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Alimentação | Bovinos de leite

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ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE LEITE LEITE DE SUBSTITUIÇÃO: O QUE ESTÁ PARA ALÉM DO RÓTULO

EXISTE UMA GRANDE VARIEDADE DE LEITES DE SUBSTITUIÇÃO NO MERCADO COM DIFERENÇAS SIGNIFICATIVAS DE PREÇO. ESTAS DIFERENÇAS ESTÃO NORMALMENTE RELACIONADAS COM O PERFIL NUTRICIONAL DO LEITE E COM A FONTE E A QUALIDADE DAS MATÉRIAS-PRIMAS UTILIZADAS. É IMPORTANTE QUE, NA ESCOLHA DE UM LEITE DE SUBSTITUIÇÃO, OS PRODUTORES ENTENDAM ESSAS DIFERENÇAS E TOMEM DECISÕES INFORMADAS COM O OBJETIVO DE MAXIMIZAR O DESEMPENHO DO ANIMAL E O RETORNO ECONÓMICO. Foto NM

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SUSANA SOUSA

Médica Veterinária e Engenheira Zootécnica Gestora de Gama – Nutrição s.sousa@vetlima.com Pode ser difícil avaliar um leite de substituição apenas a partir da informação existente no rótulo. Isto acontece porque, legalmente, a informação que nele deve constar obriga apenas a enumerar os ingredientes que este contém por ordem decrescente e a declarar os constituintes analíticos: proteína, gordura, fibra e cinza brutas, cálcio, fósforo e sódio. Em relação aos aditivos (vitaminas, oligoelementos, aminoácidos, etc.) existe a obrigatoriedade de serem declarados apenas os que têm estabelecido um teor máximo de incorporação e apenas para quando é providenciado a um animal criado para alimentação humana.

Estes parâmetros são importantes, numa fase inicial, para dar uma indicação geral da qualidade do leite de substituição mas, para avaliar, comparar produtos e tomar uma boa decisão de compra, é necessária informação mais detalhada. Esta informação não vem mencionada no rótulo, mas é determinante para prever o desempenho do produto, avaliar se este é o adequado às necessidades da exploração e qual a relação custo-benefício.

A tabela 1 mostra alguns valores de referência que normalmente podemos encontrar no mercado dos leites de substituição.

Tentar compreender o rótulo pode não ser uma tarefa fácil, mas existem algumas

perguntas-chave que podem e devem ser colocadas antes de tomar uma decisão de compra.

1. Quais as fontes proteicas utilizadas? 2. Qual a percentagem de leite desnatado e de soro de leite em pó que tem na sua composição? 3. Qual o perfil de aminoácidos do leite? 4. Qual é o seu conteúdo energético? 5. Qual o tipo de gordura utilizada? 6. O que diz o teor de fibra e cinzas do leite? 7. Tem aditivos que promovem e protegem a saúde intestinal do animal?

PROTEÍNA

O valor recomendado de proteína bruta num leite de substituição deve variar entre 20 e 26%. A proteína fornece aminoácidos essenciais para a síntese de tecidos necessários ao crescimento estrutural do animal. Existem várias fontes proteicas disponíveis que variam em biodisponibilidade para o animal e presença de fatores anti-nutricionais. Estão basicamente divididas em matérias-primas lácteas e não lácteas, sendo estas últimas normalmente de origem vegetal.

Matérias-Primas Proteicas Lácteas

São os ingredientes mais dispendiosos nos leites de substituição pois têm uma digestibilidade superior às proteínas não lácteas e fornecem um perfil de aminoácidos mais adequado ao crescimento dos animais. Existem várias matérias-primas lácteas disponíveis no mercado, sendo as mais utilizadas: o soro de leite, o concentrado de proteína de soro (WPC), o soro de leite deslactosado, o leite em pó desnatado (SMP) e a caseína.

Proteínas de soro ou proteínas de leite em pó desnatado: Durante muito tempo esteve instituída a ideia de que, nos primeiros dias de vida dos vitelos, a principal fonte proteica num leite de substituição deveria ser o leite desnatado. No entanto, ao longo dos anos, o aumento substancial do uso de leite desnatado em nutrição humana tem diminuído a sua disponibilidade e aumentado muito o seu preço em relação às proteínas de soro. Como resultado, as proteínas provenientes do soro lácteo são atualmente as fontes proteicas mais utilizadas nos leites de substituição.

Vários estudos têm demonstrado não haver diferenças significativas no impacto do valor nutritivo das proteínas provenientes do soro e do leite desnatado, no crescimento dos vitelos. Terosky et al., (1997), num estudo realizado em vitelos, alimentados até às 8 semanas com leites de substituição contendo as seguintes percentagens de proteínas lácteas (SMP:WPC): 100:0, 67:33, 33:67 ou 0:100, não encontraram diferenças no ganho de peso vivo, ganho médio diário, consumo de matéria seca ou eficiência alimentar, com o aumento da inclusão de WPC. Do mesmo modo, Marsh e Boyd (2011) não encontraram diferenças no peso ao desmame, peso às 12 semanas, ganho médio diário, ingestão de matéria seca e eficiência alimentar em vitelos Holstein alimentados com leites de substituição contendo SMP ou WPC.

A principal diferença que existe entre estas duas fontes proteicas reside no tempo de digestão, pois enquanto a fração proteica do soro de leite e do concentrado de proteína de soro é essencialmente constituída por lactoalbuminas e lactoglobulinas que são digeridas mais rapidamente pois não coagulam, a fração proteica do leite desnatado é constituída por caseína, que forma um coágulo durante a digestão. Este coágulo proporciona ao vitelo a sensação de saciedade e de "enchimento intestinal" durante um período mais longo. Embora algumas pesquisas (Longenbach e Heinrichs, 1998) tenham indicado que a formação do coágulo em vitelos alimentados com dietas à base de caseína é benéfica para a digestão porque ocorre uma libertação lenta dos nutrientes no abomaso, outros estudos (Petit et al., 1988) não encontraram qualquer relação entre a formação do coágulo com a melhoria da digestibilidade dos nutrientes. Alguns autores referem ainda que a redução do coágulo é benéfica porque, como reduz a sensação de saciedade dos animais, estes começam a ingerir alimentos sólidos mais cedo, o que é benéfico para o desenvolvimento ruminal.

Comercialmente existem dois tipos principais de leites de substituição: os leites formulados com proteína à base de leite desnatado em pó (Skim-based) e os leites formulados com proteína à base de soro (Whey-based). A escolha de cada um depende em grande parte do sistema de produção e dos objetivos pretendidos, no entanto, existem situações em que faz mais sentido utilizar um ou outro (tabela 2).

Percentagem de leite desnatado e de soro de leite em pó: um aspeto muito importante e que deve ser questionado, tem que ver com a quantidade de leite desnatado e de soro de leite em pó que o leite de substituição tem na realidade. Num leite skim-based, o leite desnatado em pó deve surgir na lista de matérias-primas do rótulo antes do soro de leite e de outras matérias-primas proteicas. Por outro lado, se o leite for whey-based será o soro de leite a aparecer em primeiro lugar. No entanto, isto não nos diz nada a respeito da quantidade destes ingredientes na fórmula do leite.

TABELA 1 VALORES DE REFERÊNCIA NORMAIS NOS LEITES DE SUBSTITUIÇÃO

Nutriente Mín Máx Comentários

Proteína bruta (%) 20 26 Níveis mais elevados para maiores taxas de crescimento Gordura bruta (%) 15 22 Principal fonte de energia para além da lactose Fibra bruta (%) 0 0,5 Níveis superiores indicam a inclusão de proteína não láctea Cinza bruta (%) 6 8 Os ingredientes utilizados afetam o nível de cinzas Vitamina E (mg/kg) 0 250 Níveis mais elevados têm maior custo, mas melhoram a imunidade do animal Selénio (mg/kg) 0 0,5 0,5 mg/kg é a inclusão máxima legal no alimento completo

TABELA 2 RAZÕES PARA A ESCOLHA DE LEITES DE SUBSTITUIÇÃO DE ACORDO COM A SUA FORMULAÇÃO BASE

Leite Skim-based

Preferência do produtor em utilizar um leite de substituição “mais semelhante” ao leite materno integral Em explorações com problemas digestivos recorrentes e mais desafios ao nível da higiene, do maneio e doenças

Em explorações que vendem os vitelos com 2-3 semanas de idade e pretendem crescimentos muito intensivos nesse período

Leite Whey-based

Quando é necessário um leite de substituição mais económico Em explorações com uma situação sanitária mais estável, com menos problemas de higiene, de maneio e doenças Sistemas combinados de criação de vitelas de substituição e vitelos de carne

Por exemplo, um leite com 23% de proteína e 18% de gordura bruta e que no seu rótulo tem como primeira matériaprima o leite desnatado em pó, pode na realidade ter 30, 40, 50 ou mesmo 60% de leite desnatado na fórmula. Se este valor não estiver declarado a única forma de o saber é questionando o fabricante.

Matérias-Primas Proteicas Vegetais

As fontes de proteína vegetal podem ser utilizadas com sucesso, como uma alternativa mais económica, na formulação de leites de substituição. No entanto, a sua escolha tem de ser criteriosa, pois nem todas são apropriadas para esta fase de desenvolvimento do animal.

A proteína de trigo hidrolisada ou glúten de trigo hidrolisado é a proteína vegetal mais utilizada em leites de substituição para vitelos. Contém um teor de fibra e cinzas reduzido e contém uma percentagem muito maior de proteína em comparação com o concentrado de proteína de leite ou o leite desnatado. Além disso, não contém fatores antinutricionais, e a sua digestibilidade é muito elevada, cerca de 95% para matéria seca, matéria orgânica e proteína bruta. No entanto, ao se usar esta matéria-prima na formulação de leites de substituição, é necessário ter especial atenção ao nível de aminoácidos, especialmente ao teor de lisina.

Um aspeto muito importante é que o glúten de trigo utilizado tem de ser hidrolisado. Não confundir com glúten de trigo normal. A hidrólise é um processo no qual as proteínas são cortadas enzimaticamente em pedaços menores, ficando assim “pré-digeridas”. Se esta etapa não for aplicada ao glúten de trigo, a matéria-prima é pouco solúvel, o que torna a sua utilização pouco adequada em leites de substituição.

Outra alternativa económica às proteínas lácteas é o concentrado proteico de soja. A popularidade das proteínas de soja decorre da sua ampla disponibilidade, custo relativamente reduzido e perfil de aminoácidos favorável. No entanto, como a soja contém fatores antinutricionais como antigénios e inibidores enzimáticos, que causam reações alérgicas e inflamação no trato digestivo, reduzindo a digestão da proteína e a absorção de minerais, esta tem de ser sujeita a um tratamento adicional para poder ser utilizada em leites de substituição.

O concentrado proteico de soja contém um teor de fibra mais elevado que o glúten de trigo hidrolisado e uma digestibilidade mais baixa (50-75%), pelo que, só deve ser administrado a vitelos a partir da 3ª ou 4ª semana de vida e em quantidades moderadas.

PERFIL DE AMINOÁCIDOS

Mais do que o teor de proteína bruta de um leite de substituição, o nível de aminoácidos que constitui esta mesma proteína é crucial para que os animais possam manifestar todo o seu potencial genético. Os vitelos necessitam de aminoácidos específicos para o crescimento muscular e um correto funcionamento do sistema imunológico. Os aminoácidos desempenham um papel indispensável na eficiência de utilização da proteína aumentando a deposição proteica (Yasuhiko, 2004). Vários estudos têm sido realizados com o objetivo de definir uma concentração ideal de aminoácidos para os vitelos (Klemesrud et al., 2000; Hile et al, 2007, 2008). Vitelos alimentados com leites de substituição suplementados com lisina e metionina tiveram maior peso e maiores ganhos médios diários do que vitelos alimentados com leite de substituição sem esses aminoácidos (Jenkins e Emmons, 1983; Kanjanapruthipong, 1998). Hill et al., (2008), suplementaram com diferentes percentagens de lisina, metionina e treonina leites de substituição produzidos com soro de leite como fonte proteica. Eles concluíram que para otimizar o ganho médio diário de vitelas jovens com menos de 5 semanas de idade, necessitavam de ingerir diariamente 17 g de lisina e a relação metionina/lisina e treonina/ lisina deveria ser de 0,31 e menor que 0,60 respetivamente.

Bai et al., (2020), num estudo realizado em vitelos Holstein nos primeiros 14 dias de vida, onde se comparou a utilização de um leite de substituição com 24% de proteína e 20% de gordura bruta (24:20) e um leite com 22% de proteína e 20% de gordura bruta com o mesmo nível de aminoácidos suplementado com aminoácidos sintéticos (AA22:20), obteve resultados idênticos ou melhores no crescimento dos animais, com um menor custo de alimento por kg de peso vivo ganho. Assim, é possível formular leites com menores teores de proteína bruta, desde que os níveis de aminoácidos essenciais para o animal estejam assegurados.

Muitas das fórmulas comerciais que atualmente existem continuam a basear-se apenas na concentração de proteína bruta, pelo que, é muito importante verificar se no rótulo existe alguma informação sobre os níveis de aminoácidos. Se não existir esta informação é aconselhável que a solicite junto do fabricante.

ENERGIA

As principais fontes de energia utilizadas na formulação dos leites de substituição são as gorduras e os hidratos de carbono. Uma unidade de gordura fornece cerca de duas vezes mais energia que uma unidade de hidrato de carbono.

Óleos e gorduras

Os leites de substituição são normalmente formulados com 15 a 22% de gordura bruta. Leites com um teor de gordura mais elevado fornecem mais energia e são frequentemente usados em climas mais frios. A gordura é a principal fonte de energia utilizada nos leites de substituição. Em ruminantes, estudos realizados por Toullec et al., (1969) mostraram que os ácidos gordos de cadeia curta (≤ 8 carbonos) são 100% digeríveis, enquanto os ácidos gordos de cadeia média e insaturados de cadeia longa são 95% digeríveis. Os ácidos gordos saturados de cadeia longa são entre 80 e 90% digeríveis. O que realmente determina a digestibilidade de uma gordura não é a sua origem ou fonte, mas sim o seu perfil de ácidos gordos (tabela 3).

A manteiga é a melhor fonte de gordura para vitelos porque é nutricionalmente única e, comparada com outras gorduras, contém uma proporção relativamente alta (15 a 20%) de ácidos gordos saturados de cadeia média altamente digerível (Raven, 1970). No entanto, a sua utilização em nutrição humana e o seu elevado preço tornam impossível a sua utilização em leites de substituição. Outras gorduras animais, como o sebo ou a banha, deixaram de ser utilizadas devido, por um lado, à sua menor digestibilidade, mas também devido à crescente preocupação da opinião pública em relação à transmissão de determinadas doenças, com é o caso da encefalopatia espongiforme bovina.

Atualmente, as gorduras mais utilizadas nos leites de substituição são misturas de óleos vegetais como o óleo de palma, óleo de coco e óleo de soja, cujo perfil de ácidos gordos e digestibilidade é muito semelhante à gordura do leite integral. Estas gorduras são emulsionadas em maior ou menor grau no processo de fabrico. Atualmente existem processos tecnológicos que combinam a gordura com proteínas lácteas e emulsificantes,

TABELA 3 VALORES DE DIGESTIBILIDADE DE VÁRIOS TIPOS DE GORDURA

FONTE GORDURA

Manteiga Óleo de coco Óleo de palma Sebo

Banha DIGESTIBILIDADE GB (%)

95-97

92-96

92-97

87-94

88-96

REFERÊNCIA

Raven, 1970

Toullec et al., 1980

originando misturas finas, muito fluídas e totalmente homogeneizadas. Estas gorduras encapsuladas em proteínas (PEFs) conferem uma elevada resistência à oxidação e boa estabilidade em emulsão. Quanto mais emulsificada for uma gordura, mais digerível ela será. No entanto, esta informação não vem mencionada no rótulo e a única maneira de o saber é questionando o fabricante do leite.

Hidratos de Carbono

A lactose, tem cerca de metade do valor energético da gordura e é o principal hidrato de carbono presente no leite. Normalmente, os leites de substituição contêm cerca de 40-50% de lactose, sendo esta uma importante fonte de energia para o vitelo.

Após o nascimento, a lactase é a principal enzima produzida pelo vitelo para digerir hidratos de carbono (lactose). Enzimas como a amilase e maltase para a digestão de amidos só começam a aumentar em número e atividade à medida que o vitelo cresce, pelo que a utilização de amidos nos leites de substituição deve ser moderada nas primeiras 2-3 semanas de vida.

FIBRA

Uma vez que as proteínas lácteas não contêm nenhuma fibra, o valor de fibra bruta declarado no rótulo está relacionado com a quantidade e o tipo de proteína vegetal que o leite tem na sua composição. Níveis de fibra acima de 0,15% indicam a presença de uma fonte de proteína vegetal, mas níveis abaixo de 0,15% não significam necessariamente a ausência de proteína vegetal. No entanto, se os níveis de fibra forem iguais ou superiores a 0,50%, então o leite tem certamente na sua composição uma fonte de proteína de inferior qualidade e consequentemente de inferior digestibilidade, como é o caso do concentrado de proteína de soja ou farinha de soja. Neste caso a lista de ingredientes deve ser consultada para confirmar as fontes de proteína.

Mas atenção, um leite de substituição com um teor de fibra bruta zero no rótulo pode na verdade ter até 0,04% de fibra na sua composição, pois os valores são arredondados para baixo quando são inferiores a 0,05% e para 0,1% quando são superiores a 0,05%.

CINZA

O teor de cinza bruta é uma indicação do nível de minerais presentes no leite de substituição e não deve ser superior a 8%. Uma análise padrão das cinzas mostra que estas são compostas principalmente por sódio, potássio e cloro provenientes principalmente do soro de leite em pó, que é um subproduto da indústria dos queijos. De acordo com o NRC, o leite integral de vaca contém cerca de 6% de cinzas. Portanto, podemos supor que um leite de substituição com um nível de cinzas de 6 a 7 % será apropriado para o vitelo. Níveis superiores a 8% devem ser evitados, pois apresentam riscos específicos para a saúde do vitelo como: desidratação celular, ingestão reduzida de matéria seca, diarreia, dor abdominal e outros problemas gastrointestinais.

SAÚDE INTESTINAL

Os vitelos nascem com um trato gastrointestinal estéril, pronto para ser colonizado por microrganismos. Estabelecer um ambiente intestinal saudável e equilibrado, o quanto antes, é essencial para a saúde e desenvolvimento de vitelos pré-desmamados. A microbiota intestinal (ou população de microrganismos intestinais) desempenha um papel importante na saúde dos animais, especialmente durante períodos de stress e quando há uma maior suscetibilidade à doença, uma vez que cerca de 70% do sistema imunológico do vitelo reside no intestino.

Numa altura em que cada vez mais se fala na redução do uso de antimicrobianos, a utilização de determinados aditivos ou suplementos pode ajudar a estabelecer uma microbiota saudável e reforçar o sistema imunitário. Assim, é importante verificar no rótulo do leite se este tem na sua composição probióticos, ácidos orgânicos e fitogénicos.

Probióticos: no rótulo estes aditivos devem vir declarados como “Estabilizadores da flora intestinal” e normalmente os mais utilizados são o Enterococcus faecium e o Lactobacillus rhamnosus. A sua principal função é a de promover e estabilizar a microflora intestinal comensal e criar um ambiente intestinal saudável, auxiliando a enfrentar problemas de saúde.

Ácidos orgânicos: no rótulo estes aditivos são geralmente declarados como “Conservantes” e normalmente o mais utilizado é o ácido cítrico, mas outros também podem ser utilizados como o ácido sórbico, málico ou fumárico. A sua principal função é criar e manter um pH baixo no trato digestivo e, deste modo, evitar o crescimento de bactérias patogénicas como a E.coli, Salmonella spp. e Clostridium spp.

Fitogénicos: são óleos essenciais e extratos de plantas e quando são declarados surgem no rótulo como “Compostos aromatizantes” ou “Substâncias aromáticas e apetentes”. A sua utilização está relacionada essencialmente com propriedades bioativas bacteriostáticas, antiinflamatórias e antioxidantes que muitos óleos essências possuem, para além de estimularem a ingestão de alimento.

Desta forma, espero que este artigo tenha contribuído para o esclarecimento de algumas dúvidas que possam existir sobre a temática dos leites de substituição. O viteleiro é sem dúvida uma parte importante de qualquer exploração leiteira e o leite de substituição tem um peso económico importante nos custos totais da exploração. Por isso, comprar com base apenas no preço e nos valores declarados de gordura, proteína, fibra e cinzas limita a capacidade de fazer um correto julgamento de valor sobre o produto selecionado. Como foi referido no início deste artigo, é necessário obter informação mais detalhada para avaliar, comparar produtos e tomar uma boa decisão de compra.

Nota: para consultar a bibliografia utilizada, contacte a autora.

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