POIÉSIS TÀPIES
un volumen de la biblioteca hermética N. SCHEUFLER
brasília, agosto
POIÉSIS TÀPIES un volumen de la biblioteca hermética
2011 revisão: Denise Silva Macedo
desenvolvimento conceitual: Milton Cabral Viana (in memorian)
N. SCHEUFLER
para Antoni Tàpies, una– poiésis
E
x p o s i ç õe s d e grandesmestres
d a
A r -
t e podemfazer
s ç b s
u a r i
r p a o
g i e l n ç n a
r o a i
n a l e m b r a n m e n o s n a l e m d o s p r o f i s s e e s t u
d i o s o s d a s ár e a s d e C o m u n i c a ç ão , Estéticae A r te,referênciasa , EscoladeF WalterBe
njamin opensadorsuicídada
rankfurt .Lembran
ças,especificamente,dale
Ao b r a d e a r t e n a eradesuareprodutibilidadetéc n i c a , ondeoautorale m ã o d e s e n v o l v e o c o n c e i t o d e
ituradeseufamosoartigo
AURA:(mas)emsuma,oqu eéaaura?
umafigurasingular,comp ostadeelementosespaciai setemporais:aapariçãoúni cadeumacoisadistante,po r mais perto que ela esteja. ParaWalterBenjaminmesm o n a r e p r o d u ç ão m a i s p e r f e i t a , u
oaqu ieagorad aobradea rte , m e l e m e n t o e s t áa u s e n t e :
suaexistênciaúnica,nolugaremq ueelaseencontra.Enessaexistênciaúnica,esomente n e l a , q u e s e d e s d o b r a a h i s t ór i a d a o b r a . E s s a h i s t ór i a c o m p r e e n d e n ão a p e n a s a s t r a n s f o r m a
ç õe s q u e e l a s o f r e u , c o m a p a s s a g e m d o
tempo,emsua estruturafís ica,comoasr e l a ç õe s d e p r
opriedadeemqu eelaingressou.
remin i c ên c i a s da Foramtais
memória
q u e t o m a r a m m e u e s p ír i t o q u a n d o v i s i t e i a
Ant o n i Tápies
e s p o s i ç ão d e
emBrasília. C o n h e c i A n t o n i T áp i e s - é e s t r a n h o m a s q u a n d o c o n h e c e m o s a o b r a d e u m a r t i s t a t e m o s a s e n s a ç ã o d e
artis ta,poristotal
queconhecemosopróprio
v e z s e j a m e l h o r r e d i g i r d e o u t r a f o r m a , n ã o m e n o s v e r d a
d e i r a , c o n h e c i a o b r a d e A n t o n i T á p i e s . . . a i n d a n ã o é e x a t a m e n t e
emcontatocomfra gmentosdaobradeAntoniTá p i e s p o r i n t e r m é d i o d e r e p r o d u ç õe s g r áf i c a s defotografiastiradasdaso brasoriginais.Taisrepro duções,poderíamoschamardeimagensdeterceiraordem,poisemp i s t o , e n t ão v e j a m o s : e n t r e i
rimeirolugarháaobraemsi,emsegundoafotografiadaobra,epo rfimaimpressãográficadafotografiadaobra.Poderíamosatémes moclassificá-lascomoimagensde4ªordem,s
elevarmosemc ontaaimagemdaimagem/obraconcebi d a n a c a b e ç a d o a r t i s t a c o m t o d a s s u a s p a r t e s ,
l a b i r i n o s c l a s s i i c a t ó r i o s . p a r t i r e s s a s i m a e n s g r áf i c a s c o n s t r u
s u b - p a r t e s e
t f A d g
ío u t r a s . A s i m p r e s s õe s p u b l i c a d a s e m r e -
vistase/oulivrosforamscanneadas,d igitalizadase,posteriormente,impre s s a s , n o m e u c a s o , e m t r a n s p a r ên c i a s p a raquefossemapresentadasemumretroprojetorparaosalunosemsaladeaula...
P o i s e n t ã o , c o n h e c e n d o a o b r a d e A n t o n i T áp i e s , p a r c i a l m e n t e e p o r m e i o d e r e p r o d
C entroCultural BancodoBrasil estavamontand
uções,foicommuitointeressequerecebianotíciadequeo
Brasíli
oem ,RiodeJaneir oeSãoPaulo
a
umaexposiçã
ocomasobrasdoartistaespanhol,maisdoqueesp
catal ão,o anhol
queéenãoéamesmacoisa. O C e n t r o C u l t u r a l B a n c o d o B r a s i l ( C C B B ) d e s e n v o l ve,entreoutrascoisas,umbeloprogra madeeducaçãoemconjuntocomaFunda ç ão E d u c a c i o n a l , d i s p o n i b i l i z a n d o t
r a n s p o r t e e s u p o r t e p e d a g óg i c o p a r a o
alunos
s e s e u s p r o fessores.Se p o r u m l a d o é ó t i m o compartilharosespaços
d o c e n t r o c o m a q u e l a m i r í a d e d e e s t u d a n t e s , p o r
outro,anecessi d a d e d e s i l ên c i oetranqüilidadeparaumafruiçãomaisprofun
daéinq u e s -
t i o n áv e l . S a bendodissoreso lvi,antesdeleva rminhasturmas d a d i s c i p l i naElementos
E
stéticaemComunicação , de
dosegundosemestredoCursodeComunicaçãoSocialdaUniversidadeCató l i c a d e B r a s í l i a , v i s i t a r a e x p o s i ç ão s o z i n h o , e m u m h o r ár i o e m q u e a m a s s a e s t u d a n t i l n ão e s t i v e s s e p r e s e n t e . T e r ç a - f e i r a , h o r ár i o d e a l m o ç o , d e p o i s d a s a u l a s d a m a n h ã. P e g u e i a v a r i a n t a m a r e l o m a n g a demeupai,quehabitatemporariamenteasterrasrussas,epartiparaoCCBBouvindoatrilhasonorade
K i l l B i l l . N ão h a viamaisninguémnasaladeexpo
sições,anãoser,obviamente,osfuncionários. Logonaentradadaexposição,doladodi reito,justapostoaotextodeapresenta ção,umamostradaobraqueosvisitante snãoverão.Umapequenatela,queganho uprêmiodeaquisiçãonaIIBienaldeSãoPau l o ( 1 9 5 2 ) , m o s t r a u m T áp i e s transitandoentreoscaminhosdeum afiguraçãomágicaqueremeteaoSurre
a l i s m o e a r e f e r ên c i a s e x p l i c i t a d a s p e l o a r t i s t a , c o m o
J u a n M i r óe P a b l o
Picasso
.No e n t a n t o , o q u a d r o é u m e v e
exemplo dotrabalhodeumart istaemformação,Tàp iesnoiníciodesuac arreira,nãoéaquele tipodetrabalhoque ntoisoladonaexposição,um
n o s e s p e r a . A o e n t r a r n a s a l a d e e x p o s i ç õ e s n o s d e f r o n t a m o s c o m u m o u t r o T à p i e s , q u a s e i r r e c o n h e c ív e l n a o b r a d a e n t r a d a . O s q u a d r o s e x p o s t o s c o n s t i t u e m a o
umartista queatingiuumest adodemaestriaems
bradeumartistamaduro,
lingu a g e m ,umao ua
u t r a p o é t i c a e s t áa l íe s t a b e l e c i d a . O a r tistaencontrouseu caminho,seuestilo. EncontramosoT à p i e s d a m a t é ria,dasvariedadesd
p i n t u r a , cruz , esuporte,ainda
m a s t a m b é m a s s e m b l a g e . U m a g r a m át i c a d o s e l e m e n t o s
sígnicos...
,xis,contradi
ção,oposiçãodecontrários,adiçãodecomplementares tratad osnãonecessariamenteanatômicosdocorpohumano,dor,praz eresolidão,umapoéticapictórica,umasemânticacomposicio
Matéria...pa pelão,areia,cimento,a rgamassa,tinta,espum a,madeira,giz,colage m,parede.Gesto...movimen
nalmuitoparticular.
to,violência,suavidade,grafite, ins critura,
inscrição,ca
ligrafia
,
escritura.For ma...signos,símbolos,cruzes,xis,corpohumano,partesdocorpohumano,letras,números.Conhecimen
t a o ís m o , z e n , p o e s i a , a m a t e r i
t o . . . f i l o s o f i a o c i d e n t a l , H e i d e g e r , B e rg s o n , L e o n a r d o d a V i n c i , f i l o s o f i a o r i e n t a l , c a l i g r a f i a c h i n e s a , i o g a ,
a l i z a ç ão d a p o e s i a . A t e x t u r a q u e é
tambémpar ede,muro,t apumederu a,opróprio nomedoart
istasign ific amuro... deumesA c o n s t r u ç ão
paçopossí v e l , u m a o r d e m p o s s ív e l , d e f i n i d a a p a r t i r d e u m a l
óg i c a g e s t u a l e m a t e r i a l , a q u i l o q u e a l g u n s v i e r a machamardeinformalismo.Depoisdoencantamen
toedoassombro,quandodescemosasescadasparaos ub-solo,oquenosesperaéemocionante,gravuras,
d e s e n h o s e c a r t a z e s e x t r a o r d i n ár i o s . A m o s t r a é a s sombrosa,instigante,poéticaeinteligente.Tà
pieséumaespéciedealquimistadapintura,queutilizaelementosa
parentementesimples,reduzindosuagramáticavisualàessencia, paracriarumuniversoconceitualextremamentecomplexo,densoe poderosoparahorrordaqueles,queaindahoje,insistememreprodu zirfalasjáseculares:apinturaestámorta,aarteestámorta.Aspare
d e s d o C C B B p r o v a m o c o n t r ár i o . A p i n t u r a e s
táviva,aarteestávivae,paranossasorte,AntoniTàpiesestávivoeproduzindo.
Sozin ho
percorriass alas,sozinhoassisti aovídeoeporláfuificando... depois,quandoaturbaestu
dantiljádavasinaissonorosdesuapresençaine
quívoca,deixeiasaladeexposiçõesefuitomarum
c a f é
,
a p r o v e
i t e i p a r a c o m p r a r o c a t ál o g o d a e x p o s i ç ão
editadopeloCCBB.Eraumbelodiadeoutononestas
t e r r a s c e n t r o - o c i d e n t a i s . D e p
La goPa rano á
oisdocafé,comdireitoavistaparao
,fuiparacasa.Ant oniTápies,easobras originaisdeAnton iTàpiesnãomesaíramdacabeçaatéhoje. Lembrei-medeGiulio C a r l o A rg a n q u a n d o eleapontaqueumadasgran
destransformaç õe s d a a r t e m o d e r n a é a p a s s a g e m deumreferencia lqueapontapar aanatureza,par aumapreocupaç ão c o m a m a t e r i a lidadedaobraeco mainterioridadedoartistacomoelementosprivi l e g i a d o s n a c o n s t r u ç ão p i c t ór i c a . O q u e r e m e t e a
N i etz s c
he
quandoafi rmanoseu :Pres t a i a t e n ç ão m e u s i r m ão s a c a d a h o raemqueovosso Zaratustra
e s p ír i t o q u e r f a l a r p o r s ím b o l o s a l íe s t áa o r i g e m d a v o s s a v i r t u d e é a l íq u e o v o s s o c o r p o s e a c h a e l e v a doeressuscitadocomseudeliciarseenlevaoespí ritoparaquesetornecriadorejulgadordevalore seamantesebenfeitordetodasascoisas.Pode réessanovavirtudeumpensamentodominan t e e a s e u r e d o r u m a a l m a s a g a z u m s o l d e o u r o e a s e u r e d o r a s e r p e n t e d o c o n h e c i m e n t o .
EmTàpiesogestosurg equaseinocente,noe ntantocarregadode conhecimento,dein tenção,aindaquepor vêzesnegada,carreg adodeex periênciasereferências:
caligra-
fiachin esa,
f i l o s o f i a , h e r m e t i s m o , r e l i g i ão , p o l ít i c a , p o é t i c a , f o r m u l a ç õe s e r e f l e x õe s . . . m a s , t a m b é m p aredes,muros,tapumes,alfombras.AntoninArtauddizia queasimagensdapoesiaepodemosdizer,daArtesã o u m a f o r ç a e s p i r i t u a l q u e i n i c i a s u a t r a j e t ór i a
nasensibilidadeedispersaporcompletooreal.An
toniTàpiesdispersao r e a l e o r e o r g a n i z a . A o m e s motempopodemosdize rquenós,osobservador essomosumaespéciede
e x p e c t a d o r e s - p r o d u t o r e s . O e x p e c t a d o r s e m p r e r e o r g a n i z a a q u i l o q u e v ê, p o i s , h i s t o r i c a m e n t e , a m u d a n ç a n o s c ód i g o s d e
Afinalmesmonossaslembran ç a s s ão u m a r e i n v e n ç ão , t o d a m e m ór iaéparcial.Ove lhohomeminclina-sesobreotrabal h o , h ád úv i d a e p r a z eremse r e c e p ç ão r e o rg a n i z a a p e r c e p ç ão .
uolhar,eleestalaosdedos,giraemtor
n o d o b r a n c o , o r e t ân g u l o b r a n c o s o b r e o p i s o d a
hacasa
vel
e u r o p é i a , e s p a n h o l a , c a t a l ã. O
artistavestepantufasepijamasedan
çacomasmusas-
quepairamàsua volta.
A
n t o n i T à pies nasceuna Catalunha,berçodetantosout ros artistas...
Acompreens達odopapel, da
port達ncia,
da
fun巽達o
da
im-
Ar
t e
podem ser buscadas nas noçþes nietzschinianas
enriquecidas pela leitura de Gi-
de valor e sentido,
Del e u z e . Mas e afiles
nal, por
que ĂŠ que arte deveria servir para al-
ma coisa? Em que nĂvel exis-
gu
tencial manifestam-se as necessidades definidas pelo “servir”? Aarteéapenasumaformademanifestaçãodavida,dealgumaforma,emcertom
ticadavida, diriaNietzsche,poisaartepode servistacomoumepifenômenoda natureza,masanaturezacomo construçãohumana doíartifício, complet amentesua condiçãodeartifício, afirma a idéia de um munomentoéaprópriavida.éprecisover a arte sob aó
umartifícioque,pormeioda
ciênciaépretendidoreal.Nestesentidoaar
t e é a t é m a i s h o n e s t a d o q u e a c i ên c i a , m a i s v e r d a d e i r a , p o i s a s s u m e
comoartifício,com o c o n s t r u ç ão einterpretação,cara do
c t e r ís t i c a s inerentesaoe v e n t o h u m a n o .
Podemos, então, dizer que a arte não isola o homem do mundo, muito menos substitui este mundo. A ciência é muito mais incisiva ao apartar o homem do mundo, na medida em que substitui a simplicida-
complicação ordenada de um mundo.
de caótica da existência pela
ParaBrechtaarteé o m o d o m a i s f ác i l -
exist ên c i a . de
N
ão pode ser a Arte, ainda, uma porta de acesso a um mundo mais nobre? Não poderia será ela uma possibilidade de fundação de uma nova ética, baseada na nobreza e na criação?
Um espírito de nobreza, mas não um espírito de gravidade, algo mais leve e preciso, como a criança consciente de Buda, ou
o Louco/ Criança das car-
tas de T a -
O
rot papel do artista: Humildemen te
[e
agradecidamente]
divulgar [a tradição, o conhecimento...]. Arrogantemente, [no sentido de uma consciência do próprio valor,] produzir (criar), resgatar a angústia criativa da percepção e do gesto artístico-pedagógico.
Ser
á que a história da arte é marcada pela á
negação? Uma negação dialética: o novo só pode afirmar-se a partir de uma negação da tradição... A dialética hegeliana em busca de messias e salvadores.
[ nunca uma negação, uma espécie de ruptura nietzschinia-
E se, por outro lado, pudéssemos fazer da arte sempre uma afirmação
afirmação,
Dionisíaca]? Sempre uma
na com a dia
lética hegeliana? Os artista são mesmo antenas da raça como poderia ter dito Ezra Pound? Ou todos são artistas como afirmou Beyus? Criação, Valor e Sentido. A criação artística como afirmação do valor e do sentido [Dionísio e Apolo]. Para Nietzsche o próprio universo não possui nenhum
há qualquer finalidade a esperar, objetivo, não
não há nenhuma causa a conhecer [negação da causalidade]. Ao par causalidade-finalidade Nietzsche opõem o par dionisíaco acaso-necessidade, [acaso-destino]. Em Nietzsche a obra de arte surge como resultado de ele-
vitais: o acaso e a necessidade, o con mentos
flito e a harmonia. A arte, dessa forma, surge como justificação estética da existência, uma possibilidade que por intermédio da criação, sublima o desejo de vingança e de negação da vida.
Reconstruir uma linguagem pesso-
al? Estilo? O que
é isto, e s tilo? O grande
artista é aquele que mantém a linguagem viva. A arte é o que tem significado, em oposição ao insignificante. A arte não se presta à definição, mas é extremamente afeita a ser pensada. As obras de arte tem uma existência perene. Elas existem no presente, independentemente do período em que foram feitas. A dúvida sempre abre portas para muitas verdades, no entanto, certas verda-
há ainda aquelas des gritam, outras sabem cantar e
que
choram.