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Alimentação | Bovinos de carne
by RUMINANTES
ALIMENTAÇÃO | BOVINOS DE CARNE II TESTE DE EFICIÊNCIA ALIMENTAR ABERDEEN ANGUS PORTUGAL
NA 2ª EDIÇÃO DO TESTE DE EFICIÊNCIA ALIMENTAR DE MACHOS ABERDEEN ANGUS, O PLANO NUTRICIONAL FICOU A CARGO DA ZOOPAN, S.A.
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Por Sara Carvalho Garcia, Técnica de Nutrição ZOOPAN, S.A., sara.garcia@zoopan.com; Aberdeen-Angus Portugal, pedro.vaz@aberdeen-angus.pt; Associação Criadores Bovinos Mertolengos, pais@mertolenga.pt | Fotos Sara Garcia Fotografias
Araça é conhecida pela valorização de forragens e tem necessidades nutricionais específicas, característica que pudemos comprovar no teste anterior. O desenho do plano alimentar do Teste de Performance foi realizado tendo em consideração as necessidades nutricionais específicas e a fase fisiológica em que se encontravam os animais: • Animais jovens: ainda em crescimento, tendo necessidades elevadas de proteína de qualidade – Proteínas Digestíveis no Intestino (PDIs) e matérias primas; • Elevada digestibilidade do alimento;
• Prevenção de problemas podais: podem ocorrer quando os animais ganham muito peso num curto espaço de tempo, comprometendo a capacidade de sustentação do esqueleto e potenciando o aparecimento de problemas de aprumos e/ ou locomoção;
• Machos reprodutores vs. engorda/ acabamento: dado tratarem-se de animais cujo objetivo é seguirem para reprodução, o plano alimentar teve em linha de conta a obtenção de crescimentos sustentados – GMD objetivo de 1450 g/dia. Animais sujeitos a planos alimentares altamente energéticos vão obviamente colocar
TABELA 1 CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS DO ALIMENTO CONCENTRADO
Valor Unid. Valor Unid.
Matéria Seca 88,01 % Ca 11,20 g
UFV 1,03 UFV P 3,98 g
Proteína Bruta 15,52 % Vit. A 10,00 1000 UI
PDIN 112,73 g Vit.
D3 1,50 1000 UI
PDIE
PDIA 113,07 g Vit. E 40,00 mg
62,26 g Vit. B1 8,00 mg
Fibra Bruta 4,97 % Mn 76,19 mg
Amido 41,33 % Zn 105,66 mg
TABELA 2 PLANO ALIMENTAR INICIAL DOS ANIMAIS EM TESTAGEM
GRÁFICO 1 INGESTÃO MÉDIA DIÁRIA DE MATÉRIA SECA POR ANIMAL, AO LONGO DO TESTE
GRÁFICO 2 GANHO MÉDIO DIÁRIO DURANTE TODO O PERÍODO DE TESTE (KG)
Silagem Erva ACBM Quantidades
kg Características nutricionais (por kg de matéria seca) MS UFV PDIN PDIE PDIA Ca P
MB MS % UFV g g g g
g 6,00 2,37 39,52 0,66 45,52 56,23 13,58 4,60 2,60
Palha ACBM 0,39 0,35 90,00 0,31 22,00 44,00 11,00 5,45 1,02 Concentrado Angus + Mertolengo 6,00 5,28 88,01 1,18 128,10 128,48 70,74 12,72 4,52
mais peso, mas a sua fertilidade pode ser comprometida. • Plano alimentar seguro: equilíbrio entre energia/proteína/fibra; • Níveis de vitaminas e minerais elevados, alguns dos quais orgânicos, o que aumenta a sua biodisponibilidade; • Forragens disponíveis: ter em linha de conta as forragens disponíveis no Centro de Testagem e o seu respetivo stock, e ajustar de acordo com as características nutricionais das mesmas; • Custo por kg de matéria seca: optimizar o custo do alimento de acordo com os objetivos de performance que se pretendem.
ADAPTAÇÃO
Em qualquer teste de eficiência alimentar, os animais são sujeitos a um período de adaptação, durante o qual se pretende que se habituem às novas condições de maneio, sobretudo ao novo regime alimentar, no qual a base é forragem complementada com alimento concentrado.
No período de adaptação, que teve a duração de 21 dias, foi colocada à disposição dos animais uma mistura preparada diariamente com unifeed, com base em silagem de erva e alimento concentrado, na proporção 52:48.
As pesagens efetuadas durante o período de adaptação servem apenas de referência, para podermos monitorizar a evolução de peso dos animais, não devendo ser consideradas para o cálculo do GMD do teste. De modo a definir a alimentação dos animais durante o período de teste, e dado tratar-se de um plano alimentar personalizado, de acordo com as forragens disponíveis (silagem de erva, palha, fenosilagem de azevém, etc.), foram realizadas análises para conhecer a sua composição nutricional.
Para complementar a componente forrageira, foi formulado um alimento composto personalizado (farinado) para colocar também no unifeed, com as características indicadas na tabela 1 e fabricado na Nutrimonte, em Évora.
Utilizando assim as forragens e o alimento concentrado disponíveis, em conjunto com toda a informação referente aos animais, chegámos ao plano alimentar desenhado que é descrito na tabela 3, na qual se podem ler as quantidades de cada forragem e alimento concentrado por animal e por dia.
INGESTÃO MÉDIA DE MATÉRIA SECA
Com base neste plano alimentar, foi feito o controlo da ingestão diária individual, através das estações de alimentação (Hokofarm), durante todo o período de adaptação e de teste.
A ingestão média de matéria seca (MS) por animal ao longo do teste encontra-se representada no gráfico 1, através do qual e com uma leitura rápida, se pode verificar que os valores variam entre 9,05 a 13,4 kg de matéria seca por dia, o que significa uma média diária de ingestão de MS durante o teste de cerca de 11,25 kg por animal.
Comparando estes valores de ingestão com a bibliografia existente para a ingestão de MS previsional para estes animais, que indica um consumo previsto de MS na ordem dos 2,25% do peso vivo, conclui-se que os animais presentes nesta segunda testagem ingeriram uma quantidade inferior de matéria seca. Este deveu-se a um consumo de MS médio durante o período de teste, que corresponde a 2,1% do seu peso vivo médio. Ainda assim, fica a ressalva de que a ingestão média de matéria seca dos 12 animais presentes a teste aumentou, quando comparada com a ingestão do grupo de testagem anterior – 11 kg de MS versus 11,25 kg de MS.
GANHOS MÉDIOS DIÁRIOS
No que aos ganhos médios diários (GMD) diz respeito, como foi indicado anteriormente, o plano alimentar tinha como objetivo médio um acréscimo de peso de 1450 g por animal e por dia. Da análise do gráfico 2 pode verificar-se que todos os animais obtiveram crescimentos
Ingestão diária (kg MS/dia)
11,91 12,34 11,78 11,02 10,80 13,40
12,21
9,28 9,05 12,04 11,36
9,78
2,000 1,800 1,600 1,400 1,200 1,000 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 1,525 1,600 1,433
1,100 1,300 1,892 Média
1,258 1,275 1,492
1,133 1,708
1,458
sustentados, sendo o GMD médio do grupo testado da ordem das 1430 g, sendo por isso um bom indicativo de que os animais responderam ao alimento que lhes foi apresentado, conseguindo obter crescimentos sustentados e não exagerados, como pretendido. De notar que, quando comparados com os animais presentes no teste anterior, estes animais obtiveram crescimentos mais baixos. Na procura por fatores que possam ter afetado estas diferenças de crescimentos – apesar de não serem considerados preocupantes, uma vez que todos os animais se encontravam saudáveis, e com pesos corretos para a idade – pode ser apontado o facto de terem existido alterações do plano alimentar a que foram sujeitos, devido aos stocks de forragens disponíveis, aos seus preços elevados e com subidas constantes durante o período de teste, que não permitiram a homogeneidade desejável no que à alimentação diz respeito. Da informação recolhida ao longo do teste, outro dos fatores que diferiu para a primeira edição do teste, foi a questão relacionada com o plano profilático a que os animais foram sujeitos à entrada do teste.
ÍNDICE DE CONVERSÃO
Quanto ao índice de conversão (IC), medida usada para avaliar a eficiência alimentar, pôde verificar-se um IC médio dos animais em teste de 8,24, o que significa que, em média, estes animais necessitaram de ingerir 8,24 kg de MS para aumentar 1 kg de peso vivo. Assim sendo, da análise do gráfico 3 resulta que um animal com um valor de IC mais baixo necessitará de ingerir menos alimento para repor 1 kg de peso vivo. É de extrema importância ressalvar que, para o cálculo do IC, foi considerada a totalidade da matéria seca ingerida pelo animal, isto é, considerando a totalidade da mistura (forragens + alimento concentrado). Esta informação é relevante visto que, em outros testes de performance, o cálculo do IC considera apenas a componente alimento concentrado, não ficando a informação da quantidade de forragem (palha ou feno) que o animal ingeriu, para complementar esse alimento concentrado.
RFI – RESIDUAL FEED INTAKE
No âmbito deste teste foi também feita uma análise ao Residual Feed Intake (RFI) ou Consumo Alimentar Residual (CAR). O RFI não é mais que a diferença entre o Consumo Alimentar Real e o Consumo Alimentar Esperado, em função do peso metabólico do animal, tornando este valor uma medida alternativa da eficiência alimentar de um determinado animal. Trata-se de um índice com uma heritabilidade na ordem dos 40%, o que falando de fatores produtivos, o torna num índice com heritabilidade elevada. Sabendo que, cerca de 70% das necessidades nutricionais de um animal representam necessidades de manutenção, se conjugarmos os valores de RFI e de GMD de um animal, podemos trabalhar de forma a melhorar a eficiência alimentar da exploração, contribuindo também assim, para uma maior eficiência económica da mesma (tendo em conta que a alimentação representa a maior fatia de custos).
No gráfico abaixo, é apresentado o RFI dos 12 animais presentes a teste (gráfico 4).
Desta forma, a análise do gráfico 4 deverá ser feita no sentido em que, animais com valor de RFI negativo ou com baixo RFI são animais que ingerem menos alimento para colocar 1 kg de peso vivo, tornando-os assim, animais mais eficientes do ponto de vista alimentar. Por outro lado, animais com valores de RFI elevados, serão animais que vão ingerir maior quantidade de alimento para repor 1 kg de peso vivo, tornando-os por isso, animais menos eficientes do ponto de vista alimentar. Fica ainda a nota de que estes valores de RFI são sempre comparativos entre animais contemporâneos, uma vez que vão considerar a ingestão média do grupo e o GMD médio.
CONCLUSÕES
Após a análise de todos os dados recolhidos ao longo do teste e após a elaboração deste artigo, pode concluir-se que uma vez mais, os animais Aberdeen Angus são animais que respondem bem a planos alimentares à base de forragens, valorizando-as, característica já amplamente descrita para a raça. Os ganhos médios diários suportam esta conclusão, uma vez que o plano alimentar foi desenhado para uma média de 1450 g, e a média deste grupo situou-se nas 1430 g.
De modo a serem evitados alguns desvios de ganho médio diário entre pesagens, nas edições futuras dos testes de eficiência alimentar deverão ser tidas em linha de conta algumas notas: - plano profilático de entrada igual ao dos animais já presentes no Centro de Testagem; - prevenir o stock de forragens, de modo a permitir aos animais terem acesso a um plano alimentar mais constante durante todo o período de teste. As últimas notas vão para a AberdeenAngus Portugal e para os seus Criadores, que aceitaram o desafio de participar no teste de eficiência alimentar, de modo a que exista mais informação disponível sobre a raça em Portugal, e também para a Associação de Criadores de Bovinos Mertolengos, por receber no seu Centro de Testagem animais de outras raças, pelo bem da bovinicultura nacional.
GRÁFICO 3 ÍNDICE DE CONVERSÃO (IC) MÉDIO
IC GRÁFICO 3 CONSUMO ALIMENTAR RESIDUAL (RFI)
RFI