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GAIA
from Brasileiro
Teu destempero não é só calor, Clama que eu clame o teu clamor. Faça que eu sofra a tua punição, Não me deixe sem uma dura lição. Judio da tua carne sem piedade, Sufoco teu ar com minha existência, Uso toda minha perversidade, No abuso de tua paciência. Em meu objetivo de verdade, Não há suficiência, Não há sobriedade, Só existe inconsequência. Sou duro, sou mau, sou tirano, No trato da tua essência. Subterfúgios diversos, Sequestram o meu dia a dia. Enveneno teus lagos, rios e mares, Com meus detritos insofreáveis. Tua água me serve, Como caminhos de esgoto. Teu solo transformo, Em tremedal de lodo. Teu verde eu queimo, Transformo em cinzas.
Teus seres desfruto, Como meras proteínas. Sou predador de toda tua excelência, Sou ditador de toda maledicência. És para mim o meu quintal, Que eu curto como um comensal. Não enxergo para onde vou, Pois nunca fui e nem sei aonde estou. Não olho para o céu e nem o horizonte, Meu foco não vai mais, Que um palmo de minha fronte. Sou absoluto e contumaz, Em ti minha alma nunca se apraz. Não ouço o estrondo de tua voz, Não percebo que estamos ficando a sóis. Abandonados tão logo estaremos, Mas nunca a ti sequer bendiremos. Teus dias vão ficando mais curtos, Mais quentes, mais surdos. Tuas noites estão ficando mais escuras, Sem brilho, sem lua. E logo chegará a hora, Em que irás embora. Embora de mim, de agora, de tudo. Então não haverá mais quem chora, Então não haverá mais perdão, Então não haverá mais lamento.
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Só uma inusitada e desprezível escuridão. O Sol se escondeu de vergonha. A Lua se recolheu em parcimônia. As estrelas deixaram de celebrar. O infinito se pôs em luto inaudito, Pois o planeta morreu. Gaia partiu. Ou pior, nunca existiu. Ou melhor, nunca esteve aqui. Não existe mais vida. Só o existe o homem. E para que?