MKT & INVESTIMENTOS
ESTATÍSTICAS
Sofia 2020 consolida aquicultura como fonte primária de pescado
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Nasce o novo normal Mais do que prever o pós-pandemia, setor terá de construí-lo
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seafood
#34 - Abr/Jun 2020 ISSN 2319-0450
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Cosméticos e itens de saúde dão rentabilidade a subprodutos
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Editorial
Ação e reação
O
s últimos 120 dias colocaram à prova a nossa capacidade de reagir a uma catástrofe global. Nossa nação fracionada infelizmente acentuou suas divisões com a falsa dicotomia saúde ou economia e os 70 mil mortos mostram que claramente não combatemos a pandemia de maneira efetiva. Mesmo com a vacina a caminho, parece claro que o novo normal será construído a partir do temor do convívio com a Covid-19 e surtos de flexibilização e quarentenas. O novo coronavírus plantou uma semente de transformação em todos os elos da cadeia produtiva do pescado, que se viram obrigados a reagir rápido para fazer uma contenção de danos, como mostramos na edição #33. Agora, a partir das oportunidades geradas com a crise - e são muitas -, estamos em plena fase de construção na
nova normalidade, na qual uma experiência segura para a compra de pescado será a primeira exigência. O caminho é longo, mas o estamos percorrendo à toda velocidade. A matéria de capa desta edição mostra que nem todas as alternativas serão disruptivas e não existe o “velho anormal”. Há muitos atalhos: uma observação atenta ao cenário internacional e aos sinais do consumidor nativo nos dão a dimensão do muito que podemos fazer com poucos ajustes. Reaja rápido, mas com planejamento. Esperamos que as informações aqui dispostas os ajudem na tarefa. Boa leitura!
Ricardo Torres - Editor
Índice
PATROCÍNIO
06 Cinco Perguntas
08 Na Água
10 MKT & Investimentos 20 Na Planta
52 Na Gôndola
54 Direto da Produção
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Estatísticas
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Capa
74 Especial
80 Personagem
Sede – Brasil R. Serranos, 232 São Paulo - SP - CEP 04147-030 Tel.: (+55 11) 2361-6000
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Expediente Redação redacao@seafoodbrasil.com.br Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor: Ricardo Torres Repórter: Fabi Fonseca Diagramação: Emerson Freire Adm/Fin/Distribuição: Helio Torres Montagem de capa: Emerson Freire com foto de Benchmark Genetics
Comercial comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno Impressão Agradecemos à Máxi Gráfica pela compreensão neste período sem tiragem física A Seafood Brasil é uma publicação da Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95
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5 Perguntas Fátima Merlin, fundadora da consultoria Connect Shopper
Entrevista
Fator de aceleração Pandemia traz modernização à fórceps do varejo, mas volta ao básico bem feito e busca por saudabilidade são boas oportunidades ao crescimento do pescado
A
utoridades varejistas têm repetido que a pandemia acelerou a evolução do setor, motivando a realização em meses do que seria alcançado em anos ou décadas. Fato é que boa parte das mudanças introduzidas no período já havia sido planejada,
mas faltava coragem ou timing para implementá-las. A prioridade veio com o aprofundamento da crise econômica gerada a partir da pandemia. Já não fazem parte de um futuro criado no Vale do Silício as lojas de proximidade que vão para dentro da casa das pessoas, self-checkouts e pagamentos sem contato.
No entanto, o grande diferencial das redes neste novo cenário, dizem também os especialistas, será algo prosaico: a higiene. “Hoje o básico é crucial e tem a ver com a questão do cuidado, da segurança dos alimentos, dos colaboradores e dos consumidores”, adverte Fátima Merlin, fundadora da consultoria Connect Shopper, idealizadora do grupo Mulheres do Varejo, mentora e coach. Na entrevista abaixo, a economista diz como o pescado pode se beneficiar da busca por produtos mais saudáveis se entregar boas experiências ao consumidor. Autoridades e personalidades do varejo têm repetido que a pandemia acelerou em meses o que teria acontecido em anos ou décadas, mas outros dizem que em tempos de pandemia o maior diferencial continua a ser higiene. Você concorda? Estamos vivenciando dois caminhos. A transformação digital de fato foi acelerada com a questão do confinamento, motivando um desenvolvimento do varejo para a busca de alternativas para atender ao consumidor preocupado em ir à loja física. O varejo conseguiu se adequar e responder de maneira eficiente, sobretudo pela busca de canais alternativos, como o compre e retire, WhatsApp e aplicativos.
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Por outro lado, também está o básico, que sempre está na pauta do varejo, mas acaba ficando de lado em outros momentos. Hoje o básico é crucial e tem a ver com a questão do cuidado, da segurança dos alimentos,
“Hoje o básico é crucial e tem a ver com a questão do cuidado, da segurança dos alimentos, dos colaboradores e dos consumidores.”
Mas [para a parcela mais favorecida da população] a conectividade se acelerou ainda mais com a questão do confinamento. Isso sem dúvida nenhuma mudou também o nível de busca de informações sobre um produto, troca de experiências e aproximação entre as pessoas. Por outro lado, ainda temos uma relação presencial, do toque, do cheiro, explorar todos os sentidos. Ainda sobre a experiência online, até que ponto o comprador de alimentos aceita terceirizar a escolha que normalmente ele tem na loja? Anos atrás falava-se de transparência, da colaboração, do
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Quando avaliamos cenários complexos como o atual tendemos a achar que haverá revoluções, mas soluções simples podem ganhar impulso? Como tudo dentro do varejo e até em outros setores, teremos de nos readaptar. Normalmente o varejo sente muito rapidamente o efeito conjuntural de crises, mas justamente por isso precisou responder de maneira muito rápida, criando processos operacionais, horas alternativas para abastecer a loja, separar os clientes, criar jornadas únicas para evitar aglomerações, espaçar gôndulas e repensar o sortimento. Esses dias eu vi alguns especialistas falando do fim da degustação. Diziam que agora esta modalidade de ação no ponto e venda acabou com a pandemia. Mas fui a uma rede e o que eles fizeram? Embalagens individualizadas para degustação de itens de festa junina com laço e marca do fabricante.
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No caso do pescado, um movimento claro foi a busca por produtos congelados mais baratos. Por outro lado, há de maneira geral uma busca por itens mais saudáveis. O pescado também pode pegar carona nisso? Concordo, mas nem foi só o pescado que teve essa migração. O próprio pãozinho, que gera fluxo para dentro da loja, também foi substituído pelo pão congelado. No pescado há grandes oportunidades, uma vez que a questão da saudabilidade já era uma tendência que se fortaleceu. Mas o pescado ainda é muito mal comunicado: há grandes oportunidades no que diz respeito a sensibilizar para o seu consumo, para momentos de uso, para os benefícios que ele agrega, não só a saúde, mas também em outros aspectos, como hábitos alimentares. Uma tendência ainda para nichos específicos de consumidores é a questão do voltar ao lar, a gastronomia dentro de casa. Óbvio que para instaurar o hábito e ele se manter serão precisos dois ou três meses, às vezes mais. Mas temos de entender que boa parte dos brasileiros viu o confinamento como um castigo e um grupo enorme não vê a hora de tudo reabrir. Outro grupo não vai querer abrir mão da gastronomia dentro de casa.
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A palavra de ordem do momento é “ressignificar”. O pescado tem muitos atributos que ajudam a reforçar a imunidade e são poucos os brasileiros que sabem disso. Acho que há uma grande oportunidade aí pra vocês da área trabalharem isso.
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Uma pesquisa realizada pelo Google, em parceria com a Mintel, mostra que 27% dos entrevistados reduziram as idas nas lojas físicas em supermercados e hipermercados. Por outro lado, apenas 19% fizeram compras online no varejo alimentar. Há resistência ainda ao e-commerce de alimentos? Nós somos um país com diferentes Brasis em todos os aspectos: culturais, de hábitos, crenças, valores e inclusive de acesso à tecnologia. Nós vivemos em um país que ainda tem quase 30 milhões de domicílios sem saneamento básico, então a acessibilidade é um desafio.
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capitalismo consciente, preocupação com o ambiente, com a saúde e rastreabilidade dos produtos, o que se fortaleceu de maneira substancial com a Covid-19. Tem a ver com a própria questão da cultura e do hábito, do prazer de interagir com determinados produtos. Estamos no século 21 e ainda há proliferação de feiras livres, cuja extinção já haviam decretado com o surgimento dos hortifrútis e empórios de frutas e legumes. Essa tradição não acaba porque é relacional, local, tem a questão da solidariedade de colaborar com o vendedor e o fornecedor. São valores que começaram também se fortalecer com a história do confinamento.
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dos colaboradores e dos consumidores. Isso exige padrões de operação bastante rígidos no varejo para garantir todos esses cuidados. As pessoas não conseguem passar muito tempo dentro da loja e isso vai exigir muitas mudanças.
Na
Água Tecnologia para pesca e criação
ISO 17034), lança a linha Isoquant, com metodologia descrita para facilitar a rotina de trabalho e obtenção de resultados com controle de qualidade exigido. A Isoquant Glass é quem busca praticidade e agilidade nas análises: os reagentes vão dentro de tubos herméticos e prontos para o uso, também possibilitando a leitura direta na cubeta em espectrofotômetros e fotocolorímetros.
Maior sobrevivência de pacus
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O MacroGard, da Biorigin, mostrou-se uma importante ferramenta na proteção de pacus desafiados pela bactéria Aeromonas hydrophila, devido ao aumento das respostas imunológicas não específicas. Conforme um estudo conduzido pela empresa, juvenis alimentados com a solução 0; 0,1 ou 1,0% de MacroGard (β1,3/1,6 glucanas, com 60% de concentração) por sete dias, apresentaram uma taxa de sobrevivência 26,7% e 21,2%, respectivamente, superior à do tratamento controle.
Praticidade no cotidiano A Alfakit em parceria com a QMC, laboratório duplamente acreditado (ABNT NBR ISO/IEC 17025) e em produtos (ABNT NBR
Para uma melhor nutrição Uma das pioneiras na oferta de fitase para nutrição animal, a Basf desenvolveu o Natuphos E, uma enzima natural que garante uma melhor utilização do fósforo e de outros nutrientes importantes, como proteínas e minerais, durante o processo digestivo dos peixes. A empresa garante que a solução diminui a necessidade de adicionar fontes inorgânicas de fósforo à ração, proporcionando economia de custos consideráveis com a alimentação. Por outro lado, diz a Basf, torna a digestão mais eficiente e diminui a excreção de nutrientes não digeridos, impactando positivamente no meio ambiente.
Parceria e pacote completo A Escama Forte junto com a Hipra, multinacional espanhola de referência em prevenção para saúde animal, trouxe ao Brasil a tecnologia e experiência global de vacinas para peixes junto de serviços de diagnósticos e suporte ao mercado. A linha de vacinas Icthiovac para tilápias e trutas age no controle das principais doenças.
Formulação ideal A Foss trabalha há mais de 60 anos com soluções analíticas que buscam otimizar produções, aumentar produtividade e lucratividade, ao mesmo tempo que reduzem perdas com produtos fora de especificação. O NIRS DS2500F é indicado para rações, pois permite a checagem rápida de múltiplos parâmetros de matérias-primas para que suas formulações estejam sempre dentro das especificações ideais.
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Cosméticos e
saúde: a face oculta da indústria do
pescado Marketing & Investimentos
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Ingredientes para produção de cosméticos e medicamentos aparecem como nicho de mercado, mas o País ainda encontra dificuldades em explorá-los Texto: Fabi Fonseca
A
utilização de subprodutos de pescado na fabricação de cosméticos e medicamentos no Brasil ainda caminha lentamente, embora os ingredientes sejam cada vez mais explorados. Só o setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (HPPC) movimentou
cerca de US$ 30 bilhões no País em 2018, conforme o Panorama do Setor 2019 apresentado pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC). O País ocupa a 4ª posição no ranking de consumo dos HPPC e está na 3ª posição em lançamento de
novos produtos, atrás apenas dos Estados Unidos da América e China. Já o uso de medicamentos também está em alta, conforme dados do Conselho Federal de Farmácia, o Brasil aparece entre os dez países que mais consomem medicamentos no mundo.
Sustentabilidade também é demanda de consumidores de cosméticos da Ocean Drop
A empresa tem o interesse de trazer outros ativos de fora não são permitidos no Brasil, mas tem encontrado poucos opções por aqui
Ela reclama que apesar de ofertarem os subprodutos, normalmente as indústrias não costumam fazer o processamento necessário para consumo humano. “Um exemplo disso é com o cálcio de algas lithothamnium, que sempre foi explorado no País, mas não se tinha para consumo humano e a gente precisava enviar para fora e, então, esterilizar e fazer a preparação para consumo”. O que foi resolvido há dois anos quando surgiu uma empresa especializada. A spirulina (cianobactéria popularmente chamada de “alga-azul”) e a microalga chlorella são encontradas no Brasil e, também, os subprodutos mais utilizados para os suplementos alimentares da Ocean Drop, mas a empresa vai buscar na China a quantidade necessária. De fora também vem a astaxantina da microalga Haematococus pluvialis, cultivada por uma empresa chilena e o ômega-3 DHA, este apenas de algas, que vinha de uma companhia situada nos EUA, mas agora também é de origem chinesa. Já do Brasil, especificamente do Ceará, vem o ágar-ágar, produto natural com consistência de gelatina
criado a partir de várias espécies de algas marinhas vermelhas. Também tem origem nacional o cálcio de algas extraído na Costa do Maranhão e o magnésio marinho extraído dos oceanos, que pode ser utilizado tanto na suplementação quanto nos cosméticos. No final de fevereiro a empresa lançou a linha Submarine, cujos produtos são formulados com magnésio marinho e microalgas para a revitalização e remineralização da pele do rosto e também a com a astaxantina para redução das linhas de expressão e manchas. Recém-chegada ao mercado, a linha já corresponde a 5% do faturamento mensal, embora a expansão tenha sido prejudicada por causa da pandemia. Mas, apesar da nova aposta, Pellizzaro reforça que a força da empresa está nos produtos para suplementação humana e as pessoas acabam comprando mais “por causa da preocupação com a saúde e a imunidade”.
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Apesar da profusão de concorrentes da Ocean Drop, a produção nacional de ingredientes com esta finalidade patina. Uma das justificativas é a falta de histórico na utilização e conhecimento dos ativos marinhos com uma infinidade de subprodutos que podem atender diversos objetivos. Inúmeras empresas internacionais focam neste mercado em potencial. “Acredito que aqui no Brasil a gente tem uma abundância muito grande de matéria-prima terrestre e esse histórico de uso é muito maior do que das coisas marinhas. Então, talvez por comodidade e por essa abundância, não se foque tanto nos ativos marinhos”, diz Pellizzaro.
e ainda esbarra na falta de empresas especializadas no fornecimento de matériasprimas prontas para a aplicação. “A maior parte dos produtos [da empresa] são internacionais, apenas dois são nacionais. Precisamos buscar a matéria-prima de fora porque a gente realmente não encontra no Brasil. Então, tem essa demanda e com o dólar no valor que está, seria muito mais interessante se tivéssemos matéria-prima nacional”.
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No universo de HPPC, o consumidor brasileiro segue mais exigente e atento aos acontecimentos mundiais, além de qualidade e bons preços, eles também intensificaram a busca por produtos naturais, sustentáveis e com boas práticas. Justamente o foco principal do público da Ocean Drop, uma startup nacional de suplementação humana e cosméticos que nasceu em 2016 da ideia de um grupo de oceanógrafos, em Balneário Camboriú (SC). O fato de as algas e microalgas utilizadas nas formulações serem sustentáveis é uma demanda dos clientese um diferencial no mercado. “O cliente não mais compra só um produto, já tem muita marca e demanda, eles querem agora uma experiência com propósito”, explica Juliana Pellizzaro, sócia-fundadora da empresa junto com Murilo Canova, Lucas Marber e Ariel Rinnert. O propósito está na proposta da empresa: 5% dos lucros são revertidos para apoiar projetos de proteção dos oceanos.
Marketing & Investimentos Unidade de Tanguá (RJ) da Patense, onde acontece o processamento de resíduos de pescado
Divulgação/Patense
A farinha de peixe para reutilização na ração animal é o principal ingrediente, mas o grupo também produz outros ingredientes oriundos do pescado para o mercado nacional e internacional que podem ser utilizados na confecção de cosméticos e medicamentos, como é o caso do sebo que pode ser utilizado na indústria de higiene e limpeza para a fabricação de sabão e sabonetes.
Sem nenhuma estrutura física, a Ocean Drop fez o desenvolvimento técnico dos produtos e terceirizou toda a fabricação. Para os cosméticos foi realizada uma parceria no desenvolvimento de uma formulação exclusiva em produtos específicos e a empresa contrata uma indústria para a fabricação. No caso dos suplementos o processo é parecido, embora a empresa precise comprar as matérias- primas e também enviá-las à indústria. Além da loja virtual, os produtos são encontrados em mais de 450 pontos de vendas de terceiros juntos com outros produtos naturais espalhados pelo Brasil.
Resíduos como negócio Ainda que o mercado apresente potencial, sobretudo com a pandemia do novo coronavírus aumentando a preocupação dos brasileiros com a saúde e a imunidade, são poucas empresas nacionais que olham e apostam nesse nicho de mercado. A Patense é uma das exceções: a indústria de reciclagem animal produz soluções para diferentes segmentos produtivos. Com matriz localizada em Patos de Minas (MG), a empresa tem mais quatro plantas espalhadas no País que processam matérias-primas de pescado, bovinos, aves e suínos.
Divulgação/Patense
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Dário França, diretor comercial da Patense: empresa está atenta às oportunidades em cosméticos e medicamentos, mas demanda principal ainda é por farinha de peixe
Já o óleo de peixe, além de ser utilizado na fabricação de rações, também pode ser encapsulado e destinado para suplementação humana. Rico em ômega 3,6 e 9, ele é proveniente do processamento de sardinha no Rio de Janeiro e enviado para países da América do Sul e Norte, Oriente Médio e Ásia. Hoje a exportação da Patense representa 30% de todo o faturamento. Já o óleo de peixe produzido é cerca de 80% destinado ao mercado internacional. “Falta desenvolvimento da indústria e focar como fonte de óleo refinado”, explicou o diretor comercial da Patense, Dário França. Já sobre o ômega-3 extraído dos peixes, outro ponto a se destacar é que o óleo natural é encontrado em maior quantidade em algumas espécies de peixes de água salgada. “Não temos uma grande captura para essa finalidade, como Peru e Chile que pescam para fazer a farinha e o óleo. Por isso vemos falta de investimento”. O ômega-3 é provavelmente o mais popular produto para consumo humano produzido a partir de subprodutos de pescado. As cápsulas de suplementação alimentar são facilmente encontradas nas farmácias do Brasil - e elas não são poucas. Conforme o Conselho Federal de Farmácia, há uma farmácia (ou drogaria) para cada 3.300 brasileiros. Entre as propriedades funcionais do óleo de peixe estão o auxílio no controle de triglicerídeos, prevenção de doenças cardiovasculares e melhora no controle dos processos inflamatórios
Funcional Mikron desenvolveu nanoencapsulação para transformar ômega-3 em pó
De olho neste nicho internacional, a Funcional Mikron, empresa brasileira com expertise em nanotecnologia aplicada para desenvolver soluções com ingredientes de alta tecnologia para a indústria de suplementos alimentares, colocou no mercado nacional e internacional um ingrediente desenvolvido com o uso da tecnologia
de nanoencapsulação para transformar ômega-3 em pó, conforme destaca o biomédico Eduardo Caritá, sócio-diretor de tecnologia e inovação. A tecnologia é utilizada por diversas empresas e segmentos no mundo e consiste no aprisionamento de ativos em uma matriz ou membrana polimérica de tamanho nanométrico. Com o apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e testes em outros laboratórios de instituições nacionais, a solução da Mikron também possui em sua nanocápsula a quitosana, molécula catiônica encontrada no exoesqueleto de insetos e crustáceos. A substância se adere à mucosa do intestino liberando o ômega-3 de forma gradual, proporcionando ao organismo tempo para uma absorção superior. A tecnologia de nanoencapsulação transforma o óleo em pó, o que promete melhora da dispersibilidade e homogeneização. Para a fabricação das nanocápsulas, a empresa importa
Divulgação/Mikron
Conforme o diretor comercial, o que o Brasil vende como mistura poderia ser sim reprocessado, no caso do ômega-3, se refinado poderia ter um volume maior direcionado ao mercado interno, mas a falta de demanda aparece como o principal empecilho para a indústria nacional. “Na Europa as pessoas consomem mais os suplementos alimentares e, por isso [o Brasil] não é um mercado que justifique a operação de uma planta. Então, acaba valendo a exportação.” Se no País a utilização de ingredientes oriundos do pescado para a produção de cosméticos e medicamentos ainda é baixa, os segmentos têm grande relevância em outras potências do pescado, como na América do Norte, Estados Unidos da América e Canadá.
do Peru o óleo de peixe já filtrado e refinado e em condições exatas para a produção. Caritá defende que a importação foi a alternativa após tentativas no mercado nacional, mas o óleo encontrado no País é comumente vendido para a produção de ração, ainda precisava passar por processos de “refinamento” para ser utilizado na produção. “Eu tentei refinar as amostras, mas como vêm no estado bruto o custo para fazer na quantidade que eu iria utilizar era muito alto e exigia um investimento muito grande”.
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Incluindo: Filé de Merluza, Filé de Panga, Mexilhões, Filé de Salmão, Bacalhau, Sardinhas, Filé de Polaca.
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Marketing & Investimentos Biorreator usado para produção de corantes com microrganismos: ingrediente para cosméticos
vitaminas C, vitaminas D, zinco e ômega-3 tem ido junto”.
Divulgação/Embrapa
Atualmente o percentual do volume de vendas do ingrediente sobre os outros produtos ainda é modesto, entre 7% e 8%, mas permanece como uma das apostas da companhia. “O mercado não está decrescendo e nem estacionado e temos muita esperança de que o potencial do ômega-3 se manifeste nos próximos anos”. Para o biomédico, o sucesso do produto no mercado está relacionado, entre outras questões, ao aumento da população idosa no Brasil e, consequentemente, ao aumento do grupo das moléstias chamadas “não infecciosas” como diabetes e hipertensão. “Então, o potencial é imenso. Dos 200 milhões de brasileiros hoje, mais de 60 milhões já passaram dos 60 anos e, em países como a Itália já têm 50% da população acima dos 50 anos”, concluiu.
Divulgação/Embrapa
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Com o produto pronto, começaram as vendas para farmácias de manipulação que, por sua vez, revendem esses produtos destinados para a saúde do sistema nervoso e também como um mix de vitaminas pré-prontas. A venda média do produto de tecnologia da empresa é de 400 kg/mês, com 80% de todo volume de produção destinado à Bolívia. Embora a utilização do produto no mercado nacional seja pouca, ela já dá sinais de crescimento nos últimos meses. “Agora que as exportações pararam em abril [por causa da pandemia do novo Coronavírus] e estamos percebendo um crescimento deste mercado. Essa demanda da saúde tem aumentado muito e as pessoas têm comprado mais
Fora do País, grandes empresas investem na utilização dos subprodutos de pescado, como a Vinh Wellness que é dedicada exclusivamente à produção
e venda de colágeno e gelatina e é uma divisão da Vinh Hoan Corp., maior produtor mundial de pangasius. Com produção destinada principalmente para o Japão, Coréia do Sul e União Europeia, o colágeno da Vinh Wellness é utilizado em alimentos nutricionais, suplementos para antienvelhecimento, fortalecimento das articulações e aplicação farmacêutica na produção de vacinas. Já a gelatina é amplamente usada na produção de alimentos e cápsulas. Para o mercado nacional, a empresa estima que apenas 10 toneladas são utiizadas por ano como ingredientes para suplementos alimentares. Por ano, a Vinh Wellness produz cerca de mil toneladas de colágeno e mais mil toneladas de gelatina, com a expectativa de atingir 2 mil toneladas em 2021. No faturamento total, a gelatina é responsável por 60% da receita mensal enquanto o colágeno corresponde aos 40% restantes.
Ciência e cosméticos Com o aumento da exigência em relação à composição dos cosméticos, grandes marcas no Brasil já investem há alguns anos em pesquisas para o uso de ingredientes naturais. O que se mostra como uma grande oportunidade para a exploração dos subprodutos do pescado. Dono das marcas O Boticário, Eudora, quem disse, berenice?, The Beauty Box, Multi B e Vult, o Grupo Boticário vai concluir no próximo ano um projeto que busca alternativas aos insumos industriais de coloração. Desenvolvido em parceria com a Embrapa Agroenergia (DF) e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), a ideia é produzir cores a partir da fermentação de microrganismos para a utilização em cosméticos.
Pesquisadora da Embrapa, Patrícia Abrão de Oliveira Molinari estuda distintas aplicações de microalgas
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Marketing & Investimentos Santa Catarina libera cultivo comercial de Kappaphycus alvarezii No começo deste ano o governo federal de Santa Catarina liberou o cultivo comercial de macroalgas da espécie Kappaphycus alvarezii. Na época, a autorização fornecida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) animou os maricultores da região que brigavam há dez anos, junto com o Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca (Epagri/Cedap) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pela liberação comercial do cultivo. A Kappaphycus alvarezii é altamente utilizada pela indústria com uma infinidade de aplicações, conforme explicou o pesquisador Alex Alves dos Santos. “Mais de cinquenta países produzem essa alga para extração da carragenana que é um colóide, uma gelatina extraída da alga, como é extraído o ágar. A carragenana é utilizada pela indústria química, farmacêutica, têxtil e a alga como um todo é usada também na gastronomia para ornamentação de pratos na alimentação humana”. A nova cadeia produtiva é bastante promissora, já que atualmente o Brasil estaria importando US$ 12 milhões, cerca de R$ 51,3 milhões só em carragenana. Outro fator determinante é que o cultivo da espécie pode ser combinado com a criação de ostras, mexilhões e vieiras. Ponto favorável, já que Santa Catarina é o maior produtor de moluscos do Brasil. São 565 maricultores distribuídos em 11 municípios e gerando cerca de 2 mil empregos diretos. Em 2017, a produção girou em torno de 13,7 mil toneladas de mexilhões, ostras e vieiras. Embora a publicação da Normativa já tenha autorizado a comercialização, Santos estimava que a implantação total da macroalga catarinense no mercado nacional deverá demorar mais uns cinco anos.
Divulgação/Embrapa
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A pesquisadora do Laboratório de Química de Biomassa e Biocombustíveis da Embrapa, Patrícia Abrão de Oliveira Molinari, explica que a equipe de estudo selecionou uma microalga para ser encaminhada para a etapa de otimização de processo de cultivo, após estudos químicos e de estabilidade a luz e temperatura. “Esta microalga foi selecionada após uma etapa de préseleção de 10 candidatos promissores
contendo fungos filamentosos, leveduras, bactérias e microalgas da Coleção de Microrganismos e Microalgas Aplicados a Agroenergia e Biorrefinarias (CMMAABio) da Embrapa Agroenergia”. Para a utilização em cosméticos, além de apresentar uma coloração estável na formulação, é fundamental que o corante seja seguro. Durante a seleção, foi realizado um estudo de
estabilidade de cor e também uma etapa de caracterização química dos corantes e outros compostos produzidos pelos microrganismos e microalgas. “Uma vantagem que as microalgas apresentam é que, além de serem fonte de corantes como a clorofilas e carotenóides, seu extrato agrega valor ao produto cosmético por possuir atividade antioxidante já bastante descrita na literatura científica”, destacou. A necessidade da utilização de ingredientes naturais na produção de cosméticos aparece como demanda do consumidor. “No Brasil, já existe uma tradição com produtos com matériaprima vegetal, mas a cada dia o mercado tem apresentado novidades que têm sido aceitas pelo consumidor brasileiro, muitas das quais tendências vindas do mercado de cosméticos coreano”. Para ela, o consumidor também está adquirindo conhecimento a respeito de sustentabilidade na produção de cosméticos. As mudanças de comportamento do mercado, com o consumidor buscando ingredientes naturais e se interessando pela substituição de ingredientes de base petroquímica, abre espaço para a diversificação de fontes de matériaprima dos cosméticos.
Nasce uma grande indústria Desde que a Universidade Federal do Ceará (UFC) anunciou em 2015 uma técnica que utilizava a pele de tilápia em tratamento de pacientes vítimas de queimaduras, a tecnologia avançou rapidamente e o uso pioneiro passou a ser desenvolvido para inúmeras finalidades. Atualmente, a técnica é estudada em sete Estados brasileiros e em sete países. A pesquisa coordenada por Edmar Lima Júnior do Instituto de Apoio ao Queimado, Felipe Rocha do Instituto Federal do Ceará (IFCE), Odorico Moraes, Elisabete Moraes e Carlos Paier, da Universidade Federal Do Ceará (UFC), já conquistou 14 prêmios em eventos científicos e produziu 22 artigos publicados em periódicos especializados nacionais e internacionais. Médico Edmar Maciel é cirurgião plástico e um dos coordenadores da pesquisa com pele de tilápia: êxito internacional deve se converter em negócio
Certificações: um mercado em expansão
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Outro ponto positivo é que o pescado apresenta uma vantagem sobre as outras proteínas animais. Segundo Franco, o pescado como matéria-prima é uma fonte muito relevante para o Halal, uma vez que os peixes são considerados lícitos e não precisam ser submetidos a um ritual de sacrifício islâmico, como é o caso de bovinos e frangos. Entre as inúmeras empresas certificadas Halal pelo mundo que atuam com subprodutos de pescado, a Seafood Brasil identificou a Vinh Wellness, com produção e venda de colágeno e gelatina. A chinesa Foodchem, distribuidora global de aditivos e ingredientes alimentares, e dona da marca Foodmate Gelatin que produz gelatina farmacêutica e comestível. No Canadá, a Kenney & Ross Limited (K&R), se tornou uma das principais fabricantes de gelatina de peixe alimentício e farmacêutico e colágeno de peixe hidrolisado para exportação em todo o planeta após ser adquirida pela Ajinomoto Trading Co., Inc. Já nos EUA, grupos como a Madina Vitamins, Greenfield Nutritions e a Halal Living SPC também apostam no mercado Halal com linhas de vitaminas e suplementos alimentares à base de subprodutos de pescado.
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O consumo consciente tem despertado a preocupação das pessoas não só em relação à saúde, mas também ao bem estar do planeta e das condições éticas e corretas no desenvolvimento dos produtos adquiridos. A consciência sobre os impactos de consumo das pessoas tem aumentado a oferta e as oportunidades de inúmeras empresas que aderem às chamadas “boas práticas”. E, tem aumentado também o valor dos selos das empresas certificadoras pelo mundo. No Brasil, a certificadora Fambras Halal aponta um outro caminho. Produtos Halal, como alimentos, cosméticos e medicamentos, vem despertando o interesse dos adeptos do consumo consciente. “O alimento halal deixou de ser um requisito exclusivamente religioso. Ele vem se consolidando como um conceito de segurança alimentar. São produtos que, em todo o seu processo produtivo, contaram com matériasprimas, processos, mão de obra e embalagens que não trazem qualquer prejuízo à saúde e à segurança das pessoas”, explica Mohamed Zoghbi, presidente da FAMBRAS Halal. O halal é um conceito e a palavra de origem árabe e significa “lícito” ou “permitido”, o termo engloba princípios e valores éticos e morais para os muçulmanos. E, embora seja esteja diretamente ligado à alimentação, inúmeros produtos não-alimentares e serviços podem ser certificados. “A maneira correta de um muçulmano viver, se alimentar e agir fazem parte do conceito”, destaca Elane Franco, da Fambras Halal. O selo permite acesso a um mercado que não para de crescer e movimentou US$ 2,2 trilhões em 2018 nos setores de alimentos, produtos farmacêuticos e estilo de vida, conforme o “State of the Global Islamic Economy 2019/20” da Salaam Gateway, que fornece dados sobre a economia islâmica global. Na mesma época, os gastos dos muçulmanos com cosméticos foram em torno de US$ 64 bilhões, enquanto no ano anterior o valor era de US$ 61 bilhões. A previsão é que o segmento atinja US$ 95 bilhões até 2024. De acordo com dados da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, o Brasil aparece como o terceiro maior parceiro comercial dos países árabes, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. No ano passado, o grupo comprou mais de US$ 12,2 bilhões de produtos brasileiros, 6,3% a mais em relação a 2018. Já os medicamentos e cosméticos Halal são uma tendência mundial, entretanto, mesmo sendo possível, empresas nacionais ainda não investiram nos segmentos e, atualmente, as matérias-primas certificadas Halal para medicamentos e cosméticos brasileiras são apenas provenientes de bovinos, fontes vegetais e sintéticas. “A princípio medicamentos ou cosméticos derivados de pescado no Brasil ainda não há, mas havendo interesse eles poderiam ser certificados” destacou.
Marketing & Investimentos
Para que servem as algas Lithothamnium?
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 • 18
Um estudo científico de Gilberto Dias, da Universidade Federal Fluminense, publicado na Revista Brasileira de Geofísica nos anos 2000, já evidenciava o potencial de uso dos granulados bioclásticos marinhos no Brasil, que são formados principalmente por algas calcárias (maerl e lithothamnium, na França). Apenas as formas livres das algas calcárias (free-living), tais como rodolitos, nódulos e seus fragmentos, são viáveis para a exploração econômica. A exploração na indústria se aplica a diversas finalidades, que vão desde a agricultura (maior volume) até a dietética humana e indústria de cosméticos. A França é o principal produtor mundial de granulados litoclásticos e bioclásticos marinhos, apesar de ter uma pequena extensão de plataforma continental. Já o Brasil, a nível global, representa a maior extensão coberta por sedimentos carbonáticos, com relatos desde a década de 60 da existência de algas calcárias na plataforma continental N-NE. O oceanógrafo Alex Schmitz Du Mont e o biólogo João Manoel Lima Monteiro consideram que boa parte dos obstáculos para prospecção e extração dos recursos já foram superados. No País há diversos programas dedicados ao tema, como o Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC) e o projeto da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM). O CIRM é responsável por estabelecer o limite exterior da plataforma continental, com base na aplicação dos critérios estabelecidos no artigo 76 da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). Já os critérios apresentam conceitos geodésicos, hidrográficos, geológicos e geofísicos. A empresa brasileira Oceana Minerals já comprovou este potencial. Trabalha com tecnologia na extração sustentável e beneficiamento da alga marinha Lithothamnium direto de uma jazida própria na costa do Maranhão. Com linhas de produtos para nutrição animal e fertilização agrícola, atende ao mercado nacional e exporta para diversos países da Europa, América Central, EUA e Ásia. A atividade industrial da Oceana procura preservar as características originais da jazida, investindo em programas de monitoramento de vida biológica, qualidade de água, controle ambiental e ações sociais com a comunidade local a fim de desenvolver a região de forma sustentável.
Divulgação/UFC
Divulgação/UFC
Após passar por etapas de processamento, a pele de tilápia que, comumente, seria descartada pela indústria, se tornou um curativo biológico barato e sustentável com o objetivo de fechar a ferida evitando a contaminação, ajudando na diminuição da dor do paciente e ainda diminuindo os custos ambulatoriais. Mas, a técnica foi além do objetivo inicial e o surpreendente resultado motivou seu uso para outras finalidades, como cirurgias plásticas de correção de agenesia vaginal e cirurgias de redesignação sexual. Além dos curativos biológicos, os estudos também possibilitaram o uso da pele em mais duas linhas: a segunda é a matriz de pele descelularizada e utilizada nas chamadas “cirurgias invasivas de uso interno”, como em próteses, válvulas cardíacas, vasos e enxertos em outros tecidos. “Quando a gente faz uma engenharia de tecidos na pele e consegue isolar só a malha de matriz orgânica, que seria só a parte do colágeno, conseguimos ter uma membrana que possui uma rigidez, e com isso é possível colocar dentro do paciente”, explicou o pesquisador Felipe Rocha. Testes pré-clínicos com a matriz descelularizada estão sendo realizados em modelos animais de 10 especialidades médico-cirúrgicas.
Cosméticos e algas Conhecida como a gigante dos cosméticos no Brasil, a Natura apostou em 2015 na biotecnologia para reduzir impactos e melhorar a performance de produtos. Um projeto desenvolvido com a empresa americana de biotecnologia Solazyme utilizava óleo a partir de microalgas como ingrediente principal da Linha Tododia. Entre os benefícios do novo ingrediente estava a redução do custo de aplicação nos produtos e a redução do impacto ambiental. O óleo de microalgas AlgaPur foi utilizado nos produtos da linha até outubro do ano passado, quando a Tododia passou a ser 100% vegana com uma reformulação completa das embalagens à formulação, deixando de usar os ingredientes com base de microalgas. Nos catálogos atuais da Abelha Rainha, uma das maiores empresas de cosméticos do centro-oeste e uma das maiores do mercado nacional de em vendas via catálogo no segmento, o suplemento alimentar com ômega-3 divide a atenção dos consumidores com produtos Skin Care da Linha MixDerme a base de ativos marinhos desenvolvido a partir da combinação de algas vermelhas e marrons.
Óleo e hidratante corporal de Framboesa e pimenta vermelha da Linha Tododia que utilizou microalgas como principal ingrediente até o ano passado
O potencial dos produtos no mercado mundial é enorme, o que aponta para a necessidade de uma gigante indústria no País. Isso é, de certa forma preocupante, já que as patentes incluem a China e os EUA, Índia e ainda a Europa. Embora a
tilápia seja atualmente o peixe mais produzido na aquicultura nacional - o que indica que não faltará pele - o grande problema será a indústria conseguir processar pele suficiente porque nem todo processo, a princípio, vai ser mecanizado. “Ela [empresa] vai depender de um trabalho manual, então existe um limite”. Rocha revela que a empresa nacional [cujo nome ele
não revela] responsável por construir a primeira fábrica de processamento de pele de tilápia no País está tentando desenvolver na Europa uma máquina que facilite o processo de produção. Outra etapa para colocar os produtos no mercado será o registro na Anvisa, o que só deve acontecer após a fábrica pronta receber a certificação de Boas Práticas de Fabricação (BPF).
Em mais um capítulo da corrida mundial na busca de uma vacina ou medicamento que ajude a frear a pandemia do novo coronavírus, o KD Pharma Group e seu parceiro, SLA Pharma, ambos do Reino Unido, anunciaram que estão utilizando ácidos graxos ômega-3 e óleo de peixe para tentar controlar a Covid-19. Segundo o site Seafood Source, as empresas estão na fase de ensaios clínicos para a eficácia do medicamento, o EPAspire, em pacientes sintomáticos com citocinas inflamatórias. A Islândia também corre por fora. O grupo Kerecis e o Hospital Nacional daquele país estão realizando um estudo clínico randomizado com o ômega -3 Viruxide, que é um sistema virucida e bactericida usado no Kerecis Primary Wound Spray, e ajuda a controlar infecções e está no mercado em vários países há anos. “Reconhecendo esse benefício, os médicos italianos estão usando o produto off-label para pulverizar nas cavidades orais e nasais dos pacientes que se acredita terem início precoce da Covid-19, com o objetivo de impedir a progressão da doença”, observou a empresa. O spray primário para feridas da Kerecis já era disponível em toda a União Europeia, Suíça, Reino Unido, Canadá, Coréia do Sul, África do Sul e Austrália.
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Ômega-3 na luta contra a Covid-19
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 •
A terceira grande linha de estudo explora o colágeno extraído da pele do peixe para o uso em cosméticos ou medicamentos. Conforme ele, um método de tratamento detona a pele in natura, tornando possível extrair o colágeno em forma de uma espuma de algodão. “Com essa espuma de algodão de colágeno, por exemplo, posso fazer uma cápsula e a pessoa tomar colágeno em pó, ou posso pegar o colágeno e colocá-lo dentro de um creme que pode ser utilizado para feridas ou em um creme utilizado como cosméticos”. Embora as técnicas já tenham sido patenteadas, o pesquisador explica que, inicialmente, apenas a tecnologia do curativo biológico será transferida para a indústria. “A indústria acha que mesmo lançando só a pele, o parque fabril que ela pretende fazer talvez não dê conta da demanda nacional”.
Na
Planta Tecnologia em processamento de pescado
isolamento térmico com abertura e fechamento ultra rápidos e automáticos que independem da ação humana para acionar. Já a porta AL01 foi especialmente pensada para as chamadas “salas limpas”, evitando contaminação em lugares que necessariamente precisam seguir padrões de controle ambiental.
Cuidados higiênicos A Rayflex oferece em seu catálogo soluções que ajudam a redobrar os cuidados na linha de produção da indústria do frio. As portas da linha Frigoiso, por exemplo, oferecem vedação total em todo perímetro e lona com
Máxima eficiência operacional
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 • 20
A classificadora compacta da Marel é uma solução completa para classificação e formação precisa de lotes, desenvolvida para maximizar a eficiência operacional e o tempo de atividade. É indicada para processadores de pequeno e grande porte com capacidade excedente de produção. O software de processamento de alimentos Innova transforma a coleta de dados em atividade contínua, com visões gerais do processo acessíveis em tempo real.
Controle e segurança A Schmersal apresenta o Flex Safe Controller (FSC), novo sistema de controle e segurança para máquinas. Solução completa para partida de motores, segurança e freio em um único painel compacto. Compacto, o FSC tem placa de controle com alarme de erro e identificação via aplicativo LEXX, além de uma tampa frontal da caixa indicando o status de funcionamento e as falhas por meio de leds com saídas de cabos e usinagem da caixa podendo ser customizadas conforme a necessidade, com toda a ligação interna do sistema em plug and play, o que facilita uma possível manutenção.
Análise multiparâmetros As soluções analíticas da Foss também contemplam os produtos finais. O analisador FoodScan 2 permite a análise de todos os tipos de carnes, matrizes úmidas, sólidas e semisólidas, testando mais de 10 parâmetros físico-químicos em menos de 25 segundos, segundo a empresa.
Condensador, máquina de gelo e evaporador Há mais de 85 anos no mercado, a Güntner fornece diversas soluções em refrigeração. Para o setor de pescado, o condensador evaporativo em aço inoxidável Ecoss e o evaporador de duplo fluxo AGBK aparecem entre os produtos em destaque. O gerador de gelo em escamas e o gerador de gelo em cubos completam a lista.
Embalagem verde premiada O projeto Seaclic, da Storopack, venceu o concurso europeu Ocean’s Calling com esta embalagem para peixes frescos que é uma alternativa ao isopor tradicional. A versão ganhadora do prêmio é a biobased, feita de outras embalagens recicladas e de resíduos alimentares.
Tecnologia em embalagens barreira
Pulverização rápida A Ecolab traz para o Brasil um novo serviço de desinfecção de ambientes voltado a indústrias e serviços de alimentação. Os técnicos da empresa vão até o local e fazem a preparação do ambiente, para, na sequência, aplicar, de maneira segura, os desinfetantes nas áreas e superfícies rígidas. Os produtos utilizados têm a aprovação da Anvisa e são eficientes contra um amplo espectro de vírus, bactérias e fungos. A ação é rápida, liberando o ambiente para circulação de pessoas logo após secagem do produto, que leva em média 10 minutos.
21
A Aliança Navegação e Logística lançou uma versão reformulada do Portal Cabotagem com tecnologia avançada de rastreio da carga via satélite. A novidade permitirá que os clientes da empresa monitorem o status de transporte da carga e acompanhem o seu percurso em tempo real, seja terrestre ou marítimo, permitindo assim um maior controle sobre o prazo de recebimento.
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 •
Em tempo real
A multinacional japonesa UBE é uma das líderes mundiais em poliamidas e copoliamidas e oferece ao mercado brasileiro as embalagens flexíveis de nylon com barreira para o acondicionamento de uma grande variedade de itens de pescado. As embalagens com alta performance da empresa garantem proteção ao produto, redução do odor e evitam vazamentos, além de alta resistência à perfuração para pescado e frutos do mar, crus, secos ou congelados.
Capa
Esse tal de
“NOVO NORMAL” Enquanto todos os setores econômicos tentam prever o futuro pós-pandemia, elos do pescado já se esmeram em construí-lo
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 • 22
Texto: Ricardo Torres
H
á 10 anos o Brasil não exportava tanto pescado a mercados internacionais. Até junho deste ano, os embarques de pescado superaram 20 mil toneladas. O desempenho é timidamente superior ao do ano passado, mas o fato de ter acontecido em plena pandemia global é um
indicativo de que soubemos aproveitar algumas oportunidades que o colapso mundial mascarou. A primeira delas é o real, cuja desvalorização frente ao dólar nivelou o preço das nossas commodities aquáticas, como a tilápia e o camarão vannamei, a preços internacionais e nos deu competitividade. A segunda é que o
estrangulamento global do food service e as incertezas econômicas abriram caminho para produtos extrativos mais baratos, como pargo, pescadas e corvina. Pelos mesmos motivos, porém, lagosta, atuns e afins, nossos carroschefe na pauta exportadora, sofreram amargamente com a redução da demanda.
Essa bola já tinha sido cantada em nossa última edição pelas centenas fontes que consultamos, mas os três meses que se seguiram revelaram novas facetas do que virou um chavão em todos os segmentos econômicos: “o novo normal”. Ninguém sabe muito bem como será esta nova normalidade, já que a flexibilização do isolamento social a que todos tivemos de nos submeter está muito associada ao estágio da pandemia. Novos surtos devem ocorrer, como mostram China, Austrália e Estados Unidos, provocando reações de compra ou retração esporádicas. A população oscila entre o negacionismo e o pânico - confusão acentuada pela falta de uma ação coordenada entre as esferas federal, estadual e municipal. A própria chegada da vacina tão esperada não significa que nos livraremos deste mal da noite para o dia. Se na vida pessoal seguimos lutando para aprender a conviver com este novo vírus, na rotina empresarial não será diferente. “O novo normal é mito, ele não pode reeditar o passado”, crava Ivan Lasaro, fundador e sócio da Opergel. “É adaptar e viver na turbulência”, completa. Pioneiro na importação de produtos como salmão e merluza, o empresário sugere que o “velho normal” não era bom e que o futuro ainda estava “sendo escrito” para
o pescado. De fato, a pandemia não provocou uma revolução na produção, processamento e comercialização no nosso segmento, mas parece ter acelerado transformações. O setor foi convocado a ficar de pé nesta guerra pela Portaria nº116, que cravou a produção de pescado como atividade essencial. Aquicultura e pesca estavam, assim, habilitadas a funcionar, assim como as indústrias, mas a maior parte do mercado se esfacelou, como vimos na edição passada. Na frente política, houve um esboço de coesão setorial para fortalecer a cobrança por um pacote de ajuda explícito do governo, que optou por uma abordagem transversal para não privilegiar nenhum segmento. O auxílio veio de forma periférica, com avanços no ordenamento, conquistas no Parlamento e a inserção da atividade nas medidas econômicas criadas pelo Ministério da Economia. Ao menos agora o ministro Paulo Guedes conhece melhor a cadeia, mas este é um resultado muito aquém do que o setor necessitava - e o que o governo já reconheceu que merecia. Outro saldo da maior proximidade com os atores políticos pela pandemia foi a revisão de atos normativos ligados ao segmento, como a Resolução Conama nº 413/2009, que
trata das normas e critérios para o licenciamento ambiental da aquicultura. Em junho, o secretário da Aquicultura e Pesca do Mapa, Jorge Seif Jr., defendeu uma ofensiva no âmbito estadual em prol do destravamento da atividade, já que é prerrogativa dos Estados legislar sobre o licenciamento ambiental. “Precisamos incluir definitivamente [a atividade] no mapa de prioridades dos governos estaduais.” Já em julho, Seif Jr. reforçou o pleito diante - virtualmente - dos próprios secretários estaduais. O presidente da Comissão Nacional de Aquicultura da CNA, Eduardo Ono, endossou a iniciativa e defendeu transformar o processo de licenciamento em um “mecanismo claro, objetivo e não discricionário”. Desta forma, segundo ele, evitaria múltiplas interpretações. Por outro lado, ele ponderou sobre a importância de se evitar medidas radicais, como a dispensa de licenças. “Existe uma grande preocupação, porque o mercado internacional está de olho nisso. O Brasil não pode unilateralmente dispensar as licenças, isso poderá gerar problemas de imagem nas exportações de países que exigem este tema.”
EXPORTAÇÕES US$ FOB
Var. %
KG
Var. %
US$ FOB
IMPORTAÇÕES Var. % KG
Var. %
2020
85.036.765
-7,91%
20.216.480
11,87%
474.124.523
-29,12%
143.366.020
-17,67%
2019
92.341.359
10,86%
18.072.170
28,60%
668.868.952
1,31%
174.145.679
-1,26%
2018
83.294.042
-5,92%
14.053.377
-27,15%
660.247.227
-7,10%
176.368.528
-16,15%
2017
88.536.679
-0,97%
19.292.029
4,28%
710.740.454
25,76%
210.334.148
9,06%
2016
89.405.923
29,97%
18.500.479
39,00%
565.139.789
-12,81%
192.854.927
13,67%
2015
68.788.207
12,28%
13.309.562
12,63%
648.144.204
-14,40%
169.666.040
-15,32%
2014
61.263.913
-12,09%
11.817.162
-21,07%
757.202.320
14,26%
200.354.164
-4,03%
2013
69.687.074
-5,37%
14.971.098
-19,42%
662.677.873
7,60%
208.773.841
14,82%
2012
73.642.644
14,86%
18.578.244
30,57%
615.891.509
1,76%
181.829.975
9,58%
2011
64.115.267
-4,01%
14.228.985
8,03%
605.254.916
35,59%
165.929.276
35,05%
Fonte: ComexStat | Elaboração: Seafood Brasil
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 •
Ano
23
BALANÇA COMERCIAL DO PESCADO | 1º SEMESTRE 2011-2020
Capa
IMPORTAÇÕES DE PESCADO | 1º SEMESTRE 2020-2016 | US$ FOB NCM
Produto
2020
Var. %
2019
Var. %
2018
Var. %
2017
Var. %
2016
3021400
Salmão-do-atlantico fresco ou refrigerado
174.858.606
-35,37%
3047400
Filés de merluzas e abroteas, congelados
37.561.232
-34,40%
3035300
Sardinhas e anchoveta congeladas
30.500.690
-23,21%
3046290
Outros filés de peixes congelados
27.828.742
-30,84%
3056200
Bacalhau-do-atlântico e bacalhau-dopacífico salgados
21.756.071
3055310
Bacalhau polar, saithe, ling, zarbo, secos, mesmo salgados
3036300 3055100
Var. %
2015
270.558.862
6,05%
255.121.518
-3,95%
265.600.753
36,99%
57.254.871
25,78%
45.521.378
-3,57%
47.205.345
31,72%
193.887.849
-0,41%
194.677.348
35.838.081
-20,82%
45.260.638
39.719.386
4,60%
37.971.670
-0,91%
38.320.596
40.235.322
-11,34%
45.379.403
-19,58%
56.425.550
20,39%
31.830.594
320,92%
7.562.208
69,48%
33.293.370
100,89%
16.573.343
-48,99%
42.652.791
4,94%
40.646.526
2,16%
39.785.594
13,07%
35.186.867
22,95%
28.618.232
20.879.353
317,70%
4.998.606
7,00%
4.671.429
-20,36%
5.865.753
Bacalhau-do-atlântico e bacalhau-dopacífico, congelado
19.321.121
-17,10%
23.306.496
-4,45%
24.391.415
19,20%
20.462.781
15,21%
17.760.639
-7,62%
19.226.242
Bacalhaus (gadus) secos, mesmo salgados, mas não defumados
13.799.434
177,65%
4.969.997
2,76%
4.836.465
-17,66%
5.873.877
-13,07%
6.757.286
-78,12%
30.877.020
3074310
Lulas, congeladas
13.592.090
-0,32%
13.636.086
-31,33%
19.858.140
12,68%
17.623.134
3053290
Outros filés de peixes, secos, salgados/ salmoura, não defumado
10.864.150
5346,97%
199.453
102,36%
98.562
6,32%
92.702
-74,66%
365.809
34,03%
272.935
0
0
0
0
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 • 24
EXPORTAÇÕES DE PESCADO | 1º SEMESTRE 2020-2016 | US$ FOB NCM
Produto
2020
Var. %
2019
Var. %
2018
Var. %
2017
Var. %
2016
Var. %
2015
3038990
Outros peixes congelados, exceto filés, outras carnes,etc.
15.261.846
62,61%
9.385.729
3,49%
9.068.894
-3,71%
9.418.435
-4,45%
9.857.514
170,97%
3.637.892
3057200
Cabeças, caudas e bexigas natatórias, de peixes
13.038.849
5,26%
12.387.195
53,92%
8.047.727
8,70%
7.403.906
-14,44%
8.653.271
-9,72%
9.584.491
3028990
Outros peixes frescos ou refrigerados
6.667.014
-30,55%
9.600.294
53,37%
6.259.366
156,48%
2.440.450
4,43%
2.336.830
13,62%
2.056.723
3038932
Pargo (Lutjanus purpureus), congelado
5.538.013
-5,60%
5.866.725
-5,22%
6.189.805
29,85%
4.767.058
-30,91%
6.899.371
90,57%
3.620.463
3061190
Outras lagostas congeladas, exceto as inteiras
4.942.129
-24,39%
6.536.766
42,71%
4.580.408
-43,66%
8.129.484
-19,42%
10.088.402
-12,52%
11.532.306
3038910
Corvina congelada
4.702.489
39,34%
3.374.830
221,51%
1.049.677
-63,69%
2.891.122
-17,74%
3.514.598
29,49%
2.714.178
3034300
Bonito-listrado, congelados, exceto filés, fígados, ovas e sêmen
3.681.590
15,10%
3.198.696
-17,98%
3.899.999
-60,23%
9.807.504
17,23%
8.366.117
-13,15%
9.633.055
3061110
Lagostas (Palinurus spp., Panulirus spp., Jasus spp.) inteiras, congeladas
2.746.427
-22,50%
3.543.934
100,29%
1.769.384
-71,28%
6.161.110
381,59%
1.279.324
356,05%
280.521
3024700
Espadarte (Xiphias gladius), frescos ou refrigerados
2.561.936
-40,02%
4.270.967
5,84%
4.035.463
62,90%
2.477.308
-6,90%
2.660.980
90,13%
1.399.543
3043100
Filés de tilápias (frescos, refrigerados ou conelados)
2.543.869
35,99%
1.870.695
-21,79%
2.391.857
-1,89%
2.438.000
-19,36%
3.023.197
2699,26%
108.000
Fonte: ComexStat | Elaboração: Seafood Brasil
Não houve tempo para lamentar. Na frente produtiva os empresários tomaram rapidamente ciência da extensão dos impactos, mas ainda têm dificuldades de calcular o que vem a seguir diante de um mundo ainda em convulsão. “Qual a perspectiva é uma pergunta chave”, sublinha Gabriel Calzavara, presidente do Sindicato das Indústrias de Pesca do Rio Grande do Norte. “Você olha pra frente e tem insegurança de como vai ser esse novo normal, como vão funcionar os restaurantes, como serão o espaço aéreo e os voos, ou seja, uma série de interrogações e a gente precisa estar preparado para enfrentar. Estamos muito vulneráveis para chegar ao final desta travessia sozinho, mas estamos lutando.” Já na aquicultura é mais fácil encontrar otimismo, muito associado
Ele reconhece o grande impacto dos restaurantes, mas ressalta o bom desempenho do varejo. Em consulta informal da Seafood Brasil, as principais redes varejistas do País venderam acima do que esperavam para o período, desovaram seus estoques e já temem falta de produto para o Natal. “No pescado, crescemos 7% no online, 73% na loja física e 20% em outros formatos”, diz um executivo que preferiu não se identificar. Embora o desempenho a que ele se refere seja de congelados, outras redes confirmam que a venda do fresco não decepcionou. “A procura por peixe de cultivo e em especial pela tilápia foi observado em todas as praças do Brasil”, aponta Medeiros. Diante disso, há uma clara recuperação do povoamento nos viveiros e tanques do Brasil e Medeiros já enxerga que nada impedirá o segmento de ter “a maior safra de tilápia de todos os anos e obter recordes de exportação”. O camarão também parece ter entrado na mesma rota, depois de sofrer um golpe acentuado. “O novo normal na carcinicultura marinha é basicamente o resultado do grande esforço que o produtor teve de empreender para superar a rígida política do distanciamento social, notadamente pelo fechamento de bares, restaurantes, hotéis e, principalmente, feiras livres e barzinhos”, aponta o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha. “As alternativas aos grandes (5% do
total), que produzem metade das 90 mil toneladas anuais estimadas pela entidade, foram processar, congelar e estocar o produto beneficiado para vendas institucionais futuras, bem como, as reduções das densidades de estocagem para os novos povoamentos, além de iniciativas, embora ainda tímidas, de retorno às exportações.” Já os micros, pequenos e médios produtores (95%) viram os preços despencarem para níveis insustentáveis (R$ 10 /kg para camarão de 10 g) e buscaram caminhos para sobreviver. Inicialmente massacrados por atravessadores, decidiram apostar nas vendas diretas, de porta em porta ou pelas redes sociais e até em grandes condomínios, redes de fast-food e restaurantes que operaram por aplicativos de entregas. “Tudo começou no boca-a-boca, na época da Semana Santa, ainda com produtos frescos e camarão inteiro conservado em gelo, mas logo o setor descobriu que precisaria agregar valor”, aponta Rocha. Com preço de “placa de ovo”, como se deu na Bahia, o camarão voltou ao consumo popular nos centros próximos às fazendas - um paradoxo trazido pela pandemia. Resta saber se a recuperação do preço atualmente em curso chegará a um equilíbrio que remunere os produtores e mantenha o acesso popular à proteína. A cadeia de intermediação também tem grande responsabilidade no ainda alto custo do pescado, mas o novo normal pós-pandêmico também pode oferecer a oportunidade de um maior alinhamento entre os elos. “O empresário deve também buscar fornecedores e parceiros que estejam alinhados e tenham sólida posição financeira”, avalia Felipe Katata, analista comercial da Mitsubishi. “O respaldo financeiro garante uma tranquilidade para o empresário investir e trabalhar sabendo que o fornecedor não o deixará desabastecido”, conclui.
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“Vemos o secretário e toda a secretaria imbuídos de retirar o obstáculo do licenciamento para crédito. Temos a ministra e o presidente da república a favor e não conseguimos aprovar isso”, lamentou Eduardo Lobo, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) e reconduzido recentemente para a Câmara Setorial da Produção e Indústria de Pescado no Mapa.
aos resultados de estabilidade ou ligeiro crescimento diante de um cenário catastrófico que se anunciava. “Esse novo normal teve mudanças desde a produção até o prato do consumidor, e todas elas boas para o setor”, opina Medeiros. Na produção ele vê como maior ganho o aumento da receptividade de todos os trabalhadores para a adoção de medidas de biossegurança (sanidade humana) e biosseguridade (sanidade animal).
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 •
A tentativa de reverter a péssima imagem internacional do Brasil no exterior neste momento pode ter contribuído para o governo não atender a outro pleito associado à pandemia: a retirada do licenciamento ambiental como pré-requisito para a obtenção de crédito junto aos bancos. Em reunião online com a SAP sobre o tema, as notícias não foram boas. “Não conseguimos sensibilizar o governo federal para essa ação. O importante é que não estamos pedindo auxílio, mas sim empréstimo reembolsável, para o qual iremos dar nossos bens em garantia e não haverá desembolso do governo ou dos bancos”, lamenta Francisco Medeiros, presidente da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR).
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Produção: alimentos e colaboradores seguros
Divulgação/Emerson Esteves
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 • 26
Medidas de biossegurança e biosseguridade serão cada vez mais usadas como barreiras não-tarifárias no comércio global
Apuração: Fabi Fonseca | Edição: Ricardo Torres
Aos nórdicos se seguiram os norteamericanos e outros europeus, mas se a reação conseguiu contornar a situação no pescado, o medo das consequências de um novo surto serviu de pretexto para a China começar uma série de bloqueios a frigoríficos que houvessem
registrado casos de Covid-19 entre seus colaboradores. Não está muito claro quais são estes critérios, mas enquanto fechávamos esta matéria ao menos 6 plantas processadoras de carne estavam embargadas - 5 pelos chineses e 1 pelo governo brasileiro, de maneira que quando esta edição já estava prestes a circular, foi a vez do Equador. A China diz ter encontrado sinais do novo coronavírus na parede interna de um contêiner de camarão entre milhares de amostras, causando pânico entre os exportadores que já preparavam a chegada de 80 mil toneladas do produto aos clientes asiáticos.
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fugiam do produto, os noruegueses lideraram uma forte reação em nível governamental e conseguiram tirar dos colegas asiáticos a confirmação de que não havia indícios de transmissão pelo produto - o que foi confirmado por cientistas e autoridades sanitárias de todo o mundo ocidental.
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 •
O
registro da ocorrência do novo coronavírus em uma tábua destinada ao porcionamento de salmão em um centro atacadista de Pequim catalisou uma reação sem precedentes na crise pandêmica mundial. De cara, as autoridades sanitárias chinesas recomendaram à população não consumir salmão, especialmente na forma de sashimis ou outras apresentações sem cocção, sugerindo que eventualmente o vírus poderia ter sido trazido por mercadoria importada da Noruega. Enquanto os já ressabiados consumidores chineses
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Mudanças institucionais da pesca A legislação relativa ao ordenamento pesqueiro passou por algumas atualizações importantes nos últimos 100 dias. Veja as principais: Instrução Normativa nº 07, de 03/04/2020: Estabelece cotas de captura para a Tainha; Portaria nº 85, de 13/04/2020: Lista embarcações de cerco e emalhe anilhado para captura de Tainha; Instrução Normativa nº 11, de 16/04/2020: Suspende defeso da Sapateira; Portaria nº 95, de 22/04/2020: Lista embarcações de emalhe anilhado para captura de Tainha; Instrução Normativa nº 12, de 27/04/2020: Altera Instrução Normativa que determina cotas de captura de Tainha; Instrução Normativa nº 14, de 30/04/2020: Altera autorizações complementares da pesca de Sardinha-verdadeira; Portaria nº 132, de 13/05/2020: Regras para o sorteio das embarcações de cerco para captura de Tainha; Instrução Normativa nº 16, de 15/05/2020: Suspende Instrução Normativa que permitia importação de embarcações estrangeiras; Portaria nº 150, de 29/05/2020: Consulta Pública para Instrução Normativa com critérios de embarcações para exportação; Portaria nº 151, de 29/05/2020: Glossário de termos para a pesca da Tainha; Portaria nº 146, de 01/06/2020: Consulta Pública para Instrução Normativa que permite uso do Lambari como isca-viva; Portaria nº 157, de 04/06/2020: Renovação de registro e entrega de mapa de bordo online devido à pandemia; Retificação, de 10/06/2020: Retifica Glossário de termos para a pesca da Tainha; Instrução Normativa nº 18, de 10/06/2020: Altera o período de defeso da Sardinhaverdadeira; e Portaria nº 164, de 18/06/2020: Institui Grupo de Trabalho de acompanhamento da pesca da Tainha.
A situação acende um alerta global perigoso que fará parte desta nova fase de convivência com a doença. “Isso é um reflexo da exigência do mercado sobre a segurança do alimento. Os que seguem o recomendado pela legislaçao terão um passo à frente no novo normal”, opina José Neto, fundador e sócio da Coprimar. Para ele, os frigoríficos precisam ter processos internos, alinhados com as recomendações do Mapa e da OMS, a fim de evitar uma propagação entre os colaboradores.
Atividade essencial em momentos de crise pandêmica, produção aquícola tem o desafio de manter volumes e saúde dos colaboradores
Divulgação/Emerson Esteves
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Compilação: Sindipi
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O problema é que o Ministério Público do Trabalho (MPT) e as entidades que representam os direitos dos trabalhadores não entendem que as exigências do Serviço de Inspeção Federal (SIF) ou as portarias interministeriais divulgadas pelo Mapa tenham sido suficientes para coibir a propagação da doença entre colaboradores. Há casos em que mais da metade das contaminações de Covid-19 registrados em pequenas cidades ocorreu entre trabalhadores de frigoríficos. Um grupo de investidores internacionais considerou no início de junho que os frigoríficos apresentam “alto risco pandêmico”, o que foi rechaçado pela indústria. A cobertura da imprensa sobre o tema só cresceu e amplificou as autuações do MPT, que investigava no início de julho 206 denúncias e 114 inquéritos abertos por casos do novo coronavírus entre funcionários de frigoríficos.
Sinpesca-PA
Retomada das exportações de camarão pode expor Brasil a barreiras não-tarifárias e outras vertentes da acirrada guerra comercial mundial do pescado
Capa
#NovoNormalProdução
Remoto com sanidade Aquicultura
Indústria
Biosseguridade e biossegurança: visitas cada vez mais controladas
Consumidor mais atento quanto à segurança dos alimentos e rastreabilidade
Bem-estar animal: demanda por abate humanitário pode crescer
Maior fiscalização sobre condições laborais “Marketing de imagem” ganha força em detrimento de campanhas comerciais
Sem intermediários: canais de venda direta se expandem com redes sociais
“Indústria-varejista”: redes sociais, e-commerces e marketplaces apoiam vendas
Teletrabalho, lives e videoconferências intensificam troca de informações, experiências e cobrança a entes públicos
Matéria-prima importada mais barata, mas no novo padrão de qualidade exigido pelo consumidor
Com restrições a deslocamento, feiras regionais e virtuais podem ganhar impulso
Menor restrição do consumidor a pescado congelado
Consultoria e certificação remotas Inovar para sobreviver, em processos e tecnologias Luta por competitividade: pleitos políticos crescem, como isenção de PIS/Cofins na ração
Retomada de tendência ready-to-eat, ou ready-to-cook
Pesca
Shelf-life extendido: mais Atmosfera Modificada, mais barreira a gases na embalagens
Desafio de coibir distanciamento social a bordo e convivência com surtos
Inspeção oficial e consultoria remotas
Revalorização das profissões ligadas à pesca
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Pressão por sustentabilidade força ordenamento pesqueiro e produção estatística consistente Redirecionamento de capturas para espécies pouco exploradas no mercado doméstico Maior tecnologia para monitoramento e comandos remotos Luta de artesanais para encaixar baixos volumes no mercado gera desafio regulatório
Os frigoríficos são um dos elos mais expostos a essa crescente exigência do consumidor, mas na origem da matéria-prima a preocupação também está na ordem do dia. O noticiário dos últimos 100 dias registrou o crescimento do contágio entre pescadores de todo o País, notadamente os artesanais e comunidades ribeirinhas já fragilizadas pelo vazamento do óleo na costa brasileira no ano passado. Os pescadores de lagosta do Ceará, forçados a trabalhar por conta do início da safra, manifestaram à imprensa local que se sentem desamparados.
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Especialistas consultados pela Seafood Brasil parecem entrar em consenso de que realmente o consumidor brasileiro também fará cada vez mais a associação entre a rastreabilidade e a segurança do alimento. “As empresas com SIF, sérias, vão sair melhores do que entraram, porque a população começará a dar muito mais valor a este trabalho que antes era invisível”, sublinha Thiago De Luca, diretor comercial da Frescatto Company. Para ele, o consumidor cada vez mais estará disposto a pagar um prêmio a quem pretende entregar produtos de qualidade.
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Sinpesca-PA
No caso do pescado ainda não há nenhum levantamento específico que mostre a suspensão de frigoríficos associados ao novo coronavírus. Mas no momento em que o setor aumenta aos poucos a participação internacional e busca reabrir o mercado europeu fechado justamente com alegações sanitárias, será cada vez mais cobrado das empresas não só melhorar a narrativa, como mostrar resultados concretos do enfrentamento à pandemia dentro e fora das unidades produtivas. “O consumidor está muito mais atento a respeito disso e ficará ainda mais exigente”, reforça Neto.
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Apoliano Nascimento, do Sinpesca-PA: 30% da tripulação no PA contraiu Covid-19
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opina Jorge Neves, presidente do Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi). Com ambiente e clima mais favorável, a temporada da tainha se desenvolveu bem até a chegada do ciclone extratropical que interrompeu as atividades no início de julho.
Mesmo a frota industrial ainda enfrenta problemas. “Apesar dos cuidados rigorosos adotados nas embarcações, tivemos aproximadamente 30% dos tripulantes contaminados pela Covid-19 no ambiente externo à pesca”, contabiliza Apoliano Nascimento, presidente do Sindicato das Indústrias de Pesca e das Empresas Armadoras e Produtoras, Proprietárias de Embarcações de Pesca Industrial do Estado do Pará (Sinpesca). No Sul, a indústria pesqueira não tem um levantamento específico, mas a sensação é de que o contágio foi menor. “Percebo que o setor pesqueiro, por já seguir restritas regras de sanidade, está se adaptando bem no que tange aos cuidados relacionados à Covid-19”,
A dificuldade de se promover distanciamento social em atividades produtivas seja na pesca, seja na aquicultura, é um dos principais desafios atuais, como relata o presidente da Associação de Aquicultura do Rio São Francisco (Peixe SF), Anttonio Almeida Júnior, “para manter nas pisciculturas apenas um número seguro de pessoas, sem perder o foco, manter a produtividade e a saúde das equipes e dos negócios”. A automação de processos desponta como ferramenta. “Os pequenos pensando já em se juntar e fazer a automação, por exemplo, da repicagem ou biometria, em vez de fazer a seleção manual dos animais.” A adaptação e introdução destas tecnologias deve ser acelerada, já que a produção não parou. “Uma grande
parcela da população conseguiu ficar em casa, mas nós, do agronegócio, não, tivemos de trabalhar para manter a comida na mesa de todo mundo”, defende o presidente da Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União (Peixe SP), Emerson Esteves. “Vai ficar uma lição: a vida vem em primeiro lugar, mas também o trabalho e a economia, porque as pessoas precisam comer.” Na região do baixo São Francisco, os produtores vislumbram uma uma recuperação dos patamares de 3 ou 4 anos atrás. “Já há produtores aumentando em 20% e 30% a sua capacidade de produção”, conta Almeida Jr. Reflexo da pandemia, decerto, mas também da crise de 2018, quando o preço ao produtor caiu chegou a R$ 4,75. “Hoje a média está em R$ 6,50”, diz. “O produtor que fazia dez toneladas por mês reduziu para cinco, mas agora reformando seus tanques-rede e certamente vai povoar todos.” Com isso, o presidente da entidade calcula que a produção deve saltar de 40 mil toneladas em 2019 para 60 mil toneladas em 2021. A carcinicultura também alimenta boas projeções. A retomada das exportações aos grandes e as estratégias de venda direta aos pequenos e médios possibilitou escoar a produção. A Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC) estima que a crise não só não deve alterar a perspectiva de produção de 90 mil toneladas para 2020 como elevá-la para 100 mil toneladas.
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Já a CamarãoBR, nova entidade dissidente da ABCC, indica que adotou medidas drásticas no início da crise, que aos poucos começa a flexibilizar. “Através de uma reunião virtual com toda a diretoria da CamarãoBR, tomamos medidas importantes, drásticas e de rápida implantação para minimizar prejuízos graves ao setor”, informa José Waldomiro Ribeiro Coutinho Filho, vice-presidente da associação que reúne as 15 maiores empresas do segmento. Entre as estratégias definidas, os grandes produtores reduziram em até 60% as densidades e até desativaram 50% da fazenda, antecipando férias, flexibilizando salários e contratos. Por outro lado, a crise acelerou uma meta já definida pré-pandemia. “A grande e exitosa ação foi retomarmos a exportação depois de 15 anos, inclusive a outros mercados nunca antes navegados, como foi o caso dos Emirados Árabes, Taiwan e Malásia”, sublinha Coutinho, referindo-se aos embarques feitos pela Camar e Carapitanga.
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Mercado em diversificação No mercado interno, a aquicultura claramente buscou regionalizar as vendas e cortar intermediários. Na tilápia, os produtores do Vale do São Francisco sentiram na pele essa necessidade com a interrupção de muitas feiras livres e mercados públicos. “Nós fazemos pequenas entregas diuturnamente para abastecer os mercados locais, feiras e pequenas cidades do entorno num raio de mais ou menos 400 km, então temos de pensar em termos de logística, de como fazer isso e manter-se com preços competitivos para que não tenha muito aumento de custo”, diz Almeida Jr. No camarão, a tendência de vendas diretas surgida em plena pandemia deve se intensificar entre os pequenos produtores. “Existe um
‘mar de oportunidades’ para as vendas diretas, via delivery, notadamente, utilizando de forma profissional e eficiente, a força e a capilaridade das redes sociais e grupos de WhatsApp”, avalia Itamar Rocha, da ABCC. A lição que fica para ele é a de que “não existem parcerias e compromissos por parte da atual cadeia de intermediação com a sustentabilidade da sua base produtiva”. Na pesca do atum do espinhel, o colapso do food service mundial, que preza pelo produto fresco, forçou uma mudança de estratégia. “Barcos que estavam indo para o atum agora vão para o meca (espadarte), que nos dá a vantagem de poder congelar o peixe”, explica Gabriel Calzavara, presidente do Sindicato da Indústria de Pesca do Estado do Rio Grande do Norte (Sindipesca). “Está havendo uma aproximação muito grande também com a realidade de consumo de mercado”. O armador explica que muitos compradores passaram a valorizar produtos com origem e rastreabilidade. “Agora se percebe que tem um valor imenso, tanto para indústria que recebe o peixe como para o pequeno mercado consumidor.”
Atuação a distância O momento é propício para uma reflexão sobre prioridades e as mudanças reais que irão acontecer com os meios de produção pelo trabalho remoto, automação dos processos e a busca por novos modelos de fortalecimento da interação e integração dos pequenos produtores em suas entidades representativas. “Não precisamos mais sair daqui para visitar um cliente em Minas Gerais ou Goiás, não precisa mais sair daqui para fazer uma reunião de trabalho em Brasília ou São Paulo. A troca de informação via online também foi um aprendizado muito grande para a comunidade agrícola”, opina Esteves, da PeixeSP.
Os pleitos do setor não deixaram de ser apresentados no período. Pelo contrário, ficaram evidentes a facilidade de estabelecer uma videoconferência e a receptividade dos entes públicos para saber das demandas do segmento. A aceitação e encaminhamento dos pleitos, porém, foi parcial, como frisa Itamar rocha, da ABCC. “A despeito das várias tratativas junto ao Governo Federal (SAP/MAPA, MDR / BNB e Ministério da Economia), sempre por LIVE, devido às restrições de locomoção e de reuniões presenciais, o setor pesqueiro, de uma maneira geral, ainda tem pouco a comemorar.” Entre as principais pautas estava a dispensa do licenciamento ambiental como fator determinante para a obtenção de empréstimos e financiamentos, além de um Fundo de Aval Garantidor, para garantias dos micros e pequenos aquicultores, carcinicultores, armadores e indústrias de pesca às linhas de créditos bancários disponibilizadas pelo governo federal e agentes financeiros oficiais. Até o fechamento desta edição, nenhum dos pleitos havia sido atendido. No setor regional, porém, houve conquistas no âmbito do crédito, segundo a ABCC. Com a ajuda do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho (MDR), o Banco do Nordeste estabeleceu novas modalidades de créditos, como custeio rotativo para a carcinicultura, uma linha de financiamento para inovação com 5 anos de carência e juros de 4,97% ao ano, além de um programa de financiamento para o processamento e estocagem de produto acabado. Nesta última, a liquidação do custeio se dará com a venda do produto estocado e segurado, sob a guarda do BNB.
Medeiros, da PeixeBR, e Neves, do Sindipi: aquicultura e pesca tiveram avanços institucionais no período, mas queriam mais
Em âmbito federal, parte do setor comemorou o aumento dos recursos do Plano Safra 2020-2021, que nesta edição contará com R$ 236,3 bilhões para apoiar a produção agropecuária nacional, um aumento de R$ 13,5 bilhões em relação ao plano anterior. A pesca e a piscicultura ganharam uma linha de crédito específica com juros entre 2,75% e 6% ao ano
dificuldade para acessar os recursos. Espera-se que, com os canais ativos abertos pela via online durante a pandemia, o governo passe a entender melhor as demandas, desfazendo uma imagem negativa supostamente atribuída aos diferentes elos do segmento. Certamente precisaremos deste suporte para construir a nova normalidade.
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Um empr a respe esa que ita o mei ambi ente o
Matéria-prima da melhor procedência, ótimas práticas de fabricação, instalações que respeitam a legislação e equipamentos de congelamento ultrarrápido são alguns dos fatores que garantem o padrão de qualidade Natubrás. São camarões, lulas, mexilhões, polvos e cortes nobres de peixes, em embalagens práticas e seguras ao consumidor.
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do Exija cedor e n r fo seu alidade a qu dutos pro dos ás ubr a N t
para estocagem e comercialização com novas espécies que não faziam parte do programa e aumento de recursos para linhas como como Moderagro, Moderinfra e Inovagro. Apesar de serem citadas no novo Manual de Crédito Rural, que subsidia o Plano Safra, os armadores da pesca industrial e empresas pesqueiras não se veem contempladas e relatam
O sabor que faz a diferença
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Vender: tecnologia e higiene Congelados e resfriados com tíquete médio mais baixo vão bem no varejo físico, mas online deixa de ser tendência e se converte em necessidade
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Texto: Guilherme Bourroul
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onsiderado atividade essencial, o varejo não fechou em nenhum momento durante toda a pandemia e, com isso, foi um dos setores que mais amenizou perdas. As peixarias dos supermercados, que já apresentavam tendência de ascensão, potencializaram ainda mais as vendas. Dados do Ranking Abras 2020 mostram que, no último ano, a seção
de peixaria foi responsável por 2,1% do faturamento nos supermercados, correspondendo a R$7,9 bilhões. Em 2018, as peixarias representavam 0,7%. “O cuidado com a saúde vem crescendo entre os consumidores”, avalia Márcio Milan, superintendente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). As peixarias da rede Carrefour, por exemplo, registraram um aumento
expressivo nas vendas. Entre as razões para justificar o crescimento de dois dígitos nos quatro meses – de março a junho –, Renata Caetano, gerente comercial da peixaria do Carrefour Brasil, destaca os atributos de saudabilidade relacionados aos peixes e frutos do mar e também a diminuição das reuniões e encontros sociais, como churrascos, nos quais a procura por outras fontes de proteína costuma ser maior.
Divulgação
Bárbara Granek, da FishTag: pandemia impulsionou muita gente para a compra online
Caetano destaca que um dos maiores desafios durante a pandemia foi lidar com a falta de previsibilidade decorrente do noticiário que mudava a cada semana. “Foi difícil saber a quantidade para abastecimento. Dependendo do que saía de notícia, o movimento nas lojas era maior ou menor, fazendo com que sobrasse ou faltasse produto.” Principalmente no início, a pandemia provocou forte mobilização em prol do abastecimento das gôndolas. Embora tenha havido desabatecimento pontual na Semana Santa, o varejo manteve as prateleiras e expositores refrigerados - cheias. “Isso só foi possível por causa das revisões
de processos, visando a produtividade das operações, e o fortalecimento das parcerias com os fornecedores, que não mediram esforços para manter a regularidade de suas produções”, acrescenta Milan, da Abras. A oferta regular e a vontade de comer se somaram a novas preocupações sanitárias: o resultado foi aumento em lojas físicas e virtuais. O Grupo BIG voltou ao comércio on-line e planejava integrar os canais físicos e digitais de 200 lojas até o fim do junho. O GPA nunca teve tantos acessos na plataforma de fidelidade e aprofundou a integração com a aquisição do serviço de delivery James e a conversão de espaços ociosos de lojas em pequenos CDs. No Carrefour, as vendas online cresceram 50% em quatro meses. A rede pretende, inclusive, ampliar a oferta, hoje limitada a itens congelados. “Temos o plano de estender para itens resfriados, mas ainda estamos estudando”, diz Renata.
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Com o bolso curto, a migração para proteína mais barata, de fato, aconteceu. “Itens mais nobres, como robalo, namorado e pintado, foram substituídos por outros de menor valor. O volume de tilápia e tambaqui cresceu muito, bem como de proteínas congeladas mais baratas, como merluza, panga e polaca.” Por outro lado, a venda de crustáceos frescos e congelados cresceu 50%
em quatro meses no Carrefour. Neste período, a rede contou com ativações frequentes das indústrias de camarão, possivelmente puxadas pelo excedente das vendas para os restaurantes.
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Enquanto a venda de itens frescos caiu, em média, de 70% para 50% no total comercializado, os produtos resfriados aumentaram sua participação de 10% para 15% e os congelados subiram de 20% para 35%. Na visão da executiva, essa mudança deve permanecer para o futuro. “O cliente não quer fila nem perder tempo. Essa busca pela praticidade deve se manter. É importante as indústrias entregarem algo mais pronto, inclusive com maior valor agregado”, destaca.
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Para Antônio Cesar Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), marketing e mídias sociais vão acabar com o pescado sem controle ou procedência
prazo, mas não há dúvidas de que a demanda é grande”, afirma Barbara Granek, fundadora e CEO da companhia. Segundo ela, o perfil do consumidor é variado. “A pandemia impulsionou muita gente para a compra online. Temos clientes desde o muito sofisticado tecnologicamente até aqueles que querem pagar na hora com a maquininha porque não ainda confiam em pagamento online.”
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A Casa Maré Pescados foi outra beneficiada pelo momento. Segundo o fundador, Edson de Castro, houve um aumento no faturamento na ordem de 100% em relação ao mesmo período do ano passado. “A grande mudança se deu ao aumento do ticket médio. Atendendo às orientações do isolamento social, necessário neste momento, percebemos a preocupação dos clientes em fazer um pequeno estoque e a necessidade em enviar produtos para as pessoas mais idosas da família (pais, avós, tios etc)”, pontua.
No início da pandemia, entre os dias 19 e 25 de março, as compras na modalidade e-commerce no varejo cresceram 96% comparando com a semana anterior, de acordo com a Nielsen. Neste cenário de transformação digital, alguns e-commerces especializados em pescado ganharam ainda mais projeção. Um deles é a Fishtag, que saiu do zero no B2C para uma operação que atende as cidades de São Paulo, Campinas, Valinhos, Jundiaí, Vinhedo, Ribeirão Preto e São Carlos, em menos de dois meses. “Ainda é cedo para avaliar crescimento no B2C e como vai ser isso no longo
De acordo com ele, o impacto negativo aconteceu na questão do atendimento às Pessoas Jurídicas, com redução significativa nos pedidos, casos de suspensão total dos volumes solicitados normalmente e muita postergação de boletos, ocasionando
problemas de fluxo de caixa. “Por outro lado, na questão de Pessoa Física, modelo de negócio da Casa Maré, recebemos uma quantidade bem acima do esperado do número de pedidos, impactando diretamente o setor logístico da empresa, que foi muito exigido para atender esta demanda inesperada”, diz Castro. Apesar de ter crescido com a pandemia, o e-commerce também precisou se adaptar. “Os principais impactos são a imprevisibilidade de produtos, custos e serviços. O acesso ao produto é incerto, às vezes os barcos saem, às vezes não. Produtores já perguntam se garantimos a compra de produção antes de tomar a decisão de saída, barcos voltando com tripulação com Covid e parando a pescaria. Na logística temos uma previsibilidade melhor, mas ainda assim bem diferente do nível préCovid”, diz Granek. Outro desafio foi atuar com pescado fresco em um cenário de incerteza logística. “Na segunda semana de Covid, o frete aéreo que já tinha aumentado de R$1,80/kg para R$ 2,50/kg, passou para R$ 61/kg. Isso inviabiliza qualquer operação. Os produtores tiveram de correr pra congelar o peixe. Normalizou logo depois, mas acredito que os preços não vão voltar ao que eram anteriormente”, conta.
Novo normal no varejo Maior interessada neste movimento, Granek crava que o “novo normal” é online. A maior evidência disso não vem dos consumidores, mas da mudança de comportamento dos produtores. Nunca tivemos tantos produtores buscando plataformas online de venda. Os perfis também variados desde de pequenos pescadores, aquicultores até empresas grandes bem estabelecidas”, destaca.
Edson de Castro, da Casa Maré: PJs renegociaram pagamentos e quebraram fluxo, mas PFs aumentaram o ticket médio
anos falharam em implementar um sistema de CRM. “Não tem controle adequado do atendimento ao cliente. Se não tiver um sistema de integração em um canal, vai ser complicado escalar com um nível de serviço adequado.”
Aplicativos de compras ganharam espaço neste novo e desafiador cenário. Os apps de entregas têm conquistado os consumidores, segundo indica a pesquisa da Kantar para a Abras: 77% relataram esta satisfação no quesito pagamento, 68% quanto a velocidade, 64% apontam a qualidade dos produtos e 63% a facilidade no uso.
A promoção das soluções online e dos atributos do pescado também é um caminho indispensável. “Os empresários precisam investir fortemente em marketing e nas mídias sociais para que possamos acabar de vez com a compra de peixes e frutos do mar sem nenhum controle de qualidade e procedência”, opina Castro.
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Este é outro legado que ficará da crise. Renata Caetano, do Carrefour, disse que a crise diminuiu a rejeição aos produtos congelados por conta de falta de informação, fraudes econômicas e troca de espécies. “A categoria de congelados vinha em regressão antes da pandemia. Hoje
cresce em duplo dígito. Esse é um ponto positivo. O cliente começa a entender que congelado é tão bom quanto fresco. Vai fidelizar e ele continuará consumindo, apesar de entendermos que não permanecerá na mesma velocidade.” Ela faz um alerta, porém: “Quando acabar o distanciamento social, o consumo de carne voltará a crescer. A peixaria continuará crescendo, mas em menor velocidade”, afirma.
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Mas o desafio não é só tecnológico, mas também no que os administrdores de e-commerce chamam de backoffice. “A operação é muito complexa: clientes vem de canais diferentes, produtores de localidades remotas, logística aérea, planta de processamento, entreposto para entrega em uma hora nos centros urbanos. O peixe é fresco. E somado a isso, a equipe é remota e é preciso garantir que todos ‘falem a mesma língua’.” Segundo Granek, de 30% a 60% das empresas nos últimos 13
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A chave da expansão passa pela integração das plataformas. “Os clientes se sentem confortáveis em pedir e pagar pelo próprio aplicativo. O desafio para quem está no e-commerce é integrar todas as plataformas de contato com o cliente (Facebook, Instagram, Email, Whatsapp, Website, etc) em um local único para manter o nível de serviço e ser rápido no atendimento.”
Capa
#NovoNormalVarejo
Menos impulso, mais consciência Consumidor Preocupação com limpeza e segurança nos estabelecimentos Bolso curto vai exigir decisões menos impulsivas Porcionados, congelados e pratos prontos ganham força Degustações no PDV terão de evitar aglomerações e ganharão embalagens individuais Mais exigente quanto à origem, segurança e praticidade
Varejo físico Jornada de compra rápida para evitar riscos Lojas mais próximas do consumidor: dentro de condomínios, empresas e locais de grande fluxo Ciclos de compras de estocagem com novos surtos da doença Atacarejos (cash & carry) com cara de hipermercado: experiência aprimorada Feiras e peixarias seguras
Varejo online SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 • 40
Construção de um backoffice eficiente para entregar melhor experiência on-line Integração de plataformas: WhatsApp, Instagram, Facebook, TikTok e lojas online Novos formatos: clubes de assinatura, especialização em itens e indústrias varejistas Marketing educativo para ativar e converter “chefs em casa” Venda direta: eliminação de intermediários pode baratear algumas categorias Arte: Emerson Freire | Fonte: Entrevistados pela Seafood Brasil
Milan, da Abras: entidade abriu diálogo com SAP para ajustar estoques do varejo com oferta de pescado
Até a metade do mês, o Hirota vai inaugurar duas lojas em áreas comuns de dois condomínios residenciais em São Paulo. Pelo contrato, o supermercado vai pagar a um dos condomínios 2% da venda mensal da loja, estimada em R$ 50 mil. A expectativa até o final deste ano é ter 20 lojas nesse formato, com investimento total de R$ 2,8 milhões. A meta da companhia é chegar a 100 lojas até o final de 2021. Entre as camadas mais desfavorecidas da população, quem continua a levar os alimentos para
mais perto são as feiras livres. O canal teve grande estrangulamento no período da pandemia, mas os projetos de feiras seguras estimulados pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) tiveram pilotos em todo o Brasil com resultados promissores. A ideia introduz em plena feira conceitos como o drive thru,embalagens apropriadas que evitam manuseio dos alimentos e higienização adequada das máquinas de cartão.
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Duas variáveis importantes, citadas por estes consumidores para este novo comportamento, foram a necessidade de evitar aglomerações, apontada por, 60,2%, e a preocupação em não ter que se deslocar para grandes distâncias, 59,6%. Neste contexto, cresce entre as classes mais altas a tendência de trazer o supermercado para mais perto. A rede Hirota foi a primeira entre os principais supermercadistas do País a apostar em um modelo que leva pequenas lojas adaptadas em contêineres para condomínios de classe média em São Paulo. Com exceção de um repositor que irá ao local três vezes por semana, o formato funciona de forma autônoma, sem funcionários.
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Para entender um pouco mais como se configura este “novo normal” e de que forma ele altera o hábito de compra dos consumidores, a consultoria Kantar realizou uma pesquisa segundo a qual, para evitar aglomerações e deslocamento a grandes distâncias, os consumidores estão optando em fazer suas compras no pequeno varejo. “Antes da pandemia, as compras de abastecimento se concentravam, principalmente, nos atacarejos. Comparando o primeiro trimestre de 2020 com o último de 2019, mais de 2 milhões de lares passaram a comprar em pequenos varejos, mais de 1,2 milhão em varejos tradicionais e mais de 200 mil em supermercados de vizinhança”, informa Milan.
Batizado de Hirota Express em Casa, o modelo de loja terá dois tamanhos: 15 e 30m². Em média, serão oferecidos 500 itens, entre alimentos, bebidas, artigos de higiene e limpeza, frutas, verdura, legumes e itens refrigerados, como carnes e pratos prontos. Por meio de um aplicativo, o cliente cadastra a biometria ou QRCode. Essas serão as chaves para abrir a porta da loja. Dentro, escolhe os produtos e paga no cartão, após passar as compras pelo self check-out. Todo o ambiente é filmado.
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As pessoas seguirão evitando aglomerações, por isso a produção doméstica de alimentos seguirá em alta, na avaliação de Antônio Cesar Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas). Temos situações curiosas, como a venda de padaria que caiu de 10% a 15%, mas as vendas de farinha de trigo dobraram. As pessoas estão cozinhando mais em casa, e o supermercado é o local preferido de compra dos ingredientes”, finaliza Longo.
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R$ 6,8 bilhões em peixe fresco O potencial de consumo de pescado fresco por toda a população brasileira em 2020 é de R$ 6,8 bilhões, segundo revela recorte específico da pesquisa IPC Maps feita com exclusividade para a Seafood Brasil pelo responsável pelo estudo, Marcos Pazzini. A tabela abaixo, adaptada pela nossa equipe, traz o ranking dos Estados que mais devem consumir pescado neste ano:
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IPC MAPS 2020 - Ranking Pescado Brasil
Alimentação no Domicílio (R$/ano)
Pescados frescos (R$/ano)
% Pescados Frescos sobre Alimentação
Posição
Localidade
BR
TOTAL BRASIL
391.275.533.205
6.838.296.170
1,70%
1
PARÁ
13.254.636.578
1.024.899.762
7,70%
2
MARANHÃO
8.603.561.868
802.111.581
9,30%
3
SÃO PAULO
96.688.019.935
772.292.573
0,80%
4
AMAZONAS
7.446.472.754
686.097.342
9,20%
5
RIO DE JANEIRO
37.264.067.068
471.157.787
1,30%
6
BAHIA
22.657.405.677
396.795.541
1,80%
7
CEARÁ
14.480.570.091
388.475.281
2,70%
8
PERNAMBUCO
15.278.588.918
325.781.141
2,10%
9
MINAS GERAIS
38.797.056.559
234.680.006
0,60%
10
PIAUÍ
4.985.846.024
174.325.447
3,50%
11
PARAÍBA
6.622.897.727
162.504.573
2,50%
12
ALAGOAS
4.696.338.057
154.524.696
3,30%
13
AMAPÁ
1.757.296.707
144.553.028
8,20%
14
RIO GRANDE DO SUL
23.817.636.450
140.331.544
0,60%
15
SANTA CATARINA
17.305.842.641
119.289.930
0,70%
16
GOIÁS
13.059.342.318
118.177.336
0,90%
17
RIO GRANDE DO NORTE
6.853.796.010
117.422.404
1,70%
18
PARANÁ
22.717.219.827
112.693.712
0,50%
19
SERGIPE
3.259.762.957
88.171.895
2,70%
20
ACRE
1.270.945.911
71.251.666
5,60%
21
DISTRITO FEDERAL
6.286.156.119
69.942.237
1,10%
22
MATO GROSSO
6.086.147.705
62.018.084
1,00%
23
ESPÍRITO SANTO
6.556.070.907
59.168.692
0,90%
24
RONDÔNIA
2.443.414.762
52.170.676
2,10%
25
RORAIMA
1.403.161.993
34.450.383
2,50%
26
MATO GROSSO DO SUL
5.773.342.532
33.956.038
0,60%
27
TOCANTINS
1.909.935.110
21.052.814
1,10%
Fonte: IPC Maps, adaptado por Seafood Brasil
O estudo é publicado anualmente pela IPC Marketing Editora, empresa que utiliza metodologias exclusivas para cálculos de potencial de consumo nacional a partir dos dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE. Segundo a versão mais recente do IPC Maps, os consumidores do Pará terão o maior gasto com pescado fresco do País - R$ 1 bilhão -, cifra que corresponde a 7,7% dos gastos totais com alimentação no Estado. Já o Maranhão, em segundo lugar nos gastos totais, terá a maior participação do pescado nos gastos com alimentação - 9,3%, seguido por Amazonas (9,2%) e Amapá (8,2%). São Paulo é o terceiro Estado com maior potencial de consumo de peixe fresco do País, segundo a pesquisa, com projeção de R$ 772 milhões - um gasto muito pequeno com pescado diante do total de dispêndio da população com alimentação (R$ 96 bilhões), o maior do país.
10 Estados com maior potencial para o pescado fresco em 2020
4,4% 6,2%
Piauí
3,3%
Minas Gerais
19,4%
Pernambuco
7,4
%
Ceará Bahia
7,6%
15,2%
Rio de Janeiro Amazonas
8,9%
São Paulo
13%
14,6%
Maranhão Pará
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 •
43
Fonte: IPC Maps, adaptado por Seafood Brasil
Wagner Ramos/Divulgação/Quina do Futuro
Capa
Comer: conviver com o vírus SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 • 44
Experiência de encantamento estimulada pelos restaurantes terá de superar preocupação sanitária e alcançar efetividade online Texto: Guilherme Bourroul
P
oucas atividades econômicas foram tão impactadas pela pandemia quando os bares e restaurantes. Especialistas apostam que os estabelecimentos nunca mais serão os mesmos ao terem de adotar protocolos rigorosos de higiene e uso mais intenso da
tecnologia que criam um enorme desafio a quem tem as funções de alimentar e encantar. Ao mesmo tempo em que viram suas receitas caindo drasticamente mês após mês, os administradores se depararam com a manutenção
da maior parte dos custos. Mesmo com o funcionamento reduzido, os estabelecimentos tiveram de seguir honrando aluguéis, contas de água, luz e tributos, além da folha de pagamento. Muitos não conseguiram e optaram por demitir grande parte da equipe.
Breque dos aplicativos
Diante das limitações, os restaurantes procuraram inovar na forma de se comunicar com o público. O marketing foi uma das áreas que mais precisou ter suas estratégias adaptadas ou, até, redefinidas. “Migrou quase que em sua totalidade para os canais digitais. As redes sociais se tornaram
ainda mais essenciais para manter o relacionamento com os clientes, servindo não só como forma de divulgação de pratos e promoções, mas como espaço para interação, com lives, apresentação de receitas, entre outras coisas”, completa Lyra. A maior parte da comercialização também passou a ser via delivery. Estabelecimentos que não trabalhavam com esse sistema tiveram de incorporálo de alguma maneira para tentar se manter – ainda que a entrega significasse uma pequena parte da receita précrise do estabelecimento. Muitos estabelecimentos criaram e-commerces próprios em uma tentativa de fomentar as vendas sem ter que pagar as taxas – por vezes abusivas – dos apps de delivery.
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Outra pesquisa, realizada pela consultoria, a Galunion, em parceria com o Instituto Qualibest, calculou o impacto nos operadores, ou seja, nos donos de restaurantes, bares e outros estabelecimentos. O levantamento mostra que a primeira batalha do setor é realmente manter os empregos. Somente 28% dos respondentes conseguiram manter suas equipes.
O fluxo de caixa é outro problema recorrente. Durante o mês de junho, 72% dos empresários disseram ter precisado de ajuda externa para o cumprimento da folha de pagamento, seja por meio de empréstimos, antecipação de recebíveis, MP 936, entre outros. “O impacto foi devastador. Com portas fechadas, podendo funcionar apenas com delivery, drive thru e take-away na maior parte do País, os estabelecimentos precisaram repensar processos e se adaptar a esse novo momento”, acrescenta Lyra.
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 •
“O principal impacto foi ter o encerramento das atividades sem planejamento e sem previsão de volta. Conversando com os operadores, vimos que a grande a maioria operava com caixa para um mês, a maioria não trabalha com reservas”, aponta Flávia Carro, sócia da ECD Food Service. A consultoria apurou uma queda de 28,16% entre o grupo de Distribuidores do Food Service (Diefs) em relação a maio de 2019, mas a comparação com abril mostra uma sutil recuperação com a retomada gradual das atividades do segmento por todo o Brasil - crescimento de 14,75 % sobre abril deste ano.
Divulgação/ANR
“Estimamos, baseados em pesquisas quinzenais que estamos fazendo com restaurantes e bares do País todo, mais de um milhão de demissões até o momento e cerca de 20% dos estabelecimentos fechados em definitivo. Uma perda para o setor e para a economia, de maneira geral, mas principalmente uma perda e oportunidades de primeiro emprego para muitos jovens”, relata Alberto Lyra, diretor-executivo da Associação Nacional de Restaurantes (ANR).
Os entregadores de aplicativos de delivery realizaram em 01/07 uma greve nacional por melhores condições de trabalho e mudanças na forma de pagamento das principais empresas do setor, como iFood, Rappi, James, Loggi e Uber Eats. Em apoio aos protestos promovidos por entregadores, muitos bares, cafés e restaurantes desativaram sua presença nos apps e promoveram ações para diminuir possíveis perdas com a queda das entregas. Além de descontos para clientes que optavam por retirar o pedido no local, alguns estabelecimentos também fizeram entregas no entorno, com carros próprios. Altamente acionados durante a pandemia, os entregadores reivindicam melhores condições de trabalho e comissões mais justas, com o que têm apoio dos restaurantes. “[Sugiro] cautela principalmente para os que buscam acelerar as operações de delivery apoiando-se unicamente nas plataformas dos aplicativos existentes, pois além das taxas altíssimas por elas cobradas, perde-se definitivamente o contato restaurante-cliente consumidor, já que os dados pessoais e de preferências ficam apenas com as plataformas e não chegam mais aos restaurantes”, diz Lyra.
Capa
O futuro dos restaurantes de pescado A pedido da Seafood Brasil, a Galunion preparou um extrato de respondentes – 43% independentes e 57% redes – cujo negócio é relacionado a peixes e frutos do mar, incluindo os estabelecimentos de culinária japonesa. Segundo Simone Galante, fundadora e CEO da Galunion, 87% acreditam que manterão o negócio, mas 40% não conseguiram pagar a folha de maio. “Como as principais coisas que querem mudar no negócio, 60% dizem que investirão na transformação digital e gestão de dados e 47% diz que vai investir em cloud kitchens - [cozinhas compartilhadas criadas exclusivamente para entregas]”, conta. Além disso, 60% diz que vai renegociar preços e trocar fornecedores, 53% diz que vai lançar produtos, 36% diz que estão gerenciando faltas parciais e 8% faltam itens críticos. 45% conseguiu aumento de prazo de pagamento com fornecedores. Sobre o retorno, 60% acreditam que só voltarão ao patamar de faturamento pré-crise em um ano e 19% em dois anos. De acordo com a pesquisa, os cinco principais desafios apontados por restaurantes de peixes e frutos do mar são: o comportamento do consumidor no novo normal, questões financeiras e capital de giro para o dia-a-dia, rentabilidade do modelo de negócios, concorrência dos novos negócios 100% delivery e transformação digital e gestão a partir de dados. “Tem uma pequena diferença entre redes e independentes, já que as redes são mais robustas financeiramente e estão preocupadas com a transformação digital. Os independentes, com mais dificuldade financeira, mais preocupados com a adaptação aos protocolos operacionais”, explica Simone. Ela reforça quais são os principais anseios do consumidor, que devem balizar as tomadas de decisão dos restaurantes, adaptando à realidade de cada um: “Preço justo, garantia de higiene e segurança, comida gostosa e socialização.”
5 principais desafios
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 • 46
apontados por restaurantes de peixes e frutos do mar:
Fonte: Galunion
92%
Se preocupam com o comportamento do consumidor no novo normal
83%
Questões financeiras e capital de giro para o dia a dia
64%
Rentabilidade do modelo de negócios
60%
Preocupados com a concorrência dos novos negócios 100% delivery
45%
Com a transformação digital e gestão a partir de dados
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#NovoNormalFoodService
Comer seguro
MENU Ambiente estéril: luvas, máscaras, protetores salivares, álcool gel, toalhas de papel, controle de entrada e saída Distanciamento entre pessoas e mesas Self-service menos self: equipe serve clientes Chefs em casa: alta gastronomia faz delivery de préprontos para finalização Consumo dos vouchers da pandemia Menos desperdício: nova lei permite doações de SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 • 48
alimentos prontos por restaurantes
Wagner Ramos/Divulgação/Quina do Futuro
Caso Leblon: consumidores resistentes ao "novo normal" podem gerar conflitos APPs pressionados por entregadores e donos de restaurantes
Flávia Carro, da ECD Consultoria: maior parte dos restaurantes opera sem reservas financeiras
Quando tiver condições e recursos para reabrir, o setor deverá adotar rígidos protocolos de segurança para garantir um ambiente seguro para clientes e colaboradores. Normas como uso de máscaras, higienização constante do ambiente e garantia de espaçamento mínimo entre as mesas deverão ser seguidas como parte deste “novo normal”. Para ajudar nesse momento novo, uma equipe multidisciplinar, coordenada pela ANR, preparou um Protocolo de Boas Práticas para Operações (disponível para download aqui), que mostra como aderir a todos esses processos de maneira correta. Além disso, a entidade também está preparando uma série de cartilhas com dicas para a retomada das atividades. A retomada segue ritmos distintos no País e no exterior, mas já é possível observar nos grandes centros muito receio dos clientes em frequentar bares e restaurantes. Cozinha japonesa tem um fator agravante, que é o alimento cru, sem cocção. “Tudo, na realidade, se resume à manipulação dos alimentos. Se é feita corretamente, com o uso adequado de EPIs e uma cozinha preparada, aberta para o cliente, faz grande diferença para mostrar ao
Na opinião de Rodrigo Fróes, sócio do 3F Group (Morota Pescados, Morota Frutos do Mar e Jam), os empresários tiveram de se preparar se adequando às leis e decretos definidos de forma compulsória. “Temos de nos adequar a tudo o que está previsto e, para isso, teremos de captar recursos próprios ou de qualquer outra fonte que insistimos que o governo tente destravar, para que volte a investir em tecnologia, separações físicas, barreiras químicas e tudo o que estiver ao alcance para garantir ao cliente uma segurança no estabelecimento, ainda que, infelizmente, não seja o mesmo protocolo exigido para outros setores. Talvez estejamos pagando uma conta injusta.” Fróes lembra que os restaurantes têm o propósito de entreter ou de alimentar. “Em ambas as situações, as pessoas estão ali se relacionando com outras, é um ambiente amistoso. O que está se propondo é um ambiente tão hospitalar que talvez possa comprometer a magia que
os restaurantes sempre foram responsáveis por entregar. Esperamos que haja uma solução rápida para que possamos voltar a entregar todo aquele propósito ao qual sempre servimos.” Muito além de cumprir as regras, o “novo normal” exigirá criatividade para competir com a alimentação dentro do lar. “Vai levar um tempo para que os consumidores voltem a frequentar os estabelecimentos e, mesmo assim, uma boa parcela que se acostumou com o delivery durante a quarentena vai seguir preferindo essa modalidade”, sinaliza Lyra. Para ele, os bares e restaurantes também vão precisar acelerar a adoção de tecnologias para ofertar novas formas de pagamento e de autoatendimento, que diminuam o contato físico direto. Para fazer frente ao novo momento, cautela e muito planejamento são palavras de ordem, segundo Lyra. “Todos nós, gestores e colaboradores, juntamente com os clientes, temos a responsabilidade de seguir as boas orientações e cuidados dados pela ciência, de modo a que a reabertura não corra tantos riscos de retroceder, tal como observamos em alguns municípios e regiões do exterior e daqui também, resultado de não engajamento de todos no processo.”
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O “novo normal” nos restaurantes
cliente que pode confiar na sua casa”, acrescenta Saburó. A primeira impressão que ele precisa ter ao chegar no restaurante é ter a equipe amplamente preparada e atualizada com as últimas informações, a casa sinalizada. “Quando ele sentar à mesa, for ao banheiro etc, ele precisa sentir que o ambiente está preparado, seguro e higiênico. E que ele pode voltar a frequentar. Depois é deixar que o tempo faça que as pessoas tenham menos medo de sair de casa e conviver com o novo, que é aprender a conviver com o vírus.”
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 •
“Acredito que quando você dá um passo para o digital, é um passo sem volta”, projeta André Saburó, dono de quatro restaurantes no Recife (PE), entre os quais o premiado Quina do Futuro. “Antigamente tínhamos comanda preenchida a mão pelos garçons com carbono e depois passou-se a fazer os pedidos eletronicamente, as impressoras nos restaurantes, comunicação interna via rádio, celular e palm para tirar pedido. O novo normal é com os restaurantes inseridos dentro da plataforma digital, seja ela por qualquer meio de comunicação (WhatsApp, telefone, pagamento via link que envia para o cliente)”, afirma. Dos quatro estabelecimentos comandados por Saburó, somente um deles fazia delivery antes da pandemia. “Agora todas fazem. Não há como deixar de lado.”
Capa
Felipe Katata, da Mitsubishi, acha que a elevação de custos em toda a cadeia forçará estagnação nos preços e achatamento de margens
Fluxo impactado mundialmente Como pandemia mundial, o Covid-19 trouxe impactos globais na cadeia de fornecimento de pescado. Felipe Katata, analista comercial da Mitsubishi, conta que o principal impacto num primeiro momento foi a queda brusca de demanda na Ásia, por ter sido o epicentro inicial. “Vislumbrando o lockdown completo na Ásia, muitos países, como por exemplo os Estados Unidos, anteciparam os pedidos para evitar desabastecimento. Num segundo momento, a queda foi completa em boa parte do mundo”, afirma. O food service foi o grande perdedor diante de toda essa pandemia, dentro do setor
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Donos de restaurantes ainda têm muitas incertezas sobre ânimo dos clientes para a reabertura pré-vacina
Wagner Ramos/Divulgação/Quina do Futuro
de alimentos. “O impacto foi global e atingiu a cadeia de forma direta. Muitos cancelamentos de carga, níveis de estoque aumentando na origem e preços caindo em todas as partes.” Na Europa não foi diferente. De acordo com Vanessa Salomão, trader internacional da Interatlantic – multinacional espanhola de pescado congelado –, o food service também foi o setor mais afetado no velho continente, principalmente pela dependência do turismo. Com a diminuição da demanda, houve uma migração de produtos de maior valor agregado para o consumo local.
Para Saburó, do Quina do Futuro, restaurantes dentro das plataformas digitais é caminho sem volta
“Continuamos vendendo para o food service, mas as vendas caíram muito antes da reabertura.” Katata acredita que o maior impacto do “novo normal” será também no custo dos restaurantes. Os fornecedores verão uma estagnação nos preços e achatamento nas margens por conta da elevação dos custos em todos os pontos da cadeia. “Por exemplo, com a diminuição dos voos em todo o mundo, houve um impacto nos custos de logística para os produtos que usam esse modal como o salmão fresco chileno para os Estados Unidos e China.”
A União Europeia reabriu as fronteiras para alguns países na segunda quinzena de maio. Segundo Vanessa, que trabalha em Vigo (Espanha), o que se viu em junho em alguns locais da Europa foi “praticamente de volta à normalidade, com o food service funcionando a
pleno vapor, com exceção aos que não sobreviveram à parada.” As restrições de capacidade máxima praticamente não existem mais, já está muito similar ao permitido antes da epidemia, apenas com mais rigor com a higiene. “Estamos praticamente voltando ao volume anterior. Acredito que isso vá acontecer também no Brasil quando a curva começar a baixar e as atividades forem retomadas. É questão de tempo.”
Com a experiência de quem está vivenciando a realidade no antigo continente, Vanessa dá uma sugestão aos estabelecimentos do Brasil. “Nossos clientes que se prepararam e fizeram compras antes da abertura – mesmo que em menor volume – saíram na frente do que aqueles que esperaram tudo normalizar para comprar”, recomenda a especialista.
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Wagner Ramos/Divulgação/Quina do Futuro
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Segundo ele, um ponto importante que os fornecedores precisam aprender com os asiáticos é desenvolver mais o consumo de pescado no varejo, para diminuir a dependência do food service (principalmente salmão). “Isso não será do dia para noite, mas acredito que essa pandemia possa ser um catalisador para esse movimento. Os asiáticos fizeram a lição de casa em termos de leis, logística, consumo, canais de venda e desenvolvimento de produtos que quando chegou uma pandemia como essa, naturalmente eles sofreram menos.” Além disso, as pessoas passaram a consumir mais produtos com valor agregado para o preparo em casa, como por exemplo o filé de panga ready to eat e ready to cook.
Prontos para servir
Na
Gôndola
A Robinson Crusoe, empresa do grupo espanhol Jealsa Rianxeira, lança a linha de patês de atum. Com duas unidades de 80 gramas em uma mesma embalagem cartão (“dual pack”), os produtos também adotam o sistema “easy peel” e são vendidos nos sabores tradicional, apimentado e com azeitonas.
A oferta de peixes, crustáceos e moluscos
Bacalhau em mais opções
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Em parceria com a Nutriplus, empresa tradicional na produção de bacalhau em Portugal, a Noronha apresenta dois novos produtos que se juntam ao lombo de bacalhau 650g lançado no ano passado. O bacalhau desfiado vem em caixa de 500g e os bolinhos com 12 unidades em bandejas com 360 gramas cada. Conforme a empresa, cada produto pode atender até duas pessoas.
Camarão nos EUA A chilena Camanchaca engrossa a disputa pelo rentável mercado do camarão nos Estados Unidos com este lançamento de camarão selvagem argentino na marca Pier 33 Gourmet by Grand Krust. A empresa, que lançaria o produto em Boston neste ano, considera-se a única capaz de oferecer uma opção deste camarão livre de sulfatos e aditivos tanto para o varejo quanto ao food service em embalagens institucionais.
Direto da Turquia A New England Seafood International lançou recentemente a Fish Said Fred, uma nova linha de filés de peixes de aquicultura da Turquia, certificado pela ASC, que chegam ao Reino Unido nesta embalagem de atmosfera modificada. São quatro sabores: filés de robalo sem tempero, robalo com capim-limão e manteiga chilli, robalo em corte borboleta com limão e filés de dourada (sea bream) com salsinha.
A islandesa Niceland Seafood inaugurou uma nova forma de vender hadoque e bacalhau congelado nestes pouches resseláveis. O objetivo é facilitar a vida de consumidores interessados em cozinhar e reaproveitar posteriormente estes produtos, normalmente mais caros que outras espécies tradicionais.
DaFonte no varejo Há 15 anos na produção e comercialização de tilápia, a DaFonte inaugura a presença no varejo com as novas embalagens de filé e posta de tilápia em 400g, 500g, 800g e 1kg. Os produtos contam com a abertura ziplock, para melhorar o aproveitamento.
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A rede de supermercados europeia Lidl introduziu recentemente uma embalagem para bacalhau fresco feita de plástico coletado nos mares do sudeste asiático. O envase foi desenvolvido em parceria com o fornecedor de pescado Copernus, a fabricante de embalagens Sharpak e a fornecedora de plástico coletado dos oceanos Bantam Materials.
Pouch de bacalhau
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 •
Embalagem feita de lixo oceânico
Direto da Produção
Nativos vão engrenar? SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 • 54
Hábitos alimentares regionais, organização setorial, altos tributos, falta de incentivos fiscais, baixa profissionalização da mão de obra e remuneração são lombadas na trajetória dos nativos Texto: Fabi Fonseca
N
o ano passado, um dos eventos de maior visibilidade à aquicultura nacional colocou um grande churrasco de 4 mil bandas de tambaqui em plena Esplanada dos Ministérios. O Festival do Tambaqui movimentou a cadeia dos nativos e deu
um novo norte de consumo nas grandes capitais além da Região Norte - onde a espécie já é prata da casa. O movimento deu visibilidade nacional a uma cadeia até então estagnada: segundo a Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR), a produção nacional de peixes nativos, liderada pelo
tambaqui, recuou 4,7% em 2018. No ano passado, um aumento pontual de 20 toneladas (para 287.930 toneladas) não foi suficiente para aumentar a participação das espécies nacionais no total produzido. De 39,84%, pintado, pirarucu e tambaqui passaram a representar 38% do total.
Na região Norte, Farina enxerga algumas indústrias de processamento com dificuldades, mas não atribui isso à falta de produto ou mercado. Ele considera o processo que estruturou
a Peixes da Amazônia, atualmente em recuperação judicial, “mal elaborado”. Durante o fechamento desta edição, o site ac24horas teve acesso e divulgou o Plano de Recuperação Judicial elaborado pelos diretores e advogados do complexo, ainda não homologado pelo Judiciário. Na proposta, consta que as dívidas totalizam R$ 48,6 milhões entre credores e dívidas trabalhistas. “O atual cenário de crise da empresa está intrinsecamente ligado a ausência de capital de giro”, diz o relatório. O Acre não se desenvolveu como um polo produtivo de nativos como Rondônia, forçando a compra de matéria-prima em outros locais para abastecer a indústria.
Rondônia concentra a produção nacional e vê maior receptividade nacional ao tambaqui
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Em Rondônia a “lição de casa está sendo bem feita”, sublinha Francisco Hidalgo Farina (Paco), presidente da
Associação de Criadores de Peixes do Estado de Rondônia (Acripar). Para ele, a realidade do tambaqui da Amazônia produzido no Estado choca com os nativos de outras regiões do País, porque os peixes locais não só entusiasmam, como estão em crescimento acelerado. “Depois dessas ações [como o Festival Tambaqui da Amazônia] e todas as outras feitas, nós estamos evoluído bastante e com certeza absoluta, alcançando números razoáveis em relação aos nativos”.
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 •
A impossibilidade de fazer uma nova edição do churrasco neste ano em virtude do novo coronavírus é só mais um componente prejudicial ao esforço de produtores para fazer o público brasileiro se entusiasmar com estas espécies. A lista de desafios é longa: hábitos alimentares regionais e a estigmatização dos nativos aparecem como os principais gargalos do setor, junto com a falta de organização, altos tributos, falta de incentivos fiscais, baixa profissionalização da mão de obra, baixa remuneração, entre outras questões.
Direto da Produção
Já no Mato Grosso, avalia Farina, há uma deficiência por indústrias “mal dimensionadas”. Deve-se levar em consideração também a questão do híbrido [tambaqui com pirapitinga, a tambatinga] não ser tão popular no mercado, diz ele. “Penso que houve um desequilíbrio, uma forma de se fazer investimentos totalmente equivocada diante da realidade do mercado.”
Preços ao produtor Maior fornecedor de tambaquis inteiros, Rondônia já não enfrenta tantos problemas para encaixar o produto no mercado com boa remuneração. Em junho houve inclusive dificuldades para atender à alta demanda e o preço do tambaqui aumentou cerca de 10%. Mesmo com a margem em queda por causa da alta dos preços dos insumos ocasionados
pela entressafra do milho e também pelo dólar, que chegou a ser cotado em R$ 6. “A nossa margem enxugou, mas não estamos com problema de preço”. Altamente dependente do mercado in natura, porém, Rondônia depende de mais indústrias locais para processar e capilarizar o produto por todo o País. Rondônia é a maior produtora de peixes nativos do Brasil e segundo Paco, com uma produção estimada muito acima daquilo do que os números estatísticos têm dito. “Os tanques para produção e engorda do tambaqui crescem em grande escala todos os dias, entretanto a capacidade de processamento local não passa de 3%”. O déficit em relação ao processamento ficou mais evidente com a pandemia, quando o consumo
Divulgação/FrioCenter Pescados
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FrioCenter Pescados trabalha com processamento e distribuição de nativos, além dos importados e de extrativos
in natura foi reduzido, principalmente por causa da maioria das feiras livres e restaurante fechados. Entretanto, se o consumo in natura caiu 85%, o processado apresentou uma queda de apenas 15%. “Se estivéssemos nesse nicho, não estaríamos tão ausentes das mesas pelo Brasil afora”, lamentou. A estigmatização de que os peixes não têm qualidade pelo off-flavor (sabor de barro) também é um entrave indiscutível. “Nos nativos prejudica muito e isso nós estamos tentando corrigir, como por exemplo, com o controle de qualidade”. A Acripar presta assistência com corpo técnico para que os cuidados com o pescado extrapolem o cheiro ou gosto, mas para que também o peixe possa ter mais musculatura e menos gordura através de rações balanceadas.
Tecnologia no manejo é um processos que deve passar por evolução
As propriedades que se enquadram nestes parâmetros levam uma espécie de selo de qualidade da Acripar. Outro projeto aprovado recentemente vai garantir a indicação geográfica de qualidade e da quantidade do tambaqui produzido em Rondônia. “A gente tem muitas ações nesse sentido e partilhamos isso com toda a cadeia produtiva para que haja esse engajamento. Não queremos trabalhar sozinhos, nós queremos que todo nosso pescado seja de qualidade para potencializar a economia do País”.
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 •
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A Zaltana Pescados atua com processamento de nativos frescos e congelados em Ariquemes (RO) e é um modelo de indústria já estabelecido no
Estado. O sócio, Bruno Leite, reforça que a indústria é uma das pioneiras na absorção desta matéria-prima local. Paraele, que também é produtor, os nativos são alternativas aos peixes de aquicultura que seguem com grande penetração, especialmente a tilápia. A espécie pode ser um exemplo de como superar os desafios de consumo nacional ao ser reconhecida e estar presente em todos os canais de vendas. “Acho que o tambaqui, que é o carro-chefe dos peixes nativos, vai levar um certo tempo para que a gente consiga chegar à mesa da maior quantidade possível de brasileiros para que possam saborear o nosso peixe e possamos conquistar mais mercados”, destacou.
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A TILÁPIA PERFEITA
Direto da Produção
Movimento pede isonomia de PIS/COFINS da ração de peixes Em plena pandemia, a PeixeBR reforçou o pleito para a aprovação do projeto de lei 6418/2019, que pede isonomia de PIS/COFINS da ração de peixes com aves e suínos. “A incidência de PIS/COFINS na ração de peixe aumenta o nosso custo de produção em até 10% em algumas situações, promovendo a perda de competitividade dessa importante proteína de origem animal”, informou o diretor-presidente da associação, Francisco Medeiros.
Divulgação/FrioCenter Pescados
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“Nesse momento isso é importante para o produtor e mais importante ainda para o consumidor brasileiro que pode continuar consumindo um peixe de cultivo a um preço acessível”, completou. Conforme a publicação, a ação da PeixeBR é para aprovação imediata do processo de lei, que se autorizada pelo governo, deverá destravar um dos maiores gargalos do segmento.
Ele explicou como a empresa, presente em todas as regiões do Brasil, viu os números despencaram durante a pandemia. “Antes o processamento estava em cerca de 250 a 300 toneladas por mês e agora está em torno de 150 toneladas por mês”. Para Leite, é difícil imaginar como será o futuro próximo do segmento. “Os mercados estão se abrindo e a gente espera que as coisas voltem a funcionar sem nenhum segundo pico grave da pandemia. Mas, esse novo normal antes da descoberta de uma vacina ou medicação eficiente está totalmente em aberto” destacou. Os meses de março e abril tiveram uma redução mais severa, mas a partir de maio já foi observado uma reabertura dos mercados. “A gente sente que o mercado do peixe está começando a se movimentar novamente e as engrenagens estão voltando a funcionar”, destacou. Em Almas (TO), a 300km da capital do Estado, a Pescados Piracema está desde 2008 produzindo e comercializando um mix de produtos nativos no mercado nacional. Tambaqui, matrinxã, pintado e pirarucu estão entre os nativos com maiores vendas no frigorífico, que ainda trabalha com híbridos e cortes de com outras espécies. Inscrito no SIF, o frigorífico está com capacidade atual de 14 toneladas por dia de peixe fresco em um turno de 8 horas. Já para os filés a média é 30 toneladas por semana. A preferência alimentar regional é visível: a maior parte do pescado eviscerado e fresco vai para região Norte e Nordeste, já para o Centro-Oeste vão os filés e processados, como analisa Valtei Valadares Rosa, gerente do frigorífico e da piscicultura.
Logística aos grandes centros é um dos entraves difíceis de superar
Hoje no Estado é possível encontrar tambaqui de 2kg custando cerca de R$ 5,60, mas acrescido dos custos da evisceração, gelo, controle de qualidade e tributos, o preço praticamente dobra. O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) pago pelos frigoríficos da região está em 18%, sem o contar com o frete da entrega. “Então, a gente está vendendo este peixe a R$ 9. E ainda tem uma briga do frigorífico com o produtor, pois falam que estamos
ganhando e eles não. A margem fica muito apertada” ressaltou. O descontentamento com os valores pagos pelos frigoríficos leva muitos produtores a buscar outras vias para colocar seu peixe no mercado. “O piscicultor pequeno não quer vender ao frigorífico e prefere vender em unidades a R$ 7 e R$ 8, mas o consumidor acaba adquirindo um peixe sem rótulo”. Entretanto, apesar da margem do produtor não ser a ideal e a baixa remuneração ser um desafio para o segmento, ele explica que atualmente ela pode ser considerada “boa” na região.
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preocupado com o manejo, está tudo mais profissional. A evolução em dez anos foi uma coisa absurda”.
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Testes sensoriais realizados pela empresa revelaram que ainda há resistência regional aos itens. “Em São Paulo, por exemplo, o pessoal prefere mais o peixe de água salgada. A gente tentou inserir os peixes nativos nas escolas, mas sentimos uma resistência por causa do sabor”. Para ele, o offflavor também aparece como uma das justificativas usadas para a baixa preferência, mas o manejo correto da produção associado à tecnologia, além de ajudar a evitar prejuízos também garantem um pescado saboroso. “Isso era no passado, hoje temos rações balanceadas, tecnologia para manter a qualidade da água e o produtor está
Direto da Produção
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Salmonella: uma assombração A Salmonella enterica é uma espécie de bactéria da família Enterobacteriaceae e também é um dos principais desafios encontrados no País para os peixes de aquicultura em geral. O médico-veterinário e gerente de Produtos AQUA da Biovet, Santiago Benites de Pádua, esclarece que atualmente existem vários sorovares [variantes sorológicas] da bactéria Salmonella enterica de importância para a saúde pública que podem causar entre outras doenças, a salmonelose. No caso dos peixes nativos, o problema maior é a existência de vários subtipos de Salmonella identificados em plantas de processamento. Pádua cita um trabalho do professor Henrique Figueiredo que, recentemente, mostrou a salmonella no tambaqui como um agente patógeno não primário do peixe. Em outras palavras, esta variante seria um contaminante de processo, mas por si só não seria capaz de induzir uma doença no tambaqui. Conforme ele, a salmonella encontrada na linha de processamento é resultado de uma contaminação que pode vir de diversas fontes como o cultivo, a água ou até mesmo outros animais. Embora a Salmonella não seja de importância para o peixe em si, ela tem grande importância no aspecto da saúde pública. Ao contrário dos tambaqui, nós seres humanos, temos uma alta sensibilidade aos diferentes sorovares da bactéria que podem causar inúmeros riscos à saúde humana. “Então, o maior problema está na saúde pública, na segurança alimentar e não na saúde do animal em si”. Há estudos que apontam a capivara como um animal comumente encontrado perto das pisciculturas e também é uma possibilidade de via de contaminação, mas também pode ser outro animal que tenha acesso ao tanque de cultivo. “Por isso que é importante o produtor que trabalha com tambaqui ou qualquer espécie dificultar o máximo a introdução de outros animais na piscicultura. Ele acaba proporcionando maior segurança sanitária, não apenas para a produção, mas também para a qualidade do produto que será enviado à planta de processamento”. Existem também especulações de que a bactéria pode vir de alguns ingredientes da ração e isso dependendo de onde se estoca, ou até pelo próprio ingrediente. Para Pádua, não podemos esquecer que a ração de peixe, especificamente, passa por um processo térmico chamado extrusão. Tal processo acaba cozinhando-a sobre pressão e também eliminando contaminantes, especialmente bacterianos e fúngicos. “Talvez esse processo não seja tão efetivo para eliminar toxinas, mas para o agente bacteriano em si ou o agente fúngico acaba sendo extremamente efetivo”. Logo, é possível a ração transportar a Salmonella, embora as chances sejam muito pequenas e depende de toda a infraestrutura das próprias fazendas de criação. Pádua explica também que atualmente, são relatados muitos casos de contaminações nos frigoríficos, principalmente para o tambaqui. A espécie tem gerado problemas de gerenciamento justamente pela dificuldade de identificação da origem exata da bactéria. Apesar disso, esclarece que não existe um sorovar específico que ocorra no tambaqui, ou seja, não há um sorovar de importância para este peixe. Outro fator importante é que como a Salmonella enterica não é um patógeno de tambaqui, o uso de ferramentas por imunoprofilaxias (vacinas) acaba sendo limitado. Conforme ele, quando se utiliza uma vacina para qualquer doença, primeiro se considera que aquele agente infeccioso tem a capacidade de ser prejudicial ao animal ou humanos. E ainda teoricamente, não há motivo para produzir uma vacina que seja efetiva em descontaminar o animal, mas não vai eliminar a presença de uma contaminação na água ou na linha de processamento. “Então, na vacina da Salmonella a gente não vê muita viabilidade para o tambaqui porque não é um agente causador de doenças nele, pelo menos é o que temos visto até agora”.
Francisco Farina (Paco), presidente da Acripar: Rondônia buscará certificado de origem para o tambaqui
Segundo ele, o peixe fresco é vendido sem rótulo porque a legislação atual só exige que se informe a origem do pescado, o que leva muitos estabelecimentos a usarem uma identificação falsa e ainda alterarem as espécies. “Nós somos o único frigorífico que conheço na região que vai com o selo para identificação do número de lote, prazo de validade, telefone etc. Deveria virar lei para que todo o peixe comercializado nas feiras contenha as identificações sobre a origem do produto”, destacou. A Pescados Piracema tem experiência como produtor, indústria e distribuidor. E do lado produtor, a grande queixa está no preço da ração, que é o principal insumo de produção. Para os peixes redondos ela está na média de R$ 1,60 o kg. “O problema no Estado é o custo da ração e que aqui só temos uma fábrica. O piscicultor que tem pouca tecnificação acaba fazendo o manejo não correto. E se ele dá muita ração, no final os custos não fecham”. O que faz a soma dos altos custos mais a baixa remuneração e a falta de tecnificação resultarem, muitas vezes, no aumento do mercado informal.
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 •
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Direto da Produção
Pescados distribua seus produtos em diversas formas por todo o Brasil, exceto o Nordeste, o diretor destaca que a baixa demanda associada aos principais gargalos do segmentos podem ameaçar as indústrias focadas apenas nos nativos. “Ela não se sustenta pelo volume”, concluiu.
Divulgação/Fazenda Águas Pretas
Pirarucu enfrenta a sazonalidade
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Fazenda Águas Pretas se difere das demais com produção de 25 toneladas por ano e alta procura
Em Aparecida de Goiânia (GO), a FrioCenter Pescados trabalha com processamento e distribuição de nativos, além dos importados e de extrativos. O tambaqui é o responsável pelo maior volume de comercialização, que antes da pandemia estava em 300 toneladas por mês, seguido de pintado com 250 toneladas por mês e do pirarucu com menos com 20 toneladas por mês. As vendas caíram consideravelmente durante a crise, mas aos poucos estão retornando à normalidade, esclarece Leandro Cesar Francisco, diretor da empresa. Os altos tributos pagos pelos frigoríficos na região também são um problema, embora a indústria receba incentivo fiscal no ICMS (o peixe é isento), mas em compensação a ração é tributada pelo Programa de Integração
Social (PIS) e Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins), o que acaba pesando no valor final do produto. “Uma média de R$ 42 o saco”, revela Francisco. Sobre os valores pagos pelos frigoríficos aos produtores da região, ele considera que estão abaixo do necessário, só que em contrapartida, destaca que não consegue agregar valor ao produto final porque o consumo não é tão agressivo como no Sudeste. “O consumidor não sai para comprar um tambaqui no supermercado, só come se achar na oferta. Então, vamos falar que os nativos hoje são o carro-chefe para o supermercadista encher o estabelecimento de clientes e vender outros produtos agregados juntos com o pescado.” Ainda que a FrioCenter
Em Canavieiras, no Sul da Bahia, a Fazenda Águas Pretas investe forte no marketing como uma produtora de pirarucu no ano todo. Para o proprietário, Celso Gardon Machado, a falta de fidelização dos clientes, no caso específico do pirarucu, acontece principalmente por causa da sazonalidade do produto. Seja na região Norte em função do defeso ou seja nas demais regiões que trabalham com pirarucus de criação, a questão é que a maioria das pisciculturas só vendem seus estoques na Semana Santa. Com a oferta concentrada apenas em um período do ano, a remuneração do produtor fica à mercê dos frigoríficos que determinam o preço. Neste ano, a Semana Santa foi atingida pela pandemia da Covid-19 e o kg variou entre R$ 9 e R$ 10. Para ele, no caso do pirarucu, é difícil manter uma atividade econômica sem o retorno financeiro, o que realmente deverá inviabilizar, a curto prazo, uma indústria especializada. Com fornecimento durante todo o ano, a Fazenda Águas Pretas se difere das demais na produção de 25 toneladas por ano com alta procura. “Eu, particularmente, tenho amigos que pedem para que envie pirarucu a eles pois não acham no mercado”. Mas, como destaca o piscicultor, a propriedade é uma exceção pois também enfrenta o custo alto da ração, que inviabiliza em muitos casos uma criação mais longa. “O saco de ração para carnívoros com 40% de proteína com 25 kg sai a R$ 69,60”.
Já a verticalizada Delicious Fish, em Sorriso (MT), também é uma distribuidora nacional que aposta na produção e comercialização de nativos como o tambaqui e pintado. Além do pescado in natura, também atua com cortes temperados e congelados - o maior volume -, e outros produtos industrializados. Com amplo espaço no mercado, o gerente industrial, Claudinei Vasconcelos, analisa que é difícil imaginar que as indústrias especializadas estejam ameaçadas.
Compra e conversão
do maquinário necessário para abate e filetagem de peixe, estimando que em 2021, dependendo da demanda do mercado, o 10 frigorífico deverá estar produzindo com capacidade máxima de 18 toneladas/dia.
O Projeto Pacu venceu a concorrência aberta pela prefeitura. O proprietário Simão Brun realçou os investimentos públicos para aquisição
A recuperação do Buriti pode recolocar o MS como um polo de nativos, que perdeu espaço desde a conversão da Mar & Terra em um
Divulgação/Delicious Fish
O Projeto Pacu, no Mato Grosso do Sul, vai assumir um frigorífico de pescado desativado há 15 anos, após compra de equipamentos realizada com recursos do Estado e emendas parlamentares. O Frigorífico Peixe Buriti pode tornar a cidade de Dois Irmãos do Buriti “um dos polos de produção de carne de peixes nativos da Bacia do Rio Paraguai”, diz o site Ponta Porã Informa. O frigorífico foi desativado, por problemas administrativos e financeiros gerados por antigos locatários.
Delicious Fish trabalha com produção e comercialização de nativos
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Segundo a Axial, com sede em Itaporã (MS), a Mar & Terra teve como missão pesquisar, produzir e comercializar peixes nativos brasileiros, mas a venda aconteceu porque “o mercado cresceu e se transformou”. “Sai do cenário de peixes nativos uma das mais importantes empresas do Brasil neste setor. Foi a primeira empresa nacional a levar pirarucu, pintado e tambaqui durante vários anos para feira de Bruxelas e Boston”, declarou à época Francisco Medeiros, da PeixeBR. A conversão é um sintoma de que o capital financeiro talvez não tenha tempo de esperar a maturidade produtiva e de marketing dos nativos. É preciso correr.
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Frigorífico e piscicultura da Delicious Fish em Sorriso (MT): verticalização é alternativa para melhorar margens
projeto exclusivamente focado em tilápias. Em comunicado no dia 9 de dezembro, o Grupo Axial explicou a venda da empresa para a paranaense Paturi Piscicultura Agroindustrial, que adquiriu as operações da empresa para “acelerar seu crescimento, transformando-se assim em um dos principais players nacionais de tilápia”.
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Divulgação/FAO/ONU
Estatísticas
Sustentabilidade à prova
Com quase 180 milhões de toneladas, produção mundial de pescado atinge recorde em 2018, segundo State of The World Fisheries and Aquaculture (Sofia 2020) Texto: Fabi Fonseca e Leandro Silveira
A
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO/ONU) publicou a versão 2020 do relatório State of The World Fisheries and Aquaculture (Sofia). O documento estima que a produção mundial de pescado tenha atingido cerca de 179 milhões de toneladas em 2018. Desse total, 156 milhões de toneladas foram usadas para consumo humano, equivalente a uma oferta anual estimada de 20,5 kg per
capita. A aquicultura representou 46% do total da produção, com 52% do peixe para consumo humano. Mas enquanto o setor atinge recordes, o Brasil continua com informações escassas sobre a pesca. O País não reporta dados oficiais consolidados de produção (captura e aquicultura) à FAO desde 2014. A falta de dados é um desafio para a sustentabilidade da pesca no País.
PRODUÇÃO E COMÉRCIO MUNDIAL DA AQUICULTURA E PESCA1 MÉDIA ANUAL (milhões de toneladas, peso vivo) 1986–1995
1996–2005
2006–2015
2016
2017
2018
Continental
6,4
8,3
10,6
11,4
11,9
12
Marinha
80,5
83
79,3
78,3
81,2
84,4
Captura total
86,9
91,3
89,9
89,7
93,1
96,4
Continental
8,6
19,8
36,8
48
49,6
51,3
Marinha
6,3
14,4
22,8
28,5
30
30,8
Aquicultura total
14,9
34,2
59,6
76,5
79,6
82,1
TOTAL CAPTURA E AQUICULTURA
101,8
125,5
149,5
166,2
172,7
178,5
Consumo humano
71,8
98,5
129,2
148,2
152,9
156,4
Usos não-alimentares
29,9
27,1
20,3
17,9
19,7
22,2
População (bilhões)³
5,4
6,2
7
7,5
7,5
7,6
Consumo aparente per capita (kg)
13,4
15,9
18,4
19,9
20,3
20,5
34,9
46,7
56,7
59,5
64,9
67,1
Participação das exportações na produção total
34,3%
37,2%
37,9%
35,80%
37,60%
37,60%
Exportação de pescado - em valor (US$ bilhões)
37
59,6
117,1
142,6
156
164,1
PRODUÇÃO
Comércio Exportação de pescado - em qtde
¹Exclui mamíferos aquáticos, crocodilos, jacarés, algas e outras plantas aquáticas. ²Dados utilizados entre 2014-2018 são estimados. ³Fonte de dados populacionais: DESA ONU, 2019.
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 •
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Utilização²
Estatísticas
PESCA
MILHÕES DE TONELADAS
AQUICULTURA
PRODUÇÃO MUNDIAL DE PESCADO DA AQUICULTURA E PESCA
Pesca continental
Pesca marinha
Aquicultura continental
Aquicultura marinha
Nota: Exclui mamíferos aquáticos, crocodilos, jacarés, algas e outras plantas aquáticas. Fonte: FAO
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 • 66
“Se hoje temos problemas de recursos públicos ou outros obstáculos que inviabilizam a coleta sistemática de dados, precisamos ser criativos e cooperativos na busca de soluções. Um marco legal mais moderno que encaminhe, entre outras, soluções para subsidiar os estudos científicos é urgente e necessário” alerta o diretorgeral da ONG Oceana no Brasil, o oceanólogo Ademilson Zamboni. A atual gestão da Secretaria da Aquicultura e Pesca do Mapa (SAP), a cargo de Jorge Seif Jr., sinaliza que pretende retomar a compilação de dados estatísticos, ao menos sobre a pesca. Recentemente, o secretário anunciou a extensão do modelo criado para o reporte de dados sobre a captura da tainha (SisTainha) para outras espécies, como a sardinhaverdadeira, pargo e lagosta, mas ainda
há muitos desafios relacionados à forma de obtenção destes dados, via mapas de bordo, estatísticas de exportação e outras matrizes de informação. Enquanto isso não ocorre, resta observar o desempenho mundial da atividade. O Sofia 2020 é um compêndio estatístico e analítico sobre as atividades de aquicultura, captura, processamento e consumo de pescado em todo o mundo, é a principal publicação do Departamento de Pesca e Aquicultura da FAO. O documento é divulgado a cada dois anos desde 2002 e tem por objetivo fornecer aos formuladores de políticas, à sociedade civil e àqueles cujos meios de subsistência dependem do setor uma visão abrangente da pesca de captura e da aquicultura, incluindo questões políticas associadas.
Esta edição é publicada no mesmo ano em que a FAO/ONU completa 25 anos de publicação do Código de Conduta da Pesca Responsável, criado para harmonizar os princípios e padrões para o uso de recursos pesqueiros e aquícolas, incluindo mecanismos regionais e cooperação para assegurar o uso sustentável dos recursos aquáticos em harmonia com o meio ambiente. A 10 anos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), as capturas mostram um cenário ainda crítico: 34,2% dos estoques capturados estavam em sobrepesca, a níveis biológicos insustentáveis. Ou seja, neste ritmo, serão extintos, segundo a FAO/ONU. Por outro lado, o Sofia 2020 traz um capítulo específico dedicado a como superar esta situação. Estatísticas confiáveis e frequentes são o alicerce principal.
TENDÊNCIAS GLOBAIS DO ESTADO DOS ESTOQUES PESQUEIROS MARINHOS | 1974-2017 Sobrepescado
Insustentável
PORCENTAGEM
Captura máxima sustentável Sobrepescados
Subpescados
ANO Fonte: FAO
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Biologicamente insustentável
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 •
Biologicamente sustentável
Estatísticas MAIORES EXPORTADORES E IMPORTADORES DE PESCADO E DERIVADOS EM VOLUME | 2018 EXPORTAÇÃO
China
Noruega
Chile
Tailândia
Estados Unidos
Canadá
China
Rússia
Vietnã
Outros
Índia
IMPORTAÇÃO
Estados Unidos
Japão
Itália
França
China SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 • 68
Alemanha
Outros
Fonte: FAO
China
Coreia do Sul
Suécia
Holanda
A aquicultura apresenta crescimento de 25% entre 2008 e 2017, mantendo a sua expansão, que está em 5,3% por ano desde a virada do milênio. Ainda nesse período de 2008 a 2017, o aumento da captura da pesca foi de 7%. Os sete principais produtores de captura representaram quase 50% da captura global total, com um somatório de 84,4 milhões de toneladas. E foi um desses países, o Peru, além do Chile, os principais responsáveis pelo crescimento da pesca no período abordado no Sofia 2020, de acordo com a FAO, com as capturas de anchoveta para a fabricação de ração. A China lidera a lista, produzindo 15% do total da captura, seguida por Indonésia (7%), Peru (7%), Índia (6%), Rússia (5%), Estados Unidos (5%) e Vietnã (3%). E os 20 principais países produtores representam cerca de 74% da captura total. A anchoveta foi, aliás, a espécie mais capturada, com 7,0 milhões de toneladas em 2018, ainda que com pescarias mais baixas do que em anos recentes, seguido pela polaca do Alasca, com 3,4 milhões de toneladas, e do atum (Katsuwonus pelamis), com 3,2 milhões de toneladas. A estimativa é que 59,51 milhões de pessoas trabalham no mundo no setor,
das quais apenas 14% são mulheres, com maior presença na aquicultura – 19% - do que na pesca – 12%. Dessa força de trabalho, 20,53 milhões atuaram na aquicultura e outros 38,98 milhões na pesca.
COMÉRCIO Da produção global de 179 milhões de toneladas em 2018, a venda total atingiu um valor estimado em US$ 401 bilhões, dos quais 82 milhões de toneladas, avaliadas em US$ 250 bilhões, foram de produção aquícola. Cerca de 88% deste total foi utilizado para consumo humano direto – 156 milhões de toneladas –, com um fornecimento anual estimado de 20,5 kg per capita. O peixe vivo, fresco ou refrigerado representou 44% do pescado utilizado para o consumo humano. Enquanto isso, os 12% restantes – cerca de 22 milhões de toneladas – foram utilizados para fins não alimentares, principalmente para produzir farinha e óleo de peixe. Com 35% da produção global de peixe em 2018, a China continua sendo o maior produtor. Depois, vem a Ásia (34%), seguida pelas Américas (14%), a Europa (10%), a África (7%) e a Oceania (1%). Em 2018, 67 milhões de toneladas de peixe foram negociados internacionalmente, quase 38% de todas as espécies capturadas ou cultivadas em todo o mundo. No mesmo ano, 221 países e territórios relataram alguma atividade de comércio de pescado. A exportação total no valor de US$ 164 bilhões registrada em 2018 representou quase 11% do valor de exportação de produtos agrícolas. De 1976 a 2018, o valor global de exportações de peixe e produtos da pesca aumentou a uma taxa anual
de 8% em termos nominais e 4% em termos reais. Estimativas disponíveis para 2019 sugerem que o valor total comercializado teve crescimento de 2% no comparativo com o ano anterior. Além de ser de longe o principal produtor, a China também tem sido o principal exportador de pescado desde 2002. Desde 2004, a Noruega é o segundo maior exportador, agora seguido pelo Vietnã. Enquanto o mercado da União Europeia dominando a importação, seguida pelos Estados Unidos e o Japão, cresce a importância dos países em desenvolvimento como consumidores, bem como produtores. Em 2018, as importações de peixe pelo grupo representaram 31% do total global por valor e 49% em quantidade.
CONSUMO O consumo humano de pescado (descontada a matéria-prima para ração e outros usos) chegou aos 20,5 kg per capita anuais em 2018 e foi de 156 toneladas métricas. É um recorde e um pequeno avanço no comparativo a 2017, quando havia sido de 20,3 kg, mas considerável em relação aos 9 kg de 1961, de acordo com a FAO. E isso se deu principalmente em razão da expansão da oferta de produtos aquícolas. No período de 1961 a 2017, a taxa média anual do consumo total aumentou 3,1%, ultrapassando a taxa anual de crescimento populacional, de 1,6%. Essa taxa também é superior ao de todos os outros animais e alimentos proteicos, como carnes e laticínios, que aumentaram 2,1% ao ano no mesmo período. Além disso, em 2017, o pescado cerca de 17% da proteína animal total e 7% de todas as proteínas consumidas globalmente.
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A produção mundial de pescado atingiu 178,5 milhões de toneladas em 2018, que foram capturadas ou despescadas, representando um recorde histórico. Dessa quantidade, a pesca continental e marítima foi responsável por 96,4 milhões de toneladas métricas – um aumento de 5,4% em relação aos três anos anteriores –, enquanto 82,1 milhões de toneladas métricas foram relativas à aquicultura.
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PRODUÇÃO
Estatísticas
Nos países desenvolvidos, o consumo aumentou de 17,4 kg per capita em 1961, para 26,4 kg per capita em 2007. Mas tem diminuído gradualmente a partir de então, tendo atingido 24,4 kg em 2017. Nos países em desenvolvimento, o consumo apresentou crescimento expressivo, de 5,2 kg per capita em 1961 para 19,4 kg em 2017, em uma taxa média anual de 2,4%. Nos países menos desenvolvidos, o consumo aumentou de 6,1 kg em 1961 para 12,6 kg em 2017, com uma taxa média anual de 1,3%. O crescimento foi significativamente maior nos últimos
20 anos, chegando a 2,9% ao ano, em parte provocado pela expansão da produção e das importações. Já nos países com déficit alimentar de baixa renda, o consumo de peixe aumentou de 4,0 kg em 1961 para 9,3 kg em 2017, com uma média anual de cerca de 1,5%.
PESCA A pesca global atingiu um recorde de 96,4 milhões de toneladas em 2018, um aumento de 5,4% no comparativo com a média dos três anos anteriores. A receita obtida com a primeira venda teve valor estimado em US$ 401 bilhões.
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CONSUMO APARENTE PER CAPITA | MÉDIA 2015-2017
OFERTA MÉDIA PER CAPITA DE PESCADO (EM PESO VIVO EQUIVALENTE) 5 kg/ano
10 – 20 kg/ano
30 – 50 kg/ano
5 – 10 kg/ano
20 – 30 kg/ano
50 kg/ano
Nota: Limite final entre o Sudão e o Sudão do Sul ainda não foi determinado. Fonte: FAO
Sem dados
De acordo com a FAO, o aumento foi impulsionado pela pesca marinha, com a produção tendo crescido de 81,2 milhões toneladas em 2017 para 84,4 milhões de toneladas em 2018. A elevação das capturas marinhas resultou, principalmente, do crescimento da pesca de anchoveta no Peru e no Chile. Ainda não conseguiu, porém, atingir as 86,4 milhões de toneladas de 1996, um recorde histórico. Os peixes de escama representaram 85% do total de produção, com pequenos pelágicos como o principal grupo, seguido de gadiformes e as diferentes espécies de atum.
As pescas globais em águas interiores representaram 12,5% da produção total, conforme a FAO. E tem enorme importância para as capturas de Bangladesh e Mianmar, com 65% e 44%, respectivamente. As capturas de águas interiores são mais concentradas, com 16 países produzindo mais de 80% da captura interior total. A Ásia representa 2/3 desse modo de produção desde meados dos
anos 2000. E as pescarias interiores também são importantes na África, que responde por 25% do mundo.
AQUICULTURA O Sofia 2020 também aponta que a produção aquícola mundial cresceu em média 5,3% ao ano no período entre 2001 e 2018, com o Brasil ocupando o 13º lugar no ranking global. A produção de pescado de aquicultura alcançou as 82,1 milhões de toneladas, 32,4 milhões de toneladas de algas aquáticas e 26 mil toneladas de itens ornamentais como conchas e pérolas, elevando o total a 114,5 milhões de toneladas.
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Já as pescas de cefalópodes caíram para 3,6 milhões de toneladas em 2017 e 2018, abaixo da quantidade de 2014,
quando atingiram o pico de 4,9 milhões de toneladas.
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As pescarias de atum seguiram aumentando, atingindo seus níveis mais altos em 2018 com cerca de 7,9 milhões de toneladas. O número tem grande influência das capturas crescentes nas regiões oeste e central do Oceano Pacífico, com 3,5 milhões de toneladas em 2018, em comparação com as 2,6 milhões de toneladas de meados dos anos 2000. Do total, o gaiado e o atum albacora representaram cerca de 58% das capturas.
Estatísticas
MILHÕES DE TONELADAS (PESO VIVO)
PRODUÇÃO MUNDIAL DA AQUICULTURA DE ANIMAIS AQUÁTICOS E ALGAS | 1990-2018
Algas aquáticas - aquicultura
Outros animais aquáticos - aquicultura
Crustáceos - aquicultura continental
Crustáceos - aquicultura marinha e continental
Moluscos - aquicultura (principalmente marinha)
Peixe - marinho e aquicultura costeira
Peixes - aquicultura continental
Nota: Limite final entre o Sudão e o Sudão do Sul ainda não foi determinado. Fonte: FAO
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A produção em 2018 foi dominada por peixes – 54,3 milhões de toneladas, sendo 47 milhões de toneladas da aquicultura continental e 7,3 milhões de toneladas da aquicultura marinha e costeira, seguidos por moluscos bivalves (17,7 milhões de toneladas) e crustáceos (9,4 milhões de toneladas). Em 2018, moluscos sem casca representaram 56,3% da produção de aquicultura marinha e costeira, com 17,3 milhões de toneladas. O pescado fresco (7,3 milhões toneladas) e os crustáceos (5,7 milhões de toneladas), juntos, foram responsáveis por 42,5%, com o restante consistindo em outros animais aquáticos.
A aquicultura para alimentação humana, com 57 milhões de toneladas, ultrapassou a aquicultura para fins não alimentícios, responsável por 30,5% da produção total da atividade em 2018, bem inferior aos 43,9% em 2000, embora sua produção anual tenha se expandindo em termos absolutos para 25 milhões de toneladas há dois anos. Destas, 8 milhões de toneladas foram de peixesfiltro de água interior de alimentação de filtro (principalmente carpa de prata e carpa de cabeçuda) e 17 milhões toneladas de invertebrados aquáticos, principalmente moluscos bivalves marinhos. A FAO aponta que a piscicultura é dominada pela Ásia com produção
de 89% do total global em termos de volume nos últimos 20 anos. Além da China, líder mundial da produção global, os outros países com destaque são Bangladesh, Chile, Egito, Índia, Indonésia, Noruega e Vietnã. Mas embora a China produza mais alimentos aquáticos cultivados do que o resto do mundo desde 1991, a piscicultura do país cresceu apenas 2,2% e 1,6% em 2017 e 2018, respectivamente. E sua participação na produção mundial de aquicultura caiu de 59,9% em 1995 para 57,9% em 2018, sinalizando que a expansão da atividade naquele país pode ter chegado ao limite.
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Especial
Webinars ‘Pescado em Análise’ SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2020 • 74
Sob calor dos acontecimentos, série discute impactos e caminhos traçados pela pandemia Texto: Leandro Silveira
A
crise do coronavírus converteu planos estratégicos de médio e longo prazo em táticas de sobrevivência de curto prazo. No intuito de mensurar os impactos e entender as demandas do novo cenário, a Seafood Brasil organizou, desde o início da pandemia, nove edições que compuseram a primeira temporada dos webinars “Pescado em Análise”, intitulada Covid-19 x Pescado.
Nas transmissões on-line, foi possível reunir especialistas, representantes e líderes do setor para debater as transformações sobre o segmento. Confira, abaixo, um resumo dos nove encontros, todos disponíveis no canal do YouTube da Seafood (youtube.com/seafoodbrasil). Acompanhe a seguir uma síntese de todos os encontros desta primeira temporada:
Participantes: Gerson Barreto (Karnekeijo), Paulo Christofani (Swift), Pedro Pereira (Bom Porto), Renata Caetano (Carrefour) e Rodrigo Joaquim (Grupo 5).
No primeiro encontro, os presidentes das principais entidades do segmento debateram os impactos e as oportunidades para os diferentes setores do pescado durante a pandemia do coronavírus.
O segundo encontro online abordou o varejo, com o foco nos resultados das vendas do pescado durante a Semana Santa e a expectativa de como se daria a comercialização dos produtos no período que veio depois da Páscoa, sob o impacto da crise do coronavírus.
De acordo com Eduardo Lobo, da Câmara Setorial do Pescado, os efeitos negativos para as indústrias que fornecem ao food service foram gigantescos. “Não só pararam de comprar como também houve inadimplência”, afirmou.
Renata Caetano revelou que o Carrefour adotou a estratégia de apostar mais na venda dos congelados. E, como resultado, enxergou alguma migração de consumo, com troca de produtos. “Mas o cliente não abriu mão do pescado na Sexta-Feira Santa”, afirmou.
Os participantes também apontaram que a situação da indústria de exportação chegou a ser calamitosa. E a retomada da venda para o mercado externo só deve acontecer em um bom ritmo no fim de 2020 ou mesmo em 2021. “Para os Estados Unidos, não tem cliente e nem voo. A Ásia saiu da crise, mas vai começar consumindo o básico, não uma proteína cara”, afirmou Lobo. Apontando um cenário dramático para a cadeia industrial do pescado, as autoridades sublinharam a necessidade de receberam auxílio governamental. “Precisamos de linhas de crédito para produtores, armadores e indústria”, cobrou Lobo. “O governo precisa olhar para a proteína e socorrê-la. É proteína em pior situação”, acrescentou. “Precisamos de um Plano Marshall para o setor de pescado”, concluiu. Os presentes ao webinar também disseram que o governo deveria incentivar o consumo do pescado, pelas características, ainda mais em um período de isolamento e ócio, por se tratar de uma proteína de fácil digestão, rica em ômega 3. “O ano de 2020 está perdido e muita gente vai ficar pelo caminho”, alertou Waldomiro Coutinho. Na reunião, também ficou definido que as demandas seriam unificadas na Câmara Setorial do Pescado. E os presentes destacaram a importância de os valores cobrados pelos produtos se manterem acessíveis, ainda mais em um período de crise. “Preços precisam ser mais competitivos. Para isso, precisamos encurtar a cadeia”, declarou Eduardo Ono.
Essa aposta nos produtos congelados e a troca pelos de valor mais baixo também foi percebida pela Swift. “Foi a Semana Santa dos congelados. Teve crescimento significativo”, afirmou Paulo Christofani. “A família de bacalhau sofreu um pouco, mantendo o volume, mas com desembolso menor”, acrescentou. Houve até surpresa com a venda expressiva de produtos como merluza, pescada e alguns tipos de camarão, que tiveram compra adicional. “Bacalhau desfiado e em posta quase terminaram”, detalhou o profissional, que também destacou o maior crescimento no e-commerce. No Karnekeijo, Gerson Barreto apontou que a venda foi de 80% de produtos no comparativo com 2019. O maior impacto se deu na negociação com o food service, de apenas 20%. Houve, também, queda de 7% nas lojas de cash care. E a redução foi de 30% no varejo, especialmente por causa das medidas restritivas. A Bom Porto apontou grande impacto na venda, em torno de 30% a 40% entre os distribuidores. A queda para o food service foi de 80%. O delivery passou a representar 20% dos negócios, sendo que antes era de apenas 10%. “Mas não compensa a do restaurante aberto”, explicou Pedro Pereira. Ele também apontou que a venda do bacalhau seco caiu provavelmente pelas medidas restritivas. “O cliente gosta de ser atendido e evitou o contato”, disse, apontando que o bacalhau dessalgado congelado não teve queda drástica. “Estratégia foi apostar na linha de pratos prontos de bacalhau”, revelou. E todos destacaram uma estratégia parecida para que a “ressaca” fosse menor para o segmento no pós-Páscoa. “Não se pode aumentar preço para aumentar a margem. O poder de compra diminuiu”, alertou Rodrigo Joaquim.
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Participantes: Eduardo Lobo (Abipesca e Câmara Setorial do Pescado), Eduardo Ono (CNA), Francisco Medeiros (PeixeBR), Itamar Rocha (ABCC), Marcio Ortega (Abrapes), Roberto Imai (Fiesp) e Waldomiro Coutinho (CamarãoBR).
Varejo
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Lideranças setoriais
Especial E-commerce
Participantes: Alexandre Reis (Japa da Ostra), Barbara Granek (Fishtag), Carlos Magno Vivaldi (Seafood Sampa), Cristiano Mineiro (Professor FIA) e Edson de Castro (Casa Maré).
No terceiro encontro, os especialistas debateram o cenário do comércio digital em tempos de pandemia do coronavírus. A avaliação foi de que essa plataforma se tornou essencial para o varejo se manter ativo durante o período de paralisação de outras ferramentas. E o setor do pescado pode se beneficiar dessa alternativa. De acordo com dados trazidos por Cristiano Mineiro, professor da FIA, na Páscoa, houve crescimento de 65% do e-commerce, com uma movimentação de R$ 3 bilhões. E essa modalidade atraiu 2 milhões de novos clientes Alexandre Reis, do Japa da Ostra, traçou alguns dos principais desafios para o êxito do delivery de pescado: a logística, a criação de escala, o baixo consumo per capita do produto no Brasil, e a desconfiança do consumidor em função de fraudes por troca de espécie e econômica. Porém, também enumerou os fatores favoráveis: a ligação direta com o cliente, a rentabilidade e a possibilidade de inovar, obtendo uma resposta mais rápida do que em outras iniciativas. “No delivery, é tudo mais rápido”, disse.
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Carlos Magno, da recém-criada Seafood Sampa, avaliou que a quarentena tem sido um impulsionador do comércio digital, algo confirmado por um dado revelado por Edson de Castro, de que a Casa Maré triplicou os seus pedidos nesse período. “Todos estão com o bilhete premiado na mão. O cliente está nos aguardando. Para nós, está ajudando de forma única, como um turbo nas costas”, disse Magno. Para ele, o desafio é se manter ligado com as pessoas para que o uso da modalidade se consolide ao fim do atual período restritivo. A avaliação foi a mesma de Mineiro, destacando a facilidade de experimentar ideias como um diferencial do e-commerce, que precisa, no entanto, trabalhar bem os atributos dos produtos. Reis apontou que o restaurante não pode ser visto como um concorrente do delivery. “Estamos nas duas pontas. E precisamos de escala, para movimentar todo o negócio”, comentou.
Food service
Participantes: Alexandre Saber (Sassá Sushi), André Saburó (Quina do Futuro), Douglas Santana (Pizza Prime), Lélis Fonseca (Lélis Peixaria), e Rodrigo Fróes (Grupo 3F).
A expansão da pandemia do coronavírus levou o setor de food service a entrar em colapso. A extensão desses impactos foi capturada pelos participantes, que representaram o elo mais afetado da cadeia. O Quina do Futuro, por exemplo, chegou a interromper completamente as suas atividades, algo posteriormente foi retomado com o serviço de delivery. E renegociou os contratos de aluguel de 13 imóveis. Além disso, em uma ação direta para apoiar os trabalhadores envolvidos diretamente no combate ao coronavírus, mandou os alimentos que ia perder para os hospitais de Recife, participando de um esquema de mutirão com padarias e restaurantes. O Sassá Sushi buscou se reposicionar no mercado com o lançamento de uma linha pocket, com preços mais competitivos e pratos reduzidos, algo que não existia para o consumidor. Além disso, se concentrou no comércio on-line, o que incluiu vendas via WhatsApp. Desse modo, o delivery se tornou 95% do seu faturamento – era de 65% antes da pandemia. E melhorar a experiência surge como foco para as próximas semanas. “No Japão, estão levando a experiência no delivery, incluindo a louça”, exemplifica Alexandre Saber. Novas ações também foram adotadas pela Pizza Prime, que reforçou as peças de marketing. E viu uma mudança no comportamento do consumidor. As pizzas tradicionais ficaram um pouco de lado, pelas promoções de produtos com pescado e vegano, que alavancaram as vendas. “A de atum passou da sétima pizza para uma das três mais vendidas”, disse. A Lélis Peixaria concentrou ações no delivery, que nunca foi seu foco e não representava 15% do seu negócio. Mas tem feito promoções, como mandar um growler de chope como cortesia. “Minha operação não se paga com o delivery”, admite Lélis Fonseca. Ele, porém, optou por seguir em atividade, uma ação oposta à do Grupo 3F em relação aos restaurantes Jam. Rodrigo Fróes explicou que optou por uma “construção coletiva de uma decisão” sobre a demissão ou continuidade dos funcionários. Ele avalia que as demandas pós-coronavírus serão inviáveis para os restaurantes que não tiveram sua estrutura pensada para esse cenário. “Haverá restrições de espaço. Os restaurantes se tornam inviáveis, ficam tristes pelo distanciamento entre mesas. E na própria mesa, não pode haver alimento coletivo, algo que acontece muito com o sushi. Se pode dar vazão à algumas vontades, mas não a vontade da experiência. A estrutura de custo é insustentável para quem não foi pensado assim”, afirmou.
Exportações
“E os africanos gostam do peixe seco, que tem fácil esquema para exportação”, indicou, Mario Wang, do China Trade Center, lembrou que a China é o terceiro maior importador de pescado no mundo. E avaliou que aumentou o interesse pelo produto, por ser um alimento saudável. Além disso, relatou a preferência pelo consumo de produtos da pesca extrativa. “Falta propaganda e divulgação dos produtos brasileiros”, alertou.
Importações
Participantes: Abraão Oliveira (Projepesca Consultoria), André Brugger (Netuno USA), Fernando Ferreira (Nammi Susan), Mario Wang (China Trade Center), Murielle Varela (Carapitanga) e Rui Mucaje (AfroChamber).
O quinto webinar versou sobre a inserção internacional do pescado no contexto da pandemia do coronavírus. Para isso, Abraão Oliveira, da Projepesca Consultoria, apresentou estudo indicando que o Brasil exportou 43,7 mil toneladas de pescado em 2019, com receita de US$ 295,5 milhões.
Em sua visão ocorreu uma substituição de produtos, com a preferência por aqueles com alto tempo de prateleira. “As pessoas estão percebendo a facilidade de cozinhar em casa com a Covid”, disse Brugger, que apontou a aposta em mercados étnicos como uma possibilidade para o produto brasileiro entrar nos Estados Unidos. Fernando Ferreira relatou sobre a participação da Nammi Susan no mercado da Coreia do Sul. Ele explicou que o Brasil negocia pouco mais de 2.100 toneladas de pescado, sendo a maior parte de arraia, com esse país, em acordo que envolvem apenas oito exportadores para oito importadores. Ele também disse achar inviável uma maior penetração no mercado de camarão, dominado por Vietnã e Equador. E apontou a costelinha de tambaqui como um produto com potencial para entrar nesse mercado. “Eles muito de produto com gordura”, disse.
Com a presença de lideranças setoriais, do varejo, do e-commerce, do food service e das exportações, as importações foram o tema do sexto webinar, Abraão Oliveira, da Projepesca Consultoria, destacou o Chile como a principal origem das compras, representando cerca de 50%, seguido por Noruega, China, Argentina, Portugal e Vietnã. Já o Brasil tem participação importante na compra de espécies como salmão, bacalhau, merluza, sardinha e cação. Por causa da pandemia do coronavírus, ele apontou queda significativa do preço médio e volume de importação a partir da Semana Santa, com redução no volume de 46% comparado com 2019 e de 61% de valor no preço médio. Nos peixes frescos, houve maior impacto, especialmente no salmão. Já entre os congelados, a maior atingida foi a indústria da sardinha. “Houve uma redução clara de produto com valor agregado mais alto para um produto com valor agregado mais baixo e também uma redução significativa dos volumes, sobretudo de peixes frescos frente aos congelados”, disse.
Murielle Varela explicou como a Carapitanga tem buscado entrar no mercado do Oriente Médio, para onde tem enviado dois contêineres. E apontou a concorrência de países como a Índia como um grande desafio.
Os participantes apontaram que no novo cenário a sustentabilidade e a saudabilidade ficaram mais evidentes, assim como a forma de compra do consumidor. Ivan Lasaro, da Opergel Alimentos, defendeu que os supermercados precisarão ofertar mais produtos semiprontos.
Já Rui Mucaje, da AfroChamber, relatou que os países que mais compram o pescado brasileiro na África são Marrocos, Gabão, Senegal, Camarão e Congo. Ele apontou a importância de os exportadores perceberem aspectos culturais, citando a preferência dos africanos por peixes salgados e secos. “Os países nórdicos colocam seus produtos no mundo todo”, disse.
Felipe Katata, da Mitsubishi Corporation, grupo do qual fazem parte empresas como a Cermaq e a Vinh Hoan, apontou queda drástica na compra de salmão e panga no Brasil. Além disso, revelou dificuldades pela redução dos preços no Chile, ocasionada por falta de demanda.
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André Brugger explicou que com o impacto do coronavírus nos Estados Unidos, a Netuno USA se voltou para os supermercados e com produtos de valor agregado, para serem feitos em casa. Ele apontou uma queda de 35% na venda do atum fresco no primeiro trimestre, com um aumento de 289% da tilápia congelada, só que com queda de 20% nos preços.
Participantes: Abraão Oliveira (Projepesca Consultoria), Felipe Katata (Mitsubishi Corporation), Ivan Lasaro (Opergel Alimentos), Pablo Basso (Iberconsa) e Vanessa Salomão (Interatlantic).
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Em abril, houve um incremento das exportações dos peixes congelados, especialmente da Santa Catarina, destinado à Ásia, e uma queda na venda dos peixes frescos, com o maior impacto atingindo o Rio Grande do Norte e a Bahia. Além disso, houve aumento das exportações para a África, principalmente de filé, a partir do Rio Grande do Sul.
Especial Ele explicou que a Mitsubishi adotou política rígida em relação à inadimplência, assim como a Interatlantic que não sofreu grandes impactos com a pandemia, segundo Vanessa Salomão, da Interatlantic. Ela explicou que como os supermercados foram afetados, a estratégia foi atender os distribuidores.
Aquicultura
Pablo Basso, da operação argentina da Iberconsa, espera um segundo semestre positivo para as importações no Brasil, com a volta aos volumes de 2019 e a possibilidade de compra do camarão do país platino. Ele relatou que a produção central de filés de merluza foi direcionada ao mercado da Espanha. E ainda que nada tenha sido enviado ao Brasil a partir de abril, o volume de exportação da Argentina não sofreu alteração relevante.
Pesca comercial
Participantes: Ana Carolina Guerrelhas (Aquatec), João Manoel Alves (Guabi), Lucas Granuzzo (Aquabel), Ramon Amaral (Grupo Ambar Amaral) e Rodrigo Zanolo (MSD Saúde Animal).
O oitavo webinar abordou como a piscicultura e carcinicultura alteraram seus planejamentos após a eclosão da pandemia do coronavírus e como traçaram estratégias para enfrentá-la, somada aos efeitos do inverno, com a expectativa da retomada econômica. A Aquatec, relatou Ana Carolina Guerrelhas, encarou muita oscilação após iniciar 2020 sob a expectativa de aumento de 30% da produção. Em março, o crescimento estava em 35%. Depois, houve muito descarte de larva no início da crise. A empresa, então, reduziu a capacidade do laboratório para 30% e viu faltar larva em abril. Em maio, quase dobrou a produção. Já em julho, está três vezes maior do que em abril. Participantes: Arimar Filho (Produmar), Cadu Villaça (Conepe/Cadu Consult), Giacinto Tasso (Cais do Atlântico), Ismael Coelho (Miami Pescados) e Jonathan Morais (Gomes da Costa).
O sétimo webinar abordou, com profissionais de diferentes regiões e cadeias pesqueiras, os impactos e transformações causadas na pesca comercial pela pandemia do coronavírus. Arimar Filho, diretor da Produmar, explicou que a empresa, por trabalhar principalmente com embarcações voltadas para a pesca oceânica de long line de atum, sofreu com os efeitos da crise sanitária, pela paralisia dos mercados externo e interno. Ele revelou que o frete aéreo triplicou com a limitação de voos entre o Brasil e os Estados Unidos. “Mesmo com o incremento do dólar ficou bem difícil, tanto que a maioria das empresas parou”, comentou.
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O consultor Cadu Villaça, da Cadu Consult, apontou a inexistência de demanda pela lagosta por causa do fechamento dos restaurantes e do isolamento social. Até por isso, mas sem êxito, houve um pedido para o adiamento do início da safra atendido parcialmente para 1º de junho. As dificuldades também foram relatadas por Ismael Coelho, da Miami Pescados, no litoral sul de São Paulo, que trabalha principalmente com polvo, camarão-de-sete-barbas e corvina. A empresa ampliou as férias dos colaboradores e estocou a maior parte da produção destinada ao food service. “A queda nossa foi de 60% no mercado”, afirmou. A Gomes da Costa, de Itajaí (SC), como revelou Jhonatan Morais, não foi tão afetada pela crise, com a sardinha sendo direcionada para a indústria, assim como aconteceu com os atuns. Diante de uma nova realidade, Giacinto Tasso, da Cais do Atlântico, apontou a dificuldade de planejamento como principal desafio. “Hoje não tenho mil quilos de peixes, mas amanhã temos dez toneladas e depois cem toneladas”, explicou.
A logística também foi um grande desafio. “Não houve como fazer embarques, com as vendas aéreas parando por 30 dias. Também houve acompanhamento das estradas para o transporte de larvas por caminhões”, relatou Ana Carolina. A Guabi também enfrentou problemas com o transporte, como explicou João Manoel Alves, o que provocou falta de matérias-primas. Ele defendeu mudanças de estratégia, com uma maior aposta nos produtos congelados. E destacou a necessidade de maior utilização da tilápia, para baratear o preço. “É preciso apostar mais nos produtos congelados, pois no interior tem pouco ou com qualidade baixa. É preciso atingir o consumidor de maneira mais eficiente”. defendeu. As dificuldades de logística em função da crise sanitária também foram relatadas por Lucas Granuzzo, da Aquabel. Mas revelou que houve uma aceleração do mercado, com três meses de recorde histórico. Ainda que com adaptações, o cenário também está positivo para o Grupo Ambar Amaral, segundo Ramon Amaral. Houve redução de custos e automatização de processos. “Estamos acima da meta estipulada no orçamento”, afirmou, revelando que a demanda por tilápia chegou a até ser maior do que o produto perto da Pascoa. De acordo com Rodrigo Zanolo, da MSD Saúde Animal, os maiores vendedores de tilápia não foram afetados, mas sim os pequenos. E, além de defender uma maior automatização da aquicultura, fez um alerta sobre como se deve enxergar os números positivos de 2020. “A cadeia da tilapicultura está indo bem, mas a base de comparação é com um ano fraco”, comentou.
Indústria
internamente. Houve boas vendas em março, mas a queda em abril foi profunda, depois ocorrendo alguma recuperação. Ele também destacou a adoção de protocolos rígidos para manter o vírus afastado. “A sustentabilidade é um tema importante em qualquer cenário”, afirmou, algo também destacado por Thiago de Luca, da Frescatto Company. “A segurança dos alimentos vai estar mais presente. Vamos mostrar que já seguíamos protocolos e que agora estão ainda mais sério”, disse.
Alexandre Llopart, da Leal Santos, relatou que o setor de enlatados e conservas teve altos e baixos desde a eclosão da crise do coronavírus. Ele explicou que no mercado externo, com o atum inteiro congelado, houve uma queda da commodity, mas compensada pelo câmbio, que também ajudou
Ricardo Pedroza, da Maris/Compescal, relatou as depressões de preço por causa da dependência do food service, mas disse ter conseguido vencer o desafio, pois sua empresa está mais concentrada no varejo. A crise no food service também afetou a GeneSeas, como explicou Vicente Criscio, com a empresa sendo ágil para mudar as estratégias, se reposicionando no mercado. Já na Frescatto, o impacto foi muito forte, de acordo com De Luca, porque 80% dos seus clientes são bares e restaurantes. O estoque ficou muito alto e houve calote na Semana Santa.
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O nono webinar discutiu um importante desafio: como manter frigoríficos com produtividade, preservando a saúde dos trabalhadores, de forma a atender a demanda e superar os entraves com matéria-prima.
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Participantes: Alexandre Llopart (Leal Santos), Bruno Leite (Zaltana), Jair de Sordi (C.Vale), Ricardo Pedroza (Maris/Compescal), Vicente Criscio (GeneSeas) e Thiago de Luca (Frescatto Company).
Bruno Leite, da Zaltana, relatou o estrangulamento de canais de comercialização no mercado de pescados nativos. Houve uma onda séria de cancelamentos de pedidos de congelados e frescos em março, com uma redução de 50% do projetado para a Semana Santa e os meses subsequentes. Mas, em sua visão, o mercado está começando a funcionar novamente. Essa retomada em junho, com a volta à normalidade, também foi relatada por Jair de Sordi, da C. Vale, com base na tilápia. A propósito do aumento de casos de Covid-19, ele rechaçou que os frigoríficos sejam “ambientes propícios” para o contágio.
Personagem
Medicados com peixe Expansão da pandemia força criatividade do trabalho de nutricionista do complexo do Hospital das Clínicas de São Paulo para introduzir mais pescado na dieta hospitalar
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nutricionista do Instituto do Coração (InCor) Anna Carolina Alves se formou há quase 20 anos e iniciou a carreira com um estágio voluntário no complexo do Hospital das Clínicas de São Paulo, vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), que reúne sete unidades hospitalares divididas por especialidades. Mesmo com a especialização em cardiopneumologia, experiência em transplante pulmonar e assistência à fibrose cística, ela nunca viu nada que gerasse tanto impacto na rotina dos profissionais da saúde como a Covid-19. “Os pacientes positivados com a doença normalmente são transferidos ao HC, mas mantivemos os pacientes cardíacos”, conta. No auge da expansão da pandemia, entre abril e maio, alas inteiras no próprio InCor foram isoladas e dedicadas a estas pessoas, que tinham o desafio específico de conservar uma alta imunidade como uma ferramenta possível para enfrentar as consequências do novo coronavírus. Junto a outras nutricionistas que atuam no local, ela desenvolve uma pesquisa para mensurar o quanto a dieta pode melhorar o estado dos pacientes internados ou atendidos em consultas.
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Ainda não há dados do período pandêmico, mas a percepção geral é a de que houve uma busca maior por alimentação mais equilibrada e saudável, de maneira a melhorar a imunidade. Esta não foi a demanda, no entanto, dos pacientes das classes mais baixas. “Algo que interfere muito de forma negativa para colocar [a alimentação saudável] em prática é a questão econômica. Basicamente atendemos o SUS e estes pacientes têm limitações financeiras. O paciente vai ao supermercado e prefere uma salsicha ou linguiça.” Ela relata ainda que, ao pedir por uma alimentação mais saudável, muitos destes pacientes entendem que precisa comer mais verdura, legumes e frutas. “Já é de comum acordo que a carne de pescado é saudável, é uma proteína de alto valor biológico, tem todos os aminoácidos fundamentais para o organismo, ômega-3 etc., mas existe uma dificuldade na inserção do peixe de maneira geral na dieta do brasileiro”, confirma Alves. “Quando o paciente pensa no peixe, pensa em peixe frito. Tendemos a estimular preparações saudáveis, mais saborosas, formas de preparo de maneira que possamos estimular e explorar bem o sabor, porque é gostoso mesmo.” Entre as espécies mais comuns, a nutricionista destaca o cação pela textura mais firme e possibilidade de grelhar. “Com um peixe muito macio perdemos [a textura] e a apresentação fica feia ao paciente.” Para as dietas pastosas, normalmente se usa merluza com molho. Ela confirma que gostaria de diversificar, mas os recursos escassos acabam levando as licitações a espécies mais baratas. A contrapartida é estimular formas de preparo diferentes, tanto aos pacientes internados quanto aos que voltam para casa e não sabem como preparar. “Fazemos bolinho de peixe, suflê de peixe. Usamos a gastronomia com a dietoterapia, para mostrar que é possível fazer isso em casa”, conclui.
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