MKT & INVESTIMENTOS
Jornada de eventos: Fenacam, Noruega, Alasca, Fiesp e a nova Seafood Show
seafood
SUPLEMENTO
Aonde vai a tecnologia aquícola?
brasil
#32 - Out/Dez 2019 ISSN 2319-0450
www.seafoodbrasil.com.br
Prato cheio
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Carcinicultura prepara retomada enquanto insegurança ainda barra importação
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Editorial
Coadjuvantes mundiais
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ais de 50% do faturamento com as trocas globais de proteínas animais ocorre com as mais de 200 espécies comerciais de pescado. A julgar pelas informações mais atualizadas da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO/ONU), todo o protagonismo que temos em outras cadeias não se estende aos peixes e frutos do mar. Somos o 23º maior importador mundial e o 60º maior exportador. Além de todas as grandes potências, estão na nossa frente países como Nicarágua, Myanmar, Papua Nova Guiné, Ilhas Mauricio, Seychelles e até as Malvinas. Há seis anos a Seafood Brasil observa este cenário e tenta traçar diagnósticos com base nas entrevistas nacionais e internacionais. Em 2019, porém, resolvemos nos tornar atores mais ativos neste processo. Unimos forças com a Francal Feiras para criar um evento que é mais de uma feira de negócios: trata-se de uma plataforma para acelerar a inserção internacional do Brasil a partir da integração latino-americana. A Seafood Show Latin America 2020 (pág.
10) vai unir fornecedores e compradores de todo o continente para concretizar a realização de negócios com apoio das principais entidades nativas e de fomento à exportação. A junção de esforços é a tônica do setor neste momento. A nova SAP está alinhada ao setor produtivo, que há tempos não tinha tanta penetração institucional no Executivo e Legislativo como agora. A Câmara Setorial da Produção e Indústria de Pescado no Mapa é o principal vetor desta transformação, já que as demandas passam a ser concentradas ali a partir do esforço das principais entidades privadas (pág. 66). É neste fórum e suas adjacências, como o Comitê Técnico de Pescado, que devem ser endereçados conflitos como a importação de camarões (Capa, pág. 34) e a reabertura à União Europeia. A tecnologia na produção pulsa (pág. 54) e a comercialização esquenta (pág. 70). Tenho certeza de que chegaremos lá - e somos parte deste processo. Ricardo Torres - Editor
Índice
06 Cinco Perguntas
52 Na Gôndola
08 Na Água
54 Suplemento especial 66
10 MKT & Investimentos
Especial
70 Ponto de Venda
34 Capa
74 Personagem
Expediente Redação redacao@seafoodbrasil.com.br
Comercial comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno
Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor: Ricardo Torres Repórter: Fabi Fonseca Diagramação: Emerson Freire Adm/Fin/Distribuição: Helio Torres Foto de capa: Coco Bambu/Tadeu Brunelloi
Impressão Maxi Gráfica e Editora A Seafood Brasil é uma publicação da Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95
Sede – Brasil R. Serranos, 232 São Paulo - SP - CEP 04147-030 Tel.: (+55 11) 2361-6000 Escritório comercial na Argentina Av. Boedo, 646. Piso 6. Oficina C (1218) Buenos Aires julio@seafoodbrasil.com.br
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5 Perguntas a Mario Wang, diretor do China Trade Center
Entrevista
Os canais chineses E-commerce, feiras de negócio e códigos culturais são essenciais para a conquista do mercado chinês
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China é o maior consumidor de alimentos importados do mundo, com US$ 80 bilhões importados em 2018, segundo dados apurados pela China Trade Center. E o ritmo é intenso: de 1997 a 2017, a importação anual de alimentos aumentou de US$ 4,1 bilhões para US$ 61,7 bilhões, culminando no patamar atual. “Junto com o desenvolvimento da economia nacional e a melhoria dos padrões de vida, os valores das importações da China cresceram 15,2 vezes nos últimos 20 anos”, aponta Mario Wang, diretor do China Trade Center.
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De todos os produtos alimentícios importados, 15,4% é carne, 15,1% lácteos e 13,95% são produtos aquáticos. Para satisfazer a fome crescente, diversos produtos importados sem equivalente nacional tiveram impostos reduzidos por determinação de Pequim em quase 70%: lagostas (-66,7%), caranguejos (-50%), salmão (-66,7%) e camarão (-50%). Apesar do momento favorável, o Brasil não figura no ranking das 10 origens de pescado, que é liderado pela Rússia, seguida dos EUA, Canadá, Indonésia, Noruega, Nova Zelândia, Chile, Japão, Austrália e Tailândia. Wang traça nesta entrevista alguns caminhos possíveis, que passam pelo entendimento de alguns canais fundamentais para a expansão do intercâmbio do pescado brasileiro com os chineses. “Além do modelo do revendedor e dos canais off-line, a plataforma de comércio eletrônico também se tornou uma das maneiras de expandir as vendas de alimentos importados.” O AliBaba pretende dominar as finanças e o varejo digital em todo o mundo, enquanto o WeChat já foi bem-sucedido em transformar a forma como mais de 1 bilhão de chineses pede comida,
lê notícias, paga e envia mensagens. Quem olhar para a China tem de ver tudo isso. Considerando todos os setores alimentícios, o Brasil perdeu muita participação nos últimos 10 anos e viu a ascensão de países como a Nova Zelândia, que o ultrapassaram no ranking de maiores origens de alimento exportados à China. Por que isso aconteceu? A princípio, entendo que a Nova Zelândia é um país pequeno e por esse motivo seu mercado interno se torna limitado, isso os faz olhar de
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maneira mais avançada para oportunidades no exterior, ou seja, fica mais fácil prever a demanda do mercado doméstico. Desta maneira focam em criar estratégias e ações de inserção no mercado internacional. Um de seus principais alvos foi a China. Como há de certa forma uma posição geográfica favorável, a China tem uma grande demanda por alimentos e a Nova Zelândia é forte neste segmento - tudo se encaixou e os negócios entre ambos acabaram dando certo. É preciso considerar também que China e Nova Zelândia possuem um acordo comercial que reduz os impostos de importação.
“O chinês da crescente classe média está cada vez mais disposto a experimentar o diferente e a pagar por produtos que tragam benefícios para sua saúde.”
Estou dizendo isso pois acredito que o Brasil precisa se fazer mais presente para tornar seus produtos conhecidos. O cross border [exportação direta ou indireta] já tem uma grande repre-
O Brasil tem pouca tradição como exportador de pescado à China, embora sempre faça operações pontuais. Na sua opinião o País tem mais chance de participar deste mercado com commodities ou com produtos de valor agregado ou espécies nativas ainda desconhecidas do público chinês? Os produtos de valor agregado terão maiores chances se suas características próprias e vantagens forem bem exploradas. Claro que tudo depende da demanda e da necessidade do mercado. Vale enfatizar que o chinês da crescente classe média está cada vez mais disposto a experimentar o diferente e a pagar por produtos que tragam benefícios para sua saúde. Com relação às espécies nativas, por ser um produto desconhecido, será necessário investir em marketing para atrair a atenção dos consumidores.
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Como equilibrar as diferenças culturais entre os dois países na hora de fazer negócios? O choque cultural é algo natural e se os interlocutores não estiverem preparados ele será inevitável nas relações de negócios entre empresários
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de diferentes países. Eu recomendaria ao empresário brasileiro que deseja explorar o mercado chinês realizar algum curso de cultura chinesa em algum Instituto Confúcio: o Brasil possui diversas unidades ou buscar alguma empresa especializada neste tipo de curso. Conhecer e respeitar as diferenças culturais é, sem dúvida, essencial para o sucesso dos negócios. Pontos simples como respeito mútuo e pontualidade nos retornos de e-mails, por exemplo, são muito importantes. Assim como o Brasil, a China parece ser muito diversificada em relação aos seus padrões de consumo de alimentos, de acordo com a classe social e as diferentes regiões. Você concorda com esta afirmação? Poderia citar exemplos? Sim, concordo plenamente. Por exemplo, no norte da China as pessoas gostam mais de massa e grãos, já no sul o povo tem preferência por arroz e vegetais, nas regiões costeiras os frutos do mar são os alimentos mais comuns. Porém, com o passar dos anos está mais comum notar uma mistura da alimentação no país, talvez pelo grande deslocamento de pessoas de uma região para outra, de cidades menores para os grandes centros, do campo para as regiões metropolitanas e assim por diante. De toda maneira é fato que a alimentação saudável é um conceito geral do povo chinês e é uma tendência de consumo independentemente da região ou classe social.
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É importante considerar que a China possui grandes feiras de negócios que servem como vitrines para produtos internacionais. Basta considerar que em novembro passado foi realizada a segunda edição da China International Import Expo (CIIE) em Shanghai. Apesar de ser uma feira multisetorial, o setor de alimentos teve uma grande representatividade e esta é considerada a única feira no mundo voltada para importação, neste caso, só participam expositores internacionais com a finalidade de apresentar seus produtos para importadores chineses. Além dela, é claro, existem outras voltadas especificamente para o setor de alimentos.
sentatividade na China, muito do que se importa lá é através do comércio eletrônico, talvez seja possível iniciar vendas por este canal e, com a aceitação gradual do produto no mercado, certamente seria possível partir para as exportações em maiores quantidades.
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O comércio eletrônico é o principal canal em ascensão para a venda de alimentos na China. Como o Brasil pode participar deste mercado? Em primeiro lugar é preciso considerar o alto nível de exigência sanitária e de habilitação no órgão governamental responsável. Depois é preciso levar em consideração a preferência do consumidor por embalagem com design atraente e sofisticado. Na sequência recomendaria encontrar parceiro adequado no mercado local para distribuição contínua.
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Na
Água Tecnologia para pesca e criação
Especial Fenacam
Pulverização de controle A PulsFOG Pulverizadores é uma subsidiária da PulsFOG GMBH Alemanha já presente no País há 30 anos. O grupo trabalha com diversos produtos de controle, proteção e desinfecção no geral, como o atomizador elétrico portátil pulsFOG AT-1000 DI. O equipamento promete ser uma alternativa de baixo custo e baixa manutenção para desinfecção de pisos, bandejas, carros de incubadoras e eclosão, e na pulverização do incubatório.
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Limpeza e eficiência na ração
Durante a Fenacam 2019, a Biorigin lançou no Brasil o HyperGen, prebiótico solúvel de segunda geração, obtido a partir da parede celular de leveduras Saccharomyces cerevisiae. O produto promete benefícios no sistema intestinal de peixes e camarões, promovendo aglutinação de bactérias patogênicas e atuando no sistema imunológico local. O impacto, garante a empresa, é uma utilização melhor de ração e menor excreção de nutrientes ao meio ambiente.
Economia e resistência
A VazFlux levou à Fenacam sopradores que prometem mais economia de energia, força e resistência além de uma vida útil de até 30 anos. Conforme a empresa, com apenas um soprador é possível atender vários tanques que podem operar com profundidade de até nove metros. Potência de 2 a 400 CV no Trifásico ou de 2 a 15 CV no monofásico.
Livre de predadores
O Grupo Damarfe desenvolve produtos para limpeza e purificação para diversos segmentos e apresentou a solução Hipossane Granulado. Segundo a empresa, trata-se de um hipoclorito de cálcio com 65% de cloro ativo que oferece ação “ultra rápida” nas poças de água com predadores do camarão, preparando o viveiro para um novo lote.
Sem stress
O Nucleoforce Shrimps, da Bioexperts Nutrição e Saúde animal, é um concentrado de nucleotídeos livres desenvolvido para camarões. O produto incorporado à dieta do animal promete aumentar a resistência a doenças e minimiza os efeitos negativos causados pelo stress. A companhia garante que ele melhora o sistema imunológico, o sistema digestivo e aumenta o crescimento e produção de ovos.
Sais balanceadores personalizados
Passível de ser reformulado para atender as exigências de cada produtor, o VeroMix, da Veromar, empresa situada em Campinas (SP), é um concentrado especial de sais desenvolvido para utilização em tanques
de carcinicultura em água doce com formulação baseada na água do mar.
Controle térmico dia e noite
A Ginegar Polysack é uma empresa de origem israelense que oferece filmes plásticos, geomembranas e telas de sombreamento/ proteção para a carcinicultura e a piscicultura. As malhas termorefletoras Aluminet dão sombreamento com o alumínio em sua composição que, segundo a empresa, controla a entrada de calor da radiação durante o dia e reduz à noite, o que retém as ondas de calor e conserva a energia armazenada durante o dia .
Para peixes e camarões
Indicado como melhorador do desempenho da produção de peixes e camarões em todas as fases de criação, o Bac 3 Aqua SE-TR da Vitafort, é um premix alimentar simbiótico enzimático, termoresistente composto por aditivos prebióticos, probióticos, enzimas e mineral. Ainda promove o equilíbrio do meio de cultivo aquático, buscando a melhora da qualidade da água tanto no tanque como em viveiro.
Diminuição da mortalidade
A Yes atua na criação de soluções biotecnológicas para uma nutrição animal como o GlucanGold, 60% composto de betaglucanos purificados, que age na diminuição da mortalidade de peixes e camarões. A solução foi desenvolvida para uso nas dietas, prometendo equilíbrio do sistema imunológico e contribuindo para uma proteção mais eficaz e duradoura aos desafios sanitários e ambientais.
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Marketing & Investimentos
Estandes com montagem incluída irão baratear pacotes de participação, diz organização
Comércio alinhado SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2019 •
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Seafood Show Latin America nasce para nivelar brasileiros com realidade exportadora de vizinhos latinos e incrementar exportações de todo o continente
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América Latina e o Caribe têm o maior potencial de crescimento mundial em volumes de pescado para 2030, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO/ONU). Os 20 países latinos e os territórios caribenhos devem
aumentar a produção em 24,2%, para 16 milhões de toneladas, segundo a mais recente edição do relatório da FAO/ONU, o The State of The World Fisheries and Aquaculture (Sofia 2018). A projeção para 2030 estima que o Peru continuará a liderar o continen-
te em volume de produção, com aumento de 14,2% para 4,45 milhões de toneladas, enquanto o Chile fica em segundo com 3,66 milhões. Na sequência vem o México, com 1,99 milhão. O Brasil surge com o maior potencial de expansão do continente, com 46,6% mais que em 2016,
Experiência de imersão - Além do espaço de exposição de produtos e serviços, o evento contará com cinco experiências complementares:
SEAFOOD SERVICE SHOW
Uma arena para apresentação de aulas-show, oficinas gastronômicas e intercâmbio entre chefs latino-americanos convidados.
SEAFOOD STORYTELLING SHOW Coquetel de networking em que empreendedores do setor no Brasil e exterior contam sua trajetória de sucesso.
SEAFOOD INNOVATION SHOW 2020 Premiação de incentivo aos melhores produtos do setor em dois eixos temáticos: Varejo (categorias: melhor praticidade, saúde e bem-estar, sustentabilidade e inovação); e Food Service (melhor solução, produto inovador, sabor e sustentabilidade).
SEAFOOD TALK SHOW
Este é o cenário que motivou a Francal Feiras e a Seafood Brasil a unirem forças para criar a Seafood Show
Latin America (SSLA), entre 20 e 22 de setembro de 2020, no Expo Center Norte, em São Paulo (SP). “Entendemos que o aumento da produção deve ser acompanhado da expansão de canais de comercialização, intercâmbio regional
Frigorífico-modelo capaz de demonstrar integração homemmáquina-software.
e abertura de novas fronteiras para o pescado latino, como a África e mercados de nicho na Ásia e Europa”, avalia Ricardo Torres, editor da Seafood Brasil e diretor de conteúdo do evento.
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mas um volume estimado de 1,8 milhão de toneladas.
SEAFOOD TECH SHOW
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Salões temáticos de apresentações e discussões sobre a comercialização, comércio exterior e distribuição dos principais grupos de produtos de pescado.
Marketing & Investimentos FLUXO DO COMÉRCIO MUNDIAL DE PESCADO (FAO/ONU 2016)
ÁFRICA
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AMÉRICA DO NORTE
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AMÉRICA LATINA E CARIBE
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ÁSIA
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EUROPA
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OCEANIA
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Marketing & Investimentos
A SSLA foi criada com objetivo de consolidar um espaço de conteúdo e geração de negócios para impulsionar as vendas de pescado a partir e para a América Latina. “A América Latina é onde haverá o maior aumento de importações até 2030 (+53,1%), mas o aumento das exportações deve ser mais forte na Europa (38,2% contra 29,8%)”, pontua Torres.
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O aumento do consumo previsto pela FAO para 2030 também é outro fator impulsionador. Entre 1961 e 2016, o consumo per capita global chegou a 20,3 kg, um aumento de 3,2% que supera o crescimento populacional (1,6%) e o aumento do consumo de carne de animais terrestres combinados (2,8%) no período. A projeção é que o consumo continue em expansão até 2030 para chegar a 21,5 kg per capita, em grande medida por conta da América Latina. A região deverá consumir 18% mais pescado em 10 anos, a maior taxa de crescimento mundial estimada pela FAO. É este perfil comprador e vendedor que irá marcar a Seafood Show. “Os latinos estão em ascensão na produção e consumo, o que posiciona o evento como o palco ideal tanto para compradores quanto vendedores de pescado de todo o mundo”, acrescenta Lúcia Cristina de Buone, gerente de negócios da Francal Feiras. “Para isso, pretendemos oferecer uma imersão no universo da comercialização do pescado para distribuidores, importadores, exportadores, fabricantes, atacadistas, frigoríficos, maquinários e indústria auxiliar do pescado nacional e internacional.” O lançamento oficial e início das vendas de estandes ocorreu durante a realização do “Venda seu Peixe”, workshop e rodada de negócios realizados nos dias 24 e 25 de outubro, no Novotel Center Norte, em São Paulo (Veja a cobertura completa do evento a partir da pág. 70). A cidade também
receberá a SSLA 2020. “Além de toda a estrutura disponível, São Paulo é a capital comercial do pescado. As principais redes atacadistas, varejistas, food service, produtores, indústrias e importadores têm operações aqui, o que pode favorecer a expansão do comércio regional”, sublinha de Buone. Apesar da localização, o intuito é fazer um evento com custos reduzidos de participação em relação às demais feiras de varejo e food service. “Estruturamos sete pacotes de participação, com área e montagem já incluída, justamente para evitar custos extras indesejáveis”, sustenta. Além disso, os interessados poderão participar como patrocinadores dos diversos eventos paralelos programados (veja box). O evento já nasce com o apoio de diversas entidades do setor, como a Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca), Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), Associação Brasileira de Fomento ao Pescado (Abrapes), Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), Coletivo Nacional de Pesca e Aquicultura (Conepe), Instituto da Pesca (IP), Associação Brasileira dos Criadores de Pangasius (PangaBR), Sindicato da Indústria da Pesca no Estado de São Paulo (SIPESP), Sindicato de Restaurantes, Bares e Similares de São Paulo (SindResBar-SP), Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Confederação Nacional do Turismo (CNTUR) e Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
Em busca de protagonismo global Apesar de ser um importador relevante, o Brasil ocupa apenas o 60º lugar no ranking de maiores exportadores. “Na prática, o País está de fora da maior corrente mundial de negócios entre as proteínas animais”, sublinha Torres. Só a venda
primária de pescado em todo mundo foi estimada em US$ 362 bilhões, dos quais US$ 232 bilhões foram provenientes da aquicultura. O Chile e o Equador são os únicos países latinos que figuraram entre os 10 maiores exportadores de pescado em 2017 em receita, segundo levantamento do banco Rabobank. A produção está em franca ascensão, mas se alcançarem o desempenho previsto pela FAO para 2030 os latinos e caribenhos chegarão a pouco mais de 10% do volume produzido pela Ásia. Os maiores produtores e consumidores de pescado em todo mundo devem chegar a 2030 com 144,66 milhões de toneladas produzidas. A FAO indica que as exportações globais saíram de US$ 8 bilhões em 1976 para US$ 143 bilhões em 2016, 7% de aumento sobre o ano anterior. Já o crescimento econômico de 2017 fortaleceu a demanda e os preços, aumentando ainda mais a receita de exportações de pescado em 7% para US$ 152 bilhões. A China segue como o maior exportador de pescado desde 2002, embora o ritmo de crescimento tenha diminuído. Depois dos chineses, a Noruega, Vietnã e Tailândia são os maiores exportadores. A União Europeia representa o maior mercado único para pescado, seguido pelos Estados Unidos e Japão. Em 2016, estes três mercados combinados representaram aproximadamente 64% da receita total de importações de pescado e subprodutos. Acordos regionais de comércio, como o firmado recentemente entre a União Europeia e o Mercosul, são uma das principais ferramentas de impulso a este desempenho, já que o fluxo regional de pescado cresce mais rápido que os fluxos externos, segundo a FAO.
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Ajuste fino Campanha dos peixes do Alasca se debruça sobre aspectos nutricionais para conquistar público vidrado em saúde e esportes
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selvageria do Alasca agora tem novo alvo: os consumidores adeptos da nutrição, esportes e hábitos alimentares saudáveis que se importam com a pegada que deixam no planeta. Este foi o foco do tradicional evento de final de ano do Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI), realizado em São Paulo no dia 04/12. A organização resolveu montar um workshop de nutrição a partir do consumo de pescado, em especial das espécies selvagens do Alasca, com depoimentos de nutricionistas, médicos e especialistas do mercado com foco em varejo, food service e mídia especializada. Nicolas Rubio, diretor do escritório comercial do Departamento de Agricultura dos EUA no Consulado Americano em São Paulo, deu as boas vindas e reforçou que o trabalho da ASMI conduzido no Brasil pela River Global, de Carolina Nascimento e José Madeira, insere-se em um contexto mais amplo. “Precisamos valorizar a gastronomia norteamericana além dos estereótipos”, salientou.
A organização convidou a nutricionista Andrea Esquivel para comentar a relação entre pescado e o ômega-3. Ela usou os materiais criados pela própria ASMI para exemplificar como o salmão real (king) tem 1476 mg de ômega-3 DHA + EPA em uma porção de 75g. A dose é o equivalente a mais de duas cápsulas destes ácidos graxos poliinsaturados, que auxiliam na proteção cerebral e estimulação da memória. “Como o corpo humano não produz em quantidade suficiente DHA nem EPA, conhecidos pelos nutricionistas como PUFAs, precisamos obtê-los de outras origens, como o salmão do Alasca.” A especialista garante que os peixes de água fria possuem mais ômega-3.
ativados de acordo com a alimentação gestacional da mãe.” Ela comentou ainda estudos que comprovam redução do índice de prematuridade e baixo peso, morte perinatal e pré-eclâmpsia.
Nathalia Gioia, pediatra do Centro de Nutrologia e Dificuldades Alimentares do Instituto PENSI, alertou os presentes sobre a importância de adotar uma dieta com ômega-3 já desde a gestação. “É o momento onde estão se formando as principais estruturas e a alimentação materna pode alterar a fisiologia e o metabolismo de forma permanente. Há inclusive genes que podem ser
Por fim, Babi Conte, criadora do blog Fit Food Ideas, disse que em sua experiência de lidar com o público se deu conta de que as pessoas antes queriam comer saudável por estética. “Hoje já não é mais. Quem se preocupa com alimentação saudável lê rótulos.” Outro ponto é o “comer bem em casa, não só fora de casa”. Na visão dela, o caminho é oferecer sugestões de compra, preparo e apresentação.
Diogo Simão, médico do esporte especializado em rendimento e desempenho de atletas profissionais e amadores, falou sobre a relação entre o consumo de pescado e aumento de performance e de massa muscular. “Muitas pílulas de ômega-3 não funcionam, e os ácidos graxos são muito mais biodisponíveis (absorvidos pelo corpo humano) na sua forma original.” Ele ainda celebrou a decisão de alguns vegetarianos que se permitem comer peixes para complementar a dose de proteína.
Selvagem e saudável O restaurante Praça São Lourenço, em São Paulo, foi o palco do lançamento da nova estratégia do Alasca de promover atributos dos peixes selvagens para a saúde. Na plateia, influenciadores, nutricionistas, esportistas, varejo, indústria e distribuidores. No cardápio, salmão selvagem na crosta de sal e bacalhau do Pacífico (Gadus macrocephalus) ao forno com legumes.
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Rodrigo Rocha (Pescados Bem Fresco), Guilherme Blanke e James Loureiro (Noronha)
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Raul Godoy (Praça São Lourenço), Babi Conte (Fit Food Ideas) e Roberto Imai (Fiesp)
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Roberto Imai, Silvio Pereira e Rodrigo Joaquim (Grupo 5)
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Roberto Junqueira (Minerva) e Sandra Takahashi (Nordsee)
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Lilian Petri e Nathalia Silva (Swift)
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José Madeira (Asmi), João Paulo Gentille (Praça São Lourenço), Nicolas Rubio (Embaixada EUA) e Marcelo Fernandes (MF Gastronomia)
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Manuel Filho e Marcela Zampieri (Big), Rafael Guinutzman (GPA), Ricardo Torres, Rodrigo Joaquim e Silvio Pereira
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James Loureiro e Eduardo Uemura (GPA)
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Fran Tonello, Daniela Monteiro (Legnani RP) e Diogo Simão
Marcelo Freitas e Elane Santos (GPA) Sandra Takahashi, Rodrigo Nojiri (Kampomarino) e Roberto Imai
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Ricardo Torres (Seafood Brasil), Edgar Novoa e Stephanie Ledesma (ProEcuador)
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Happy-hour do Deagro
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O Departamento de Agronegócio da Fiesp realizou o tradicional encontro de fim de ano para a cadeia de pescado em 29 de novembro da Fiesp. O presidente do órgão, Paulo Skaf, apareceu para saudar os presentes e se disse impressionado com os números de crescimento do setor. Roberto Imai, diretor da divisão do Deagro, introduziu a proposta de preparo rápido dos itens de pescado fornecidos pela Abipesca e Abrapes.
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Marcos Glueck (Anepe) e Betinho Oliveira (Fish TV)
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Roberto Imai e Marli Marques (Lagostão)
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Edson Sapiras (Acripar) e Conceição Zeppelini (Francal)
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Edson Sápiras (Acripar), Paulo Skaf (Fiesp), Kaká Ambrósio (Pescall) e Roberto Imai (Deagro/Fiesp)
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David Veiga, Roberto Imai, Paulo Skaf, Marli Marques e Antonio Carlos (Deagro/Fiesp)
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Thamires Quinhões (Abrapes), Andrea Dirane e Andrea Moura (Mapa), Betinho Oliveira, Rosa Malavacci (Abrapes), David Veiga (Abrapes) e Victor Arruda (Abrapes)
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Diogo Telles Akash e Leo Ramos (Abrasel) e Rodrigo Joaquim (Grupo 5)
Roberto Imai, Silvio Romero Coelho (BAP), Conceição Zeppelini, Marta Ângelo (Zaltana), Francisco Medeiros (PeixeBR), Newman Costa (Sebrae) e Fabio Sussel (Vai Aqua)
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Francisco Medeiros, Itamar Rocha e Fábio Sussel
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José Madeira (Asmi), Sandra Takahashi (Nordsee), Carolina
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Ana Lídia Camis, Wagner Valenti (Unesp/Aquabio), Alex Du Mont, Sergio Tutui (Fundepag), Adriana Levy, Patrícia Valenti (Unesp/Aquabio) e Célia Scorvo (IPesca/Aquabio)
Nascimento (Asmi), Ivan Lasaro (Opergel), Márcio Milan e Karina Duarte (Abras)
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Denis Araújo, David Veiga, Thamires Quinhões, Ricardo Torres (Seafood Brasil) e Wagner Camis (Água Pura)
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Miguel Dias Marques, Marli Marques e Luis Palmeira (New Fish)
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Katia Magalhães Campos e José Pereira de Souza (Trovão Pescados)
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Desembarque nórdico Noruega quer suportar expansão aquícola brasileira ao mesmo tempo em que reforça desejo de consolidar posição no bacalhau e abrir mercado ao salmão
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plano já está traçado. A expansão da aquicultura no Brasil vai acontecer com o apoio da tecnologia e investimentos noruegueses suportados pela agência Innovation Norway. Por outro lado, a Seafood From Norway (ex-Norge) está dedicada a conservar a posição de liderança no bacalhau
e abrir definitivamente as portas para o salmão por aqui. Estes são os encaminhamentos dos dois últimos eventos que ocorreram em outubro e novembro com a participação dos nórdicos. A jornada começou com o Seminário Bacalhau da Noruega,
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Sistema de produção off-shore de salmão: tecnologia está disponível aos brasileiros
realizado em 22 de outubro em São Paulo e no dia seguinte no Rio de Janeiro (RJ). Nils Martins Gunneng, embaixador da Noruega, pautou o encontro com as discussões sobre a questão climática que não pode ser ignorada por países pesqueiros e consumidores. Para ele, o desafio está em cuidar dos oceanos, como apontam
Os frutos são muitos: o Brasil é o maior mercado de exportações da Noruega fora da Europa. O relatório 2019 de investimentos noruegueses no País traz a informação de que os noruegueses injetaram entre 2017 e 2018 US$ 25,5 bilhões em investimentos agregados, com geração de 27 mil diretos e 585 mil indiretos. O acordo EFTA-Mercosul (Mercosul e a Associação Europeia de Livre Comércio - EFTA, bloco formado por quatro países europeus - Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein) também pode impulsionar este desempenho. Para o embaixador, agora a relação será mais fácil porque os quatro países europeus e os quatro latino-americanos não precisam do processo longo que a União Europeia necessita para concluir o acordo Mercosul-União Europeia. “Espero que possamos implementar o acordo no ano que vem. Teremos muitas oportunidades, como o salmão congela-
Enquanto o salmão não chega, o foco do Conselho Norueguês da Pesca (Seafood From Norway), comandado por Øystein Valanes, continua na consolidação da posição do bacalhau. Os concorrentes estão em movimento. No bacalhau do Atlântico (Gadus morhua), o suprimento da Islândia aumentou e irá suportar o crescimento de 1% no volume capturado em 2020, para 1,1 milhão de toneladas. A cota definida recentemente para a espécie aumentou 2% em relação ao ano passado: 738 mil toneladas para o bacalhau do Atlântico. Já o saithe crescerá 5% para 369 mil toneladas em 2020 e o acréscimo virá da Noruega. “Mas calculamos que haja crescimento de importação de saithe da Islândia para o Brasil neste ano”, falou. O Brasil aparece como o 4º maior mercado para o Gadus morhua e saithe. Valanes acredita que o desenvolvimentos dos mercados, como o brasileiro e o dominicano, causarão impactos ao mercado mundial. Isso, em combinação com outras cotas e ações, deve diminuir o preço do saithe. “A demanda para saithe e cod é inelástica. Quando o preço sobe, a demanda cai pouco.”
Pescadores noruegueses vêm ao Brasil O CEO da Råfisklaget, organização responsável pelas vendas dos pescadores noruegueses, Svein Ove Haugland, explicou que, em todo o inverno, o cod sai do Mar de Barents e se aproxima da costa da Noruega. A pesca acontece de janeiro a abril e 80% do volume é capturado no período. A estrutura é descentralizada e a frota é bem diversificada: em 2018, foram 6.200 barcos. “Diversas cidades costeiras não existiriam se não fosse pelo cod, como Tromsø ou Trondheim”. Ao longo da costa norueguesa, são mais de 200 indústrias e centros de descarga de peixes. A técnica de captura Danish Seine é uma das utilizadas e permite
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O embaixador vislumbra maior confiança entre os governos e troca entre as autoridades, “melhor agora do que em anos anteriores. Temos visitas e conferências para tentar esclarecer melhor o que as autoridades precisam. Nossa cooperação com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é muito boa e isso ajuda”, frisou.
do, um dos produtos que podem se beneficiar com isso.”
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O documento indica que os oceanos estão muito mais quentes em comparação há 100 anos, com evolução crescente e sem variações. “Mas nós podemos lidar com isso”, declarou Martins. Lembrou que em 2050 teremos quase 10 bilhões de habitantes no planeta que precisarão de alimentos, e os oceanos serão a solução para suportar este aumento. “A terra não comporta tudo, mas os oceanos podem. Precisamos deles ricos e frios.”
Para o embaixador, Nils Martins Gunneng, acordo Mercosul-EFTA dará resultados já a partir de 2020
Arquivo Seafood Brasil
as conclusões do relatório do estado dos oceanos, lançado recentemente pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Marketing & Investimentos
Svein Ove Haugland, da Råfisklaget, liderou uma comitiva de pescadores noruegueses interessados em se atualizar sobre o principal mercado fora da Europa para eles
estava no evento e revelou que só o que a Noruega faz de negócios com pescado é maior do que fazemos com a carne bovina. Inspirado pelo modelo norueguês e pelo tamanho da costa brasileira, ele indicou que “pretende estimular a aquicultura oceânica”, declarou.
que o peixe possa ser capturado e mantido vivo no próprio barco até o abate. Haugland falou que todo o pescado desembarcado precisa passar por eles e outras cinco entidades responsáveis pelas organizações de venda. Elas pertencem aos pescadores e organizam as vendas e o mercado de matéria-prima. De acordo com ele, a pesca rendeu R$ 6 bilhões em 2018 e todo o pescado
Haugland vê a mudança climática como o grande desafio para a atividade e não há dúvidas de que os estoques estão variando de acordo com isso. Ele falou ainda sobre a exportação de 95% de seu pescado. “Somos muito dependentes disso e precisamos ter mais atividades de processamento na própria Noruega, em vez de exportar matéria-prima”. O diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca), Cristiano Lobo, também
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ilian The Braz mer u s n o C acalhau
é certificado para indicar que cumpriu com as regulamentações do governo norueguês. A entidade ainda conta com sistema de preço mínimo, leilões e contratos com pagamento garantido.
Baixe aqui o PDF do estudo que a Noruega preparou sobre o perfil do consumidor brasileiro http://bit.ly/estudo_consumo_Noruega
Lobo indicou que também é necessária uma maior equivalência internacional no ambiente regulatório. Deu como exemplo a exigência de que o salmão norueguês passe por uma análise de risco de importação, ainda que ele seja processado e congelado na Noruega e, por este motivo, não causaria impacto à produção aquícola brasileira.
Colaboração aquícola A segunda etapa da jornada norueguesa pelo Brasil foi o III Encontro Noruega Brasil de Aquicultura, realizado em parceria pela Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR), Fiesp e Innovation Norway para aumentar a colaboração entre os dos países na área aquícola. “O primeiro encontro foi para nos conhecermos uns aos outros. No segundo a indústria da Noruega esteve presente e já tivemos trabalhos práticos. Hoje já temos dois projetos [em andamento] e, pelo que sabemos, sairemos daqui com dezenas de projetos encaminhados”, pontuou o diretor-presidente da entidade, Francisco Medeiros. Além das máquinas para o cultivo e processamento de pescado, o evento serviu para apresentar ao público brasileiro iniciativas concretas de investimento direto já na aquicultura.
Perfil de consumo Conforme Øystein Valanes, oito anos após o primeiro Encontro Noruega Brasil de Aquicultura, o mercado apresenta possibilidades inexploradas. “O ponto de partida é o nosso estudo do consumidor brasileiro de bacalhau, realizado com 2.500 pessoas em Salvador, São Paulo e Curitiba.” Valanes lembrou que os noruegueses comem 53 kg de pescado por ano, enquanto os portugueses comem mais de 60 kg e no Brasil 10 kg. Aqui, se cada pessoa consumir 100g a mais de pescado por ano, o mercado teria de oferecer 21 mil toneladas de pescado. “Claramente a vantagem do Brasil em relação a países que comem muito pescado é que ele representa um potencial grande”. Entre os resultados obtidos pela pesquisa realizada pelo Conselho, 90% das pessoas entrevistadas consideram o pescado como uma alimentação importante na dieta. O preço segue como barreira de consumo, já que apenas 13% disseram que compram pescado por razões de custo-benefício. Quando perguntados sobre as razões para comprar e consumir pescado, 83% por conta dos benefícios para a saúde. Outros resultados indicaram que as pessoas usam uma grande variedade de espécies, mas preferencialmente sardinha e tilápia, depois salmão e camarão. “É evidente que os brasileiros querem comer mais pescado do que hoje”, sublinhou Valanes. Para ele, a pesquisa mostrou que “o benefício tem mais força do que o custo.”
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A surpresa veio das respostas sobre a origem do salmão consumido no Brasil. Apesar de não exportar nada de salmão norueguês, 48% e 46% dos entrevistados disseram acreditar que o salmão vem da Noruega ou dos Estados Unidos. Em torno de 25% disseram ainda que preferem o salmão norueguês.
Marketing & Investimentos
Foi o caso de Rhyder Ramos, um colombiano radicado em Trondheim que anunciou um investimento em maricultura no Brasil. Segundo ele, este é o “primeiro empreendimento norueguês e brasileiro para a maricultura”. Sem dar muitos detalhes, o responsável disse que está adaptando tecnologias bem-sucedidas no cultivo de salmão na Noruega para espécies onde o Brasil pode construir benchmark, como a garoupa. “Estamos iniciando uma cooperação próxima para fazendas marinhas com a Redemar Alevinos”, referindo-se à empresa pioneira de formas jovens de peixes marinhos, como a garoupa e o bijupirá, sediada em Ilhabela (SP). Uma primeira colaboração firmada em janeiro deste ano entre o Grupo Ambar Amaral e a norueguesa PE Bjørdal AS marcou o início da parceria entre os dois países segundo a modalidade de Contrato de Pesquisa e Desenvolvimento Industrial (CPD) proposto pela Innovation Norway. A empresa brasileira entrou como demandante para solicitar o desenvolvimento de uma máquina para filetagem automática de tilápia.
Conforme essa modalidade, a empresa é responsável por 20% dos custos, enquanto a norueguesa responde por 80%, conforme explica Renata Prado, gerente de projetos para a América do Sul da Innovation Norway - que cobre até 45% do custo do projeto do grupo norueguês. Outro projeto mencionado foi a parceria entre a Piscicultura Cristalina, de Fartura (SP), com a Unesp e a Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega (NTNU) para avaliar a qualidade nutricional da tilápia e os impactos do manejo. Segundo Guilherme Nakata, da Cristalina, as amostras enviadas do Brasil foram comparadas com tilápia da China e do Vietnã, além do panga e salmão. “O salmão norueguês tem valores nutricionais excelentes, assim como a tilápia, e são complementares. Não precisamos nos ver como competidores. Para uma dieta equilibrada, você pode comer salmão e tilápia”, disse. Nakata lamentou ainda que o projeto tenha sido interrompido e afirmou estar em busca de parceiros para dar continuidade.
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Do que a aquicultura brasileira necessita? A organização do evento propôs a algumas empresas brasileiras a indicação dos problemas para os quais precisam de desenvolvimento tecnológico. A Geneseas foi uma delas. Paulo Henrique Neves André, analista de projetos, apresentou o plano da empresa de sair das 15 mil toneladas abatidas por ano para chegar a 2021 com 25 mil toneladas e 8 fazendas. A automatização de diversos processos é o caminho, segundo ele. “Arraçoamento automático pode ser implementado, com sistemas que leiam as demandas do cultivo e façam o arraçoamento de acordo. A vacinação também precisa ser automatizada.” Já a Tilabras, cuja expectativa de produção é de 100 mil toneladas por ano, está em busca de um scanner de biomassa nas gaiolas e um alimentador automático. Na mesma linha, a Ocean Farm, fazenda de bijupirás no litoral paulista, enxerga bom potencial para a espécie com fornecimento local de alevinos e ração, mas demanda tecnologia que mostre os parâmetros de cultivo, cálculo da biomassa, densidade e nutrição, entre outros fatores.
Tecnologia oceânica O novo diretor da Innovation Norway no Brasil, Håkon Ward, acaba de chegar ao País com a missão de transformar o crescimento sustentável da aquicultura brasileira em fonte de negócios e oportunidades para a Noruega. Ele frisou a íntima relação dos noruegueses com o mar e a migração de tecnologias das indústrias de petróleo e gás para aquicultura. “A primeira planta de aquicultura off-shore é um exemplo disso. Sabemos que os brasileiros são diferentes, o que significa que nossos fatores de sucesso são muito diferentes dos que serão aqui. Mas queremos combinar nossa experiência para promover o crescimento sustentável da aquicultura brasileira.” Diversas empresas ilustraram o discurso do diretor, como a Maritime Robotics. Sediada em Trondheim, opera no Brasil desde 2014 com monitoramento de derramamento de óleo. “A empresa tem balões de monitoramento que funcionam de forma automática, sem a necessidade de um operador como nos drones, e funcionam por dias a fio”, disse o CEO, Vegard Evjen Hovstein. Além disso, eles possuem veículos não-tripulados que fazem uma varredura do solo sob o cultivo e podem ser usados em uma rotina de verificações. A Norbit Oceans é outra nativa de Trondheim que iniciou as atividades no monitoramento de derramamento de óleo e criou soluções para aquicultura. Peter Eriksen, diretor da unidade de negócios para oceanos, apresentou como uma das novidades o uso de luzes LED para mudar a profundidade em que os peixes nadam e, assim, diminuir a infestação de piolho do mar. Outros sistemas são acústicos, como sonares para batimetrias. “Pode ser usado agora saber defeitos nas gaiolas, posicionamento dos anéis de fixação e o comportamento dos peixes no momento da nutrição.”
Degustação norueguesa
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Isabel Robles (Don Pepe), Bartira Volpato (Mathias Bjorge), Maria Stela Conte (Verum), Paloma Dias (Brascod), Sergio Souza (Brascod) e Fernando Abreu (Freeway) Christiano Lobo (Abipesca), Moacyr Veiga (Damm), Carlos Mello (Abipesca), Svein Ove Haugland (Råfisklaget) e Roberto Imai (Fiesp) Kjell Ringseth, Eduardo Uemura e Rafael Guinutzman (GPA)
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Arne Sperre (Brødrene Sperre), Nelson Oliveira (J. A. Oliveira) e Elane Santos (GPA)
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Antonio Guardia e Carlos Nascimento (Khamel) e Carlos Oliveira (J.A. Oliveira)
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Marcos Najar (Opergel), Julio Pimentel (Mosaico Comex), José Ricardo Soler (Opergel), Maria Salete e Hannah Welsch (Carrefour)
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Ivan Lasaro (Opergel) e Francisco Jardim (Mapa)
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Franklin Mascarenhas (Hollevik), Alice Ehmke, Lucas Kaku e Luiz Parisi (Horta Vitae)
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Nelson Oliveira (J. A. Oliveira), Øystein Valanes e Karina Ribeiro (Seafood From Norway)
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Ricardo Vasconcelos (Mar & Terra), Guilherme Mello (J. A. Oliveira), Marcelo Vital (Rede Nossa SP) e Icaro Duarte (Simplot)
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Rafael Guinutzman (GPA), Adriano de Souza e Silva (Carrefour) e Wilson Barquilla.
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Nórdicos fizeram mais um evento regado a bacalhau e muita informação para o público paulista e carioca em novembro. Nas fotos abaixo, o público varejista, distribuidor e representantes institucionais da Seafood From Norway confraternizaram com pratos de bacalhau depois de um seminário com informações de mercado.
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Rumo aos três dígitos 16ª Fenacam assiste a novas promessas de expansão com maior protagonismo dos Estados e chegada de novos atores
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Texto: Fabi Fonseca e Ricardo Torres | Fotos: Seafood Brasil
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maior edição já realizada da Feira Nacional do Camarão (Fenacam) apresentou promessas superlativas diante do histórico recente da carcinicultura brasileira. Entre 13 e 15 de novembro, mais de 6 mil pessoas e mais de 200 empresas expositoras testemunharam as promessas de retomada e expansão da atividade em novo pavilhão do Centro de Convenções de Natal (RN). O presidente da feira e assessor especial da ABCC, Itamar Rocha,
reiterou a promessa e o desejo de que a produção de camarão vannamei ultrapasse as 200 mil toneladas em 2022. “O mundo todo sabe do potencial que o Brasil tem e, também das dificuldades, mas que em algum momento irá destravar. A gente quer dar uma contribuição para que esse destravamento já aconteça agora e não deixe para os nossos netos”, declarou. Além dos negócios (veja abaixo), outra grande colaboração da feira é na capacitação do segmento. Os
tradicionais simpósios Internacional da Aquicultura e da Carcinicultura tiveram neste ano apresentação de 43 palestras de 13 países com mais de 1.500 participantes. Com o pano de fundo da disputa comercial com o Equador, o evento continua a dar ênfase para os temas relacionados à sanidade na carcinicultura. No segundo dia de palestras do simpósio da carcinicultura, por exemplo, Thales Andrade, da Universidade Estadual do Maranhão
Enfermidades continuaram na pauta do simpósio da carcinicultura como tema principal
Houve também bastante espaço dedicado à discussão de aprimoramento no cultivo. O professor Daniel Lanza, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), falou sobre a importância da relação entre melhoramento genético e monitoramento de controle sanitário. Segundo ele, é preciso salientar que quando se pensa em um programa de melhoramento genético não se podem descartar as variações ambientais e as ações dos patógenos. “É muito importante conhecer genótipo e patógeno para que se consiga fazer o melhor fenótipo, para produzir um melhor camarão que irá resultar em produtividade no campo”, destacou.
Conforme Lanza, para que tecnicamente a carcinicultura no Brasil possa se desenvolver de forma mais rápida e eficiente, será preciso trabalhar com melhoramento genético sólido, controle e monitoramento sanitário para que não haja muito aporte de novos patógenos para o Brasil. Também será preciso trabalhar na produção de camarões que sejam capazes de suportar as variações ambientais no País”, finalizou.
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“Lembro que em 2010, a indústria mundial já alertava sobre outros patógenos que hoje já são discutidos aqui na América Latina, inclusive referentes à importação e à exportação de produtos e animais vivos da carcinicultura”. Para Andrade, apesar da evolução da atividade nos últimos anos, ainda existem algumas fraquezas em relação ao diagnóstico dessas doenças, e muitos problemas de patógenos têm acontecido porque eles migram de um país a outro. Segundo o professor, a VPAHPND (necrose hepatopancreática aguda) e a EHP (microsporidiose hepatopancreática) aparecem entre as principais en-
fermidades emergentes para a América Latina.
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(UEMA), apresentou “Patógenos Emergentes na Indústria de Camarão na América Latina”. Andrade comparou a América Latina com Ásia e, conforme ele, ambas continuam com os mesmo problemas: as doenças ainda permanecem como o principal desafio para o desenvolvimento sustentável da indústria.
Marketing & Investimentos Rota dos estandes A organização da Fenacam calcula que o evento movimentou quase R$ 100 milhões em negócios. “A gente estima que esse valor em negócios gerados pode chegar a quase R$ 100 milhões entre rações, insumos e equipamentos nesses três dias de feira. São empresas que faturam mais de US$ 500 bilhões que estão aqui, que acreditam no nosso potencial”, frisou Itamar Rocha. Veja a seguir as novidades de alguns dos principais expositores:
Pioneirismo na extrusão A Guabi levou toda a sua linha de aquicultura com rações para peixes e camarões. O grupo foi o primeiro do Brasil a extrusar ração para o crustáceo e, segundo Pedro Fontenelle, o foco atual é ofertar mais benefícios na digestibilidade. “É um pacote tecnológico de enzimas e sais minerais orgânicos em uma linha toda desenhada para o alto desempenho animal.” A empresa apresentou ainda ferramentas que dispõe para o planejamento e gerenciamento das produções, como o Sistema Guabi de Alto Desempenho Sigad), o aplicativo Shrimp Mobile e os produtos GuabiTech e Evolution, linhas lançadas na Fenacam 2018. Pedro Fontenelle, supervisor comercial da Guabi
Do Japão A Prilabsa reforça a aposta no Brasil, onde tem dois escritórios: matriz em Natal (RN) e filial em Aracati (CE). Em ambas fornece equipamentos para piscicultura e carcinicultura, além de alimentos para berçários e probióticos. A novidade lançada na feira foi a ração japonesa para alevinos Sango Float, da Higashimaru.“O produto já é conhecido no mundo todo, mas havia uma carência de um produto assim no Brasil.” A empresa já realizou outras parcerias como a Zeigler para a larvicultura de camarão no berçário, além comercializar produtos como malhas e telas utilizadas na atividade. Ricardo Marinho, consultor técnico da Prilabsa no Brasil
Todos os elos A Potiporã foi para a Fenacam dedicada a fortalecer a imagem da verticalização do grupo Samaria. A produção de pós-larvas comandada por Roseli Pimentel, fazendas de engorda e a indústria de beneficiamento se juntam à mais nova aquisição do conglomerado controlado por Cristiano Maia: uma fábrica de ração que é a última inovação da empresa. “Hoje no mercado o grupo tem trabalhado o vigor genético em suas larvas para que ela responda com uma maneira mais robusta dentro das fazendas de cultivo e, agora, com a própria ração”, sintetiza Pimentel.
Roseli Pimentel, gerente da Potiporã
Fertilizante aquático SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2019 •
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A norte-americana Alltech celebra 25 anos de Brasil, dos quais mais de dez anos com a aquicultura. Segundo Fabio Rodrigues, toda a base de produtos é orgânico e natural, focado em nutrição e saúde. O grupo levou à Fenacam várias soluções que prometem melhora do desempenho, assim como os produtos e resultados técnicos da solução natural e exclusiva para protocolos simbióticos, o Aquate Fertilizer.
Fabio Rodrigues, coordenador de venda da Alltech
Participação didática Sem novidades na edição deste ano, a Wenger mais uma vez levou a AquaFlex, equipamento indicado para produção de alimentos de camarão. Para Eduwaldo Jordão, representante da empresa na América Latina, a feira oferece bom espaço para networking, mas também para divulgar melhor o que é a extrusão. Jordão diz ser muito procurado pelos carcinicultores interessados em construir fábricas de ração, mas a grande dificuldade está na complexidade na explicação do sistema para produzir o alimento.
Eduwaldo Jordão, representante da Wenger na América Latina
Extratos de saponinas A Phibro esteve representada pela Innutri, uma distribuidora de Aracaju (SE) que se concentrou no carro-chefe Paq-Gro, produto nutricional criado para melhorar a digestibilidade da ração e promover melhor desempenho, mais sobrevivência e, consequentemente, maior produtividade. Conforme o gestor comercial Luiz Henrique Lins, a novidade para a Fenacam foi o PAQ-Protex, alimento natural composto por extratos de saponinas - substâncias de origem vegetal que conferem maior proteção à saúde animal.
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Luiz Henrique Lins, gestor comercial da Innutri, representante da Phibro
Marketing & Investimentos
Água doce e salgada A Larvi Aquicultura, de Macau (RN), quer colaborar com o aumento da produtividade de camarão no Brasil. Para isso, segundo a diretora técnica, Jaqueline Medeiros, o objetivo é produzir pós-larvas de Litopenaeus vannamei mas também de uma espécie que recupera o interesse dos carcinicultores, o Macrobrachium rosenbergii ou “pitu da Malásia”. Medeiros considerou a feira uma “grande oportunidade” de ouvir as necessidades e trocar ideias com os clientes, “mais do que fazer novos negócios”.
Jaqueline Medeiros e Milton Fassarella, sócios da Larvi
Na ativa A Celm Aquicultura, laboratório de pós-larvas do grupo ao qual pertence a Maris Pescados mostrou que está em plena retomada de produção e levou aos visitantes da Fenacam uma variedade de vannamei geneticamente modificada. Para Caetano Guedes Júnior, diretorpresidente, o foco dos investimentos e pesquisa no laboratório possibilitou a inclusão de um produto com garantia de origem para ajudar na melhora da produção.
Caetano Guedes Júnior, diretor-presidente
Desembarque alemão A Bayer Saúde Animal estreou na aquicultura com uma linha ampla de produtos para peixes e camarões. O PondPlus promete degradar a matéria do fundo dos tanques; o PondDetox serve para remover o gás sulfídrico (H2S) tóxico da água de tanques e o Stomi é um suplemento de macro e microminerais. Conforme Marcio André Dahmer, gerente da linha no Brasil, embora as soluções com foco na melhora da produtividade sejam novas no País, já são bastante conhecidas na Ásia.
Marcio André Dahmer e William Missias, da Bayer
Versatilidade nos aeradores SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2019 •
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Para Nedir Chiesa, representante comercial da Trevisan, a Fenacam deste ano foi considerada “muito boa” e deixou uma imagem positiva tanto do evento quanto do setor. Mesmo com a derrocada de pólos regionais da tilápia como o Castanhão, a empresa segue firme com a aposta nos aeradores de pás alternadas tanto para clientes da carcinicultura quanto da piscicultura.
Nedir Chiesa, representante comercial da Trevisan
Desempenho melhor O clima do setor melhorou em 2019. A opinião é de Luiz Eduardo Conte, sócio-diretor da Ammcopharma, que neste ano dividiu o estande com parceiros de nutrição animal, biosseguridade e sanidade. “Observamos neste ano um movimento maior em relação ao evento de 2018, o que é reflexo de um momento interessante não só para o camarão, mas também para o mercado brasileiro animal.” O grupo tem trabalhado no mercado de camarão com biosseguridade, sanidade e, mais recentemente, na área de nutrição e aditivos, com as marcas Nutron, Vitafort e Pulsfog. Luiz Eduardo Conte e sócio-diretor da empresa Ammcopharma
Projetos e assessoria A MCR Aquacultura, que conta no quadro societário com Itamar Rocha, atua há trinta anos na carcinicultura com representação comercial de aeradores e instrumentos. Atua ainda na elaboração, implantação de projetos e operacionalização de fazendas de cultivo, unidades de maturação, larvicultura e unidades de processamento, conforme indica Cristina Câmara, da equipe técnica da empresa.
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Cristina Câmara, da MCR Aquacultura
Marketing & Investimentos
Nata do camarão Quem controla o destino do camarão no Brasil esteve na Fenacam deste ano, que reuniu mais de 6 mil pessoas e 200 empresas expositoras no Centro de Convenções de Natal (RN), entre 13 e 15 de novembro.
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Luzia Maia, Cristiano Maia, Christianny Maia e Moacyr Maia (Potiporã/Samaria)
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Altemir Gregolin (IFC) e Samy Menasce (Brasil Ozônio)
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Daniela Nomura, Rodrigo Teixeira e Eduardo Lacerda (Fish TV)
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Rui Teixeira (SAP/Mapa), Diego Maia Rocha (SynbiAqua Cultivos), Mauricio Pessôa (Sap/Mapa) e Flávio Lucas (Aquatec)
Murillo Longo e Márcio Fabrício (Markem-Imaje)
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Guillermo Illanes (Abbot) e Geraldo Borba (Nexco)
Pablo Roberto Páez (Prilabsa) e Sidney Vale (Zeigler)
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Geraldo Borba e Francisco Medeiros (PeixeBR)
Ivan Gavioli (Altamar), Ricardo Da Fonte (Da Fonte Aquicultura), Marcelo Shei (Altamar), Fábio Rossi (Marine Equipment) e Tiago Bueno (Seafood Brasil)
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Eduardo Ono (Aquamanager/CNA)
Newman Costa (Sebrae)
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Helder Medeiros (Tresm Empreendimentos), Ricardo Pedroza (Camarões do Brasil) e Orígenes Monte (ANCC)
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Luiz Cobra, Ricardo Nascimento e Marcos Queiroz (MQ Pack)
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Juan Larrain, Lucy Brimble e David Dinhani Jr. (Anpario)
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Rodrigo Baldin (Camarão São Luiz) e Danton Nielsen (Aqualuz)
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Ana Carolina Guerrelhas, Maria Cláudia e Candi Demarchi (Aquatec), Jesús Malpartida (JMP Aquaculture) e Luis Otávio Brito (UFRPE)
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Eduwaldo Jordão (Wenger) e Francisco Medeiros
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Renato Almeida, Thais Milena, Thaysa Brito e Wellington Rossito (Imeve)
Rodrigo Facundes, Fabio Sussel e Alberto Picharillo (Vai Aqua)
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P E Q U E N O S
GIGANTES Camarão reage de maneira mais firme dos laboratórios às fazendas, mas previsões ainda são discretas na comparação regional
Texto: Fabi Fonseca e Ricardo Torres
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e houvesse um campeonato mundial de produtores de camarão em que os pontos corridos fossem os volumes produtivos, o Brasil amargaria o risco de sair de mãos abanando, sem título e sem classificação para nenhum outro campeonato. E isso aconteceria apesar do aumento de produção estimado para 2021 para 120 mil toneladas, o que representa praticamente o dobro do que produzimos em 2017. Se de fato chegarmos lá, o volume representará pouco mais de 10% de todo o estimado para as Américas pelo Global Outlook for Aquaculture Leadership (Goal), evento promovido pela Aliança Global de Aquicultura (GAA) entre 21 e 24 de outubro de 2019. Os concorrentes regionais devem liderar este crescimento: só o Equador pode ultrapassar as 700 mil toneladas em 2021 para dar conta de saciar
O Brasil dispõe hoje de 30 mil hectares para o cultivo do vannamei, que se concentra nos Estados do Rio Grande do Norte e Ceará a despeito da evolução de novos pólos como Alagoas, Bahia, Piauí e a interiorização dos cultivos em bioflocos. Em suas previsões, a ABCC não prevê aumento de área, o que forçará os produtores a dobrar a produtividade atual de 2.000 kg/hectare por ano com 3 ciclos em média. o crescente apetite chinês; o México pode chegar a 160 mil toneladas. Aqui no Brasil, este ano de 2019 deve dar a medida do crescimento e funcionar como um estágio intermediário, com 90 mil toneladas - o mesmo volume que o Brasil entregava em 2003, quando liderava a carcinicultura no continente e celebrava uma expansão de 14.000%. Os dados da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC) revelam, porém, que a expansão deste patamar exigirá um aumento de produtividade em ritmo acelerado.
Chegar a 4.000 kg/hectare não seria inédito. Na curta trajetória da carcinicultura no Brasil os produtores já bateram picos de 5.458 (2002) e 6.314 (2003) e antes de a mancha branca se disseminar de Sul a Norte chegamos a produzir 4.054 kg/hectare em 2010. Hoje as fazendas mais eficientes no sistema extensivo ou semi-extensivo (com berçário), como as do Grupo Samaria/ Potiporã, atingem uma média de 1.650 kg/ha/ciclo. Como são 3,6 ciclos anuais, a produtividade é de 4.950 kg/ha e o
Os números são impressionantes para a realidade brasileira, mas não são páreo para os padrões da nova parceira tailandesa da Camanor, a CPF Foods, que, sozinha, produz atualmente 40 mil toneladas em fazendas na Tailândia. O volume se deve ao investimento em melhoramento genético, que consumiu mais de US$ 400 milhões e gerou camarões com altas taxas de crescimento. “São animais que crescem de 5 a 7 gramas por semana, enquanto os nossos animais em geral crescem talvez uma grama, com sorte”, pontua o sócio Werner Jost. É em busca deste desempenho
de camarões, que abrange desde os reprodutores vivos ao filé (eviscerado e sem cabeça).
A pauta está em Brasília e também faz parte da discussão sobre a biosseguridade que polariza o segmento: os produtores querem evitar a entrada de novas doenças e os importadores enxergam protecionismo travestido de barreira sanitária. Para tentar pacificar a questão, o Ministério da Agricultura abriu no início de dezembro uma consulta pública de um novo modelo de Análise de Risco de Importação (ARI)
Valéria Homem, coordenadora de animais aquáticos da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA/Mapa), garantiu na última reunião da Câmara Setorial do Pescado que o ministério está junto com o setor em evitar a entrada de risco sanitário no Brasil. Ela indicou que os riscos serão classificados de forma diferente, com maior graduação para animais vivos e menor para o filé. “A mercadoria em pauta
EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE CAMARÕES NO BRASIL (KG) IBGE
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120.000.000
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90.000.000
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64.678.038
85.000.000
22000
3402
Ano
* Estimativa ABCC
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Já as hiperintensivas, como a Camanor, adotam alta densidade de estocagem para maximizar a produtividade por hectare. A média atual da Fazenda Canabrava é de 310 camarões estocados por m2, com uma produtividade de 45.000 kg/hectare/ciclo. Atualmente são 20 hectares de área de produção e três ciclos por ano: cada ciclo dura em média 100 dias, entre maturação, estabilização da água, engorda e despesca de um camarão de até 18g.
que a empresa deve iniciar em breve a importação de reprodutores livres de enfermidades (mais detalhes na pág. 42).
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volume anual já beira as 7 mil toneladas, graças a um programa de melhoramento genético próprio que consumiu milhões de dólares.
Capa
Produtores defendem importação de matrizes para uma atualização do plantel
neste momento é um animal descongelado, descabeçado e eviscerado. Fizemos um levantamento de todas as entradas destas mercadorias no País e o encaminhamos para avaliação: os resultados mostraram ‘não presença’ deste agente”, pontuou, referindo-se à EMS. Cristiano Maia, presidente da ABCC, é menos otimista. “Não estamos preparados para resistir à chegada de novas doenças, como a EMS. Sei que vai chegar, não sei como nem quando. Mas pedimos estudos aprofundados e o que puder haver de precaução.” Marisa Sonehara, da Camanor, sugere cautela na avaliação. “A entrada da mancha branca foi adiada por 15 anos com as restrições sanitárias. Se abrimos importação de camarão para consumo sem cuidado abrimos a porta para doenças.”
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Impulso institucional Se o melhoramento genético deve ditar a evolução da tecnologia de cultivo, no campo institucional a ABCC cobra maior envolvimento dos Estados na expansão da carcinicultura. Um dos principais pleitos é o aumento de áreas para cultivo, já que o Brasil dispõe de apenas 30 mil hectares, enquanto o Equador, em um território equivalente ao do Estado do Tocantins, tem 210 mil hectares para a carcinicultura.
Itamar Rocha, assessor especial da ABCC, fala que a expansão depende das empresas-âncoras, que podem servir de modelo aos pequenos e micros. “Se você quer ser uma âncora, vai poder, por exemplo, pegar o dinheiro do Banco do Nordeste com juros diferenciados, entre outros benefícios. O Estado precisa dar algum incentivo, como como temos no frango comercial e no porco, e assim fazer um ‘guarda -chuva’ para o pequeno produtor”, sublinhou. Ele calcula que, só em Sergipe, há cerca de 600 produtores sem financiamento pela inexistência de âncoras. “Não vai ser tão fácil resolver as questões dos gargalos da documentação, mas defendo a âncora como o primeiro passo.” No Rio Grande do Norte, que assumiu a dianteira da produção com 43% do volume nacional em 2018 (IBGE), o governo local procura reagir a pressões tanto no cultivo quanto no beneficiamento e comercialização. O Decreto Estadual nº 29.031, de 26 de julho, alterou o regulamento do ICMS em operações com camarão no Estado, que na prática ofereceu crédito presumido a operações locais e interestaduais, resultando em uma carga tributária de 1,5% a produtores e 1,0% às indústrias processadoras. Já o aumento de áreas segue contido pela temor de impacto ambiental. Cristiano Maia, da ABCC: “Não sei quando nem como, mas a EMS vai chegar”
A Lei Cortez Pereira, publicada em 2015, enquadra a carcinicultura como atividade agrosilvopastoril, harmonizando o entendimento do Código Florestal e até do Supremo Tribunal Federal (STF). Com isso, o cultivo em Áreas de Proteção Permanente (APPs) permanece liberado, o que gerou muita resistência regional e pressão para uma ação direta de inconstitucionalidade do Ministério Público Estadual. Em abril deste ano, o Tribunal de Justiça deu uma vitória parcial aos produtores ao recusar o “perigo de demora” e manter em operação as fazendas enquadradas neste entendimento. Na esfera federal, o Mapa adota como um dos grandes focos o trabalho de prevenção e boas práticas de manejo dentro das unidades de produção, conforme explica a coordenadora de aquicultura marinha da Secretaria de Aquicultura e Pesca, Shayene Agatha Marzarotto. “Queremos atuar na capacitação desses produtores para produzirem de maneira mais preventiva para a chegada de doenças. Se a doença já está instalada, tentar trabalhar com ela para reduzir perdas. Na maioria dos casos a doença já existe, então é trabalhar com boas práticas para reduzir a mortalidade”, exemplificou. O auxílio se insere dentro do marco do AgroNordeste, um plano de ação criado para impulsionar o desenvolvimento econômico e social sustentável do meio rural da região. As ações
Shayene Agatha Marzarotto diz que a SAP pretende investir na capacitação de produtores
da programa para a carcinicultura envolvem as áreas de Vale do Açu (RN) e Vale do Jaguaribe (CE), locais com pequenos produtores que irão receber capacitação e auxílio em uma série de dificuldades encontradas na produção de forma a aumentar a produtividade e deslanchar na cadeia. As regiões foram selecionadas pela Embrapa. Outra linha de trabalho é no seguro aquícola. Conforme a coordenadora da SAP, o seguro rural em todo mundo, por suas características específicas, inclusive de informações, tem um custo inicial alto, e assim são poucas seguradoras que se interessam por este mercado. “No País existem apenas 14 empresas seguradoras credenciadas no Programa do setor rural que realizam os seguros por meio de canais de distribuição
O Deger já identificou que aquicultura é uma atividade emergente no Brasil e com um grande potencial de crescimento, e estabeleceu para 2020 recursos próprios de subvenção para modalidade do seguro aquícola. Trata-se de 40% do valor pago pelo Governo do Prêmio Bruto, e tem um valor limitado por CPF de R$ 48 mil/ano. “Acredita-
-se que implantação desta subvenção pelo governo irá estimular mais as seguradoras a ter um produto de seguro aquícola. Pois atualmente somente uma seguradora, das 14 de agro, tem um produto de seguro específico para aquicultura. Esta iniciativa contribuirá para o acesso dos produtores ao seguro aquícola, e como resultado, a possibilidade de organização do setor, tornando-se mais profissional, mais eficiente e mais competitivo”, frisou.
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do Exija cedor e n r fo seu alidade a qu dutos pro dos ás ubr a N t
como corretor de seguro, agências e entidades financeiras.” O Departamento de Gestão de Riscos da Secretaria de Política Agrícola (Deger) no Mapa é o responsável de todos os programas de gestão de riscos do meio rural, ele também incentiva o produtor a contratar o seguro rural e subvenciona parte do prêmio. Então, o produtor que busca contratar o seguro rural pode ter acesso à subvenção do Prêmio.
O sabor que faz a diferença
Capa Aquasul
20 anos de consistência Aquasul se aproxima das duas décadas sintonizada com a regionalização dos cultivos
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a virada do século, quando Saulo Guedes iniciou as atividades do laboratório de pós-larvas na praia de Barreta, em Nísia Floresta (RN), havia poucos concorrentes. A carcinicultura deu um salto em poucos anos, porém, e em 2003 o Brasil se tornou o líder das Américas. As poucas empresas do gênero tinham fila de espera de até 90 dias para formas jovens, tamanho o apetite e vontade de expandir o volume produtivo. Depois teve início a era das doenças, como a Nim e a mancha branca, que dizimaram muitas fazendas e laboratórios. A Aquasul reagiu rápido e buscou isolar seus reprodutores, aumentando a biosseguridade na estrutura, bem como orientou seu programa de melhoramento genético para obter animais mais resistentes às doenças. “Demos início a este trabalho há cerca de 15 anos com ênfase na resistência, para os animais suportarem mais esses tipos de enfermidades”, frisa Guedes. Entre os resultados palpáveis do movimento ele destaca a capacidade
de despachar a clientes distantes via terrestre - um teste de resistência às larvas por conta do tempo de viagem. “Somos um dos poucos laboratórios que consegue mandar para Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro via terrestre. Para outros Estados mandamos via aérea.” Ele destaca que a carcinicultura se expandiu para todo o País e hoje já há produção em larga escala em locais como o Rio de Janeiro e Pará, enquanto outros como Brasília, Goiás e Mato Grosso tem experimentos de produtores locais. “Não há uma principal região, está pulverizado e todos os Estados estão procurando.” A ampliação para além do tradicional eixo nordestino na criação de camarões é um dos resultados efetivos do investimento da Aquasul nas redes sociais. “Com o advento das redes sociais, a carcinicultura se difundiu muito. Nas nossas redes sociais hoje temos mais ou menos 60 mil seguidores, nas quais publicamos bastante conteúdo e sugerimos muitos cursos on-line, tanto de criação de tilápia quanto de camarão e às vezes o consórcio dos dois”, conta Guedes. O volume do laborató-
rio hoje supera 300 milhões pós-larva/ mês e 40 milhões de náuplios por dia. Isso atende a nossa larvicultura e a outras que não tenham o setor de maturação. “Essa é a capacidade máxima do laboratório e estamos expandindo agora, mas não em termos de pós-larva”, revela o empresário. Na visão de Guedes, o crescimento deverá vir de um movimento ousado para quem não tem fazendas próprias. “Estamos entrando na comercialização do camarão. Já tivemos as embalagens aprovadas em outubro e iniciaremos a comercialização em 2020.” Os produtos foram apresentados na própria Fenacam e serão vendidos por uma rede própria de representantes comerciais em todo o Brasil. A atuação da Aquasul em um primeiro momento será puramente comercial, já que o camarão virá de 1000 produtores cadastrados. O beneficiamento também será terceirizado mas, a depender dos resultados, a empresa não descarta uma planta própria. “Vamos aguardar também a situação econômica do País melhorar, não é
Dalgivan Queiroz Junior, responsável pela presença on-line, e Paula Gomes Trigueiro, gerente administrativa, ao lado do pai, Saulo: mais de 60 mil seguidores nas redes sociais dão visibilidade à Aquasul, que vai evoluir das larvas à marca própria ao varejo
um produto tão barato e a economia precisa estar pujante para que haja consumo.” Apesar do esforço no projeto de marca para o varejo, as PLs seguem como prioritárias com uma fórmula baseada em preço, qualidade e atendimento. “Desde que começamos, em 2000, procurei ter um bom atendimento com o produtor, buscar excelência na qualidade, temos o maior zelo na parte técnica e no manejo. As dietas utilizadas são todas de primeira linha, um produto de qualidade e que resista as dificuldades que ele vai enfrentar nas fazendas de engorda e com preço competitivo.”
Na Aquasul, a participação efetiva de universidades e cursos técnicos ajuda sempre a atualizar as práticas produtivas. Alunos e professores de graduação e mestrado das federais do Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará e
Sergipe usam a estrutura para aulas de campo e o desenvolvimento de teses. Guedes indica que a iniciativa não é só por respeito à ciência. “Isso é muito importante porque a mão de obra qualificada vai para o campo e a PL sai daqui e será bem recebida, vai ter uma boa aclimatação e um manejo aprimorado.” É mais um investimento para o futuro.
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Guedes reconhece como um dos principais desafios atuais a qualidade técnica dos produtores, que se viram obrigados a aprimorar os cultivos a partir da entrada das enfermidades, mas
em muitos casos ainda não oferecem o ambiente mais adequado para as larvas. “Essa demanda técnica precisa ser aprimorada para que a larva chegue lá e encontre um ambiente mais favorável sem perda de produtividade.” Hoje a empresa tem clientes com densidades de estocagem que variam de 1000 camarões/m2 a 5 camarões/m2.
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Capa Camar Tecmares
Rusticidade popular Camar Tecmares reforça fama de larvas rústicas a partir de desempenho com a mancha branca
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osé Waldomiro Ribeiro Coutinho Filho precisava de pós-larvas resistentes para as fazendas de engorda que possui na Paraíba e Rio Grande do Norte. Foi com esse intuito que ele se aproximou de um conhecido laboratório na Barra do Cunhaú (RN) e se ofereceu para arrendá-lo e manter a produção. A estrutura era a Tecmares, vizinha à não menos conhecida fazenda Marine, que Waldomiro também arrendou.
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No controle de ambos os empreendimentos, o empresário começou a investir na estrutura da empresa e deu início a um processo de expansão que elevou a produção para 300 milhões de pós-larvas. Rossane Maria Batista Leite, mestre em zootecnia e gerente da Camar Tecmares, indica que o crescimento não deve parar tão cedo. “Temos outros dois laboratórios do grupo em Galinhos e Maxaranguape (RN) em ampliação. Um vai ficar com 60 milhões de PLs produzidas e o outro com 40 milhões de PLs.” O maior laboratório, de Canguaretama, está prestes a ganhar um novo módulo de produção. Um terreno anexo ostenta a placa “futuras instalações”. “É a expansão daqui. O projeto já está pronto e aprovado pelo Idema, iniciaremos as obras em 2020”, adianta Leite. Com todas as ampliações, o volume poderá ultrapassar as 500 milhões de PLs. E tudo isso em produção contínua. “Temos 65 funcionários trabalhando nos três turnos em 24 horas. Os outros [laboratórios] têm 23 e 16 funcionários.”
Segundo a gerente, Rossane Leite, empresa vai ultrapassar 500 milhões de larvas
O sistema é organizado em módulos para não interromper a produção para desinfecção: vazio sanitário, desinfecção de recipientes e de ambientes totais como chão, pisos e paredes, evitar contaminação cruzada com a passagem de funcionários de um setor para outro, ter pedilúvio e álcool 70 nas portas de entradas e saídas, desinfecção da água, tratar a água clorada e desclorar. “Esse controle de contaminação cruzada de funcionários é muito importante dentro de um ambiente que é praticamente todo fechado, cada um tem sua função para não ter de ir ao outro setor.” A preocupação se justifica. A Camar Tecmares tem reputação de possuir uma larva rústica, mais resistente à mancha branca. A lógica é: se funciona para as propriedades de Waldomiro, que levam 40% da produção, também funciona aos demais clientes. Entre eles está Pedro Duque, que é sócio das fazendas do grupo Carapitanga em Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. A carteira ainda inclui fazendas de todas as regiões do Nordeste. Todos interessados nos animais de boa fama da empresa.
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Capa Camanor
Antes e depois da Tailândia Parceria com a CP já torna possível cenário em que Camanor terá à disposição animais que crescem até sete gramas por semana
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m desempenho como o da linha acima é de encher os olhos de qualquer produtor de camarão no mundo. E já é realidade em algumas das fazendas comandadas pela CP Foods na Tailândia, segundo conta o sócio-fundador da Camanor, Werner Jost. Um ano depois de anunciar em plena Fenacam a parceria com os tailandeses, a empresa está prestes a inaugurar seu quarentenário para importar reprodutores geneticamente aprimorados pela gigante asiática.
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Jost garante que o desempenho deles chega a ser sete vezes maior do que os animais disponíveis no Brasil. Tudo por conta de um programa de melhoramento genético que consumiu mais de US$ 400 milhões. “Eles fizeram milhares de famílias e tinham instrumentos para controlar todo o avanço na parte de produtividade. Hoje eles têm os animais limposmais avançados do mundo.”
Para Luiz Henrique Peregrino, diretor técnico da Camanor, não são justificáveis os argumentos de que a importação legal trará doenças inexistentes no Brasil. “[Virão] animais de um centro de produção de alta biossegurança que é certificado e testado mais de dez anos livre de todos os patógenos conhecidos para camarão. E essa certificação a CPF tem”, garante, direcionando o alvo para os importadores de camarão congelado. “É diferente de trazer um contêiner com 20 toneladas de várias fazendas diferentes: como se vai fazer análise em todos os animais para garantir que não tenham doenças?”
fazer para garantir que não tenham nenhum tipo de patógeno.” Animais livres de patógenos e a genética aprimorada para o rápido crescimento são encarados na Camanor como um passaporte para a exportação.
O quarentenário fica em uma área a 50km do litoral, sem acesso a qualquer curso d’água e com um sistema de recirculação totalmente fechado. “Os animais só saem de lá depois de passar pelo quarentenário e pela checagem do Ministério através das análises que irão
A segunda razão por trás do acordo é que a CP é também a maior produtora de ração, o que lhe confere muito conhecimento em produção, de acordo com o sócio-fundador. “Eles nos ajudaram a conversas com os nossos fornecedores e em como fazer as perguntas certas. Mas no futuro quem sabe eles não venham montar uma fábrica aqui.” A qualidade da ração nacional é objeto de críticas de ambos desde o início do sistema AquaScience.
Além da autorização para o início do quarentenário, a empresa também espera do Mapa o sinal verde da habilitação para exportar à China. Os trâmites já estão, segundo o Mapa, com a autoridade sanitária chinesa e em breve serão concluídos. “Temos de começar a recuperar a nossa capacidade de exportar, perdemos por razões de custos”, pontua Jost.
O terceiro ponto foi a injeção de recursos para possibilitar investimentos na Fazenda Cana Brava, em Canguaretama (RN), e a conversão de praticamente todas as coberturas de sombrite por estufa, de forma a controlar melhor a temperatura seja qual for o prognóstico climático. Os 20 hectares de produção não receberam nenhuma
Cilindros de microalgas em estufas: novo laboratório da Camanor foi projetado para o sistema AquaScience
Luiz Peregrino e Werner Jost: Camanor quer larvas capazes de multiplicar produtividade no mesmo sistema
O novo laboratório da Camanor já funciona há praticamente um ano com o intuito de fornecer animais de crescimento e exclusivamente ao sistema AquaScience. “Antes comprávamos uma larva, não sabíamos a sua história e não tínhamos acesso a como era produzida. Hoje, como o laboratório é nosso, temos todas as informações e a larva é essencial para o nosso traba-
Para evitar qualquer contaminação a este animal tão precioso, o cuidado com o tratamento da água captada para o laboratório foi uma obsessão, como explica Peregrino.”Buscamos tudo o que haveria de mais moderno e eficiente para garantir que toda a água que entra no nosso sistema passe por filtração e desinfecção sem trazer qualquer tipo de patógeno para o laboratório.” A maturação é, segundo o diretor técnico, a única do Brasil que funciona em sistema fechado de recirculação,
sem qualquer água externa. Tudo para garantir uma casa bem confortável e segura para os animais SPF que devem chegar em breve. “Se o animal está livre de doenças, está apto a explorar todo o seu potencial de crescimento.” Ou, como diz Jost: “É a Ferrari com a melhor pista e combustível”.
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“Cachorro de raça”
lho”, aponta Jost. Segundo ele, os testes com estes animais na Fazenda Aratuá (sistema extensivo) tiveram maus resultados. “É como o cachorro de rua e o cachorro de raça. Se você bota o cachorro de raça na rua, morre rapidinho.”
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ampliação em 2019. “Não ampliamos nada de área, mas nos concentramos na migração da cobertura: começamos o ano com 15% da fazenda em estufa e o restante em sombrite e agora estamos terminando com 90% de estufas.” A previsão é de concluir o processo até fevereiro.
Capa Aquatec
30 anos por todo o Brasil Aquatec celebra trajetória de protagonismo nas formas jovens e viaja por todo o Brasil com larvas para “água doce”
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dealizado há trinta anos por Ana Carolina Guerrelhas e o ex-sócio Werner Jost (hoje exclusivamente na Camanor), o projeto da Aquatec - certamente o mais notório laboratório comercial de PLs no País, começou no ano de 1989, em Barra do Cunhaú, Canguaretama (RN). A estrutura foi criada para produzir 60 milhões de póslarvas (PLs) de camarão por ano, mas ganhou dimensões compatíveis com a sede de expansão do setor. A produção inicial era de espécies nativas, mas a incorporação de exóticas como o L. vannamei, que passou a ser
produzida exclusivamente em 1996, desbancou as nativas e deu à espécie o protagonismo no laboratório que passou a desenvolver programas de melhoramento genético, em 1998, e teve seu apogeu em 2007 com a criação da Genearch Aquacultura Ltda, empresa de melhoramento genético exclusivo para crescimento e livre de doenças de importância econômica, como a mancha branca e IMNV. Três décadas após sua criação, Guerrelhas ainda está sob o comando da Aquatec e agora divide a função com Maria Cláudia Menezes, que se juntou ao time de sócios em 2006. Hoje o laboratório atua com dois produtos: SpeedLine AQUA para crescimento e POND para resistência, que é disponibilizado desde 2017. “Este segundo produto se fez necessário no portfólio da Aquatec pela demanda crescente dele nos cultivos de viveiros abertos”, explica Menezes. O segundo produto nasceu da carência de um mercado que precisava se recuperar da mancha branca. Na época, a Aquatec
Candi Demarchi, assistente gerencial de larvicultura da Aquatec: pioneirismo na interiorização
viu taxas de sobrevivências médias despencarem de 80% para 20-30%. A chegada da doença trouxe perdas e um forte aprendizado: apenas um ano antes de a doença se disseminar, em 2010, a carcinicultura vivia uma expansão que fez a empresa alcançar seu recorde de produção anual de PLs com 2,7 bilhões. Hoje o volume está estabilizado em cerca de 1,8 bilhões por ano com a recuperação e o apoio da pulverização dos cultivos por todo o País. É crescente o número de Estados que começaram a trabalhar na atividade fora das tradicionais regiões produtoras. Em 2019, a empresa contou presença em 13 Estados (Piauí, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul), dos quais RN, PB, SE e CE representam 78% das vendas. Outro fato interessante da última década para o laboratório é o aumento expressivo da criação de camarão vannamei em áreas interiores de baixa salinidade. “Em 2010, 30% das vendas eram para áreas com salinidades entre 2 a 10 partes por mil. Em 2019 a fatia aumentou para 50%”, sublinhou a sócia. Segundo ela, a mudança é causada pela interiorização do cultivo desta espécie de camarão no interior dos Estados e não mais na região litorânea. Para ela, o que mais chamou a atenção nos últimos 5 anos foi o crescimento nos Estados da Paraíba, Alagoas, Sergipe e Bahia que passaram de 12% em 2010 para 43% em 2019 nas vendas da Aquatec. Conforme Guerrelhas, a expectativa é que nos próximos dez anos o crescimento será deslocado para as regiões Sudeste e Centro-Oeste.
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Capa Basf
“Descomoditizar o camarão” Basf entra no segmento com plataforma de gestão e marketplace e uso de inteligência artificial na produção em bioflocos e RAS
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Grupo Basf resolveu estrear na carcinicultura nacional em plena Fenacam ‘19. Em espaço anexo no pavilhão da feira, fez o lançamento mundial do Aquada, um software que promete auxiliar o produtor na venda do crustáceo totalmente rastreável através de um marketplace. O app promete aos carcinicultores o gerenciamento das principais soluções da fazenda, como por exemplo, um cronograma de atividade aos funcionários, cálculos financeiros, monitoramento da água entre outros. A plataforma também fornece acesso ao marketplace para vendas e compras. E ainda possibilita ao produtor gerar gráficos e análises para fornecer insights e outras soluções. Segundo Fabiano Santana, responsável pela estratégia digital da empresa na América do Sul, a ideia tem cinco meses. “Surgiu esse projeto de criar um modelo de negócio através do marketplace para a aquicultura no Brasil. Começamos com o camarão porque a gente percebeu que é um setor da economia na atividade que sofre muito”, informou. O software em português apresenta uma interface gráfica que o torna “extremamente autoorientativo” na hora de usar. O programa usa inteligência artificial no processo de análise dos dados da fazendas armazenados na nuvem. O software (ainda em teste) foi desenvolvido de maneira ampla para outros países também, mas o Brasil foi escolhido pela oportunidade de “salto qualitativo na atividade que já existe lá fora. Existe uma zona de conforto
gigantesca, pois em outras nações não existem um domínio de mercado com duas ou três empresas”, provocou. A proposta da Basf na carcinicultura vai além do software. O objetivo é trabalhar com parcerias em fazendas que utilizam sistema RAS e bioflocos e que atuam perto dos grandes centros consumidores para oferecer o que considera uma nova categoria do crustáceo ao food service: camarão premium fresco. A rastreabilidade do produto seria o principal diferencial aos estabelecimentos. “A categoria fresco premium que é aquele produzido perto do centro consumidor e entrego sem precisar de antioxidante ou algum tipo de conservante.” Duas parceiras foram inicialmente selecionadas: Camarão São Luiz e Aqualuz, ambas no interior de São Paulo. “Para se ter uma ideia a distância entre a fazenda e o centro consumidor é de uma hora no máximo. O que acontece é que 99,5% do camarão no Brasil é produzido no Nordeste, mas 80% é consumido em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Florianópolis, Cuiabá, Porto Alegre e Curitiba. Então, tenho dois problemas nessa história: logístico e operacional”, declarou. Todo o camarão proveniente destes parceiros será promovido de forma diferenciada nos restaurantes. “Através de um QR Code [disponível no cardápio do restaurante] você [consumidor] saberá aonde esse camarão foi produzido, como foi criado e quais variáveis influenciam na qualidade.” Santa enxerga a necessidade de criar uma experiência e não apenas a ven-
da de um produto, com foco inicial na educação do consumidor. “Vou educar o mercado que tem potencial para esse tipo de camarão para entender a importância disso”. Santana frisa que a nova categoria não briga com as já existentes. “Esse camarão não é commodity porque eu não estou competindo neste setor. Então a gente quer ter 1,5% por cento do mercado nacional de camarão onde eu tenha 100% dessa categoria de produto.” O camarão com DNA Basf não irá para o varejo, garante Santana. “Não é o mercado foco pra gente porque o varejo quer camarão com preço.”
Software criado pela Basf é marketplace e sistema de gestão ao mesmo tempo
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Capa Mercado
Ciclo elástico Dólar e insegurança com nova ARI desmotivam exportadores, enquanto preço nacional se estabiliza em patamar mais alto
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camarão é uma das commodities aquáticas mais demandadas do mundo e o preço é muito sensível à demanda. No Brasil o preço tem se mantido estável nos últimos anos, ou pelo menos dentro de um ciclo constante de aumento e queda de acordo com a oferta disponível. A ocorrência das doenças trouxe um novo patamar de preços: na gôndola, a classificação 36/40 para o descascado, eviscerado e congelado se encontra em uma média de R$ 59 na embalagem de 400g segundo a pesquisa feita pela Seafood Brasil em varejos paulistanos. (Veja mais detalhes no infográfico das próximas páginas). O valor segue alto para o momento econômico do brasileiro, mas parte disso se deve às negociações com o grande varejo. Segundo um distribuidor, que falou em condição de anonimato, um camarão 71/90 descascado é vendido a R$ 24 para o varejo na embalagem de 400g. “Eu vi [no varejo] por R$ 59,90. Eles trabalham com margem muito maior do que com carne bovina, suína, frango, não sei por qual razão.” A depender da fazenda e do sistema de produção, o filé hoje (sem cabeça, descascado e cozido) sai da indústria a R$ 55 (71/90) e R$ 74 (36/40), valor equivalente a US$ 13,44/kg e US$ 18,08/ kg (na cotação de 12 de dezembro) já com impostos. O produto equatoriano eviscerado e sem cabeça, por exemplo,
ingressou no Brasil neste ano a um preço médio FOB de US$ 9,49 livre de impostos. A mesma espécie proveniente da Índia - movimento que surpreendeu o mercado - entrou a US$ 10,60 na média de julho e setembro (dois meses em que houve ingresso do produto indiano). Apesar do dólar, do baixo volume exportado em 2019 (127 toneladas até novembro, segundo o ComexStat) e da nova Análise de Risco do Camarão (ARI), o interesse dos equatorianos no mercado brasileiro persiste. “É sempre atraente para qualquer produtor mundial de alimentos estar presente no Brasil”, aponta Alfonso Alava, sócio da Alfatún, representante de empresas equatorianas. “O tempo para a liberação de Licenças de Importação, o alto valor do dólar e os riscos de natureza jurídica ainda geram um certo alerta aos importadores brasileiros”, acrescenta. Alava coincide com outro represente, Fabricio Amador Bayas, CEO da Futura Market, na avaliação de que os preços atuais não favorecem muito os equatorianos como em um passado recente. “Interesse sempre existe na medida em que os preços do filé sejam iguais ou melhores que os mercados dos EUA e Europa. Do contrário não há sentido em assumir o risco e esforço que implica processar rotular e despachar ao Brasil.” A Omarsa foi uma das pioneiras no fluxo de camarão ao Brasil e também
não pretende voltar atrás. O gerente geral, Sandro Coglitore, confirma que o interesse permaneceu tão alto em 2019 quanto o receio de haver algum rechaço. “Todos os dias recebemos pedidos de cotação e demandas de programas de compras anuais, mas tudo fracassa no momento de garantir que o produto possa entrar sem problemas no Brasil.”
Origem argentina No caso do camarão vermelho da Argentina, o langostino Pleoticus muelleri, o imbróglio passou da esfera jurídica para a técnica neste ano, com conversas sem grande evolução entre o serviço sanitário daquele país (Senasa) e o Dipoa/Mapa. A nova ARI substituirá a anterior, pela qual o camarão argentino havia sido aprovado, e enquanto este processo se desenrolava (a consulta pública da nova ARI foi publicada em 02 de dezembro) nenhum kg de langostino ingressou no Brasil. As empresas com atuação na Argentina, porém, seguem monitorando o cenário. A espanhola Iberconsa, que está prestes a converter a captura do pleoticus em pescaria certificada pela MSC, dá o tom entre os produtores. “Existe muito preocupação no lado de todos os produtores argentinos. Já vimos o que aconteceu com a merluza e com o langostino será ainda mais complicado”, aponta Pablo Basso, diretor comercial, referindo-se às discussões sanitárias em torno do nível de pH e
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A ROTA DOS PREÇOS
Capa Mercado
Camarão Litopenaeus vannamei, exceto quando indicado
Qualitá descascado cozido congelado
Icap/Santa Luzia “Rosa” descascado congelado
36/40
PÃO DE AÇÚCAR R$ 224,99
Maris descascado congelado com télson
Icap/Santa Luzia “Rosa” congelado
36/40
500g
Dell Mare descascado eviscerado congelado
Costa Sul inteiro cozido congelado
400g
36/40
CARREFOUR R$ 34,59
CARREFOUR R$ 59,90 PÃO DE AÇÚCAR R$ 69,99
400g
Dell Mare descascado congelado
CARREFOUR R$ 28,29
36/40
e do ar cozi M ll o o De scad elad g a sc on de c
16/20
CARREFOUR R$ 19,90
250g
200g
400g
CARREFOUR R$ 37,90 ST. M ARC R$ 37,9 HÉ 0 CHÉ ST. MAR R$ 116,90
Dell Mare descascado congelado
131/150
400g
BIG R$ 49,90
Maris s/cabeça cozido congelado
111/200
400g
CARREFOUR R$ 62,49
EXTRA HIPER R$ 64,99
100/UP
400g
EXTRA HIPER R$ 67,90 PÃO DE AÇÚCAR R$ 68,99
‘B’ Extra 500g
100/200
250g
ST. MARCHÉ R$ 84,99
PÃO DE AÇÚCAR R$ 224,99
Qualimar “Rosa” descascado eviscerado congelado
A Veraz tentou uma operação com o Brasil, mal-sucedida por conta da falta de aprovação do Mapa ao certificado sanitário emitido pelo Senasa. “Tivemos contêineres retidos no posto fiscal esperando para subir ao barco por mais de 40 dias, que ao fim tivemos de desconsolidar. Isso não pode acontecer em dois países que são sócios estratégicos como Brasil e Argentina”, completa. A julgar pela alta temperatura das relações entre o novo governo de Alberto Fernández e de Jair Bolsonaro, não se pode esperar grandes avanços políticos. Em paralelo, o Peru de forma discreta pode chegar a exportar produtos processados com camarão argentino em suas fábricas, antes dos próprios argentinos. Um paradoxo.
‘A’ Extra 500g
BIG R$ 24,90
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Angeleri credita a diminuição a dois fatores: encurtamento da temporada e uma mudança nas zonas de captura por recomendação da política local de gestão de estoques pesqueiros. “Não houve tanta abundância como outros anos porque algumas áreas abundantes foram resguardadas por conta dos tamanhos pequenos.” No âmbito comercial, o estoque de anos anteriores e vendas lentas prejudicaram o cenário de preços com a diminuição do apetite chinês.
36/40
200g
Para o diretor comercial da Pesquera Veraz, Federico Angeleri, o mercado estava favorável para a compra pelos brasileiros do produto argentino neste ano. “Este foi um ano em que as vendas caíram 15% e o preço em torno de 20% e poderia ter sido uma excelente oportunidade para ambos os países iniciarem relações comerciais.” Dado os recordes anteriores, a captura não foi boa: até novembro os barcos trouxeram a bordo 192.572,9 toneladas, 23% menos que no mesmo período de 2018, segundo os dados apurados pela REDES & Seafood, parceira da Seafood Brasil.
Icap/Santa Luzia “Rosa” descascado congelado
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bases voláteis no Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade (RTIQ) do peixe congelado.
Qualimar “Rosa” descascado eviscerado congelado
Em um raio de 8km na zona sul da capital paulista, fomos a sete lojas de diferentes redes varejistas para checar os produtos e preços à disposição. Veja o resultado.
CLASSIFICAÇÃO
PESO
ST. MA RCH R$ 63,90 É
” sa Ro do “ a a nh sc do ro sca era do o N de isc ela ev ong c
400g
ST. MARCHÉ R$ 119,90
12/18 01/19 02/19 03/19 04/19 05/19 06/19 07/19 08/19 09/19 10/19 11/19
Índice geral
4,05
3,75
3,78
3,89
4,58
4,94
4,66
3,37
3,22
3,43
2,89
2,54
3,27
Alimentação e bebidas
4,14
4,04
4,21
5,37
6,74
7,31
6,36
3,99
4,13
4,12
3,56
3,01
3,35
Pescados
3,41
2,94
2,39
1,97
1,34
3,56
3,93
1,58
0,88
1,11
1,24
0,06
-0,17
Camarão
-5,89
-4,31
-6,3
-5,71
-4,95
-2,89
-1,47
-1,27
0,86
2,92
3,5
2,12
1,15
EXTRA HIPER PÃ R$ 59,99 O D R$ E A 15 ÇÚ 9,9 CA 9 R
400g
71/90
Dell Mare descascado congelado
ST. MARCHÉ R$ 51,90
71/90
71/90
400g
PÃO DE AÇÚCAR R$ 84,99
Swift descascado s/ cabeça cozido congelado
41/60
SWIFT R$ 59,92
Amasa “Rosa” descascado eviscerado congelado
400g
SWIFT R$ 39,86
400g
BIG R$ 49,90
BIG R$ 69,90
400g
Dell Mare descascado cozido congelado
71/90
Swift s/cabeça cozido congelado
Swift eviscerado s/ cabeça congelado
36/40
400g
NATURAL DA TERRA R$ 56,90
71/90
CARREFOUR R$ 62,99
ST. MARCHÉ R$ 89,90 NATURAL DA TERRA R$ 56,99
400g
Netuno sem cabeça cozido congelado
71/90
400g
Frescatto descascado congelado
36/40
Netuno descascado cozido congelado
Fonte: IBGE - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
Dell Mare descascado cozido congelado
400g
36/40
11/18
41/50
400g
36/40
Bomar cozido congelado
IPCA - VARIAÇÃO ACUMULADA EM 12 MESES - %
Maris descascado cozido congelado
51/60
200g
CARREFOUR R$ 32,49
400g
BIG ,89 R$ 12
100 80/
do ca o as lad sc ge de on is c ar o g M ozid c 200
SWIFT R$ 49,87
Costa Sul descascado s/ cabeça cozido congelado
400g 51
CARREFOUR R$ 54,99
* Preços apurados em 05/12/19 em São Paulo (SP)
CARREFOUR R$ 28,99
Pequeno 250g
Costa Sul “Sete Barbas” descascado congelado
BIG R$ 21,90
Pequeno 250g
New Fish “Sete Barbas” descascado congelado
PÃO DE AÇÚCAR R$ 117,99
CARREFOUR R$ 43,99
500g
400g
GG
91/110
Icap/Santa Luzia “Rosa” cozido descascado congelado
Costa Sul s/ cabeça cozido congelado
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Na
Gôndola A oferta de peixes, crustáceos e moluscos
Tilápia sustentável Depois de inaugurar o segmento de tilápia cultivada sem hormônios de reversão sexual para a Korin, a Geneseas agora inclui o produto na linha Saint Peters. A “Tilápia Sustentável” também não tem registro de antibióticos terapêuticos ou para a melhoria de desempenho e é certificada pelo WQS (World Quality Service) e BAP (Best Aquaculture Practices).
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Pronto e on-line A Vivenda do Camarão passou a comercializar em seu e-commerce os pratos prontos da linha, que são vendidos com arroz e batata palha como acompanhamento. Os pratos rendem uma porção e
podem ser encontrados nas opções: bobó de camarão 400g, strogonoff de camarão de 400g e paella de camarão de 380g.
Vida longa e saudável Estudo recente da consultoria Mintel destaca o interesse do consumidor em se preparar para uma vida útil mais longa e saudável e como as marcas se ajustam a isso. Apesar da correlação entre nutrientes em peixes como ácidos graxos ômega-3 e saúde do coração, menos de 2% dos produtos fazem alegações relacionadas, como estes filés de cavala da Asda.
tanto preventivamente como de forma reativa. Este é o raciocínio por trás deste mix de atum com milho e feijão da linha Protein+ da John West, com apelo de imunidade e clara indicação de Vitamina B12.
Sem rugas Os nutrientes no pescado também podem ser evidenciados como uma forma de oferecer benefícios por meio dos alimentos em vez de suplementos. Este salmão da Marine Harvest (agora Mowi) vendido na Polônia destaca a vitamina A e E e a propriedade de prevenir rugas.
Saúde óssea e articular O salmão defumado da polonesa Almar Salmon & More com Vitamina D3 é dito “enriquecido com a vitamina D3” para reforçar ainda mais a ideia de que o salmão é rico nesta vitamina. E o conteúdo de vitamina D também é exibido com destaque na embalagem.
Prevenção e controle Como uma fonte de proteína, ácidos graxos ômega-3, cálcio, vitamina D e outros nutrientes benéficos para qualquer idade, o pescado é demandado por ajudar no cuidado com a saúde,
Proteína agregada A BirdsEye evidencia nesta embalagem dos filés de salmão selvagem a alta disponibilidade de proteína do produto. Segundo a Mintel, o atributo é um dos mais conhecidos, mas ainda assim apenas 4% das marcas exploram isso em suas embalagens.
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SUPLEMENTO ESPECIAL DE TECNOLOGIA AQUÍCOLA Em busca da dianteira
O 4º Suplemento de Tecnologia Aquícola chega com uma atualização sobre os caminhos tecnológicos que as empresas e os pesquisadores estão percorrendo para entregar a expansão da produtividade aquícola no Brasil. Nesta edição separamos o caderno em quatro eixos temáticos: aditivos, formas jovens, nutrição e gestão. As empresas consultadas para este material (veja lista abaixo) trazem a perspectiva técnico-comercial dos produtos e serviços disponíveis no mercado, enquanto a Embrapa Pesca e Aquicultura nos subsidia novamente com as mais recentes descobertas da pesquisa aquícola nacional. A própria empresa preparou diversos produtos ao longo do ano. Um deles é um Sistema de Inteligência Territorial Estratégica para Aquicultura no Brasil (Site Brasil), pensado para atender demandas sobre informações espaciais de diversos setores da cadeia produtiva da aquicultura em território nacional, de modo a facilitar a tomada de decisão dos setores públicos e privados e contribuir para a elaboração de políticas públicas. “Apesar de seu forte viés técnico, estão previstos para 2020 a entrega de dois principais produtos: um webgis abrangendo o bioma amazônico, que permita Adtivos
54
a visualização, análises espaciais simples e download das informações, e um aplicativo para Android e IOS abrangendo todo o território nacional, onde o produtor poderá acessar informações sobre uma base de mapas e encontrar a localização das fábricas de ração para peixe, entrepostos de pescado, instituições de ensino, valor de ICMS e outras informações”, conta Marta Ummus, coordenadora técnica do projeto. Outra ferramenta é o Centro de Inteligência e Mercado em Aquicultura (CIAqui), uma plataforma online desenvolvida pela Embrapa no âmbito do Projeto BRS Aqua para disponibilizar informações estratégicas que auxiliem os agentes da cadeia produtiva. Desde dados de produção, comércio exterior (incluindo preços da tilápia nos EUA), um manual do drawback, até custos de produção e publicações técnicas. “Em 2020, o CIAqui irá expandir seu conteúdo a partir de novos dados sobre produção mundial da aquicultura e estudos sobre o mercado nacional de peixes de cultivo, além de outros conteúdos relacionados à economia do setor aquícola”, complementa Manoel Pedroza, coordenador da equipe responsável pelo centro. Formas Jovens
Gestão
A Embrapa investe ainda na realização do Inove Aqua, que pretende promover a inovação na produção aquícola através da interação de diversas áreas do conhecimento para propor soluções criativas para todos os elos da cadeia. “São diversas ações para impulsionar o ecossistema de startups, academia, incubadoras, aceleradoras e atores da cadeia através da apresentação dos grandes gargalos da cadeia e articulação de uma ambiência para a inclusão da aquicultura no rol das atividades que passam por uma transformação digital”, explica Hellen Kato, coordenadora do programa. O produto foi lançado neste ano com uma maratona de palestras abertas sobre assuntos variados, desde a produção de peixe até grandes gargalos do varejo, como a rastreabilidade. O primeiro evento de desenvolvimento de ideias e soluções para a produção aquícola vai acontecer em maio de 2020. O Hackaton Inove Aqua será um misto de maratona de programação e desafios de startups para superar os obstáculos principais enfrentados pela cadeia no País. As empresas citadas a seguir viabilizaram a realização deste material com patrocínio: Alliplus, Aquabit, Aquatec, Potiporã, Raguife, e Spring Genetics. Nutrição
Saúde natural
O
s aditivos naturais para aquicultura têm um espectro cada vez maior de produtos, o que tem tornado a tarefa de produtores mais árdua na hora de escolher os produtos com maior custo-benefício. Como explica o pesquisador Giovanni Moro, da Embrapa Pesca e Aquicultura, os principais produtos envolvem prebióticos, probióticos, imunoestimulantes, estimuladores de consumo e palatabilidade das dietas. “Há alguns que inclusive diminuem a produção de nutrientes não aproveitados, o que reduz o impacto ambiental da atividade.” Ele indica, porém, que estes produtos estão disponíveis majoritariamente para camarão e tilápia. “Há poucos trabalhos que confirmem o uso de algum destes aditivos para espécies nativas”, ressalta Moro. Ele afirma que a Embrapa se debruçou sobre o tema para “preencher estas lacunas de conhecimento” e acelerar pesquisas para melhorar o desempenho e diminuir o impacto da ração no custo de produção. Por enquanto, a pressão para a diminuição de antibióticos como ferramenta de prevenção de enfermidades - que também são itens de alto custo - força as empresas a buscarem óleos essenciais e ácidos orgânicos, soluções efetivas e mais baratas para prevenção de en-
fermidades. Na visão de Paulo Rocha, diretor da Alliplus, os produtores de camarão e tilápia (com menor intensidade) já estão familiarizados com extratos naturais, mas algumas empresas têm provocado uma certa confusão. A falta de explicação correta sobre a abrangência dos ácidos orgânicos leva o produtor a crer que eles têm a mesma função dos óleos essenciais, avalia Rocha. “Sozinho [o ácido orgânico] é um paleativo”, explica. Juntos, eles oferecem propriedades antimicrobianas, antifúngicas, antioxidantes, fortalecem o sistema imunológico e ainda funcionam como promotores de crescimento. Como é o caso da linha tradicional da Alliplus, que aos poucos ganha mais itens. Rocha aponta como mais completo o Alliplus C com minerais, um misto de óleos essenciais, ácidos orgânicos, minerais e vitamina C. “O que vemos no campo é o uso no pós e pré-vacinação de tilápia, época de muda de camarão e para o manejo em geral. Usa-se muito 4 ou 5 dias antes e depois deste estresse de manejo.” Alguns fabricantes de ração, indica ele, já estão usando na própria composição do produto. Outra forte aposta da Alliplus é na linha LAC, que compreende o Cinnalac e o óleo Lac 100. O primeiro é uma
solução em pó extremamente concentrada de óleos essenciais e ácido lático que promove crescimento e resistência antimicrobiana. Já o segundo é líquido e pode ser usado logo após o Cinnalac nas fases iniciais de berçários ou reprodutores (carcinicultura e piscicultura) até juvenis. Rocha indica ainda para a piscicultura o Alliplus herbal, que leva cravo, canela e outros óleos mesclados especificamente para combater aeromonas e outras bactérias. Mais um produto deve ser lançado em breve, mas ainda está em fase de registro de patentes. “Será algo que já existe no mercado, mas com a nossa qualidade”, defende o especialista.
Empresa citada
Paulo José Carmo da Rocha (+55 85) 9 9680-5639; (+49 89) 922 699 72 paulo@alliplus.com
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Oferta e qualidade
A
Embrapa considera que a produção de formas jovens no Brasil é uma cadeia já bem estabelecida, em especial para as espécies mais produzidas, como camarão, tilápia, tambaqui e outros peixes redondos. “No entanto, um dos principais desafios atuais na produção dessas formas jovens é a qualidade dos peixes produzidos, para os quais é preciso que se tenha informação da procedência genética, controle de parentalidade e até garantia da espécie (em especial para os peixes nativos), considerando a possibilidade de cruzamento de peixes de diferentes espécies e até o uso de híbridos interespecíficos na reprodução”, avalia Adriana Lima, pesquisadora da Embrapa Pesca e Aquicultura. A especialista enxerga uma preocupação gradualmente crescente do setor produtivo em relação à qualidade genética do plantel de reprodutores. Isso se traduz na busca de ferramentas 56
de controle e qualificação dos plantéis, como forma de gerar alevinos de maior qualidade. Mas ela ainda enxerga a necessidade de avanços para uma produção de alevinos com maior qualidade e garantias genéticas. Outro desafio é a oferta regular de alevinos das diversas espécies produzidas, que permite ao produtor o uso eficiente do ambiente de cultivo e uma oferta escalonada do pescado no mercado. “A oferta regular de alevinos esbarra em diferentes fatores para as diferentes espécies produzidas. Por exemplo, no caso da tilápia, as mudanças de temperatura ao longo do ano alteram a produtividade de alevinos. Para espécies como o pirarucu, por sua vez, o baixo domínio da reprodução resulta em uma oferta irregular de formas jovens ao longo dos anos, com anos mais produtivos que outros.”
A variação na oferta de alevinos muitas vezes faz com que produtores subutilizem sua estrutura de produção em alguns períodos do ano, o que acarreta perdas econômicas, ou adquiram formas jovens de outras regiões do País de forma a suprir a propriedade no período de escassez em seu polo produtivo, aponta a pesquisadora. “Essa é uma prática que, com a intensificação da produção, pode causar dispersão de doenças no País, por isso merece atenção.” O aumento das densidades tem exigido formas jovens livres de patógenos como alternativa para diminuir as perdas produtivas causadas por problemas sanitários. “No entanto, a comercialização de alevinos com garantia de saúde ainda não é uma realidade na produção das formas jovens no País”, sublinha Lima. Essa crescente necessidade abre mais espaço para o trabalho de multinacionais como o grupo Benchmark, cujo braço Spring Genetics
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opera com uma incubadora (Jaboticabal) e um quarentenário (Fortaleza) para importação de matrizes no Brasil. Hideyoshi Segovia-Uno, gerente comercial e operacional, explica que a meta da empresa continua a ser a busca de um parceiro local multiplicador, para colocar alevinos em todo o mercado. Mas embora esta meta não tenha sido cumprida em 2019, o ano foi positivo por conta dos testes realizados. “Tínhamos como objetivo colocar nossos peixes na água para fazer provas comparativas e provas de desempenho, um benchmark em relação a empresas de genética atualmente no Brasil.” Alguns resultados foram superiores aos da concorrência local, garante Segovia-Uno, o que dá maior segurança para apresentar aos potenciais clientes no Brasil o trabalho da Spring e da Benchmark. “Estamos decididos a seguir no Brasil, nossa presença vai continuar. Seguimos com o quarentenário, esperamos fechar os contratos de distribuição e manter a venda de alevinos.”
Pós-larvas por todo o Brasil A intensificação dos cultivos é uma realidade também na carcinicultura, embora a realidade atual aponte para uma convivência de fazendas extensivas com módulos de alta densidade, ou o faseamento da criação com momentos mais e menos intensivos. E o processo cada vez mais chega aos interiores do País, distantes dos centros produtores de formas jovens do Nordeste. Isso ampliou a necessidade de modernizar a logística de transporte das pós-larvas, por si só uma prova da resistência dos animais. “Conseguimos aumentar a densidade da larva no saco. A gente mandava em cada 15 litros de água 8 mil pós-larvas; hoje são 24 mil. Para quem precisa de 100 mil são apenas quatro ou cinco sacos”, conta Maria Cláudia Ferreira, sócia da Aquatec. A redução em volume de frete 58
Candi Demarchi, da Aquatec: alta tecnologia, como este contador de larvas, colabora na disseminação de formas jovens por todo o País
aéreo, em torno de R$ 4 o kg, facilita muito, mas o prazo não pode ultrapassar 24 horas do laboratório à fazenda. A produção atual beira as 120 milhões de pós-larvas vendidas ao mês e a logística de distribuição é uma das principais ferramentas de apoio, mas a força de vendas é o que acelera a pulverização das larvas por todo o Brasil. “Nossos vendedores cobrem da Bahia ao Piauí. Só não temos da Bahia para o Rio Grande do Sul porque nosso telemarketing cobre isso, nossos vendedores são consultores e oferecemos acompanhamento pós-venda.” O trabalho é fundamental para o perfil de pequenos e micro produtores. “Ele não é tecnificado, mas está em todo lugar crescendo”, aponta Ferreira. Isso de certa forma a assusta, pois a explosão de novos pólos, como a Paraíba, ocorre de forma desordenada, sem muita fundamentação teórica. Já em São Paulo, diz a especialista, os novos carcinicultores - muitos oriundos da piscicultura - demandam mais assistência técnica, muitas vezes oferecida localmente por Ana Carolina Guerrellas, sócia-fundadora da Aquatec.
Outro formato em ascensão são os seminários regionais, como o Simpósio Técnico de Aquicultura Superintensiva Sustentável (Sitass), organizado por Rodrigo Baldin, Camarão São Luiz, de Itu (SP). A Aquatec participa junto a diversos outros fornecedores. “Se alguém quiser ali montar um projeto dá para conversar com todos os experts e sair com um pacote fechado.” Ela alerta para a necessidade de um técnico qualificado para dar sequência à produção. “O produtor precisa ter consciência de que para fazer um intensivo ele precisa ter qualidade de água, de larva e de nutrição para essa lavar crescer e ele priorizar não ter doença”, diz Ferreira. Os cultivos hiperintensivos ainda são novidade no Brasil e muita gente está perdendo dinheiro, relata. “Acho que hoje pode existir talvez um mau assessoramento, não por que as pessoas fazem por maldade, mas pela própria escassez de profissionais no mercado nessa área.” A situação motivou a Aquatec a investir em uma fazenda própria, de 4,8 hectares, em Vila Flor (RN), que funcionará como uma espécie de escola. “Eu acho que o produtor brasileiro precisa
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Nova técnica para acondicionar larvas aumenta resistência a grandes distâncias
deste exemplo, ter o que seguir. Tem um nicho com dinheiro que lança as suas ideias e vai longe, mas a maioria não tem e precisam realmente de referências, de modelo.” A criação será concentrada em animais grandes, de 22g, com um volume mensal de 30 toneladas.
Melhora da produtividade Os programas de aprimoramento genético dos camarões pelo mundo surgiram como uma ferramenta para obter animais com melhor desempenho diante de enfermidades como a síndrome de Taura, mancha branca e outras. Apesar da profusão destas iniciativas, a carcinicultura ainda tem um longo caminho a percorrer, como avaliam Roseli Pimentel, gerente dos laboratórios da Samaria Camarões e Potiporã, e Daniel Lanza, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. “Quando analisamos a carcinicultura brasileira, ainda convivemos com números de produtividade inferiores aos dos maiores produtores mundiais”, dizem os especialistas em artigo publicado na edição de novembro da revista da ABCC. A explicação da baixa produtividade, segundo eles, passa pela compreensão e avaliação sistemática de três elementos: genótipo, fenótipo e o ambiente. “O controle e monitoramento ambientais são os maiores desafios enfrentados pela carcinicultura. O processo de melhoramento genético deve considerar as variações do ambiente, ou seja, as condições locais e de alimentação dos animais.” 60
Pimentel e Lanza afirmam que um animal com excelente desempenho em determinado ambiente consumindo uma determinada alimentação pode não repetir esse mesmo desempenho em condições de ambiente e alimentação diferentes. Neste contexto, a variabilidade genética da população também é um ponto importante, indicam. “Em uma população submetida à seleção, a resposta positiva (fenótipo favorável) tende a ser maior se a variabilidade genética após a seleção for significativa e a variação ambiental for baixa.” Se o ambiente mudar o esforço da seleção pode ser perdido e a resposta negativa (fenótipo desfavorável). “Nesses casos a recuperação do desempenho dos animais pode demandar algumas gerações, onerando todo o processo.” Como solução ao aumento da produtividade, eles indicam quatro pontos: 1) programas de melhoramento genético sólidos; 2) aporte de variabilidade genética; 3) identificação e monitoramento dos patógenos existentes no ambiente; e 4) controle da entrada de novos patógenos.
Empresas citadas
Ana Carolina Guerrelhas (84) 3241-5200 aquatec@aquatec.com.br
Roseli Pimentel Silva (84) 3693-2072 roselisilva@potipora.com.br
Jacqueline de Melo Lima e Micaele Sales (85) 9 9922-3580 ; (85) 9 9753-4968 brazil@spring-genetics.com
Daniel Lanza (UFRN) e Roseli Pimentel (Samaria/Potiporã): aumento da produtividade passa por avaliação contínua de fenótipo, genótipo e o ambiente
61
Nutrição: a vez das brasileiras
A
aquicultura em 2019 experimentou novidades no mercado de nutrição animal, com a chegada de novas formulações para panga, tilápia e camarão vannamei, além de um processo de fortalecimento de fabricantes nacionais. A Samaria Camarões, por exemplo, deu um novo passo em seu projeto de crescimento por aquisições com a compra da fábrica que pertencia à Trouw Nutrition no Ceará. A estrutura tem 25.000 m2 de área total, das quais 8.000 m2 são para a área industrial dedicada a fabricar rações
para equinos, aves, peixes e camarões. A capacidade produtiva beira as 4.000 toneladas por mês, das quais metade são exclusivas para camarões para todas as fases. “Estamos produzindo desde a fase inicial em berçários até a fase final”, conta o gerente da fábrica, Marcelo Simão. Do volume, 80% seguem para as fazendas do grupo, mas o trabalho comercial se fortalece neste momento para ampliar a carteira de clientes. O lançamento da marca Samaria Rações na última Fenacam foi um impulso. “Estamos abrindo novos clientes que
Planta da Raguife em ampliação: objetivo é chegar a 12 mil toneladas/mês
62
se juntam ao nosso conceito, atraídos pelos resultados zootécnicos e financeiros, bem como a certeza de encontrar a empatia de produtor para produtor que busca excelência em resultados”, defende Simão. Outro grupo em franco processo de expansão é o Ambar Amaral, de Santa Fé do Sul (SP), a quem pertence a Raguife Rações, administrada por Felipe Amaral. O executivo comanda as obras de ampliação da fábrica, que pretende acrescentar mais uma linha de 10 toneladas/hora. A indústria, com 40 mil m2, abriga hoje duas linhas de
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Samaria Rações investe para ampliar escopo de clientes: 80% do volume é consumido pelas fazendas do grupo
Ele assistiu a um povoamento em ritmo menor na comparação com anos anteriores, principalmente no primeiro semestre, mas a recuperação já começou a dar as caras no segundo semestre. “No próximo ano, com a situação do preço da carne e da peste suína na da China, o consumidor vai encontrar no peixe uma alternativa, então acho que o mercado será muito bom. Estou vendendo muita ração de alevino”, sinaliza.
6 ton/hora cada para rações extrusadas e uma linha exclusiva para rações micro extrusadas de 400 kg/hora. Tudo para aumentar a capacidade atual de 6 a 7 mil toneladas/mês para 10 a 12 mil toneladas/mês. “Hoje estamos operando 100% da capacidade e precisamos desta nova linha”, revela Amaral. Em torno de 10% do volume segue para as pisciculturas do grupo. “Com a ampliação passaremos a destinar 93% da produção a terceiros.” A Raguife faturou R$ 135 milhões em 2018 e a projeção até o início de dezembro era fechar 2019 com faturamento similar. Boa parte deste faturamento foi canalizado para as obras de ampliação. “Vou deixar a fábrica preparada para 64
colocar mais a outra linha de 10 toneladas/hora em 2021. Para o projeto finalizar vou gastar R$ 25 milhões e, para colocar mais uma linha, vou gastar mais R$ 15 milhões”, calcula o empresário. Segundo ele, este é o máximo que a fábrica pode fazer. “Se Deus continuar nos abençoando esse é o projeto final do ciclo Raguife em Santa Fé do Sul.” A julgar pela temperatura do mercado, é possível que a Raguife tenha de fazer mais contas para futuras ampliações. E o melhor termômetro é a venda de rações para alevinos. “Consigo saber se o peixe vai subir ou baixar em seis meses. Pela quantidade de rações micro extrusadas vendidas eu consigo saber se estão colocando alevino no mercado ou não”, indica Amaral.
Outro movimento que ele observa é na despesca antecipada para a Quaresma. “Não teremos peixe de 1kg, a realidade vai ser 700g. E as integradoras, como a C.Vale e Copacol, devem iniciar as exportações.” Isso deve colaborar para um cenário de oferta de matéria-prima abaixo da demanda, principalmente no primeiro semestre. Para quem vende rações, é um excelente panorama. “Vejo o ano de 2020 como o ano de sucesso, não só da piscicultura, mas de todo o agronegócio no Brasil.”
Empresas citadas
Felipe Amaral (17) 3631-9100 sac.raguife@grupoambaramaral.com.br
Marcelo Simão (85) 98119-1840 msimao@samariaracoes.com.br
Ferramentas da competitividade
A
profissionalização da aquicultura no Brasil se tornou condição de sobrevivência. O mercado penaliza quem investe em tecnologia mas descuida das ferramentas de administração dos empreendimentos aquícolas. De acordo com o professor de economia e gestão do agronegócio Omar Jorge Sabbag, da Unesp de Ilha Solteira, ambas as linhas de trabalho devem caminhar juntas. “Com a evolução da tecnologia e a busca por adquirir produtos de melhor qualidade, o piscicultor necessita desenvolver cada vez mais técnicas na área de produção, como também no gerenciamento financeiro de sua propriedade, de forma a manter a sustentabilidade econômica e produtiva.”
Ele aponta, porém, que ainda persistem no Brasil negligências quanto ao processo de apuração de dados sobre o desempenho das propriedades. “Isso se reflete negativamente na margem de lucratividade e no gerenciamento da atividade piscícola.” Sabbag sublinha a necessidade de se medir e controlar custos, que não se resumem apenas aos gastos com insumos e mão de obra. A competitividade no atual cenário exige que o empresário caracterize a
palavra gestão em todas as atividades de rotina, explica o professor. “Nada mais é do que o ato de administrar, conhecer preços, otimizar recursos de produção (terra, trabalho e capital investido). Enfim, avaliar sob a ótica financeira a determinação de seus lucros e prejuízos durante um determinado período, fornecendo subsídios para diagnosticar a situação da empresa e realizar um planejamento eficaz.” Algumas ferramentas tornam o processo mais fácil e ágil, como é o caso da Aquabit, um aplicativo de gestão de pisciculturas lançado há dois anos para contemplar diferentes perfis de produtores. “Quando decidimos empreender no setor aquícola, já definimos como missão desenvolver uma ferramenta acessível a todos os tamanhos e portes de produtores”, conta o CEO, Ailton Rodrigues. Dos que estão em fase experimental aos produtores com volume superior a 200 ton/mês, o aplicativo pretende concentrar todas as informações para a gestão da produção. Na ferramenta o produtor pode cadastrar os tanques ou viveiros, fazer o povoamento nos tanques, realizar biometria, mortalidade, arraçoamento e transferência/
repicagem com controle financeiro de todo o processo. “Quando chegar o momento da despesca informará a venda encerrando o lote e gerando financeiro com custo de produção e desempenho zootécnico. Além disso tem o controle de qualidade com análise da água e sanidade”, completa Rodrigues. Assim como o Sabbag, Rodrigues acredita que seja qual for o porte do produtor, não existe mais espaço para amadorismo em uma piscicultura comercial. “O mercado aquícola vem se profissionalizando cada vez mais, consequentemente as exigências e competições estão mais acirradas. A margem de lucro também está menor. O mercado não vai mais aceitar amadores, produtores desinformados e para quem os conhecimentos adquiridos são suficiente para ter bons resultados.”
Empresa citada
Ailton Rodrigues (11) 93257-8701 comercial@aquabit.com.br
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Especial Institucional
Casa cheia Última Reunião do ano da Câmara Setorial de Produção e Indústria do Pescado consolida órgão como o espaço de interlocução do setor com distintas instâncias do Executivo e Legislativo
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oi realizada no dia 10 de dezembro, em Brasília (DF), a última Reunião do ano da Câmara Setorial de Produção e Indústria do Pescado do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O encontro contou com representantes das principais entidades do segmento, como a Abipesca, Abrapes, CNA, Conepe, PeixeBR, Sindipi e Sinpesca, além de técnicos do Mapa e membros do Executivo e Legislativo. A Câmara Setorial do Pescado teve um papel significativo em 2019, com conquista de pontos importantes, mas o que se deve levar para 2020 é o ambiente de conversa, convergência
e união, conforme o presidente Eduardo Lobo. “Agora temos um canal de comunicação com a nossa casa que é o Mapa. Pontos importantes como comitê técnico foram conquistas de 2019 e agora há um ambiente de discussão onde as divergências podem ser deliberadas e a gente não se sinta tão desprotegido”, sublinhou. O secretário-executivo, Marcos Montes Monteiro, representou a Ministra Tereza Cristina no encontro, que conforme ele, lamentou a ausência e revelou uma “esperança muito grande no setor”. Para Monteiro, a união na Câmara Setorial do Pescado “tem dado sustentação maior ao ministério”.
A reunião também registrou a inclusão da Associação Brasileira de Reciclagem Animal (Abra) e Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia). O encontro abordou, entre outros temas, a ARI do camarão, suspensão das exportações à UE e a extinção dos Comitês Permanentes de Gestão (CPGs). Helinton Rocha, da coordenação geral de Câmaras Setoriais eTemáticas falou sobre os 17 trilhões em juros negativos no mercado internacional e o Plano nacional de armazenagem que não avançou. Sobre a economia e tributação, ele lembrou que estamos
Já Christiano Lobo, diretor para assuntos governamentais da Abipesca, reiterou que em março de 2017, saiu uma portaria sobre o Plano Nacional de Desenvolvimento da Indústria de Pescado e ponderou que considera ser esta a hora de fazer uma retomada de um Plano Nacional de Desenvolvimento.
ARI do camarão
De modo a atender a um pleito da PeixeBR, a Câmara terá um Comitê Temático de Aquicultura com 4 participantes inicialmente: a própria PeixeBR, a Confederação Nacional de Agricul-
A Consulta Pública sobre a Análise de Risco de Importação de camarões não viáveis (limpos, eviscerados, sem casca e sem cabeça) destinados ao consumo humano foi aberta em 2 de dezembro pela Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA), com o objetivo de estimar os riscos de introdução e disseminação de doenças do crustáceo no Brasil. Informações de João Haddad coordenador geral de Avaliação de Risco e Inteligência Estratégia, revelaram que a SDA recebeu 44 tipos de
perigos específicos para a avaliação de risco com o prazo de 60 dias para obtenção de subsídios para publicar a primeira versão. Para o secretário Luis Rangel, que também participou de boa parte da reunião, há muito interesse na área de política agrícola. E existem riscos sanitários e econômicos também desta questão. “É uma reanálise de risco, coloca sobre uma base nova da secretaria”. Conforme Fátima Homem, também da SDA, todo tipo de ARI leva em conta o animal vivo, e o reprodutor tem uma condição de risco muito mais elevada, seja qual for a procedência. Já a mercadoria em pauta neste momento é um animal descongelado, descabeçado e eviscerado. Para Rangel, o gerenciamento do risco na importação será
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tura (CNA), Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) e a Abra. E a primeira tarefa será a revisão deste plano, segundo sugestão de Francisco Medeiros, diretor-presidente da PeixeBR.
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em plena reforma tributária. “Não recomendamos a criação de um fundo setorial da aquicultura”. Para ele, a revisão do documento é séria, mas ainda é preciso atualizá-lo para informar ao gabinete, à alta gestão do Mapa.
Especial Institucional
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Em sentido horário, a partir do topo: Decio Coutinho (Abra), Jorge Neves (Sindipi), Christiano Lobo (Abipesca), Marcos Monteiro (Mapa), Eduardo Lobo (Abipesca) e Luis Rangel (SDA/Mapa)
sempre feita com vistas a minimizar qualquer problema ao setor. “Fizemos um levantamento de todas as entradas destas mercadorias no País e orientação de coleta deste material e encaminhamento e avaliação, mostraram não presença deste agente”, referindo-se ao grande temor atual dos produtores, a EMS.
nas quando o Brasil apresentasse um plano robusto de melhora.
Comunidade europeia
A Instrução Normativa 57/2019 que estabelece critério de controle oficial de conformidade também foi debatida. Jairo Gund, diretor do Departamento de Desenvolvimento e Ordenamento da Pesca, falou que só é reconhecido como o produto seguro aquele que é desembarcado em estabelecimento sob regime de inspeção federal ou a autoridade reconheça a equivalência de outros locais de desembarque. Os órgãos de certificação são verificados por órgãos públicos ou privados acreditados pelo Mapa. “Não vamos travar um avanço por conta de uma parte, mas precisamos fazer um trabalho conjunto. Já faz mais de um mês que as INs foram publicadas
Suspensão das exportações à UE também foi tema do encontro. A medida já ocorre há dois anos e teve um efeito na pesca e aquicultura. Paulo André Dias, chefe de serviço da SAP/Mapa, frisou que foram US$ 33 milhões em 2016 e US$ 21,8 milhões exportados em 2017. De acordo com ele, uma resposta anterior teria sido o programa Embarque Nessa, lançado em 2014, que estaria em vigor até 01/01/2020, mas nunca funcionou. Uma reunião realizada na Irlanda neste ano não considerou satisfatórias as informações e europeus pediram que houvesse o retorno ape-
A SAP definiu o tema como prioridade, mas ainda não estão claras as competências sobre embarcações pesqueiras primárias (caracterizadas como as que não são barcos-fábrica) e salmouradoras.
e até o momento não temos nenhuma solicitação de certificação de embarcações”, informou. Conforme ele, essa competência foi trazida para o Ministério da Agricultura. “Foi uma postura pró-ativa do secretário para endereçar esta questão”.
Conape e CPGs Representando Gund, que havia se ausentado neste momento, Paulo André Dias levou o item sobre a recriação dos comitês de gestão. Conforme ele, já há uma proposta de reestruturação do Conape, junto com a revisão dos Comitês Permanentes de Gestão (CPGs), mas que ainda não foi apresentada ao secretário. A SAP suspendeu os CPGs desde junho deste ano. A medida já estava anunciada, mas repercutiu mal no setor: na época, a pasta respondeu que já está trabalhando para o reestabelecimento e o fortalecimento dos CPGs em outro formato. Helinton Rocha explicou que com a extinção do Cosagro e dos Comitês e
Almoço de encerramento das atividades da Abipesca no ano reuniu a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, membros da SAP, grandes empresas do segmento e lideranças do agro no Congresso, como os presidentes das Frentes Parlamentares do Agronegócio (Alceu Moreira) e do Pescado (Luiz Nishimori)
que houve já um decreto de como funcionarão os conselhos daqui para frente. O “revogaço” terminou com todos os conselhos formados por decreto, não por lei. De acordo com ele, as que os ministérios não conseguiram defender a existência foram extintas, assim como algumas não respeitaram os limites de funcionamento da câmara.
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Outra apresentação em destaque foi de Alberto Bicca, da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), sobre a preparação para a feira Seafood Expo North America 2020, em Boston, nos EUA.
Ponto de Venda
I Venda Seu Peixe Evento foi elaborado para quem compra ou vende pescado e precisa ampliar seus mercados
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Texto: Fabi Fonseca | Fotos: Divulgação/Venda Seu Peixe
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ompradores e vendedores dos principais itens de pescado de todo o País estiveram reunidos para debater a expansão do mercado nacional no I Venda Seu Peixe, entre os dias 24 e 25 de outubro, no Novotel Center Norte, em São Paulo. Com iniciativa da Seafood Brasil em parceria com a Francal Feiras, o evento foi elaborado para quem compra ou vende pescado e precisa ampliar seus mercados.
O workshop de capacitação comercial foi seguido de uma rodada de negócios com representantes de todo o Brasil e de países como Argentina e Peru. A programação foi ampla e o primeiro dia levou mais de 150 pessoas à sala de eventos, que recebeu 24 palestrantes nacionais e internacionais divididos em quatro painéis com os temas Importação, Exportação, Mercado Interno e Comercialização em Debate.
Painel Importação Com o tema “Pescado: A proteína animal mais comercializada do mundo”, a palestra magna foi apresentada por Márcio Castro Souza, secretário do subcomitê de comércio pesqueiro da FAO e coordenador do serviço estatístico da FAO/ONU de pescado, o Globefish. Ele surpreendeu os presentes ao revelar que o pescado é responsável por 50,4% de toda a proteína animal que é comercializada no planeta. Souza
Rui Mucaje e Valdemar Camata, da Afrochamber: há muitas oportunidades no mercado africano
ainda divulgou algumas ações futuras da FAO para o setor, como o projeto de disponibilização de capital. “Notamos que os bancos não sabem ofertar ao setor da pesca e pensamos em fazer no próximo ano um evento para desmistificar os riscos e facilitar o acesso a créditos”, disse. E também reforçou a queixa da dificuldade em obter informação sobre dados pesqueiros, que para ele, acaba gerando muitos problemas como “acesso à mercados e desenvolvimento de tecnologias”. A fraude no pescado e a pesca ilegal também estiveram na pauta. Conforme Souza, as atividades estão estimadas em bilhões e só perdem para as drogas ilícitas em todo o mundo.
Fechando o painel, o diretor no Brasil do Norwegian Seafood Council, Øystein Valanes, atualizou dados da empresa e apresentou uma pesquisa sobre o bacalhau norueguês no País.
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O analista comercial sênior da Mitsubishi Corporation do Brasil, Felipe Katata, palestrou sobre “Relevância do Pescado no Conglomerado para a Mitsubishi” , em que englobou temas como espécies mais consumidas no Japão, produtos prontos para consumo, certificação internacional, rastreabilidade e valor agregado de alta qualidade.
O pescado na Argentina foi debatido por Pablo Basso, diretor comercial da Iberconsa. Já o peruano foi apresentado por Antonio Castillo, diretor do escritório do Peru no Brasil (Promperú) e os peixes e frutos do mar equatorianos foram discutidos por Edgar Novoa Villavicencio, diretor em São Paulo do Proecuador.
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Na sequência, Carolina Nascimento, gerente da América do Sul para o Alaska Seafood, falou sobre “A indústria do pescado nos EUA”, que segundo dados de 2018 mencionados por ela, geram US$ 53 bilhões em vendas todo o ano.
Ponto de Venda Painel Exportação No painel exportação, a América do Norte esteve no centro do debate com Alberto Carlos Bicca, analista de negócios internacionais da Apex- Brasil. Depois foi a vez da China ser apresentada por Mario Wang, diretor comercial da China Trade Center. Finalizando o painel, todo o potencial do mercado africano foi anunciado pelos membros da Câmara de Comércio Afro-Brasileira, Rui Mucaje e Valdemar Camata Júnior.
Mercado Interno O painel mercado interno levou o tema “Compras Públicas” com Serafim José Taveira Júnior, superintendente regional do Amazonas (Conab). Já “Varejo: A Ótica do Fornecedor” foi apresentada por Rodrigo Joaquim, diretor comercial do Grupo 5 e o “Varejo: A Ótica do Comprador” ficou na responsabilidade de Rafael Guinutzman, gerente comercial do Grupo Pão de Açúcar. A compra e venda de pescado em uma das maiores empresas mundiais
de proteína animal foi o tema de Larissa Dezem, da JBS, com “O Pescado do Chef Friboi”. E o Food Service esteve representado por Enzo Donna, diretor da ECD Food Service que expôs dados de pesquisa de consultoria especializada.
Painel Comercialização em Debate No debate sobre comercialização que reuniu representantes institucionais de todos o elos da cadeia de pescado nacional, João Crescêncio Marinho, secretário adjunto da Secretaria de Aquicultura e Pesca do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SAP/Mapa), foi o mediador do encontro que contou com a presença de Roberto Imai, diretor titular adjunto do Deagro/ Fiesp, Eduardo Lobo, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca), Márcio Ortega, presidente da Associação Brasileira de Fomento ao Pescado (Abrapes), Francisco Medeiros, presidente executivo da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR), Eduardo Ono, presidente da Comissão Nacional de Aquicultura (CNA), Marcio Milan, superintendente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e Maurício Nishimori da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel São Paulo).
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Rodada de Negócios O segundo dia foi especialmente reservado para a rodada de negócios, quando os participantes tiveram a oportunidade de literalmente “vender seu peixe”. Foram realizadas 186 reuniões com duração de 20 minutos cada com o objetivo de aproximar compradores e fornecedores de pescado com perfil, porte, volumes e interesses compatíveis, para otimizar o tempo do varejo e do fornecedor. Dez compradores de grandes redes estiveram presentes: Brazilian
Trading, Carrefour, Grupo Mundial Mix, Super Imperatriz, Grupo Pão de Açúcar, Irmãos Muffato, Rede São Paulo, Segala ́s Alimentos, Sodexo e Rede Super Nosso. E, segundo a avaliação preliminar dos compradores, o evento gerou expectativas de negócios imediatos em três meses e um valor em torno de R$ 4.950.000,00. Já do lado dos vendedores, 21 de um total de 27 presentes declararam que também existe previsão de negócios fechados no trimestre seguido ao evento superior a R$ 4.400.000,00.
Carolina Nascimento, da ASMI, apresentou a oferta do Alasca mas também a da costa leste dos EUA
No final do primeiro dia do evento foi realizado o lançamento da Seafood Show Latin America com coquetel e início de vendas da feira (leia mais a partir da página 10). “Mais do que uma feira, ela será o palco da nossa transformação e será a vitrine da integração latino-americana pelo pescado. O comércio de pescado a partir da América Latina e desde a América Latina vai passar por aqui”, falou Ricardo Torres, editor da Seafood Brasil e diretor de conteúdo da feira. Com data de realização para os dias 20 a 22 de setembro de 2020, a Seafood Show Latin America também é fruto da parceria entre a Francal e a Seafood Brasil, e deseja aproximar os fornecedores de pescado (armadores de pesca, aquicultores, frigoríficos distribuidores, importadores) dos compradores (varejo, food service, atacadistas, distribuidores, traders, frigoríficos).
Fórum da comercialização O I Venda Seu Peixe reuniu alguns dos principais atores da comercialização do pescado no Brasil e no exterior. Do grande varejo a fornecedores internacionais, com participação da FAO/ONU, o público trocou experiências sobre as demandas e canais para encaixar o produto nacional e internacional.
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Márcio Castro de Souza (FAO/ONU), Cláudio Soares e Kaká Ambrósio (Pescall)
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Ricardo Torres (Seafood Brasil), Rafael Guinutzman (GPA) e Eduardo Ono (CNA)
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João Crescêncio Marinho (SAP/Mapa) e Altemir Gregolin (IFC)
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Bruna Francisco e Leandro Francisco (Friocenter)
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Tiago Bueno e Christianny Maia (Potiporã/Samaria)
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Abdala Jamil Abdala (Francal), Serafim Taveira (Conab), Camila Bonato (Francal), Roberto Imai (Venda Seu Peixe) e Lúcia Cristina de Buone (Francal)
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Eduardo Uemura, Marcelo Freitas (GPA), Cláudia Piovan (Maris) e Eduardo Frasson (Bom Peixe)
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Personagem
Do Piauí ao mundo De conselheiro tutelar a piscicultor, “Luiz do Peixe” se tornou uma referência em alevinagem de nativos no Piauí
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o interior do Piauí todo mundo se conhece pelo apelido. Quando Luiz Vicente da Silva Filho entrou na piscicultura, percebeu que para se tornar conhecido precisava de um nome popular. Ele estagiou em diversas pisciculturas, entre as quais a de “Zé do Peixe”, de Juína (MT), especializado em reprodução de nativos. “Ele faleceu na época em que comecei a trabalhar com reprodução. Então resolvi fazer uma homenagem a ele”, conta. Mas a história de Luiz no peixe começou quando aceitou o convite para deixar a vida de conselheiro tutelar em Presidente Vargas (MA) para trabalhar na piscicultura do sogro, em Madeiro (PI). “Ele sempre me convidava, falava de como o peixe estava crescendo. Eu via [a piscicultura] crescer e comecei a estudar.” Para adquirir mais conhecimentos, ingressou no curso de biologia, onde recebeu um convite de um professor da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) para se aprofundar na reprodução do pintado.
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Foi quando começou a fase de estágios em MT. Joselino, da Piscicultura Amazonas, mostrou as desovas e técnicas de reprodução. Depois de mais experiências com piscicultores locais, ele voltou definitivamente ao Piauí, onde se consolidou na atividade com a alcunha que o tornaria famoso quatro anos depois. “Peguei gosto pelo negócio. Desde então, há mais de 4 anos, estou no ramo de alevinagem. 90% dos piscicultores do Estado me conhecem como ‘Luiz do Peixe’. Fui o primeiro a produzir o pintado da Amazônia no Piauí. Fui o primeiro a reproduzir o panga e sempre venho colocando novas espécies antes não cultivadas na região.” O carro-chefe local é a tambatinga, embora também se encontre matrinxã e jatuarana, que Luiz ajudou a trazer, além da tilápia, com a qual ele não opera. Ele confia plenamente no potencial da região. “O Piauí tem muito a crescer. Temos uma temperatura muito boa para a criação de peixes, não há período em que ele não se alimente.” A bacia hidrográfica também favorece, com o rio Parnaíba e seus afluentes. “A piscicultura, dentro dos últimos 8 a 10 anos se desenvolveu muito e vai continuar crescendo com a força dos produtores.” Um dos entraves locais é o custo da energia, por conta da necessidade de bombeamento de água para as pisciculturas. Outra questão é o associativismo. Luiz esteve no último International Fish Congress (IFC), em Foz do Iguaçu (PR), e ficou impressionado com o arranjo produtivo das cooperativas. Já importou a ideia. “Trouxemos de herança a formação da cooperativa, estamos quase 100% formados e com esta organização teremos mais força para barganhar compra de ração e construir um frigorífico”, diz, orgulhoso. Foi ele que, diante de José Graziano da Silva, da FAO/ONU, e uma plateia de 1000 pessoas, pegou o microfone para defender e representar o “meu Piauí”. Luiz do Peixe agora já deve ter fama internacional.
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