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PNEUMOLOGIA

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NUTRIÇÃO

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[SAÚDE PNEUMOLOGIA] O CANCRO DO PULMÃO É A PRINCIPAL CAUSA DE Cancro MORTE POR TUMORES MALIGNOS, EM PORTUGAL E NO RESTO DO MUNDO. NO ENTANTO, AS ARMAS PARA O COMBATER ESTÃO CADA VEZ MAIS REFINADAS E ORIENTADAS PARA O SEU CONTROLO E EXTINÇÃO.

NOVEMBRO É O MÊS DEDICADO à sensibilização para o cancro do pulmão. A exposição mediática desta patologia não é tão notável como para o cancro da mama ou da próstata – de facto, mais prevalentes que o cancro do pulmão. No entanto, a crua realidade dos números não engana: o cancro do pulmão é a principal causa de morte por tumores malignos, tanto no mundo, como em Portugal! A nível global, o cancro do pulmão tem mais de 2 milhões de novos casos por ano, sendo responsável por 18,4% das mortes relacionadas com cancro, mais de 1,7 milhões de mortes anuais. Em Portugal, em 2018, foi responsável por 4631 mortes, mais que o somatório das mortes por cancro da mama e próstata (os dois tipos de cancro mais prevalentes em mulheres e homens, respetivamente).

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O VELHO INIMIGO

A crueldade desta patologia na nossa sociedade é explicada por um velho inimigo: o tabaco. O tabaco está na origem de um vasto leque de patologias cardiovasculares, respiratórias e oncológicas, sendo comprovadamente o principal fator de risco para o cancro do pulmão, responsável por mais de 80% dos casos.

Não existirá outra patologia com um fator de risco tão bem estabelecido e potencialmente evitável, mas para o qual as nossas armas de evicção parecem, por vezes, tão inócuas. Em 2019, no nosso país, 17,0% da população com 15 ou mais anos era fumadora (menos 3,0% comparativamente a 2014) e 21,4% eram ex-fumadores. Mais de 1,3 milhões de pessoas (14,2%) fumavam diariamente.

PROGRAMAS DE CESSAÇÃO TABÁGICA NÃO PODEM ABRANDAR

Novamente os números fazem-nos refletir sobre um dos principais alvos para travar esta pandemia: a prevenção. A história mostra-nos que os padrões geográficos e temporais da doença retratam o consumo de tabaco ao longo das décadas passadas, observando-se que nos países que cedo adotaram medidas efetivas de cessação tabágica, mais precocemente obtiveram uma redução nas curvas de incidência de novos casos de cancro do pulmão.

Em Portugal, a prevenção e, sobretudo, os programas desenvolvidos de cessação tabágica estão a mostrar os seus frutos, não sendo agora altura de abrandar, pois a iniciação de hábitos tabágicos nos jovens ainda é substancial, pelo que é expetável que o cancro do pulmão se mantenha um importante problema de saúde global nas próximas décadas.

NECESSIDADE DE DIAGNÓSTICO PRECOCE

O estadio no qual conseguimos diagnosticar a doença determina o seu tratamento e o prognóstico, sendo no diagnóstico precoce que reside o segundo problema crucial. O curso silencioso deste flagelo leva a que 70% dos casos sejam já diagnosticados numa fase avançada da doença.

Quando a doença é identificada em estadios iniciais, a maioria dos doentes é assintomática. A realização de uma radiografia torácica ou tomografia computorizada (TC) é, muitas vezes, o método acidental de deteção de uma lesão pulmonar, iniciando assim a marcha diagnóstica até ao cancro do pulmão.

Numa fase mais avançada da doença, a grande parte dos doentes já são sintomáticos. Sintomas inespecíficos de dificuldade em respirar, tosse ou expetoração com sangue podem ser sintomas de doença avançada, bem como sintomas sistémicos de

perda de apetite, perda de peso ou fadiga.

do pulmão

PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO PRECOCE E TRATAMENTOS DE ÚLTIMA GERAÇÃO

PROGRAMA DE RASTREIO: UM PASSO ESSENCIAL

Não existe um sintoma específico ou patognomónico de cancro do pulmão, tornando-se premente tomar ações que nos possibilitem a realização de um diagnóstico precoce. O rastreio – tal como já é efetuado em outras patologias oncológicas, como o cancro da mama ou cancro colorretal – torna-se, cada vez mais, uma das possíveis respostas. A evidência sobre rastreio no cancro do pulmão tornou-se mais sólida com os recentes resultados do maior estudo europeu nesta área: numa amostra de mais de 15.000 pessoas, verificou-se que a realização de TC de baixa dose a fumadores ou ex-fumadores entre os 50 e os 74 anos permitiu uma redução da mortalidade de 26% em homens deste grupo de alto risco, sendo essa redução ainda mais acentuada nas mulheres consideradas de alto risco.

A implementação de um programa de rastreio nacional será um passo essencial a estruturar na nossa política de saúde a curto prazo, podendo mudar definitivamente o paradigma do cancro do pulmão.

CIRURGIA MINIMAMENTE INVASIVA

O largo espetro de fases nos quais a doença é detetada compreende desde o pequeno nódulo pulmonar com menos de um centímetro, que pode ser tratado com cirurgia – permitindo uma sobrevida aos 5 anos de cerca de 92% – até ao cancro do pulmão em estadios avançados, com múltipla metastização à distância, cujo prognóstico contempla uma sobrevida aos 5 anos inferior a 5 por cento.

Nos estadios precoces, a cirurgia é o tratamento de eleição, possibilitando uma terapêutica potencialmente curativa. A evolução na última década da Cirurgia Torácica, com o desenvolvimento da técnica e da abordagem cirúrgica, permitiu que atualmente se possa oferecer aos doentes um procedimento cirúrgico minimamente invasivo. Considerado o gold-standard e implementado com sucesso em vários serviços em Portugal, a cirurgia toracoscópica vídeo-assistida (VATS) permite, através de uma única porta de 3 a 5 centímetros, sem necessidade de afastamento de costelas, remover o lobo pulmonar ou o segmento pulmonar afetado pelo cancro do pulmão.

Esta é uma abordagem cirúrgica menos agressiva, que possibilita ao doente um pós-operatório menos doloroso, menor tempo de internamento, com uma recuperação funcional mais positiva e um rápido retorno à sua atividade normal.

NOVAS TERAPÊUTICAS

Em fases mais avançadas da doença, a cirurgia com resseção pulmonar não demonstra ter efeitos benéficos na sobrevida dos doentes. Nestes estadios da doença, a quimioterapia clássica era a única opção, que permitia aos doentes uma sobrevida de pouco mais de um ano.

Também nesta área, na última década, houve um incremento de qualidade no tratamento, com o desenvolvimento das terapêuticas dirigidas e da imunoterapia. Por um lado, as primeiras contemplam fármacos direcionados a atingir alvos específicos do tumor, enquanto a imunoterapia não ataca diretamente as células tumorais, mas de certa forma ensinamos o nosso sistema imunitário a identificar as células tumorais e orientamo-lo a combater estas células.

Estas novas terapêuticas permitem, não só um incremento substancial na sobrevida, mas sobretudo um melhoramento na qualidade de vida destes doentes, sem os efeitos adversos conhecidos da quimioterapia.

MENSAGEM DE MUDANÇA

A mensagem a deixar neste mês de novembro é de mudança. O cancro do pulmão tem um fardo, por vezes oculto, mas muito importante na nossa sociedade. No entanto, as armas para o combater estão cada vez mais refinadas e orientadas para o seu controlo e extinção. Os três passos fundamentais estão identificados: prevenir

Pelo

DR. PEDRO FERNANDES

Especialista em Cirurgia Torácica, médico no Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto

Células estaminais associadas a menor incidência de complicações respiratórias em doentes com COVID-19

Foram recentemente publicados, na revista científica Signal Transduction and Targeted Therapy, os resultados de um ensaio clínico, realizado na China, que avaliou a segurança da administração de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical, conhecidas pela sua capacidade de regular o sistema imunitário, em doentes com COVID-19. Neste ensaio clínico participaram 18 doentes hospitalizados com COVID-19 moderada e severa, tendo nove doentes sido incluídos no grupo de tratamento, ao qual foram administradas três infusões de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical, e os restantes nove foram alocados ao grupo controlo, que não recebeu células. Ambos os grupos receberam tratamento standard para a COVID-19. Não foram registadas reações adversas graves decorrentes da infusão de células estaminais e todos os participantes do estudo recuperaram da infeção e tiveram alta durante o período de seguimento, não se tendo observado diferenças na duração da hospitalização entre os doentes dos dois grupos. No grupo controlo, cinco doentes sentiram falta de ar e quatro necessitaram de ventilação mecânica, enquanto que no grupo de tratamento, apenas um doente apresentou este sintoma e necessitou deste tipo de apoio respiratório. Segundo a Dra. Bruna Moreira, investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal, “embora o número de participantes não permita retirar conclusões relativamente à eficácia, foi demonstrada a segurança da administração de células estaminais do tecido do cordão umbilical e esta terapêutica esteve associada a uma menor incidência de complicações respiratórias nestes doentes”.

Unilabs lança teste

que distingue COVID-19 de outras infeções

A Unilabs, empresa especialista em meios complementares de diagnóstico, passou a disponibilizar o primeiro teste combinado em Portugal para uso no combate à Covid-19. Este teste permite fazer o diagnóstico diferencial entre a infeção por SARS-CoV2 e as outras patologias respiratórias sazonais. Para isso, disponibiliza quatro painéis: um para influenza A/B e vírus sincicial respiratório, outro para adenovírus, enterovírus, parainfluenza e metapneumovírus, outro para bocavírus, rhinovírus e coronavírus e, finalmente, outro painel também para agentes respiratórios bacterianos como mycoplasma, chlamydophila, legionella, haemophilus, streptococcus e a bordetella. Com a chegada da sazonalidade da época da gripe, este ano acresce a dificuldade de diagnóstico diferencial com infeção por SARS-CoV 2. O objetivo destes testes é um diagnóstico etiológico rápido do agente bacteriano ou vírico responsável, sendo por isso imprescindível para poder ajudar a cuidar melhor de cada paciente e ter ganhos óbvios em termos de saúde pública.

Probióticos na prevenção das doenças respiratórias das crianças

Em época de aulas e de pandemia, uma alimentação equilibrada, com probióticos específicos, como os lactobacillus e as bifidobactérias, assim como a suplementação com vitamina D, podem ter “um importante papel na prevenção das infeções respiratórias agudas, muito frequentes na idade pediátrica, sobretudo nos grupos etários mais jovens, imunologicamente imaturos e mais suscetíveis a infeções virais e bacterianas”, alerta a médica Maria Leonor Bento, especialista em Pediatria e Alergologia Infantil do Hospital de Santa Maria, em Lisboa. De acordo com a pediatra, as “infeções respiratórias agudas, incluindo as rinofaringites, amigdalites e a otite média aguda de etiologia viral, ou bacteriana, são muito frequentes na idade pediátrica, com uma prevalência que aumenta nos meses mais frios, ou seja, a partir do outono e até ao final do inverno, observando-se um aumento substancial do consumo de antibióticos”. Como 70% das células produtoras de anticorpos residem no nosso intestino, uma das formas mais simples de prevenir as frequentes idas ao médico passa por garantir o bom funcionamento da microbiota intestinal, que desempenha um papel fundamental na defesa do organismo. “Vários trabalhos científicos têm demonstrado que a microbiota intestinal tem um papel importante no aumento dos mecanismos de defesa contra doenças infeciosas, em especial as infeções intestinais e respiratórias”, sublinha a médica.

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