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Genética | Bovinos de carne

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Política europeia

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António Nunes é um dos produtores que maior importância teve na preservação da raça Ramo Grande. Hoje, é o seu filho Jorge quem leva o negócio.

Que indicadores utiliza, no negócio de genética, para perceber se está no bom caminho?

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O principal é a quantidade de animais que vendo para recria (genética). Quanto mais vender, melhor. Isso varia com a procura. Há anos e alturas do ano em que existe menos procura e tenho que abater, o que não é o mesmo que vender para recria. Se produzisse só para abate não era bom, porque esta é uma raça mista. A recria é uma mais valia. Atualmente vendo cerca de 40 a 50% dos animais para reprodutores e para juntas de bois.

Que características sobressaem na raça Ramo Grande?

São animais muito dóceis e calmos, de grande envergadura mas muito fáceis de manejar. Isto tem bastante que ver com o maneio mas também com a sua própria genética.

Como faz a seleção dos animais?

Pelo padrão da raça. Tomo atenção aos chifres, à conformação (são animais que nascem com 50 a 70 kg, bastante compridos), à pelagem (o pelo não deve ser demasiado claro nem escuro), e ao porte. A produção de leite não faz parte dos meus critérios de seleção, mas são animais que podem chegar a produzir 20 litros diários.

Aos 10 meses, animais de raças exóticas que comessem o mesmo que estes poderiam ter mais peso?

Não creio. Acredito, sim, que tenham um melhor rendimento de carcaça. As raças exóticas usadas aqui têm uma carcaça mais pequena, o osso é mais miúdo e portanto dão maior percentagem de carne. A percentagem de carcaça de animais Ramo Grande, com 10 meses, ronda os 55%.

Que custos tem na produção destes animais?

A mão-de-obra, o aluguer de máquinas para determinados serviços, e o veterinário que não representa um custo significativo. Este gado é muito rústico, muito ambientado ao nosso clima.

Onde compra reprodutores para o seu efetivo? Faz inseminação artificial?

Em qualquer uma das outras ilhas, se necessário. Não uso inseminação artificial, os meus touros já deram sémen para isso mesmo.

Em termos de seleção, que objetivos tem para os próximos 5 anos?

Estou dentro dos parâmetros que ambicionei, embora gostasse de ampliar a área para poder ter mais animais.

Como comercializa os seus animais?

Vendo cerca de 40 a 50% dos animais para recria, para todas as ilhas, e o restante para carne aqui na Ilha Terceira.

Acha que a carne da raça Ramo Grande se consegue diferenciar da restante?

Há quem diga que é uma carne mais suculenta, embora não nos paguem mais por ela. Em breve teremos o selo DOP que poderá ajudar a valorizá-la.

O maneio alimentar está diretamente relacionado com o maneio reprodutivo?

A cobrição é feita a partir de dezembro, para que as vacas possam parir a partir de setembro até abril-maio. Depois dessa altura, vem uma fase com pouca erva e, além disso, as crias que são criadas no verão não se desenvolvem tão bem.

Fertilizantes com futuro

Nutrientes protegidos

GENÉTICA | BOVINOS DE CARNE RECUPERAR A RAMO GRANDE DOS AÇORES

O PROCESSO DE RECONHECIMENTO DA CARNE RAMO GRANDE DOP, ATUALMENTE EM FASE DE CONCLUSÃO, É DECISIVO PARA A VALORIZAÇÃO DA RAÇA E DA SUA CARNE. PARA CHEGAR ATÉ AQUI FOI PRECISO RECUPERAR A RAÇA, QUE ESTAVA EM VIAS DE EXTINÇÃO, TRABALHANDO NA MANUTENÇÃO DA DIVERSIDADE GENÉTICA E NO CONTROLO DOS NÍVEIS DE CONSANGUINIDADE, UTILIZANDO TECNOLOGIAS GENÓMICAS DE PONTA. SOBRE ESTE PROCESSO, QUE TEM VINDO A SER DESENVOLVIDO PELA DIREÇÃO REGIONAL DA AGRICULTURA DOS AÇORES, EM COLABORAÇÃO COM A ASSOCIAÇÃO DE CRIADORES DE BOVINOS DA RAÇA RAMO GRANDE, FALÁMOS COM ANA LUÍSA PAVÃO, SECRETÁRIA TÉCNICA DO LIVRO GENEALÓGICO DA RAÇA. Por RUMINANTES Fotos FG

Ana Luísa Pavão, Secretária Técnica do Livro Genealógico da raça Ramo Grande, falou-nos sobre o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pela Direção Regional da Agricultura dos Açores, em colaboração com a Associação de Criadores de Bovinos da Raça Ramo Grande.

Araça açoriana de bovinos conhecida por Ramo Grande esteve até há poucos anos em sério risco de extinção. Dos registos existentes, sabe-se que teve origem na Ilha Terceira: aquando do povoamento do Arquipélago dos Açores, no século XV, vieram bovinos de diversas regiões do Continente, presumivelmente das raças Alentejana, Mirandesa, Minhota e Algarvia que terão dado origem à “vermelha” Ramo Grande. Com o decorrer do tempo, estes bovinos foram-se estendendo a outras ilhas, porém, a introdução de raças exóticas mais produtivas levou a que o efetivo de Ramo Grande se tivesse tornado cada vez mais depauperado. Só em 1995, após o reconhecimento da raça Ramo Grande pela Direção Geral de Veterinária e a introdução do Livro Genealógico, se começou a trabalhar na recuperação do reduzido censo remanescente.

Ana Luísa Pavão, Engenheira Zootécnica e Secretária Técnica do Livro Genealógico da raça Ramo Grande, falou-nos sobre o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido: “Na altura, o número de animais Ramo Grande era muito reduzido, a raça estava em sério risco de extinção e o objetivo foi tomar medidas de preservação do património genético que existia. Fizeram-se classificações morfológicas, registos de genealogias e procedeu-se à identificação dos animais nas várias ilhas onde a raça então existia (Ilhas Terceira, São Jorge e Santa Maria). Começámos também a fazer colheitas de sémen (porque o número de machos era muito reduzido) para poder utilizar em inseminação artificial. Este foi um passo importante porque permitiu a muitos criadores de menor dimensão poderem desenvolver a raça em linha pura. A partir daí, a raça foi-se organizando e divulgando através de concursos e exposições pecuárias. Nessa altura, foram introduzidas as medidas agroambientais da PAC que permitiram aos produtores receber apoios para manter a raça autóctone e compensar a perda de rendimento comparativamente aos produtores que criavam animais de raças exóticas mais produtivas, especializadas na produção de carne. Essa medida foi decisiva na manutenção da raça. A população foi aumentando de forma progressiva nas ilhas onde já existia, e começou a estender-se a outras como o Faial, o Pico e São Miguel. Atualmente encontra-se em todas as ilhas do Arquipélago.

Desde a década de 1990, que evolução houve na raça?

Em termos de conservação e melhoramento implementou-se um programa de melhoramento genético com várias ações que incluem a pesagem e a classificação morfológica dos animais. O objetivo é selecionar os animais com base nos maiores ganhos médios diários (GMD) e numa conformação mais correta, mantendo determinadas características da raça como a corpulência, a estrutura óssea e a cor da pelagem, características que os produtores identificam como pertencendo à raça Ramo Grande.

Qual é o peso médio destes animais à nascença?

Entre 56 e 58 kg, são animais que nascem grandes mas não têm dificuldade de partos porque as vacas também são corpulentas e têm uma bacia larga. Uma vaca destas anda nos 700 kg e o touro de cobrição nos 900 kg (dependendo da idade). Pesamos os animais à nascença, e de 3 em 3 meses nas explorações. O objetivo é obter o peso estimado aos 4 meses e aos 7 meses, de forma a determinar os valores genéticos de cada bovino, tanto em termos de capacidade de crescimento como maternal.

Que outras características são avaliadas?

A docilidade ou temperamento, as características produtivas e reprodutivas, a idade ao 1º parto (28 meses em média porque os criadores querem animais corpulentos e pensam que cobrindo mais tarde obtêm animais maiores), o intervalo entre partos e a longevidade produtiva.

Qual é o número total de vacas aleitantes existentes no Arquipélago, comparativamente com o número de vacas da raça Ramo Grande?

Existem cerca de 35.000 vacas aleitantes, maioritariamente cruzadas, das quais 1300 são da raça Ramo Grande.

Qual é o rendimento de carcaça dum Ramo Grande?

Anda à volta de 55%.

Quantos criadores de fêmeas e de machos Ramo Grande existem hoje no Arquipélago?

São 240 criadores registados (incluindo aqueles que têm apenas uma junta de bois), para um total de 1250 fêmeas e 70 machos adultos.

Qual é a motivação dos criadores da Ramo Grande?

O gosto pela raça, a ligação histórica, a docilidade dos animais e a rusticidade.

Em que ilhas está presente a raça?

Neste momento, em todas. No entanto, só no ano passado é que introduzimos estes animais nas Flores e no Corvo. Na Terceira e em São Jorge, onde o Ramo Grande teve a sua origem, era uma raça muito utilizada no trabalho.

Fazem medição do leite produzido?

Neste momento não fazemos. Há explorações em que a produção poderá chegar a 20 litros ou mais por vaca/ dia. Não temos registos sistemáticos de proteína e gordura.

Como se consegue recuperar uma raça que está quase extinta, sem correr o risco da consanguinidade?

Através de um trabalho técnico rigoroso, essencialmente tentando minimizar o acasalamento de animais que são parentes próximos, aumentando o número de machos reprodutores e diversificando as suas origens, e rodando os machos entre explorações. Por outro lado, em 2019 começámos a utilizar a seleção genómica, com marcadores moleculares, através de uma parceria com a Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, através da equipa liderada pelo Professor Luís Telo da Gama. A Ramo Grande foi, aliás, a primeira raça em Portugal a recorrer à seleção genómica. Esta é uma forma mais rápida de controlar questões como a consanguinidade, o parentesco, e de potenciar a resposta à seleção, nomeadamente para características difíceis de selecionar como, por exemplo, a longevidade e a qualidade da carne, entre outras.

Como é feita a inseminação?

Cerca de 40% das fêmeas são fertilizadas por inseminação artificial e as restantes por cobrição natural. O sémen é cedido pela DRAg aos produtores que colaboram no programa de melhoramento.

O que pensa do cruzamento com Ramo Grande?

Se houver valorização dos vitelos, vejo-o com bons olhos, principalmente se a Ramo Grande for uma linha mãe, ou seja, sendo as mães Ramo Grande, e os touros de outras raças especializadas de carne. Na prática, esses cruzamentos para carne já se fazem, com bons resultados, aproveitando a docilidade e a fertilidade da Ramo Grande e as características em termos de conformação para carne das raças

PADRÃO DA RAÇA

Aspeto geral: esqueleto forte e articulações largas, grande estatura. Sendo longilíneos, o terço anterior é mais desenvolvido que o posterior o que se coaduna com uma raça portadora de excepcionais qualidades de trabalho.

Pele e pelagem: a cor da pelagem é o vermelho mais ou menos intenso, simples, ou, raras vezes, malhado em determinadas zonas específicas. A coloração predominante das aberturas naturais é a almarada, a coloração escura existe numa percentagem pouco significativa de animais. No que respeita à cor das órbitas, a coloração clara é a que apresenta maior número de animais nas várias ilhas.

Cabeça: bem desenvolvida, marrafa pouco farta e assente numa protuberância frontal pouco saliente. O perfil é predominantemente convexo, caracterizado por uma protuberância frontal proeminente ou arredondada, em calote esférica, órbitas não salientes. Os cornos apresentam um tamanho médio e são predominantemente opistóceros.

Pescoço: regularmente desenvolvido apresentando o bordo superior reto ou pouco convexo, enquanto que o inferior é provido de barbela que, por ser pouco desenvolvida, quase passa despercebida.

paternas. Os vitelos têm bons ganhos de peso porque estas mães podem ter melhor produção de leite do que as da raça paterna.

O que pensa sobre ter a raça Ramo Grande como linha-mãe, para que mais produtores a pudessem utilizar para cruzar?

Esse é um objetivo, embora naturalmente já exista uma parte das fêmeas em cruzamento. Mas essa situação só pode existir se pudermos garantir animais puros. Por enquanto estamos fundamentalmente a tentar aumentar e consolidar o efetivo puro.

Onde gostaria que a raça estivesse daqui a 5 anos?

Gostava que se conseguisse uma maior diversidade genética e uma melhoria no controlo da consanguinidade. No que se refere à carne, o processo de reconhecimento da carne Ramo Grande DOP está atualmente numa fase final; seria bom que já estivesse a funcionar em pleno, que a carne fosse bem valorizada, e que os produtores optassem por ter esta raça não apenas pelo subsídio, mas pela diferenciação e valorização do produto.

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