiente para expor o material córneo saudável em volta das bordas da lesão. O calcanhar deve ser aparado ao nível ou abaixo da altura do calcanhar da unha interna sem que a sola fique muito fina. Se a unha não puder ser aparada adequadamente para transferir

FIGURA 1 ZONAS DA UNHA. LESÃO DA LINHA BRANCA - ZONAS AFETADAS 1, 2, 3

Vista inferior

Vista abaxial (externa)

Vista axial (interna)

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peso suficiente para a unha não afetada, então deve-se aplicar um bloco de casco à unha sã. • Se surgir um abcesso na faixa coronária, toda a parede lateral deve ser removida até expor tecido saudável. Verifique se há sinais de sépsia profunda ou insuficiência da sola, e discuta o tratamento com o seu veterinário. • As lesões devem ser enfaixadas quando houver sinais ou risco de infecção ou de dermatite digital. Nestes casos, uma ligadura leve como a ADAPTARAPTM pode ser aplicada. As vacas devem ser examinadas novamente após 3 dias para garantir que não existe infeção, e 3 semanas depois. • Após o tratamento, os casos leves podem retornar aos estábulos. É benéfico que as vacas coxas tenham um lugar confortável para se deitar por vários dias após o tratamento. Se o corium estiver exposto, discuta as estratégias de controlo da dor com o seu veterinário. • Qualquer vaca a que tenha sido aplicado um bloco deve ser reexaminada após 30 dias, para novo aparamento e remoção do bloco. Se a lesão não estiver totalmente curada, deve ser novamente aparada e um novo bloco aplicado por mais 3-5 semanas. Um fator importante que contribui para o sucesso do maneio da saúde do casco é o tratamento rápido e eficaz de todas as lesões o mais cedo possível, em conjunto com um programa preventivo que inclui o uso de Zinpro® Availa® Dairy.

FIGURA 2 LESÃO DA LINHA BRANCA


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SAÚDE E BEM-ESTAR | BOVINOS DE LEITE

CRIAR VITELAS DE LEITE EM GRUPO OU ISOLADAS? 2ª PARTE – OS (POTENCIAIS) CONTRAS - ANALISÁMOS NA EDIÇÃO ANTERIOR AS VANTAGENS DE AGRUPAR, EM PARES OU EM PEQUENOS GRUPOS, AS VITELAS DE LEITE ATÉ AO DESMAME. A CONCLUSÃO A QUE SE CHEGOU É QUE O CONTACTO SOCIAL TEM ENORMES VANTAGENS EM TERMOS DE DESENVOLVIMENTO FÍSICO E MENTAL. MAS SERÁ QUE NÃO OFERECE QUALQUER RISCO?

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Por George Stilwell, Médico Veterinário, Faculdade Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa, email: stilwell@fmv.ulisboa.pt Fotos FG

esta segunda parte iremos avaliar e discutir os fatores que mais frequentemente são apontados para recusar a adoção de sistemas com contacto entre animais desde tenra idade. Iremos ver até que ponto a evidência científica suporta esses medos e, se realmente forem reais, de que forma os riscos podem ser minimizados ou eliminados. RISCOS PARA A SAÚDE A ideia de que agentes responsáveis por doenças entéricas (diarreia neo-natal) e respiratórias podem ser transmitidos de animal para animal (transmissão horizontal), especialmente por contacto direto ou por via fecal-oral, está na base da prática comum na maior parte das vacarias de leite, de alojar vitelas recémnascidas em compartimentos individuais (McGuire, 2008). Adicionalmente foi também proposto que a manutenção

de uma vitela por box, permite uma melhor monitorização e identificação dos animais que não se alimentam convenientemente ou que estão doentes necessitando de assistência (Kung et al., 1997). No entanto, apesar dos fundamentos parecerem lógicos, a investigação dos últimos anos vem contradizer em grande parte estes dogmas. Na verdade, há pouca evidência de uma relação consistente entre alojamento individualizado e uma melhor saúde do vitelo. É verdade que alguns estudos (Webster et al., 1985; Gulliksen et al., 2009) sugerem existir mais problemas de saúde em vitelos criados em grupo, mas outros estudos não encontraram qualquer vantagem da habitação individual em comparação com alojamento em pares ou em pequenos grupos (Waltner-Toews et al., 1986; Perez et al., 1990; Johnson et al., 2011; Jensen e Larsen, 2014). Uma análise cuidada dos resultados dos primeiros 044

estudos referidos, mostra que a maior morbilidade se encontra mais associada a outros fatores como um maneio deficiente, qualidade fraca do colostro, desnutrição (pouca quantidade de leite por refeição), mau maneio da cama ou grupos demasiado grandes e pouco homogéneos. Também é verdade que em situações de reduzida higiene ou ventilação, a manutenção de vários animais na mesma área (e especialmente se forem de idades muito diferentes) pode ser considerado um fator de risco para estas doenças. A situação é particularmente grave em casos de sobredensidade. Uma principal razão explica a constatação de que é mais o maneio do que o agrupamento que origina surtos de doenças – as bactérias e os vírus são normalmente ubiquitários no ambiente em que se alojam os animais e, portanto, não é tanto a presença desses que importa combater, mas os fatores que reduzem as defesas dos vitelos ou que aumentam


Criar vitelas de leite em grupo ou isoladas?

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demasiado a carga microbiana a que estes animais muito novos estão expostos. Por exemplo, no caso das diarreias, o único agente que por vezes aparece associado a maior prevalência da doença em animais agrupados é o Cryptosporidium parvum, mas mesmo assim com uma diferença mínima. De qualquer forma, é consensual de que os benefícios do contacto social ultrapassam muito os riscos, e que, em condições de maneio, instalações e alimentação adequadas, a incidência de doenças não é normalmente superior nos animais mantidos em grupo. SUCÇÃO CRUZADA OU CROSS-SUCKING Uma das outras razões mais frequentemente aventadas para rejeitar o agrupamento de vitelas antes dos 2 meses, é a maior probabilidade de ocorrer sucção cruzada ou crosssucking. A sucção cruzada é definida como o ato de chupar qualquer parte do corpo de um outro indivíduo sem objetivo alimentar (Jensen, 2003). O grande problema deste comportamento é a possibilidade de levar ao desenvolvimento de infeções nas vitelas alvo (por exemplo, onfalites), mas principalmente dar origem ao vício, que continua como novilha e mesmo como vaca, da sucção dirigida ao úbere das companheiras. Nestes casos o risco de mastite, deformações de úberes e perda de leite pode ser muito grande (Lidfors e Isberg, 2003). É óbvio que o cross-sucking só será um problema quando dois ou mais animais estiverem alojados juntos e, por isso, a forma mais comum de prevenir o comportamento tem sido o de isolar as vitelas desde a nascença. Por outro lado, há relatos de uma incidência bastante maior em certas vacarias enquanto que é um comportamento quase desconhecido noutras. Se bem que possa existir alguma predisposição genética (a raça Montbelliard parece ser bastante atreita), estes resultados parecem indicar que o maneio, as condições de alimentação (incluindo o volume de leite oferecido) e outros fatores podem condicionar ou favorecer este comportamento. É, portanto, essencial procurar as causas do cross-sucking, até porque podem estar na origem de muitos outros problemas, em vez de disfarçar eventuais deficiências simplesmente mantendo as vitelas separadas.

COMPETIÇÃO É óbvio que a concorrência e a agressão podem ser evitadas pelo isolamento social. No início da vida, a competição e a agressão são normalmente associadas à alimentação. Para vitelas criadas em grupos alimentados por um único alimentador automático de leite, 89% dos eventos agressivos aconteceram em torno do alimentador. A maior concorrência pelo leite também pode reduzir o tempo de alimentação e a velocidade de ingestão de leite (von Keyserlingk et al., 2004). Se uma vitela estiver sozinha tem mais tempo para beber o leite, e por isso esta prática ganhou adeptos por se pensar que beneficiaria os animais mais fracos. No entanto, o que a ciência demonstrou é que, não surpreendentemente, a agressão é intensificada quando o volume de leite é limitado, ou seja, quando os animais ficam com fome. Isto demonstra, mais uma vez, que a manutenção de vitelas isoladas serve mais para mascarar más práticas do que para defender os animais. A competição exagerada pode ser restringida se oferecermos leite suficiente, se tivermos grupos homogéneos (idade e tamanho) e se mantivermos os grupos estáveis (Mounier et al., 2006; Færevik et al., 2010). É óbvio que estas condições são mais fáceis de conseguir se os grupos não ultrapassarem uma certa dimensão e, por isso, costuma ser recomendado que se evitem grupos demasiado grandes (acima de 8 a 10 vitelas por grupo). Em resumo, há provas científicas suficientes de que a concorrência pode ser atenuada fornecendo leite suficiente, disponibilizando pontos de alimentação suficientes, e mantendo grupos sociais estáveis e limitados em número, sempre que possível. CUIDADOS ESPECIAIS A TER NO MANEIO DOS GRUPOS Como foi referido, o tamanho do grupo pode desempenhar um papel importante na saúde já que pode boicotar algumas das condições que são essenciais (densidade, homogeneidade e estabilidade). Um estudo (Svensson e Liberg, 2006) realizado em explorações leiteiras na Suécia mostrou que as vitelas criadas em grupos de 8 a 12 apresentavam maior incidência de doenças respiratórias do aquelas alojadas em grupos mais pequenos, mas não foram observadas diferenças na prevalência de diarreia, provavelmente porque esta doença depende muito mais de outros fatores de 045

risco. Um estudo americano (Losinger e Heinrichs, 1997) revelou que criar vitelas em grupos com mais de 7 animais, estava associado a uma maior mortalidade, mas não encontrou diferenças entre explorações com grupos de 6 ou menos. Um outro estudo mostrou que vitelas em parques com 8 animais apresentavam mais tosse do que aquelas criadas em grupos de 4 ou de 2 vitelas (Abdelfattah et al., 2013). Vários fatores podem justificar estas diferenças e o aparente número máximo a partir do qual os problemas começam a aumentar. A maior morbilidade e mortalidade em grupos muito grandes podem ser devido à dificuldade em detetar, examinar e tratar animais doentes, resultando em tratamentos atrasados (van Putten, 1982). Outro fator que pode influenciar o risco de doença é o método de agrupamento. Pedersen et al. (2009) relataram que os grupos de vitelos de engorda em que foram continuamente introduzidos e removidos animais (ou seja, grupos dinâmicos), apresentaram ganhos médios diários menores e uma maior incidência de doenças do que os grupos estáveis (por exemplo, utilizando o sistema all-in all-out). Este sistema é improvável em vacarias de leite nas quais os animais estão permanentemente a nascer e crescer, não saindo da exploração, mas apenas transitando entre parques. No entanto, demonstra como essa prática pode ser um fator de risco, sendo de tentar introduzir medidas mitigadoras sempre que possível (por exemplo, fazer sempre a transição para parques de um grupo de vitelas e não de uma ou duas de cada vez). Em resumo, a diarreia e a doença respiratória, as doenças mais comuns em vitelos nas primeiras semanas após o nascimento, não estão consistentemente associadas à manutenção de vitelas em grupo. A transmissão destas doenças é complexa e muitas outras práticas de maneio influenciam o risco dessas doenças, incluindo sistemas de alimentação, volume e qualidade do leite, higiene, ventilação, práticas de administração do colostro, vacinação das mães e capacidade de supervisionamento do estado de saúde dos animais no grupo. Sugerimos que é o controlo destas variáveis que é preciso priorizar e não dissimular as deficiências, mantendo os animais separados e isolados. Os resultados que aqui expus comprovam que as vitelas podem ser agrupadas em boa saúde, se o maneio e as instalações forem adequadamente geridas.


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SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL | BORREGOS E CABRITOS

A IMPORTÂNCIA DA HIDRATAÇÃO

A EXPERIÊNCIA DE CAMPO FAZ-NOS CONSTATAR A ENORME MORTALIDADE FREQUENTEMENTE OBSERVADA EM BORREGOS E CABRITOS NO PRIMEIRO MÊS APÓS O NASCIMENTO. ESTA MORTALIDADE, POR VEZES BRUTAL E CHOCANTE, CONDICIONA A RENTABILIDADE DAS EXPLORAÇÕES PECUÁRIAS E PROVOCA UM PROFUNDO DESÂNIMO AOS SEUS PROPRIETÁRIOS E AOS CUIDADORES DOS ANIMAIS. Fotos Francisco Marques, 123RTF

JOSÉ CAIADO, LMV Dairy Management Consultant jose.pires.caiado@gmail.com

A

s causas da mortalidade em borregos e cabritos muito jovens são múltiplas e de origem variada. A mais frequente está ligada ao aparecimento de diarreias de origem infeciosa por bactérias, vírus e protozoários, nomeadamente o Criptosporidium, infelizmente demasiado familiar a muitos criadores. Na verdade, não é a diarreia em si mesmo que mata, mas sim a sua consequência mais perigosa: a DESIDRATAÇÃO! A diarreia causada pelos agentes patogénicos, muitas vezes altamente contagiosos, provoca uma perda de água e de iões sódio e potássio (desidratação), uma acidose metabólica e uma carência 046

energética que agrava ainda mais o problema. Para além das diarreias, a febre, o stress térmico e o de transporte dos animais, bem como a doença em geral, são causas de desidratação, seja em animais jovens, seja em borregos após o seu transporte para centros de engorda, seja em animais adultos. A desidratação corporal pode, portanto, ser um problema muito sério tanto para animais jovens como adultos. A sua severidade é uma grande ameaça à vida e por isso obriga a que seja corrigida de forma imediata, antes que o animal afetado entre num processo de irreversibilidade quanto à sua recuperação. A desidratação causa um desequilíbrio hidro-electrolítico, diminui a capacidade do animal distribuir


A importância da hidratação

SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL | BORREGOS E CABRITOS

TABELA 1 AVALIAÇÃO DO ESTADO DE HIDRATAÇÃO ANIMAL % Desidratação

Posição do globo ocular

Duração de prega na pele (segundos)

Secura das mucosas

Normal

Normal

<1

Húmidas

1-5

Normal

1-4

Húmidas

6-8

Ligeiramente afundado

5-10

Pegajosas

9-10

Espaço entre o olho e a pálpebra circundante

11-15

Pegajosa a seca

11-12

Espaço grande com olho muito afundado

16-45

Secas

pelo seu corpo não apenas as medicações que lhe sejam feitas, mas também os nutrientes vitais às células e aos seus órgãos, desde logo o nutriente mais básico, vital, e demasiadas vezes esquecido: a ÁGUA! Lembremo-nos do que acontece quando um bebé tem uma forte diarreia e o notamos a enfraquecer. O pediatra dá-nos imediata guia de marcha para o hospital e, mal lá chegamos, o bebé é imediatamente colocado a soro. O soro é a forma expedita como se consegue reidratar a criança e fazer a sua rápida estabilização do ponto de vista hidro-eletrolitico e o seu revigoramento. Após esta terapia, consegue-se travar o agravamento da situação clínica e o bebé normalmente recupera rapidamente os seus sinais vitais e a capacidade do seu sistema imunitário para lutar contra o agente que lhe causa a enterite e a diarreia associada. Quanto mais rapidamente se atua, menos risco de vida corre a criança. Esta mesma condição e raciocínio se passa com os nossos animais. Exceto que no caso dos borregos e cabritos não os levamos para o hospital e o “soro” passa por se lhes fornecer os famosos “ELETRÓLITOS”, quase sempre por via oral, como terapia reidratante e de suporte de vida. Quanto mais depressa e bem os aplicarmos, mais probabilidades teremos de os salvar. A DESIDRATAÇÃO E OS SEUS SINTOMAS MAIS VISÍVEIS Um dos sintomas mais marcantes são os “olhos afundados” e sem expressão. Mas também a palidez e a secura das gengivas, a fraqueza muscular que leva os animais a cambalear e a cair, as pregas na pele que perde a sua elasticidade e o aspeto “seco” dos corpos. Consoante o tipo de sintomas observados e a sua exuberância, costumase estabelecer uma tabela que ajuda a medir a gravidade da desidratação e a determinar os meios terapêuticos necessários à sua resolução. As análises ao sangue seriam um ótimo meio de

diagnóstico da situação em cada caso, mas não são obviamente exequíveis na prática diária de campo. COMO DEVEMOS REVERTER E TRATAR A DESIDRATAÇÃO O combate à desidratação faz-se pela administração, tão imediata quanto possível, de produtos designados popularmente por “eletrólitos”, dissolvidos em água segundo proporções adequadas. Os eletrólitos são os responsáveis por manter o corpo hidratado de forma a que os músculos, o sistema nervoso e o organismo em geral possam funcionar saudavelmente. As boas soluções ( fluidos) eletrolíticas (água + eletrólitos) ajudam, não apenas a restaurar os eletrólitos corporais perdidos pela desidratação causada pelas diarreias, pelo stress térmico e de transporte, mas também a corrigir a acidose metabólica (sangue) e a disponibilizar um aporte rápido e adicional de energia. Porque os borregos e cabritos bebem menos que os bezerros, requerem um equilíbrio eletrolítico diferente. Daí ser recomendado, para a obtenção de melhores e mais rápidos resultados, a opção por produtos com uma composição dirigida às necessidades nutricionais particulares de borregos e cabritos, que ajudem a otimizar a absorção de água e dos nutrientes ditos eletrolíticos. Os fluidos eletrolíticos podem ser administrados pela via oral e pelas vias subcutânea ou intravenosa. Estas últimas são mais rapidamente eficazes, mas, por razões óbvias de complexidade, devem ser executadas pelo médico veterinário assistente da exploração e obrigam à utilização de fluidos estéreis, coisa que dificilmente se coaduna com as condições típicas de uma exploração e sem a intervenção profissional de um médicoveterinário. Em teoria, a administração exclusivamente oral (pela boca) deve reservar-se para animais cuja desidratação não ultrapasse os 5%. Contudo, e em minha 047

opinião pessoal, devemos tanto quanto possível usar esta via, e o seu limite de utilização está na capacidade de sucção ou de mamar dos animais. A melhor via de administração é mesmo por um biberon, pois o fluido eletrolítico vai diretamente para o abomaso do animal. Para além deste ponto, se quisermos fazer mesmo tudo para salvar um animal, teremos de lhe administrar fluidos eletrolíticos por via parenteral (subcutânea ou endovenosa). A frequência e quantidade total de fluidos eletrolíticos hidratantes administrados varia em função do peso do animal em causa e da severidade da perda de líquidos, bem como da situação clínica do animal. COMO ESCOLHER OS “ELETRÓLITOS” A USAR? Existe no mercado uma grande oferta de produtos e a grande questão está em que produto escolher para ser usado. Obviamente a escolha deve recair sobre aquele produto que tenha uma boa relação custo-benefício, sendo que os benefícios podem ser associados ao tipo e quantidade de nutrientes/substancias que os compõem. Muitos produtos à venda incluem na sua composição uma variedade enorme de nutrientes, mas cuja eficácia não está totalmente focada na eficácia hidratante. Um bom produto deve conter necessariamente o seguinte: - sódio (para reposição eletrolítica, tal como o potássio) - potássio (numa concentração não inferior a 1,8%) - glicina (reparação das células intestinais e “bomba” iónica) - betaína (metabolismo osmolítico celular) - dextrose ( fonte de energia rapidamente disponível) - um tampão, tipo bicarbonato de sódio, ou, melhor ainda, acetato de sódio Ter uma composição com muitos ingredientes/nutrientes diferentes não significa necessariamente um produto mais eficaz. Até porque muitas vezes as quantidades incluídas são pouco mais do


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que homeopáticas, ou seja, muito reduzidas. As etiquetas de muitos produtos à venda incluem vitaminas diversas, aminoácidos não funcionais em nanodoses, probióticos, etc. Tudo isto tem efeito apenas acessório e já está normalmente fornecido e coberto pelo leite ingerido pelos animais. O foco deve estar nos nutrientes mais acima descritos e nomeadamente na % de potássio (cloreto de potássio) pois este sendo caro normalmente aparece em dose abaixo de 1,8% e, assim, não se atinge no fluido hidratante a concentração osmolitica ótima e exigida. QUE QUANTIDADE DE LÍQUIDO HIDRATANTE DEVEMOS ADMINISTRAR? Como foi explicado na tabela 1, uma vez que tenhamos determinado o grau de desidratação dos borregos ou dos cabritos, podemos calcular de forma rigorosa que quantidade de líquidos serão necessários para tratarmos ou corrigirmos a desidratação dos animais afetados, segundo a fórmula abaixo: Volume(L) necessário/dia = Valor % da desidratação x Peso vivo (kgs) 1. Por exemplo, um borrego/cabrito com 6 kg de peso vivo está com uma desidratação calculada em 5%. Isto significa que 0,3 litros (6 kg X 0.05 = 0.3) de um fluido hidratante se torna urgente e vital para substituir os líquidos perdidos pelo animal.

2. Após ter sido administrada a dose calculada do fluido hidratante, mais fluidos devem ser dados numa dose de 5ml por kg de peso, e por hora, durante o período em que a diarreia ou a perda de líquidos se mantenha muito ativa. 3. Não se devem nunca dar a animais pequenos doses superiores a 250 ml por toma, mas devem-se dar tantas tomas quantas as necessárias para fornecer a quantidade inicialmente calculada para um ciclo de 24 horas. REGRAS PARA UM USO EFICAZ DOS “ELETRÓLITOS” - Devem ser reconstituídos exatamente de acordo com as instruções do fabricante. - Deve assegurar-se que a concentração é sempre a mesma. Nem mais nem menos do que a dosagem indicada. - A sua eficácia no salvamento dos borregos e cabritos é tanto maior quanto mais cedo detetamos o problema e agimos. - É preferível dar quantidade a mais do que a menos e a pessoa que o faz deve ter uma atitude paciente para garantir que os animais mais fracos mamam o volume que devem ingerir. - As tomas de eletrólitos devem ser sempre dadas entre as tomas de leite e espaçadas destas um mínimo de 30 minutos para que nunca se misture o leite com os eletrólitos, evitando assim que a digestão do leite seja atrasada. 048

Muito importante: NUNCA PARAR DE DAR O LEITE! Existe muito a ideia de que quando o animal tem diarreia se deve parar de dar o leite. Nada mais errado. Os eletrólitos não incluem toda a nutrição adequada e necessária para que possam substituir o leite. É verdade que certos leites de substituição podem aumentar a diarreia devido à sua concentração osmolar. Contudo, é um compromisso de necessidades que temos mesmo assim de compatibilizar, visto que o leite tem um aporte energético (de energia lenta e rápida, via lactose) muito alto, absolutamente vital para assegurar a manutenção, o crescimento e a reparação do “forro” do intestino (epitélio) danificado pelas causas das diarreias. Os eletrólitos devem estar sempre presentes nas explorações, visto que o seu uso urgente não se compadece quase sempre com o tempo da sua encomenda. Estes não necessitam de receita médica e ajudam a mitigar, em grande escala, o uso de antibióticos de que tradicionalmente se faz uso frequente e muitas vezes desnecessário. A sua utilização é, em muitos casos (p.ex. vírus), uma boa e adequada alternativa ao uso de antibióticos e a um custo genericamente muito inferior.


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Rui de Lacerda e um dos seus carneiros Pelibuey.

GENÉTICA | OVINOS DE CARNE

MELHOR SEM LÃ

FOI SETH GODIN, AUTOR NORTE AMERICANO DE BEST-SELLERS SOBRE MARKETING, QUE DISSE, A PROPÓSITO DA IMPORTÂNCIA DE GOSTARMOS MUITO DAQUILO QUE FAZEMOS: “EM VEZ DE FICAR A SONHAR COM O PRÓXIMO DESTINO DE FÉRIAS, CRIE UMA VIDA DA QUAL NÃO PRECISE DE FUGIR.” ASSIM FAZ O PROTAGONISTA DESTA HISTÓRIA, RUI DE LACERDA, MÉDICO VETERINÁRIO E PRODUTOR DE GADO NUMA HERDADE DO BAIXO ALENTEJO, NA PROCURA POR UM MODELO DE NEGÓCIO MAIS RENTÁVEL E PELA OVELHA IDEAL. Por RUMINANTES | Fotos FG, Helder Chaparro

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Melhor sem lã

GENÉTICA | OVINOS DE CARNE

Exemplar F1 de Pelibuey em fase de deslanamento.

Parte do efetivo antes da tosquia, com carneiro Pelibuey em primeiro plano.

É

na zona de Moura-Barrancos, junto à localidade de Santo Amador que fica a Herdade do Pintador. São 1200 hectares de sequeiro, em regime de conversão para biológico, abrangendo uma zona de cerca de 200 hectares de barros de primeira com erva natural para feno, e outra, ligada com o rio Ardila, com relevos maiores, muita pedra, alguma vegetação arbustiva e pouca erva. Foi aqui que Rui Lacerda cresceu, e foi para cá que voltou depois de concluir os estudos, para trabalhar com o seu pai na gestão do negócio pecuário.

O efetivo da herdade engloba 400 vacas, 200 ovelhas e, mais recentemente, um rebanho de cabras. Mas foi nas ovelhas e, concretamente, na procura pela “ovelha ideal” que se centrou a nossa conversa com Rui Lacerda. Como surgiu a ideia das ovelhas? Em 2015 quando cheguei, numa tentativa de diversificar o negócio que até então era exclusivamente dedicado às vacas, adquiri um lote de 20 ovelhas Merino Preto, puras. Tinham-me dito, e é verdade, que são melhores mães que as brancas e que têm menos problemas com bicheiras, o que também constatei. 051

Para que tem o negócio? Para ganhar dinheiro através do low cost. Adoro esmagar custos. Qual é, para si, a ovelha ideal? Um animal extremamente resistente a doenças, com bom temperamento, muito rústico e dócil. Não muito grande, para ter uma energia basal mais baixa, sem lã para não ter que tosquiar nem ter os problemas das feridas por bicheira causados pela lã, e com o rabo pequeno. Idealmente uma ovelha que desse 2 borregos por parto, por ano, com facilidade de partos. E teria que ter um borrego apetecível para o mercado:


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pesado, com formas cárnicas, um bom quadril e um bom lombo. Como pretende chegar a esse objetivo? Através da genética. Com esta abordagem estamos a resolver os problemas na sua origem. Um exemplo: para não ter que cortar o rabo às ovelhas, comprei um carneiro com o rabo pequeno e assim já não tenho que ter trabalho. Como foi o percurso até aqui? Comecei com um cruzamento com Ile de France e com Merino Alemão e fui ficando com filhas desses cruzamentos, sem grande ideia ainda do que realmente queria. Cruzei com essas raças essencialmente porque eram animais de carne. Quando começou a moda do Suffolk, cruzei com Suffolk, mas verifiquei que não se aguentava para o que eu queria, que era muito pouca ou zero assistência a campo, apesar de ter tido grandes resultados a nível de performance. Tinha rápido crescimento e grande conversão. Depois, apercebi-me de duas situações que estavam interligadas: as feridas por bicheiras, que chegam a matar os animais, e a lã: as ovelhas desenvolvem as bicheiras porque a lã promove um certo ambiente ótimo para as moscas porem ovos e para os parasitas se desenvolverem. Sendo que a tosquia é cada vez mais complicada devido à dificuldade em arranjar mão-de-obra, comecei a procurar raças deslanadas. Encontrei inicialmente um carneiro Dorper, com um misto entre pêlo e lã, e

comecei a cruzá-lo com as ovelhas. Pensei que tinha encontrado a solução, mas rapidamente percebi que não tinha, porque apesar de os Dorper puros perderem a lã, os descendentes em cruzamento não perdem. Então, ainda fiquei pior do estava porque o Dorper dá lã de má qualidade e essa lã não cai. Mas (esses exemplares) continuam no rebanho porque passam para os filhos outras características muito boas: excelentes capacidades maternais, rusticidade, o rabo pequeno e triangular (com menos probabilidades de acumular cagaitas e trazer moscas e larvas) e docilidade. A nível de conversão de peso, porém, não são tão interessante como outras raças. A seguir ao Dorper veio o Mouton Vendéen, porque precisava de uma raça de carne, resistente e com boas formas. Gosto dos borregos para abate com quadril, e aí aparece o Mouton Vendéen como uma solução para a minha desilusão com o Suffolk. São muito mais rústicos, embora não tanto como os Dorper, e com grandes resultados zootécnicos ao nível da produção de carne. Finalmente, trouxe o Texel, também com perspetiva cárnica, mas gosto mais do Mouton Vendéen. Falta-lhe resolver o problema da lã… No meu objetivo de diminuir a lã, não resolvi o problema, até aumentei a lã (risos). E por isso continuo a pesquisa. Mas, lá está, o Dorper não é uma ovelha deslanada pura, é uma ovelha mista de lã e

Conformação cárnica dos carneiros Mouton Vendéen.

pêlo. Encontrei entretanto a raça Pelibuey, um animal de pêlo puro, completamente deslanado: o pêlo aumenta no inverno e cai no verão. É extremamente adaptado ao calor e não é frágil com o frio. Não são animais tão dóceis como os Dorper, são um desastre zootécnico, mas são mães extraordinárias. As filhas ainda nascem com lã mas perdem-na por elas, embora existam variações. Os borregos que nascem destes cruzamentos vendem-se, embora não tenham grande interesse zootécnico. O meu interesse não é no Pelibuey mas apenas naquele gene do pêlo. Vou continuar a apostar no Pelibuey até as minhas ovelhas serem deslanadas. Agora estou a misturá-lo com raças cárnicas. Quero fazer uma evolução conjunta para que as minhas ovelhas percam lã, ganhem pêlo mas também sejam mais cárnicas. Um borrego 50% Pelibuey já é melhor que um Pelibuey puro, mas comparado com outras raças ainda é muito inferior em rapidez de crescimento, conformação, GMD…por outro lado, são animais mais rústicos e têm taxas de sobrevivência maiores. Se agora tivesse que fixar os cruzamentos, durante 5 anos, como é que começava a fazer? Misturava Pelibuey com Mouton Vendéen e alternava com Texel. Vou buscar carne e pêlo, que é o que quero. O Texel é muito cárnico, pode fazer um balanço bom com o Pelibuey, e mais dócil que o Mouton Vendéen. Ia alternando, Pelibuey, Mouton Vendéen e Texel, com um Dorper pelo meio, porque gosto das mães Dorper e gosto da rusticidade que me dão.

Mãe e cria Mouton Vendéen.

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Melhor sem lã

GENÉTICA | OVINOS DE CARNE

O objetivo final é vir a ter ovelhas predominantemente de pêlo, tipo Pelibuey cárnico. Quando pensa conseguir chegar à ovelha ideal? Preciso de 5 a 6 anos. Mas até tenho andado mais rápido do que pensava, não estava à espera de que os F1 perdessem logo a lã. A ideia das ovelhas de pêlo pode ser boa ou má, a lã hoje não vale nada mas amanhã pode valer. Que taxa de mortalidade tem no rebanho? A mortalidade é de 15%, mas concentra-se quase exclusivamente na primeira semana de vida, por predação; as minhas ovelhas andam sempre a campo. Qual é o maneio alimentar normal das ovelhas? Comem 95% pastagem, vão mudando de cercas que chegam a 50 ha, e em situações de escassez comem tacos. Onde está o principal custo na produção de um borrego? Na mão de obra é onde gasto mais dinheiro. E, a seguir, na alimentação, sempre que tenho que suplementar. Quantas ovelhas tem por carneiro? 30 ovelhas. Tendo a ter machos a mais, para poder ficar tranquilo se morrerem alguns. Essa é a minha filosofia.

As ovelhas estão sempre com os carneiros. E a recria? Geralmente as borregas são desmamadas com a mesma idade com que os machos vão para o matadouro, com 30 kg de peso. Gosto de fazer desmames tardios para evitar mastites. Mas depende. No verão são desmamados mais leves porque gosto que as minhas ovelhas passem o verão sem borregos grandes. Depois de desmamadas, as fêmeas ficam à parte, mais perto do Monte e ponho-as com o Pelibuey a seguir à desmama. O 1º parto é aos 13-15 meses. Normalmente as minhas ovelhas cobremse a partir dos 8-9 meses, mas depende das raças. Tem os machos misturados com as ovelhas? Sim, exceto nas ovelhas de 1º parto, em que ponho só um Pelibuey para evitar problemas de parto. Quantos borregos gostava de ter por ano? O meu ideal seria que cada ovelha fizesse um parto por ano, se possível com dois borregos, mas já fico contente com um. De quantos empregados precisa para o seu negócio? No dia-a-dia, um cavalo e um cão. Nas desmamas, nos saneamentos e nas vacinações, recorro à prestação de serviços de 3 pessoas. Empregado fixo para as ovelhas, não tenho.

Momento da tosquia.

Mãe cruzada de carne e cria F1 Pelibuey.

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Os índices produtivos não são uma questão aqui, porque é a Natureza que dá quase tudo… O conhecimento dos índices produtivos é importante, já que quando um animal tem um bom índice de conversão vai atingir mais depressa o peso ideal para ser vendido. Na verdade, eu não meço o ganho médio diário mas sei as ovelhas que desmamam borregos mais pesados, e as que geralmente têm gémeos, estando na mesma pastagem, e isto são índices produtivos. O que diriam as suas ovelhas de si? Acho que diriam bem. Pelos meus critérios, acabo por lhes facilitar a vida, não ao indivíduo, mas ao grupo, porque se lhes der condições genéticas de resistência, elas vão estar bem. Se agora chegar ao campo, verifico que as ovelhas que estão incomodadas são as que eu comprei: são as que estão cheias de lã, são as que não têm rabo porque alguém lho cortou. As minhas ovelhas, as que já são fruto do meu objetivo, são as que estão melhor, as que já têm muito pêlo e pouca lã, as que têm o rabo não muito comprido para não ficar cheio de porcaria mas com o tamanho ideal para sacudirem as moscas, e que têm muito menos tendência a ter carraças, feridas por bicheira, muita resistência aos parasitas (o Pelibuey é muito resistente aos parasitas). Todas as raças de pêlo são resistentes a parasitas, por isso é que são as raças dos trópicos.


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AGRICULTURA REGENERATIVA

DE VOLTA ÀS MANADAS

"É A VACA QUE FAZ A PASTAGEM E A PASTAGEM QUE FAZ O ANIMAL". FOI COM ESTA IDEIA EM MENTE QUE DIOGO RIBEIRO DA CUNHA E O SEU IRMÃO, RODRIGO RIBEIRO DA CUNHA, DEITARAM MÃOS À OBRA DE TORNAR SUSTENTÁVEL E MAIS RENTÁVEL A PRODUÇÃO DE BOVINOS EM EXTENSIVO NA HERDADE DE VALE DO PORCO, COM 500 HA, LOCALIZADA EM LAVRE, NO CONCELHO DE MONTEMOR-O-NOVO.

E

Por André Antunes, Agricultor, Conselheiro de Agroecologia e Médico Veterinário | Fotos André Antunes

m 2015, no ano em que vieram tomar conta da herdade da sua mãe, em Lavre, concelho Montemor-o-Novo, Diogo e Rodrigo foram confrontados com uma seca severa que os fez pensar na urgência de encontrar formas de gastar menos dinheiro com a alimentação das 70 vacas que na altura compunham o efetivo, como Diogo começa por explicar: “Percebemos que tínhamos de tentar melhorar aqui alguma coisa, porque gastávamos muito dinheiro em fatores de produção. Lembro-me de ouvir dizer que é a vaca que faz a pastagem e a pastagem que faz o animal e comecei a procurar pensar de uma forma diferente o maneio dos bovinos. Tinha que haver uma forma mais fácil de fazer as coisas, mais amiga do ambiente e mais ligada à natureza dos próprios herbívoros. Esta pesquisa levounos ao encontro da Gestão Holística.”

Hoje dão muito menos comida à mão, como conta Rodrigo: “Com a Gestão Holística diminuímos muito as despesas e aumentámos o encabeçamento de 70 para 180 vacas cruzadas de Limousine.” Como é atualmente composta a vacada? Diogo (D) - São 180 vacas cruzadas de Limousine, mas temos margem para aumentar o efetivo nos próximos anos, até 220, tranquilamente. O que mudou a nível do pastoreio? D - Fazíamos pastoreio extensivo tradicional, com rotação entre 5 cercas de 100 ha cada. A pouco e pouco, ao longo de 5 anos, fomos diminuindo o tamanho dos parques, de 100 ha para os 0,3 ha que temos hoje. De momento, as vacas só permanecem no mesmo parque 1 dia e só voltam a esse parque passado um ano. 054

Augusto (A): O certo é que eu ao início achava os parques muito pequeninos, lá está vai do hábito, não é? De um modo geral, adotaram a estratégia de Mob-Grazing1 na sua variação Strip-Grazing2 ? D - Sim. A cada 5-6 dias, subdividimos um parque maior em parques mais pequenos. A água fica no início do primeiro parque. A partir daí, as vacas vão avançando para uma zona ainda não pastoreada, delimitada por um fio elétrico que se vai fazendo avançar, diariamente. Quando precisam de beber, voltam atrás, nunca tendo que percorrer mais do que 500 metros. Mesmo sem vedação, os animais não voltam atrás porque não têm interesse, a erva está para a frente. Apenas usam um corredor para voltar atrás para beber e logo voltam ao sítio da erva. Se o parque


De volta às manadas

AGRICULTURA REGENERATIVA

Rodrigo Ribeiro da Cunha, Augusto Francisco de Vale Gato (empregado) e Diogo Ribeiro da Cunha.

fixo fica aqui durante 5 ou 6 dias, elas vão sempre para onde vamos abrindo com o fio. Rodrigo (R) - De momento, mudam de parque todos os dias, mas daqui a pouco tempo será 2 vezes por dia. D - Nas pastagens biodiversas temos postes de madeira fixos numa malha de 90 m x 600 - 1000 m de largura. Nas zonas de pastagem natural é igual, mas os postes estão fixados a cada 180m. A rede está eletrificada por setores. O energizador está no armazém, ligado à corrente. É importante montar um bom sistema de terra num sítio onde o solo esteja húmido. Onde notam resultados deste maneio? Augusto (A) - Em tudo, em termos de trabalho, na poupança de pastagem e na saúde dos animais. As vacas estão lindas, e cada vaca tem um bezerro — estão a dar de mamar e estão assim. E também no tempo que se ganhou: antes, por exemplo, demorávamos imenso tempo a encontrar os bezerros que nasciam. Agora, sei sempre onde estão os animais e eles vêm logo ter comigo. Como foi a adaptação a este tipo de uso das cercas elétricas? R - Ao inicio tinhamos mais problemas em solos mais duros para espetar os espigões, mas tem vindo a melhorar. Penso comprar um berbequim de 18V e uma broca de betão com um calibre inferior ao do espigão para andar na moto 4. Ouvi dizer que ajuda.

Quais foram os principais desafios na transição para este maneio? D - Sobretudo a água de beber para as vacas. Foi necessário fazer investimentos para evitar que tivessem que andar mais de 500 m para beber. Existem algumas nascentes na herdade, e um furo alimentado por um painel solar que leva a água para o ponto mais alto. Por gravidade, a água é distribuída pelos vários bebedouros através dum tubo enterrado de 1 1/2". Ao aumentar os pontos de água, beneficiámos essas zonas.

distintos tamanhos, dependendo do sítios onde há melhor disponibilidade forrageira.

Qual é a capacidade dos bebedouros? D - Cerca 1500 litros, com bóia, para permitir o enchimento quando o nível de água baixa em demasia. Na zona dos bebedouros também se encontra o bloco mineral. As vacas usam-no mais, ou menos, de acordo com a época do ano.

Que resultados notam na pastagem? A - A erva vem com mais força, talvez por o pasto ficar bem comido, o estrume mais concentrado e porque os parques ficam a descansar 1 ano. Dantes não havia descanso, as vacas voltavam ao mesmo parque passadas 5 semanas. Ao início não acreditei mas depois vi que dá resultado. D - O facto de darmos este período de descanso de 1 ano, para a planta também se traduz em reservas nas raízes que, antigamente, não tinham oportunidade de se formar. As plantas mais palatáveis da pastagem não tinham hipótese. Cada vez ficavam mais as plantas indesejáveis e as boas começavam a desaparecer... A - Antigamente isto estava cheio de cardos, agora não se vê um.

Usam o Pasture Map para planificar os parques. Porquê? D - Gosto muito desta aplicação porque me dá a informação toda. Por GPS, consigo saber logo a área do parque de amanhã. Consigo também os registos passados, como o tempo que os animais passaram em cada parcela. E posso planear o futuro: saber se tenho, ou não, comida para, pelo menos, 1 ano. Hoje, especialmente com as incertezas das secas, etc., planear ajudanos imenso. De momento, a herdade está dividida em 480 parques virtuais de

Como era antes a alimentação das vacas? D - Nesta altura do ano já começávamos a ficar sem comida e tínhamos que dar feno até novembro/dezembro. Dávamos também tacos, concentrado e farinha. As acidoses ruminais eram um problema frequente. Hoje, com o aumento da forragem em pé e o correto planeamento dos movimentos dos animais, conseguimos, apenas com suplementação proteica, suprir as necessidades das vacas e eliminar praticamente os problemas que tínhamos.

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O distribuidor de fardos retangulares poupa muita mão-de-obra. Na opinião dos irmãos Ribeiro da Cunha, "é um investimento que compensa".

Como fazem essa suplementação? D - Usamos luzerna desidratada em fardo. O objetivo é que as vacas tenham sempre 7 a 8% de proteína para conseguirem digerir esta fibra e se manterem em boa condição corporal. Suplementamos desde o início de agosto até meados de outubro, depende de quando vêm as primeiras chuvas e a erva mais rica em proteína. Este ano vamos começar a dar, progressivamente, a partir de julho, começando com uma dose inferior, para melhorar a condição corporal. R- Isto para tentar que os animais não caiam muito, porque isso acaba por sair-nos mais caro. Custa mais recuperar a condição corporal dos animais do que mantê-la. D- É importante manter a população microbiana dentro do rúmen o mais estável possível. Penso que o facto de mudarmos os animais todos os dias dá-lhes acesso a uma maior variedade de forragens, o que favorece as populações microbianas que vão acompanhando as estações do ano. São as bactérias que alimentam a vaca. Veêm melhorias ao nível do ecossistema? R - Claramente, pássaros que há algum

A app PastureMap permite medir uma série de parâmetros importantes para a melhor tomada de decisões de gestão de pastoreio. De momento, a herdade está dividida em 480 parques virtuais de distintos tamanhos, dependendo do sítio onde há melhor disponibilidade forrageira.

tempo não víamos aqui e raposas que eu já não via desde pequeno. D - Ao nível da biodiversidade, sim, basta levantar uma bosta para ver isso. Que mais existe aqui na herdade? R - Temos manchas de pinheiro manso com algumas repovoações, e pinheirobravo. Também há abelhas perto. Queremos, no futuro, integrar outras espécies de animais. Ovelhas? Talvez acabassem por complementar o pastoreio das vacas. A - Sim, as ovelhas acabavam por comer o resto disto. D - Nos sítios onde há silvas, as cabras seriam úteis. Evitariam a necessidade do corta-mato. R - Hoje em dia, qualquer investimento que evite o uso de combustíveis faz todo o sentido. A condição fitossanitária do sobro tem melhorado? Como resiste o renovo à mordida dos animais, com este tipo de pastoreio? A - Estragam muito menos! 056

D - Acho que faz toda a diferença. Anualmente instalamos 25 ha de pastagem permanente biodiversa, onde previamente foi protegido todo o renovo. É aqui que os animais vão andar durante o verão possibilitando assim que, na altura de maior crescimento dos sobreiros, devido à alta taxa de fotossintese, 95 % do montado, que é a única coisa verde na pastagem, não esteja ao alcance das vacas. Depois, em outubro, quando a erva verde volta as vacas já não querem saber dos sobreiros jovens. Antigamente, quando as vacas passavam 2 semanas ou mais num parque, era uma desgraça. Às vezes, o facto de mudarmos os animais de um dia para o outro já faz a diferença. Acho que, assim, podemos fertilizar o montado sem o prejudicar. Em relação à qualidade da cortiça, é cedo para saber, mas a mortalidade dos sobreiros tem vindo a diminuir. Temos alguma Phytophthora mas tem vindo a melhorar bastante. A cobrição é natural? Quantos touros têm? D - Dois, mas à medida que aumentamos


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AGRICULTURA REGENERATIVA

as vacas, temos de aumentar os touros para estimular a competição entre eles. Também começámos a concentrar os partos mais perto da primavera, de modo a que as vacas tenham melhor colostro e os bezerros uma melhor alimentação. Qual é a taxa de fertilidade? D - É cedo para dizer porque até ao ano passado as vacas ficavam com o touro o ano todo. Depois passou para 6 meses, agora 4 e o nosso objetivo é chegar aos 3 meses para concentrar a época de parições. Mas penso que deve rondar os 80%. Com a consolidação da condição corporal, acho que vai ser possível chegar aos 90%. A herdade está em modo de produção biológico? Como escoam o produto? D - Estamos no segundo ano do período de conversão. Até agora, temos vendido quase sempre para o leilão de Montemor, com cerca de 7-8 meses. A nível de preços, o mercado animou alguma coisa ultimamente mas, como ainda não vendemos este ano, não tirámos partido disso. Tenho pena que o facto de estar em modo de produção biológico ainda não se reflita numa receita maior para o produtor. Estão satisfeitos com a qualidade da carne? D - Embora ainda não tenhamos tido feedback de clientes, nós comemos esta carne e gostamos muito. E sabemos que ao nível nutricional é de qualidade superior, por exemplo, com valores de ácidos gordos poli-insaturados omega-3 altos e omega-6 baixos. A - É do melhor que há - é mesmo natural. Se as vacas falassem, diriam que estão mais contentes agora ou quando andavam à solta? A - Agora. Tenho dito muitas vezes que era capaz de as levar ao café, a Lavre. Eles não acreditam, mas eu tenho mesmo a certeza (risos). Antes, as vacas nem nos podiam ver, agora ando no meio delas e toco-lhes à vontade. As vacas não estão stressadas. Não precisamos de cajados, cães, gritos… Do Sol para o Solo, do Solo para a Erva, da Erva para o Animal e logo para nós... R - Pensamos os três da mesma maneira - temos que deixar isto melhor do que encontrámos.

O QUE É O "MOB GRAZING" A tradução para português de Mob Grazing seria algo como Pastoreio em Bloco ou Multidão/ Turba. Consiste na concentração de todo o efetivo no menor número de manadas possível e com densidades animais de até 1000 CN/ha/dia, a produzir um forte impacto animal na pastagem durante um curto espaço de tempo (de horas até 4 ou 5 dias), seguido de um período longo de repouso desta pastagem sem entrada de animais (de semanas até 1 ano ou mais). A densidade escolhida e o tempo de repouso das pastagens dependem no clima, da época do ano, do solo, da capacidade de produção forrageira da pastagem, da altura do ciclo de vida do animal e das intenções do criador, mas há algumas regras a seguir: 1. Não adote receitas – experimente e adapte à sua realidade; 2. Não produza sobrepastoreio. Regra geral, deve deixar os animais comer 60% e deixar 40% de resíduo pisoteado. Não os deixe "rapar" tudo, especialmente na última passagem antes do verão. Se o solo e a sua rede trófica de colaboradores não tiverem comida e proteção, vai haver cada vez menos erva; 3. Monitorize a condição corporal dos animais e ajuste-a para que não caia. Se necessário, complemente com proteína; 4. Use a criatividade para suplantar os problemas técnicos; 5. Tenha uma planificação feita para saber de onde vem e para onde vai; 6. Não poupe no tempo de recuperação das pastagens – mais tarde vai agradecer-se por ter dado tempos mais longos. Este sistema foi popularizado inicialmente por Allan Savory e veio a sofrer muitas adaptações, modificações e ramificações. Uma delas é o Strip Grazing, ou Pastoreio em Banda/Faixa, no qual se subdivide um parque maior em parques mais pequenos, apenas avançando com uma linha de fio elétrico e deixando a água no início. Hoje existem adeptos muito conhecidos do mob grazing, como é o caso de Greg Judy – Regenerative Rancher (https://www.youtube.com/channel/UCi8jM5w49UezskDWBGyKq5g).

A - A herdade não tem nada a ver com o que era quando aqui chegámos em 2015. A todos os níveis. Eram só silvas, mato… Os atores principais neste projeto são as vacas. Acham que elas dão conta? A - Acho que sim. Antes fugiam de nós e eu andava atrás delas. Agora é o contrário, elas é que andam atrás de nós. D - Sim, às vezes parece que fazemos parte da manada. As vossas vidas melhoraram desde que começaram com este tipo de maneio? A - Sim, havia dias que não conseguíamos ver o que queríamos. Agora, sei sempre onde estão os animais. E também temos menos problemas, nunca mais tivemos uma vaca coxa, por exemplo, nem tivemos que curálas por causa "dos carraços". D - Sim, agora tenho muito mais tempo para a família. a meio da manhã está tudo visto. E temos mais tempo para fazer outras operações culturais: plantar árvores, protegê-las, fazer enxertias… R - Conseguimos fazer de antemão vários parques. Antigamente, fazíamos um trabalho muito longo e pouco produtivo, andávamos muito tempo atrás dos animais. Para quem está a começar agora neste tipo de gestão do pastoreio, 057

ou que tem dúvidas, que conselhos deixam? R - O mais importante é perceberem o sítio onde estão, as características, e não querer forçar as coisas. A partilha de conhecimento é importante, mas cada caso é um caso. E sempre ir passo a passo, não querer ir à pressa, construir bem os alicerces primeiro. Isto também se baseia nas experiências que cada um vai tendo, os sucessos e os insucessos. A - Dia a dia, estamos sempre a melhorar. Vamos discutindo ideias e experimentando. Não há receitas! D - Principalmente, perceberem como o sistema funciona. É muito importante irem às explorações de outras pessoas que já começaram, perceberem onde é que elas cometeram erros para poder evitálos. Ler sobre o assunto vai ajudar a ter uma perspetiva muito positiva. As nossas principais fontes de inspiração para o pastoreio foram o Allan Savory e o Jaime Elizondo, mas queria referir aqui o Manuel Dié que, quando comecei a ouvir falar da Gestão Holística, foi uma referência para mim. Foi um dos que deu o pontapé de saída nisto. Também o Frederico Macau, o Joaquim Mira e o Francisco Alves. Quando uma pessoa começa a ver os vizinhos a fazer, e vai lá ver.… a partilha de informação é fundamental. O grupo da Tertúlia Holística tem sido uma enorme mais valia.


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BOVINOS DE CARNE

EL ENCINAR DE HUMIENTA INVESTE EM BOVINOS EM MODO BIOLÓGICO

EL ENCINAR DE HUMIENTA, S.A., UMA DAS EMPRESAS ESPANHOLAS LÍDER NO SETOR DA CARNE DE BOVINO, FEZ UM ACORDO COM A EMPRESA PORTUGUESA VALECEREAL, S.A. PARA A PRODUÇÃO DE CARNE DE BOVINO BIOLÓGICA EM PORTUGAL. Fotos El Encinar de Humienta, João Valente

A

empresa El Encinar de Humienta, S.A., possui um matadouro em Almaraz (Cáceres) e fábrica de corte, desmancha e processamento de carne em Mercamadrid. O acordo estabelecido com Valecereal, S.A, uma empresa agropecuária portuguesa com um longo histórico de produção biológica, tem por objetivo a produção conjunta de 1000 bovinos num ciclo de engorda contínuo. O projeto será realizado em várias explorações da Valecereal, que explora 1200 ha entre os municipios de Castelo Branco e Idanha-a-Nova. Para o seu desenvolvimento, ambas as empresas estão a estabelecer contactos com criadores portugueses de gado biológico com vista ao fornecimento de animais de engorda. Valorizando essas explorações pecuárias que até então comercializavam os seus animais biológicos como convencionais.

Não restam dúvidas da importância nos mercados internacionais da procura deste produto, bem como do importante efetivo que Portugal tem recebido no âmbito da agricultura biológica e/ou em conversão. A engorda dos animais nas instalações da Valecereal será desenvolvida com o sistema custom grazing1, baseado na pecuária extensiva. A alimentação do efetivo tem por base várias misturas forrageiras multiespécies, em complemento com a gama Biofeed do grupo Nanta. Esta dieta é nutricionalmente equilibrada e todos os seus ingredientes são produzidos em modo biológico e certificados pela legislação em vigor. O acompanhamento médicoveterinário deste projeto está a cargo de Pedro Hilário Cardoso e terá a colaboração de diferentes universidades europeias interessadas no estudo deste sistema de produção.

El Encinar de Humienta abate atualmente cerca de 500 bovinos por dia e desossa 150 toneladas por dia, entre duas unidades de produção onde conta com mais de 500 funcionários diretos. A empresa desenvolveu diferentes projetos de carne de qualidade, tais como uma linha de produção de Angus,

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outra linha de produção de carne sem antibióticos, uma linha de carne biológica, bem como uma colaboração com a Fedelidia (uma associação que reúne todos os efetivos tauromáquicos de Espanha e Portugal) para a colocação no mercado de carne de gado proveniente de ganadarias de lide abatido nas instalações da empresa, uma raça 100% autóctone com dupla aptidão, carne e lide. Tudo o que se relaciona com a qualidade, o bem-estar animal e proteção ambiental é um objetivo prioritário e um requisito para nós. Além do mencionado, El Encinar de Humienta possui uma divisão de hotelaria com produtos de alta qualidade fornecidos a restauração de nível top. Custom grazing1 - Termo relativo a um acordo no qual no qual um proprietário de gado paga taxas de pastoreio a outro pelo fornecimento de pasto, água e o expertise em gestão de pastoreio.


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AGRICULTURA REGENERATIVA

A IMPORTÂNCIA DUM GRÁFICO DE PASTOREIO

SOBRE A IMPORTÂNCIA DO GRÁFICO DE PASTOREIO E A RESISTÊNCIA À PLANIFICAÇÃO POR PARTE DE MUITOS CRIADORES DE GADO, ALLAN SAVORY FALA DA SUA PRÓPRIA EXPERIÊNCIA ENQUANTO CRIADOR E DIVULGADOR DA UTILIZAÇÃO DESSA FERRAMENTA DE TRABALHO, INDISPENSÁVEL, NA SUA OPINIÃO, PARA CONSEGUIR TER SUCESSO NA GESTÃO DA COMPLEXIDADE DO PASTOREIO PLANIFICADO HOLÍSTICO. Por Por Allan Savory Traduzido e adaptado por André Antunes, com a autorização de Jody Butterfield, Curadora do Instituto Savory | Fotos Instituto Savory

N

ão preciso de um gráfico para planificar o meu pastoreio. Esta frase resume a resistência que muitos criadores de gado continuam a ter em adotar a utilização de um Gráfico de Pastoreio. Sobre este assunto, Allan Savory conta um episódio que se passou consigo quando um senhor francês ensinava Pastoreio Planificado Holístico a um grupo de pastores da Alemanha. Perante a insistência dos pastores em utilizar um calendário em vez de um Gráfico de Pastoreio, o formador decidiu informar Allan Savory da situação, que lhe deu esta resposta:

"Ainda bem que me informou da dificuldade que sentiu ao ensinar o processo do Pastoreio Planificado Holístico aos pastores alemães. Eles são exatamente como os primeiros produtores da África Austral eram e como quase todos o são nos EUA, apresentam as mesmas desculpas e razões: Não podemos planificar porque as coisas mudam constantemente; não podemos planificar porque não sabemos como serão as chuvas, não podemos planificar por isto ou aquilo…ou, Não necessitamos de planificar porque conhecemos tão bem a nossa pequena exploração. E assim por diante. De facto, quantas mais razões evocam

Clifford Allan Redin Savory, (nascido a 15 de setembro de 1935), é um ecologista do Zimbabué, criador de gado, presidente e cofundador do Instituto Savory.

060

para não planificar, mais estão realmente a apresentar as razões pelas quais DEVEM planificar. Ao lidar com criadores de gado nos EUA e em África, costumava perguntar-lhes o que fariam se fossem comandantes e, durante a guerra, ao visitar um oficial no terreno numa posição defensiva e perguntar-lhe que plano tinha, ele respondesse: Não posso planificar porque não sei o que o inimigo vai fazer - tenho de ver o que eles fazem primeiro! Eu despedi-lo-ia rapidamente. A vocês, criadores de gado, com todas essas desculpas, não posso despedir, mas a economia fá-lo-á, — eventualmente vão fracassar e falhar.


A importância de um gráfico de pastoreio

AGRICULTURA REGENERATIVA

De seguida, dava-lhes um exercício para equipas de dois — um mapa de uma propriedade simples com algumas vedações, pontos de água, terras de cultivo e algumas informações sobre o número de cabeças de gado, vacadas, épocas de cobrição e partos. Fornecia calculadoras, lápis e calendário e pedia que planeassem mentalmente — como afirmavam conseguir fazer — onde colocar os animais durante os próximos 6 meses. Ah!, e não podiam pastorear nenhuma terra mais de dois dias, nem regressar ao mesmo parque antes de, pelo menos, dois meses. Ao deixá-los com aquele simples exercício, acabava sempre tudo numa confusão, com os dias de pastoreio marcados nos seus calendários e a incerteza sobre os tempos de recuperação e onde colocar os animais – à mistura com muita discussão e discórdia. Então eu dizia: Certo! Deixemos isto de lado e

esqueçamos - agora já sabem que não podem planificar como me disseram que podiam apenas com calendário e mapa, sabendo realmente o que fazer a seguir. Então, entregava a cada equipa um Gráfico de Pastoreio e um Pró-Memória e, em conjunto, limitávamo-nos simplesmente a seguir, passo a passo, o Pró-Memória usando exatamente a mesma propriedade que antes dera origem a tanta confusão. Não permitia que passassem ao passo seguinte até que tudo estivesse discutido e se tivesse agido em conformidade (i.e. conforme anotado no Gráfico de Pastoreio). Deste modo, tudo prosseguia sem percalços e rapidamente surgia um plano. Contudo, apesar de isto dever ser suficiente para mostrar a qualquer pessoa que o processo de planificação é MUITO simples, livre de arrelias e que se chega sempre ao melhor

plano possível, quase todos os criadores, mais tarde, nas suas explorações, voltavam ao lápis, calendário, etc. Posteriormente, diriam que o Pastoreio Planificado Holístico não funciona... Este foi quase sempre um problema masculino. Quando trabalhei com viúvas, durante a nossa longa guerra, foi muito diferente — elas não tinham qualquer problema em perceber a importância de passar tempo com o Pró-Memória, com o Gráfico e a pensar... Sublinho isto, porque se trata de um problema muito generalizado. Poucos meses após ter iniciado a formação de mais de 10.000 produtores nos EUA, estes, em conjunto com alguns cientistas académicos tinham desenvolvido cerca de 13 novos sistemas de pastoreio, evitando o processo do Pastoreio Planificado Holístico. Todos se estão lentamente a desmoronar porque nenhum

gere a complexidade. Acreditamos que o movimento dos hubs Savory, a formação de profissionais acreditados e a constante actualização, comparação e partilha de experiências ajudarão a ultrapassar esta inevitável resistência (principalmente masculina) à planificação e ao compromisso que leva à diluição de todo o processo de Pastoreio Planificado Holístico. Estou muito grato por tudo o que estão a fazer. Por favor, continuem e deixem-nos ajudar no que pudermos." Allan Savory NOTA: Se quiser fazer a planificação de pastoreio do seu efetivo e a criação do Gráfico de Pastoreio peça ajuda a um profissional capacitado oficialmente para tal como, por exemplo, um Profissional Acreditado Savory, através do email: alejabhm@gmail.com.

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EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE

MANTÉM-SE O SOSSEGO NA VACARIA?

REVISITÁMOS A VACARIA DO PRODUTOR ANTÓNIO AVELINO, EM GONDIFELOS, CONCELHO DE FAMALICÃO. O PROPÓSITO FOI SABER DA SUA IMPRESSÃO ACERCA DO ROBOT DE ORDENHA GEA MONOBOX R9500, PASSADOS 2 ANOS DA SUA AQUISIÇÃO. Por Ruminantes Fotos FG

O produtor António Avelino e Luis Reis, técnico comercial da GEA.

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Mantém-se o sossego na vacaria?

EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE

Passados 2 anos, o sossego mantém-se na vacaria? Sim. Talvez até um pouco mais, porque eu e as vacas já estamos completamente adaptados ao novo sistema de ordenha e ao novo ritmo, mais tranquilo, de trabalhar na vacaria. Também estou muito mais confiante do que no início, em que tudo era novo. A aquisição do robot foi, sem dúvida, uma boa aposta. Nessa altura, a produção de leite estava em 2000 litros/dia e o objetivo, a um ano era chegar aos 2500 litros de leite. Conseguiu? Está conseguido, agora é ir melhorando a produção, sempre um pouco mais. Nos 2 anos que passaram, fez investimentos na exploração? Nas instalações da recria e vacas secas, construímos um pavilhão de “cama quente”, com 375 m2, onde temos as novilhas prenhas e as vacas secas. O objetivo foi dar-lhes as condições que elas merecem, incluindo mais conforto. Estão aqui desde abril deste ano. Na vacaria e nas vacas em produção não fizemos investimentos. Qual é a sua rotina atual de trabalho? A primeira coisa que faço é consultar o computador, para ver que tarefas temos para o dia. Depois, vamos para a vacaria limpar os cubículos, tocar alguma vaca atrasada, fazer algum tratamento e preparar e distribuir o alimento. Que indicador utiliza para medir a rentabilidade do robot? Continuo a olhar para o leite produzido por vaca/dia, e também para a sua qualidade. O que é, para si, um bom indicador? A média de produção deve estar, no mínimo, em 40 litros/ vaca/dia. Com a ordenha

tradicional estava nos 36 litros. A qualidade do leite tem estado em 3,65% de gordura e 3,2% de proteína.

fora de horas (risos). Apenas pontualmente.

Já teve problemas de avarias e de ter que recorrer Quanto ordenha este robot à assistência da Gondimil? Só tive uma complicação por dia? quando estava a montar o Cerca de 2500 litros. gerador, um problema com o sistema elétrico bloqueou o Mantém as 2,5 ordenhas diárias por vaca? computador, e estivemos umas horas a atualizar o sistema. Depende da fase da lactação Mas foi tudo resolvido muito em que se encontram, se estão perto do pico de produção ou da rapidamente. Uma vantagem fase de secagem. Neste momento deste robot é que pude estou com 2,8 ordenhas, por vaca continuar a fazer a ordenha “manual”, ainda que “cega” por dia. (isto é, o robot não identifica a vaca, tem que ser o operador Tem muitas vacas que se a introduzir o número da vaca atrasam a ir ao robot? e a colocar as tetinas à mão), Só casos pontuais, das que enquanto a assistência fazia estão no fim da lactação, que o seu trabalho de atualizar o estão mais pachorrentas, tranquilas, e em que a pressão do sistema. leite no úbere já não é muita… Mudou alguma coisa na Passados 2 anos, que equipa de trabalho? balanço faz da aquisição do Não, em equipa que ganha robot? não se mexe, somos os Estou muito satisfeito. mesmos. Continuo a ter o Olhando aos animais, os mesmo empregado, a mesma problemas reduziram-se ao veterinária, os mesmos mínimo, a saúde do úbere parceiros... melhorou significativamente e as mamites praticamente A assistência, é desapareceram, além de que importante? E o custo? andam muito mais tranquilos. Muito importante! Repare A produção subiu, no mínimo, 4 que a máquina está sempre litros de leite por vaca e dia. a trabalhar, não pode haver falhas. É muito importante que Olhando à parte humana, o robot seja bom. A assistência temos mais tempo livre, e podemos geri-lo como ainda melhor. Até ao momento, queremos. estou muito satisfeito. Quanto Em termos de despesas, como compara o robot com a ordenha tradicional? Os custos com a energia mantiveram-se, continuo a pagar mensalmente mais ou menos o mesmo valor. Ao nível dos consumíveis houve um ligeiro aumento porque temos mais ordenhas, 2,8 em vez das 2 no sistema tradicional. Tem muitos alertas no telemóvel? Nem por isso. As vacas e o robot não me incomodam 063

ao custo está a ser como o esperado, tenho um valor anual contratado e está a ser cumprido. O que diz a quem equaciona a passagem para robot? Que quem não tem vocação para robot, não ponha. É preciso gostar. O robot faz muita coisa, mas não faz tudo. Temos que estar atentos e disponíveis. Se tivermos alertas, temos que reagir rapidamente. O robot é uma máquina que trabalha 24 horas por dia. Qualquer fábrica, de qualquer setor, que trabalhe o dia inteiro tem que ter sempre operários presentes. Aqui deveria passar-se o mesmo, por isso temos que estar disponíveis e acreditar na máquina e na equipa de assistência. Que objetivos tem para os próximos anos? Melhorar a genética, para conseguir rentabilizar ainda mais o robot. Quero animais com melhores úberes e com descarga mais rápida do leite. Mais do que muitos animais, quero melhores animais. Se puder chegar ao limite do robot com 60 animais, não quero ter 65. Prefiro chegar ao limite do robot com 3 ordenhas vaca e dia, do que com mais vacas. Cada ordenha tem um custo.

DADOS DA EXPLORAÇÃO Ano Nº empregados

2020

2022

1

1

Efetivo total

112

112

Nº vacas em ordenha

57

60

Nº ordenhas/dia Produção robot/dia Produção média diária/vaca (l)

2,5

2,8

2.000

2500

36

+ de 40

3,6/ 3,2/ 180.000

3,6/ 3,2/ 140.000

Nº médio lactações/vaca

3

3,4

Idade ao 1º parto (anos)

2

2

Intervalo entre partos (anos)

1

1

Nº inseminações/vaca adulta

2

2

TG leite/ TP leite/ CCS (cél./ml) (%)


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EQUIPAMENTO | NANTA DAIRY ROBOT

ROBOTS DE ORDENHA: COMO OTIMIZÁ-LOS

A MUDANÇA DA ORDENHA CONVENCIONAL PARA A ORDENHA ROBOTIZADA É UMA DAS DECISÕES MAIS IMPORTANTES QUE UM PRODUTOR PODE TOMAR. TENTAMOS, NESTE ARTIGO, ESCLARECER AS PRINCIPAIS DÚVIDAS E PREOCUPAÇÕES QUE ACOMPANHAM ESSA DECISÃO, RELACIONADAS COM A NECESSIDADE DE AUMENTAR A PRODUÇÃO DE LEITE DA EXPLORAÇÃO PARA AMORTIZAR O INVESTIMENTO O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL. Foto FM

A

umentar a produção de leite num efetivo com robots de ordenha implica pensar em como produzir mais leite por vaca e como otimizar a produção de leite por robot. Estes são aspetos subtilmente diferentes de tentar chegar ao mesmo objetivo. MANUEL RONDÓN FERNÁNDEZ Médico veterinário Dairy Product Manager Nanta m.rondon@nutreco.com

QUAL É A PRODUÇÃO DE LEITE ATUAL DA EXPLORAÇÃO E QUAL DEVE SER A PRODUÇÃO DE LEITE DESEJADA? O objetivo de produção de leite/vaca deverá ser superior a 40 kg/vaca/dia, e a 2.400 kg de leite vendido/robot/dia e, no mínimo, de 3 ordenhas/vaca/dia. Otimizar o kg de leite vendido/robot deve ser sempre o objetivo final. 064

Alcançar estes objetivos não é fácil, pois tentar aumentar a produção de leite em explorações com robots exige uma avaliação adicional de inúmeros parâmetros (KPI's) para encontrar os fatores limitantes. Um esforço desmedido para melhorar esses parâmetros pode levar-nos a diminuir o tempo livre do robot e a não atingir os objetivos desejados. NANTA DAIRY ROBOT A NANTA desenvolveu um modelo de consultoria chamado NANTA Dairy Robot para ajudar o produtor a configurar o robot para que este trabalhe de forma ideal e eficiente, independentemente da marca e modelo, obtendo a máxima rentabilidade da sua exploração.


Robots de ordenha: como otimizá-los

EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE

Este modelo baseia-se em 3 pontos chave: - Trabalho de consultoria: a nossa equipa de técnicos especializados em alimentação e trabalho com robots oferecem um suporte personalizado para otimizar o desempenho do robot e das suas vacas. - Elaboração de um plano alimentar personalizado: utilizamos as forragens produzidas na exploração, conjugadas com o concentrado de unifeed e de robot, denominado de Dairy Robot. - Análise contínua dos principais parâmetros e indicadores fornecidos pelos robots para identificar as oportunidades de melhoria e problemas na sua exploração. COMO RETIRAR O MÁXIMO RENDIMENTO DO ROBOT? Os robots de ordenha estão repletos de tecnologia, fornecendo muita informação em contínuo, por vezes em excesso, de forma um pouco confusa e difícil de entender, adicionando um desafio extra à gestão de explorações com robots. Muita informação pode gerar dúvidas, tais como: - existem oportunidades de melhoria na minha exploração? - a eficiência do meu robot de ordenha ainda pode ser melhorada, mas como fazê-lo? Para resolver essas dúvidas, a NANTA Dairy Robot desenvolveu uma ferramenta de avaliação da eficiência do robot de ordenha. A partir da análise e avaliação duma ampla variedade de indicadores chave (KPI's), identificamos as oportunidades de melhoria e os problemas que estão a limitar a eficiência do robot e, portanto, a rentabilidade da exploração, possibilitando uma intervenção mais rápida. PRINCIPAIS KPI'S ANALISADOS ​​NO NANTA DAIRY ROBOT Alguns dos KPIs mais importantes que analisamos mensalmente são os seguintes: • Dias em leite (DEL): o DEL está intimamente relacionado com a duração do período seco e é um bom indicador da eficiência reprodutiva e maneio do rebanho. A média para 12 meses é de 160 a 170 dias. Cada dia acima de 160 dias resulta numa perda de 0,1 kg/vaca/dia. Se o DEL for > 200, pode indicar um problema reprodutivo no rebanho que reduzirá a frequência de ordenha, principalmente em explorações com sistema de tráfego livre. • Percentagem de vacas > 45 kg de leite: quando o valor está entre 5 a 15%, indica que a nutrição não é limitante. Se

houver menos de 5% de vacas, tal pode indicar que: - a nutrição está a limitar a produção; - existe falta de comida na manjedoura ou a reposição de comida é insuficiente; - as permissões de acesso ao robot e/ou as tabelas de alimentação estão incorretas; - a frequência de ordenha é muito baixa (< 2,5/vaca/dia). • Percentagem de primíparas: o objetivo deve ser < 30% e o ideal do ponto de vista económico é 25%. Normalmente, as novilhas produzem 75 a 80% da quantidade de leite das multíparas. As novilhas tendem a ser mais nervosas, indo ao robot com muita frequência (especialmente com tráfego livre), resultando em taxas de rejeição elevadas e reduzindo, assim, o tempo de ordenha do robot. Pelo contrário, se a exploração tiver problemas de hierarquia, irão menos ao robot por terem uma ordem social mais baixa, farão menos visitas e diminuirão a frequência de ordenhas/dia. • Rácio entre o pico de produção de novilhas e multíparas: idealmente, deve ser > 75% e < 80%. Valores inferiores a 75% indicam que as novilhas não atingem o pico de produção desejado e será necessário verificar os seguintes aspetos: - desenvolvimento das novilhas ao parto (peso e idade ao 1º parto); - racionar a energia; - tabelas de leite: kg de alimentação e momento do pico (DEL); - adaptação das novilhas ao robot; - acessos ao robot. Se o rácio for superior a 80%, indica que as multíparas não atingem o ponto máximo de produção de leite, devendo-se verificar: - a condição corporal das vacas no primeiro mês pós-parto; - o programa de transição: incidência de doenças metabólicas; - digestibilidade das forragens; - tabelas de leite: kg de alimentação e momento do pico (DEL). • Tipo de tráfego: em explorações com tráfego livre, as vacas decidem quando ir até ao robot e podem mover-se livremente entre o robot, a cama e o corredor de alimentação. Por outro lado, no tráfego guiado, o movimento da vaca da cama para o robot é sempre direcionado antes de acederem ao corredor de alimentação. Explorações com tráfego livre produzem mais 1,1 kg leite/vaca e mais 68 kg leite/ robot do que com tráfego guiado. O tráfego 065

guiado altera o comportamento alimentar das vacas, diminuindo a ingestão total de alimento que uma vaca consome, a quantidade total de tempo que uma vaca come e o número de vezes que uma vaca visita o comedouro. Afeta negativamente o comportamento das vacas tímidas (novilhas) mais do que o das vacas dominantes, com tempos de espera mais longos para entrar no robot e menos tempos de descanso. Vacas tímidas mostraram esperar mais tempo para usar o robot do que vacas mais dominantes. • Ingestão de matéria seca (IMS): as vacas estão a consumir a quantidade adequada de matéria seca na manjedoura para incentivar as visitas ao robot? A humidade das silagens e subprodutos húmidos da ração é analisado periodicamente? A ração é ajustada ao número de vacas em cada lote? O unifeed pesa corretamente? A ração da manjedoura (PMR - Partial Mix Ration) é a mesma que a formulada? O PMR está formulado corretamente para encorajar as vacas a irem ao robot? Com que frequência a comida é empurrada para a manjedoura? As forragens são analisadas periodicamente para determinar a sua digestibilidade e antecipar possíveis flutuações no consumo de matéria seca? As vacas têm sempre comida na manjedoura?... Estas são algumas das muitas questões que devemos colocar para otimizar a eficiência do robot e maximizar a rentabilidade da exploração. As vacas em explorações de robots tendem a alimentarem-se, e ordenharem sobretudo quando a atividade humana na exploração aumenta, tendo hábitos diurnos (das 6h às 22h) e consumindo significativamente mais ração nos 60 minutos após a ordenha. • Dieta: o maior desafio para o produtor e o nutricionista é passar duma ração totalmente misturada na manjedoura (TMR) para uma ração parcialmente misturada (PMR) acrescida de um granulado administrado no robot. Ao gerir adequadamente a PMR em conjunto com um granulado de boa qualidade e altamente palatável, garantimos que as vacas sejam motivadas a visitar o robot, independentemente da configuração do estábulo. A melhor regra geral é equilibrar a ração PMR para 6-8kg abaixo da produção média do rebanho (especialmente com tráfego livre) e assim o número de atrasos diminui.


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• Qualidade e composição do granulado do robot: a NANTA desenvolveu uma ração específica para o robot de ordenha chamada DAIRY ROBOT que, com uma ração PMR equilibrada, alcança resultados impressionantes pelo tipo e qualidade do granulado. Existem tantos tipos e fórmulas de ração para robot no mercado quanto explorações com robot de ordenha, portanto não existe uma “ração milagrosa”. No entanto, a NANTA procurou um denominador comum: a qualidade do granulado, a combinação de ingredientes específicos e a palatabilidade, que são consistentemente excelentes. São a “guloseima” necessária para as vacas fazerem mais visitas ao robot. As vacas preferem granulados com poucos finos (máximo de 2%, idealmente 1%), mas nem todas as fábricas de ração são iguais e podem ter dificuldade em granular alguns ingredientes. A NANTA distingue-se no mercado pela fabricação de granulados de alta qualidade. Verifique a(s) tabela(s) de alimentação para garantir que a quantidade adequada de ração está a ser oferecida de acordo com o pico de produção e os dias de leite para multíparas e primíparas. Verifique a taxa de distribuição da ração para garantir que as vacas podem consumir a ração distribuída durante o tempo em que visitam a box. Verifique o resto da ração e a percentagem de ração consumida no robot. O ponto de referência da ração restante deve ser < 8% e é ideal quando é < 5% (ou 92 a 95% da ração consumida). Se os valores estiverem acima ou abaixo dos limites máximo ou mínimo, verifique as tabelas de alimentação para detetar em que momento da lactação ou grupo de lactação se desviam dos valores-alvo. • Instalações: há uma série de aspetos que necessitam de ser examinados para avaliar o seu papel na limitação da produção de leite. Estes incluem: - a densidade das vacas no lote de lactação, pois afeta a rentabilidade da exploração, influenciando o seu comportamento e a forma como usam o seu tempo, a saúde e a produção de leite. Tipicamente, as vacas passam de 10 a 14 horas/dia deitadas, mas quando são privadas desse tempo, os níveis de cortisol no sangue associados ao stress aumentam, enquanto os níveis da hormona do crescimento associados à produção de leite diminuem. Na verdade, as vacas priorizam o descanso sobre outras

atividades diárias e sacrificam o tempo de alimentação e os comportamentos sociais para maximizar o tempo de descanso. Para obter este tempo, a vaca deve ter acesso a um cubículo confortável e com uma densidade de animais ≤ 100%. Algum nível de sobrelotação é aceitável, mas geralmente não deve exceder 120% ou 1,2 vacas/cubículo. Se isso ocorrer, a produção de leite cairá, a vaca permanecerá mais tempo de pé e a incidência de claudicação aumentará. Explorações com robots e tempos de descanso > 14 horas estão associados a um maior número de vacas coxas e a uma menor produção de leite. - a limpeza dos cubículos, que devem ter uma boa manutenção e estarem limpos e secos para ajudar a manter as vacas limpas e reduzir lesões nos joelhos. Manter os úberes limpos e sem pêlos é importante, pois reduzirá o tempo de preparação e ajudará a manter baixo o tempo na box. Também devem ser confortáveis ​​para que as vacas fiquem deitadas e não em pé (sinal de que estão desconfortáveis), dificultando a passagem das novilhas e aumentando o tempo entre ordenhas. - o fornecimento de água, onde deve haver permanentemente à disposição das vacas água fresca e limpa com um mínimo de 10 cm lineares de bebedouro por vaca. - o acesso ao robot deve ser fácil. O estábulo deve ter espaço adequado para permitir que todas as vacas tenham fácil acesso ao robot, sem degraus que dificultem a entrada e saída. Menos tempo de espera significa menos tempo de descanso. A área em frente do robot deve suficientemente ampla para que as vacas não tenham problemas (5,5 metros entre o robot e a última fileira de cubículos). • a ventilação, que deve permitir o controlo da temperatura e da humidade em momentos de stress térmico. O ideal é dispor dum ventilador diretamente por cima do robot que direcione o ar para a zona da garupa da vaca. - a incidência de claudicação é importante em explorações com robots. Vacas coxas não costumam ir à ordenha voluntariamente e geralmente atrasam-se e reduzem a frequência de ordenha, pois geralmente são ordenhadas duas vezes ao dia. 066

• Número de ordenhas/robot: este valor é calculado multiplicando o número de vacas pela frequência de ordenha. O ótimo razoável deve ser superior a 180 ordenhas/ robot/dia. Se esse número for inferior, é necessário verificar: - o número de vacas/robot: no sistema de tráfego livre a meta é de 55 a 60 vacas/robot, nos sistemas de tráfego guiado é de 60 a 70 vacas/robot. O número de vacas por robot afeta a produção de leite porque a estrutura hierárquica do rebanho muda, sendo as vacas tímidas e as novilhas as mais afetadas em estábulos sobrelotados. Neste caso, o tempo livre do robot pode diminuir para 8-10% resultando em menos ordenhas/vaca, produção de leite diminuída, mais atrasos, mais mão de obra, tempos de espera mais longos com mais vacas esperando para serem ordenhadas e com menos tempo para descansar, com mais problemas de patas, úberes mais cheios de leite com a consequente perda de leite, mais mastites e, finalmente, menos rendimento; - o tempo livre do robot: deve ser cerca de 15%, para que todas as vacas possam ser ordenhadas quando quiserem ir à ordenha. Um tempo livre elevado poderá ser resultado dum reduzido número de vacas/ robot ou um tempo reduzido na box (< 6:30 minutos). Um tempo livre reduzido pode refletir demasiadas vacas/robot, um elevado tempo na box (> 7:30 min) ou um número excessivo de rejeições, não havendo tráfego livre e as vacas não irão voluntariamente ao robot. - a frequência da ordenha: é afetada por muitos fatores, incluindo o tipo de tráfego e o número de vacas por robot. Admitese que seja ≥ 2,5 ordenhas/vaca/dia para atingir a mesma quantidade de leite de uma ordenha convencional de 2 ordenhas/ dia, caso contrário, é necessário verificar se os acessos à ordenha estão devidamente configurados; - o número de rejeições: é uma medida importante da atividade. O benchmark é de 1 a 1,5 rejeições/vaca/dia. As rejeições estão diretamente relacionadas com a disponibilidade do PMR e o seu nível de energia. Se estiverem elevadas, isso pode indicar que as vacas procuram uma maior ingestão de matéria seca e/ou energia na ração do robot. É necessário verificar o tempo livre do robot, as permissões de acesso ao robot e o número de visitas. Se forem baixos, pode-se ajustar as tabelas de


Robots de ordenha: como otimizá-los

EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE

alimentação para maximizar as visitas e a produção de leite; - o número de falhas por robot: deve ser minimizado, porque reduz o tempo potencial de ordenha. O valor alvo seria zero, e um valor de referência menos que 5/robot/dia. Cada falha pode levar 5 a 8 minutos de tempo do robot. É conveniente fazer a manutenção diária do robot para minimizar falhas, assim como verificar se há tetos cruzados, úberes sujos, úberes com pêlo e caudas sujas. Uma conformação muito deficiente do úbere pode ser um problema e as vacas podem precisar de ser ordenhadas sob supervisão ou devem ser abatidas; - o número de atrasos: representam as vacas que é necessário ir buscar para serem ordenhadas, porque não o fazem voluntariamente num determinado intervalo definido pelo produtor. O valor de referência deve ser inferior a 5% das vacas que são ordenhadas. Algumas referências usam menos de 5 atrasos/robot/dia, mas o valor poderá ser diferente dependendo da quantidade de vacas por robot. Se houver mais de 5% de rejeições, as causas devem ser avaliadas: incidência de vacas coxas, % de primíparas, % ocupação do estábulo, nível de

energia do PMR, tipo de granulado do robot, tempo livre do robot, número de vacas/ robot, tipo de tráfego das vacas, instalações... • Kg de leite/ordenha: o ponto de referência é de 11 a 13 kg de leite/ordenha. A meta é ≥ 14 kg de leite/ordenha e a intervenção é necessária se ≤ 10 kg de leite/ ordenha. Se o nº de kg de leite/ordenha for baixo ou puder ser melhorado, então: - o tempo de ordenha pode ser baixo em relação ao tempo total na box: o tempo de ordenha deve ser ≥ 70% do tempo na box. Se o tempo na box for inferior a 6:30 minutos e o tempo total de tratamento permanecer em 2 minutos (o que geralmente acontece), então o tempo de ordenha fica aquém dessa meta; - a velocidade do leite é determinada principalmente pela genética e a preparação do úbere no início da ordenha: os diferentes fabricantes de robots calculam a velocidade do leite de maneira diferente e, embora essa diferença possa parecer trivial, os números realmente significam coisas muito diferentes em termos de robots. A velocidade do leite é hereditária, portanto, devem ser selecionadas novilhas de vacas

com maior velocidade do leite. A elevada produção de leite é uma realidade em explorações com robots e parece haver tanta variação no nível de produção de leite entre as diferentes explorações com robots de ordenha como nas explorações com sistemas de ordenha convencionais. A ordenha robotizada não resulta automaticamente numa produção de leite significativamente maior, mas existe potencial para consegui-lo com horários de trabalho mais flexíveis e menos mão de obra por litro de leite produzido. Na NANTA, estamos orgulhosos por oferecer um suporte completo de consultoria para alimentação e gestão da ordenha robotizada. Dispomos de uma equipa de técnicos com excelente conhecimento e larga experiência na gestão de explorações com robots, num processo contínuo de aprendizagem e troca de conhecimentos com todos os fornecedores de robots de ordenha para melhorar os resultados técnicos e financeiros das explorações com robots. Seja qual for o momento em que se encontre, quer esteja a ponderar instalar o seu primeiro robot de ordenha ou já tenha um robot há muitos anos, teremos todo o prazer em trabalhar consigo e ajudá-lo a rentabilizar ao máximo o seu investimento.

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EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE

OS BENEFÍCIOS DO EMPURRADOR AUTOMÁTICO DE ALIMENTOS

OS EMPURRADORES AUTOMÁTICOS DE ALIMENTOS PARA RUMINANTES SÃO HOJE EM DIA UM DOS PRODUTOS MAIS EM VOGA, PELA POUPANÇA DE MÃO-DE-OBRA E MELHORIAS NA EFICIÊNCIA ALIMENTAR DOS ANIMAIS. ESTES EQUIPAMENTOS SÃO RENTÁVEIS E BENÉFICOS PARA A SAÚDE DO ANIMAL, FERTILIDADE E PRODUÇÃO. Por Joana Tomás, Responsável de FMS (Farm Management Support), Lely Center V.N.Gaia, e-mail: atomas@alteiros.pt | Fotos Lely

O

que é a eficiência alimentar e por que é tão importante? Este indicador mostra a quantidade de alimentos necessários para produzir um litro de leite ou um quilo de carne. Para terem uma alta produção de leite, os animais devem ser capazes de atingir um alto consumo de alimentos sem grandes desperdícios alimentares. Na tabela 1 é explicado como a relação entre a ingestão (kg de matéria seca) e a produção de leite estão relacionadas com a eficiência alimentar. COMPORTAMENTO ALIMENTAR E DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS O comportamento alimentar é influenciado pela ingestão de matéria seca, frequência de alimentação, altura do dia, quantidade de alimento

e duração da alimentação. Conhecer os padrões alimentares das vacas permite ajustar a altura da distribuição do alimento e a altura em que se empurra o alimento. A vaca vai, normalmente, comer durante a manhã e a noite. Nas explorações leiteiras sem robot, estes padrões alimentares estão condicionados pela altura

da distribuição do alimento e a ordenha. Uma pesquisa conduzida pelo Centro de Investigação Aeres mostrou um aumento de 1% na ingestão de alimentos devido ao Lely Juno. Nos gráficos 1 e 2 verificamos que um menor número de refeições com quantidades maiores de alimento, resultam numa diminuição do pH do

TABELA 1 RELAÇÃO ENTRE A INGESTÃO E A PRODUÇÃO DE LEITE kg MS 16

litro/vaca 20

22

24

26

1,3

1,4

1,5

1,5

28

30

18

1,1

1,2

1,3

1,4

1,5

20

1,0

1,1

1,2

1,3

1,4

22

0,9

1,0

1,1

1,2

1,3

1,4

0,9

1,0

1,1

1,2

1,3

1,0

1,1

1,2

0,9

1,0

1,1

24 26

0,9

28

Área verde: alta eficiência alimentar. Um consumo elevado de alimentos pode resultar numa elevada produção de leite. Área amarela: eficiência alimentar média. As vacas podem estar a comer mais do que deviam, em comparação com o que produzem. Área vermelha: baixa eficiência alimentar.

070

1,5

rúmen. Em contrapartida, um maior número de refeições em quantidades menores ajudam a criar um ambiente ruminal estável. Se o alimento estiver disponível 24 horas por dia, as vacas comem mais refeições, em quantidades menores (kg/ min). O nível de ruminação durante o dia é maior, resultando num aumento da produção de saliva que funciona como um tampão para os ácidos no rúmen. Mais saliva significa um pH mais estável, logo um rúmen mais saudável. Isto afetará a digestibilidade dos alimentos e a eficiência alimentar. ESCOLHA E RESTOS DE ALIMENTOS Empurrar o alimento com mais frequência estimula a ingestão de alimentos e reduz a quantidade de restos? Sim. Com a disponibilidade de alimentos sempre frescos, as vacas têm menos


OS benefícios do empurrador automático de alimentos

EQUIPAMENTO | BOVINOS DE LEITE

GRÁFICO 1 RELAÇÃO ENTRE A INGESTÃO E A PRODUÇÃO DE LEITE

GRÁFICO 2 RELAÇÃO ENTRE A INGESTÃO E A PRODUÇÃO DE LEITE

pH ruminal

Mais refeições e menores

pH ruminal

Menos refeições e maiores

Hora (h)

Hora (h)

GRÁFICO 3 RELAÇÃO ENTRE A INGESTÃO E A PRODUÇÃO DE LEITE

TABELA 2 VARIAÇÃO NO NÚMERO DE ORDENHAS, RECUSAS E PRODUÇÃO DE LEITE COM O LELY JUNO

Diferença em %

oportunidades de escolher. Uma pesquisa realizada por de Vries (2015) revelou uma diminuição da percentagem da gordura no leite onde as vacas escolhiam os alimentos. Quando temos restos entre 10 e 15%, alguma coisa não está bem, como por exemplo, a qualidade da mistura ou a palatibilidade do alimento. MENOS STRESS Dentro de um rebanho, cada vaca tem o seu próprio lugar quando se trata de hierarquia. O stress e agressividade na manjedoura acontecem se o alimento for limitado ou o acesso for difícil. As vacas de baixa hierarquia esperam que as vacas dominantes estejam a descansar, para se deslocarem à manjedoura, comendo mais rápido e, muitas vezes, alimentos de menor qualidade, uma vez que as vacas dominantes do rebanho já comeram os alimentos

“saborosos”, o que leva a um maior número de animais com problemas. Quando o alimento é empurrado com frequência, estará sempre ao alcance de todas as vacas (gráfico 3). MELHORIA NA SAÚDE ANIMAL Entre 50% e 70% das necessidades energéticas das vacas leiteiras provêm dos ácidos gordos voláteis, que são resíduos de fermentação de hidratos de carbono. Os microrganismos que fermentam a fibra bruta são ineficazes em pH baixo. Muitas refeições, em quantidades pequenas, resultam num pH mais alto e mais estável. Também se verifica uma melhoria na saúde podal quando se empurra o alimento com frequência, pois as vacas não precisam de esticar-se para alcançar o alimento, diminuindo a concorrência na manjedoura e a pressão nos cascos dianteiros. 071

Leite

Peso

Ordenhas

Recusas

Conc. /100 kg de leite

+ 3.0

± 0.0

+ 2.3

+ 8.6

- 0.5

MAIOR UTILIZAÇÃO DO ROBOT DE ORDENHA Quando combinado com um robot de ordenha, o Lely Juno aumenta a taxa de visitas ao robot. Este aumento resulta numa maior produção de leite, especialmente para as vacas de baixa hierarquia. Além disso, o robot de ordenha é mais eficiente e terá menos vacas atrasadas. Na tabela 2 podemos ver um aumento no número de ordenhas, recusas e produção de leite devido ao Lely Juno. POUPANÇA DA MÃO-DEOBRA E FLEXIBILIDADE A mão-de-obra é muitas vezes um fator limitante para manter o alimento ao alcance dos animais durante todo o dia e noite. Ao utilizar o Lely Juno poupa-se 25 minutos por dia, em média, isto soma 152 horas por ano. Ou seja, poupa-se 2.281 € por ano em custos de mão-de-obra. Ao automatizar o trabalho repetitivo de empurrar o alimento, não precisa de interromper as suas atividades várias vezes ao dia e pode utilizar este tempo noutras atividades, como por exemplo, no campo, na reprodução, no

tratamento de animais, entre outros. RENTABILIDADE FINANCEIRA O Lely Juno aumenta definitivamente o rendimento de leite, 0,39 l/vaca/dia equivale a um aumento de 5409,3 € por ano, se assumirmos 100 vacas leiteiras, 305 dias de produção e com o preço do leite a 0,38 €. Para além de poupar no trabalho físico e no combustível. Se tivermos em conta o aumento de produção e tempo poupado, o Lely Juno em dois anos está pago. CONCLUSÃO A sua estratégia de alimentação tem um impacto significativo nos seus resultados. Empurrar o alimento com mais frequência realmente compensa. Estimular a frequência de ingestão de alimentos durante todo o dia e noite, resulta numa melhoria na eficiência alimentar, tendo um efeito positivo na saúde do animal, fertilidade, produção e resultados financeiros. NOTA: para consultar a bibliografia, contacte o autor.


#46 | jul. ago. set. 2022

REVISTA RUMINANTES

ÍNDICE VL E ÍNDICE VL-ERVA

A PRODUÇÃO DE LEITE NACIONAL ESTÁ EM TOTAL DECADÊNCIA!

ANALISAMOS NESTE NÚMERO DA RUMINANTES OS ÍNDICES VL E VL-ERVA PARA O PERÍODO DE FEVEREIRO A ABRIL DE 2022. AVALIANDO OS DADOS DO SIMA-GPP (2022), DURANTE O TRIMESTRE EM ANÁLISE O PREÇO MÉDIO DO LEITE PAGO AOS PRODUTORES INDIVIDUAIS DO CONTINENTE VARIOU ENTRE 0,358 €/KG EM FEVEREIRO E 0,405 €/KG EM MARÇO. NA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES O PREÇO MÉDIO DO LEITE PAGO AOS PRODUTORES INDIVIDUAIS VARIOU ENTRE 0,333 €/KG EM FEVEREIRO E 0,314 €/KG EM ABRIL. Por António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco; Carlos Vouzela, docente/investigador,

Faculdade de Ciências Agrárias e do Ambiente da Universidade dos Açores/IITAA; Nuno Marques, Revista Ruminantes | Email: nm@revista-ruminantes.com.

O

s dados publicados pelo MMO (2022) permitem confirmar que o preço médio do leite pago aos produtores europeus no período de fevereiro a abril de 2022 foi, mais uma vez, muito mais baixo em Portugal (0,3539 €/kg), quando comparado com a média da UE27 (0,4398 €/kg) e ainda mais baixo quando comparado com o preço pago aos produtores dos 5 países maiores produtores de leite da EU27 (0,4613 €/kg). Se em Portugal, no trimestre em análise, o leite tivesse sido pago ao preço médio da UE27 (0,4398 €/kg), os 8,6 cêntimos/kg a mais teriam sido suficientes para que as boviniculturas de leite tivessem maior rentabilidade, contribuindo para

a continuação da produção de leite em Portugal. Mais uma vez, Portugal foi o país da UE27 onde os produtores receberam menos por kg de leite produzido. Esta situação, vergonhosa e absolutamente inaceitável, tem-se vindo a manter nos últimos meses. Entre nós, há cada vez mais consumidores bem informados. Sabem que, através do código que compõe a marca de salubridade, conseguem obter a informação oficial sobre a origem de um pacote de leite. Percebem que no mercado encontram leite embalado, vendido como marca branca da grande distribuição, com um preço bastante inferior ao preço do leite produzido na mesma fábrica, mas vendido com a sua própria rotulagem.

O consumidor consegue perceber que, por litro de leite exatamente igual, está a pagar preços muito diferentes. Consultando informação recente sobre o volume de vendas das empresas de diversos ramos de atividade a operar em Portugal, pode-se constatar que no TOP5 de 2020 estavam 2 empresas de “comércio a retalho em supermercado e hipermercados” (https:// ranking-empresas.dinheirovivo. pt/ranking-nacional-empresas). Curiosamente, são duas empresas portuguesas da grande distribuição que também comercializam marcas próprias de leite. Através de observação in loco em espaços comerciais destas 2 empresas durante o mês de abril de 2022,

072

verificou-se que o preço de venda ao público do pacote de leite UHT meio gordo das 2 marcas brancas foi de 0,58 €/l. No mesmo mês, o preço médio de venda ao público de 6 marcas comerciais do mesmo tipo de leite UHT foi de 0,69 €/l, mais 11 cêntimos/l. Esta forma de atuar da grande distribuição em Portugal, em que se utiliza o leite como “produto íman”, tem vindo a contribuir para esmagar o preço do leite a pagar aos produtores nacionais. Até quando a grande distribuição vai continuar a contribuir para a destruição da produção de leite nacional, até porque o preço de venda de leite ao consumidor não tem aumentado em Portugal como tem vindo a acontecer em outros países da UE27.


A produção de leite nacional está em total decadência!

ÍNDICE VL E ÍNDICE VL-ERVA

ÍNDICE VL DE JULHO DE 2012 A ABRIL DE 2022

O ÍNDICE VL é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor no continente e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (concentrado 9,5 kg/dia; silagem de milho 33 kg/dia; palha de cevada 2 kg/dia).

ÍNDICE VL-ERVA DE JULHO DE 2013 A ABRIL DE 2022

O ÍNDICE VL – ERVA é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor na Região Autónoma dos Açores e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (primavera/verão 60 kg/dia de pastagem verde, 10 kg/dia de silagem de erva e de milho, 5,6 kg/dia de concentrado; outono/inverno 47 kg/dia de pastagem verde, 13,3 kg/dia de silagem de erva e de milho, 6,7 kg/dia de concentrado).

Os custos crescentes de produção de um litro de leite não podem ser suportados só pelo produtor, tem que estar refletidos em toda a cadeia da distribuição alimentar, incluindo o consumidor. O consumidor português continua a pagar muito pouco por este alimento com elevado valor biológico. Urge sensibilizar os consumidores para a necessidade de valorizarem, no ato da compra, um bem essencial que é o leite de excelente qualidade produzido em Portugal (*) Para piorar tudo isto a empresa portuguesa que resultou da fusão das cooperativas AGROS, LACTICOOP e PROLEITE/ MIMOSA, atualmente líder no setor lácteo com cerca de 60%

EVOLUÇÃO DO ÍNDICE VL E ÍNDICE VL - ERVA ABRIL DE 2021 A ABRIL DE 2022

de quota de mercado, não tem conseguido acrescentar valor suficiente ao leite que compra aos produtores. O modelo de gestão das cooperativas foi fundado há cerca de 73 anos atrás e mantém-se praticamente inalterado desde a sua fundação, é ineficiente e absorve custos enormes que poderiam ser reduzidos com uma gestão mais profissionalizada. Aparentemente, esta empresa portuguesa que ocupou em 2020 o primeiro lugar no ranking do volume de vendas no setor “indústria do leite e derivados” (https://rankingempresas.dinheirovivo.pt/ ranking-nacional-empresas), não se tem preocupado em evoluir de forma planeada e sistemática para transformar

Mês

Índice VL

Índice VL-Erva

abr/21

1,538

1,775

mai/21

1,523

1,725

jun/21

1,514

1,732

jul/21

1,547

1,762

ago/21

1,490

1,742

set/21

1,511

1,765

out/21

1,566

1,517

nov/21

1,550

1,515

dez/21

1,520

1,524

jan/22

1,614

1,596

fev/22

1,506

1,645

mar/22

1,361

1,387

abr/22

1,548

1,659

Os valores são influenciados pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor individual do continente (Índice VL) e da Região Autónoma dos Açores (Índice VL - ERVA) e pelas variações mensais dos preços de 5 matérias-primas utilizadas na formulação do concentrado e pelo preço dos outros alimentos que integram o regime alimentar da vaca leiteira tipo.

073


#46 | jul. ago. set. 2022

REVISTA RUMINANTES

o leite em produtos de valor acrescentado, como alternativa às embalagens de leite UHT que pouca margem comercial libertam. As cooperativas que a compõem parecem não ter a noção ou a visão do seu papel, escoarem o leite que recolhem a preços decentes para pagar melhor aos seus produtores, mesmo que para isso tenham que investir fortemente no desenvolvimento de produtos inovadores e/ou procurar mercados alternativos com maior poder de compra. De acordo com dados do INE (2021), Portugal foi excedentário em leite UHT (5,8%) e manteiga (39,1%), mas importou 35,1% do total de queijos e 47,1% do total de iogurte e leites acidificados consumidos em 2020. Uma das formas de acrescentar valor ao leite nacional seria desviar o excedente de leite para a produção interna de queijo, iogurtes e leites acidificados, contribuindo para uma redução drástica das importações daqueles produtos, para o aumento do PIB e permitindo pagar melhor aos produtores. Acrescente-se que o leite em natureza produzido em Portugal tem cerca de 3,8% de gordura. Sendo o leite UHT meio gordo o mais consumido e estando normalizado para 1,6% de gordura, aparentemente, as empresas que recolhem e transformam o leite não fazem refletir no preço a pagar ao produtor a diferença de 2,2% de gordura que se destinará ao fabrico de manteiga, uma das commodities com preço mais elevado na UE27 e que desde o início do ano 2022 se valorizou em mais de 30%. Todas a matérias-primas que entraram na formulação dos alimentos compostos utilizados neste trabalho sofreram um aumento médio de 25,9%, aumento que variou entre 31,8% no bagaço de colza e 22,4% na cevada relativamente ao trimestre anterior. O forte aumento dos preços das

matérias primas provocou um aumento de 18,2% no custo do alimento composto e de 17,3% no custo da alimentação da vaca leiteira tipo no continente. Na Região Autónoma dos Açores o preço do alimento composto aumentou 16,9% e o custo da alimentação da vaca leiteira tipo aumentou apenas 4,7%. Esta evolução foi influenciada pelo maior consumo de pastagem que ocorre na primavera. A evolução do preço do leite e dos custos da alimentação refletiu-se no Índice VL e no Índice VL - ERVA que, em abril de 2022 foi, respetivamente, de 1,548 e de 1,659. De referir que em abril de 2021 o Índice VL havia sido de 1,538 e o Índice VL-ERVA de 1,775. Nos gráficos que acompanham este trabalho pode observar-se que durante o último ano o Índice VL e o Índice VL–ERVA estiveram quase sempre muito próximos de 1,5 tendo mesmo, em alguns momentos, atingido valores inferiores a 1,5. Um índice inferior a 1,5 (valor muito baixo) indica forte ameaça para a rentabilidade da exploração leiteira; um índice entre 1,5 e 2,0 (valor moderado) indica que a produção de leite é um negócio economicamente viável quanto mais próximo está de 2,0; um índice maior do que 2,0 (valor elevado) indica que estamos perante uma situação favorável para o sucesso económico da exploração (Schröer-Merker et al., 2012). Durante o trimestre em análise, o Índice VL atingiu o valor mínimo de 1,361 e o Índice VL-ERVA o valor mínimo 1,387, em ambos os casos durante o mês de março de 2022. Pode-se concluir que, passado um ano, os produtores de leite do continente e dos Açores se encontram numa situação idêntica àquela em que se encontravam em abril de 2021. De realçar que o Índice VL-ERVA reflete a realidade da produção de leite muito mais

favorável da ilha de S. Miguel que produz mais de 60% do total de leite dos Açores e onde o leite é pago a um peço médio ligeiramente mais elevado devido à concorrência entre entidades que recolhem e processam o leite. É de conveniência realçar que nos Açores, sem as ajudas públicas a situação da produção leiteira ainda seria pior em todas as ilhas. NOTAS

- comparando o preço do leite pago aos produtores do continente e dos Açores há um ano atrás (abril de 2021) com os valores pagos em abril de 2022, verifica-se que em 2022 os valores foram superiores, respetivamente +29,8% e +13,4%; - comparando o preço médio dos alimentos de há um ano atrás (abril de 2021) com os preços de abril de 2022, verificase que em 2022 o preços médio das matérias-primas aumentou 47,9% e o preço das forragens

aumentou 35,9% no continente e 7,5% nos Açores; - a evolução dos preços dos alimentos provocou o aumento dos preços, não só do alimento composto como também do regime alimentar formulado para o cálculo do Índice VL e do Índice VL-ERVA; - os fortes aumentos do preço das matérias-primas, continente e Açores, e do regime alimentar das vacas, no continente, não foram acompanhados por aumentos equivalentes no preço do leite; - as quatro considerações anteriores refletem-se nos Índice VL e Índice VL-ERVA que em abril de 2022 foram, respetivamente, 1,548 e 1,659; - no mês de março de 2022 o Índice VL e Índice VL-ERVA foi respetivamente 1,361 e 1,387 valor muito inferior a 1,5. São indicadores de forte ameaça para a rentabilidade das explorações leiteiras em Portugal. Nota: para consultar a bibliografia, contacte os autores.

(*) "Urge sensibilizar os consumidores para a necessidade de valorizarem, no ato da compra, um bem essencial que é o leite de excelente qualidade produzido em Portugal." Leia a publicação aqui: https://www.apn.org.pt/documentos/ebooks/ Ebook_Conhecer_o_Leite_Final.pdf).

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#46 | jul. ago. set. 2022

REVISTA RUMINANTES

OBSERVATÓRIO DO LEITE

O 2º SEMESTRE DO ANO E ALGUMA FICÇÃO CIENTÍFICA

INICIADO O SEGUNDO SEMESTRE DO ANO, OS VOLUMES DE LEITE NA EUROPA E ESTADOS UNIDOS SÃO CONFORTÁVEIS MAS, NO ENTANTO, AQUÉM DO EXPECTÁVEL. DE ACORDO COM DADOS DO RABOBANK, ESTAMOS AGORA NUMA TENDÊNCIA DE DOZE MESES COM REGISTO NEGATIVO DE PRODUÇÃO LEITEIRA NOS SETE EXPORTADORES-CHAVE DO SETOR. Por Joana Silva, Médica Veterinária | Fontes AHDB, Bdairy, Dairy Reporter, Food Ingredients 1st, Markets&Markets, Rabobank, USDA

N

a Europa Ocidental, a produção leiteira está a equipararse a valores de 2021 e, no Reino Unido, está mesmo abaixo dos valores homólogos, com uma perda de 1,9% no primeiro trimestre do ano. Já a produção de leite biológico registou uma quebra de quase 8% no primeiro semestre, acompanhando a tendência de diminuição dos volumes de produção britânicos que se faz sentir desde agosto de 2021. O aumento generalizado dos custos de produção e processamento do leite poderá estar, inclusive, a levar alguns produtores a escoar o leite produzido por canais alternativos ao do leite biológico. Na UE, o cenário nos EstadosMembros não é homogéneo, com países como a Polónia e a República Checa a crescer face ao ano anterior. Já a Itália, em período de seca, tem sentido bastantes dificuldades. Na Austrália, a indústria leiteira tem beneficiado de uma forte procura. No entanto, a inflação histórica e os custos de

produção têm ensombrado a rentabilidade dos produtores. Na vizinha Nova Zelândia, os volumes de produção estão em linha com a época passada, beneficiando de um aumento de 13% de receitas de exportação face ao mesmo período. A abundante produção chinesa, com um aumento de 8% face ao ano anterior, do qual restaram ainda stocks confortáveis, está a impactar negativamente o mercado das importações, e a contribuir assim para o abrandamento dos consumos mundiais de leite e derivados. Para os próximos meses, os altos preços dos combustíveis, bem como das matériasprimas, e a guerra na Ucrânia, continuarão a impactar o setor, e o aumento generalizado do preço dos produtos alimentares deverá prejudicar a procura por parte dos consumidores. Os valores de inflação registados atualmente, dizem os peritos, não eram vistos desde a década de setenta do século passado. Vive-se um clima expectante no setor comercial, uma aparente calmaria enquanto os diferentes 076

players se preparam para as mudanças nos mercados que a segunda metade do ano decerto trará. A exercer pressão adicional sobre o setor leiteiro continua o mercado das alternativas ao leite que, em 2022, se prevê que valha mais de vinte e sete mil milhões de dólares. Em 2027, estima-se que este valor chegue aos quarenta e cinco mil milhões de dólares. Entre alguns dos fatores que continuam a impulsionar o crescimento deste mercado encontram-se o crescimento de consumidores com intolerância à lactose, mudanças de estilos de vida, a procura crescente por produtos de conveniência e a preocupação com o impacto ambiental das atividades humanas e agrícolas. A região da Ásia-Pacífico, com um apetite voraz, será certamente uma das bocas com maior apetência para estes produtos, espelhando as tendências do Ocidente. Sendo este um mercado que caminha de mãos dadas com a inovação, nos próximos anos

prevê-se que os investimentos no desenvolvimento de novos produtos se revelem bastante lucrativos. Também o setor leiteiro deverá seguir esta tendência evolutiva e procurar a sua reinvenção, se pretende fortificar a sua posição num mundo de consumidores cada vez mais exigentes. Um exemplo disso é a Fonterra, que lançou este ano no mercado asiático a linha de bebidas lácteas Nurture, fortificada com vitaminas e linhas de probióticos exclusivas. Esta linha de produtos promete contribuir positivamente para a saúde gastrointestinal dos consumidores, entre outros benefícios. A inovação é uma das prioridades da companhia, que é detentora de uma das maiores reservas de bactérias ácido lácticas do mundo, atualmente com mais de quarenta mil estirpes. Também a cooperativa holandesa Friesland Campina tem desenvolvido trabalho no continente asiático, com um estudo em larga escala que comprovou uma tendência preocupante de anomalias


O 2º semestre do ano e alguma ficção científica

OBSERVATÓRIO DO LEITE

nutricionais entre as crianças do Sudeste Asiático, para as quais promete o desenvolvimento de leite e produtos lácteos visando problemas específicos desta população: subnutrição, deficiências em micronutrientes e excesso de peso. Neste estudo participaram cerca de catorze mil crianças, entre os seis meses e os doze anos. Apesar da crescente popularidade das alternativas vegetais ao leite, é sabido que o perfil nutricional e organolético destas bebidas dificilmente se equipara ao do leite e, como tal, a indústria está agora a desbravar caminho noutra via: e se conseguirmos produzir leite...sem vacas? Parece ficção científica, mas não é. Nos Estados Unidos, a empresa Perfect Day produz ao dia de hoje proteína whey a partir de um processo de fermentação de precisão, recorrendo a microrganismos geneticamente modificados. Este ingrediente foi já aproveitado pela gigante Mars, que o incorporou numa barra

de chocolate sem lactose. Na Europa, apesar da legislação mais apertada, algumas empresas já se começaram a aventurar nestas andanças. A espanhola Pascual, com o seu programa Mylkcubator,

está a preparar-se para testar a produção de alternativas ao leite através de agricultura celular. A ideia será, no futuro, substituir, ou complementar, a produção pecuária tradicional por células produtoras de leite

cultivadas em laboratório. Um dos maiores desafios, além da perícia tecnológica, serão os elevados custos do processo, principalmente considerando a sua implantação em grande escala.

LEITE À PRODUÇÃO | PREÇOS MÉDIOS MENSAIS EM 2021/2022 ANOS

MESES Abril

2021

2022

EUR/KG

TEOR MÉDIO MG1 (%)

TEOR PROTEICO (%)

Continente

Açores

Continente

Açores

Continente

Açores

0,312

0,277

3,72

3,67

3,33

3,17

Maio

0,312

0,275

3,75

3,67

3,33

3,12

Junho

0,310

0,276

3,71

3,65

3,30

3,11

Julho

0,309

0,275

3,71

3,68

3,24

3,09

Agosto

0,310

0,276

3,77

3,73

3,29

3,10

Setembro

0,312

0,279

3,79

3,78

3,30

3,13

Outubro

0,328

0,289

3,89

3,79

3,31

3,19

Novembro

0,330

0,293

3,96

3,85

3,36

3,24

Dezembro

0,329

0,298

3,93

3,88

3,34

3,24

Janeiro

0,356

0,317

3,86

3,85

3,30

3,19

Fevereiro

0,358

0.314

3,85

3,74

3,30

3,16

Março

0,358

0,313

3,82

3,69

3,28

3,18

Abril

0,405

0,333

3,81

3,71

3,27

3,15

Fonte: SIMA, Gabinete de Planeamento e Políticas.

077


#44 | jul. ago. set. 2022

REVISTA RUMINANTES

OBSERVATÓRIO DAS MATÉRIAS-PRIMAS

AFINAL, HÁ OU NÃO HÁ INFLAÇÃO? Por João Santos

INFLAÇÃO! As notícias dos últimos tempos têm sido o SNS, a falta de crescimento da economia, a invasão Russa da Ucrânia, e também a muito falada inflação. Vamos então dissecar este assunto: i) temos que lembrar-nos que com a crise financeira de 2008, os bancos centrais de todo o mundo, para conter a crise, injetaram triliões de dólares nas economias, algo que durou até meados de 2018. Com pequenas nuances, mas de forma continuada, foram 10 anos a injetar liquidez no sistema financeiro, o que, mais cedo ou mais tarde, iria inevitavelmente conduzir a um período longo de inflação que agora estamos a iniciar. Só uma pequena parte destes triliões foi aplicado de maneira racional em investimentos produtivos e rentáveis, sendo que o grosso desse dinheiro terminou em políticas públicas nefastas que não conduziram a um crescimento sustentável. Mais não foram do que dinheiro publico mal gasto, de que no nosso país tivemos muitos exemplos, mas também no setor privado existem muitos

casos. O dinheiro barato também conduziu a um incremento de capacidade em setores que já tinham capacidade instalada suficiente e, consequentemente, a investimentos ruinosos. ii) o forte investimento em capacidade de produção antes de 2008, em particular no setor energético, conduziu a um longo período de baixos preços na energia, que posteriormente se traduziu num longo período sem grandes investimentos. E, assim, chegamos às vesperas da guerra na Ucrânia já com preços altos da energia. iii) não nos podemos esquecer que em fevereiro de 2018 começámos a ver a China a atacar a crise da peste suína, que conduziu a uma redução de mais de metade do seu efetivo e que, no início de 2021, finalmente recuperou os efetivos que tinha antes de fevereiro 2018. iv) tivemos a guerra comercial entre USA-China, em 2018, que levou a uma mudança de fluxos agrícolas. v) a Covid-19 a partir do início de 2020. vi) graves problemas de colheitas pequenas nos

hemisférios sul e norte desde junho de 2020. Se tivermos por base uma colheita média, podemos considerar um valor total destes últimos 2 anos de 120 milhões de toneladas perdidas de produção, que conduziram a uma redução importante dos stocks finais (ver tabela). vii) a transição energética levou muitos Estados a decidirem fechar as suas centrais nucleares, as de carvão, e a reduzirem a produção de gás natural, e assim a inflação começou a consolidar-se no final do 4º trimestre de 2021. E depois chegamos a 24 fevereiro de 2022, com a Rússia a invadir a Ucrânia. Com isto temos uma combinação de fatores reais que alteram a relação da procura e da oferta e outros nominais de natureza inflacionista. Hoje, voltamos aos preços nominais, na maioria das matérias-primas, a níveis pré-covid ou mesmo pré-2008. Donde, a níveis reais, temos preços mais baixos do que já tivemos na última década (descontando a inflação). No setor agroalimentar, temos que separar os óleos vegetais,

078

aqueles que sofreram mais o aumento dos preços. A um nível intermédio temos os cereais, os produtos lácteos e a carne, que tiveram uma subida moderada. E por fim o açúcar e o café que não subiram de preço, para nomear alguns. E então perguntamos: e não houve nenhuma revolução pelo mundo? E a resposta é, não, e o motivo é simples, para mais de metade da população mundial o arroz é a base da sua alimentação, e este não subiu de preço; e na África sub-Sahariana, a base da alimentação é a mandioca, e esta também se manteve estável. Aprofundando a questão: - em junho de 1973, o futuro de soja chegou a 11.51$/bushel, que equivale hoje a 74.87$, atualizada com a inflação dos USA, o recorde da soja em Chicago foi 17.95$ em setembro de 2014 que, ajustado à inflação, seria hoje equivalente a 22.3$. Hoje, junho de 2022, estamos a 16.80 $/bushel. Espero que com este exemplo, fiquemos esclarecidos entre a diferença de preços nominais e reais (ajustados pela inflação). Continuando, quanto de


Afinal, há ou não há inflação?

OBSERVATÓRIO DAS MATÉRIAS-PRIMAS

substancial/real têm os preços atuais versos o especulativo/ nominal dos preços actuais: i) os stocks estão altos ou baixos? a resposta é que estão baixos. ii) os preços para o mês seguinte estão mais altos ou mais baixos do que os preços a deferido (mais de 2 meses)? A resposta aqui é que os preços estão mais altos no imediato do que para a frente, o que significa que existe escassez no disponível e perspetiva de mais disponibilidade para a frente. Assim, estamos perante uma situação real e não nominal porque, se assim fosse, os preços para a frente estariam mais altos devido à expetativa de inflação futura. Esta é a situação dos preços da maioria das matériasprimas, atualmente, sejam elas agrícolas ou não - os preços estão invertidos. Mais, com uma inflação sobre os 9-10%, como a que se espera em junho de 2022, os bancos centrais, para controlar a inflação, terão que forçosamente caminhar para uma taxa de juro mais alta que a inflação. Quanto mais tempo demorarem a subir as taxas de juro, mais tempo vai demorar a reduzir a inflação, e maior será o sacrifício que as famílias terão que fazer pela perda de rendimentos reais. Por muito que doa a quem tenha dívidas, os juros subiram e muito. Para o nosso mercado de matérias-primas, a subida dos juros também é uma má noticia, fará com que seja mais

capacidade para transbordo nas fronteiras, será sempre pouca a capacidade de exportação por terra comparada com as possibilidades pelos portos do Mar Negro. Em relação ao girassol, os agricultores, um pouco por toda a Europa, andaram a escondê-lo, e agora, às portas da nova colheita, apareceram vários milhões de toneladas a juntar ao recorde de produção de girassol na Argentina. De repente, parece que sobra girassol. A farinha de girassol, devido às boas margens de extração, caiu de 350 para perto de 250€/mt e, a confirmarse toda esta disponibilidade de semente, na próxima campanha, independentemente da haver exportações de girassol desde a Ucrânia, vamos ter uma forte pressão vendedora de farinha de girassol. Quanto à soja, a situação de stock finais é crítica nos USA, estamos no meio do weather market, em que o início da sementeira foi longe do ideal, pelo que temos um sério risco de estarmos numa situação explosiva. De lembrar que o Brasil e a Argentina tiveram colheitas pequenas. Assim, o preço da farinha de soja tem estado sobre os 520€/tm em Lisboa, com uma oscilação de +/-30€. À data em que estou a escrever este artigo, ainda não saiu o relatório do USDA de 30 junho, onde é publicada a situação de stock e a área das sementeiras de primavera. Mas, nestes dois parâmetros,

caro dedicar-se ao comércio de matérias-primas, seja com fim comercial/abastecimento ou com fins especulativos, ou seja, haverá menos agentes económicos a participar e, com isso, menos liquidez, pelo que qualquer ajuste de preço será mais brusco e violento, logo haverá maior risco. E, para terminar, será que a China vai continuar a crescer ou vai estagnar? Lembramos que é responsável por 1/3 do comércio mundial de produtos agricolas, e vinha com uma curva ascendente da procura. PROTEÍNAS Após um 2º trimestre com pouca colza disponível, a colheita europeia de 22/23 e a procura para biodiesel mudou de alguma forma o cenário para a colza. Vínhamos de preços acima de 400 euros e, estamos agora com perspetiva de preços sobre os 350 euros para o segundo semestre. Em relação à semente de girassol, como comentado no anterior número do Observatório, a Ucrânia é o grande produtor. Mesmo com a impossibilidade de exportar por mar, alguma semente vai saindo da Ucrânia por camião e comboio, se bem que em pequena quantidade devido à dificuldade de encontrar motoristas na Ucrânia (soldados na linha da frente), e porque a bitola das linhas ferroviárias da Ucrânia é diferente da dos seus países vizinhos, o que obriga ao transbordo da semente. E uma vez que há muito pouca COLHEITAS MUNDIAIS

Milhões de tm

14/15

15/16

16/17

17/18

18/19

19/20

20/21

21/22

22/23

Produção mundial

319,00

312,80

351,40

342,09

360,30

339,00

366,20

352,00

395,40

Stocks finais

77,60

76,60

96,00

98,56

111,88

96,04

99,88

86,15

100,46

24%

24%

27%

29%

31%

28%

27%

24%

25%

Produção mundial

1008,80

961,90

1070,20

1076,20

1123,30

1116,50

1122,80

1216,10

1185,80

Stocks finais

208,20

210,90

227,00

341,20

320,80

303,10

292,20

310,90

310,50

21%

22%

21%

32%

29%

27%

26%

26%

26%

SOJA

MILHO

079

não se espera que muito mais área seja semeada em relação ao que já está a ser assumido, e em termos de stock a perceção é que não há muita soja escondida nos States. Assim, será pouco provável que venham noticias baixistas em relação à soja. Mais bem altistas. As boas noticias dos States para os compradores de farinha são os novos mandatos de Renewable Diesel – RD, que não é mais que um hidrogenado de óleos vegetais, em que o catalisador é o hidrogénio em vez do metanol, como é o caso do biodiesel europeu. E, ao contrário do biodiesel que tem que ser misturado com diesel, o HVO/RD pode ser usado diretamente. Este RD usa óleos vegetais usados e gordura animal, assim como uma grande quantidade de óleos crús de soja. Esta procura adicional de óleo de soja vai obrigar as fábricas dos States a trabalhar a todo o vapor e a aumentar a sua capacidade de produção, o que vai tornar os States um exportador de farinha e obrigá-lo a competir com a Argentina. Tudo isto faz com que o óleo esteja caro relativamente aos preços donde vínhamos, o que, com o preço atual do grão, faz com que a contribuição para a margem de extração do óleo seja historicamente alta, permitindo vender a farinha relativamente mais barata. O dito antes não evita que os preços de farinha se mantenham nos valores atuais, mas são boas noticias, em relação ao futuro, para os compradores de farinha. CEREAIS É uma grande incógnita se se vai conseguir exportar da Ucrânia, nos seus portos do Mar Negro, ou quanto é que se vai produzir. Tanto de cereais como de oleaginosas, o mercado está a assumir que se plantou menos e que se vai exportar bastante menos do que no pré-guerra. No entanto,


#44 | jul. ago. set. 2022

REVISTA RUMINANTES

o mercado já encontrou alternativas, em particular para o milho, e os preços nos portos portugueses passaram do pico de março, acima dos 400€/ tm, para uns mais razoáveis 330€ para agosto. Convém não esquecer que a 23 de fevereiro os preços estavam nos 280€ em Lisboa. Assim, e com o novo equilíbrio estabelecido, a questão é encontrar, dentro da abundância de milho brasileiro (Safrinha), milho com os limites maximos de resíduos aprovados na UE. Uma vez que as alternativas ao milho brasileiro são mais caras, como é o caso do milho dos States, cerca de 35€ mais que o brasileiro. Em relação ao trigo e cevada, infelizmente a Espanha teve uma colheita pequena, pelo que não devemos ter preços muito agressivos de cevada espanhola, como tradicionalmente tínhamos sobre estas datas. CONCLUSÃO Viemos de dois anos com perdas grandes de colheitas, que conduziram a stock finais muito baixos, donde qualquer problema em julho/agosto no hemisfério norte, vai conduzir a uma situação explosiva dos preços de cereais e soja. Para recordar os mais novos do que é viver com inflação, não podemos tomar uma decisão de compra com base nos preços atuais, se são altos ou baixos, mas sim na anáise dos stocks finais e na perspetiva de estes terem tendência a aumentar ou de continuarem baixos. Também temos que ter em conta que, descontada a inflação, em termos reais os preços dos cereais e das oleaginosas estão longe do pico de 20082014 (também é verdade, em termos nominais de 2008-2011). Assim, por prudência, há que ir aproveitando as pequenas correcções que haja no preço e ir comprando pelo menos para os próximos 3-4 meses. Termino com um abraço solidário ao povo ucraniano.

NOTÍCIAS | BOVINOS DE LEITE

INVESTIGAÇÃO LEITEIRA O QUE HÁ DE NOVO? NESTA RUBRICA APRESENTAMOS RESUMOS DOS TRABALHOS MAIS RECENTES PUBLICADOS NO JOURNAL OF DAIRY SCIENCE. Traduzido e adaptado por Pedro Nogueira, Engº zootécnico, Trouw Nutrition/Shur-Gain, e-mail: Pedro.Nogueira@trouwnutritioncom | Foto @adrianciurea69

“EFEITOS DO FORNECIMENTO LIMITADO DE FÓSFORO NA DIETA, DURANTE O PERÍODO SECO, NA PRODUTIVIDADE E METABOLISMO DE VACAS LEITEIRAS” Journal of Dairy Science Vol. 105 nº 5, 2022.

Neste artigo, investigadores alemães estudaram os níveis de fósforo (P) em dietas de vacas secas. O fósforo na nutrição bovina está sob escrutínio contínuo devido a preocupações com quantidades excessivas de P excretado no estrume, contribuindo para a poluição ambiental. No entanto, é indicado no artigo que o fornecimento de dietas com teor excessivo de P continua a ser uma prática comum, particularmente durante o período de transição, pois acredita-se que uma limitação em P no final da gestação e início da lactação, apresenta um risco 080

para a saúde e produtividade das vacas de alta produção. O objetivo deste estudo foi investigar o efeito de uma dieta limitada nos níveis de P durante as últimas 4 semanas de gestação. A homeostase de cálcio e fósforo durante o período de transição em vacas leiteiras de alta produção e os seus possíveis efeitos no metabolismo e na produtividade ao longo da lactação seguinte foram investigados. Para isso, os autores utilizaram trinta vacas leiteiras multíparas no final da gestação. Foi distribuída às vacas uma dieta de vaca seca com um baixo (BP) ou um conteúdo adequado em P (AP) [0,16 e 0,30% P na matéria seca (MS), respetivamente] nas últimas 4 semanas antes do parto. Após o parto todas as vacas receberam a mesma ração com teor adequado em P (0,46% P na MS). Os autores fornecem algum contexto relativamente à oportunidade deste estudo, dizendo que o fósforo na nutrição de ruminantes tem recebido maior atenção


Investigação leiteira, o que há de novo?

NOTÍCIAS | BOVINOS DE LEITE

devido a preocupações ambientais relacionadas com quantidades excessivas deste mineral nos dejetos de animais. Eles dizem que muitos países estão atualmente a implementar regulamentação que visa reduzir a quantidade de P, proveniente do estrume, aplicado em terras agrícolas. Em relação às vacas leiteiras, acredita-se que a deficiência em P esteja associada a vários problemas e que distúrbios no equilíbrio em fósforo sejam considerados uma preocupação, particularmente durante o período de transição. Por causa disso, o fornecimento de dietas de vacas secas e frescas com níveis de P acima das recomendações atuais ainda é comum em explorações leiteiras. No entanto, há pouca evidência que suporte as preocupações existentes quanto ao respeitar os teores de P atualmente recomendados na formulação de dietas para vacas secas. Como tal, os objetivos deste estudo foram explorar os possíveis efeitos duradouros da restrição de P durante o período seco na ingestão de matéria seca, produção de leite e metabolismo na lactação seguinte. Por outro lado, estudos recentes que investigaram os efeitos da restrição em P em vacas em transição, descobriram que o fornecimento de dietas com teores de P bem abaixo das recomendações atuais, para as últimas 4 semanas do período seco e para as primeiras 4 semanas de gestação teve, de facto, efeitos negativos na ingestão de matéria seca, saúde e produtividade. No entanto, nesses estudos, foi evidenciado que o fornecimento restrito de P durante o período seco estimula a mobilização óssea, resultando numa libertação importante e metabolicamente relevante de Ca e P dos ossos, durante os últimos dias de gestação. Este facto foi associado a concentrações mais estáveis ​​de Ca no sangue em vacas em pré-parto e a uma diminuição da incidência de hipocalcemia clínica e subclínica. Devido a isso, os autores levantaram a hipótese de que limitar o período de restrição de fornecimento de P às últimas 4 semanas do período seco resultaria num efeito benéfico na homeostase do Ca, sem prejudicar a função hepática e o metabolismo em vacas leiteiras de alta produção. Os resultados relatados no estudo indicam que o fornecimento limitado de P na dieta de vacas secas afetou positivamente a homeostase do Ca de vacas leiteiras em pré-parto, mas não revelou efeitos negativos sobre a ingestão de matéria seca, produção de leite ou atividade metabólica na lactação seguinte.

A restrição de P durante o período seco foi associada à hipofosfatemia anteparto, mas não à exacerbação da hipofosfatemia no pós-parto, que é comumente observada em vacas frescas. Esta restrição também não foi associada a qualquer indicação clínica ou subclínica de deficiência de P no início da lactação. Os autores terminam indicando que, embora a comparação entre dietas com P adequado e P restringido não tenha dado qualquer indicação de um efeito negativo da restrição em P na saúde, estes resultados devem ser confirmados com um estudo com um maior número de animais.

“REVISÃO CONVIDADA: STRESS TÉRMICO LETAL: A PRESUMÍVEL FISIOPATOLOGIA DE UM DISTÚRBIO MORTAL EM VACAS LEITEIRAS” Journal of Dairy Science Vol. 105 No. 5, 2022.

Esta é uma revisão de um problema comum que as explorações leiteiras enfrentam durante o verão em muitas áreas do mundo. A revisão foi feita por investigadores da Universidade de Iowa e consultores de nutrição de uma empresa americana, a Dairy-Tech Group. Os autores identificam o problema indicando que o stress térmico (ST) reduz a produção e a eficiência em quase todas as métricas das explorações leiteiras, comprometendo assim a lucratividade e a sustentabilidade. Se a intensidade do ST aumenta, pode tornar-se letal. A morte pode ocorrer de forma aguda ou dias após a vaga de calor, mesmo que as condições ambientais se tenham tornado normais. Consequentemente, o stress térmico letal é muitas vezes difícil de identificar e quase sempre mal diagnosticado. Os autores dizem que embora os mecanismos do stress térmico letal (STL) não sejam bem compreendidos, a sua fisiopatologia parece ser comum a várias espécies. O stress térmico é um problema bem conhecido em vacas leiteiras, e quem trabalha no setor está ciente dos problemas que ele causa, nomeadamente redução da ingestão de matéria seca, diminuição da produção de leite e seus componentes, e redução da fertilidade. Estes resultados incentivam os produtores a investir em estratégias para reduzir o stress térmico (como disponibilização 081

de sombras, ventoinhas, aspersores, etc.). Ainda assim, dizem os autores, é surpreendente que a morbidade e a mortalidade induzidas pelo stress térmico raramente sejam observadas ao nível individual da vaca ou do rebanho. Eles indicam como exceções as devastadoras ondas de calor de 2006 na Califórnia que causaram a morte de aproximadamente 40.000 vacas. Também referem que na maioria dos casos de mortalidade de gado induzidas por ST, a causa real da morte é intrigante e indefinível. A dificuldade em reconhecer com precisão a apresentação e os sintomas de ST grave geralmente resulta num diagnóstico errado, especialmente após um período de stress térmico agudo, quando as condições ambientais voltam a ser moderadas e já não são perigosas. Os autores indicam que a morte causada por este problema é multifatorial e provavelmente envolve uma disfunção e desequilíbrio de vários sistemas interdependentes, desde desequilíbrios eletrolíticos até inflamação induzida por uma severa ativação imunológica, falência de múltiplos órgãos e insuficiência circulatória, entre outros. Eles dizem que a morte ocorre frequentemente dias após o evento de calor extremo, quando as temperaturas aparentemente são aceitáveis. Nesses casos, acrescentam, a ocorrência temporal fragmentada e imprevisível entre a vaga de calor e a morte muitas vezes resulta em diagnósticos erróneos. A designação “letal” no rótulo STL implica uma patologia suficientemente grave para ser capaz de causar a morte, embora nem todos os casos resultem em morte. No entanto, mesmo para os sobreviventes, é uma patologia grave que pode causar redução crônica da função dos órgãos em vacas leiteiras. Devido à gravidade desse problema, os autores afirmam que é necessário que o Stress Térmico Letal seja mais amplamente reconhecido, e que os seus sinais sejam descritos com mais clareza, por forma a que um diagnóstico diferencial em casos de campo, possa ser estabelecido. A informação limitada relativa especificamente a vacas leiteiras, faz com que a compreensão da patologia esteja amplamente dependente de estudos em outras espécies. Assim, há uma necessidade crítica de esclarecer os sinais, indicações e diagnósticos apropriados, por forma a facilitar diagnósticos de campo precisos do stress térmico letal.


#46 | jul. ago. set. 2022

REVISTA RUMINANTES

BEM-ESTAR ANIMAL | BOVINOS DE LEITE

ESTRATÉGIAS NUTRICIONAIS PARA REDUZIR O IMPACTO DO STRESS TÉRMICO Por EQUIPA TÉCNICA DIN

O stress térmico é um grande problema na gestão dos efetivos de ruminantes, uma vez que afeta negativamente o bem-estar, as performances e a rentabilidade duma exploração. O melhor indicador de stress térmico é o Índice de Temperatura e Humidade (THI) que cruza os dados de temperatura e humidade. No caso das explorações leiteiras, num THI acima das 72 unidades, as vacas leiteiras começam a entrar em stress. Este nível é alcançado, por exemplo, com uma temperatura de 24° C e uma humidade relativa de 68% (ver figura 1). Acima de 72 unidades de THI, cada unidade do THI adicional causará uma queda em média de 0,2 kg de leite/ vaca. NUTRIÇÃO PARA COMBATER OS IMPACTOS DE STRESS TÉRMICO Devido à diversidade de impactos causados por stress térmico, é muito difícil resolvêlo com um único e exclusivo modo de ação. Para além das condições de alojamento/instalações, a nutrição pode desempenhar um papel importante.

Nutricionalmente existem diversas estratégias, como por exemplo: 1. Estimular a ingestão • Distribuir nas horas mais frescas do dia • Aumentar o número de distribuições • Evitar que a água dos aspersores, por exemplo, caia no alimento. • Usar um conservante, como por exemplo o ácido propiónico, para inibir fermentações secundárias da mistura 2. Garantir bebedouros e água suficiente • Em caso de stress térmico, o consumo de água aumenta de 1,2 a 2 vezes (Boudon et al, 2012). • Uma vaca que produz 50 litros de leite, a 27°C, pode beber entre 150 e 250 litros de água. 3. Aumentar a densidade energética • Gordura protegida • Evitar o excesso de proteína solúvel • Fornecer fibras de maior digestibilidade ruminal • Prevenir a acidose 4. Reequilibrar a perda em eletrólitos • Aumentar BACA e K+ • Uso de Núcleos específicos • Extratos de plantas

FIGURA 1 DIAGRAMA DO STRESS TÉRMICO PARA VACAS LEITEIRAS (Burgos Zimbelman and Collier, 2011)

}

STRESS TÉRMICO

Baixo: THI 68-71 Médio: THI 72-79 Médio a severo: THI 80-89 Extremo: THI 90-99 Morte: >THI 99

FIGURA 2 A SOLUÇÃO NUTRITIVA THERMO® PLUS

Mistura de especiarias específicas (piripiri e feno grego) - Regulação da temperatura corporal - Estimulação da salivação - Estimulação da da digestão

Eletrólitos (Na+, K+) - Compensa perdas pelo suor - Facilita a hidratação

082

Chá verde - Reduz o stress oxidativo

Misturas de substâncias tampão - Bicarbonato de sódio - Bicarbonato de potássio


Estratégias nutricionais para reduzir o impacto do stress térmico

PRODUTO | BOVINOS DE LEITE

A solução nutritiva Thermo® Plus, incorporada na alimentação, foi desenvolvida para atuar em condições climatéricas de stress térmico, com o objetivo de manter o desempenho animal, através de três princípios: - Para evitar a queda de consumo alimentar, o Thermo® Plus dispõe de uma mistura específica de ingredientes alimentares (óleos essenciais e extratos de plantas selecionados), que atua sobre a ingestão de matéria seca. Estes componentes ativos estimulam também a atividade de enzimaschave que contribuem para a digestibilidade alimentar (amilase, lipase, tripsina e quimotripsina).

THERMOTOOL A APLICAÇÃO QUE AVALIA O STRESS TÉRMICO DA SUA EXPLORAÇÃO Nos exemplos supracitados, apenas foi avaliado o impacto num dos parâmetros. Em contexto de campo, as melhorias de desempenho observadas são múltiplas (p.e. mortalidade, GMD, etc.) e otimizadas. Para obter uma avaliação à medida de cada contexto, a aplicação ThermoTool (disponível na App Store e Google Play) dispõe de um modo de cálculo personalizado.

- A gestão da fração mineral através do uso de Thermo® Plus (DCAD, substâncias tampão) também contribui para aumentar o consumo alimentar através de um melhor equilíbrio das necessidades eletrolíticas. Os extratos de plantas promovem também um aumento de produção salivar, que dá uma ajuda complementar para a tamporização da dieta. - Extratos vegetais também são ativos na regulação geral do metabolismo, atuando sobre a redução da frequência cardíaca e a temperatura corporal dos animais.

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083


#46 | jul. ago. set. 2022

REVISTA RUMINANTES

João Guilherme, da William Suffolk, Lda., com Sandokan da Vila, o macho mais licitado deste leilão.

OVINOS DE CARNE

II DIA ABERTO SUFFOLK

PERTO DE UMA CENTENA DE PESSOAS ESTIVERAM PRESENTES NO II DIA ABERTO SUFFOLK QUE SE REALIZOU NO PASSADO DIA 4 DE JUNHO NA ESCOLA AGRÁRIA DE CASTELO BRANCO (ESACB) COM A ORGANIZAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DE CRIADORES SUFFOLK (ACS). ESTA DATA MARCOU TAMBÉM O FINAL DA TESTAGEM DE MACHOS SUFFOLK 2022 REALIZADA NA ESACB. Por Ruminantes | Fotos FG, David Catita

O

dia foi iniciado com palestras sobre as iniciativas desenvolvidas e os resultados obtidos. Após uma pausa para o almoço, teve lugar o ponto alto do dia com a realização do leilão — presencial e online— dos machos testados. A Testagem de Machos Suffolk 2022 foi levada a cabo no Centro de Testagem instalado na ESACB, através de uma equipa desta instituição que tomou a seu cargo os registos e análise dos dados obtidos. O período de testagem teve início no dia 12/04/2022 e terminou no dia 27/05/2022. Durante este período, a ingestão (alimento concentrado e feno) foi registada diariamente e o peso vivo dos animais foi registado semanalmente. A partir destes registos e através do tratamento dos dados resultaram várias informações importantes sobre cada animal: • GMD (Ganho médio diário): peso que o animal ganhou, em média, por dia, em determinado período de tempo; • ICA (Índice de conversão alimentar): consumo de

alimento concentrado do animal em determinado período de tempo/ganho de peso; • CAR (Consumo alimentar residual): diferença entre o consumo estimado para alcançar o GMD ajustado ao peso metabólico e o consumo real observado. Este índice é relativo (entre os animais em teste) e indica, quando assume um valor negativo, um consumo inferior ao teórico necessário para o ganho de peso observado - mostrando aqueles que são os animais mais eficientes. Teoricamente, serão também os animais que emitem menos metano. • Peso aos 150 dias: estimativa do peso de cada animal aos 150 dias de idade O animal adquirido pelo maior valor neste leilão (€1850) foi Sandokan da Vila, um macho nascido em 12/01/2022 do criador Marco Paulo Esteves Patrício. Este animal, adquirido por outro criador presente — William Suffolk, Lda. — registou os resultados na testagem de performance que se apresentam nas tabelas ao lado. 084

ANIMAL MAIS VALORIZADO NO LEILÃO: SANDOKAN DA VILA Peso (kg) Nascimento

6

Aos 10 dias

9

Período

GMD (kg)

Aos 30 dias

20

10-30 dias

0,550

Aos 70 dias

41,5

30-70 dias

0,525

Inicio do teste

90 dias

51,80 kg

Fim do teste

135 dias

74,40 kg

Teste GMD (kg) teste

90-135dias

0,531

Peso estimado

150 dias

kg

Média grupo

dvp

0,506

0,06

82,40

kg

71,2

8,06

ICA (1)

3,49

kg/kg

3,98

0,61

CAR (2)

-238,10

g

0

Avaliação relativa

(1) - Índice de conversão alimentar; (2) - Consumo alimentar residual.

David Catita, presidente da APCORS (à dta.na foto), agradeceu a colaboração da Escola Superior Agrária de Castelo Branco na criação do Centro de Testagem que considera "um importante passo para o conhecimento e evolução da raça."


Ecografia: diagnosticar com eficiênciaa quantidade e qualidade da carne

NOTÍCIAS

ECOGRAFIA: DIAGNOSTICAR COM EFICIÊNCIA A QUANTIDADE E QUALIDADE DA CARNE O PROJETO BovINE, EM PARCERIA COM A PROMERT S.A., A ASSOCIAÇÃO DE CRIADORES DE BOVINOS MERTOLENGOS E A FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA DA UNIVERSIDADE LISBOA PROMOVERAM, EM MAIO, UMA DEMONSTRAÇÃO DA UTILIDADE DA ECOGRAFIA NO DIAGNÓSTICO DA QUANTIDADE E QUALIDADE DA CARNE. Por Ruminantes Fotos FG

A

demonstração foi feita pelo médico veterinário Jorge D. Ferrario, ecografista certificado pela Iowa State University e teve lugar no Centro de Testagem e Recria da Raça Mertolenga, em São Manços, Évora, onde se juntaram cerca de 40 produtores de carne de bovino. A ecografia tem sido usada para obter medições de gordura e músculo "in vivo" ou em carcaças de bovinos, há mais de 30 anos. Os grandes avanços em termos de portabilidade e resolução de imagem com a nova geração de ecógrafos que permitem a análise informática das imagens recolhidas, tornaram possível a aplicação prática da ecografia com maior precisão. A ecografia tem utilidade no diagnóstico da quantidade e qualidade da carne, nomeadamente: - na obtenção de dados para avaliação genética dos animais, e estimativa do valor

genético das características da carne e da carcaça; - na classificação de animais; - em sistemas de recria/ acabamento; - nos matadouros. REGIÕES DE AVALIAÇÃO POR ULTRASSONS As principais regiões anatómicas de interesse para avaliação por ultrassonografia da composição corporal são:

4 A – Imagem da gordura de superfície da anca ao nível da alcatra; 4 B – Imagem da secção transversal para determinação da área do acém redondo (rib eye/músculo longo dorsal) e espessura de gordura subcutânea (EGS) entre a 12ª e 13ª costelas (área do músculo longissimus dorsi); 4 C – Imagem longitudinal da gordura intramuscular (GIM) ou marmoreado. 085

PERSPETIVAS DOS DIFERENTES INTERVENIENTES DA PRODUÇÃO AO CONSUMO DE CARNE DE BOVINO Produtor

Matadouro

Distribuição

Pretende produzir um animal no menor tempo e com menos custos possíveis

Pretende carcaças com a máxima proporção de músculo, mínima proporção de osso e um nível de gordura adequado às exigências de mercado

Pretende carcaças com o maior rendimento possível, maior proporção de peça de maior valor e menor desperdício

PRINCIPAIS MEDIDAS OBTIDAS POR ULTRASSONOGRAFIA 1. Gordura de cobertura – Gordura subcutânea (EGS) – Grau de acabamento. 2. Gordura da anca – Gordura da alcatra ou P8 – Grau de acabamento. 3. Área do acém redondo (rib eye/músculo longo dorsal) — Quantidade de carne. 4. Gordura intramuscular (GIM) – Marmoreado – Qualidade da carne (suculência).

Consumidor

Pretende carne com boa cor e com o menor teor de gordura possível que garanta tenrura e suculência

A área do músculo longo dorsal está relacionada com a quantidade de músculo na carcaça, com o rendimento da carcaça e com o peso das peças comercialmente mais valorizadas (lombo, vazia, alcatra e pojadouro), sendo expressa em centímetros quadrados (cm2). A espessura de gordura subcutânea (EGS) está associada com a precocidade de crescimento da função reprodutiva e do acabamento.


#46 | jul. ago. set. 2022

REVISTA RUMINANTES

FARMIN LIVESTOCK TRAININGS

FORMAÇÃO “QUALIDADE DA CARNE DE BOVINOS” Da evolução do músculo para carne, à avaliação da qualidade da mesma, terminando na desmancha de uma carcaça. Este foi o tema de mais uma formação organizada pela FarmIN Livestock Trainings, em conjunto com o médico veterinário Humberto Rocha. A formação teve lugar no final do mês de abril, em Tomar, no salão de eventos da Caçabrava e nas instalações da Vivid Foods, e contou com mais de 40 formandos. No primeiro dia, inteiramente dedicado a palestras teóricas, foram abordados temas como: - O que é a carne? - A evolução do músculo para carne - O tempo da carne - Características da carne. Cor e tenrura. O segundo e último dia foi dividido em duas partes: de manhã teórica uma abordagem teórica sobre “Avaliação da qualidade da carne”, sendo a

tarde dedicada à desmancha e ao corte de peças de talho de bovino, e aos temas da apresentação e valorização comercial das peças de talho. A formação terminou com a degustação das peças observadas durante a desmancha com o Chef Churrasqueiro Alexandre Murrilo. Este curso terá uma nova edição no final de 2022.

RAÇAS PECUÁRIAS

"AS ILUSTRES RAÇAS. ILUSTRAÇÃO DE RAÇAS AUTÓCTONES PORTUGUESAS"

A FarmIN Livestock Trainings é uma empresa de formação que tem como missão valorizar e inspirar os profissionais da produção animal, através da organização de cursos imersivos com os melhores experts de cada área, disponibilizando formações nas seguintes áreas: bovinos de leite, bovinos de carne, suínos, pequenos ruminantes, coelhos e aves. Saiba mais em: farmin@farmin-trainings.net

Este livro reúne uma coleção de desenhos de ilustração científica, da autoria de Carlos Medeiros. A sua edição em livro — cujo lançamento teve lugar na Ovibeja, em abril passado, foi promovida pela empresa Ruralbit. Manuel Silveira, editor deste livro e responsável pela gestão do património artístico do ilustrador —entretanto falecido—, apresenta assim o projeto: "O meu trabalho é ligado às raças pecuárias, em especial às autóctones. Em 2014 , desafiei um ilustrador (Carlos Medeiros) a fazer um projecto de ilustração cientifica, sobre as raças autóctones portuguesas. Este projecto foi muito interessante, tendo sido muito elogiado pela sua qualidade técnica e, inclusivamente, já deu origem a 3 coleções de selos dos CTT. Este livro surge como uma dupla homenagem: em primeiro lugar, ao ilustrador Carlos Medeiros que, entre 2014 e 2018, se dedicou à ilustração das 47 raças autóctones portuguesas e também, igualmente homenagear às

O palestrante desta formação foi Humberto Rocha, médico veterinário, Doutor em Ciências Veterinárias e consultor na área técnica e comercial no setor das carnes. Atualmente é consultor de várias empresas de relevância nacional do setor. No passado esteve em grupos empresariais como a Sonae, S. Merryn Meat UK, Pasto Real, Campicarn, Ribacarne, ou Breeders and Packers Uruguay. É também Professor no Instituto da Saúde Egas Moniz – MIMV medicina veterinária.

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raças autóctones nacionais pelo reconhecimento do papel preponderante que, durante séculos, tiveram na agropecuária nacional e pela capacidade de resistirem aos desafios que, mais recentemente, lhes foram colocados. Os textos que acompanham as ilustrações (e que se encontram na grafia original) assinalam o papel que estas raças tiveram na produção agrícola nacional ao longo dos tempos, mas também as múltiplas formas em que surgem na nossa cultura: na literatura, na religião, no artesanato, na gastronomia, no teatro, nas lendas e nas estórias. Esta obra, sem fins lucrativos, é comercializada diretamente pela Ruralbit, com um custo de 35€ (com IVA e portes incluídos para Continente e Ilhas). Para encomendar o livro: https://ilustracoes.ruralbit.com Características da publicação: - 80 páginas - Papel couché mate 170 g - Capa dura - 21x28cm


PRODUTO | NOTÍCIAS

CIMERTEX E MERLO

UMA GAMA 100% ELÉTRICA A Cimertex e a Merlo apresentam a gama 100% elétrica – a opção cada vez mais procurada. Os novos eWorker são uma opção válida para quem visa diminuir a emissão de gases na sua atividade, encontrando soluções produtivas, fiáveis e seguras. As primeiras unidades estão já disponíveis para venda. O novo eWorker 25.5 90 tem um peso operativo de 4950 kg e uma capacidade máxima de carga de 2500 kg. Atinge a altura máxima de 4,8 m e o alcance máximo frontal de 2,6 m. É um modelo compacto, potente e ágil, que combina a inovação com a experiência de décadas no mundo dos carregadores telescópicos.

DELTA® GREEN

UMA ALTERNATIVA "VERDE" AO MONOPROPILENOGLICOL

NA SUA GAMA DE ESPECIALIDADES NUTRICIONAIS, A DELTAVIT LANÇA UMA ALTERNATIVA "VERDE" E VERSÁTIL AO MONOPROPILENOGLICOL, DESTINADA AOS RUMINANTES EM PERÍODOS DE DÉFICIT ENERGÉTICO.

Delta® Green é um produto funcional que estimula a atividade ruminal e fornece energia para vacas, ovelhas e cabras. As suas propriedades permitem otimizar a capacidade de ingestão dos animais, que é limitada e que não cobre todas as necessidades energéticas durante determinados períodos como: início da lactação, início da reprodução, entrada em engorda, etc.

O novo suplemento nutricional é composto por uma combinação de açúcares líquidos com ações complementares: - açúcares derivados do amido, que estimulam a atividade das bactérias do rúmen que potencializam as fibras da ração. - hidratos de carbono hepáticos, mais complexos, utilizados pelo fígado para a gluconeogénese. A combinação destes açúcares permite assim que a produção de ácidos gordos voláteis se espalhe ao longo do tempo e ajuda a limitar o depósito de gordura no figado, reduzindo a perda de peso, auxiliando na saúde e desempenho animal. O Delta® Green também utiliza extratos vegetais: alcachofra, genciana e cardo mariano, que

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facilitam a digestão da gordura além de melhorar a ingestão animal. Através da sua formulação, Delta® Green posiciona-se assim como uma alternativa natural apetitosa aos produtos à base de monopropilenoglicol (MPG). Também se posiciona como suporte para o funcionamento do rúmen e do fígado. O produto é administrado em vacas leiteiras: • Através do robot de ordenha/DAC e do circuito de pulverização: 200 a 400 ml/dia, 15 dias antes e 1 mês após o parto. • Como drogagem, 500 ml/vaca/d, de manhã e à noite, durante 2 a 4 dias.a - e em ovelhas ou cabras: • 50ml/animal/d, de manhã e à noite, durante 2 a 4 dias.


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REVISTA RUMINANTES

CattleEye

APLICAÇÃO DO SISTEMA EM EXPLORAÇÕES LEITEIRAS

C

attleEye é um sistema criado para monitorizar, de forma autónoma, o bem-estar e o desempenho das vacas, sem colares ou brincos. Uma câmara de segurança de baixo custo montada na entrada ou saída da sala de ordenha, e algoritmos especializados de inteligência artificial, aprendem a identificar as vacas individualmente e a monitorizar o seu bem-estar e um número crescente de outros comportamentos. Os dados recolhidos são enviados para um smartphone ou para outro dispositivo e podem até ser integrados num sistema de gestão da exploração. O software permite a deteção precisa e antecipada de coxeiras, dispensando a instalação de hardware oneroso. As ferramentas oferecidas pela CattleEye podem ser utilizadas em ordenhas de praticamente qualquer dimensão, sem antenas ou redes adicionais. A Inteligência Artificial e algoritmos de alta tecnologia fornecem expertise numa plataforma baseada em aplicações que é continuamente melhorada. Pablo Lamberto, VP Global Comercial e Marketing diz: “Quanto mais vacas no banco de dados, melhor o algoritmo”. A claudicação representa um

problema para as ordenhas de todas as dimensões, mas muitas vezes não é diagnosticada até que a vaca mostre sinais visíveis de dor e disfunção na mobilidade. O sistema de monitorização CattleEye pode detetar os primeiros sinais de claudicação que são impercetíveis ao olho humano. “A visão da máquina aprimora o que o olho humano pode fazer com uma tremenda consistência e sem erro ou preconceito”, diz Lamberto. “O software pode ajudar a identificar as vacas que podem precisar de tratamento, antes que uma claudicação se torne um problema”. A capacidade do CattleEye para avaliar a mobilidade foi validada de forma independente, pela Universidade de Liverpool, para igualar a de um veterinário treinado na deteção de lesões dolorosas de coxeiras. Testes iniciais em explorações relatam uma redução dramática na claudicação num período de tempo relativamente curto. A monitorização sofisticada pode frequentemente detetar uma claudicação dias, ou mesmo semanas, antes do olho humano, economizando tempo e aumentando a produtividade. O CattleEye tem como foco o conforto da vaca e consiste numa monitorização sem a utilização das mãos, e de brincos ou colares que

precisam ser reparados e substituídos e que podem causar desconforto. Os sensores geram geralmente custos de mão de obra invisíveis, mas o CattleEye tem como vantagem monitorizar as vacas sem a necessidade de lhe anexar algum dispositivo. A deteção precoce da claudicação pode levar à redução da dor e ao retorno imediato à produtividade, mas, mais importante, pode permitir que as vacas exprimam o seu potencial genético por mais tempo. A CattleEye também está a trabalhar em análises que podem fornecer dados sobre a pontuação da condição corporal e a saúde do rúmen ao produtor de leite. Os novos conhecimentos podem ajudar a identificar deficiências ou excessos nutricionais em vacas em transição e detetar sinais precoces de doenças metabólicas. A deteção precoce de coxeiras também desempenha um papel fundamental na transparência do leite de origem responsável. Maximizar o bem-estar animal de forma visível e mensurável pode aumentar a confiança do consumidor ao longo do tempo. As expetativas de bemestar animal estão a mudar, e as análises de IA da CattleEye oferecem uma maneira de os agricultores aderirem rapidamente a esses padrões.

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FNA '22

SEMINÁRIO PLURIVET A Plurivet realizou no passado dia 8 de junho, na 58ª Feira Nacional de Agricultura – FNA22, dois seminários com os temas: “Gestão adaptativa do pastoreio” e “Restrições na utilização de antibióticos em bovinos: problema ou oportunidade?”, Os seminários tiveram como oradores João Madeira e Ricardo Bexiga. À semelhança de anos anteriores e com a sala praticamente completa, a opinião geral dos 85 participantes foi de que a realização destes seminários são uma mais-valia na obtenção e partilha de novos conhecimentos. Terminados os seminários seguiu-se um lanche no stand da Plurivet, com degustação de carne de vitela gentilmente cedida pela Associação dos Criadores de Bovinos da Raça Alentejana (ACBRA), “regada” de vinhos Bridão da Adega Coop. do Cartaxo. "É para a Plurivet uma enorme satisfação poder contribuir na formação dos produtores nacionais. A Plurivet agradece a todos os intervenientes que contribuíram e continuarão a contribuir para o êxito destas iniciativas."


PRODUTO | NOTÍCIAS

MILHO GENETICAMENTE MODIFICADO NÃO DANIFICA ORGANISMOS NÃO-ALVO ProOVIS 1AS JORNADAS TÉCNICAS DE PRODUÇÃO DE OVINOS Promovendo uma produção de ovinos mais capacitada para responder aos grandes desafios que se colocam atualmente ao setor, a Associação Portuguesa de Criadores de Ovinos Romane – ProOvis organizou, no passado dia 20 de maio, as 1as Jornadas Técnicas de Produção de Ovinos, com o apoio da Câmara Municipal de Ourique e de diversas empresas ligadas ao setor. Nestas jornadas estiveram presentes mais de 100 pessoas, entre produtores, técnicos e investigadores. Ao longo das cinco sessões foram abordadas várias temáticas relevantes para o setor, tendo como ponto de partida a reprodução e a genética, passando ainda pela nutrição, sanidade e mercados. Apesar dos avanços em termos de eficiência produtiva a que se têm assistido no setor de produção de ovinos em Portugal, destas jornadas destaca-se a grande margem de progressão que o setor ainda tem no sentido de se tornar mais produtivo, rentável e competitivo. Para tal foi reforçada a necessidade de uma maior monitorização das práticas reprodutivas, alimentares e sanitárias, a aplicação de práticas adequadas em todas as fases do ciclo produtivo para aumento de eficiência do sistema, a utilização de recursos alimentares alternativos que reduzam a dependência externa e de matérias primais convencionais, e a necessidade de incorporação de inovação no setor. Destaca-se também a necessidade de rejuvenescimento e de profissionalização do setor.

A maior análise de dados, e de mais alta qualidade, já realizada revela que o milho Bt geneticamente modificado tem pouco impacto em insetos não-alvo e noutros organismos, especialmente em comparação com a cultura de milho convencional. O estudo que suporta estas conclusões foi publicado em junho passado, na Environmental Evidence, por um cientista do Serviço de Investigação Agrícola da USDA e pelos seus colegas. Um dos problemas relatados nas avaliações de possíveis danos a organismos não-alvo pelo milho Bt devia-se ao facto de cada estudo ser limitado no alcance, ambiente ou dimensão. Os três autores do artigo compensaram, entretanto, essas deficiências: "Reunimos centenas de estudos individuais, publicados entre 1997 e 2020, que analisaram se o cultivo de milho Bt mudou a abundância ambiental de animais não-alvo, como artrópodes, minhocas e nemátodos, especialmente em comparação com a cultura de milho não geneticamente modificado acompanhado pelo pesticida necessário para controlar as principais pragas", explicou um dos autores do estudo, o entomologista da ARS Steve Naranjo, diretor do Arid-Lands Agricultural Research Center em Maricopa, Arizona. Naranjo e os entomologistas Joerg Romeis e Michael Meissle, da Agroscope, contraparte suíça da ARS, concluíram que essa enorme coleta de dados permite mostrar que o milho Bt não teve efeitos negativos na maioria dos grupos de invertebrados, incluindo joaninhas, percevejos e crisopídeos. Populações de insetos Braconidae, que são vespas parasitóides que atacam brocas do milho, foram reduzidas com milho Bt.

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KUBOTA NOVA ENFARDADEIRA DE CÂMARA FIXA, BF 3500 Em Montemor-o-Velho, decorrreu, em abril, mais uma edição do Orange Days da Kubota que contou com a visita da rede de concessionários da marca e de cerca de 800 agricultores. A par com a apresentação da gama de pulverizadores da marca Fede, adquirida recentemente pela Kubota, esteve em destaque a nova enfardadeira de câmara fixa, modelo BF 3500, com 1,30 m de diâmetro de rolo.

A Kubota BF3500 é a enfardadeira especializada para condições de ensilagem pesada. A câmara de enfardamento é formada por 18 rolos de perfil, com nervuras que garantem a máxima densidade do fardo e excelente rotação do fardo em todas as condições, enquanto a necessidade de energia também é reduzida ao mínimo para uma operação mais eficiente.

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GEA DairyRobot R9500, nova edição 2021 Uma maior rentabilidade para a sua exploração o A nova geração dos nossos sistemas de ordenha robotizada proporciona um maior número de ordenhas e uma maior produção de leite diária, com uma redução dos custos operacionais.

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