Revista Santarém Digital #5

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santaremdigital U M

D I S T R I T O

C O M

H I S T Ó R I A

2013 ● ABRIL/MAIO/JUNHO (TRIMESTRAL) ● NÚMERO 05 ● ANO II ● GRATUITO

VENHA CONHECER

AS SALINAS DE RIO MAIOR

FEIRA NACIONAL da Agricultura/Ribatejo

RIBATEJANOS pelo mundo

JOVENS talentos do distrito


editorial

santaremdigital U M

D I S T R I T O

C O M

H I S T Ó R I A

Mais um trimestre que passou, mais uma página virada no calendário…isto do tempo passar tão depressa é preocupante! E mais preocupante é as crianças também acharem o mesmo, já repararam?

Proprietário e Diretor Osvaldo Cipriano

Mas enfim, as coisas são como são e cabe-nos a nós lidar com elas da melhor maneira possível!

Editora Cristina Mendes Ferreira

osvaldocipriano@santaremdigital.pt

cmf@santaremdigital.pt

Talvez por isso mesmo falemos neste número de Liberdade, de Homens de coragem como o Capitão Salgueiro Maia e de grandes eventos como Feira do Ribatejo/Feira Nacional da Agricultura em Santarém que representa o que há de melhor na tradição ribatejana. Em Abril celebramos o dia da Revolução dos Cravos que tanta alteração trouxe ao nosso país, pois a partir desse dia 25 de Abril de 1974 nada voltou a ser o mesmo…a liberdade, essencial para o desenvolver de um povo, foi importante no nosso País para se abrir fronteiras, alargar horizontes… mais de 30 anos passados o país está em apuros mas a verdade é que se fala disso abertamente, as pessoas podem manifestar-se, dizer o que pensam e isso para mim será talvez o facto mais importante que resultou do 25 de Abril, a possibilidade que hoje temos de dizer o que pensamos e de confrontar os dirigentes com as suas próprias atitudes. Claro que numa situação como esta existem sempre excessos e lamento que com a liberdade tenha vindo também o “excesso” de liberdade, ou seja: se a nossa liberdade termina onde começa a do próximo essa fronteira é actualmente muitas vezes ultrapassada, não só nos meios “tradicionais” como nas novas tecnologias, os blogues, os chats, todos os pontos de troca de “opiniões”…na minha opinião abusa-se um pouco dessa liberdade, as pessoas permitem-se dizer tudo, sobre tudo, sobre toda a gente...e a verdade é que têm essa liberdade! O que não quer dizer que não haja abusos…

Departamento Web / Gráfico lusibrand geral@lusibrand.com

Departamento de Marketing Fátima Meireles marketing@santaremdigital.pt

Departamento de Fotografia Osvaldo Cipriano osvaldocipriano@santaremdigital.pt

Colaboradores CNEMA, Guiomar Fragoso, Humberto Nelson Ferrão, João Oliveira, João Pando, José Casimiro, Maria da Graça Morgadinho, Natércia Maia, Paula Fidalgo, Pedro Caetano, Quinta do Juncal, Teresa Batista, Tomaz Vieira da Cruz Entrevistas Nuno Mendes dos Santos Andycode Fotografia da Capa Fátima Meireles

Enfim, é apenas a minha opinião, exercendo o direito à liberdade de expressão!

Publicidade e feedback: Apartado 38, 2001-901 Santarém Telefone: (351) 934 700 579 Email: revista@santaremdigital.pt Online: www.santaremdigital.com

Editora

Cristina Mendes Ferreira Sede Rua Ana de Macedo, 9, 4 Esq / 2001-901 Santarém Contribuinte - 224 619 934 / Registo na ERC - n.º 126 248


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SALINAS DE RIO MAIOR

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JUNCAL

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SALGUEIRO MAIA

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AL-ZULEIQUE

12

ODE A SALGUEIRO MAIA

30

MODO DE HABITAR

14

FEIRA NACIONAL DE AGRICULTURA

32

GUITARRA PARA TODOS

16

DIVAGAÇÕES SOBRE O TEJO

33

LIDERANÇA

19

RECEITA REGIONAL

34

JOVENS TALENTOS

20

A ANIMAÇÃO DA FEIRA DO RIBATEJO E A FEIRA NACIONAL DE AGRICULTURA GALERIA

36

RIBATEJANOS PELO MUNDO

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PASSATEMPO

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O rosto da coragem da revolução dos cravos Poema

O caso dos colheitas tardias

Salinas de Rio Maior

Sabonete Vegetal de Azeite Breve História do Azulejo - Parte II Contemporâneo vs Centro Histórico STR

Andycode

Nuno Mendes dos Santos

Feira Nacional de Agricultura

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SALINAS DE RIO MAIOR

Uma mina de sal gema, muito extensa e profunda, atravessada por uma corrente subterrânea, alimenta um poço de onde se extrai a água, sete vezes mais salgada que a do Oceano Atlântico.

O poço comum, com as suas sete regueiras, as picotas ou cegonhas, os talhos e as eiras, assim como as rústicas e típicas casas de madeira com as suas chaves e fechaduras também em madeira, completam esta curiosidade da Natureza. O processo de exploração é típico e artesanal, constituindo estas Salinas Naturais o verdadeiro ex-libris da Cidade de Rio Maior, consideradas Imóvel de interesse público e Patrimônio Nacional. As suas pirâmides de sal constam do Brazão da Cidade. As Salinas, ou Marinhas de Sal, como também são conhecidas, distam 3 km de Rio Maior e encaixam-se num vale tifónico no sopé da Serra dos Candeeiros. Fotografia cedida por Cooperativa Agrícola de Produtores de Sal de Rio Maior, C.R.L.

O conjunto apresenta-se como uma minúscula aldeia de ruas de pedra e casas de madeira, junto à qual se destacam uns curiosos tanques de formas e dimensões irregulares, que a partir da Primavera se enchem de água salgada dando origem a alvas pirâmides de sal. O documento mais antigo que se conhece referente às Salinas data de 1177, mas pensase que o aproveitamento do sal-gema já seria feito desde a Pré-história. Uma das características mais marcantes Fotografia cedida por Cooperativa Agrícola de Produtores de Sal de Rio Maior, C.R.L.


desta região serrana é a facilidade com que as águas da chuva penetram por entre as falhas da rocha calcária, impedindo assim a presença visível de cursos de água, que se escondem, tornando-se subterrâneos. Ora, uma destas correntes torna-se salgada ao atravessar uma jazida de sal-gema e alimenta o poço comum existente bem no centro das “Marinhas”. Esta jazida de sal ocupa aproximadamente a área da Estremadura Portuguesa, entre Leiria e Torres Vedras e formou-se ao longo de milhões de anos. Desta forma se explica a existência destas Salinas a cerca de 30 km do mar.

Fotografia de Fátima Meireles

de duas picotas. Actualmente é retirada por madeira. Nesse armazém, parte do sal é A maioria dos produtores de sal eram uma moto-bomba que a conduz para a área moído e embalado para expedição e colocação no mercado. Actualmente uma equipa de agricultores, que se dedicavam sazonalmente dos concentradores. trabalhadores contratados pela Cooperativa (Maio -Setembro) à produção de sal, sendo Os concentradores são oito tanques (5.000 desenvolve a exploração e safra do sal da os lucros obtidos, divididos a meias entre o m2), com capacidade para um milhão de litros maioria das salinas. proprietário do talho e o salineiro. de água, comunicantes entre si, através dos Por se tratar de uma actividade pouco quais a água vai evaporando, sendo este um O sal de fonte salina (extraído do sal gema) lucrativa, o número de trabalhadores processo recente. A água, já concentrada, de Rio Maior é vendido para as indústrias interessados na produção de sal diminuia volta à pia de distribuição, que se encontra de rações animais, curtumes, têxtil, anualmente, pelo que, em 1979 foi criada a junto ao poço e, daí, segue para os talhos panificadoras, restaurantes, refrigerantes, Cooperativa dos Produtores de Sal de Rio Maior, através das sete regueiras. O direito à água detergentes, tratamento de água das para responder às necessidades de aumento processa-se em função da proximidade do piscinas, entre outras. O sal é expedido tendo da produtividade e da comercialização do sal poço obedecendo a regras que nunca foram granulagem natural ou é moído, de acordo com dos cooperantes e promover acções de apoio escritas e cujas origens se perdem no tempo. a indústria à qual se destina. aos mesmos, na transformação de salmoura A evaporação nos talhos dá-se em cerca e seu aproveitamento. A constituição da de seis dias, o que significa que cada talho A Cooperativa produz cerca de 2000 toneladas de sal por ano, sendo que, exporta cerca de Cooperativa, a partir da associação dos produz sal semanalmente. 20% para a indústria de panificação alemã e Salineiros de Rio Maior, permitiu a colocação O sal é rapado com pás de inox (outrora com para a Áustria, estando em fase de negociação do sal no mercado, devidamente embalado e, parte dele moído, o que se traduziu na rodos de madeira) e posto na eira a secar a exportação para a América, Japão e Brasil. valorização e aumento da qualidade do durante 60 horas. Posteriormente é levado em carro-de-mão até à máquina que o transporta Além do sal dirigido às diferentes indústrias produto e do seu preço. para a cooperativa. Aí chegado, é pesado, já referidas, existem também produtos As actividades da Cooperativa transformaram armazenado e, mais tarde, embalado (sacos as condições ambientais das salinas de de 25, 10 e 1 kg). Rio Maior. Os morros de terra onde crescia vegetação infestante, que trazia impurezas Tradicionalmente o sal era guardado nas ao sal, foram substituídos por concentradores casas típicas das salinas. Actualmente a Cooperativa recolhe este produto para um da salmoura extraída do poço comum. armazém construído para o efeito, dentro A água salgada era retirada do poço através do estilo destas antiquíssimas casas de santaremdigital | 5



Fotografia cedida por Cooperativa Agrícola de Produtores de Sal de Rio Maior, C.R.L.

vocacionados para o artesanato e comércio local. Os Queijinhos de Sal, largamente conhecidos, obtiveram a sua designação devido ao formato. Estes queijinhos são secos e podem ser conservados por muito tempo ou utilizados como tempero, pelo que basta raspá-los com uma faca. A Flor de Sal é recolhida diariamente de forma tradicional, durante os meses de Verão. A Flor de Sal é composta por cristais formados à superfície do talho (salina). Naturalmente de cor branca e húmido, é a essencial do melhor sal. A Flor de Sal está disponível em embalagens de 250 g. No historial desta Cooperativa, destacam-se os seus primeiros Presidentes, o Sr. Dr. Calado da Maia e o Sr. Casimiro Ferreira, que muito contribuíram para a união dos salineiros, transformação e preservação deste património paisagístico e cultural. No seguimento deste trabalho de décadas, a actual Direcção dirige esta Cooperativa com o objectivo preservar o património, encontrar novos mercados para escoamento do sal e fomentar a vertente turística deste local tão particular em Portugal. A Cooperativa está empenhada, em colaboração com a Câmara Municipal e a Direcção do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, no desenvolvimento do Turismo no belo “Vale Tifónico”, onde se situa este original e típico salgado de fonte salina. Esta colaboração permitiu a construção de uma típica casa da serra, para apoio aos turistas, e a reconstrução de várias casas de recolha de sal, com as suas curiosas fechaduras em madeira. Em acréscimo, a Cooperativa trabalha activamente para a recuperação e manutenção dos largos públicos, do antigo rio e do acesso ao transporte do sal para os armazéns. O rio que atravessa o salgado foi forrado de lajes e os carreiros (baratas) foram cimentados a fim de facilitar o trânsito dos Salineiros e o transporte de sal, permitindo urna maior higienização. Sem a constituição da Cooperativa, o mais provável é que as Salinas hoje fossem um amontoado de tanques com aspecto de charcos, sujos e abandonados. José Casimiro Presidente da Cooperativa Agrícola de Produtores de Sal de Rio Maior, C.R.L. geral@coopsal.com

CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS SALINAS Nº de talhos: 470 Área total: 27.000 m2 (5.000 m2 de concentradores) Dimensão média/talho: 35 a 50 m2 Poço: 8,95 m de profundidade e 3,75 m de diâmetro 1 Litro de Água = 220g sal (97% cloreto de sódio) Produção Anual: 2000 toneladas


Salgueiro Maia O rosto da coragem da Revolução dos Cravos

Há trinta e nove anos, numa madrugada amena, Portugal acordava para a liberdade. Estava-se a 25 e o mês era abril. Na rádio ouvia-se “E Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho (letra de José Niza e música de José Calvário). Algumas horas mais tarde, vivia-se nas ruas a confusão própria de um período revolucionário em curso. Pois é: já passaram mais de três décadas desde a revolução dos Cravos, mas a memória daquele que é um dos mais significativos acontecimentos históricos do país continua bem vivo no espírito de muitos portugueses. E o herói da História foi sem dúvida o Capitão Salgueiro Maia: Um rosto da coragem da revolução dos Cravos que faleceu há 21 anos vítima de cancro.

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Fotografia cedida por NatĂŠrcia Maia


Fotografia cedida por Natércia Maia

Paula Fidalgo*

Em 1974, as Forças Armadas, desgastadas pela guerra colonial decidem pôr fim na ditadura do Estado Novo, que já durava há 48 anos. Salgueiro Maia é um dos homens que se rebela contra o regime. Ansiava por um país que, mantinha-se “orgulhosamente só”, livre da opressão. E no dia 25 de abril, o Capitão de Abril teve o seu encontro com a História.

armas da EPC, comandadas pelo capitão sem Salgueiro Maia viria a escoltar Marcello Caetano medo. O objetivo é atingir... Toledo, o nome até ao avião que o transportaria para o exílio, de código para o Terreiro do Paço e os seus no Brasil. ministérios - o coração do regime. Salgueiro Maia chegou a tenente-coronel, mas Já em Lisboa Salgueiro Maia cumpre a missão recusou sempre cargos de poder. Morreu a 4 com êxito, antes de ser dado o alarme geral. de abril de 1992, vítima de um cancro. Era um “Charlie Oito” (Salgueiro Maia) comunica a idealista: não mudou o mundo, mas ajudou a “Tigre” (Otelo Saraiva de Carvalho): “Ocupámos mudar um país. E manteve-se igual a si próprio Toledo e controlamos Bruxelas e Viena (Banco até ao fim da vida: “Aquele que na hora da de Portugal e Rádio Marconi)!” vitória respeitou o vencido/ Aquele que deu tudo e não pediu a paga/ Aquele que na hora A partir deste momento, os passos do capitão da ganância /Perdeu o apetite/ Aquele que confundem-se com a história do próprio amou os outros e por isso /Não colaborou com 25 de abril. Ao longo do dia, ele viria a ser o a sua ignorância ou vício/ Aquele que foi “Fiel comandante do movimento mais sujeito a à palavra dada à ideia tida” como antes dele situações de perigo e tensão, que enfrentou mas também por ele/ Pessoa disse” -Sophia de com grande tranquilidade. Mello Breyner Andresen.

Ao princípio da madrugada, na parada da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém afirmou perante 240 homens: “Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado: os Estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com Ao fim da tarde daquela quinta-feira, o cerco isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem militar montado no Terreiro do Paço força o não quiser sair, fica aqui!” presidente do Conselho, Marcello Caetano, à rendição. Ainda hoje, no Largo do Carmo, uma Todos cedem ao carisma de Salgueiro Maia. placa de homenagem a Salgueiro Maia assinala Às três e meia da manhã, os 240 homens e o local onde se dirigiu aos governantes 10 viaturas blindadas atravessam a porta de sitiados no Quartel do Carmo. 10 | santaremdigital

Volvidos 39 anos da revolução da Liberdade, que antecipou e acrescentou progressos inegáveis, Portugal encontra-se mergulhado numa grande crise. E hoje, onde estarão os “Salgueiros Maias”?


PERFIL Fernando José Salgueiro Maia morreu aos 47 anos. A História consagra-o como o maior exemplo de coragem da revolução de 25 de abril de 1974. Salgueiro Maia, o capitão sem medo, desapareceu a 4 de abril de 1992. Nascido em Castelo de Vide, a 1 de julho de 1944, Salgueiro Maia ingressou na Academia Militar, em Lisboa, em outubro de 1964. Terminado o curso, apresentou-se na Escola Prática de Cavalaria (EPC), em Santarém, para frequentar o tirocínio. Foi comandante de instrução em Santarém e em 1968, com a guerra colonial em curso, partiu para o Norte de Moçambique, integrado na 9ª Companhia de Comandos. Em março de 1971, foi promovido a capitão e em julho de 1971 embarcou para a Guiné. De regresso a Portugal, dois anos depois, voltou a Santarém, à EPC. Participou nas reuniões clandestinas do Movimento das Forças Armadas, integrando, como delegado de cavalaria, a Comissão Coordenadora do Movimento. Até que a 25 de abril de 1974, Salgueiro Maia teve o seu encontro com a História. Filho de um ferroviário, Francisco da Luz Maia, e de Francisca Silvéria Salgueiro, frequentou a Escola Primária em São Torcato, Coruche, e fez os estudos secundários em Tomar e Leiria.

Fotografia cedida por Natércia Maia

Depois da revolução, licenciou-se em Ciências Avesso a distinções e galardoarias, ao longo Políticas e Sociais, no Instituto Superior de dos anos, Salgueiro Maia recusaria ser membro Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa. do Conselho da Revolução, adido militar numa embaixada à sua escolha, governador civil Participou no 25 de novembro de 1975, saindo de Santarém e pertencer à Casa Militar da da EPC aos comandos de uma coluna às ordens Presidência da República. do Presidente da República, Costa Gomes. Viria a ser transferido para os Açores, só voltando a Em 1983, recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Santarém em 1979, para comandar o presídio Liberdade, em 1992, a título póstumo, o grau militar de Santa Margarida. Em 1981, foi de Grande Oficial da Ordem da Torre e Espada promovido a major e em 1984, regressou à e, em 2007, a Medalha de Ouro de Santarém. Escola Prática de Cavalaria.

Em 1989, foi-lhe diagnosticado um cancro que o viria a vitimar a 4 de abril de 1992. Salgueiro Maia foi sepultado no cemitério de Castelo de Vide, na presença de três ex-Presidentes da República - António de Spínola, Costa Gomes e Ramalho Eanes - e de Mário Soares, chefe de Estado em funções, uma homenagem inequívoca ao maior exemplo de coragem e valentia da revolução dos Cravos. * Técnica Superior de Comunicação Câmara Municipal de Santarém pifidalgo@gmail.com PUB http://store.oscalabitano.com

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ODE A SALGUEIRO MAIA POEMA DE MARIA DA GRAÇA MORGADINHO

Fotografia cedida por Natércia Maia

Tu, herói tranquilo, Que numa madrugada de Abril, Nos libertaste, Foste o arauto De um povo insatisfeito. E, com honra e coragem, Interpretaste, Sem corrupções E sem ardil, o que de mais puro vibrava, Em nosso peito. Tu, cavaleiro da esperança, Renovaste a magia, Ilusões mil. E, cumprido o dever, Regressaste, Naquela tarde única, Primaveril. E o povo rendido, com amor, Soltos os corações, Em homenagem, Aclamou-te com palmas, Cravos e canções, Enaltecendo teu valor, Tua coragem.

A alegria era, então, Um cravo rubro A arder, Sob um sol que passava, Por aqui, Onde tudo estava A acontecer. Um sol a rodos, Num Abril que era teu, Que era meu, Que era de todos. Que era um rio a transbordar, Um rio de pontes, Uma praia de rasgados Horizontes. E nessas portas, Que, naquele dia, Abriste para nós, De par em par, De um Abril, Feito com o povo E para o Povo, Entrámos quase todos, Desejosos, De poder construir Um país novo, De poder prosseguir, Participar. E tu, que desafiaste a Morte, Ali estavas, Vendo tudo. Puro, sereno e impoluto,


Sem hipocrisia e sem vaidade, Trazendo, Nas tuas mãos, A Liberdade. Falaste de Igualdade E de Verdade, De Justiça e de Paz, Acalmando a pública Ansiedade. Passaram anos. O Destino cruel não quis Que visses O construir do sonho, Inacabado. Levou-te de nós, para que Dormisses, no doce repouso Dos heróis, Já conquistado. A pátria ficou mais pobre, Pois poucos, muito poucos, Foram como tu: Puro, fiel, perfeito E indomado. Os deuses chamam sempre, Muito cedo, Aqueles que amam. E tu, herói sem medo, Que desafiaste Vida e Morte, Pela Liberdade Que deste aos filhos teus, Encontrarás, No regaço de Deus, O repouso eterno Que mereceste. Nós nunca te esqueceremos! E, nestes dias, Aqui vimos, Dizer-te da nossa saudade.

Da nostalgia, De seguirmos mais sós Nossa jornada, E da vontade Que há de prosseguir, Na senda E no caminho Da Verdade. Sabemos quais eram Teus desígnios E as coisas que mais Abominavas. E hoje, Desencantados, Com o rumo que as coisas Vão levando, Neste ponto, E aqui chegados, Vamos perguntando, Meu herói de Abril, inconformado, Se seria este o Abril Com que sonhavas. Mas também vimos Hoje, aqui, amigo, Dizer-te, reafirmar, Com alma e com fervor, Com as certezas Que sempre tiveste E nós tivemos Que, se um dia, o torpor De alguns Assim justificar, Estaremos contigo, Seja onde for, Aqui, ou em outros cais, Dispostos a lutar Por ti, pelos teus ideais. Para, com o povo, E para o povo, Fazer florir, deste Abril, Um Abril novo.


Feira Nacional de Agricultura HISTORIAL O ano de 1964 marca o nascimento da Feira Nacional de Agricultura. Do âmbito regional que até então o tinha caracterizado, o evento passa a denominar-se, por despacho ministerial, Feira Nacional de Agricultura, sem contudo abandonar a designação de Feira do Ribatejo. O Ministério de Economia equipara-a à Feira Internacional de Lisboa (FIL), em termos de importância, e atribuiu ao evento ribatejano um subsídio de valor igual ao distribuído à FIL. Ergue-se então a Casa do Campino e para valorizar o conjunto, foram ainda construídos os pavilhões da Agricultura e do Artesanato. Em 1965, a Feira Nacional de Agricultura atinge verdadeira dimensão internacional com as presenças de representações da França, Brasil, Alemanha e Estados Unidos da América.

CNEMA – Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas, S.A *

Nos anos seguintes, a par da crescente internacionalização do certame, a preocupação com os aspectos técnicos da agricultura ganhava maior relevo, realidade atestada pelo número de palestras e conferências realizadas. Em 1976, a Comissão Executiva da Feira vê o seu trabalho dificultado pelas mais diversas razões. O clima político da altura causa instabilidade no tecido empresarial e algumas das empresas habitualmente presentes, nem conseguem ter maquinaria para expor. As edições posteriores da Feira são cada vez mais orientadas para os aspectos técnicos da Agricultura e a entrada de Portugal na C.E.E., mas a crescente ocupação da área disponível começa a tornar-se exígua para as pretensões dos expositores.

No início da década de 80, o então Presidente da Câmara de Santarém, Ladislau Teles Botas, afirma que “a Câmara está empenhada em mudar o local da feira, pois é visível o seu estrangulamento”. Para esse fim, adquirem-se alguns terrenos na Quinta das Cegonhas que possibilitam a realização de algumas provas e exposição de máquinas agrícolas. A adesão de Portugal à C.E.E, em 1986, é marcante para a Feira Nacional de Agricultura cujas actividades se centram na importância da assinatura do tratado. Ainda neste âmbito, a feira serve de palco ao Congresso do Conselho Europeu dos Jovens Agricultores.

CNEMA Apesar da nítida evolução do certame, acentuavam-se as insuficiências do Campo Emílio Infante da Câmara para a desejável expansão da feira. Assim, em 1989 é assinada a constituição da sociedade CNEMA – Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas, S.A., que dá vida ao actual Centro Nacional de Exposições Em 1994 dá-se a mudança para as actuais instalações. Moderno, funcional e polivalente, o Centro Nacional de Exposições trouxe mais valias à Feira, não só para os expositores – que passaram a dispor de condições ideais para mostrarem e promoverem os seus produtos – mas também para os visitantes, cujo número tem crescido ano após ano, graças aos espaços e facilidades que aqui passaram a dispor. * geral@cnema.pt www.cnema.pt

Fotografia de Osvaldo Cipriano



Divagações sobre o Tejo O caso dos Colheitas Tardias

Fotografia de Osvaldo Cipriano

Tomaz Vieira da Cruz*

É costume dizer, em termos vitícolas, que Portugal é um mundo de castas, e os outros países usam as castas do mundo.

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É costume dizer, em termos vitícolas, que Portugal é um mundo de castas, e os outros países usam as castas do mundo

Focando-nos já no Tejo como região vitivinícola, podemos dizer que o Tejo é simplesmente um mundo. Não só em castas, como em solos. É talvez a região mais versátil e multifacetada do país. Por um lado é das poucas regiões do país que consegue apresentar qualidade e quantidade ao mesmo tempo. E como tem um clima normalmente sereno na fase de colheitas, é raro chover antes da vindima acabar, podemos mesmo afirmar que é a única que consegue apresentar qualidade e quantidade de uma forma constante e consistente. Tudo isto faz com que tenha os vinhos com a melhor qualidade/preço do país. Por outro lado, e a par desta realidade, podemos encontrar no Tejo nichos de mercado abarcando todos os estilos de vinho que se pode imaginar. E um olhar atento e perspicaz encontra no Tejo pequenos enclaves com solos iguais aos das mais conceituadas regiões vínicas do mundo. Não são imitações, nem o pretendem ser, são vinhos com uma identidade própria, reflectindo um terroir específico e inimitável, alguns deles ainda com tudo por explorar. Os melhores tintos, por exemplo, virão daí, e os melhores solos até ainda estarão por plantar.


O Tejo é uma região de brancos, e daqui saem dos melhores brancos de Portugal. Com mais ou menos Fernão Pires, mas quase sempre incontornável, esta casta é como a região onde resplandece melhor: versátil e multifacetada. Vinhos leves, vinhos gordos, com barrica, sem barrica, macerados, de bica aberta, para beber jovem, para guardar, espumantes, espumosos, licorosos abafados ou naturais ( já lá vamos), base de aguardente ou de vinagre... tudo o que conjuga vinho pode ser elaborado com Fernão Pires, e tudo de grande qualidade. Até o Arrobe, ou Uvada, doce feito com uva esmagada, alcança a excelência quando feito com Fernão Pires. O Tejo é uma região de brancos. E de tintos também. Há bons tintos no Tejo. Mas enquanto a maior parte dos brancos espelham os terroirs do Tejo, a maior parte dos tintos espelham um perfil internacional. Nada de errado, antes pelo contrário. O que se passa é que por um lado nos tintos a influência da quantidade da produção no reflexo do terroir

Fotografia de Osvaldo Cipriano Início do ciclo vitícola anual, casta Fernão Pires, meados de Março. Daqui até à colheita, em finais de Outubro, será percorrido um grande caminho.

é maior que nos brancos. E por outro, as castas tradicionais da região, mais o tipo de solos e o clima, levam a que o vinho precise de tempo para se mostrar. E tempo (em todos os sentidos da palavra) é coisa que ninguém tem hoje em dia. Além de que o perfil que melhor mostra o terroir do Tejo em termos de tintos não estará muito na moda. Por isso o Tejo faz muito bem em apostar nos tintos em bons vinhos de perfil internacional. Não quer dizer que não se possam encontrar grandes tintos que exprimem o terroir. Claro que pode. É longínqua a fama dos tintos de Tomar e do Cartaxo. A fama, e o proveito. E os tais enclaves de solos e declives, e microclimas. E o tempo... e o “tempo”...

começa a ser tempo de ir à procura das preciosidades que a região apresenta, muitas ainda por descobrir, não só pelo consumidor, mas também pelo produtor. Há muitos diamantes por polir no Tejo.

Um dos diamantes que já se vai polindo, e voltamos a falar de vinhos brancos, é o dos Colheitas Tardias, os chamados vinhos licorosos naturais. Não é uma moda do Tejo, nem apenas portuguesa. Há vários tipos de colheita tardia. O comum a todas é a concentração do bago da uva em açúcares e componentes aromáticas, através da perda da água do mesmo. E a perda da água do bago dá-se por duas formas: por desidratação, e por congelação. O clima português não dá para A ideia de que no Tejo a margem direita é para fazer por congelação, a não ser artificial, mas tintos e a esquerda para brancos, não é falsa, assim já não seria por definição um colheita mas é redutora, como acabámos de ver. tardia. Resta-nos a desidratação. Esta pode ser de várias formas: uvas penduradas Depois de consolidada a imagem de bom e num sítio seco e ventoso; espalhadas em barato (que nada tem de depreciativo, talvez tabuleiros forrados com palha para secarem apenas de inveja por parte de outras regiões), ao sol; deixadas na vinha a desidratar pelo sol

Fotografia de Tomaz Vieira da Cruz

Fotografia de Tomaz Vieira da Cruz

Cacho de uva sã, por alturas da vindima dita “normal” e cacho com podridão nobre, quase pronto a vindimar, desidratado e concentrado em todos os componentes do bago.

e colhidas quase em passa; e desidratados pelo fungo da podridão nobre. Na podridão nobre, o fungo aloja-se na película da uva, sem a quebrar nem tocar na polpa, e a partir da película (casca da uva) absorve a água do interior, desidratando-a, e concentrando os açúcares e os aromas do bago de forma brutal. Para isto acontecer, é preciso um clima específico que se traduz em neblinas matinais, seguidas de tardes limpas e secas. Esta conjugação é a ideal para a propagação do fungo da podridão nobre, mas não acontece todos os anos. As zonas mais quentes do país, Tejo incluído, podem fazer com regularidade colheitas tardias por desidratação solar. E muito bem. E até podem ter podridão nobre de quando em vez. Mas a região onde a podridão nobre aparece com mais regularidade e de forma natural, é num pequeno enclave do Tejo. É no campo de Salvaterra de Magos que a podridão nobre aparenta desenvolver-se com mais facilidade e nobreza. Terminada a vindima dita “normal”, pelos 10 de Setembro, as neblinas matinais são frequentes e rotineiras, chamando o Outono. Mas o Verão teima em não ir embora e chega sempre entre as 11h da manhã e as 14h da tarde. A isto está ligada a proximidade do rio, e a planície muito ligeiramente inclinada que favorece a dissipação rápida da neblina assim que o sol e um pouco de vento apertam. santaremdigital | 17


Há ainda outras grandes similitudes entre esta zona e a zona de vinhos de podridão nobre mais famosa do mundo: um grande rio (o Tejo) e outro mais pequeno (a vala real de Salvaterra de Magos) que nele desagua, estão perto. E a distância pelo grande rio à grande cidade é de 50 kms e ao mar de mais outros 30km. Por pudor não revelamos o nome da outra região, mas isto quererá dizer alguma fermentam 5-6 e depois são amuados com coisa. aguardente ficando com um grau final de 18Em termos enológicos, um vinho de colheita 20, os vinhos de colheita tardia são vindimados tardia faz-se exactamente ao contrário de com cerca de 20 , fermentam entre 12-14, um branco normal. É pela hora do calor que se param a fermentação naturalmente ou com deve vindimar, para a uva não vir com orvalho a ajuda de frio e sulfuroso, e o resto fica por que lhe baixe o grau; a oxidação é o menor desdobrar, dando-lhe a doçura e licorosidade, dos problemas; o melhor mosto é o de prensa, que o fazem chamar-lhe vinho licoroso natural. onde está a maior concentração; a clarificação Mais ou menos doces, são vinhos estruturados do mosto é mínima, por difícil. mas elegantes, com aromas distintos e Em termos comparativos, também se pode vibrantes, de boa acidez, untuosos, quase dizer que enquanto para fazer uma garrafa gordurosos, e normalmente de grande (750ml) de vinho é preciso 1 kg de uvas, para longevidade. um vinho de colheita tardia são necessários 6-9 kgs. Isto, mais o risco de não ter o clima Gastronomicamente falando, é outro tema propício, que só se sabe a posteriori se ocorreu bem interessante. São considerados vinhos de ou não, justificam parte do valor mais elevado sobremesa, e os por desidratação solar sãono realmente. que estes vinhos alcançam. A grande diferença (de feitura) para os outros licorosos é que enquanto uns são vindimados com um grau provável normal de 12-14,

bem pensada, para que os diferentes níveis de doçura e de acidez não briguem demasiado entre si. De resto, vai bem com quase tudo. E mesmo com pratos que levem vinagre ou coisas cítricas, e que são difíceis de ligar com vinho, como escabeches, fricassés, saladas, picantes, gelados, o colheita tardia é um parceiro excelente. E para acompanhar conservas então, é extraordinário! Lá fora é também um vinho para o foie-gras.

Por cá, se apanhar a jeito umas boas iscas com elas, não deixe de experimentar com este Mas um Colheita Tardia de podridão nobre, estilo de vinho. Do Tejo. pode acompanhar uma refeição do princípio * ao fim, sem qualquer dificuldade, excepto na Enólogo do Colheita Tardia do Tejo Areias Gordas sobremesa! A sobremesa tem de ser muito Este texto, escrito a simpático convite da CVR Tejo, apenas responsabiliza o autor terralarga@hotmail.com

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PÃO DE LÓ DE RIO MAIOR Preparação

ingredientes

Pré-aquecer o forno a 220-230ºC.

4 ovos inteiros

Forre uma forma (26 cm) com papel vegetal untado com manteiga e polvilhado com farinha.

8 gemas 150g de açúcar

Bater os 4 ovos inteiros e o açúcar durante 5 a 10 minutos, até obter um creme fofo.

75g de farinha

Juntar as gemas batidas ao preparado mais 5 minutos. Adicionar a farinha peneirada e envolver com uma colher de pau, sem bater. Verter a massa na forma e levar ao forno 7 minutos. Retirar a forma do forno e deixar arrefecer. Quando estiver bem frio, pode retira-lo da forma com o papel vegetal e seguidamente com a ajuda de uma espátula retirá-lo do papel vegetal. Aguarde algumas horas até servir, assim o bolo ficará mais delicioso.

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Fotografia de Osvaldo Cipriano


A ANIMAÇÃO FOLCLÓRICA DA FEIRA DO RIBATEJO E FEIRA NACIONAL DE AGRICULTURA -1964

a Feira... rapidamente passou a ser também um forte centro regional de atividades de carácter recreativo-cultural oriundas de um ribatejanismo que tinha aqui lugar para se expressar em todo o seu esplendor.

Humberto Nelson Ferrão*

Em anteriores escritos evidenciámos as feiras e exposições que ocorreram nas primeiras décadas do séc. XX e que vieram a estruturar o panorama das Feiras da região, institucionalizadas na Feira do Ribatejo (1954), que se transmutou a uma nova escala com a Feira Nacional de Agricultura (1964), assinalando agora a sua 50ª edição.

de produtos da Agricultura e da Indústria nacionais, mas também internacional, ela rapidamente passou a ser também um forte centro regional de atividades de carácter recreativo-cultural oriundas de um ribatejanismo que tinha aqui lugar para se expressar em todo o seu esplendor. Fruto do seu contacto com as variadas terras do Ribatejo, devido à sua profissão, o engenheiro agrónomo Celestino Graça (com uma equipa bastante dedicada, onde se destaca um seu braço-direito, João Gomes Moreira) foi o grande impulsionador dos aspectos recreativos com que tinha de animar os longos tempos livres da Feira, para além do aspecto exposicional.

E para levar a cabo esta empresa, desde a primeira hora, a Feira do Ribatejo contou com a determinação e a ação do regente agrícola Celestino Pedro Louro da Silva Graça que, a partir da sua 2ª edição, passou a ser o seu Secretário e homem-forte, só abandonando esta posição de coordenador e responsável máximo com a demissão de toda a Comissão Executiva, em Outubro de 1974, no seguimento de contraditórias lutas políticas Aqui convém não esquecer que C. Graça é internas, emergentes da situação criada no equivalente a Feira do Ribatejo e foi no primeiro ano desta (1954) que ele viu o Rancho pós-25 de Abril desse ano. Folclórico “Os Campinos” da Azinhaga (Golegã), Para além do aspecto principalmente servindo-lhe de estímulo para avançar para económico em que a Feira se constituía outros horizontes da representação a partir como um local de compra, venda e exposição das três sub-regiões do Ribatejo, ou seja, com


venha conhecer

a Região de Santarém NOVA VERSÃO DISPONIVEL

APLICAÇÃO PARA iPHONE Venha descobrir onde ficar, comer e sair no distrito de Santarém. Conheça-o através da nossa galeria de imagens e conheça os monumentos mais importantes da região. Esteja atualizado hora a hora com as notícias do distrito. Fotografia de Osvaldo Cipriano

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o poder de que estava investido como alma mater do certame, ele passa a defender que o Bairro, a Lezíria e a Charneca devem ter os seus próprios representantes distintos uns dos outros, encetando dentro das suas possibilidades, quer a fundação direta de ranchos, quer a sua capacidade de influenciar os amigos e conhecidos, estimulando-os a criarem e a dirigirem ranchos folclóricos locais que, entretanto, foram proliferando. Mas, ao mesmo tempo, para além desta subdivisão regional, ele concretiza outro dos seus pensamentos:

criar em Santarém um grupo que, mercê das condições específicas (estar no centro), pudesse demarcá-la toda 1 [à Província do Ribatejo]

Esta intenção tem objectivos deliberados e mais vastos que se prendem com a possibilidade da própria Feira ter garantida a oferta de produtos de animação cultural que lhe permitissem a atratividade das gentes de dentro e de fora da região e que ela passasse a ser o “palco das grandes lides folclóricas de 2 Portugal ”.

vicissitudes várias, muda o nome para Grupo Infantil de Danças Regionais, ao passo que desdobra ainda um segundo agrupamento, este constituído por jovens estudantes adolescentes, denominado por Grupo Académico de Danças Ribatejanas, cuja 1ª exibição se dá em 1957 ou 1958 (em 1958, 3 já coexistem os 2 grupos).

estatal. Ocorre de 7 a 21 de Junho de 1964, com uma série de alterações: passa a ter um âmbito nacional e é dedicada a atenção a um país da Europa e aos seus aspetos agrícolas – a França é o país estrangeiro a estar representado no certame, enquanto o Brasil foi a primeira representação estrangeira no ano anterior.

Neste sentido, Graça começou por fundar um grupo de folclore de pescadores avieiros (1954/5), em Benfica do Ribatejo (Almeirim), devido à sua grande ligação profissional com estes “nómadas do rio” Tejo. Além deste, e por ser originário dum lugar da zona do Bairro, nos arredores da cidade, por esta altura, criou o Rancho Folclórico de Graínho e Fontainhas (Maio 1956 – 1ª exibição pública). Imbuído deste espírito e para beneficiar da centralidade da capital de Província, aposta num grupo de âmbito regional, a partir do centro, ao fundar também o Grupo Infantil Scalabitano (Maio 1956 – 1ª exibição pública); este grupo de crianças estava a ser organizado em colaboração com uma associação da cidade (o Círculo Cultural Scalabitano), mas, de repente, C. Graça transferiu os ensaios destas crianças para o espaço da sua garagem, noutra zona de Santarém. Passados alguns meses, por

Para além destes, ele entusiasmou a criação de novos de grupos de folclore ou incentivouos com a facilidade de um conselho, de uma ajuda, como nos casos de Almeirim, Vale de Santarém, Azambuja, Cartaxo, Torres Novas, Riachos, Salvaterra de Magos, Aveiras de Cima, até 1960...

Neste primeiro dia de Feira, havia também uma grande novidade regional que teve como intérpretes alguns empreendedores scalabitanos, mobilizados para construir uma nova Praça de Toiros (acima dos 13000 lugares), pertença da Santa Casa da Misericórdia, no local atual, por troca de terrenos com a CMS e que, mais tarde, veio a chamar-se “Praça de Toiros Celestino Graça”. Sendo um processo começado em 1954, na provedoria do Eng. Agr. António Manuel de Passos de Sousa Canavarro, em 1960, foi constituída uma Comissão para a construção da Praça, sendo o projeto de arquitetura e acompanhamento do Arq. Pedro Cid, com a supervisão na obra do Eng. António Quintas, integrado recentemente na Comissão.

Todos estes e outros ranchos passaram pela Feira do Ribatejo e foram criados também com esse objectivo: servir de cartaz de animação no maior certame regional, pretendendo-se o ressurgimento de quase um rancho por concelho do Distrito, nos primeiros anos da Feira do Ribatejo... e que, em 1964, se tornou também em Feira Nacional de Agricultura...

Neste ano, a Feira de Santarém tem um novo figurino e é equiparada às Feiras Internacionais Com a presença do Presidente da República, da altura para efeitos de apoio económico o espectáculo de inauguração, esgotado,

1 Barreiros, A. Souto, “Celestino Graça e o Povo”, in In Memoriam de Celestino Graça (1914-1975), Santarém, 1978 (à 7ª página do artigo). Estas ideias também foram confirmadas, em 23/1/99, por Bertino Coelho Martins, músico que acompanhou Celestino Graça no levantamento de algumas melodias da região, nos anos 1950/60. 2 Id,, Ibid., (à 11ª página do artigo). 3 Moreira, João, “Os 25 anos do Festival Internacional de Folclore”, in Festival Internacional de Folclore - Bodas de Prata - Retrospectiva, edição Feira Nacional de Agricultura/Feira do Ribatejo, Santarém, 1983. Informações várias também recolhidas em entrevista feita em 24/1/99. Lembro que este inexcedível “braço direito” de C. Graça era o outro lado da moeda na organização deste Festival Internacional. Ver também Barbosa, Luísa Teixeira, Feira Nacional de Agricultura/ Feira do Ribatejo - Retrospectiva - 1954/1988, Edição da Feira Nacional de Agricultura/ Feira do Ribatejo, Santarém, 1988, p.19; e Barreiros, cit. 1 (páginas 6 a 9 do artigo).

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foi uma Tourada de Gala à Antiga Portuguesa, com 8 cavaleiros de várias gerações e com 2 grupos de forcados, antecedido por um cortejo evocativo... Outras modificações aconteceram: de forma mais visível, a construção dos pavilhões da Agricultura e o do Artesanato, em alvenaria, instalados até há poucos anos, e a ligação das duas “mangas em forma oval”; menos visíveis, as questões organizativas, cuja Comissão Organizadora passou a ter apenas os cargos de Presidente, Secretário-geral e Vogais, para além das diversas Comissões de realização das atividades que ocorriam a cada ano. Com esta nova estrutura organizativa, para além dos aspetos de recreação que continuam, as orientações foram mais no sentido de maior ênfase aos temas técnicos da agricultura (em colóquios e conferências) e um dos enfoques assentou no vinho, com a realização do II Concurso de Prova de Vinhos Nacionais e o Desfile do Cortejo Alegórico do Vinho. Neste primeiro ano de âmbito nacional manteve-se o Festival Internacional de Folclore, que refrescava o ambiente cultural com outros usos e costumes estrangeiros – Bélgica, Espanha e França – misturados com os do Minho, Douro, Beiras Baixa e Litoral, Alentejo, Algarve e Ribatejo. Mas, o aspeto marcante, negativamente, na edição deste ano, foi o incêndio (15/6/) que fez arder o Pavilhão dos Cavalos, depois de ter começado e consumido toda a cozinha da Casa do Campino, cujos prejuízos foram avultados para a época. Apesar desta situação fatídica, a Feira continuou tentando cumprir aquilo que havia sido programado e a garantir as expetativas que tinham sido geradas para esta nova etapa na sua dimensão nacional e internacional... * Sociólogo tsbnel@gmail.com

Fotografia cedida pela Câmara Municipal de Santarém

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GALERIA

SALINAS DE RIO MAIOR Fotografias de Fátima Meireles As Salinas de Rio Maior são um fenómeno natural que o Homem soube explorar e transformar em local único. Entre serras e inserido em área protegida, onde o comércio de sal, artesanato e gastronomia se apresentam em casas típicas de madeira, antigos armazéns de sal, esperando por si. Fica o convite.

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JUNCAL SABONETE VEGETAL DE AZEITE Nem só para usos culinários se utiliza o azeite. Uma outra aplicação onde este nobre produto pode ser utilizado com resultados surpreendentes é no fabrico de sabonete vegetal. É o que acontece na empresa Fio Dourado, Lda., em Comeiras de Baixo, especializada na produção de azeites, e que há já alguns anos comercializa este sabonete fabricado a partir do seu melhor azeite virgem extra. A principal diferença entre este sabonete e os demais existentes no mercado é de facto esta gordura base que lhe dá origem, o que lhe confere à partida uma qualidade excepcional. As suas principais características são um aroma muito agradável, uma grande suavidade e uma boa durabilidade. Como produto natural que é, é especialmente apropriado para peles secas, sensíveis, ou sujeitas a alergias. Quinta do Juncal geral@azeitequintadojuncal.com

Fotografia cedida pela Quinta do Juncal

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ALZULEIQUE Breve história do azulejo Parte II (Séc. XVI/XVIII)

Guiomar Fragoso*

Os azulejos de padrão hispano-mouriscos da primeira metade do séc. XVI, caracterizados pela decoração geométrica ou vegetalista não abundam em Santarém, todavia interessantes exemplares são conservados na Reserva do Museu Municipal. Da segunda metade deste século, e igualmente na Reserva do Museu, existe um mostrador-relógio maneirista, originariamente colocado na torre da Igreja de N. Sra. da Graça, representado o sol ao centro e, nos cantos, quatro figuras de querubins simbolizando os ventos; a composição possui uma cercadura em azul, amarelo e manganês. A produção da primeira metade do séc. XVII foi dominada pela criação de azulejo de padrão, o qual atingiu na Igreja de Santa Maria de Marvila o seu expoente máximo, que lhe valeu o título de “catedral do azulejo seiscentista”. Este templo recebeu um revestimento de mais de 65.000 peças que forram 1200 m2 de superfície. Aqui, duas épocas e dois gostos se reconhecem: a primeira, datada entre 1617 e 1620 e uma segunda, entre 1635 e 1639. É ilustrada a primeira através de azulejos enxaquetados ou de caixilho, azuis e brancos, que revestem as três capelas da cabeceira e as paredes sobre os arcos da mesma. Através de meios simples, este tipo de ornamentação produz um forte impacte visual: a colocação oblíqua de azulejos brancos separados entre si por estreitas

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tarjetas azuis permite a formação de ritmos que contrastam com as linhas horizontais e verticais da arquitectura. A forma cuidada como estes azulejos se integram na preexistência arquitectónica, acompanhando as linhas dos arcos ou emoldurando a lápide e a pedra de armas existentes no absidíolo direito, é admirável. A segunda campanha é revelada através do revestimento das naves laterais com motivos geométricos “padrão”, em azul e amarelo. Emoldurados por uma combinação de ricas cercaduras, justificam em pleno o nome de “tapetes” por que são conhecidos. A completar o revestimento da igreja, entre as arcarias das naves, painéis de brutesco figuram emblemas marianos inseridos em cartela a qual, por sua vez, inclui legendas emolduradas. Na primeira metade do séc. XVIII o azulejo figurativo, de pintura a azul sobre fundo branco, domina por completo a produção; nas primeiras décadas, grandes Mestres da pintura a óleo “assinam” obras, frequentemente com carácter monumental, nas quais permanece a procura de perfeita integração arquitectónica. A Igreja de Nossa Senhora da Conceição/Seminário, é detentora de um importante núcleo setecentista, constituído ao longo de sucessivas campanhas formando, no seu conjunto, um património elucidativo do papel desempenhado por esta arte decorativa na época. Tendo início nas escadas que ligam a portaria ao primeiro andar, corre um silhar de azulejos com painéis de


temática profana: caçadas, paisagens campestres e portuárias, nas quais personagens variados figuram em coches, liteiras, galeotas e bergantins. Na Igreja de Nossa Senhora da Graça, na capela lateral, um painel de excelente traço em azul e branco, alusivo a Santa Rita, é um exemplar característico do período da nossa azulejaria comummente designado por “Grande Produção Joanina”. Este painel é o que resta, no local, de um conjunto de cerca de 90000 azulejos que, outrora, forraram as paredes do templo. Na segunda metade do século predominam as cenas profanas, agora emolduradas por ornatos rococó e neoclássicos, mas também se multiplicam os painéis religiosos: na Rua Mendes Pedroso, na fachada do nº 11, encontra-se um registo barroco, representativo deste período, figurando N. Sra. da Conceição. Em simultâneo, foi continuada a produção de azulejos de padrão, um pouco esquecida durante a primeira metade do século, mas que após o terramoto de 1755 se revitaliza, tendo em vista o revestimento dos edifícios reconstruidos e que prenunciaram o azulejo utilitário largamente difundido no século seguinte. * Técnica de Turismo

Fotografia de Osvaldo Cipriano Fotografia de Osvaldo Cipriano

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MODO DE HABITAR

Contemporâneo vs Centro Histórico de Santarém João Oliveira*

P

odemos afirmar que, nos últimos 40 anos, se assistiu a maiores avanços de componentes tecnológicos, que alteraram os nossos hábitos e formas de interagir com o espaço, do que em toda a história da humanidade. Verificamos que a tendência aponta para que estes avanços se processem cada vez mais rapidamente e numa diversidade de áreas cada vez maiores. SALA DE ESTAR (ANTES DE 1950)

Até há umas décadas atrás, “habitação” era o nome dado ao lugar onde o ser humano vivia. Atualmente, já não é só assim. Desde sempre o conceito “habitação” era o lugar próprio de um indivíduo, onde este tinha a sua privacidade e, fundamentalmente, dormia. Os próprios modelos modernos da habitação como máquina de habitar (do arquitecto Le Corbusier) há muito que foram ultrapassados. Se os hábitos mudaram e se os modos de vida são diferentes, logo, as nossas casas, como reflexo de nós próprios, terão de mudar também. Cada vez mais, o habitante contemporâneo procura a qualidade para o seu lar na flexibilidade, na versatilidade e no conforto que a arquitetura tem para lhe oferecer. Atualmente, é possível estar em todo o lado e em simultâneo, e isso consegue-se a partir de qualquer lugar. Também a habitação, agora, serve para tudo: lazer, repouso e trabalho.

SALA DE ESTAR (1950-1990)

SALA DE ESTAR (SÉC. XXI)

Os próprios edifícios podem ser vistos e eventualmente vividos de qualquer lugar, com o auxílio de um qualquer meio tecnológico, permitindo a perceção dos espaços sem que para isso haja a necessidade de deslocação física. Toda a hierarquia espacial do fogo se alterou, pondo em causa o desenvolvimento tradicional das relações familiares, pois o centro da habitação encontra-se agora nas áreas privadas e de refúgio de cada um, onde, de um momento para o outro, se torna possível desenvolver atividades, sem que para isso haja lugar a uma deslocação física. Por exemplo, a sala perdeu o seu papel de liderança hierárquica em virtude da generalização do número de aparelhos tecnológicos, anteriormente centrados no coração da habitação e hoje disponíveis em todos os locais do fogo.

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Podemos afirmar que o acesso à tecnologia abre portas a um hipotético aumento da qualidade de vida, no entanto, pode não ser bem assim, podendo gerar situações com consequências inevitáveis no relacionamento social e familiar, mas isso é outro assunto. Deste modo, a existência desta realidade, onde Homem e máquina se fundem num só, torna necessário repensar o modo de olhar a sociedade e o indivíduo. É preciso perceber e valorizar que existe uma relação entre a arquitetura e o Homem e entender que, como dizia o arquiteto Oscar Niemeyer, “não é a arquitetura que vai mudar a vida, a vida é que pode mudar a arquitetura”.

Fonte da fotografia http://bdml.stanford.edu

Percebendo isto, torna-se fácil compreender que não são as pessoas que têm de mudar para ir viver para o Centro Histórico de Santarém (CH), não são estas que têm de se adaptar ao CH, mas sim o contrário. É importante também perceber que o CH possui edificações que o caracterizam como tal e, se essas edificações forem demolidas, dando lugar a novas, deixa de haver CH. Santarém possui uma grande vantagem competitiva em relação a outras

cidades ao possuir o maior CH do país. A maioria dos edifícios existentes no CH, cerca de 64%, tem mais de 60 anos, e cerca de 43% foram construídos antes de 1919. A maioria dos edifícios destina-se a habitação, várias centenas encontram-se devolutos e não têm sido alvo de manutenção. Ao caminharmos pelo CH, verificamos que existem mesmo vários imóveis em risco de derrocada. Há estacionamento para os visitantes que recorrem ao comércio existente, mas vai deixar de haver comércio se não houver moradores e não há moradores sem aparcamento, nem há moradores disponíveis para pagar rendas iguais às da periferia, quando, na periferia, existem melhores condições de habitabilidade.

Fotografia de Osvaldo Cipriano

A forma de revitalizar o CH é trazer poderá ser, previsivelmente, elaborado nos novamente moradores a habita-lo e o resto próximos 4 anos. surgirá como consequência. Com a criação das duas Áreas de Essa requalificação está sobretudo Reabilitação Urbana para o CH, que dependente da iniciativa privada, mas em proporcionarão benefícios fiscais articulação com a autarquia. associados, poderá existir uma gestão adequada à especificidade do lugar, no A questão da classificação do CH, que tem respeito pelas suas memórias e que vindo a ser apontada como um entrave auxilie os proprietários nas áreas técnicoà requalificação, deixará de o ser, com a burocratas, proporcionando uma maior elaboração de um plano de pormenor, que celeridade na apreciação dos processos.

Mais do que reabilitar é necessário requalificar as habitações do CH e adaptá-las à realidade atual. É necessário acabar com a degradação do edificado e transformar a tal máquina de habitar numa extensão do próprio Homem. Só assim se poderão atrair moradores e acabar com a sua desertificação. * Arquiteto joao.oliveira@santaremdigital.pt

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GUITARRA PARA TODOS

João Pando*

No número anterior da revista, apresentei o conceito de escala. Apresentei também a estrutura de uma escala maior. Continuando com o estudo das escalas, hoje vou falar-vos das escalas menores. Comecemos então pela escala menor natural. A figura seguinte apresenta a estrutura da escala menor natural de Dó. mi

T Dó

MI

Escala Natural de Dó Menor

III

S

T

Ré Mib V

T Fá

S Sol Láb

T

T Sib

VII As tónicas estão assinaladas a amarelo. A configuração é igual para qualquer escala menor natural. Exemplo: escala de Dó menor natural na guitarra ( a tónica será assinalada pelo círculo)

T s

T T s T T

Dó Ré Mib Fá Sol Láb Sib Dó Além da escala Menor Natural, existem outras duas escalas menores, com fortes raízes históricas: escala Harmónica Menor e escala Melódica Menor. Relativamente a estas duas escalas, falarei no próximo número da revista. Todas as escalas são subconjuntos da escala cromática (12 notas com a oitava). A escala menor natural aparece no sexto grau de uma escala maior. Por exemplo, a escala maior de Dó (Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si), contém no seu sexto grau a escala menor natural de Lá. Esta é chamada de relativa menor da escala de Dó Maior. Tem exatamente as mesmas notas que a escala de Dó mas…começa no Lá (Lá, Si, Dó, Ré, Mi, Fá, Sol). E se eu lhe perguntar qual a relativa menor de Sol Maior, saberá responder? Se pensou em escala menor natural de Mi, acertou.

Exercício 5 O exercício nº 5 aqui apresentado destina-se ao fortalecimento dos dedos da mão esquerda (no caso dos destros). Deverá ser executado com alternate picking (palheta para baixo e para cima alternadamente, como indica a figura). Deve ter em conta que se começar a sentir alguma dor nos músculos do antebraço, deve parar cerca de 30 segundos, relaxar os músculos e recomeçar. Lembre-se sempre que tocar não tem de ser doloroso. Boa prática e até ao próximo número.

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* joao.pando@santaremdigital.pt


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liderança * Pedro Caetano

Numa Equipa (assim mesmo, com maiúscula) pretende-se atingir um objectivo comum. Algo que de forma consciente – tantas vezes apelando ao subconsciente - se define previamente face a um desafio que se avizinha. Se uns são traçados com larga antecedência, traduzindo um planeamento e investimento antecipados, outros (tantas vezes) vão sendo pensados e corrigidos ao sabor dos resultados que vão ocorrendo. Ganhar títulos, vencer mais vezes, bater recordes, chegar mais além, evoluir, crescer, competir… a realidade encarregar-se-á de colocar as ambições de cada Equipa à devida escala. Nos momentos altos é fácil e natural “cavalgar a onda” do sucesso. É o mais natural. Mas as grandes Equipas e, sobretudo, os grandes Homens, surgem nos outros momentos. Aqueles em que pouco sai bem. Em que por mais que se lute e “reme contra a maré” a adversidade está sempre presente. Ao longo de uma carreira desportiva, de uma época, às vezes até de um simples evento é inevitável que existam aqueles momentos que ninguém deseja: os momentos maus, em que tudo se questiona e em que o mais fácil

é abandonar o desafio que se tem pela frente. Essas são as alturas em que emergem aqueles que mais se destacam num Grupo – os Líderes. Sorte das Equipas que têm um verdadeiro Líder. Aquele que através da sua percepção, talento, capacidades naturais, exemplo de carácter e conduta conseguem orientar a equipa, ajudando-a a atravessar os períodos de maior tormenta. Nos seus ombros carrega um todo e muitas vezes um Ideal. Sorte das Equipas que podem rever-se em alguém que nunca abandona o Grupo, indicando a melhor direcção a seguir. Sorte das equipas que encontram no seu seio alguém com a capacidade inata de motivar e de fazer acreditar. Sorte das Equipas que têm entre si um verdadeiro Líder…

Nos últimos 3 anos tive a sorte de trabalhar com um Amigo que por agora passa um momento difícil. A vida pregou-lhe um daqueles sustos terríveis que tudo coloca em causa e destrói. Nestes momentos difíceis e de tanta dor lembro-me da sua amizade incondicional, dos seus bons conselhos, da sua humildade, da sua sensatez, da sua nobreza de espírito e de actos, da sua lealdade, do seu conforto nos momentos menos positivos, das conversas intermináveis, do Amor à Equipa, da sua Liderança – tão discreta mas tão presente. O Joaquim Gomes é uma dessas pessoas. Um verdadeiro Líder. Sorte da Equipa que o tiver do seu lado. Aqui. Ou noutro lado qualquer… * pedrocaetano@portugalmail.pt

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Fotografia cedida pelos Andycode

Quem são os Andycode? Qual a razão do nome?

Qual a vossa música favorita? Porquê?

Andycode é uma banda que cruza o rock alternativo e o post rock com a música electrónica.

Não existe unanimidade quanto a musica favorita no entanto posso dizer-te que do primeiro álbum talvez a música que nos dê mais gozo tocar seja o “Through the Rearview Mirror”, que no álbum até é um tema que passa despercebido.

Quais as vossas influências musicais? Muitas mesmo. Todos nós vimos de caminhos sonoros diferentes e é o eclectismo resultante desta simbiose que faz de Andycode aquilo que é. Desde o indie, ao jazz, passando pelo breakbeat, drum & base, trip-hop, step até ao electro, techno minimal, ambiente e experimental. É este elo que nos une. Um misto de estilos e sonoridade aparentemente antagónicos.

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Ficámos conhecidos com o “The Glare” mas não é de todo um tema que eu te possa dizer que caracterize assim de um modo geral o nosso som até porque foi o primeiro tema que gravei ainda nem sequer pensava em Andycode como banda. Os temas mais recentes, e que iremos mostrar em primeira mão no concerto de apresentação já este dia 6 de Abril no CCB, (enquadrado no Festival Belém Art-Fest) caracterizam melhor a sonoridade que procuramos neste momento.


Jovens Talentos

Andycode

Como é a relação da banda com os fãs? Recebemos várias mensagens de fãs que aos poucos e poucos nos vão descobrindo. Em Portugal temos vindo gradualmente a captar alguma atenção mas é do reino unido, norte da europa e estados unidos que cada vez mais nos chegam mensagens de fans curiosos por nos ouvir ao vivo.

Onde os leitores podem comprar os CDs e produtos da banda? Actualmente apenas temos o primeiro álbum disponível on-line (iTunes e Amazon) mas em breve contamos lançar o álbum em registo físico.

Quais os novos projetos dos Andycode? Algum CD ou Vídeo em mente? Existem muitas malhas na gaveta e ideias soltas no ar para um novo video mas ultimamente temos estado mais focados na dinâmica da banda ao vivo e nos processos técnicos que implicam um banda desta natureza. Posso dizer que estive praticamente 2 anos só a desenhar o setup deste projecto. Experimentação pós experimentação, tentativa, falha e erro, de volta ao inicio, nova experimentação, etc.. Foi árduo mas o resultado compensou todas as horas de sono perdidas. andycodemusic@gmail.com www.andycode.net

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RIBATEJANOS pelo mundo N

uno Mendes dos Santos é um jovem escalabitano que tem andado emigrado quase um terço dos seus já 30 anos, mesmo que no seu íntimo ainda não o admita. Formou-se em Ciências Políticas e Relações Internacionais, posteriormente em Economia Política Global e agora, enquanto espera uma oportunidade para retomar o seu projeto de doutoramento, aproveita para descobrir o mundo ao volante da expansão da empresa italiana de sistemas de conversão para autogás onde trabalha... em Istambul.

O que o levou a emigrar? Apesar de estar cada vez mais consciente do meu estatuto de emigrante, continuo, desde a minha partida, a entender esta questão de uma forma diferente: não é tanto o que me levou a emigrar, mas muito mais o que me levou a sair de Portugal. E, nesse sentido, o que me levou a sair de Portugal foi aquele “bichinho” que te diz, que te vai dizendo, que o mundo é demasiado grande, distinto, diferente para correr o risco de ficar restrito a uma só visão do mesmo e, simultaneamente, demasiado pequeno, com todas as vantagens que a nossa era dispões sobre as demais, para correr o risco de não ver o que há do outro lado. Em traços gerais, esta seria a minha melhor resposta para a pergunta acima. Por outro lado, em traços mais particulares, nem sei bem onde verdadeiramente nasceu esta vontade. Se nas histórias do meu bisavô sobre os “longínquos” países da Europa, se nos livros que desde cedo me polvilharam o imaginário, se nas primeiras, curtas,

viagens em representação da minha escola e universidade, se nas histórias dos meus amigos que entretanto se haviam dedicado a magnas aventuras de inter-rail ou algo similar, se na minha primeira longa estada em Florença, por altura do meu Erasmus, se na oportunidade que tive de desfrutar de grande parte à boleia... ou, finalmente, quando regresso a casa. Em todos os regressos. É talvez no regresso a casa, àquela que ainda hoje considero a minha casa, essa bela Santarém, quase sempre parada no tempo, com o Tejo a seus pés, que eu talvez mais me sinta a gosto e que, paradoxalmente, talvez mais sinta a vontade de reembarcar nalguma aventura para algum outro desconhecido recanto do mundo. É uma dicotomia não tão simples de explicar.

Porque escolheu este país? Antes de mais, é importante referir que atualmente resido na belíssima cidade de Istambul, na Turquia. Mais propriamente, no vibrante bairro de Besiktas (em Português pronunciar-se-ia Bé-chic-tá-che), onde quase tudo está sempre em movimento, em alvoroço, com o Bósforo. Ora, porquê a Turquia? Tentando contextualizar historicamente a minha chegada a Istambul, há cerca de 8 meses atrás, é digno de nota o facto de nos últimos 10 anos, precisamente 10 anos desde a minha primeira longa estada em Itália, nunca ter estado mais de ano e meio num mesmo local. Fosse esse em Portugal, ou Espanha, ou Alemanha, ou Brasil, ou Argentina, ou Tailândia... nunca mais de ano e meio, e mesmo sem contar com as viagens que sempre ia fazendo. E se resisti tanto tempo em determinado pouso, incluindo em Portugal, terá sempre sido pelas extraordinárias amizades que fui desenvolvendo. Na realidade, esse é também o ponto negativo de qualquer partida, as amizades que se deixam sempre suspensas num que-se-quer-não-tão-longo “até breve”, os tormentos envoltos nas saudades que se nutrem por alguém que antes não era, ou por alguém que sempre o foi. Reconheço ter-me desviado um pouco da questão... e porquê a Turquia? A escolha da Turquia surge num momento algo delicado. Depois da experiência na Tailândia, que infelizmente não pôde ser prolongada como antes havíamos suposto, e da firme resolução de não regressar à Alemanha, excepto para férias (e só na Primavera ou no Verão!), eu e a minha namorada, de nacionalidade Turca, deparámo-nos com a necessidade de escolher um local em que se nos oferecessem perspectivas de um futuro com, pelo menos, alguma viabilidade. A minha namorada, de nome Seda (em Português pronunciar-se-ia Sé-dá), na verdade, queria muito ficar em Portugal e está sempre a falar em como seria interessante vivermos à beira do Atlântico algum dia. Aliás, o que ela não queria mesmo era voltar ( já) para a Turquia. Porém, considerando diversas questões, desde a progressão das economias europeias em geral, e da portuguesa em


particular, cedo excluímos essa hipótese. A nossa ideia passava por residir pelo menos algum tempo, nalgum país em desenvolvimento, que pudesse fazer uso da nossa formação académica e experiência profissional, e no qual não tivéssemos um grande imbróglio a tratar da burocracia relacionada com o regime de vistos. Ora, e não o digo sem alguma graça, foi precisamente devido a este último ponto que a nossa escolha recaiu sobre a Turquia.

Como tem sido a sua experiência no estrangeiro? A minha experiência no estrangeiro tem sido, a todos os títulos, extremamente enriquecedora. Sobretudo, pelas pessoas diferentes que tive a oportunidade de conhecer. Não posso sequer expressar devidamente o quanto haver contactado com tanta gente, com tanta tão boa gente, influiu na minha forma de ser. Queria deixar aqui uma nota para todos aqueles, mesmo aqueles que nem sequer percebem uma só palavra da língua de Camões e Pessoa, que de alguma forma partilharam momentos desta experiência contínua que sou eu, pois todos eles foram e têm sido marcantes. Outrossim, além dos indivíduos que nos marcam, é importante nunca esquecer as diferentes culturas que nos moldam. A começar pela nossa, claro. Certamente, o desenvolvimento de uma consciência cabal do que é a nossa cultura passará indispensavelmente por termos outras referências. Outros mundos, outros modos de ver o mundo. Outras línguas, outras gastronomias. E em cada singular caso, um novo desafio, uma nova aventura, e uma outra, e tudo recomeça. Como dizia o Sérgio Godinho, “a princípio é simples, anda-se sozinho” por entre rostos e ruas desconhecidos e vive-se “o primeiro dia do resto da tua vida”. E algum dia aqueles rostos e aquelas ruas serão já parte de ti. E algum outro dia lhes dirás adeus. E o desafio reerguer-se-á. Creio ter perdido a conta a todos estes recomeçares. Creio ter também perdido a conta a todas estas despedidas. Ressalvo, no entanto, quão impressionante é este sentimento de ter um desafio só nosso. Adaptamonos e readaptamo-nos. Conhecemos novas gentes, aprendemos novas línguas e travamos novos paladares. Percorremos o mundo. Vemos, por vezes, o que poderíamos apelidar do “nosso” mundo espelhado nalgum recanto do globo, como reflexo da ousadia que outrora, por circunstâncias e visões várias, as nossas Descobertas patentearam. Outras, muitas mais, vezes, deparamo-nos com algo que an-

tes não haveríamos nem imaginado, nem nos livros que lemos, e é aí que se expandem os nossos horizontes. É aí que nos libertamos um pouco, ainda que apenas um pouco, das amarras da nossa genética e do nosso ambiente. Somos um pouco mais nós e menos o produto das nossas circunstâncias. Indubitavelmente, a minha experiência no estrangeiro tem sido talvez o melhor investimento pessoal que haja alguma vez feito e, mantendo o discurso económico, dele têm derivado os maiores retornos que poderia almejar. Sobretudo, e mais que tudo, a minha Seda.

Sente que em Portugal não teria as mesmas condições de vida e oportunidades de sucesso? Em boa verdade, as condições de vida e as oportunidades de sucesso em Portugal desde há uma longo tempo entraram numa espiral negativa, cuja inversão não ocorrerá sem dificuldade. E sem o transcorrer de um longo tempo. Tive a oportunidade, enquanto estava na Argentina, de desenvolver vários estudos, e apresentar diversos artigos, sobre o caso dos países periféricos da Zona Euro e a sua intrínseca similaridade com a crise vivida naquele país entre final do século XX e o início do século XXI. Estou certo que todos se recordarão de alguma forma, das notícias sobre a Argentina, do caos do “curralito” ou até de partes do filme “Las Nueve Reinas”. O que não tantos terão notado é a forma como a economia argentina, sob o áuspice da convertibilidade peso-dólar, primeiro conseguiu de facto controlar as vertigens inflacionários de que sofria, para depois, durante toda a década de 90, se tornar totalmente dependente dos fluxos de capital, enquanto todos os restantes sectores produtivos eram paulatinamente esvaziados. E tudo sobre a égide de uma elite, ou de umas elites, que podiam, e cada vez com maior frequência, passar as suas férias no estrangeiro, sobretudo na Europa. Até que, colocando em termos mais simples, tudo rebentou. “Tudo” entendido como a pressão da divergência do câmbio real entre o peso argentino e o dólar americano. No caso Português, a circunstância é diferente, não temos uma moeda com taxa de câmbio fixa, mas, sim, partilhamos uma mesma moeda. Como tal, a política monetária é dirigida não por nós, mas pelas entidades comunitárias, nomeadamente, a partir de Frankfurt, pelo Banco Central Europeu, e tendo as potências centrais e a sua política de controlo da inflação, sobretudo a Alemanha, como barómetro. Existe, por outro lado, uma soberania relativa em


termos de política fiscal e económica, e, mormente, continua a prevalecer a estrutura do estado-nação, o que nos apercebemos facilmente com todo o desenvolvimento da crise e dos “spreads” cobrados ao estado português. Ora, de uma forma simplificada, tal como no caso argentino, a tendência a que se assistiu desde o advento do Euro revela uma grande pressão da divergência do câmbio real entre o microeuro português e o micro-euro “centro-europeu” ou o alemão, enquanto a nossa economia, por vicissitudes várias e necessariamente diferentes das argentinas, também se esvaziou. Uma pressão que se vinha desenvolvendo desde 2000, tornada pública em diversos estudos, por exemplo da Comissão Europeia, e que após a crise financeira internacional e o começo das dúvidas na Grécia, acabou por também rebentar. Rebentou, não conjunturalmente, mas estruturalmente. Todo este introito para arguir que esta questão sobre as condições de vida e oportunidades de sucesso em Portugal passará sempre e indelevelmente sobre a solução para esta crise estrutural. Crise da nossa economia e crise da nossa sociedade. Para ser mais concreto na resposta, posso apresentar o meu percurso desde que cheguei à Turquia. A Turquia, depois de ter também atravessado um período de crise financeira no início do século, tem conseguido continuamente obter taxas de crescimento impressionantes. Ademais, se considerarmos apenas Istambul, estas taxas de crescimento chegam a números verdadeiramente alucinantes. Assiste-se a um crescimento de tudo, dos inves-

timentos, dos empregos, dos salários mínimos e médios, dos edifícios... talvez apenas a componente social não tenha ainda acompanhado o salto que a Turquia, e sobretudo Istambul que conta já com 16 milhões de habitantes, tem dado nos últimos tempos. No meu caso, e devido ao adiamento do meu projeto de doutoramento talvez para o próximo ano, ao fim de 3 semanas, estava já a trabalhar numa empresa multinacional, dedicada sistemas de conversão de para autogás. Depois dos primeiros meses, fui promovido a executivo de Marketing e Vendas, tendo como responsabilidade os mercados emergentes. Entretanto, tenho recebido também outros vários convites que tenho declinado. Simultaneamente, a Seda começou a trabalhar numa reputadíssima organização internacional e também ela teve vários convites. A minha contra-pergunta é: se tivéssemos ficado em Portugal, em apenas 8 meses, estaríamos agora na mesma positiva situação?

Já equacionou voltar para Portugal? Porquê? Em boa verdade, todos os anos equaciono voltar e volto... para celebrar a quadra natalícia ou passar


férias. Brincadeiras à parte, mesmo que eu não quisesse, e quero, Portugal faz sempre parte de mim. Não se pode apagar a história, a nossa história. E para onde quer que eu vá, esta portugalidade vem comigo. Agora, voltar a Portugal numa versão definitiva, sinceramente nunca foi uma ideia que me seduzisse. A Seda seguramente ficaria encantada, mas eu ficaria sempre com uma sensação de vazio. Aquela sensação de que há algo mais por ver, algo mais por descobrir. Não que não haja algo novo por descobrir no nosso Portugal, sempre e felizmente o haverá, porém, tudo se enquadra numa moldura conhecida, onde tudo se encaixa, onde tudo se compreende perfeitamente. Em Portugal não tenho de me esforçar para compreender as nossas idiossincrasia, não tenho de me esforçar para compreender as mais subtis vicissitudes da nossa língua, ou quase qualquer outro detalhe. Mas haveria sempre de me faltar algo. Contudo, o que não me faltaria seria a possibilidade de estar perto de todos aqueles que sempre me estão próximos. Será talvez esse o único ponto que me faça por vezes duvidar da minha descrição de Portugal como “somente” um óptimo destino de férias. A minha família, os meus amigos. Mesmo passando, por vezes, meses sem receberem um contacto da minha parte, fazem sempre parte do meu espírito. Onde quer que esteja, por onde quer que passe. E também por isso faço questão de passar por Portugal, pelo menos, uma vez por ano, para matar essas saudades. Dito isto, e apesar do meu contentamento na Turquia, da minha sintonia com o boémio e vivo bairro de Besiktas, com as minhas novas responsabilidades que implicam diversas viagens semanais, quem sabe o que o futuro nos reserva? Quem sabe onde se desenrolarão novas aventuras?

De que mais sente saudades de Portugal? Correndo o risco de soar a cliché, e de repetir o exposto na resposta anterior, as minhas maiores saudades de Portugal centram-se precisamente na minha família e nos meus amigos. É normal, creio. Todos aqueles que de uma forma ou de outra estão marcados na minha história e cuja falta se me assalta

todos os dias. Todos aqueles que contribuíram para que manhã de sábado, eu estivesse precisamente aqui à janela, ao sol de inverno de Besiktas, de portátil em punho, a responder ao desafio de um meus mais antigos amigos, a quem conheço quase desde o berço. Se há algo que me faz falta é passar tempo com “a minha gente”, a debater “o estado a que isto chegou”, como diria o grande capitão Salgueiro Maia, a discutir o mundo, a discorrermos sobre futebol e outras artes, a traçar planos de viagens futuras enquanto regamos um belo bacalhau com um vinho ribatejano ou alentejano, a brincar com as crianças entretanto nascidas, ou simplesmente a interrogar os caminhos a vida que se nos apresentará. Talvez, considerando todos esses cenários, mais que saudades de Portugal, sinto saudades em Portugal. Sinto saudades do Portugal onde se acreditava, como bem o espelha o preâmbulo da constituição de 1976, na construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno. O que sinto, na minha passagem anual por Portugal, é a infeliz confirmação das notícias que me traz o vento que passa, a confirmação de que ano após ano, a nossa geração, a geração dos nossos pais ou a dos pais dos nossos pais, gerações que sonharam com Abril, se desiludem com o rumo dos eventos e também à sua maneira sofrem com saudades de um Portugal que já não é. Sinto em Portugal saudades de um tempo em que se sonhava, em que se esperava, em que se acreditava, em que se resistia. “Mesmo na noite mais triste em tempo de servidão”, dizia Manuel Alegre. Sinto saudades do meu Portugal alegre. E quanto a este Portugal, ao meu Portugal, dele ecoam constante e incessantemente as minhas gentes, a minha história, a minha língua, os meus livros, os meus sonhos e memórias, as minhas comidas, as minhas bebidas, os meus doces, as minhas serenas areias sob as vagas do Atlântico, o meu sol constante, e, talvez exibindo a minha faceta mais emigrante, as camisolas berrantes do meu Benfica. Um sentidíssimo abraço.

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