Revista Universitária de Psicologia - Agosto 2020

Page 1

RUP REVISTA UNIVERSITÁRIA DE PSICOLOGIA

COVID-19 E A PSICOLOGIA

PAPEL DO PSICÓLOGO ORGANIZACIONAL EM CONTEXTO DE PANDEMIA

AGOSTO 2020

ENTREVISTA A TIAGO PEREIRA


Nota editorial De novo ao teu lado! Caros colegas estudantes de Psicologia, após uma interrupção de dois anos, a Revista Universitária de Psicologia está de regresso para acompanhar a vossa caminhada académica. Os mais avançados no seu percurso terão sentido a nossa falta, os que apenas agora dão os primeiros passos nesta nossa ciência dispõem da sua primeira oportunidade de nos descobrir. Esperemos que, qualquer que seja o caso em que se enquadrem, desfrutem desta publicação. É para o vosso proveito que a ela nos dedicamos. Com esta nova equipa virão novas edições, novas perspetivas e novas ideias, mas também uma ambição simples: ser uma ponte entre a Faculdade e o exterior. Permitir-vos entrar em contato com as novidades do campo científico, levar até vós a realidade da Psicologia por todo o país, ajudar-vos a compreender mais aprofundadamente como a nossa área do saber influencia o mundo. Buzz Aldrin dizia que «Marte está ali, à espera». Permitam-me que reformule as suas palavras para «o Conhecimento está ali, à espera». Da nossa parte, daremos o melhor para vos facilitar o acesso ao Conhecimento e proporcionar ferramentas para se desenvolverem como Psicólogos.

JOSÉ BAPTISTA


Administração

Administrador José Baptista

Dpt. Gestão Catarina Venda

Dpt. Revisão Cientifica Laura Mendes

Dpt. Editorial Rita Leite

Colaboradores Departamento Gestão Ana Cardoso, NPUÉ Margarida Farinha, PSICUBI

Colaboradores Departamento Editorial Ana Loureiro, AEFPCEUP Ana Mateus, NEPCESS-AAC Carlota Inês, AEFPCEUP Karen Moniz, AEFPCEUP Vítor Luz, AEFPCEUP

Colaboradores Departamento Revisão Científica Gonçalo Pereira, NEPCESS-AAC Inês Duarte, NEPCESS-AAC Isabel Moio, NEPCESS-AAC Joana Pereira, AEFPCEUP Paulla Amaral, NEPCESS-AAC Tatiana Matias, NPUÉ Yasmin Oliveira, AEFPCEUP


Índice NOTA DO EDITOR Nota editorial

02

ENTREVISTAS À conversa com Tiago Pereira

11

ARTIGOS Ser Psicólogo em Tempos de Pandemia 05 Teletrabalho

08

A Universidade não escolhe idades

19

Consequências da COVID na saúde mental

23

Será virtual a edição 2020 do ENEP

27

Estratégias face ao novo contexto de pandemia

29

Linha de Aconselhamento Psicológico no SNS24

31

O "novo normal" Inovações em Psicologia

33 35

CALENDÁRIO DE EVENTOS Calendário de Eventos

Aulas virtuais e muita incerteza

24

38


CATARINA VENDA

PÁGINA 5

SER PSICÓLOGO EM TEMPOS DE PANDEMIA Vivemos tempos estranhos, onde

Entre

estes

extremos,

existe

um

predomina a incerteza, o medo e a

espectro das mais variadas reações

perceção

possíveis.

de

falta

de

controlo.

Enquanto seres humanos, de um ponto

de

vista

psicológico,

O tema da saúde mental está na ordem

do

dia.

Fala-se

a

procuramos estar em controlo do

necessidade

ambiente que nos rodeia. É a nossa

psicológico,

concha,

derivado do contexto da pandemia,

uma

defendermos

forma de

de

perigos

nos e

de

salvaguardarmos a nossa integridade. A Pandemia veio demonstrar-nos a outra face desta moeda: como é estar fora

do

controlo.

Não

existem

respostas genéricas ou simplistas para como

devemos

experiência.

Cada

vivenciar um

esta

de

nós

responde de uma forma singular, procurando

adaptar-se

o

melhor

possível às exigências de uma nova realidade: houve quem passasse por um estado angustiante, ansiogénico e de

descompensação

enquanto

que

houve

psicológica, quem

não

sentisse grandes consequências ou alterações na sua vida quotidiana.

mas

não

poucos,

a

de

sobre

acompanhamento maioritariamente

só.

Reconhece-se,

imprescindibilidade

aos do

profissional de saúde mental. Não obstante, todos estes esforços são ainda

escassos

face

às

reais

necessidades da nossa população. Importa compreender e destruir a tendência de olhar para o Psicólogo exclusivamente em momentos de crise, entre outras crenças erróneas, apostando na promoção e prevenção de

saúde

mental

e

na

deteção

precoce de indícios sintomatológicos, de forma a prestar uma resposta efetiva e que trave a evolução do problema. De preferência,


PÁGINA 6

antes de ser necessário implementar

económica e social do país.

estratégias de intervenção que irão,

Neste contexto, abre-se a porta a

inevitavelmente, aumentar os gastos

um

do Serviço Nacional de Saúde.

intervenção, nomeadamente, com os

A

Ordem

dos

Psicólogos

momento

privilegiado

de

profissionais de saúde. Regra geral,

Portugueses reforça esta premissa,

quando

alertando para a urgência de a saúde

consequências

mental ter um lugar de destaque,

pandemia

enfatizando

direcionamento até estes indivíduos;

quer

o

impacto

se

fala

sobre

as

psicológicas

da

não

contudo,

pandemia

afirmar que momentos de stress e de

da

necessidade

de

isolamento social, mas também sobre

perigo

os

despoletar

desafios

reconstrução

posteriores

na

literatura

um

psicológico negativo em resultado da e

a

existe

eminente

permite-nos

podem

manifestações

psicológico, com maior

podem do

foro


PÁGINA 7

ou menor intensidade.

Por outro lado, é também uma

A intervenção do Psicólogo pode

mais

valia

na

facilitação

da

prevenir e atenuar um conjunto de

comunicação entre os utentes e as

consequências bem estudadas em

equipas

situações de exposição a um perigo

emocional dos profissionais de saúde

real de morte.

de

Diversos

estudos

demonstram profissional

como é

mais

desenvolvimento psicológicos,

esta

classe

suscetível

de

saúde

modo

a

e

estarem

na

gestão

disponíveis

emocionalmente para uma realização adequada das suas funções.

ao

Ressalva-se ainda a sua atuação na

problemas

preparação das equipas para lidar

e

com o comportamento humano fruto

Depressão, sendo também comum

da situação atual, i.e., o possível medo

sintomas psicossomáticos, tais como a

ou preocupação dos utentes face à

taquicardia.

de

sua saúde e à dos seus familiares, mas

acordo a um estudo epidemiológico

também devido à necessidade de

mais aprofundado sobre a saúde

ficarem

mental em Portugal, realizado entre

voluntário

2008-2009,

as

focalização e orientação de equipas de

Perturbações de Ansiedade (16,5%) e

trabalho multidisciplinares coesas e

de

cooperativas,

Humor

como

recentes

de

Estes

que (7,9%)

Ansiedade

dados

vão

revela como

as

mais

predominantes. O Psicólogo desempenha um papel fundamental na promoção de saúde dos técnicos e profissionais da sua

em ou

isolamento obrigatório

que

social e

na

assentem

sobretudo a competência de cada elemento e permita que todos sintam o seu trabalho e esforço valorizado. A saúde mental é uma prioridade

instituição, particularmente, através

para o Hoje. Não pode voltar a cair em

da identificação dos principais fatores

esquecimento

de stress nos serviços de saúde (e,

momento de crise. Além do papel

naturalmente, na deteção precoce

fulcral de políticas neste sentido, cada

desses indícios). O seu trabalho passa

um de nós enquanto estudantes de

também pela elaboração de

Psicologia pode (e deve!) ter um papel

estratégias que colmatem de forma

determinante

eficaz esses fatores de stress.

mudança.

até

neste

ao

próximo

processo

de


SARA FERNANDES

PÁGINA 8

TELETRABALHO Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o trabalho em home

office

atividade

é

uma

profissional

forma à

de

distância,

realizado num local que não seja um escritório central e que, com a ajuda das TIC (Tecnologias da Informação e da

Comunicação),

facilita

simultaneamente a separação física e a comunicação. Segundo a Eurostat, apenas 5% dos

de melhorar as soluções relâmpago

trabalhadores europeus trabalhavam

iniciais

habitualmente

obrigou. Inserida numa equipa de

desta

crise

à

distância,

pandémica.

antes

Face

à

gestão

a de

que

esta

pessoas,

situação a

nos

constante

pandemia e à semelhança de muitos

pesquisa a que esta situação me

outros

obrigou trouxe-me alguns insights

países,

Portugal

tornou

obrigatória a adoção do teletrabalho,

relevantes ao nível do colaborador.

durante o estado de emergência, para

Antes de refletir sobre as vantagens e

todas as funções que o permitissem.

desvantagens que este fenómeno nos

A realidade é que grande parte das

trouxe, é importante mencionar que

organizações

as

não

estavam

caraterísticas

pessoais

e

preparadas para assumir uma política

situacionais de cada um influenciam o

de teletrabalho a full-time, que requer

modo

procedimentos e políticas muito bem

reagimos perante esta situação. Se

definidos à priori. No meu caso, pude

para uns o teletrabalho abriu um mar

assistir e participar num trabalho

de possibilidades, para outros trouxe

constante no sentido

inúmeros tormentos.

como

interpretamos

e


PÁGINA 9

O contacto social diminui, pelo que

" APENAS 5% DOS TRABALHADORES EUROPEUS TRABALHAVAM HABITUALMENTE À DISTÂNCIA, ANTES DESTA CRISE PANDÉMICA."

alguns poderão começar a sentir-se desconectados

dos

colegas

e

da

própria empresa. No meu caso, nunca me senti distante dos meus colegas. Todos os dias falamos e vemo-nos por videoconferência, temos espaço para momentos de conversa informal e a comunicação flui de forma muito eficaz. O único efeito menos positivo que senti foi a criatividade não fluir da mesma forma, por não haver tanto espaço

para

brainstorming

ou

conversas de circunstância que, por Efetivamente, no meu caso, as

vezes,

desbloqueiam

maiores vantagens que o teletrabalho

instantaneamente determinada ideia.

sustenta são o tempo, a possibilidade

No escritório, há conversas de ocasião,

de uma melhor conciliação entre a

no corredor, no almoço, na pausa para

vida

café,

pessoal

e

profissional

aumento

substancial

produtividade.

No

e

o da

entanto,

para

que

resolvem

inúmeros

problemas ou geram ideias, o que acaba por se perder virtualmente. É, portanto, relevante, investir em

algumas pessoas, a conjugação do espaço de trabalho e descanso no

políticas

mesmo lugar pode trazer, a longo

combater os efeitos negativos do

prazo,

bastante

teletrabalho, avaliar todas as suas

nefastas e prejudicar a identificação

nuances e possibilidades, perceber de

das fronteiras entre os dois universos.

que modo e formato, no futuro, pode

Para além disso, para aqueles que

ser

vivem

grandes

empresa. É, sobretudo, importante

prende-se

atender às necessidades individuais

algum

dos colaboradores, compreender o

consequências

sozinhos,

um

dos

inconvenientes inevitavelmente isolamento.

com

e

estratégias

implementado

impacto

na

que

visem

cultura

da


PAGE 15

que esta situação poderá trazer a

mais diversificada, que não necessita

cada um, encontrar estratégias e

de deixar os seus locais de habitação

soluções para melhorar o seu bem-

para

estar.

oportunidades. E esta é a meu ver,

Para

além

disso,

devemos

ter

determinadas

uma

e/ou

teletrabalho nos abre: o acesso a um

regime.

funcionam

Alguns,

efetivamente

neste

necessitam

de

trabalhar

diariamente num espaço físico para que o seu bem-estar psicológico não seja prejudicado. Por fim, perante uma contingência distópica, nesta estranha ordem das coisas que é uma pandemia, espantame a nossa incrível capacidade de adaptação, recriação e homeostasia, como

descreve

Damásio.

Debruçando-me sobre o impacto que esta situação trouxe para o presente e futuro

do

acelerou

trabalho,

a

pandemia

substancialmente

uma

mudança de paradigma que já estava a acontecer. Estou convicta de que o teletrabalho chegou para ficar e de que o escritório do futuro assumirá formatos e significados diferentes dos de hoje. Efetivamente, caminhamos para

uma

maior

flexibilidade,

globalidade e abertura de fronteiras, o que nos traz inúmeros benefícios, nomeadamente ao nível de uma força de trabalho

maiores

a

perceber que nem todas as funções pessoas

das

acesso

portas

espetro maior de talento.

que

o


JOSÉ BAPTISTA & CATARINA VENDA

PÁGINA 11

À CONVERSA COM TIAGO PEREIRA Formado na Universidade de Évora, Tiago Pereira é o Chefe de Gabinete do Bastonário da Ordem dos Psicólogos. Durante a pandemia causada pelo coronavírus, assumiu a Coordenação do Gabinete de Crise COVID-19 da OPP, liderando uma forte resposta da Ordem aos desafios trazidos

por

esta

situação

de

instabilidade social. Revista Universitária de Psicologia (RUP): Comecemos pela resposta pronta da Ordem dos Psicólogos à pandemia, que com muita rapidez criou um Gabinete de Crise. Como conseguiram fazê-lo de forma tão célere e quais os principais objetivos deste gabinete? Tiago Pereira (TP): A Ordem acompanhou desde muito cedo a evolução deste vírus, já desde antes dele chegar a Portugal. Fizemos parte de um grupo de trabalho com a Direção Geral de Saúde, ainda antes dos primeiros casos chegarem a Portugal, que pretendia estruturar uma resposta relativamente à comunicação em crise que os decisores políticos deveriam ter com a população, uma área em que a ciência psicológica é muito importante. O participarmos nesse grupo de trabalho fez com que acompanhessemos de muito próximo a evolução da pandemia. O que fizemos na Ordem, tendo consciência que o papel dela também teria

alguma relevância por um contributo, ainda que singelo, para a sociedade civil, foi, ainda antes do Estado de Emergência ser declarado, prepararmos a nossa organização para protegermos a nossa equipa, assegurando que todos os colaboradores em teletrabalho podiam continuar a trabalhar com as devidas condições, e garantir toda a resposta que a Ordem dos Psicólogos presta aos seus membros. Fechamos as nossas instalações e criou-se um Gabinete de Crise, que veio permitir outra flexibilidade nos recursos, permitindo reforçar algumas áreas, nomeadamente, com a criação de uma task force para a criação de conteúdos técnico-científicos mais centrados na literacia e que muito rapidamente começou a produzir um conjunto de conteúdos para a população, bem como outras estruturações que permitiram que estivessemos muito próximos da sociedade civil e de organizações com poder de decisão como a DGS ou o Ministério Saúde. Portanto, o Gabinete de Crise proporcionou essa flexibilização de recursos e deu-nos outras condições de resposta.


PÁGINA 12

Muito mereceu o trabalho de muito gente na nossa organização e creio que a nossa resposta foi muito rápida, o que nos permitiu um posicionamento estratégico de grande confiança junto dos decisores e também da sociedade civil e estarmos muito participativos nas primeiras semanas em comunicação social, em literacia, na resposta e apoio aos próprios membros em atividades formativas, na garantia de maior conhecimento sobre a situação que estávamos a viver, criando um sistema de perguntas e respostas, criando um mecanismo de apoio à investigação científica, criando inúmeros fóruns de autocuidado e de apoio e também criando um conjunto de ferramentas para a prática, que creio que foram muito úteis. Foi esse o objetivo, ter esse posicionamento estratégico, quer junto dos membros, mantento a atividade da Ordem e garantindo mais ferramentas para a prática, quer junto da sociedade civil, garantindo mais literacia relativamente à situação que estávamos a viver. Depois, também houve algumas respostas específicas que se vieram a criar, como o reforço da linha de informação do SNS 24 e a Linha de Apoio Psicológico do SNS 24, que teve também um contributo nosso, e uma presença muito forte junto dos decisores, avaliando os pontos daquilo que foi sendo a resposta no país. RUP: Ainda na parte da resposta da Ordem, um ponto muito importante para os nossos leitores é a questão das adaptações que foram feitas quanto ao Ano Profissional Júnior. Como foi gerido esse tema? TP: O primeiro e fundamental ponto quando começamos a preparar

a transição para um novo registo de trabalho era de que todas as nossas atribuições e todos os nossos contributos para os membros se mantinham e aconteciam exatamente da mesma forma. De facto, não houve queda das respostas e procurou-se criar ao nível do Ano Profissional Júnior alguns apoios. Foi criado um fórum, alguns webinars mais centrados nesta área e um conjunto de respostas mais específicas, que acabaram também por levar à constituição de um modelo diferente da Academia OPP enquanto projeto que apoia o processo de transição do estudante para a prática profissional. Há um outro trabalho, que muitas vezes não é tão explícito, de que toda a ação e iniciativa que a Ordem teve ao longo deste período, de afirmação dos contributos da Psicologia em diferentes áreas, acaba também por, a médio-longo prazo, reverter algumas dificuldades que houve neste período para que se iniciassem alguns Anos Profissionais Júnior. Nesta dialética de ganhos e perdas, há perdas em muitos pontos, mas há também um crescente reconhecimento da Psicologia. Queria ainda focar mais um ponto. Foi procurado para quem estava a realizar o Ano Profissional Júnior, tal como naquela que era a prática mais comum dos psicólogos, criar instrumentos que suportassem, por exemplo, questões de intervenção à distância, ou seja, foram criados webinars e documentos de apoio, saiu uma linha de orientações para a prática profissional neste formato e procurou-se criar um conjunto de mecanismos que assegurassem não apenas que a resposta continuava a ser dada, num momento de maior vulnerabilidade daqueles que são os destinatários diretos e indiretos da intervenção psicológica, mas,


PÁGINA 13

ao mesmo tempo, um reconhecimento de que as práticas assentavam na evidência científica. Aliás, um exemplo mais concreto é que, a certa altura, fomos questionados se a atribuição de alguns apoios e subsídios poderia continuar reconhecida com as intervenções à distância e a Ordem sempre teve uma atitude de demostrar que, de acordo com a evidência científica, essas intervenções podem ser tão eficazes como as presenciais, mediante um conjunto de orientações e com cuidados éticos e deontológicos, e que eram as intervenções mais adequadas a esta situação, quer fossem intervenções mediadas por plataformas como o zoom, quer fossem via telefone, como é o caso da Linha de Apoio Psicológico do SNS 24. De facto, esta linha é a primeira vez em Portugal que há acesso do cidadão a um Psicólogo 24 horas por dia, sete dias por semana, só porque o cidação sente que pode precisar. Esta intervenção de aconselhamento psicológico é um momento breve, baseada em evidência científica de que, em momentos de adversidade como aquele que vivemos, alguém que está a viver um momento que lhe gera uma ansiedade mais significativa ou um stress mais significativo, pode ligar para a linha e do outro lado estará alguém que ajudará a dar algum sentido aquilo que a pessoa está a sentir e ajudar a que a pessoa possa mobilizar alguns recursos internos e externos para se adaptar à situação e a poder ultrapassar. Esta intervenção não resolve todos os problemas, mas é aconselhada no momento. Até porque permite que o profissional perceba se aquela situação é adequada para um aconselhamento breve ou, nos casos em que não o é, fazer o encaminhamento direto para o INEM ou até encaminhamentos futuros

para outras respostas do SNS de acompanhamento mais prolongado. E estamos a falar de uma linha que, desde o dia 1 de abril, já teve mais de 25 mil chamadas. RUP: A Linha de Apoio Psicológico no SNS 24 só surgiu com a pandemia. Há garantias governativas de que será para manter? TP: Eu preferia não usar a expressão garantias governativas. Há, e isso já foi manifestado publicamente, a intenção dos responsáveis de manterem a linha. Do ponto de vista da Ordem, defendemos que a linha, tendo surgido no contexto da Covid, que acelerou a necessidade, faz todo o sentido. É uma linha de resposta a situações de adversidade e nós vivemos uma situação de adversidade com a pandemia, mas também vivemos uma situação de adversidade quando caímos numa situação de desemprego ou perdemos uma pessoa próxima ou uma expectativa que tínhamos criado não se cumpre. A adversidade é uma constante da nossa vida, que agora está acrescida, e a linha tem todo o fundamento para que se mantenha. Nós temos no SNS 24 uma estrutura reconhecida internacionalmente enquanto triagem de elementos da saúde física, mas até a OMS não esgota a definição de saúde na saúde física e a Linha de Apoio Psicológico vem fechar este ciclo entre a saúde física e a psicológica relativamente às necessidades das pessoas. Nós defendemos a sua continuidade e cremos que há intenção para que isso aconteça, mas estamos a aguardar. Neste momento mantém-se ainda ativa a propósito


PÁGINA 14

do protocolo que foi constituido entre os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, a Ordem dos Psicólogos e a Fundação Calouste Gulbenkian, que neste momento está a financiar este período da linha. RUP: Nesse âmbito da criação de instrumentos no SNS, já vem de trás a reivindicação da Ordem sobre a falta de Psicólogos no SNS. Com a pandemia, quer na resposta dada aos profissionais de saúde, quer com os doentes, que muitas vezes sofrem de algum estigma ou culpabilização, torna-se ainda mais evidente a falta de Psicólogos no SNS? TP: Torna-se ainda mais evidente no sentido em que o nível de necessidade cresce, porque a falta de Psicólogos no SNS é evidente para todos. Ninguém discute a necessidade do reforço de Psicólogos e alguns passos, ainda muito ténues, têm sido dados nesse sentido, nomeadamente como a abertura de um concurso, que teve muitas candidaturas e tem tido muitos problemas para ser cumprido, mas que é o primeiro concurso em mais de duas décadas para o SNS e em específico para os cuidados de saúde primária. Agora, a covid não é exatamente como a queda da ponte de Entre-os-Rios ou os incêndios de Pedrogão Grande, situações de catástrofe muito intensas, que têm um dia e que aquelas populações se lembram daquela dia e são situações em que as intervenções têm de ser muito contingentes. Na Covid, não há propriamente uma situação de catástrofe, há uma situação de crise, em que o impacto se estende ao longo do tempo. E o que a evidência científica

que existe diz sobre situações análogas é que há uma grande percentagem de pessoas que, se conseguirem mobilizar recursos na área da literacia e do auto-cuidado, como manter rotinas, ter cuidado com a alimentação, ter atividades de lazer, ou seja, se mantiverem um conjunto destas rotinas, poderão adaptar-se a esta situação e ultrapassá-la. Isto destaca o papel fundamental da literacia, de garantir um maior conhecimento às populações daquilo que elas podem observar e mobilizar em si para responder às situações que estão a viver. É um papel essencial e que se faz pouco em Portugal, porque há muito poucos psicólogos e, normalmente, estão destacados para intervir em situações de fim de linha e não nestas áreas preventivas. É algo que penso que vai mudar - ou pode mudar - com esta situação que vivemos. Um segundo ponto tem a ver com as linhas de apoio com uma intervenção mais breve e mais contingente à situação. Objetivamente, há pessoas para quem o autocuidado não é suficiente e, por vezes, com uma intervenção com um psicólogo é possível ajudá-los em poucas sessões a desenvolverem recursos para não desenvolverem ou agravarem uma perturbação. Portanto, esta intervenção é muito aconselhada e temos defendido insistentemente junto do Ministério da Saúde para se mobilizar os recursos que possam existir para o reforço dos Psicólogos em contexto de proximidade. Porque, se isso não acontecer, o que a evidência científica mostra é que 2 a 3% das pessoas virão a desenvolver uma perturbação mais significativa, que trará muito sofrimento às pessoas e às famílias. Nestes casos, a intervenção, além de ter mais dificuldades em ser eficaz, é muito mais costosa. E, se estivermos a falar de


PÁGINA 15

2% da população, estamos a falar de dezenas de milhares de pessoas e, sabendo do impacto que uma perturbação destas tem em termos familiares, vemos este número multiplicar. Por isso, é importante que esta resposta seja contigente. RUP: Fugindo um pouco dos problemas da sociedade em geral para os problemas dos Psicólogos, das reações que certamente vão chegando à Ordem e do contacto com os Psicólogos, que impacto é que a pandemia teve nos Psicólogos, quer a nível da sua própria saúde mental, quer na sua sustentabilidade económica pessoal? TP: Antes de ir a esses pontos, creio que há algo que temos de valorizar. A nossa ciência é muito procurada por pessoas que têm vontade de se conhecerem e de perceberem porque tomamos certas decisões, mas que têm também capacidade para uma leitura muito empática daquilo que está à volta e há uma dimensão de ajuda ainda muito presente e assistimos a uma resposta a esta pandemia com um sentimento de propósito muito forte na nossa profissão. Há uma frase de Goethe que gosto muito, “Há pessoas que nunca se perdem, porque nunca se põem ao caminho”. E os Psicólogos colocaram-se ao caminho e assumiram cinco compromissos que gostava de destacar. Desde logo, uma dimensão ética muito forte. A maior parte dos Psicólogos mobilizou-se para as intervenções que estavam a realizar serem continuadas, por vezes com muita dificuldade. Organizaram-se para, usando as tecnologias e a partir de casa, manter a proximidade e o acompanhamento de pessoas

num momento em que elas mais precisavam. Foi, provavelmente, o momento em que mais pessoas procuraram a Ordem para terem informação e formação. Nos meses de março e abril, houve 10 mil Psicólogos a inscreverem-se para formação na Ordem. Dá para ver a ordem de grandeza em como se mobilizaram para ir à procura de ferramentas. Houve uma participação intensíssima para procurar dar a melhor resposta possível e isso tem uma forte conotação ética. Um segundo compromisso foi com a ciência. Houve um conjunto significativo de Psicólogos que, para combater a desinformação, se mobilizaram para prestar informações à população. Criamos também um pequeno mecanismo de apoio na Ordem para a investigação e teve quase cem investigações em poucas semanas, uma grande mobilização do ponto de vista científico para sabermos mais daquilo que estava a acontecer e para nos ajudar a preparar melhor a resposta. Um terceiro compromisso foi, como já falei, com formação. Muito rapidamente se mobilizaram para ir buscar novas respostas. E um quarto compromisso com as necessidades das pessoas. Abrimos o primeiro pedido para a linha SNS 24 e, em 24 horas, houve 800 psicólogos a dizerem que estavam disponíveis. Houve dezenas e dezenas de psicólogos em linhas de apoio de autarquias, de IPSS, de universidades,… Houve mais de 500 pessoas que se inscreveram como agentes OPP de comportamentos pró-sociais e pró-saúde e distribuiram e discutiram os documentos da Ordem. Finalmente, houve um compromisso grande com a literacia em saúde psicológica. Acho que nunca se falou tanto de Psicologia, de emoções, do que as pessoas estavam a vivenciar.


PÁGINA 16

Os Psicólogos escreveram, contaram histórias, estiveram na comunicação social em peso, partilharam documentos,… Houve uma mobilização para dar significado ao que as pessoas estavam a passar. Houve também muitas dificuldades, não tenho dúvida. E nós procuramos também estar próximos com algumas medidas de apoio. Por exemplo, a formação passou a ser gratuita. Tentamos perceber o impacto numa profissão que mantém uma precariedade muito significativa. Não é sempre fácil em Portugal um cidadão que precisa de alguma intervenção na área da Psicologia aceder-lhe. A resposta é dada principalmente num contexto privado, portanto, não acessível a todos. Ainda para mais, em Portugal ainda há pouca integração nos seguros de saúde da intervenção psicológica e isso cria inequidades muito grandes. Ainda assim, a evidência da ciência psicológica diz-nos que vivemos estes períodos de forma mais adaptativa se houver um propósito para a nossa intervenção e penso que, na comunidade dos Psicólogos, houve um propósito na sua intervenção e houve reconhecimento. Relativamente à sustentabilidade, sabemos que, além da pandemia, viveremos uma crise económica com algum significado e isso impactará em alguns Psicólogos. Mas, o que temos assistido e visão estratégica que foi apresentada pelo governo destaca um papel importante para os Psicólogos nos próximos anos, porque destaca questões da capacidade de adaptação, do desenvolvimento de competências, da formação, tudo áreas em que a Psicologia terá um papel preponderante. Foi anunciado um reforço na área da saúde, foi anunciado um reforço

na área da educação, estão a decorrer conversações para um reforço na área das IPSS e das ERPI, portanto, há áreas em que a participação dos Psicólogos crescerá e haverá uma outra legitimidade para a sua atuação, a propósito de um reconhecimento crescente da Psicologia enquanto ciência do comportamento. Comportamento este que é fundamental nos principais desafios societais que vivemos, não só a Covid, mas também as migrações, a demografia, a crise climática,… Sou bastante otimista, mas gosto de juntar ao otimismo um bom realismo e estou certo que alguns Psicólogos passarão dificuldades neste período, mas estou certo também que será um período de alguma afirmação da Psicologia e que a médio-longo prazo isso trará um papel crescente para os psicólogos. RUP: Há uma certa tendência de olhar para os Psicólogos nos momentos de crise, como se não viessem à tona durante todo o outro período, mas nos momentos de crise são os primeiros a quem se recorre. Como é que podemos reverter esta tendência? TP: Creio que isso é algo que tenderá a alterar-se, ou seja, observo que está a acontecer um crescimento do reconhecimento do papel e da amplitude do trabalho dos Psicólogos. Dou um exemplo concreto, a área da saúde pública. Historicamente, em Portugal não tem participação dos Psicólogos, é feita maioritariamente por médicos e depois outros profissionais. Penso que desta pandemia resultará a necessidade clara de envolver mais os Psicólogos. Até porque, reparem, o conjunto de medidas iniciais para a não


PÁGINA 17

propagação do vírus assentavam todas em questões do comportamento das pessoas. Um segundo ponto que penso ser cada vez mais claro para todos, e esta pandemia também ajuda a demonstrar isso, é que a informação é importante, mas a informação é insuficiente. Todos conhecemos aquelas frases de que “há pessoas muito inteligentes que fazem coisas muito pouco inteligentes” e fazem-no porque a informação não é tudo. Há uma dimensão de tomada de decisão. Podemos ver isso nos Estados Unidos da América. São um dos países que produz mais conhecimento e eu questiono algumas decisões que são tomadas. E não é por uma questão de falta de conhecimento, é por ideologia, por emoções, por um conjunto de fenómenos, como até a idade, que influenciam o processo de decisão. A Psicologia permite que afinemos melhor a informação, permite dizer que a informação não pode ser dada igual para todos os grupos, porque ela não produzirá os mesmos efeitos, permitenos melhorar a comunicação percebendo melhor o impacto dos estados emocionais. Aliás, o primeiro reforço da linha SNS 24 era uma linha de informação, ou seja, não era exclusiva de Psicólogos. E os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, do meu ponto de vista de forma inteligente, quiseram Psicólogos porque entendiam que, além de dar a informação tão bem quanto os outros, conseguiam dá-la adaptando a informação ao estado emocional da pessoa. Depois, uma dimensão de testagem. Os Psicólogos também oferecem um rigor científico em componentes de testagem que poderão começar a acontecer e implementar, em lógicas como a ideia do nudge

ou do paternalismo libertário do Richard Thaler, que é a ideia de que poderemos criar determinados estímulos e mecanismos de contexto que ajudem as pessoas a ter determinados comportamentos. Para o futuro também se perceberá melhor que nas retomas ao nível da educação e formação, as competências que os Psicólogos podem desenvolver são muito importantes. Esta situação traz uma oportunidade de se olhar para o Psicólogo não apenas no fim da linha, quando a doença está instalada e num contexto de saúde, mas como um profissional próximo nos diversos contextos onde a pessoa se desenvolve e interage. RUP: Existe alguma previsão de trabalhar com os Psicólogos no sentido de evitar as consequências psicológicas que a pandemia lhes vai inevitavelmente trazer, quer seja por motivos pessoais quer por motivos profissionais? TP: Sim, essa intenção existe desde o início da constituição do Gabinete de Crise. Adotou-se um conjunto de medidas internas para a profissão, como a disponibilização gratuita de materiais, ou disponibilização de um fórum do autocuidado e há um conjunto de medidas que vão continuar a acontecer. Desde há algumas semanas, há a reconversão de uma iniciativa que a Ordem tinha, a “Trilhos da Psicologia”, de acompanhamento dos Psicólogos no seu local de trabalho e que passou para um contexto virtual, mas já está a ser desenvolvida para percebermos no terreno que apoio é preciso que seja dado. Há um conjunto de linhas orientadoras para a prática profissional que estão a sair e vão também sair orientações para os processos de intervisão e supervisão. Isto não resolve todos os problemas,


PÁGINA 18

mas são mecanismos que a Ordem está a desenvolver para procurar apoiar neste momento. RUP: Por fim, quais são as novas oportunidades poderemos ver no campo da Psicologia? TP: Creio que uma perceção mais concreta das questões do comportamento e tomada de decisão juntos dos decisores, e em particular dos decisores políticos, abre um manancial muito importante para haver maior intervenção dos Psicólogos no desenho e implementação de políticas públicas. Depois, tudo o que são áreas de trabalho de maior vulnerabilidade e incerteza, como contextos de saúde, educação, de violências,… vão ter uma expansão nos próximos tempos. As questões que o teletrabalho vem trazer e o acrescento de riscos psicossociais, nomeadamente de stress e potencial burnout, trazem maior importância para intervir nestes riscos. Processos de algum desemprego e reconversão profissional serão também oportunidades de estabelecer e desenvolver outro tipo de competências junto da população. Já estavamos a viver uma mudança de paradigma, que estava a trazer os Psicólogos do fim de linha para outros desafios societais como o trabalho junto da população migrante, o trabalho nas questões de demografia, de bem estar de primeira linha… Do meu ponto de vista, integrase numa ideia do Psicólogo como uma profissão mais prevalente nos desafios societais e que a Covid é apenas mais um. Era um mecanismo que já estava a acontecer, com mais Psicólogos a trabalhar nas insituições, em proximidade, com Câmaras Municipais a

a contratarem Psicólogos para trabalharem até nos desenhos dos territórios em intervenções geradoras de inclusão. Vai continuar a assistir-se a um maior e crescente reconhecimento e o papel dos Psicólogos será mais legitimado. Nós tínhamos previsto para este ano realizar o V Congresso da Ordem e o lema era “O Tempo da Psicologia” e nós já sentíamos que era o tempo da Psicologia e que as coisas se estavam a alterar. Sentimos que estamos num tempo em que a Psicologia está mais valorizada e esta pandemia só vem reforçar essa matéria, da importância do comportamento, da tomada de decisão e da relação de sermos capazes de olhar o outro e conjutamente. RUP: E também para ajudar a desmistificar a área da Psicologia. TP: Esse é um ponto muito importante. De facto, este crescente falar da Psicologia vem diminuir o estigma associado, porque mais pessoas conhecem outras pessoas que tiveram contatos com o conhecimento ou com os profissionais. Não é algo que esteja a acontecer só agora, creio que o estigma tem vindo a diminuir desde há muito, mas falar-se mais e compreender-se um pouco melhor acaba por tirar algum estigma que ainda era bloqueador - e ainda é, na verdade - no acesso de algumas pessoas.


LAURA MENDES

PÁGINA 19

A UNIVERSIDADE NÃO ESCOLHE IDADES NEM PERCURSOS

Quem disse que a Universidade é só para jovens adolescentes? Quem

frequentou

b.

Profissionais

que

pretendem

transformar os seus conhecimentos e um

competências;

Universidade sabe que é comum

c.

encontrar aquilo que na literatura se

numa educação de nível superior;

chama

d.

de

estudantes

"adultos”.

Desempregados População

que

ativa

que

Podemos defini-los como estudantes

aprofundar conhecimentos;

que concorrem ao Ensino Superior

e. Indivíduos reformados.

apostam pretende

(ES) com idades acima dos 23 anos e

Desde 1960 que as Universidades

não seguem um percurso curricular

recebem estudantes adultos a partir

tradicional como é o caso dos jovens

do

adolescentes

ingressam

Declaração de Lisboa (2000) e da

diretamente no ES após o término do

definição das metas a alcançar para

Ensino Secundário. Para quem detém

atingir o grau de certificação da

a crença de que a Universidade é só

População

para

investiram em políticas atratoras do

jovens

que

adolescentes,

pode

exame

ad-hoc.

Europeia,

vários

países

público

objetivo deste texto é precisamente

Mais tarde, em 2006, o processo

salientar

“Maiores de 23 anos” lançado pelo

frequência tradicional” portuguesas,

“normalidade” do

estudante

nas

da “não

Universidades

combater

Ministério

da

às

da

parecer novidade, mas não é. O a

alternativo

Depois

Faculdades.

Educação,

onde

se

estabeleceram condições especiais de

mitos

acesso ao ES para estudantes com

preconceituosos e contribuir para a

mais de 23 anos independentemente

clarificação da sua definição.

das habilitações académicas, também

Podemos estar a falar de: a. Estudantes adultos com percursos formativos não regulares;

contribuiu

para

o

aumento

estudantes adultos nas faculdades.

de


PÁGINA 20

O que motiva a decisão destas

com integração social. O que se

pessoas varia entre o histórico de

pretende é que estes perfis, não

educação e fatores socio-económicos

suscetíveis

de cada país. Segundo o Mathew

constituam

Effect,

estudantes adultos.

a

depende

procura do

pela

nível

educação

médio

de exemplos

generalização, práticos

de

de

escolaridade da população em geral de uma determinada sociedade. Ou seja, quanto maior o nível geral de escolarização, maior o interesse na população na formação escolar ou universitária.

Em

considerar-se

Portugal,

que

o

pode

nível

de

escolaridade baixo e as dificuldades financeiras generalizadas das famílias portuguesas,

bem

financiamento

como

precário ajuda

das

Universidades

não

Contudo,

comportamento

o

o

à

festa. da

população contraria as expectativas pelo

que

contínuo

se

pode

aumento

perceber

no

progressivo

da

frequência de estudantes adultos no ES. A RUP falou com alguns estudantes adultos e fez algumas perguntas. Destes contatos reunimos os perfis apresentados

abaixo

exemplificação características

a

de do

perfil

título

de

algumas

Porque decidi estudar Psicologia? Para além do meu gosto pela aprendizagem e o meu interesse em expandir as minhas competências e atributos curriculares, ao longo da minha carreira contactei com áreas relacionadas com a Psicologia, pelas quais desenvolvi grande interesse.

pessoal,

académico e profissional e ainda de desafios relacionados

Quem sou? Tenho 37 anos e sou Técnica Especializada em Orientação, Reconhecimento e Validação de Competências num Centro de Qualificações de uma entidade pública. Doutorada em Ciências da Educação e frequento atualmente o Mestrado Integrado de Psicologia da Universidade de Coimbra, do qual já terminei a licenciatura. Desempenhei funções como Professora Auxiliar e Convidada na mesma instituição.

Como me adaptei académica e socialmente? A adaptação social foi bem-sucedida. Detenho relações de amizade com


PÁGINA 21

os professores e quanto à relação com colegas também, apesar de não conseguir estar sempre presente nas aulas devido à minha ocupação profissional. Académicamente, lidar com um sistema de avaliação tão expositivo e mecanicista, baseado na memorização e debitação de conteúdos foi difícil, pois o meu método pessoal de estudo baseia-se na elaboração mental, compreensão, inter-relacionamento entre conteúdos e reflexão crítica.

Como foi a minha adaptação a nível social e académico? Socialmente, os desafios são maiores porque, devido ao meu emprego, não consigo estar sempre presente nas aulas, algo que também afetou a minha adaptação académica por interferir com o processo de aprendizagem. Por outro lado, senti o método de avaliação e ensino mais facilitista e os professores mais compreensivos e acessíveis.

Quem sou? Tenho 51 anos e dois filhos adolescentes. Sou licenciada em Sociologia e Assistente Técnica numa entidade pública. Antes desta função fui formadora de adultos e empresária no setor imobiliário e de restauração.

Quem sou? Tenho 46 anos, sou Licenciado em Professores do Ensino Básico e 2º Ciclo Variante de Educação Física e atualmente sou docente no Concelho de Almada. Já lecionei em várias instituições escolares pelo país fora e concluí o Curso de Especialização de Educação Especial no domínio cognitivo e motor oferecido pela Universidade de Évora. Ao mesmo tempo que trabalho, frequento a Licenciatura em Psicologia na mesma instituição.

Porque decidi estudar Psicologia? Estudar Psicologia sempre esteve nos meus planos e só me foi possível quando o meu filho mais novo decidiu viver com o pai. Sempre tive gosto em aprender e reter novos conhecimentos e, mais relacionado com a área da Psicologia, tenho a capacidade de sentir empatia pelos outros, de querer entendê-los e ajudá-los. Pretendo seguir Psicologia Clínica.

Porque decidi estudar Psicologia? Decidi estudar Psicologia porque me fornece competências para a análise do comportamento humano e a encontrar as melhores estratégias para ultrapassar as dificuldades


PÁGINA 22

sobretudo de comportamento e aprendizagem. Como foi a minha adaptação a nível social e académico? Socialmente, a minha adaptação foi bemsucedida relativamente a professores, colegas e funcionários da Universidade, bem como aos conteúdos curriculares e à metodologia e avaliação. Em suma, sinto-me bastante satisfeito com a minha escolha

Num estudo de Quintas et. al, as principais motivações para o ingresso no ES rondam aspetos pessoais, de procura

de

conhecimento

correspondente a interesses pessoais, concretizar sonho

projeto

antigo,

e

inacabado

ou

aumento

do

rendimento. Neste estudo, os motivos profissionais tiveram pouca expressão por se tratar de indivíduos com uma carreira profissional já robusta e no seu pico, em que alguns já estavam aposentados. A alteração das rotinas familiares e uma gestão muito rigorosa do tempo são imposições que a entrada no ES coloca estes estudantes para que conciliem a vida familiar e os estudos, sem que a primeira seja afetada e para que a segunda seja concluída com sucesso. Há muita coisa em jogo e importa

continuar a assumir responsabilidades que não podem ser descartadas e contrair outras que envolvem um elevado investimento, tanto pessoal como financeiro.


RITA LEITE

PÁGINA 23

CONSEQUÊNCIAS DA COVID NA SAÚDE MENTAL A quarentena profilática, associada

Refiro-me às dificuldades económicas

à pandemia COVID-19, originou uma

decorrentes desta pandemia e ao

série de riscos para a saúde mental.

aumento do desemprego, associadas

Se é verdade que o isolamento foi

a

importante para proteger a nossa

mental.

um

deterioramento

da

saúde

saúde física, impedindo o contágio

É ainda necessário que se faça

pelo vírus, também é verdade que

referência à maneira como está a ser

quanto mais tempo isolados, maiores

feito

os

doenças

morreram. Por causa das medidas de

que

segurança

riscos

de

psicológicas.

sofrermos Sabemos

quarentena

pode

quantidade

enorme

psicopatológicos, humor

luto e

das

pessoas

saúde

pública,

que as

uma

cerimónias fúnebres foram realizadas

sintomas

quase sem pessoas. Muitos familiares

designadamente,

e amigos viram-se privados de se

deprimido,

gerar

a

o

de

irritabilidade,

despedir dos seus entes queridos.

ansiedade, medo, raiva e insónia.

Deste modo, os habituais abraços não

Além

tiveram lugar, o que acarreta um

disso,

consequências

a

identificam-se longo

prazo

na

saúde mental. Após a quarentena, verificou-se um aumento no consumo

enorme sofrimento para aqueles que viram os seu partir. Em suma, viveram-se tempos

de álcool, sintomas de perturbação de

estranhos,

stress pós-traumático e depressão.

Certamente, largos anos terão que

Para além do stress associado ao

passar

receio de contrair a doença, existem

compreenda o impacto da pandemia

ainda outros fatores que aumentam a

COVID-19 na saúde mental.

vulnerabilidade individual durante e após a quarentena.

carregados

antes

que

de

se

dúvidas.

realmente


JOSÉ BAPTISTA

PÁGINA 24

AULAS VIRTUAIS E MUITA INCERTEZA A REALIDADE ACADÉMICA NA PANDEMIA

Confinados às suas casas durante a

Nas aulas teóricas, quase metade

pandemia causada pelo SARS-CoV-2,

das

os estudantes viram-se confrontados

métodos são adequados, mas o caso

com uma nova realidade académica,

muda de figura com as aulas práticas,

que incluiu aulas e avaliações à

em

distância.

estudantes tem essa mesma opinião

Um inquérito da Associação

respostas

que

indicam

apenas

um

que

terço

os

dos

e mais de 40% considera que os meios

Nacional de Estudantes de Psicologia

encontrados não são adequados.

(ANEP) a que responderam mais de

João Alves, finalista da Licenciatura

500 alunos pinta um cenário desigual

em Psicologia na Universidade do

nas

a

Minho, vai de encontro a esta visão

esmagadora maioria das respostas

assegurando que “a adaptação ao

indica que a videoconferência e a

ensino virtual foi relativamente mais

partilha de slides foram os principais

fácil do que aquilo que esperava, pois

meios

no

atividades

a

que

letivas.

os

Se

professores

segundo

semestre

possuía

nenhuma

recorreram tanto para aulas teóricas

cadeira

algum

como para aulas práticas, a opinião

atividade

dos alunos quanto

Torres, aluna do primeiro ano do

à adequações dos meios utilizados é

Mestrado Integrado em Psicologia na

bem distinta.

Universidade

do

admite

“até

prática”.

que

tipo

Maria

Porto, tive

de

Beatriz

também sorte

no

semestre em que isto aconteceu, porque o primeiro ano ainda é muito teórico”, no entanto quanto às aulas limita-se a referir que “não houve descuido completo”.


PÁGINA 25

Outro fator importante na vida dos

para

os

tentar

resolver

não

são

estudantes é a avaliação e esta foi

adequadas, o que resulta em que mais

uma área com grandes disparidades

de 90% dos estudantes receie não

entre Universidades e até mesmo

conseguir entregar a sua Tese na

entre

da

Época Normal. No Estágio curricular,

Maria

que em mais de 85% dos casos ainda

Unidades

mesma

Curriculares

Universidade.

Beatriz

Torres

grande

estava

ajuste, “fizeram a avaliação como se

indica

fosse um semestre normal, que não

desenvolvidas ao longo do estágio não

foi”.

uma

são suficientes para apresentar o

experiência diferente e considera que

relatório final de estágio, enquanto

“a avaliação foi bem adaptada ao

55% sente que a situação irá afetar

clima pandémico em que vivemos”,

negativamente a sua avaliação.

não

Para

João

descrevendo

houve

Alves

que

teve

“no

início,

os

docentes encontravam-se um pouco reticentes

em

alterar

a

ficha

da

unidade curricular, mas quando a faculdade chegou a um acordo para a lecionação

online

semestre,

os

até

ao

professores

fim

do

fizeram

questão de alterar as percentagens correspondentes à participação e às tarefas de avaliação”. Os estudantes de Mestrado também não tiveram vida fácil neste período e o estudo realizado pela ANEP coloca a nu um cenário preocupante. Quanto à tese,

70%

encontrado quase

dos

diz

ter

constrangimentos

e

metade

inquiridos considera

soluções encontradas

que

as

a

decorrer, que

as

quase

metade

atividades


PÁGINA 26

O desejo de uma comunicação um pouco mais célere entre universidades

" (...) MAIS DE 90% DOS ESTUDANTES RECEIA NÃO CONSEGUIR ENTREGAR A SUA TESE NA ÉPOCA NORMAL. "

e alunos foi, aliás, comum a João Alves e Maria Beatriz Torres. O estudante minhoto professores

refere

que

como

a

“tanto

os

universidade

chegaram a um acordo acerca da lecionação

online

até

ao

fim

do

semestre, no entanto, essa informação foi

transmitida

aos

alunos

com

alguma demora, causando alguma ansiedade”. Já a aluna da FPCEUP realçou que esta “mandava mails a informar que ia reunir e planear, mas

Estas inquietações dos estudantes não passaram despercebidas à ANEP que, em comunicado, reivindicou que

depois demorava muito tempo a fazer chegar-nos o plano”. Ainda sem garantias de regresso à

atividades

normalidade no próximo ano letivo, a

realizadas no estágio não pode ser

incerteza mantém-se e criará um

refletida na sua avaliação final” e que é

verão mais turbulento e ansioso para

imperioso “flexibilizar os prazos de

os estudantes, mas também para as

entrega

Universidades que terão de encontrar

“a

insuficiência

das

de

Dissertações

de

novas soluções para uma situação

Mestrado”. No mesmo comunicado, a ANEP reforça

ainda

a

necessidade

das

Universidades, em articulação com o movimento

associativo

local

“promoverem um fluxo bidirecional de informação, assegurando-se que os/as estudantes estão envolvidos/as em processos relevantes de discussão e decisão”.

que, em poucos meses, virou de pernas para o ar um método de ensino com décadas de tradição


JOSÉ BAPTISTA

PÁGINA 27

SERÁ VIRTUAL A EDIÇÃO 2020 DO ENEP

ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDANTES DE PSICOLOGIA O

Encontro

Nacional

de

Carolina

Garraio

admite

que,

em

Estudantes de Psicologia (ENEP) de

última instância, não se podia deixar

2020 já tem local escolhido… em

de

casa. Em resposta à pandemia, a

característico

edição deste ano será especial, com a

importante para juntar os estudantes

Associação Nacional de Estudantes

de Psicologia de todo o país”.

realizar

“um da

evento ANEP

e

tão tão

de Psicologia (ANEP) a adaptar o

Por outro lado, esta situação é

formato do seu maior evento anual

também vista pela ANEP como “uma

aos tempos de distanciamento social.

oportunidade

de

crescimento

do

A realização do encontro em

evento”. Com custos mais reduzidos

formato virtual será um desafio e

para os participantes, a Associação

resultará num evento bem diferente

espera “alcançar mais estudantes do

do habitual, mas Carolina Garraio,

que se fosse num evento presencial” e

Presidente da ANEP, garante que

assim “cumprir o objetivo de chegar

haverá uma estrutura interativa “para

aos

não perder a componente social e

contribuir

conseguir que, mesmo estando em

académica, pessoal e profissional”.

casa,

os

participantes

estudantes para

de a

Psicologia sua

e

formação

conheçam

O desenho dos quatro dias do

pessoas de outras cidades, interajam

evento revolverá em torno do tema

com elas e se divirtam”.

“(Re)Pensar o Presente e o Futuro da

A decisão não foi, contudo, fácil e

Psicologia”,

uma

também

traz consigo dificuldades acrescidas,

influenciada

mas,

pandemia e como esta afetou a

também

aproveitando

a

realidade

experiência ganha com a realização

perceção

online da edição deste ano das

valorização da Psicologia.

conferências “ANEP All Around”,

da

pela

escolha

sociedade

O primeiro dia focar-se-á

sobre

da a


PÁGINA 28

numa discussão aberta sobre o papel

"... CAROLINA GARRAIO, PRESIDENTE DA ANEP,GARANTE QUE HAVERÁ UMA ESTRUTURA INTERATIVA “PARA NÃO PERDER A COMPONENTE SOCIAL E CONSEGUIR QUE, MESMO ESTANDO EM CASA, OS PARTICIPANTES CONHEÇAM PESSOAS DE OUTRAS CIDADES, INTERAJAM COM ELAS E SE DIVIRTAM”.

do psicólogo e sobre que psicólogos queremos ser, enquanto o segundo dia dará início a uma vertente mais científica,

com

uma

olhar

multidisciplinar sobre a Psicologia e uma busca por repensar as estratégias de intervenção mais tradicionais. Numa discussão aberta sobre o papel do psicólogo e sobre que psicólogos queremos ser, enquanto o segundo dia dará início a uma vertente mais científica,

com

uma

olhar

multidisciplinar sobre a psicologia e uma busca por repensar as estratégias de intervenção mais tradicionais. Ao terceiro dia, surgirá a debate a realidade atual da sociedade, sendo os estudantes convidados a refletir sobre o papel do Psicólogo na intervenção sobre emergências sociais, como a crise de refugiados, o consumo de drogas ou as alterações climáticas. Finalmente, o quarto e último dia será mais

voltado

para

o

amanhã,

fomentando o pensamento sobre o futuro que os estudantes querem para a profissão. Alguns dos nomes já confirmados como oradores no evento são Luís Fernandes, Rosa Cabecinhas, Tiago Pereira,

Miguel

Gonçalves,

Ricou e Jorge Gato.

Miguel


SALOMÉ MATEUS

PÁGINA 29

ESTRATÉGIAS FACE AO NOVO CONTEXTO DE PANDEMIA Em resposta aos desafios suscitados pela

pandemia,

Psicólogos

a

Ordem

No âmbito do aconselhamento

desenvolver, nos últimos meses, uma

psicológico, a Casa do Impacto lançou,

série de estratégias com vista a

promover um maior acesso, por

acalma.online,

parte da população em geral, ao

videoconsultas

aconselhamento psicológico, tanto

inscrições por parte de psicólogos

através de uma abordagem mais

clínicos certificados que tencionem

direta, como foi o caso da criação da

participar nesta iniciativa. Em junho, a

linha de apoio do SNS 24 (LAP SNS

Ordem dos Psicólogos Portugueses

24), como por meio da facultação de

lançou

conteúdos propícios à reflexão, entre

Psicológico”, com o propósito de dar a

os

de

conhecer o leque de possibilidades

conferências online e de documentos

profissionais existente na área da

de apoio disponíveis no site da OPP,

Psicologia, contando com a presença

ordemdospsicologos.pt. Foram ainda

de diferentes convidados que irão

desenvolvidas e reforçadas parcerias

conversar abertamente acerca da sua

com

e

experiência enquanto psicólogos. No

com

primeiro episódio, Sofia Ribeiro fala

órgãos da comunicação social através

acerca das suas vivências no Sudão do

da

Sul

os

vários

associações

internacionais, criação

dos

bem

veio

do quadro pandémico atual.

a

quais

Portugueses

dos

angústias e adversidades procedentes

formatos

patronais como

programas

“Sem

em

abril,

o

no

a que

plataforma disponibiliza

gratuitas

podcast

contexto

da

e

“O

aceita

Frio

é

intervenção

medo do Medo”, juntamente com a

humanitária. O podcast encontra-se

TSF, e “Quarto do Fundo”, com a

disponível

Rádio Renascença, sendo que ambos

Spotify,

se debruçam sobre as

Podcasts, entre outras.

em Apple

plataformas Podcasts,

como Google


PÁGINA 30

"... A ORDEM DOS PSICÓLOGOS PORTUGUESES LANÇOU O PODCAST “O FRIO É PSICOLÓGICO”. “O Futuro de Quase Tudo”, projeto coordenado por Maria Gaspar de Matos,

professora

catedrática

da

Universidade de Lisboa, e ainda levado a cabo por outros profissionais de renome, é um livro que visa reforçar o papel

dos

psicólogos

nos

mais

variados contextos de vida: amor e relações

interpessoais,

trabalho,

educação, saúde, demografia, artes e cultura, meio ambiente, entre outros. A abordagem tomada consiste num delinear de possíveis caminhos de ação para o futuro, já que “a melhor forma de prever o futuro é certamente construí-lo”.


VITOR LUZ

PÁGINA 31

LINHA DE ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO NO SNS24 A saúde mental é um dos bens

dos portugueses, ou seja, 18,4% sofrem

mais preciosos da humanidade e nos

de

últimos meses a população mundial

problemas relacionados ao consumo

foi surpreendida com a chegada da

de álcool e drogas. Em 2015, o país

COVID-19, realidade essa que trouxe

gastou

consigo o isolamento social e o

milhões de euros com questões de

crescimento de sintomas ansiosos e

saúde mental, representando 3,7% do

stressores. A fim de minimizar os

Produto Interno Bruto, alcançando

comprometimentos emocionais dos

assim o meio da tabela de 31 países

cidadãos

analisados pela OCDE.

portugueses

o

Serviço

ansiedade,

depressão

aproximadamente

6,6

ou

mil

Nacional de Saúde – SNS lançou a “Linha

de

Aconselhamento

Psicológico no SNS24”, iniciativa essa que já realizou mais de 25 mil chamadas, funcionando 24h por dia e todos os dias da semana. De acordo com o relatório da "Health at a Glance: Europe 2018 State of health in the EU cycle",

A

Linha

de

Aconselhamento

publicado em Paris em 2018, Portugal

Psicológico no SNS24 foi criada no dia

é o quinto país da Organização para a

1 de abril e conta com 63 Psicólogos

Cooperação

formados pela Ordem dos Psicólogos

e

Desenvolvimento

Económico (OCDE) que possui mais

Portugueses

(OPP)

pessoas com comprometimentos em

aconselhamento

saúde mental. O documento revela

profissionais

que quase um quinto

população em geral.

que

oferecem

psicológico

de

saúde

e

para para


PÁGINA 32

Funcionando 24h por dia, durante

"...JÁ REALIZOU MAIS DE 25 MIL CHAMADAS, FUNCIONANDO 24H POR DIA E TODOS OS DIAS DA SEMANA."

todos os dias ao longo da semana, o SNS24 é uma resposta assertiva e efetiva

no

profissionais

entre

os

Serviços

Ministério

da

Partilhados

Saúde,

do

Fundação

Calouste Gulbenkian e OPP. Aqueles utentes que ligarem para a linha SNS24 (808 24 24 24) e teclarem 4 serão acolhidos por Psicólogos que possuem especialização em Psicologia Clínica e da Saúde, além de possuírem formação em intervenções diante de situações de crise. Eles poderão de forma breve escutar as demandas e auxiliar

na

gestão

emocional

da

situação apresentada, seja ela ansiosa, estressante

ou

angustiante.

Permitindo que aquele usuário possa sentir-se

mais

seguro

diante

adversidades que esteja a passar.

das

ao

de

reestabelecimento

apoio

de

saúde do

e

equilíbrio

emocional dos portugueses. Além de poder

reforçar

a

sensação

de

segurança da população e tranquilizálos diante de situações adversas. Pedir ajuda é uma atitude que demonstra humildade combinação

A iniciativa é fruto de uma parceria

tocante

e

autocuidado, necessária

reestabelecimento

para

interno

emoções e sentimentos.

uma o das


CARLOTA INÊS

PÁGINA 33

O "NOVO NORMAL" ADAPTAÇÃO AO NORMAL DEPOIS DO CONFINAMENTO As

medidas

graduais

de

efeitos significativos do vírus e das

desconfinamento adotadas após o

medidas associadas ao mesmo, sendo

pico pandémico no vírus COVID-19

que “49,2% dos portugueses reportam

requerem, por parte dos portugueses,

um impacto psicológico moderado

uma adaptação a um “novo normal”.

ou grave e, variando os níveis de

Que impacto terá esta transição na

depressão,

nossa saúde mental? E qual é o papel

perante

da Psicologia nesta fase “pós-COVID-

segundo

19”?

Psicologia (FNP). Saúl Neves de Jesus,

ansiedade

o

estado o

e

da

Fórum

stress,

pandemia”,

Nacional

de

O estado de pandemia afetou a

coordenador do FNP, considera ainda

saúde mental de diferentes grupos

provável que “as consequências para a

específicos, tal como os doentes

saúde mental sejam mais duradouras

hospitalizados com COVID-19, que

e atinjam o seu pico após a pandemia

demonstram uma maior propensão a

ter sido ultrapassada, mantendo-se

quadros de perturbação de stress

risco de depressão e de perturbação

pós-traumático, revela a psicóloga

de stress pós-traumático naqueles

Ana Marques ao Diário de Notícias, ou

que

ainda profissionais de saúde, que

consonância,

reportam níveis elevados de stress e

Miranda

ansiedade, com risco de “burnout,

bastonário da Ordem dos Psicólogos

abandono do serviço público e da

Portugueses,

profissão”,

Miguel

presente na edição de junho da revista

Guimarães, bastonário da Ordem dos

Prevenir, ressalta que a transição para

Médicos.

este

segundo

No entanto, também na população em geral são verificados

sobrevivem

à

também

Rodrigues,

“novo

doença”.

numa

normal”

envolver “alterações

Em

Francisco

Psicólogo

e

entrevista

pode

ainda


PÁGINA 34

O FNP defende a disponibilização de intervenções psicológicas em larga

"...“49,2% DOS PORTUGUESES REPORTAM UM IMPACTO PSICOLÓGICO MODERADO OU GRAVE"

escala no Serviço Nacional de Saúde (SNS)

como

“a

estratégia

mais

adequada e efetiva” para enfrentar “a era

COVID-19

e

pós-COVID-19”,

segundo um reforço de “pelo menos, o dobro dos 250 psicólogos que tem atualmente” o SNS. Assim, através deste investimento na Psicologia em Portugal

seria

possível

pessoas

com

um

“dotar

conjunto

as de

competências que as ajude a ser mais do padrão de sono, medo, tristeza ou

resilientes, mais resistentes e mais

irritabilidade”,

produtivas

possibilidade

sendo de

que

futuras

a

sequelas

necessidades

pode levar ao desenvolvimento ou

pandemia

agravamento

situações

de

perturbações

depressivas em sujeitos com uma maior dificuldade em lidar ou aceitar a realidade. Neste sentido, o bastonário da Ordem dos Psicólogos alerta que “regressar à vida ativa é um desafio à nossa capacidade de adaptação”, e que, sem ajuda profissional, alguns de nós

poderão

Considerando

não a

o

conseguir.

transição

vivida

atualmente, bem como os obstáculos associados à mesma, como pode a Psicologia garantir a adaptação dos portugueses?

para

enfrentar resultantes

e de

também stress,

depressão”, alerta o FNP.

as da

prevenir

ansiedade

e


TATIANA MATIAS

PÁGINA 35

INOVAÇÕES EM PSICOLOGIA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Ao ser referenciado “Inteligência

consiga

ser

parte

possibilite,

antes de mais, de que forma é que

empregue de modo produtivo. No

esta está relacionada com os vários

entanto, houve mais incidência na

aspetos da nossa vida mundana. É

automação, não conseguindo haver

notável a sua influência nos diversos

uma satisfação na criação de novas

domínios, bem como a forma como

tarefas

está enraizada, de certo modo, nos

empregue

tempos que decorrem. A Inteligência

consequências

Artificial é uma das tecnologias mais

houve

promitentes que, atualmente, tem

requerimento do trabalho, ocorrendo

sido alvo de investimento no seu

desigualdades

desenvolvimento e implementação.

consecutiva

uma

forma

holística,

a

onde

o

este,

ser

trabalho

fosse

produtivamente.

Como

dessa

uma

crescimento

a

e

Artificial” considero pertinente refletir,

De

assim,

integrante

orientação

estagnação crescentes

e

no uma

diminuição

do

produtividade.

Ao

e

Inteligência Artificial (IA) prende-se

mesmo tempo que surgem muitas

com os estudos e desenvolvimentos

expectativas sobre os contributos da

acerca de máquinas, softwares ou

IA, existem ainda diversas reticências

algoritmos que, de uma forma dita

sobre o que possa significar para a

“inteligente”,

segurança

forma

a

são

capacitados

darem

reconhecer

o

envolvente.

A

resposta meio

IA,

tecnológica,

automatizar

tarefas

e

a

ambiente

como

plataforma

de

dos

e

consequentemente para a economia. Existe, por isso, uma questão que

uma

parece persistir e que subjaz a estas

consegue

afirmações, que se prende com aquilo

executadas

que está a ser alvo de uma maior

anteriormente a nível de trabalho, ou

incidência

criar tarefas novas e atividades nas

esperado é que

quais o ser humano

indivíduos

no

seu

potencial,

o


PÁGINA 36

como por exemplo, a computação

" A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL É UMA DAS TECNOLOGIAS MAIS PROMITENTES ATUALMENTE..."

simples, processamento de dados, reconhecimento de padrões, previsão, criatividade e comunicação. Na década de 1990, a IA tendo como principais

objetivos

replicar

e

aprimorar a inteligência humana no reconhecimento padrões,

e

predição

exemplos

disto

de

são

o

reconhecimento de faces, a partir de dados visuais, reconhecimento de fala a partir de dados auditivos, e o reconhecimento

de

padrões

surja uma ampliação de produtividade

abstratos. O entusiasmo com que se

de

trata a IA, advém dos avanços no

modo

a

gerar

um

estado/ Ao

hardware e algoritmos que permitem

refletirmos, compreendemos que a

um processamento e análise de uma

era da integração entre o homem

elevada quantidade de dados não

máquina é inevitável, mas ao surgir

estruturados, como bancos simples

uma

sentimento

de

transição,

avanço

prosperidade.

é

importante

um

semelhantes ao Excel. A IA possuiu

tendo

em

métodos

cuidado

e

aprendizagens

como

consideração os riscos e questões

técnicas estatísticas, que potenciam

éticas subjacentes. Esta evolução é

computadores e algoritmos aprender

produto da relação do homem com o

a prever, executar elevadas tarefas de

meio ambiente, da forma a satisfazer

dados

as suas necessidades de sobrevivência

programados. Uma vez capacitada

aliada a uma constante adaptação, de

para

forma a poder perpetuar a sua espécie

tecnologia comercial ou de produção

com

que

percebemos que a IA não é pré-

inteligência

determinada, correlacionando-se com

humana compreende os vários tipos

a forma que é direcionada ao seu

de atividades mentais

desenvolvimento.

os

pudessem

novos

contributos

emergir.

A

sem ser

ser

aplicável

explicitamente também

à


PÁGINA 37

os diferentes estilos de aprendizagem, que

variam

de

indivíduo

para

indivíduo, sendo que os métodos e estratégias adotadas não são passíveis de serem generalizáveis. O software da IA poderia ser projetado para coletar e processar os dados em tempo

real

sobre

as

reações

específicas, dificuldades e sucessos demonstrados em diferentes áreas, especificamente ensinados

de

quando diferentes

são formas,

fornecendo recomendações para um A IA demonstra-se cada vez mais capaz de automatizar mais tarefas, como

são

exemplo,

os

ensino individualizado e melhorado. Na área da saúde, pretende-se coletar e analisar informações que

reconhecimentos de imagem, de voz,

possam

tradução, contabilidade, ou mesmo

significativa

sistemas de recomendações como

enfermeiros, outros prestadores de

suporte ao cliente. A direcionalidade

serviços de saúde, oferecendo uma

da IA não se focaliza na automação, é

diversidade em termos de serviços,

pretendido reestruturar o processo de

aconselhamento,

produção de algo que crie diversas

tratamento em tempo real. Em suma,

tarefas de alta produtividade para o

salienta-se a importância de uma

trabalho, tendo como consequências

eficiente e adequada utilização desta

inerentes

sociais

plataforma

tecnológica,

significativos,

consciente

de

ganhos

potencialmente originando

um

crescimento

mais

inclusivo. É relevante destacar algumas das abrangências da inteligência artificial. Na educação é notório

capacitar o

de

forma

potencial

dos

diagnóstico

e

sendo

benefícios

e

implicações, capacitando assim o seu melhor desenvolvimento.


PÁGINA 38

CALENDÁRIO DE EVENTOS O QUE SUGERIMOS NOS PRÓXIMOS 3 MESES PARA TI

Setembro D

S

T

Q

Q

S

S

01

02

03

04

05

06

07

08

09

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

21

22

23

24

25

26

27

28

29

30

Q

S

S

01

02

03

NEPUE - We love Psychology

Todas as sextas-feiras durante o mês de julho, agosto e até ao dia 11 de setembro

Outubro D

S

T

Q

04

05

06

07

08

09

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

21

22

23

24

25

26

27

28

29

30

31

NEPUE - Semana da Psicologia

6 a 10 de Outubro

ANEP -Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia (ENEP)

2 a 5 de Outubro

Novembro D

S

T

Q

Q

S

S

01

02

03

04

05

06

07

08

09

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

21

22

23

24

25

26

27

28

29

30

AEFPCEUP - Semana de Psicologia e de Ciências da Educação

9 a 13 de Novembro


issuu.com/rupanep facebook.com/RUPANEP instagram.com/rupsicologia rup@anep.pt


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.