Ferimentos Autoinfligidos & a Regulação Emocional

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Ferimentos Autoinfligidos & a Regulação Emocional: Aspetos a ter em atenção


Ferimentos autoinfligidos: O que são? Atos intencionais que podem causar a destruição imediata dos tecidos corporais, e que são realizados sem ideação suicida (Kerr et al., 2010).

Ferimentos autoinfligidos mais comuns:

Este tipo de comportamento pode ser manifestado de diversas formas, tais como: • Cortes em várias partes do corpo (braços, pernas, barriga, etc.); • Escarificação (produzir cicatrizes no corpo com facas, tesouras, etc.); • Queimaduras (por exemplo, com pontas de cigarros); • Abrasões/arranhões graves (por exemplo, com as unhas); • Arrancar o cabelo; • Tentar partir ossos do próprio corpo; • Ingerir drogas/medicamentos em excesso; • Ingerir substâncias ou objetos não ingeríveis.

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Arranhar-se intencionalmente com as unhas; Queimar-se intencionalmente com pontas de cigarros; Morder-se intencionalmente até fazer ferida; Cortar-se intencionalmente com uma faca, tesoura ou outro objeto; Bater-se intencionalmente em si próprio até fazer nódoas negras; (…).

Consequências da prática deste comportamento A prática deste comportamento traz consequências físicas, tais como: • Feridas permanentes na pele através da realização de múltiplos cortes, queimaduras graves, infeções, cicatrizes, entre outras. E uma variedade de consequências psicológicas/psiquiátricas, nomeadamente: • Bem-estar psicológico; • Saúde mental; • Autoestima; • Entre outras.

Apesar de os ferimentos autoinfligidos começarem a ser praticados ocasionalmente, tornam-se, muitas vezes, um hábito.


Motivos que levam à prática de ferimentos autoinfligidos • • • • • •

ATENÇÃO:

Aliviar os sentimentos e emoções desagradáveis (desespero, vergonha, solidão, culpa, etc.) e o stress emocional; Criar sensações emocionais e físicas, de modo a que se possa voltar a sentir “vivo”; Expressar os pensamentos suicidas, mas resistindo ao desejo de se suicidar; Alterar o comportamento das pessoas que o/a rodeiam; Destacar das restantes pessoas; Acalmar a si mesmo ou castigar-se quando experiencia alguma angústia emocional e/ou raiva; Criar alguma excitação/adrenalina, semelhante àquela gerada pela prática de um desporto radical.

O alívio que sente após a prática dos ferimentos autoinfligidos não dura para sempre. As emoções e os motivos que levaram à prática deste comportamento, não desaparecem.

Sinais que podem indicar a prática de ferimentos autoinfligidos Habitualmente, estes comportamentos são praticados sozinhos e sem ninguém saber. É por isso importante estar atentos a sinais que a pessoa possa dar, tais como: • • • • • •

Ter cortes, cicatrizes, queimaduras ou nódoas negras no corpo; Dar desculpas para ter cortes/cicatrizes/queimaduras/nódoas negras no corpo; Usar roupa de manga comprida ou calças, especialmente no verão ou em alturas de muito calor; Alterações no sono (dormir muitas ou poucas horas) e no apetite (comer demasiado ou em poucas quantidades); Secretismo; Isolar-se dos amigos e da família.


Os ferimentos autoinfligidos e a regulação emocional “As emoções perturbadoras e as relações tóxicas são identificadas como fatores de risco que favorecem o aparecimento de algumas doenças.” Daniel Goleman • A forma como lidamos com situações stressantes é essencial na promoção do bem-estar. • Sendo assim, não é apenas a experiência das emoções que importa, mas também os significados e as estratégias utilizadas para lidar ou regulá-las (Garnefski & Kaaji, 2007). • É importante regular as suas emoções e mantê-las a um nível “controlado”, com o objetivo de criar respostas adequadas ao contexto onde se encontra (Gross, 2013).

O que é a regulação emocional? •

Compreensão e aceitação das emoções de forma a impedir os comportamentos impulsivos, através do uso de estratégias adequadas para diminuir a intensidade e/ou duração das respostas emocionais (Gratz & Roemer, 2004).

A prática de ferimentos autoinfligidos é um problema de saúde psicológica, que pode estar associado a dificuldades na regulação emocional e a problemas como a depressão ou elevados níveis de ansiedade.


Que estratégias posso usar para regular as minhas emoções?

Existem alternativas mais saudáveis de lidar com as emoções desagradáveis experienciadas do que a prática de ferimentos autoinfligidos, e que não deixam sequelas físicas ou psicológicas.

Prática de exercício físico regular (por exemplo, andar a pé ou correr pelo menos 30 minutos por dia);

Técnicas de relaxamento muscular e controlo da respiração (por exemplo, contrair e soltar os músculos das mãos, realizar uma respiração profunda e calma numa posição que se sinta confortável, fazer meditação, praticar ioga);

Técnicas de distração (focar a sua atenção em diferentes estímulos presentes no local onde se encontra);

Realização de atividades prazerosas (por exemplo, fazer uma caminhada, ler um livro, ir ao cinema);

Focar-se em pensamentos relaxantes e prazerosos (por exemplo, imaginar um sítio que lhe transmita calma e paz, como o campo ou a praia);

Exprimir as suas emoções através de desenhos ou da escrita (permite-lhe identificar as emoções que está a sentir);

Fazer uma autoavaliação semanal ou mensal (permite-lhe identificar os seus sucessos; as suas falhas; o que pode aperfeiçoar; como melhorar a sua autoestima e promover o conhecimento que tem de si próprio) e trabalhar na identificação e substituição de pensamentos mal adaptativos.


O que posso fazer se já pratiquei/pratico ou se conheço alguém que já praticou/pratica ferimentos autoinfligidos? •

Fale com um amigo/familiar da sua confiança.

Se tiver preocupado com um amigo, incentive-o a procurar ajuda especializada.

Contacte uma linha de apoio* se precisar de ajuda para si ou para um amigo.

Procure a ajuda de um profissional especializado (por exemplo, um psicólogo).

Um Psicólogo pode ajudar a encontrar formas mais saudáveis de lidar com as situações problema e a se gerir emocionalmente. Pedir ajuda é um sinal de coragem… é parte do início da resolução da dificuldade.

Linhas de apoio emocional e prevenção do suicídio: • SOS Estudante: 239 484 020 (todos os dias das 20h à 1h) • SOS Voz Amiga: http://www.sosvozamiga.org/ 213 544 545 ou 912 802 669 ou 963 524 660 (todos os dias das 16h às 24h) • SOS Suicídio – Serviço Nacional de Socorro (112)

Encontre mais informação sobre esta temática / procura de ajuda: • Portal da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) – Encontre uma saída https://encontreumasaida.pt/ • Portal da OPP – Escola saudávelmente http://escolasaudavelmente.pt/alunos/ adolescentes/problemas-eemocoes/automutilacao • Portal da Sociedade Portuguesa de suicidologia https://www.spsuicidologia.com/


Para saberes mais sobre o assunto…

Duarte, V. M., Cruz, M. M., & Oliveira, B. (2015). Comportamentos autolesivos na adolescência e disfunção familiar: relato de caso. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, 31(6), 401-405. Franklin, J. C., & Nock, M. K. (2016). Nonsuicidal self-injury and its relation to suicidal behavior. The Oxford handbook of behavioral emergencies and crises, 401-416. Garnefski, N., & Kraaij, V. (2007). The Cognitive Emotion Regulation Questionnaire - Psychometric features and prospective relationships with depression and anxiety in adults. European Journal of Psychological Assessment, 23(3), 141-149. Grandclerc, S., De Labrouhe, D., Spodenkiewicz, M., Lachal, J., & Moro, M. R. (2016). Relations between nonsuicidal self-injury and suicidal behavior in adolescence: a systematic review. PloS one, 11(4). Gratz, K. L., & Roemer, L. (2004). Multidimensional Assessment of Emotion Regulation and Dysregulation: Development, Factor Structure, and Initial Validation of the Difficulties in Emotion Regulation Scale. Journal of Psychopathology and Behavioral Assessment, 26(1), 41-54. Guerreiro, D. F., & Sampaio, D. (2013). Comportamentos autolesivos em adolescentes: uma revisão da literatura com foco na investigação em língua portuguesa. Revista portuguesa de saúde pública, 31(2), 213-222. Hasking, P., Whitlock, J., Voon, D., & Rose, A. (2017). A cognitive-emotional model of NSSI: Using emotion regulation and cognitive processes to explain why people self-injure. Cognition and Emotion, 31(8), 1543-1556. Kerr, P. L., Muehlenkamp, J. J., & Turner, J. M. (2010). Nonsuicidal Self-Injury: A Review of Current Research for Family Medicine and Primary Care Physicians. Journal of the American Board of Family Medicine, 23(2), 240-259. Kiekens, G., Hasking, P., Boyes, M., Claes, L., Mortier, P., Auerbach, R. P., & Myin-Germeys, I. (2018). The associations between non-suicidal self-injury and first onset suicidal thoughts and behaviors. Journal of Affective Disorders, 239, 171-179. Liu, R. T., Trout, Z. M., Hernandez, E. M., Cheek, S. M., & Gerlus, N. (2017). A behavioral and cognitive neuroscience perspective on impulsivity, suicide, and non-suicidal self-injury: Meta-analysis and recommendations for future research. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 83, 440-450.

Simões, R. M. P., Santos, J. C. P. D., & Martinho, M. J. C. M. (2019). Eficácia das intervenções psicoterapêuticas dirigidas a adolescentes com comportamento suicidário: revisão integrativa da literatura. Revista de Enfermagem Referência, (20), 139-148.


FICHA TÉCNICA: Serviço de Psicologia da Universidade da Madeira – Portugal (SP-UMa) Publicado online: Abril, 2020 Contactos: Site: http://scp.uma.pt | Email: servico.psicologia@mail.uma.pt Telefone: +351 291 20 94 98 / + 351 91 81 59 467 Facebook: ServicoPsicologiaUMa

Colaboração de: - Sara Santos, Estagiária no âmbito do Programa “Estágios de Verão 2019” - Luciana Ferreira, Estagiária de Psicologia - ano letivo 2019-2020 - Carla Vale Lucas e Filipa Oliveira, psicólogas do SP-UMa.



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