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D I S T R I T O
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H I S T Ó R I A
2012 ● JUNHO/JULHO (BIMESTRAL) ● NÚMERO 01 ● ANO I ● GRATUITO
VENHA CONHECER O PATRIMÓNIO GASTRONOMIA descubra a nossa doçaria conventual
RIBATEJANOS pelo mundo
JOVENS talentos do distrito
Ficha Técnica Proprietário e Diretor Osvaldo Cipriano osvaldocipriano@santaremdigital.pt
Editor José Raimundo Noras raimundonoras@santaremdigital.pt
Departamento Web / Gráfico O Scalabitano contact@oscalabitano.com
Departamento de Marketing Audrey Jorge marketing@santaremdigital.pt
Daniela Pacheco marketing@santaremdigital.pt
Departamento de Fotografia Osvaldo Cipriano osvaldocipriano@santaremdigital.pt
Colaboradores Dinis Ferreira Filomena Pereira Francisco Noras Guiomar Fragoso João Oliveira João Pando Luís Mata Patricia Bernardes Pedro Caetano Sónia Pinto Zeferino Silva Entrevistas Ana Centeio Bernardo Marques Publicidade e feedback: Apartado 38, 2001-901 Santarém Telefone: (351) 934 700 579 Email: revista@santaremdigital.pt Online: www.santaremdigital.com
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Corria uma tarda solheira quando “velhos” amigos me convidaram para um projeto: fazer a revista Santarém Digital. Já conhecia a ideia, a qual fazia burburinho nas redes sociais. Escudei-me com o tempo, com compromissos prévios de vária índole. Contudo, no fundo não me era possível recusar este desafio de amigos. Um desafio, ainda para mais, baseado na divulgação do que por cá se faz, se fez e do que por cá se vive, aqui, neste “largo Ribatejo”. A página na internet, já a conhecia. De facto, o Santarém Digital nasceu, em 2007, como uma página na internet de divulgação sobre a região de Santarém, dinamizada pelo jovem desenhador e fotógrafo promissor Osvaldo Cipriano. Autêntico “português dos sete ofícios” o nosso diretor, não se fez rogado perante as dificuldades em tempos de “vacas magras”. Mediante o desafio de vários leitores da página web, decidiu avançar com concretização de uma revista bimestral, totalmente dedicada ao distrito de Santarém. Reuniu uma equipa, bateu a várias portas e granjeou apoios para este número 1, que aqui lêem. Permanece a questão, o que pretende ser a Santarém Digital? Desde logo, assumimo-nos como um projeto editorial regional e independente seja de credos ou de quaisquer ideologias. Trata-se de uma ideia que se assume, agora, como “revista do Ribatejo”, dirigida a um público de todas as idades e de múltiplos interesses. Sem medo da imodéstia, somos novidade no atual panorama editorial da região. Neste primeiro número, centramos a nossa atenção em Santarém, mas com a promessa honesta de visitar outros centros urbanos da lezíria, do bairro, da charneca, ou do pinhal, os quais sempre têm vivido da complementaridade entre si. Nesta publicação, contaremos com artigos de referência em áreas tão diversas como o património, a literatura, o ambiente, o cinema, o desporto, em suma apresentamos a cultura nos seus mais variados aspetos e formas. Nesta edição, concentramo-nos na divulgação do património local de Santarém, o qual, não se esgota no construído é também património natural, cultural e imaterial. Os nossos autores para além do indagar do passado, propõem quase sempre soluções de futuro. Procuraremos dar voz às gentes da região. Apresentando entrevistas regulares a quem cá vive, abrindo a porta a talentos novos e a autores consagrados. Fomos, ainda, à procura de tantos outros ribatejanos que partiram, buscando sucesso fora da terra natal. Sem qualquer aura de presunção, abordamos de forma séria, mas de algum modo fugindo à “chapa cinco”, o que por cá se vai fazendo em desporto e em cinema, não perdendo de vista o todo nacional. Teremos, nestas páginas “aulas de música” e para aliciar o apetite uma secção gastronómica. Esta revista viverá de ti e para ti habitante do Ribatejo. Estaremos sempre dispostos a novas parcerias. Fiquem os leitores, desde já, à vontade para utilizarem a “caixa postal”, a Santarém Digital também é vossa. O que é novo cresce. Santarém Digital conta uma equipa dinâmica, associando à juventude a experiência, de modo a partilhar e a “construir conhecimento” na “sociedade de informação”. Lê e divulga Santarém Digital! Vem desvendar um distrito com história!
editor
José Raimundo Noras
Sede Rua Ana de Macedo, 9, 4 Esq 2001-901 Santarém Contribuinte - 224 619 934 Registo na ERC - n.º 126 248
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PATRIMÓNIO 06 Jardim da República 10 Reabilitação Urbana 12 Cruzadas pela Civilização
AMBIENTE 14 Desenvolvimento Rural 16 Água, Essência da Vida
FOTOGRAFIA 18 Feira Nacional da Agricultura / Feira do Ribatejo
GASTRONOMIA 20 Doçaria Conventual 21 Receitas
CULTURA 22 Treinar em Santarém 22 Guitarra para todos 23 De Berlim à Torre Bela
ENTREVISTAS 24 Jovens Talentos 26 Ribatejanos Pelo Mundo santaremdigital | 5
O JARDIM DA REPÚBLICA
R E A L I DA D E E CO N T E X TO H I S TÓ R I CO - U R B A N Í S T I CO Luís Mata*
1- A formação do Chão da Feira (séc. XIII-XV) O Jardim da República implantou-se numa zona periurbana de transição e de forte vitalidade, a qual a toponímia atesta ser tradicionalmente vocacionada para actividades económicas e sociais: o Chão da Feira. Este arrabalde, também conhecido por Rossio Fora de Vila, por se localizar fora da cerca muralhada que delimitava a urbe, e perfeitamente delimitável na planta do século XVIII - considerada hoje a mais antiga representação cartográfica da Vila, elemento fundamental para os estudos sobre a urbe - havia-se tornado, desde inícios do século XIII, particularmente procurado para a instalação de instituições religiosas de cariz monástico ou assistencial que, encontrando uma cidade densamente ocupada nos seus limites defensivos e populacionais, se implantaram estrategicamente na orla urbana, definindo uma frente conventual extra-muros: Trindade (1208), S. Francisco (1242), Stª. Clara (1259) e S. Domingos dos Frades (1222-3). As procissões, associadas, não apenas aos cultos prestigiados, mas também aos “milagres”, sabiamente explorados pelas novas ordens, tornaram esta zona em local de acontecimento. Aqui, a vida social e cultural se extrovertia em manifestações públicas devido, quer à proximidade da população urbana (simultaneamente garante de sobrevivência e destino de pregação), quer à rede viária (estrada para Leiria e Coimbra), quer ainda ao deslocamento do paço real (instalado, a partir de D. Afonso III, na Alcáçova Nova, junto ao complexo defensivo da Porta de Leiria). A quantidade de procissões realizadas no espaço urbano 6 | santaremdigital
de Santarém faz da Vila uma urbe de grande dinamismo e mobilidade social, talvez em correspondência com a actividade comercial e portuária e a realização de feiras, uma das quais se constitui em feira franca.
2 — O Chão da Feira entre o séc. XV e os finais do séc. XVIII A partir de finais do século XV a área plana do Rossio Fora de Vila (Chão da Feira), junto ao actual Largo da Piedade, sofre algumas alterações. Junto ao Paço Real, remodelado com campanhas arquitectónicas sob a égide de D. Manuel, realizaram-se diversas obras, como a mudança de localização da Porta de Leiria e a edificação da Ermida de S. Sebastião, para além das beneficiações ocorridas no Terreiro do Paço (habitação sobre a praça com janela manuelina). Foi porém a partir de meados do século XVII que a remodelação urbana desta área mais se fez sentir. Nessa centúria, foi demolida a Porta manuelina de Leiria e sobre ela construída a Igreja da Senhora da Piedade (1666-1694), delimitando uma nova praça triangular, de características cénicas e ideológicas. A Igreja de Nossa Senhora da Conceição (1673-1711) e o Colégio dos Jesuítas anexo, por seu lado, pressupôs uma profunda alteração do espaço do Castelo e do Paço Real. Também no Largo do Espírito Santo, próximo da Calçada do Monte, são construídos, já em Setecentos, diversos paços da nobreza local, como o dos Saldanha e o dos Menezes, bem visíveis na planta da cidade do século XVIII, levantada entre 1759 e 1780. Ficavam assim, perfeitamente, definidos, a
1 - Paço Real e Igreja de N. Sr.ª da Conceição 2 - Igreja de N. Sr.ª da Piedade e Convento dos Agostinhos Calçados 3 - Chão da Feira 4 - Palácio dos Saldanhas 5 - Igreja e Convento da Trindade 6 - Igreja e Convento de S. Francisco 7 - Palácio dos Meneses 8 - Igreja e Convento de S. Domingos dos Frades
Fig. 1 - O arrabalde do Chão da Feira no século XVIII
partir dessa data, os limites do local onde viria futuramente a instalar-se o Jardim da República.
3 — O Rossio Fora de Vila no contexto da sociedade romântica de Oitocentos Acompanhando as tendências da época, a sociedade liberal oitocentista de Santarém exigiu, segundo o modelo europeu e lisboeta, o seu passeio público. Convém não esquecer que Santarém formou durante o cadinho revolucionário das lutas sociais e políticas uma das mais interessantes inteligzentias do Portugal Liberal, intervenientes na vida constitucional, governativa, militar, social e cultural do concelho, do Distrito e do País. Nomes como o Marquês de Sá da Bandeira, António de Oliveira Marreca, os irmãos Santos Cruz, pioneiros das ideias sociais, Manuel da Silva Passos, Alexandre Herculano, Almeida Garrett e Rebelo
da Silva encontram-se ligados à história de Santarém oitocentista. Além do que várias personalidades da burguesia local, como os Barões de Almeirim e do Pombalinho, os Viscondes da Fonte Boa, do Andaluz e do Landal e Joaquim Maria da Silva, Reitor do Liceu e defensor dos interesses regionalistas, contribuíram para a modernização da cidade e a gestação da cidade romântica. Não admira, portanto, que em Novembro de 1842 tenham lugar as primeiras decisões do executivo municipal no sentido de uma intervenção paisagista que permitisse
«desenjoo às fadigas diárias e semanais e a comodidade dos mercados semanais e mensais, de apetecida sombra na estação calmosa» . Só em 26 de Outubro de 1876, porém, por proposta do vereador Pedro An1 tónio Monteiro, é aprovada a construção e plantio do Passeio do Largo de Sá da Ban-
deira.
Os anos seguintes à aprovação do projecto foram destinados ao equipamento infraestrutural do espaço. Em 1877 o orçamento municipal incluía já as verbas destinadas à primeira prestação (300.000 réis) do gradeamento, cujo montante total ascendia 1.300.000 réis. O abastecimento de água do jardim, cumprido em 15 de Julho de 1878, foi assegurado pelo Engenheiro Hipólito Labille, com quem foi contratualizada ainda a colocação de uma fonte, inicialmente prevista para o Largo da Piedade, mas que acabou por ser colocada no interior do jardim, junto à Rua Cidade da Covilhã.
Finalmente, em 16 de Outubro 1878, o jardim foi inaugurado com o nome de Passeio da Rainha, em homenagem à rainha D. Maria Pia. Segundo o projecto inicial, o Passeio da Rainha pretendia materializar os pressupostos do jardim romântico, de tipo inglês. A sua área de implantação abrangia o espaço entre a frente de S. Francisco e o lado Sul da igreja da Trindade, correndo paralelo à Rua 31 de Janeiro, para onde tinha a sua entrada, originando, a nascente, a definição de um espaço residual triangular, que mais tarde se transformou num largo, denominado da Piedade. Este facto proporcionou a organização urbana do espaço público, entre o Chão da Feira e o Rossio do Sítio. Apesar de fruído publicamente, o Passeio da Rainha não se considerava exactamente um jardim público, sendo antes um espaço concedido aos quartéis e que neles veio a ser incorporado. Talvez por isso possuía um gradeamento exterior, que o isolava, e portões de ferro, que eram fechados ao cair da noite – até porque a iluminação do espaço só veio a acontecer em 1895, com a colocação, pela Companhia Geral de Iluminação a Gás, de 16 candeeiros, substituídos, já em 1930, por candeeiros eléctricos.
4 — O Jardim da República na viragem do século XIX AS TRANSFORMAÇÕES DECORRENTES DO IDEÁRIO REPUBLICANO A história do território urbano de Santarém
no séc. XX é marcada, de forma indelével, pelos ideais anti-clericais da 1ª República. Estes passam a repercutir-se, antes como depois de 1910, no património monumental de Santarém, que corporizava o obscurantismo religioso e retrocesso civilizacional contra os quais a ideologia progressista se opunha veementemente. Em conformidade com a propaganda liberal, os conventos de S. Francisco e da Trindade foram adaptados, respectivamente, a Regimento de Artilharia 3 (1845-1955) e Regimento de Cavalaria 4 (1844-...) e o convento de Santa Clara foi mesmo destruído em 1906/7. Igual sorte teria, anos mais tarde, a igreja do Convento da Trindade, definitivamente demolida em Agosto de 1955, excepção feita à forte torre de cantaria que ficou atestando, na silhueta da cidade, a marca e a memória dos trinitários. O próprio Passeio da Rainha teria intervenções de vulto no contexto socio-político e cultural republicano, tendo passado a chamar-se Jardim da República a partir de 6 de Dezembro de 1910. Uns meses antes, em 20 de Janeiro desse ano, tinha sido proposta a abertura da avenida central, com a eliminação do lago aí existente, bem como iniciadas as pinturas do gradeamento. Em 1911 são aí dispostos 26 ulmeiros e 42 amoreiras. A “REVOLUÇÃO” URBANÍSTICA DOS ANOS 30 Aproveitando a presença em Santarém de uma plêiade de arquitectos da escola modernista regista-se, a partir da década
Fig. 2 – A fonte do Jardim da República após a remodelação dos anos 30
Fig. 4 – Pormenor da iluminação a gás do Jardim da República (inícios séc. XX)
Fig. 6 – Igreja e Convento Trindade. Vista Sul (anos 40-50)
Fig. 3 – O Jardim da República. Entrada principal vista de Sul (início séc. XX)
Fig. 5 – Pormenor da iluminação eléctrica do Jardim da República (anos 30)
Fig. 7 – Torre da Trindade após demolição da Igreja (1955)
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Fig. 8 – Vista geral do Jardim da República após o derrube das árvores do jardim romântico (fim anos 30)
de 30, uma expansão da cidade como até então nunca acontecera. Nomes como Cas2 siano Branco, Amilcar Pinto ou João António de Aguiar 3 passarão a interpretar as novas ideias de urbanização que envolviam toda a cidade. Em consequência, constroem-se novos bairros (Combatentes, Salazar, S. Bento), projecta-se um novo Liceu, urbaniza-se o Campo Sá da Bandeira (onde se edifica um tribunal de estilo modernista), erige-se o Cine-Teatro Rosa Damasceno e debuxa-se o edifício do Museu Distrital. Em 1936, no Campo Sá da Bandeira, realizou-se a Exposição-Feira Distrital, que poderá ter contribuído para a sensibilização da urbanização da área, uma vez que este tipo de Exposição se prestava ao desenvolvimento das ideias novas, ao contrário das feiras tradicionais e temporárias e dos mercados de gado quinzenais, que, entre 1900 e 19544, enchiam todo o espaço livre do Campo, extravasando mesmo para os Largos do Espírito Santo e das Amoreiras. Tal como no resto da cidade, também o Rossio Fora de Vila reflectiu a mudança de mentalidades dos anos 30. Logo em 1928 Cassiano Branco assinaria o projecto do Mercado Municipal. Dois anos depois, em 1930, seria montado um posto de transformação eléctrica na Rua Cidade da Covilhã, junto ao Seminário, fornecendo esse bem essencial em melhores condições que a própria Central Eléctrica de Alfange. É neste contexto que, sob a Comissão Administrativa da Câmara, presidida pelo Capitão Romeu Neves, foi entregue a Amilcar Pinto a responsabilidade de materializar a transformação do Jardim da República. A arborização, essa, ficaria a cargo de Moreira da Silva, do Porto. Na sua memória descritiva e justificativa, publicada no Correio da Extremadura, o projectista defendia o que considerava ser uma intervenção «interessante e com sabor
moderno, dentro de um urbanismo equilibrado, despresando os moldes antigos e 8 | santaremdigital
Fig. 9 – Planta do Projecto de remodelação do Jardim da República (1937) de Amilcar Pinto
hoje banidos e impróprios de uma cidade civilisada que pretende acompanhar o progresso». O projecto seria o início de um plano de conjunto abrangendo o Campo Sá da Bandeira e a Avenida de S. Bento, para onde estava projectado o Liceu. Para tal, a Câmara Municipal de Santarém havia tomado já a polémica decisão de abater as árvores do jardim romântico, decisão que viria a revelar-se ruinosa para a continuidade da vereação. O projecto, datado de 1937, visava a transformação do Jardim da República, no que se
Fig. 10 – Aspecto do coreto romântico (inícios séc. XX)
propunha chamar Parque da Cidade. Este novo logradouro seria um “vestíbulo de honra” da cidade, sem gradeamento, com placas «bem delineadas e com escolhida
arborisação, plantas apropriadas, relvados convidativos e devidamente vedados por arbustos especiais que formaria sebes decorativas» e decorado com «bancos cómodos e bem lançados, fontenários interessantes, relógio de sol, pedestais para bustos ou estatuas, vasos decorativos embelezando as entradas das ruas que limitariam os canteiros, uma pérgola semi-circular (...), ruas largas aproveitando o desnível do terreno, ladeadas por árvores de sombra, ligadas entre si por festões de grinaldas». Simultaneamente previa uma variante à Estrada Nacional nº 16 (actual 31 de Dezembro) que rasgava em dois o Jardim da República, uma vez que a existente tinha «um cunho de de-
sprezo constituido pela aridêz do Campo Sá
Fig. 11 – Aspecto final do Jardim da República (anos 40)
da Bandeira, sem nada de interessante que o caracterize, mas antes fértil em nuvens poeirenteas, desagradaveis e perigosas». Do antigo Passeio da Rainha mantinha-se apenas o coreto, «para deminuição de en-
cargos e aproveitamento do actual lago e até mesmo por um pouco de sentimentalismo». Apesar de uma intencionalidade moderna que revelava, centrada numa nova arborização e na decoração do espaço ajardinado, o projecto originou uma forte corrente contestatária na população, originando a demissão da Comissão Administrativa da Câmara Municipal pelo Governador Civil do
Fig. 13 – Aspecto geral do Jardim da República, após integração do antigo adro de S. Francisco
Distrito, Dr. Eugénio de Lemos. Só anos mais tarde, depois da reconstituição do aspecto do Jardim, anterior ao projecto de Amilcar Pinto, se assistiu ao arranque do gradeamento, tornando-o num jardim aberto. Todavia, o Jardim da República acabou por resistir ao retalhamento interno, que tanto Amilcar Pinto como João António de Aguiar propuseram com tanta veemência, sendo ampliado com a área do antigo adro de S. Francisco e apenas ligeiramente desmembrado com a criação do Largo do Infante Santo. O Largo Infante Santo, fronteiro ao Mercado Municipal, resultou da urbanização do Largo Espírito Santo, reduzido, a partir da criação
da Praça do Município, em 1957, a uma faixa entre as fachadas viradas à cidade e o Jardim e entre a Escola Prática de Cavalaria e o Mercado. A inauguração da estátua do Infante D. Fernando, conhecido por Infante Santo, realizou-se em 1962, por oferta do Governo da Nação, sendo a estátua da autoria de Leopoldo de Almeida (1957). Este facto urbanístico marcou o início da história recente do antigo Largo. 1
Actas da C.M.S., citadas por Mário de Sousa Cardoso, “Jardins de Santarém”, Correio do Ribatejo, 3 de Abril de 1998. 2
A quem se devem o Teatro Rosa Damasceno, o edifício dos Correios, o Hotel Abidis e o Café Central. autor do projecto da Urbanização de S Bento (1939) e do “Ante-Plano de Urbanização da Cidade de Santarém” (1948). 3 4
Durante a 1ª República o Campo Sá da Bandeira serviu também para pista de aterragem de aviões, de forma esporádica.
Bibliografia CARDOSO, Mário de Sousa, “Jardins de Santarém”, Correio do Ribatejo, 3 e 9 de Abril de 1998. PINTO, Amilcar; - “Transformação do Jardim da República. Memória Descritiva e Justificativa”, em Correio da Extremadura, Santarém, 11 de Setembro de 1937. REIS, José Lucas Coelho dos, “As Obras do Jardim da República”; em Correio da Extremadura, Santarém, 18 de Setembro de 1937.
* Mestre em História da Idade Média Técnico Superior da Câmara Municipal de Santarém geral.museu@cm-santarem.pt
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REABILITAÇÃO URBANA O
coração da Cidade de Santarém é o seu Centro Histórico (CH). E não é um CH qualquer. O CH de Santarém é o núcleo maior e mais antigo de Portugal, ocupando uma área de 1,42 Km2. Com mais de 3000 anos de história, o CH de Santarém reveste-se de grande importância para a história da humanidade, uma vez que retrata a evolução histórica de várias épocas: da proto-história ao período romano, do islâmico ao medieval, do moderno até aos dias de hoje. De característica polinucleada adaptada à topografia local, temos a Ribeira de Santarém, de um lado, Alfange, de outro, e a cidade altaneira no planalto. O tejo proporcionou a implantação da cidade, Alfange e a Ribeira foram funcionando como pontos estratégicos, junto às margens do rio, protegidas pelas muralhas privilegiadas da parte alta da Cidade. O nascimento junto ao rio originou que a Cidade possuísse uma fraca capacidade de expansão, aliada às barreiras naturais
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João Oliveira* existentes, constituídas pelos pronunciados declives e vales que a rodeiam. Destas barreiras topográficas e das dinâmicas de funcionamento entre as três áreas nasceu a identidade própria da Cidade. Se essas barreiras foram factores estratégicos importantes de defesa para a Cidade, actualmente são barreiras de afastamento. A Ribeira de Santarém e Alfange entraram em declínio após o desaparecimento do comércio fluvial. Esta situação originou o seu afastamento da parte alta da cidade e, por consequência, o seu declínio económico, social e físico, facto que ainda hoje se verifica. A parte alta da cidade, o CH do planalto, que já não possui a ligação estratégica nem com a Ribeira nem com Alfange, que não possui capacidade expansiva a nascente (Ribeira e Alfange) nem a sul (topografia) voltou as suas costas ao rio e virou-se para a poente e a norte. O CH (planalto) o suposto coração, esse, ficou a um canto da cidade. Para voltarmos a ligar estas áreas tem
de se voltar a apostar no rio. A Ribeira de Santarém e Alfange apresentam-se actualmente num estado de degradação gritante onde nem a Igreja de Sta Iria escapa. Mas o CH do Planalto (CHP) não está muito melhor. O CHP não permite o seu atravessamento, não é uma zona de passagem. Só vai ao CH quem necessita mesmo de ir. É preciso oferecer atrativos (comércio, serviços, cultura) que faça as pessoas deslocarem-se, porque, apesar da maioria dos edifícios serem destinados exclusivamente à habitação, largas centenas deles encontramse devolutos. A população residente é cada vez mais escassa e a que se mantem encontra-se envelhecida. Assim, os imóveis estão cada vez mais degradados e não correspondem aos actuais parâmetros de conforto e bem-estar que encontramos nos novos imóveis da periferia. O grande problema, de facto, é não haver recursos para ir mantendo os imóveis. Um imóvel com pou-
cas condições origina uma renda baixa, uma renda baixa atrai pessoas com menos capacidade económica e que, por sua vez, também não irão contribuir para a valorização e manutenção do mesmo. Este irá degradarse até perder as suas condições de habitabilidade. O sistema viário também não proporciona um deslocamento de continuação, ou seja, o sistema encontra-se concebido para que os carros não permaneçam no CHP. Quem entra de carro para um determinado ponto no CHP, se quiser deslocar-se para outro ponto no CHP, tem de sair dele e voltar a entrar noutro ponto. Esta situação poderia ser melhorada, por exemplo, com a troca de sentido do trânsito eventualmente na Calçada de Mem Ramires. O estacionamento tem vindo a ser bastante melhorado, constituindo-se como grande maisvalia a construção do subterrâneo junto ao shopping (periferia do CHP) que passou a permitir a quem disponha de tempo passar umas horas no CHP, descansado em relação ao estacionamento, ou mesmo ir trabalhar. O problema é para quem quer ir rapidamente ao CHP. As pessoas cada vez mais dispõem de menos tempo e necessitam de se deslocar do ponto A para o ponto B rapidamente e de carro. As pessoas necessitam de estacionamento à porta. Uma boa medida aplicada foi o facto de o estacionamento passar a ser pago. Esse facto passou a assegurar um lugar de estacionamento com muito maior frequência para quem quer deslocarse ao CHP, mas pode ser melhorado. Uma boa medida poderia passar pela criação de um novo subterrâneo na Praça Visconde Serra do Pilar. Além de se poder melhorar a capacidade ao nível de lugares de estac-
ionamento, poder-se-ia reformular todo o espaço dessa Praça que sairia valorizada sem o estacionamento à superfície (manter-se-ia apenas para cargas e descargas) e a própria Igreja de Santa Maria de Marvila poderia adquirir outra dignidade. Poderse-ia equacionar, nessa zona, igualmente, a construção de um silo automóvel. Estas medidas poderiam aumentar significativamente a afluência de pessoas ao interior do Centro Histórico. Passaríamos a dispor de diferentes núcleos de estacionamento
onde cada um deles poderia possuir diferentes áreas de estacionamento, destinadas a diferentes utentes, estacionamento destinado a trabalhadores, a moradores e a público no geral, com diferentes tarifagens em conformidade. O comércio e os serviços também têm vindo a diminuir. Existem cada vez mais lojas a fechar e serviços a deslocarem-se do CHP. Se observarmos o que tem acontecido na periferia de Santarém, verificamos que o comércio apareceu com a criação de novas zonas residenciais e não o contrário. Se no CHP existem cada vez menos habitantes, a tendência será para que o comércio decresça. A solução passa claramente por
trazer moradores para o CHP. Pessoas que habitem o CHP. Não podemos cair no erro de andar à procura de minorias que queiram vir morar para o CHP com as condições actuais que ele oferece. É urgente procurar adaptá-lo às novas realidades porque, se o fizermos, não haverá melhor zona para morar. O CHP possui monumentos, teatros, bares, serviços, comércio, isto é, condições que não encontramos em mais nenhum ponto da Cidade, tudo elementos revitalizadores do CHP. No entanto, na periferia, existem condições que não encontramos no CHP no que respeita à habitação. São essas condições que os imóveis do CHP têm de possuir. A Requalificação dos imóveis em conformidade com os padrões de conforto dos nossos dias, a requalificação de algumas zonas do espaço público como tão bem têm vindo a ser feitas na periferia, e não meramente a sua reabilitação são as condições necessárias para atrair moradores. Como requalificar? Através da atribuição de benefícios para quem o faça e a penalização para quem não o faça, através da criação de mecanismos que permitam agilizar os procedimentos de controlo prévio das operações urbanísticas apoiadas e muitas outras medidas que encontramos regulamentadas em decreto-lei. Torna-se necessário atrair novos moradores ao CH! Só assim ele será revitalizado. * Arquiteto joao.oliveira@santaremdigital.pt PUB http://store.oscalabitano.com
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CRUZADAS PELA CIVILIZAÇÃO Quando, na comuna de Paris, os revolucionários pretendiam destruir a catedral de Notre-Dame, houve, de entre eles, homens livres que não se renderam às ânsias destruidoras do futuro. Hannah Arendt defendeu uma tese segundo a qual o nosso presente é um hiato entre passado e futuro. O presente será um passado que busca futuro e um futuro que busca passado. Na minha perspectiva, é a memória que enforma esse hiato e lhe transmite significado, um significado bastante para que a nossa existência supere o absurdo (à maneira de um “Sísisfo feliz” como pretendera Albert Camus). Os homens da comuna de Paris resistiram ao ímpeto da sua própria essência revolucionária e defenderam a catedral. Essa defesa não se baseou só no respeito pela arte (entendida de per si ou como o valor arquitectónico do edificado). A luta desses homens, ainda que o não soubessem, foi pelo seu próprio “direito à memória”. 12 | santaremdigital
Hoje, continua a fazer todo o sentido lutar por esse direito à memória, o qual se consubstancia na salvaguarda do património que nos é comum. Falo-vos do Teatro Rosa Damasceno em Santarém. O nosso “Rosa Damasceno”, como afectivamente lhe chama a população, corre cada vez mais perigo de vida. A propósito deste “cine-teatro”, o arquitecto e historiador da arte José Manuel Fernandes já sustentou tratar-se, enquanto produto de um certo modernismo radical, de uma obra marcante no contexto português. Desta forma, o conjunto edificado constituiu, sem dúvida, um marco na arquitectura de cinemas em Portugal. Desenhado e projectado pelo arquitecto Amílcar Pinto, o teatro foi reconstruído, em 1938, após remodelação da antiga sala. A nova sala vinha sobretudo responder às novas exigências técnicas do “tempo do cinema”, segundo a direcção do Clube de Santarém (proprietários à época do Teatro), mas vinha também concretizar as ânsias de modernidade de Santarém dos anos 30.
Postal Ilustrado, c. de 1940, edições loty, coleção “Passaporte”. Imagem cedida por Zeferino Silva
A defesa do Teatro Rosa Damasceno, não é tão só a defesa do património artístico, é salvaguarda do nosso direito à memória, perante outros interesses que não queremos evocar. De facto, muitas vezes, hoje em dia, aos “novos vândalos” parece que apenas o tilintar da acumulação de capital lhes inspira a acções destruidoras. A necessidade económica, cada vez mais, esmaga a essência da nossa sociedade e os fundamentos do que chamamos civilização. Longa é a história da defesa dos monumentos e do património em Santarém. Só para citar um exemplo, já a nossa Torre das Cabaças sobreviveu às ameaças do camartelo municipal, graças a audácia dos escalabitanos que ousaram defender o seu património. Contudo, nos dias hoje, um novo surto vandálico ameaça, por todo o país, o património edificado, traço fundamental da nossa memória enquanto povo e enquanto país. Recentemente, a destruição da antiga casa de Almeida Garret em Lisboa foi uma derrota da civilização perante a barbárie. No entanto, a defesa que o povo do Porto
fez do seu Coliseu, em 2007, foi uma lição de civilidade e de como o património e a sua gestão devem sempre fazer parte de um modelo desenvolvimento urbano. Neste momento, as ameaças à vida do Teatro Rosa Damasceno estão à vista de todos. Por isso, o meu apelo não se dirige só as gentes escalabitanas, as quais de certo saberão defender o seu teatro, o meu apelo é ao país. É um apelo pela defesa intransigente do direito à memória, aspecto que se constitui fundamental, assumindo-se como bandeira do que poderemos chamar de cruzada pela civilização. José Raimundo Noras Mestre em História de Arte e Património Cultural
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DESeNVOLVIMENTO RURAL A
APRODER- Associação para a Promoção do Desenvolvimento Rural do Ribatejo constituída em 1992, visa promover os produtos característicos da região e dar apoio no desenvolvimento de projetos realizados ao abrigo do Subprograma 3 do PRODER (Programa de Desenvolvimento Rural) - Dinamização das Zonas Rurais. O território de intervenção da APRODER abrange os concelhos de Azambuja, do Cartaxo, de Rio Maior e de Santarém.
Patrícia Cipriano Bernardes*
Constituída formalmente a 20 de Dezembro de 1991, a APRODER – Associação para a Promoção do Desenvolvimento Rural do Ribatejo surge pela mão da ADER (Associação de Desenvolvimento Regional do Ribatejo e ADNR (Associação de Desenvolvimento Rural do Norte Ribatejano) com o objetivo de formalizar a candidatura ao Programa de Iniciativa Comunitária LEADER I, no âmbito do I Quadro Comunitário de Apoio. Representando cada uma destas duas associações um vasto número de entidades da região, a APRODER reúne todas as condições para uma boa representatividade das instituições e dos interesses da região. Na constituição dos órgãos sociais ficaram, desde logo, representados os organismos mais abrangentes da região. Centrando a sua atividade no planeamento de ações em prol do mundo rural, nomeadamente, através da sensibilização da população para novas atividades que possam conduzir a uma melhor qualidade de vida, a APRODER prima pela promoção da região e dos seus produtos. Depois da responsabilidade de gerir o programa LEADER I, cuja estratégia privilegiava o apoio a atividades que conduziam, com a indispensável qualidade de vida e de uma forma consequente e duradoura, à vontade de ficar no Ribatejo Centro, a APRODER apostou no LEADER II (no âmbito do II Quadro Comunitário de Apoio) na diversificação das atividades turísticas (animação, alojamento e restauração) e no apoio à criação e melhoria de empresas. Durante os LEADER I e II, a APRODER participou no programa PPDR para a constituição dos Centros Rurais como uma das entidades
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promotoras do Centro Rural da Golegã e ainda em outros dois programas denominados IQADE e IQADE II, ambos tendo em vista a formação das Agências de Desenvolvimento Regional, sendo sócia fundadora da Inovartejo - Agência de Desenvolvimento Regional S. A. Assumindo como estratégia de promoção e divulgação do território, suas tradições e seus produtos, a APRODER desenvolveu nos referidos Quadros Comunitários de Apoio projetos de cooperação interterritorial e Transnacional com outras entidades nacionais e estrangeiras ligadas ao desenvolvimento rural. A APRODER criou no âmbito de um projeto de cooperação interterritorial LEADER, com a Associação Charneca Ribatejana, a Associação Caminhos do Ribatejo, que funciona, atualmente, como central de reservas para os diversos produtos turísticos do Ribatejo e como veículo de comercialização de produtos típicos regionais através da loja gourmet, aberta no decorrer do referido projeto. Continuar a dar a conhecer a região do Ribatejo, através da qualidade dos seus produtos foi o principal objetivo da APRODER no âmbito do PIC LEADER+, já no âmbito do III Quadro Comunitário de Apoio. Sob o lema “Ribatejo Centro - bem-estar, bem servir, bem receber”, a aposta recaiu naturalmente na “Valorização dos produtos locais”.
do apoio à conservação e valorização do de equipamentos para produção artesanal património rural e de preservação do meio de enchidos, pão regional e de compotas, ambiente. e apoio ao desenvolvimento de pequenas e médias empresas do território de interPerspetivando, ainda, um harmonioso de- venção; construção de parques infantis, senvolvimento e qualidade dos produtos lares de idosos, centros de dia e serviços da região do Ribatejo a APRODER tornou- de apoio domiciliário. se, em 1994, na entidade privada de certificação e controlo dos Azeites do Ribatejo Promover a região do Ribatejo Centro DOP. Enquanto tal, a APRODER fez durante através da qualidade dos seus produtos e 14 anos o controlo da produção e analítico o empreendedorismo dos seus habitantes dos Azeites do Ribatejo – DOP, certificando e paralelamente sensibilizar as populaa sua genuinidade através da atribuição ções para novas atividades que possam de selos de certificação numerados para conduzir a uma melhor qualidade de vida, serem apostos nas embalagens. a nível de ambiente, de uma melhor inserção no mercado de trabalho, qualificação Ao longo dos 20 anos de atividade, mui- dos recursos humanos, visando um maior tos foram os projetos que a APRODER viu progresso económico e social do território nascer. Alguns exemplos passam pela re- é a aposta da APRODER para o futuro. cuperação de património histórico como pontes e outros vestígios romanos e igre* jas seculares, edição de estudos e mateEngenheira rial promocional sobre produtos, praticas aproderstr@gmail.com e tradições regionais. Entre os projetos contam-se, também, a recuperação de adegas, antigas casas agrícolas, moinhos e casas de moleiros para funcionamento como unidades de turismo em espaço rural e de turismo de animação, aquisição
A promoção dos produtos ribatejanos tem sido efetuada, essencialmente, em feiras por todo o País, e no estrangeiro, bem como através da edição de publicações e material vídeo e áudio. A APRODER estende ainda funções ao desenvolvimento de projetos de turismo em espaço rural, de diversificação das atividades nas explorações agrícolas, contribuindo desta forma para a diversificação da economia e criação de emprego no seu território, e ainda projetos que visam a melhoria da qualidade vida das populações, através do apoio a serviços básicos para a população rural, e santaremdigital | 15
ÁGUA, ESSÊNCIA DA VIDA Filomena Pereira e Sónia Pinto*
A água é um recurso natural essencial para todas as formas de vida. Desde os tempos mais remotos que a água assume um papel fundamental no desenvolvimento das populações, na alimentação, na higiene, na produção de energia, na agricultura, entre outras. Este recurso tornou-se uma preocupação geral, pela menor disponibilidade de água potável em todo o planeta. A poluição, a má gestão da água e as alterações climáticas, são alguns dos motivos que contribuem para a menor disponibilidade dos recursos hídricos, afetando as características ecológicas das regiões. Apenas cerca de 1% de toda a água da Terra está acessível ao ser humano na forma de água doce, sendo renovada através do ciclo hidrológico, cuja energia 16 | santaremdigital
é fornecida pelo sol. A maior percentagem de água existente é salgada (97%) e outra parte encontra-se em locais inacessíveis.
mediterrânicos, representa mais de 2/3 do consumo total de água), e os usos industriais e energéticos.
A contabilidade tradicional do consumo de água limita-se ao seu consumo direto, aquele que utilizamos diretamente a partir das torneiras de casa.
A Pegada Hídrica é uma metodologia para medir a utilização de água nas atividades humanas e na produção de bens e serviços, considerando o consumo de água e a sua contaminação.
Estima-se que em Portugal a utilização de água seja aproximadamente de 52 m³/pessoa/ano, variando a capitação diária regional entre cerca de 130 litros (nos Açores) e mais de 290 litros (no Algarve).
Portugal ocupa o 6º lugar do ranking mundial da Pegada da Água, entre 151 países, com 2.260 m³/pessoa/ano – o equivalente ao conteúdo duma piscina olímpica.
No entanto, o consumo efetivo de água duma sociedade é bastante superior, por via dos restantes usos, nomeadamente a agricultura de regadio (que em Portugal como na maior parte dos países
O conforto de dispor de água potável na torneira de casa, envolve uma verdadeira indústria para captar, tratar e distribuir água. A aparente facilidade de utilização deste bem, pode, no entanto, contribuir para o seu desperdício. A água depois de utilizada em nossas casas não tem condições de descarga no meio hídrico, carece de tratamento antes de ser devolvida à natureza. Esse tratamento assume diversos graus de complexidade, desde a fossa doméstica até a uma sofisticada ETAR, de acordo com a dimensão dos aglomerados populacionais, as carac-
terísticas das águas residuais, etc..
concelho de Santarém.
Este espaço terá por objetivo abordar temas relacionados com os recursos hídricos, nomeadamente, informação sobre: o ciclo urbano da água; a captação da água; o tratamento e distribuição de água; a drenagem e tratamento de águas residuais; as metodologias de controlo de perdas de águas nos sistemas de distribuição; e conselhos para poupança de água ou correta utilização dos sistemas prediais de águas residuais. Na abordagem dos temas, tentaremos divulgar o que se faz a nível do
Para um futuro sustentável, racionalize o consumo de água e utilize de forma adequada as infraestruturas de saneamento. * A partilha do conhecimento A.S. – Empresa das Águas de Santarém Informação da Direção da Qualidade e do Gabinete de Comunicação
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GALERIA
FEIRA NACIONAL DA AGRICULTURA FEIRA DO RIBATEJO
F
otografias gentilmente cedidas pelo ilustre fotógrafo de Santarém, Dinis Ferreira. As mesmas podem ser vistas no livro “Feira Nacional de Agricultura, Feira do Ribatejo – Retrospectiva 1954-1988”. Pórtico e Avenida Principal da III Feira do Ribatejo - 1956
Exposição de gado ovino - 1957
Condução de Jogos de Cabrestos pelas ruas da cidade - 1956
Entrada principal da VI Feira do Ribatejo - 1959
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Cortejo evocativo das Touradas à Antiga Portuguesa, ao qual se seguia a tourada inaugural - 1959
Curros Instalados na Fonte das Três Bicas de onde saíam os touros guiados pelos lavradouros e campinos - 1963
Vista Geral do recinto da Feira - 1964
Manga da Feira com curraletas para Exposição de Equinos - 1978
Vista panorâmica das mangas e pavilhões - 1978
Condução de jogos de cabrestos pelos Campinos - 1979
A Criança e a Feira. Visita guiada ao Pavilhão de Agricultura - 1982
Vista Geral do Recinto. Exposição de Máquinas Agrícolas - 1984
Uma Guarda de Honra de Campinos a cavalo esperava as individualidades que visitam a Feira - 1984
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gastronomia
DOÇARIA CONVENTUAL
Guiomar Fragoso*
Ainfluência do açúcar na vida económica e política de Portugal atingiu o seu apogeu com a colonização do Brasil. A facilidade na sua obtenção ensejou e estimulou a criação e consumo de grande variedade de doçaria. Este processo foi mais acentuado, inicialmente, entre as classes abastadas e, sobretudo, nos conventos e mosteiros - na sua génese esteve o processo da Reconquista aos Árabes, durante o qual o poder sempre assinalou a presença cristã nas zonas ocupadas, fundando conventos e mosteiros quer por iniciativa real, quer por altos dignitários da nobreza.
Donatários e comandatários dos mosteiros e dos conventos, gente com poder e com dinheiro eram recebidos com conforto nas casas que patrocinavam e, frequentemente, com luxo e pompa. Estas “casas” também foram tidas como pousados, aquando da deslocação de dignitários do reino, tão importante era, à época, providenciar cama confortável e reparadora como refeições condignas.
Os doces eram confeccionados não apenas em dias de festa, tratava-se de prática quotidiana. A doçaria fazia parte de um estilo Originalmente, sobretudo as ordens femininas, receberam noviças de vida. Conventos e mosteiros competiam entre si, produzindo oriundas das classes superiores, sendo compreensível que, entre diferentes especialidades, que traduziam necessidades de afirelas, prevalecesse a cultura própria dos modelos da elite da qual mação, de prestígio e de distinção. As congregações religiosas provinham. foram verdadeiros altares da doçaria, cada uma ciosa do segredo das suas receitas exclusivas. Mosteiros e conventos desenvolveram, assim, a “arte doceira” apoiados na riqueza fundiária, por exploração directa das terras Após 1834, com o sopro dos ventos liberais, extintas as ordens ou por contratos de foro e arrendamentos. Essa situação propor- religiosas - desde logo as masculinas e as femininas quando falecionou a fácil obtenção de produtos: farinha, mel, azeite e ovos - cesse a última monja em cada reclusão - as rendas e propriedades principais ingredientes dos primeiros tempos da doçaria, antes da foram-lhes retiradas, os dotes desapareceram. Apenas nessa introdução do açúcar. A abundância de produtos, e a disponibili- altura os conventos abriram as portarias para vender o que sadade de tempo no seu quotidiano, permitiu que monges e monjas biam fazer: as monjas passaram a sobreviver da venda de doces. aliviassem o tédio do “internamento” com confecções nas vastas Os doces conventuais tiveram então maior divulgação e entraram cozinhas conventuais. A classe social donde provinham facilitou a em casas que, até essa ocasião, os desconheciam. Após tantos passagem de receitas oriundas das suas casas senhoriais para as anos de secretismo, as receitas começaram a ser vulgarizadas casas da sua reclusão. e adoptadas em casas particulares e em estabelecimentos que, com elas, granjearam fama e lucro. * Técnica de Turismo
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arrepiados de almoster Os Arrepiados são uma criação das freiras bernardas, do Mosteiro de Santa Maria de Almoster, fundado por D. Berengária, no último quartel do séc. XIII. Segundo a lenda, esta dama terá assistido, na presença da Rainha Santa Isabel, ao milagre do apartamento das águas do Tejo para que esta pudesse ver o túmulo de Santa Iria. Terá sido este prodígio que levou D. Berengária a abandonar a Corte e a fundar um mosteiro, nele tendo professado e morrido. Todavia, de acordo com documentação existente, terá sido por decisão testamentária de sua mãe que D. Berengária mandou “fazer um mosteiro de monjas da Ordem de Cister, ou outra que seja a serviço de Deus, (...) no meu lugar de Almoster...”. A Rainha Santa Isabel dotou o mosteiro de regalias várias e financiou a conclusão das respectivas obras. Ainda, segundo a lenda, a criação deste doce terá surgido aquando da visita ao mosteiro de uma alta individualidade (não se sabe se eclesiástica ou temporal), a quem as freiras quiseram surpreender com as suas artes de pastelaria e, em simultâneo, competir com os já afamados “Celestes de Santa Clara”. Nessa altura, uma das freiras terá anunciado que a nova criação seria tão deliciosa que o visitante “até ficaria arrepiado”. A divulgação dos Arrepiados, fora das portas do mosteiro, deu-se pela mão de Augusto Serrão, antigo serviçal das monjas e, hoje em dia, é possível adquiri-los nas várias pastelarias de Santarém. Na sua composição entram açúcar, amêndoas, claras de ovo e raspa e sumo de limão. INGREDIENTES: 5 claras / 500 gr. açúcar / 500 gr. amêndoa com pele / raspa e sumo de limão preparação: Comece por bater as claras em neve, após o que deve adicionar o sumo de limão e o açúcar e continuar a bater, sempre para o mesmo lado, até surgirem bolhas. Em seguida, junte a raspa de limão. Entretanto, corte o miolo de amêndoa em falhas (imprescindível para que os bolinhos resultem leves e estaladiços) e vá juntando à mistura de claras, sem bater muito. Num tabuleiro untado de azeite, deite colheradas do preparado. Os montinhos deverão ficar afastados uns dos outros. Leve ao forno a cozer, durante 15 minutos.
RECEITASREGIONAIS celestes de santa clara Doces emblemáticos da doçaria escalabitana, os Celestes são uma criação das monjas claristas, do Mosteiro de Santa Clara - fundado em Santarém por D. Afonso III, em 1259, no qual viveu e morreu, aureolada de santidade, a Infanta Leonor Afonso, filha bastarda daquele monarca. Segundo a lenda, a receita desta iguaria terá sido concebida pelos anjos, que dela fizeram presente às monjas como recompensa pela sua fé. A sua comercialização iniciou-se pela mão de Ajax Augusto da Silva Rato, proprietário de uma mercearia entretanto desaparecida, que os recolhia, em horário previamente acordado, na Roda do mosteiro. Actualmente os Celestes encontram-se à venda nas diversas pastelarias de Santarém, vendidos à unidade ou em caixas. Na sua preparação entram açúcar, amêndoas, gemas e clara de ovo e folha de obreia.
INGREDIENTES: 500 gr. açúcar pilé / 250 gr. amêndoa pelada / 24 gemas + 1 clara / 1 folha de obreia preparação: Leve o açúcar a ponto de fio, junte-lhe as amêndoas pisadas e deixe cozer. Retire o preparado do lume e adicione-lhe a clara batida juntamente com as gemas. Leve de novo ao lume e deixe ferver até obter ponto de estrada. Deite a massa numa travessa, tenda os bolinhos e coloque-os sobre rodelas de obreia, moldando-as em torno do bolinho como se fosse uma forma. santaremdigital | 21
TREINAR… EMSANTARÉM
L
ançado o desafio de colaborar com a Santarém Digital, início esta coluna destacando quem, em nome de um desafio ou de uma paixão, semanalmente dedica o seu tempo livre na procura da perfeição, de chegar mais alto e mais além, transmitindo às suas equipas o seu conhecimento, entusiasmo e amor à modalidade. É muitas vezes o dar acima do receber, o abdicar de zonas de conforto para ir mais além, o sacrifício em prol de um objectivo maior do que o seu individual. É projectar em quem se orienta aquilo que se idealizou previamente… num processo que se inicia na imaginação sendo depois replicado para um caderno, uma folha, um papel qualquer (tantas vezes). É ver no dia-a-dia mil e uma situações passíveis de replicar mais tarde, imaginando como vai ser quando, mais tarde, se põem finalmente em prática. Como se aqueles rabiscos tantas vezes ilegíveis ganhassem vida e dançassem ali, onde os imaginámos em carne e osso em acção. É trabalhar com as condições possíveis e existentes, partilhando materiais, espaços e horários com outras equipas, outras idades, outras modalidades até. É também alcançar objectivos. Conseguir em competição materializar o trabalho que começou lá longe, na mente de quem o planificou, esculpido depois pelo treino e finalizado onde tudo interessa. Na arena que pode ser de glória ou desilusão. E na semana seguinte tudo renasce e se repete… elogiando o que de bem se fez, corrigindo o que saiu contrário ao desejado e, idealmente, acarinhando sempre aqueles que tudo tentaram em prol daquele desejo maior – com ou sem o sucesso imaginado. p.s. Finalizada a época para muitos dos treinadores que este ano estiveram em competição no Distrito, resta homenagear vencedores e vencidos, destacando todos aqueles que conseguiram os objectivos propostos – tantas vezes maiores que a área meramente desportiva.
GUITARRA
PARA TODOS
João Pando*
Este espaço será de periodicidade mensal e destina-se a todos aqueles que gostam de música e especialmente de guitarras elétricas e que gostam de tocar. Não pretendo que seja um manual de guitarra, pois existem vários por aí à venda e muito completos. Pretendo antes que seja um espaço de informação para todos aqueles que por uma ou outra razão não tiveram, nem têm, a possibilidade de frequentarem aulas de guitarra e que pretendem aprender mais alguma coisa sobre o instrumento e a sua técnica. Seguirei um fio condutor que irá desde o principiante até um nível mais avançado. Iremos falar de aspetos básicos da guitarra, tal como os que apresento hoje (partes constituintes de uma guitarra elétrica ou a numeração das cordas e notas respetivas), assim como de técnicas mais avançadas como a técnica sweep passando, por exemplo, pelos tópicos orientadores para adquirir uma guitarra elétrica, pelos intervalos, acordes, arpejos, escalas,… Os exercícios aqui apresentados serão sempre elaborados numa vertente mais rock. Carrilhões: peças integrantes da cabeça da guitarra, onde ficam presas as cordas. Pestana: peça com ranhuras, por onde passam as cordas e que serve de estabilizador das cordas. Trasto: peça metálica transversal ao braço, que divide a escala em várias partes e que separar as tonalidades. Escala: peça assente sobre o braço, dividida pelos trastos, onde são produzidas as notas. Pickup: captador do som (através da vibração das cordas). O pickup junto ao braço normalmente produz um som aveludado, com um timbre suave e médio-grave. O pickup junto à ponte normalmente produz um som mais agressivo, com tonalidades médio-agudas. Selector de pickup’s: interruptor para ligar e desligar pickup’s. Normalmente possuem 3 ou 5 posições. No caso da imagem, é um seletor de 3 posições que ativa o pickup do braço ou o da ponte ou os dois em simultâneo. Ponte: peça utilizada para dar estabilidade às cordas e as manter suficientemente afastadas da escala, em sintonia com a pestana. Permite a regulação de cada uma das cordas, individualmente. Cavalete: peça terminal utilizada para prender as cordas. Em muitas guitarras, a ponte e o cavalete constituem uma única peça. Corpo sólido: As guitarras elétricas podem ter vários tipos de corpo. A guitarra da imagem é de corpo sólido e maciço. Existem outras (p.e. jazz) cujo corpo é semiacústico ou seja, o corpo é uma caixa relativamente estreita (aprox. até 7cm de espessura). Volume e tonalidade: Com som limpo, o potenciómetro do volume é utilizado para controlar o nível de som da guitarra. Com distorção, funciona mais como nivelador do ganho de distorção. O potenciómetro da tonalidade é utilizado para cortar (até 0) ou repor (até 10) algumas frequências mais médio-agudas. Guarda-unhas: mais que pelo aspeto estético, o guarda-unhas protege o corpo da guitarra, quando se toca com palheta. Regulação do braço: No interior do braço da guitarra existe uma vara metálica que é utilizada para o corrigir, no caso de ele ficar côncavo ou convexo. Referência das cordas: 1ª – Mi (mais fina); 2ª – Si; 3ª – Sol; 4ª – Re; 5ª – La; 6ª – Mi (mais grossa) Referência dos dedos: 1 – Indicador; 2 – Médio; 3 – Anelar; 4 - Mínimo
Exercício Os números representam os trastos a tocar e a ordem por que são tocadas as notas. Cada dedo toca uma nota num trasto ou seja, o dedo 1 toca o trasto 1, o dedo 2 toca o trasto 2 e assim sucessivamente, em cada uma das cordas. A partir do 4 compasso (cada compasso é dividido por uma barra vertical), o dedo 4 toca o trasto 5, o dedo 3 toca o trasto 4 e assim sucessivamente. O exercício deve ser executado até o dedo indicador atingir o 12º trasto. Deve ser executado no sentido inverso também (do 12º trasto para o 1º). Este exercício é utilizado para coordenação entre as mãos, para fortalecimento dos músculos que controlam os dedos e como aquecimento.
Pedro Caetano Colunista
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* joao.pando@santaremdigital.pt
De Berlim F
alemos de cinema português, um cinema que nos últimos tempos tem passado pelos tumultos mais antagónicos. A brevidade com que se cortaram ou, usando o eufemismo governamental, com que se suspenderam os subsídios que financiavam toda a produção do cinema do nosso país (falo dos subsídios do ICA e do FICA) contrasta com a exponencial notoriedade dos nossos cineastas pela europa fora. Trago-vos, como exemplo mais recente, as conquistas lusitanas no festival de Berlim, personificadas pela longa-metragem Tabu, de Miguel Gomes, arrecadando os prémios da crítica Alfred Bauer e FIPRESCI, e pela a curta-metragem Rafa, de João Salaviza, que levou consigo o Urso de Ouro para melhor curta-metragem.
De Aquele querido Mês de Agosto aTabu,
Miguel Gomes trocou a nostalgia contemporânea dos imigrantes portugueses, que revêm no mês de agosto o seu regresso à terra natal, por uma nostalgia sombria, das solidões que pairam à beira de um monte (que dá nome ao filme) e que disfarçam a tristeza por tentativas fugazes de ilusórias relações de vizinhança. Já Salaviza, reincidia na temática policial, retratando, novamente, as angústias da prisão. Desta vez, porém,
à Torre Bela Francisco Noras*
fá-lo através dos olhos de uma criança. Mas voemos de Berlim, voemos até à herdade da Torre Bela, em pleno ribatejo. Neste peçado de terra, emblematizado pelo documentário de Thomas Harlan, de nome homónimo ao da herdade, relembramos tempos que marcaram a nossa democracia. O Caso da Torre Bela tornou-se, graças ao engenho de Harlan, o paradigma das apropriações populares sobre as terras agrícolas, que ocorreram durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC). Curiosamente, o nosso democrático mês de abril trouxe, aos cinemas portugueses, um filme que revisita a Torre Bela. Falo do requintadíssimo documentário de José Filipe Costa, Linha Vermelha (documentário que foi recentemente inserido no ciclo mensal de cinema do cine club de Santarém). O filme desconstrói o documentário de Harlan, realçando a forma como a realidade da ocupação da Torre Bela é camuflada pela película. Tenta, ainda, evidenciar a influência que Halsman poderá ter tido no próprio processo dessa ocupação. A dica surge quando revemos, junto com a narração, uma das cenas do documentário primário: o momento em que os populares ocupam o palá-
cio dos Duques da herdade. Essa sequência veio rotular a ocupação da cooperativa com muitos adjectivos pejorativos. De roubo a vandalismo, aquele movimento foi apelidado de tudo. Filipe Costa não só realça como a câmara distorce a realidade, como também o facto da sua presença instigar, consciente ou inconscientemente, determinados comportamentos nos populares.
Linha Vermelha é um ensaio cinematográ-
fico que nos faz repensar a função e o poder do cinema, revisitando um momento atribulado da história da nossa recente democracia. Um documentário de uma perícia expositiva e narrativa tal, que lhe valeu o prémio “melhor filme português de 2011” pelo festival Indie Lisboa. Deixo-vos com esta sugestão actualíssima, que nos dá um cheirinho de liberdade, ou pelo menos dos conflitos que a sua falta duradora causou. * Estudande de Cinema e Comunicação
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Jovens Talentos
Ana Centeio A
na Centeio é uma pessoa ambiciosa e determinada. Procura na arte todas as suas resposta e tudo o que absorve transforma em aprendizagem. Deseja traçar um percurso artístico e pessoal repleto de futuras memórias, vendo o seu trabalho reconhecido e apreciado. Gosta de viajar, de conhecer diferentes culturas e diferentes formas de apreciar arte. Gosta de se sentar numa esplanada a ler um livro ou simplesmente de ficar a admirar o que se passa em seu redor.
uma parte do que preciso para me sentir bem comigo e com os outros, acalma-me, alegra-me e completa-me.
Fale-nos um pouco do seu último Quando é que começou o interesse projeto? pela pintura? A pintura sempre esteve presente na minha vida, acompanha todos os meus passos e evolui comigo todos os dias. É algo que faz parte de quem sou e a quem conto todos os meus segredos!
Quem são as suas fontes de inspiração? Porquê? As minhas fontes de inspiração são, sem dúvida, as pessoas que me apoiam, que acreditam em mim, no meu trabalho e que me dão força e vontade para continuar e evoluir. Inspira-me o trabalho de outros artistas, aprendo com eles, melhoro as minhas capacidades e sinto-me constantemente motivada. Um dos pintores que mais me inspira é Klimt pela harmonia do seu trabalho, a beleza das cores e o sentimento transparente que nos oferece. São obras que me fixam o olhar e que me fazem olhar sempre uma segunda e uma terceira vez.
O que representa para si a pintura? A pintura é o único momento onde consigo unir tudo o que sinto. É um momento só meu onde consigo exteriorizar o meu interior. Pintar equilibra a minha forma de estar e harmoniza os meus dias, representa
Penso que existe uma altura nas nossas vidas em que queremos sair da nossa área de conforto e procurar o desafio na adversidade, é uma mistura de ambição com desejo pelo desconhecido. A Acervu nasceu da junção desses sentimentos. A Acervu pretende criar ligações entre as pessoas e a arte, atuando de três formas diferentes. O aproximar das pessoas através da pintura, de forma a criarem sentimentos e questões, motivando-as a viver realidades desiguais. O aproximar através da conservação e do restauro. Nunca é demais relembrar a importância da preservação do nosso património, pois só dessa forma fazemos história. E é da história que nasce a inspiração que nos faz viver. O aproximar através do Restyling, porque estamos em constante mudança, existe em nós uma necessidade de diversificar. Todos temos aquela peça, seja uma cadeira ou uma mesa, uma moldura ou um móvel, de que não nos queremos desfazer por inúmeras razões, mas porque é que nos temos de desfazer dela se ela nos traz, de alguma forma, conforto? A Acervu transforma essa peça, faz com que se adapte a uma nova vida e as novas funcionalidades, criando, desta forma, uma nova obra de arte.
A Acervu é uma forma de viver a arte.
Tem sentido alguma dificuldade na divulgação do seu trabalho? Porquê? Penso que existem sempre obstáculos para os quais devemos estar preparados. Ouvir “não” e ser capaz de não desistir às contrariedades são características indispensáveis neste meio. Claro que continuo a sentir alguma dificuldade na divulgação do meu trabalho pela falta de apoios que existem para com os novos artistas, mas penso que estamos a caminhar para melhor. Tenho feito imensas exposições e oportunidades não faltam. Estamos a mudar mentalidades e a forma de estar das pessoas, o que faz com que sejam as próprias pessoas a procurar pelo desconhecido. Quero acreditar que a minha ambição e força de vontade são o motor que tem desenvolvido este projeto e é esta determinação que faz com que as pessoas tenham curiosidade pelo que faço, sentem-se motivadas e desta forma criam-se laços entre o público e as minhas obras. ana.centeio@gmail.com
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RIBATEJANOS pelo mundo B
ernardo Marques é um jovem consultor na área de estratégia de telecomunicações. Define-se como uma pessoa dinâmico, ambiciosa, curiosa e algo insatisfeita, sempre à procura de novos desafios. É natural de Santarém e tem 30 anos.
O que o levou a emigrar para o estrangeiro? Emigrei, sobretudo, para abraçar novos desafios. Foi uma decisão pessoal. A conjectura económica Europeia, todos o sabemos, não é animadora. E surgiu uma oportunidade para no estrangeiro crescer a nível profissional e pessoal.
Porque escolheu esse País? Escolhi o Brasil, nomeadamente Curitiba, porque existe um património cultural e histórico comum. É uma região que está a atravessar um processo de crescimento considerável, portanto oferece oportunidades profissionais interessantes.
Como tem sido a sua experiência no estrangeiro? Tem sido bastante interessante, quer em termos profissionais quer pessoais. A oportunidade de trabalhar com uma cultura diferente da nossa faz-nos aprender a ser mais flexiveis.
Sente que em Portugal não teria as mesmas condições de vida e oportunidades de sucesso? Neste momento as oportunidades que existem em Portugal não permitem o desenvolvimento profissional e pessoal que busco. O Brasil é uma economia em crescimento, é uma potência mundial emergente. Aqui, ainda existem muitas coisas para fazer, o que torna bastante interessante trabalhar cá. É um crescimento diário.
Já equacionou voltar para Portugal? Porquê? Já pensei diversas vezes, mas neste momento não existem as oportunidades que busco.
De que sente mais saudades de Portugal? Da familia, dos amigos e da comida.
Aconselha os Ribatejanos a tentarem emigrar para esse País? Porquê? Sair do nosso país é sempre um desafio quer pessoal, quer profissional. Para quem busca novos conhecimentos, para quem procura crescimento e novas aventuras o Brasil é o sitio certo. Mas nunca é fácil sair do sitio ao qual estamos habituados a viver.
CLASSIFICADOS Humanidades, História, Filosofia e Língua Portugues. Níveis Secundário e Superior. Telf. 963 229 106 E-mail: jmrnoras.prof@gmail.com
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EVENTOS I Encontro de Coros Infanto-Juvenis de Santarém 24 Junho / Santarém Espetáculo de Solidariedade 7 Junho / Santarém
LAZER Passeio de automóveis clássicos “Visita aos Vinhos do Tejo” 9 Junho / Cartaxo Ateliê | Jogos Olímpicos na BME 6 a 8 Junho / Entroncamento
CULTURA
Sorraia 16 Junho / Coruche
Conversa com o livro “hEra de Fumo 21 Junho / Santarém
Exposição Coletiva Universos Partilhados - Arte Grémio VIII Encontro Nacional do Clube Deauville Portugal 2 a 27 Junho / Coruche 8, 9 e 10 Junho / Santarém
Exposição “Nas Asas do Sonho” 4 a 18 Junho / Santarém XXVIII Festival de Folclore Bairro 23 Junho / Santarém Exposição de Pintura – “VERONICA” 4 a 28 Junho / Santarém Exposição de Pintura “Paisagens Ocupadas” 2 a 16 Junho / Santarém Desfile de Chapéus 15 Junho / Santarém Festival “Da Aldeia à Cidade” 16 Junho / Santarém Feira Nacional de Agricultura / Feira do Ribatejo 2 a 10 Junho / Santarém Festival de Folclore do Arco da Memória 9 de Junho / Rio Maior Noz CONNOZco, Oficinas, Tertúlias e... Acção 1 Outubro a 30 Junho / Entroncamento Festas de S. João e da Cidade do Entroncamento 20 a 24 de Junho / Entroncamento Festa em Honra de Santo António Fajarda 8, 9 e 10 Junho / Coruche Festas Populares Buinheira 15, 16 e 17 Junho / Coruche
26.º Festival de Folclore Branca 2012 9 Junho / Coruche
2ª Edição da Animação de Rua Infantil 7 Junho / Entroncamento
CONFERÊNCIA
Exposição coletiva internacional “O Que Acontece Encontro Living Lab Depois” 5 Junho / Santarém 4 Maio a 1 Julho / Cartaxo Museu (em) Aberto Exposição “O Vinho e Folclore” 22 Junho / Abrantes 15 Maio a 30 Junho / Cartaxo Hora do conto 29 Maio a 19 Junho / Abrantes Abrantes, um património por redescobrir 6 Junho a 29 Junho / Abrantes Festas de Abrantes 14 a 17 Junho / Abrantes A Arte da Animação 11 Maio a 3 Junho / Abrantes Abrantes, um património por redescobrir 6 a 29 Junho / Abrantes
MÚSICA Encontro de Coros do Ribatejo 3 Junho / Abrantes Garagesound Fest 2012 6 e 7 Julho / Cartaxo
Mafalda Arnauth Festival de Folclore Rancho Folclórico Regional do 9 Junho / Cartaxo
DESPORTO Aqua Fixe 15 Junho a 13 Julho / Santarém 5º Passeio BTT “Cidade do Entroncamento” 3 Junho / Entroncamento 24H BTT CCH 30 Junho e 1 Julho / Coruche 1 AQUATLO de Coruche 7 Junho / Coruche
JUVENTUDE Juanito e seus Muchachos 13 Junho / Entroncamento Concurso Letras de Música 16 Abril a 29 de Junho / Entroncamento
onde comer Adega do Bacalhau Travessa da Boleta, 2/4 2000-122 Santarém Tel: 243 306 519 E-mail: baka@sapo.pt
O Capote Rua Dr. Jaime de Figueiredo, 8 2000-139 Santarém Tel: 243 306 481 E-mail: restauranteocapote@gmail.com
Adega do Caneco Cerco de S. Lázaro, 65 2000-220 Santarém Tel: 918 770 025
O Chicote Rua Cidade de Santarém – Arneiro dos Borralhos 2000-324 Achete Tel: 243 469 208
Residencial Vitória Rua 2º Visconde de Santarém, 21 2000-197 Santarém Tel: 243 309 130
Restaurante Portas do Sol Largo da Alcáçova 2000-110 Santarém Tel: 969 040 316 E-mail: restauranteportasdosol@gmail.com
Residencial Beirante Rua Alexandre Herculano, 5 2005-181 Santarém Tel: 243 322 547 E-mail: residencialbeirante@hotmail.com
Taberna & Mercearia Sebastião Travessa do Frois, 15 2000-145 Santarém Tel: 243 302 444 E-mail: tm.sebastiao@gmail.com
Turismo Rural
Adiafa Campo Emílio Inf. Da Câmara 2000-014 Santarém Tel: 912 378 869 E-mail: restauranteadiafa@hotmail.com A Grelha Rua Ateneu Comercial, Lt. 1 2000-215 Santarém Tel: 243 333 348 E-mail: ruimftleite@iol.pt Aromatejo Travessa do Bairro Falcão, 21 2000-085 Santarém Tel: 243 323 687 E-mail: geral@aromatejo.pt Chafarica da Torre Praceta Caetano Brás, 8 2005-517 Santarém Tel: 966 620 790 E-mail: chafaricadatorre@gmail.com El Galego Restaurante Complexo Aquático Municipal - Jardim de Cima 2005-444 Santarém Tel: 925 996 995 JF Restaurante Rua Sociedade Jardim de Cima 2005-451 Santarém Tel: 925 996 995 Kook Avenida António dos Santos, 36 2000-074 Santarém Tel: 243 377 807 E-mail: kook@enfis.pt Luis dos Leitões Rua Teófilo Braga, 10 – Portela das Padeiras 2005-438 Santarém Tel: 243 332 102 E-mail: luisdosleitoes@hotmail.com O Bernardo Loja Nova 2000-681 São Vicente do Paúl Tel: 243 428 388 E-mail: info@obernardo.com 30 | santaremdigital
Taberna do Quinzena Rua Pedro de Santarém, 93 2000-223 Santarém Tel: 243 322 804 E-mail: tabernadoquinzena@hotmail.com
Hotel do Prado*** Área de serviço BP de Santarém, km 84 Pernes – A1 – Apartado 39 2001-701 Santarém Tel: 243 440 302 E-mail: hotel.prado@clix.pt
Casa de Alcáçova Largo de Alcáçova, 3 – Portas do Sol 2000-110 Santarém Tel: 243 304 030 E-mail: slcs@mac.com A Nossa Casa Rua Maria do Rosário Taínha 2005-452 Azóia de Cima Tel: 243 479 118
Taberna Rentini Casais do Quintão - Perofilho 2005-021 Várzea Santarém Tel: 243 499 254 E-mail: tabernarentini@gmail.com
Casa Páteo das Oliveiras Travessa do Lugar Velho - Alcanede 2000-240 Santarém Tel: 243 400 701
Tascá Rua Arco de Manços, 8 2000 Santarém Tel: 915 712 262 E-mail: info@tascana.net
Quinta da Cabrita Quinta da Cabrita – Cortelo - Várzea 2005-014 Santarém Tel: 243 351 239 E-mail: quintacabrita@sapo.pt
Club Twist Estrada Nacional, 3 - S. Pedro Vitorino`s Bar Sítio do Miradouro do Liceu São Bento
Abrantes Aquapolis Cervejaria Barreiras do Tejo
Almeirim Rhefugio`s Bar Parque das Laranjeiras, 29 Discoteca Quanto Baste Rua Nova, 46 Kapott Club Rua de Santarém, 27 CV Bar Travessa do Vareta, 8
Cartaxo Horta da Fonte Rua Horta da Fonte The H Neo Club Rua Mouzinho de Albuquerque, 9 c Office Bar Rua Batalhoz, 78 a Ospital Bar Rua José Ribeiro da Costa, 59
Rio Maior In A Bar Rua D. Afonso Henriques, 62
onde ficar
onde sair
Hotelaria
Santarém
Santarém Hotel **** Av. Madre Andaluz 2000-210 Santarém Tel: 243 309 500 E-mail: geral@santaremhotel.net
Barvila Largo de Marvila
Hotel UMU*** Av. Bernardo Santareno, 38 2005-177 Santarém Tel: 243 377 240 E-mail: hotelalfageme@hotelalfageme.com
Iland Bar Avenida Madre Andaluz
Restaurante Portas do Sol Portas do Sol
FRA Club Praça de Touros de Santarém El Galego Jardim da República
Vintage Club Largo do Outeiro
Tomar Kokito`s Club Praça da República, 21
Torres Novas Emotion Discoteca Largo do Lamego Casa do Guarda Largo da Ponte do Raro, 1
No Próximo número não perca onde ficar e comer em Abrantes.
PASSATEMPO ODISSEIAS
Lenda de Santarem ´ Segundo conta a lenda, em 1215 a.C., reinava sobre a próspera Lusitânia um príncipe chamado Gergoris ou Gorgoris. Chamavam a este homem “O Melícola”, porque ensinara os seus a extrair o mel dos favos das abelhas. Certo dia, Ulisses da Ítaca, que vagabundeava pelos mares na sua penosa Odisseia de uma década, chegou à foz do Tejo com alguns navios. Achando a amenidade e o encanto do país ideais para o seu descanso, decidiu fixar-se na região, a fim de recuperar as forças perdidas e aguardar a melhor ocasião de tornar à Grécia.
Com o lançamento do primeiro número da revista temos para vos oferecer um pacote Odisseias “Aventura e Emoção” onde inclui uma experiência entre as mais de 350 actividades de lazer à escolha para 1 ou 2 pessoas.
Entre 15 de Junho e 15 de Julho de 2012, publique na nossa página Santarém Digital do Facebook uma fotografia de aventura ou emoção, onde apareça.
A melhor participação, escolhida pela equipa da revista Santarém Digital, irá receber o pacote Odisseias. Uma oportunidade para começar as férias cheias de aventura e emoção.
Hóspede de Gorgoris, Ulisses, como visitante de honra, tinha permissão de vaguear por onde fosse seu desejo. Deste modo, acabou conhecendo a bela Calipso, filha única do seu hospedeiro. E do longo e descuidado convívio dos dois jovens foi nascendo a paixão. Segundo conta a lenda, destes amores com Ulisses teve Calipso um menino, ao qual chamou Abidis. Gorgoris, mal soube do caso, ficou furioso e procurou Ulisses para o castigar. Este, porém, avisado da sua fúria, juntara à pressa os companheiros e zarpara rápido, rumo a Ítaca. Entretanto, o príncipe lusitano, incapacitado de exercer o seu legítimo desejo de vingança, querendo apagar os traços da passagem do grego e para que não ficasse memória do acto impensado de Calipso, mandou que encerrassem a criança num cesto e a lançassem ao Tejo. O rio encarregar-se-ía de destruir aquele vestígio dos amores de sua filha e a justiça far-se-ía! A maré subia na hora em que o cesto foi deixado sobre as águas e, em vez de a criança ser atirada para a foz pela corrente, foi empurrada rio acima até encalhar numas brenhas, perto da gruta que servia de covil a uma cerva, ou, segundo outras versões, a uma loba. O animal, ouvindo o choro da criança, acercou-se do cesto, farejou e, vendo que era apenas uma cria esfomeada, amamentou-a e criou-a. O menino foi crescendo até que se fez homem. Alimentava-se de frutos silvestres e de peixe do rio e, à noite, quando lhe chegava o sono, alapava-se em qualquer gruta juntamente com a fera que a habitasse, porque de todas era familiar. Durante o dia corria pelas brenhas, tomava banho no rio e brincava com os animais selvagens, aprendendo a viver naqueles ermos. Certa manhã, caçadores lusitanos embrenharam-se mais nos silvados da margem do Tejo e, de súbito, viram aquele rapaz saltando valados como se fora um veado. Acharam estranho o espectáculo insólito daquele homem vivendo só por ali e, cheios de curiosidade, decidiram tentar capturá-lo. Armaram-lhe uma cilada com redes e esperaram calmamente a sua passagem. Desprevenido, Abidis acabou por ser capturado, apesar da resistência feroz que opôs aos caçadores, e levado à presença de uma mulher: Calipso, sua mãe. Esta, depois do primeiro espanto, observou atentamente o homem selvagem que lhe traziam e acabou por descobrir, por uma cicatriz que lhe ficara de nascença, que aquele era o seu filho abandonado. Hesitou a princesa no que fazer, recordando a fúria de Gorgoris há vinte anos atrás. A notícia, porém, chegou ao velho “Melícola” antes que Calipso decidisse o que fazer, pois os próprios caçadores se encarregaram de a espalhar pela Lusitânia. Mas haviam passado vinte longos anos sobre aquele dia em que Gorgoris mandara deitar a criança ao rio. Velho de setenta anos e sem herdeiro varão, o príncipe ponderou no que fazer do rapaz e acabou por se decidir a educá-lo como seu sucessor. Segundo conta a lenda, em boa hora “O Melícola” educou Abidis, porque por sua morte o jovem foi rei dos Lusitanos e ficou nos anais do seu povo como rei justo, sábio e humano. E não esquecendo os acontecimentos ligados ao seu nascimento, decidiu construir naquele local inculto e silvestre uma cidade que lembrasse para sempre os seus primeiros vinte anos de vida. E à bela povoação que mandou construir chamou Esca-Abidis, que significa manjar do príncipe Abidis.
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