Revista Universitária de Psicologia Nº0 - 2011

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Nº0 | 2º Semestre de 2011 | Semestral | Preço (IVA inc.) | Portugal | €3,50

ISSN 2182-4258

PASSADO | PRESENTE | FUTURO

A PSICOLOGIA AQUI E AGORA


Administração

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Comissão Editorial

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Departamento Jurídico, Financeiro e Tesouraria dep.jft.rup@gmail.com

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Assinaturas

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João Carlos Arruda Administrador 96 511 87 10

Victor E.C. Ortuño

Coordenador Departamento Jurídico, Financeiro e Tesouraria 91 733 41 30


ISSN 2182-4258

editorial

Editorial Construir uma identidade. É esse o desafio que colocámos a nós próprios para a edição inaugural da Revista Universitária de Psicologia e esse é o mote para os nossos primeiros conteúdos. Tal como o ser humano, que ao longo do ciclo de vida se vê confrontado com a necessidade de se definir como indivíduo distinto, especial, particular, também a Revista Universitária de Psicologia se coloca a si própria um desafio vital. O desafio é renascer! Para tal é imprescindível mostrar-se ao mundo com traços fortes, com características bem definidas: com uma personalidade, uma motivação, um sentir, uma forma de encarar o mundo. Chega então o momento de a Revista Universitária de Psicologia renascer. E renasce porque não parte do zero. Reergue-se, qual Fénix, das cinzas de um passado mais e menos distante. Tem uma história que merece ser honrada e homenageada, uma memória que certamente contribui para a formação da nova identidade que agora surge. Tem, sobretudo, um legado que quer ser superado. A Revista Universitária de Psicologia emerge no presente para agir. Em busca da sua identidade, procura olhar-se ao espelho reconhecendo-se inteiramente em todas as suas características… A Revista Universitária de Psicologia começou a construção da sua identidade para se tornar uma figura marcante e indispensável na vida de todos os estudantes de Psicologia em Portugal! A identidade que pode já ser descoberta nesta edição inaugural vai sendo formada tendo em vista o futuro, procurando desbravar caminho em direcção ao sucesso. A identidade pauta-se, então, por um passado de recordação, um presente de construção e um futuro de sucesso e ambição. É com esta motivação, esta personalidade e este sentir que a Revista Universitária de Psicologia fará o seu melhor para reflectir a Psicologia Aqui e Agora. Uma Psicologia que é observada e transmitida de estudantes para estudantes, com todo o fascínio que um tema que nos é a todos tão querido implica.

Alice Morgado

RUP - Edição 0

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ficha técnica

editora

Agradecimento

Alice Morgado

redacção Alice Morgado

A Revista Universitária de Psicologia gostaria de transmitir publicamente o seu mais sincero agradecimento ao autor da obra que integrou a capa desta edição, Gustavo Fernandes, por ter gentilmente cedido a sua arte para esta revista.

Ana Rita Martins Andreia Jesus

José Pedro Pires Maria Gouveia Mariana Guarino Patrícia Beveren Sérgio Duarte

fotografia Roberto Botelho

grafismo André Rocha

capa Gustavo Fernandes

AUTOR:

TÍTULO DA OBRA: TÉCNICA:

Rizoma II

Óleo+Acrílico/Tela

DIMENSÃO:

140x95cm ANO: 2010

contactos gustavofernandes.com

gráfica

Golden Shopping Center Av. Sá da Bandeira nº115 piso 2 loja 11 3004-515 Coimbra

geral@atelier18.pt +351 239 837061 +351 96 3092767 +351 96 6591579

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Edição 0 - 2º semestre de 2011

gustavof@netcabo.pt 91 978 52 80 96 622 51 62

///// Interdita a reprodução parcial ou total dos textos, fotografias ou ilustrações sobre quaisquer meios e para quaisquer fins sem previa autorização escrita da Administração da RUP/ANEP ////////////////////////////////////////////////////////////////////////// ///// Editora: Alice Morgado ///// Administrador: João Carlos Arruda ///// Director da Comissão de Revisão Cientifica: Pedro Belo ///// Tiragem 2000 Exemplares ///// Periodicidade: Semestral ///// Produção: Organismo Autónomo Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia ///// Propriedade: Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - ANEP ///////////////// ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// ///// Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - ANEP ///// Faculdade de Psicologia ////////// Alameda da Universidade ///// 1649-013 Lisboa ///// Portugal /////////////////////////// ///// Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - RUP/ANEP ///// 3000 Coimbra ///// Portugal //////////////////////////////////////////////////////////


artigo para a RUP

MENSAGEM DO PRESIDENTE DA ANEP É com grande orgulho que congratulo a equipa editorial assim como os restantes membros da equipa por conseguirem trazer, de novo, vida à Revista Universitária de Psicologia que, por certo, conta com um futuro promissor e de sucesso tendo em conta a eficiência do trabalho desenvolvido neste curto de espaço de tempo, culminando na publicação deste número de elevada qualidade. Esta publicação encontra-se em perfeita sintonia com o grande objectivo da Direcção do actual mandato da ANEP: renascer. Ao longo desta primeira metade do mandato temos conseguido superar barreiras e atingido vários objectivos que tínhamos estabelecido no início do mesmo com o intuito de tornar a ANEP, novamente, uma Associação representativa e disseminada pelos Estudantes de Psicologia a nível Nacional, lutando por cumprir os objectivos de defender os seus interesses e servindo-os através da organização e promoção de ofertas de cariz científico, pedagógico, cultural e formativo. Neste sentido, para além da negociação de protocolos de colaboração com associações de formação em Psicologia, contamos já com a organização de um evento científico que teve presença em quatro Universidades por todo o país no mesmo dia (Dia ANEP, 26 de Maio) o qual, para além de apresentar uma diversidade de workshops de forte relevância científica, contou, também, com sessões de esclarecimento de membros da Ordem dos Psicólogos Portugueses, com a qual a ANEP encontra-se, actualmente, em diálogo, estreitando as ligações entre os Estudantes e os Profissionais da Psicologia.

A ANEP, enquanto actual membro da EFPSA (European Federation of Psychology Students' Associations) proporciona, também, aos seus estudantes a oportunidade de usufruir dos serviços propostos pela mesma, nomeadamente o Congresso Europeu Anual que se realizará no próximo mês de Abril e cujas vagas abrem a 1 de Dezembro (consultar efpsa.org para mais informações). Ademais, presentemente, a ANEP está a apostar na elaboração de um projecto associado a programas de voluntariado com o intuito de conciliar uma formação mais aprofundada e abrangente dos Estudantes de Psicologia e uma maior sensibilização para com as acções de voluntariado. São de esperar outros projectos que conciliarão tanto uma vertente científica como cultural e social, como é o caso do Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia onde este "renascimento" da RUP assim como o próprio "renascimento" do ENEP, coincidentemente, se unem para proporcionar, em ambos os casos, trabalhos de qualidade e relevância para todos os Estudantes de Psicologia. É com todo o gosto que desejo a melhor sorte à equipa da revista assim como ao futuro trabalho dos membros da Direcção da ANEP e aos Estudantes de Psicologia a nível nacional. Um bem-haja e saudações académicas.

Luís Miguel Tojo - Presidente da ANEP.

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ÍNDICE


índice

ÍNDICE UM PASSADO DE RECORDAÇÃO A ANEP: Uma Associação com 24 anos de História RUP: Uma história

11 19

UM PRESENTE DE CONSTRUÇÃO O que é a RUP? Organigrama Quem é a RUP?

27 31 35

UM FUTURO DE AMBIÇÃO Para quem é a RUP?

45

RUP: Um Sonho

49

A PSICOLOGIA AQUI E AGORA A Prática Profissional em Psicologia

06 08

Estágios Profissionais da Ordem dos Psicólogos Portugueses

53

A Investigação em Psicologia

58

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índice

A Formação em Psicologia

64

A Psicologia como uma disciplina (de) Ética

70

António Damásio Doutoramento Honoris Causa

76

Conferência “Brain, Mind and Feeling”

77

António Damásio – Uma Biografia

79

O Livro da Consciência

A Psicologia na Universidade do Porto A Psicologia Além Fronteiras

81 83

Psicologia onde o laranja não é só a cor do curso

87

LIGAÇÕES ÚTEIS

91

EDITAIS E ANÚNCIOS Regras de Submissão de Trabalhos Científicos

97

Concurso para Revisores Associados da RUP

98

Anúncio da Administração

99

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UM PASSADO DE RECORDAÇÃO


um passado de recordação

ANEP Uma Associação com 24 anos de História

A Associação Nacional de Estudantes de Psicologia (ANEP) foi fundada em 1987. Como todas as associações estudantis, a sua história é feita do esforço e boa vontade de equipas que prestaram contributos na medida da curta escala temporal da sua passagem pela Universidade. Dos depoimentos recolhidos directamente junto dos protagonistas deste percurso, resulta o retrato possível daquilo que pretendeu ser, que efectivamente foi e que se pretende que venha a ser

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ANEP - 24 anos de história

Os primeiros passos Os anos 80, ainda no rescaldo da Revolução, foram

ção de 8 países (Portugal, Bélgica, Dinamarca, Espanha,

marcados por debates intensos, participação activa dos

Finlândia, França, RFA, Suécia e Suiça), no decorrer do

estudantes

qual foi criada a EFPSA – European Federation of Psicol-

Universitários

na

discussão

da

vida

académica e uma forte consciência associativa. Foi neste

ogy Students Associations.

ambiente ideológico que num grupo de estudantes, já então envolvidos nas respectivas Direcções Associativas

Em Janeiro de 1988, foi realizado o 2º ENEP, em Coim-

ou Núcleos de Estudantes de 3 das Faculdades de Psico-

bra. Saul Neves de Jesus, actualmente Director do Curso

logia então existentes no país (4 no seu total), surgiu a

de Psicologia da Universidade do Algarve e organizador

ideia de materializar um projecto: criar uma Associação

desse Encontro comentou, numa entrevista de Janeiro

Inter-Faculdades, capaz de congregar esforços e

desse ano à RTP, os propósitos da Associação, então a

defender os interesses comuns

atravessar

a todos os alunos desta área.

grande

Um dos estudantes funda-

salientando a uniformização

dores,

dos planos de estudo e do tipo

Emídio

Guerreiro,

uma

fase

de

visibilidade,

descreveu-nos esse processo

de

como o resultado de uma

cursos de Psicologia do país,

preocupação sentida por um

no sentido de convergir para

grupo de gente activa, em

um mesmo perfil profissional,

arranjar

capaz de prestar um bom

um

espaço

de

contacto nacional que permi-

formação

dos

vários

serviço à sociedade.

tisse a discussão dos problemas comuns, ao mesmo

Dois anos após a fundação da

tempo

ANEP,

que

cumpria

uma

foi

proposta

por

função social e de divulgação

alguns membros da associa-

e abordagem de questões

ção, a criação de uma revista

científicas e de formação.

acessível

a

todos

os

estudantes de Psicologia a Assim, em Janeiro de 87 foi

nível nacional, a RUP (Revista

formalizada

Universitária de Psicologia).

a

Associação,

com a participação das Facul-

Na

sua

primeira

edição,

dades de Psicologia do Porto,

contou com a colaboração de

Coimbra e Lisboa como Membros de Pleno Direito.

Cristina Canavarro, actual Docente da Faculdade de

Nesse mesmo ano realizou-se o 1º ENEP, (Encontro

Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de

Nacional de Estudantes de Psicologia) no Porto, altura

Coimbra. Apesar de não ter pertencido a nenhuma das

em que a Associação de Estudantes do ISPA aderiu à

equipas que faziam parte da coordenação da revista, foi

ANEP.

uma das autoras que contribuíram para o primeiro lançamento da RUP. Desta iniciativa, Cristina Canavarro

Em Abril, a ANEP organizou o 1º Meeting Internacional

recorda e destaca: “o grande empenho, persistência,

de Estudantes de Psicologia, em Lisboa, com a participa-

trabalho de bastidores, organização e capacidade de

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um passado de recordação

focalização”, processo este que simboliza grande parte

nicação e divulgação de ideias, bem como a troca de

do trabalho que foi feito pelas diversas equipas que

experiências pessoais, seriam fundamentais para o

pertenceram a RUP até hoje. Este momento inovador,

desenvolvimento de uma futura classe profissional de

trouxe alguma credibilidade extra à associação, tendo

qualidade. Neste sentido estava projectada a criação e

sido aplaudido e incentivado pelos professores das várias

distribuição de um Boletim periódico e a publicação de

Faculdades envolvidas. Questionada sobre uma razão

uma revista, a RUP; a criação de uma estrutura directiva

que explique a falta de continuidade de uma revista que

forte e bem articulada com a criação de Comissões de

começou tão auspiciosamente, disse-nos: “coloco a

Trabalho Especializadas e um Secretariado Permanente.

hipótese de que, como outros projectos semelhantes, a

A realização de conferências e o estabelecimento de

existência de tantos outros estímulos interessantes para

contactos internacionais seriam também prioritários.

os estudantes, os tenha dispersado”.

Nesta perspectiva, e ainda para Francisco Evangelista, era fundamental privilegiar a ligação com a EFPSA.

De acordo com uma entrevista dada por um dos primei-

Nesse sentido, a ANEP participou no 2º Meeting Inter-

ros Presidentes da ANEP (1988), Francisco Brito Evan-

nacional de Psicologia realizado em 88 em Liége, na

gelista, e publicada na primeira edição da revista RUP

Bélgica, onde foi dado um grande impulso ao trabalho

(páginas 33 e 34), o plano de actividades desta

federativo com a redacção e aprovação dos Estatutos da

Direcção era ambicioso e revelava um ambiente de

Federação.

grande dinamismo. Centrava-se na ideia de que a comu-

Ainda na mesma entrevista, Francisco Brito Evangelista sintetiza da seguinte forma os objectivos perseguidos pela ANEP: “A promoção de encontros nacionais e internacionais entre as Associações membros e as congéneres noutros países, de cariz científico-pedagógico, cultural e desportivo; apoiar e incentivar todas as iniciativas que visem uma melhor integração dos jovens licenciados em Psicologia no mundo profissional e ainda uma componente que considero muito importante, que é a de sensibilizar os estudantes para o cumprimento das obrigações sociais e éticas no futuro exercício da profissão de psicólogo”. A Sede da Direcção da ANEP foi nesta fase inicial em Lisboa mas existia já nessa época a ideia de que seria importante criar Secretariados Permanentes

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ANEP - 24 anos de história

Os anos 90 Após um período de grande criatividade e empenho, a

\Direcção, os Membros da associação e os estudantes de

ANEP sobreviveu a um período repleto de altos e baixos,

Psicologia. Em 1994 a Faculdade de Psicologia da

com Direcções tão diferentes entre si que a continuidade

Universidade do Minho passou a ser Membro de Pleno

dos projectos de certa forma, se perdeu. Ao longo desta

Direito da ANEP.

década, a ideia de publicar uma revista periódica não foi retomada. Tanto quanto nos foi possível apurar, a activi-

Alcino Silva que pertenceu à Direcção em 95/96, numa

dade da Associação centrou-se na realização de um

fase que referiu como atribulada, alegou alguma disputa

ENEP anual bem como de ciclos de conferências em

interna de poder entre as Faculdades como a principal

Lisboa, Porto e Coimbra e na participação nos Congres-

razão para a instabilidade sentida imediatamente após

sos da EFPSA.

um período tão alto da ANEP. Depois da realização de um Concelho Geral extraordinário, que resultou na

Dos contactos estabelecidos com diversos membros de

interrupção do mandato vigente, foi criada uma direcção

várias direcções da ANEP, resulta a ideia de que a total

de gestão provisória em Coimbra, até novas eleições.

ausência de actas ou outra documentação acessível é, pelo menos em grande parte, resultado da mobilidade

A partir de 1996, a direcção da ANEP sediou-se no Porto

física da Sede da Associação e da muita curta duração

e a actividade da Associação centrou-se sobretudo na

dos mandatos, anualmente renovados. É também

realização de um ENEP anual. Neste período foi inter-

referida neste período alguma disputa de protagonismo

rompido o contacto oficial com a EFPSA, que no seu site

entre as diversas Associações de Estudantes membros da

refere o estatuto de Portugal como o de “país observa-

ANEP. Todos os dados que obtivemos deste período, e

dor” num documento de Março do mesmo ano.)

dada essa ausência de registos, são memórias dos ex-dirigentes e é-nos impossível garantir o seu absoluto rigor.

Victor Coelho, Presidente da Associação de Estudantes da FPCE-UL entre 96 e 98, e dirigente da ANEP também nesse período e actual Secretário da Ordem dos Psicólo-

Assim, em 91/92 a Sede da ANEP foi em Coimbra, e em

gos, só teve conhecimento da existência da antiga

92/93, passou para o ISPA, onde se terá mantido em

relação que existia entre a Federação (EFPSA) e Portugal,

93/94 e 94/95. Segundo Jorge Aguiar, na altura Presi-

aquando da sua presença, um pouco fortuita e a título

dente do Núcleo de Estudantes de Psicologia da Univer-

particular, no Congresso realizado na Estónia em 1998.

sidade de Coimbra, e Frederico Rosas, ambos pertencentes à Direcção (92/93), a actividade da ANEP envolveu bastante empenho e motivação por parte da equipa que a presidiu neste período. Sob a Direcção de Bruno Rasga, terá sido dado relevo à representação portuguesa na EFPSA e à realização de actividades de divulgação e contactos com Associações Profissionais de Psicólogos, na tentativa de estabelecer pontes entre os

Retomada esta ligação, Portugal propôs-se realizar o Congresso da EFPSA em 1999. Assim, este teve lugar em Tróia e, embora com um número limitado de participantes (50), revelou-se um sucesso em termos de qualidade e receptividade por parte dos vários países intervenientes (11).

estudantes e o mundo do trabalho. Pela primeira vez, a ANEP participou nos ENDA (Encontros Nacionais de Dirigentes Associativos) e nas lutas e reivindicações estudantis que tiveram grande expressão nesta época, nomeadamente na contestação ao aumento das propinas. Foram realizados pelo menos dois ENEPs neste mandato, o que mostra bem a proximidade entre a

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um passado de recordação

O novo milénio A nova década iniciou-se com grande dinamismo. No

relatório da Assembleia Geral da EFPSA de 2005,

início de 2001 aderiram à ANEP dois outros membros,

realizada em Madrid, é proposta a exclusão de Portugal

o Núcleo de Estudantes de Psicologia Clínica do Instituto

como país membro da Federação.

Superior de Ciências da Saúde do Norte (NEPCISCS-N) e o Núcleo de Estudantes de Psicologia Clínica do

Em 2007, um grupo de estudantes de Coimbra, liderado

Instituto Superior de Ciências da Saúde do Sul

por João Carlos Arruda, decidiu reerguer a Associação.

(NEPCISCS-S). Seguidos pela inclusão, no ano seguinte,

Surgiu um novo projecto depois de restabelecido o

do Núcleo de Alunos de Psicologia Social e das Orga-

contacto com as Associações de Estudantes das várias

nizações do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e

Faculdades de Psicologia do país, reunindo um amplo

da Empresa (NAPSO). Retomado o projecto RUP, foram editados novos números da revista em 2002 e em 2003 e a ANEP promoveu a realização de um novo Congresso da EFPSA, desta vez no Porto, onde continuava sediada a Associação. No entanto, após a saída a equipa de 2003/2004, a ANEP ficou numa situação financeira muito difícil

e

esteve

completamente

desactivada até 2007. De acordo ainda com Victor Coelho, que manteve uma ligação à ANEP até esta altura, este descalabro ocorreu no rescaldo do Congresso da EFPSA (2003 no Porto). Embora um sucesso do ponto de vista da afluência e da qualidade dos trabalhos apresentados,

este

evento

teve

consequências financeiras graves. Por razões de deficiente gestão e orçamentação foram excedidos os plafonds disponíveis e a Associação não teve capacidade para fazer face ao cumprimento de todas as suas obrigações, quer com os fornecedores quer com o Estado. Num

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ANEP - 24 anos de história

consenso e a representação de 7 Membros de Pleno

da Associação. Ambas as dirigentes, que acompanharam

Direito de então: o Núcleo de Estudantes de Psicologia e

de perto a actividade das direcções de 2007 a 2010,

de Ciências da Educação da Associação Académica de

concluem que, apesar das dificuldades e esforço

Coimbra (NEPCE/AAC), a Associação de estudantes da

empreendido ao longo do mandato de 2007/8, a

Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da

associação

Universidade de Lisboa (AEFPCEUL), a Associação de

estudantes, sobretudo após a realização do ENEP, que

Estudantes da Faculdade de Psicologia e Ciências da

mais uma vez mostrou ser o grande pólo agregador e o

Educação da Universidade do Porto (AEFPCEUP), A

evento que garante maior visibilidade à ANEP.

acabou

por

ser

reconhecida

pelos

Associação de Estudantes do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (AEISPA), Associação de Estudantes de

Conseguiram regularizar a situação pendente em

Psicologia da Universidade do Minho (AEPUM), o

termos de Finanças e de relação com o Instituto Portu-

Núcleo de Estudantes de Psicologia Clínica do Instituto

guês da Juventude. A reposição da legalidade fiscal,

Superior de Ciências da Saúde do Norte (NEPCISCS-N)

assumia uma enorme importância e permitiria às poste-

e o Núcleo de Estudantes de Psicologia da Universidade

riores direcções realizar candidaturas a apoios e finan-

de Évora (NEPUÉ).

ciamentos. Foi pedido e concedido o Estatuto de Pessoa Colectiva de Utilidade Pública que, como é sabido,

De acordo com Andreia Ferreira, ex Vice-Presidente da

confere um posicionamento favorável a uma associação

AEFPCE-UP e Secretária da mesa do Conselho Geral da

sem fins lucrativos.

ANEP no mandato de 2007/8, este foi um projecto bastante desafiante que implicava um enorme esforço

No entanto, nos dois mandatos seguintes, 2008/2009

para retomar a actividade da Associação e que teria que

e 2009/2010 voltaram a sentir-se conturbações a nível

ser desenvolvido em várias frentes.

interno que acabaram por comprometer a realização de grande parte das actividades, nomeadamente o ENEP.

A regularização da situação financeira, a reestruturação

Tânia Martins e Andreia Ferreira destacam a atitude de

interna e a recuperação da credibilidade, foram as

grande alheamento por parte dos Membros de Pleno

grandes prioridades. Terá sido desenvolvido um plano de

Direito que dificultava o trabalho e também as tomadas

trabalho pela nova equipa, que passou pela elaboração

de decisão.

de alguns documentos internos, discussão e reflexão que viriam a dar origem a uma proposta de revisão dos

O ano 2009/2010 acabou por se centrar em torno de

Estatutos. Nesse mesmo ano lectivo foi retomado o ENEP

novas tentativas de divulgação junto dos estudantes

com a organização de um Encontro em Albufeira.

através de actividades mais próximas, de carácter local, promovidas em parceria com as AAEE ou Núcleos. Os

Tânia Martins, Vogal desta Direcção, acrescenta ainda

objectivos acabaram por ser os mesmos dos dois manda-

que, embora todos os novos corpos dirigentes reunissem

tos anteriores: recuperação financeira e reconhecimento

gente com alguma experiência associativa, o carácter

da associação por parte dos estudantes. Mais uma vez

federativo da ANEP acresce complexidade e dificuldades

estes objectivos não foram totalmente atingidos.

na resolução de algumas questões. Destaca as dificul-

Retomando as palavras das duas dirigentes: “No fundo,

dades financeiras com que se depararam e a total ausên-

pensamos que desde o seu «renascimento», a ANEP

cia de bases documentais que permitissem dar uma

nunca conseguiu constituir-se como uma estrutura

continuidade imediata e eficaz ao funcionamento interno

consistente que permitisse aos estudantes uma identifi-

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um passado de recordação

cação e confiança nesta associação. O facto de ser uma

Relativamente ao que conhecem da situação presente da

estrutura nacional faz com que tenha que existir uma

Associação, “…mesmo não conhecendo o funciona-

grande articulação entre os órgãos sociais, o que se torna

mento interno dos actuais órgãos sociais e o envolvim-

difícil numa estrutura frágil e debilitada, com vários avan-

ento dos membros de pleno direito, acreditamos que

ços e recuos que fazem com que os objectivos a que cada

esta direcção tem o espírito e a determinação

Direcção se compromete, fiquem aquém daquilo que é

necessários para levar a ANEP mais longe. Aliás, os resul-

esperado. Pensamos que o principal problema vivido na

tados falam por si, seja através do site, que qualquer um

ANEP neste período tem que ver com ausência de uma

pode consultar a pretexto do ENEP, já com alguns work-

identidade: por parte dos órgãos sociais, por parte dos

shops lotados e neste pedido de conteúdos para a RUP,

membros de pleno direito e, consequentemente, por

um projecto há tanto tempo adiado! Com a actual situa-

parte dos estudantes.”

ção da Psicologia do nosso país, com as alterações introduzidas pela Ordem na situação profissional, com o novo

Uma das principais preocupações da nova direcção,

«estatuto» do psicólogo estagiário, parece-nos essencial

quando foi desafiada pelo João Carlos Arruda a partici-

a existência de uma ANEP forte e consistente, que

par neste projecto, foi conhecer um pouco mais acerca

consiga defender e dar voz aos interesses dos estudantes.

da associação. Esta tarefa acabou por se revelar bastante

A ANEP deve estar suficientemente estruturada de forma

complicada, na medida em que o suporte documental

a poder intervir nas decisões políticas que têm vindo a ser

era escasso e se encontrava disperso. Daí que tenha sido

tomadas e que afectam os psicólogos, em geral, e os

difícil perceber os pilares em que a ANEP assentava e os

estudantes em particular. Deve exigir-se a um organismo

princípios pelos quais se deveria guiar. A reflexão e

como a ANEP que não se alheie de todas as modificações

discussão sobre a Associação e sobre aquilo que os mem-

que se têm verificado nos últimos tempos e parece-nos

bros de pleno direito activos esperavam dela conduziram

que esta Direcção estará a trabalhar nesse sentido. Só

à elaboração de um plano de actividades bastante ambi-

com o imprescindível envolvimento de cada órgão social,

cioso, que incluía objectivos como a regularização da

de cada AE/Núcleo membro de pleno direito se poderá

situação financeira e legal, a criação de um site, a revisão

conseguir uma ANEP comprometida, participativa e,

de funcionamento da RUP e a realização do I Encontro

consequentemente, participada! O envolvimento e

Nacional de Dirigentes Associativos de Psicologia.

reconhecimento por parte dos estudantes passa por não sentirem as suas expectativas defraudadas, pelo que

Num balanço geral sobre o que foram estes três anos da ANEP, acrescentaram que “…acabaram por conseguir repor a legalidade e iniciar de imediato o saneamento financeiro, procedimento que acabou por ser concluído na direcção seguinte, e realizar o ENEP. O site, apesar de ter sido concretizado, não o foi nos moldes inicialmente programados e acabou por não atingir os objectivos propostos, em termos de divulgação. Apesar de não acreditarmos ser possível regularizar a situação financeira num só mandato, a realização do ENEP permitiu o pagamento de algumas das dívidas antigas que a ANEP tinha contraído.”

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Edição 0 - 2º semestre de 2011

esperamos que a actual Direcção caminhe num sentido contrário à instabilidade, que tem caracterizado sobretudo os últimos anos deste percurso associativo.”


RUP - uma história

RUP

uma história O QUE FOI A RUP No editorial do 1º número da Revista Universitária de Psicologia, o director da altura escreve “Demorou mas saiu. De alunos, por alunos e para alunos foi a dinâmica que caracterizou uma ideia e uma vontade de fazer aparecer esta Revista.” Iniciava-se assim a RUP numa das mais felizes ideias e num dos mais felizes momentos da história associativa em Psicologia em Portugal. No entanto a sua história é pautada pela descontinuidade, algo que nunca fez temer quem lhe deu nova vida. A RUP teve, digamos, dois momentos anteriores a este que se está a iniciar. O primeiro e a sua fundação, como organismo da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia (ANEP), deu-se no ano de 1988, um ano após

“Demorou mas saiu. De alunos, por alunos e para alunos foi a dinâmica que caracterizou uma ideia e uma vontade de fazer aparecer esta Revista.” a ANEP surgir, e teve quatro números entre 1988 e 1989. O segundo momento teve um inicio faseado em 1998 com o ressurgimento da RUP, e portanto de um novo nº0, num formato simples e que de algum modo foi a faísca para que, em 2002 e 2003, fossem editados os números 1 e 2, fazendo portanto parte de uma história mais recente. Originalmente, a Revista Universitária de Psicologia surge em 1988, por iniciativa da ANEP. Inicialmente, nos seus membros, “reunia representantes das direcções de estudantes das 3 Faculdades de Psicologia Estatais, FPCE-UP, FPCE UC e FPCE-UL, e o ISPA”, como nos conta, um dos directores da RUP associados ao primeiro momento de existência da revista, o doutor José Luís Gomes, então estudante de Psicologia e membro da ANEP. João Guedes Barbosa, outro director da RUP de então, também na altura estudante de Psicologia e membro da ANEP, conta-nos que a revista “nasce na sequência de uma vontade de juntar as 3 Faculdades de Psicologia e de criar um meio de comunicação que de

RUP - Edição 0

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um passado de recordação

alguma forma desse uma identidade corporativa a uma

Num segundo momento, a RUP nasce, qual Fénix renas-

classe profissional que estava a emergir no mercado

cida, como um “veículo de notícias para a própria ANEP,

nacional em finais da década de 80. Os psicólogos

porque as pessoas não tinham a noção do que era, para

estavam a começar a aparecer e era preciso, em primeiro

que os alunos soubessem o que se passava nas faculdades

lugar, unirmo-nos e, em segundo lugar, aparecer à socie-

que não a deles, e um veículo de escoamento para o

dade, fosse ela académica fosse ela a civil, de uma forma

trabalho dos alunos e uma visibilidade para esse

mais madura.”. Assim, no seu inicio, a RUP pretendia

trabalho”, como nos diz Vítor Coelho, hoje secretário da

essencialmente dar voz aos estudantes de Psicologia,

Ordem dos Psicólogos Portugueses, e um dos Editores da RUP nessa altura. São lançados dois números: um em 2002 e outro em 2003. Esteve pronto um número três, porém, devido a problemas de financiamento, este não chega a ser editado, o que acaba por resultar no fim deste segundo momento de existência da RUP. A equipa foi, numa primeira fase, constituída essencialmente por três directores associados e só mais tarde se juntaram outros três membros. Contava ainda com a colaboração inerente de alunos, tal como de professores de Psicologia, convidados para o processo de revisão científica. A revista em si, relativamente ao momento anterior, tinha um carácter mais artístico, patente nas suas capas, o que agradava mais do ponto de vista visual, mas salvo a componente gráfica, a revista foi fiel ao esquema editorial do momento anterior.

proporcionando-lhes a oportunidade de submeter os seus trabalhos para serem editados na revista. Outro ponto essencial era o de ser uma via de comunicação daquilo que se passava na ANEP e na Psicologia em geral, tendo também como propósito a transmissão de algumas notícias. A equipa da RUP era então formada por um director e dois directores associados e diversos colaboradores, que eram não só alunos, mas também professores de Psicologia, sendo o papel dos últimos mais orientado para a revisão científica dos artigos submetidos.

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Edição 0 - 2º semestre de 2011


RUP - uma história

QUEM FOI A RUP Como achamos que a melhor forma de contar esta história é através de testemunhos, mais do que propriamente com datas e informação descritiva, ficam aqui excertos de entrevistas que fizemos a três dos directores dos dois momentos da RUP, bem como o testemunho de uma aluna então, hoje professora de Psicologia na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra que contribuiu para a revista com a submissão de um artigo.

João Guedes Barbosa director da RUP no seu primeiro momento de existência Como se organizaram (estudantes) para fazer a RUP? Tenho que admitir que já não me lembro muito bem. Mas talvez valha a pena pensarmos como seria fazer uma revista em 1988 quando não havia e-mails e internet. Um verdadeiro desafio… Havia tempo para tudo. Era preciso enviar pelo correio, havia tempo para esperar. Penso que nem o fax existia na altura! Imagino que seja difícil para a actual geração imaginar fazer hoje uma revista a enviar as provas pelo correio.

Quais foram as dificuldades iniciais? Os meios de comunicação. Sem dúvida. Mas na altura todos desconhecíamos o que significava velocidade de um download ou de um upload. A velocidade era marcada pelo tempo do correio. Por vezes as provas da revista eram entregues na reunião seguinte quando os órgãos associativos se encontravam passado um ou dois meses no Porto, Lisboa ou Coimbra!

Como foi o acolhimento da RUP no seio dos estudantes? Boa pergunta. Mas não sei responder. E o que me “entristece” é que se hoje forem fazer esta pergunta a estudantes dessa época, ninguém se vai lembrar… Mas podem sempre fazer o teste. Não me digam é os resultados!

RUP - Edição 0

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um passado de recordação

José Luís Gomes director da RUP no seu primeiro momento de existência De que forma participou activamente na RUP? Participei enquanto director da RUP. Tinha dois directores associados. Os artigos científicos tinham um parecer dum professor ligado à temática em questão. Acabava por escrever artigos sobre notícias, situações dos psicólogos e dos estudantes de Psicologia a nível nacional. Cada número tinha uma entrevista ligada a uma personalidade de relevo ligada à área da Psicologia que decidíamos analisar e reflectir: dois números foram dedicados à Psicologia clínica (saúde mental) e dois números dedicados à Psicologia da Justiça.

Que tipo de feedback receberam dos alunos e/ou professores? O Feedback foi muito positivo, pois existiam trabalhos, artigos e estudos de alunos, que mereceram uma opinião e avaliação excelente por parte dos professores, e que desta forma eram publicados, o que era um incentivo para no futuro, estes alunos, futuros psicólogos, criarem motivação e estímulo para continuar a investigar, reflectir, escrever e publicar. Os alunos sentiam um estímulo para continuar no futuro, a desenvolver áreas de interesse de reflexão e estudo, bem como, de intervenção ou inves-

Que papel cumpriu a RUP nesse seu primeiro momento?

tigação.

O papel da RUP foi dar “voz” aos alunos de Psicologia, e mostrar que o pensar, o investigar e reflectir, não era apenas espaço e poder dos professores e dos já denominados psicólogos das diferentes áreas. Desta forma, o objectivo inicial da RUP foi cumprido, porque acabou por

Que conselhos dá para esta nova RUP?

publicar artigos pertinentes e muito interessantes, que

Penso que será importante continuar a publicar artigos e

foram elogiados por alunos e muitos professores. Alguns

reflexões de estudantes de Psicologia, agora que o

pequenos artigos críticos e informativos, bem como, as

número de instituições de ensino ou de formação, já está

entrevistas a figuras de relevo, e ainda os editoriais,

bem longe de quatro, o número na altura (1988/1989).

pretendiam muitas vezes, provocar, fazer pensar e ler ou

Penso que é interessante que os alunos ganhem estímulo

sentir muitas realidades dos estudantes de Psicologia e

para continuarem o seu trabalho de reflexão ou investi-

dos psicólogos, que de outra forma, seriam inacessíveis

gação, dos artigos que viram publicados. Pensar, investi-

ou difíceis de chegar a cada colega ou instituição de

gar e publicar, não deve ser apenas um espaço para os

Psicologia.

profissionais, ou todos aqueles, que assumem o seu poder na hierarquia académica, mas deverá ser espaço de todos, os que conseguem criar, recriar e fazer associações teóricas ou de investigação brilhantes ou diferentes, talvez não conformistas, conservadoras ou fundamentalistas, do corpo teórico global da Psicologia e afins.

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RUP - uma história

Vítor Coelho director da RUP no seu segundo momento de existência O que o levou a interessar-se pelo projecto da RUP na altura? Essencialmente foram duas coisas: ser um veículo de notícias para a própria ANEP, porque as pessoas não tinham a noção do que era, para que os alunos soubessem o que se passava nas faculdades que não as deles, e um veículo de escoamento para o trabalho dos alunos e uma visibilidade para esse trabalho.

Que contexto sociocultural acha que pode ter despoletado a RUP naquela altura? Nós queríamos que os alunos tivessem uma consciência de qual era a situação da formação universitária em Psicologia naquele momento, estávamos num período de grande crescimento. Foi uma altura em que não havia associações profissionais… No final da década de 90 houve uma implosão do que era o panorama das associações profissionais que, a bem ou a mal, durante algum

Como foi a recepção à RUP?

tempo mantiveram os jornais de psicologia e outras revis-

Os alunos gostavam particularmente dos conteúdos

tas, e naquela altura houve um vazio. Na altura explodi-

não-científicos, gostavam particularmente dos artigos

ram, literalmente, os cursos de Psicologia em Portugal,

que tinham uma componente humorística, que era a

mas cada pessoa não tinha a noção do que estava à sua

última secção, e gostavam bastante das notícias. Sobre os

volta e as associações profissionais eram não existentes.

artigos científicos as pessoas comentavam relativamente

Ambas as coisas ajudaram também a aumentar a nossa

pouco.. Gostavam muito do aspecto. A revista recorria a

vontade de querer partilhar notícias e informação e de

um formato gráfico que ia buscar interpretações um

alertar as pessoas para o ponto em que as coisas estavam.

bocado surreais de obras conhecidas para a capa. A maioria das reacções ficou a dever-se às notícias sobre o que se passava no panorama profissional. No panorama académico os alunos curiosamente não davam tanto feedback… Também vamos lembrar-nos que isto é pré facebook e portanto muito do feedback se ficou a dever

Que conselhos quer dar a este novo momento da RUP?

aos momentos da venda das revistas nos ENEPs e daquele

Envolver o máximo de associações possíveis e de sítios de

que era dado pelas pessoas que iam às associações

Portugal possível, que não seja um projecto que esteja

(núcleos) comprar as revistas.

muito ligado a uma sociedade ou faculdade. Ter sempre dinheiro antes, durante e depois que é crucial. Antes para fazer as coisas, durante e depois para não ficar com dívidas que comprometam o funcionamento e a fazê-la chegar o mais rapidamente enquanto está recente a um maior número de estudantes possível. São as três coisas que será mais crucial para um projecto deste género ter sucesso.

RUP - Edição 0

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um passado de recordação

Maria Cristina Canavarro ex-aluna de Psicologia, ligada ao Núcleo de Estudantes e próxima do Conselho Editorial da RUP (a sua participação na RUP foi essencialmente como autora) Tendo sido a primeira vez que publicou numa revista de que modo é que isso a ajudou? A publicação na RUP foi, de facto, uma estreia para mim enquanto autora em artigos científicos de Psicologia. Foi importante do ponto de vista da aprendizagem de um processo, de adquirir e ir solidificando competências transversais (de pesquisa, de síntese, de redacção) e de reforçar uma “forma de estar” (trabalhar em rede; divulgar e partilhar trabalho; debater). Estes aspectos têm sido importantes no meu percurso, até hoje.

Que impacto teve nos estudantes e professores da FPCE-UC? Foi considerado um projecto interessante; julgo que aumentou a credibilidade da ANEP. Os estudantes sentiram que eram capazes de, eles próprios, irem começando a aproximar-se de territórios que não eram exclusivos de académicos séniors. Lembro também que, na altura, os professores (na nossa faculdade, recordo em particular o Prof. Viegas Abreu) incentivaram o projecto.

Como é que era vista a RUP na altura? Como um projecto inovador. Embora, na altura, as publicações não tivessem a relevância que assumem nos dias de hoje.

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RUP - uma história

O Doutor José Luís Gomes, antigo director da RUP e actualmente Psicólogo Clínico em Braga ofereceu-nos, ainda, sobre este novo momento da RUP, uma reflexão e incentivo que, de seguida, reproduzimos: FELICITO A CONTINUIDADE DA RUP. É com prazer que depois de 21 anos, sou contactado para

ciações e Sociedades de psicologia, no sentido de estimu-

ser informado que a RUP irá continuar. Tudo o que teve

lar a ética e a deontologia profissional da nossa classe, tão

um processo de evolução positiva, merece continuar,

importante e básica, para quem está já no terreno, a inter-

ainda que depois dum estado de intervalo, algo

vir em diversos domínios da sociedade Portuguesa.

prolongado. A RUP deve ser uma outra “forma” de fazer publicações A RUP deve ser a voz da irreverência da psicologia em

de estudos, investigações e reflexões de temáticas na

Portugal, quer dos estudantes, quer dos próprios profis-

nossa área, sem o excesso de obsessão, de regra, do

sionais.

fundamentalismo vigente em cada curso ou universidade, que só bloqueia a liberdade de saber e a criatividade

A dignidade e a imagem que se quer para a nossa classe,

individual.

deve integrar “boas” críticas e “destrutividades” benignas. A RUP merece continuar… Que se possa corrigir malignidades existentes, nas várias formações portuguesas, nos fundamentalismos dos

Um novo número está aqui.

departamentos teórico-clínicos dos diversos cursos. Em alguns cursos predominam licenciaturas com paradig-

Só posso felicitar a continuidade.

mas idealizados, onde se verifica uma perseguição “paranóide” a paradigmas diferentes, e em que os alunos tem que “comer” e submeter-se de forma passivomasoquista, porque podem correr riscos no seu percurso académico se ousarem ser “livres“ e autónomos!!… Também eu passei pelo mesmo!!! Os alunos a partir da RUP devem exigir e reivindicar abertura, flexibilidade, tolerância e aceitação das diferenças teóricas ou de paradigmas. Se estas condições são a universalidade da cidadania, devem ser também, relativa à produção de saber e investigação humana. A RUP deve favorecer alianças entre estudantes e a Ordem dos Psicólogos, bem como um conjunto de Asso-

A continuidade depois de 21 anos é uma fabulosa prenda, que acabo de receber, pelo contacto do Sérgio Duarte, da Universidade de Coimbra. A todos os que estão a trabalhar na continuidade da RUP, desejo um novo futuro, longo, muito longo… Comigo poderão sempre contar, com a criança que deixei… Talvez agora, já adulta, possa assumir a verdadeira maturidade duma RUP adulta. Obrigado.

José Luís Gomes,

Psicólogo Clínico - Braga

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UM PRESENTE EM CONSTRUÇÃO


um presente em construção

O QUE É A RUP? Após o desaparecimento por duas vezes da Revista Universitária de Psicologia (RUP), esta reergue se para preencher um espaço vazio no meio académico nacional, funcionando desta vez como organismo autónomo da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia (RUP/ANEP). Enquanto revista académica, é formada por uma equipa de estudantes e recém-formados de Psicologia, determinados a fazer chegar um conjunto de informação científica seleccionada e articulada a todos

dores altamente motivados, ilustrados e descritos mais à

os seus colegas de Psicologia do país. Do mesmo modo

frente num organigrama. O funcionamento autónomo

que pretende chegar a todos os estudantes, também é

de cada organismo e a forte ligação e sentido de

seu objectivo dar-lhes voz no âmbito da publicação

entreajuda entre os diferentes órgãos e departamentos

científica, criando um espaço de publicação de artigos e

da RUP, serão as bases de trabalho constantes. Para

trabalhos de carácter científico, da autoria de estudantes

garantir a qualidade e seriedade deste projecto, a equipa

e recém-formados em Psicologia. É este o ponto de

da RUP receberá frequentemente formação interna

partida que permite estabelecer a ponte entre a equipa

dentro de várias temáticas, abrangendo domínios como,

autónoma e motivada da RUP e o seu público-alvo.

por exemplo, a publicação científica e a redacção noticiosa.

No presente momento a Revista Universitária de Psicologia é formada por uma equipa de estudantes do 1º, 2º e

Do ponto de vista das funções de cada secção da equipa,

3º ciclos assim, como de recém-formados em Psicologia

e em traços gerais, cabe à Administração a gestão e

da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da

comando do funcionamento, desenvolvimento e repre-

Universidade de Coimbra, procurando num futuro

sentação da RUP/ANEP. Este é o organismo responsável

muito próximo a integração de elementos oriundos de

por todas as questões burocráticas, legais e financeiras,

todo o país.

bem como pelo bom funcionamento interno de toda a equipa.

Relativamente

à

Equipa

Editorial,

esta

A equipa RUP encontra-se dividida em três organismos

encarrega-se da elaboração e edição dos conteúdos da

fundamentais:

e

RUP em todos os seus formatos. Por fim, a Comissão de

Comissão de Revisão Científica. Cada uma destas

Revisão Científica trata da revisão e certificação dos

secções é composta por membros titulares e colabora-

trabalhos que lhe forem submetidos por todos os repre-

Administração,

Equipa

Editorial

sentados pela ANEP. Para que tal funcione, a Comissão de Revisão Científica irá procurar responder aos critérios exigidos para indexação em bases de dados internacionais de revistas científicas, assim como ser o mais abrangente e ecléctico possível na cobertura e selecção das áreas científicas apresentadas para publicação. Deste modo, favorece-se o rigor e a seriedade das publicações e respectivos conteúdos abordados. Esta comissão é formada por convite e por concurso, à semelhança do que acontece no jornal europeu da EFPSA (European Federation of Psychology Students Associations), o JEPS (Journal of European Psychology Students).

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Edição 0 - 2º semestre de 2011


o que é a RUP

A inclusão de uma Comissão de Revisão Científica dirigida por estudantes na RUP, permitirá promover, nos estudantes universitários de Psicologia, o interesse pelas publicações académico científicas, abrindo caminho para a iniciação em carreiras de produção científica.

conhecer e sensibilizar os estudantes e recém-formados para o estado do ensino e da profissão na actualidade no nosso país. Apostaremos desta forma nas referidas áreas, deixando sempre espaço para a participação activa de estudantes de Psicologia nos âmbitos da publicação científica e de divulgação. Para além disso, faz parte da

Formalmente, a Revista Universitária de Psicologia terá

filosofia da RUP ir ao encontro dos interesses, necessi-

uma periodicidade semestral, sendo publicadas, por

dades e preferências do seu público alvo, por isso, através

ano, dois números de cada versão: uma versão impressa

de sondagens e questionários tentaremos perceber

de tiragem limitada para venda ao público e uma digital

quais os temas mais solicitados e procurados, para que

on-line com acesso gratuito a todos os representados

estes sejam incluídos na revista, sempre com garantia de

pela ANEP, cada qual com conteúdos diferentes.

actualidade e rigor.

Deste modo, a versão impressa incluirá conteúdos de divulgação, abordando informação actual relativa ao estado do ensino e da profissão em território nacional e internacional, assim como reportagens ou artigos de opinião. Tais conteúdos pretenderão contemplar as diversas áreas de especialização e de actuação em Psicologia, prioritariamente em território nacional, mais especificamente: Psicologia da Educação, Desenvolvimento e Aconselhamento; Psicologia Social; Psicologia das Organizações e Trabalho; Psicologia Clínica; Psicologia Forense e Criminal; Metodologias Científicas e Avaliação Psicológica; Neuropsicologia e Memória; e outras que possivelmente se mostrem de interesse relevante. Serão também exploradas e divulgadas, na versão impressa, questões alusivas à prática profissional, à investigação e à formação em Psicologia, no sentido de dar a

RUP - Edição 0

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um presente em construção

O segundo formato da RUP destina-se à publicação de artigos e trabalhos de carácter científico da autoria de estudantes e recém-formados representados pela ANEP. Serão incluídos, essencialmente, trabalhos de três tipos: artigos de natureza empírica, de revisão bibliográfica, e apresentação de projectos ou programas de intervenção. Contamos, para isso, e em ambos os formatos da RUP, com a colaboração dos nossos leitores, estudantes e recém formados em Psicologia, seja através da publicação de artigos e trabalhos científicos da sua autoria, seja através de contributos para conteúdos de divulgação. Desta forma será possível dotar os trabalhos dos estudantes de seriedade e lógica científicas, construindo um espaço formativo para estudantes de Psicologia no âmbito da publicação científica. Os trabalhos académicos e científicos submetidos deverão debruçar-se sobre as mesmas áreas de especialização contempladas pela versão impressa. A equipa RUP, para além de trabalhar autonomamente

de estabelecimentos de ensino de Psicologia do país,

nos objectivos a que se propõe enquanto revista universi-

através de uma nova fase de recrutamento.

tária, irá também oferecer oportunidades de formação externa aos interessados e representados pela ANEP,

Em traços gerais, a RUP almejará informar e dar voz aos

como workshops sobre as mais variadas áreas de inter-

estudantes e recém formados em Psicologia, incenti-

esse, que serão atempadamente divulgados. Deste

vando a criação e a inovação e garantindo qualidade

modo, promover-se-á sempre uma relação muito

científica. Com este primeiro passo, pretendemos iniciar

próxima com os leitores, possibilitando o intercâmbio de

o caminho para uma longa e recheada história de publi-

conhecimentos e de práticas psicológicas em todo o país.

cações de cariz académico e científico em Portugal.

Futuramente, promover se á, como já referimos, a integração na equipa RUP de novos elementos, inclusive e preferivelmente oriundos da maior diversidade possível

Partilhar os nossos conhecimentos e confrontá-los com os dos outros permite-nos, não só aumentar o nosso conhecimento geral, como abrir o apetite para procurar cada vez mais. Para isso, é essencial exercitar o músculo da mente e satisfazer as nossas dúvidas e curiosidades científicas. Mais especificamente, no campo da Psicologia e especialmente em território nacional, a RUP pretende surgir como resposta aos interesses dos que desta disciplina se ocupam em Portugal.

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quem é a RUP

João Carlos Arruda Administrador

Fernando Abreu

Victor Ortuño

Colaborador

Coord. Departamento Jurídico, Financeiro e Tesouraria

Tiago Marques Colaborador

Alexandre Silva Colaborado Departamento JFT

André Fernandes Colaborado Departamento JFT

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um presente em construção

Andreia Jesus Redatora

Alice Morgado Editora

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André Rocha

Maria G

Designer

Redatora


quem é a RUP

Roberto Botelho Fotógrafo

Pedro Pires Redator

Ana Rita Martins Redatora

a Gouveia

Sérgio Duarte

tora

Redator

Mariana Guarino Redatora

Patrícia Beveren Redatora

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um presente em construção

Pedro Belo Santos Director

Bernardo Baptista Colaborador

Tiago Adegas Colaborador

Liliana Caldas Colaboradora

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quem é a RUP

QUEM É A RUP? Tão importante como saber o que se passou ontem ou imaginar como será o amanhã, é conhecer o hoje. A Revista Universitária de Psicologia iniciou a sua história há alguns anos atrás, teve as suas adversidades, tal como teve os seus bons momentos, e agora renasce com uma equipa sólida, confiante, motivada e, acima de tudo, disposta a levar a cabo este projecto avante. Esta revista é, actualmente, constituída por vinte elementos distribuídos por três secções: a Administração, que

conta com seis elementos, a Editorial, composta por dez elementos e a Comissão de Revisão Científica constituída pelos restantes quatro elementos. Não há ninguém melhor do que a própria equipa para responder à questão “Quem é a RUP?”. A fim de responder a esta questão elaborámos um conjunto de entrevistas que tiveram como alvo todos os elementos da RUP.

Esta revista é, actualmente, constituída por vinte elementos distribuídos por três secções: a administração, a editorial e a comissão de revisão científica

RUP - Edição 0

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um presente em construção

João Carlos de Lima e Silva Arruda, administrador da Revista Universitária de Psicologia, a concluir o Mestrado Integrado em Psicologia na área de Psicologia da Educação, Desenvolvimento e Aconselhamento na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra explicou-nos, em entrevista “Quem é a RUP”…

Como surgiu a oportunidade de seres administrador da RUP? Até chegar a administrador da RUP percorri um longo caminho. Tudo teve origem no longínquo ano de 2003 quando entrei para a ANEP como Presidente de Mesa do Conselho Geral. Neste mesmo ano participei no Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia onde vi, pela primeira vez, a RUP ser distribuída e tive a possibilidade de a ler, o que me cativou. Seguidamente surgiu a oportunidade de ser presidente da direcção da ANEP e desde logo quis fazer o levantamento da RUP, o que não foi possível no meu mandato nem no mandato subsequente com outra presidência. Posteriormente, num novo mandato apresentei um relatório onde propus o reerguer do organismo autónomo e fiz uma proposta de regulamento interno a ser aprovado pela direcção seguinte. Depois deste ser aprovado apresentei um projecto para ser administrador da RUP e após o diálogo com o actual presidente da Direcção da ANEP e com os presidentes dos membros de pleno direito da ANEP, as coisas encaminharam-se para que eu fosse o administrador da RUP.

Qual foi a tua reacção depois de saberes que irias ser o administrador da RUP? Foram duas as minhas reacções. A primeira foi de alívio porque finalmente o processo tinha acabado e a segunda foi uma reacção de felicidade de “missão cumprida” da guerra pessoal e da promessa que eu tinha feito enquanto presidente da ANEP de conseguimos eleger o administrador e consequentemente reerguer este organismo autónomo que está a construir-se e a ganhar força todos os dias.

Que experiência tens como administrador de uma revista? Experiência como administrador propriamente dita não tenho mas já fui presidente da Comissão Organizadora da Queima das Fitas de Coimbra no longínquo ano de 2002, o que implica responsabilidade, gestão de políticas e de empresas bem como capacidade de negociação de publicidade e patrocínios. O facto de integrar a Associação Académica de Coimbra também me fornece competências necessárias à administração de uma revista.

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Edição 0 - 2º semestre de 2011


quem é a RUP

Que novas experiências esperas ter ao integrar a RUP? Imensas. Acima de tudo, aquelas que eu nem consigo imaginar. Espero ter experiências desde aprender, conhecer novas pessoas até experienciar áreas que nunca teria pensado. Espero também adquirir conhecimento de como publicar, onde publicar e de como e onde fazer ciência.

Definiste logo objectivos ou esperaste por uma fase posterior para o fazer? Aquando da apresentação do relatório ao Conselho Geral, que referi anteriormente, já tinha alguns objectivos que hoje estão presentes, não só no regulamento interno como também no nosso mandato. São exemplos destes objectivos a realização de uma versão impressa e de uma versão digital da RUP e a criação de receitas extraordinárias para contribuir para o funcionamento da ANEP.

Todos os objectivos se reportam a uma dimensão pessoal ou é tua intenção generalizá-los e torná-los objectivos de toda a equipa da RUP? Obviamente que, não deixando de ser objectivos pessoais, são objectivos de toda a equipa da RUP. Os doze pontos que constituem o nosso mandato referem-se aos objectivos de toda a equipa e não simplesmente aos meus.

Como é que a Administração, sendo o órgão máximo da RUP/ANEP, pode promover uma melhor qualidade de trabalho em equipa? Para promover uma melhor qualidade, a Administração procurará dar resposta a todas as necessidades das outras equipas que constituem a RUP, apresentando as melhores condições de trabalho e proporcionando todos os meios materiais e não materiais necessários. A Administração é o órgão máximo porque está ao serviço dos outros.

RUP - Edição 0

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um presente em construção

Quando se fala da RUP quais são os primeiros pensamentos ou palavras que gostarias de expressar? A RUP é a revista que todos precisam para se saber um bocadinho mais sobre o que é a Psicologia.

Consideras a RUP um projecto ou um desafio? Ambos. A RUP será sempre um projecto dinâmico e em construção, em que cada edição constitui um projecto por si só mas que paralelamente não deixa de ser um desafio que visa o crescimento desta revista.

Tal como o administrador também os restantes colab-

Segundos os membros da Administração, o facto desta

oradores da Administração esperam ter novas experiên-

revista permitir a divulgação científica da Psicologia, ser

cias de aprendizagem e aquisição de conhecimento. Não

um projecto de grande magnitude e bem organizado,

tendo nenhuma ou pouca experiência nesta área, todos

basear se em objectivos sólidos e promover um excelente

eles estão convictos e motivados para exercerem as suas

conhecimento ao nosso público-alvo são muitos dos

funções.

motivos que contribuíram para a decisão de integrar este projecto.

À excepção de dois elementos que aceitaram imediatamente a proposta de integrar na RUP, os restantes optaram por ponderar a sua decisão.

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Edição 0 - 2º semestre de 2011


quem é a RUP

Também a editora da Revista Universitária de Psicologia, Alice Murteira Morgado, a efectuar o doutoramento em Psicologia de Desenvolvimento expressou a sua opinião e demonstrou o seu parecer a fim de clarificar quem é a RUP…

Como surgiu a oportunidade de seres editora da RUP? Foi através de um convite por parte do actual administrador João Arruda. Depois de ele me mostrar o projecto achei que estava muito bem estruturado. Pareceu-me então que poderia contribuir para um futuro fantástico de uma revista e estar na génese de algo que pode fazer história, portanto aceitei.

Porque é que decidiste aceitar este convite? Decidi fazê-lo exactamente porque vi que esta revista tem um grande potencial e porque acredito piamente que tudo isto pode ser o inicio de algo que tenha um grande futuro. O facto de dar o nome e a cara por esta revista, que no futuro poderá ter tanto valor, é excelente e agrada-me imenso.

Depois de afirmares o veredicto final deste convite qual foi o primeiro pensamento que tiveste? Comecei de imediato a pensar como é que queria que fosse a revista e qual a filosofia a implementar em termos editoriais para depois, a partir desta, tomar um rumo e realizar feitos mais concretos.

O que significa ser editora de uma revista? Significa conceber uma revista e criar uma equipa que seja capaz de elaborar os conteúdos bem como organizar o seu trabalho. Ser editora significa ainda ter uma grande capacidade de coordenação de equipa, ter criatividade e ter a capacidade de organização bem como de planeamento.

RUP - Edição 0

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um presente em construção

Que experiência tens como editora de uma revista? Experiência como editora não tenho nenhuma mas tenho muito gosto por jornalismo e tudo aquilo que sei e que consigo fazer deve-se essencialmente ao meu interesse por esta área.

O que esperas retirar desta experiência como editora de uma revista? Espero aprender muito sobre todas as dimensões que implicam fazer uma revista desde a paginação até à redacção, passando pela fotografia, por exemplo.

Definiste logo objectivos ou esperaste por uma fase posterior para o fazer? Os objectivos mais gerais foram traçados desde o início. Posteriormente, e ao longo do tempo, com a construção da própria Equipa Editorial foram sendo traçados outros objectivos que acabam por ser partilhados por todos os seus elementos tornando-a mais forte e capaz. O principal objectivo é concebermos uma revista que interesse a uma grande extensão de pessoas não só a estudantes portugueses de Psicologia como também a estudantes estrangeiros e até a pessoas que não estão ligadas à Psicologia mas que se interessam por tal.

Que características deve ter a Equipa Editorial? Em primeiro lugar deve ter uma grande motivação para conseguirmos alcançar todos os nossos objectivos e desenvolver um trabalho com qualidade. Deve ter também criatividade, flexibilidade, colaboração, diálogo, respeito, seriedade cooperação, honestidade e muito boa disposição.

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Edição 0 - 2º semestre de 2011


quem é a RUP

Que temáticas serão abordadas, de uma forma geral, na RUP? A RUP vai ser organizada de acordo com três grandes temas: investigação, formação e prática em Psicologia. Dentro destes três grupos tentaremos incluir o máximo de áreas de especialização possíveis de modo a abranger o interesse de todos os leitores.

Quando se fala da RUP quais são as primeiras palavras que gostarias de expressar? Psicologia, actualidade e, sobretudo, dinamismo.

A RUP é um projecto ou um desafio? É sem dúvida um projecto desafiante.

Com muita motivação e vontade de alcançar todos os objectivos, os restantes membros pertencentes à Equipa Editorial afirmam, com toda a certeza, estar neste projecto porque o consideram bastante interessante e, acima de tudo, porque pretende “abrir os seus horizontes” à Psicologia. Desenvolver competências de redacção, aprender um pouco sobre investigação e adquirir conhecimentos sobre jornalismo são algumas das experiências que os colaboradores da Equipa Editorial esperam ter ao participar na elaboração da RUP. De uma forma geral todos os membros ponderaram a sua incorporação na revista mas actualmente estão inteirados de todo o projecto e com uma grande determinação de lhe proporcionar uma qualidade colossal e desmesurado avanço.

RUP - Edição 0

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um presente em construção

Pedro Ricardo Belo dos Santos, bolseiro de Gestão de Ciência e Tecnologia em Unidade I&D e director da Comissão de Revisão Científica da Revista Universitária de Psicologia contribuiu também para o esclarecimento de quem é a RUP ao responder às seguintes questões:

Como surgiu a oportunidade de seres director da Comissão de Revisão Científica da RUP? Esta oportunidade surgiu através do convite da Administração da RUP para ser colaborador neste mandato.

Porque é que aceitaste fazer parte desta revista? Por acreditar no projecto, pela seriedade da equipa e pela grande vontade de um futuro promissor que toda a equipa tem demonstrado, incluindo eu.

O que significa ser director da Comissão de Revisão Científica de uma revista? Ser director desta secção representa sem dúvida um desafio pessoal e aliciante. Representa gerir tempos de submissão, de revisão e de publicação de artigos e organizar as actividades, segundo uma gestão de tarefas, que diga respeito a todos os membros da equipa. Significa também ter de organizar artigos por áreas temáticas e consequentemente estruturar e preparar a edição digital.

Que experiência tens como director da Comissão de Revisão Científica de uma revista? Como director, apenas tenho este mês e meio de experiência, contudo já havia colaborado numa outra revista científica nacional.

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Edição 0 - 2º semestre de 2011


quem é a RUP

Que experiência pretendes ter como director da Comissão de Revisão Científica da RUP? Espero ganhar experiência na gestão e organização dos artigos, participar em workshops, promover formações e, o mais importante, aprender com as avaliações dos nossos revisores.

Definiste logo objectivos ou esperaste por uma fase posterior para o fazer? Os objectivos e os timings de execução foram logo apresentados e discutidos com a Administração, pelo que o que aconteceu foi uma definição de prioridades.

O que esperas retirar desta experiência como editora de uma revista? Espero aprender muito sobre todas as dimensões que implicam fazer uma revista desde a paginação até à redacção, passando pela fotografia, por exemplo.

Quais são os moldes que serão utilizados para proceder à revisão científica? A Comissão de Revisão Científica irá constituir-se seguindo moldes semelhantes aos propostos pela EFPSA (European Federation of Psychology Students Associations) para o seu jornal europeu JEPS (Journal of European Psychology Students) onde se irá promover um sistema de revisão para os estudantes por estudantes.

Existe preferência entre os trabalhos realizados pelos alunos dos 1º e 2º ciclosde Psicologia ou pelos dos recém-formados? Pretende-se criar um espaço em que o objectivo seja a divulgação dos trabalhos científicos realizados sobretudo por alunos dos 1º e 2º ciclos de Psicologia, pelo que terão prioridade, mas também será aberto a recém-formados.

RUP - Edição 0

43


um presente em construção

Porquê esta preferência? Sendo a RUP uma revista universitária, queremos que estes alunos encontrem aqui um local privilegiado de divulgação de resultados e experiências, o qual não tem existido. Apesar disto, os recém-formados terão também oportunidade de apresentar na edição on-line da RUP os seus trabalhos de fim de curso.

Como director da Comissão de Revisão Científica o que pretendes para a RUP? Acima de tudo pretendo que esta revista tenha um crescimento consolidado e que se afirme como uma revista de valor nacional na nossa área. Mais presentemente pretendo que esta edição venha a colmatar um espaço vazio no meio académico nacional.

Quando se fala da RUP quais são os primeiros pensamentos e palavras que gostaria de expressar? Desafio, trabalho em equipa, grupo, coesão, cumplicidade.

A RUP é um projecto ou um desafio? É um projecto desafiante.

À semelhança do director da Comissão de Revisão

Em resposta à questão “Quem é a RUP?” podemos

Científica, todos os outros colaboradores desta secção

afirmar, então, que somos uma equipa de estudantes

desejam e esperam um crescimento desta revista bem

para estudantes cujo objectivo maior é o de fazer

como o seu reconhecimento a nível nacional.

renascer a RUP, alcançando assim a conquista da sabedoria em Psicologia e o alcance da autenticidade.

Apesar de não terem qualquer experiência nesta área e de terem ponderado a sua decisão quanto ao ingresso na RUP, todos estão cientes das tarefas a desenvolver e com uma grande motivação para as realizarem. O facto de considerarem este projecto interessante, credível, bem organizado, capaz de promover o desenvolvimento na Psicologia actual e proceder à sua divulgação faz com que todos os membros da Comissão de Revisão Científica tenham imensas expectativas sobre o futuro desta revista e faz com que, acima de tudo, a motivação seja cada vez maior para atingir os objectivos que são comuns a toda a equipa da RUP.

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Edição 0 - 2º semestre de 2011


UM FUTURO DE AMBIÇÃO


um futuro de ambição

Para quem é a RUP? Quando falamos na RUP não nos podemos, de todo,

tornará o leitor num psicólogo ou num estudante de

limitar a uma equipa restrita, presentemente, de 20

Psicologia mais informado acerca desta ciência, na reali-

elementos, que se esforça por, semestralmente, lançar

dade Portuguesa, sendo isso de uma importância fulcral

uma edição. A RUP é muito mais que isso! A RUP integra

nos dias que correm onde parece subsistir ainda muita

um grupo de pessoas tão importante quanto os mem-

“desinformação” e desconhecimento de realidades mais

bros das suas equipas, que também têm uma opinião

locais, no que à prática e ensino da Psicologia diz

sobre este projecto: os seus leitores.

respeito. Se a RUP contribuir, seja em que medida for, para a redução desta falta de informação e/ou «descon-

Tal como o administrador João Carlos Arruda defende,

hecimento», estará consequentemente a prestar um

todos os elementos de um projecto têm uma palavra a

enorme serviço público à comunidade académica e aos

dizer sobre o mesmo: só assim se podem fazer sentir

profissionais desta área.

como parte integrante deste. Daí que, à semelhança do que aconteceu com os membros que incorporam a

Em nome da Associação de Estudantes da Faculdade de

equipa da RUP, alguns dos elementos de pleno direito da

Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade

ANEP foram convidados a sucintamente falarem, não só

do Porto, Joana Esteves espera que a RUP cumpra,

sobre as suas perspectivas quanto ao renascimento deste projecto, como também sobre o que esperam que o mesmo dê ao seu público-alvo. Deste modo, Carlos Silva, da Associação de Estudantes de Psicologia da Universidade do Minho, responde, sem hesitação, que tem grandes expectativas para este projecto; argumentando que “plataformas deste género são sempre uma mais-valia e podem fazer muito pela promoção e divulgação de profissionais, investigadores, centros de investigação e faculdades”. O estudante espera que, “com bom serviço jornalístico, a RUP cumpra o seu dever de informação e que este se estenda a nível nacional”. Não duvida, assim, que “facilmente a RUP se venha a tornar numa instituição amplamente conhecida e respeitada no meio académico”. Carlos Silva acredita que a Revista Universitária de Psicologia

“A RUP integra um grupo de pessoas tão importante quanto os membros das suas equipas, que também têm uma opinião sobre este projecto: os seus leitores.”

46

Edição 0 - 2º semestre de 2011


para quem é a RUP

oportunidade para os estudantes se poderem mostrar”, para se “conseguirem afirmar enquanto estudantes e não acharem que é só depois de acabarem o curso que têm algo para dar”, ou seja incentivar à participação e apresentação do valor de cada um ao longo do seu percurso. As expectativas na Associação de Estudantes do ISPA, transmitidas por Lia Rodrigues, focam-se, essencialmente, na publicidade de eventos e congressos de Psicologia assim como na elucidação da população universiexactamente, o projecto que apresentou e aguarda quali-

tária acerca dos parâmetros da Ordem dos Psicólogos

dade e inovação no programa científico, esperando que

Portugueses, como os direitos, os deveres e objectivos. A

este espelhe a realidade do ensino e da profissão da

estudante, considera que publicitando possibilidades de

Psicologia no país. A estudante tem esperança que este

estágios e de locais para se realizar voluntariado,

projecto venha trazer também um novo alento aos

fazendo referência a novas publicações de estudos e

estudantes, uma vez que se está a viver um grande

artigos recentes com impacto na área da psicologia, e

desânimo na profissão: “espero que a RUP venha

divulgando entrevistas a psicólogos, psicanalistas e

mostrar que a Psicologia está viva, que a Psicologia é

psiquiatras de renome, a RUP está a enriquecer os jovens

importante e que temos de lutar pela nossa classe; espero

leitores universitários.

Outra conclusão não poderá ser retirada senão a da grande responsabilidade da RUP em corresponder e superar as expectativas dos seus leitores, já que são estes a razão da sua existência. que esse apelo seja feito aos estudantes de Psicologia,

Por fim, Ricardo Viegas, do Núcleo de Estudantes de

para que estes tenham orgulho e respeito pela nossa

Psicologia, Ciências da Educação e Serviço Social da

profissão e que não tenham medo de se afirmar e dizer

Associação Académica de Coimbra, acredita que “a RUP

«somos psicólogos, merecemos e temos um papel a

tem, actualmente, todas as condições para se tornar um

desempenhar

em

Portugal».”

Joana

Esteves, conclui, dizendo que a RUP pode ser um mecanismo de força, uma importante plataforma entre os estudantes de Psicologia e a Ordem, no sentido de facilitar a informação aos estudantes, uma vez que há grande falta de informação, que resulta por vezes nalgum descontentamento; “começam a surgir muitos rumores e mitos que são importantes de desmistificar. Portanto espero que a RUP/ANEP venha ajudar nesse sentido.” A estudante acredita que a RUP pode trazer “uma nova

RUP - Edição 0

47


um futuro de ambição

dos melhores veículos de informação, não só ao nível da divulgação da produção científica elaborada pelos nossos colegas mas também no que concerne à cobertura do desenvolvimento do mercado laboral e toda a actividade que envolve a formação e profissionalização em Psicologia. Hoje, a RUP possui uma equipa altamente focada e motivada, o que lhe permitirá reclamar o seu espaço junto do seu tecido social que são os estudantes portugueses de Psicologia.” O estudante anseia que “a RUP, na sua forma impressa, se torne na ferramenta de informação fidedigna e gratuita, com uma distribuição que possa abranger, numa primeira fase todos os Membros de Pleno Direito da ANEP, e hipoteticamente numa segunda fase pudesse alcançar o público de outras universidades e instituições de ensino superior que leccionam Psicologia. A RUP pode-se tornar assim, o elemento unificador que auxilie a ANEP na defesa dos direitos de todos os estudantes de Psicologia.” Ricardo Viegas termina afirmando que “a RUP, sendo uma publicação sem rival no seu segmento, está na posição certa para desmistificar diversos estereótipos criados em torno da produção científica por um público, formalmente, possuidor de um menor título académico. Desse modo, a RUP possibilitará a todos, mas sobretudo aos alunos do 1º e 2º ciclo de estudos, uma porta de entrada para a publicação dos seus trabalhos, criando um movimento do paradigma de «Leitor-Passivo» para o de «LeitorActivo», ou seja, possibilitará os alunos destes ciclos de estudos de serem intervenientes no processo de incremento do conhecimento científico nas diversas áreas que compõem a Psicologia. A promoção da produção científica, aspecto cada vez mais necessário nas políticas pedagógicas do ensino superior, alia-se ao já referido valor

informativo

inerente

a

versão

impressa,

integrando-se numa gestalt que representa a colmatação de algumas das necessidades do público-alvo a que se destina a RUP.”

48

Edição 0 - 2º semestre de 2011

Perante todos estes testemunhos podemos verificar que a RUP tem um leque de destinatários muito abrangente. No que se refere aos estudantes de Psicologia será certamente uma mais-valia, podendo até servir como instrumento de trabalho; a todos os restantes leitores, qualquer que seja o seu papel, faculta-lhes uma visão mais ampla da Psicologia, da sua importância para a sociedade e da beleza que esta ciência encerra. Outra conclusão não poderá ser retirada senão a da grande responsabilidade da RUP em corresponder e superar as expectativas dos seus leitores, já que são estes a razão da sua existência.


RUP: um sonho

RUP: Um Sonho Com equipa formada, objectivos definidos, estratégias

produção. Assim, espera se a implementação de um

lançadas e motivação necessária, a Revista Universitária

método de revisão irrepreensível, que seja reconhecido

de Psicologia deixa de ser uma utopia, uma ilusão, um

pelas instâncias internacionais.

projecto cuja sua execução parecia tão difícil, para passar a ser um ‘projecto desafiante’, como o caracter-

Quanto ao que aí vem na RUP, o seu administrador vê um

izou a editora da revista, Alice Morgado, e o director da

futuro muito promissor. Mantendo sempre alguma

Comissão de Revisão Científica, Pedro Belo, quando

prudência e realismo, João Carlos Arruda tem grandes

questionados sobre o mesmo.

perspectivas para este projecto: “inclusive acredito que a médio-longo prazo esta revista passe a nossa fronteira” já

A unanimidade e concordância foram totais por parte

que “não existe nada semelhante, neste momento, no

dos membros da equipa, quer quanto à equipa auspi-

mercado, o que faz de nós únicos; as pessoas têm neces-

ciosa que constitui a revista, quer quanto à convicção de

sidade deste produto; acredito no potencial humano

um futuro promissor da RUP.

inerente a cada um de nós”. Em suma, para o seu administrador, “a RUP é um sonho que é uma realidade!”

João Carlos Arruda, administrador da RUP, assume uma visão da revista como um projecto de grupo, no qual as

Em sintonia com a perspectiva do João Carlos Arruda,

metas para o futuro são partilhadas e definidas em

toda a equipa da Administração espera dar à RUP

equipa, numa lógica de coesão, comunicação e eficácia.

sempre o melhor de cada um. O trabalho exaustivo é

Tais metas passarão, essencialmente, pelo crescimento e

mencionado por todos como fundamental para que o

pela maturidade da revista, o que se poderá traduzir

processo seja um sucesso, assim como a disponibilidade

numa periodicidade mais frequente, numa maior visibili-

e as horas de sono. Contudo, os membros da Administra-

dade e interesse junto dos estudantes de Psicologia e

ção, consideram que tudo isso será certamente recom-

num crescimento no número de exemplares disponibili-

pensado mais tarde, mostrando motivação e grandes

zados e vendidos. Da Equipa Editorial, o administrador

expectativas para a revista, na expectativa de que atinja

espera motivação para a construção de um produto

um elevado grau de divulgação, ganhe nome nacional e

aprazível, de fácil leitura, com informação objectiva,

internacional e que funcione como meio de trazer mais

«...para o seu administrador, “a RUP é um sonho que é uma realidade!”...» concisa e correcta. A expectativa é de que todos,

seriedade à forma como a Psicologia é vista na socie-

individualmente e em equipa, descubram mais sobre a

dade.

Psicologia, em todas as suas áreas e dimensões. Sobre a Comissão de Revisão Científica, recai a expectativa de

Na Equipa Editorial as expectativas estão também

oferecer “um mundo de ciência”, que fomente o gosto

bastante elevadas. Sem descurar a realidade nem as

pela produção científica nos estudantes de Psicologia e

dificuldades pelas quais a revista pode passar, a editora,

que valorize e demonstre a qualidade dessa mesma

Alice Morgado, vê um futuro promissor para a revista

RUP - Edição 0

49


um futuro de ambição

baseada na motivação da equipa e na qualidade do

panorama nacional, não havia nos últimos tempos”.

projecto. Estando ainda a trabalhar “numa coisa de cada

Explica-nos também que, para já, os moldes da EFPSA

vez”, a editora adianta que os conteúdos das próximas

serão os adoptados para a componente científica da

edições serão organizados de acordo com três grandes

RUP: “com o tempo veremos se estes serão os melhores

áreas de influência da Psicologia (formação, investiga-

moldes para a nossa revista […] mas penso que aos

ção e prática) e de acordo com as suas diversas áreas de

poucos iremos ganhar uma personalidade própria o que

especialização existentes. Relativamente à sua equipa,

irá permitir actualizar a metodologia de actuação.” A sua

Alice Morgado espera que, no futuro, se verifique um

equipa é actualmente formada por quatro membros

crescimento qualitativo e quantitativo, ou seja, “espero

efectivos e dois colaboradores que brevemente passarão

que estes elementos se desenvolvam e que a equipa

a efectivos, estando aberta à entrada de novos colabora-

cresça em número de pessoas, vindo assim a integrar

dores, que possuam, acima de tudo, capacidade de

alunos de todo o país e de várias instituições cujas

trabalhar em equipa e vontade de aprender. Pedro Belo

associações de estudantes estão representadas na

está convicto de que a Comissão de Revisão Científica

ANEP”. No espaço de um ano, a editora da RUP espera

poderá desenvolver “um trabalho sério, com dedicação e

que esta “seja uma revista reconhecida pelos estudantes,

rigor, além de um sentido crítico das tarefas a desen-

que seja procurada não só por estes como também pelos

volver”. Quanto às perspectivas para o futuro, Pedro Belo

professores e pelos psicólogos em exercício da sua

espera que a revista tenha já o seu espaço bem delin-

profissão e que seja uma revista com uma imagem forte e

eado, esperando, ainda, que “daqui a um ano a grande

facilmente identificável pelo nosso público-alvo”.

preocupação seja a de escolher os artigos da Edição n.º 1 da revista online, pois seria o sinal de que a participação

No seio de toda a equipa editorial, o maior objectivo e

e a submissão de artigos tinha sido em massa”.

anseio é dar continuidade à RUP, tornando-a marcante no mundo da Psicologia e de eleição a nível não só nacio-

Na Comissão de Revisão Científica, o espírito de

nal como também internacional. Os nove elementos

trabalho está bem impregnado em todos os elementos,

desta equipa crêem que este projecto é um grande desa-

que, metaforicamente, garantem que “se tiver de haver

fio, do qual esperam estar à altura e acreditam que vão

sangue” eles darão o seu próprio sangue pela revista,

conseguir superar com distinção; a nível pessoal, a maio-

pela seriedade, pelo rigor e pela divulgação da Psicolo-

ria não tem dúvidas de que a RUP, no futuro, dará, a cada

gia. Nesta equipa as expectativas, para o futuro da RUP,

um, grandes conquistas, como experiência, competên-

resumem-se a uma frase: “será uma revista fantástica

cias, maturidade, ‘capacidade de trabalho’, entre muitas

com um volume de vendas gigante!”

outras coisas. Todos se encontram motivados e com uma enorme vontade de fazer da história da RUP uma história sem fim, contribuindo, cada um, com o melhor de si! Por fim, Pedro Belo, director da Comissão de Revisão Científica, vê a RUP como “uma oportunidade que os alunos de Psicologia e os recém-formados têm para expor os seus trabalhos de investigação o que, num

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Edição 0 - 2º semestre de 2011




A PSICOLOGIA AQUI E AGORA


a psicologia aqui e agora

A Prática Profissional em Psicologia ESTÁGIOS PROFISSIONAIS DA ORDEM DOS PSICÓLOGOS POSTUGUESES Ingressar no Ensino Superior. Um investimento? Uma

habitantes, de acordo com dados recolhidos num Comu-

necessidade? Uma obrigação? Uma escolha pelo desen-

nicado do Sindicato Nacional de Psicólogos. Segundo

volvimento? São diversos os motivos para entrar no

números avançados por Victor Coelho, secretário da

ensino superior. Existem aqueles que estudam para apre-

Direcção da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP),

nder mais e serem melhores na sua área de interesse,

numa sessão de esclarecimento sobre os estágios profis-

outros estudam a pensar num futuro promissor e ainda

sionais da OPP, realizada na Faculdade de Psicologia e

há quem estude porque deseja conhecer realidades

de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra a

novas e com elas crescer. Ainda que movidos por diferen-

18 de Fevereiro de 2011, existem cerca de 14793

tes objectivos e sonhos, em algum momento de qualquer

estudantes de Psicologia em Portugal e formam-se 1800

percurso académico, há uma questão que todos os

pessoas por ano, perfazendo o dobro do número de

“Portugal é o país da União Europeia com maior número de estabelecimentos de ensino superior e de estudantes de Psicologia por mil habitantes” estudantes se colocam: O que vai acontecer uma vez

profissionais em Psicologia recomendado pelo Director

terminado o curso? Em Psicologia, esta questão ganha

da European Federation of Psychologists’ Associations

contornos cada vez menos nítidos e mais incertos. Ultra-

(EFPA). Apesar de ser uma profissão necessária nos

passa a sua dimensão de projecção do futuro para se

diversos contextos da nossa sociedade, o número de

transformar, cada vez mais, num problema e preocupa-

vagas nos quadros institucionais não acompanha esta

ção crescentes. Já não se trata de um problema mera-

necessidade, nem o dever estatal de incluir todos os

mente pessoal, mas assume dimensões institucionais e

recém-formados no exercício da profissão qualificada.

sociais de elevada relevância.

Como consequência, dados fornecidos pela presidente do Sindicato Nacional dos Psicólogos confirmam que a

54

Existe, de facto, um número elevado de estudantes de

taxa de desemprego nos psicólogos ronda os 17%. Esta

Psicologia a formar-se por ano, o que implica, paralela-

situação pode prolongar-se por vários anos, fazendo com

mente, um crescimento exponencial do número de

que recém-formados em diferentes anos compitam

psicólogos no mercado de trabalho. Portugal é o país da

simultaneamente no mercado de trabalho. Alguns

União Europeia com maior número de estabelecimentos

acabam por desistir de exercer Psicologia, apostando

de ensino superior e de estudantes de Psicologia por mil

noutras áreas que lhes permitam, não tanto o futuro

Edição 0 - 2º semestre de 2011


a prática profissional em psicologia

desejado, mas um futuro possível. Para que tal não aconteça, e no sentido de promover a profissão, é necessário tomar medidas práticas e eficazes. Neste sentido, a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) propõe a realização de estágio profissional no ano sequente ao término do curso. Este estágio tem como objectivo preparar o recém-formado para o exercício profissional em Psicologia, aplicando um dos principais ideais da OPP: a uniformização e regularização da prática da Psicologia em Portugal.

Como funcionam os estágios profissionais da Ordem dos Psicólogos Portugueses? Os estágios profissionais são, a partir de 21 de Outubro

conforme se encontra estipulado no artigo 3.º do Regu-

de 2010, um pré-requisito obrigatório para a atribuição

lamento de Estágios da Ordem dos Psicólogos Portugue-

da qualidade de membro efectivo da Ordem dos Psicólo-

ses, 20 de Outubro de 2010:“Com a realização do

gos Portugueses. De acordo com o Artigo 1º, ponto 2, do

estágio pretende-se que o psicólogo estagiário aplique,

Regulamento

pode

em contexto real de trabalho, os conhecimentos teóricos

denominar-se psicólogo ou psicólogo estagiário quem

decorrentes da sua formação académica, desenvolva

não estiver inscrito como tal na Ordem”. Para além de

capacidade para resolver problemas concretos e adquira

permitir uma formação prática em contexto de trabalho

as competências e métodos de trabalho indispensáveis a

e, por isso, mais efectiva e rigorosa que o estágio curricu-

um exercício competente e responsável da actividade da

lar integrado na formação académica em Psicologia, o

Psicologia, designadamente nas suas vertentes técnica,

estágio profissional pretende estabelecer uma ponte

científica, deontológica e de relacionamento interpes-

para o exercício da Psicologia em Portugal, visando a

soal.”

de

Inscrição

na

OPP,

“não

inserção de forma mais célere e fácil no exercício activo,

RUP - Edição 0

55


a psicologia aqui e agora

Em traços gerais, todo o processo decorre ao longo de

termos, o psicólogo estagiário deverá completar o

três fases principais: inscrição na OPP e submissão do

mínimo de 1600 horas ou de 2400 horas de exercício

projecto de estágio, realização do estágio e do curso de

em Psicologia, consoante a duração do estágio tenha

formação e, por fim, conclusão do estágio profissional e

sido doze ou dezoito meses. Desse número total de

entrega do relatório de estágio.

horas, pelo menos dois terços devem ser realizadas em regime presencial.

Assim, para poder ser admitido e realizar estágio profissional é necessária a inscrição na OPP como membro

Durante a segunda fase do processo, e antes do término

estagiário. A inscrição na OPP, como membro estagiário

do estágio profissional, o estagiário deverá realizar

ou efectivo, está sujeita ao pagamento de uma jóia de

cursos de formação focalizados em questões deontológi-

inscrição no valor de 180€, tendo uma duração corre-

cas e profissionais, directamente disponibilizados pela

spondente ao tempo de prática efectiva do exercício da Psicologia. A inscrição é formalizada mediante uma ficha de inscrição disponibilizada pela OPP, na qual o psicólogo estagiário deve propor o projecto a que o seu estágio profissional vai obedecer. O projecto de estágio é auto-proposto pelo candidato para realização de estágio profissional numa entidade previamente protocolada com a OPP, ou que se propõe a sê-lo, e com um orientador que seja, por sua vez, membro efectivo da OPP e que tenha pelo menos cinco anos de experiência profissional. No formulário de inscrição deverá constar informação relativa à área de especialidade do exercício da Psicologia, ao período de duração, ao local e ao orientador do estágio. Para além disso, e para que a admissão do projecto seja possível, este deve conter declarações da entidade receptora e do orientador de estágio em como se comprometem, respectivamente, a receber e dirigir o estagiário, para além de uma declaração de princípios do psicólogo estagiário. Relativamente ao estágio propriamente dito, este tem uma duração de doze meses, exceptuando os candidatos que não realizaram estágio curricular em Psicologia, para os quais a duração é de dezoito meses. Por outros

“...inscrição na OPP e submissão do projecto de estágio, realização do estágio e do curso de formação e, por fim, conclusão do estágio profissional e entrega do relatório de estágio...”

56

Edição 0 - 2º semestre de 2011


a prática profissional em psicologia

OPP e com possíveis custos associados. Esta formação

conclusão do curso de formação, e da apresentação de

deve ter avaliação positiva, salientando-se a importância

um relatório final de estágio, num período de sessenta

do psicólogo possuir conhecimentos relativos ao Estatuto

dias. O relatório final de estágio deve descrever a infor-

da Ordem dos Psicólogos Portugueses e ao futuro

mação relativa a todas as actividades realizadas durante

Código Deontológico. Para além disso, o psicólogo

o período de estágio, assim como o parecer do orienta-

estagiário está sujeito ao pagamento de taxas para

dor de estágio. A entrega do relatório tem um custo

realização do estágio profissional que, num processo de

adicional de 80€. No final de todo este processo, e caso o

estágio que siga as regras dirigidas pela OPP, correspon-

relatório tenha tido aprovação positiva pela Comissão de

dem a 80€ por cada semestre de estágio realizado.

Estágios, ser-lhe-á atribuída uma avaliação final. A partir desse

momento,

o

Psicólogo

Estagiário

poderá

Por último, a conclusão do estágio pende sob a verifica-

inscrever-se como membro efectivo da OPP e solicitar a

ção do cumprimento do número mínimo de horas, da

emissão da sua célula profissional.

foi uma mudança “demasiado rápida e brusca, na qual faltou um acompanhamento adequado”.

Como estão a ser implementados na prática? Com o intuito de averiguar como este processo decorre

hamento adequado”. Dessa forma, e devido a impedi-

na prática, pedimos opinião a alguns recém-formados

mentos burocráticos, muitos dos recém-formados nesta

em Psicologia a cumprir presentemente o estágio profis-

situação não conseguiram dar seguimento, dentro dos

sional da OPP. Estes estagiários apontam alguns prob-

prazos legalmente estabelecidos, ao seu processo de

lemas no decurso do processo anteriormente explanado,

estágio. Tal deveu-se essencialmente ao facto de os

principalmente inerentes ao facto de se terem candi-

mecanismos necessários ainda não estarem estabeleci-

datado no período de criação do Regulamento de

dos, como, por exemplo, o caso da plataforma de

Estágios. Efectivamente, a OPP foi estabelecida a 4 de

estágios on-line que não se encontrava disponível à data

Setembro de 2008 e o último Regulamento de Estágios

de publicação do Regulamento de Estágios, para que os

data de 20 de Outubro de 2010. Segundo os inquiridos,

candidatos se pudessem inscrever.

a partir do momento em que se estabelece um regulamento deve haver um período transitório no qual não se deve exigir o cumprimento íntegro desta nova acepção. Muitos consideram que, de facto, foi uma mudança “demasiado rápida e brusca, na qual faltou um acompan-

Estes processos, como pioneiros deste novo Regulamento, sofreram atrasos no seu desenvolvimento, de causas várias, entre as quais se destacam os impedimen-

RUP - Edição 0

57


a psicologia aqui e agora

tos burocráticos já mencionados, a ausência de feedback regular por parte da OPP e as consequentes falhas de comunicação que originaram atraso na entrega de documentação por parte do estagiário e/ou orientador. Baseando-se na sua experiência de Psicólogo Estagiário

ressalvar a igual importância de se realizar uma listagem

e concordando que “faz sentido em termos de Diploma

dos orientadores de estágio profissional da OPP, no

Europeu de Psicologia que existam estas exigências em

sentido de facilitar o processo. Por último, foi sugerida a

termos de formação do psicólogo”, um recém-formado

existência de uma linha de apoio directa para a plata-

questionado, apontou quatro possíveis sugestões para

forma de estágios, pelo menos durante este período de

melhorar a implementação dos estágios profissionais.

maior procura. Esta linha de apoio deverá preconizar um

Em primeiro lugar, considera essencial uma postura de

tipo de apoio mais personalizado, não apenas por

receptividade, abertura, unanimidade, aceitação e

telefone, mas também presencial, para que seja possível

retorno por parte dos representantes da OPP, uma vez

“estar alguém responsável por nos dar informações

que é importante para o estagiário, como agente promo-

directas e específicas acerca do nosso processo”.

tor do estágio profissional, um acompanhamento mais personalizado e tutorial. Desta forma, ao promover um contacto mais directo e regular, principalmente entre as duas partes, possibilita-se uma melhor integração do psicólogo estagiário na agilização do próprio processo. Uma segunda sugestão vai no sentido da necessidade de se estabelecerem mais protocolos com entidades receptoras de estágios profissionais, publicando-as no site da

“... a ausência de feedback regular por parte da OPP ...”

OPP, já que o número de entidades receptoras não acompanha o crescente número de recém-formados que necessita de cumprir o estágio profissional para serem membros efectivos da OPP. Uma terceira nota vai para

Reflectindo sobre a necessidade de se pensar não só a questão “Onde estão os estágios profissionais?”, mas, principalmente, a inquietação “Onde está o emprego em Psicologia?”, os recém-formados deixam alguns consel-

“Estes processos (...) sofreram atrasos no seu desenvolvimento, de causas várias, entre as quais se destacam os impedimentos burocráticos”

58

Edição 0 - 2º semestre de 2011

hos aos estudantes, futuros estagiários, futuros psicólogos. “Apliquem-se, estudem para além do curso, apostem nos vossos interesses pessoais para além da vossa área de formação, entrem em grupos da faculdade, da universidade, de associações, façam cursos exteriores à faculdade, aproveitem o conhecimento dos outros para


a prática profissional em psicologia

se enriquecerem a si próprios, sejam activos, associativos, envolvam-se, ajam, interajam, aprendam, falem, desfrutem.” Realçam também a ideia de que “só depende de cada estudante o percurso que vai fazer e o que pode aprender para ser melhor profissional no futuro, tanto em Psicologia como em qualquer outra área.” Pensar a prática profissional em Psicologia é, então, pensarmo-nos a nós próprios como antigos estudantes e futuros profissionais. É envolvermo-nos nas temáticas (e problemáticas) que acompanham e antecedem o nosso exercício da profissão, como, por exemplo, os estágios profissionais da OPP, para que esta possa ser mais interventiva e eficaz. É olhar para a sociedade e querer mais, sugerir mais e, acima de tudo, fazer mais e ser melhor.

“...as consequentes falhas de comunicação...” “...depende de cada estudante o percurso que vai fazer e o que pode aprender para ser melhor profissional no futuro, tanto em Psicologia como em qualquer outra área...”

RUP - Edição 0

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a psicologia aqui e agora

A Investigação em Psicologia A investigação é, hoje em dia, uma área em crescimento.

Psicologia como disciplina científica, promovendo desa-

É reconhecido, desde os primórdios da ciência, o seu

fios no seu saber e dotando-a de rigor, suporte,

assinalável contributo para o desenvolvimento do nosso

dinamismo, actualização e fascínio.

conhecimento. A Psicologia, sendo uma disciplina científica e, como tal, em constante actualização, recorre

Mas quem faz investigação em Psicologia? Como são

constantemente aos resultados da investigação que é

dadas as condições para a produção de conhecimento

feita na sua área e em áreas com ela relacionadas para se

científico em Portugal?

actualizar e crescer. A investigação oferece aos Psicólogos, em todas as suas áreas de actuação, não apenas um saber actualizado, mas um suporte de trabalho pautado pelo rigor e pela seriedade.

É seguro afirmar que um percurso de investigação começa, senão antes, assim que um estudante ingressa no ensino superior. De facto, a universidade representa um local de formação em que o conhecimento é produ-

O trabalho de investigação oferece à formação em Psico-

zido e reproduzido. Hoje em dia, os estudantes de Psico-

logia novidade, progresso e modernização. Ao exercício

logia tem a possibilidade de usufruir de experiências

da profissão oferece apoio, fundamento e aper-

introdutórias à investigação científica ao longo do seu

feiçoamento. Ao conhecimento científico, oferece opor-

percurso académico, por exemplo, através de disciplinas

tunidade de testar teorias, de as confirmar ou refutar

vocacionadas para as metodologias de investigação e

para que possam ser rectificadas, aprimoradas e

estatística, assim como disciplinas em que o debate e a

completadas. Sem investigação, a Psicologia não poderia

análise de novos produtos de conhecimento são fomen-

comunicar como comunica com outras ciências que com

tados. Além disso, a oportunidade de contactar com a

ela se relacionam. Enfim, a investigação consagra a

investigação é em última análise promovida com o

“A Psicologia (...) recorre constantemente aos resultados da investigação que é feita na sua área e em áreas com ela relacionadas para se actualizar e crescer.” culminar do 2º ciclo de estudos em Psicologia, através da elaboração de dissertações de mestrado, em que os estudantes são desafiados a planear, desenvolver e apresentar as suas próprias investigações. Após a formação inicial em Psicologia, um percurso de investigação pode ser uma boa opção de carreira. Muitos optam por esta via para aprofundar o saber nas mais diversas áreas científicas. Para tal, estão disponíveis no nosso país os mais diversos tipos de apoio a investigadores, para que se possam dedicar inteiramente à produção científica. As duas entidades mais significativas

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Edição 0 - 2º semestre de 2011


a investigação em psicologia

a este nível são a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia. A Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) é uma instituição privada, com mais de 50 anos de vida que desenvolve uma vasta actividade em Portugal e no estrangeiro. Directamente ou em parceria com outras entidades a FCG desenvolve um conjunto de programas e projectos nas suas quatro áreas estatutárias: Arte, Saúde e Desenvolvimento

Humano

(Beneficência), Educação e Ciência. É no âmbito destas

educação, da saúde e do ambiente, para a qualidade de

temáticas que são atribuidas bolsas e subsídios em áreas

vida e o bem estar do público em geral”. Neste sentido,

com escassa oferta, de modo a permitir diversificar os

são concedidos os mais variados tipos de apoios a projec-

apoios, privilegiando áreas que não sejam preferencial-

tos de investigação que se possam traduzir em contribu-

mente apoiadas pelo Estado português. Assim, através

tos para o conhecimento científico e desenvolvimento

de vários dos seus serviços, a FCG disponibiliza um

tecnológico. Nesta instituição, são de destacar os apoios

número limitado de bolsas destinadas à prossecução de

a instituições de investigação, assim como à formação

estudos, actualização e aperfeiçoamento. São exemplos

em investigação que procuram abranger um público

disso, o Programa para a Internacionalização das Ciên-

alvo que vai desde estudantes universitários não gradua-

cias Sociais (incentivo à publicação em revistas interna-

dos, até jovens pós-doutorados. A FCT apoia cerca de

“A investigação oferece aos Psicólogos (...) não apenas um saber actualizado, mas um suporte de trabalho pautado pelo rigor e pela seriedade.” cionais de referência), assim como as Bolsas de Investiga-

320 Unidades de I&D e 25 Laboratórios Associados.

ção Científica, cujas candidaturas abrem regularmente e

Além disso, são financiados por esta instituição, mais de

em variadas áreas científicas, no âmbito do Instituto

2000 projectos de investigação, cerca de 8000 bolsas

Gulbenkian para a Ciência.

de doutoramento e pós doutoramento, assim como outros tipos de bolsas em número menos significativo.

A Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) pertence ao Ministério da Educação e Ciência, sendo o

É graças a estes tipos de apoios que os investigadores em

seu principal objectivo “promover o avanço do conheci-

Psicologia podem desenvolver o seu trabalho e contri-

mento científico e tecnológico em Portugal, explorando

buir para a crescente qualificação do ensino superior e

oportunidades que se revelem em todos os domínios

para o aumento substancial da produção científica

científicos e tecnológicos de atingir os mais elevados

nacional com visibilidade internacional.

padrões internacionais de criação de conhecimento, e estimular a sua difusão e contribuição para a melhoria da

RUP - Edição 0

61


a psicologia aqui e agora

Acerca da procura, por parte dos estudantes, da via da investigação, Ana Figueiredo considera que, “desde a criação dos Mestrados Integrados em Psicologia muitos estudantes tiveram oportunidade de fazer diversas pesquisas e estudos nas suas áreas de sub-especialização e, deste modo, perceber o que é a investigação e como é feita. Assim sendo, aquele fosso que parecia existir há uns anos atrás entre a área profissional e de investigação foi diminuído e muitos alunos vieram até a descobrir um interesse mais profundo pela investigação. Neste sentido, é possível encontrar mais alunos e recém formados com interesse em enveredar pela investigação do que em anos anteriores.” Já Carina Teixeira atribui a crescente procura Ana Figueiredo, é mestre em Psicologia, estudante de doutoramento e investigadora do Instituto de Psicologia Cognitiva

Desenvolvimento

Vocacional

e

Social

(IPCDVS), uma Unidade de I&D da Universidade de Coimbra integrada no Instituto de Investigação Interdisciplinar (III) desta Universidade e financiada pela FCT. Parte do seu estudo de doutoramento decorre na Holanda e, em entrevista, transmitiu-nos uma visão bastante optimista da investigação que se faz no nosso país: “o grande trunfo que Portugal tem neste momento é uma massa de bons investigadores com boas ideias e vontade de criar investigação de qualidade dentro do contexto português (…) ao folhear qualquer revista da área da Psicologia em Portugal é visível a produção de muito conhecimento científico, conducente a trabalhos de qualidade e com relevância científica”.

dos estudantes e recém formados em Psicologia sobretudo a dois aspectos: em primeiro lugar, à diversidade existente no universo da investigação em Psicologia – “contando com inúmeras áreas do saber psicológico, variados métodos e, portanto, não é difícil que psicólogos com interesses muito diferentes vejam na investigação científica uma oportunidade e uma profissão desafiante. Mesmo aquelas pessoas que nunca pensaram ser investigadoras verificam que a investigação clínica lhes dá a possibilidade de contactar, ajudar e trabalhar com pessoas, que é, arrisco-me a dizer, aquilo que motiva a escolha de grande parte daqueles que enveredam pela carreira de psicólogo. Por outro lado, as pessoas mais vocacionadas para a investigação laboratorial têm cada vez mais, creio eu, oportunidades nesta área.” – em segundo lugar, embora sem o mesmo peso, à escassez

“o grande trunfo que Portugal tem neste momento é uma massa de bons investigadores com boas ideias e vontade de criar investigação de qualidade dentro do contexto português ”

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Carina Teixeira, também doutoranda do IPCDVS a reali-

de oportunidades que o mercado de trabalho oferece

zar parte do seu trabalho no King's College, em Londres,

aos recém formados para alcançar independência finan-

está de acordo no que se refere à existência de potencial

ceira (“uma vez que os empregos na comunidade são

na investigação nacional: “a prova disso é que os investi-

cada vez mais escassos, a investigação científica é uma

gadores portugueses que saem de Portugal desenvolvem

forma dos recém-licenciados começarem a adquirir

um excelente trabalho nos países que os acolhem. E só

independência financeira por intermédio de Bolsas.

não o fazem em Portugal porque não lhes é dada opor-

Obviamente, as bolsas não representam a situação ideal

tunidade”.

a esse nível, mas face ao estado actual do país, podemos

Edição 0 - 2º semestre de 2011


a investigação em psicologia

considerar uma óptima alternativa”). Em todo o caso,

Psicologia: “antigamente, várias áreas de estudo dentro

para a doutoranda, “ser investigador implica um número

da Psicologia podiam apenas ser analisadas e estudadas

de características muito específicas, entre elas, muita

por aproximações consecutivas ao tema de análise e

dedicação, a vivência apaixonada daquilo que se faz e

dentro

acima de tudo ter questões”.

(im)possibilidades de se estudar o que se propunha.

de

limites

impostos

pelas

próprias

Hoje em dia podem fazer-se estudos mais complexos e Acerca das vantagens da investigação em Psicologia,

até interdisciplinares que permitem uma visão mais

Carina Teixeira aponta a possibilidade de colocar

global de processos fundamentais psicológicos e, ao

questões e procurar respostas de uma forma sistemática

mesmo tempo, uma análise mais profunda destes

e rigorosa, com condições e metodologia apropriadas,

mesmos processos. Assim, para mim, uma das grandes

mencionando também que esta actividade permite “mel-

vantagens de ser investigador em Psicologia é o poder-

horar competências enquanto psicólogo” que actue em

mos investir em áreas de conhecimento menos estudadas, ao mesmo tempo que podemos aprofundar os

“ao folhear qualquer revista da área da Psicologia em Portugal é visível a produção de muito conhecimento científico, conducente a trabalhos de qualidade e com relevância científica”

nossos conhecimentos noutras áreas já bem referenciadas, mas que poderão sempre beneficiar de investigações mais parcimoniosas (no que respeita à minúcia na explicação de determinados processos e fenómenos) integradas num todo coerente e, de facto, explicativo.” Quanto aos desafios existentes nesta área, as estudantes de doutoramento apontam a falta de apoios (logísticos e financeiros) existentes no nosso país no que se refere à investigação. Tal dificuldade não deverá ser, para Ana Figueiredo, sinónimo de “cruzar os braços”. Inclusive, acredita que “um dos grandes desafios é mesmo manter

qualquer área da Psicologia. Outro aspecto referido é o

um bom nível de qualidade na investigação dentro do

facto de a investigação em Psicologia implicar “que

contexto português, por exemplo naquilo que se poderia

quase todos os dias sejam diferentes, porque quando estudamos a mente e o comportamento humano deparamo-nos sempre com idiossincrasias e são estas, na minha opinião, que fazem desta carreira um desafio: não é fácil generalizar e fazer inferências em Psicologia. Em suma, cada «tarefa fechada», usando as palavras do Professor Doutor Manuel Viegas Abreu, abre uma nova tarefa.”. A este propósito, Ana Figueiredo referiu também as possibilidades que surgem hoje em dia graças aos avanços tecnológicos e metodológicos para o estudo da mente e da interacção humana como o aspecto mais apelativo para se fazer investigação em

ser investigador implica um número de características muito específicas, entre elas, muita dedicação, a vivência apaixonada daquilo que se faz e acima de tudo ter questões

RUP - Edição 0

63


a psicologia aqui e agora

chamar quase uma Psicologia «nativa», com referência ao contexto em que é realizada e em que surgem diferentes necessidades e hipóteses de investigação que noutros países não existem. Além disso, penso que é também pertinente a realização de investigação mais fundamental que consiga reconhecimento ao nível internacional. Assim, um desafio será manter a criação e realização de investigação relevante para a sociedade portuguesa, sem descurar a necessidade de também se exportar conhecimento de qualidade que esteja ao nível de outros países considerados líderes na investigação em Psicologia.” Para Carina Teixeira, o desafio prende se com a modificação de atitudes: “fazer chegar às pessoas que trabalham

contexto nacional e internacional, que se revelam, do

na comunidade (instituições de saúde, escolas, empre-

ponto de vista desta doutoranda, nas infra-estruturas e

sas) e que não têm ligação à investigação, que os investi-

metodologias, mas também na própria tradição de inves-

gadores são pessoas comprometidas com o objectivo da

tigação em Psicologia, que noutros países tem uma

sua investigação e que o fazem não apenas por si, mas

história mais longa em comparação com Portugal.

também e acima de tudo pela e para a sociedade (…)

Sempre optimista, a investigadora considera que tais

falo no meu caso em particular, eu acredito que a reabili-

diferenças podem ser encaradas como oportunidades,

tação psicossocial de pessoas com esquizofrenia é

mais do que dificuldades: “ainda existem várias vertentes

possível. Quero saber quais as melhores estratégias e

de investigação carentes de estudo (em áreas como a

programas para integrar estas pessoas na sociedade,

intervenção social, a educação e saúde pública, entre

para que tenham uma vida com significado, um futuro

outros) que […] deverão ser tomadas como possibili-

com objectivos e vejam os seus direitos e liberdades

dades e oportunidades de realizar boa investigação,

fundamentais respeitados, como qualquer um de nós.

independentemente dos constrangimentos financeiros e

Vários estudos realizados no estrangeiro mostram que a

materiais que possam existir.”. Neste sentido, Carina

reabilitação psicossocial destas pessoas é possível.

Teixeira considera, apesar do estar há pouco tempo no

Quero mostrar que também é possível em Portugal, mas

estrangeiro, que “é notório que se fazem estudos de

se não me é dada a possibilidade de chegar até as

maiores dimensões, que as Universidades se envolvem

pessoas que sofrem desta patologia, obviamente que

mais frequentemente em estudos multicêntricos e, claro,

nunca poderei contribuir para o desenvolvimento de

as equipas de investigação envolvem um maior número

serviços de saúde mental comunitários e para a

de pessoas e concomitantemente há mais oportunidades

mudança de paradigma na saúde mental.”

para investigadores. É de salientar que, ao contrário do acontece não raras vezes em Portugal, em que o investi-

A propósito do que é feito no estrangeiro, Ana Figueiredo

gador é, passo a expressão, «pau para toda a obra», no

refere que “muitas vezes caímos no erro de pensar que

estrangeiro as equipas contam com pessoas com diferen-

«lá fora» se faz melhor

tes perfis e, por isso, desempenham diferentes tarefas, libertando, por consequência, o investigador para aquilo

investigação que «cá dentro»”, o que, da sua experiência, não é verdade: “acredito que temos muito potencial e possibilidades de ter boas práticas de investigação dentro de Portugal.” Contudo, há diferenças entre o

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Edição 0 - 2º semestre de 2011

que é a sua principal missão e, sobretudo, permitindo ao máximo o desenvolvimento do seu potencial. Obviamente, o dinheiro alocado à investigação científica no estrangeiro também é superior.”


a investigação em psicologia

Quanto ao futuro da investigação em Portugal, Ana

tar na energia dos jovens investigadores, que se compro-

Figueiredo considera que este deverá passar pelo “inves-

metem e vivem com entusiasmo aquilo que fazem e

timento em áreas de estudo menos desenvolvidas e pelo

apenas precisam de uma oportunidade para desenvolver

investimento dos próprios investigadores em projectos

investigação inovadora e de qualidade”.

de relevância nacional e que se coadunam com as necessidades do país. Ao mesmo tempo, acredito que o futuro da investigação em Portugal passa por desenvolvermos mais projectos e parcerias internacionais, através de plataformas europeias e financiamentos externos, que nos permitam criar uma rede de partilha de conhecimentos científicos de qualidade dentro e fora do país.”. Para Carina Teixeira, prever o futuro é algo difícil neste momento no nosso país. Contudo, considera que, para existir futuro, é fundamental impedir a “fuga” dos nossos cientistas: “Será que conseguiremos lhes dar condições para que fiquem? Saliento que o principal problema não é os investigadores saírem do país, mas sim a ausência de

“Quanto aos desafios existentes nesta área, as estudantes de doutoramento apontam a falta de apoios (logísticos e financeiros) existentes no nosso país no que se refere à investigação”

contacto e de trabalhos em parceria com eles. Não tenho a menor dúvida que muitos portugueses que trabalham no estrangeiro poderiam continuar a colaborar e desenvolver trabalho muito útil para o nosso país. O que acontece muitas vezes é que Portugal só se lembra deles quando ganham visibilidade e prémios no estrangeiro”. Assim, para garantir a produção de conhecimento científico em Portugal com qualidade e visibilidade, “terá de haver um maior investimento na publicação de artigos científicos em inglês e em jornais internacionais conceituados. Contudo, não acredito que deveremos apenas produzir em inglês e descurar a divulgação da investigação realizada em Portugal na própria língua. Assim, acredito que o caminho será procurar o equilíbrio entre a publicação da investigação em português e em inglês, continuando a investir em áreas de conhecimento fulcrais e de relevância na sociedade portuguesa”, refere Ana Figueiredo. A sua colega, acrescenta, ainda que “não nos podemos isolar”, salientando a importância de criar

parcerias

com

boas

universidades

estrangeiras, de investir em programas de mobilidade e de participar em estudos multicêntricos, sendo para isso fundamental “apos-

RUP - Edição 0

65


a psicologia aqui e agora

A Formação em Psicologia Formação académica e formação profissional. Formação de jovens e formação de adultos. Formação escolar e formação técnica. Formação científica e formação artística. Formação a curto-prazo e formação sem prazo. De facto, existem inúmeras áreas, diversas formas e diferentes tipos de formação. Apesar desta proliferação de meios e contextos, o pilar de qualquer formação é comum: a existência de um ser humano que, por motivos diversos, se predispõe a aprender. A nossa sociedade actual depara-se (e desenvolve-se) com a ocorrência contínua e acelerada de uma pluralidade de mudanças com reflexos, directos ou indirectos, nas mais variadas dimensões de funcionamento da vida em sociedade e de cada pessoa em particular. Cresce a incerteza. Instala-se a ambivalência. Por isso, torna-se primordial, numa época acelerada pelo ritmo estonteante

da

competitividade

individual,

pela

lógica

irrepreensível da tecnologia e pela preocupante recessão económica iminente, saber cada vez mais e apostar (a sério e a fundo) na nossa formação. Já não se trata meramente de desenvolver os níveis de instrução e qualificação da população. Mais do que isso, é necessário adquirir uma nova atitude de permanente

Em Portugal, a formação em Psicologia surgiu relativamente tarde, comparativamente ao contexto europeu e americano formação e actualização de conhecimentos e competên-

Para nos guiar na exploração deste percurso da forma-

cias, pela validade, criatividade e diferenciação.

ção em Psicologia em Portugal, pedimos a colaboração da Professora Doutora Luísa Morgado, Directora da

66

Tendo por base um ser humano naturalmente predis-

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da

posto para a aprendizagem e uma sociedade que acen-

Universidade de Coimbra, Ex Coordenadora da imple-

tua a urgência de possuir cada vez mais (e melhor)

mentação do Processo de Bolonha e membro actual da

conhecimento, como pensar, então, a formação em

Comissão Externa de Avaliação dos cursos de Psicologia

Psicologia? Como foi, como é e como pode ser?

da Agência Nacional de Creditação, que, gentilmente,

Edição 0 - 2º semestre de 2011


a formação em psicologia

nos concedeu uma entrevista no dia 26 de Outubro de 2011. De viva voz, tivemos oportunidade de ouvir um relato histórico, científico e apaixonado de quem se tem dedicado (e dedica) ao conhecimento e evolução da Psicologia. Porque se considera que os factos ganham outra dimensão, mais profunda e extensiva, quando aliados aos significados que as pessoas que os presenciaram e, mais do que isso, os impulsionaram, lhes atribuem, também neste artigo se pretende que estas duas vertentes surjam de forma paralela. Em Portugal, a formação em Psicologia surgiu relativamente tarde, comparativamente ao contexto europeu e americano. Foi no ano lectivo de 1911/1912 que surgiu o primeiro laboratório de Psicologia Experimental no País, fundado por Alves dos Santos na Universidade de Coimbra. A disciplina de Psicologia começou por funcionar, nas universidades portuguesas, não como unidade de conhecimento autónoma, mas como uma área

conducentes à criação de cursos superiores de Psicolo-

integrada no curso de Ciências Pedagógicas, ministrado

gia nas Universidades Públicas. Assim foram fundados,

nas Faculdades de Letras. O seu ensino tinha como

em 1977, pelo Decreto-Lei nº 12/77 de 20 de Janeiro,

principal objectivo contribuir para a formação dos

os “Cursos Superiores de Psicologia”, em Coimbra, Porto

professores do Ensino Básico e Secundário. Nos finais

e Lisboa, tendo mais tarde sido integradas nas Facul-

dos anos 60, criou-se, integrada na licenciatura em

dades de Psicologia e de Ciências da Educação criadas

Filosofia,

Psicologia”,

pelo Decreto-Lei nº 529/80 de 5 de Novembro. O

permitindo uma formação mais específica nesta área de

estabelecimento dos Cursos Superiores de Psicologia de

saber.

forma concomitante nas três Universidades correspon-

uma

“Subespecialidade

em

Foi no ano lectivo de 1911/1912 que surgiu o primeiro laboratório de Psicologia Experimental no País, fundado por Alves dos Santos na Universidade de Coimbra De facto, a formação em Psicologia com a finalidade de

deu à concretização de profundas aspirações no seio

preparar profissionais qualificados e capacitados para

destas, bem como das instituições de saúde e das orga-

responder às necessidades específicas do país coincide

nizações sociais. Com esta grande reforma no seio

com a fundação do Instituto de Ciências Pedagógicas,

universitário, os docentes das Faculdades de Letras,

em 1962, transformado, dois anos depois, no Instituto

transitam para as novas faculdades, onde se integram as

Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), em Lisboa. O

licenciaturas de Psicologia.

ISPA foi a primeira instituição de Ensino Superior em Portugal a ministrar uma licenciatura nesta área. No

Segundo a Prof. Doutora Luísa Morgado, a formação foi

entanto, só a partir da revolução de Abril de 1974, é que

evoluindo de uma “licenciatura generalista em Psicolo-

a vontade política e uma nova sensibilidade aos prob-

gia” para uma “formação mais especializada, em torno

lemas sociais facilitou o estabelecimento de iniciativas

RUP - Edição 0

67


a psicologia aqui e agora

de seis ramos principais: Avaliação Psicológica, Psicolo-

nos ao nível daquilo que se faz na formação em Psicolo-

gia Clínica, Psicologia da Educação, Psicologia das

gia em toda a Europa.”.

Organizações, Psicologia Experimental e Psicologia Social”. A partir daqui, o sistema educativo, nacional e

Presentemente, e através de uma visão geral dos diversos

internacional, aliado à forte motivação de académicos

planos de estudos que vigoram nas Universidades e

interessados na expansão de uma formação rigorosa e

Institutos Universitários que administram formação em

científica da Psicologia, permitiu a sedimentação do

Psicologia, constata-se que existe uma grande diversi-

curso, estando hoje presente e autonomizado na maior parte das universidades portuguesas. A última grande reforma nesta área do saber surge, em 2006, com a implementação do Processo de Bolonha, e a transformação dos planos de estudo das Licenciaturas em Psicologia, em Mestrados Integrados em Psicologia, tendo por base o Diploma Europeu de Psicologia. Tal aconteceu nas Universidades públicas do Porto, de Coimbra, de Lisboa e do Minho, assim como também no ISPA. Neste sentido, estipulou-se como formação necessária para o exercício da profissão: cinco anos de formação académica, o que equivale à realização de 300 European Credit Transfer and Accumulation System (ECTS), divididos entre o 1º ciclo de estudos de três anos (180 ECTS) e o 2º ciclo de dois anos (120 ECTS), conducente a Grau de Mestre; mais um ano de prática profissional supervisionada (60 ECTS). A implementação deste processo em Portugal teve como principal objectivo, de acordo com o relatório “Implementação do Processo de Bolonha a nível nacional”, coordenado pela Prof. Doutora Luísa Morgado em 2004, “assegurar a compatibilidade europeia de objectivos e de qualidade dos graus e qualificações no Ensino Superior com vista a fomentar a mobilidade docente e discente e a empregabilidade dos seus diplomados”. A este propósito, a directora da FPCEUC, refere que “apesar de não ter sido uma tarefa fácil, e de ter exigido um esforço conjunto entre as diversas Universidades, conseguimos colocar-

“... aquilo que distingue o ensino universitário de todas as outras formas de ensino (...) é o facto de o professor universitário ser «um investigador que ensina». ”

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Edição 0 - 2º semestre de 2011


a formação em psicologia

dade de conteúdos, estruturas de ensino e áreas de espe-

eles, motivados para a descoberta e a acção. É importante

cialização. A Prof. Doutora Luísa Morgado refere que

reforçar também a ideia de que a formação em Psicologia

existem 38 licenciaturas em Psicologia e dezenas de

ultrapassa o término do curso. A formação ao longo da

Mestrados, considerando que se nota uma enorme

vida é um aspecto fundamental, no sentido de, não só

variabilidade na qualidade destes cursos. Revela que, na

actualizar conhecimentos e desenvolver competências,

sua opinião, existem, de facto, cursos de excelente quali-

mas também de adaptar os formandos às necessidades

dade, onde se incluem, entre outros, os Mestrados

da sociedade em permanente mudança.

Integrados (não obstante a sua periódica avaliação, actualização e reformulação, necessárias à evolução de

Relativamente à comparação entre o contexto nacional e

qualquer área de formação); mas também cursos com

o internacional no que diz respeito à formação em Psico-

baixa qualidade que, em última análise, deveriam

logia, a Prof. Doutora Luísa Morgado aprecia o facto de

mesmo ser fechados. Acrescenta que “não temos, a nível

esta ser, em geral, muito semelhante em todas as universi-

nacional, capacidade para formar tantos psicólogos e

dades prestigiadas da Europa. Acrescenta que, de facto,

para ter tantos cursos abertos”, reforçando a necessidade

existem cursos no nosso país, nomeadamente os Mestra-

de intervir para aumentar o rigor e a qualidade do ensino

dos Integrados, muito bem organizados e “excelentes”

desta área disciplinar. Neste âmbito, enaltece a

quando comparados com ciclos de estudo de outros

importância do Processo de Bolonha, e respectivas refor-

países da Europa.

mulações curriculares a que deu lugar, e a criação da Ordem dos Psicólogos Portugueses como momentos essenciais na promoção de formações mais sólidas e reguladas em todo o país.

A sociedade encontra-se constantemente em transformação, e tal como a sociedade evolui, também o ensino/formação, como pilar essencial na construção dessa sociedade, tem de permitir, acompanhar, e por

Em relação ao papel do docente/formador nas universi-

vezes direccionar, essa evolução, no sentido de responder

dades e aos desafios com que este se depara, a Prof.

às necessidades e problemas vigentes. Crescem necessi-

Doutora Luísa Morgado, considera que a carreira univer-

dades. Multiplicam-se problemas. Como será então o

sitária tem duas funções essenciais: a investigação e o ensino. Desenvolvendo esta

ideia,

explica

que

aquilo que distingue o ensino

universitário

de

todas as outras formas de ensino, desde os Ensinos Básico e Secundário ao Ensino Politécnico e formações variadas, é o facto de o professor universitário ser “um

investigador

que

ensina”. E é este dinamismo e inovação que permite formar

alunos,

também

RUP - Edição 0

69


a psicologia aqui e agora

futuro do ensino na Psicologia? A Prof. Doutora Luísa

Conhecer (e perceber) o caminho realizado no passado

Morgado prevê que, no futuro, a Psicologia vai ter mais

ajuda-nos a estar mais no presente e a preparar melhor o

áreas específicas de formação e um maior campo de

futuro. De facto, ao olhar o seu passado, percebe-se que

actuação. Reflectindo sobre a evolução circular das

a formação em Psicologia só tem a ganhar se se camin-

ciências, refere que “o desafio da formação em Psicologia

har pelo intercâmbio de informação validada, reputada e

já não é hoje o mesmo do passado”. De facto, “a área tem

inovadora entre dois tipos de interlocutores: alunos em

hoje uma identidade reconhecida socialmente, com

acção que apostem numa formação de qualidade e

objecto de estudo, metodologias e campo de formação e

docentes que ensinem a partir de uma investigação de

actuação bem definidos no contexto científico e social”.

excelência. A riqueza desta interacção nasce assim da

Por ter já conquistado o seu espaço, diferenciando-se

partilha e do comum interesse pelo conhecimento e

como área disciplinar autónoma, os desafios de futuro

progresso científico em Psicologia.

prendem-se hoje, segundo a Professora, com o reforço da interdisciplinaridade na formação. Neste sentido, sugere duas medidas práticas para dinamizar esta interdisciplinaridade. Em primeiro lugar, aponta, como uma mais-valia, a realização, por parte dos alunos, de determinado números de ECTS fora da sua faculdade, procurando realizar unidades curriculares noutras áreas do conhecimento, como Medicina, Biologia, Antropologia, Economia, Direito, entre outras. Em segundo lugar, considera fundamental a abertura de novas áreas e domínios de formação e especialização, de acordo com a investigação que se faz; começar a ensinar outras áreas científicas e de intervenção, para além daquelas que já existem nas faculdades. Devido a tudo isto, a Prof. Doutora Luísa Morgado demonstra optimismo em relação ao futuro: “o reconhecimento social da Psicologia, que aumenta a procura, por parte da população, de serviços especializados de Psicologia”, aliado ao “forte contributo que as outras áreas disciplinares, e as próprias áreas emergentes no contexto da Psicologia, como a Neuropsicologia, lhe podem proporcionar” contribui para que a Professora afirme prever um “futuro muito risonho” para a formação em Psicologia.

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Edição 0 - 2º semestre de 2011


a Psicologia como uma disciplina (de) ética

A Psicologia como uma disciplina (de) Ética Ética é a ciência que se ocupa dos costumes, da moral, do

dades de cada país e de cada grupo profissional. Estes

dever do homem e que estabelece o código moral da

códigos apresentam ainda funções normativas a vincula-

conduta, com vista a uma filosofia moral dignificante e

tivas propondo sanções, segundo princípios e procedi-

tendo por base a ambivalência entre o bem e o mal. O

mentos explícitos, para os infractores do mesmo.

Homem é o único ser vivo capaz de fazer essa distinção,

Contudo, alguns códigos contêm apenas uma função

uma vez que o seu pensamento complexo se traduz em

reguladora.

Liberdade de Escolha para agir de uma forma moralmente correcta ou moralmente incorrecta, dependendo

Em Julho de 1892 surge então a APA, a Associação

da sua própria vontade. Isto traduz-se num conflito de

Americana de Psicólogos, para representar os valores e

interesses que vem a ser discutido desde os tempos mais

epistemologia da Psicologia nos EUA, servindo como

remotos, não só devido à subjectividade destes conceitos,

modelo para pensar acerca do fenómeno psicológico,

como ainda pelo facto de o grau de importância que o

tendo adoptado o novo modelo do seu Código de Ética a

cumprimento ético constitui para cada um, ser muito

21 de Agosto de 2002, que se tornou efectivo em 2003.

variável.

“... (o Código Deontológico) não descreve apenas o modo de conduta ético a adoptar por um psicólogo, como pressupõe ainda a sua sanção caso seja violado, o que promove a justiça profissional, a igualdade e a equidade entre clientes e profissionais No sentido de minimizar este problema ao nível profis-

À semelhança da APA, mas a um nível nacional, a Ordem

sional, surge a deontologia que é o tratado do dever ou o

dos Psicólogos Portugueses (OPP) nasce a 4 de Setem-

conjunto de deveres, princípios e normas adoptadas por

bro de 2008, com a aprovação dos seus estatutos. Com

um determinado grupo profissional. A deontologia é

a sua criação como organismo regulador da profissão de

uma disciplina particular da ética adaptada ao exercício

psicólogo em Portugal, impunha-se desenvolver um

da uma profissão. Os códigos de deontologia traduzem

Código Deontológico que orientasse o pensamento

a responsabilidade de associações ou ordens profission-

sobre estas questões no exercício da profissão de

ais.

psicólogo.

Existem inúmeros códigos de deontologia, que em regra

Coube assim à Ordem dos Psicólogos Portugueses a

têm por base o sentimento ético das grandes declara-

elaboração de um Código Deontológico da profissão,

ções universais, adaptando-as, no entanto, às particulari-

constituído por um conjunto de princípios e deveres

RUP - Edição 0

69


a psicologia aqui e agora

gerais

que

devem

reger

o

comportamento dos profissionais. Para tal foi criado um capítulo próprio sobre Deontologia Profissional. O Código Deontológico assume o máximo ético como referência da prática profissional em Psicologia, em qualquer contexto ou área de aplicação, contendo em si os princípios éticos da mesma a fim de guiar os/as psicólogos/as no sentido de práticas de excelência.

O Código Deontológico está dividido em três secções – o

Este não descreve apenas o modo de conduta ético a

preâmbulo, os princípios gerais e os princípios específi-

adoptar por um psicólogo, como pressupõe ainda a sua

cos. Esta organização parte da maior abstracção para a

sanção caso seja violado, o que promove a justiça profis-

concretização de situações-tipo bem identificadas,

sional, a igualdade e a equidade entre clientes e profis-

encontrando-se primeiramente definidos os princípios

sionais.

estruturais e aspiracionais, pela secção dos princípios gerais e de seguida as regras de conduta ética dos/as

Já tinham anteriormente surgido em Portugal códigos de

psicólogos/as, pela secção relativa as princípios específi-

ética e deontologia para os profissionais, no entanto,

cos. A sua utilidade facilmente se deduz da compreensão

nunca aliados a uma organização com poder para a sua

dos seus objectivos, que incluem não só a promoção da

vigilância e sanção. Dessa forma, o Código de Deontolo-

qualidade de vida e protecção dos clientes que se

gia constitui uma importante ferramenta para o julga-

entende por todas as pessoas, casais, famílias, grupos,

mento dos comportamentos dos profissionais, por parte

organizações e comunidades com as quais os/as

do Conselho Jurisdicional da OPP, que tem como papel

psicólogos/as trabalham, bem como a orientação e

verificar o cumprimento da lei do Estatuto e dos regula-

formação de membros efectivos e estagiários da Ordem

mentos internos, quer por parte dos órgãos da Ordem,

dos Psicólogos Portugueses e estudantes de Psicologia

quer por parte de todos os seus membros, e ainda

relativamente aos princípios éticos da Psicologia.

instruir e julgar todos os processos disciplinares instaurados aos membros.

O exercício da prática do psicólogo obriga a sua

70

inscrição enquanto membro, ou membro-estagiário,

A existência do actual Código deveu-se ao trabalho dos

ficando a actividade profissional deste submetida ao

membros de uma Comissão Preparatória do Código

supervisionamento por parte da OPP. A pertença esta

Deontológico, prestigiados especialistas em diversas

ordem

dos

áreas do conhecimento e intervenção psicológica, ao

princípios estabelecidos no seu Código Deontológico.

longo de múltiplas reuniões. Estes analisaram uma

profissional

obriga

Edição 0 - 2º semestre de 2011

ao

cumprimento


a Psicologia como uma disciplina (de) ética

tipologia dos problemas e queixas apresentados ao longo

sionais, já que, dada a vastidão da intervenção

de alguns anos à, na altura, Associação Pró-Ordem dos

psicológica, não seria viável explicitar ao pormenor todas

Psicólogos. Muitas dessas preocupações e queixas não

as circunstâncias particulares da actividade profissional.

puderam ser atendidas por falta do enquadramento legal, mas encontram o seu reflexo no resultado dos

Um Código Deontológico é um enunciado de princípios.

trabalhos da comissão, contribuindo para que muitas

Assim sendo, nas situações concretas da prática profis-

situações sejam evitadas e não se voltem a repetir ou

sional, segundo esses princípios, as implicações deon-

então, caso se repitam sofram as consequências adequa-

tológicas poderão não ser óbvias. Pode acontecer que, na

das.

sua

aplicação

a

determinados

casos,

diferentes

princípios se revelem dificilmente conciliáveis entre si. O Código também se baseou nos princípios MetaCódigo da Federação Europeia de Associações de

Os seguintes princípios gerais são derivados daquilo que

Psicólogos (EFPA), na informação presente noutros

se pode denominar como moral comum da Psicologia

Códigos nacionais e estrangeiros, na reflexão produzida

nacional, ou seja, a moral compartilhada pelos/as

sobre questões éticas e deontológicas em Psicologia e na

psicólogos/as portugueses/as. Estes devem ser consid-

realidade portuguesa.

erados como agentes promotores de ligações entre a teoria e a prática, podendo ser generalizados. Os

É através do conhecimento das linhas orientadoras deste

princípios gerais constituem um conjunto de pressupos-

trabalho que se obtém uma adequada compreensão da

tos de actuação consensuais na sua aceitação, já que são

intenção e limites do próprio Código. Neste sentido,

construídos e inspirados nas características naturais da

tentou elaborar-se um Código que reflectisse grandes

pessoa, resultantes de um raciocínio filosófico secular e

princípios orientadores do comportamento dos profis-

com base na natureza da intervenção psicológica. Tratase, pois, de um conjunto de princípios sentidos como intuitivamente correctos.

“Os princípios gerais constituem um conjunto de pressupostos de actuação consensuais na sua aceitação resultantes de um raciocínio filosófico secular e com base na natureza da intervenção psicológica.”

RUP - Edição 0

71


a psicologia aqui e agora

PRINCÍPIO A

RESPEITO PELA DIGNIDADE E DIREITOS DA PESSOA Os/as psicólogos/as devem respeitar as decisões e os

Parte-se do reconhecimento de que a existência de um

direitos da pessoa, desde que estes sejam enquadrados

direito pressupõe o reconhecimento desse mesmo

num exercício de racionalidade e de respeito pelo outro.

direito no outro, sendo por isso um dever. Então, será

Nesta perspectiva, não devem fazer distinções entre os

dever, ético ou jurídico, de todas as pessoas, dada a sua

seus clientes por outros critérios que não os relacionados

característica racional, respeitar os direitos de todos e de

com os problemas e/ou questões apresentadas, e devem,

cada um, olhando sempre para cada pessoa como um

com a sua intervenção, promover o exercício da autono-

ser único, independentemente do seu estatuto pessoal,

mia dos clientes.

sócio-económico e cultural.

PRINCÍPIO B

COMPETÊNCIA Os/as psicólogos/as têm como obrigação exercer a sua

como objecto o estudo das pessoas nos seus diversos

actividade de acordo com os pressupostos técnicos e

contextos, sendo o seu principal instrumento de interven-

científicos da profissão, a partir de uma formação

ção a relação interpessoal, resulta como natural o recon-

pessoal adequada e de uma constante actualização

hecimento que profissionais diferentes tenham caracter-

profissional, de forma a atingir os objectivos da interven-

ísticas diferentes, pelo que cada um deverá ter consciên-

ção psicológica. De outro modo, acresce a possibilidade

cia das suas necessidades específicas, sendo o próprio o

de prejudicar o cliente e de contribuir para o descrédito

melhor juiz da sua competência. Será fácil compreender

da profissão.

que a única forma que o profissional tem de responder pelas suas acções e de ter uma noção o mais objectiva

Cada psicólogo/a deve garantir as suas qualificações

possível sobre a sua intervenção, é desenvolver uma

particulares em virtude dos seus estudos, formação e

actuação baseada em conhecimentos científicos actual-

experiência específicas, fixando pelas mesmas os seus

izados.

próprios limites. Sendo a Psicologia uma ciência que tem

PRINCÍPIO C

RESPONSABILIDADE Os/as psicólogos/as devem ter consciência das conse-

Num mundo cada vez mais centrado no valor da autono-

quências que o seu trabalho pode ter junto das pessoas,

mia individual, não pode ser negada uma maior atenção

da profissão e da sociedade em geral. Devem saber

à vida em sociedade e às responsabilidades que esta

avaliar o nível de fragilidade dos seus clientes, pautar as

comporta. A referência ao interesse social obriga não

suas intervenções pelo respeito absoluto da decorrente

apenas a considerar a comunidade humana, mas

vulnerabilidade, e promover e dignificar a sua actividade.

também todas as outras componentes do mundo natural em que a pessoa se insere.

72

Edição 0 - 2º semestre de 2011


a Psicologia como uma disciplina (de) ética

PRINCÍPIO D

INTEGRIDADE Os/as psicólogos/as devem ser fiéis aos princípios de

integração coerente de valores profissionais razoavel-

actuação da profissão promovendo-os de uma forma

mente estáveis e justificáveis, acompanhada de uma

activa. Devem prevenir e evitar os conflitos de interesse e,

fidelidade activa a esses valores tanto no juízo como na

quando estes surgem, devem contribuir para a sua

acção.

resolução, promovendo a discussão das diferentes perspectivas em equação.

Deste modo, a integridade, tal como foi expressa, poderá ficar comprometida sempre que o profissional se deixar

A integridade é a qualidade de quem revela inteireza

influenciar pelas suas próprias motivações ou crenças,

moral, também definida como uma virtude, uma conju-

preconceitos e juízos morais, nos casos em que surjam

gação coerente dos aspectos do eu. Deve então

conflitos de interesse pessoal, profissional e institucional,

promover-se, no contexto profissional, a integridade

dilemas centrados nas hierarquias, ou mesmo a partir de

moral como um traço de carácter que consiste numa

pedidos não razoáveis dos clientes.

PRINCÍPIO E

BENEFICÊNCIA E NÃO-MALEFICÊNCIA Os/as psicólogos/as devem ajudar o seu cliente a

centro das suas inquietações. Qualquer intervenção

promover e a proteger os seus legítimos interesses. Não

poderá provocar, potencialmente, algum tipo de prejuízo

devem intervir de modo a prejudicá-lo ou a causar-lhe

à pessoa. Contudo, desde que o balanço entre o risco e o

qualquer tipo de dano, quer por acções, quer por

benefício seja positivo para o cliente, a intervenção é

omissão.

legítima. O dano a evitar será aquele que não cumprir esta equação.

Deste modo, ao definir este princípio como um dos princípios centrais do exercício da Psicologia, assume-se

Este documento está longe de dar resposta a todas os

o pressuposto de que mesmo em processos de interven-

dilemas éticos, em particular aos que implicam uma

ção cuja motivação central não seja promover o interesse

reflexão e discussão das consequência das acções, com

das pessoas como, por exemplo, em algumas situações

fim a obter o máximo de bem para o maior número de

da psicologia forense ou organizacional, o profissional

pessoas e instituições envolvidas; no entanto, aproxima-

deverá ter em atenção que as pessoas devem estar no

se cada vez mais deste objectivo.

RUP - Edição 0

73


a psicologia aqui e agora

António Damásio DOUTORAMENTO HONORIS CAUSA 21 de Setembro de 2011... Faltavam poucos minutos para as onze horas da manhã quando uma das mais significativas e nobres cerimónias da Universidade de Coimbra tinha início. Um Doutoramento Honoris Causa pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação (FPCE UC), concedido a António Damásio, ilustre neurocientista, bem conhecido e acarinhado no meio académico, como no público em geral*. Ana Paula Relvas, Professora Catedrática da FPCE-UC, foi a apresentante na cerimónia de investidura, cujo valioso contributo para o estudo da família e terapias familiares a nível nacional e internacional foi destacado por Madalena Alarcão, vice-reitora da Universidade de Coimbra e Professora Associada da FPCE UC, encarregue do seu elogio. Eduardo Sá, Professor Auxiliar da FPCE-UC fez o elogio a António Damásio, destacando a relevância e pertinência do seu trabalho, mencionando a noção de subjectividade humana para a compreensão da consciência, agregando razão e afecto, já que “conhecer e sentir não são fenómenos independentes”.

“A Psicologia, diria o sábio, estaria pronta a declarar o fim dos seus trabalhos, já que tudo o que era preciso descobrir sobre a mente humana estava descoberto, ou quase. […] Esse sábio imaginário teria sido um péssimo profeta e ter-se-ia enganado profundamente. O projecto da psicologia científica tem vindo a ser realizado, com

Apesar de a medicina estar na base da sua formação, o

êxito e velocidades crescentes, através da neurociência e

trabalho centrado nos comportamentos, emoções e

da biologia empenhadas em descobrir como o tecido

processos de decisão justificaram plenamente um

nervoso constrói a mente.”

Doutoramento

Honoris

Causa

em

Psicologia,

reconhecendo-se a importância das neurociências para a compreensão da mente humana, assim como do valor da obra de António Damásio para a Psicologia, uma ciência humana que se assume como plural e em constante indagação. A este propósito, o recente Doutor Honoris Causa pela FPCE UC referiu:

Em sua homenagem, foram destacadas as qualidades enquanto cientista, bem como o seu valor humano. A abrangência do trabalho que desenvolveu foi também referida, tal como o facto de a sua obra estar acessível, não apenas aos académicos, mas ao público em geral, de uma forma simples e clara.

* O título de Doutor Honoris Causa é um título honorífico, atribuído não por prestação de uma prova académica mas, como o próprio nome em latim indica, “a título de honra”, reconhecendo o valor e o contributo de figuras destacadas da ciência e sociedade. Na Universidade de Coimbra, esta cerimónia é cumprida na Sala Grande dos Actos (comummente conhecida como Sala dos Capelos), repleta de tradição e história, não fosse essa a mais antiga Universidade do país.

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Edição 0 - 2º semestre de 2011


António Damásio na Universidade de Coimbra

A CONFERÊNCIA BRAIN, MIND AND FEELING Às 16h30 da tarde do mesmo dia de Setembro começava uma conferência para os muitos e expectantes alunos da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, que constituíam a maioria da audiência e que rapidamente encheram todo o anfiteatro do edifício da FPCE/UC. Cérebro, mente e sentimento. Eis uma breve síntese do que António Damásio nos ensinou...

O problema do sentir Durante muito tempo pensou-se que o sentir seria

erado interno, as emoções serão predisposições para

inabordável, que seria uma parte inatingível das

acção. A sua definição não se esgota aqui no que diz

emoções. Hoje porém podemos dizer, e devido a

respeito ao ser humano, pois sabemos que, perante certa

contributos como os de António Damásio, que não é de

emoção, haverá cognições com mais probabilidade de

todo impossível perspectivar a sua compreensão à luz da

ocorrência do que outras, reagindo assim a parte do

ciência.

sentir à emoção em si. Sentimento e emoção são,

O autor e cientista de renome começa por destacar que,

portanto construtos distintos. Enquanto as emoções “são

como se sabe, “as emoções são parte da gestão automa-

programas complexos, em grande medida automatiza-

tizada, de cariz biológico num organismo vivo (…). Têm

dos, produtos da evolução” os sentimentos “são percep-

uma natureza distinta das motivações, e de impulsos”.

ções compostas daquilo que acontece no corpo e na

Deste modo, ao contrário do que a palavra emoção

mente quando sentimos emoções”.

significa nas mentes das pessoas, ou seja, algo consid-

RUP - Edição 0

77


a psicologia aqui e agora

Então como operam as emoções? As emoções emitem uma resposta padrão rápida a prob-

espécie humana. Note se porém que quando esta capa-

lemas complexos, resposta esta que, apesar de célere, é

cidade choca com as convenções e regras culturais,

elaborada e não requer deliberação a espécies que não

então aí, é necessária a intervenção de respostas delib-

primam pelas suas capacidades cognitivas. Ora a

eradas conscientes no âmbito das nossas capacidades

emoção constituirá uma vantagem assinalável para a

cognitivas.

Como é que as emoções atingem os seus objectivos de gestão? Para o neurocientista tal decorre de sequências de

pulmões, intestino, perda da habilidade para sentir dor,

acções concorrentes que modificam o estado interno do

secreção de cortisol), comportamentos específicos

organismo, o comportamento e a sua mente. Um exem-

(lutar ou fugir), e comportamentos atencionais (saliência

plo simples é a preparação fisiológica do medo para a

do objecto causal).

acção através de acções preparatórias (do coração,

Como é que atingimos a percepção dos eventos emocionais? António Damásio menciona a hipótese da geração de

variáveis internas, como é o caso da temperatura corpo-

mapas de acções, parâmetros, em todas as regiões

ral.

cerebrais, que representam o sinal corporal. Deste modo, a estratégia para aceder ao sentimento será

António Damásio deixou uma reflexão sobre os desen-

análoga à utilizada na configuração de imagens visuais,

volvimento da ciência advertindo para o facto de esta ir

ou seja, através da construção de mapas cerebrais. Tal

avançando como pode, já que não é imune ao zeitgeist

construção, no caso das imagens visuais, recorre a crité-

de investigação da época em que decorre. Assim, ficou

rios como profundidade, cor ou tamanho, provenientes

clara a ideia de que a ciência pode ser constantemente

de diversos pontos do cérebro. No caso da percepção

ajustada e melhorada a nível epistemológico.

dos eventos emocionais, o seu mapeamento recorre a

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Edição 0 - 2º semestre de 2011


António Damásio na Universidade de Coimbra

ANTÓNIO DAMÁSIO UMA BIOGRAFIA António Rosa Damásio, nasceu em Lisboa a 25 de Fever-

neurobiologia do comportamento humano, procurando

eiro de 1944. É casado com a Dr. Hanna Damásio, sua

esclarecer a relação entre os sistemas neurais e a

colega e frequentemente co-autora.

consciência. É actualmente, e desde 2006, Professor de Neurociências no Dana and David Dornsife College of

Licenciou-se em Medicina na Faculdade de Medicina da

Letters, Arts and Sciences, na Universidade da California

Universidade de Lisboa, em 1969 mas ainda antes, em

do Sul onde também dirige, desde 2005, o Brain and

1967, foi bolseiro do Aphasia Research Center em

Creativity Institute. Lecciona desde 1989 na Universi-

Boston, onde trabalhou sob a supervisão de Norman

dade de Iowa onde é, desde 2005, Distinguished

Geschwind , um dos pioneiros das Neurociências.

Adjunct Professor assim como no

Especializou-se em Neurologia e, em 1974, terminou o

Biological Studies, em La Jolla. No Iowa, com sua mulher,

doutoramento também na Faculdade de Medicina de

Hanna, promoveu a criação de uma importante unidade

Lisboa, onde foi Professor Adjunto até 1975. Iniciou a

de investigação para o conhecimento da actividade

sua carreira como investigador no Centro de Estudos

cerebral e suas relações com a memória, linguagem,

Egas Moniz, chefiando o Laboratório de Pesquisas da

emoções e os mecanismos de decisão. Trata-se de um

Linguagem, entre 1971 e 1975.

dos principais laboratórios de neurociências cognitivas

Salk Institute for

do mundo científico. É também membro de diversas Deixou Portugal em 1975, obtendo cidadania americana e fixando residência nos EUA, país onde iniciou e desenvolveu um longo percurso de pesquisa centrado na

academias e instituições por todo o mundo e faz parte do conselho editorial de dezenas de revistas científicas americanas e europeias.

RUP - Edição 0

79


a psicologia aqui e agora

Os seus estudos debruçam-se sobre a área designada

Damásio em 1995, O Erro de Descartes, foi um enorme

por ciência cognitiva, e têm sido decisivos para o conhe-

sucesso, tendo sido traduzido para mais de 30 línguas.

cimento das bases cerebrais da linguagem e da

Neste livro, apresenta alguns casos clínicos e defende,

memória. Entre as suas principais conclusões encontra-

com base nestes, que a resolução de problemas e a

se a premissa de que não há separação entre a mente e o

tomada de decisão nas pessoas comuns não se faz base-

corpo. A mente tem uma base biológica e, em conjunto

ada exclusivamente no exercício racional (como afirma-

com o cérebro, forma uma realidade única e indisso-

ria Descartes), mas sim através daquilo que designa por

ciável.

“marcadores somáticos”. Foi com esta obra que se iniciou o reconhecimento do neurocientista junto do

A investigação da mente e a abordagem científica de

grande público. De seguida, em 2000, lança o livro O

temas que segundo a tradição têm sido encarados e

Sentimento de Si: O Corpo, a Emoção e a Neurobiologia

pensados sobretudo em termos filosóficos, têm propor-

da Consciência, eleito um dos dez livros do ano pelo New

cionado a António Damásio uma série de distinções e

York Times. Em 2003, no livro Ao Encontro de Espinosa:

A investigação da mente e a abordagem científica de temas que segundo a tradição têm sido encarados e pensados sobretudo em termos filosóficos, têm proporcionado a António Damásio uma série de distinções e prémios prémios, tanto nos Estados Unidos como na Europa. É

As Emoções Sociais e a Neurologia do Sentir, Damásio

Doutor Honoris Causa em inúmeras Universidades por

foca-se nas relações entre filosofia e a neurobiologia, o

todo o mundo, sendo a sua mais recente distinção

comportamento e a ética. A sua obra mais recente é O

oriunda da Universidade de Coimbra, em Psicologia.

Livro da Consciência, publicado em Setembro de 2010, uma reflexão actualizada em torno da mente e da

Damásio é também um conhecido conferencista da especialidade, tendo apresentado comunicações de grande qualidade em reputadas instituições científicas, seminários e congressos nos EUA. São inúmeros os seus artigos publicados em revistas científicas mas, para além das comunicações em reuniões e congressos internacionais, o neurocientista tem também procurado atingir um público mais vasto com a publicação de vários livros onde explora e explica, de forma rigorosa e acessível, as teorias centrais e os fios condutores da sua pesquisa. Neste âmbito, a primeira publicação de António

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Edição 0 - 2º semestre de 2011

consciência.


António Damásio na Universidade de Coimbra

O LIVRO DA CONSCIÊNCIA

por

Fernando Abreu

Estudante da FPCE-UC

Tendo como componentes-base, a informação que apresenta nos seus livros mais antigos (Erro de Descartes, Ao Encontro de Espinosa, Sentimento de Si), António Damásio, em O Livro da Consciência, actualiza os dados que neles havia apresentado – abandonando também algumas ideias lá presentes – bem como apresenta novas provas descobertas em estudos feitos, tanto no seu laboratório, como em muitos dos seus contemporâneos, para corroboração da teoria que apresenta. Nomeadamente, a forma como os sentimentos são construídos e os mecanismos responsáveis pela formação do Eu. Num contínuo fluxo de informação entre o cérebro e o corpo-em-si, fluxo este que comprova a unicidade mente-corpo defendida não apenas por Damásio, a consciência como conceito psicobiológico tem início de existência no tronco cerebral, região primordial que remonta caracteristicamente aos primeiros cérebros, os dos répteis, que é partilhada por muitas espécies e que se situa na base do nosso crânio. Este neurobiólogo do comportamento defende esta ideia alertando que o tipo de consciência que é definida no tronco cerebral é diferente da que acontece em níveis superiores cerebrais, gerando, cada tipo, um nível diferente de complexidade

de

processamento

de

informação;

seguindo-se a este proto-eu, a forma mais simples e primordial da consciência (e a base da teoria dos

RUP - Edição 0

81


a psicologia aqui e agora

marcadores-somáticos), há o eu-nuclear – estes dois constituem o eu material (ainda não num nível tão executivo), sem conteúdo tão abrangente como o eu-autobiográfico – possuidor de uma avaliação que já conjuga o passado, o presente e o futuro antecipado, mais espiritual (isto evidencia já o que defende o autor em relação à existência de mente, e até à consciência em outras espécies animais). Inerentemente, as emoções e sentimentos gerados em cada nível ocorrem também em concomitância, não conscientemente em primeiras instâncias, com este processamento. Uma vez mais, com sentido absolutamente viável, a informação não é centrada num sítio específico do cérebro – basta conhecer minimamente as estruturas anatómicas e suas funções para entender que é impossível não acontecer deste modo. E é este facto, esta macro articulação, que permite o produto Consciência como apresentado. Uma boa forma de entender isto, é usando uma analogia que Damásio propõe e que tem alguns princípios subjacentes que até causam discussão: “O mais estranho, no que toca a aspectos superiores da consciência, é a ausência óbvia de um maestro antes do início da performance, embora, à medida que tal performance se vai desenrolando, surja de facto um chefe de orquestra.” Tenhamos atenção ao facto de uma orquestra não ser composta por um só instrumento, uma vez mais. Ora, decompor esta citação torna-se uma tarefa árdua e fascinante, pois creio serem necessários alguns detalhes a nível celular (e não só), bem como princípios de auto-organização, remontando aos processos bacterianos, por exemplo, que causam espanto, pois parecem brilhantemente coordenados apesar de serem simplesmente (e aqui uso simples com grande eufemismo) «controlados» por fenómenos químicos e bioquímicos – o que não retira em nenhum ponto a beleza e ânimo que a consciência e tudo o que se passa no cérebro têm. O maestro presente em nós humanos surge a posteriori. E esse maestro é o que conhecemos por Eu. Só nos tornamos conscientes quando atingido um nível superior, conseguimos ser capazes de avaliar os níveis mais inferiores.

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Edição 0 - 2º semestre de 2011


a psicologia na Universidade do Porto

A Psicologia na Universidade do Porto A Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da

Nesta faculdade da Universidade de Porto, são postas à

Universidade do Porto (FPCEUP) conta com 35 anos de

disposição várias ofertas formativas. No caso do

história. Ao longo do tempo, esta instituição tem procu-

Mestrado Integrado em Psicologia, as áreas de especial-

rado desenvolver o ensino e a investigação em Psicologia

ização incluem a Intervenção Psicológica, Educação e

e Ciências da Educação, e oferecer o seu contributo e

Desenvolvimento Humano, a Psicologia Clínica e da

trabalho à sociedade.

Saúde, a Psicologia das Organizações, Social e do

“...esta instituição tem procurado desenvolver o ensino e a investigação em Psicologia e Ciências da Educação, e oferecer o seu contributo e trabalho à sociedade.” Trabalho e a Psicologia do Comportamento Desviante e da Justiça. Todavia, na FPCEUP estão disponíveis oportunidades de formação que vão para além dos estudos de 1º, 2º e 3º ciclos, incluindo programas de educação e formação contínua dirigidos ao público em geral. Educação, justiça, saúde, administração pública central e local, animação sociocultural e trabalho em empresas são alguns exemplos de áreas que integram a oferta da instituição. Ao nível da investigação, destacam se as actividades de I&D (Investigação e Desenvolvimento) muitas das quais com carácter multidisciplinar. A investigação na FPCEUP é, portanto, desenvolvida em unidades como o Centro de Apoio ao Estudo do Cérebro, o Centro de Ciências do Comportamento Desviante, o Centro de Investigação e Intervenção Educativas, o Centro de Psicologia da Universidade do Porto, o Centro de Psicologia do Desenvolvimento e Educação da Criança, o Centro de Recursos Paulo Freire, o Instituto de Consulta Psicológica, Formação e Desenvolvimento, o Laboratório de Fala, o Laboratório de Neuropsicofisiologia e o Laboratório de Reabilitação Psicossocial.

RUP - Edição 0

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a psicologia aqui e agora

A prestação de serviços à comunidade é também uma actividade desta instituição de ensino, que é desenvolvida em articulação com as actividades de investigação científica e docência. A sua oferta abrange diversos domínios, em particular, consulta psicológica de orientação vocacional ao longo da vida, consulta psicológica de crianças e adolescentes, psicoterapia, consultas em Psicologia da saúde, atendimento a agressores e vítimas, intervenção precoce e consultadoria em Psicologia do trabalho. Em visita às mais recentes instalações da FPCEUP, encontrámo-nos com a Joana Esteves, vice-presidente da Associação de Estudantes da faculdade e estudante do 4º ano, na área de especialização em Psicologia das Organizações, Social e do Trabalho. Tendo conseguido entrar no curso que era sua primeira opção, escolheu a Universidade do Porto para o tirar: “andei a informar-me sobre as várias faculdades, percebi que a FPCEUP tinha muito prestígio, conhecia pessoas que estudaram aqui no Porto e que me confirmaram o renome deste curso na Universidade do Porto e então candidatei-me aqui.” Com a

“É uma experiência avassaladora, é muito envolvente. […] Nunca conheci ninguém que não tivesse orgulho ao dizer que o seu curso de Psicologia era na Universidade do Porto.” frequência do curso de Psicologia na FPCEUP, corro-

penso que é uma das melhores. Mesmo durante o curso,

borou esta ideia inicial: “temos professores de grande

os estudantes têm muitas oportunidades de praticar

renome na faculdade; temos laboratórios de investiga-

investigação nos laboratórios, podem concorrer a bolsas

ção que também são de extrema qualidade, com docen-

de investigação e os melhores alunos conseguem

tes e investigadores que são muito conhecidos em Portu-

integrar projectos. A Associação de Estudantes também

gal.”

tem trazido imensas oportunidades para os estudantes. Falo por mim, já conheci imensas pessoas e ganhei

Para a estudante, as maiores vantagens de estudar na

imensa prática na Associação de Estudantes. Fazemos

Universidade do Porto são as oportunidades: “os

mini estágios, também para os estudantes. Acho que

estágios pela Universidade do Porto têm trazido grandes

realmente, para além da qualidade, são sobretudo as

oportunidades para os estudantes que daqui saem. Pelo

oportunidades que a FPCEUP traz para os estudantes.”

que sei, a taxa de empregabilidade em termos de Psicologia (porque está uma altura difícil para os Psicólogos)

84

Edição 0 - 2º semestre de 2011

Ser estudante de Psicologia nesta instituição de ensino é,


a psicologia na Universidade do Porto

para a Joana, sinónimo de orgulho: “é um orgulho para

que foi um mecanismo muito importante e que espero

quem consegue entrar. O número de candidatos é

que se perpetue por anos seguintes.” Foi ainda

sempre elevado. É uma faculdade com muito prestígio,

destacado “o sentimento da casa, de estar em casa” como

muito conhecida a nível da Psicologia. Todos os que

característica distintiva dos estudantes de Psicologia da

acabam por entrar aqui sentem isto como a sua casa e

FPCEUP.

gritam com orgulho «FPCEUP!». É uma experiência avassaladora, é muito envolvente. […] Nunca conheci ninguém que não tivesse orgulho ao dizer que o seu curso de Psicologia era na Universidade do Porto. Os estudantes da FPCEUP são pessoas envolvidas socialmente e em diversas actividades, dentro e fora da faculdade, envolvem-se em voluntariado, nas praxes, em bolsas de investigação, em actividades desportivas…” Tal facto explica se, segundo a estudante, devido ao carácter integrador da faculdade e da sua Associação de Estudantes que, desde a entrada dos alunos no primeiro ano, se esforça por recebê los e apoiá los, independentemente de os mesmos optarem por aderir à praxe ou não. Apontado como exemplo ficou um novo projecto de mentoria, “feito em colaboração entre a faculdade e a associação de estudantes, em que durante todo o ano, os estudantes do 1º ano que se quiseram inscrever foram designados a um mentor [os mentores são estudantes mais velhos] e que os ajuda ao longo do 1º ano na sua integração, mesmo em questões mais burocráticas, para facilitar e ajudar aos processos de inscrição, por exemplo. Alguém que os acompanha mais de perto, com quem possam ir ter, de quem se lembrem da cara. Acho

A propósito da Associação de Estudantes da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (AEFPCEUP) e da sua organização, Joana explicou: “o meu cargo é de vice-presidente. Faço um bocadinho de tudo. Eu e o presidente, o Tiago Paiva, temos a nosso cargo a representação externa da Associação e a representação também aqui na faculdade e a coordenação de todos os projectos que a Associação assume. Depois claro que acabamos por fazer também um pouco de tudo, não nos limitamos a coordenar. A Associação de Estudantes é constituída por três órgãos independentes: a Direcção, a Reunião Geral de Alunos e o Conselho Fiscal, mas como somos um grupo relativamente pequeno tentamos juntar nos, fazemos reuniões vendo a disponibilidade de cada um e dividimos tarefas. Temos departamentos, cada um tem mais responsabilidades nisto ou naquilo, mas na prática trabalhamos muito em conjunto. Também temos a Secretaria da Associação, com uma secretária contratada que é um grande apoio, que trata de tudo o que é serviços aos estudantes (venda de senhas de almoço, venda de material, organização de inscrições, etc.). Somos muito próximos da

RUP - Edição 0

85


a psicologia aqui e agora

direcção aqui da faculdade. Eles são um grande apoio e

AEFPCEUP interage com os seus representados através

quando temos algum problema conseguimos facilmente

do seu site e do facebook e possui um e-mail interno

ir falar com alguém da direcção que nos tem prestado

através do qual também comunica com os alunos, cujos

sempre todo o apoio possível.” No que concerne à inter-

contactos se encontram agrupados numa base de dados.

acção e contacto com os seus representados, a AEFPCEUP recorre sobretudo a dois canais de comunicação:

A Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da

o contacto directo e pessoal com os membros da Associa-

Universidade do Porto apresenta se assim como uma

ção dos Estudantes, que se dão a conhecer logo na

instituição

campanha e que procuram mostrar-se disponíveis:

dinamismo, trabalho e inovação, aspectos que se

“normalmente as pessoas da Associação passam muito

reflectem nos seus estudantes, cujo orgulho na faculdade

tempo aqui na faculdade, portanto há muita interacção

é evidente.

face a face. As pessoas conhecem-nos nos corredores, falam connosco, vêm ter connosco […] Temos também a sala, onde os estudantes podem vir ter conosco, e também a nossa secretaria”. O outro canal é a internet: a

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Edição 0 - 2º semestre de 2011

de

ensino

pautada

por

considerável


a psicologia além fronteiras

A Psicologia Além Fronteiras PSICOLOGIA ONDE LARANJA NÃO É SÓ A COR DO CURSO

por em

Erasmus

na

Pedro Almeida

Estudante da FPCE-UC Universidade de Groningen

Moinhos, tulipas e sapatos de madeira são as imagens

ranking do Times Higher Education (THE) que, este ano,

que caracterizam a Holanda, no entanto, a que mais

colocou 10 universidades holandesas no Top 200 a nível

agrada aos locais é a de homens de negócios internacio-

mundial. Outro factor que elevou o ensino superior

nais, trabalhadores e justos. De facto, desde a sua luta

holandês a outro patamar de excelência e reputação

pela independência (‘A Guerra dos Oitenta Anos’

internacional foi o desenvolvimento e implementação da

(1568-1648)) contra o império espanhol, a Republica

metodologia de ensino Problem-based learning ou

da Holanda viveu o seu próprio Renascimento que deixou

Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP).

uma profunda marca na civilização moderna. O período que ficou conhecido como o Século de Ouro Holandês

Esta estratégia pedagógica centrada no aluno tem como

ficou marcado pela expansão marítima, mas também

objectivo promover o conhecimento em diversas áreas,

pela expansão intelectual e científica.

mas também fomentar a criatividade e desenvolvimento de competências na resolução de problemas e apren-

Em consequência deste clima de tolerância e abertura, a

dizagem auto-centrada. O professor, que adopta uma

Republica Holandesa produziu um extenso grupo de

posição de facilitador do conhecimento expõe aos

artistas como Rembrandt ou Vincent Van Gogh. O

alunos um caso para estudo num contexto realista e sem

mesmo aconteceu no domínio da Ciência, tendo

soluções estruturadas. Os estudantes reúnem-se em

“A minha experiência pessoal enquanto estudante internacional durante este semestre permitiu-me comprovar que toda a qualidade e distinção conferida à Universidade de Groningen e ao ensino superior holandês em geral, é de facto merecida. ” protagonizado várias invenções e avanços tecnológicos (e.g. o microscópio, o relógio de pêndulo, etc.). A figura dominante foi o matemático e astrónomo Christiaan Huygens (1629-1695) cuja investigação incidiu no desenvolvimento dos primeiros telescópios elucidando a natureza dos anéis de Saturno e a descoberta da lua de Titã. Algo mais pode ser atribuído aos holandeses. Serem fiéis às suas raízes culturais. Ainda hoje podemos constatar que a mesma importância é colocada em manter a sua posição de prestígio nos campos da educação, pesquisa, ciência e tecnologia. Sinal disso é a permanência no

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a psicologia aqui e agora

grupos de trabalho, identificam o problema, investigam,

Desde a sua fundação em 1614, a Universidade de

debatem, interpretam e produzem possíveis soluções

Groningen detém uma reputação internacional como

para o problema. Desta forma, o papel do professor e

sendo uma instituição de ensino dinâmica e inovativa.

aluno encontram-se invertidos onde o aluno passa de um

Até à data da sua fundação, quase metade dos seus

mero inerte recipiente de informação para um agente

estudantes e professores eram originários de fora da

activo no seu processo de aprendizagem sobre o mundo.

Holanda – por exemplo, o primeiro Rector Magnificus,

Enquanto no processo tradicional de orientação cogni-

Ubbo Emmius. Mas havia, ao mesmo tempo, uma

tiva, o professor é visto como o único detentor e transmis-

relação de grande proximidade entre a universidade, a

sor do conhecimento, nesta abordagem é atribuído ao

cidade e a região envolvente. No séc. XIX, foi conferida à

docente o papel de guia no processo de aprendizagem

universidade, para além da vertente educacional, a

com o objectivo auxiliar os alunos no processo de

tarefa da investigação, ponto de partida para o que é

resolução dos problemas.

hoje a universidade na vanguarda da investigação. A

A Holanda tem a maior densidade populacional (493 habitantes / km2) do que qualquer outro pais europeu. A sua posição geográfica no coração da Europa aliada ao enorme investimento na formação internacional faz da Holanda uma escolha óbvia para quem aspire a um percurso profissional além-fronteiras. Na verdade, a Holanda foi o primeiro país de origem não anglófona a oferecer cursos inteiramente leccionados em inglês e contam neste momento com 81.700 estudantes internacionais. No total, as instituições de ensino superior holandesas têm à disposição 1.560 cursos e programas de estudo completamente dados em inglês. Entre estas está a Universidade de Groningen onde tive a oportunidade de estudar durante um semestre no programa de mobilidade Erasmus. Em cada ano a Universidade de Groningen recebe mais de 3.500 estudantes originários de 115 países diferentes e este ano fui um desses sortudos!

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Edição 0 - 2º semestre de 2011

Universidade de Groningen desenvolveu-se rapidamente durante as primeiras décadas do séc. XX. O número de faculdades e de programas cresceu de forma constante, ao mesmo tempo que o número de alunos registou um crescimento exponencial. Em linha com esta tradição académica, a Universidade de Groningen goza ainda hoje de renome mundial como uma universidade líder na investigação. A aquisição de conhecimento especializado com base numa abordagem interdisciplinar, constituem a base dos seus programas, dos quais 83 do nível de mestrado (MSc) e 8 do nível pré graduado (BSc) são leccionados em inglês. Dos milhares de universidades em todo o mundo, a Universidade de Groningen pertence ao Top 200

Os holandeses são as pessoas mais altas do mundo, com uma média de 184 cm para os homens e 170 para as mulheres


a psicologia além fronteiras

segundo o ranking Times Higher Education. De acordo com o Centro Alemão para o Desenvolvimento do Ensino Superior (CHE), a Universidade de Groningen é um membro do denominado ‘Grupo de Excelência’ das melhores universidades na Europa. A minha experiência pessoal enquanto estudante inter-

Cada holandês tem pelo menos uma bicicleta e no total há duas vezes mais bicicletas do que carros

nacional durante este semestre permitiu-me comprovar que toda a qualidade e distinção conferida à Universidade de Groningen e ao ensino superior holandês em geral, é de facto merecida. A flexibilidade é visível de forma transversal a todo o sistema de ensino onde, por exemplo, a escolha das disciplinas a frequentar é deixada ao critério do aluno e em que cada semestre é dividido em dois blocos de três disciplinas

possibilitando

ao

aluno acompanhar mais atentamente as matérias. Assim os estudantes são encorajados a trabalhar de forma autónoma no absorver e filtrar do conhecimento adquirido de modo a construir um conjunto estruturado de “verdades” ou factos que perfazem o corpo de conhecimento. A estrutura das aulas, direccionada para o desenvolvimento de competências relacionadas com a investigação científica, divide-se numa primeira parte leccionada pelo professor regente da disciplina e uma segunda onde um professor/investigador da faculdade apresenta investigação feita por si relacionada com conteúdos

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a psicologia aqui e agora

dados nas aulas. Uma espécie de passagem da teoria à pratica, em que a segunda palestra complementa a primeira e vice-versa. Para mim estudar psicologia na Holanda foi a desculpa perfeita para sair da minha zona de conforto, dar um salto em frente no desconhecido e abraçar a incerteza. O que no início parecia dúvida e indecisão, depressa se transformou num sentimento de determinação e responsabilidade. Por ter adquirido outras perspectivas acerca

Nova Iorque começou como uma colónia holandesa chamada Nova Amesterdão fundada pela Companhia das Índias Orientais de assuntos que julgava estáticos, tenho agora o distanciamento necessário para analisar a situação e tomar uma posição mais coerente e informada. Tudo serviu apenas para aumentar a fasquia e seguir o caminho em frente. Assim, posso seguramente concluir que a minha experiência pessoal serviu para confirmar as altas expectativas com que embarquei nesta viagem. Estas razões (e todas as outras não referidas claro!) fazem da Holanda, e em particular da Universidade de Groningen, o ponto de referência para quem planeia seguir uma formação de alta qualidade internacional e ao mesmo tempo viver uma cultura diferente num ambiente descontraído, inovador e rico em espaços verdes.

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Edição 0 - 2º semestre de 2011


LIGAÇÕES ÚTEIS


Ligações Úteis RUP

ADMINISTRAÇÃO

adms.rup@gmail.com

EQUIPA EDITORIAL

editorial.rup@gmail.com

COMISSÃO CIENTÍFICA

cientifica.rup@gmail.com

DEPARTAMENTO JURÍDICO, FINANCEIRO E TESOURARIA

dep.jft.rup@gmail.com

ASSOCIAÇÕES DE ESTUDANTES

ANEP Associação Nacional de Estudantes de Psicologia

http://anep.pt/ direccao.anep@gmail.com 239 838 488

EFPSA European Federation of Psychology Students’ Associations

http://efpsa.org/

JEPS Journal of European Psychology Students

http://jeps.efpsa.org journal@efpsa.org

AEFPCEUP Associação de Estudantes da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto

http://www.aefpceup.pt.am/ aefpce@fpce.up.pt 220 120 842


AEFPIE-UL Associação de Estudantes da Faculdade de Psicologia e do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

http://ae.fpce.ul.pt/ ae.fpce.ul.pt@gmail.com 217 973 179

AEPUM Associação de Estudantes de Psicologia da Universidade do Minho

http://aepum.blogspot.com/ aep.uminho@gmail.com

AEISPA Associação de Estudantes do Instituto Superior de Psicologia Aplicada

http://www.facebook.com/profile.php? id=100001851793554 aeispa@ispa.pt 218 811 700

NEPUE Núcleo de Estudantes de Psicologia da Universidade de Évora

http://www.nepue.uevora.pt/ nepuevora@gmail.com 220 120 842

NEPCE-AAC Núcleo de Estudantes de Psicologia, de Ciências da Educação e de Serviço Social da Associação Académica de Coimbra

http://www.uc.pt/fpce/estudantes/ NEPCE-AAC/facebook/ nepceaac.direccao@gmail.com 239 838 488

NPC-AEISCSN Núcleo de Psicologia Clínica da Associação de Estudantes do Instituto Superior de Ciências da Saúde – Norte

http://aeiscsnnpc.bravehost.com/ aeiscsn.npc@gmail.com


INSTITUIÇÕES DE ENSINO

Departamento de Psicologia da Universidade de Évora

http://www.dpsic.uevora.pt/ psico@uevora.pt 266 744 522

EPSI Escola de Psicologia da Universidade do Minho

http://www.psi.uminho.pt/ secescola@psi.uminho.pt 253 604 220 / 253 604 683

FPUL Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa

http://www2.fp.ul.pt/ geral@fp.ul.pt 217 943 655

FPCE-UC Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra

http://www.uc.pt/fpce dir@fpce.uc.pt 239 851 450

Instituto Superior de Ciências da Saúde – Norte

http://www.cespu.pt/pt-PT/ info@cespu.pt 224 157 100

ISPA Instituto Superior de Psicologia Aplicada

http://aeiscsnnpc.bravehost.com/ info@ispa.pt 218 811 700


FPCE UP Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto

http://www.fpce.up.pt/ webmaster@fpce.up.pt 226 079 700

Universidade de Groningen

http://www.rug.nl/ communicatie@rug.nl +31 (0)50 363 91 11

Outras Instituições/Associações

Fundação Calouste Gulbenkian

http://www.gulbenkian.pt/ info@gulbenkian.pt 217 823 000 Fundação para a Ciência e a Tecnologia

http://www.fct.pt/ 213 924 300

Ordem dos Psicólogos Portugueses

https://www.ordemdospsicologos.pt/ info@ordemdospsicologos.pt 213 400 250/1


EDITAIS E ANÚNCIOS


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Revista Universitária de Psicologia Comissão Cientifica 2011

Regras de Submissão Revista on-line N.º 0, Publicação em Abril de 2012

EDITAL - Chamada de Trabalhos: entre 28 de Novembro de 2011 e 10 de Fevereiro de 2012. - Tipo de trabalhos: Serão aceites para revisão os trabalhos cuja componente científica se identifique como artigos de natureza empírica, documentos de revisão bibliográfica ou apresentação de projectos. - Os autores deverão ser alunos do 1.º ou 2.º Ciclo do Mestrado Integrado em Psicologia, podendo os recém-formados submeter igualmente trabalhos (Prioridade: 1.º Ciclo); - Os trabalhos a submeter via e-mail (cientifica.rup@gmail.com, com o Assunto: Submissão de Artigo) deverão respeitar as seguintes condições: * o(s) autor(es) deverá/deverão identificar-se (nome completo, e-mail, instituição de ensino); * o trabalho deverá ser apresentado na seguinte ordem: título, resumo em português [150 palavras Max.], palavraschave (5), texto com figuras, quadros e legendas, bibliografia; * o texto deverá ser em formato Word; máximo de 20 páginas; letra times new roman, tamanho 12, estilo justificado e espaçamento de 1.5, devem ser enviados em português e obedecer às normas da APA, 6ª edição; - Deve ser indicada a área de submissão [Psicologia da Educação, Desenvolvimento e Aconselhamento; Psicologia Social; Psicologia das Organizações e Trabalho; Psicologia Clínica; Psicologia Forense e Criminal; Metodologias Científicas e Avaliação Psicológica; Neuropsicologia e Memória; Outras]; - O autor deverá autorizar a publicação do artigo na revista e assegurar que o mesmo não será submetido a outra revista ou jornal; - O autor será notificado pela Comissão Cientifica da RUP com a informação da avaliação do artigo por parte do revisor, até um máximo de uma semana após a disponibilização da mesma avaliação; - O autor deverá comprometer-se a efectuar as alterações propostas pelas revisores, sob pena do trabalho não ser publicado, até um máximo de 2 semanas, após notificação; - O autor será informado da respectiva edição em que o artigo será editado, sendo notificado para realizar uma leitura final antes da publicação.

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Revista Universitária de Psicologia Comissão Cientifica 2011

Revisores CONCURSO PARA REVISORES ASSOCIADOS DA RUP

EDITAL

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Ter qualificação na área da Psicologia (Grau de Licenciatura [1.º Ciclo], Mestrado ou ser aluno de Doutoramento);

Possuir conhecimentos científicos direccionados para a área de candidatura, de acordo com as seguintes categorias de revisão em Psicologia: Psicologia da Educação, Desenvolvimento e Aconselhamento; Psicologia Social; Psicologia das Organizações e Trabalho; Psicologia Clínica; Psicologia Forense e Criminal; Metodologias Científicas e Avaliação Psicológica; Neuropsicologia e Memória;

O candidato deverá apresentar um curriculum vitae (formato europeu), uma carta de motivação, certificados de formação e uma carta de referência (facultativo);

Disponibilidade para assumir compromissos temporais na revisão de trabalhos científicos e familiaridade com grelhas de avaliação;

As vagas para revisor associado são limitadas, devendo os interessados submeter a candidatura entre 28 de Novembro de 2011 e 05 de Fevereiro de 2012;

A candidatura deverá ser enviada para o e-mail (cientifica.rup@gmail.com, com o Assunto: Concurso de Revisores).

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Revista Universitária de Psicologia 2011

Assinaturas RUP A Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia, (RUP/ANEP), organiza um sistema de assinaturas para os seus leitores e que é descrito no presente documento.

DISPOSIÇÕES GERAIS Composição/Vantagens/Preços - A assinatura é composta por um conjunto de 3 números da RUP em formato impresso. - Terá um preço de 10€, representando assim um desconto de 0.50€ em comparação com a compra isolada das três revistas. - Os assinantes da RUP recebem um correio electrónico a confirmar a disponibilidade de levantamento da sua revista.

Distribuição - As assinaturas só podem ser levantadas nos núcleos ou associações de estudantes de psicologia com parceira de distribuição com a RUP/ANEP. - Caso seja impossível para algum assinante recolher a sua respectiva revista, a mesma poderá ser reenviada para uma morada indicada mediante o pagamento dos portes de envio.

- Os assinantes da RUP têm os seus números da revista reservados.

Métodos de pagamento

Procedimento

O método definido para pagamento é Transferência

- Preencher a ficha de assinatura, enviando-a para

bancaria. Os detalhes relativos ao pagamento serão

assinaturas.rup@gmail.com

enviados por correio electrónico ao assinante após a sua

- Efectuar o pagamento da quantia de 10€ através de

inscrição como tal.

transferência bancaria, seguindo os dados enviados por correio electrónico após a submissão da inscrição.

Dados requeridos para realizar a assinatura da RUP Nome

-Enviar o comprovativo de pagamento para o correio electrónico assinaturas.rup@gmail.com -Após o devido preenchimento da ficha de inscrição e pagamento da assinatura serão enviados a cada edição

Nº de BI ou outro documento identificativo

da revista os dados relativos aos locais de levantamento

Telemóvel

disponíveis para escolha do assinante ou em caso de

Email Declaração de Aceitação das condições de assinatura

impossibilidade de deslocação até estes, o procedimento para o envio a um endereço da sua escolha mediante pagamento dos portes de envio.

Data Assinatura do titular da assinatura da RUP

Casos omissos Qualquer caso omisso no presente Regulamento será

Validade O seguinte Regulamento é valido durante o período que

analisado

e

sancionado

pela

Administração

da

RUP/ANEP.

implique a publicação ordinária de três números.

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