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Bovinos de leite
by RUMINANTES
o mercado já encontrou alternativas, em particular para o milho, e os preços nos portos portugueses passaram do pico de março, acima dos 400€/ tm, para uns mais razoáveis 330€ para agosto. Convém não esquecer que a 23 de fevereiro os preços estavam nos 280€ em Lisboa.
Assim, e com o novo equilíbrio estabelecido, a questão é encontrar, dentro da abundância de milho brasileiro (Safrinha), milho com os limites maximos de resíduos aprovados na UE. Uma vez que as alternativas ao milho brasileiro são mais caras, como é o caso do milho dos States, cerca de 35€ mais que o brasileiro.
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Em relação ao trigo e cevada, infelizmente a Espanha teve uma colheita pequena, pelo que não devemos ter preços muito agressivos de cevada espanhola, como tradicionalmente tínhamos sobre estas datas.
CONCLUSÃO
Viemos de dois anos com perdas grandes de colheitas, que conduziram a stock finais muito baixos, donde qualquer problema em julho/agosto no hemisfério norte, vai conduzir a uma situação explosiva dos preços de cereais e soja. Para recordar os mais novos do que é viver com inflação, não podemos tomar uma decisão de compra com base nos preços atuais, se são altos ou baixos, mas sim na anáise dos stocks finais e na perspetiva de estes terem tendência a aumentar ou de continuarem baixos. Também temos que ter em conta que, descontada a inflação, em termos reais os preços dos cereais e das oleaginosas estão longe do pico de 20082014 (também é verdade, em termos nominais de 2008-2011). Assim, por prudência, há que ir aproveitando as pequenas correcções que haja no preço e ir comprando pelo menos para os próximos 3-4 meses.
Termino com um abraço solidário ao povo ucraniano.
NOTÍCIAS | BOVINOS DE LEITE INVESTIGAÇÃO LEITEIRA O QUE HÁ DE NOVO?
NESTA RUBRICA APRESENTAMOS RESUMOS DOS TRABALHOS MAIS RECENTES PUBLICADOS NO JOURNAL OF DAIRY SCIENCE.
Traduzido e adaptado por Pedro Nogueira, Engº zootécnico, Trouw Nutrition/Shur-Gain, e-mail: Pedro.Nogueira@trouwnutritioncom | Foto @adrianciurea69
Journal of Dairy Science Vol. 105 nº 5, 2022.
Neste artigo, investigadores alemães estudaram os níveis de fósforo (P) em dietas de vacas secas. O fósforo na nutrição bovina está sob escrutínio contínuo devido a preocupações com quantidades excessivas de P excretado no estrume, contribuindo para a poluição ambiental. No entanto, é indicado no artigo que o fornecimento de dietas com teor excessivo de P continua a ser uma prática comum, particularmente durante o período de transição, pois acredita-se que uma limitação em P no final da gestação e início da lactação, apresenta um risco para a saúde e produtividade das vacas de alta produção. O objetivo deste estudo foi investigar o efeito de uma dieta limitada nos níveis de P durante as últimas 4 semanas de gestação. A homeostase de cálcio e fósforo durante o período de transição em vacas leiteiras de alta produção e os seus possíveis efeitos no metabolismo e na produtividade ao longo da lactação seguinte foram investigados. Para isso, os autores utilizaram trinta vacas leiteiras multíparas no final da gestação. Foi distribuída às vacas uma dieta de vaca seca com um baixo (BP) ou um conteúdo adequado em P (AP) [0,16 e 0,30% P na matéria seca (MS), respetivamente] nas últimas 4 semanas antes do parto. Após o parto todas as vacas receberam a mesma ração com teor adequado em P (0,46% P na MS).
Os autores fornecem algum contexto relativamente à oportunidade deste estudo, dizendo que o fósforo na nutrição de ruminantes tem recebido maior atenção
devido a preocupações ambientais relacionadas com quantidades excessivas deste mineral nos dejetos de animais. Eles dizem que muitos países estão atualmente a implementar regulamentação que visa reduzir a quantidade de P, proveniente do estrume, aplicado em terras agrícolas. Em relação às vacas leiteiras, acredita-se que a deficiência em P esteja associada a vários problemas e que distúrbios no equilíbrio em fósforo sejam considerados uma preocupação, particularmente durante o período de transição. Por causa disso, o fornecimento de dietas de vacas secas e frescas com níveis de P acima das recomendações atuais ainda é comum em explorações leiteiras. No entanto, há pouca evidência que suporte as preocupações existentes quanto ao respeitar os teores de P atualmente recomendados na formulação de dietas para vacas secas. Como tal, os objetivos deste estudo foram explorar os possíveis efeitos duradouros da restrição de P durante o período seco na ingestão de matéria seca, produção de leite e metabolismo na lactação seguinte.
Por outro lado, estudos recentes que investigaram os efeitos da restrição em P em vacas em transição, descobriram que o fornecimento de dietas com teores de P bem abaixo das recomendações atuais, para as últimas 4 semanas do período seco e para as primeiras 4 semanas de gestação teve, de facto, efeitos negativos na ingestão de matéria seca, saúde e produtividade. No entanto, nesses estudos, foi evidenciado que o fornecimento restrito de P durante o período seco estimula a mobilização óssea, resultando numa libertação importante e metabolicamente relevante de Ca e P dos ossos, durante os últimos dias de gestação. Este facto foi associado a concentrações mais estáveis de Ca no sangue em vacas em pré-parto e a uma diminuição da incidência de hipocalcemia clínica e subclínica. Devido a isso, os autores levantaram a hipótese de que limitar o período de restrição de fornecimento de P às últimas 4 semanas do período seco resultaria num efeito benéfico na homeostase do Ca, sem prejudicar a função hepática e o metabolismo em vacas leiteiras de alta produção.
Os resultados relatados no estudo indicam que o fornecimento limitado de P na dieta de vacas secas afetou positivamente a homeostase do Ca de vacas leiteiras em pré-parto, mas não revelou efeitos negativos sobre a ingestão de matéria seca, produção de leite ou atividade metabólica na lactação seguinte. A restrição de P durante o período seco foi associada à hipofosfatemia anteparto, mas não à exacerbação da hipofosfatemia no pós-parto, que é comumente observada em vacas frescas. Esta restrição também não foi associada a qualquer indicação clínica ou subclínica de deficiência de P no início da lactação. Os autores terminam indicando que, embora a comparação entre dietas com P adequado e P restringido não tenha dado qualquer indicação de um efeito negativo da restrição em P na saúde, estes resultados devem ser confirmados com um estudo com um maior número de animais.
Journal of Dairy Science Vol. 105 No. 5, 2022.
Esta é uma revisão de um problema comum que as explorações leiteiras enfrentam durante o verão em muitas áreas do mundo. A revisão foi feita por investigadores da Universidade de Iowa e consultores de nutrição de uma empresa americana, a Dairy-Tech Group. Os autores identificam o problema indicando que o stress térmico (ST) reduz a produção e a eficiência em quase todas as métricas das explorações leiteiras, comprometendo assim a lucratividade e a sustentabilidade. Se a intensidade do ST aumenta, pode tornar-se letal. A morte pode ocorrer de forma aguda ou dias após a vaga de calor, mesmo que as condições ambientais se tenham tornado normais. Consequentemente, o stress térmico letal é muitas vezes difícil de identificar e quase sempre mal diagnosticado. Os autores dizem que embora os mecanismos do stress térmico letal (STL) não sejam bem compreendidos, a sua fisiopatologia parece ser comum a várias espécies.
O stress térmico é um problema bem conhecido em vacas leiteiras, e quem trabalha no setor está ciente dos problemas que ele causa, nomeadamente redução da ingestão de matéria seca, diminuição da produção de leite e seus componentes, e redução da fertilidade. Estes resultados incentivam os produtores a investir em estratégias para reduzir o stress térmico (como disponibilização de sombras, ventoinhas, aspersores, etc.). Ainda assim, dizem os autores, é surpreendente que a morbidade e a mortalidade induzidas pelo stress térmico raramente sejam observadas ao nível individual da vaca ou do rebanho. Eles indicam como exceções as devastadoras ondas de calor de 2006 na Califórnia que causaram a morte de aproximadamente 40.000 vacas. Também referem que na maioria dos casos de mortalidade de gado induzidas por ST, a causa real da morte é intrigante e indefinível. A dificuldade em reconhecer com precisão a apresentação e os sintomas de ST grave geralmente resulta num diagnóstico errado, especialmente após um período de stress térmico agudo, quando as condições ambientais voltam a ser moderadas e já não são perigosas.
Os autores indicam que a morte causada por este problema é multifatorial e provavelmente envolve uma disfunção e desequilíbrio de vários sistemas interdependentes, desde desequilíbrios eletrolíticos até inflamação induzida por uma severa ativação imunológica, falência de múltiplos órgãos e insuficiência circulatória, entre outros. Eles dizem que a morte ocorre frequentemente dias após o evento de calor extremo, quando as temperaturas aparentemente são aceitáveis. Nesses casos, acrescentam, a ocorrência temporal fragmentada e imprevisível entre a vaga de calor e a morte muitas vezes resulta em diagnósticos erróneos. A designação “letal” no rótulo STL implica uma patologia suficientemente grave para ser capaz de causar a morte, embora nem todos os casos resultem em morte. No entanto, mesmo para os sobreviventes, é uma patologia grave que pode causar redução crônica da função dos órgãos em vacas leiteiras. Devido à gravidade desse problema, os autores afirmam que é necessário que o Stress Térmico Letal seja mais amplamente reconhecido, e que os seus sinais sejam descritos com mais clareza, por forma a que um diagnóstico diferencial em casos de campo, possa ser estabelecido. A informação limitada relativa especificamente a vacas leiteiras, faz com que a compreensão da patologia esteja amplamente dependente de estudos em outras espécies. Assim, há uma necessidade crítica de esclarecer os sinais, indicações e diagnósticos apropriados, por forma a facilitar diagnósticos de campo precisos do stress térmico letal.