AAI em revista - arquitetos 2018

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ANO XVI | 2018 # 73 R$ 20,00 # 73 R$ 20,00

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ISSN 2447-3596

ISSN: 2447-3596 ISSN 2447-3596

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A R Q U I T E T O S

ARQUITETURA DE INTERIORES Projetos de destaque

30 ANOS DE ARQUITETURA DE INTERIORES Profissão | Mercado | Academia

ASSISTÊNCIA TÉCNICA PARA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL Desafios | Oportunidades

ENTREVISTA: FGMF Compromisso com o bem-estar


AAI EM REVISTA ARQUITETOS 2018


Editorial

Três décadas se passaram desde a fundação da Associação de Arquitetos de Interiores do Rio Grande do Sul, sendo a primeira – e ainda única – entidade representativa da atividade no país. Ao mesmo tempo em que os dirigentes lutavam pelo reconhecimento e pela valorização da profissão, os arquitetos e urbanistas brasileiros vivenciavam a transformação da prática da Arquitetura de Interiores. A revolução tecnológica, a abertura do mercado, os novos métodos de gestão e os modernos rearranjos produtivos exigiram um novo modus operandi ao segmento. O cliente tornou-se mais consciente da importância da atuação do arquiteto e urbanista para a criação dos espaços de morar, trabalhar, conviver; e, na mesma medida, passou a exigir muito mais dos profissionais, diante da profusão de referências que a internet, especialmente, proporciona. A AAI teve papel decisivo nessa evolução, sem dúvida, como evidenciamos na matéria especial que trazemos nesta edição. Desde as primeiras reuniões do grupo fundador, os esforços para a capacitação e atualização profissional tornaram-se constantes. Aqueles pioneiros, expoentes do segmento à época, estavam cientes de que a qualificação era a receita para a conquista do reconhecimento. E de que somente a partir da união das competências individuais é que todos nós prosperaríamos. Por isso, parabenizamos os fundadores da Associação, pela iniciativa e coragem: Ana Luiza Cuervo Lo Pumo, Arlene Lubianca, Cláudio Fischer, Gilberto Sibemberg, Isac Hochberg, Jayme Leventon, João Carlos Bento, José Hélio Costalunga de Freitas,

Joyce Chwartzmann, Maria Cristina de Azevedo Moura, Marta Elian Hochberg, Moacyr Kruchin, Raul Pêgas, Roberto Bordasch, Salus Finkelstein, Sidnei Birmann e Sônia Tarasconi Pinheiro Machado. E, também, todos os colegas que assumiram cargos diretivos à frente da AAI ao longo desses 30 anos, nas gestões presididas por Joyce Chwartzmann, Gilberto Sibemberg, Arlene Lubianca, Clarice Mancuso, Gislaine Saibro, Lúcio Cabral Albuquerque, Denise Carazza, Cristina Duarte Azevedo, Cristina Langer e Silvia Monteiro Barakat e por mim. O trabalho desenvolvido no Rio Grande do Sul ecoou pelo país e, então, ampliamos nossos horizontes e fundamos a AAI Brasil. Acreditamos na força do trabalho colaborativo; firmamos parcerias com outras entidades representativas da Arquitetura e Urbanismo no estado, fortalecemos a profissão e lutamos pela criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo. Somos partícipes dessa conquista, que é de todos. Permanecemos empenhados na qualificação da Arquitetura de Interiores e na capacitação para o exercício profissional. Nossas bandeiras são a ética, a responsabilidade e o compromisso. Agradecemos a todos os nossos associados, aos parceiros, às empresas e instituições que participaram, apoiaram e patrocinaram nossas iniciativas e, especialmente, homenageamos nossos clientes, que nos permitem entrar em suas casas e contribuir para a realização dos seus sonhos. Arq. e urb. Cármem Lila Gonçalves Pires PRESIDENTE AAI BRASIL/RS - 2017 – 2º SEMESTRE

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Sumário Concurso Imagem da Capa

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Projetos de Arquitetura de Interiores

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Arquitetura de Interiores - 30 anos

33

Universidades

44

Mercado

48

ATHIS - 10 anos

53

Entrevista

61

Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social

FGMF - Forte, Gimenes & Marcondes Ferraz

CONSELHO EDITORIAL

PRODUÇÃO E EDIÇÃO

TIRAGEM

Arq. e urb. Gislaine Saibro

Letícia Wilson (Reg. 8.757 MTB/RS)

2.000 exemplares

Jornalista Letícia Wilson

Santa Editora

CAPA

contato@santaeditora.com.br

ISSN

www.santaeditora.com.br

2447-3596

Projeto: arq. e urb. Claudia Renata Silva Xavier

COLABORAÇÃO

Foto: Melissa Machado

Jornalista Fabiane Madeira (Reg. 9613 MTB/RS) Jornalista Fabrício Umpierres (Reg. 01521 JP/SC)

EDIÇÃO GRÁFICA

Jornalista Tatiana Gappmayer (Reg. 8.888 MTB/RS)

Designer gráfico Andrezza Nascimento REVISÃO ORTOGRÁFICA TRATAMENTO DAS IMAGENS

Giane Jacques Antunes Severo

Fotógrafo Ronald T. Pimentel Conceitos e opiniões emitidos por entrevistados e colaboradores não refletem, necessariamente, a opinião da revista e de seus editores. Todos os direitos são reservados. Edição especial da AAI em revista - arquitetos. Distribuição dirigida a arquitetos e urbanistas, entidades de classe, instituições de ensino e empresas do setor. Órgão oficial da AAI Brasil/RS.

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Jovens Expressões Gaúchas

67

Artigo

72

Responsabilidade Técnica

74

Arquitetura de Interiores em evidência

76

Onde encontrar

78

Exercício de empatia, por Joaquim Haas Presidente do CAU/RS

Reformas em condomínios

DIRETORIA - GESTÃO 2017 - 2º SEMESTRE

PRESIDÊNCIA DIRETORIA DE EXERCÍCIO PROFISSIONAL DIRETORIA DE RELAÇÕES ACADÊMICAS

Porto Alegre/RS (51) 3228.8519 | 99511-7544 www.aaibrasilrs.com.br

DIRETORIA DE COMUNICAÇÃO / RELACIONAMENTO DIRETORIA DE EVENTOS DIRETORIA DE MARKETING DIRETORIA DE GESTÃO E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DIRETORIA FINANCEIRA / TESOURARIA

Arq. e urb. Cármen Lila Gonçalves Pires Arq. e urb. Flávia Bastiani Arq. e urb. Elisabeth Sant’Anna Arq. e urb. Ana Paula Bardini Arq. e urb. Silvia Monteiro Barakat Arq. e urb. Andres Luiz Fonseca Rodriguez Arq. e urb. Ana Lore Miranda Arq. e urb. Gislaine Saibro

aaibrasilrs aaibrasilrsarquitetos O Conselho Diretor e a Diretoria da AAI Brasil/RS são os mesmos da AAI Brasil.

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QUEM SABE COMO PROJETAR E CONSTRUIR SABE TAMBÉM COMO ALTERAR O PROJETO.


O lugar onde vivemos acompanha as transformações da vida. E o arquiteto e urbanista faz parte destas mudanças. É compromisso do Conselho de Arquitetura e Urbanismo - CAU/RS a valorização da profissão do arquiteto e urbanista. Ao defender que toda a atividade de arquitetura de interiores deve ter um responsável técnico e a documentação adequada, o CAU/RS mostra que o conhecimento técnico do profissional - em projeto e em obra - traz qualidade e segurança para a sociedade.

CONTRATE UM ARQUITETO E URBANISTA


Foto: Melissa Machado | Divulgação

Capa

A foto que estampa a capa desta edição da AAI em revista – arquitetos é do projeto da arquiteta e urbanista Claudia Xavier, apresentado em detalhes na publicação. A fotografia foi a mais votada no Concurso Imagem da Capa, realizado pela AAI Brasil/RS, há três anos, para a definição da capa do anuário de forma participativa. A revelação foi feita somente no lançamento da edição, durante o evento comemorativo ao Dia do Arquiteto, ocorrido no dia 7 de dezembro. As outras três imagens mais votadas foram as dos projetos da arquiteta e urbanista Angela Limberger, do arquiteto e urbanista Marcelo John e das arquitetas e urbanistas Cristiana Brodt Bersano e Micheli da Silveira, respectivamente consideradas primeira, segunda e terceira finalistas do Concurso Imagem da Capa 2018. Todos estão devidamente indicados nas páginas nas quais são apresentados nesta edição. Dentre os arquitetos e urbanistas participantes da exposição de trabalhos na revista, sete manifestaram interesse de participar do concurso. Para a definição de uma imagem de cada projeto inscrito, uma seleção prévia foi feita pela Comissão Editorial da AAI em revista – arquitetos, formada pela arquiteta e urbanista Gislaine Saibro, diretora da AAI Brasil/RS, e pela jornalista Letícia Wilson, editora da publicação. Dentre os critérios, conforme o regulamento do concurso, elas consideraram a imagem que melhor teria adequação ao projeto gráfico e ao formato da capa e a representatividade do trabalho de Arquitetura de Interiores. Dessa forma, sete imagens foram submetidas à votação, 8

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Imagem vencedora do Concurso Imagem da Capa 2018 Projeto da arquiteta e urbanista Claudia Xavier

realizada pela internet. Todas foram numeradas aleatoriamente, sem a identificação dos autores dos projetos. Antes restrita aos associados, a votação, este ano, foi aberta ao público, permitindo um voto por E-mail cadastrado. A AAI Brasil/RS agradece a todos os associados participantes desta edição da AAI em revista – arquitetos, comemorativa aos 30 anos de fundação da entidade, que conta com o patrocínio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU/RS).


Foto: Eduardo Liotti | Divulgação

Foto: André Nery | Divulgação

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Foto: Tânia Meinerz | Divulgação

1 - Imagem eleita como ‘Primeira Finalista’ Projeto da arquiteta e urbanista Angela Limberger

2 - Imagem eleita como ‘Segunda Finalista’ Projeto do arquiteto e urbanista Marcelo John

3 - Imagem eleita como ‘Terceira Finalista’ Projeto das arquitetas e urbanistas Cristiana Brodt Bersano e Micheli da Silveira

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Profissionais

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Ana Lore Miranda

Angela Limberger

Claudia Xavier

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Cristiana Brodt Bersano e Micheli da Silveira

Flรกvia Bastiani

Gabriela Raymundo e Jeanini da Silva

Karen Haas

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Marcelo John

Tania Bertolucci e Carolina Nuernberg

Tina Zimmermann


Projetos 11


Ana Lore Miranda ARQUITETA E URBANISTA Travessa Wilhelms, 2.470 – Taquara / RS (51) 3542-1192 analore@analore.com.br www.analore.com.br facebook.com/analorearquiteta CAU: A12286-6

Ana Lore Miranda é arquiteta e urbanista formada pelo Centro Universitário Ritter dos Reis, atual UniRitter, em 1985, especializada em Iluminação e Design de Interiores pelo Instituto de Pós-graduação e Graduação (IPOG). Nesses 32 anos de mercado tem atuado, principalmente, na região do Paranhana, no Vale dos Sinos e na Serra gaúcha, com ênfase na cidade de Canela. Atualmente, participa da diretoria da AAI Brasil/RS.

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O Método Montessori é um princípio pedagógico que vai muito além das salas de aula. As teorias seculares desenvolvidas pela educadora e médica italiana Maria Montessori evidenciam a importância de promover a autonomia e valorizar a individualidade da criança também em casa. O projeto de Arquitetura de Interiores deste dormitório infantil, de 8,78m2, de uma residência em Taquara (RS), foi elaborado de acordo com os conceitos montessorianos, a pedido do casal de clientes, pais de uma menina de três anos. “É fundamental que tudo tenha fácil acesso, que esteja ao alcance das mãos, para que a criança possa interagir em todos os espaços”, explica a arquiteta e urbanista Ana Lore Miranda, autora da proposta. Nesse sentido, ela projetou mobiliário com nichos, dispôs bancos e quadro negro em altura adequada à idade e apostou em uma decoração lúdica, atendendo aos requisitos de promover o estímulo e as experiências sensoriais. O estilo minimalista, assim como a iluminação indireta, o uso de espelho de corpo inteiro e de carpete como revestimento de piso, desejados pelos clientes, estão igualmente de acordo com o método.

Antes do planejamento do dormitório, no entanto, era preciso resolver um grande problema. “O local recebia pouca insolação e apresentava muita umidade. Era importante solucionar essa questão para oferecer maior conforto ao usuário”, enfatiza Ana Lore. Na investigação, não foi encontrada infiltração, mas, sim, peças ocas no piso original, de cerâmica. Parte do piso foi, então, removido e a profissional optou pela criação de um piso elevado, de madeira, para a área de dormir, especificando isolamento com lã de rocha e lã de vidro entre o piso e o contrapiso de concreto. Esse novo patamar, com desnível de 12cm, foi coberto por carpete. Painéis de madeira aplicados em parte das paredes contribuíram para oferecer ainda mais conforto. Além dos nichos do mobiliário, a iluminação indireta foi planejada com um ‘céu estrelado’, com luminárias embutidas e pontos de luz no forro criado por Ana Lore. No rebaixamento, em gesso, foi preciso considerar o condicionador de ar do tipo split já existente. O projeto foi ao encontro do conceito principal do projeto: despertar a curiosidade e a imaginação, além de proporcionar uma sensação de tranquilidade.

Apoio ARTEMAFE Móveis sob Medida LAM Gessos e Divisórias Lucendi Iluminação Rubeal Decorações

Fotografia Thomas Miller

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Angela Limberger ARQUITETA E URBANISTA Praça Júlio de Castilhos, 20 / 202 Porto Alegre / RS (51) 3311-0913 (51) 9969-5447 arq.angelalimberger@hotmail.com CAU: A87670-4 Primeira finalista do Concurso Imagem da Capa 2018

Angela Limberger é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Unisinos há 30 anos, e possui curso de Desenho pela Faculdade de Belas Artes da Universidade Federal de Santa Maria (RS). Nestas três décadas de atuação, desenvolve projetos de Arquitetura de Interiores residenciais com enfoque no detalhamento de móveis para marcenaria sob medida. Angela oferece atendimento personalizado, respeitando as individualidades e a valorização de objetos pessoais que irão nortear a função do projeto.

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A jovem médica moradora deste apartamento, localizado em Porto Alegre (RS), sempre pode contar com a ajuda da mãe, arquiteta e urbanista, para o planejamento do mobiliário. Desta vez, a participação materna foi ampliada para o projeto de Arquitetura de Interiores do imóvel que acabara de adquirir. Angela Limberger já havia contribuído para a definição do layout da área social ainda na planta, em 2016, eliminando a parede de divisa entre o espaço de estar e o dormitório de hóspedes a fim de ampliar o living, de 33m2. Em julho de 2017, a profissional retomou o projeto, para, em dois meses, preparar os ambientes para uso da filha. “As funções de estar, de jantar e de gourmeteria deveriam estar interligadas e o recanto para estudo teria de ser privilegiado, com a possibilidade de receber um hóspede”, resume Angela, sobre as necessidades da médica. A disposição do mobiliário para armazenar mantimentos, utensílios e louçaria obedeceria ao critério da praticidade de uso e o de ‘estar pronto’ para receber até seis pessoas. Dentre os pedidos especiais da cliente estavam a inclusão, no escritório, de uma bancada e de cadeiras

adequadas para ambiente de dupla finalidade, de estudo e hospedagem; e, para o estar, um sofá retrátil com chaise, estofado com tecido de toque suave, e cadeiras giratórias para que a vista pudesse ser contemplada em momentos de descontração. O primeiro passo foi complementar o revestimento de piso, utilizando o mesmo porcelanato marfil aplicado pela construtora nas áreas molhadas do apartamento. Espelhos foram instalados no contorno da abertura criada com a remoção da parede de divisa, o que contribuiu para disfarçar a estrutura existente. “O vão milimetricamente calculado entre paredes para o encaixe do sofá não permitiu erro de produção”, relembra a profissional. As linhas contemporâneas guiaram a proposta. A disposição do mobiliário contemplou a convivência integrada. Na parede principal do estar, um painel de madeira une o rack e a TV à cristaleira, que atende ao ambiente do jantar e ao balcão buffet, utilizado como apoio da churrasqueira e, também, para rápidas refeições. O projeto de iluminação, planejado a partir do rebaixo do forro, de gesso acartonado, previu circuitos de automação para criar ‘cenários’, com luz geral e cordas luminosas.

Apoio Casa de Alessa J.J. Vidraçaria Leffa Móveis M. Chaves Iluminação Pedras Andretta

Fotografia André Nery

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Claudia Xavier ARQUITETA E URBANISTA Rua Emílio Lucio Esteves, 1.180 / 308 Taquara / RS (51) 3541-1522 (51) 99988-1418 contato@conceitoa.arq.br www.conceitoa.arq.br facebook | instagram/conceitoarq CAU: A35946-7 Vencedora do Concurso Imagem da Capa 2018

Claudia Renata Silva Xavier formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela Unisinos, em 2002. Desde então, atua em escritório próprio, dedicando-se a projetos de Arquitetura de Interiores, construções e reformas, adaptados à realidade financeira de cada cliente. Claudia dedica-se aos segmentos residencial, comercial e de visual merchandising.

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A região da Serra gaúcha sempre atraiu o casal, formado por um empresário e uma professora universitária. De turistas, eles decidiram tornar-se habitantes, e adquiriram um apartamento em Gramado (RS) para melhor usufruir do charme e do clima serrano com seus dois filhos. Para eles, o aconchego familiar é sempre prioridade. A arquiteta e urbanista Claudia Renata Silva Xavier sabe bem o que é importante para cada um deles. Ela já desenvolveu diversos projetos de Arquitetura de Interiores para a residência do casal, para a casa de praia e para a empresa do cliente. E, então, assumiu a missão de preparar o apartamento da Serra em apenas cinco meses. “Sinto um imenso prazer em trabalhar para eles, pois são determinados, organizados e fiéis ao projeto, dando qualidade ao resultado final do meu trabalho”, comenta a profissional. O trabalho contemplou hall, estar, jantar, cozinha, lavabo, lavanderia, adega, chapelaria e toda a área íntima, com três suítes. Para a área social, de 70m2, as decisões deveriam privilegiar o conforto e a praticidade. Era importante, ainda, tirar partido da luz natural incidente através das janelas do espaço de estar; planejar efeitos de iluminação para cada

ambiente; e valorizar a cozinha e a adega, considerando que o empresário pratica a arte da culinária e dedica preciosos momentos à degustação de vinhos. Um apartamento sofisticado, com linhas leves e peças de qualidade, mas sem excessos, era o que esperavam os clientes para o novo apartamento. A integração de todos os espaços da área social foi determinada pela unificação do piso, um porcelanato de padrão acinzentado. O mesmo tom foi especificado para outros acabamentos, com nuances de bronze e azul turquesa pontuadas, como no móvel bombê disposto no jantar. “A composição com a melamina amadeirada, com brilho, aplicada nos detalhes, conferiu sofisticação”, avalia Claudia. Segundo ela, o foco principal do local era o grande volume que comporta lareira, painel da TV e equipamentos eletrônicos e nichos para lenha e objetos decorativos. A base foi projetada em mármore marrom, Imperador, para conferir imponência. A estrutura superior segue o tom cinza, assim como o mobiliário da cozinha. Para esse ambiente, a arquiteta projetou um painel vazado como forma de delimitar a cozinha e estabelecer um certo bloqueio visual a partir do hall.

Apoio Cortinas & Persianas Art Lux Gramap Marmoraria Móveis Classe A Multi Luzes Iluminação Sense Planejados & Home Design

Fotografia Melissa Machado

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Cristiana Brodt Bersano e Micheli da Silveira ARQUITETAS E URBANISTAS Av. Iguaçu, 119 / 205 Porto Alegre / RS (51) 3334-4981 (51) 99991-1341 | 98110-4320 cbersano@terra.com.br michelidasilveira@gmail.com www.cbmsarquitetura.com.br facebook.com/cbmsarquitetura CAU: A26952-2 e A106703-6 Terceira finalista do Concurso Imagem da Capa 2018

Formada em Arquitetura e Urbanismo em 1998, pela UFRGS, Cristiana Brodt Bersano obteve o título de Mestre em Engenharia Civil, pela mesma universidade, em 2003. Desde 1998, atua como docente no Departamento de Projeto e no de Orientação de Trabalho de Conclusão de Curso na FAU/PUCRS, instituição pela qual Micheli da Silveira graduou-se em Arquitetura e Urbanismo em 2015. A atuação do escritório tem ênfase em Arquitetura de Interiores nos segmentos residencial, comercial e coorporativo.

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Um apartamento à la Mondrian. O estilo modernista do pintor holandês era uma referência a ser considerada no projeto de Arquitetura de Interiores deste apartamento, em Porto Alegre (RS). Os traços geométricos e o uso de cores primárias, característicos das obras do artista, deveriam ser considerados pelas arquitetas e urbanistas Cristiana Brodt Bersano e Micheli da Silveira, a pedido do casal de proprietários, ambos da área da comunicação. O planejamento da ambientação ao estilo Mondrian correspondeu à segunda etapa de trabalho das profissionais. A primeira deu-se logo que o apartamento foi adquirido, com a reformulação do layout do imóvel, de 120m2. “Ainda no início da construção, eles optaram por transformar um dos dois dormitórios de solteiro em uma suíte, para a filha, e integrar o outro à sala, que foi ampliada”, detalha Cristiana. Assim, a área social foi composta por dois espaços bem configurados: o de estar e o de jantar, totalizando 70m2. “A intenção também foi integrar a sacada com churrasqueira, unificando o piso, mas optamos por não eliminar as portas de correr, em vidro, mantendo uma certa estanqueidade da sala”, complementa a arquiteta.

O objetivo foi garantir um melhor aproveitamento do condicionamento térmico e impedir a dispersão dos aromas para todo o ambiente durante o preparo do churrasco. Nesse local, destaque para a parede de tijolos naturais, outro pedido do casal, e para o azul das cadeiras. Em todo o imóvel, o piso foi revestido com porcelanato de padrão cimentício. O cinza também foi a cor escolhida para a pintura de todas as paredes, em tom claro, como desejavam os clientes. Revestimentos garantem o toque de cor na cozinha, onde foram aplicadas pastilhas de vidro nas cores amarelo, azul e vermelho. Essa última foi pontuada, ainda, nas cadeiras da copa e no pendente sobre a mesa. Para o quarto da filha, a opção foi por um cinza mais escuro, para contrastar com os lambris, em laca branca, instalados em meia parede. Na área social, o amarelo é a cor que prevalece, no aparador e no lustre sobre a mesa de madeira de demolição. No conjunto, cadeiras pretas assinadas por Eero Saarinen. A estante com nichos de variadas formas geométricas acompanha o estilo pretendido.

Apoio Art Persianas Cortinas Comercial Elétrica São Pedro Granitos e Pedras Gulart Ladrilhart Comércio de Cerâmicas Todeschini Móveis Planejados

Fotografia Tânia Meinerz

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Flávia Bastiani ARQUITETA E URBANISTA Av. Nilópolis, 225 / 307B Porto Alegre / RS (51) 99113-0571 flavia@flaviabastiani.arq.br facebook.com/flaviabastianiarquitetura instagram.com/flaviabastianiarquitetura CAU: A36443-6

Formada em Arquitetura e Urbanismo pela UFRGS em 2002, Flávia Bastiani tem pósgraduação em Arquitetura Paisagística pela PUCRS, em 2007, e MBA em Gestão para Escritórios de Arquitetura pela FGV, em 2015. Participou de cursos em Gestão, Planejamento e Acompanhamento de Projetos e Obras de Arquitetura de Interiores e de Luminotécnica. Flávia atua em escritório próprio, com foco em projetos de Reformas e de Arquitetura de Interiores residenciais e corporativos, e também em Arquitetura Paisagística. Ela prioriza o trabalho personalizado com o planejamento de soluções flexíveis de atendimento ao cliente. Atualmente, participa da diretoria da AAI Brasil/RS.

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“Essa arquiteta oferece o nível de exigência e de detalhamento que você deseja”. Com essa frase, a arquiteta e urbanista Flávia Bastiani foi recomendada a uma jovem médica que acabara de adquirir o ‘apartamento dos seus sonhos’ em um condomínio de Porto Alegre (RS). Uma missão cumprida com tranquilidade e êxito, com cinco meses de trabalho, entre o projeto de Arquitetura de Interiores e as obras. A área íntima, de 28m2, serviria apenas à clliente, solteira e sem filhos. Era preciso criar um dormitório requintado, mas, ao mesmo tempo, prático e aconchegante; área de closet com total aproveitamento de armários; e qualificar o espaço do banheiro, com novos revestimentos e mobiliário. “O apartamento era novo e foi entregue pela construtora com revestimentos básicos nos banheiros e, nos demais ambientes, somente forro de gesso liso”, explica Flávia. A pedido da cliente, para uma obra limpa e mais rápida, ela preservou o forro existente e planejou o projeto luminotécnico, privilegiando a iluminação indireta, com fitas de LED nos próprios móveis, ao invés de utilizar sancas ou rebaixos. Para o piso, escolheu o tipo vinílico, em

réguas, de padrão amadeirado. O tom compõe com a cor clara eleita para a pintura das paredes. “Na marcenaria, privilegiei materiais práticos, como os painéis melamínicos, mas procurei trazer a sensação de aconchego, escolhendo acabamentos com efeitos de tecido e camurça, além de compor com outros elementos, como papel de parede e cabeceira estofada em veludo”, detalha. Em destaque, a escultura com estrutura de metal e rosas de cerâmica do acervo da médica. No closet, o elemento-chave foi o poster com uma fotografia em preto e banco da cliente, que foi um dos pedidos especiais a serem mantidos na casa nova. Flávia conferiu destaque à imagem ao integrá-la ao projeto personalizado da marcenaria, valorizando-a com a iluminação direcionada. O banheiro ganhou novo tampo, executado em ecoquartzo, com cuba sobreposta. Um grande armário com porta de correr com espelho organiza os cosméticos. Nele, foram utilizadas lâmpadas tubulares de LED, com maior potência, para que a iluminação fosse uniforme, adequada para a automaquiagem, ou seja, sem provocar sombras no rosto.

Apoio Zanella Móveis

Fotografia ME Fotografia de Imóveis

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Gabriela Raymundo e Jeanini da Silva ARQUITETAS E URBANISTAS Rua Pinheiro Machado, 1.815 Taquara / RS (51) 3542-6044 (51) 98111-0532 | 99641-1788 gabriela@studioarquitetura.net.br jeanini@studioarquitetura.net.br facebook.com/studioarquitetura.arq instagram.com/studio_arquitetura CAU: A36989-6 e A46210-1 Participantes do Concurso Imagem da Capa 2018

Gabriela Raymundo formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela Unisinos em 2003. Três anos mais tarde, Jeanini da Silva graduava-se em Arquitetura e Urbanismo pela mesma instituição. Desde então, as duas atuam em parceria, comandando escritório próprio em Taquara/RS. Além de projetos de Arquitetura de Interiores, a equipe desenvolve e executa projetos residenciais, comerciais e institucionais e de Arquitetura Efêmera.

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O lar como um refúgio, de paz e descanso. Era assim que o jovem casal de proprietários deste apartamento, em Taquara (RS), idealizava a nova morada. Ambos trabalham em outra cidade, têm pouco tempo para curtir a casa, e não abrem mão da prática dos seus hobbies: ele, o pedal; ela, as leituras e as viagens. Captando a maneira de viver de seus clientes, as arquitetas Gabriela Raymundo e Jeanini da Silva logo perceberam que era preciso priorizar o conforto, o aconchego e a praticidade. A dupla assumiu o projeto de Arquitetura de Interiores assim que o casal adquiriu o imóvel, a partir da indicação de amigos em comum. “O apartamento era pequeno e os clientes queriam aproveitamento máximo de cada ambiente”, resume Gabriela. “A modificação das alvenarias existentes não era possível, pois comprometeria a estrutura do prédio”, complementa Jeanini. A área social, de 30m2, já apresentava os espaços do estar, do jantar e a cozinha integrados. Essa integração foi visualmente reforçada a partir da aplicação de um revestimento de piso único, no caso, o vinílico, proporcionando sensação de

amplitude e a praticidade de manutenção desejada pelo casal. As soluções propostas atenderam a outro pedido dos clientes: a criação de um espaço jovem e com muita ‘personalidade’. No estar, as arquitetas projetaram o móvel da TV e um painel estendido para embutir a porta de acesso aos dormitórios. O rebaixo de forro, executado no mesmo material, recebeu luminárias embutidas para luz dirigida, conferindo um valorizado arremate para o conjunto. A pintura com efeito semelhante a concreto da parede adjacente conferiu um certo ‘ar de galeria’ para a exposição dos quadros preferidos do casal, de forma bastante despojada. O aparador, também projetado pelas profissionais, estabelece a transição do estar para o jantar, que acomoda até quatro pessoas na mesa herdada pela família. O espaço do hall foi demarcado pelo porcelanato com aparência de tijolos de demolição, padrão apreciado pelo casal. Na cozinha, os tons claros dos móveis e do revestimento de parede contrastam com o preto da bancada e do metal especificado para os puxadores e para a estrutura das prateleiras. “O resultado é um ambiente que conjuga elementos contemporâneos”, conceitua Gabriela.

Apoio DR Móveis Sob Medida Marmoraria Junior Belotto Hartz Tintas Portobello Shop Novo Hamburgo

Fotografia Melissa Machado

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Karen Elisa Haas ARQUITETA E URBANISTA Rua Luís de Camões, 55 / 202 Canoas / RS (51) 99979-4795 khaas@terra.com.br www.hbarquitetos.com.br facebook.com/hbarquitetos CAU: A12209-2

Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Unisinos, em 1985, Karen Haas fez mestrado em Planejamento Urbano e Regional na UFRGS e pós-graduação em Paisagismo e Meio Ambiente, na Ulbra. É professora no curso de Arquitetura e Urbanismo da Unisinos e atua na HB Arquitetos Associados, fundada em 2003, empresa especializada em projetos nas áreas de Arquitetura, Arquitetura de Interiores e Paisagismo. Promover a qualificação da vida de seus clientes por meio de projetos personalizados, realizando suas aspirações e necessidades, é sua motivação.

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Um novo lar, uma nova fase de vida. Naturais de Porto Alegre (RS), mãe e filha adquiriram apartamento na cidade vizinha de Canoas para morarem mais próximas, uma dos netos, e outra dos sobrinhos. A prioridade era a família, mas era impossível não sentir falta do antigo lar, mais amplo e acolhedor. “A suíte da mãe foi o ponto principal. O ambiente deveria ser confortável e aconchegante para que ela se sentisse satisfeita em ter feito essa opção”, conta a arquiteta e urbanista Karen Elisa Haas, responsável pelo projeto de Arquitetura de Interiores do novo imóvel. O desafio foi atender a todas as necessidades da matriarca, de 80 anos, dentista aposentada, para o espaço, de 17m2. “A suíte é menor do que a do apartamento anterior, que possuía closet. Precisávamos surpreendê-la”, enfatiza. O rebaixo do forro, em gesso, contribuiu para a criação de novos circuitos de iluminação, já que havia apenas um ponto central de energia no teto do ambiente. O plafond e os pendentes, com pingentes de cristal, instalados no dormitório e no banheiro, foram trazidos do apartamento anterior. Para leitura, um abajur artesanal, confeccionado a partir de peças

automotivas recicladas para o novo uso, foi posicionado no criado-mudo junto à cabeceira da cama. Objetos decorativos de maior valor afetivo foram valorizados, assim como os tapetes persas e a cadeira de aproximação, que recebeu novo estofamento. “Na decoração do ambiente não poderiam faltar os rendados feitos pela senhora, com uma linha muito delicada e fina, demonstrando o seu refinado gosto pelas artes manuais”, frisa Karen. Na intervenção, ela optou pelo uso de um piso laminado de madeira com padrão rústico, sobre manta antirruídos. As paredes receberam pintura acrílica acetinada na cor cinza claro, compondo com o papel de parede, com nuances de prata e dourado, aplicado na área da cabeceira da cama. A marcenaria projetada foi executada em MDF, com acabamento em melamina nos padrões Metalic Sued e Lineo Textil. As amplas portas de correr dos armários, com espelhos, contribuem para a sensação de amplitude e disfarçam a TV, quando ela não está em uso. O banheiro, bastante estreito, ganhou barras de apoio, uma nova bancada e um amplo espelho. No ‘arremate’ do conjunto, foi aplicada uma faixa de pastilhas de vidro coloridas.

Apoio Euro Móveis e Esquadrias Costaneira Acabamentos BEROD

Fotografia Vitorio Contri

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Marcelo John ARQUITETO E URBANISTA Rua Guarani, 20, Conj. 202 - Canoas / RS (51) 3463-6077 (51) 99826-0912 marcelojohn@marcelojohn.com.br www.marcelojohn.com.br www.facebook.com/marcelojohn.john CAU: A41861-7 Segundo finalista do Concurso Imagem da Capa 2018

Marcelo John é formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) desde 2004; é pósgraduado em Arquitetura de Interiores pelo Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter) e possui cursos de extensão em Decoração de Interiores e em História da Arte. Atua nas áreas de arquitetura residencial, comercial, corporativa e de interiores, desenvolvendo projetos completos, consultoria e gerenciamento de obras. Em seu escritório, com estrutura informatizada, desenvolve trabalhos dos mais diversos portes e tipologias.

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Acompanhando a dinâmica familiar, este apartamento em Canoas (RS) foi completamente transformado. Os filhos casaram, foram morar em outros países, e o casal de proprietários sentiu a necessidade de renovar o imóvel, de 450m2, revendo, inclusive, os usos dos espaços. “O apartamento apresentava excessiva compartimentação, desníveis de piso, bem como redes elétrica e hidráulica totalmente defasadas. Faltava integração e os revestimentos e acabamentos estavam desatualizados”, resume o arquiteto e urbanista Marcelo John, responsável pelo projeto de Arquitetura de Interiores. Segundo ele, o maior desafio foi eliminar o desnível de dois degraus existente na área social - configuração típica dos imóveis construídos nos anos 1980. “Pesquisamos muitos materiais para não sobrecarregar a estrutura do edifício”, explica. A solução foi utilizar blocos de isopor intercalados com malha metálica para preenchimento do piso. A partir dessa intervenção, assim como a eliminação das paredes entre os espaços de estar e de jantar e a incorporação da extensa sacada que contornava o living, o casal conquistou uma

área social totalmente integrada de 130m2, com três ambientes de estar e um de jantar. A nova ambientação deveria ter caráter atemporal, com mobiliário contemporâneo intercalado por peças de época, e incorporando obras de arte do acervo dos clientes. A praticidade era uma exigência, assim como a pintura das paredes em cores sóbrias. “Na área social, utilizamos painéis em madeira e piso em porcelanato. Na área íntima, optamos por piso vinílico. Todos esses materiais são de fácil limpeza e manutenção”, detalha. Em alguns, o arquiteto utilizou papéis de parede de estilo clássico e bordados e pendentes de cristal. Os lustres foram integrados ao projeto luminotécnico automatizado, com lâmpadas de LED dimerizáveis, em embutidos e sancas, e circuitos independentes, para diferentes cenários. O projeto previu, ainda, a substituição das esquadrias de fechamento da sacada por modelos com vidros duplos, para proporcionar maior conforto térmico. E duas suítes foram criadas, para uso dos filhos e de suas famílias quando estiverem na cidade.

Apoio Andrea Feine Hunter Douglas Expresso do Oriente Florense Nilo Peçanha Madesquim Concept Pedraria Ivoti

Fotografia Eduardo Liotti

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Tania Bertolucci e Carolina Nuernberg ARQUITETAS E URBANISTAS Av. Taquara 586 conj. 602 Porto Alegre / RS (51) 3333-3061 tania@tania.arq.br carolina@tania.arq.br facebook.com/arquitetura.taniabertolucci instagram.com/@tania_bertolucci CAU: A3306-5 e A36432-0 Participantes do Concurso Imagem da Capa 2018

Formada em Arquitetura e Urbanismo pela UFRGS em 1977, Tania Bertolucci de Souza iniciou sua carreira no escritório Ronaldo Rezende e Mario Englert. Em 1980, formou escritório próprio, com foco em Arquitetura de Interiores, residencial e corporativa. Registra participação em diversas mostras do setor e premiações. Carolina Nuernberg também graduou-se pela UFRGS, em 2002, e, no mesmo ano, começou a trabalhar no escritório de Tania. Já conquistou premiações em concursos de projetos e, em 2005, expôs na 6a Bienal internacional de Arquitetura de São Paulo com o projeto A Casa das Ideias.

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Se fosse solicitado à arquiteta e urbanista Tania Bertolucci de Souza resumir o conceito desse espaço a duas palavras, ela o definiria como ‘delicadeza envolvente’. “A proposta básica foi criar um ambiente aconchegante e envolvente, com atmosfera elegante”, explica a profissional, que desenvolveu o projeto de Arquitetura de Interiores desta suíte de um apartamento em Porto Alegre (RS) em parceria com a arquiteta e urbanista Carolina Schrage Nuernberg. Os usuários da suíte, de 20m2, são um casal, sem filhos, “cosmopolita, culto e sofisticado”, conforme Tania os descreve. “Eles viajam com frequência e são apreciadores de obras arte e de objetos de design”, acrescenta. Acostumados a frequentar requintados hotéis mundo afora, priorizam o conforto, tanto na linguagem estética, como no desempenho acústico e na sensação de aconchego. Por isso, a solicitação pelo uso de materiais ‘envolventes’, cores neutras e volumes de linhas retas e delicadas. O primeiro passo foi projetar o rebaixo de forro, em gesso, tanto para instalar uma manta de lã de rocha a fim de reduzir os ruídos vindos da unidade acima

da laje, como para a instalação de novos circuitos de iluminação. Embutidos com lâmpadas de LED com temperatura de cor 3.000K reforçaram a atmosfera aconchegante do espaço. O ventilador de teto existente foi preservado; porém, o acionamento da lâmpada passou a ser independente. A parede principal foi valorizada pelo painel de cabeceira planejado. A porção baixa recebeu estofamento em camurça sintética, e tecidos foram aplicados nas paredes. atendendo a um desejo da cliente. A marcenaria incluiu mobiliário para a TV e painéis no entorno das esquadrias, com espuma na parte interna e revestimento em tecido. “O ruído externo foi absorvido e conseguimos um conforto acústico significativo”, explicam as arquitetas. O uso de carpete no piso, como solicitado, também colaborou. Para configurar um pequeno hall de acesso à suíte, conferindo maior privacidade, as arquitetas projetaram uma pequena divisória, executada com tela de palha natural tecida manualmente. As dimensões dessa estrutura foram milimetricamente calculadas para não prejudicar a circulação. O banco estofado em veludo rosa, com design exclusivo, confere funcionalidade ao espaço.

Apoio Espaço do Piso Leffa Estofados

Fotografia Carlos Edler

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Tina Zimmermann ARQUITETA E URBANISTA Rua Carvalho Monteiro, 257 / 301 Porto Alegre / RS (51) 3331-2183 tina.zmann@gmail.com facebook.com/Tina Zimmermann instagram.com/cristinazim2 CAU: A3307-3 Participante do Concurso Imagem da Capa 2018

Tina Zimermann formou-se pela Faculdade de Arquitetura da UFRGS em 1977. Durante 25 anos, atuou na área de Planejamento Urbano junto à administração estadual (Secretaria de Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais - SEDAI). Em 1996, iniciou seu trabalho também como profissional autônoma na área de Arquitetura de Interiores, principalmente no segmento residencial. Tina prioriza o atendimento a poucos clientes de modo simultâneo, para que possa garantir dedicação total a cada projeto.

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Simplicidade e muito charme. Essa foi a base do projeto de Arquitetura de Interiores desenvolvido pela arquiteta e urbanista Tina Zimmermann para este apartamento em Canela (RS). Ele fora adquirido por um casal de jovens portoalegrenses para que pudessem passar os finais de semana na serra gaúcha em um espaço aconchegante e personalizado. “Criamos ambientes funcionais, com soluções de marcenaria planejada exclusivamente para cada necessidade. Nosso lema era: dividir sem bloquear”, explica a arquiteta. Na distribuição dos ambientes, Tina seguiu uma ordem ‘natural’, posicionando o espaço do estar próximo à janela e o do jantar junto à área da churrasqueira, em conexão com a cozinha, totalizando 39m2. Para valorizar e contrastar com o revestimento de tijolos da parede, a profissional projetou marcenaria de estrutura leve, compreendendo cristaleira, armário, nichos para os equipamentos do home theater e volume da lareira, ecológica. Em frente, Tina dispôs sofá confortável, com almofadas de veludo coloridas, banquinhos com assento em pele

e mesa de centro de linhas retas. Peças herdadas foram aproveitadas, como a cadeira de balanço e a mesa lateral. No arremate do conjunto, tapete de sisal e lã, traduzindo o clima aconchegante desejado. O tom verde da pintura da parede compõe com as telas escolhidas pela cliente. Como a churrasqueira estava voltada para a área social, Tina planejou a criação de uma grande bancada, estabelecendo o zoneamento. Além de servir de apoio ao assador, o móvel acomoda adega climatizada, cafeteira, louças, faqueiros e outros acessórios. O projeto da cozinha representou o maior desafio, considerando a largura do espaço, de apenas 1,5m, e o extenso programa. Diversas máquinas a serem embutidas e um sonho a ser realizado: dispor de uma área de despensa. A solução foi projetar mobiliário em marcenaria do tipo ‘armazém’, com pequenos nichos para os mantimentos ficarem à vista. “A casa abriga o devaneio, a casa protege o sonhador, a casa nos permite sonhar em paz”, conceitua Tina, parafraseando o filósofo francês Gaston Bachelard, em ‘A Poética do Espaço’.

Apoio Jasmin Tapetes Móveis Circular Sierra Móveis

Fotografia André Nery

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EDITORIA


Arquitetura de Interiores - 30 anos 33


Foto: Pexels | Divulgação

ESPECIAL - 30 ANOS

Arquitetura de Interiores em três décadas A celebração dos 30 anos da AAI Brasil/RS reflete a evolução da profissão e a trajetória de expansão e reconhecimento da Arquitetura de Interiores no Rio Grande do Sul e no país. Ao defender o exercício profissional, a entidade vem contribuindo para a valorização da atividade e para a qualificação do setor.

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O ano era 1987 e o cenário era o escritório do arquiteto e urbanista Salus Finkelstein, em Porto Alegre. Os encontros eram periódicos e o grupo de colegas foi sendo ampliado, reforçando o interesse comum de valorizar a Arquitetura de Interiores. “O profissional de Arquitetura de Interiores era bastante confundido com outros profissionais,

como engenheiros, decoradores e até desenhistas. Era preciso, no primeiro momento, mostrar à sociedade as atribuições e as diferenças entre todos eles”, conta a arquiteta e urbanista Joyce Chwartzmann, que trabalhou na área por 35 anos, foi colunista de publicações especializadas e hoje atua como designer de joias. A ausência de padrões de trabalho e de cobrança era outra dificuldade. “A Arquitetura de Interiores era conhecida por decoração. Os arquitetos menosprezavam essa atividade, até porque as poucas faculdades existentes não contemplavam disciplinas nesta área. E os que trabalhavam em Arquitetura de Interiores não seguiam qualquer normatização, o que propiciava um ‘leilão’ por parte dos clientes em relação a honorários”, complementa a arquiteta e urbanista Arlene Lubianca, diretora da Planobase Lubianca, fundada em 1980.

“A ATUAÇÃO DA AAI FOI DE SUMA IMPORTÂNCIA NO DEBATE DA TABELA DE HONORÁRIOS COMO PARÂMETRO PARA TODOS. A TROCA DE EXPERIÊNCIAS

Foto: Acervo pessoal arq. e urb. Joyce Chwartzmann

Falta de compreensão sobre a Arquitetura de Interiores, desconhecimento da sociedade, preconceito por parte dos próprios profissionais. Qual é, afinal, a diferença entre o trabalho do ‘arquiteto de interiores’ e o do decorador? Essas questões impulsionaram um grupo de arquitetos e urbanistas gaúchos a unirem-se para promover a profissão, ressaltando as atribuições, competências e responsabilidades de quem atua em Arquitetura de Interiores.

FOI MOLDANDO UM NOVO ARQUITETO, MUITO MAIS PROFISSIONAL, ÉTICO E LIGADO NAS NOVIDADES E TENDÊNCIAS DO MERCADO.” JOYCE CHWARTZMANN ARQUITETA E URBANISTA

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Fotos: Acervo AAI Brasil/RS

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Além da divulgação da atividade, os colegas entendiam que era preciso, ainda, ampliar a fiscalização sobre a atividade. “Uma preocupação muito grande, naquelas conversas, era sobre a importância de haver uma fiscalização mais efetiva, por parte dos órgãos reguladores do exercício profissional, em intervenções de interiores, como reformas, principalmente, onde houvesse modificações estruturais, o que só deveria ser feito por um profissional habilitado e devidamente registrado no seu órgão de classe”, acrescenta o arquiteto e urbanista Roberto Bordasch, recémformado pela UFRGS à época. Ele trabalhou no escritório João Carlos Bento Arquitetos até 1994 e, desde então, comanda escritório próprio. A atual presidente da AAI Brasil/RS, Cármen Lila Gonçalves Pires, e um dos fundadores da Associação, o arquiteto Salus Filkenstein, no evento de celebração dos 25 anos da entidade e homenagem aos fundadores e ex-presidentes

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A fundação da AAI Ao lado de Salus, Joyce, Arlene e Roberto, outros arquitetos e urbanistas expoentes na atividade naquela época participavam das discussões: Ana Luiza Cuervo Lo Pumo, Cláudio Fischer, Gilberto Sibemberg, Isac Hochberg, Jayme Leventon, João Carlos Bento, José Hélio Costalunga de Freitas, Maria Cristina de Azevedo Moura, Marta Elian Hochberg, Moacyr Kruchin, Raul Pêgas, Sidnei Birmann e Sônia Tarasconi Pinheiro Machado (in memoriam). “Discutíamos sobre dificuldades e angústias comuns a todos, e começamos a

trabalhar”, recorda Arlene. Aos poucos, a ideia de fundar uma associação representativa da profissão foi sendo fortalecida entre o grupo. “Era preciso criar uma entidade que pudesse nos representar de forma organizada e forte, e nos valorizar perante os arquitetos de outras áreas. Vimos, também, que a troca de experiências seria essencial para crescermos em representação e no dia a dia, já que cada um trabalhava isolado em seu escritório”, relembra Joyce, que veio a assumir como primeira presidente da entidade. E assim nasceu a Associação de Arquitetos de Interiores do Rio Grande do Sul (AAI-RS), em 1987. A principal bandeira era divulgar a importância da Arquitetura de Interiores e a do ‘arquiteto de interiores’, como sendo o profissional indicado para atuar nessa área. “Outro desafio foi o de desmitificar a atividade, desconstruindo o entendimento de que contratar um arquiteto contribuía para o aumento do custo da obra, o que se comprovou como sendo justamente o contrário. A obra que tem o envolvimento do ‘arquiteto de interiores’ é melhor planejada, com redução ou eliminação de retrabalhos e uso de materiais adequados às situações propostas”, destaca Roberto. Para ele, esse ainda é um importante desafio para a profissão: a valorização do arquiteto como um profissional que agrega valor à obra.


Foto: Pexels | Divulgação

pela Autodesk em 1982). Porém, adquirir computadores e softwares específicos representava um alto investimento, ainda proibitivo para a grande maioria dos escritórios de arquitetura atuantes na época.

A informatização proporcionou agilidade ao dia a dia profissional e otimizou processos

Prática profissional “Quando a AAI-RS foi fundada, desenhava-se à mão livre, e a cada erro ou mudança no projeto era preciso começar do zero”, recorda Joyce. Em 1987, eram raros os escritórios de arquitetura que já haviam iniciado a informatização. Pranchetas, lápis, lapiseiras, réguas e compassos eram as ferramentas dominantes. A tecnologia CAD (computer aided design) começava a ser utilizada no mercado (o AutoCAD fora lançado

“A apresentação era presencial, feita em torno de uma enorme mesa sobre a qual desenrolávamos os projetos”, detalha Joyce. Importante contextualizar que os equipamentos de informática tornaram-se mais acessíveis apenas em meados da década de 1990, a partir da abertura do mercado no Brasil – mesmo período em que a internet (World Wide Web) popularizou-se no país. Em 1995, os ministérios das Comunicações e da Ciência e Tecnologia liberaram, por portaria, a operação comercial dos provedores de acesso privado à internet. Somente, então, a comunicação on-line passou a ser estabelecida e um ‘universo’ abriu-se para os profissionais. Neste mesmo período, a globalização da economia no Brasil, com grande abertura para o mercado externo, favoreceu a expansão do mercado e a transformação do segmento. “O crescimento da indústria de materiais, do mobiliário e de acessórios mudou a Arquitetura de Interiores brasileira. A tecnologia veio para mudar a prática profissional. Facilitou o dia a dia e ampliou a forma de apresentação dos projetos, além da comunicação com os fornecedores e clientes”, reforça a primeira presidente da AAI-RS. 37


Foto: Acervo pessoal arq. e urb. Roberto Bordasch

ESPECIAL - 30 ANOS

Relação com o mercado Há 30 anos, quem se destacava no segmento de arquitetura de interiores eram aqueles profissionais que atuavam em projetos de empreendimentos de grande porte, como os shoppings centers – espaços comerciais que passaram a ganhar força no país no final da década de 1980. “A presença do profissional de Arquitetura de Interiores sempre foi exigida por estes estabelecimentos, deixando bem claro a importância da atuação”, afirma Roberto Bordasch. A partir dos anos 1990, a reestruturação do varejo brasileiro, em função do aumento da competitividade e do surgimento de um novo perfil de consumidor, fortaleceu a atuação desses profissionais no segmento comercial. E, também, aproximou os profissionais dos empresários, que perceberam a força e a importância do papel dos arquitetos na especificação de materiais e produtos para os projetos. “Os lojistas e os fornecedores, há mais tempo que o público em geral, reconhecem o trabalho do profissional de Arquitetura de Interiores, pois sempre vivenciaram as duas situações - trabalhar com o cliente assessorado pelo arquiteto e com o cliente leigo e sem assessoramento - , podendo avaliar as diferenças dos resultados das duas situações”, avalia Roberto. 38

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“A PREOCUPAÇÃO DA AAI FOI SEMPRE SALIENTAR A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE DO ARQUITETO EM ARQUITETURA DE INTERIORES, COMO SENDO O PROFISSIONAL INDICADO PARA ATUAR NESSA ÁREA.” ROBERTO BORDASCH ARQUITETO E URBANISTA

Arlene Lubianca reforça: “estabeleceu-se uma relação profissional na qual, até mesmo pelo avanço da legislação, somos todos responsáveis e solidários. Os fornecedores que não entenderem isto também estarão fora do mercado, pois eles têm de fazer parte da solução e não do problema”. Para Roberto, essa realidade é reflexo da valorização do profissional de arquitetura, tanto pela opinião pública quanto pelos órgãos de fiscalização, como sendo o profissional capacitado para atuar na especificação dos materiais corretos, embasado pelos conhecimentos técnicos para suas aplicações. Joyce Chwartzmann igualmente considera que a relação com o mercado melhorou muito nestas últimas três décadas; no entanto, reconhece uma realidade que permanece inalterada: “ainda enfrentamos grandes problemas com a mão de obra”. A Associação acompanhou de perto toda essa ‘revolução’, protagonizando a transformação do segmento, e sempre incluiu temas atuais e importantes na pauta de cada encontro da diretoria e dos eventos realizados, especialmente a tradicional Reunião-almoço mensal, criada pela AAI-RS em 1992, na gestão presidida por Arlene Lubianca. Essa era a oportunidade de proporcionar capacitação e atualização profissional aos associados.


Fotos: Acervo AAI Brasil/RS

Iniciativa consagrada pela AAI, as reuniões-almoço iniciaram em 1992

Representatividade Mais tarde, após a passagem das arquitetas Clarice Mancuso e Gislaine Saibro pela presidência da AAIRS, o arquiteto Lúcio Albuquerque assumiu a entidade e realizou o primeiro evento comemorativo ao Dia do Arquiteto, que se tornou um evento fixo na agenda dos arquitetos e urbanistas gaúchos até hoje.

AAI realiza Mostra de Arquitetura exclusiva para associados, em 1997

A cada nova iniciativa a AAI-RS contribuía para melhor compreensão da atividade e, consequentemente, para valorização da profissão. A gestão seguinte, presidida por Denise Carazza, deu início ao Programa de Qualificação Profissional da AAI-RS e conferiu ainda maior visibilidade para o segmento ao incentivar a participação dos associados em mostras e exposições. A entidade, inclusive, firmou parceria com a Mehrco Projetos, Promoções e Eventos e promoveu, em 1997, a 1ª Mostra de Arquitetura de Interiores, realizada em paralelo à 3ª Feira de Materiais de Construção, no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre. O principal objetivo era divulgar o trabalho do profissional de Arquitetura de Interiores. Sob a orientação da AAI-RS, um imóvel de 162m2 foi simulado, com onze ambientes projetados por arquitetos associados. Além da exposição, o catálogo produzido para a mostra também foi muito bem recebido pelo mercado, o

que motivou a diretoria a lançar uma publicação própria, no ano seguinte: a revista AAI-RS – arquitetura de interiores. Tendo Gislaine Saibro como presidente, a gestão seguinte deu continuidade ao investimento em comunicação e passou a fortalecer a importância do associativismo entre seus pares, culminando na união das entidades representativas da Arquitetura no Rio Grande do Sul e no engajamento à campanha nacional pela criação do então chamado Colégio Brasileiro de Arquitetos. A AAIRS passou também a atuar ativamente em debates sobre a cidade, participando de diversas Comissões criadas pelo poder público municipal; e aproximou-se da sociedade civil organizada, atuando voluntariamente no desenvolvimento e na execução de projetos para instituições de assistência social. Nessa época, a AAI-RS intensificava a luta pela conquista de uma representação oficial no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) – o que veio a se concretizar em 2002, já na gestão presidida por Cristina Azevedo. Naquele mesmo ano, a diretoria decidiu retomar o veículo de comunicação da entidade – que foi batizado de AAI em revista – e, em dezembro, 39


Foto: Acervo pessoal arq. e urb. Arlene Lubianca

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“ACREDITO QUE ANDAMOS MUITO, FIZEMOS O DIFERENTE, MAS ESTE CAMINHO É CONSTANTE EM BUSCA DE QUALIFICAÇÃO E VALORIZAÇÃO. QUEM NÃO ENTENDER ISSO ESTARÁ FORA DO MERCADO.” ARLENE LUBIANCA ARQUITETA E URBANISTA

marcando a celebração dos 15 anos de fundação da AAI-RS, a Associação lançou uma publicação especial com a adesão de arquitetos associados para apresentação de projetos de Arquitetura de Interiores, originando o anuário AAI em revista – arquitetos que já está em sua 16a edição. O informativo AAI em revista, com periodicidade bimestral, circulou até 2014, alcançando 70 edições ininterruptas. Ainda em 2002 foi oficializada a criação do Fórum de Arquitetos, envolvendo a AAI-RS, o Sindicato dos Arquitetos do Rio Grande do Sul (Saergs), a Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA-RS) e o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB RS). Cinco anos mais tarde, em 2008, as entidades assinaram um protocolo de intenções para atuação conjunta em assuntos de interesse da Arquitetura e dos arquitetos e urbanistas. A iniciativa, precursora, foi bastante elogiada pelas principais entidades do setor em nível nacional. “Garantimos a união necessária para tomar a dianteira quanto às questões profissionais e, em especial, aglutinamos 40

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interesses em torno das demandas do novo Conselho Profissional que estaria por vir”, explica a arquiteta Gislaine Saibro, então diretora de Exercício Profissional da AAI-RS, que representava a Associação junto ao Fórum e respondia pela coordenação da Câmara de Arquitetura (CEARQ) do CREA-RS na época. Um importante passo para a expansão da Associação foi dado em 2009, na gestão presidida por Cristina Langer, com a criação da AAI Brasil e sua seccional AAI Brasil/RS. O engajamento da entidade em causas ‘nacionais’ da Arquitetura, como a luta pela criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), foi uma das motivações, assim como o crescente interesse de profissionais de outros estados pelo trabalho desenvolvido pela entidade gaúcha e, em especial, pelos instrumentos específicos para o exercício profissional na Arquitetura de Interiores desenvolvidos pela AAI. Mais tarde, em 2010, Gislaine novamente assumiu a CEARQ-RS e passou a integrar o grupo nacional responsável pela transição dos arquitetos do

Sistema Confea/CREA para o CAU, instituído pela Lei n0 12.378/2010. Desde a implantação do Conselho, a Associação tem importante representatividade junto ao CAU/RS, participando do Colegiado de Entidades de Arquitetura e Urbanismo e, também, entre os conselheiros: Gislaine Saibro foi conselheira federal suplente e respondeu como conselheira federal titular entre 2015-2017, quando Silvia Barakat, presidente da AAI Brasil/RS, assumiu como conselheira estadual do CAU/RS. E Silvia acaba de ser eleita novamente para o cargo para a gestão 2018-2020, tendo, como suplente, Cristina Langer. Vale ressaltar que a AAI Brasil/RS colaborou com o CAU/BR para a conceituação de ‘Arquitetura de Interiores’ para fins de regulamentação das atividades privativas da Arquitetura e Urbanismo. Formação e capacitação Além da manutenção do Programa de Qualificação Profissional, com seminários anuais sobre os mais variados temas relacionados à Arquitetura de Interiores, a Associação deu início, em 2003, ao


programa de viagens técnicas para atualização profissional. O primeiro destino foi São Paulo (SP), com visitas a showroom de indústrias do setor, ao icônico centro de compras localizado na rua Gabriel Monteiro e a duas mostras de arquitetura que estavam sendo realizadas na ocasião. A iniciativa foi sendo consolidada no calendário anual do setor e vem conquistando cada vez mais adeptos e novos destinos, no Brasil e em outros países da América do Sul, com visitas guiadas a projetos de destaque, espaços culturais e a escritórios de profissionais de renome.

Essa tabela de honorários veio a originar o Guia de Orientação Profissional (GOP), desenvolvido pela entidade, que está em sua 9 a edição, com

versões impressa e digital e um conteúdo bastante abrangente. Em 2005, o GOP foi transformado em livro, com o apoio da editora UniRitter, organizado pelas arquitetas e urbanistas Cristina Azevedo, presidente da entidade, e Gislaine Saibro, representante da AAIRS no CREA-RS. No livro, incluíram temas como conceituação de atividades técnicas, modelos de contrato de trabalho, código de ética, legislação e ferramentas de pesquisa de pós-ocupação. A última edição do GOP trouxe, novamente, a Tabela de Honorários, a partir da revisão feita pelo Grupo de Trabalho do GOP entre 2012 e 2013. Outra novidade foi a inclusão do Método do Valor Hora (VH), importante instrumento de gestão que permite aos profissionais calcular o valor dos honorários. “A atuação da AAI foi de suma importância no debate da tabela de

Fotos: Acervo AAI Brasil/RS

A partir da ampliação do segmento e da representatividade da entidade no mercado, a Associação foi sendo também chamada para a sala de aula. As faculdades de Arquitetura de Urbanismo não possuíam disciplinas específicas sobre Arquitetura

de Interiores e, aos poucos, foram abrindo-se para temas relacionados ao segmento. Então, desde 2001, a AAI ministra palestras para graduandos em Arquitetura e Urbanismo a convite dos professores de diversas universidades, em Porto Alegre e em cidades do interior. Em 2004, a UniRitter convidou a Associação para assumir o corpo docente da instituição e ministrar algumas aulas na quarta edição do curso de pós-graduação em Arquitetura de Interiores – o primeiro do Estado. Na oportunidade, foram apresentados temas como direito autoral, responsabilidade profissional, relações de trabalho, associativismo e a tabela de honorários específica para o setor, elaborada pela AAI-RS.

Há 20 anos a AAI investe em publicações próprias, contribuindo para a divulgação da Arquitetura de Interiores

Iniciativa pioneira no país, instituições gaúchas criam o Fórum de Entidades de Arquitetos, em 2002, que sempre atuou pela criação do CAU

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Fotos: Acervo AAI Brasil/RS

ESPECIAL - 30 ANOS

Sempre convidada para realizar palestras em cursos de Arquitetura e Urbanismo, AAI é chamada para participar da criação e para ministrar aulas na UniRitter

honorários como parâmetro para todos. A troca de experiências foi moldando um novo arquiteto muito mais profissional, ético e ligado nas novidades e tendências do mercado”, considera Joyce Chwartzmann. Em 2017, já sob a presidência de Cármen Lila Gonçalves Pires (2º semestre do ano) a AAI Brasil/RS lançou a 1 a edição digital do GOP, no formato de e-book, e está programando o lançamento de um aplicativo para o cálculo de honorários profissionais. Nos últimos anos, sob a presidência de Silvia Barakat, a AAI Brasil/RS seguiu investindo na capacitação dos profissionais que atuam em Arquitetura de Interiores, com seminários e visitas técnicas, e acrescentando workshops, palestras e talkshows à agenda de eventos promovidos. Destaca-se, também, o programa AAI + Perto de Você, que tem levado conteúdo técnico e atualizado para profissionais de cidades do interior do estado, as ações sociais, como o Almoço do Bem, com verba arrecadada para instituições beneficentes de Porto Alegre. 42

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Formatos e temas atuais predominam nos eventos recentes, como o talk Redes Criativas: conexões que movem o mundo, realizado em novembro de 2017

G uia de Orientação Profissional chegou à sua 9 ª edição, em 20 0 9, com a participação do Grupo de Trabalho da AAI

Iniciativa da AAI, o Almoço do Bem proporciona a confraternização dos profissionais e a arrecadação de fundos para entidades assistenciais


Fotos: Acervo AAI Brasil/RS

O tradicional evento comemorativo ao Dia do Arquiteto também já integra o calendário do setor. Na oportunidade, é realizado o lançamento da AAI em revista – arquitetos

Desafios da atualidade Se por um lado, o cliente passou a respeitar e valorizar mais o profissional de arquitetura, por outro ele passou a cobrá-lo mais. “O cliente está mais informado. Ele pesquisa tudo e, por isso, exige mais”, considera Arlene Lubianca. Antigamente, o arquiteto era a única fonte de informações. Hoje, há um excesso de referências, acessíveis de forma instantânea, em tempo real. “E isso muda tudo em relação às exigências e à forma de mostrar que aquele projeto em questão é o melhor para o cliente. É preciso preparar-se muito bem para vender a ideia”, enfatiza Joyce. Na sua avaliação, o cliente busca um profissional com conhecimento dos resultados e sobre como alcançá-los. “O amadorismo não tem vez”, frisa. Arlene Lubianca compartilha da mesma opinião: “A profissão exige profissionalismo na gestão de projetos e dos escritórios”, complementando com outros desafios da atualidade para os arquitetos: aumento da concorrência, rearranjos profissionais e necessidade de atualização constante, incluindo a educação continuada.

A tarefa de divulgar a importância do profissional adequado mantém-se constante, acredita Roberto Bordasch. “Esse profissional precisa estar alinhado com as novas tendências e tecnologias e, também, estar atualizado em relação à legislação vigente e ao código do consumidor. Daí o principal motivo de haver um domínio técnico do desempenho da atividade”, complementa. Nesse sentido, Joyce reconhece outro importante desafio: saber estabelecer parcerias e empregar novas tecnologias sem banalizar a atividade ou simplificar as soluções propostas. “Devemos, ao contrário, buscar formas de mostrar que não somos meros ‘montadores de vitrines’, mas criadores e executores de espaços internos únicos, especiais, diferenciados, surpreendentes, adequados ao uso a que se propõem e às necessidades do cliente. Acho que é isso que todos esperam de um arquiteto, e isso é bastante complexo”, pontua. Arlene Lubianca identifica questões atuais que podem comprometer o processo de reconhecimento da importância da Arquitetura de

Interiores. “Vejo pouca valorização da qualidade do projeto e superexposição de ‘egos’. Vejo muita guerra de preço e remuneração por ‘RT’ compensando isso. Esta atitude é um ‘tiro no pé’, pois faz com que o mercado perceba cada vez menos o valor no nosso trabalho”, alerta a arquiteta e urbanista. Considerando a dinâmica e a evolução da sociedade, os desafios sempre serão uma constante. “Passamos por muitas mudanças, crises e dúvidas em relação à forma de trabalhar, mas acredito que o maior desafio sempre foi e sempre será manter a ética profissional como valor principal”, enfatiza Joyce. A atual presidente da Associação, Cármen Lila Gonçalves Pires, considera que muitas das principais batalhas seguem as mesmas nestes 30 anos passados, porém, em cenários e conjunturas diferenciadas. Ela crê na força da união de esforços dos arquitetos e urbanistas pela valorização da profissão, assim como pensavam os fundadores da AAI-RS em 1987, objetivo que segue atual e o será sempre. 43


Foto: Divulgação UniRitter

UNIVERSIDADES

Das universidades para todas as pessoas Arquitetura de Interiores conquista cada vez mais espaço nas instituições de ensino gaúchas.

O filósofo suíço Alain de Botton já definiu em sua obra ‘A Arquitetura da Felicidade’ a influência da arquitetura na promoção da alegria e contentamento. O autor desvenda ao grande público todas as nuances que permeiam a arquitetura, com suas perspectivas estéticas e psicológicas. Conforme ele lembra, uma casa, ou mesmo um ambiente corporativo, não representam apenas espaços que configuram um refúgio físico, capazes de propiciar o bem-estar, mas se traduzem como guardiões da identidade de quem ali habitará ou usufruirá. E é o arquiteto e urbanista que atua em Interiores quem buscará as soluções para um melhor usufruto do espaço. Para tanto, é preciso haver preparo do profissional. Tal competência já inicia nos primeiros contatos com a profissão ainda no ambiente acadêmico. Em seus 30 anos, a Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil/RS (AAI Brasil/RS) vem estimulando a capacitação ao se aproximar do meio acadêmico, levando o conhecimento técnico, 44

AAI EM REVISTA ARQUITETOS 2018

Foto: | Divulgação

Espaço do Ateliê de Arquitetura da UniRitter


DA ARQUITETURA DE INTERIORES TALVEZ SEJA O MAIS PROMISSOR, PRINCIPALMENTE PARA OS JOVENS.” FERNANDO DURO, ARQUITETO E URBANISTA PROFESSOR DA UNISINOS

da prática, aos encontros universitários. “É um vínculo fundamental”, revela o arquiteto e urbanista Fernando Duro, professor da Unisinos. Muito mais do que projetar, o papel do arquiteto é compreender a personalidade de quem o está contratando e ter a capacidade de incorporar essa percepção ao seu projeto, conforme destaca a professora da disciplina de Arquitetura de Interiores e coordenadora do curso de especialização de Arquitetura de Interiores da UniRitter, arquiteta e urbanista Genoveva Ost Scherer Nehme. “O resultado do trabalho do arquiteto que atua em Interiores influenciará na qualidade do espaço de convivência de seu cliente”, indica. A alta procura pela disciplina eletiva de Arquitetura de Interiores do curso de Arquitetura e Urbanismo da UniRitter, que tem, inclusive, lista de espera, mostra o quão importante é essa área. Atenta às transformações de mercado, a universidade remodelou sua grade curricular, ampliando o número de créditos presenciais para a

Foto: Juliana Borgmann | Divulgação Unisinos

“O MERCADO DE TRABALHO

disciplina, assim como o Atelier de Projetos. A universidade também disponibiliza, há 18 anos, sua tradicional pós-graduação em Arquitetura de Interiores, que iniciou com a colaboração da AAI Brasil/RS em sua primeira edição. Por intermédio de práticas simuladas de projetos, que aliam obra civil e ambientação, os alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUCRS executam projetos completos de Arquitetura de Interiores, desde a conceituação, passando pelo estudo de referências e desenvolvimento até o nível de detalhamento. “É como se fosse uma obra real, com toda a percepção do potencial de determinado espaço. O projeto só não é executado”, explica a arquiteta e urbanista Cristiana Bersano, professora da instituição. A universidade possui o curso de extensão universitária em Iluminação e deverá oferecer, em janeiro de 2018, a segunda edição do curso de extensão sobre o uso da maquete eletrônica como instrumento de ambientação. 45


Foto: Ana Knevitz | Divulgação Feevale

UNIVERSIDADES

Registros de palestras ministradas pela diretoria da AAI Brasil/RS para alunos da disciplina Arquitetura de Interiores Comercial oferecida pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Unisinos

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AAI EM REVISTA ARQUITETOS 2018

“ARQUITETURA NÃO PODE E NÃO DEVE SER PENSADA DE FORMA SECCIONADA.” ALEXANDRE ROSA BENTO ARQUITETO E URBANISTA PROFESSOR DA FEEVALE

Na Feevale, a Arquitetura de Interiores é uma disciplina específica do Curso de Arquitetura e Urbanismo e é trabalhada como ponto importante no processo de formação do arquiteto e urbanista. De acordo com o professor Alexandre Rosa Bento, a arquitetura com qualidade passa por pensar os espaços internos sobre vários aspectos. “Arquitetura não pode e não deve ser pensada de forma seccionada. Ela é parte integrante do processo do fazer arquitetura, principalmente hoje, mais do que nunca, os espaços necessitam acompanhar as transformações sociais e ambientais que desenham o nosso futuro”, declara o professor, que indica, ainda, que a Feevale possui um curso de Especialização em Projetos de Arquitetura de Interiores desde 2016. Já na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Arquitetura de Interiores está disseminada em todas as disciplinas de ensino de projeto arquitetônico, conforme o coordenador do curso, José Carlos Freitas Lemos. Ele destaca que,


Foto: Camila Cunha | Divulgação PUCRS Espaço coworking do Global Tecnopuc, projetado por arquitetos e urbanistas egressos da PUCRS e que hoje atuam na Divisão de Engenharia e Arquitetura da Universidade

entre as disciplinas, a de Projeto Arquitetônico IV, aborda Arquitetura de Interiores em alto nível de detalhamento. “Temos também uma disciplina eletiva, específica de Interiores, ocasionalmente oferecida”, acrescenta. “O mercado de trabalho para os arquitetos é amplo, mas o de Arquitetura de Interiores talvez seja o mais promissor, principalmente para os jovens”, avalia Fernando Duro, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Unisinos e do Curso

de Especialização em Arquitetura Comercial, que possui um forte enfoque na Arquitetura de Interiores, com direcionamento comercial. O professor, que fez parte da primeira turma da especialização, em 1997, salienta que a universidade também passou a oferecer a Arquitetura de Interiores como disciplina optativa na graduação, dividida nas opções para projetos comerciais e para residenciais. Há muitos anos a AAI Brasil/RS participa como convidada do curso, no qual trata de formas de cobrança de honorários profissionais. 47


MERCADO

Uma relação de confiança A especificação de materiais e produtos é uma etapa crucial do projeto de Arquitetura de Interiores. A confiança do cliente nas recomendações feitas pelo arquiteto e urbanista, e o respeito do profissional às preferências dele são a chave para um trabalho eficiente. Essa confiabilidade cresceu nestas últimas três décadas. E o mercado reconhece isso.

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AAI EM REVISTA ARQUITETOS 2018

Quem se formou em Arquitetura e Urbanismo há mais de 30 anos, vivenciou, no dia a dia, as transformações econômicas e tecnológicas ocorridas no Brasil neste período. A abertura do mercado nacional à importação, a partir de 1990, e o desenvolvimento da indústria brasileira fizeram multiplicar as opções de materiais e produtos a serem considerados nos projetos. E o avanço da tecnologia tem feito surgir outra infinidade de possibilidades, algumas até inimagináveis. Esse contexto exige atualização constante – e as fontes de informação e de referências são muitas, potencializadas pela expansão da internet. As principais, para os profissionais, têm sido as feiras do setor, reunindo, em um só lugar, centenas de fabricantes que apresentam o que há de mais atual e inovador em seus segmentos. Internacionalmente, a maior referência para o setor é o Salão Internacional do Móvel, em Milão, na Itália, que alcança a sua 56ª edição contabilizando 2.000 expositores e 340 mil visitantes, de 165 países. No Brasil, muito importante é a Feicon Batimat, realizada anualmente em São Paulo (SP), considerada a maior da América Latina. Em sua 25ª edição, oferece completo mix dos setores de instalações, estrutura e acabamentos, com cerca de 700 expositores, nacionais e internacionais, e registra em torno de 90 mil visitantes. Outra importante fonte de referências é a Expo Revestir, também na capital paulista. “Ao completar 15 anos, a feira se consolida como a principal oportunidade para impulsionar novos negócios, principalmente as exportações do setor”, afirma o empresário Antonio Carlos Kieling, presidente da feira e superintendente da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer). Em

2017, a feira registrou visitação recorde de 68 mil pessoas, o que representou um crescimento de 8,7% em comparação à edição anterior. Já no segmento de móveis, a maior da América Latina é a Movelsul, promovida a cada dois anos pelo Sindicato das Indústrias do Mobiliário (Sindmóveis) de Bento Gonçalves (RS), na Serra gaúcha. Na primeira edição, em 1977, apenas empresas locais expuseram. Mais tarde, a feira foi regionalizada e, no começo dos anos 1990, ganhou caráter nacional, integrando os segmentos de móveis modulados, planejados e sob desenho. A 20ª edição, em 2016, reuniu 238 expositores e recebeu 29.011 visitantes, de 48 países. “Considero que essa edição foi um divisor de águas: não apenas por ser uma edição histórica, mas também por ter se realizado com sucesso num período de tantas adversidades”, disse Henrique Tecchio, presidente da feira. Além das rodadas de negócios com compradores internacionais, a feira apresenta a mostra do Prêmio Salão Design, a maior premiação de design de produto da América Latina, que completará 30 anos de realização em 2018. A AAI Brasil/RS apoiou e organizou visitas técnicas à Movelsul. Outra opção na agenda dos profissionais é a ABIMAD – feira de Alta Decoração da Associação Brasileira das Indústrias de Móveis de Alta Decoração – com duas edições anuais, realizadas desde 2004 em São Paulo, em fevereiro e em agosto. Dentre as iniciativas nacionais mais recentes estão a DW! São Paulo Design Weekend, festival criativo com mais de 300 eventos simultâneos inaugurado em 2012; e a feira High Design Expo – que estreou em 2016, como âncora da DW. O Sindmóveis Bento Gonçalves assina a


Fotos: Divulgação A Movelsul tem sido uma importante referência para quem atua em Arquitetura de Interiores desde a sua primeira edição, em 1977. Hoje, é considerada a maior feira de móveis da América Latina

“É NOSSO DEVER OFERECER AS OPÇÕES MAIS COERENTES, EXPLICANDO OS BENEFÍCIOS A SEREM OBTIDOS A PARTIR DE CADA ESCOLHA.” FLÁVIA BASTIANI ARQUITETA E URBANISTA DIRETORA DA AAI BRASIL/RS

Lançada em 2016, a High Design Expo vem despontando no setor, como âncora da DW! São Paulo Design Weekend - maior festival criativo do país

curadoria da High Design, que representa a continuidade da Casa Brasil na capital paulista. As mostras de arquitetura igualmente cresceram e consolidaram-se nas últimas décadas, oportunizando, aos profissionais, a apresentação de seus trabalhos e, também, a possibilidade de conhecer novos materiais e produtos já aplicados e inseridos em um contexto quase real. As indústrias passaram a investir em espaços de showroom cada vez mais estruturados, os varejistas transformaram suas lojas em múltiplos cenários e os estandes das feiras tornam-se cada vez mais atraentes, contribuindo para a valorização da Arquitetura de Interiores e, também, para a expansão do segmento da Arquitetura Efêmera. Diante de tanta oferta, lançamentos e ‘tendências’, o arquiteto e urbanista tem de lançar mão do bom senso. “Na especificação de

materiais e produtos, devemos considerar o que for mais adequado ao conceito e às soluções propostas pelo projeto de Arquitetura de Interiores desenvolvido, além das necessidades, interesses e possibilidades financeiras do cliente. É nosso dever oferecer as opções mais coerentes com essas premissas, explicando os benefícios a serem obtidos a partir de cada escolha”, ressalta a arquiteta e urbanista Flávia Bastiani, diretora da AAI Brasil/RS. Ela reforça que essa etapa faz parte do serviço contratado, e deve ser baseada nos princípios profissionais e éticos da Arquitetura e Urbanismo, combatendo qualquer tipo de vantagem pessoal ou comercial com os fornecedores em relação às especificações feitas no projeto. “É assim que exercemos nossa profissão em sua plenitude, contribuímos para a qualificação do mercado e conquistamos o que é mais importante para os arquitetos: a confiança do cliente”, frisa Flávia. 49


Foto: Divulgação Expresso do Oriente

MERCADO

Desde 1995 no mercado, a Expresso do Oriente acompanha o crescimento da profissão. Atualmente, os arquitetos e urbanistas respondem pela metade dos negócios efetuados na loja

“COM O ARQUITETO AO LADO, O CLIENTE COMPRA MAIS CONFIANTE DO ACERTO.” GELSON BALBUENO PROPRIETÁRIO DA EXPRESSO DO ORIENTE Na Manjabosco Decor, 80% das vendas acontecem por intermédio de um arquiteto e urbanista

persianas. “Os clientes ainda não tinham a cultura de contratar profissionais para projetos de Arquitetura de Interiores. Essa cultura foi sendo modificada ao longo dos anos pelo trabalho da classe de Arquitetura e pela globalização das informações”, afirma. Segundo ela, 80% dos negócios efetuados atualmente pela empresa Manjabosco Decor são realizados com o acompanhamento de um arquiteto. “Ele é capacitado para orientar e influenciar na escolha do cliente para que se tenha a melhor opção dentro do projeto. Hoje temos, como principal preocupação, dar todo o suporte técnico necessário ao trabalho do profissional de Arquitetura de Interiores”, complementa.

Mais arquitetos, clientes mais exigentes Os empresários que acompanharam o mercado nestas últimas três décadas são testemunhas da expansão do setor de Arquitetura de Interiores e da importância do papel dos arquitetos e urbanistas como especificadores. Há 32 anos no mercado, a empresária Marcia Manjabosco atesta como era a realidade na época da fundação da Manjabosco, em Porto Alegre (RS), especializada em tecidos, papéis de parede, tapetes, cortinas e 50

AAI EM REVISTA ARQUITETOS 2018

Na Expresso do Oriente, empresa fundada em 1995 também na capital gaúcha, os arquitetos são responsáveis por cerca de 50% das vendas realizadas, de acordo com o empresário Gelson Balbueno. “De lá para cá, a grande mudança é que houve um aumento de clientes utilizando esses profissionais como especificadores”, enfatiza. Para ele, o papel do arquiteto é fundamental, por atuar como um facilitador das decisões de compras. “Com o arquiteto ao lado, o cliente compra mais


Fotos: Divulgação Saccaro

Há 30 anos investindo em design autoral, a Saccaro aposta nos arquitetos e urbanistas para ‘educar’ os clientes a respeito do valor do design. Nas fotos, em sentido horário, a luminária Treviso, projetada por Ana Revello Vazquez e Renato Solio em 1986; a poltrona Air, de Roque Frizzo (2007); e as peças da coleção 2017: o home theater Paralela, de Ana e Renato; e a poltrona Patagônia, de Bruno Faucz

confiante do acerto”, considera. Ofertando tapetes orientais feitos a mão e tapetes contemporâneos nacionais e importados, a empresa nasceu em uma época bastante favorável economicamente. “A barreira comercial para produtos importados estava caindo; as alíquotas de importação foram reduzidas, viabilizando o acesso de grande parte dos consumidores brasileiros aos famosos tapetes persas. Logo, um produto que era privilégio de poucos foi sendo consumido por muitos”, relembra. Com o passar dos tempos, a crescente demanda fez aumentar, também, a concorrência. “Hoje, com o mundo globalizado, o que é lançamento no mercado internacional, logo estará sendo apresentado no mercado local”, diz Gelson, que costuma buscar referências ‘direto da fonte’, em frequentes viagens aos países de origem dos produtores e nas principais feiras internacionais do segmento. Os 30 anos da consolidação da Arquitetura de Interiores no Brasil acompanha, também, a evolução do design de móveis. Uma das indústrias pioneiras a apostar no chamado ‘design autoral’ é a Saccaro, fundada há 71 anos em Caxias do Sul (RS). Desde 1985, a empresa segue aliada a

arquitetos, designers e artistas para criação de peças e móveis. “No início, eram poucos os clientes finais que percebiam o valor do design”, conta a empresária Lia Gomes de Freitas, franqueada da Saccaro Porto Alegre. Para a empresa, segundo ela, os especificadores têm um papel muito importante. “Sempre digo que os profissionais são educadores, pois eles mostram a diferença de um produto de design e qualidade, até para que o cliente reconheça e valorize um produto diferenciado”, afirma. 51


EDITORIA


ATHIS - 10 anos

Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social 53


PROFISSÃO

Habitação social: lei de assistência técnica abre nicho de mercado para projetos de arquitetura e de reformas Imagem: Divulgação

Sancionada em 2008, a Athis ainda não vingou como política pública federal, apontam especialistas, mas gera oportunidades para ONGs e profissionais desenvolverem ações de interesse social

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AAI EM REVISTA ARQUITETOS 2018

Projeto do arquiteto e urbanista Uilian da Luz Marconato, um dos vencedores do concurso nacional promovido pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab/DF)


A partir de 2008, com a sanção presidencial ao projeto de lei do deputado e arquiteto gaúcho Clóvis Ingelfritz, famílias de baixa renda (com rendimento de até três salários mínimos) passaram a ter direito à assistência técnica pública e gratuita para projetos e construção de habitação de interesse social. Um trabalho que pode ser oferecido diretamente por grupos de profissionais

Fotos: Divulgação Peabiru

Em 2018, a Lei da Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social, a Athis, completa uma década de existência. Antiga reivindicação de arquitetos e urbanistas do país, a legislação é resultado de um esforço de várias entidades representativas que, desde o final dos anos 1970, buscavam regulamentar a atividade técnica para edificações e projetos de interesse social.

de Arquitetura e Urbanismo a famílias, cooperativas, associação de moradores ou outros grupos que os representem. E assim surgiu um novo nicho de trabalho para profissionais do setor. “A assistência técnica já é uma oportunidade de trabalho para profissionais atuarem articulando projetos entre si. Em um primeiro momento, a proposta tinha, como principal caráter, ser uma política pública. Porém, quem começou a atuar via mercado viu que há uma grande demanda, pois o Estado não estava conseguindo atender essas famílias”, explica Karla Moroso, escolhida como Arquiteta e Urbanista do Ano em 2015 pelo Sindicato dos Arquitetos do Rio Grande do Sul (Saergs) graças a um projeto de apoio técnico realizado para as comunidades do Morro Santa

Oficinas realizadas pela assistência técnica Peabiru para aproximar os arquitetos das demandas da população. Durante três dias, são promovidos debates, visitas técnicas e oficinas de projeto, entre profissionais, estudantes, técnicos e lideranças sociais locais

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Fotos: Divulgação Peabiru

PROFISSÃO

Teresa, em Porto Alegre (RS). Segundo ela, mais de 90% dos brasileiros que fizeram construções ou reformas não utilizaram o trabalho de um arquiteto. “Isso mostra que o profissional não está atuando nem no mercado formal, muito menos no informal. Existe sim uma demanda considerável de trabalho”, considera a arquiteta.

Conjunto habitacional Alvorada, erguido em São Paulo (SP), com 120 unidades, por iniciativa do Movimento Nacional de Luta pela Moradia

Entretanto, mesmo após nove anos, a lei da assistência técnica ainda não ‘decolou’, na visão de profissionais e representantes de entidades do setor. “A legislação não foi adiante como proposta permanente de atendimento ao direito da habitação. Ela focou muito na reforma e no atendimento da qualidade de edificação, mas não deve preterir questões como a regularização fundiária e a qualificação do entorno - o que é trabalho para o poder público. O primeiro desafio é: como se financia? Os fundos nacional e os estaduais não têm recursos para alavancar projetos deste tipo”, opina o arquiteto e urbanista Rafael Passos, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento Rio Grande do Sul (IAB-RS) e membro da Comissão de

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AAI EM REVISTA ARQUITETOS 2018


Neste ano, o CAU/RS abriu edital público e foram qualificados dois projetos na área, sendo que disponibilizou um total de R$ 240 mil em recursos. Tanto o Saergs quanto o IAB-RS apresentaram propostas e o Estado terá duas experiências de trabalho social de Arquitetura e Urbanismo, com patrocínio do CAU/RS. Assembleia com moradores e visita técnica promovida pela assessoria técnica Peabiru ao conjunto habitacional Alvorada, construído em empreitada global

Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU/RS). Na visão dos especialistas, a legislação deveria ser apropriada pelos municípios, mas a falta de recursos nos cofres públicos das prefeituras impede a realização de projetos. Em 2106, o CAU/ BR determinou que suas unidades federativas pelo país destinassem 2% do valor de seus orçamentos para apoiar ações relacionadas à habitação social.

“Nosso projeto é de regularização fundiária para 45 unidades residenciais em São Leopoldo, junto com a prefeitura municipal. Estamos buscando as administrações que fizeram seu dever de casa na questão de regularização”, explica o presidente do IAB-RS, que espera concluir este projeto até setembro do ano que vem e que o resultado sirva como piloto para outras prefeituras do Estado. Para ele, 2017 foi, de fato, o ano zero com relação à lei de assistência técnica. “Vamos promover um seminário e oficinas de preparação das equipes. A nossa formação profissional tem uma grande deficiência na área de habitação social”, diz Rafael Passos. A crítica à formação é reforçada por Karla: “quando eu estudava, há 10 anos, o interesse social não fazia parte do escopo do curso; a universidade 57


não formava para isso. Hoje, já temos alguns projetos de pesquisa e extensão. A Athis é importante porque vem com essa força do poder público contratando profissionais e recursos para remunerá-los. No mercado de trabalho, quem atua nesse campo é visto como um voluntário, mas isso é um erro, pois a transformação social é um papel profissional do arquiteto e urbanista”. Para ela, este novo cenário de trabalho abre oportunidades para arquitetos e urbanistas com um perfil multidisciplinar, colaborativo e empreendedor, capaz de atuar em parceria com especialistas de outras áreas. “Há empreendedores que construíram um modelo de negócio a partir de um problema social. E quem quer atuar nesta área tem que dialogar com quem constrói a cidade: biólogo, antropólogo, advogado, geólogo, assistente social. Eu mesma atuo em uma ONG que reúne profissionais de todas essas áreas”, sugere. Em agosto deste ano, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab-DF) divulgou o resultado de concurso nacional para projeto de arquitetura para Habitação de Interesse Social, levando em conta critérios como: soluções inovadoras,

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AAI EM REVISTA ARQUITETOS 2018

economicidade, funcionalidade, acessibilidade, tempo de execução, forma de manutenção, entre outros. Um dos três vencedores - de um total de 88 projetos inscritos - foi o arquiteto e urbanista Uilian da Luz Marconato, de Santa Maria (RS), que se destacou pelo sistema construtivo de simples execução e de baixo custo, utilizando uma base de concreto que é, simultaneamente, sistema estrutural, de vedação e de acabamento. Entidade é referência em habitação social Na esteira de um programa municipal para habitação popular implementado pela prefeitura de São Paulo, a assessoria técnica Peabiru foi fundada em 1993 para atuar como uma entidade sem fins lucrativos que servisse como ponte entre o poder público e associações organizadas de luta pela moradia. A ideia era constituir uma ONG de perfil técnico capaz de operar programas públicos, auxiliando no desenvolvimento de projetos de habitação social e acompanhando as obras. “A Peabiru trabalha, desde então, com associações de construção e, também, diretamente com prefeituras e outros órgãos públicos, em contratos para desenvolvimento de planos, estudos, projetos

Fotos: Divulgação Peabiru

PROFISSÃO


e gerenciamento de assentamentos precários, vilas, favelas e loteamentos”, explica Caio Santo Amore, arquiteto e urbanista da Peabiru e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).

Cenas do filme ‘É o que eu penso e é o que eu vejo’, que aborda a diversidade de problemas e necessidades habitacionais a serem enfrentadas pela ATHIS e por todos os arquitetos e urbanistas que, com sua formação humana, preocupam-se com as condições de vida das pessoas

Desde 1993, a ONG desenvolveu projetos e melhorias para favelas com quantidade variada de domicílios (de 100 a 2 mil), conjuntos habitacionais de 20 a 500 unidades, acompanhando parte das obras e trabalhando também com capacitação de jovens para construção civil, levantamentos de patrimônio histórico, elaboração de Plano Diretor, planos para assentamentos precários nos municípios e para gestão socioambiental sustentável para bairros inteiros, além de oficinas de assistência técnica. A Peabiru organiza-se em três programas: produção do espaço (planos, projetos e obras), crítica (pesquisas acadêmicas) e política (participação em conselhos gestores e espaços públicos de articulação sociopolítica). “É a partir da ação concreta do arquiteto e urbanista na cidade que se constrói um reconhecimento da sociedade em relação à importância e à necessidade do profissional. Foi um programa que colocou a Arquitetura e o arquiteto em relação

direta com os futuros moradores, e isso produziu um mercado e fez com que uma série de ONGs de assessorias técnicas começassem a estruturar-se para operar o programa”, completa Caio. O próximo projeto da ONG é lançar um financiamento coletivo para exibição do curta metragem ‘É o que eu penso e é o que eu vejo’, que trata da precariedade habitacional e como a ATHIS pode ser uma resposta não apenas social, mas também urbanística. O documentário foi produzido pela Peabiru no início de 2017 a partir de recursos obtidos por meio de um edital público de patrocínio lançado pelo CAU/SP no ano anterior. O mercado de reformas em habitação social é promissor, e começa a chamar a atenção de empresas e de profissionais da Arquitetura e Urbanismo. Em geral, são atividades de qualificação do espaço já existente, gerando retorno imediato em qualidade aos seus moradores. Em muitos casos envolve a Arquitetura de Interiores e, então, profissionais que atuam no segmento podem utilizar seus conhecimentos trazendo benefícios para um cliente que começa a descobrir a capacidade transformadora da Arquitetura e Urbanismo.

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EDITORIA


Entrevista

Forte, Gimenes & Marcondes Ferraz (FGMF) 61


ENTREVISTA

Compromisso com o bem-estar e a paisagem natural Referências internacionais da arquitetura contemporânea brasileira, os titulares do escritório paulista Forte, Gimenes & Marcondes Ferraz (FGMF) reforçam os princípios defendidos em cada projeto planejado, independentemente da escala.

A mesma empolgação que reuniu os três colegas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, em 1999, ainda está evidente no discurso e na produção assinada pelo escritório Forte, Gimenes & Marcondes Ferraz (FGMF), sediado na capital paulista. Ao apresentarem os projetos de destaque do portfólio, muitos deles premiados e reconhecidos internacionalmente, os arquitetos e urbanistas Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz demonstram que a produção vai muito além dos aspectos técnicos e da necessidade do cliente. AAI em revista - Qual o principal propósito do escritório no desenvolvimento dos projetos? Lourenço Gimenes - Queremos criar espaços que sejam interessantes para as pessoas estarem e com uma relação interessante com a paisagem do entorno, independentemente da sua escala. O local onde a construção será inserida, para nós, tem a mesma importância do programa da arquitetura. AAI em revista - No planejamento, vocês não costumam seguir fórmulas pré-definidas ou rígidas. Como se dá o processo criativo? Lourenço - Partimos sempre do zero e fazemos do desenho o instrumento de pesquisa para elaborar uma nova visão de edifício, de objeto e de cidade. Não somos reféns de um sistema construtivo ou da capacidade financeira do cliente para fazer um projeto que a gente entenda ser interessante. Esses são os pilares do nosso escritório.

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AAI EM REVISTA ARQUITETOS 2018

AAI em revista - E qual o tipo de projeto que interessa mais a vocês? Fernando Forte - Assumimos todo o tipo de programa - da cadeira à ponte, do hospital à fábrica, de edificações comerciais a residências. Isso parece arriscado do ponto de vista financeiro para o nosso escritório, pela variação de complexidade entre eles, mas é algo que dá tesão na gente, pois são projetos de escalas e programas diferentes. É muito recompensador. AAI em revista - O compromisso ambiental é algo comum a todos os projetos desenvolvidos, independentemente da escala, certo? Rodrigo Marcondes Ferraz - Em todos os projetos da FGMF são priorizadas decisões que promovam a qualidade e o conforto ambiental dos usuários do espaço. A gente nem gosta de falar no termo sustentabilidade porque, para nós, isso faz parte do processo natural do projeto. Não se trata de uma disciplina técnica que será acoplada ao projeto depois, mas é algo que já deve ser resolvido no próprio partido. AAI em revista - O portfólio da FGMF já soma cerca de 320 projetos. Vocês costumam envolverse pessoalmente em cada projeto, mas como acompanhar tantos trabalhos? Lourenço - Hoje, temos 42 pessoas na FGMF. E os arquitetos que fazem parte da equipe de obras participam de todas as etapas, da fundação à instalação da última lâmpada. Para nós, essa atenção é muito importante e reflete no nosso projeto.


Foto: Divulgação FGMF

AAI em revista - Vocês foram o primeiro e único escritório brasileiro a fazer parte do anuário da prestigiada revista britânica Wallpaper, em 2009, entre os 30 ‘mais talentosos do mundo’. Qual foi a proposta? Rodrigo - Eles nos pediram para criar uma casa com um programa simples, com soluções e elementos que, de alguma forma, expressassem as ideias e princípios do escritórios. Planejamos a ‘Casa Tic-Tac’, algo bem conceitual, com a ideia de discutir um pouco a interatividade das pessoas com a construção. Normalmente, a interação é pequena, restrita ao abre e fecha a porta, liga e desliga o interruptor. Então, criamos uma casa com um núcleo central fixo, em função da parte hidráulica, e separamos os quartos e a sala em módulos que poderiam girar e se abrir para o terreno. Duas coberturas metálicas móveis foram planejadas para garantir espaços sombreados, ora como varanda ora como pergolado, possibilitando inúmeras configurações. Essa proposta foi um sucesso na mídia e atraiu um cliente que desejava uma casa como aquela, inovadora, mas que ‘não se mexesse’ (risos). Para ele, desmembramos o programa em diferentes volumes e criamos um elemento de circulação entre eles. E mantivemos a ideia dos pergolados móveis, sobre trilhos simples fixados sobre as vigas metálicas. Para nós, o mais importante eram os espaços que sobravam, para composição de pátios internos, num exercício de pensar no vazio ao invés de pensar no cheio.

Os titulares do escritório Forte, Gimenes & Marcondes Ferraz (FG M F ): Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz. Acima, a Casa Marquise, com espaços flexíveis e envidraç a d o s e á re a d e l aze r n o núcleo central, tendo o jardim como protagonista

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ENTREVISTA

Fotos: Divulgação FGMF

O Edifício Corujas, na Vila Madalena, abriga escritórios de diversos formatos, com generosas varandas e jardins privativos, e brises de telha metálica perfurada. A proposta foi criar um espaço mais humanizado para o trabalho, na contramão dos tradicionais cubos de vidro espelhado, localizados em outras regiões da capital paulista. Na foto à esquerda, a Casa Mattos, com ocupação em níveis e espaço de estar voltado para o visual do entorno da edificação e para o platô externo, com solário e piscina

Em 2010, o escritório foi apontado pela revista norte-americana Architectural Record como um dos ‘emerging architects’. De lá para cá, conquistou 80 premiações. Dentre os prêmios mais recentes estão o italiano Dedalo Minosse; os americanos Chicago Athenaeum e Bloomberg Americas Properties Awards; o alemão AIT Awards; e o WAN 64

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Awards 21 for 21, concurso promovido pelo site britânico World Architecture News. que elegeu os 21 jovens líderes da arquitetura do século XXI. Os projetos da FGMF também já estamparam publicações especializadas de mais de 20 países. Em novembro de 2016, o escritório lançou o livro ‘FGMF – 1999-2015’, com destaques do portfólio.


Fotos: Divulgação FGMF

Casa Grelha No terreno de 22 alqueires, apenas uma área de 65 mil m2 não é coberta pela exuberante mata virgem, de proteção permanente. Nessa área de topografia bastante acidentada, onde afloram grandes pedras cercadas de araucárias, escolheuse um pequeno vale protegido dos ventos e próximo à mata. Esse lugar é o encontro dos trajetos naturais do pedestre: é o local para onde se dirige aquele que chega ao terreno, é por ali que se acessa a trilha que adentra a mata e o trecho mais alto do terreno que descortina impressionante vista.

Três importantes questões nortearam a concepção do projeto: a demanda por uma casa térrea, o interesse pela relação direta com o terreno e a natureza, e ainda a necessidade de se observar a privacidade entre os membros da família. Outro fator considerado é a grande umidade da região, que sugeria uma casa elevada do solo. “Planejamos uma grelha estrutural, com módulos de 29 m2 cada e fomos acoplando um no outro”, explica Fernando. Árvores preenchem os espaço vazios, reforçando a política do escritório de integrar, ao máximo, a edificação ao entorno. “Esse foi um ensaio importante para nós, com a graduação do objeto construído até a natureza”, avalia.

A topografia da área e os caminhos pré-existentes determinaram a i m p l a nt a ç ã o d a C a s a G re l h a . Planejada em módulos, a planta favoreceu a criação de jardins internos e de áreas livres entre os diversos ambientes

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EDITORIA


Jovens Expressões Gaúchas 67


Foto: Marcelo Donadussi | Divulgação

JOVENS EXPRESSÕES GAÚCHAS

Abordagem reflexiva sobre a arquitetura Da atenção ao impacto do projeto na qualidade de vida do usuário e no entorno do ambiente construído à inovação em soluções propostas, os escritórios ILLA e Arquitetura Nacional expressam o modus operandi dos profissionais da atualidade. Os moradores contrataram a ILLA Arquitetura para criação de um apartamento ‘não Casa Cor’, baseado na personalidade forte do casal. O conceito mistura estilo industrial e aconchego com bom humor

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Antes de iniciarem o planejamento de um novo projeto, as arquitetas e urbanistas Mariana Hugo, Cláudia Titton e Taís Lagranha, sócias do escritório ILLA, de Porto Alegre (RS), vão além de uma reunião para definição do programa de necessidades. O trio realiza um workshop com os clientes, que pode levar horas de duração.

No mesmo sentido, Mariana, Cláudia e Taís têm apostado na renovação de edificações em áreas urbanas. “Temos conseguido resultados inusitados, estabelecendo contraste entre o antigo e o moderno, mesmo em construções que oferecem limitantes devido aos usos anteriores desses locais”, manifesta Mariana.

No encontro, debatem sobre referências pesquisadas e sobre os mais variados questionamentos para melhor compreenderem os desejos subjetivos e funcionais de quem procura o escritório. “Assim, conseguimos ser mais assertivas nas propostas e incorporar soluções que resultam em espaços com significado para as pessoas”, argumenta Mariana. As arquitetas buscam resgatar valores de seus clientes e do lugar onde eles vivem para suas criações, conferindo identidade própria a cada projeto.

Esse posicionamento no mercado - de uma visão mais reflexiva da arquitetura - impulsionou-as a iniciarem uma nova fase no escritório sob o nome ILLA Arquitetura, em 2014. Naquela época, ao completarem dez anos de atuação, elas sofreram uma espécie de crise de identidade e decidiram abandonar o nome Urbana Arquitetura, com o qual o trio já não se identificava mais. “O Urbana não abrangia os diferentes projetos que fazíamos e nossas personalidades”, explica Mariana.

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Uma das preocupações das arquitetas era contar com uma marca que traduzisse a flexibilidade dos trabalhos que realizam, com escalas e temas distintos, que vão desde o desenho de mobiliário, arquitetura de interiores residencial e comercial e edificações até a concepção urbanística. Dessa avaliação, surgiu o ILLA, uma referência à palavra ilha, por ser “um território que pode ser ocupado por uma ou mais pessoas e que sofre alterações em seu ambiente de acordo com a maré”. Essa flexibilidade aliada à uma visão mais reflexiva sobre a arquitetura, pensando no impacto de cada iniciativa para os indivíduos e a cidade, são características presentes nos empreendimentos elaborados pelas profissionais. Inclusive, foram esses traços em comum que aproximaram Mariana, Cláudia e Taís quando


Foto: Gabriel Carpes | Divulgação

Foto: Ricardo Jaeger | Divulgação Simples, frugal e limpo. O desejo do cliente da ILLA Arquitetura era por um espaço que expressasse solidez financeira, sobriedade e organização

ainda eram colegas na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UniRitter, onde se formaram, e as motivou a trabalharem juntas. Além das sócias, o ILLA conta atualmente, em sua equipe, com outras duas arquitetas, um engenheiro (que acompanha as obras) e três estagiários de arquitetura. Para cada projeto, elas convocam parceiros eventuais, os quais agregam conhecimentos específicos que as permitem oferecer uma experiência única e personalizada para os clientes. A metodologia, conforme Mariana, é um dos principais diferenciais da empresa. “Tratamos cada trabalho como um problema projetual particular, que necessita de um aprofundamento inicial para saber exatamente quais são os problemas e/ou as oportunidades que temos que atender e os valores que devem ser levados em conta pela arquitetura”, detalha.

“TRATAMOS CADA TRABALHO COMO UM PROBLEMA PROJETUAL PARTICULAR.” MARIANA HUGO ARQUITETA E URBANISTA ILLA ARQUITETURA

Proposta ousada e marcante para a primeira morada de um casal, que desejava um espaço amplo para receber amigos em encontros gastronômicos. Os diferentes materiais definem claramente o zoneamento. Projeto da Arquitetura Nacional

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Foto: Marcelo Donadussi | Divulgação

Foto: Ricardo Jaeger | Divulgação

JOVENS EXPRESSÕES GAÚCHAS

Neste projeto da ILLA Arquitetura, a casa foi transformada em bar para os encontros e festas do proprietário. Elementos foram preservados para manter o caráter residencial, como o piso de madeira e as luminárias. O extenso balcão de bar é o marco da intervenção

O processo colaborativo com o qual são conduzidos os trabalhos na área criativa, em geral tem sido cada vez mais comum também na Arquitetura. Profissionais deixam de se ver como concorrentes e assumem uma postura de cooperação para o desenvolvimento conjunto de projetos em grupos multidisciplinares das mais variadas competências e saberes. Conceito forte como base Quando ainda trabalhavam em uma indústria, os arquitetos Eduardo Maurmann e Elen Balvedi Maurmann viram, na oportunidade de projetar o Edifício Praça Municipal, no bairro Cristo Redentor, em Porto Alegre, o momento ideal para fundarem o seu próprio escritório. Assim nascia, em 2010, o Arquitetura Nacional, com o desafio de planejar um prédio residencial em um lote pequeno e com limitações de altura devido a sua proximidade com o aeroporto Salgado Filho. Para esse primeiro trabalho, a dupla procurou, entre os formandos da 70

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Um lugar com três usos distintos, de mesma importância: sala de concerto, bar e residência artística. A equipe da ILLA planejou um espaço ‘verdadeiro’, que fosse mutável o suficiente para permitir a adequação aos usos conforme a ocasião

Faculdade de Arquitetura da UFRGS, um colega de profissão que pudesse contribuir com o projeto enquanto eles desligavam-se de seus empregos. Nessa busca, conheceram Paula Otto, que completa, hoje, o trio de sócios da empresa. “Com o Praça Municipal, ganhamos o Prêmio AsBEA 2014 de Melhor Edifício Residencial do ano no Brasil, o que nos abriu muitas portas”, orgulha-se Elen. O escritório recebeu a mesma distinção dois anos depois, mas com o prédio Kiev, no bairro Passo da Areia. O residencial foi planejado por eles para que pudessem morar próximo de suas famílias e criar o futuro filho junto dos avós. O Arquitetura Nacional conquistou, ainda, o prêmio de Melhor Projeto com o edifício comercial CH, no bairro Chácara das Pedras, também em Porto Alegre, e a Menção Honrosa da categoria residência, com a Casa Enseada, no município de Xangri-lá, no litoral gaúcho. Com a atuação focada em empreendimentos de incorporação, de

“VAMOS ATRÁS DE SOLUÇÕES NÃO CONVENCIONAIS E NÃO DESISTIMOS ATÉ QUE TODAS AS NECESSIDADES DOS CLIENTES ESTEJAM ATENDIDAS.” ELEN MAURMANN ARQUITETA E URBANISTA ARQUITETURA NACIONAL


Foto: Ricardo Jaeger | Divulgação

Foto: Marcelo Donadussi | Divulgação

Foto: Gabriel Carpes | Divulgação Área de lazer da sede de uma empresa de TI projetada pela Arquitetura Nacional, com destaque para a arquibancada multifuncional. Marcações no piso conectam os programas e indicam o percurso a ser percorrido por patinetes – pedido especial dos usuários

Para a área social do novo lar dos clientes, um ambiente com estética apurada e minimalista, expressando a personalidade do casal. Projeto da Arquitetura Nacional

moradia e interiores comerciais, o escritório conta, atualmente, com uma equipe de 12 pessoas, sendo sete arquitetos (incluindo os sócios) e cinco estagiários. Para Elen, um dos diferenciais da empresa é a concepção de trabalhos com conceito forte e tecnicamente bem resolvidos. “Vamos atrás de soluções não convencionais e não desistimos até que todos os problemas e necessidades dos clientes, que querem algo único e com o qual possam se identificar, estejam resolvidos”, salienta. Para assegurar a excelência dos processos, o escritório passou a utilizar o Building Information Modeling (BIM), ferramenta que aperfeiçoou a metodologia projetual. “Como as revisões e alterações, quando necessárias, são

atualizadas automaticamente em todo o modelo (plantas, cortes, fachadas, pranchas), a diminuição de tempo de desenho tem um reflexo direto no aumento da qualidade dos projetos”, destaca a arquiteta. Outra vantagem do BIM, segundo ela, é a diminuição da chance de erros e conflitos que tendem a gerar custos e atrasos. “Isso ocorre porque a compatibilização geométrica com os planos complementares é automatizada e muito mais precisa. Além disso, podemos extrair do software quantitativos e orçamentos precisos, desde listagem de esquadrias a metragens de revestimentos e materiais, reduzindo o desperdício em obra e trazendo economia para quem nos

contrata”, explica. O software de parametrização Grasshopper, que auxilia a criar formas geométricas baseadas em cálculos matemáticos, também é usado pela equipe. Apesar do constante investimento em inovação e aperfeiçoamento, um dos grandes desafios para o setor refere-se aos honorários, na opinião de Elen. “Cobramos o custo que achamos correto, mas, infelizmente, na Arquitetura de Interiores, existe a prática de Reserva Técnica que muitos profissionais aceitam e causa uma disparidade grande nos orçamentos”, lamenta. 71


Foto: Denison Fagundes - CAU/RS | Divulgação

ARTIGO

Exercício de empatia Por Joaquim Haas Presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul – CAU/RS

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A Arquitetura de Interiores ocupa um importante papel na formação da ideia que a sociedade tem sobre nossa profissão. Ouso afirmar que a Arquitetura de Interiores, para muitos, é a primeira experiência das pessoas com a arquitetura, pois é por meio dela que se projeta o bem-estar nos lugares vivenciados diariamente, como a casa, o escritório, uma loja, o consultório do médico ou do dentista e o salão da festa do último final de semana. O arquiteto de interiores é, portanto, fundamental para a formação de cidadãos com senso crítico para pensar em arquitetura. E isso passa pela própria experiência cotidiana e se reflete num contexto maior: a arquitetura que dá conta da cidade e do bem-estar comum.

Por tudo isso, faz-se necessário o incentivo à Arquitetura de Interiores. Veja bem: apenas 7% da população brasileira buscam serviços de arquitetos e urbanistas de acordo com dados de uma recente pesquisa do Datafolha, encomendada pelo CAU/ BR. E isso também diz respeito à Arquitetura de Interiores. Há um potencial enorme de mercado, mas também de falta de conscientização das pessoas sobre o papel do arquiteto. E a probabilidade é que todo este ciclo tenha início com a Arquitetura de Interiores.

Muito além da técnica – ergonomia, funcionalidade, aproveitamento de espaço, iluminação –, é preciso demonstrar a cada novo projeto a habilidade de colocar-se no lugar do outro. Arquitetura de Interiores é um exercício de empatia. Pois, para criar lugares de bem-estar, é preciso entender e mergulhar na rotina das pessoas que irão habitar tal espaço, acolher seus desejos e trazer mais significado para suas vidas por intermédio do ambiente construído.

É papel do CAU/RS fiscalizar e exigir a responsabilidade técnica da prática da atividade e, junto a isso, que sua importância seja amplamente divulgada. Quando garantimos as atribuições privativas do arquiteto, fortalecemos o mercado; quando exigimos RRT, protegemos a população; quando promovemos os diferenciais da Arquitetura de Interiores, fazemos uma transformação: criamos a necessidade de espaços de bem-estar coletivo. 73


Foto: Guilherme Cunha | Divulgação

RESPONSABILIDADE TÉCNICA

Reformas em condomínios: o que é preciso saber? Todos os dias diversas reformas movimentam condomínios. Porém, existem regras que os arquitetos e urbanistas, os síndicos e os moradores precisam conhecer sobre esse assunto. O síndico, segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), é o responsável legal pelo condomínio e isso significa que ele possui deveres que garantem a segurança dos residentes e a qualidade da edificação. O primeiro fato que ele deve saber é de que necessita de responsável técnico e de documentação adequada quando realizadas reformas na vizinhança. O arquiteto e urbanista que atua em Arquitetura de Interiores tem papel importante no reforço de tais informações durante o desenvolvimento do projeto e sua execução. PONTO DE PARTIDA: DIFERENÇAS ENTRE REFORMA E MANUTENÇÃO Manutenção: na manutenção não é necessário um responsável técnico para o serviço. Ela é entendida pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) como uma reconstituição e não como uma alteração. O objetivo é conservar as condições originais, mas isso não significa que utilizará dos mesmos materiais que ali estavam anteriormente. É como pintar de verde a parede branca da sala: não altera as características físicas dos elementos. A parede continua sendo uma parede, só que passará a ser verde. Isso é um exemplo de manutenção. Reforma: quando há troca de material ou até mesmo alteração do projeto de unidade, ou mesmo de área condominial, é necessário um responsável 74

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técnico pelas atividades de projeto e de execução de tudo que vier a ocorrer. Um exemplo de reforma é a modificação da configuração do imóvel, como construção ou demolição de paredes e estruturas. Situações de reforma que visam a compartimentação ou demolição, seja de alvenaria ou gesso acartonado. Isso requer responsável técnico, pois são atividades que podem causar danos ao condomínio. Responsável técnico: segurança para a obra Reformas vão além de mudanças estruturais, não são apenas intervenções em pilares e vigas. Mesmo uma parede que não estruture o edifício pode

causar consequência ao ser demolida sem um responsável técnico. “Digamos que a reforma não tenha sido projetada por um profissional. Ao demolir a parede, é possível danificar outros elementos, como a instalação hidráulica do imóvel, por exemplo. Isso demonstra a necessidade de um responsável técnico. Mesmo em reformas que parecem não ter muito problema por não lidarem com partes estruturais do condomínio, é necessário um profissional para alterar essa configuração original sem causar danos” explica a arquiteta e urbanista Marina Leivas Proto, gerente de Fiscalização do CAU/RS.


SITUAÇÕES QUE EXIGEM O ACOMPANHAMENTO DE UM RESPONSÁVEL TÉCNICO: Troca de revestimento: é necessário um profissional caso seja utilizada uma ferramenta de alto impacto, pois ela pode danificar, por exemplo, a laje que suporta o piso ou uma instalação oculta em uma parede. Não é a retirada do revestimento que vai afetar a edificação, mas o impacto da ferramenta que será utilizada. Outra situação que requer responsável técnico é a substituição de um revestimento onde há alteração considerável de peso do material. A troca de cerâmica por granito pode acarretar sobrecarga estrutural. Instalações elétricas e hidrossanitárias: mudanças da rede, com acréscimo ou diminuição de pontos ou de cargas, requerem a responsabilidade de profissional habilitado. O mesmo ocorre quando, ainda que em função de uma manutenção, seja necessária a demolição parcial de uma parede. A exceção fica por conta da manutenção onde a instalação encontra-se exposta. Regra geral: tudo que tiver alteração, como acréscimo ou retirada de algo, que por consequência altere as características originais do projeto, deve ser feito por um responsável técnico. O QUE O SÍNDICO PRECISA SABER SOBRE A REFORMA QUE O ARQUITETO E URBANISTA CONDUZIRÁ? O responsável legal pelo condomínio deve seguir os procedimentos da ABNT NBR 16.280/2015, cobrando a documentação necessária para qualquer intervenção de Arquitetura de Interiores que ocorra no prédio, como o plano de trabalho, que diz o que vai ser feito, o responsável, o tempo estimado de duração, se haverá ‘trânsito’ de materiais etc. Isso serve como controle, para que se saiba o que está ocorrendo no condomínio. O síndico deve autorizar as etapas de obra, mediante os documentos que comprovem que ela possui profissional habilitado por meio do Registro de Responsabilidade Técnica (RRT). Se o síndico não

ARQUITETURA DE INTERIORES EM NÚMEROS 143.401 arquitetos e urbanistas no Brasil Projetos:

15%

atuam em Arquitetura de Interiores Arquitetura de Interiores:

751.712 RRTs emitidas

40.184 RRTs

Execução de obras:

Arquitetura de Interiores:

452.400 RRTs emitidas

(5,35% do total)

29.670 RRTs (6,56% do total)

A Arquitetura de Interiores foi a única atividade de Projeto que cresceu em relação ao ano anterior, com aumento de 4%. O volume de RRTs referentes à execução de Arquitetura de Interiores também registrou crescimento, com incremento de 9% no último ano, apesar da retração geral de 10% nas atividades de Arquitetura e Urbanismo no Brasil no período. Fonte: Anuário de Arquitetura e Urbanismo 2016 - CAU/BR Publicado em outubro de 2017

receber a documentação, ele pode buscar impedir a entrada de material de construção e dos profissionais que estão fazendo a obra. Caso ocorra alguma reforma de maneira ilícita, o síndico pode denunciar para o CAU/RS, exigindo responsável técnico do proprietário do imóvel e, pode também, denunciar para o município, que tem o poder de embargar a obra. É possível, também, que, na Convenção de Condomínio, seja regrado procedimento para aplicação de multas aos proprietários que não obedecerem às exigências para condução de reformas no

condomínio. Além disso, os moradores do prédio devem estar a par de qualquer reforma que ocorra no condomínio, sendo que o dever de informá-los também cabe ao síndico. Caso o síndico não se sinta capaz de julgar uma documentação, por não saber se está tudo certo, ele deve contratar um profissional habilitado para analisar e dar seu parecer técnico sobre a obra. Outra opção é se unir a outros integrantes do conselho do condomínio e formar uma comissão de obras, para assim analisar os documentos das reformas, mas sempre que houver análise técnica, deve haver profissional habilitado contratado. Quando uma reforma ocorrer numa unidade privativa, o responsável legal do condomínio se exime de responsabilidades, provando que fez cobrança da documentação necessária, mas quando a obra for num espaço comum do prédio, como corredores por exemplo, ele faz as vezes do proprietário, logo, deve providenciar a documentação que mantém a obra regular. Assim como ele deve se voltar ao proprietário do imóvel, em casos de obras privativas, em áreas comuns, a responsabilidade por manter a documentação em dia recai sobre ele mesmo, responsável legal pelo condomínio. Nessas situações, caso seja acionado, o CAU/RS requisita ao síndico a regularidade da reforma. A ABNT NBR 16.280/2015 orienta que, após recolher e arquivar a documentação referente às reformas que ocorreram no condomínio, o síndico repasse essas informações para o próximo ocupante de seu cargo, mantendo, assim, atualizado o Manual de Uso e Operação do Edifício. “A importância do manual está na possibilidade de consulta, de futuros proprietários ou condôminos, que desejem reformar suas unidades, pois terão informações atualizadas das condições construtivas de seus apartamentos, já diferentes do original construído devido às alterações realizadas pelos antigos moradores”, detalha Andréa Borba Pinheiro, arquiteta e urbanista e Agente de Fiscalização do CAU/RS. 75


Arquitetura de Interiores em evidência Fundada em 1987, a AAI Brasil/RS é a primeira e única entidade do Brasil exclusivamente de arquitetos e urbanistas que atuam em Arquitetura de Interiores. Por considerar a dimensão de sua responsabilidade, elegeu a valorização da atividade e a mediação do profissional com o mercado e a sociedade, a sua grande missão. Reconhecida por promover a atualização profissional, bem como a defesa e representação da atividade junto às demais entidades de Arquitetura e Urbanismo, a AAI Brasil/RS reúne, em sua essência associativa, a proximidade, o convívio, a troca de experiências e a busca pela coerência em tudo o que faz. Entre as ações de destaque, atua como referência no meio acadêmico, promovendo palestras em universidades sobre gestão de escritórios e cobrança de honorários; na defesa profissional, atua com participação ativa nas discussões relacionadas ao exercício profissional em todas as esferas; e realizando seminários, workshops, viagens técnicas, e outros eventos também dirigidos aos associados e demais profissionais, atua com a missão de oferecer oportunidade de qualificação, atualização profissional e aproximação com o mercado. Em 2017, a entidade completou três décadas de pioneirismo e protagonismo na Arquitetura de Interiores, elevando a atividade ao patamar do reconhecimento que merece. 76

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Onde encontrar Confira os contatos das empresas apoiadoras dos projetos participantes desta edição

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Expresso do Oriente www.expressodooriente.com.br

Marmoraria Junior Belotto www.marmorariajuniorbelotto.com.br

Florense Nilo Peçanha www.florense.com.br

M. Chaves Iluminação www.mchaves.com.br

Andrea Feine Hunter Douglas www.andreafeine.com.br

Gramap Marmoraria www.gramapgramado.com.br

Móveis Classe A www.moveisclassea.blogspot.com.br

Artemafe Móveis Sob Medida www.artemafe.com.br

Granitos e Pedras Gulart www.granitosgulart.com.br

Móveis Circular moveis.circular@hotmail.com

Art Persianas Cortinas www.artpersianas.com.br

Hartz Tintas www.hartztintas.com.br

Multi Luzes Iluminação www.multiluzes.com.br

BEROD www.berod.com.br

Jasmin Tapetes www.jasmintapetes.com.br

Pedraria Ivoti www.pedrariaivoti.com.br

Casa de Alessa www.casadealessa.com.br

J.J. Vidraçaria jjvidracaria@gmail.com

Pedras Andretta www.pedrasandretta.com.br

Comercial Elétrica São Pedro www.comespe.com.br

Ladrilhart Comércio de Cerâmicas www.ladrilhart.com.br

Portobello Shop Novo Hamburgo ww.portobelloshop.com.br

Cortinas & Persianas Art Lux www.facebook.com/persiana.artlux

LAM Gessos e divisórias www.lamgesso.com.br

Rubeal Decorações www.rubealdecoracoes.com.br

Costaneira Acabamentos www.costaneira.com.br

Leffa Estofados www.leffaestofados.com.br

Sense Planejados & Home Design www.facebook.com/senseTaquara

DR Móveis www.facebook.com/DRMoveis

Leffa Móveis www.leffamoveis.com.br

Sierra Móveis www.sierra.com.br

Espaço do Piso www.espacodopiso.com.br

Lucendi Iluminação www.lucendiiluminacao.com.br

Todeschini Móveis Planejados www.todeschinisa.com.br

Euro Móveis e Esquadrias www.esquadriaseuro.com.br

Madesquim Concept www.madesquim.com.br

Zanella Móveis www.zanellamoveis.com.br

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