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BUNKER

Fico preso, escondido, angustiado. Reprimido, suprimido, amargurado. Minha existência, já não existe. Fui reconfigurado. Já não sou mais cidadão. Sou o obséquio de uma triste solidão. Sou o opróbrio do verso que não foi sentido. Sou a canção que nunca foi ouvida. A sílaba mal esculpida. Sou um autor sem criação. Sou apenas mais um que será esquecido. Em minha própria maldição de ser como espécie. Acabei com vidas e vivo sozinho na escuridão. Marcas, farpas, cicatrizes nulas. De indivíduos sem noção. Sem caminho, sem destino, sem curvas. Onde estou e onde todos estão? Sem todos, tolos, nada. Que grande presepada! Estou mudo e perdido na mesma estrada. Rumo a meu próprio mundo. A um universo sem nada. Destino sem qualquer jornada. Meu fim de inaudita morada. Sou apenas mais um corpo.

Inerte, sem ar, sem respirar. Sufocado em silencioso silêncio. No subsolo da alma. No subterfúgio de um caixão. Sou apenas uma insólita virtude. Em um bunker de negação.

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