Histórias que Trazemos na Mala - MUJ

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HISTÓRIAS QUE TRAZEMOS NA MALA

Texto: Daniela Chindler, Flavia Rocha e Juliana Portenoy

ilustrações: Catarina Bessel

HISTÓRIAS QUE TRAZEMOS NA MALA

Texto: Daniela Chindler, Flavia Rocha e Juliana Portenoy

ilustrações: Catarina Bessel

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O que vem dentro de uma mala?

Vem o que cabe. Apenas o mais importante, escolhido pelo nosso coração.

Partindo de terras distantes, as pessoas levavam dentro de algumas malas ou baús o mínimo necessário para começar uma vida nova.

Apressadamente, quem partia se deparava com a difícil decisão: quais pertences encaixar em sua reduzida bagagem? Documentos, objetos religiosos, utensílios para culinária, ou instrumentos e ferramentas de trabalho, somente o essencial.

Muita coisa foi deixada para trás, mas alguns objetos chegaram ao Brasil e, hoje, nos ajudam a montar retratos e paisagens de outras épocas, como peças de um quebra-cabeça.

Há um tempo, se pensava que apenas a vida dos “grandes homens” – imperadores, artistas famosos, navegadores – dava origem aos acontecimentos valiosos da linha do tempo da humanidade. Esse pensamento mudou, agora sabemos que a História é feita por todos e todas. E pode ser narrada por uma menina. Débora vai abrir as portas do Museu Judaico de São Paulo e contar histórias inspiradas por objetos e documentos da coleção desse museu, que celebra as tradições e a cultura judaica, conecta histórias e cria tranças entre um passado, um presente e um futuro partilhados coletivamente.

Então, vire a página, boa leitura e boa visita!

Moro na maior metrópole do Brasil, São Paulo, que em seus mais de 460 anos, já acolheu imigrantes que vieram do mundo todo. Meus antepassados também viajaram um bocado até desembarcarem nesta cidade.

Me chamo Débora em homenagem a uma juíza e profetisa do Povo de Israel. Débora significa, em hebraico, “aquela que fala”. Acho que esse nome combina bem comigo!

Os imigrantes judeus vindos da Europa, do norte da África e do Oriente Médio fugiam da fome, de guerras, da falta de trabalho. Muitos eram perseguidos devido a suas crenças religiosas e seus costumes. Buscavam novas oportunidades de vida e um lugar onde pudessem criar seus filhos, estudar, trabalhar e viver em paz.

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Muitas vezes as viagens eram feitas às pressas e, para cruzar o oceano, não era possível levar muitos pertences, não cabia tanta coisa na bagagem, então, além de documentos, cada um escolhia algo precioso para trazer: fotografias, roupas, livros, utensílios da casa, de trabalho, além de objetos religiosos, como candelabros e xales de orações.

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Passeando pelo

Museu Judaico de São Paulo

, pude ver muitos desses objetos. Hoje eles contam as histórias daqueles imigrantes, que deixaram seus lares para construir uma nova vida no nosso país.

Durante o Ciclo da Borracha, os judeus do Marrocos vinham para o Norte do Brasil à procura de trabalho. Um casal partiu de Tanger rumo a Belém do Pará e levou, em sua bagagem, um vestido típico das noivas marroquinas: era verde, seu colete de círculos dourados simbolizava o Sol, e sua saia com curvas bordadas representava a fertilidade.

O sonho do casal era ter uma filha que o vestisse. E assim foi! Em Belém do Pará, nasceu a menina Ordoenha e, no dia do seu casamento, ela usou o vestido que lembrava o traje de uma rainha.

Além de esperança, os imigrantes trouxeram sua cultura.

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Minha avó sempre relembra as músicas que ouvia quando menina, já adormeci muitas vezes com ela cantalorando:

Tumbala, tumbala, tumbalalaica

tumbala, tumbala, tumbalalaica

tumbalalaica, toque balalaica

tumbalalaica - e seja feliz.

Tumbalalaica, uma das cantigas mais lembradas da tradição judaica russa, tem como tema um instrumento musical de corpo triangular e apenas três cordas, mas para mim parece um parente do violão. As balalaicas variam de tamanho: as menores medem uns 60cm, mas as grandonas podem ter 1,70m de comprimento, mais altas do que eu!

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Assim como a balalaica, o bandolim

também era bem comum nas terras do Império Russo. No museu, há um exemplar do século 19, um bandolim com mais de 100 anos. Ele é feito de madeira, tem botões de marfim e detalhes em madrepérola. Suas cordas são iguais às do violino. Pertenceu a um soldado chamado Nuchim, que era músico no exército do czar, o imperador russo. Aqui no Brasil. estranharam o nome

Nuchim, e virou.. Joaquim. Muitos anos passaram, e ele, avô, tocava bandolim para as crianças. A neta Myriam guardou o instrumento com muito carinho. Foi ela quem o doou para o acervo do museu.

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Já tinha visto obras de arte e objetos caros em museus, mas aqui foi a primeira vez que encontrei um brinquedo exposto em uma galeria.

Era uma boneca de plástico, bem comum, a boquinha estava pintada de batom vermelho e as unhas tinham esmalte da mesma cor. Estranhei uma mancha grande, um remendo em sua bochecha. O educador do museu me contou que essa boneca chegou ao Brasil no colo de uma menina chamada Ruth.

A família da Ruth foi perseguida na Iugoslávia e, como eles precisavam buscar refúgio, não podiam levar muita coisa, por isso a menina doou todos os seus brinquedos. Durante a viagem, a pequena Ruth ficou muito doente e sua mãe comprou essa boneca para lhe fazer companhia. Sem sorte em sua fuga rumo à liberdade, a família ficou presa em um campo de concentração, onde todos sofreram muito e um pedaço do rosto da boneca se partiu. Isso aconteceu durante a Segunda Guerra. Eles não tinham feito nada errado, apenas eram judeus.

Quando os perseguidores foram derrotados, Ruth ganhou de um soldado americano um chiclete de presente. Em vez de mascar, usou a goma para consertar o rosto de sua boneca e trouxe a companheira na viagem rumo ao Brasil.

Eu sei de uma mala que viajou bem pesada…

Uma família veio de Alepo, na Síria, fugindo dos conflitos do Oriente Médio. A mãe, Olga, não pôde deixar de trazer o seu pilão de metal, usado para triturar as especiarias e garantir o gostinho típico da culinária síria. E o pai, Zaki, que era joalheiro, trouxe seu conjunto de pesos de metal

Ufa! Era uma mala pesada mesmo! Assim como Zaki, muitos imigrantes também pensavam no que poderiam trazer para estabelecer um emprego assim que desembarcassem. Na exposição, vi vários instrumentos de trabalho.

Um documento chamou minha atenção: um diploma de ofício de chapeleira Minha mãe me disse que antigamente todo mundo usava chapéu nas ruas. Era uma peça indispensável do figurino feminino e masculino.

Eu até tenho uma coleção de bonés, mas não são tão charmosos quanto os modelos que vejo nos filmes, com várias cores ou decorados com flores, rendas e até plumas. Acho muito chique!

O diploma era de uma moça que chegou no Porto de Santos.

Vinda da Alemanha, seu nome era Hansi, e eu a imaginei descendo do navio com um lindo chapéu feito por ela mesma.

Que pena que não está mais na moda!

Tenho uma foto do meu avô todo alinhado de terno e chapéu, andando no Centro de São Paulo.

Meus bisavós, como tantos outros imigrantes, mal desembarcaram do navio e já pegaram o trem com destino à sua nova vida na cidade de São Paulo. O trem parava na Estação da Luz que fica bem pertinho do parque Jardim da Luz.

Quem chegava queria logo avisar aos que ficaram que a viagem havia terminado sem problemas. Naquele tempo, a comunicação era feita por cartas e muitos usavam fotografias para mandar mensagens.

O parque Jardim da Luz

ficava cheio de lambe-lambes, os fotógrafos que tiravam retratos não apenas para os documentos, mas também para as famílias terem uma recordação, pois, naquele tempo, só os profissionais tinham câmeras fotográficas.

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Os imigrantes chegavam quase sem dinheiro, mas queriam parecer que estavam bem de vida. Muitos alugavam ternos, chapéus e vestidos elegantes para posar para a fotografia e, no verso, como se fosse um cartão-postal, as pessoas escreviam para seus familiares que ficaram do outro lado do oceano.

Os vários postais e as cartas do acervo do Museu Judaico de São Paulo, me fizeram pensar que hoje temos muita facilidade de falar com pessoas de qualquer lugar do mundo, em um clique mandamos mensagens instantâneas com fotos, áudios e vídeos.

Como seria ficar meses sem notícias familiares, aguardando uma carta chegar?

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Sua família

guarda velhos cartões, fotografias e objetos? Em um almoço de domingo, minha avó apareceu com uma mala antiga e foi uma surpresa quando nos mostrou o que havia lá dentro: uma chanukiá, um candelabro de nove braços que tinha pertencido aos meus bisavós lá na Rússia.

Ela também tinha guardado um cálice utilizado nas rezas, de prata; um relógio de bolso que meu avô usava no colete do terno quando andava pelas ruas do Centro tempos atrás. E uma miniatura de um templo dentro de uma garrafa!

Pegamos uma lupa para olhar os detalhes.

Bisavô Leon Bisavó Cecília Vó Frida Vô Boris
Tia-avó
Eu
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Tia-avó Bertha Tio-avô Mark Tia-avó Shoshana
Eugêniana Mamãe Riva Papai Roberto
Minha Árvore Genealógica

O judaísmo

, o catolicismo e o islamismo são religiões que acreditam em um único Deus. O local de culto dos católicos é a igreja. Os muçulmanos rezam em mesquitas. E onde os judeus rezam? Nós fazemos as preces com nossas famílias, entre amigos ou sozinhos.

Os judeus, quando rezam em comunidade, se encontram na sinagoga.

As sinagogas podem ser bem diferentes entre si. Mas uma regra é que tenham sempre uma janela – dizem que é para não deixarmos de nos preocupar com o que acontece fora de suas paredes.

No Centro de São Paulo, foi construído o Templo Beth-El.

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Durante 80 anos, esse prédio foi uma sinagoga. Agora se transformou em um museu, o Museu Judaico de São Paulo. Um lugar que preserva o passado, conversa com o presente e constrói o futuro.

O Museu Judaico de São Paulo preservou partes importantes da sinagoga. Um exemplo disso é o Aron Hakodesh, que em hebraico significa “Armário Sagrado”. Ele é sagrado porque é nele que ficam guardados, em uma sinagoga, os rolos da Torá, o livro mais importante no judaísmo.

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A Torá

é o livro central do judaísmo, mas, diferente de um livro com páginas de papel, tem o formato de um rolo feito com pergaminho de couro animal, montada artesanalmente e do mesmo jeito há muito tempo. Um escriba, que em hebraico é chamado de sofer ou soferet (se for uma mulher), escreve o texto bíblico à mão em pedaços de pergaminho, que depois são costurados lado a lado, formando um único rolo bem comprido. Esse rolo é protegido por uma capa, de um tecido nobre – como veludo ou linho –com bonitos bordados. Depois a Torá é guardada em um estojo de madeira ou metal. Ela sempre tem uma coroa, como uma rainha.

Torá significa ensinamento. Os rolos da Torá reúnem os cincos primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

O livro sagrado para o judaísmo está escrito em hebraico e, segundo a tradição, foi entregue por Deus a Moisés. Nesse idioma, a escrita e a leitura são feitas da direita para a esquerda. A Torá tem mais de 300 mil letras. São exatamente 304.805 letras.

Imagina o trabalho para escrevê-la!

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Várias culturas e religiões têm rituais de iniciação, como a primeira comunhão na religião católica e a cerimônia Hetohoky entre os Karajá. No judaísmo, uma data muito importante é a primeira vez que o jovem lê a Torá em público.

Essa cerimônia é chamada de Bar Mitzvá para os meninos e de Bat Mitzvá para as meninas.

Esses nomes significam Filho e Filha do mandamento divino.

Toda semana lemos uma parte da Torá. Ao terminarmos a leitura, fazemos uma grande festa chamada de Simchá Torá.

Nesse dia, um costume é desenrolar o rolo inteiro da Torá. Como ela fica comprida! E aí é hora de começar sua leitura, do início, outra vez.

O rabino é aquele que realiza as cerimônias judaicas e conhece profundamente o texto bíblico e as leis da religião. Ele usa uma quipá sobre a cabeça para lembrar sempre que Deus está acima de nós. Alguns rabinos usam casaco preto e chapéu, pois existem diversas maneiras de ser um judeu religioso.

Há alguns grupos que mantêm, por tradição, as roupas usadas no passado na fria Europa.

Nos dias de hoje, nós, mulheres, podemos ser presidentes, juízas, comentaristas de futebol, cientistas, deputadas e atuar em tantas outras profissões que antes eram apenas exercidas por homens. E, desde 1935, existem mulheres rabinas em algumas correntes do judaísmo. Meu nome, Débora, foi dado em homenagem a uma juíza e guerreira, presente em uma das passagens mais antigas da Bíblia.

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Em Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, está escrito que Deus fez o mundo em seis dias. Ele criou a luz, o céu, a terra, os mares, as plantas, os animais aquáticos e os seres alados. Depois criou os animais que vivem na terra e, finalmente, criou o homem e a mulher, à sua imagem e semelhança. No sétimo dia, Deus terminou a sua obra, e abençoou esse dia. Então, ele descansou. É por isso que o sábado é o dia do descanso no judaísmo.

Shabat quer dizer “descanso” , em hebraico. Ao pôr de sol da sexta-feira, acendemos duas velas para marcar seu começo, antes de aparecerem as primeiras estrelas no céu. Na Bíblia, está escrito: Foi noite, foi dia. Um novo dia, no calendário judaico, começa ao anoitecer.

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No sábado, posso andar de skate, passear, ler um livro e, quando aparecem as primeiras estrelas no céu, o Shabat termina Para marcar o fim desse dia, novamente acendemos velas. E colocamos especiarias como cravo e canela em um recipiente chamado Bessamim. Desejamos que esse perfume nos acompanhe por toda a semana, até que um próximo Shabat chegue.

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O judaísmo surgiu há cerca de 4 mil anos. Todos os povos e religiões têm uma forma de marcar o tempo e comemorar suas festas. Você já pensou por que estamos no século 21?

O calendário gregoriano começa a sua contagem com o nascimento de Jesus. O ano zero do calendário judaico é a criação de Adão e Eva. Segundo o judaísmo, já estamos em mais de 5.700 anos.

São as estações do ano e as fases da lua que determinam as datas das nossas comemorações.

Na lua nova, do mês judaico de Tishrei, que normalmente cai em setembro, os judeus festejam a chegada de um novo ano em Rosh Hashaná, que, em hebraico, é cabeça do ano

Eu mando cartões para pessoas que eu gosto, desejando que o ano novo seja doce como o mel.

Nessa data, ouvimos os toques do shofar, um instrumento milenar que pode ser feito com o chifre de carneiro, de antílope, da gazela ou de bode. Quando eu escuto o toque do shofar, eu penso em coisas boas.

E quando a primavera chega ao hemisfério Norte, onde fica Israel, celebramos

Pessach.

Nessa festa, os judeus se lembram do tempo em que seus antepassados eram escravizados pelo faraó.

Na fuga do Egito, não houve tempo de fermentar o pão que estava sendo assado e ele não cresceu. E é por isso que, durante os oito dias de Pessach, comemos um pão não fermentado, chamado matsá.

Além da matsá, existem outros símbolos que marcam a saída do Egito, colocados em uma bandeja adornada que se chama Keara. Uma erva amarga relembra o sofrimento; uma mistura de maçãs, nozes e vinho lembra a cor dos tijolos carregados naquela época; e o ovo simboliza as voltas que a vida dá.

Um pote com água salgada recorda as lágrimas das pessoas que foram escravizadas.

A mesa arrumada nos leva para o passado, em busca das memórias do meu povo, trazendo o desejo de que todos os povos sejam livres.

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Quando viajamos, conhecemos as comidas daquela região e provamos vários sabores diferentes. Assim também aconteceu com aqueles que viajaram para cá. Os judeus vieram da Europa, outros, do norte da África, do Oriente Médio, mas todos trouxeram suas receitas familiares que até hoje ligam as pessoas ao judaísmo.

Cada lugar tem a sua característica, o clima, por exemplo, faz que os pratos de cada região sejam bem diferentes. As famílias que vieram de países árabes têm receitas de quibe, bolinhos de grão de bico e charutinhos de folhas de uva enroladas com recheio de carne moída. Muito diferentes dos meus bisavós que vieram da Europa.

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Na Rússia, faz muito frio, várias receitas são preparadas com vegetais que, protegidos debaixo da terra, resistem até a neve. Como as batatas, as cenouras, as cebolas e as beterrabas.

Borscht é uma sopa roxa feita com beterrabas, que pode ser servida com uma colherada de creme de leite. Meu bisavô dizia que as sopas, o chá e as lareiras esquentavam o corpo e a alma quando, do lado de fora da janela, o vento frio soprava, durante o rigoroso inverno da Europa Oriental.

No museu, eu vi um samovar, um utensílio bem incomum. É parecido com um bule, mas também lembra um filtro de água, porque é bem maior do que a chaleira onde se ferve a água para fazer o chá.

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Nunca como batata frita na casa da minha avó. As batatas, aqui, estão no recheio das massas, chamadas varenikes, que são enfeitadas com cebolas fritas adocicadas. Delícia!

E, em dias de festas, minha avó prepara guefilte fish

Na terra dos meus bisavôs, nos rios de águas frias, nadavam carpas e traíras. A minha bisavó comprava o peixe na feira, moía e o cozinhava com muitos temperos. Depois, com a massa, fazia bolinhos cozidos. Quando ela chegou ao Brasil, queria seguir fazendo tudo tal e qual era feito na Rússia. Mas, naquele tempo, quase ninguém tinha geladeira em casa. Para garantir que o peixe estivesse fresco, minha bisa punha as carpas e traíras vivas na banheira, aqui no bairro do Bom Retiro. Acredita?

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Klezmer é um estilo musical que surgiu nos povoados judeus da Europa Central e Oriental. Lembra as divertidas canções ciganas. Na internet, dá para fazer uma pesquisa e encontrar músicas de ritmos bem diferentes, umas mais animadas e outras mais melancólicas. Minha avó diz que sente saudade de ouvir as melodias que aprendeu e ouviu na sua infância.

Existem pessoas que se conectam com o judaísmo por meio de tradições familiares, ou trazem seu judaísmo por meio da cultura.

Quando alguém diz que é judeu, não necessariamente está dizendo que é religioso. Até existem aqueles que não acreditam em Deus, mas, mesmo assim, continuam sendo judeus.

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Talvez você possa se perguntar: então, o que os judeus têm em comum?

Há quem diga que os judeus se sentem parte de um grupo, de uma comunidade, e que compartilham uma origem e uma história.

Adorei contar um pouco da cultura judaica para você; se quiser conhecer mais, convide seus familiares e amigos para uma visita ao Museu Judaico de São Paulo, que está de portas abertas, cheio de histórias, aguardando a sua visita.

O Museu Judaico de São Paulo, inaugurado em 2021, é um espaço de cultivo das diversas expressões judaicas. Nele, você vai mergulhar em uma cultura milenar e fascinante, aprendendo sobre as tradições, os valores e as histórias do povo judeu. Além disso, tem a chance de conhecer por dentro uma antiga sinagoga, visitar exposições, pesquisar o acervo da biblioteca, participar de ações educativas, oficinas, debates, encontros literários, concertos e muitas outras atividades que criam diálogos entre a cultura judaica e a diversidade cultural brasileira. Sem contar que no museu há sempre um cafezinho e um bom papo no fim da visita. Esperamos você com sua família, seus amigos e suas histórias.

Este livro nasce da série animada

Histórias que Trazemos na Mala, uma produção do Museu Judaico de São Paulo em parceria com a Sapoti Projetos Culturais. A personagem principal é uma menina judia, chamada Débora. Seu nome em hebraico significa abelha e também “aquela que fala”. Ela mora na maior metrópole do Brasil, São Paulo, cidade que em seus mais de 460 anos de história, acolheu pessoas do mundo todo: imigrantes que vieram no passado e que continuam chegando. Assim como eles, os antepassados da Débora viajaram um bocado até desembarcarem aqui. Nas páginas deste livro estão algumas dessas histórias.

Realização

Museu Judaico de São Paulo e Sapoti Projetos Culturais

Coordenação Geral

Daniela Chindler

Pesquisa

Daniela Chindler

Juliana Portenoy

Linda Derviche Blaj

Roberta Alexandr Sundfeld

Pesquisa de Imagem

Leonardo Nogueira Vitulli

Silvia Judith Tarasantchi

Texto

Daniela Chindler

Flavia Rocha

Juliana Portenoy

Revisão

Sol Mendonça

Design Gráfico

Gabriel Victal

Ilustrações

Catarina Bessell

EDUCAÇÃO E PARTICIPAÇÃO

– Museu Judaico de São Paulo – PRONAC 20-4284

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