Revista Santarém Digital #4

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2013 ● JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO (TRIMESTRAL) ● NÚMERO 04 ● ANO II ● GRATUITO

U M

D I S T R I T O

C O M

VENHA CONHECER A

H I S T Ó R I A

FESTA DE NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM

FESTAS DE

S. José de Santarém

RIBATEJANOS pelo mundo

JOVENS talentos do distrito


editorial 2013. Entrámos em 2013…parece uma data de ficção científica, não é? Os mais “antigos” devem lembrar-se da série televisiva “Espaço 1999” e do filme “2001 Odisseia no Espaço”…onde isso já vai! E estamos agora em 2013. Mais um ano que passou, e bem depressa quanto a mim, mas é assim a vida e a rotação dos tempos e não há volta a dar… adiante! O ano de 2012 foi complicado com o agravar da crise, do desemprego, da instabilidade social…ouvimos repetidamente dizer que 2013 vai ser pior…será? Teremos que esperar para ver e não entrar em desespero! Mas…temos mesmo que repensar a nossa forma de viver, de gastar, de desperdiçar. Temos mesmo que reaprender os afectos essenciais, temos que relativizar e pensar naquilo que é importante, naquilo que nos une e não no que nos separa. Os tempos estão difíceis para todos, há de facto uma sensação de instabilidade que passa por todos, até pelas nossas crianças e é uma pena, realmente…mas é inevitável! O Mundo não acabou a 21 de Dezembro de 2012 (felizmente, digo eu!!) mas estamo-nos a afastar cada vez mais dos valores fundamentais da humanidade e essa é também uma forma de “acabar” lentamente, espero que não irreversivelmente! Com tanta incerteza no futuro, no nosso desempenho enquanto País, temos que pensar nos valores que queremos incutir nos nossos filhos, no gosto por aquilo que é “nosso”, as nossas tradições, aquilo que nos une e distingue enquanto Povo. Neste primeiro número de 2013, a Santarém Digital fala-nos da tradição, da nossa identidade regional, nos seus temas principais: as Festas da Nossa Senhora da Boa Viagem em Constância e as Festas de São José em Santarém. Mantendo os olhos postos no Futuro não percamos o orgulho na Tradição e desse modo ganhemos coragem para acreditar que as coisas vão correr pelo melhor e que vamos conseguir ultrapassar mais esta fase difícil dos nossos tempos. Janeiro, Fevereiro e Março são meses de recomeço, de reflexão, de disposição. Temos que manter a esperança e acreditar que, como sempre, a Primavera virá em Março e outro ciclo terá início. E nós cá estaremos, prontos a enfrentar um novo ano, preparados para o que “der e vier”, sem nunca esquecer que temos um Passado em conjunto, que nos une para o Futuro.

Editora

Cristina Mendes Ferreira

santaremdigital U M

D I S T R I T O

C O M

H I S T Ó R I A

Proprietário e Diretor Osvaldo Cipriano osvaldocipriano@santaremdigital.pt

Editora Cristina Mendes Ferreira cmf@santaremdigital.pt

Departamento Web / Gráfico O Scalabitano contact@oscalabitano.com

Departamento de Marketing Fátima Meireles marketing@santaremdigital.pt

Departamento de Fotografia Osvaldo Cipriano osvaldocipriano@santaremdigital.pt

Colaboradores António Matias Coelho, Graça Morgadinho, Guiomar Fragoso, Humberto Nelson Ferrão, João Oliveira, João Pando, Luís Bastos, Paula Fidalgo, Pedro Caetano, Teresa Batista Entrevistas Pedro Torneiro Vulture Fotografia da Capa Câmara Municipal de Constância

Publicidade e feedback: Apartado 38, 2001-901 Santarém Telefone: (351) 934 700 579 Email: revista@santaremdigital.pt Online: www.santaremdigital.com

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FESTA DE NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM

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A REGIÃO VITIVINÍCOLA DO TEJO

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FESTAS DE SÃO JOSÉ, ALMA DOS SCALABITANOS

26

REABILITAÇÃO URBANA

10

CELEBRAÇÕES NACIONAIS, EVENTOS REGIONAIS

28

GUITARRA PARA TODOS

13

IRMANDADE DOS ROMEIROS DE S. JOSÉ

29

O RENASCER DA UNIÃO DE SANTARÉM

14

GASTRONOMIA

30

JOVENS TALENTOS

17

RECEITAS REGIONAIS

32

RIBATEJANOS PELO MUNDO

Uma Ementa Proverbial

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AL-ZULEIQUE

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20

GALERIA

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Breve história do azulejo iSantarém

Áreas de Reabilitação Urbana

Com Vulture

Com Pedro Torneiro

EVENTOS

PASSATEMPO Odisseias

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Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem

A GRANDE FESTA DO TEJO

Nascida das águas dos rios e da devoção dos marítimos de Constância, a Festa da Senhora da Boa Viagem é uma das mais antigas e mais significativas festividades religiosas e culturais do Vale do Tejo. Sabendo adaptar-se às mudanças do tempo e da vida, transformando-se e integrando as vivências e os gostos de diferentes épocas, a Festa chegou ao nosso tempo com a dignidade e a pujança que lhe dão o respeito pela sua essência e a vitalidade das gerações atuais. Passado e presente, tradição e modernidade, fé e folgança, tudo harmoniosamente se conjuga nesta grande Festa do Tejo.

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Fotografia cedida pela C창mara Municipal de Const창ncia


Fotografia cedida pela Câmara Municipal de Constância - Constância nos tempos do transporte fluvial

O tempo dos marítimos Começou por ser, no século XVIII, uma festa de marítimos. Estrategicamente situada no lugar onde o Zêzere se encontra com o Tejo, Punhete, como então Constância se chamava, vivia nesse tempo, em boa parte, das atividades económicas que os rios proporcionavam: a pesca, claro, mas também o comércio, a construção e a reparação navais e, sobretudo, o transporte fluvial, por ser pelos rios, e em especial pelo Tejo, que na época se fazia o trânsito de mercadorias. Era muito diferente o Tejo desse tempo: não havendo ainda barragens, a água corria livremente, sendo bastante mais do que é hoje – o que facilitava a navegação – mas tornandose excessiva em períodos invernosos ou de longas chuvadas – o que tornava mais difícil e perigosa a vida dos marítimos. Foi por causa desses perigos, que nem sempre 6 | santaremdigital

o saber ou a força dos homens eram capazes de evitar ou de vencer, que os marítimos de Punhete se entregaram à proteção da Mãe do Céu, confiando que ela os protegeria nas horas mais difíceis e lhes asseguraria sempre boa viagem. A primeira referência documental conhecida à devoção à Senhora da Boa Viagem em Constância data de 1788, quando a rainha D. Maria I, a pedido dos marítimos da vila, lhes concede autorização para que construam, a expensas suas, na maior igreja da vila, que é agora matriz, um altar para nele colocarem a imagem da sua devoção. O altar é o segundo do lado do evangelho, isto é, do lado esquerdo de quem entra no magnífico templo. A imagem, com o seu lindíssimo manto azul e uma embarcação aos pés, é a mesma que continua a sair em procissão, na segundafeira de Páscoa de cada ano, para abençoar os

homens, os barcos e, mais recentemente, as viaturas também. Sendo uma classe socioprofissional numerosa, viajada, detentora de algum poder económico para os padrões de então e de um estatuto social de relevo na pequena comunidade da vila, os marítimos empenharam muito do seu esforço, do seu entusiasmo e do seu dinheiro na organização dessas primeiras festas em honra da sua protetora. Durante quase dois séculos, sem uma única falha que se saiba, sempre os festeiros trataram do que era preciso fazer para que a festa se realizasse. Numa época de profunda vivência religiosa, os marítimos respeitavam à risca os preceitos da Igreja Católica que determinavam que todos se confessassem e comungassem pela Páscoa, a maior festa do calendário litúrgico. E assim, todos os anos, a meio da Semana Santa, os


homens do mar vinham aportando a Constância para cumprirem o mais apetecido ritual: viverem a festa pascal, reverem a família e os amigos e, na segunda-feira, fazerem a Festa a Nossa Senhora da Boa Viagem. Sempre assim foi enquanto houve marítimos e, para além dos de Constância, muitos outros aqui chegavam nesse dia especial, vindos dos demais portos do Tejo, para celebrar a amizade, agradecer à Senhora e receber a bênção que lhes assegurasse a proteção do Céu para o novo ciclo de trabalho. Para os da terra, a folga prolongava-se até ao dia seguinte, chamado Terça-feira de Praia, em que os marítimos realizavam um almoço de confraternização com as famílias nas areias do Zêzere, durante o qual a bandeira azul da Boa Viagem era entregue ao festeiro do próximo ano, garantindo a continuidade da tradição.

Os anos difíceis Entretanto o mundo mudou, o Tejo mudou, a vida mudou. A chegada do comboio, na segunda metade do século XIX, e sobretudo a das camionetas de carga, a meio do século XX, aliadas à construção das barragens que reduziram os caudais e tornaram a navegação impossível, foram ditando a transferência do transporte de mercadorias do rio para o caminho-de-ferro e para a estrada e os barcos deixaram de se fazer à água. Os marítimos tiveram de mudar de vida e uma vez, em Terça-feira de Praia, ninguém pegou na bandeira azul da Boa Viagem. Tinha chegado ao fim uma época marcante da história do Tejo e da vida de Constância.

Fotografia cedida pela Câmara Municipal de Constância - Procissão nos anos 60

Em consequência, a Festa decaiu e só não acabou porque a Paróquia, procurando manter a tradição, assegurou a realização da procissão, apenas com umas quantas pessoas da vila e com cada vez menos barcos nos rios a receberem a bênção.

A Festa do nosso tempo A meio dos anos 80, o município resolveu intervir, criando as Festas do Concelho que abrangem todo o período festivo da Páscoa e a Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem. Os festejos ganharam novo fôlego, com a criação de inúmeras atividades novas, como as ruas floridas, as tasquinhas, as mostras de artesanato e de atividades económicas, o desporto, o folclore e os grandes espetáculos musicais e pirotécnicos que trouxeram novos motivos de interesse e atraíram novos públicos.

Fotografia cedida pela Câmara Municipal de Constância - Bênção dos Barcos na atualidade

Retomando a tradição de outrora de os marítimos convidarem os amigos de outros portos para se associarem à Festa, a Câmara Municipal

passou a convidar os municípios ribeirinhos, juntas de freguesia, unidades militares, corpos de bombeiros, grupos de escuteiros, associações e coletividades que se foram juntando à Festa, contribuindo para a sua renovação e o seu crescimento. E deste modo, de apenas três barcos que receberam a bênção em 1990, passou-se para os mais de meia centena que a vêm receber agora. E de umas dezenas de pessoas que acompanhavam a procissão passou-se para as muitas dezenas de milhar que, de todo o lado, acorrem a Constância em cada Páscoa. Nossa Senhora da Boa Viagem transformou-se, assim, numa das maiores e mais conhecidas festividades cíclicas do nosso país e, honrando a memória dos marítimos de outros tempos, voltou a ser, como outrora, a grande Festa do Tejo. António Matias Coelho www.cm-constancia.pt

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FESTAS DE SÃO JOSÉ, A ALMA DOS SCALABITANOS

Em Março, a cidade de Santarém, recebe as Festas de São José que recriam em toda a sua plenitude a festa do Ribatejo, exaltando alguns dos seus ícones, como a festa brava e o ambiente tipicamente ribatejano. Durante vários dias, a velha Scallabis, terra de romarias e de tradições, celebra a cidade, o concelho e os valores das nossas gentes.

“ Paula Fidalgo*

Fotografia cedida pela Câmara Municipal de Santarém

Fotografia cedida pela Câmara Municipal de Santarém

Fotografia cedida pela Câmara Municipal de Santarém

CA cidade de Santarém sempre foi terra de romarias. Já em 1302, ano da I feira anual de Santarém, a velha Scallabis, vestia-se de gala para acolher os forasteiros que aqui acorriam, no reinado de D. Dinis que tomava sob sua proteção “[...] Todos aqueles que vierem a esta feira não paguem a mim, na dita vila de Santarém, a portagem que eu pudesse haver daquilo que à feira trouxerem, durante os dois meses que a feira durar.” Esporadicamente voltaram a realizar-se feiras idênticas.

esburacada e poeirenta Calçada da Junqueira. Pelo caminho, faziam uma paragem quase obrigatória na Fonte da Junqueira. Quatro bicas jorravam um precioso líquido que os dessedentava. Também os animais de carga acompanhados pelos seus donos aproveitavam para retemperar forças para continuar a caminhada até à romaria.

Chegados às Ómnias, as famílias assentavam arraiais há “borda do Tejo”. Limpavam o terreno, construíam fornalhas e estendiam Volvidos alguns séculos, as romarias voltaram alvas toalhas. a ganhar expressão, principalmente na década de quarenta e cinquenta. Eram muitos, os As sopas substanciais (legumes e hortaliças) scalabitanos, e não só, que não faltavam à não eram dispensadas pois “aconchegavam o romaria, nas Ómnias, em honra de São José, estômago”. Santo Patrono dos Artífices, por ocasião do dia 19 de Março, Feriado Municipal no concelho de Depois, como era “festa”, lá vinha o peixe Santarém (desde 1977). assado (sardinha e bacalhau) a que se juntava a fataça ou a enguia adquiridos aos Logo pelo fresco da manhã, várias famílias, pescadores das Caneiras. Tudo regado com o algumas bem numerosas, partiam a pé, de vinho da taberna. “farnel” na mão rumo à romaria da quinta de São José (Ómnias), sempre pela estreita, Num ambiente descontraído, aqui passavam o


dia. Comiam, confraternizavam, declamavam, dançavam, jogavam e ouviam os sons da Banda dos Bombeiros. Um ou outro entusiasta aproveitava o tempo para pescar ou para passear num dos barcos dos pescadores das Caneiras. O programa contemplava também banhos na “ praia dos tesos”. Mas, o banho era só para os homens e para os rapazes feitos. As crianças e as mulheres só podiam molhar-se até aos joelhos. Outras épocas! Ao cair da tarde, arrumavam a “trouxa” e regressavam ao bairro: “Agora, não se ia para a “festa” mas vinha-se da “festa”! O mundo sofreu várias catástrofes e triunfos, que o transformaram e moldaram aos tempos climatéricas” decidiu transferir as atividades modernos, e anos depois, Santarém volta a ser de caráter popular que habitualmente marco no que diz respeito a feiras e romarias. decorriam nas Ómnias (18 e 19 de Março) para o Jardim da República. Até 1999, as Ómnias foram palco dos festejos comemorativos do dia 19 de Março. No entanto, as romarias às Ómnias foramTodavia, em 2000, as festas da cidade foram se esvanecendo-se perdendo, assim, o seu comemoradas aquando dos 500 anos da significado mais profundo. Descoberta do Brasil, que tiveram lugar no dia 9 de Março. As festividades decorreram junto Em 2006, o executivo da autarquia scalabitana, à Igreja da Graça e Casa do Brasil, chão de duas resolveu retomar a secular tradição da romaria pátrias. à quinta de São José. Nesse mesmo ano, as Ómnias, na aldeia de Caneiras, celebraram com A partir desse ano, as celebrações das pompa e circunstância, a cidade, o concelho e festas do Município (2001) passaram a os valores tradicionais do seu povo. realizar-se no planalto (8 a 21 de Março). Na O sucesso do evento foi de tal ordem que, em altura, a autarquia devido “às más condições 2007, a cidade de Santarém voltou novamente

Fotografia cedida pela Câmara Municipal de Santarém

a vestir as cores da campina para comemorar as Festas do Município, em torno das datas da Reconquista Cristã de Santarém – 15 de Março e 19 de Março - Feriado Municipal. Desta vez, não apenas nas Ómnias, mas também no Campo Emílio Infante da Câmara. A I Grande Feira de Santarém Capital do Ribatejo, hoje conhecida por Festas de São José, que convocaram o passado com o presente, o sagrado com o profano duraram vários dias. Os campinos, os cavalos, os touros, o artesanato, a romaria e o folclore deram um colorido especial à festa que tiveram como objetivo relembrar os grandes momentos de outrora da festa ribatejana. Esta primeira grande feira foi a prova clara do apogeu e do potencial do evento, que apesar das inovações nunca esqueceu as tradições, tendo o touro, o cavalo e o campino como principais atores. Seis anos depois, as Festas de São José, através de esforços conjugados, extravasaram fronteiras, atingiram elevada notoriedade e são o espelho da cultura das nossas gentes, ou seja, de todos os scalabitanos. * Técnica Superior de Comunicação Câmara Municipal de Santarém pifidalgo@gmail.com

Fotografia cedida pela Câmara Municipal de Santarém santaremdigital | 9


CELEBRAÇÕES NACIONAIS, EVENTOS REGIONAIS: A (RE) CONSTRUÇÃO DO RIBATEJO * Humberto Nelson Ferrão

Durante os anos 30 começa a assistir-se a um conjunto de manifestações de índole nacional e regional destinadas a mostrar as potencialidades e capacidades de realização local, como também para mostrar e estimular o “regionalismo nacional”. Um pouco por todo o lado vão-se realizando eventos que convocavam um conjunto de valores do ressurgimento folclórico e etnográfico que estimulam e privilegiam a unidade e coesão nacionais a partir dos sentimentos de pertença a uma terra, a um lugar, por mais ínfimo e distante do centro que seja. Esta mesma lógica está presente ao longo dos 10 | santaremdigital

anos seguintes, em termos regionais, com a oportunidade e a necessidade cada vez maior de evidenciar aquilo que se faz intramuros na região, mostrando aos outros as suas virtudes e potencialidades, afirmando-se pelos elementos distintivos que a constituem, especialmente nas vertentes económica e etnográfica. Deliberadamente passa-se do Distrito de Santarém à Província do Ribatejo. Vejamos, depois do I Congresso Ribatejano (1923), dos “ensaios” da Exposição Regionalista (1923) e Exposição Concelhia de Santarém (1926), a Exposição-Feira Distrital de Santarém (1936) foi um marco e

uma forma nova (montra) de apresentar as Feiras regionais, que desencadeou uma série de sinergias no Distrito, excedendo todas as expectativas ao ser visitada por mais de 395000 pessoas e reclamando ver prorrogada a sua duração inicialmente prevista. Assiste-se, nesta altura, a grandes entusiasmos empreendedores de afirmação local e regional, pois o Código Administrativo (31/12/1936, decreto lei que criou as províncias) era a materialização dos desejos e dos apelos daqueles que pugnavam pela divisão regional do país. A partir do ano seguinte assiste-se a um maior incremento


Fotografia cedida pela Câmara Municipal de Santarém

de iniciativas de expressão nacional e de envolvência regional que apontam para uma regularidade temporal da afirmação dos valores mais tradicionais, dentro da política de ressurgimento folclórico do país, a “Política do Espírito”. Na região, a Exposição-Feira Distrital de Santarém (1936) - que Salazar inesperadamente visitou no último dia e que tinha sido inaugurada pelo Presidente da República – foi tida como um grande marco de visibilidade nacional e foi a grande mostra das capacidades e valores folclóricos do Distrito ou do Ribatejo, continuando este “dar

a conhecer-se” no Grande Cortejo Folclórico, em Lisboa (1937); na Exposição-Feira do Cartaxo (1937); no Concurso da Aldeia mais Portuguesa, através da participação e seleção para uma fase final das freguesias do Pego (Abrantes) e da Azinhaga (Golegã) (1938) ; nas Comemorações dos Centenários da Fundação (1140) e da Restauração de 3 Portugal (1640), com um momento alto na apresentação da Exposição do Mundo Português (1940); nas Festas do Barrete Verde e das Salinas (Alcochete - 1941); nas Festas do Colete Encarnado (V. F. de Xira 1932); na Festa do Campino (Coruche – 1945); nas seculares Festas dos Tabuleiros (Tomar),

Feiras de S. Martinho (Golegã) e de Todosos-Santos (Cartaxo), para além de outras iniciativas que decorreram sem carácter de regularidade, em articulação com a Junta de Província do Ribatejo. Curiosamente, dentre estas, em plena II Guerra Mundial, constata-se a realização da Exposição-Parada Agrícolo-Pecuária de Santarém e da Parada Folclórica e Cortejo do Trabalho (1940), integradas nas Festas Provinciais do Ribatejo, que continuaram o “efeito de montra regional”, precedendo tematicamente a Expo-Feira de Pecuária (1946) e um outro grande momento santaremdigital | 11


de reflexão e envolvência dos líderes e pensadores desta zona nas diversas sessões do II Congresso Ribatejano (1947), organizado pela Casa do Ribatejo (1943, Lisboa), agora sob uma nova e legitimada condição administrativa, finalmente: a Província do à sua institucionalização anual e ao seu Ribatejo (31/12/1936). redimensionamento, a partir de 1963 - com um âmbito nacional - posicionando-se, assim, Sob a batuta da Junta de Província do como a charneira das Feiras portuguesas a Ribatejo, toda a década de 40 assistiu ao nível Internacional: Feira do Ribatejo (1954) desenvolvimento de eventos, ainda que e Feira Nacional de Agricultura (a partir de pontuais, mas que foram impondo uma “lógica 1964). da prática” de delimitação e afirmação regional que se estendeu para a década seguinte De facto, a Feira do Ribatejo sintetizou todo com a Feira Franca - Exposição Industrial,4 um conjunto de interesses e interessados Comercial e Agrícola (1950) e que a Feira do regionais como expressão anual dos valores, Ribatejo, por iniciativa da Câmara Municipal capacidade organizativa e empreendedora do de Santarém, veio reforçar e legitimar, devido Ribatejo.

e Paradas de 1926, 1936, 1940, 1946 e 1950, a sua Comissão Organizadora cedo percebeu a força que esta estrutura regional podia desempenhar aos mais variados níveis, como montra periódica do desenvolvimento e visibilidade regional, nacional e com alguns apoios internacionais.

Assente inicialmente nos modelos A região tinha agora uma grande montra experimentados pelas Exposições, Feiras regular para mostrar parte das suas capacidades e características… * Sociólogo tsbnel@gmail.com

A Província do Ribatejo

... Aquela política a que chamamos do espírito... gira toda à volta de uma dupla reabilitação – a de Portugal no ânimo dos portugueses e a dos portugueses no concerto das Nações.

Fazei as leis de um povo, mas deixai-me fazer as suas canções e veremos qual de nós governa esse povo. (1939) Salazar 2

(1943) Salazar 1

1 - SNI – “A Cultura Portuguesa e o Estado” – Discurso - Salazar 27/4/43 2 - Abreu, Renato – “Espiritualidade Popular”, pp 30, 59 – 1939 3 - Brito, J. Pais, “O Estado Novo e a Aldeia mais Portuguesa de Portugal”, in O Fascismo em Portugal - Actas do Colóquio - Março de 1980, Lisboa, Regra do Jogo, 1982, p. 511. Para além de esclarecido o processo de funcionamento deste Concurso, também lhe é feita uma crítica contundente em Barreiros, A. Souto, “Celestino Graça e o Povo”, in In Memoriam de Celestino Graça (1914-1975), Santarém, 1978 (à 7ª página do artigo). 4 - Bourdieu, Pierre, O Poder Simbólico, 2ª ed., Difel, 1989, p. 111. 12 | santaremdigital


IRMANDADE DOS ROMEIROS DE S. JOSÉ Amigos de Santarém, das suas Festas e Tradições PADROEIRO DE SANTARÉM Luís Bastos

Esta Irmandade, que existe desde 2008 e tem por patrono São José, tem o ponto alto da sua actividade por ocasião das Festas da Cidade, participando na Procissão de São José com a imagem do seu Santo Padroeiro e respectivo andor, transportado num carro de cavalos e escoltado pelos Romeiros a cavalo. A imagem, da autoria do escultor Mestre Ruy Fernandes, ele também Romeiro de São José, “reside” durante todo o ano na Capela da Praça de Toiros Celestino Graça, já denominada Capela de São José, por deferência da Santa Casa da Misericórdia de Santarém. Concorre também com a colaboração e presença, quando solicitadas, na vertente lúdica das Festas da Cidade, nomeadamente entradas de toiros, espectáculos equestres e etnográficos, etc..

Os Romeiros de São José regem-se pelos seguintes Princípios Unidos na defesa da fé e dos valores morais Unidos na defesa das Tradições Amantes da Cidade de Santarém Elegem o cavalo, como amigo e como símbolo A Equitação como meio A Arte Equestre como expressão Defendem a solidariedade humana A amizade e o convívio Promovem a conciliação de vontades Colaboram com as Instituições na preservação dos seus valores

Participam nas Festas, com dignidade e alegria Honram com galhardia o seu símbolo, o seu estandarte e a sua canção Honram S. José, pela veneração da família Honram a Capital do Ribatejo, enaltecendo expressões de ruralidade única, o Campino, o Toiro e as Toiradas, o Fandango, o Fado e o Traje Honram o verdadeiro espírito ribatejano, pelo respeito pelos outros Honram a memória dos grandes Homens e as suas obras. Partilham os seus valores e as suas tradições, noutros lugares.

Fotografia cedida pela Câmara Municipal de Santarém

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gastronomia

UMA EMENTA PROVERBIAL Graça Morgadinho*

É grande a tradição e o saber popular no que diz respeito a provérbios e expressões que encerram um conhecimento empírico das coisas, da vida e do mundo que nos rodeia e, quase sempre, essa sabedoria do povo nos surpreende quando, perante as mais diversas situações, surge a frase mais ajustada que nos ensina e desvenda caminhos e que nos mostra a riqueza da cultura popular. Conquistados por esse manancial de expressões populares, resolvemos trazer à vossa presença aquelas que melhor se adaptam à gastronomia e à culinária e convidamo-vos a saborear connosco esta ementa proverbial.

que é roubo de azeite. Há quem prefira a carne e diga que peixe não puxa carroça. Um ensopado para quem pensa que não há amor como o primeiro, nem pão como o alvo, nem carne como o carneiro. E como nem sempre galinha nem sempre sardinha, há quem prefira as favas e diga : favas me fartam, favas me matam, porque o que não mata engorda e pela boca se aquenta o forno.

E seguindo a máxima de que cada qual come do que gosta, vamos Escolhamos pois o restaurante que nos vai servir, com cuidado, ao que interessa e venha carne que baste, vinho que farte e pão que para que não nos dêem a comer gato por lebre, mas também certos sobre, tudo acompanhado por uma salada que se quer com vinagre de que, em tempos te apertar o cinto, também não podemos deitado por um somítico, azeite por um pródigo, mexida por um tolo. querer galinha gorda por pouco dinheiro. Todo o cuidado é pouco e cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Esperemos que o nosso pedido seja rapidamente atendido pois a fome não é boa conselheira. Sentamo-nos, cientes de que à mesa não se envelhece, pedimos a ementa e escolhemos. Perante as sugestões do chefe e porque Sabemos bem que quem faz a cozinheira ligeira é a fogueira e, o apetite é severo, em tempos de crise, e de IVA a 23%, não vamos conversando e cortando nas casacas, pois é manha de podemos ter mais olhos que barriga e, lá diz o ditado: poupa na Portugal comer, beber e dizer mal. cozinha- aumentarás tua casinha… Vamos com calma, pois não há melhor molho que o apetite, não há melhor mostarda que a fome e Trazem-nos as azeitonas, o pão e o vinho. Lá vamos bebendo e barriga vazia não conhece alegria. comendo: uma azeitona, ouro; a segunda prata; a terceira mata. O vinho, pela cor; o pão pelo sabor porque a bebida quer-se comida, e a Escolhemos então um caldo bem temperado já que o caldo sem sal comida bebida e vinho e amigo, o mais antigo. faz de conta que não tem manjar. Esperemos que a cozinheira seja boa e que não o tenha mexido muita gente : é sempre mau o caldo Finalmente veio o repasto. O caldo rescendia e veio a calhar para que muita gente tempera…e que tenha substância pois não há bom compôr o estômago. caldo só com água. Quando as restantes iguarias vieram para a mesa, foi um Depois não poderia faltar o fiel amigo bem azeitado e com alho, delumbramento e porque os olhos também comem , ainda se nos pois o bacalhau quer alho. abriu mais o apetite.

Da pescada, a rabada, fresca que não salgada, mas deixa-te de grelos, O peixe estava divino e o ensopado de carneiro de comer e chorar 14 | santaremdigital


por mais. E, como mais vale um gosto na vida que cem vinténs na algibeira, comemos até fartar. Regámos tudo com bom vinho e quando o vinho desce as palavras sobem a nossa conversa foi subindo de tom. Mais depressa se bebe um trago do que se conta uma história e vinho em excesso nem guarda segredo nem cumpre promessas. Passámos depois à sobremesa. Escolhemos o doce pois o que é doce nunca amargou. Depois uvas, figo e melão, são sustento de nutrição. Não esquecemos o queijo com pão que faz o homem são e uvas pão e queijo sabem a beijo. O pão sempre do bom já que o mau pão, não o comas nem o dês a teu irmão.

Por cima do melão vinho de tostão e, por último, o café. Satisfeitos, ali continuámos ainda algum tempo antes de pagar, porque para pagar e morrer sempre é tempo de o fazer. Não foi nada barato mas, quando se come bem é que se poupa algum vintém e o que não custa não lustra e quem pão e vinho compra mostra a bolsa, todos sabemos que assim é… Saímos confortados e, já na rua, deparámos com uma montra alusiva à Quadra de Natal. Boa oportunidade para reunirmos, de novo, a família e os amigos, para mais uma horas de prazer.

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Fotografia de Osvaldo Cipriano

Tal como nós, não deixem de aproveitar esta festa de amor, paz e paladares para , neste Portugal à Mesa, conhecer o que, de melhor, temos para oferecer em termos da nossa gastronomia património cultural.

hoje. Quem vai à fonte e não bebe, não sabe o que perde.

Aproveitem, pois não há festa sem comer. Mas, atenção, nada de exageros! A crise em que vivemos não o permite e a saúde ressente-se.

Bebam com moderação, e tentem esquecer o estado a que chegou “este velho país da minha tia/ trémulo de ternura e de aletria”, como o dizia o grande Alexandre O’Neil.

Olhem que pela boca morre o peixe, e, se quiseres viver são, anda quente, come pouco e vive em alto.

Tristezas não pagam dívidas…

Bebam vinho, mas não bebam o siso. Mais homens se afogam no copo que no mar e vinho, mulheres e tabaco fazem o homem fraco. Mas como o comer e o coçar o mau é começar, comam como sãos e bebam como doentes e aquilo que sabe bem ou é pecado ou faz mal; guarda que comer não guardes que fazer…pois quem não trabuca não manduca.

E como esta vida são dois dias, quem bem come e bebe bem faz o que deve e ao menino e ao borracho põe Deus a mão por baixo.

É pelo estômago que se governam os homens INFELIZMENTE, comam o que têm e não o que sonham… e não se esqueçam de partilhar o pouco que têm com aqueles que só têm os sonhos e mais nada… * grmorgadinho@gmail.com

Com estas cautelas, não deixem para amanhã o que podem comer PUB http://store.oscalabitano.com

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TIBORNA DE BACALHAU EM BROA DE MILHO ingredientes

Preparação

1 broa de milho

Grelhe o bacalhau na brasa e, depois de retirar as peles e as espinhas, lasque-o.

2 postas de bacalhau 6 dentes de alho Azeite q.b. Vinagre q.b. Coentros

Corte uma tampa na broa e retire todo o miolo do seu interior, esfregue-o com alho e regue com um pouco de azeite. Num recipiente esfarele o miolo da broa, junte o bacalhau lascado e os alhos bem picadinhos. Tempere com sal, azeite e vinagre. Pode polvilhar com um pouco de alho seco e moído. Envolva tudo cuidadosamente. Coloque este preparado dentro da broa, coloque a tampa e levar ao forno, pré-aquecido a 180º, até dourar a broa sem a queimar (cerca de 20 minutos). Servir decorado com azeitonas e coentros picados.

Fotografia de Osvaldo Cipriano


ALZULEIQUE Breve história do azulejo Guiomar Fragoso*

A palavra Azulejo deriva do termo árabe Al-zuleique, sinónimo de “pequena pedra lisa e polida”. Ainda que o Azulejo não tenha tido a sua origem em Portugal, em nenhum outro país europeu este material recebeu um tão expressivo e original tratamento, adaptando-se sempre aos condicionalismos económicos, sociais e culturais, nem a sua utilização atingiu a complexidade e amplitude, que transcendeu o estrito papel decorativo, atingidas entre nós. Fruto da ocupação árabe, a tradição de fabrico cerâmico permaneceu na Península Ibérica, com Sevilha como grande centro produtor de azulejos, utilizando as técnicas arcaicas de corda-seca e aresta, até meados do século XVI. Datam deste período as primeiras aplicações do azulejo, como revestimento decorativo das paredes, em Portugal, conhecidos como hispano-mouriscos. Na segunda metade deste século surgem, desta feita de produção nacional, os motivos figurativos e polícromos, frequentemente com representações cristãs. No séc. XVII, a Igreja colocada perante o problema de decorar as vastas superfícies dos seus templos e empenhada em difundir os valores contrareformistas saídos do Concílio de Trento, mantevese como o grande encomendador. A nobreza, por seu turno, fez também grandes encomendas para

os seus palácios. A produção da primeira metade deste século foi dominada pela criação de azulejo de padrão, o qual atingiu um dos seus expoentes máximos no nosso país. Na primeira metade do séc. XVIII o azulejo de pintura a azul sobre fundo branco domina por completo a produção. Mestres com formação em pintura a óleo impõem-se nos primeiros trinta anos, “assinando” obras, por vezes monumentais, de perfeita integração arquitectónica, o que, aliás, foi preocupação constante na nossa azulejaria. A Igreja, a Nobreza e a Coroa, à semelhança do que acontecera no século anterior e do que se prolongará até finais de setecentos, são os responsáveis pela totalidade das encomendas azulejares, as quais reflectem os seus gostos e preocupações. Assim, se cenas de caça, mitológicas e de género, figuram em espaços palacianos, a Igreja e, dentro dela, as múltiplas ordens religiosas, continua empenhada na divulgação dos seus princípios, encontrando no azulejo um meio privilegiado de difusão de mensagens. Na segunda metade do século predominam as cenas profanas, agora emolduradas por ornatos rococó e neoclássicos, mas também se multiplicam os painéis hagiográficos. Paralelamente deu-se continuidade à produção de azulejos de padrão, um pouco esquecida durante a primeira metade do século, mas que após

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o terramoto de 1755 se revitaliza, tendo em vista o revestimento dos edifícios que se construíram em Lisboa. Os primeiros trinta anos do séc. XIX foram para a azulejaria portuguesa de acentuada decadência, o que se ficou a dever à grande instabilidade política que o país conheceu, a qual começou com as invasões francesas e culminou a guerra civil. O ano de 1834, termino deste conflito, marca a ascensão ao poder de uma burguesia empreendedora que irá reactivar o comércio e indústria que se encontravam praticamente paralisados. As fábricas de cerâmica vão então multiplicar-se, em especial no Porto e Lisboa mas, no que toca ao azulejo, a sua qualidade está muito aquém dos requintados painéis de setecentos. O que agora se passa a fabricar é um azulejo utilitário, destinado ao revestimento de fachadas de prédios de arrendamento. Nas primeiras quatro décadas do séc. XX a azulejaria portuguesa foi dominada por um gosto historicista e nacionalista que se expressou sobretudo pela decoração de edifícios públicos, mercados e estações de caminhos-de-ferro, com painéis em que se representam cenas relevantes da História de Portugal, quadros alusivos às principais actividades laborais ou de lazer de cada região ou, ainda, aos monumentos mais significativos. Alguns destes painéis revelam um desenho qualificado, traçado por pintores de prestígio na época. Na maior parte dos casos, o tema era pintado a azul, sendo a moldura de inspiração joanina ou rococó, policroma. Santarém dispõe de um património significativo da importância que este revestimento assumiu e das diferentes funções que patenteou no país ao longo de 5 séculos. É desta riqueza que pretendemos dar conta em próximas edições. * Técnica de Turismo

Fotografia de Osvaldo Cipriano

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isantarĂŠm


iSantarém é um projecto de Osvaldo Cipriano que surgiu no inicio de 2011, ano em que adquiriu um iPhone 3GS. O objectivo consiste em registar os monumentos, ruas, pórticos, etc.. da cidade de Santarém através de um iPhone bem como a edição desses mesmos registos. Pretende-se mostrar a todos aqueles que residem/visitem a cidade um outro olhar sobre a mesma. Com este tipo de edição, Osvaldo Cipriano, procura apresentar um lado mais esquecido da cidade, mas ao mesmo tempo um olhar de orgulho pela cidade onde nasceu. Tendo este projecto já recebido criticas bastante positivas a nivel nacional e internacional, e dado o interesse que suscitou pela sua originalidade, justifica-se o lançamento do livro intitulado “iSantarém”, no primeiro trimestre deste ano, onde o autor irá publicar todas as fotografias desta colecção. O livro irá estar disponivel para visualização e para venda no site www.santaremdigital.com


Localizada no coração de Portugal a Região Vitivinícola do Tejo tem, desde a Idade Média, sido reconhecida como uma das principais regiões vitivinícolas de Portugal. O principal acidente orográfico existente no Ribatejo é a Serra de Aires e Candeeiros, delimitando o que podemos chamar de Alto e Baixo Ribatejo e em termos hidrográficos o Rio Tejo, pela sua dimensão e pela sua regular irregularidade (cheias) continua a condicionar as actividades agrícolas. A Região apresenta clima moderado, com temperaturas médias compreendidas entre os 15,50 C e 16,50 C, o valor da insolação situa-se cerca das 2800 horas/ano e a média anual de precipitação é de 750 mm, sendo um pouco mais elevada a Norte da Região, nomeadamente na zona de Tomar e um pouco menos elevada a Sul da Região, nomeadamente na zona de Coruche. As plantações da vinha são alinhadas. O sistema de condução tradicional é a vinha baixa, embora a introdução da vindima mecânica tenha vindo a introduzir alterações, nomeadamente na altura da vinha. Desenvolvendo-se nas duas margens do Rio Tejo, de quem herdou o nome, a nossa região vitivinícola ocupa uma área de 19 000 hectares que representam cerca de 8% do total nacional e é responsável por uma produção de cerca de 600 mil hectolitros. Destes, são certificados cerca de 120 mil hectolitros, dos quais 90% são IGP Tejo, (Indicação Geográfica Protegida), o vulgarmente chamado Vinho Regional Tejo e 10% são vinhos DOP (Denominação de Origem Protegida), Vinhos DOdoTEJO. Existem actualmente cerca de 80 Agentes Económicos inscritos na CVR do Tejo. Por estes números se compreende a importância económica e social que a cultura da vinha desempenha no Ribatejo.

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A REGIÃO VITIVINÍCOLA DO TEJO


OS TERROIRS Existem 3 zonas vitivinícolas distintas conhecidas como “O CAMPO”, “O BAIRRO” e “A CHARNECA”.

Fotografia cedida pela CVRT

O CAMPO, com as suas extensas planícies, adjacente ao Rio Tejo, conhecido também como a LEZÍRIA DO TEJO, sujeita a inundações periódicas, que se causam alguns transtornos, são também responsáveis pelos elevados índices de fertilidade que aqueles solos de aluvião possuem, é, por excelência a zona dos vinhos brancos, onde predominam as castas Fernão Pires, Arinto e Verdelho.

Fotografia cedida pela CVRT

O BAIRRO, situado entre o Vale do Tejo e os contrafortes dos maciços de Porto de Mós, Candeeiros e Montejunto, com solos argilocalcários em ondulados suaves, é a zona ideal para as castas tintas, nomeadamente Touriga Nacional, Trincadeira e Cabernet Sauvignon.

Fotografia cedida pela CVRT

A CHARNECA, localizada a sul do CAMPO, na margem esquerda do Rio Tejo, com solos arenosos e medianamente férteis, se por um lado apresenta rendimentos abaixo da média da Região, por outro lado induz a um afinamento, quer de vinhos brancos, quer de vinhos tintos.

O PASSADO A defesa da qualidade dos vinhos nacionais, impôs a criação de zonas vitivinícolas, cuja tradição e categoria, por todos reconhecida, não só não é recente, como inclusivé, as referências históricas são bastante remotas. A existência de vinha no Ribatejo é muito anterior à nacionalidade, conforme atestam os amarelados manuscritos em papiro, do tempo dos Romanos que terão sido os principais introdutores da cultura da vinha nesta Região.

Forjas e a minha adega de Marvila com todas as suas cubas”.

foi sobretudo no século XIII, no fim da sua primeira metade, que só para Inglaterra, chegou a atingir a cifra de quase 30 000 pipas.

De notar que Alvisquer é o actual campo do Rocio, na margem direita do Tejo, junto à Mais recentemente, em finais do século Ribeira de Santarém. passado, técnicos ilustres como Ferreira Lapa e Cincinnato da Costa, políticos como António Do tempo do Rei D. Fernando (1367 - 1383) há Augusto de Aguiar e Almeida Garret referem documentos que falam também da existência em diversas circunstâncias e ocasiões as reais de vinha e da produção do vinho do Ribatejo: qualidades das vinhas e dos vinhos do Tejo. “Flandres, Alemanha, Castela, Leão e a Galiza se proviam de azeite e vinho de Santarém”. Apesar dessas, notoriamente reconhecidas, Também Fernão Lopes, referindo-se aos qualidades e potencialidades, a nível interno produtos exportados naquela mesma época, e em concursos e exposições no estrangeiro, cita “as grandes carregações de vinho”. E diz e de, em 1907 e 1908 se perspectivar a mais: “que a exportação média anual chegou criação de zonas especiais de produção, a carregar 400 a 500 navios, e que num ano Regiões Demarcadas, em diversas localidades atingiu 12 000 tonéis de vinho”. Ribatejanas, tal não veio a verificar-se.

Já no Foral de D. Afonso Henriques à cidade de Santarém (1170) se determinava “que os peões devem dar a oitava de pão, vinho e linho”. No testamento de D. Sancho II pode lerse: “Deixo ao Mosteiro de S. Jorge, parte das minhas vacas e ovelhas e metade das minhas vinhas de Alvisquer, termo de Santarém, e a outra metade ao meu chanceler Duarando Porém, o apogeu do comércio destes vinhos,

Outras Regiões do País obtiveram o direito santaremdigital | 23


à Demarcação, como os Vinhos Verdes, na década de 20 e a Bairrada na década de 70, mas o Ribatejo, por razões diversas, a que não são alheias a estrutura de produção, a vocação para a produção de grandes quantidades a granel, em detrimento da qualidade e do vinho engarrafado, e a ausência de uma vontade organizada para tirar proveito, por exemplo, do facto de a determinada altura, estar constituído um Núcleo Central de Demarcação de novas Regiões, onde tinham assento ilustres Ribatejanos, só em 1989, na sequência de infindáveis reuniões, e depois da publicação do Dec. - Lei n.° 281189 de 23 de Agosto, passaram a existir as seis indicações de Proveniência do Ribatejo (ALMEIRIM, CARTAXO, CHAMUSCA, CORUCHE, SANTARÉM E TOMAR).

do ano de 1991, com os órgãos dirigentes devidamente constituídos, Conselho Geral e Comissão Executiva, e quadro técnico e administrativo próprios. As CVRs de Almeirim e Coruche, apesar de ter também constituídos os órgãos directivos, o Conselho Geral e a Comissão Executiva, as funções de certificação e controlo, eram exercidas pelo Instituto da Vinha e do Vinho, que também assegurava essas funções nas zonas de Chamusca, Santarém e Tomar, que não chegaram sequer a ter o Conselho Geral e a Comissão Executiva devidamente constituídos.

Em 1996, por iniciativa do Presidente do Instituto da Vinha e do Vinho são reabertas as conversações e negociações entre os representantes das diversas Regiões do Ribatejo, é criado um Grupo de Trabalho, tendo em vista a criação da CVRR, a qual, apesar de alguns acidentes de percurso Não tendo sido possível, por variadissimas razões, a constituição de e de vicissitudes próprias de um processo com estas características, foi uma única Comissão Vitivinícola Regional no Ribateio, surgiram assim, formalmente constituída em 17 de Setembro de 1997, data em que é a CVR do Cartaxo, a CVR de Almeirim e Coruche e a CVR de Chamusca, celebrada a escritura de constituição, em cerimónia realizada no CNEMA Santarém e Tomar. em Santarém, com a presença do Ministro da Agricultura, do Secretário de Estado da Produção Agro Alimentar e do Presidente do IVV. Destas três, apenas a CVR do Cartaxo teve actividade regular, a partir

O PRESENTE aproximado da verdade, é o mapa vinícola de Portugal que o distinto catedrático do ISA, Cincinato da Costa, organizou….” Onde a nossa O Visconde de Villa-Maior, no seu Manual de região é denominada “Bacia e Litoral do Tejo” e Viticultura Prática, de 1875 refere os vinhos onde existiam as regiões do Douro, Bairrada, do Cartaxo, Santarém e em geral sobre “... Dão, Beiras, Extremadura, Alentejo e Algarve, todos os terrenos ocupados pela vinha ao entre outras. longo da bacia do Tejo...” Na nossa região eram referenciados vinhos das localidades e, em Dado que o nome TEJO acompanha a termos gerais, os vinhos da “Bacia do Tejo”. designação dos nossos vinhos pelo menos Mais tarde, em 1900, Cincinnato da Costa, desde o séc. XIX, dado que o rio Tejo é o grande no seu célebre “O Portugal Vinícola”, separa símbolo da nossa região e também o principal uma grande região a que chama “Bacia e rio da Península Ibérica, dado que os nomes de Litoral do Tejo”, referindo no texto mais tarde muitas das grandes regiões estão ligadas a “…castas referidas nesta região do Tejo…”. rios (Douro, Dão, Ribera del Duero, Rheno, Loire, Também Pedro Bravo e Duarte de Oliveira, Napa…), considerando-se que a designação no seu “Vinificação moderna” de 1925 (3ª “TEJO” tem bastante maior reconhecimento edição), ao tentar classificar o país em regiões como marca que as designações “Ribatejo” referem “ainda não existe, em virtude da ou “Ribatejano”, conforme observado em difficuldade de se fazer um trabalho perfeito estudo mandado fazer pela CVRR, sendo mais sobre o assumpto, uma classificação regular, curto, de mais fácil reconhecimento é mais das regiões vinícolas do país…”, referindo que favorável para promoção interna e externa, “…o trabalho existente mais completo e mais além de ser mais fácil de pronunciar lá fora 24 | santaremdigital

do que os nomes “Ribatejo” ou “Ribatejano”, e, ainda, uma alteração de nome facilita o reconhecimento por parte dos consumidores do grande dinamismo e grande melhoria qualitativa que os vinhos têm vindo a mostrar. Por tudo isto, decidiu o Conselho Geral da CVR do Tejo, adoptar as designações “IG TEJO” e “DOCdoTEJO” como símbolo do garante qualitativo dos vinhos produzidos na nossa região. Conclui-se assim que, a mudança do nome “Ribatejo” para “TEJO”, é compreensível face ao escasso valor económico do nome antecedente, mas também face a uma mudança radical do padrão de actuação da região por iniciativa de quem a dirige.Tem sido notável o esforço e dedicação que tem sido levado a cabo por parte da actual Direcção na dinamização e renovação do espírito da região. De salientar também o trabalho persistente e exaustivo da promoção da CVRT e dos Produtores dentro e fora de fronteiras, criando um espírito de grupo bem visível nas acções em que a CVR participa. Teresa Batista

Comissão Vitivinícola Regional do Tejo Departamento de Promoção e Marketing


venha conhecer

a Região de Santarém

APLICAÇÃO PARA iPHONE Venha descobrir onde ficar, comer e sair no distrito de Santarém. Conheça-o através da nossa galeria de imagens e conheça os monumentos mais importantes da região. Esteja atualizado hora a hora com as notícias do distrito. Fotografia de Osvaldo Cipriano

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REABILITAÇÃO URBANA Áreas de Reabilitação Urbana

João Oliveira*

A

Câmara Municipal de Santarém, através da sua entidade gestora, Viver Santarém EM, SA, encontra-se em processo final de delimitação de duas áreas de reabilitação urbana: A Área de Reabilitação Urbana (ARU) da Ribeira de Santarém e Alfange e a ARU do Planalto. A partir do momento em que as áreas de reabilitação urbana estiverem aprovadas existirão benefícios fiscais associados às mesmas.

A Câmara Municipal definirá os benefícios fiscais associados aos impostos municipais sobre o património, IMI e IMT. Na prática o que se pretende será beneficiar quem preserva o seu património. A Câmara poderá então triplicar o valor do IMI para imóveis em avançado estado de degradação e isentar o seu pagamento, para imóveis que venham a ser reabilitados. Relativamente ao Código de IMI, existem duas situações: •Majorações para prédios urbanos degradados: O município, mediante deliberação da assembleia municipal, pode majorar até 30% a taxa aplicável a prédios urbanos degradados, considerando-se como tais os que, face ao seu estado de conservação, não cumpram satisfatoriamente a sua função ou façam perigar a segurança de pessoas e bens. •Reduções para prédios classificados: Os municípios, mediante deliberação da assembleia municipal, podem fixar uma redução até 50% da taxa que vigorar no ano a que respeita o imposto a aplicar aos prédios classificados como de interesse público, de valor municipal ou património cultural. Quanto aos estatutos de Benefícios Fiscais (EBF): •Prédios urbanos objeto de reabilitação: Ficam isentos de imposto municipal sobre imóveis (IMI) os prédios urbanos objeto de reabilitação urbanística, pelo período de dois anos a contar do ano, inclusive, da emissão da respetiva licença camarária;

Fotografia de Bruno Russo

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Ficam isentos de imposto municipal sobre as transmissões (IMT)


é a Viver Santarém, EM, SA a qual, poderá contrair empréstimos a médio e longo prazo destinados ao financiamento das operações de reabilitação urbana. Caso estes sejam autorizados por despacho do ministro responsável pela área das Este regime não é cumulativo com outros Finanças, não relevam para efeitos do benefícios fiscais de idêntica natureza, montante da dívida de cada município. não prejudicando, porém, a opção por outro mais favorável. Fundos de Investimento:

Imobiliário em reabilitação urbana, com as seguintes premissas:

Assim, os proprietários podem ainda Para a execução das operações de usufruir dos seguintes benefícios: reabilitação urbana, podem ser constituídos fundos de investimento •IRS – dedução à coleta de 30% dos imobiliário, nos termos definidos em encargos suportados pelo proprietário legislação especial. A subscrição de relacionados com a reabilitação, até ao unidades de participação nesses fundos limite €500. pode ser efetivada em dinheiro ou através da entrega de prédios ou frações a •MAIS-VALIAS – tributação à taxa reduzida reabilitar. de 5%, quando estas sejam inteiramente decorrentes da alienação de imóveis A entidade gestora da operação de reabilitados em ARU. reabilitação urbana (Viver Santarém, EM, SA) pode participar no fundo de •RENDIMENTOS PREDIAIS – tributação à investimento imobiliário. taxa reduzida 5% após a realização das Foi igualmente criado um conjunto de obras de recuperação. benefícios para Fundos de Investimento •IMI – isenção por um período de 5 anos, o qual pode ser prorrogado por mais 5 anos.

Financiamento:

onerosas de imóveis as aquisições de prédios urbanos destinados a reabilitação urbanística, desde que, no prazo de dois anos a contar da data da aquisição, o adquirente inicie as respetivas obras.

•Isenção de IRC, desde que pelo menos 75% dos seus ativos sejam imóveis sujeitos a ações de reabilitação em ARU •Tributação das unidades de participação à taxa especial de 10%, em sede de IRS e IRC, nos termos previstos.

Quanto a financiamento, este só irá existir para imóveis em áreas de reabilitação urbana e apenas os seus proprietários terão o direito de acesso aos apoios e incentivos fiscais e financeiros, como o programa Jessica Holding Fund. * Arquiteto joao.oliveira@santaremdigital.pt

•IMT – isenção na 1ª transmissão de imóvel reabilitado em ARU, destinado exclusivamente a habitação própria e permanente. Quanto ao código do Imposto sobre o Valor Acrescentado (CIVA): •Taxa reduzida de IVA (6%) para empreitadas de reabilitação urbana. A taxa reduzida não abrange os materiais incorporados, salvo se o respetivo valor não exceder 20 % do valor global da prestação de serviços. Entidades Gestoras: A entidade gestora, das referidas ARU’s

Fotografia de Osvaldo Cipriano

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GUITARRA PARA TODOS

João Pando*

No número anterior da revista, apresentei a forma tradicional de afinar uma guitarra de 6 cordas. Existem outras afinações possíveis mas a que apresentei é a considerada “normal”. Neste número vou falar-vos de escalas maiores. Para tal, interessa conhecer alguns conceitos importantes. Escala é uma seleção de várias notas, inseridas numa oitava. Oitava é a distância percorrida (ascendente ou descendente) entre uma nota e ela própria, depois de passar pelas 7 notas da sua escala diatónica. Observando a escala Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si, Dó, as notas Dó são oitavas uma da outra. A primeira designa-se por “oitava abaixo” e a segunda por “oitava acima”. Uma alteração ou acidente é um sinal usado para elevar ou baixar a altura de uma nota. Assim, temos o bemol (b) que baixa um semitom a uma nota o e o sustenido (#) que eleva um semitom à nota. Um semitom ou meio-tom é a distância de um trasto a um outro trasto adjacente. Um tom é a mesma distância que dois semitons seguidos. Escala Diatónica é uma escala de 7 notas, composta por 5 tons e 2 semitons, em que estes estão separados por 2 ou 3 tons (ex.: Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si). Este padrão repete-se de 8 em 8 notas. Tanto as escalas maiores como as escalas menores são diatónicas. A Escala Maior obedece à seguinte estrutura: mi T – tom S – semitom ou meio-tom

MI

T Dó

T Ré

S Mi Fá

T

T Sol

T Lá

S Si Dó

Esta estrutura apresentada na tónica (nota que dá o nome à escala) Dó, é válida também para qualquer nota. Por exemplo, se quisermos obter as notas da escala maior de Sol, temos: Sol, Lá, Si, Dó, Ré, Mi, Fá#. Se analisarmos esta escala, tem exatamente a mesma estrutura da escala apresentada na figura acima: Exemplo: escala de Dó na guitarra

T T s T T T s

Sol Lá Si Só Ré Mi Fá# Sol Ao conceito de escala está associado um outro conceito, o de Intervalo. Mas sobre esse assunto falarei num próximo número.

Exercício 4 O exercício 4 é um exercício cromático e tem por objetivo treinar a independência dos dedos. É composto por sequências de 4 notas em que o dedo a iniciar cada sequência é sempre diferente: primeiro o dedo indicador (1), depois o dedo médio (2), a seguir o dedo anelar (3) e finalmente o dedo mínimo (4). Pratiquem no sentido ascendente da escala, até o indicador atingir o 12º trasto e também no sentido descendente. Este exercício transmite à mão esquerda (direita para canhotos) uma grande destreza. Não se esqueçam que os números que aparecem na tablatura referem-se aos trastos a pisar.

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* joao.pando@santaremdigital.pt


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O renascer da União de Santarém * Pedro Caetano

No Sábado, dia 22 de Dezembro foi inaugurado o novo relvado do Campo Chã das Padeiras, casa emblemática da União Desportiva de Santarém, numa festa bonita e acompanhada de perto pelas figuras maiores da Cidade e do Futebol. Festa semelhante foi vivida há mais de 20 anos aquando da inauguração do primeiro relvado – na altura com a presença da equipa de séniores do Estrela da Amadora (por então na 1ª Divisão) e das Velhas Glórias do Sport Lisboa e Benfica. Tinha 10 anos e, como a maior parte da equipa de Infantis da U.D.S. aquele foi um momento de sonho e de festa. Poder pisar aquele tapete verde, perfeito e imaculado, ainda para mais na presença de figuras tão ilustres como Eusébio da Silva Ferreira foi um sonho vivido por todos nós – que até então só conhecíamos as dificuldades de um campo pelado. Não há muito tempo tive oportunidade, como treinador de uma equipa adversária, de defrontar a U.D.S. num campo que não apresentava as condições mínimas para a prática desportiva. Era uma enorme ameaça para todos os praticantes, dando uma imagem bastante negativa do Clube àqueles que o visitavam. Felizmente, desde dia 22, esse

tempo será uma memória distante de um período díficil. Naquele campo nos sagrámos escalão a escalão, sucessivamente, Campeões Distritais de Futebol. Naquele campo recebemos os grandes clubes do Futebol Nacional. Naquele campo vimos selecções de Portugal jogar (e ganhar) perante bancadas cheias de alegria e sonhos de juventude. Naquele campo vimos a União de Santarém “levar bem alto o nome de Santarém” – como nos diz o seu hino. Naquele campo vimos o definhar lento e agonizante de um símbolo vivo da Capital do Ribatejo. Naquele campo vimos o ressurgir do Clube, passo a passo, timidamente, rumo ao patamar que merece. Nele os cerca de 140 jovens praticantes poderão dar continuidade ao trabalho que por todos tem sido desenvolvido em prol do Clube. Direcção, Pais, Sócios e Simpatizantes. Este foi um passo fulcral tendo em vista o reerguer da União de Santarém, há tanto tempo esperado por todos os que a viveram de perto nos seus anos de maior glória. Resta agora à cidade de Santarém unir-se em torno de uma das suas colectividades mais emblemáticas para que se retome o lugar de destaque que sempre mereceu. E como mote, nada melhor que evocar o hino que tantas vezes ouvi naquele campo: “Viva a União!” * pedrocaetano@portugalmail.pt

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Jovens Talentos

Vulture

Quem são os Vulture? Qual a razão do nome? Somos uma banda de Santarém, conhecemo-nos cá e começamos a trabalhar há 4 anos neste projeto que chamamos Vulture, por nos termos identificado com a mentalidade do Abutre que habita os locais mais inóspitos do mundo e consegue sobreviver sendo inteligente e oportuno. Faz parte de uma família de animais que sobrevive exclusivamente do que outros consideram inútil. Nós funcionamos dessa forma quando fazemos música. Sempre a reciclar ritmos, harmonias ou qualquer outra coisa que se possa tornar interessante dentro de um novo contexto.

Quais as vossas influências musicais? Ouvimos todos os estilos de música e somos influenciados por muitos, a nossa sonoridade pesada prova de muitos anos a ouvir 30 | santaremdigital

Rock, Grunge e outros estilos mais pesados. Gostamos das bandas míticas como Motorhead, Zepplin ou Pink floyd mas também de bandas mais atuais como Bush, Sepultura, Gallows, Gojira, Tool, a lista continua...

Qual a vossa música favorita? Porquê? Penso que não escrevemos uma música singular! Elas fazem todas parte do álbum e estão todas interligadas, conseguimos tirar letras de uma música e mete-las noutras e mesmo assim faz sentido, até brincar com os títulos que perfazem frases muito focadas nos que estávamos a sentir quando escrevemos o álbum. Este álbum funciona como um todo, mas se ouvirem uma só música conseguem ficar a sentir e a perceber a atmosfera que queremos criar.


Fotografia cedida pelos Vulture

Como é a relação da banda com os fãs?

Qual foi o melhor concerto da banda até agora? Porquê?

É a melhor possível! Tem vindo a crescer a nossa base de fans com o decorrer do tempo, estamos a lançar o nosso trabalho por isso agora esperamos atingir muitos mais fans do que fizemos até aqui. Temos um trabalho honesto que reflete o que somos e isso era importante para nos, queríamos produzir este disco com conteúdo e que nos possa levar a alguma lado, não queríamos fazer mais um cd que se esquece passado alguns dias no carro.

Nós não somos muito saudosistas logo nunca pensamos muito no passado, temos algumas recordações sobre um concerto na Covilhã para quase 5000 pessoas que nos marcou na altura por ser o primeiro para tanta gente. Mas no geral achamos sempre que o nosso melhor concerto é o próximo, neste caso dia 23 de Janeiro no musicbox em Lisboa para o programa offbeatz.

Quais os novos projetos dos Vulture? Algum CD ou Vídeo em mente?

vulturemusic@gmail.com www.vulture.pt

Os novos projetos de Vulture giram todos em torno de fazer mais concertos, alargar a nossa base de fans e viver um dia de cada vez. santaremdigital | 31


RIBATEJANOS pelo mundo P

edro Torneiro, nasceu em Lisboa no ano de 1982. Após ter residido um par de anos num “berço” na capital, transpõe a sua infância na cidade das Caldas da Rainha, mas é em Santarém onde atravessa e atinge a adolescência, onde alcança a sua educação básica e alicerça a maioria das suas amizades de longa data. A ausência de genuinidade, leva-o a considerar-se um pseudo-scalabitano, embora seja evidente a união do passado e presente que mantém com a cidade de Santarém. Aquando da conclusão do ensino secundário, regressa a Lisboa para se licenciar em Arquitectura na faculdade Lusófona. Em 2008 desloca-se para Amesterdão na Holanda, onde trabalhou como Arquitecto em três empresas de Arquitectura. Actualmente desde 2011, vive em Doha na capital do Qatar e é comissário de bordo na companhia aérea Qatar Airways.

O que o levou a emigrar para o estrangeiro? O impulso pela aventura é algo intrínseco à minha pessoa, sempre fui ambicioso, perseverante e destemido na hora de encarar os desafios. O mundo da Arquitectura desperta a curiosidade da universalidade, algo que influenciou o meu trajecto pessoal e reforçou a minha intenção em querer sair de Portugal para lidar com diferentes realidades. Inerente a isto, a razão pela qual todos emigram, o desemprego, a oportunidade de progredir a nível profissional e de alcançar algum conforto financeiro.

Porque escolheu esse país? Após experiência na Holanda, quando intencionalmente regressei a Portugal, tinha a vontade de recomeçar uma nova aventura no estrangeiro, continuar a enriquecer a nível pessoal e profissional era o meu objectivo. Caí na ingenuidade e na ilusão de que com a experiência adquirida

seria relativamente acessível obter um emprego na área num outro pais europeu. Extemporâneo infelizmente, a situação sócio-económica da Europa e do mundo em geral já era comprometedora, um ano no desemprego foi o suficiente para me aperceber de que teria de enveredar por outros caminhos. Não estive longe de imaginar que viria a emigrar para um país árabe, mas sempre inserido na Arquitectura e longe da Aviação. Por vezes, nós não escolhemos as oportunidades, elas escolhem-nos as nós.

Como tem sido a sua experiência no estrangeiro? Residir num país Muçulmano como o Qatar tem as suas particularidades, bem distante da experiência que tive noutro país europeu relativamente semelhante ao nosso, como foi o caso da Holanda. Abonados com petróleo e gás natural das arábias, é um dos países mais ricos do mundo com um crescimento vertiginoso, hilariante visto que o Qatar é do tamanho do nosso Alentejo. Os expatriados chegam aos 75% da população, a produção é praticamente nula e as importações são plenas com a excepção das matérias-primas que referi, as injustiças sociais se encobrem atrás dos modernos arranha-céus, luxuosos hotéis e carros topo de gama que se passeiam pela cidade. É um país contemporâneo, no que aos hábitos civilizacionais diz respeito, mas que ao ser regida pelos ideais islâmicos o torna retrograda em certos aspectos, a censura aos costumes das mulheres e a proibição de venda de álcool em locais públicos são apenas alguns exemplos. No entanto, Doha, a capital com milhão e meio de habitantes, é uma cidade de adaptação relativamente acessível, muito devido às inúmeras nacionalidades que aqui encontramos, inclusivamente portugueses, não só na aviação, mas também nas áreas da engenharia, desporto e televisão. Apesar de ser uma cidade monótona, por ser relativamente pequena, existem inúmeros


a diferentes circunstâncias. Mas reconheço que quando alcançamos um conforto, torna-se difícil sair dele, e em Portugal neste momento, não existe nem conforto, nem futuro profissional, essa é a realidade.

Já equacionou voltar para Portugal? Porquê?

restaurantes de gastronomia mundial, e espaços de diversão diurna e nocturna. O inconveniente é o clima no verão, em que o termómetro pode atingir os 50º de temperatura e a escassez de espaços verdes que aguardam em tomar o lugar de alguns áridos, pois com tanto deserto, céu azul como o de Portugal, aqui é uma miragem. Tendo em conta que somos europeus, considero Doha uma cidade razoavelmente aceitável para se viver, mas o facto de viajar constantemente por diferentes cidades do mundo permite-me ter uma vida bastante mais descontraída e diversificada.

Sente que em Portugal não teria as mesmas condições de vida e oportunidades de sucesso? Qatar Airways é uma empresa a nível global com um crescimento precoce estonteante. Em 18 anos de vida tornou-se na melhor companhia aérea do mundo da actualidade. Quem entra para empresa tem a possibilidade de enveredar e progredir na carreira num curto espaço de tempo em diferentes sub-áreas. Se tivesse a bonança de poder exercer Arquitectura em Portugal, estaria a ser profissionalmente explorado e a auferir um vencimento que seria um terço daquilo que aufiro aqui. Não descarto os 6 anos de faculdade que demorei para obter o meu curso, até porque considero a Arquitectura a minha grande paixão, tenho também a consciência de que estou estagnado profissionalmente, neste momento desaprendo porque esqueço e não progrido porque não aprendo. Aos olhos dos humildes, nunca foi nem será desprestígio nenhum mudar o rumo de vida, mesmo que essa mudança seja incómoda, somos seres humanos e temos esta característica fantástica de nos adaptarmos

Certamente, tanto equacionei que volto assiduamente, mas apenas por uns dias ou semanas. Objectivamente, vivo o dia a dia, não estipulo prazos, e Portugal continua a ser e será sempre minha casa, mas nos dias que correm, Portugal, apenas para umas férias caseiras. Voltar permanentemente, claro que ambiciono e vejo-o com entusiasmo, mas terei de ter algumas garantias de estabilidade profissional, mesmo que sejam inferiores àquelas que tenho neste momento. Possuo a vantagem de trabalhar para uma companhia área que permiteme ir a Portugal constantemente e isso transmiteme paz de espírito e felicidade, logo dá-me a tranquilidade que necessito para continuar aqui a viver deste lado do mundo. Reconheço que é uma fortuna que muitos emigrantes não tem.

De que sente mais saudades de Portugal? As mesmas saudades que todos sentem quando se ausentam do seu país durante um tempo considerável, por vezes um par de semanas em férias é o tempo suficiente. Julgo ser uma resposta universal, seja o ser humano de Portugal ou do Nepal, família, amigos, comida, e obviamente, a nossa língua maternal.


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