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ENTREVISTA
A boa convivência ent�e pais e filhos
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om um auditório lotado na noite de 26 de agosto, o doutor em Educação e pesquisador Joe Garcia, de Curitiba, falou com as famílias da IENH, em Novo Hamburgo, sobre o convívio. Ele considera este elemento fundamental para definir uma trajetória saudável na vida dos filhos. Confira a entrevista exclusiva para a Revista MultiFamília: Qual o papel da família na atualidade? Em termos de composição, nos anos 1990, no Brasil, os dados do IBGE destacam a família monoparental. Neste século, vimos a confirmação da mudança no modelo de família, mas também a mudança de papéis. O que eram apenas da família agora são compartilhados, em parte, com a escola. Se fala em terceirização, isso é um problema da nova família? É um tema complexo. Foi uma invenção do Estado Romano o que chamavam de “in loco parentis” em latim, ou “em lugar dos pais”, quando os cidadãos entregavam os filhos para serem educados pelo Estado Romano. Séculos depois, os pais levam seu filho para uma instituição de sua preferência, seja ela pública ou privada. Os pais têm que terceirizar, vamos usar este termo, esta educação formal. Há países no mundo que os pais podem trazer para si a responsabilidade de dar educação escolar. A partir de 2016, será obrigatório matricular o filho aos 4 anos de idade. Conheço juristas que acham que deveria mudar, pois os pais têm direito de
Joe Garcia, doutor em Educação educar seus filhos em casa, até por não concordar com os modelos educacionais vigentes, ou estrutura ou currículo, ou as diferenças de valores. Existe este repasse de função da educação para a escola, por acharem-se despreparados ou porque a legislação não permite. Mas existe outra questão, que tem a ver com a conformação mais emocional dos filhos, com o desenvolvimento da maturidade, de lidar com os desafios da vida, de modo que foge com o que a escola faz, que é a formação intelectual, racional e cognitiva. Como se a família quisesse da escola uma formação, de fato, integral. Outro desafio da atualidade seria o tempo para dedicar à famiília? Os pais têm cada vez menos tempos para estarem com os filhos por razões mais diversas, a principal delas, a agenda de
Sandra Hess/EMF
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ENTREVISTA trabalho e social intensa. E os filhos, por sua vez, também têm agendas. A escola faz parte desta agenda social e intelectual. Os pais projetam que os filhos sejam cuidados e acompanhados por profissionais e a escola se sente um pouco sob pressão neste papel, inclusive, de suprir um nível de atenção que ultrapassa uma relação de cuidado formal. Os filhos precisariam estar mais tempo com os pais. Os pais se aproximam com muito interesse da vida escolar na Educação Infantil, mas tendem a se afastar? Há dados consistentes que apontam que, quanto maiores os filhos, maior é o afastamento dos pais, principalmente no Ensino Médio. Outro aspecto indica a importância da figura masculina neste acompanhamento, porque rompe com a educação tradicional que diz que a educação é competência da mulher, da mãe. Entende-
se que a figura do pai é estruturadora e há alguns elementos na mente dos filhos que faz diferença. E o que falar sobre a boa convivência e limites? Convivência é a palavrachave do século 21, tão importante quanto a tolerância no século 20. É uma transição que diz respeito a educadores e pais. Nós construímos a convivência e a convivência nos constrói. Existe um elemento reflexivo novo no cenário de pesquisa educacional: se fala de autoridade e da relação professor/aluno desde a década de 1960, mas é agora que temos estudos avançados. A discussão é rever os limites. A relação de autoridade tem que ser construída de maneira continuada, trocando a visão tradicional, de apenas reproduzir uma regra. No século 21, uma regra de início vai ser transformada ao longo do caminho. A regra cria a convivência, que tem que recriar a regra.
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Tor�ar visível: “ensinamos valores falando sobre eles”
- O que os pais podem fazer para auxiliar seus filhos? Ter uma convivência plena. - A leitura sistemática desde criança é um dos segredos, segundo pesquisa apontada pelo palestrante, para garantir reflexos positivos no Ensino Médio. - Utilizando a metáfora da germinação, Garcia lembrou da denominação de Jardim de Infância no século 19. “Naquela época, dizia-se que o educador precisava germinar virtudes”. - Educar, tornando visível o invisível. “Quando alguém oferece um presente ao filho, estimulamos a agradecer. Os valores são invisíveis e é preciso ensiná-los, dando nome, cor e tridimensionalidade. O filho deve entender que cada ação é munida de um valor. Do contrário, pode haver criança crescendo sem saber da existência da bondade, por exemplo. Ensinamos valores falando sobre eles”, destacou.
EVENTO - Com a presença do diretor da IENH, Seno Leonhardt, o evento foi realizado em conjunto com as associações de pais e professores da Fundação Evangélica, Oswaldo Cruz e Pindorama. Para o presidente da APP da Unidade Oswaldo Cruz, Marcio Josias Becker, de 43 anos, pai de Manuela Flores Becker, de 9 anos, a proposta do evento anual é promover debates atualizados com as necessidades das famílias.
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ESPECIALISTA Arquivo Pessoal
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Repensando o castigo
Asta Alltreider
Psicopedagoga*
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screver sobre assunto polêmico é um grande desafio. Com certeza, o tema “castigo”, provoca reações. Ainda mais que, por trás deste título, está camuflada a ideia de “castigar crianças”. Coragem! Observo com preocupação as dificuldades dos pais em educar seus filhos. Assusto-me com a ousadia desafiadora das crianças mal-aprendidas que ficam blindadas por adultos imbuídos de boa intenção. Os castigos corporais eram comuns até duas décadas atrás. Pouco se questionava seu uso quando aplicados por pais que queriam ensinar aos filhos que a sua atitude não estava adequada. A “cadeira de pensar” tinha seu espaço e provocava um sentimento forte de vergonha no ocupante. Sabemos que nem sempre estas “estratégias” de educação foram eficientes. Sabemos também que alguns pais, ou responsáveis, perderam ou
não souberam ter medida no uso delas. Usaram de forma agressiva. Imperdoável. Hoje, nada disso pode e funciona. As crianças são diferentes e os pais também. Desta forma, temos – de um lado – pais que foram educados com pouca conversa e sabedores de que o “pior” poderia vir e, de outro lado – filhos que questionam a possibilidade de ser castigados pelos pais. Entendo que os pais estão sem “modelo”. Modelo é tudo aquilo que se considera como um norte, aquilo que se acredita como certo. Não podendo usar o modelo de seus pais, buscam informações na mídia, nos especialistas, nos educadores e tentam estabelecer este novo modelo. Aliás, modelo difuso, nada claro. E quando se fala de castigo, a discussão é certa. Por vezes, esta busca dos pais é tão exaustiva por sua ineficácia prática que alguns até desistem de seus papéis de educadores. Imperdoável. Uma das maneiras mais comuns de tentar corrigir uma conduta inadequada
ESPECIALISTA desta geração de pais é a de “tirar os eletrônicos”. Começam ameaçando: “vai ficar sem videogame!”, “vai ficar sem celular!” e assim por diante. A estratégia de “tirar” tem consequências previsíveis: pode provocar indiferença do filho ao castigo porque não vai fazer falta; pode provocar sentimento de culpa nos pais que se acham “duros” demais com os filhos e acabam cedendo aos apelos destes antes do fim do tempo combinado; pode incrementar a ideia que ficar sem algo material é ruim; e, ocasionalmente, pode dar certo. De um modo amplo, genérico, a palavra “castigo” é considerada um tabu. Queremos ser modernos. Então não castigamos. Conversamos. Queremos que nossos filhos aprendam a corrigir seus erros [sim, nossos filhos erram. Não nasceram sabendo] com palavras. Não há o que questionar sobre a necessidade de os filhos refletirem a respeito de suas atitudes inadequadas. Enquanto continuo a repensar o tema “castigo”, fico com algumas perguntas: qual é o pensamento que uma criança pequena, de uns três anos, consegue formular durante esta reflexão? Qual a mudança de atitude observada no filho que foi convidado a refletir? Sabemos usar
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as palavras de tal modo que não entrem por um ouvido e saiam pelo outro? Entendo que o castigo deva voltar a ter um espaço de aplicação parcimonioso em nossos lares. E entendo que o castigo deva ser pedagógico, isto é, que sirva para aprender a não repetir o erro cometido. Por exemplo: seu filho chega da escola e larga o tênis no meio da sala. Ele deve aprender que este não é o lugar adequado. É hora de mostrar o lugar do tênis e não é hora de recolher nem de xingar. E se repetir o erro, é hora de fazer arrumar todos os sapatos da família no devido lugar. Isto dói. De verdade. Na próxima vez vai pensar antes de largar o tênis. Precisamos lembrar também que, para haver aprendizagem, é necessário repetir, repetir e jamais desistir! E mais um alerta: quanto mais cedo, melhor. Atribuo ao “castigo pedagógico” a qualidade de um recurso que pode contribuir na educação de nossos filhos, na harmonização da família e na estruturação dos valores morais positivos. Penso que os pais são as pessoas mais capazes de educar seus filhos com amor e de mostrar a eles os melhores caminhos. Se eles não o fizerem, outros terão que fazê-lo. Imperdoável. * Fonoaudióloga na Alltreider-s Centro Terapêutico
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ESPECIALISTA
Quando eu voltar a ser criança...
m palestra proferida com o título “Quando eu voltar a ser criança”, pude perceber o quanto se faz necessário resgatar em cada adulto a criança que existe em nós. O Ser Criança tem duplo sentido. Ser criança no sentido de se permitir resgatar a alegria, a vontade de descobrir, a sinceridade, a espontaneidade e o ser criança no sentido de compreender que a criança é um ser humano especial, em formação e que precisa das interações sociais para aprender. Quando nos tornamos adultos, somos quase incapazes de entender o que se passa com as crianças e com aquilo que já fomos um dia e, por isso, muitas vezes perdemos a paciência e o prazer em trabalhar ou cuidar delas. O desenvolvimento infantil tem sido alvo de muitas discussões, sendo que, na maioria das vezes, o que está em pauta são as técnicas e as metodologias mais adequadas para o cuidado. Estar atento à criança nos seus primeiros anos de vida pode contribuir para o não surgimento das psicopatologias (como psicose, autismo, depressão e outras), só que para isso é preciso muito mais do que conhecimento científico, é fundamental sensibilidade e compreensão. O desenvolvimento dos aspectos afetivos, emocionais, cognitivos, físicos e sociais se dá ao longo da vida, mas os primeiros anos têm repercussão fundamental na construção da subjetividade e da identidade do sujeito. É através dos adultos que a criança vai descobrindo o mundo, pois são esses os responsáveis pela narratividade da criança. Narrar a história da criança, assim como
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Cristiane Dias
Psicóloga / CRP 07/15253
se narra um conto de fadas, é encantador e organizador. Toda criança precisa saber o que vai acontecer em sua vida. Um dia depois do outro, os adultos vão construindo junto com ela, um livro com sua história. A narratividade que acreditamos, é aquela construída através da fala, do olhar e da escuta. A fala é a conversa, é a palavra dirigida à criança. Quando falamos com um bebê, utilizamos uma linguagem denominada prosódia do manhês, fazemos isso instintivamente e sem saber falamos a “língua” que ele entende. Não é exatamente o que dizemos que ele entende, mas o tom da voz vai dando sentido ao que é dito. É essa voz que chama o olhar. O olhar é o desejo e o reconhecimento do sujeito que ali está, com suas limitações e potencialidades. Nenhuma criança sobrevive se não tiver alguém que olhe por ela e para ela. O olhar do adulto serve de espelho, pois o bebê reflete exatamente aquilo que enxerga. É nesse olhar que vai se produzindo a escuta. A escuta é o tempo de espera entre o estímulo e a resposta. É a capacidade de suportar o não saber do outro. Escutar é perceber as necessidades e oferecer o que é necessário. Escutar é saber esperar o tempo da aprendizagem, que é diferente para cada criança. O papel dos cuidadores (pais, avós, tios e professores também) é imprescindível, pois são eles que permitem o “continuar a ser” da criança. Para que a criança venha habitar o seu corpo, é preciso um ambiente aconchegante e acolhedor que tenha organização e cuidados diários, pois é isso que vai dando ritmo e constância à vida.
Se olharmos para nós hoje, perceberemos a presença dos adultos que cuidaram de nós enquanto criança. A marca desses adultos está na forma como falamos, olhamos e escutamos as crianças. O nosso jeito de ser está completamente marcado pelo jeito que eles foram conosco. E perguntamos: será que estamos nos dando conta das marcas que estamos produzindo nas crianças ao nosso redor? Percebemos que os adultos perdem a capacidade de se encantar com as pequenas coisas. Pensamos que é importante resgatar um pouco da alegria, da energia, do sonho e da liberdade para nos sentirmos mais felizes. Sabemos que as exigências do mundo adulto são muitas, mas mesmo assim podemos nos permitir encontrar a nossa criança. Quando você voltar a ser criança, como gostaria que os teus cuidadores fossem contigo? Aproveite esse dia 12 de outubro para responder a essa pergunta, pois é a partir dessa resposta que você poderá mudar de vida. Não podemos apagar as marcas que já existem em nós, mas podemos fazer a leitura do que elas nos dizem e a partir disso reescrever nossa história. Tenha coragem e ouse olhar para si mesmo, veja que por trás dessa roupagem adulta tem uma criança pedindo para você um pouquinho mais de esperança. Paremos e façamos esse exercício: quando voltar a ser criança, desejo que meus cuidadores sejam: • Sensíveis a ponto de me reconhecer como sujeito; • Fortes no sentido protetor e assegurador das minhas necessidades; • Amorosos na sua narratividade, pois é a palavra que nos constitui; • Como um espelho capaz de refletir aquilo que eu vou podendo ser; • Organizadores da minha rotina – garantindo ritmo e constância; • Seres de “marca”, capazes de marcar e serem marcados pela minha simples presença... pela minha existência.
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Bichinho de estimação
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ESPECIALISTA
Tatiane Graebin
Médica Veterinária
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ada dia aumenta o número de famílias que adquirem um bichinho de estimação. Mas devemos conhecer as responsabilidades que estes acrescentarão na nossa vida, e se estamos dispostos a cumprir. Primeiro passo a avaliar é o espaço que vamos oferecer, para depois pensar no tamanho do bichinho. Não adianta colocar um cão de grande porte em um espaço pequeno. Este vai ficar estressado e nervoso e até agressivo. Pesquisar sobre os tipos de animais de estimação, raças, temperamentos para que fique o mais próximo do seu estilo de vida. Este bichinho precisará ser alimentado todos os dias, ter água limpa, potes limpos, local sempre higienizado. Deve-se levá-lo ao veterinário para realizar tratamentos necessários como vermifugação e aplicação de vacinas, de acordo com a espécie. É preciso estar ciente dos custos que trarão no orçamento. Analise também o tempo que terá disponível. Cães requerem mais atenção dos seus tutores do que os gatos. Os bichinhos também requerem uma alimentação adequada, de acordo com a espécie, raça e idade. Finalmente e de suma importância, os animais são para viver com seus tutores pelo tempo de uma vida. Quero dizer, enquanto tu e ele viver, nada pode os separar. Espero que reflita bem nas responsabilidades de ter um bichinho. Mas saiba que as recompensas são maravilhosas!
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ESPECIALISTA
Família: uma CASA e um LAR
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alar sobre família é complexo e por mais paradoxal que possa parecer, é simples também. Costumo definir as famílias em dois grupos... As que possuem uma CASA e as que possuem um LAR. A grande maioria das pessoas possuem uma CASA, que abriga algumas pessoas ligadas pelos laços consanguíneos. A minoria tem um LAR, que abriga um grupo de pessoas não só ligadas pelos laços consanguíneos, mas, também pela afinidade e o AMOR. Quem mora em uma CASA, vive sempre infeliz e insatisfeito. Não tem vontade de retornar para junto da família após a jornada de trabalho, pois não sabe se a guerra do dia a dia é maior na rua ou em casa. Esta pessoa encontra junto ao seu grupo familiar, apenas reclamações, insatisfações, sendo incapazes de um gesto de carinho, de compreensão e amor. Pensam egoísticamente, apenas em seus interesses e problemas. Quem mora em um LAR, conhece a
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Laerte Santos*
alegria de viver e a verdadeira felicidade. Sente saudade da sua família, conta os minutos para retornar ao aconchego daqueles que o esperam com os braços abertos, dedicando-lhe atenção, amor e carinho. Podemos facilmente identificar na empresa, escola, clube e na rua, quem tem uma CASA, pois, não sorri, não brinca e mantém irritação permanentemente, reclamando de tudo e de todos. Quem tem um LAR igualmente é facilmente identificado, pois é cordial, atencioso, vive distribuindo sorrisos, mostrando-se cordial e atencioso. Diante deste quadro, costumo pedir a DEUS que tire de todos os seres humanos suas CASAS e no lugar possa presenteá-los com um LAR. Paradoxalmente, falar de FAMÍLIA não é tão complexo como possa parecer. E você que lê está simples crônica... Tens uma CASA ou tens um LAR? *Assessor empresarial, palestrante motivacional e escritor
Uma proposta de prevenção e promoção da Saúde Conjugal
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uito se tem falado sobre casais em constantes desentendimentos, com dificuldades em resolução de conflitos, pouco tempo para ficarem juntos, com falha na comunicação, questões sobre sexualidade. Quando chegam ao consultório estão vivenciando todos os sintomas advindos desse sofrimento e que em alguns casos pouco há para melhorar. Mas pouco se ouve em prevenção e promoção da saúde do casal. Minuchin, um dos principais terapeutas de família, dizia que para ser um casal é preciso abrir mão de um pouco de individualidade para ganhar em pertencimento. A ideia é pensarmos que sim, isso é possível. A questão é: como? Uma pesquisa liderada pela UFRGS, com ajuda de mais cinco universidades do Rio Grande do Sul, pesquisou a vida de 750 casais, contemplando tudo que envolve a conjugalidade e família e chegou a um programa psicoeducativo para casais. Esse programa é realizado em 6 oficinas, sendo semanal, com grupos de
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ESPECIALISTA
Andrea da Luz Orives*
Psicóloga | CRP 07/18301
4 a 8 casais, para favorecer a troca de experiências e formação de vínculo de confiança ou com um casal, no contexto clínico. As oficinas compreendem: 1. Reconhecimento da história do casal e a desconstrução dos mitos conjugais. 2. O conflito nosso de cada dia. 3. Como lidar com os conflitos? As diferentes estratégias. 4. Aprendendo a negociar: a importância da flexibilidade. 5. Sexualidade: um assunto para dois. 6. Diversão a dois: a importância do lazer na vida conjugal. O objetivo deste programa é promover um local de escuta ativa e favorecer que os indivíduos desse casal conheçam como alguns comportamentos, atitudes ou temas repercutem no seu companheiro. Revelando a necessidade das intervenções nas relações da conjugalidade para a saúde e o bem estar de todo o núcleo familiar. Com isso aumentando os níveis de satisfação dos casais que enfrentam o desafio de viver a dois. * Especialista em Psicoterapia Familiar e de Casal, também atua no NAP.
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ENQUETE
A Revista MultiFamília perg�ntou na região: qual o sig�ificado de FAMÍLIA para você? “A família é base da educação, do respeito e da honestidade, sendo ela o alicerce do cidadão em formação, lugar onde buscamos compartilhar momentos de felicidade, superarmos desafios e dificuldades. As famílias são distintas quanto ao caráter, número de membros, entre outros, algumas mais unidas que as outras, mas ninguém vive em paz sem estar com sua família. É necessário o perdão, a compreensão e ter paciência, além de outros fatores, para que possamos viver de forma harmoniosa com nossa famílias e assim, estarmos fortalecidos para os desafios do dia a dia.” Martin Cesar Kalkmann, enfermeiro, casado com Andreia Prass e pai de Camila, 4 meses de idade, de Ivoti
NA ESCOLA: Ageu Corrêa Figueiredo, com o filho Victor, de 5 anos, de Estância Velha
“Família, na sua essência, é um contexto de amor, união, companheirismo e, sobretudo, compreensão e perdão entre pessoas e, se esses requisitos estiverem presente no dia a dia delas, por certo teremos o verdadeiro sentido de família. O significado de família acontece nem sempre entre pessoas consanguíneas. Pode ser encontrado entre várias pessoas que se relacionam no trabalho, no esporte, nos estudos, no lazer e em outras atividades que se completam com o respeito e carinho entre elas. Família é compartilhar alegrias e amenizar as tristezas no decorrer da vida.” Ciro e Suzana Ferretto, pais dos advogados Patrícia e Juliano e do médico Germano, de Estância Velha
Fotos: Arquivo Pessoal
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“A família é uma das poucas fontes de segurança em um mundo tão confuso como o nosso, marcado pela objetificação das pessoas e pela volatilidade das relações. Outros laços se desfazem com frequência, o tempo e a distância os fazem romper, mas a família sempre está lá para te amparar, mesmo quando o resto do mundo parece não se importar. Foi no seio da família que aprendemos os primeiros passos, as primeiras palavras, o significado de palavras como partilha, respeito e, é claro, amor. Cedo ou tarde, todos nos damos conta do valor dela. Que tenhamos a felicidade de perceber isso enquanto podemos expressar, enquanto há tempo, enquanto nossos familiares estão entre nós. Que aquele “eu te amo” não dito não fique ecoando como um lamento. Diga-o hoje. Agora.” Tiago da Silva, publicitário, namorado de Deise Riboli, de Sapiranga
“Família é tudo: estrutura, porto seguro... é aquele “status quo” que sabemos que está lá! Por mais impertinente que pareça nos dias atuais, família é a maior prova de amor que o Criador pôde colocar à nossa disposição. Família tem sabor de almoço de domingo, de saudade e de abraço, e pode tudo! Formar uma família vai além de convenções tradicionais, pois ter uma família é saber que você sempre poderá retornar, não importa o que aconteça, desde que o amor incondicional prevaleça!” Ieda Weber Pinheiro, casada com Evair Pinheiro Júnior, mãe de Hanna, 11 anos, e Sarah, 5, de Dois Irmãos
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Joy Photo Studio
ENQUETE
NO ESTÚDIO: Os pais Carlos Eduardo e Carol Brandt Blume com as filhas Alice, de 4 anos, e Lara, 9, de Ivoti
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ENQUETE “A origem da família existe desde os primórdios da vida humana e já passou por diversos conceitos e várias alterações ao longo da trajetória.O homem era o patriarca, a mulher e todos demais eram subordinados a ele prevalecendo esta condição até o estado liberal. Em 1967, a família era constituída pelo casamento, que era indissolúvel,tido como o enlace para uma vida eterna. O Código Civil de 1916 pretendia colocar a família em primeiro plano, mas, por ser ainda patriarcal, o que prevalecia era o patrimônio, consequentemente, a família permanecia em segundo plano. Imagine que a mulher era considerada relativamente incapaz e pior, quem de nós não ouviu o termo “mulher honesta”, inserido no Código Civil de 1916. O que falar dos filhos legitimos e “bastardos” (nascidos fora do casamento)? Estes últimos não possuíam quaisquer direitos. É fato que a evolução da família está vinculada à evolução humana e às regras impostas pelo Estado. Caso não houvesse, poderíamos ter um mundo incontrolável, com um possível caos, onde ninguém saberia como proceder em determinadas circunstâncias. Nos moldes atuais, a família passou a ter uma nova constituição, prevalecendo, independente do gênero, a solidariedade familiar, a afetividade, a convivência e isto se sobrepõe ao vínculo biológico. Necessário internalizar os valores morais esquecidos por alguns, mas já estamos numa gradativa evolução. A família é o reduto inicial e final.” Daniela Panassal Kreuz, advogada, presidente da JCI Novo Hamburgo, casada com Gustavo Eduardo Gardyni dos Santos
NA PRACINHA: Sandro Luis Konzen com o filho Davi, de 2 anos e 8 meses, de Estância Velha
“Na família encontramos exemplos para a vida. Olhando para nossos pais, imaginamos o que poderemos ser quando crescermos. A família é o núcleo onde se produz constantemente um jogo entre reter e reprimir, moldando de um lado e possibilitando o romper, o explodir, o transgredir os limites do outro lado. Construindo caminhos que transformam, produzem desejos e permitem ao sujeito desenhar a sua própria história. É o lugar onde devemos preservar e ensinar o amor e o respeito profundo da vida, em toda sua forma. Que se configurará na educação que construímos e na ética das relações. “ Jaqueline Tomedi, psicóloga e psicanalista, casada com Marco Aurélio Leindecker, mãe de Sofia, 13, e Júlia, 9, de São Leopoldo
A família contemporânea
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família idealizada está se dissolvendo, visto que o afeto e a segurança esperados de um lar estão sendo substituídos pela ocupação em produzir e consumir (Negreiros e FéresCarneiro, 2004). Mas o que se pretende com tamanha produção e consumo? As pessoas, na maioria das vezes, não sabem o que querem, o que as paralisa em uma sensação de desconforto e vazio, fazendoas produzir e consumir cada vez mais. Todavia, ao invés de tentarem dar conta dessa rotina frenética, as pessoas deveriam reconhecer seus reais desejos e valores. Um dos principais desafios atuais é diminuir a velocidade imposta pelo social e se reconectar nas relações (Papp, 2002), visto que os cuidadores estão se afastando de suas tarefas e responsabilidades para com seus filhos. Percebe-se que a família precisa lidar com inúmeros atravessamentos, fazendo com que o tempo se torne escasso; a inversão dos papéis, sendo necessário resgatar a hierarquia; a invasão tecnológica, sendo importante perceber os limites do mundo virtual; dentre outras
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ESPECIALISTA
Kamila Scheffel*
Psicóloga Clínica / CRP 07/14576
questões contemporâneas que tornam o “ter” superior ao “ser”. Atualmente, se fala no mundo de antigamente e no moderno, como se fossem experiências dissociadas, todavia as gerações se interligam, sendo necessário buscar um equilíbrio, a fim de usufruir dos aspectos positivos e aprender com os negativos. Precisa-se desfrutar dos avanços tecnológicos, sem perder os valores e a simplicidade dos ensinamentos antes da era virtual, visto que essa interligação é necessária para uma evolução saudável. Diante de tantas demandas do consumo, muitas vezes, as pessoas encontram-se atrapalhadas e sem direção, pois não sabem o que é o básico para as relações familiares. Mesmo com inúmeras ofertas que o dinheiro pode comprar, o básico continua sendo gratuito. O afeto precisa ser o ingrediente fundamental para as relações, visto que nada substitui o olhar, a atenção e o cuidado para com o outro. Portanto, é necessário resgatar e lapidar o amor, o qual não está nas prateleiras, mas dentro de cada um de nós! * Terapeuta de Casal e Família
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ESPECIALISTA
De pai para filho: lições de como lidar com o dinheiro
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fundamental o debate sobre o papel do pai no desenvolvimento da educação financeira dos filhos. Diante de um cenário de consumismo desenfreado, população endividada ou frustrada por não conseguir realizar seus sonhos, ensinar crianças e jovens a como lidar com dinheiro e controlar os anseios tornou-se um dos principais desafios dos pais. Lembro que as famílias têm papel fundamental no significado que os filhos atribuem ao dinheiro e na forma como irão administrar seus recursos financeiros ao longo de toda a vida. Muitos pais que não receberam orientação dessa natureza encontram dificuldade de transmitir esse conhecimento. Mas agora estão ganhando aliados nessa tarefa, como as escolas, que estão adotando programa de educação financeira para alunos desde o Ensino Infantil ao Médio. Quando começar? É uma característica das crianças serem muito observadoras e desde cedo começarem a perceber que o dinheiro tem uma importância na vida dos pais; em paralelo, elas passam a estabelecer desejos de consumo. A partir da percepção deste entendimento, que ocorre normalmente por volta dos três anos, já deve ter início a educação financeira. Elas observam os adultos entregarem dinheiro, cartões e cheques em troca de mercadorias. Ou seja, que troca-se dinheiro por coisas que se quer ter. Ao mesmo tempo, crianças e jovens estão expostos às mensagens publicitárias que estimulam o desejo de ter.
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Reinaldo Domingos Educador *
Combatendo o consumismo - O antídoto para os possíveis efeitos nocivos do estímulo ao consumo é envolver eles nas decisões familiares sobre os gastos, colocando os sonhos em primeiro lugar. Temos de mostrar que é preciso ter objetivos, fazer escolhas e que nada é mágico, porém, tudo é possível, desde que o dinheiro seja usado com foco e sabedoria. Dessa forma, mostra às crianças e aos jovens que acordos não significam negação, mas sim negociação. Eles perceberão que é possível ter, porém nem sempre no momento em que se quer. Essa prática também ajuda a aliviar o sentimento de culpa de muitos pais porque, nesse exercício, eles também aprendem a se reeducar financeiramente e deixam de ver o dinheiro – ou o poder de comprar – como uma válvula de escape para suprir lacunas em outros aspectos da vida. A falta de educação financeira - Uma criança que não é educada financeiramente trará grandes problemas de descontrole para os pais, por querer tudo que vê e fazer “birra”. Hoje, a criança é elevada ao status de consumidora sem estar preparada. E a publicidade utiliza de propagandas tão apelativas que causam desejos imediatos de querer o produto. Você é o exemplo! Se a criança vê os pais comprando sem parar, vão tender a seguir esse exemplo. Desde cedo, é preciso demonstrar que a felicidade não está associada ao consumismo desenfreado, e sim na realização de objetivos. * Terapeuta financeiro e escritor
ESPECIALISTA A família, a primeira instituição de aprendizagem, e os pais na função ensinante
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ste artigo enfatiza a escuta psicopedagógica para a família e foca nos pais e na sua função de ensinante. A proposta é abrir espaços para entender o desenvolvimento da matriz de aprendizagem e fortalecer a função de ensinante dos pais. Competir com as mídias e tecnologias é uma tarefa difícil. Sendo assim, trabalhar com pais é lhes devolver a confiança nas tramas de suas histórias de filhos. É deixá-los livres para a construção de suas próprias famílias. Considera-se que a construção do conhecimento depende da experiência emocional primitiva e subjetiva dos primeiros tempos de vida das crianças. A trama que faça a ponte entre pais e filhos, e promova essa interação com gestos, toques e olhar. Os pais são as primeiras figuras ensinantes, são eles que através de códigos comuns construirão um espaço de autonomia, confiança e possibilita dor. A matriz de aprendizagem que a criança opera na escola provém dessa primeira matriz.
A criança reedita na professora, futuramente, o vínculo que teve com sua mãe, com seu pai, em relação ao ensino. Inicialmente é o seio, são os braços sustentando que a criança ande... Em seguida, serão as letras, os números, a geografia, a história... Entende-se por aprender, a possibilidade que a criança tem de incorporar e transformar as informações que são do Outro, ao seu saber pessoal, para desta forma, construir e reconstruir o conhecimento. Portanto, se faz imprescindível a presença de quem ensina o ensinante, que possibilita e veicula esta transformação, com significações e significados. Mais do que normas, os ensinantes-pais passam aos filhos significações. Não existe a possibilidade dos filhos não portarem significantes dos pais. A modalidade de aprendizagem é também a forma da criança relacionarse, buscar e construir novos conhecimentos, é o modo de posicionar-se ante si mesmo como autor de seus pensamentos.
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Joana D’Arc Wittmann Psicopedagoga clín/inst.*
Assim, os pais ou figuras que exercem este papel funcionam como um mediador da realidade.Passa-se de um lugar de escuta no discurso da criança para o da contraargumentação, no sentido de problematizar e levantar hipóteses, incentivando assim o conflito cognitivo. A Psicopedagogia tem seu campo de escuta à medida que possibilite criar espaço de reordenação dos saberes cotidianos, possibilitando aos pais pensarem sobre sua função e suas histórias de aprendente. Um espaço de escuta que detecta no discurso deles as questões inconscientes de suas matrizes de aprendente-filho e que produz no filho sintomas. Estes sintomas podem ser dificuldades de dormir, comer, fazer cocô ou xixi, ler e escrever. A escuta psicopedagógica abre um novo espaço aos pais dando novas significações aos acontecimentos. Neste sentido, dar um espaço para que falem e para historiar-se como família. * Presidente do Instituto Rede Conecte
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Vamos brincar juntos? Raquel Dilly Konrath Pedagoga*
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im!! Brincar juntos! Essa provocação parte da ideia de que muitas vezes nós pais e adultos nos queixamos das crianças contemporâneas, dizendo: “Essas crianças de hoje são muito diferentes! Não sabem mais brincar! Só querem saber de televisão e eletrônicos!” Lhes pergunto: Quem de nós, pais, ensina seu filho ou sua filha a brincar? Quem tem tempo para brincar junto? Ao relembrarmos com nostalgia o nosso tempo feliz comparando-o com a infância de hoje, nos esquecemos de relacionar outros aspectos sociais importantes que também mudaram: a mulher também está no mercado de trabalho, a falta de tempo e o grande estímulo da mídia para o consumismo. Além disso, tínhamos irmãos, primos ou vizinhos para brincar em espaços abertos com maior tempo livre, sem tanto controle e preocupação. Poucos de nós adultos tivemos uma infância solitária e emparedada. Subíamos em árvores, brincávamos de esconde-esconde na rua e inventávamos as nossas brincadeiras e criávamos os nossos brinquedos.
E hoje? O que permitimos e oferecemos de oportunidades de brincadeiras e brinquedos para as nossas crianças? Não somos nós, pais e adultos, que as inserimos nessa cultura lúdica eletrônica e individualista? Reconhecemos que a sociedade, as necessidades e as crianças mudaram. No entanto, a necessidade infantil em relação a importância do brincar, não! Ela continua sendo considerada como fundamental e deveria ser uma das nossas grandes preocupações num mundo cada vez mais acelerado e fragmentado. Infelizmente, sem nos darmos conta, entramos nessa lógica capitalista e econômica enchendo nossos filhos e filhas de brinquedos que brincam sozinhos e que não permitem sua criação, imaginação e nem movimentação, pois já vêm prontos e se limitam, muitas vezes, a um olhar, ouvir e ficar sentados. E nessa lógica educamos e criamos filhos passivos, sedentários e com poucas condições para criar, imaginar e se movimentar. Escolhemos e preferimos os brinquedos que não exigem a nossa interação por não termos tempo e contribuímos para o aumento
ESPECIALISTA de uma das grandes dificuldades que a infância enfrenta hoje que é falta de socialização com outras crianças e adultos em momentos espontâneos, e a pouca estrutura emocional para resolver e enfrentar conflitos, ou seja, lidar com as frustrações. Ou ainda, pressionamos as escolas de Educação Infantil a acelerarem o processo educativo, escolarizando as práticas pedagógicas enchendo-as de atividades sem significado, numa rotina adulta com tempo e hora marcada, sem flexibilidade, sem escolha de espaço e tempo para se deslocar e movimentar com autonomia. Sem tempo para brincar, criar, imaginar e se desenvolver de forma saudável. Brincar é dos direitos fundamentais de toda criança, conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei nº 8.069 de 13-07-1990), artigo 16, inciso IV, que nos orienta de que toda a criança tem direito de “brincar, praticar esportes e divertir-se”. No entanto, deveríamos nos questionar como compreendemos hoje esse brincar. O brincar é coisa séria! Não é perder tempo! A brincadeira é a vida da criança e uma forma prazerosa e alegre para ela movimentar-se e ser independente. Brincando e interagindo com outras pessoas, a criança
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desenvolve os sentidos, cria suas hipóteses e estratégias, adquire e desenvolve habilidades socioemocionais e desenvolve a coordenação físico motora, usando as mãos e o corpo para se movimentar. Isso significa que, brincando, entrando em contato com diferentes ambientes, relacionando-se com os outros, as crianças desenvolvem-se integralmente: seu físico, a mente, a autoestima, a afetividade, torna-se assim mais ativa e curiosa. Brincar retrata a saúde mental da criança! A criança que aprende a brincar e interagir, além de se desenvolver melhor em vários aspectos, se torna um adulto mais feliz e criativo, com melhores condições cognitivas e emocionais para lidar com os desafios que a vida adulta há de fazê-los enfrentar. Por isso: Vamos brincar juntos! Somente reservando um tempo para observar as crianças e, às vezes, brincar com elas, e perto delas, é que nós, pais e adultos, somos capazes de reconhecer que o brincar contém informações importantes sobre o seu nível de desenvolvimento, sobre as suas capacidades organizadoras e sobre seu estado emocional. * Doutoranda em Manifestações Culturais e diretora da Aprendente Gestão da Aprendizagem
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Reconheça quando seu filho é mais feliz
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ocê tem fome de quê? Assim inicio essa reflexão que vai conduzir pais e filhos a potencializar a relação no máximo da simetria possível. Tem gente que pensa que educar e ensinar são sinônimos. Tudo indica que educar refere-se a influenciar positivamente a vida de alguém. Educar filhos com base nos valores éticos, morais, afetivos e intelectuais numa sociedade que conquista crianças e jovens através de desenhos, filmes e propagandas direcionados para todos os gostos e idades, parece um tanto desafiador. Agora imagine você, quando o uso excessivo dos meios de comunicação atrai crianças e jovens na direção de uma diversão sem limites, ou seja, um tanto exagerada, pendendo inclusive ao descontrole de um consumismo caótico. Uma análise mais profunda do que se considera educar, leva-nos para uma viagem aos tempos remotos, quando ainda na infância os pais exerciam ao máximo sua autoridade sobre os filhos. Poderiam ser tempos considerados difíceis pelo fato de que parte ou todos os membros da família deveriam trabalhar para o sustento familiar. Os brinquedos eram confeccionados pelas crianças e, em alguns momentos, com a participação dos familiares. A obediência aos pais era sagrada num mantra de “manda quem pode, obedece quem tem juízo” (provérbio português). Todavia, a realidade atual nos coloca numa posição de reflexão acerca do que se
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Sandra Castro Pedagoga*
considera crucial na educação dos filhos. Embora os avanços tecnológicos, as mídias sociais e outros apelos contemporâneos tenham desviado o foco para o imediatismo, é urgente a reflexão sobre o que pretendemos com a educação de nossas crianças. Precisamos adentrar no que chamo de exercer o poder através de atitudes. Acompanhe a lógica a partir dos seguintes apontamentos: • Toda criança tem sede de brincar > Tudo inicia com brincadeiras individuais seguindo para a coletividade; • Seu filho precisa saber que você o ama incondicionalmente > Você pode demonstrar esse sentimento de diferentes maneiras: pode interagir com ele através de uma contação de história ou simplesmente juntando-se a ele em suas mirabolantes brincadeiras de faz-deconta, em outras palavras, brincadeiras de imaginação, aliás, tão popular e a mais especial para eles, onde eles demonstram o gosto do fantasiar; • Você continua sendo a referência para ele > você tem o livre-arbítrio para escolher se deseja ser um exemplo positivo. Nem precisa saber o que tem sido para ele, suas atitudes mostrarão o que seu filho pensa a seu respeito; • Se esforce para transmitir valores de convivência numa perspectiva de maior consciência> refiro-me a focar suas atitudes naquilo que é imprescindível para o bem estar de todos nós nesse mundo.
ESPECIALISTA Acompanhe-me nos três passos e veja o impacto que a sua mudança poderá causar, trazendo benefícios a todos nós, inclusive às pessoas de sua convivência: 1) Seu filho precisa saber que lixo se joga na lixeira. O chão serve para transitarmos de um lugar ao outro, sem os inconvenientes esbarros em objetos ali deixados. 2) Retribua toda gentileza que ele prestar a você ou a outrem. Ele saberá a importância de um MUITO OBRIGADO, POR FAVOR, DESCULPE, COM LICENÇA vendo você mesmo fazendo isso também. 3) Fortaleça a autoestima de seu filho. Diga o quanto ele é importante para você, valorize suas pequenas conquistas e vibre com ele suas maiores vitórias. Voltando a pergunta: você tem fome de quê? Escolha pela fome da conquista, da superação, da vitória, do crescimento, das alegrias e reconheça em você a capacidade de ensinar coisas incríveis. Exerça seu poder de influência da melhor maneira, sendo proativo na tomada de decisões. Você consegue, essa força está em você e essa leitura tem como propósito agregar valor ao seu mais precioso objetivo: a felicidade de seus filhos. * Especialista em Gestão e Desenvolvimento Humano, sócia fundadora e palestrante da Latusenso
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A impor�ância da ar�e Leandra Wecker * Professora
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epois de mais de 20 anos trabalhando na área da Arte, tenho refletido sobre sua importância da atividade na vida das crianças e adolescentes. Sei que ela é relevante para fomentar a sensibilidade dos mesmos diante da vida e de tudo que a permeia. Somos seres carregados de ideias, percepções e sentimentos que precisam ser vivenciados e externados, e isso a arte proporciona. Da mesma forma, ao conhecer obras e artistas é possível entender como essas pessoas se manifestaram em sua época. Agora, em 2015, decidi proporcionar à quatro alunos o aprofundamento sobre a Arte e, ao mesmo tempo, dar a eles a oportunidade de serem autores de suas próprias obras através da produção de um livro. Estaremos articulando a produção, fruição e reflexão. Entender também que o desenho é fonte original de criação e invenção, exercício da inteligência humana. Esta nova experiência nos pareceu assustadora num primeiro momento, mas acredito que desafios como este nos movem e fazem crescer. “É preciso buscar o que só se pode alcançar por meio de maiores esforços” (Einstein). * Licenciatura Plena em Educação Artística
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ESPECIALISTA
A maternagem é o exercício do amor
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evantar na madrugada para conferir a respiraçāo do bebê, acalmá-lo após um pesadelo , cumprir a exaustiva rotina de troca de fraldas entre mamadas, pausa para arrotinho, banho, embalar para dormir e fazer duas ou três coisas enquanto nāo acordar, ajudar no dever de casa e tantas outros tarefas é a materializaçāo do amor que podemos sentir por um filho. Assim como há pais que nāo exercitam a maternagem e nāo chegam a experimentar os picos baixos e altos deste amor para com seu bebê, existem outros que o atingem mesmo quando o filho nāo é biológico. Os filhos adotados sāo aqueles que geram em nossos coraçōes como um sonho a ser alcançado. Sāo os filhos que não dependem somente de um planejamento, de uma vontade de se tornar māe ou pai ou até mesmo de um descuido, mas sim sāo os filhos que representam um ato de puro amor e doaçāo ao outro. O exercício que aqui
falamos deve ser mais intenso porque na maioria das adoçōes a maternagem vem recheada do desconhecido, do tempo que se perdeu sem a merecida atençāo, de medos e expectativas. É preciso ainda haver reciprocidade porque o filho adotado também precisa aceitar a nova família. Enfim, a maternagem é a maior demonstração de amor, é a forma mais plena de exercitar o amor entre os seres humanos. Os amores materno e paterno, seja pelo filho biológico ou de igual forma pelo filho
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Melissa Pereira Advogada
adotivo, é o sentimento humano que mais se aproxima do amor de Deus, eis que não visa recompensa, não quer nada além do bem estar e felicidade plena do ser amado, seu filho. E em ambos os casos, é o amor de Cristo nos unindo. Nota da Editora: Mesmo com dois meninos maravilhosos, desde o ano passado, um menino - hoje com 2 anos - integra a família de Melissa, dando ainda mais sentido à palavra amor. O processo de adoção se inicia na habilitação do responsável (futuro papai ou mamãe ou ambos) como adotantes para espera. Nesta habilitação, após avaliação social e psicológica, já ocorre manifestação de vontade quanto às características e condições físicas da criança a ser adotada. Após a espera pelo novo filho, que pode variar de 3 a 8 anos aproximadamente (a idade desejada da criança pode interferir muito nessa espera, pois quanto menor, mais tempo se aguarda), inicia-se o processo de adaptação que pode ser curto ou mais prolongado, variando também de acordo com a aceitação do menor. Com a guarda provisória com fins de adoção em mãos e a destituição do pátrio poder dos pais biológicos, inicia-se o processo judicial de adoção para finalmente a adoção se tornar definitiva. Enquanto o processo de adoção está em andamento, o menor e sua nova família já estão convivendo normalmente. Mais informações junto à Vara de Infância de sua cidade.
Minha mãe costumava cantar e contar histórias
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uando uma criança nasce, ela já vem com características de personalidade. Talvez qualidades e defeitos também já estejam impressos, e tudo se desenvolve através de influências. A família é a primeira e grande influência na vida de todos nós. Somos o resultado de influências e de experiências positivas e negativas que começam na infância. A principal função da família é apoiar, e permanecer ao seu lado nos momentos mais difíceis, ajudar a alcançar seus sonhos, derrubar muros, romper barreiras. Mas, principalmente, sua família é aquela em que você sempre poderá confiar. Uma família pode ter várias formas. Não importa se seus pais são adotivos, se você é criado apenas pelo pai ou pela mãe, se você vive com seus avós ou com seus tios (#likeaharrypotter). O coração é aquele que define sua família. Minha mãe conta que costumava cantar para eu dormir ou mesmo para me acalmar. Dava certo e fui demonstrando gosto pela música. Depois, quando fiquei maior, ela
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FILHOS
Julia Ramos Estudante
começou a me contar histórias para me fazer pegar no sono. Às vezes não funcionava, pois acabava ficando acordada para ouvir o final. Ganhei o gosto pelas histórias e com o tempo os livros se tornaram essenciais na minha vida, assim como a música. A família sempre foi muito importante para mim. A atenção que recebi em relação aquilo que eu gostava ou que me interessava, resultou em apoio para me tornar o que sou hoje. O apoio da família é fundamental quando nos deparamos com dificuldades, daquelas que nos fazem pensar em desistir. Quem me ajuda quando passo por esse tipo de dificuldade? Minha família. Muitas vezes, com inúmeras discussões. Claro, toda família também tem seus desentendimentos. Mas, que relacionamento não tem? Não saberia dizer o quanto o gosto pela arte nasceu impresso em mim ou o quanto ele é resultado das influências. Meu nome é Julia Ramos, tenho 14 anos, e graças ao apoio de minha família, sou cantora e escritora.
FILHOS
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Lucas Rafael da Silva Rosa
Carolina dos Santos Monteiro * Estudante do 3º ano da EMEF Borges de Medeiros
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u percebo muitas coisas nas famílias. Tem família que são pai, mãe e filho, também tem vô, vó e neto, tem tia, tio e sobrinho. Tem vários tipos de famílias, tem família pequena, família grande, tem família de dois, tem família de cinco e também família de quatro. Família também é amor, é carinho, é paixão é um laço que nunca se desmancha. A minha família é muito importante para mim. Ela é importante porque é especial, tem a minha mãe, o meu pai, os meus avós, meus tios todo mundo que eu amo forma essa família. Eu amo minha família. Eu queria que todas as famílias fossem muito mais felizes e unidas e se todos fizerem a sua parte vão ter uma família cada vez mais unida e amorosa. Família é tudo de bom, então vamos agradecer por termos uma família tão especial, seja grande ou pequena a família vai sempre estar no nosso coração porque a nossa família sempre nos acolhe e sempre vai estar lá para te encorajar e para te ajudar.
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* Estudante do 9º ano da EMEF Duque de Caxias
ara mim, de todas as coisas que temos em nossas vidas, a família é o bem mais importante de tudo. A família é a nossa base enquanto pessoa, mas também é o alicerce da sociedade, é responsável pelo desenvolvimento do caráter e da educação de todos os indivíduos, ou seja, é através da família que construímos a sociedade. Um dos maiores exemplos de cidadania que as pessoas possuem vem de dentro de casa, vem da família, do pai que ensina a ter responsabilidade, da mãe que ensina a ter educação... ou de qualquer outra pessoa que assume o papel de criar, amar e educar... isso tudo significa que o amor da família é fundamental para um mundo melhor. Entre tantas funções que a família tem, uma delas é incentivar o desenvolvimento cultural e emocional de seus membros... é importante respeitar a família em todas as suas formas e concepções. Nos últimos anos, o conceito de família mudou bastante, e atualmente existem vários conceitos de família, podendo ser ou não heterossexuais, com ou sem pai ou mãe, mas o mais importante é que haja amor e que cada vez menos os filhos tenham vergonha ou não aceitam suas famílias. Diante disso tudo, acredito que as famílias quanto mais unidas são, mais afeto possuem, podendo demonstrar mais carinho e amor um com o outro, pois os momentos familiares são os mais importantes para a felicidade dos pais e filhos. Tendo uma boa estrutura familiar podemos encarar o mundo com mais coragem, pois sabemos que nossa família sempre estará lá para nos acolher quando precisarmos. * Redações vencedoras da Semana da Família de Campo Bom
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Revista MultiFamília é uma publicação da: Ano 1 - Número 1 - Outubro/Novembro-2015 Circulação: Bimestral - 2.000 exemplares - Distribuição: Gratuita Edição: Sandra Hess (Jornalista - MTB/RS 11.860) Diagramação: Cleber Zanovello Dariva (Jornalista - MTB/RS 11.862) Capa: Freeimages | Fotos: Sandra Hess | Joy Studio | Arquivo pessoal Impressão: BT Gráfica Entre em contato: 51-9961-4410 | contato@zmultieditora.net Confira a edição eletrônica em www.zmultieditora.net
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