ANO IV | Nº 10 | Agosto 2014
Revista Catarinense
de Saúde da Família
Experiências exitosas e premiadas no
VI Encontro Estadual de Saúde da Família
João Raimundo Colombo Governador do Estado
Tânia Eberhardt Secretária de Estado da Saúde
Acélio Casagrande Secretário Adjunto de Estado da Saúde
Clécio Antonio Espezim Superintendente de Planejamento e Gestão
Karin Cristine Geller Leopoldo Diretora de Planejamento, Controle e Avaliação do SUS
Lizete Contin Gerente de Coordenação da Atenção Básica
Revista Catarinense de Saúde da Família Coordenação, distribuição e informações: Gerência de Coordenação da Atenção Básica – GEABS/SES/SC Rua Esteves Júnior, 390 - 3°. andar - Centro 88.015-130 - Florianópolis/SC (48) 3212-1695 / 3212-1693 / 3212-3505 revistasfsc@saude.sc.gov.br www.twitter.com/saudepublicasc www.saude.sc.gov.br
Conselho Editorial: Cecília Izé May Gilson Carvalho João Carlos Caetano Lizete Contin Marcelo Marques de Melo Maria Arlene Pagani Maria Cristina Calvo Pio Pereira dos Santos
Editor: Marcelo Marques de Melo
Edição e editoração: Santa Editora Jornalista responsável: Letícia Wilson (MTB 8757/RS)
Coordenador do Conselho Editorial: Pio Pereira dos Santos
Impresso no Brasil / Printed in Brazil Distribuição dirigida e gratuita. Venda proibida.
Fotos capa: Acervo da ESF nos municípios desta edição Marcelo Marques de Melo Paulo Goeth Impressão: Gráfica IOESC Tiragem de 3 mil exemplares
Revista Catarinense de Saúde da Família / Secretaria de Estado da Saúde / Gerência de Coordenação da Atenção Básica. - Ano 4, n. 10 (ago./ 2014). - Florianópolis : Santa Editora, 2014. v. Il.; 21 x 27,5 cm ISSN 2357-7088 Disponível em http://portalses.saude.sc.gov.br 1. Saúde da Família – Santa Catarina. 2. Atenção Básica em Saúde – Santa Catarina. 3. Medicina da Família. I. Secretaria de Estado da Saúde – Santa Catarina. II. Gerência de Coordenação da Atenção Básica. III. Título. CDD 613.3098641
EDITORIAL
Gilson Carvalho: agradecimento ao amigo e guerreiro do SUS Nesta edição, a homenagem ao ilustre integrante do Conselho Editorial da Revista Catarinense de Saúde da Família, Gilson Carvalho, falecido no último dia 3 de julho, o qual tanto colaborou desde o primeiro número. Permanecem a eterna gratidão e o compromisso na continuidade da luta em defesa do Sistema Único de Saúde - SUS.
Sagração a Gilson Por Pio Pereira dos Santos, médico sanitarista, Secretaria de Estado da Saúde - SC
Foto: Marcos Parodi, IDISA
O título é uma presunção minha. No fundo quero aparecer aos pés dele. Esta é a verdade. No entanto, permitam-me divagar pelas lembranças difusas, contudo fortes, que me fizeram sentir dolorosamente a notícia da morte física do Gilson. Gilson faz parte de mim. No meu egoísmo eu quisera que fosse somente eu que o tivesse, mas sei que ele é universal, pois vive eu todos nós. A minha formação de militante do SUS desde o início teve a companhia generosa do Gilson. Há mais de 30 anos que a fortuna permitiu que eu me alimentasse deste tesouro de sabedoria. É certo que muitos, milhares de nós tivemos o privilégio de sorver os ensinamentos de Gilson. E aqui há um diferencial.
Discorrer brilhantemente sobre temas, mesmo difíceis, há infindáveis. Viver segundo os ensinamentos vertidos, há muitos. Converter em seguidores os arregimentados, já são menos. Amar e ser querido pelos discípulos, aí já são poucos. Gilson foi e é um destes. É certo que ele aprendeu de outros luminares da nossa jornada. Entretanto foi discípulo dedicado e mestre entusiasmado como poucos. Decidido, no início dos anos 80, iniciou a criação da rede básica de saúde em São José dos Campos/SP, reformulando o serviço municipal de saúde. Fã da atenção primária de saúde, logo passou a ser referencial para nós outros, que aprendizes buscávamos criar as engrenagens, possíveis naqueles dias, do que viria a ser parte do SUS. A força que irradiava da sua tranquilidade conferia certeza do caminho a seguir e da gloriosa jornada, mesmo que a luz do meio do túnel não se visse. Ilustre, foi chamado e assumiu os desafios da estruturação do SUS, em todas as posições de luta. E foi um distinto combatente, em todos os postos. Perdoem-me a intromissão, mas orgulhome completamente de ser amigo de Gilson, e na minha presunção, ele me tinha como amigo, também. Amigo na concepção ampla: pessoa com quem se sente satisfação da proximidade e confiança na fidelidade. E, até hoje, eu me sinto importante por primeira vez tê-lo trazido a Santa Catarina. Anos são passados e o meu amigo e mestre, hoje, é um bem comum de todos nós. Devemos todos nós, trabalhadores da saúde, chorar a morte de Gilson, mas também nos alegrarmos por ver crescido na luta pelo desenvolvimento humano, que é o SUS, alguém que dignifica a nossa espécie. Orgulhemonos, pois. Aleluia.
Gilson Carvalho, proeminente na luta pelo SUS
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Uirapuru da Saúde Pública Por Rudi Pereira Lopes, bioquímico sanitarista, Secretaria de Estado da Saúde - SC Quando soube da morte do nosso amigo Gilson Carvalho, lembrei, de imediato, do pássaro cantante da Amazônia conhecido pelo nome de Uirapuru. Pra quem não sabe, a floresta amazônica é rica em lendas e uma delas é a que diz que quando o Uirapuru canta a mata inteira silencia para ouvir o seu cantar. Uma parte da letra da música que faz referência ao nosso pássaro cantante diz: “...A mata inteira fica muda ao seu cantar / Tudo se cala para ouvir sua canção / Que vai ao céu numa sentida melodia / Vai a ‘Deus em forma triste de oração’.”. É assim que vejo a participação de Gilson na luta pela implantação do SUS, um verdadeiro pássaro cantante que cantou com maestria as mágoas de um povo sofrido no sentido da consolidação de um sistema de saúde verdadeiramente universal. Não foram poucos aqueles, entre os quais me incluo, que silenciaram para ouvir tudo
o que o Uirapuru da Saúde Pública tinha a nos dizer. Uirapuru da Saúde Pública pode ter partido deste mundo e todos choramos sua falta, mas seu canto suave continua a ecoar por todos os rincões dessa nação brasileira. Ao grande Uirapuru da Saúde Pública eu me penitencio dizendo o seguinte: creia, Uirapuru da Saúde Pública, teu cantar alegre e questionador vai permanecer entre nós como um grito de alerta. Quando me lembrar de Gilson Carvalho vou lembrar também do canto do Uirapuru da floresta amazônica. Os dois cantam no mesmo tom. Vou silenciar em respeito ao canto único do meu inesquecível Uirapuru. É o que a maioria dos gestores do SUS deveriam fazer: Ouvir com muita atenção o significado do canto do nosso querido Uirapuru. Obrigado Gilson Carvalho, obrigado Uirapuru da Saúde Pública.
Meu amigo, nossa luz Por Paulo Denis Simas Pereira, jornalista, Fundação Nacional de Saúde - SC Gilson Carvalho é o amigo, o irmão, que se foi, deixando saudades e lindas lembranças. Da sua generosidade, da sua inteligência, da sua voz forte, de seus momentos de silêncio, quando parava de falar para secar o suor do rosto e logo voltar como uma metralhadora enaltecendo a grandeza do Sistema Único de Saúde, esmiuçando os entraves – como a falta de recursos ou a centralização das decisões e regras no Ministério da Saúde - e apontando, sempre, sugestões de soluções, novos caminhos. Esteve na criação do SUS e era o maior divulgador do sistema, que ele chegou a chamar de SUS(SEG), o Seguro de Saúde Público e Solidário do Cidadão, no I Encontro Estadual Saúde e Doença na Mídia realizado pelo Grupo Interinstitucional de Comunicação e Educação em Saúde de SC (GICES-SC) na UFSC em Florianópolis em 2000. Escreveu livros, percorria o Brasil fazendo palestras, abrindo conferências, realizando oficinas de capacitação de gestores, conselheiros e trabalhadores da saúde. Escrevia
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artigos onde adotava a prática do copyleft: seu texto podia ser copiado, reproduzido e divulgado sob qualquer meio, independente de autorização, desde que sem fins comerciais. Em outubro de 2001 ele já estava agendado para participar de uma conferência municipal de saúde numa cidade do interior do Rio Grande do Sul e eu o convidei para participar do II Encontro Estadual de Comunicação e Educação em Saúde que o GICES-SC realizaria em Florianópolis. Não lembro bem qual era a cidade, só sei que não tinha aeroporto. Ele disse ao telefone, tranquilo: “Não se preocupe, Paulo. Eu dou um jeito”. No dia seguinte à conferência, ele levantou bem cedo, conseguiu uma carona não sei com quem e viajou a uma cidade onde havia um voo às 7 horas. Creio que foi a Porto Alegre e pegou outro avião para Florianópolis. Só sei que o Gilson apareceu em Floripa na hora combinada e deu uma excelente palestra sobre a participação do cidadão na sociedade e na
saúde pública. Ele disse: “Eu entendo que o ser humano participa do mundo de três formas: a ação, a proposição e o controle. Essas três coisas são a chave da ação que nós vamos ter dentro do conselho de saúde, que nós vamos ter dentro de movimentos organizados. Na nossa ação, nós temos propositivos e nós temos controladores para verificar se aquilo que fez parte da proposta foi assumido como proposta e se realmente aquilo está acontecendo.” Para quem não sabe, ele não cobrava nada da gente. Só era preciso bancar as suas viagens e o hotel. Eu já escrevi que ele era muito generoso. Aliás, para mim, essa é a principal virtude dele. Ainda não consegui imaginar
a saúde pública sem ele – minha ficha ainda não caiu. Só sei que sentiremos falta da estrela-guia, daquele vigilante atento a defender a saúde como direito da população na batalha forte que desenvolve o neoliberalismo visando a transformação da saúde em produto mercantil. Para ele, saúde era condicionante da felicidade. Não podemos esquecer outra de suas frases: “Nós somos todos SUSdependentes”. Respeito a crença de cada um mas creio que esta sua missão aqui na terra – de lutar pela saúde de uma nação - já terminou. Vejo Gilson como um espírito superior, que já marcou nossos corações com ferro e brasa, e ainda nos enviará luzes lá do alto.
Sempre Luz do Alto Por Marcelo Marques de Melo, dentista e jornalista, Secretaria de Estado da Saúde - SC
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Sumário Apresentação...................................................................................................... 7 Relatos de Experiências
Ipira ............................................................................................................... 8
Luís Alves ................................................................................................ 12 Rio do Sul ................................................................................................. 17 Rio Fortuna .......................................................................................... 24 São Domingos ................................................................................... 30 Fortalecendo a Gestão do SUS ............................................................. 36
APRESENTAÇÃO
VI Encontro Estadual de Saúde da Família Coordenação de Fortalecimento da Atenção Básica das Macrorregiões A Atenção Básica é desenvolvida com o mais alto grau de descentralização e capilaridade, ocorrendo no local mais próximo da vida das pessoas e deve ser o contato preferencial dos usuários, uma das principais portas de entrada do sistema de saúde e centro de comunicação de toda a Rede de Atenção à Saúde. A Atenção Básica, seguindo os princípios do SUS, deve garantir o acesso universal, com o uso oportuno de serviços de saúde para alcançar os melhores resultados possíveis em saúde, na integralidade e na equidade. Porém, esses princípios alcançam concretude quando os serviços garantem a atenção adequada às necessidades da população, primando pela qualidade dos serviços prestados. Seguindo a lógica de fortalecer a Atenção Básica, de melhorar o acesso e a qualidade dos serviços aos usuários do SUS, a Secretaria de Estado da Saúde – SES, por meio da Gerência de Coordenação da Atenção Básica – GEABS, realiza, nos anos ímpares, os Encontros Macrorregionais e o Encontro Estadual de Saúde da Família. São destaques a apresentação das experiências exitosas sobre processos de trabalho, a avaliação do desempenho da Gestão Municipal da Atenção Básica, bem como sua premiação. Em 2013, o VI Encontro Estadual de Saúde da Família aconteceu de 4 a 6 de novembro, com o tema central: Acesso e Qualidade na Atenção Básica – AB com foco na Integralidade da Atenção à Saúde. Outro tema abordado foi o papel da Atenção Básica nas Redes de Atenção à Saúde. O VI Encontro reuniu aproximadamente 850 participantes, entre gestores municipais, regionais e estaduais de saúde, profissionais das Equipes de Atenção Básica, especialmente os que atuam na Estratégia Saúde da Família, na Saúde Bucal e nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família com a representação de 54% de participação dos
municípios catarinenses. Nesse encontro, foram premiados 29 municípios, que receberam o valor de R$ 10.000,00 por apresentarem as melhores experiências desenvolvidas na Estratégia Saúde da Família. As equipes premiadas são dos municípios de: Itaiópólis, Itapoá, Joinville, Içara, Imbituba, Jaguaruna, Florianópolis, São José, Águas Mornas, Navegantes, Itajaí, Indaial, Petrolândia, Taió, Luzerna, Vargem Bonita, Lages, Xaxim, Nova Itaberaba, Itapiranga, Biguaçu, Ipira, Irineópolis, Luís Alves, Massaranduba, Rio do Sul, Rio Fortuna, Rio Rufino e São Domingos. Além desses, foram premiados 28 municípios que apresentaram o melhor desempenho na avaliação da Gestão Municipal da Atenção Básica, conforme Deliberação CIB 493/2012, os quais receberam entre R$ 15.000,00 e R$ 50.000,00. Os municipios são: Chapecó, Tubarão, Rio do Sul, Caibi, São Miguel da Boa Vista, Nova Itaberaba, Flor do Sertão, Jupiá, Riqueza, Coronel Martins, Witmarsum, Tigrinhos, Salto Veloso, Peritiba, Alto Bela Vista, Palma Sola, Santa Terezinha do Progresso, Iomerê, Belmonte, Bombinhas, Pinhalzinho, Cocal do Sul, Quilombo, Cunha Porã, Herval d’Oeste, Itapema, Pomerode e Timbó. Houve também uma premiação de R$ 5.000,00 por equipe/macrorregião que apresentou maior pontuação por participação nas atividades do Núcleo Telessaúde/ SC. Sendo as equipes dos municipios de: Novo Horizonte, Vargem Bonita, Presidente Castelo Branco, Arvoredo, Rio Negrinho, Joinville, Luís Alves, Benedito Novo e Içara. Nesta edição da revista estão sendo publicados cinco trabalhos premiados nos Encontros Macrorregionais e apresentados no VI Encontro Estadual de Saúde da Família, como forma de publicizar e valorizar as experiências exitosas das Equipes de Atenção Básica de nosso Estado.
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RELATOS
IPIRA
Projeto Alegria e Movimento Fotos: Acervo da ESF no município
Unidade de Saúde de Filadélfia - Área Rural Cirurgiã-dentista Ângela Cristina Borsatti
Fisioterapeuta do NASF Fabiano Fuzinatto
Enfermeira Claudete Gerhardt
Técnicos de Enfermagem Gládis Meine Vieira Lopes Rosangela Borsatti
Agente Comunitário de Saúde Enir Janete Zimmer
Introdução Nas últimas duas décadas estudos estatísticos demonstram uma mudança importante no quadro de doenças com aumento da incidência de doenças crônicas e degenerativas, estas doenças estão sendo apontadas como uma das principais causas de morte no Brasil e no mundo. Entre essas doenças estão as cardiovasculares, os cânceres, o diabetes mellitus, as doenças respiratórias crônicas. As doenças cardiovasculares constituem a principal causa de morbimortalidade na população brasileira. Não há uma causa única para esses agravos, mas vários fatores de risco que aumentam a probabilidade de sua ocorrência. A hipertensão arterial e o diabetes mellitus representam dois dos principais fatores de risco, contribuindo decisivamente para o agravamento desse cenário em nível nacional e municipal, que tendem a crescer nos próximos anos, não só pelo crescimento e envelhecimento da população, mas, sobretudo, pela persistência de vários fatores de riscos modificáveis como o tabagismo, a inatividade física, alimentação inadequada, a obesidade, a dislipidemia e o consumo de álcool. Foi baseado nos pressupostos acima que surgiu o Projeto Alegria e Movimento, mediante a necessidade de implantar uma estratégia que promovesse não só a saúde física, mas também a mental e social da população das comunidades da área rural do município de Ipira, Filadélfia e Mambuca. Em vista da falta de opção de lazer e o grande número de pessoas sedentárias, hipertensas e idosas, pensou-se em uma maneira de incluir essas pessoas no meio social visando melhorar o relacionamento interpessoal, evitando o isolamento e a solidão destas pessoas. A única opção de lazer das pessoas das comunidades mencionadas acima antes da criação do projeto era o jogo de baralho e bingo, sendo que ambas as atividades eram acompanhadas por consumo de bebida alcoólica e fumo. Sendo esta uma prática de atividade sedentária, agravando ainda mais os problemas de saúde. Nesse sentido, as equipes de Estratégia Saúde da Família 8 | Revista Catarinense de Saúde da Família | agosto 2014
(ESF II) e NASF, incorporaram a dança como um dos principais meios de prevenção e controle de doenças, em função dos vários benefícios que ela oferece.
Justificativa Ipira faz parte da Macrorregião de Saúde do Meio Oeste Catarinense, é um município de pequeno porte, essencialmente agrícola e conta atualmente com duas equipes de ESF e Saúde Bucal (área urbana e rural), um NASF e 15 agentes comunitárias de saúde totalizando 100% de cobertura populacional. Através de visitas domiciliares feitas pela agente comunitária de saúde da microárea nº 07, que abrange as comunidades da área rural de Filadélfia e Mambuca, a mesma observou através das fichas B (de acompanhamento de hipertenso e diabético) um aumento do número de idosos, o crescente índice de indivíduos hipertensos, o alto grau de sedentarismo, principalmente da população idosa, a falta de atividades de lazer, elevado uso de antidepressivos, queixas constantes de dor pelo corpo, pessoas solitárias e carentes de afeto. Surgiu a necessidade de buscar caminhos alternativos no processo de trabalho, criando-se o Grupo Alegria e Movimento. Visando a necessidade da transformação das práticas de saúde, a dança foi inserida como forma de melhorar a qualidade de vida daquelas comunidades. A dança é uma atividade aeróbica e focada em pontos específicos do corpo, que variam de acordo com o tipo da atividade. Em geral, mexe com frequência cardíaca, musculatura esquelética, articulações, respiração, resistência cardiopulmonar, melhora o equilíbrio, a concentração, a coordenação motora, a postura, a disciplina, libera endorfina, substância relacionada ao prazer, combate ao stress e à ansiedade, aumenta a autoestima, podendo ser uma boa aliada para se perder peso. É um exercício que interliga corpo e mente. A prática da dança foi escolhida pelas equipes da ESF II (área rural) e NASF por ser uma atividade aeróbica, segura,
acontece quinzenalmente no período da manhã das 08h00 às 10h00 na comunidade de Filadélfia, inicialmente. Os participantes são monitorados e acompanhados pelo agente comunitário de saúde (ACS), fisioterapeuta do NASF, técnica de enfermagem, enfermeira e odontóloga. O protocolo de atividades acontece da seguinte maneira: A pressão arterial e os batimentos cardíacos são monitorados pela técnica de enfermagem antes e depois
Equipe em frente ao Posto de Saúde de Filadélfia
de baixo custo, simples de ser executada, adequados para os adultos, especialmente idosos e indivíduos portadores de doenças crônicas, cardíacas e metabólicas (diabetes, obesidade e excesso de triglicérides no sangue), além de promover vários benefícios para o sistema cardiovascular e musculoesquelético. Neste contexto, aproveitando os benefícios que a prática da dança oferece, o Projeto Alegria e Movimento pretende proporcionar uma melhor qualidade de vida aos participantes, bem como estimular a prática de atividade física, de lazer, modos de vida saudável e a integração da comunidade.
Objetivos Objetivo geral Promover a qualidade de vida dos participantes do Projeto Alegria e Movimento das comunidades da Linha Filadélfia e Linha Mambuca. Objetivos específicos: • Estimular hábitos de vida saudáveis; • Reduzir o nível de stress e ansiedade; • Promover um envelhecimento saudável; • Aumentar a autoestima; • Diminuir as dores musculares e articulares; • Exercitar o equilíbrio e concentração; • Melhorar a flexibilidade e resistência física; • Incentivar a integração social; • Exercitar a memória.
Desenvolvimento O projeto teve seu início em 20 de março de 2013,
Verificação de PA antes e depois das atividades físicas
das atividades. • É realizado um instante de meditação (reflexão); • Na sequência, o fisioterapeuta segue com aquecimento e alongamento dos principais grupos musculares para prevenir possíveis lesões e desconfortos (20 min); • Em seguida uma caminhada orientada (30 min); • Após, inicia-se as atividades de danças coordenadas pela agente comunitária de saúde: danças seniores, danças sentadas, danças do folclore germânico e brasileiro, dinâmicas de descontração através de danças (30 min); • Eventualmente ocorrem mini palestras com a odontóloga e enfermeira da ESF; • Desaquecimento, relaxamento muscular, respiração e alongamento com fisioterapeuta. (20 min). A dança sênior constitui-se de um conjunto sistematizado de coreografias baseado em danças folclóricas de diversos povos, especialmente adaptadas às possibilidades e necessidade da pessoa idosa. É uma atividade grupal, de baixo impacto, curta duração e não utilização de esforços intensos. A dança sênior apresenta vários benefícios, dentre eles destaca-se o aprendizado das coreografias que trabalham a atenção, concentração, percepção, lateralidade, ritmo, memória recente, orientação espacial, estimulando diversas habilidades psicomotoras e cognitivas, além de promover um trabalho motor com progressivo condicionamento agosto 2014 | Revista Catarinense de Saúde da Família | 9
RELATOS
físico e a sensação de bem estar física e emocional. O trabalho realizado em grupo é cooperativo, possibilitando maior entrosamento, facilitando a socialização e o enriquecimento das relações interpessoais. Capacidades individuais como mobilidade, flexibilidade, agilidade, resistência, equilíbrio estático, coordenação motora e outras podem ser estimuladas, reativadas ou recuperadas, influindo positivamente sobre o sentimento de autoestima e eficácia. Para os idosos ou pessoas que têm dificuldades de movimento com os membros inferiores são utilizadas as danças sentadas, em que as pessoas permanecem sentadas, movimentando pernas, pés, braços, mãos, tronco sem precisar colocar o seu peso sobre as pernas. Dispomos as cadeiras em círculo, ensinamos as coreografias e os participantes podem usufruir os benefícios da dança sênior como os outros.
Resultados Apesar de pouco tempo de realização do projeto, já podemos observar alguns resultados positivos de acordo com depoimentos dos participantes, como aumento da autoestima, redução dos níveis de dor, sensação de bem estar e maior integração entre os participantes. E um aspecto positivo que se observou foi a melhora da pressão arterial após atividades realizadas. Também vale ressaltar que o grupo sugere à gestão municipal que os encontros sejam semanais devido aos bons resultados. As comunidades de Filadélfia e Mambuca formam a micro área 7, onde moram 95 famílias, num total de 261 pessoas. O Grupo Alegria e Movimento conta com um total de 35 participantes, sendo 26 do sexo feminino e 9 do sexo masculino. São dois encontros mensais e a média de participante por sessão é de 23 pessoas. Os temas das palestras foram Alimentação Saudável e Benefícios das
Atividades físicas. Depoimentos de alguns participantes: “Eu vivia com dor na região dos ombros e nuca e depois que comecei a participar do grupo estas dores sumiram.” (Erna Gross Kleemann) “Após meu marido ter fraturado o fêmur, achei que nunca mais iríamos dançar, e participando desse grupo voltamos a dançar, um lazer que havíamos deixado de lado. Pretendo não faltar nos dias de grupo.” (Celita Ravaneli). “A gente sai dali tão leve”. (Anelise Borsatti) “Isso faz bem, com tantos problemas de saúde que eu tenho, naquela hora que estou ali a gente esquece um pouco das dores e algumas desaparecem mesmo. Mas eu sinto que, às vezes, tenho que faltar, pois tenho consulta naquele dia” (Helga de Santi). “A gente ri bastante e dançar faz a gente ficar mais feliz”. (Wilma Kilpp Zimmer). “Eu sempre queria fazer exercício físico, mas sozinho a gente não sabe como fazer. Com esse grupo, a gente faz certo”. Eu até aprendi a dançar melhor. (Plinio Schranck). “Eu me sinto muito bem depois da dança porque parece que se tira um peso do corpo. Seria bom se tivesse toda semana. A gente chega desanimada e sai dali feliz” (Ilse Blauth Schranch).
Fisioterapeuta: aquecimento e alongamento dos principais grupos musculares 10 | Revista Catarinense de Saúde da Família | agosto 2014
Danças e dinâmicas coordenadas pela agente comunitária de saúde
Referências Apostilas dos Cursos de Danças Germânicas ACG (Associação Cultural de Gramado) Casa da Juventude – Gramado – RS. BRASIL. Ministério da Saúde. Diabete Mellitus. Brasília: Ministério da Saúde, 2006 (Cadernos de Atenção Básica, n 16). BRASIL. Ministério da Saúde. Hipertensão arterial sistêmica. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. (Caderno de Atenção Básica, 15). BRASIL. Ministério da Saúde. Prevenção clínica de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e renais. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. (Cadernos de Atenção Básica, 14). INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA: Síntese de Indicadores Sociais 2006. Rio de Janeiro. Disponível em www.ibge.com.br Sites: www.cuidadorcuidadorcuidador.blogspot.com www.vivabemcomparkinson.com.br/noticias/conheca-os-beneficiosda-danca-senior/
Anexo FICHA INFORMATIVA Nome:__________________________________________________ ________ Idade:________ Data nascimento:___________ Identidade:__________________ Naturalidade:____________________________________________ Estado civil: ( ) casado ( ) solteiro ( ) viúvo Profissão:__________________________ Escolaridade: ( ) 1º grau ( ) 2º grau ( ) 3º grau Endereço:_______________________________________________ Cidade:___________________ CEP:____________ Estado:_______ Telefone:_____________ Celular:________________ E-mail:___________________ Em caso de emergência:
Avisar:______________________ Telefone:______________ Informações de saúde: Peso: Altura: ___________________ Circunferência cintura: ___________________ Circunferência quadril: ___________________ Pressão: ___________________ IMC: ___________________ Pratica algum tipo de atividade física? ( ) sim ( ) não Qual?__________________________ Frequência________________ Fumante? ( ) sim ( ) não Se sim quantos cigarros ao dia? ___________________ Consume bebida alcoólica? ( ) sim ( ) não Se sim com qual intensidade_________________________________ Problemas cardíacos? ( ) sim ( ) não Qual? ___________________________________________________ Problemas respiratórios? ( ) sim ( ) não Qual?___________________________________________________ Diabetes? ( ) sim ( ) não Hipertensão ( ) sim ( ) não Problema ósseo ou articular? ( ) sim ( ) não Onde? ___________________ Sente dores musculares ou articulares? ( ) sim ( ) não Onde? ___________________ Fratura, traumatismo ou lesão? ( ) sim ( ) não Onde? ___________________ Cirurgia? ( ) sim ( ) não Onde? ___________________ Toma algum tipo de remédio? ( ) sim ( ) não Se sim, qual e por que? ___________________ Tem algum tipo de problema de saúde que gostaria de mencionar? Qual? ___________________
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RELATOS
LUIS ALVES
Saúde e Prevenção ao uso de drogas na escola: uma parceria da ESF com o Programa Saúde na Escola Fotos: Acervo da ESF no município Enfermeiras e autoras Débora Maria Gesser Kátia Regina Ganz
Agentes Comunitários de Saúde Otília Gesser Daiane Rech Patrícia Wilbert Marcos Dione Weber Rosângela Goedert Geisa Sperber Signorelli Sueli Altini Izauria Schweitzer Valdirene Machado Josilene Eger Schweitzer
Introdução O consumo de drogas vem se expandindo mundialmente e constitui, hoje, uma ameaça à estabilidade das estruturas e valores econômicos, políticos, sociais e culturais das nações. O abuso de drogas entre jovens tem sido uma das questões que mais afligem a sociedade contemporânea (Batista, 2008). Em 2004, o levantamento epidemiológico realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas - CEBRID, em estudantes de educação básica, comprova a presença de psicotrópicos nas escolas, a existência do abuso entre alunos e uma tendência de iniciação precoce, na faixa etária de 10 - 12 anos mais de 12% das crianças já usaram algum tipo de droga na vida. (GALDURÓZ et al, 2004). A escola encontra-se diante de um novo desafio e, nessa circunstância, educar para prevenção apresenta-se como a melhor alternativa para o enfrentamento do consumo de drogas entre estudantes. Prevenção significa dispor com antecipação, impedir ou pelo menos reduzir o consumo (Tavares, 2001). O ato de prevenir o abuso de drogas admite três níveis de intervenção: primária, secundária e terciária. Na prevenção primária o objetivo é intervir antes que o consumo de drogas ocorra. Cabe à instituição escolar promover um estilo de vida saudável nos alunos, desde crianças bem novas até o jovem adulto. A prevenção secundária destinase aos estudantes que apresentam uso leve ou moderado de drogas, que não são dependentes, mas que corre este risco (Santos, 1997). A prevenção terciária dirige-se ao usuário dependente. No caso dos estudantes que já consomem drogas, a função da escola é prestar auxílio ao aluno na procura de terapia, apoiar a recuperação e reintegrá-lo na escola, no grupo de amigos, na família. Vale advertir que não compete à escola o tratamento, mas sim, encaminhar adequadamente o caso (Ferraretto, 2001). O Programa Saúde na Escola - PSE, criado em dezembro de 2007, instituído, no âmbito dos Ministérios da Educação
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e da Saúde, tem a finalidade de contribuir para a formação integral dos estudantes da rede pública de educação básica por meio de ações de prevenção, promoção e atenção à saúde (Decreto n.º 6.28, BRASIL, 2007). A Escola tem um papel fundamental no desenvolvimento sadio de nossas crianças, adolescentes e jovens, pois contribui para a formação global do ser humano na sociedade. A prevenção ao uso de drogas é uma atitude a ser adquirida desde a infância e promovida durante toda a vida. Assim, o papel da escola na prevenção é educar crianças e jovens a buscarem e desenvolverem sua identidade e subjetividade, promover e integrar a educação intelectual e emocional, incentivar a cidadania e a responsabilidade social, bem como garantir que eles incorporem hábitos saudáveis no seu cotidiano (Santos, 1997). O objetivo principal deste trabalho foi de conscientizar de forma lúdica os alunos da educação infantil sobre a importância de se prevenir contra o uso de drogas e além de conscientizar e esclarecer a comunidade escolar, através dos conhecimentos das consequências do uso de drogas para a saúde e para o convívio social.
Metodologia O trabalho que foi desenvolvido nas escolas municipais de Luís Alves, em especial na Escola Municipal Celeste Scola e na Escola Vendelin Schweitzer, é uma proposta da Equipe Saúde da Família que diz respeito às ações de prevenção, sendo essa compreendida como “tudo aquilo que possa ser feito para evitar, impedir, retardar, reduzir ou minimizar o uso indevido, abusivo, dependência e os prejuízos relacionados ao uso abusivo do álcool e/ou outras drogas” (Roos, 2008). O Município de Luís Alves aderiu ao PSE (Programa Saúde na Escola) em março de 2013. O PSE vem contribuir para o fortalecimento de ações na perspectiva do desenvolvimento integral e proporcionar à comunidade
escolar a participação em programas e projetos que articulem saúde e educação, para o enfrentamento das vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens brasileiros. Essa iniciativa reconhece e acolhe as ações de integração entre saúde e educação já existentes e que têm impactado positivamente na qualidade de vida dos educandos. A escola é um espaço privilegiado para práticas de promoção de saúde e de prevenção de agravos à saúde e de doenças. A articulação entre escola e unidade de saúde é, portanto, uma importante demanda do Programa Saúde na Escola (Ministério da Saúde, 2013). As enfermeiras e o coordenador da Atenção Básica do Município de Luís Alves participaram primeiramente de uma reunião na Secretaria da Educação, junto dos diretores das escolas municipais e dos responsáveis das creches, com a secretária da Educação. Discutimos a importância do PSE no município, da parceria entre a saúde e educação e estabelecemos um cronograma anual com todas as atividades que seriam realizadas ao longo do ano. Entre essas atividades, uma delas seria a de trabalhar a prevenção ao uso de álcool e tabaco e outras drogas, como parte do componente II (promoção da saúde e prevenção) do PSE. A equipe da Vila do Salto, no dia 25 de março de 2013, realizou uma teleconsultoria, um meio de pesquisa e de apoio às atividades da equipe de ESF, na página do Telessaúde, com a seguinte pergunta: “Como poderíamos trabalhar a questão de prevenção do uso de drogas e álcool para crianças em idade escolar?” A equipe do Telessaúde nos orientou a utilizar atividades lúdicas para sensibilizar as crianças. A equipe ainda nos enviou artigos científicos
que abordam o tema. Após a leitura dos textos e algumas reuniões entre a equipe, escolhemos então a forma lúdica, que faz com que a criança aprenda com prazer, alegria e entretenimento, sendo relevante ressaltar que a educação lúdica está distante da concepção ingênua de passatempo, brincadeira vulgar, diversão. Elaboramos um teatro cujo nome foi “O sonho que a droga levou”. Os agentes comunitários de saúde confeccionaram a cortina utilizada no teatro, o figurino e demais objetos utilizados foi de responsabilidade de cada integrante. A Secretaria da Saúde e a da Educação disponibilizaram os aparelhos de som, como microfones, caixa de som e reprodutor de CD. Houve o envolvimento da comunidade, alguns membros colaboraram com o local de ensaio, o aparelho de luzes, a filmagem e edição do CD, que se encontra em anexo ao trabalho. A peça de teatro foi apresentada nos dias 11 e 12 de julho de 2013 nos períodos matutino e vespertino, para alunos de 1ª a 3ª série de escolas municipais de Luís Alves, sendo elas a Escola Municipal Celeste Scola e a Escola Municipal Vendelin Schwetzer. Em cada turno participaram 180 alunos. Os personagens principais desse teatro eram a Mariazinha e o Joãozinho, interpretados pelas enfermeiras Kátia e Débora, os demais participantes foram representados pelos agentes comunitários de saúde. O contexto desse teatro ocorre com um grupo de alunos do ensino fundamental, e o enfoque principal foi trazer para o público que o traficante está investindo em um público cada vez mais jovem, passando a ideia de amigo e ganhando a confiança deste, e qual o resultado
Equipe de Saúde caracterizada como personagens da peça teatral
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desta escolha, uma vida sem perspectiva, sem futuro num contexto social.
Resultados e discussão O consumo de drogas cresce consideravelmente a cada dia, pois ele não escolhe religião ou nível social; está presente em todos os lugares e realidades há muito tempo. Esse aumento pode ser atribuído a vários fatores, principalmente aos que se referem à forma em que é transmitida a informação sobre a droga e quem a recebe (Fligie, 2004). A prevenção do uso indevido de drogas é fundamental para a sensibilização sobre os riscos e perigos causados por elas (Batista, 2008). A maioria das ações de prevenção ao uso de drogas está focada no público adolescente, entretanto, em função do primeiro contato com as drogas ocorrer em idade escolar e estar cada vez mais precoce, tem-se verificado a tendência de trazer essa discussão para o ambiente escolar mais cedo (Santos, 1997). O papel da escola é de formar cidadãos participativos e capazes de analisar o que é bom ou não para si, de fazer suas escolhas se o assunto lhe é questionado e de refletir se com isso afetará ou não a vida de outras pessoas. Por isso tal assunto não foge do contexto escolar. Trabalhar formas de prevenção nas escolas ao se tratar de assunto relacionado às drogas (licitas/ilícitas), de uma maneira que venha a contribuir com informações necessárias de serem passadas aos alunos, instituição e sociedade em si; é uma maneira de sensibilizá-los em um ambiente próprio (Beatrice, 2009). A educação para prevenção é uma das melhores
Plateia de escolares em divertida aprovação à atividade apresentada
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alternativas para o enfrentamento do consumo de drogas entre estudantes. Segundo Batista (2008), atividades de prevenção ao uso de drogas em crianças de menor idade devem ir ao encontro da realidade dessas crianças. Atividades como palestras que usam linguagem técnica habitualmente não atingem esse grupo etário. Por outro lado, atividades lúdicas inseridas no cotidiano escolar dessas crianças têm maior probabilidade de sensibilizá-las. Assim, recomenda-se que, para trabalhar o tema prevenção do uso de drogas em crianças de menor idade, sejam utilizados jogos, brincadeiras, livros para colorir, construção de livros pelas crianças, atividades esportivas e teatro. Além disso, também se recomenda uma atividade continuada ao longo de todo processo educacional escolar, ao longo de todos os anos de estudo (Fonseca, 2006). Sendo assim, foi realizado pela equipe da Estratégia Saúde da Família um projeto de Prevenção a Drogas nas escolas, onde o público-alvo foi composto por crianças em idade pré-escolar nas escolas municipais da cidade de Luís Alves. Foi elaborada uma peça de teatro com linguagem simples, o tema “O sonho que a droga levou”, conta a história de um grupo de crianças, que como as demais possuem sonhos, porém uma dessas crianças envolve-se com um homem desconhecido que lhe oferece drogas, vicia-se, e no fim mostra o que a droga faz com a vida da pessoa. Esse trabalho visou transparecer para as crianças as consequências do uso das drogas, através de um teatro. O público da campanha foi o de crianças em idade préescolar em fase de alfabetização, com isso acreditamos que a utilização do teatro como um meio educativo é
produtiva, pois o mesmo contribui significantemente para o desenvolvimento socioeducacional das crianças. Para que as crianças, os pais, a escola, a sociedade em geral possam combater este mal que está se tornando uma epidemia, é preciso obter conhecimento sobre este inimigo oculto, saber do que ele é capaz, quais são suas maneiras de abordar as crianças e onde eles procuram suas vítimas. A criança precisa saber do perigo que corre, através de uma maneira lúdica e infantil, para que ela possa recusar a droga e também avisar os pais ou seus responsáveis sobre a proposta do traficante. Por isso, o nosso trabalho tornase de grande relevância, principalmente para a sociedade, contribuindo para a formação de uma nova geração mais consciente e informada. Durante o desenvolvimento de toda a campanha, tomou-se o cuidado de introduzir o assunto na mensagem de forma que não viesse a agredir o público alvo. O município de Luís Alves, em março de 2013, aderiu à Semana de Saúde nas Escolas e ao Programa Saúde na Escola (PSE), criado pelos Ministérios da Saúde e da Educação. Segundo o Ministério da Saúde, o PSE seria implantado por meio da adesão dos municípios que tiverem equipes de Saúde da Família, conforme as normas preconizadas pela Política Nacional de Atenção Básica, articulados com os Estados, conforme Portaria nº 1910 de 8 agosto de 2011. O PSE é um programa interministerial, dos Ministérios da Saúde e da Educação, e constitui estratégia para a integração e a articulação permanente entre as políticas e ações de educação e de saúde, com a participação da comunidade escolar, envolvendo intersetorialmente as equipes de atenção básica, prioritariamente as equipes de saúde da família, e da educação básica pública. Nesse contexto, as políticas de saúde e educação voltadas a crianças, adolescentes, jovens e adultos da educação pública brasileira, uniram-se para promover o desenvolvimento pleno dos escolares no âmbito da avaliação das condições de saúde, promoção e prevenção às doenças e agravos de saúde, formação de jovens e qualificação permanente dos profissionais de saúde e educação.
Considerações finais O teatro foi apresentado de maneira que as crianças, os pais, a escola, a sociedade em geral buscassem refletir e combater este mal que está se tornando uma epidemia, e que é preciso obter conhecimento sobre este inimigo oculto, saber do que ele é capaz, quais são as maneiras que são utilizadas para abordar as crianças e onde ele procura suas vítimas. Sabemos que a criança por sua inocência é muito vulnerável e facilmente aceita doces e balas, que muitas vezes são utilizados como “iscas” em portas de escolas, como forma de seduzir essa criança e depois levála a uso de drogas e até mesmo de outros tipos de violência. No final das apresentações do teatro buscamos interagir com o público, que fez perguntas e comentários sobre o teatro. Nas falas dos alunos, ao fim do teatro, observamos que a mensagem foi transmitida de forma eficaz: “não
devemos aceitar nada de estranhos, porque uma bala pode ser uma droga”; “quando um estranho vem nos oferecer drogas a gente tem que cair fora (fugir)”. “a droga fez Joãozinho virar um mendigo e Mariazinha não usou droga e conseguiu ser professora”. Divulgamos o trabalho nas redes sociais como Facebook, You Tube e em um blog da própria Prefeitura Municipal, que sensibilizou ainda mais a população e envolveu um grande número de pessoas da comunidade. Esse trabalho superou as expectativas da equipe, envolvendo não só os alunos da escola, mas membros da comunidade, profissionais de saúde, profissionais da educação e a equipe do Telessaúde desde a construção até a execução do trabalho e na reflexão sobre o tema.
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RELATOS
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Anexo
Roteiro do teatro Cena 1 – Na escola Certo dia, na escola, professora Elena decidiu falar sobre drogas em sua aula. Entrou na sala, cumprimentou seus alunos e começou a aula perguntando às crianças sobre os seus sonhos. Perguntou à Mariazinha qual era o seu sonho, o que ela queria ser quando crescesse; ela disse que queria de ser professora. Joãozinho, achando graça da pergunta da professora, disse que gostaria de ser advogado e Marcos, com o mesmo tom debochado, queria ser dentista. Professora Elena explicou que todos esses sonhos poderiam ser destruídos se eles deixassem as drogas entrarem em suas vidas. Joãozinho e Marcos riram achando que a professora estava falando besteira e jogaram papel em Maria que havia concordado com ela. Elena continuou a explicar, apesar da bagunça dos rapazes, que existem vários tipos de drogas: o cigarro, a bebida alcoólica, drogas que são parecidas com balas, entre tantas outras. Por isso, professora Elena disse que é tão importante cuidar nas ruas, ao sair da escola, com pessoas estranhas que convidam para passear ou oferecendo balas. Os mesmos dois alunos continuaram a fazer bagunça e tirar sarro da professora. O sinal toca, João e Marcos, na pressa de logo ir embora, saem correndo sem nem lembrar de tudo que aprenderam na aula.
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Cena 2 – Esperando o ônibus Fora da escola, esperando o ônibus, as crianças estavam a conversar em uma rodinha, quando um homem estranho e bem vestido apareceu. Chamou Mariazinha e ofereceu balas dizendo que era seu amigo. Maria, lembrando de tudo que a professora falou, negou várias vezes, apesar da insistência do rapaz. Já João e Marcos, chamando Maria de careta e “CDF”, aceitaram a oferta do rapaz e saíram com ele, mas Mariazinha não se deixou abalar com as ofensas dos rapazes, pois sabia o que era certo e que esses não agiam como seus amigos. Cena 3 – Na festa Dez anos se passaram. Agora as crianças já são adolescentes, muitos achando que são adultos e que sabem de tudo, organizaram uma festa para se reencontrar. Todos estavam felizes festejando, Maria e os outros comportados como sempre. Mas Marcos e João, já sofrendo os efeitos de, naquele tempo, terem aceitado a bala do homem desconhecido, que na verdade era droga, estão viciados em cigarro, bebida e outras drogas; ofereceram drogas para Maria que novamente recusou. Os rapazes ficaram indignados ao verem que Maria continuava a boa menina de sempre e voltaram a pegar no seu pé no decorrer da festa. Depois de tanto ter bebido e fumado, João passa mal e desmaia, acabando com a festa de todos e aqueles que se diziam seus amigos, como Marcos e o homem da bala, ligeiro foram embora. Assim João acabou por ficar sozinho, perdeu os poucos amigos que lhe restavam e a família desistiu de tentar ajudá-lo. Cena 4 – A destruição Mais alguns anos se passaram. João estava sem casa, morava na rua, pedindo esmola para sustentar o seu vício. Quando passou uma mulher bonita, bem arrumada, aparentemente uma pessoa que se deu bem na vida, João chamou-a e pediu esmolas, quando reconheceu que era Maria. Então aí, por completo, seu mundo desabou. Percebeu que a menina de quem ele tanto debochava tinha conseguido realizar o seu sonho: se formou professora. Ele, por sua vez, acabou sozinho na rua, sem comida, amigos, família, passando frio e só agora concordou com a professora de infância: a droga realmente destruía sonhos. Impediu João de realizar o seu, ser advogado. Com Maria a sua frente, João percebeu que ele tinha se transformado em um nada e desejou voltar atrás e ser como a menina que ele tanto desprezou.
RIO DO SUL
Projeto Pipoca & Arte Fotos: Acervo da ESF no município
ESF: Enfermeira Caroline Soster Cândido Médica Krissye Paes Técnico de Enfermagem Pedro Paulo Felipe
Agentes Comunitárias de Saúde Ana Lúcia Flor Tonon Andreia da Silva Longen Fabiana dos Santos Pripra Lizete Martins Rengel Raquel Correa de Mello de Souza Solange Rassweiler Suelen Martins de Oliveira
Introdução A Unidade de Saúde Ettore Dolzan - Barragem, foi fundada em 1 de Agosto de 2007 e está situada na Estrada da Madeira, s/nº, no bairro Barragem, Rio do Sul. Atende uma população de 2.879 pessoas, com 944 famílias cadastradas até o momento, sendo essa população 22,95% na faixa etária de 40 a 60 anos (660 pessoas) e 9% acima de 60 anos (259 pessoas). (SIAB, 2012) A estrutura física é composta por uma recepção, uma sala de triagem, uma sala de reunião, uma sala de curativos e procedimentos, uma sala de vacina (inativa), um consultório médico, um consultório ginecológico/sala de enfermagem, um consultório odontológico, dois banheiros para usuários e dois banheiros para os funcionários, cozinha, expurgo, central de materiais e lavação. A unidade está estruturada enquanto Estratégia de Saúde da Família e, desde 2009, conta com a colaboração dos profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) para desenvolver suas atividades. No local é prestado atendimento clínico com consultas médicas, consultas obstétricas e puericulturas semanais, curativos, inalações, injeções, atendimentos odontológicos diário, grupo de saúde, onde trabalhamos assuntos diversos relacionados à saúde através de prevenção e cuidados com doenças já existentes e temas diversos que são levantados pela equipe nas reuniões internas onde é realizado um cronograma anual. O grupo de saúde tem como finalidade atender a uma demanda livre, sem restrição de idade, mas na sua maioria é frequentado por idosos (acima de 60 anos), os encontros são realizados sempre na segunda quinta-feira do mês no período vespertino. Os convites são entregues nas residências pelas agentes comunitárias de saúde (ACS) e são fixados cartazes no comércio do bairro. No local também é desenvolvido o Grupo “Entre Elas”, que se reúne uma vez por mês com o objetivo de criar um espaço para as mulheres da comunidade (com idade
NASF: Nutricionista Caroline Bergenthal Assistente Social Helena Direne Alam Fonoaudióloga Leticia Moraes Lange
Psicóloga Livia Regina Koester Fisioterapeuta Paula Pierezan dos Santos Farmacêutico Rômulo Augusto Borges
acima de 15 anos) poderem conversar e trabalhar assuntos pertinentes ao gênero feminino, entre eles a depressão, o autocuidado, exercícios para fortalecimento do períneo (assoalho pélvico). No desenvolvimento das atividades na referida unidade de saúde, observou-se uma baixa adesão aos grupos de saúde oferecidos, bem como que a localidade não oferece opções de lazer e cultura à sua comunidade. Dessa forma, a equipe reuniu-se e propôs reorganizar suas práticas. A primeira ação nesse sentido foi a organização de um passeio ao zoológico situado na cidade de Salete. Os participantes ficaram bastante motivados e solicitaram, inclusive, que houvesse mais momentos como aquele, gerando maior vínculo entre a equipe e os usuários e maior adesão às demais atividades propostas pela unidade. Seguindo os bons resultados optou-se por implantar, naquela população, um projeto que favorecesse o desenvolvimento cognitivo e a autonomia, proporcionando bem-estar biopsicossocial, a convivência harmoniosa em comunidade e o acesso a espaços de cultura e lazer. Esse projeto foi intitulado “Pipoca & Arte” e assegura o trabalho preventivo e de melhora da qualidade de vida dos nossos usuários.
Justificativa Sabe-se que o envelhecimento populacional é um fenômeno mundial, que vem adquirindo características peculiares no Brasil dada a velocidade com que vem se ocorrendo. É interessante que sempre tivemos o conceito de que éramos um país jovem e que o problema do envelhecimento era assunto dos países desenvolvidos considerados de primeiro mundo. Entretanto, os dados vêm nos mostrar que não é essa a realidade que se instalou e continua se instalando no país. Segundo os padrões estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil hoje, já pode ser considerado um país
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estruturalmente envelhecido. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirma que em 2030 o Brasil terá a sexta população mundial de idosos em números absolutos. Ainda segundo esse órgão, havia cerca de 7 milhões de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos em 1980 e, estima-se para o ano 2025, que essa população atingirá aproximadamente 34 milhões de pessoas no Brasil. Analisando essa tendência, pode-se compreender a importância de oferecer a esse crescente grupo, alternativas que atendam às suas diferentes condições biológicas, psicológicas e sociais, valorizando a promoção da saúde e a prevenção das incapacidades que possam limitar suas atividades de vida diária (AVD), bem como as consequências da doença de Parkinson e as demências. Para isso, as ações de saúde pública exigem políticas específicas, as quais devem ter como objetivo maior a integração da pessoa adulta ao seu meio, procurando mantê-lo com o máximo de capacidade funcional e independência física e mental, na tentativa de evitar ou minimizar as consequências das doenças crônicas sobre o organismo. Considerando, também, que toda pessoa possui direito ao lazer, conforme definido na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 em seu artigo XXIV: “Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável de horas de trabalho e a férias remuneradas” e na Constituição Federal em seu artigo 6º: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (grifo nosso), buscamos promover a qualidade de vida dos idosos através do lazer, bem como manter um relacionamento mais amigável com eles, através da utilização de atividades de dinâmicas coletivas ou individuais, nas quais valorizamos as atividades culturais como meio de estimulação pessoal, a interação e ampliação das relações sociais, promover a saúde e o bemestar para prevenir a doença, mantendo a pessoa idosa ocupada em tarefas que lhes proporcionem e facilitem o convívio, promovam a autonomia, prevenindo situações de maior dependência. Atualmente, o aumento da longevidade e o avanço do conhecimento sobre o diagnóstico precoce de déficits cognitivos ligados ao envelhecimento possibilita que seja detectado um número cada vez maior de idosos com declínio cognitivo. As demências são muito comuns e aumentam significativamente com o avanço da idade. É observado que 21% das pessoas entre 65 e 74 anos apresentam alterações cognitivas, enquanto acima dos 84 anos, apenas 49% da população possui desempenho cognitivo considerado normal (Unverzagt et al., 2001). Na população brasileira, a prevalência de demência varia de 1,6%, entre pessoas com idade de 65 a 69 anos, e de 38,9%, para pessoas com idade superior a 84 anos (Herrera et al., 1998). O declínio cognitivo traz repercussões que podem manifestar-se tanto na forma de dificuldades nas atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) do idoso, dificultando a realização de tarefas básicas, como na 18 | Revista Catarinense de Saúde da Família | agosto 2014
forma de dificuldades no convívio social, que podem vir a causar depressão e isolamento. Um estudo epidemiológico brasileiro (Ramos, 2003) aponta que o declínio cognitivo assim como o prejuízo funcional foram detectados como preditores significativos de mortalidade. Diante desses fatores e observando que no decorrer dos cinco anos de atividades na unidade de saúde havia uma baixa adesão aos grupos de saúde oferecidos, bem como que a localidade não oferece opções de lazer e cultura à sua comunidade, opta-se por desenvolver uma prática que vise à saúde através de atividades de cultura e lazer, destacando o lazer como qualidade de vida em prol da saúde.
Objetivo Objetivo Geral Promover a saúde da pessoa adulta (40 anos ou mais) através de atividades de cultura e lazer. Objetivos Específicos • Promover o entretenimento, usando a esfera criativa para despertar a atenção, memória, expressão de sentimentos e o espírito crítico; • Sensibilizar para a história local, regional, pessoal, bem como a importância do lazer para a vida saudável e com qualidade; • Fortalecer a rede social do idoso; • Estimular e avaliar o cognitivo fazendo com que circuitos sensoriais e motores normalmente pouco utilizados sejam ativados.
Desenvolvimento O Projeto consiste em atividades culturais, com uma programação anual que contempla sessões de cinema semestrais, viagens e passeios turísticos com preferência para locais no qual a maioria do grupo não conheça, peças de teatro, visitas à Fundação Cultural do município, visitas ao Museu Histórico do município, eventos culturais e sociais em parceria com a Fundação Cultural, Secretaria de Desenvolvimento Econômico e o Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF) de Rio do Sul e a empresa de Transporte Coletivo Taioense. Essas parcerias aconteceram através do contato da enfermeira da Estratégia de Saúde da Família (ESF) Barragem, Caroline, e os responsáveis dos parceiros. Começou com a busca da ajuda do NASF, onde foi apresentado o projeto à equipe e realizado uma reunião para elaborar novas ideias e parcerias. A partir daí buscou–se o contato com o coordenador da Fundação Cultural de Rio do Sul, Willian, que agendou uma reunião entre a enfermeira da unidade, os integrantes do NASF e ele. Nesta reunião o projeto foi apresentado e sugerido parceria no que diz respeito aos eventos culturais, assim foram surgindo várias ideias e já definindo datas para as primeiras ações. Após a reunião a enfermeira levou as informações para toda a equipe da ESF para o consenso
dos mesmos, todos concordaram e ainda contribuíram para com novas ideias. Com as ideias de atividades e locais, foi realizado contato com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico para pedir a colaboração com a Jabiraca para o transporte de forma mais divertida dos participantes, assim foi enviado um ofício assinado pelo secretário da Saúde para o secretário da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e também o contato com a empresa Taioense para ajudar no transporte para os locais, pois a Jabiraca é como uma jardineira com as janelas abertas, sem proteção para chuva, assim não podendo ser utilizada em dias de frio e chuva. Com a Taioense, foi realizado o pedido antecipado do ônibus através de oficio assinado pela enfermeira da ESF. Para a participação nestas atividades estipulou-se como critério ter mais de 40 anos (preferenciais) e fazer parte da área da Estratégia de Saúde da Família do bairro Barragem, especialmente os participantes dos grupos de saúde. Atividades desenvolvidas até o momento: Sessões de cinema As sessões são realizadas de forma semestral, ocorrendo no Grupo Cine de Rio do Sul que faz uma sessão exclusiva aos participantes do projeto, com valor acessível (R$ 5,00) que inclui pipoca e refrigerante. O transporte da Unidade de Saúde até o cinema e vice-versa foi realizado pela empresa de transporte coletivo da cidade, Taioense, através de um ofício, solicitamos uma cortesia de transporte exclusivo aos participantes do evento, onde os participantes acima de 60 anos não pagariam a passagem e aos demais seriam
fornecidos passes pela Secretaria Municipal de Saúde. Até o momento realizaram-se três sessões, sendo uma delas de animação em 3D, conforme abaixo: 10/05/2012: I Sessão - filme “Espelho, Espelho Meu” 13/11/2012: II Sessão - filme “Skyfall – 007” 22/03/2013: III Sessão - filme “Reino Escondido” (animação em 3D) Viagem a Balneário Camboriú Realizou-se no dia 20/09/2012 uma viagem para a cidade turística de Balneário Camboriú, no Estado de Santa Catarina, com saída às 07h30 e chegada às 11h00. Primeiramente, o grupo foi a um restaurante almoçar, após seguiu-se para o Hotel Marimar para as acomodações e todos foram liberados para passeios livres pela cidade, o grupo reuniu-se novamente às 20h00 no saguão do hotel para o passeio com jantar dançante no Complexo Turístico Cristo Luz. Às 24h00 (em acordo com todos os participantes) retornou-se ao hotel. Na manhã do dia seguinte o grupo se reuniu no saguão do hotel para o passeio no Teleférico, alcançando a praia de Laranjeiras, permanecendo até o almoço. À tarde retornaram a cidade de Rio do Sul. Essa viagem teve um custo de R$ 145,00 (cento e quarenta e cinco reais) para cada participante, incluindo uma diária de hotel (quartos casal e triplo), dois almoços, um jantar dançante, entradas para o Complexo Turístico Cristo Luz e Teleférico. Esse valor foi custeado por cada participante. O valor pago foi significativamente abaixo do valor real de uma excursão, isso porque a equipe realizou uma rifa, na qual foi arrecadado R$ 260,00 (duzentos e
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sessenta reais) e também se fez parceria com um guia de turismo de Balneário Camboriú para conseguir preço de custo e ingressos com 50% de desconto por serem, na sua maioria, idosos. O transporte foi realizado com um ônibus leito da empresa Vandytur e foi custeado por uma doação do vice-prefeito da cidade. Festa junina Atividade realizada no dia 07/06/2013, no salão de festas da Capela Sant’Ana, localizado no bairro. Na ocasião, a ESF e o NASF organizaram um café e jogo de bingo para os participantes (premiação e café arrecadados por doações da comunidade). A equipe encarregou-se em decorar o local de acordo com a temática.
serão disponibilizados pela Secretária de Saúde, avalia-se também a possibilidade de transformá-los em calendário do município.
Avaliação A avaliação desse projeto dá-se através de método exploratório utilizando questionários individuais (conforme anexo), onde pretende-se avaliar a satisfação, os sentimentos provocados nos participantes bem como a adesão dos mesmos. Estes são aplicados pelos agentes comunitários de saúde após cada atividade desenvolvida. Para o segundo semestre de 2013 estão previstas as seguintes atividades: DATA
Sessão de cinema nacional Esta atividade realizou-se no dia 24/06/2013, no estacionamento da unidade de saúde. Nesta foi exibido uma Sessão de Cinema Nacional com o filme “Menino da Porteira”. Contou com a parceria da Fundação Cultural que instalou o caminhão do Projeto Nacional Cinemóvel (caminhão adaptado para cinema) com distribuição de pipoca durante o filme. Foram realizadas três sessões nesse dia, sendo a primeira às 10h00: destinada aos 30 adolescentes que participam dos projetos do Centro de Referencia da Assistência Social (CRAS), às 13h00: a sessão destinada a 32 participantes do Projeto Pipoca & Arte e às 15h00: destinadas à 31 alunos do curso de Mecânica do SENAI. Todas as sessões duraram aproximadamente 50 minutos e eram totalmente gratuitas. Visita à Fundação Cultural de Rio do Sul e sessão de fotos No dia 28/06/2013, os participantes reuniram-se na unidade de saúde para fazerem o deslocamento à Fundação Cultural com o veículo Jabiraca (espécie de ônibus adaptado). Durante o percurso um dos participantes animou o grupo com músicas tocadas em gaita. Ao chegar na Fundação Cultural, o grupo foi acolhido pelos funcionários do local que conduziram uma visita guiada passando pela Galeria de Artes Plásticas e demais setores da Fundação. Na ocasião, participaram também de uma sessão de contação de história pela professora de artes cênicas da Fundação Cultural, uma sessão de fotos individuais organizada pelos professores e alunos do curso de fotografia da Fundação, que contou também com produção dos modelos em camarim (espaço organizado pelo SENAC). O material disponibilizado pela Fundação Cultural, após a sessão de fotos, será classificado por fotos de cada participante em CD individual e uma foto impressa em tamanho 15x20 que serão entregues para cada participante. Temos também a intenção de transformar essas fotos em calendários do ano de 2014, que serão utilizados na unidade e também entregues um para cada participante. Esses calendários estão aguardando a aprovação de recursos que 20 | Revista Catarinense de Saúde da Família | agosto 2014
LOCAL
ATIVIDADE
08/08/2013
Resgate histórico através da apresentação de filme histórico de Rio do Sul (1ª filmagem realizada na década Sala de grupos de 40 da cidade) com distribuição de pipoca e suco; do CRAS Exposição de lembranças (objetos) Barragem de cada participante; Aplicação de teste “Mini-mental” nos participantes (ANEXO)
12/09/2013
Museu Histórico de Rio do Sul e Museu da Madeira
08/10/2013
Parque Mu- Piquenique com atividades recreatinicipal Harry vas e de desenvolvimento cognitivo no parque da cidade Hobus
21/11/2013
Palco embaixo da ponte do IV Sessão de Cinema (filme a defiParque Univernir) sitário Norberto Frahm
13/12/2013
Festa de encerramento das atividaSalão do Clube des do ano com baile de máscara e exposição de fotos das atividades redo Idoso alizadas durante o ano.
Saída da ESF com a “Jabiraca”, com gaiteiro tocando até os locais. As visitas serão guiadas por um historiador
Resultados Na atualidade podemos perceber um melhor relacionamento entre os usuários que participaram das atividades e a equipe de saúde bem como a interação entre eles melhorou significativamente, havendo uma satisfação particular nas atividades. Através da aplicação de questionários, têm-se os seguintes resultados, por atividade: Sessões de Cinema I Sessão: filme “Espelho, Espelho Meu” Participaram desta ação 25 pessoas as quais relataram através do questionário que: 92% estavam indo ao cinema pela 1ª vez; e 8% foram ao cinema quando ainda jovens.
É interessante observar quais foram os sentimentos provocados, sendo que 76 % expressaram o que sentiram, destes 36,8% ficaram emocionados e surpresos com o que viram; 31,5% se divertiram muito e relaxaram, esquecendo-se dos problemas; 26,3% acharam lindo; 21,05% sentiram-se realizados com a atividade e 15,78% reavivaram memórias do passado. Ressaltamos que alguns expressaram mais de um sentimento. Na avaliação destacamos alguns depoimentos que reforçam o aspecto positivo desta ação: A - “Fiquei muito emocionada, relembrei o tempo de menina quando íamos às matinês, foi marcante a manhã no cinema.” (I. V., 70 anos) B - “Senti uma sensação muito boa, nunca tinha ido, fiquei surpresa e encantada com o que vi. Durante o filme relaxei e esqueci de todos os meus problemas, saí do cinema mais leve, foi maravilhoso!” (T. B., 59 anos) C - “Foi muito bom, gostei muito, relembrei do meu passado, o filme foi ótimo” (D. C., 77 anos) D - “Nunca havia ido, adorei, a emoção foi muito grande, tinha um ar diferente, fiquei com lágrimas nos olhos. Fiquei muito agradecido com o carinho da equipe por ter organizado este passeio, não esperava por essa oportunidade nessa idade.” (I. M., 78 anos). II Sessão de Cinema: filme “Skyfall – 007” A II Sessão contou com a participação de 32 pessoas e teve 100% aprovação da atividade. Porém destacamos que 20% referiram não aprovar a escolha do filme (Skyfall – 007) o que denota o aspecto de senso crítico e a expressão de opiniões despertadas pelas atividades. Comentário: A - “Foi muito bom encontrar todas as minhas amigas.
Me fez lembrar de quando eu era jovem e gostava muito desse tipo de coisa”. (I.V., 73 anos) III Sessão de Cinema: filme “Reino Escondido” (em 3D) Nesta atividade destacamos que houve aumento significativo de participantes, 25% a mais do que na I Sessão, totalizando 35 pessoas. Na pesquisa de opinião observa-se que todos referiram gostar de ter participado, destes, 75% avaliaram como bom e 25% como ótimo; que 53% já participaram de outras atividades do projeto o que denota a adesão de novos participantes ao projeto e que 60% já participaram de outras atividades culturais. Considerando que 90% avaliaram como importante a iniciativa da equipe de saúde e que 83% gostariam de participar de outras atividades culturais, reforçamos a continuidade do projeto. Na ocasião, avaliaram-se também as sensações provocadas pela sessão de cinema, podendo responder mais de uma alternativa, onde: 50% referiram alegria, 23% diversão, 20% lembranças, 3% irritação e 3% saudade. Ressaltamos que nesta sessão foi apresentada uma animação em 3D (dimensões) o que provocou uma reação bastante positiva no grupo, sendo novidade para a maioria. Muitos se mostraram surpresos com a sensação provocada pelos efeitos tridimensionais, querendo interagir com a tela de projeção, simulando pegar objetos ou então banharse no rio que era apresentado. Viagem a Balneário Camboriú Participaram dessa viagem 23 usuários da Unidade de Saúde, onde desses, 34% (8) tem idade acima de 60 anos. O passeio já iniciou com muita alegria e interação agosto 2014 | Revista Catarinense de Saúde da Família | 21
entre os participantes dentro do ônibus, pois durante todo o trajeto foram cantando e conversando. Muitos já comentavam suas expectativas de como seria o hotel e também andar “nas alturas” com o teleférico. Todos estavam ansiosos quando chegaram ao hotel, pois foram recepcionados pela equipe do hotel e alguns chegaram a comentar que estavam se sentindo pessoas importantes. Havia um senhor de 76 anos que acabou reclamando um pouco, pois teve que caminhar por duas quadras até o restaurante, isso nos alertou sobre o cuidado com o deslocamento desses usuários. À noite quando nos reunimos antes do jantar, todos elogiaram as acomodações do hotel e estavam muito bem arrumados com roupas sociais e as mulheres maquiadas. Após o passeio no Cristo Luz, durante o retorno de ônibus até o hotel, todos estavam muito felizes e agradecendo pela oportunidade, pois dos 23, somente dois já haviam visitado o local. Na manhã seguinte estavam todos felizes cantando e conversando muito no café da manhã. Na hora do passeio de teleférico houve 3 pessoas que resistiram um pouco em realizar o passeio, pois estavam um pouco inseguros devido à altura, então levamos todos para conhecerem primeiramente a estrutura e receberem explicações sobre a segurança, depois de muito apoio dos companheiros e muita torcida, os 3 aceitaram e participaram também do passeio, depois ainda agradeceram por insistirmos para irem. No retorno a Rio do Sul, durante o trajeto de ônibus, todos os 23 (100%) participantes agradeceram e relataram ter sido uma experiência maravilhosa, sendo que 8 (34%) deles nunca haviam dormido em um hotel antes. Festa Junina No dia da Festa Junina estavam presentes 42 participantes com idade acima de 40 anos, sendo que na sua maioria (76%) tinham idade acima de 60 anos.
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Foi uma tarde agradável e muito divertida, todos participaram da brincadeira de bingo, onde um membro da equipe cantava as bolas com os números e os outros ajudavam os participantes com dificuldade de leitura, assim todos puderam participar. No final ouvimos relatos de participantes que estavam felizes por terem passado uma tarde tão agradável e que nas horas que ali estiveram não se lembraram de nenhum problema que havia em casa e nem mesmo de suas dores crônicas. Sessão de Cinema Nacional Na sessão do Cinemóvel, tivemos 32 participantes, que ficaram encantados ao entrar no caminhão e se depararem com uma sala de cinema. Durante o filme muitos se emocionaram com a história e após a sessão agradeceram e pediram para que essas atividades continuem sempre. Visita à Fundação Cultural de Rio do Sul e sessão de fotos A visitação contou com 30 participantes e para esta atividade os questionários ainda estão em processo de avaliação, porém podemos destacar alguns depoimentos: A - “Não conhecia a Fundação Cultural. Gostei demais de tudo o que vi. Foi maravilhoso! Me admirei com a limpeza do lugar e a organização da fundação. Me senti uma gatona arrumando o cabelo e tirando as fotos. Adorei o jeito que eles arrumaram o espaço onde foram tiradas as fotos.” (T. B. G., 60 anos) B - “Conhecia a Fundação Cultural só de passagem. Não havia caminhado por dentro e gostei de verdade. Percebi o quanto eles gostam do que fazem. Como uma artista grã-fina arrumando o cabelo e tendo atenção na hora de tirar as fotos. Gostei de tudo. Espero que tenha outra vez.”(N.T., 78 anos) C - “Já conhecia a Fundação Cultural. Fui com minha neta fazer pesquisa. Achei ótima, muito boa mesmo. Me senti uma artista. Muito bem, nossa! Tudo estava bom, a
recepção, os que arrumaram os cabelos. Tudo, tudo. Muito bom mesmo! Realizei um sonho andar na Jabiraca! Não teve nada que não gostei. Adorei mesmo!” (C. H. D., 62 anos) Na avaliação pode-se observar que o número de participantes no grupo de saúde mensal passou de 15 pessoas em média nos meses de janeiro a abril de 2012 para 23 em média a partir do mês de maio de 2012, momento em que foi realizada a visita ao cinema. Este número está aumentando gradualmente com o decorrer do projeto, pois aumentou para 34 participantes em média. Observase também que a grande maioria dos participantes avalia como positivas as ações e gostariam que as mesmas fossem continuadas, conforme depoimentos descritos.
Referências HERRERA JÚNIOR, E.; Caramelli, P.; Nitrini, R. Estudo epidemiológico de demência na cidade de Catanduva – estado de São Paulo – Brasil. JPsiq Clin 25:70-73, 1998. Organização Mundial de Saúde (OMS). Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília; 2005 RAMOS LR. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos residentes em centros urbanos. Projeto Epidoso. Cad. Saude Publica.2003;19(3) Site IBGE: www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/ Unverzagt, F. W., Gao, S., Baiyewu, O., Ogunniyi, A. O., Gureje, O., Perkins, A., et al. (2001). Prevalence of cognitive impairment: Data from the Indianapolis Study of Health and Aging. Neurology, 57, 1655-1662.
Anexos
Questionário
Projeto Pipoca & Arte I Sessão Cinema - Filme: “Espelho, Espelho Meu” NOME:_____________________________________
Em que dia estamos? (Ano Semestre Mês Dia Dia da Semana ) 2. Orientação espacial (0-5 pontos): Onde Estamos? (Estado Cidade Bairro Rua Local) 3. Repita as palavras (0-3 pontos): Caneca Tijolo Tapete 4. Cálculo (0-5 pontos): O senhor faz cálculos? Sim (vá para a pergunta 4a) / Não (vá para a pergunta 4b) 4a. Se de 100 fossem tirados 7 quanto restaria? E se tirarmos mais 7? 93 86 79 72 65 4b. Soletre a palavra MUNDO de trás pra frente 5. Memorização (0-3 pontos): Peça para repetir as palavras ditas há pouco. Caneca Tijolo Tapete 6. Linguagem (0-2 pontos): Mostre um relógio e uma caneta e peça para o entrevistado para nomeá-los. 7. Linguagem (1 ponto): Solicite ao entrevistado que repita a frase: NEM AQUI, NEM ALI, NEM LÁ. 8. Linguagem (0-3 pontos): Siga uma ordem de 3 estágios: Pegue esse papel com a mão direita. Dobre-o no meio. Coloque-o no chão. 9. Linguagem (1 ponto): Escreva em um papel: “FECHE OS OLHOS”. Peça para o entrevistado ler a ordem e executá-la. 10. Linguagem (1 ponto): Peça para o entrevistado escrever uma frase completa. A frase deve ter um sujeito e um objeto e deve ter sentido. Ignore a ortografia. 11. Linguagem (1 ponto): Peça ao entrevistado para copiar o seguinte desenho:
1 – Você já esteve em um cinema antes? ( ) Sim ( ) Não; se sim, quando ?______________________ 2 – Como você se sentiu nessa visita ao cinema? Quais foram os sentimentos em relação à atividade? _________________ 3 – Nos deixe aqui, caso desejar, seu depoimento sobre a atividade.. ________________________________________________ OBRIGADO POR SUA PARTICIPAÇÃO!
Verifique se todos os lados estão preservados e se os lados da intersecção formam um quadrilátero. Tremor e rotação podem ser ignorados.
Teste Mini Mental
Avaliação do escore obtido:
Mini Exame do Estado Mental Identificação: Nome: Data de Nasc.: ____/____/______. Sexo: Escolarid.: Analfabeto ( ) 0 a 3 anos ( ) 4 a 8 anos ( ) 9 a 11 anos ( ) mais de 11 anos ( ) Avaliação em: ____/____/______. Avaliador: 1. Orientação temporal (0-5 pontos):
Soma de todas as caselas, cada uma vale 1 ponto. Pontos de Corte – MEEM Brucki et al. (2003) 20 pontos para analfabeto 25 pontos para idosos com 1 à 4 anos de estudo 26 pontos para idosos com 5 à 8 anos de estudo 28 pontos para aqueles com 9 à 11 anos de estudo 29 pontos para aqueles com mais de 11 anos de estudo
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RELATOS
RIO FORTUNA
Projeto Promoção da Cultura da Paz “Há um mundo melhor do lado de fora” Fotos: Acervo da ESF no município
Nutricionista - NASF Flávia Alberton Buss
Enfermeira – UBS Central Gabriela Warmling
Assistente Social - CRAS Angela Maria Nack Cândido
Psicóloga - NASF Jaqueline Wiggers
Assistente Social - CRAS Leonete Schuelter
Psicóloga - Secretaria Municipal de Educação Gisela da Silva Schuelter
Coordenadora - NASF Rosinete Schueroff
Psicóloga - CRAS Simone Moreira
Introdução No Brasil, o consumo de bebidas alcoólicas é um hábito cultural, sendo normalmente utilizado em celebrações, situações de negócio e sociais, cerimônias religiosas e eventos culturais. (BRASIL, 2007). Ao verificar a prevalência de uso de álcool e drogas em 108 cidades brasileiras, constatou-se que 68,7% consomem ou já consumiram bebidas alcoólicas. Quanto ao uso de drogas ilícitas, no ano de 2005, 8,8% faziam ou já fizeram uso de maconha, 6,1% de solventes e 2,9% de cocaína. De 2001 para 2005, houve aumento nas estimativas de uso de álcool, tabaco, maconha, solventes, cocaína, estimulantes, barbitúricos, esteroides, alucinógenos e crack. (BRASIL, 2010). Esse hábito, na maioria das vezes, leva ao consumo nocivo do álcool, o qual é responsável por cerca de 3% de todas as mortes que ocorrem no planeta. Nos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, as bebidas alcoólicas são um dos principais fatores de doença e mortalidade. (BRASIL, 2007). Estudos demonstram que a violência doméstica está diretamente associada ao uso de álcool e outras drogas. Um estudo realizado no ano de 2007, sobre as causas de violência doméstica, os autores constataram que o álcool e outras drogas estão diretamente associadas a frequência e a gravidade das agressões. O estudo aponta que a gravidade das agressões é maior quando há ingestão da droga. O uso de armas e o abuso sexual (tanto ameaça quanto consumação) ocorreram, respectivamente, numa proporção dez e quatro vezes maior, quando comparados aos domicílios nos quais o agressor não estava sob efeito do álcool. De acordo com dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) da Unifesp, o álcool é a droga lícita mais utilizada no Brasil - com estimativa de 74,6% de uso na vida e 12,3% de dependência, - não somente está associada à violência como também parece favorecer o seu prolongamento. Ao analisar o consumo de bebidas alcoólicas por 24 | Revista Catarinense de Saúde da Família | agosto 2014
adolescentes, nota-se que o álcool é a substância psicotrópica mais utilizada entre essa população. Adolescentes que consomem bebidas alcoólicas podem ter diversas conseqüências negativas como problemas nos estudos, problemas sociais, praticar sexo sem proteção e/ou sem consentimento, maior risco de suicídio ou homicídio e acidentes relacionados ao consumo. O consumo de bebidas alcoólicas no Brasil só é legalmente permitido após os 18 anos de idade; no entanto, os empecilhos são pequenos para que os adolescentes comprem e consumam álcool (BRASIL, 2007). As implicações sociais do abuso de álcool merecem atenção especial, uma vez que produzem efeitos sobre a economia, gerando grandes gastos aos cofres públicos ao requerer consideráveis investimentos do sistema de saúde, judiciário e de outras instituições sociais. (CISA, 2011). O município de Rio Fortuna possui uma população total de 4.646 habitantes (IBGE, estimativa de 2010), acompanhada por duas Equipes de Estratégia de Saúde da Família, com uma equipe de NASF. Segundo relatos dos munícipes e a observação da equipe de saúde, a cidade tem um número crescente de usuários de álcool e drogas, tanto de adolescentes quanto de adultos, o que ressalta a necessidade de orientação quanto aos malefícios causados pelo uso dessas drogas.
Justificativa Ao compreender o fenômeno das drogas como um grave problema de saúde pública, seja no contexto mundial, nacional ou municipal, a equipe do projeto resolveu trabalhar a temática com a população da área de abrangência das duas Estratégias de Saúde da Família do município de Rio Fortuna. O fenômeno das drogas envolve diversos setores da sociedade civil organizada no que diz respeito ao seu enfrentamento como problema de saúde pública. Sabemos que o poder público das três esferas de governo
destina boa parte dos seus recursos humanos e financeiros para o tratamento e reabilitação de pessoas devido ao consumo abusivo do álcool e de outras drogas. Estudos apresentam a ocorrência de determinadas doenças e mortes associadas ao uso e abuso de álcool e outras drogas, assim como situações de conflitos interpessoais/ violência de diversas maneiras estão mais evidentes neste contexto. (BRASIL, 2007) A equipe tomou como público alvo para as ações do projeto os adolescentes do Ensino Médio da Escola Estadual do Município, a única do município, por acreditar que esta parcela da população pode estar mais vulnerável ao fenômeno das drogas. Conforme o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas: “A adolescência é um período especial na formação da identidade e desenvolvimento da personalidade. O uso regular, assim como a eventual dependência de álcool e drogas nesta fase pode resultar em inconsistência ou deficiências na personalidade futura. [...] Caso a maturação seja interrompida durante o processo de individuação, a personalidade resultante pode ser excessivamente dependente de fatores externos, ao invés de internos, na determinação de comportamentos e identidade. Quanto mais cedo se inicia o consumo de substâncias, maior será a dependência de fatores externos e menor auto estima terá o jovem. A baixa auto estima encontrada em alguns adolescentes faz com eles se tornem mais influenciáveis pelo grupo, no que diz a respeito ao comportamento e estilo de vida (DUPRE et al., 1995), o que poderia facilitar a progressão do consumo de substâncias psicoativas.” Com o intuito de realizar as ações propostas pela Política Nacional de Promoção da Saúde e garantir a execução das diretrizes e princípios do Sistema Único de Saúde é que desenvolvemos ações intersetoriais de prevenção ao uso e abuso de álcool e outras drogas e de promoção da cultura da paz e não violência, sensibilizando a população em geral e, em especial, os adolescentes.
Objetivos Objetivo geral: Intensificar as ações educativas que sensibilizem a população sobre uso abusivo de álcool e outras drogas junto à área de abrangência das duas equipes de saúde da família do município de Rio Fortuna (SC), promovendo a cultura da paz e não violência. Objetivos específicos: • Propiciar a reflexão dos adolescentes sobre os seus objetivos de vida; • Responsabilizar os alunos sobre o papel e o dever de cada indivíduo na sociedade;
• Prestar atendimento humanizado aos dependentes químicos e seus familiares; • Estimular o relacionamento entre os alunos, professores e equipe do projeto; • Capacitar os profissionais da equipe do projeto para trabalhar o tema álcool e outras drogas; • Desenvolver palestras educativas para a população sobre as consequências do uso abusivo de álcool e outras drogas e as implicações deste na promoção da cultura da paz e não violência; • Informar a população sobre o problema do uso e abuso de medicamentos, álcool e outras drogas; • Possibilitar o envolvimento da equipe do projeto (Saúde e Assistência Social) nas atividades já desenvolvidas pela escola/educação; • Incentivar formas de lazer mais saudáveis.
Metodologia O projeto é coordenado pelo NASF e as ações previstas nesse projeto são desenvolvidas pelos profissionais do NASF e da UBS, em parceria com o Centro de Referência de Assistência Social, escolas municipal e estadual, e Polícia Militar. Além das parcerias municipais, tivemos a participação de profissionais habilitados para auxiliar nas atividades desenvolvidas. Para a realização do projeto, foram desenvolvidas as seguintes ações: • Reuniões da equipe para planejamento e avaliação das ações; • Reuniões semestrais de planejamento e avaliação das ações com a direção e professores das escolas; • Palestras de sensibilização sobre a Cultura da Paz e o uso abusivo de álcool e outras drogas; • Atividades de reflexão sobre o objetivo de vida e deveres de cidadão; • Divulgação das ações do projeto para a comunidade.
Desenvolvimento No ano de 2012 as ações do projeto foram mais de pesquisa, de planejamento e capacitação, pois o tema era um desafio (por onde e como começar, qual seria o público). Percebendo a necessidade dessa demanda, entendemos que não poderíamos realizar esse projeto de forma isolada, então procuramos as parcerias das Escolas, Secretaria Municipal de Educação, Centro de Referencia da Assistência Social (CRAS) e Secretaria de Assistência Social e planejamos as ações. O projeto iniciou com o nome Projeto Cultura da Paz – Redução do uso de álcool e outras drogas, com um cronograma de reuniões de planejamento e avaliação, capacitações e atividades direcionadas aos alunos e professores da escola. Cabe aqui ressaltar que foram vários os desafios, a começar pela inclusão do projeto no calendário escolar, foram necessárias varias reuniões de planejamento para agosto 2014 | Revista Catarinense de Saúde da Família | 25
RELATOS
incluir algumas atividades. Percebendo-se a necessidade de iniciar atividades que avaliassem e sensibilizassem os alunos sobre o consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas, a equipe do projeto realizou uma pesquisa no primeiro semestre de 2012. Foram entrevistados 137 alunos matriculados no Ensino Médio, com faixa ataria entre 14 à 20 anos. A pesquisa revelou que 97,9% dos alunos fizeram ou fazem uso de bebida alcoólica e 95,6% fez uso de bebida alcoólica antes dos 18 anos de idade, sendo que 12,4% fizeram o primeiro consumo ainda na infância, através do estímulo dos pais ou familiares. Essa realidade não se explica por fatores isolados, mas por diversas situações que ocasionam o consumo de álcool, como as características próprias da adolescência, a influência de familiares e em especial de amigos e a facilidade de aquisição de bebidas alcoólicas (pouca ou nenhuma fiscalização). Positiva ou negativamente, adolescentes são influenciados por seus familiares, dentro de suas próprias casas, em relação ao abuso do álcool. Ao responderem sobre os motivos que os levam a ingerir bebidas alcoólicas, 69,3% o fazem por diversão e/ou prazer e 42,3% para acompanhar os amigos. Através dos dados obtidos na pesquisa e por solicitação dos alunos avaliados, a equipe do projeto percebeu a necessidade de continuar os trabalhos com o tema álcool e outras drogas e envolver os pais nas ações de sensibilização. No relato dos adolescentes esta solicitação de envolver os pais nas atividades oportunizaria aos mesmos uma participação mais ativa na educação e sensibilização de seus filhos. Após o levantamento dessas informações, planejou-se a execução das primeiras ações na escola. O desafio era desenvolver atividades educativas e de sensibilização, com o intuito de promover a cultura da paz e não violência, e despertar um objetivo de vida nos adolescentes. Na realização das atividades foram utilizadas dinâmicas como estratégias para criar um ambiente de interação entre os membros do projeto e os alunos da escola, permitindo
Atividade “Projeto de Vida” e a logo escolhida no concurso
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aos alunos uma maior reflexão sobre o tema. Estando cientes de que envolvê-los nas atividades seria uma tarefa difícil, mas necessária, lançamos um concurso para nomear o projeto e criar uma logo (frases/ desenhos sobre drogas, formação de frases envolvendo o tema durante a aula). Elaboramos um regulamento e tivemos a colaboração dos professores para a avaliação dos trabalhos. Os alunos tiveram alguns dias para criar seus desenhos e frases. Após esse período os trabalhos foram préselecionados e divulgados no mural da escola, de acordo com o regulamento. Outra ação foi uma apresentação de teatro intitulado “Minha Vida”, um monólogo que retrata a superação, através de mímicas e músicas o ator conta sua historia de vida, uma apresentação dinâmica muito rica de detalhes que fizeram os jovens refletirem sobre seus objetivos de vida. Em novembro foi divulgado o vencedor do concurso e a logo. E a partir desse momento o projeto passou a se chamar Projeto Cultura da Paz “Há um mundo melhor do lado de fora”. Nesse mês também foi ministrada uma palestra para os pais com a promotora de Justiça Júlia Wendhausen Cavallazzi “O papel dos pais na vida dos filhos”. Em dezembro foi realizada a sensibilização comunitária, com entrega de panfletos Projeto Cultura da Paz, pela equipe do projeto, alunos e professores, com objetivo de sensibilizar a população sobre uso abusivo de álcool e outras drogas. A sensibilização foi realizada em horários de maior circulação de veículos e foi uma experiência positiva, uma vez que os alunos e população aceitaram bem a ação. No final de 2012 percebeu-se a necessidade de continuar os trabalhos no ano de 2013. Vale destacar que o envolvimento da escola nesse processo foi fundamental, permitindo incluir atividades no calendário escolar. Essa abertura por parte da escola e dos professores foi o grande diferencial para desenvolvimento das atividades. Já em relação aos alunos percebe-se um envolvimento gradativo e qualitativo nas atividades desenvolvidas.
Sensibilização comunitária
Sabemos que fazer prevenção é fundamental e os resultados são em longo prazo, diante disso a importância da continuidade das ações. Iniciamos as atividades no ano de 2013 com um novo objetivo, ao invés de enfocarmos a redução do uso de álcool e drogas, iríamos trabalhar a promoção da cultura da paz: O que fazer para tornar o mundo que eu vivo melhor? No mês de fevereiro realizamos um minicurso intitulado “O relacionamento interpessoal no século XXI”. O minicurso teve o objetivo de despertar nos professores o seu papel no processo educacional e na promoção da cultura da paz e após realizou-se o planejamento das ações da equipe com os professores. Planejar as ações não significa que todas serão realizadas, pois alterar uma ação é um processo de construção na medida em que as questões vão surgindo e as ações vão sendo avaliadas. A participação da escola no planejamento das atividades possibilita construir ações mais efetivas, uma vez que o professor participa diariamente da vida desses adolescentes, já a equipe do projeto participa em ações pontuais. A segunda atividade realizada foi a revitalização do muro que cerca a escola em comemoração aos 56 anos de sua fundação. A ação envolveu principalmente os alunos do Ensino Médio sob coordenação da professora de Artes. As atividades foram divididas por turmas, onde foram selecionados os desenhos a serem pintados no muro. A
cada dia percebia-se a satisfação dos alunos em participar desse processo. Os desenhos foram muito criativos e conseguiram passar a mensagem do projeto para sociedade. A inauguração do muro para sociedade foi realizada na festa do padroeiro da cidade (São Marcos), juntamente com a entrega de adesivos com a logo do projeto. A atividade Arte na Praça ocorreu no dia de Corpus Christi, onde os alunos debateram o que era preciso para termos um mundo melhor, e selecionaram desenhos e frases que serviram como base para confecção de um tapete de serragem. Outra atividade desenvolvida na escola foi uma palestra sobre a prevenção às drogas lícitas e ilícitas desenvolvida no mês de julho, com as turmas do 6º ano até o 3º ano do ensino médio totalizando 416 alunos atendidos. Esta ação foi desenvolvida em parceria com o Conselho das Comunidades de Braço do Norte, que disponibilizou o palestrante. Abordou-se a origem e o efeito das drogas, exemplos reais de drogadição e discussão do tema com os alunos. A equipe do projeto trabalhou o bullying em algumas turmas (conforme solicitação da escola) através de uma palestra dinâmica e num segundo momento, estimulou a reflexão dos alunos sobre o que cada um está fazendo pela promoção da paz no ambiente em que convive. Além disso, a escola e equipe organizaram atividades de teatro sobre o tema com os alunos e apresentaram em eventos agosto 2014 | Revista Catarinense de Saúde da Família | 27
RELATOS Revitalização do muro da escola
abertos à comunidade. Em junho iniciou-se a atividade do Projeto de vida, que busca trabalhar com os alunos da 3ª série do Ensino Médio a reflexão de quais os objetivos de vida de cada um. Suas metas, planos e ações para alcançar seus objetivos. A proposta é proporcionar a cada aluno do ensino médio, um espaço de reflexão e planejamento do seu futuro. Essa ação ainda esta em execução e há a sugestão da escola em estendê-la a outras turmas. Com os alunos menores desenvolveu-se a “Terapia do Abraço”, procurando mostrar o quanto é importante o contato físico com as pessoas, respeitá-las e tratá-las com carinho. Independente do tipo de relação e situação, o abraço tem um significado importante. Entre pais e filhos é um gesto de amor, afeto e confiança. Entre amigos é o gesto que mais simboliza a amizade. O abraço é uma afirmação muito humana de ser querido e ter valor, é saudável para quem dá e recebe, não custa nada e exige pouco esforço.
Resultados No desenvolvimento das atividades do Projeto Cultura da Paz pode-se perceber alguns resultados após a execução das ações. Dentre estes, pode-se citar a efetivação da intersetorialidade, dado a parceria firmada entre as secretarias da Saúde, Assistência Social e Educação. Situação que anteriormente era apenas almejada e que com o desenvolvimento deste projeto pode ser efetivada. Outro ponto relevante percebido na execução das atividades foi a aproximação entre saúde/assistência 28 | Revista Catarinense de Saúde da Família | agosto 2014
social e escola através de ações que previnam a violência e promovam a saúde, fato que costumeiramente não ocorria com freqüência, dado a percepção de que as práticas curativas são de maior urgência e necessidade do que as de promoção da saúde. Pode-se perceber também o processo de despertar dos alunos, gerando o desejo de construir um mundo melhor, através de pequenas ações que farão grande diferença em seu cotidiano, seja ele escolar, comunitário ou familiar. Permitiu-nos perceber ainda, a importância de enfocar a saúde, o bem estar das pessoas, e não as doenças, as dificuldades já instaladas. Acredita-se que trabalhar a prevenção ao uso de álcool, drogas e de violências não precisa ser feita somente abordando-os, refletindo sobre o que não se deve fazer. Mas sim promover a paz através de exemplos, do estímulo e incentivo as boas ações, que possibilitem a iniciativa dos adolescentes em tornar a escola, a comunidade, e a cidade um lugar melhor para se viver. Esperamos ainda, que as pessoas se tornem mais conscientes sobre os malefícios causados pelo abuso de álcool e outras drogas à vida humana e que devem sim, buscar sempre formas de melhorar a sua qualidade de vida, agindo com responsabilidade, preservando a nossa maior fonte de felicidade e realização: a saúde. Lembrando ainda, que a o setor público, deve ser um facilitador da qualidade de vida de sua população. Salientamos que o envolvimento da escola foi uma grande conquista para o sucesso do desenvolvimento das atividades propostas. Construir juntos favorece outro
significado as ações, pois hoje a equipe do projeto tem seu espaço e respeito garantido na efetivação do trabalho a ser desenvolvido. E, por fim destacamos ser extremamente gratificante poder passar ao lado da escola e ver aqueles fantásticos desenhos, resultado de uma parceria de sucesso entre educadores, alunos e a equipe de saúde. Uma ação que esta disponível para apreciação de toda a população e que a todos pode inspirar positivamente.
nesses dois anos de trabalho, vimos a importância de darmos continuidade ao projeto, intensificando as ações e ampliando a população alvo, conforme necessidade da comunidade e possibilidades da equipe.
Considerações finais
BRASIL. Ministério da Justiça. Observatório Brasileiro de Informações Sobre Drogas – OBID. Tratamento/populações específicas/adolescentes. Acessado em: 10/08/2013. Disponível em: http://www.obid.senad. gov.br/portais/OBID/conteudo/index.php?id_con teudo=11424&rastro=TRATAMENTO%2FPopula%C3%A7%C3%B5e s+espec%C3%ADficas/Adolescentes.
Com o desenvolvimento das ações percebemos o quanto é importante direcionar as atividades para a promoção da saúde. Constatamos que ao incentivar hábitos saudáveis, sejam eles de alimentação saudável, prática de atividade física, bom convívio social, saúde emocional, prevenimos atos nocivos à saúde. Percebe-se normalmente que a correria ocasionada pela alta demanda de usuários no serviço de saúde, acaba impedindo e/ou dificultando a realização dessas ações pelas equipes de saúde. Planejar a promoção de saúde, programando datas para a realização das ações torna-se de extrema importância para que elas aconteçam. Ao incluirmos no nosso calendário de atividades, possibilitamos uma organização de todos e nos comprometemos a realizar o proposto. Visualizando os resultados positivos alcançados
Referências BRASIL. Secretaria Nacional Antidrogas. I levantamento nacional sobre os padrões de consumo de álcool na população brasileira. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas, 2007. p. 76.
BRASIL. Presidência da República. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Relatório brasileiro sobre drogas/ Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas; IME USP; organizadores Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte, Vladimir de Andrade Stempliuk e Lúcia Pereira Barroso. – Brasília: SENAD, 2009.364 p. [CISA]. Centro de Informações sobre saúde e álcool. Disponível em: http://www.cisa.org.br/. Acesso em: 18 de set de 2013.
Inauguração do muro da escola
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RELATOS
SÃO DOMINGOS
Programa Nascer Saudável Fotos: Acervo da ESF no município
Fisioterapeuta Patrícia Cavinato
Médica Jéssica Guellen
Enfermeiras Adriana Bressan Edizangela Comachio
Agentes Comunitários de Saúde Danieli Rosa da Silva Célia de Oliveira Evanilce Rise Dirce Nizezaki
Terapeuta Marione Lamel
Introdução A história mostra que por muito tempo, a vivência da gestação e do parto foi de domínio exclusivo das mulheres. A parturição como um fenômeno feminino tinha como auxiliares as parteiras, comadres, religiosas ou mulheres experientes da família (MICHELLE PERROT, 2003). A gravidez é um período em que ocorrem intensas modificações na mulher: psicológicas, fisiológicas e físicas. Somado a isso, transformações hormonais, musculoesqueléticas, emocionais, circulatórias e respiratórias é fundamental para que o feto possa crescer e se desenvolver adequadamente (LANDI, BERTOLINI, GUIMARÃES, 2004). Uma atenção humanizada e de qualidade ao pré-natal/ puerpério é fundamental para a saúde materna e neonatal. A atenção à mulher na gravidez, no parto e no puerpério deve incluir ações de prevenção e promoção da saúde, além do diagnóstico e tratamento adequado dos problemas que ocorrem neste período, proporcionando o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem-estar da mãe e do bebê. A mudança do papel social é outro fator importante a ponderar. Durante nove meses estará se instalando no casal grávido uma nova identidade. Deixarão de serem apenas filhos para se tornarem também pais. Maldonado (1988) ressalta que a gravidez é uma transição que faz parte do processo de desenvolvimento e envolve a necessidade de reestruturação em várias dimensões; uma delas é a mudança de identidade e a nova definição de papéis. É dever dos serviços de saúde acolher com dignidade a mulher e o recém-nascido, enfocando-os como sujeitos de direitos. Segundo o Ministério da Saúde (2006), “...uma atenção pré-natal e puerperal qualificada e humanizada se dá por meio da incorporação de condutas acolhedoras e sem intervenções desnecessárias, do fácil
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Lúcia Granoski Marta Marostica Salete Lerin Bolzan Médico ginecologista Rogério Scariotti Médico pediatra Paulo Peres
Nutricionista Patrícia Merlin Dentista Patrícia Simionato Secretária da Saúde Eliezer Comachio
acesso a serviços de saúde de qualidade, com ações que integrem todos os níveis de atenção como a promoção, prevenção e assistência à saúde da gestante e do recémnascido assegurando do início até o fim da gestação o nascimento de uma criança saudável garantindo o bem estar materno e neonatal.” Foi pensando nesses princípios que se criou este programa multiprofissional e interdisciplinar composto pela equipe da Estratégia Saúde da Família, composta por médico, enfermeiro, técnico em enfermagem, agente comunitário de saúde, com apoio matricial da equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), com os seguintes profissionais: psicólogo, assistente social, nutricionista, fisioterapeuta e farmacêutico. A Secretaria Municipal de Saúde conta ainda com 01 médico pediatra e 01 médico ginecologista que prestam este atendimento especializado a toda a gestante e recém-nascido, todos engajados em um só objetivo: aumentar a qualidade da assistência ao pré-natal que é dispensado às gestantes, proporcionando a elas mais conhecimentos, habilidades e segurança. Entre as diversas áreas de atuação da Estratégia de Saúde da Família, a atenção integral à saúde da mulher constitui-se como uma das prioridades no processo de trabalho das equipes de saúde, devendo seus princípios e ações ser amplamente conhecidos pelos diversos profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) (BRASIL, 2005). No âmbito da Saúde da Família, a atenção integral à saúde da mulher, além de englobar e integrar várias estratégias, entre as quais a prevenção do câncer de colo e da mama, planejamento familiar e pré-natal, é ainda responsável por ações relacionadas à redução de DST e AIDS, à saúde mental e ao trabalho com vulnerabilidades e especificidades da população feminina. E é com este trabalho do Nascer Saudável que a Equipe tem como objetivo melhorar a qualidade de vida destas mulheres e
Gestantes são acolhidas e trocam experiências com a equipe
seus filhos. Além da equipe da Estratégia Saúde da Família o grupo de gestantes também recebe o apoio da equipe do Centro de Referencia de Assistência Social (CRAS), o qual coordena e auxiliam as gestantes na confecção do enxoval, o grupo recebe apoio das servidoras do CRAS e de voluntárias que auxiliam nas atividades de crochê, bordado, pintura, cursos de tear entre outras. Durante o período de participação ativa nos encontros, mensalmente, as gestantes recebem uma cesta de alimentos fornecidos pelo Programa de Agricultura Familiar, composta por alimentos da época como frutas, verduras entre outros produtos complementares. Esta é uma importante estratégia para a promoção de saúde da mulher, que neste momento privilegiado submete-se a cuidados para os quais está motivada e desperta, possibilitando a abrangência sobre o binômio mãe-bebê, uma vez que a saúde da grávida está intrinsecamente ligada à saúde da futura criança. Nesse período específico do ciclo reprodutivo da mulher, existe uma gama de cuidados que os profissionais de saúde precisam estar atentos, pois é a fase em que a mulher vivencia suas maiores alterações hormonais, corporais e psicoafetivas, uma vez que engloba o período da menarca à menopausa, quando mais frequentemente ocorrem a iniciação sexual, a escolha da orientação sexual, gravidezes,
amamentação, casamento, problemas relacionados ao ciclo menstrual, à fertilidade, à contracepção, cânceres de mama e de colo uterino e síndrome climatérica. Dessa forma, o trabalho realizado pelas equipes irá instrumentalizar no cuidado em saúde das diversas situações ocorridas durante este período especial.
Justificativa A saúde da mulher, e principalmente da mulher gestante é de grande preocupação para todas as entidades de saúde pública, determinada por múltiplos fatores importantes na prevenção e promoção da saúde. No Brasil, observase que a falta de informação e de educação a respeito das condições de funcionamento do seu próprio corpo e da interferência do meio ambiente no estabelecimento de saúde correspondem a um grave fator de exclusão social. A gestação compreende uma lenta evolução em nível de transformações. Em contrapartida, o parto é um processo abrupto, caracterizado por mudanças rápidas (CHIATTONE, 2006). A mulher o teme como algo desconhecido, doloroso e também como momento inaugural de concretude da relação mãe-filho, teme também o papel de mãe por este ser mitificado e conter a exigência de a mãe ser um modelo de perfeição. Com todas essas exigências, a gestante chega ao parto, muitas vezes, sem refletir sobre seus desejos, suas
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RELATOS
possibilidades e suas limitações (PAMPLONA, 1990). Segundo o Ministério da Saúde (2012), a Unidade Básica de Saúde (UBS) deve ser a porta de entrada preferencial da gestante no sistema de saúde, sendo ponto de atenção estratégico para melhor acolher suas necessidades, inclusive proporcionando um acompanhamento longitudinal e continuado, principalmente durante a gravidez. Muitas das mulheres sem acesso a esse tipo de conhecimento ignoram a possibilidade de realizar o planejamento familiar, utilizam meios equivocados de anticoncepção, desconhecem as formas de prevenção, contágio e transmissão de doenças sexualmente transmissíveis e possuem dificuldade de acesso à maternidade segura, sendo privadas do direito ao cuidado com a própria saúde. A Prefeitura Municipal de São Domingos/SC, através da Secretaria Municipal de Saúde e Assistência Social, vem buscando por meio de um trabalho de equipe educar e suprir as necessidades das gestantes, pois é exatamente neste período em que surgem as dúvidas, anseios, receios, medos e dificuldades, e atender às diferentes problemáticas sociais, bem como primar pelo exercício da cidadania dos munícipes desta cidade. Desta maneira o Centro de Referência e Assistência Social, juntamente com a Secretaria de Saúde, buscam com este projeto promover o atendimento a estas gestantes a fim de criar ações que globalizem todas as informações necessárias que as mesmas necessitam. Uma atenção pré-natal e puerperal de qualidade e humanizada é fundamental para a saúde materna e do recém-nascido. Faz-se necessário construir um novo olhar sobre o processo saúde/doença, que compreenda a pessoa em sua totalidade corpo/mente e considere o ambiente social, econômico, cultural e físico no qual vive. Estabelecer novas bases para o relacionamento dos diversos sujeitos envolvidos na produção de saúde (profissionais de saúde, usuários e gestores), e a construção de uma cultura de respeito aos direitos humanos, entre os quais estão incluídos os direitos sexuais e os direitos reprodutivos, com a valorização dos aspectos subjetivos na atenção. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
Objetivos Objetivo Geral: Desenvolver atividades educativas com as gestantes através de equipe multiprofissional e interdisciplinar desde o início da gravidez, visando uma gestação saudável, sem riscos para a saúde da mãe e do recém-nascido. Objetivos Específicos: • Incentivar as gestantes a realizarem o pré-natal; • Promover palestras educativas na área da saúde, durante os encontros abordando todos os temas relacionados à gestação, pós-parto e aleitamento materno; • Promover momentos de troca de experiências das gestantes em relação à gestação; • Realizar trabalhos manuais para a confecção do enxoval
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da criança. • Acompanhar e monitorar 100% das gestantes • Garantir proteção social; • Garantir uma assistência efetiva à gestante e à criança, nos vários momentos desse acompanhamento. • Realizar a captação precoce das gestantes para iniciação do pré-natal ainda no primeiro trimestre.
Desenvolvimento Para a organização dos encontros grupais com gestantes, utilizamos os princípios e os fundamentos práticos do grupo de suporte, cujo principal objetivo é promover a coesão e o apoio entre os membros, a fim de elevar a autoestima e a autoconfiança das participantes do grupo. Sua principal finalidade é terapêutica, pois procura aliviar ou eliminar sintomas, desenvolver comportamentos saudáveis e proporcionar um aprendizado nas relações interpessoais. Troca afetiva, cuidado, comunicação e constância são suas bases (CAMPOS, 2000). O Programa Nascer Saudável nasceu para cuidar da vida dos nossos são-dominguenses, trata-se de um conjunto de ações de saúde voltadas para a proteção e o cuidado da gestante e da criança no primeiro ano de vida. Todas as participantes do Programa Nascer Saudável recebem um novo impulso estratégico, de acordo com a metodologia de Gestão para a Cidadania que passa a reger todos os programas estruturadores do governo de São Domingos. Para o Ministério de Saúde (2006) as informações sobre as diferentes vivências devem ser trocadas entre as mulheres e os profissionais de saúde. Essa possibilidade de intercâmbio de experiências e a troca de conhecimento e saberes são consideradas a melhor forma de promover a compreensão do processo de gestação. Os encontros e as ações educativas com as gestantes vêm sendo realizados desde o ano de 2010, onde o Programa Nascer Saudável já atendeu 60 gestantes. Em 2013, os trabalhos tiveram início em 15 de fevereiro, com término em novembro de 2013, sendo as gestantes divididas em três grupos. Os encontros foram realizados nas sextas-feiras de cada semana divididos por um cronograma de atividades entre a Saúde e o CRAS. As atividades tiveram início às 13h30min até as 16h30min, no Centro de Múltiplo Uso do Município de São Domingos/SC. O Ministério de Saúde (2006) destaca que é necessário que o setor saúde esteja aberto para as mudanças sociais e cumpra de maneira mais ampla o seu papel de educador e promotor da saúde. As gestantes constituem o foco principal do processo de aprendizagem. E entre as diferentes formas de realização do trabalho educativo destacam-se as discussões em grupo, as dramatizações e outras dinâmicas que facilitam a fala e a troca de experiências. Nesse aspecto, é importante destacar o envolvimento dos diversos atores neste processo de aprendizagem como os profissionais da saúde, da assistência social, voluntárias, família e comunidade. Nas atividades realizadas no grupo os profissionais da equipe da Estratégia Saúde da Família procuram abordar
os temas referentes à gestação, tais como: • Alimentação saudável durante e depois da gestação; • Terapia comunitária – acolhimento e respeito, formação de vínculo, estimulação musical na gestação: como usar a música para estimular e acalmar o bebê ainda na barriga; • Transformações corporais e emocionais na gravidez;
Kit básico para gestantes assíduas nas atividades do grupo
• Preparação para o parto e pós-parto; • Amamentação; • Cuidados ao bebê; • Atividades corporais como exercícios relaxantes e alongamentos; • Cuidados relacionados ao pré-natal como quando se iniciam os exames, quando devem ser realizadas as consultas de rotina; • Planejamento familiar; • Direitos de cidadania como licença maternidade e outros benefícios sociais. Em paralelo com todas estas atividades educativas e de promoção da saúde, as gestantes se reúnem em grupo para confeccionar os trabalhos manuais através do CRAS como curso de pintura na caixinha, bordado e crochê em toalhas e ainda um curso de tear. No final cada grupo a equipe juntamente com as secretarias realizam uma confraternização. Onde neste momento as gestantes recebem todo o material que elas mesmas confeccionaram além de dois conjuntos tipo body básico, edredom, travesseiro e baeta.
Com relação à Secretaria Municipal de Saúde, cada gestante que tiver comparecimento acima de 80% nas atividades de grupo de educação em saúde recebe um Kit básico contendo: bolsas personalizadas conforme o sexo do bebê, shampoo, sabonete, talco, cotonetes, algodão, gaze, álcool e banheira. Os critérios para inserção no grupo e receber os kit acima citados estão assim elencados: • Estar cadastrada no SIS-Pré-Natal; • Estar entre o quinto e sexto mês de gestação; • Participar de no mínimo 80% dos encontros; • Devem iniciar o pré-natal no primeiro trimestre de gestação; • Realizar todos os exames prescritos pelo médico durante o 10 e 30 trimestre de gestação; • Realizar durante o pré-natal, seis (06) consultas médicas e quatro (04) consultas de enfermagem; • Ter as vacinas específicas. Cada grupo de gestantes tem duração de três meses. As atividades tem continuidade mesmo após o parto. Os critérios acima são para elas se cadastrarem no grupo, mesmo aquelas não cadastradas irão realizar as atividades.
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RELATOS Grupo de gestantes, puérperas e bebês do “Programa Nascer Saudável”
Resultados Os objetivos do projeto de forma geral foram alcançados. Consideramos que foi possível promover maior interação entre o conhecimento técnico e o popular através da pedagogia dialógica utilizada, possibilitando com isso nos mostrarmos mais próximos da realidade das gestantes e puérperas da comunidade, tendo como consequência das atividades uma maior interação entre gestantes, puérperas e profissionais de saúde. Outro ponto a ser enfatizado é o impacto técnico e científico que o projeto proporcionou, contribuindo para o crescimento profissional dos integrantes, docentes e discentes. Ainda pode-se destacar a contribuição do programa para a melhoria da adesão ao pré-natal, o aumento do número de consultas das gestantes e a diminuição da mortalidade materna e infantil. O programa também contribui na interdisciplinaridade, onde os diversos saberes estão envolvidos buscando trabalhar de forma mais integral a saúde da população. No que se refere à quantidade de gestantes atendidas durante a atuação do programa, observa-se um bom número de atendimentos no grupo. Foi possível intervir em relação às temáticas referentes à dinâmica familiar, tanto na relação mãe/filho como mãe/família das gestantes, abordando nas conversas temas referentes aos movimentos fetais, edema, posição para dormir, alimentação materna, esquema de vacina, dinâmica familiar, importância do
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pré-natal, verificação de pressão arterial, frequência cardíaca e pulso, cicatrização puerperal, higiene da mãe e do bebê, cuidados com o coto umbilical, crescimento e desenvolvimento da criança, teste do pezinho, apoio psicológico e emocional, dentre outros. Observamos que o grupo de suporte favoreceu o surgimento de fatores terapêuticos citados por Muniz e Taunay (2000). A coesão, ou seja, a união entre as participantes foi um desses fatores. Por estarem juntas e discutindo questões em comum, houve uma grande identificação entre elas.
Considerações finais O desenvolvimento de programas e/ou projetos sociais que apoiam as famílias para o exercício das suas competências e fortalecimento de vínculos é outro aspecto importante, assim como a promoção de atividades de educação em saúde para pais, cuidadores e responsáveis em geral, com o objetivo de melhorar o atendimento e o cuidado das crianças, ampliar o vínculo com a família e também fortalecer a comunidade como um todo. Nesse projeto foi possível vivenciar de perto a proposta metodológica que valoriza o conhecimento popular, que exalta a construção coletiva do conhecimento. Não há seres educados e não educados. Estamos todos nos educando. Ninguém educa ninguém. Ninguém se educa sozinho. Os homens se educam juntos, na transformação do mundo. A
relevância do desenvolvimento deste projeto guarda relação com a oportunidade de acompanhamento das gestantes e puérperas nas diferentes fases que envolvem a mulher, desde a formação fetal até o período da primeira infância. Cabe salientar que as mudanças de comportamento resultam das ações de educação em saúde promovidas pelo referido projeto, pois este envolve um processo complexo que inclui fatores subjetivos e objetivos como o contexto social, econômico e cultural, bem como as motivações individuais. Sendo assim, a reunião do grupo é um momento privilegiado para discutir e esclarecer questões que são únicas para cada mulher, contribuindo para um nascimento tranquilo e saudável. Por conseguinte nos remete à valorização das práticas educativas em todos os contextos de atuação dos profissionais de forma a melhorar a qualidade de vida da população servindo de espaço para promoção da saúde. O aprendizado dessa nova forma de pensar exige um esforço de autorreflexão e disponibilidade ao novo, uma abertura às possibilidades que se colocam para aqueles que pretendem fazer parte do processo de construção do futuro do nosso sistema de saúde. Além disso, exige um trabalho político no sentido da mudança das relações de poder no âmbito institucional e fora dele, na medida em que a configuração atual dessas relações parece ser o principal obstáculo à efetiva implementação da proposta da Vigilância em Saúde (COIMBRA et al., 2005). O Projeto Nascer Saudável é um trabalho contínuo, a cada grupo que surge conhecemos novas pessoas, maneiras diferentes de se trabalhar e agir, pois cada ser passa por realidades diferentes, e a equipe tem como dever melhorar e qualificar cada dia mais para que este trabalho possa ser levado adiante, levando novos conhecimentos e informações para estas mulheres batalhadoras, sonhadoras e futuramente mães.
Referências BRASIL, 2006. Atenção integral para mulheres e adolescentes em situação de violência doméstica: Matrix Pedagógica para Formação de Redes: Ministério da Saúde, Fev 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área técnica de Saúde da Mulher. Pré-natal e puerpério: atenção qualificada e humanizada – manual técnico. Brasília, 2005e. CAMPOS, E. P. (2000). Grupos de suporte. In J. Mello Filho (Ed.), Grupo e corpo: Psicoterapia de Grupo com Pacientes Somáticos (pp. 117130). Porto Alegre: Artes Médicas. CHIATTONE, H. B. C. (2006). Psicologia e obstetrícia. Trabalho apresentado no XIII Congresso Brasileiro de Psicologia Hospitalar, UNIP, São Paulo. COIMBRA, V.C.C.; OLIVEIRA, M.M.; VILA, T.C.S.; ALMEIDA, M.C.P. A Atenção em Saúde Mental na Estratégia da Saúde da Família. Revista eletrônica de Enfermagem, V07, p. 113-117, 2005. LANDI, A. S.; BERTOLINI, S.M. M. G.; GUIMARÃES, P. O. Protocolo de Atividade Física para Gestantes: Estudo De Caso. Iniciação Científica CESUMAR, v. 6, n. 1, p. 63-70, jan-jun. 2004. MALDONADO, M. T. P. (1988). Psicologia da Gravidez, Parto e Puerpério. Petrópolis, RJ: Vozes. MELLO FILHO, Grupo e corpo: Psicoterapia de Grupo com Pacientes Somáticos (pp. 145-162). Porto Alegre: Artes Médicas. MUNIZ, J. R., & Taunay, M. (2000). Grupos de Enfermaria no Hospital Geral. In J. Pamplona, V. (1990). Mulher, parto e psicodrama (2a ed.) São Paulo: Agora. PERROT, Michelle. Os Silêncios do Corpo da Mulher. In: Matos, M.I. e Soihet, R. (Org.) O Corpo Feminino em Debate. São Paulo.
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FORTALECENDO A GESTÃO DO SUS
Telessaúde oferece suporte a profissionais da Atenção Básica em todo o estado Comunicação - Núcleo Telessaúde Santa Catarina
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Teleconsultoria é um serviço fundamental para qualificar a atenção
::: Cursos a distância: possuem temas ligados à organização de processos de trabalho e a questões clínicas, e são oferecidos na plataforma Moodle, com certificação individual. Não perca: workshops são transmitidos ao vivo todas as quintas-feiras
Webconferências abordam temas relevantes para o cotidiano da AB 36 | Revista Catarinense de Saúde da Família | agosto 2014
Cadastre-se e fique por dentro dos prazos de inscrição para os cursos
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FORTALECENDO A GESTÃO DO SUS
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