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Genética | Ovinos de carne
by RUMINANTES
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ENTREVISTA A UM PRODUTOR DE BERRICHON DU CHER NA DEFESA DA ATALAIA
PILAR ALEXANDRA ROSADO E NUNO ROSADO FORAM OS PRIMEIROS PRODUTORES EM PORTUGAL A ADQUIRIR UM REBANHO DE BERRICHON DU CHER. NA HERDADE QUE GEREM, EM VILA FERNANDO, CONCELHO DE ELVAS, JUNTARAM ÀS VACAS ALEITANTES EM MODO DE PRODUÇÃO BIOLÓGICO, A CRIAÇÃO DE OVELHAS DESTA RAÇA FRANCESA. Por RUMINANTES Fotos FG
Como surgiu a ideia de trabalhar com esta raça?
Já tínhamos alguns animais Suffolk, e procurávamos encontrar outra raça para o cruzamento industrial para vender borregos para carne, mas o valor do borrego há 5 anos não era o que é agora. Então, optámos por uma raça pura. Numa pesquisa para encontrar o animal que melhor se adaptava às nossas condições edafoclimáticas, e de que gostássemos, surgiu a Berrichon du Cher. Estivemos indecisos entre esta e a Romane, mas somos apenas dois e a Romane tem um maneio mais exigente.
Uma das razões pelas quais escolhemos Berrichon du Cher foi pelo ciclo ovárico contínuo, pois podemos escolher a época mais conveniente, a nosso ver, para ter os animais a parir.
Quanto vale o negócio da genética comparativamente com o da carne?
São negócios que não se podem comparar, uma vez que têm objetivos diferentes, ainda que sejam essenciais um ao outro. Além disso, envolvem volumes de produção diferentes.
Como caracterizam os vossos animais?
Procuramos ter um leque grande de genética, isto porque queremos satisfazer as necessidades dos produtores. Temos, por um lado, animais com traços predominantemente cárnicos que seguem para cruzamentos industriais para produção de carne. E, por outro lado, animais com traços maternais
Nuno Rosado, Carolina Sequeira Cabral e Pilar Alexandra Rosado apostaram na raça Berrichon Du Cher. Hoje têm um efetivo puro de 60 fêmeas reprodutoras e 2 machos, provenientes de 5 casas entre França, Espanha e Portugal.
que se destacam, que na sua maioria seguem para casas de produtores que pretendem dar continuidade à linha pura.
Para tal ser possível, até à data comprámos ovelhas em 5 casas diferentes, tanto em França e em Espanha como, mais recentemente, em Portugal. Atualmente, temos um total de 60 fêmeas reprodutoras e 2 machos.
Como fazem a seleção?
Olhamos à conformação de acordo com o padrão da raça, aos aprumos, compramos animais que vêm dos centros de seleção e, de preferência, com a máxima pontuação. No catálogo do centro de testagem, por onde escolhemos, existem vários parâmetros pelos quais os animais são avaliados: aprumos e vistas do animal, ganhos médios diários, entre outros. Os carneiros que aqui temos vêm de centros de testagem de 2 casas.
Já pensaram fazer inseminação artificial?
Já pensámos nisso, mas não é fácil encontrar palhetas de sémen aqui ou mesmo em França. Em Inglaterra sim, mas lá o mercado está mais direcionado para os concursos morfológicos do que para a produção propriamente dita. O que nós queremos são animais produtivos, rústicos, que acompanhem os rebanhos.
Se tivessem que pôr a herdade toda a produzir ovelhas, optavam por esta raça pura ou cruzada?
Cruzada. O ideal seria ter machos Berrichon du Cher e ovelhas Romane.
Em termos de seleção, que objetivos têm para os próximos 5 anos?
Melhorar, sempre. Essencialmente aumentar o valor genético dos nossos animais e, se o mercado assim o exigir, aumentar o rebanho para dar resposta às sucessivas encomendas que vamos recebendo.
É também muito importante continuar com o trabalho de divulgação da raça, uma vez que existem ainda muitos produtores que desconhecem o valor que a Berrichon Du Cher pode acrescentar a um rebanho.
Como comercializam os animais?
No início desta pequena aventura decidimos criar uma página no Facebook (Berrichon Du Cher & Suffolk Defesa Da Atalaia) para mostrar os nossos animais. À medida que o tempo foi passando a página foi crescendo e, atualmente, temos vídeos que chegam às três mil visualizações. Além desta página é muito importante o passar da palavra entre os produtores. Também temos estado presentes nas feiras agrícolas do alentejo e que têm sido muito importantes para divulgação e consequente venda dos animais.
Como é o sistema alimentar?
É baseado em pastagens e forragens. Os animais apenas são suplementados no pré e pós-parto de forma a termos a certeza de que a aquando do parto têm as reservas suficientes para suprir as necessidades das crias e delas.
Depois do parto, o maneio difere um pouco entre as ovelhas que tiveram partos simples ou duplos. No primeiro caso, geralmente, a ovelha e o respetivo borrego são isolados das restantes nas primeiras 24 horas pós-parto. Depois deste período começamos a formar outro rebanho de ovelhas já paridas. No caso dos partos duplos, a duração do período em que estão isoladas das restantes depende muito da vitalidade dos borregos, que por serem dois exige mais cuidado.
Aos borregos, ao fim de 10 dias, é-lhes dado acesso a comedouros seletivos com ração durante a noite e durante o dia acompanham as mães na pastagem.
O maneio alimentar está diretamente relacionado com o maneio reprodutivo?
Sim. A época de partos é em novembrodezembro e os animais são desmamados aos 2-2,5 meses. Portanto, as ovelhas e os borregos são separados no início da primavera, o que permite às reprodutoras recuperarem totalmente a condição corporal que tenham perdido durante a lactação, e assim estarem em perfeitas condições para iniciarem um novo ciclo. Por norma, os machos começam a acompanhar os rebanhos entre julho e agosto.
Como escolhem as borregas de substituição?
O critério é pela mãe. Têm que ser ovelhas com grande potencial genético e sempre de partos duplos. Se forem de partos duplos de 2 fêmeas, ainda melhor, mas esse é um critério pessoal.
Com quantos animais ficam para substituição?
Não temos conseguido ficar com fêmeas, porque as encomendas têm sido muitas, mas este ano fizemos questão de ficar com 10 para aumentar o efetivo e fazer a substituição de animais que já tinham atingido o final da sua vida reprodutiva.
Qual o destino final dos animais que criam?
Como já referimos, tentamos ter sempre animais com traços mais cárnicos e outros com traços mais maternais. Tendo isto em conta, o produtor escolhe aquilo que mais lhe convém para a sua situação. É mesmo muito raro enviarmos um animal direto para o matadouro e, quando isto acontece é mesmo porque este não corresponde às nossas expectativas e como tal não podemos nem queremos vendê-lo como reprodutor. Enquanto criadores de genética, a confiança que os outros produtores depositam em nós é muito importante e, por isso, todos os animais que saem da nossa exploração têm a nossa garantia de como vão estar à altura das exigências do comprador.
Que indicadores utilizam, num negócio de genética, para perceberem se o negócio está no bom caminho?
Por um lado, o facto dos produtores ficarem satisfeitos com os animais que levaram e voltarem à procura de mais e, consequentemente, trazerem outros compradores. E, por outro, conseguirmos vender todos os animais como reprodutores, que é o que tem acontecido. Para mais informações, contacte: Nuno Rosado | Email: defesa.atalaia@gmail.com Tel. 967 130 370