Revista Universitária de Psicologia - agosto 2022

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A G O S T O 2 0 2 2 DISPARIDADES SALARIAIS Como estamos e o que há ainda por fazer? ERA DIGITAL NA PSICOLOGIA? Entrevista com Inês Serôdio, Susana Lopes e Tânia Dinis POLIAMOR Como funciona? É inerente ao ser humano? Alguns testemunhos R U PR E V I S T A U N I V E R S I T Á R I A D E P S I C O L O G I A

ARTIGOS ÍNDICE Era digital na psicologia 05 Disparidades salariais 11 Outra forma de amar ____________ 14 EDITORES Nota editorial _____________________ 03 Equipa 04

Agosto, o mês das tão aguardadas férias, no qual podemos descansar do ano letivo que passou O mês que traz consigo os convívios com os amigos, os mergulhos no mar ou no rio, as noites quentes e estreladas e, também, uma nova edição da Revista Universitária de Psicologia. É nas alturas de maior descanso e nas quais temos mais tempo livre, que também utilizamos mais as redes sociais, seja para entretenimento, seja para procura de informação. Muitos profissionais da área da Psicologia recorrem a este meio para promover o seu trabalho e alcançar o maior número de pessoas possível. E é disso mesmo que falamos nesta edição: a Era Digital na Psicologia, onde exploramos os pontos de vista de três Psicólogas de diferentes áreas, relativamente a esta temática.

03 NOTA EDITORIAL

Boa leitura! Inês Freitas

Possivelmente já ouviram falar de alguém que mantém um relacionamento amoroso com mais de dois parceiros em simultâneo. Chama se a esta “outra forma de amar”, Poliamor. Mas será que este termo se rege exclusivamente a esta definição ? Convido vos a folhear as páginas da RUP para perceberem melhor O tema da desigualdade social sempre foi notório na sociedade, sendo que tem sido bastante debatido atualmente, nomeadamente, as disparidades salariais. Se querem aprender mais sobre esta temática, é só espreitar a revista. Por fim, quero deixar vos uma última nota. Por vezes não conseguimos chegar a todo o lado. Não conseguimos fazer tudo o que queríamos, no tempo previsto Isso não faz de nós com menos capacidades que qualquer outra pessoa Às vezes, é preciso reconhecer os nossos limites e saber quando temos que parar. A edição de Agosto traz consigo artigos cruciais nos dias de hoje, mas também muito esforço e dedicação de quem trabalhou nela, de quem, num ano em que voltámos “ à normalidade” e que o trabalho deixou de ser remoto, se viu obrigado a tentar conciliar todas as esferas da sua vida, num frenesim entre trabalho, casa e contextos sociais A edição de Agosto, ainda que seja lançada depois do previsto, foi realizada a pensar em vocês e com conteúdos da atualidade.

ADMINISTRAÇÃO InêsFreitas DEPARTAMENTO GESTÃO COORDENADORA EDITORIAL AmandaPacca MarianaMacedo SaloméMateus EQUIPA 04 MarianaFigueiredo COORDENADORA REVISÃO CIENTÍFICA COORDENADORA GESTÃO ADMINISTRADORA DEPARTAMENTO REVISÃO CIENTÍFICA DEPARTAMENTO EDITORIAL FilipaNobre NEPUÉ PSICUBI InêsBravo InêsMendes AEFPIE UL DanielaBico AEFPIE UL NEPCESS/AAC AndréAbreu CarolinaMiranda AEFPIE UL NEPCESS/AAC FilipaSantos AEFPIE UL IsabelCruz AE FEP UCP MárciaCosta NEPCESS/AAC MelaniaArcentales NEPSI AAUALG

Entrevista com Inês Serôdio, Susana Lopes e Tânia Dinis

ERA DIGITAL NA PSICOLOGIA?

05 | DANIELA BICO, INÊS BRAVO, INÊS MENDES, MARIANA MACEDO, MELANIA ARCENTALES

Num mundo cada vez mais digital, no qual os jovens passam diariamente grande parte do seu tempo ligados à internet, também muitos profissionais da área da Psicologia têm apostado em determinadas plataformas, sendo cada vez mais comum a utilização das redes sociais para promoverem o seu trabalho e fazê lo chegar ao máximo número de pessoas possível. Mas será que esta vertente mais digital da psicologia traz vantagens? Será que tem um papel essencial na chegada de informação aos jovens? No sentido de percebermos alguns pontos de vista acerca deste tema da psicologia no digital, contactámos três Psicólogas de diferentes áreas da Psicologia: Inês Serôdio, Psicóloga especializada na área Clínica e da Saúde; Susana Lopes, Psicóloga especializada na área de Recursos Humanos, Trabalho e Organizações; e Tânia Dinis, Psicóloga especializada na área Forense RUP:Paracomeçar,podecontar-nosumpouco sobresi,oseupercursoeosmaioresinteresses dentrodaPsicologia? Inês Serôdio: Entrei na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa em 2015, onde fiz a Licenciatura e o Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde, na vertente de Terapias Cognitivo Comportamentais e Integrativas, tendo terminado em 2020. Fiz o meu estágio curricular numa clínica psiquiátrica, já que sempre foi uma área que me despertou curiosidade Durante grande parte do curso achei que o que iria querer fazer era trabalhar com crianças e adolescentes, mas até agora só tenho trabalhado com adultos e tenho gostado muito, embora ainda tenha o sonho de abrir uma clínica para adolescentes A minha dissertação de mestrado foi noutro tema que também me interessa bastante, o luto, e foi das fases mais desafiantes de todo o curso. Terminei em abril o estágio profissional do Ano Profissional Júnior, que realizei num lar de idosos. Era uma população com que nunca me tinha imaginado a intervir, mas foi das melhores e mais gratificantes experiências que já tive Susana Lopes: O meu nome é Susana Lopes, sou do Algarve, tenho 23 anos e estou neste momento a realizar o estágio profissional de ingresso à Ordem dos Psicólogos e sou autora da página de Instagram @su.psi trabalho. Em 2016 entrei em Psicologia na Universidade do Algarve e terminei o mestrado em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações na mesma universidade no final do ano passado, de momento estou a realizar uma Pós Graduação em Gestão de Recursos Humanos. Acho que desde sempre que soube que eram as organizações e o mundo do trabalho a minha paixão dentro da psicologia, em 5 anos nada me despertou mais interesse que esta área e continuo com o mesmo brilho nos olhos de quando comecei

06 | DANIELA BICO,

Tânia Dinis: O meu nome é Tânia Dinis, tenho 24 anos e sou das Caldas da Rainha Sou licenciada em Psicologia e mestre em Psicologia Forense pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em Lisboa. O meu percurso na universidade iniciou se em 2015 e terminou em maio de 2021 Durante o mestrado fiz três estágios, dois extracurriculares e o curricular. Iniciei num escritório de advogados, elaborando avaliações psicológicas forenses e relatórios para tribunal, passei por um bairro social intervindo no comportamento desviante com crianças e jovens negros(as) e de etnia cigana e terminei na Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) no apoio e atendimento a vítimas de crime. Em breve, irei iniciar o Ano Profissional Júnior no Projeto Dar Voz da Cruz Vermelha de Águeda, com Vítimas de Violência Doméstica Os meus maiores interesses dentro da Psicologia centram se na Psicologia Forense, sendo a área da vitimologia para mim a mais chamativa, principalmente no que diz respeito à sensibilização e intervenção com á i d i lê i i ló i relações abusivas RUP: O que a f lugar? Inês Serôdio: Ma sabia que quer sempre me desp ajudar as pessoa era boa ouvinte ouvir os outros daqueles que me próxima da rea compreender aq décimo segund Psicologia, em Psicologia, ou nã Susana Lopes: A começou de form 12º ano comecei a disciplina e foi para psicologia, estudei. INÊS BRAVO, INÊS MENDES, MARIANA MACEDO, MELANIA ARCENTALES No entanto, sabia que gostava de “coisas” mais objetivas como marketing ou gestão daí ter optado pela psicologia nas empresas. Foi a minha primeira opção aquando da candidatura à Universidade, na segunda meti Sociologia, mas acho que só por descargo de consciência e agora sou apaixonada por isto! Tânia Dinis: Foi no secundário que comecei a interessar me cada vez mais pela área do comportamento humano, principalmente no que diz respeito à vitimologia e crime. Quando chegou a altura de decidir a área que queria seguir na universidade, fiquei bastante indecisa entre Direito e Psicologia, mas após pensar bastante no assunto e de pesquisar sobre as unidades curriculares e saídas de cada curso, decidi optar pela última. Não me arrependo, até porque depois descobri a Psicologia Forense, uma área que interliga a Psicologia com o Direito.

RUP: Como surgiu a ideia de criar uma conta no Instagram e quais foram os principais desafios dessaetapa? Inês Serôdio: A ideia surgiu após terminar o curso, achei que podia ser bom partilhar alguns conhecimentos e sobretudo sensibilizar para a saúde mental, daí ter decidido iniciar a página no mês de setembro, o mês da sensibilização para o suicídio. Eu já seguia algumas páginas que abordam temas de psicologia e de saúde mental e achei que podia dar o meu contributo. Aquilo que tem sido mais desafiante é encontrar o meu lugar no espaço digital, através de uma imagem que me represente a 100% enquanto profissional e enquanto pessoa. Outra dificuldade tem sido a pressão para definir um nicho. Não tenho experiência suficiente para me dedicar a um tema único e há demasiados temas que me interessam para me focar apenas em dois ou três, pelo menos por agora. Susana Lopes: Houve um dia que andava a vaguear no Instagram e deparei me com a uma quantidade enorme de páginas que existiam de psicologia, mas achei todas muito direcionadas a áreas mais clínicas, procurei por organizações e não encontrei nada. Foi aí que pensei que seria muito fixe alguém criar uma página alusiva às organizações, eu iria seguir de certeza!! E pronto esse alguém fui eu O meu Instagram surgiu numa fase de receio, impotência e frustração, os meus dias não passavam de procurar o estágio profissional para a ordem, precisava de algo que me distraísse, me fizesse sentir ocupada e ligada à psicologia, foi como um escape. Não vou mentir que criar uma página no Instagram me deixou muitas vezes insegura, surgiram muitas dúvidas do género “O que é que os outros vão pensar?”, “Terei eu a capacidade para isto?”, “Sou assim tão conhecedora do assunto para partilhar” … coloquei todos esses receios de lado e atirei me de cabeça e no final criei uma pequena grande comunidade e estou a ter um feedback maravilhoso Tânia Dinis: Em março de 2020, quando a pandemia COVID 19 atingiu Portugal, eu estava no meu último ano do mestrado e, portanto, a realizar o meu estágio curricular na APAV Com a impossibilidade de o continuar e a obrigatoriedade de permanecer em casa, comecei a ponderar a utilização das redes sociais, nomeadamente do Instagram como forma de divulgar, informar e sensibilizar para conteúdos de Saúde Mental, um assunto que veio a ser cada vez mais considerado como consequência dos efeitos da pandemia. Após alguns meses, em setembro, criei a minha própria página (@taniadinis.psicologia), com o objetivo de desmistificar o papel da Psicologia Forense e dos(as) profissionais que trabalham na área, trazendo ao serviço público assuntos ainda pouco explorados como a violência, o consentimento, o assédio, a igualdade de género e o trabalho nas prisões tribunais e associações de apoio à vítima, dando enfâse à priorização da saúde mental Para mim, o maior desafio esteve relacionado com a gestão do tempo. Antes de ter uma página profissional, em que é necessário estar presente, responder às mensagens, publicar conteúdo (histórias, publicações, lives, etc), eu desconhecia por completo o tempo que é preciso despender. Por isso, diria que foi uma adaptação que fui fazendo na minha agenda.

Inês Serôdio: O que gosto mais de partilhar são posts informativos, algumas partilhas mais pessoais que eu sinto que possam ser uma ajuda para outras pessoas e informações relacionadas com o percurso do/a psicólogo/a Apesar de não ter um público alvo muito restrito e definido, acabo por adaptar o conteúdo em função do feedback que recebo da comunidade Há temas que eu vou percebendo que são de maior interesse para quem me segue, por isso tento investir mais nesses. Ainda assim, vou partilhando conteúdo de temas menos “pedidos” por achar que são importantes e menos falados, por exemplo Susana Lopes: O meu principal objetivo ao criar a página era chegar ao máximo de postos de trabalho, sensibilizar todos os profissionais de que um local de trabalho nunca é apenas um local de trabalho, até porque as empresas são, nada mais nada menos, que pessoas e que é possível agilizar um ambiente de trabalho! INÊS BRAVO, INÊS MENDES, MARIANA MACEDO, MELANIA

07 | DANIELA BICO,

RUP: Que conteúdos gosta mais de publicar? O conteúdo que vai partilhando é adaptado a um público-alvoespecífico?

ARCENTALES

Tânia Dinis: O conteúdo que publico está relacionado com a área que segui no mestrado e com a qual tive mais contacto na minha prática enquanto estagiária de psicologia, a área da Psicologia Forense. Nesse sentido, o público alvo são pessoas interessadas nestas temáticas, estando as publicações e partilhas adaptadas aos mesmos.

Estas pessoas fizeram me perceber que não estava sozinha e que todas estas fases faziam parte do processo, agora faço parte de uma grande comunidade de psicólogos e futuros psicólogos que estão lá para qualquer dúvida ou conselho que precise.

Tânia Dinis: Várias são as vantagens, desde logo a possibilidade de comunicar com qualquer pessoa, desde que a mesma tenha acesso à Internet, e com um grande número de pessoas ao mesmo tempo de forma eficaz. A utilização das redes sociais como forma de expor conteúdos de psicologia é cada vez mais comum Várias são as páginas criadas no sentido de divulgar, explicar e abordar a saúde mental dos seus mais diversos ângulos. O Instagram não só aproxima pessoas que vivem em locais distantes como é uma ótima forma de manter acessível o contacto. Outra vantagem é a possibilidade de interação em tempo real, através de um clique, de um vídeo, de uma mensagem ou de um comentário. A criação de páginas por estudantes, mestres em psicologia ou psicólogos(as) potencia também a sua visibilidade e reconhecimento, assim como a possibilidade de convites na área ou de oportunidades de emprego e crescimento pessoal RUP: Serão as redes sociais o novo “passaporte” paraomercadodetrabalho?

08 | DANIELA BICO, INÊS BRAVO, INÊS MENDES, MARIANA MACEDO, MELANIA ARCENTALES

RUP: Quais são as vantagens que identifica em utilizar as redes sociais como ferramenta de partilha de conteúdo, numa área que só recentemente tem vindo a ter mais exposição nos media?

Por isso, sim, o meu público alvo no início seriam pessoas que já estivessem a exercer. Com o passar do tempo, deparei me que me chegavam muitas dúvidas em relação à entrada no mundo do trabalho, estudantes e recém finalistas, daí ter direcionado o meu nicho também muito para essa vertente, áreas como orientação vocacional, recrutamento e seleção, estágios entre outros, algo que comecei a gostar muito por surgirem vários testemunhos de seguidores de que aquele conteúdo lhes tinha mesmo ajudado.

Inês Serôdio: O mundo digital tem trazido tanto de bom como de mau, mas aquilo que tem trazido de bom aos psicólogos é permitir uma exposição da saúde mental e das áreas de atuação da psicologia Acho que as redes sociais vieram aproximar as pessoas da saúde mental, trouxeram maior sensibilização, informação e têm servido para ajudar a quebrar tabus e para abordar temas que são de enorme importância Para além disso, e sobretudo desde a pandemia, as redes sociais vieram contribuir bastante para dar a conhecer os profissionais que, muitas vezes, trabalham também essencialmente em formato online. No fundo, as redes sociais vieram dar uma plataforma de promoção do trabalho do/a psicólogo/a.

Susana Lopes: Com a criação da página, comecei a conhecer e a falar com outros profissionais da área, pessoas que já estavam a exercer enquanto psicólogos e outros que estavam na mesma situação que eu, em busca do estágio profissional Sigo tantas pessoas maravilhosas que me têm ajudado tanto cada uma à sua maneira: @sofiacarvalho psicologa; @apiscologia pt; @rightpath rp; @psi.anasofiarodrigues; @taniadinis psicologia; @psicologa ritamateus; @ritamoreiracosta.psicologa são exemplos de páginas que adoro e há tantas mais!

Inês Serôdio: Não sei se serão o único, mas são certamente um dos passaportes para o mercado de trabalho. Penso que cada vez mais se podem tornar um fator de distinção, tanto para o bem como para o mal. Ainda assim, acho que continuam a existir outros meios mais “tradicionais” que continuam a ter um peso considerável

Inês Serôdio: Os conselhos que gostaria de dar são sobretudo não ter medo ou vergonha. Quando eu comecei a minha página fi lo de forma anónima porque tinha vergonha que as pessoas que me conhecem e que andaram comigo na faculdade fossem julgar os conteúdos que estava a partilhar. Devemos acreditar nas nossas capacidades e competências e avançar com algo que gostaríamos de fazer, mesmo que isso nos assuste. Uma das coisas mais importantes é mantermo nos fiéis àquilo que somos, aos nossos valores e não ceder às pressões daquilo que supostamente é o “correto” para se ter sucesso no digital. MARIANA

Susana Lopes: Trazer a psicologia para as redes sociais, como já referi acima, fez com que eu estivesse mais atenta à partilha de informação nas redes, isto ajudou me imenso no encontro do estágio não vou mentir Numa primeira instância, acho que ter uma página alusiva à minha formação me fez destacar nos processos de seleção, a página fez com que o “meu serviço fosse lembrado”, depois também com o networking amplo que desenvolvi consegui criar amizade com outros psicólogos que me ajudaram no processo de inscrição na ordem, inclusive a minha orientadora de estágio é uma das psicólogas que conheci no Instagram @sofiacarvalho psicologa .

MACEDO, MELANIA ARCENTALES

Tânia Dinis: Sem dúvida! Mas não diria que é algo taxativo, ou seja, não é por alguém ter uma página nas redes sociais que irá mais facilmente entrar no mercado de trabalho, mas claro que ajuda na construção de uma identidade, incluindo, por exemplo, a construção de uma carteira de clientes (no caso de consultas privadas)

RUP: Como é que vê a Psicologia na atualidade, tendo também em conta a situação pandémica e o avanço da divulgação de conteúdo nas redes sociais? Inês Serôdio: Atualmente vejo uma psicologia mais difundida, mais ao alcance das pessoas, uma psicologia menos demagógica e mais compreensível para os leigos. O consumo das redes sociais aumentou muito na pandemia porque as pessoas estavam em casa e estavam mais aborrecidas e a precisar de distrações e o facto de a pandemia e também agora a guerra trazerem ao de cima questões relacionadas com a saúde mental, também pode ter contribuído para uma maior procura de conteúdo relacionado com estas temáticas e isso pode, por sua vez, ter impulsionado a criação de cada vez mais páginas sobre saúde mental, o que acabou por ser bastante positivo. Ainda assim, é preciso ter atenção aos conteúdos que são partilhados. Aquilo que é partilhado numa página deste tipo, mesmo que seja por um/a psicólogo/a, não substitui o acompanhamento psicológico Há também algumas páginas que se baseiam em conceitos de senso comum e de pseudociência, mas isto é um problema transversal hoje em dia com o excesso de informação. Apesar de tudo, acho que a expansão que a psicologia tem tido através das redes sociais tem sido positiva.

RUP: Seria possível deixar alguns conselhos para estudantes de Psicologia que também tenham objetivo de utilizar as redes sociais para divulgar conteúdonaárea?

Susana Lopes: Quero acreditar que cada vez mais a saúde mental tem ganho importância! Acho que a pandemia trouxe isso de bom, o foco em nós mesmos, muitos psicólogos se viraram para as redes socias nesta altura, como forma de sensibilizar e transmitir informação e conhecimento sobre a saúde mental e o papel do psicólogo, com isto surgiu uma maior abertura para a procura de ajuda e menos tabu em relação a estes temas, porque tão ou mais importante que a saúde física é que estejamos bem a nível psicológico. Tânia Dinis: Cada vez mais as redes sociais são utilizadas como forma de divulgação de conteúdos sobre Saúde Mental e Psicologia Em grande parte, são efetuados por profissionais (ou estudantes) da área, havendo evidência científica e comprovada que corrobora tais conteúdos. Ainda que seja excelente este avanço, possibilitando maior conexão e identificação por parte de quem acede a esses conteúdos, há sempre o risco de existirem conteúdos que se dizem da Psicologia e não o são. Dessa forma e, tal como em muitos outros conteúdos divulgados online, é necessário que estejamos atentos(as) e que sejamos críticos(as) em relação ao que acedemos.

09 | DANIELA BICO, INÊS BRAVO, INÊS MENDES,

Acima de tudo, manter os valores éticos e deontológicos nas partilhas, garantindo que se tratam de informações cientificamente suportadas, não copiando conteúdos, preservando uma imagem positiva da psicologia e do nosso trabalho e aceitar críticas construtivas e que nos podem ajudar a evoluir e melhorar Susana Lopes: Só vão!! Requisitos: força de vontade, humildade e empatia sempre! Afinal vamos lidar com pessoas e teremos de ter em mente que não vamos ter as respostas para todas as perguntas que chegarã daí existir uma comunidade tão grande, cada per com uma especialidade, não tenham medo de ped ajuda. Não pensem demasiado, metam os “E SE’s…” lado “E se ninguém me seguir?”, “E se não souber o q partilhar ” vão ver que se vai tornar tudo automáti e a criatividade vai crescendo. O mundo digital é u mundo e há espaço para todos, por isso venham q vão adorar, prometo! Tânia Dinis: Em Psicologia, o nosso nome é a nos marca, pelo que é essencial trabalhar no sentido de divulgar e consequentemente de promover o nos trabalho. Algumas das dicas que posso deixar pa estudantes que queiram utilizar, por exemplo, Instagram como uma ferramenta de divulgação conteúdo, criando uma página profissional, são: descobre qual é o tema (ou temas) que pretend abordar e qual o público alvo a atingir; b) pensa e como o vais fazer, qual a linguagem que vais utiliza qual o tipo de conteúdos que vais publicar, como va comunicar com os teus seguidores, o que quer mostrar da tua vida pessoal, qual a periodicidade d divulgação de conteúdos, etc; c) elabora o teu brandin ou seja, reflete sobre a tua identidade visu posicionamento (incluindo marketing) e escolha paleta de cores, tipo e tamanho das letras, etc. P último e se ainda estiveres reticente em relação a tod estas etapas, podes sempre falar com outras pesso que já tenham páginas e esclarecer as tuas dúvidas. mais importante, acima de tudo, é seres tu próprio( As pessoas conectam se com pessoas e nas red sociais, isso não é exceção A vertente digital da Psicologia e o uso das redes socias parecem ser alvo de opiniões muito favoráveis, como tendo variadas vantagens na promoção das informações sobre saúde mental junto dos jovens, principalmente e também na promoção do próprio trabalho de psicólogos emergentes, servindo como uma boa forma de estabelecer, perante os seguidores e potenciais clientes, a sua forma pessoal de atuação.

10 | DANIELA BICO, INÊS BRAVO, INÊS MENDES, MARIANA MACEDO, MELANIA ARCENTALES

A disparidade salarial entre homens e mulheres continua a ser uma realidade em pleno século XXI, sendo o seu combate um dos aspetos fulcrais para atingir uma verdadeira emancipação e paridade entre os géneros. Em 2015, a diferença salarial entre homens e mulheres era de 16,7% em Portugal (Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, 2017). Em 2018, esta percentagem fixou se nos 14,4% (Torres e colaboradores, 2018) e, em 2019, conseguiu atingir o seu valor mais reduzido de sempre, 10,9% No entanto, contrariando a descida contínua, em 2020 esta taxa aumentou para 11,4% (Gomes, 2022)

Há muitos fatores subjacentes à presença deste fosso, muitos deles transversais a outras lutas feministas pela igualdade de direitos ao nível legal, cultural, diferenças regionais e económicas intergeracionais (Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, 2017) a verdade é que as mulheres continuam a ser alvo de preconceito não só no que toca à ativação de estereótipos sobre as suas capacidades (e g físicas, de liderança) mas também em relação à sua capacidade reprodutiva, que muitas empresas vêem como um entrave à produtividade. A ideia da mulher como cuidadora nata, que naturalmente porá a família e as exigências domésticas antes das responsabilidades do trabalho continua a estar presente na nossa cultura (Torres e colaboradores, 2018), nomeadamente nas decisões executivas num contexto empresarial, mesmo que a lei já contemple licenças partilhadas por ambos os pais.

"(...) a verdade é que as mulheres continuam a ser alvo de preconceito não só no que toca à ativação de estereótipos sobre as suas capacidades (e.g. físicas, de liderança) mas também em relação à sua capacidade reprodutiva (...)" Estando ligeiramente abaixo da média europeia (13%, no mesmo ano), esta percentagem continua a ser muito considerável, sobretudo tendo em conta que as mulheres constituem virtualmente a mesma força de trabalho dos homens (51,1% vs. 51,3%, Torres e colaboradores, 2018) Porque se mantêm as disparidades salariais?

11 | ANDRÉ ABREU & FILIPA SANTOS

Ao longo das últimas décadas, a contínua melhoria da qualidade de vida não se deveu apenas aos avanços tecnológicos ou ao contributo da ciência para otimizar a nossa saúde Também nos direitos sociais, sobretudo dos grupos mais tradicionalmente marginalizados e negligenciados, as lutas pela igualdade e paridade têm trazido melhorias consideráveis para a vida quotidiana e o acesso a recursos importantes para que todos e todas possam alcançar os seus objetivos de forma justa. A luta pela igualdade de género tem sido uma das principais bandeiras de vários movimentos sociais e feministas, com conquistas basilares como o direito das mulheres ao voto, ao trabalho ou ao acesso ao ensino, que permitiram que hoje em dia tenhamos cada vez menos atividades económicas e áreas do conhecimento onde as mulheres não estão presentes. No entanto, a herança misógina de séculos e séculos a subalternizar o lugar da mulher no espaço social ainda se fazem sentir, com consequências muito práticas e visíveis. SéculoXXI:oquemudou?

PÁGINA QUATRO | VIAGEM

DISPARIDADES SALARIAIS: um longo caminho por percorrer

https://cite.gov.pt/documents/14333/144891/Desigu aldade salarial.pdf

"(...) parece ser penalizador para as mulheres obterem formação mais avançada, visto que é nos quadros superiores que o fosso aumenta (...)" Para além disso, ao analisar os números por atividade económica, a predominância de mulheres em relação a homens em determinado setor também regista um aumento da disparidade e, num efeito contrário, uma mulher num setor predominantemente constituído por homens tem mais hipóteses de ter um vencimento superior aos mesmos esta tendência pode ser explicada pelo facto de estes setores estarem mais associados à construção, extração e saneamento, onde as mulheres têm tipicamente funções administrativas e diferenciadas (Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, 2017)

Deagoraemdiante De acordo com o Relatório sobre o Global Gender Gap do World Economic Forum (2019), com a lenta evolução no estreitamento deste fosso, apenas no ano 2277 conseguiríamos atingir a paridade salarial para trabalho de igual valor Com os constrangimentos da pandemia, este fosso agravou se, puxando este objetivo para uma data ainda mais impossivelmente longínqua. Continua a ser imperativo consciencializar para este problema tão premente na vida prática de todos nós não apenas das mulheres, mas dos filhos que delas dependem, das estruturas sociais e das decisões a nível empresarial que as perpetuam lutando para que a transparência salarial seja uma realidade cada vez mais habitual no ambiente de trabalho, de forma a dar mais ferramentas às mulheres para se protegerem destes desequilíbrios

PÁGINA QUATRO | VIAGEM A democratização do acesso ao ensino superior permitiu a muitas mulheres emanciparem se e tornarem se independentes das suas famílias ou maridos Só em 2019, mais de 60% das pessoas a diplomar se nesse ano foram mulheres (Valente, 2021), sendo que há três décadas que o número de mulheres tem sido sempre superior ao dos homens. Mas, se à partida estas parecem ser ótimas notícias para o progresso da igualdade de género, no que à disparidade salarial diz respeito, não o são. Analisando os números, parece ser penalizador para as mulheres obterem formação mais avançada, visto que é nos quadros superiores que o fosso aumenta (Torres et al., 2018). Em números de 2015, mulheres com habilitações literárias ao nível do 1.º ciclo do ensino básico recebiam em média cerca 87,5% do salário dos homens; no grupo de licenciadas, esta percentagem descia para os 71,7% (Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, 2017).

Referências Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (2017) Desigualdade Salarial entre Homens e Mulheres em Portugal.

12 | ANDRÉ ABREU & FILIPA SANTOS

Nações Unidas. (2020 S t b 25) 250 para eliminar disparid mulheres. Nações https://unric org/pt/25 disparidade salarial en Gomes, J. A. (2022, M homens e mulhere https://eco sapo pt/20 homens e mulheres e em 2020/ Torres, A., Campos P Maciel, D , Reigadinh Igualdade de género contexto europeu Fu Santos. https://www ffms pt/F 46b4 967a f3b8a15ef1 longo da vida Valente, C. (2021, Mar é muito superior ma exceção. DN. https://w de diplomadas e muit ainda sao uma exceca World Economic Foru Report https://www3.weforum pdf ... 13 | ANDRÉ ABREU & FILIPA SANTOS

Oqueéopoliamor?

OUTRA FORMA DE AMAR 14 | CAROLINA MIRANDA & MÁRCIA COSTA

O poliamor pode ter várias configurações possíveis. A própria pessoa e os seus parceiros regem as regras das suas relações consoante os seus desejos de atração e objetivos de relacionamento, sendo uma forma pessoal e única de cada um construir a sua própria ideia de amor. Sendo assim, as relações podem ser de diversas maneiras e o número de parceiros é variável. Pode também haver poliamoristas homossexuais ou heterossexuais. Além disso, a questão da sexualidade pode ser partilhada tanto entre todos na relação como entre apenas alguns elementos, sendo possível haver situações em que a relação existe sem a conotação sexual. Este formato de relacionamentos pode suscitar dúvidas e problemas de confiança aos olhos de outras pessoas, pois a questão da partilha leva a sentimentos de insegurança, ciúme, desconfiança, entre outros. Contudo, existe um pilar fundamental, que é o axioma do poliamor: o consenso Todos os indivíduos envolvidos sabem e comunicam entre si, de forma a se organizarem e formarem uma família o mais harmoniosa possível. Sem o consenso, comunicação e o respeito não há uma relação poliamorosa fundada. ser frequentemente vista com “problemas de compromisso”; sentir se presa em relacionamentos monogâmicos; ter paixonetas simultâneas com bastante frequência; sentir pouco ciúme ao ver outra pessoa com o seu parceiro (não incomodar a ideia de partilha).

Ossinaisdeumapessoapoliamorosa Existem pessoas com predisposição para estas relações, devido à maneira como pensam acerca do amor, como se relacionam com os outros, a sua personalidade, entre outros fatores. Assim, é possível identificar alguns sinais de uma pessoa que possa ser poliamorosa, sendo de ressalvar que a presença destes sinais não é suficiente para que alguém seja considerado como tal. Estes são:

De uma forma simplificada, o poliamor caracteriza se por relacionamentos amorosos com mais de dois parceiros em simultâneo. Contudo, apesar de a sua terminologia parecer explicar tudo, é bem mais complexo do que ‘ter mais de um parceiro ao mesmo tempo’. O termo tornou se mais usual nos EUA , nos anos 90, em que as pessoas começaram a explorar mais os seus interesses pessoais, e a contrariar as relações monogâmicas exigidas pela religião. Comofunciona?

Oqueéinerenteaoserhumano?

Partindo do pressuposto de que o amor é uma construção social, sendo um reflexo da respetiva época e sociedade, podemos dizer que já desde a Idade Média, altura do amor cortês e trovadoresco, até à atualidade, o conceito de amor teve várias facetas (e continuará a ter). É importante lembrar que o poliamor não é considerado monogamia uma vez que prevê uma relação com mais de uma pessoa, mas também não é necessariamente o oposto, sendo que o construto fundamental da monogamia é a fidelidade e esse pode muito bem fazer parte dos contratos íntimos entre as pessoas que constituem uma relação poliamorosa (mas este é apenas um dos muitos argumentos) De uma perspetiva contemporânea, podemos esclarecer que o poliamor amplifica a forma como o amor é sentido e construído. E, como sabemos, tudo o que é novo provoca uma reação e (quase sempre) uma certa relutância por parte da sociedade, e é assim que se gera preconceito. Viver numa sociedade que ainda cai no erro de ter o amor romântico, heteronormativo, patriarcal, e monogâmico como o ideal faz com que as pessoas que se identifiquem com a ideologia poliamorosa estejam num constante ambiente de confrontações e desmantelamento das ideias pré concebidas e pressões sociais que se geram à volta deste tópico. Contudo, tentar educar nunca é demais e é um bom ponto de partida para a desconstrução do preconceito (na sua generalidade) "Alguns especialistas defendem que não somos um animal monogâmico, sendo que, para isso, teríamos só um parceiro a vida toda (...)"

Alguns especialistas defendem que não somos um animal monogâmico, sendo que, para isso, teríamos só um parceiro a vida toda, e tal não se verifica na maioria dos casos, para além do facto de existirem pessoas com amores simultâneos. É importante realçar que conhecer estas possibilidades de relacionamentos versáteis permite uma amplificação das nossas próprias ideias e crenças que temos, não querendo contrariar aquilo que sentimos, pois, como João Cavalcanti, antropólogo pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) afirmou, “é uma maneira diferente de encarar os relacionamentos, não é uma evolução, mas sim uma outra opção".

15 | CAROLINA MIRANDA & MÁRCIA COSTA

Este assunto fomenta um debate relativamente à natureza humana, sobre o que é o natural para o Homem em relação ao amor e à sexualidade. A ciência afirma que os mamíferos apresentam rara monogamia (3 a 10%). Mesmo os chimpanzés, cujo mapa genético se revela 98% igual ao do ser humano, apresentam elevada troca de parceiros.

Poliamornacontemporaneidade

comecei a questionar a ideia de possessão, de pertença,derelaçãocomooutro,eentendidesde muitocedoquenãofaziasentidominimizarosnossos sentimentospelaspessoasquandoelesexistiamem

RUP:Quandoecomodescobriste?(Ouporquê?)Já conheciasoconceitodepoliamornaaltura?

RUP:Tivestedificuldadeemaceitar?

A:Não,detodo,( )tivemaisproblemasemperceber porque é que era tão complicado para as outras pessoas entenderem, ou porque nem sequer se questionavam. O pessoal (...) dizia “ah eu nunca conseguiriafazerisso,soumuitociumento”eissonão mefaziasentido,porqueeureconheciaciúmescomo umobstáculoàsrelaçõesgenuínas.

É possível, de facto, amar mais do que umapessoaaomesmotempo?

16 | CAROLINA MIRANDA & MÁRCIA COSTA

RUP:Contasteàtuafamília?Sesim,comofoiareação? Senão,tencionascontar?Achasquereagiriambem? A: Contei, mas não tenho grandes relações com a minhafamília.

Alguns estudos definem dois tipos de amor (que nem sempre se encontram totalmente numa só pessoa): um amor confortável e ligado ao companheirismo, e um amor apaixonado e estimulante, mais relacionado com o lado sexual (Hatfield and Rapson, 1993; Fisher, 2006) Algumas pessoas justificam se enquanto poliamorosas como sendo alguém que quer juntar todas estas características e qualidades na mesma relação amorosa, independentemente do número de pessoas incluídas, de forma a criar uma relação o mais completa e ideal possível, e de acordo com todas as suas necessidades, vontades e desejos. Por fim, ser ou não possível, de facto, amar mais que uma pessoa ao mesmo tempo será sempre um assunto alvo de discussão porque é impossível conseguirmos ter a mesma opinião, seja sobre qual tema for, mas principalmente sobre um tão abrangente, complexo e íntimo como o amor Cabe nos apenas saber respeitar e ir tentando compreender que nem tudo o que somos, escolhemos e entendemos é tudo o que existe. Testemunhos Com o objetivo de partilhar algum feedback sobre como o poliamor é encarado, recebido e sentido por parte de pessoas que, de facto, se identificam com o mesmo, temos três testemunhos como pontos de referência Queremosdeixarescritooquãogratasestamosao Flor,aoSoleàRitaportodooempenhoemagnífica contribuição TestemunhoA(elu/ele,24anos,tradutor)

RUP:Algumavezsentistediscriminação?Sentesquefoi bemaceitepelosteusamigos(casosaibam)?Alguémse afastou? A: Sendo uma pessoa nãobinária, trans, intersexo, queer,neurodivergente,(...)opoliamorésótipoum ‘Ah,claroquetambémésisso,ésumcolecionadorde minorias’.

paralelocomoutrasatrações

A resistência por parte dos psicólogos em investigar relacionamentos poliamorosos talvez tenha sido originada pelo preconceito de que é muito improvável que alguém ame verdadeiramente mais que uma pessoa ao mesmo tempo. No entanto, a ideia do poliamor pode também ser considerada uma posição filosófica emergente e esta posição defende que o amor verdadeiro não se traduz num vínculo diádico mas sim num amor por muitas pessoas em simultâneo Defensores da ideologia poliamorosa também argumentam, por exemplo, com a frequência de casos amorosos extraconjugais e a institucionalização da amante para comprovar que o ser humano não é uma espécie monogâmica (Barash 2002; Giles 2004).

A:Descobriopoliamorcomopartenaturaldomeu crescimentosocial,sempreviàminhavoltaestruturas monogâmicasquenãoeramsaudáveis,enaaltura

A:Nãoamamospessoasdiferentesaomesmotempoa vida toda? Há pessoas que amam os pais, outros amam os amigos, os professores, os colegas de trabalho,osvizinhosAformaqueeutenhodemostrar queépossível,paramim,ésóexistirEuexisto,euamo aspessoas,euprocuroconexõesgenuínas,saudáveis, construtivas, empoderadoras e funcionais. E cada pessoa terá de encontrar essa prova dentro dela mesma,sequiser,aalgumpontodasuavidahádeo encontrar.Éumaquestãodedesconstruiraideiade amor,porqueoamoréauniãohumana,edessa formaestamostodosunidos

B:Nãoconteinemtencionocontar.Asúnicaspessoas queeuincluonaminhavidanessesentido,conhecerem omeumodelodeamar,sãodedoistipos:pessoasque queiram saber mais sobre o assunto e que sejam respeitosasemrelaçãoaisso,epessoasqueamoou

RUP:Quandoecomodescobriste?(Ouporquê?)Já conheciasoconceitodepoliamornaaltura?

tencionoamar

B:Achoquetodesamamosváriaspessoasaomesmo tempodesdepequeneseatéaofimdanossavida Achoqueoamorromânticofoiprivatizado,equepor issopareceanormalpartilhálo,masnãoépornãoser exclusivo que perde intensidade. Quando amamos alguémnovo,oamormultiplica,nãosedivide,eamar é algo mais natural do que fazemos parecer. Os acordosfocadosemciúmequenormalizamos,ouas regrasdoquecadaumtemdeabdicarparapoder estarcomoutre,issonãoénatural,paraalémdenão ter as melhores intenções Se amo alguém, quero acrescentar coisas boas na vida dessa pessoa, não queropôrlhelimitesepriváladeexperiências.Amoré ninho,nãoégaiola.

B:Apartirdomomentoemquecomeceiainteragir comacomunidadeeaestudaroassuntonão,sentime muitoaceitepormimmesmo.Atéessemomento,sim.

B:Sim,normalmentedisfarçadadedesvalorizaçãoda relaçãoporserpoly.Váriaspessoasseafastarame criticaram, mas as poucas que se aproximaram compensammuito.

RUP:Algumavezsentistediscriminação?Sentesquefoi bemaceitepelosteusamigos(casosaibam)?Alguémse afastou?

RUP:Comogerementresiarelação?Comoéquesedá início?Cadapessoaélivredeiniciarasrelaçõesque quiserouéalgodiscutidoentretodaagente?

B:Éimportantereferirquepoliamoréconsensual,e quetodasaspessoastêmlimites,independentemente doquãolargosouespecíficossão.Osformatosde relação,introduçãodenovosparceiros,tudoissoé comunicadoetemdeseraceiteportodes

17 | CAROLINA MIRANDA & MÁRCIA COSTA

RUP:Oquediriassobresersepossívelamarmaisque umapessoaaomesmotempo?Natuaopiniãoecoma tuaexperiência,comoéqueexplicariasqueépossível?

RUP:Contasteàtuafamília?Sesim,comofoiareação? Senão,tencionascontar?Achasquereagiriambem?

TestemunhoB(ele/dele,19anos,músico)

B: Quando tinha 15 anos, pois encontravame frequentemente interessado em mais do que uma pessoaaomesmotempo,nãoconheciaoconceitoe sentiamuitaculpaeconfusão.

RUP:Tivestedificuldadeemaceitar?

RUP:Comogerementresiarelação?Comoéquesedá início?Cadapessoaélivredeiniciarasrelaçõesque quiserouéalgodiscutidoentretodaagente?

RUP:Oquediriassobresersepossívelamarmaisque umapessoaaomesmotempo?Natuaopiniãoecoma tuaexperiência,comoéqueexplicariasqueépossível?

A:Começoucomumarelaçãoqueeutinhacomuma parceiracomquemnaalturajávivia,(...)umaamiga nossaquejáconheciaaminhaparceiradesdemuito novasinteressousepormim,edepoisacabamospor formarumtrioporqueelastambémgostavamumada outra( )nessadinâmicaeramoslivresdeestarcom quemquiséssemos,mashavialimitesfaceàabertura paracomosoutros,(...)antesdecomeçaralgonovo devíamostentarentenderseumanovarelaçãoseria compatível com as outras pessoas, tinha de haver muitacomunicação.

C:Esteéumtemasobreoqualnuncafaleicoma minhafamíliaequeestoubastantereticenteemfalar, pois tenho a certeza que para eles eu estaria a apresentarummundodesconhecidoebastantenão normativo,oquetornariaestetópicomaisdifícilde discutircomeleseachoquenãoseriafácilparaelesde aceitar.

RUP:Comogerementresiarelação?Comoéquesedá início?Cadapessoaélivredeiniciarasrelaçõesque quiserouéalgodiscutidoentretodaagente?

RUP:Contasteàtuafamília?Sesim,comofoiareação?

C:Foialgocompletamentenovoecomoqualnão estava familiarizada, mas com a ajuda do meu parceiroquejátinhaalgumaexperiênciacomestetipo derelaçõesfoiuma“mudança”calmaecombastante comunicação.Foiumprocessode“transição”deuma mentalidademonogâmicaparaumapoliamorosaque nãosentiquefoidifícil,foiapenasumanovarealidade quecomeceiecontinuoaexplorar.

Senão,tencionascontar?Achasquereagiriambem?

RUP:Algumavezsentistediscriminação?Sentesquefoi bemaceitepelosteusamigos(casosaibam)?Alguémse afastou? C:Atéagoranãosentidiscriminaçãonemfuitratada demaneiradiferente,pelosmenospelaspessoasmais próximasdemim.

C:Apesardejáterumavagaideiasobreoqueeram relaçõespoliamorosas,(...)hápoucomaisdeumano conheciapessoacomquemfuicapazdeexploraresse tipoderelacionamentospelaprimeiravezecomaqual ainda mantenho uma relação poli. Quando nos começamosaconhecerestequestionoumesobreo que achava deste conceito (...). Com essa conversa fiqueiaperceberquenuncametinhaimaginadonuma relaçãodaquelegéneromasqueeraalgoqueestava abertaaexperimentareacabouporseralgoquefaz sentidoparamim.

C:Naminharelaçãoatualcadaumélivredeiniciar qualquerrelaçãoquequeira,noentanto,hásempre muitacomunicaçãoepartilhadeinformaçãosobreo queestáaacontecerforadonossorelacionamentoea qualquer momento podemos expressar como nos sentimos ou se algo nos deixou ou deixa desconfortável. Referências Barufi,L.(2021,August29).5sinaisdequevocêé

poliamoroso,deacordocomespecialistasRetrieved May 26, 2022, from https://wwwmetropolescom/colunas/poucave rgonha/5sinaisdequevoceepoliamorosode acordocomespecialistas Alves,B.(2020,November20).Poliamoréinerente aoserhumano?Sefor,poucostêmcoragemde praticar Retrieved May 26, 2022, from https://wwwuolcombr/vivabem/noticias/reda cao/2020/11/20/poliamoreumdesejointrinse co masnemtodostem.htm?next=0001H214U11N Perez,T.S.,&Palma,Y.(2018).AMARAMORES:O POLIAMORNACONTEMPORANEIDADE.Psicologia& Sociedade, 30(0). Retrieved from https://www.scielo.br/j/psoc/a/KgtGNbWYTB z8V3ZnFmYDHFj/?format=html&lang=pt Jankowiak,W,&Gerth,H (2012) CanYouLove More Than One Person at the Same Time? A Research Report. Anthropologica, 54(1), 95105. Retrieved from https://www.jstor.org/stable/24469619?seq=1 18 | CAROLINA MIRANDA & MÁRCIA COSTA

TestemunhoC(ela/dela,19,estudante)

RUP:Tivestedificuldadeemaceitar?

RUP:Quando e como descobriste? (Ou porquê?) Já conheciasoconceitodepoliamornaaltura?

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