6 minute read

Camas quentes

Nova sala de ordenha GEA 2x10.

Advertisement

PRODUÇÃO | VACAS DE LEITE "QUE RICO COLCHÃO!"

HÁ UM ASPETO QUE DIFERENCIA A EXPLORAÇÃO DE FILIPE MARICATO DA MAIORIA DAS EXPLORAÇÕES CONGÉNERES: O TIPO DE CAMAS NO ESTÁBULO DAS VACAS EM PRODUÇÃO: UM SISTEMA CONHECIDO POR “CAMAS QUENTES” QUE VIMOS, NO PASSADO MÊS DE SETEMBRO, QUANDO VISITÁMOS A EXPLORAÇÃO. Por Ruminantes Fotos FG

Filipe Maricato vem de uma família de agricultores. Os seus pais começaram com uma ordenha de 6 vacas, em 1988, que entretanto foi crescendo. Talvez por estar tão familiarizado com o negócio da produção de vacas de leite, decidiu vir trabalhar para a exploração quando terminou os estudos na universidade.

Há precisamente 10 anos. O seu objetivo era aumentar o número de vacas, passar das 25 tinham para 70 a 80, e renovar a exploração.

A construção das novas instalações, a cerca de 1km de Maiorca, concelho de Figueira da Foz, ficou terminada em 2018. Compreende um estábulo de 2.000m2 onde atualmente tem 70 vacas em produção, sala de ordenha

GEA paralela 2x10, tanque de leite, viteleiro, maternidade, e ainda um pavilhão de apoio agrícola. A parcela total referente à exploração tem 60.000 m², a juntar a 30 hectares que cultivam. Todas as forragens são produzidas na exploração. O alimento, dado exclusivamente no unifeed, é composto por 10 kg de concentrado, 30 kg de silagem de milho, 6 a 7 kg de erva (quando existe disponibilidade) e 2 ou 3 kg de luzerna.

Há um aspeto que diferencia a exploração de

Filipe Maricato da maioria das explorações congéneres: o tipo de camas no estábulo das vacas em produção: um sistema conhecido por

“camas quentes” que vimos, no passado mês de setembro, quando visitámos a exploração.

Porque decidiu instalar este sistema da camas quentes? Nunca fui grande adepto dos cubículos, porque acho que resolvem um problema, que é conseguirmos pôr os animais organizados, mas não são o ideal para as vacas. Estas camas aparecem no seguimento disso, como uma alternativa aos cubículos. Quando descobri o sistema das camas quentes (compost barn), achei logo que seria o ideal, pelos benefícios que traz aos animais. O desenvolvimento das instalações veio no seguimento disso. Como tínhamos que trabalhar com esta cama, decidimos adaptar.

O que é necessário fazer de diferente ao nível da construção? O mais importante é dimensionar de forma a garantir área suficiente para cada animal. Aqui, temos à volta de 11 m² de cama por vaca. Poderíamos trabalhar com 8 m², mas isso acabaria por ser mais exigente, em termos de material para as camas e para conseguir mantê-las num bom estado. Não existem paredes altas, usamos um sistema de cortinas que baixam quando é necessário para ajudar a secar a cama. Um bom arejamento é essencial. A cama quente é um espaço totalmente aberto, não existem divisórias, as vacas estão completamente livres. A base é feita em cimento, a um nível mais baixo que o chão da vacaria, para permitir ter uma altura de 40 cm de serradura. Aqui, por uma questão de gestão de custos e como temos a possibilidade de arranjar casca de arroz com facilidade, misturo os dois materiais, por norma na proporção de 70:30 ou 50:50, em função da humidade.

A mistura dos materiais é feita na cama? Sim. Quando fizemos isto pela primeira vez, só usámos serradura porque não consegui arranjar a casca de arroz. Na manutenção é que estou a fazer a mistura das duas. A casca de arroz, em termos de absorção, não é grande coisa. No entanto, não deixa compactar tão facilmente, a cama fica sempre mais solta e muito mais fácil de se mexer.

Que benefícios tem este tipo de cama? No sistema anterior, em que por vezes as vacas ficavam deitadas no cimento, havia muitas dermatites. Aquilo que eu constatei logo foi que deixámos de ter, não há vacas com curvilhões inchados, não há feridas, e as vacas estão sempre limpas.

Viu maior produção de leite? F: Por enquanto não consegui ver diferenças porque quando mudámos para aqui entraram animais novos. Mas o objetivo era que todas as vacas fizessem, pelo menos, 4 lactações. E em termos de refugo? A taxa de refugo aqui é relativamente baixa. Refugamos mais por infertilidade, do que propriamente por acidentes com o estábulo.

Outra das vantagens da cama quente é periodicamente, fornecerem composto para as culturas. Exato. No fundo, pode-se fazer coincidir a retirada das camas com as sementeiras. Podemos retirar o composto de 6 em 6 meses, nós só retiramos uma vez por ano na altura das sementeiras do milho.

Que quantidade de composto conseguiu no final de 1 ano? Praticamente o dobro da altura de composto, começámos com 40 cm e, quando retirámos, a zona mais alta tinha cerca de 80 cm.

Com que periodicidade acrescentam material às camas? No verão temos uma folga maior. No inverno, todas as semanas. Se for em alturas de muito nevoeiro ou em que haja muita humidade no ar, é problemático. Mas não o é quando há chuva, pois os dias de chuva aqui até são os melhores para as camas porque o estábulo fica fechado.

Como é feita a colocação de material nas camas? F: Utilizamos o reboque de espalhar estrume, um reboque pequeno. No inverno adicionamos material pelo menos uma vez por semana. Se houver necessidade, por qualquer motivo, ou se se notar que a cama está muito húmida, tem que se acrescentar. Pelo aspeto, é fácil de perceber, pois começa a “entorroar”. No verão é diferente, estivemos quase 2 meses sem acrescentar material novo nas camas.

Passados 2 anos, o que teria feito de diferente neste estábulo? A ventilação devia ter sido “reforçada” e mais bem distribuída. Este tipo de ventoinhas que aqui temos não é o mais indicado para este tipo de cama. O ideal seriam uns ventiladores mais pequenos, para conseguir criar o efeito de “túnel de ar”. Optei por este sistema porque esses ventiladores são muito ruidosos para além de que seriam precisos muitos mais e o investimento era consideravelmente maior. Estes, por outro lado, fazem uma corrente de ar mais suave e são muito mais silenciosos. Talvez também aumentasse ainda mais a área por animal. Em vez dos 11 m², talvez teria uns 14 m² ou 15 m², por vaca. Tornava-se muito mais simples gerir as camas.

Qual é a diferença para as lojettes, em termos de número de animais? Neste espaço tenho 70 vacas. Se fosse com lojettes teria umas 120.

Ou seja, o investimento por vaca é bastante maior? Sim, mas o bem-estar animal é incomparável e os problemas de saúde diminuíram significativamente. Nos cascos por exemplo, neste momento, só fazemos correções. Laminites, dermatites, que são sempre um problema, não temos aqui e, se reparar, não há pedilúvios. Se for a uma vacaria que tenha lojettes, isso é obrigatório. Para além disto, os cios detetam-se muito melhor e não há tantos acidentes, como por exemplo, no caso dos cios, quando as vacas têm de andar nos corredores cimentados. O risco de quedas e acidentes aqui é muito menor.

Se as suas vacas falassem, o que acha que que lhe diriam? Que rico colchão! (risos)

DADOS DE PRODUÇÃO

Produção total vacaria/ano 800.000 l.

Efetivo total

Raça Vacas em ordenha Tempo de ordenha do efetivo Produção média aos 365 dias Produção média diária Número médio de lactações Gordura do leite Proteína Células somáticas Idade ao primeiro parto Intervalo entre partos Nº inseminações/vaca adulta

120 Holstein

70. 1h30 11.000 l. 32 a 33 l.

2

3,8 a 3,9. 3,30 a 3,40 100.000

26 meses cc 420 dias

This article is from: