MKT & INVESTIMENTOS
SUPLEMENTO
Fenacam e IFC: o retorno dos eventos presenciais
As tecnologias que levarão os frigoríficos à vanguarda
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FAO declara 2022 ano dos artesanais, ainda à margem das engrenagens da comercialização
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Pequena escala, grande valor SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2021 •
seafood
#41 - Out/Dez 2021 ISSN 2319-0450
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Editorial
Olho no olho
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uase dois anos depois de ver as grandes aglomerações do pescado interrompidas, o setor voltou a se encontrar presencialmente nos corredores de feiras de negócios. Nesta edição, trazemos a vocês o clima de reencontro e alegria que imperou na Fenacam (pág. 18) e no IFC (pág. 12). Mesmo com uma visitação aquém dos grandes momentos pré-pandêmicos, ambas as realizações sinalizaram um caminho de resgate do olho no olho, que estava tão em falta. O nosso calendário nunca deixou de ser ativo, porém, em razão de eventos exclusivamente online, como o Seafood Show Latin America Connect (pág. 66) - de onde extraímos uma convidada tão especial para a seção Cinco Perguntas (pág. 06) desta edição. Ambos os textos falam sobre a conexão dos aquicultores, pescadores e indústrias com o mercado, tema tão fundamental quanto a evolução tecnológica do beneficiamento dos nossos produtos (leia mais no Suplemento de Tecnologia de Processamento, na pág.47).
Enquanto caminhamos para nos tornarmos a potência global que merecemos no segmento, é hora de pensar em como não deixar ninguém para trás. Os pequenos produtores fornecem a maior parte do volume de pescado consumido pelos brasileiros, trazem variedade, frescor, saberes ancestrais e, por outro lado, um debate econômico, social e sanitário fundamental. O tema inspirou a FAO/ ONU a transformar 2022 no Ano Internacional da Pesca e Aquicultura Artesanais (IYAFA 2022), com a qual a Seafood Brasil colabora ao indagar “Qual é o lugar dos pequenos?”. As respostas - e muitas outras perguntas - que encontramos estão a partir da pág. 26. Boa leitura, boas festas e que façamos de 2022 um ano mais generoso!
Ricardo Torres - Editor-chefe
Índice
06 5 Perguntas
10 Na Água
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44 Na Gôndola
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12 MKT & Investimentos 24 Na Planta
46 Suplemento
66 Ponto de Venda
Capa
74 Personagem
Expediente Redação
redacao@seafoodbrasil.com.br Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor-chefe: Ricardo Torres Editor-executivo: Léo Martins Repórter: Fabi Fonseca Diagramação: Emerson Freire Adm/Fin/Distribuição: Helio Torres Foto de Capa: Divulgação/Idam/Alex Pazuello
Comercial
comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno
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Máxi Gráfica A Seafood Brasil é uma publicação da
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5 Perguntas à sócia-fundadora do Aqua-Spark, Amy Novogratz
Entrevista
Sustentabilidade: uma jornada lucrativa Amy Novogratz paga altas taxas de retorno a investidores que apostam em fundo direcionado à aquicultura sustentável Texto: Ricardo Torres
S
er capa da Forbes foi só mais uma etapa do amplo reconhecimento internacional alcançado por Amy Novogratz, sócia-fundadora do Aqua-Spark, um fundo de investimentos em projetos de impacto na aquicultura, sediado na Holanda. O título do artigo da revista norte-americana de economia deixa claro como as aquisições para
o portfólio do fundo - que inclui a brasileira Fisher Piscicultura - fazem parte de uma jornada que comprova como investir em sustentabilidade é um bom negócio. Mais de 190 investidores de 29 países foram atraídos pela proposta de fortalecer empresas aquícolas com inovações sustentáveis e injetaram US$ 148 milhões no fundo. E ganharam muito dinheiro: só em 2019, a Taxa Interna de Retorno (TIR) superou 20% sobre o montante investido. A liderança inovadora de Novogratz não para apenas no seu próprio negócio, como a própria conta em entrevista à Seafood Brasil. “Estamos construindo uma estratégia blueprint [com foco nos usuários dos produtos e serviços] para expandir toda a indústria de aquicultura.” No Seafood Show Latin America Connect você disse que o foco do Aqua-Spark na aquicultura vem da constatação de que estamos tirando mais do oceano agora que ele pode realmente aguentar, apesar do desejo
Acervo pessoal/Amy Novogratz
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Liderança inovadora de Amy Novogratz quer reordenar o negócio da aquicultura para fazê-lo substitir e prosperar
crescente da população por proteínas aquáticas. Qual você acha que seria o papel da pesca comercial no fornecimento de proteína aquática? Você acredita na pesca sustentável e investiria nisso? Achamos que existem alguns grandes grupos trabalhando na pesca sustentável, mas também algumas práticas de pesca comercial que precisamos encerrar. Meu ponto é: se você olhar para a crescente demanda por pescado, a oferta não virá do oceano, mas da aquicultura. A FAO diz que precisamos dobrar a produção da aquicultura até 2050. Participamos de grupos como o Fishing for the Future, que prevê a necessidade de triplicar a produção no período. A Aqua-Spark existe para investir e escalar soluções para os desafios de nosso setor de forma que práticas sustentáveis, transparentes e saudáveis sejam a regra. Estamos construindo uma estratégia blueprint [com foco nos usuários dos produtos e serviços] para expandir toda a indústria de aquicultura. Você também disse que não havia financiamento quando você começou a estudar o mercado da aquicultura. Por que acha que a aquicultura não era tão atraente naquela época? Você diria que essa atratividade mudou nos últimos 10 anos?
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O investimento que vimos para a indústria a partir de investidores
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5 Perguntas
“A Aqua-Spark existe para investir e escalar soluções para os desafios de nosso setor de forma que práticas sustentáveis, transparentes e saudáveis sejam a regra.”
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Divulgação
tornando mais acessível para investidores externos - eles não estão mais apenas olhando para uma caixa preta. Também agora há um registro crescente de investimentos no setor, o que não acontecia há uma década. Além disso, o mundo está mudando - a necessidade de um sistema alimentar controlado, eficiente, transparente e com pouca pegada é mais aparente e iminente para a maioria dos investidores do que antes. E há uma consciência crescente sobre o potencial da aquicultura para atender a essa necessidade. A aquicultura também está sendo responsabilizada Amy Novogratz na capa da Forbes: “Salvando a indústria de pescado de si própria” por impactos ambientais e sociais, assim como a pesca industrial. No externos em 2011 estava indo entanto, você disse no evento que principalmente para as empresas faltavam ferramentas para fazer públicas de aquicultura. Não víamos diferente. Existem ferramentas nenhum financiamento externo indo suficientes disponíveis agora para para as pequenas e médias empresas, atingir esse objetivo e ser lucrativo que na época representavam mais de ao mesmo tempo? 90% da aquicultura.
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Isso definitivamente mudou, desde que as fazendas se tornaram capazes de acessar o financiamento diretamente por meio de plataformas como XpertSea, no Equador, eFishery, na Indonésia, e Aquaconnect, na Índia. Ao mesmo tempo, vimos os investidores entrando no espaço da criação, apoiando o desenvolvimento de ingredientes alternativos para rações e tecnologia aquícola, por exemplo. Devido à digitalização e à demanda por dados, a aquicultura está se
Sim, a Valérie [Robitaille, CEO da XpertSea] deixou esse caso claro durante sua apresentação. Os carcinicultores que usam o aplicativo XpertSea são muito mais lucrativos. Eliminar o desperdício de ração e otimizar o crescimento é um exemplo claro de como ser mais sustentável, traz mais lucratividade. Você mencionou que a Fisher Piscicultura faz um ótimo trabalho ao contar ao consumidor a história de onde vêm seus alimentos.
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Você acha que a tecnologia, o modelo de negócio e a narrativa deles podem ser replicados em diferentes países ou só poderia acontecer no Brasil? Eu acho que tem de ser [replicado a outros países]. E estamos vendo cada vez mais fazendas percebendo que transparência sobre suas práticas é uma marca. Mercados como o XpertSea que ajudam a aumentar o valor dessas práticas, verificar os dados e fazer a história por meio de tecnologia automatizada e conectar produtores com compradores ajudarão a acelerar marcas mais transparentes. Notamos que a Aqua-Spark está investigando investimentos em aquicultura na África Subsaariana. Você acha que esta região específica será a próxima fronteira para o desenvolvimento da aquicultura sustentável? Por quê?
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A África Subsaariana é onde grande parte do futuro crescimento da população mundial acontecerá e onde o desafio alimentar se tornará mais severo. A população da região aumentará de 1 bilhão em 2021 para 2 bilhões em 2050. Como resultado, a demanda por peixes excederá os 10 milhões de toneladas hoje e em 2050, poderá atingir entre 16 e 29 milhões de toneladas métricas por ano. A produção da aquicultura deve ser acelerada para atender à necessidade crescente de proteína. O desenvolvimento da infraestrutura para uma indústria de aquicultura comercial sustentável exigirá um esforço colaborativo em grande escala de diversas partes interessadas e investidores comprometidos com o apoio à inovação e ao crescimento de longo prazo.
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O Zé Gotinha das tilápias
Na
Água Tecnologia para pesca e criação
Outro lançamento da Zoetis é a Alpha Ject® micro 1 TiLa, vacina monovalente para imunização contra as infecções causadas pelo Streptococcus agalactiae 1b em tilápias. Dentre os benefícios da solução, a empresa destaca a segurança aos animais até o fim do ciclo da vacina, imunidade sustentada por pelo menos 8 meses e eficácia comprovada em estudos realizados em campo e laboratório pela Pharmaq.
Crédito das fotos: Divulgação/Empresas
Vacina automática
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A Zoetis anunciou o lançamento da Fishteq NFT20, máquina que vacina, conta, mede e classifica os peixes. Segundo a empresa, o Brasil é o primeiro país a vacinar tilápias com este equipamento, que já é utilizado com sucesso em outros países para a vacinação automática de espécies como salmão e truta. Com a novidade, que padroniza os lotes devido a classificação dos peixes que se dá através do processamento de imagens individuais digitalizadas, a Zoetis espera que o piscicultor tenha maior performance na vacinação.
Banco de dados aquícola A Embrapa lançou uma plataforma online que reúne informações estratégicas sobre aquicultura. O GeoWeb do Sistema de Inteligência Territorial Estratégica (SITE) da Aquicultura é uma ferramenta comunicacional que disponibiliza dados do segmento aquícola e suas estruturas da cadeia produtiva, como associações, laboratórios de formas jovens, fábricas de ração e de gelo,
produtos para sanidade, equipamentos, entre outros. O objetivo da entidade com o sistema é facilitar o diálogo entre os formuladores de políticas públicas e os produtores aquícolas.
Velozes e furiosos A Aquatec desenvolveu uma solução feita especialmente para quem quer ter em seu sistema pós-larvas de camarões com crescimento rápido e uniforme. Trata-se da SpeedLine Aqua, solução com origem no programa de melhoramento genético da Aquatec com monitoramento de patógenos. Segundo a empresa, a solução é indicada para sistemas intensivos e extensivos, chegando a gramaturas acima de 15 g.
Direto na ração O Aquaflor 50% Premix é a solução apresentada pela MSD para proteção e tratamento de doenças causadas por bactérias. De acordo com a empresa, o produto é indicado para livrar espécies como tilápias, truta arco-íris e camarão vannamei de doenças como Septicemias hemorrágicas, doença da boca vermelha e NHP (Hepatopancreatite Necrosante). A solução está disponível em embalagens de 2 kg, com dosagem recomendada de 20 mg de Aquaflor (10 mg de florfenicol) por kg de peixe vivo.
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Marketing & Investimentos
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Cardume híbrido Terceira edição do IFC Brasil volta ao presencial sem abrir mão de recursos online para concretizar sua proposta de “feira de cadeia completa” Texto: Jéssica Feller, em colaboração especial para Seafood Brasil
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International Fish Congress e Fish Expo Brasil (IFC Brasil) confirmou a saudade e retorno, ainda que gradual, do setor de pescado aos eventos presenciais. Para o reencontro,
realizado presencialmente neste ano após a edição virtual em 2020, não deu nem tempo de desfazer as malas da viagem à Natal (RN) para a Fenacam 21. A 3ª edição da Feira e do Congresso, realizada dentro do resort
Recanto Cataratas em Foz do Iguaçu (PR), aconteceu pouco menos de uma semana depois, com a participação de mais de 1.400 pessoas. Além disso, centenas de participantes de mais de 10 países acompanharam de forma
Jéssica Martinez Feller
Feira e Congresso, realizados entre os dias 24 a 26 de novembro em Foz do Iguaçu (PR), receberam mais de 1.400 pessoas
Com temáticas amplas no congresso e painéis, a organização se esforçou para abranger questões inerentes à pesca selvagem, mas a aquicultura continua sendo o carro-chefe do evento. “Ainda precisamos avançar nesta
Palco de lançamentos Na área de exposições, os aquicultores puderam acompanhar novidades. A exemplo da Zoetis, que anunciou a Fishteq NFT20, uma máquina que vacina, conta, mede e classifica os peixes. “O Brasil é o primeiro País a vacinar tilápias com este equipamento, já utilizado com sucesso em outros países para a vacinação automática de espécies como salmão e truta. A introdução desta nova tecnologia impulsionará ainda mais o crescimento da tilapicultura brasileira”, disse o diretor da Zoetis, Renato Verdi. A Hipra, empresa farmacêutica veterinária, também apresentou a principal novidade no campo da vacinação: a aplicação por imersão. Inédito no Brasil, o método procura
garantir a produção de alevinos mais saudáveis e, consequentemente, mais rentabilidade para os produtores. Em conversas com expositores, foi possível verificar que as expectativas para negócios foram superadas. Eles indicaram que o público, além de bem informado, estava disposto a investir em novos maquinários, tecnologias e produtos. Segundo Altemir Gregolin, os 3 dias de evento movimentaram mais de R$ 60 milhões em negócios. Mas não foram somente os expositores que trouxeram novidades para o IFC: a própria organização do evento anunciou a criação da IFC Academy, uma plataforma digital que promete trazer cursos para especialização e aprimoramento dos atores ligados à pesca e à aquicultura. A Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR) também aproveitou a ocasião para lançar seu Guia de Biosseguridade. Leia a cobertura completa das novidades apresentadas no IFC na próxima edição da Seafood Brasil.
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remota, através da plataforma do IFC. Ao todo, foram 72 conferencistas de 16 países e mais de 110 empresas presentes, seja com estandes ou ações de marca, segundo dados compilados pela organização. “Além desse reencontro do setor de pescado, tivemos um volume de negócios três vezes maior do que o esperado”, comemorou a diretora executiva do IFC 2021, Eliana Panty.
questão cultural que divide a pesca da aquicultura”, ponderou o ex-ministro da pesca e aquicultura e presidente do IFC, Altemir Gregolin. Por outro lado, representantes do segmento reclamaram por terem se sentido escanteados em salas secundárias.
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Jéssica Martinez Feller
Durante o pré-congresso, no qual foram discutidas políticas públicas e o desenvolvimento da cadeia produtiva, o secretário nacional de aquicultura e pesca, Jorge Seif Júnior, fez sua fala diretamente de Brasília
Participantes do painel institucional (da esq. para a dir.): Jairo Gund, Altemir Gregolin, Márcio Ortega, Francisco Medeiros, Eduardo Lobo, Itamar Rocha e Jorge Neves
Formato híbrido: momento de transição
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A variante Ômicron ainda não havia sido anunciada, mas a cautela com a Covid-19 fez parte do evento, que adotou limitações em relação ao número de participantes e enfrentou restrições de movimentação de alguns palestrantes. Durante o pré-congresso, onde foram discutidas políticas públicas e o desenvolvimento da cadeia produtiva, o secretário nacional de aquicultura e pesca, Jorge Seif Júnior, fez sua fala diretamente de Brasília. “O governo federal entendeu que o setor pesqueiro precisa caminhar com suas próprias pernas, como a agricultura faz”, afirmou Seif, citando o fim da gestão compartilhada com o Ministério do Meio Ambiente. No mesmo painel, Eduardo Lobo, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), defendeu mais acesso a financiamento público. “Não estamos falando de investimentos de 45 dias, como acontece com os produtores de aves, mas de 9 meses de operações em que o setor privado precisa segurar os custos lidando com muitas adversidades”. Lobo ainda aproveitou para parabenizar o Estado do Paraná, no painel representado pelo secretário de agricultura e abastecimento,
Norberto Ortigara, pelos incentivos aos produtores aquícolas. A abertura do Congresso, cujo tema geral foi “Das águas à mesa do consumidor: Por uma cadeia competitiva, sustentável e focada no mercado global”, aconteceu no início da tarde do dia 24. Com a palavra, diretamente de Roma, o Dr. Audun Lem, vice-diretor da divisão de pesca e aquicultura da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Em sua breve apresentação, o Dr. Lem falou sobre a importância da cadeia produtiva pesqueira para a segurança alimentar no mundo e destacou o crescimento da produção aquícola. Também sublinhou a importância de uma gestão sustentável e afirmou que a mesma passa pelas novas tecnologias e inovações, que permitem mais eficiência em toda a cadeia produtiva e ao mesmo tempo, reduzem os impactos ambientais das atividades. Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, acompanhada de Seif Júnior, que citou negociações para criação de tilápia no lago da Usina Hidrelétrica de Itaipu
O modelo híbrido permitiu que os participantes que acompanharam presencialmente ou pela plataforma do IFC, enviassem perguntas e comentários através de um número de WhatsApp, disponibilizado durante o evento. A organização também informou que as gravações das palestras e painéis realizados no palco principal vão ficar disponíveis até o dia 26 de dezembro.
Cerimônia de abertura Depois de participar remotamente pela manhã, Seif Jr. foi presencialmente à abertura oficial do evento na comitiva da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, que também foi acompanhada do deputado federal Luiz Nishimori, presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Pescado, realizada na noite do dia 24. Apesar da expectativa entre os presentes, a ministra não fez nenhuma
Jéssica Martinez Feller
Jéssica Martinez Feller
Marketing & Investimentos
O IFC reuniu 72 conferencistas de 16 países e mais de 110 empresas presentes, via estandes ou ações no IFC 2021
Homenagem a Fábio Hazin e prêmios Nécton O momento mais emocionante do primeiro dia foi a homenagem realizada a Fábio Hissa Vieira Hazin, falecido em junho deste ano devido a complicações decorrentes da Covid-19. Intitulado “Fábio Hazin Memorial Lecture”, o tributo inaugurou uma série que trará todos os anos personalidades do setor para elaborarem um documento com predicações do futuro, que servirão como um guia para as próximas gerações. Rodrigo Hazin, primo de Fábio, recebeu em seu nome a placa que registra a homenagem citando a mãe,
Rodrigo Hazin também foi agraciado com o prêmio Nécton, na categoria pesca sustentável, pelo projeto OpenTuna. Os outros premiados foram a campanha Semana do Pescado; o Estado do Paraná, pelos incentivos à aquicultura; e o Sebrae, pelo apoio a nível nacional aos pequenos e médios aquicultores.
Festival de Tambaqui A Associação de Criadores de Peixes do Estado de Rondônia (Acripar), em parceria com Sebrae e Zaltana Pescados, realizou seu famoso Festival de Tambaqui da Amazônia dentro das instalações do hotel que sediou o IFC. Preparados em assadores rotativos, usualmente utilizados para frangos, 300 bandas de tambaqui foram servidas para cerca de 600 pessoas, no jantar do dia 25. “Para nós o Festival é de extrema importância, pois precisamos dar notoriedade ao tambaqui não só como produto a ser comercializado, mas também apresentando seu
Divulgação/IFC
Já o governo do Paraná, que sedia o evento desde a primeira edição, foi representado pelo vice-governador Darci Piana, que antes da cerimônia circulou entre os estandes da feira e conversou com os presentes.
filhos e esposa. Engenheiro de pesca, professor titular da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Fábio Hazin presidiu o Comitê de Pesca da FAO, assim como a Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico (ICCAT), entre muitas outras contribuições como representante do Brasil, pesquisador e acadêmico. Divulgação/IFC
declaração efetiva de investimentos ou abertura de mercados internacionais para o pescado brasileiro. No entanto, citou negociações para criação de tilápia no lago da Usina Hidrelétrica de Itaipu, que havia sido uma das temáticas da reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, naquele mesmo dia. Além disso, Tereza Cristina falou da sua intenção de trazer boas novas ao setor em sua próxima viagem internacional, tal fez com o agronegócio em sua recente viagem à Rússia.
Festival de Tambaqui da Amazônia ocorreu dentro das instalações do hotel que sediou o IFC
sabor único. No IFC tivemos uma oportunidade singular, pois lá estavam reunidos atores de toda a cadeia produtiva de pescado. Além de levarmos o conhecimento sobre o tambaqui e proporcionar essa degustação, tivemos acesso a investidores e pessoas que trabalham diretamente com processamento e distribuição de peixes”, contou Francisco Hidalgo Farina, presidente da Acripar.
A solução natural e lógica para seu cultivo de peixe e camarão ou fábrica de ração SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2021 •
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Marketing & Investimentos
Rostos do IFC
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lém do congresso, painéis, negócios e novas tecnologias, o IFC 2021 também foi palco para o reencontro de colegas do setor de todas as regiões do Brasil. Aqui você confere alguns registros dos três dias de evento.
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Roberto Wahrlich e Rodrigo Sant’Ana (Univali)
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Vanessa, Valdemir Paulino, Flavia, Jhenyfer, Samara, Marcelo Pauvels e Wander (Copacol)
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Victor Carvalho, Alessandro Roncolato, Bárbara Bustin, Leandro Bloemer e Fernando Fey (Bionova Energia Solar) Tamiris Salla e Raúl Benito (Hipra) Rodrigo Hazin (Norte Pesca), Roberto Imai (Sipesp), Ofélia Campigotto (Acaq), Fernanda Queiróz (Prefeitura de Joinville/SC) e Jorge Neves (Sindipi)
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Marcos Queiroz (MQ Pack)
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Marcelo Bratek (Zaltana Pescados), Ademar Morgan (Estância Morgan), Francisco Farina (Acripar) e Dulneia Bratek (Zaltana Pescados)
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Luís Gustavo Cardoso (UFRGS) e Ana Cláudia de Paula (Marinha do Brasil)
Juliano Kubitza (MCassab) e Francisco Medeiros (Peixe BR)
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José Ferrarezzi e Marcelo Shei (Altamar)
Letícia Arruda e Tamiris Sallar (Hipra)
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Kátia Mastroto (Aspiper), Vera Lucia (Aspiper) e Gilmara Junqueira (Bióloga/MG)
Jorge Neves (Sindipi), Jorge Seif Junior (SAP/MAPA) e Diógenes Lemainski (SAP/ MAPA)
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Jonathan Morais (GDC), Maurício Conceição (Camil) e Elisabete Karsten (Camil)
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Kaká Ambrósio e Lutty Chagas (DuPeixe)
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Luciana Bueno (Brazilian Fish), Sandro Santana (Brazilian Fish), Milena Amaral (Raguife) e Ana Amaral (Brazilian Fish)
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Gilberto Vaz, Maurício Brandão, Vilma Cléa, Betti Pimenta e Thaysa Capelari (Piscicultores/PA)
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Gilberto Vaz (Piscicultor/PA), Lúcio Moreira (Coprimar) e Maurício Brandão (Piscicultor/PA)
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Thiago, César, Sérgio, Aruan, Ricardo, Johanna, Carlos e Edelene (Supra)
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Geraldo Zimmerman (AquaGermany)
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Sandro Facchini (JBS/ Seara), Juliano Kubitza (MCassab), Mauro Nakata e Danilo W. N. (Piscicultura Cristalina)
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Eliana Panty e Altemir Gregolin (IFC)
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Camila, Narrima, Thaina (Unioeste)
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Anderson Sassi (Solsten), Douglas Gregório (David Gregório Neto) e Luan Souza (Solsten)
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Alana Farias, Marcus Vinicius, Manuel Braz, Claudio Alfaro (Engeconst)
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Mesmo menor, Fenacam ‘21 reforça laços no setor Carcinicultura brasileira volta a ter palco para atualização científica e comercial, apesar de números menores na visitação, número de expositores e trabalhos científicos
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Texto: Fabi Fonseca e UniAqua
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ada como uma pandemia para nos lembrar de um velho e sábio ditado: “a gente só dá valor ao que se perde”. E é com essa certeza que os reencontros presenciais se tornaram ainda mais especiais neste final de ano, apesar das incertezas ainda persistentes com novas variantes, como a Ômicron, e a alta de uma vacinação universal.
No período pandêmico, a carcinicultura também esteve separada presencialmente, ao menos nos eventos de âmbito nacional, então o reencontro presencial da 17ª edição da Feira Nacional do Camarão (Fenacam ‘21) teve um sabor especial. O evento promovido pela Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) pôde ser realizado presencialmente entre os dias 16 e 19 de
novembro, no Centro de Convenções de Natal (RN). No total, o encontro de 2021 contou com 1.201 congressistas no XVII Simpósio Internacional de Carcinicultura e XIV Simpósio Internacional de Aquicultura. Também foi contabilizado um público de 3.402 visitantes na XVII Feira Internacional de Produtos, Equipamentos e Serviços para Aquicultura.
UniAqua estreia na Fenacam 2021
Marilsa Patrício, da AquiShow na Rede, que esteve pela primeira vez participando da Fenacam, ficou impressionada com o tamanho do evento e com a boa receptividade do público: “Acredito que estamos no caminho certo no sentido de deixar contribuições ao setor, já que foi muito grande o feedback que recebi pelo trabalho que estamos realizando. Foi uma aula de maturidade do segmento de comunicação onde, sem vaidades, estiveram unidos para melhor divulgar as ações do setor.” A Fenacam 2019 foi o último evento presencial de grande porte antes da pandemia. Para Emerson Esteves, também da AquiShow na Rede, este período serviu para consolidação dos veículos de comunicação nas redes sociais. “Já participei de várias Fenacam, mas esta teve um gostinho especial. Primeiro pela retomada dos eventos presenciais e segundo pela oportunidade de conversar cara a cara com as pessoas e receber o reconhecimento pelo trabalho sério que estamos fazendo.”
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No Simpósio de Carcinicultura, o destaque ficou com as novas linhas de financiamento, além de questões de biosseguridade, especialmente voltadas para a convivência com a NIM, escoamento da produção, nutrição e agregação de valor foram os assuntos mais debatidos. Já no Simpósio de Aquicultura, onde tradicionalmente são apresentados temas relacionados às outras espécies aquáticas, destaque para espécies nativas com seus respectivos potenciais efetivos de produção. Vacinas autógenas e melhoramento genético para tilápia, peixes marinhos e sistemas de cultivos, também estiveram entre as novidades.
“A estratégia do estande Uniaqua no primeiro evento presencial da retomada foi dar o exemplo de como a junção de esforços pode ser produtiva e enriquecedora para a cadeia produtiva do pescado. A Fenacam foi um espaço para a celebração da nossa união em prol do objetivo de registrar e acompanhar a evolução da cadeia de pescado no País e esta cobertura conjunta já é um exemplo disso”, completou o editor da Seafood Brasil, Ricardo Torres.
Estande conjunto das mídias do setor serviu para fortalecer relevância da Fenacam e para sinalizar a importância da união das cadeias produtivas das proteínas aquáticas
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Apesar de a visitação e o número de expositores ter sido menor que em anos pré-pandêmicos, o que já era esperado, Rocha sustentou que a feira voltou a colocar em pauta “duas das mais estratégicas e importantes atividades [carcinicultura marinha e piscicultura de água doce]”. Na edição deste ano, além do Brasil, outros nove países participaram dos simpósios e mesas redondas, que atualizaram os produtores, fortaleceram as conexões e estimularam os negócios com temas nas áreas técnico-científica, comercial e empresarial.
“Muito mais que comunicar o universo da proteína aquática a UniAqua dá exemplo para o setor. Seja mídia impressa, online, áudio visual ou através da realização de eventos, defendemos uma coisa só. E a participação conjunta das mídias de comunicação na Fenacam foi só o começo de muita coisa boa que ainda vem pela frente”, observa Giovanni Lemos, da Aquaculture Brasil.
Divulgação/Organização
“Diante das incertezas da Covid-19, a Fenacam se descortinava como um grande desafio. Graças ao trabalho da sua Comissão Organizadora e, naturalmente, dos múltiplos apoios financeiros e institucionais dos seus tradicionais e novos patrocinadores e parceiros, transformou-se numa grata surpresa, pois além de manter o nível técnico e comercial das 16 edições anteriores, retratou muito bem o desejo de retomada da economia setorial”, disse Itamar Rocha, presidente da ABCC e da Fenacam 2021.
Outra novidade na Fenacam 2021 foi a estreia da União da Mídias de Comunicação do Segmento de Proteína Aquática (UniAqua), composta pelos veículos Aquaculture Brasil, AquiShow na Rede, Seafood Brasil e #VaiAqua. Foi grande o número de pessoas que pararam para saber qual o propósito da estande, estrategicamente posicionado logo na entrada da feira. Algo que Fábio Sussel, do canal #VaiAqua, fez questão de explicar em detalhes: “São mídias que defendem os mesmos propósitos, não concorrem entre si e que nasceram com identidade própria. É fundamental a gente dar este exemplo.”
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Produtores: o elo mais forte
Inovações tecnológicas
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A conclusão da organização é que a 17ª do evento foi fundamental neste processo de retomada de crescimento da carcinicultura brasileira no pós-pandemia, mesmo com a crise gerada com a queda dos preços do camarão. A aposta é que a recuperação do mercado aconteça já em 2022. “A participação dos produtores na Fenacam foi muito boa. E todos vieram motivados.”, destacou Rocha, que comemorou a entrada da Caixa Econômica Federal na edição deste ano. O banco inclusive lançou uma linha de crédito específica para os produtores, o que poderá facilitar a compra de equipamentos e insumos, além de linhas de crédito especiais, com juros baixos, para novos investimentos. Se a presença expressiva dos produtores e uma maior interação das instituições financeiras com o evento agradam ao presidente da ABCC, por outro lado a baixa adesão da participação da academia foi lamentada. “Não estamos atraindo, promovendo, financiando investimento nessa área e colocando essa turma de estudante jovem nessa área em campo. A pessoa faz mestrado, doutorado, passa a vida quase toda estudando e se qualifica num nível que não atende ao micro e pequeno produtor”, lamentou Rocha. Um professor entrevistado pela Seafood Brasil, no entanto, ressaltou que a pandemia e o difícil cenário de sucateamento das universidades ajudam a explicar a diminuição de trabalhos científicos apresentados e a menor presença de estudantes.
Divulgação
Destaque para lançamento de diversos produtos, como fermentados com vistas ao uso na alimentação do camarão, softwares para gestão de fazendas, máquina para despesca de peixe, rações nacionais para as fases iniciais do cultivo de camarão e aeradores com motor e transmissão blindados para evitar corrosão por conta da maresia.
Expositores procuraram levar novidades em tecnologias e soluções desenvolvidas durante a pandemia
SAMARIA RAÇÕES Além de levar sua nova linha para berçário e raceway (SM 450 PL), uma de liberação rápida e outra de atuação lenta, a Samaria Rações também aproveitou a feira para lançar a sua SM LINE 450 CLR, uma ração para altos desafios de salinidade e densidade. Para Marcelo Simão da Silva, gerente geral, a Fenacam deste ano foi importante para começar a desmistificar paradigmas voltados ao setor e ao consumidor. A partir de janeiro de 2022, o grupo dobrar a sua capacidade produtiva de ração.
MCR AQUACULTURA A MCR Aquacultura, que tem o próprio presidente da ABCC como sócio, é dedicada à elaboração, implantação e operacionalização de projetos de carcinicultura, incluindo assistência técnica operacional. Além destes serviços, a empresa ofertou ao público da feira todo o portfólio de atividades e serviços, incluindo a venda de aeradores importados no modelo paddle wheel e de ondas. “Em nosso estande o volume de vendas realizado só confirma a movimentação e crédito que os produtores demonstram com a Fenacam”, contou a tecnóloga em aquicultura Cristina Freitas.
BRUSINOX A Brusinox usou a feira para apresentar as possibilidades de automação disponíveis em seus equipamentos, uma novidade para o setor, como informa o gerente comercial, Ambrózio Leonel Bacca Filho. Segundo ele, é possível usar o software desenvolvido para automação de gestão de processo de linha da tilápia no processamento de camarão. Para ele, a carcinicultura nordestina já passou por diversas dificuldades, mas hoje acredita que já foram superadas, “pois os investimentos estão acontecendo e as perspectivas são muito boas. Temos negócios em andamento e isso comprova o otimismo do setor”, completou.
Abraços da Fenacam
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Ronaldo Yamada (Fremê Pescados) e Paulo Schumacher (Veromar)
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Maria Cláudia e Ana Carolina, Sara, Candy, Diego Maia e Ana Paula Guerrelhas (Aquatec e Symbiaqua)
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Luiz Eduardo Conte (Ammco Pharma)
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Marilsa Patrício (Aquishow), Assis Castellan (Global Peixe), Ana Carolina (Aquatec), Emerson Esteves (Aquishow/Global Peixe) e Claudio Doneaux
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Jorge Seif Junior (SAP/Mapa) e Francisco Medeiros (Peixe BR)
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José Crispim (Empresário de Luanda, Angola) e Fábio Sussel (VaiAqua)
Rodrigo Facundes, Fábio Sussel, Letícia Fernanda Baptiston e Thyago Oliveira (VaiAqua)
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George (iAqua), João Felipe Moutinho (Hipra), Alfredo Freire (iAqua) e Raul Benito (Hipra)
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Fenacam 2021 fica marcada como a primeira oportunidade massiva do calendário para reviver e reforçar os vínculos com o setor. Nos três dias de evento foi possível registrar inúmeros reencontros. Nossos agradecimentos à equipe UniAqua e aos demais participantes que nos enviaram fotos para constar nesta seção.
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reduzida, trazendo mais produção e rendimento, além de garantir a segurança dos alimentos.
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Planta Tecnologia em processamento de pescado Crédito das fotos: Divulgação/Empresas
Dinâmica pesada A Ibercassel traz um equipamento para quem sempre desejou ter um controle de peso dinâmico em sua produção: a Controladora de Peso Teltek C80. Com um raio-x, o equipamento realiza a inspeção de contaminantes por meio de um detector de metais, porém, sem deixar de lado a chance de o usuário realizar um controle dinâmico de peso de forma online e interativa.
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Filetagem vapt-vupt Durante o III International Fish Congress & Fish Expo Brasil, que aconteceu entre os dias 24 e 26 de novembro de 2021 em Foz do Iguaçu (PR), a Marel fez o lançamento oficial da nova Filetadora FilleXia, equipamento de automação para o processamento de tilápia que processa até 40 peixes por minuto. Com layout compacto, a ideia da empresa com o lançamento é proporcionar manipulação
Irmãos do frio A Mayekawa destaca os compressores reciprocantes da linha Mycom. Segundo a empresa, a marca é ideal para atender a indústria de pescados justamente por necessitar de resfriamento em todo o momento da cadeia. A empresa também destaca para o segmento o IGF Freezer, equipamento compacto e higiênico que, ao ser atingido por um forte fluxo de ar ascendente e com a vibração sendo aplicada a partir de baixo, realiza o congelamento de maneira individual, sem aglomerar com algum outro pescado.
Inteligência Made in Brasil Também presente no III International Fish Congress & Fish Expo Brasil, a MQpack apresentou um sistema de pesagem e empacotamento
automático de peixe 100% nacional. A empresa destacou que a novidade foi pensada para gerar ganhos em precisão de 1.000 quilogramas por mês de pescados. Equipada com o MindSphere, sistema operacional de IoT (Internet das Coisas), o sistema ainda possui tecnologia aberta em balanças de múltiplos cabeçotes e empacotamento.
Senhor do frio O EKE 400 é a aposta da Danfoss para um controle da refrigeração industrial mais rápido e efetivo. Projetado para controlar evaporadores de refrigeração industrial em sistemas pequenos e grandes, o equipamento segue a arquitetura do Sistema de Controle Distribuído (DCS). Ainda segundo a empresa, o EKE 400 gerencia a operação completa no modo de resfriamento e várias formas de degelo, incluindo degelo a gás quente (controle de pressão/drenagem de líquido), degelo elétrico e degelo de água/salmoura.
Para quem fica ou para quem vai A Stanfer apresenta ao mercado diversos tipos de soluções logísticas pensadas para auxiliar a indústria, como porta paletes para carga pesada, mini porta paletes com revestimento metálico ou madeira, paletes de aço, bases e bandejas para congelamento, block paletes. De acordo com a Stanfer, essas soluções dão agilidade e segurança para quem procura algum tipo de solução prática e eficiente para logística, armazenagem e movimentação de pescados.
MINI PORTA PALETES
PALETE DE AÇO
BANDEJA DE CONGELAMENTO PORTA PALETES PESADO
PORTA PNEUS
BLOCK PALETES
RACK PORTA TAMBOR
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Sarah Oliveira/Lex Experts
Pescadores Alex de Jesus e Pedro da Luz de Jesus manejam cerco flutuante na Comunidade do Bonete, em Ilhabela (SP)
Ninguém fica para trás Invisíveis aos olhos da cadeia de produção e de consumo, pequenos e médios produtores buscam voz para saírem da margem dos arranjos produtivos e reafirmarem sua importância no fornecimento Texto: Ricardo Torres
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ritmo de ascensão do consumo e produção de pescado é vertiginoso. Entre 1986 a 2018, a aquicultura e a captura saíram de 101,8 milhões de toneladas em todo o mundo para 178,5 milhões de toneladas produzidas, das quais 156,4 toneladas foram para consumo humano, segundo os dados do mais recente State of The World Fisheries and Aquaculture 2020 (FAO/ ONU). O consumo global cresceu a uma taxa de 3,1% ao ano desde 1961, o dobro do crescimento populacional.
grande parte exerce uma atividade de pequena escala. Essa fatia econômica - que chega a 90% no caso da pesca em países em desenvolvimento - gera mais empregos coletivamente que armadores ou aquicultores em regime industrial, muitas vezes com volumes similares. Segundo a FAO/ONU, isso fica ainda mais flagrante no caso da pesca: enquanto a pesca industrial emprega 200 pessoas para cada 1.000 toneladas capturadas, pescadores artesanais empregam 2.400 pessoas para o mesmo volume.
No meio de tanta estatística, porém, podemos perder de vista que todo este volume é capturado ou despescado por de 100 milhões de pessoas, das quais
A produção em pequena escala, no entanto, deixa de fazer parte das estatísticas do fluxo global de pescado, que gera US$ 170 bilhões anualmente.
A própria FAO/ONU estima que de 90% a 95% dessa produção é consumida localmente, mas não há uma pesquisa mundial que o comprove. Assim como suas estatísticas, esse setor se torna invisível aos olhos da própria cadeia de produção e de consumo por uma complexa teia de dificuldades que passam por: formalização, aspectos sanitários, gestão de recursos naturais, dificuldade de acesso a mercados, questões de gênero, entre outras. Para atrair visibilidade ao tema, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 2022 como o Ano Internacional da Pesca Artesanal e da Aquicultura (IYAFA 2022). A Organização das Nações Unidas
A reportagem compilou nesta matéria alguns casos que dão voz a pequenos e médios à margem dos arranjos produtivos de grandes conglomerados empresariais. Em um cenário no qual mais da metade da população brasileira sofre com algum grau de insegurança alimentar e 19 milhões passam fome todos os dias, promover o acesso da pequena escala aos mercados não é utopia, mas uma necessidade.
Aquicultura ou pesca artesanais ou de pequena escala não têm uma definição universal. Segundo a FAO/ONU, esses termos descrevem unidades de produção relativamente pequenas, com entrada e saída de matéria-prima relativamente baixas e níveis limitados de tecnologia e pequeno investimento de capital. Eles são geralmente administrados em nível familiar, às vezes com um pequeno grupo de funcionários, ou em nível comunitário. O peixe é frequentemente vendido em mercados locais, mas também pode chegar aos mercados nacionais e internacionais. Há algumas legislações que adotam parâmetros como o tamanho de barcos, motorização, locais de captura ou criação, tamanho da lâmina d’água, o nível de tecnologia empregado e o caráter familiar do empreendimento. Outra definição diz respeito à finalidade: enquanto a produção em grande escala visa ao lucro, a pequena escala é uma mistura de busca pela segurança alimentar, geração de renda, meio de vida e alívio à pobreza. No Brasil o produtor de pequena escala se enquadra no conceito da agricultura familiar, que inclui assentados dos programas de reforma agrária, extrativistas, ribeirinhos, indígenas, quilombolas, pescadores artesanais, aquicultores familiares, povos da floresta, seringueiros, dentre outros povo considerados tradicionais.
O IYAFA 2022 se enquadra na Década da Agricultura Familiar das Nações Unidas, iniciada em 2019, com celebrações que visam proporcionar maior visibilidade aos pequenos produtores. O ano também pode funcionar como um trampolim para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030. Veja quais são os principais pontos práticos previstos pela ação: • Aumento da conscientização: compartilhamento de informações acessíveis e mensagens-chave sobre a aquicultura e pesca de pequena escala, inclusive por meio da participação em eventos e campanhas; • Interface fortalecida entre ciência e política: reunir e divulgar evidências, informações e conhecimentos necessários sobre a pequena escala para apoiar a tomada de decisão e os processos políticos de apoio a estes segmentos; • Partes interessadas empoderadas: capacitar aquicultores e pescadores artesanais de pequena escala para se tornarem parceiros iguais em todos os processos de tomada de decisão relevantes; • Parcerias: construir novas e fortalecer as existentes, tanto entre os atores de pequena escala quanto com outros parceiros do governo, órgãos de pesquisa, ONGs, setor privado, organizações regionais e outros.
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para a Agricultura e a Alimentação (FAO) adotou a visão de um mundo no qual os pescadores artesanais, piscicultores e demais trabalhadores da pesca sejam totalmente reconhecidos e capacitados para prosseguir com suas contribuições para o bemestar humano, sistemas alimentares saudáveis e erradicação da pobreza por meio do uso responsável e sustentável dos recursos pesqueiros e da aquicultura.
Ano Internacional da Pesca e da Aquicultura Artesanais (IYAFA 2022)
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O que é artesanal ou de pequena escala?
CRÉDITO: Divulgação/Secom/Sepror/AM
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Despesca de tambaqui no AM: produtores em pequena escala procuram caminhos para escoar a produção de forma legal
O lugar dos pequenos Produtores artesanais da aquicultura e da pesca têm entraves legais, sanitários e tecnológicos para prosperarem no acesso a mercados
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s efeitos da pandemia nas trocas comerciais, nos negócios e no modo de vida dos brasileiros foi ainda mais perverso para essa camada da nossa cadeia produtiva, muitas vezes invisível aos olhos institucionais. Os pequenos aquicultores e pescadores sofreram com o estrangulamento de seus principais canais de venda, principalmente o turismo, os bares e restaurantes. Com a queda no faturamento, muitos sobreviveram encurtando o caminho para vender diretamente ao consumidor final. Ao longo de 2020, foi comum observar nas redes sociais e nos grupos de trocas de mensagens os casos de produtores que passaram a fazer a venda direta sem intermediários. No âmbito da pesca, comunidades
tradicionais acionaram o WhatsApp para acionar e fidelizar a clientela. Na aquicultura, houve relatos de carcinicultores vendendo camarão vannamei direto nas principais avenidas de Natal, ou operando via e-commerce. “O instinto de sobrevivência do pequeno é muito grande, ele precisa daquilo como precisa do oxigênio para respirar”, atesta o professor, consultor e engenheiro de pesca Felipe Matias. Embora essa tendência de a pequena escala encurtar a cadeia tenha ficado mais flagrante durante a pandemia, isso é só a faceta mais recente de um processo histórico que os deixou fora dos principais canais de comercialização. O incentivo governamental à atividade primária cresceu nas últimas décadas, principalmente no que diz respeito à
cessão de áreas para fins de aquicultura - cujo processo está mais célere do que nunca. A pesca artesanal segue contando com o seguro-defeso, mas o fato de o benefício servir de pretexto para uma série de escândalos de corrupção vai diminuindo sua abrangência. Sobra para o mercado regular as relações de compra e venda de produtos, a ponta final do negócio do pescado que não se resolve facilmente para esses operadores. “Sempre víamos essa queixa dos produtores. Em grupo de WhatsApp notamos o produtor buscando comprador no momento da despesca: ele está com biomassa alta, a carga viral é a mais alta do ciclo de produção e é neste momento que ele busca comercializar a produção”, conta Rodrigo Carvalho, professor e co-fundador da plataforma Potimarket,
A formalidade como barreira Um outro modelo possível despontou com a criação do Selo Arte, em junho de 2018, legislação que prevê a equivalência sanitária de sistemas de inspeção municipais, de modo que produtos certificados na esfera municipal sejam submetidos à inspeção dos órgãos sanitários dos Estados e do Distrito Federal e, assim, habilitados à venda nacional. O nível de exigência, porém, é alto: é preciso cumprir com demandas de rastreabilidade, boas práticas de fabricação, adotar receitas comprovadamente tradicionais associadas à cultura local, procedimentos manuais e outros itens de uma lista que torna a obtenção do selo uma conquista para poucos.
Professora em cursos de Análises de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), Boas Práticas de Fabricação (BPF) e outros pré-requisitos para a qualidade e segurança do alimento em plantas frigoríficas, Sarah de Oliveira reconhece que o diálogo mais difícil não é com as comunidades tradicionais pesqueiras, mas com os fiscais e outros pares dedicados ao controle de qualidade. “Ser pequeno não é garantia de ser íntegro e comprometido, mas precisamos ultrapassar essa ilusão que se cria na inspeção de que um produto fabricado por comunidades artesanais nunca será regularizado. É um argumento sanitário travestido de preconceito.” Ela relata ter feito análises microbiológicas que atestam
60% da produção pesqueira provém da pesca artesanal (FAO/ONU)
99% das propriedades dedicadas à
piscicultura tem até 5 hectares (Censo Agrícola 2017 - IBGE)
74% dos carcinicultores do Litoral Sul Ceará tem propriedades até 5 hectares (Censo da Carcinicultura do Litoral Sul do Ceará ABCC/ Mapa 2017)
70% dos carcinicultores do Rio Grande
do Norte tem propriedade de até 3 hectares (Idema)
Camaroeiro Nilson Cardoso e catador de caranguejo Dovari Correia em Soure, na Ilha do Marajó (PA): autoridades sanitárias precisam levar em conta a realidade regional para viabilizar controle sanitário
parâmetros sanitários satisfatórios de um peixe transportado em carrinho de mão pelo pescador até o ponto de venda, o que deixaria os colegas de Oliveira de cabelos em pé. “Temos diversas publicações acadêmicas que fazem análises microbiológicas de peixes artesanais coletados em mercados específicos que terminam por generalizar o conceito de que o produto não tem qualidade. A própria ciência está indo contra.”
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O executivo é defensor de um modelo em que as indústrias inscritas no Serviço de Inspeção Federal (SIF) se instalem em pólos produtivos para funcionarem como âncoras para a absorção e formalização desta matéria-prima. “Estas indústrias são as reais financiadoras desta pesca de pequena escala, são as garantidoras do escoamento desta produção e, nos períodos de entressafra, são apoio e o suporte da sobrevivência destas cadeias que operam com espécies de defeso oficial”, completa Lobo.
Machado integra, junto à médicaveterinária e sócia da consultoria Lex Experts, Sarah de Oliveira, a Missão Pesca Artesanal, um coletivo de entidades, pesquisadores e representantes da sociedade civil que procura estimular a discussão sobre alternativas para garantir a segurança do alimento para o consumidor sem que as exigências de formalização de produtores sejam uma barreira para acesso a mercados. “Precisamos de um novo regramento que converse com tudo isso. A certificação vai muito além do aspecto de sanidade do produto, mas de preservação de comunidades tradicionais que dependem daquela atividade”, ressalta Oliveira.
Pequena grande escala: os produtores brasileiros de pequena escala em números
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A tecnologia é uma forte aliada nessa conexão e outras startups além da Potimarket já se propõem a desatar esse nó, como a DuPeixe e a Olha O Peixe!, mas para o acesso efetivo dos pequenos a mercados ainda há dois entraves de proporções gigantescas: a formalização do produtor e a regularização do produto a ser comercializado. “Enquanto não houver um trabalho de boas práticas e qualificação do produto, eu temo pela qualidade do pescado saindo direto da produção primária para a mesa do consumidor”, afirma Eduardo Lobo, presidente da Câmara Setorial da Produção e Indústria de Pescados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Além da complexidade de obtenção, o selo resolve apenas o problema de uma pequena parcela de produtores artesanais na lógica da comercialização. Quem faz cortes usuais no mercado, como filés e postas, não se enquadra, apesar de operar como um artesanal. “Quando se fala artesanal, não se está apenas falando de receita artesanal: está se falando de valor cultural, ambiental, tradicionalidade na atividade”, comenta a pesquisadora do Centro do Pescado Marinho do Instituto de Pesca (IP-Apta), Ingrid Cabral Machado. “Não é apenas um produto artesanal, mas toda uma cadeia produtiva artesanal.”
Divulgação/Sarah de Oliveira/Lex Experts
que busca conectar o produtor com o comprador de camarão.
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Divulgação
Barco Amaru I tem 25 metros de comprimento e estrutura para eviscerar e armazenar 30 toneladas de pirarucu para transporte das comunidades a centros urbanos
Fato é que qualquer estrutura de beneficiamento requer mais do que investimento financeiro e adequação à legislação. “Tem um desafio de mudar comportamentos, mas também as características da própria pesca artesanal: sazonalidade, volumes menores, diversidade de espécies. Como você monta uma indústria para uma cadeia sem uniformidade? Na aquicultura, você tem controle e planejamento.”
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Felipe Matias faz outra distinção entre a origem do pescado, que interfere diretamente na questão da qualidade. “O aspecto sanitário não é o cerne da questão na aquicultura como é na pesca. O produto só é tirado da água quando vai ser vendido e a maior parte da produção será vendida apenas eviscerada, para comercialização nas feiras livres. Em muitos casos este é o único processamento que se faz.” A própria evisceração, por mais simples que seja, oferece um risco sanitário importante. Para contornar o problema, muitas vezes evidenciado pelo filetamento a céu aberto à beira dos viveiros, a Embrapa Pesca e Aquicultura publicou um material recente sobre um modelo de uma Unidade de Beneficiamento de Pescado (UBP) aplicada a organizações da agricultura familiar. “A UBP foi construída com base em uma estrutura simplificada e de baixo custo que atenda aos requisitos mínimos exigidos pelo serviço de inspeção municipal e, também, a atual realidade dos produtores familiares. Isso permite levar aos agricultores e suas associações
e cooperativas um serviço de processamento seguro do pescado”, publicou a chefe-geral da Embrapa Pesca e Aquicultura, Danielle de Bem Luiz.
A empresa também defende o modelo da UBP móvel, que implantou em duas versões até o momento: uma para despesca e transporte resfriado de pirarucu à unidade com SIF da Mar & Terra em Dourados (MS), empresa vendida recentemente para o grupo Paturi; e a outra em parceria com a Piscis, de Fortaleza (CE) para operar na despesca e processamento de tilápia produzida em tanques-rede no açude Castanhão, em Jaguaribara (CE), que operou em 2018.
“A” de abastecimento O apoio da Embrapa Pesca e Aquicultura para a construção de uma alternativa é uma sinalização de como o Estado brasileiro precisa participar ativamente da inserção dos pequenos. Sarah de Oliveira se lembra que o Ministério da Agricultura inclui a palavra “Abastecimento”, o que se conecta com o Artigo 6º da Constituição Federal que define a alimentação como um direito social. Para cumprir esta prerrogativa, o Estado brasileiro criou um mecanismo de compras públicas que, na teoria, o torna um cliente da aquicultura e pesca de pequena escala e, ao mesmo tempo, um distribuidor de alimentos. Convertido agora em Alimenta Brasil pelo governo Bolsonaro, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) foi criado em 2003, ao mesmo tempo em que a Constituição mudou para abarcar o direito à alimentação. Para o alcance desses dois objetivos, o programa compra alimentos produzidos pela agricultura familiar, com dispensa de licitação, e os destina às pessoas
em situação de insegurança alimentar, rede pública de ensino e às Forças Armadas. Do ponto de vista sanitário, porém, o pescado vendido a compras públicas também precisa seguir a legislação que exige inscrição no serviço de inspeção correspondente àquela venda, o que na prática limita o alcance dos pequenos fornecedores. Para equalizar esta questão, a Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), levou cerca de 30 anos. A entidade existe formalmente desde 2011 e atende 55 comunidades ribeirinhas situadas na Reserva Extrativista Médio Juruá e tem a pesca do pirarucu manejado como uma de suas principais atividades. Em 10 anos, a captura do gigante amazônico saiu de 269 peixes na região para 2.271 peixes, o que gerou um imenso problema logístico: até o município de Carauri, distante 800 km de Manaus, as comunidades levam de uma semana a 10 dias para chegar com o peixe pelas “estradas fluviais” da Amazônia. Como assegurar a sanidade do produto por tanto tempo, em plena selva, com o calor e umidade característicos do local, sem garantir a refrigeração adequada? A solução foi o Amaru I, um barco de 25 metros com estrutura de prébeneficiamento e armazenamento de 30 toneladas. A embarcação, de propriedade da Associação dos Moradores da Reserva Uacari (Amaru), foi construída em Manaus com o apoio financeiro de um grupo de instituições como a Operação Amazônia Nativa (Opan) e da Fundação Amazônia Sustentável (FAS). Ele viaja com gelo em escamas e caixas térmicas para acondicionamento do pirarucu até a sede do município, onde a Asproc concluiu em 2021 uma Unidade de Beneficiamento registrada no Serviço de Inspeção Estadual (SIE), que permite o posterior traslado a Manaus para um registro SIF em outra UB e a venda ao Brasil inteiro. Hoje, 70% de tudo o que a Asproc comercializa com a marca Gosto da Amazônia é vendido para compras públicas.
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Sarah de Oliveira, Dariane Enke, Érika Furlan e Ingrid Cabral, da Missão Pesca Artesanal: coletivo trabalha para viabilizar regularização sanitária dos produtos da pesca artesanal
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Essa experiência, que o leitor confere em mais detalhes a seguir, é um dos caminhos possíveis para a formalização e integração dos pequenos produtores à engrenagem da comercialização de pescado no Brasil. Está longe de ser a única, porém. “É possível replicar modelos a outras regiões? Sim, em algumas funciona e para outras não. Não é por não se ajustarem a algum modelo é que os pequenos estão fadados a fracassar”, ilustra Felipe Matias. A trajetória dos pequenos é tortuosa e coleciona fracassos e alguns sucessos, como veremos a seguir, mas o maior contingente de fornecedores de pescado do País segue tentando achar seu lugar.
Acervo pessoal/Kátia Mastroto
Capa Katia Mastroto e Vera Lúcia Pereira, piscicultoras em Presidente Epitácio (SP), buscam ampliação de mercados enquanto promovem inclusão de outras mulheres no negócio
Equidade, renda e capacitação Produtores de pequena escala diversificam atuação para acessar mercados e estimulam geração de conhecimento e renda em suas comunidades
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atia Mastroto não é lá uma grande fã de peixe, mas o destino a levou direto para a aquicultura. O curioso é que, sempre que podia, tentava se afastar da criação de tilápias que o pai conduzia em Presidente Epitácio (SP). Ela morava em Caçapava (SP), a 750 km de distância. “Meu pai sempre queria me levar aos tanques, mas eu não queria nem passar perto. Depois que ele faleceu [em 2017], eu fui ver os tanques e tomei gosto”, diz a empresária. A autodeclarada empresária opera o negócio em parceria com o irmão, o marido e duas funcionárias, mas compra o peixe dos membros da Associacão de Piscicultores de Presidente Epitácio e Região (Aspiper). Ela também atua como tesoureira da entidade, que reúne 16 associados capazes de produzir 370 toneladas
de tilápia por ano. O mercado para o peixe inteiro está garantido com os intermediários que revendem o produto à Ceagesp e forram uma carreta com 20 toneladas por despesca, acomodados em caixas plásticas de 20 kg. Mastroto e os demais produtores emitem nota fiscal e a Guia de Trânsito Animal (GTA) que acompanham a carga até a sua formalização sanitária na própria estrutura da Ceagesp. Para quem não gostava de peixes vivos ou no prato - pode soar como um contrassenso ela ser hoje a responsável direta por uma pequena agroindústria de produtos derivados de pescado na pequena cidade turística do interior paulista. “Faço kibe, bolinho de tilápia (puro, com provolone, com mussarela, sem glúten), pirão, salame, linguiça, peixe defumado…”, e a lista segue. A venda destes produtos, no entanto,
ocorre apenas dentro da própria cidade. O cenário pode mudar em breve com a adesão de Presidente Epitácio a um Consórcio Público Municipal que busca a equivalência do sistema de inspeção municipal ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI-POA). O programa padroniza e harmoniza os procedimentos de inspeção de produtos de origem animal para garantir a inocuidade e segurança alimentar. Para obter a certificação, é necessário comprovar que têm condições de avaliar a qualidade e a inocuidade dos produtos, assim como faz o Mapa. Outro instrumento que pode facilitar o processo e ampliar mercados para Mastroto e muitos outros produtores artesanais paulistas é a regulamentação da Lei nº 17.453, de 18
A 4ª edição do Prêmio Mulheres do Agro, idealizado pela Bayer em parceria com a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), concedeu pela primeira vez o prêmio a uma liderança feminina da aquicultura. Márcia Kafensztok, proprietária da Primar Aquacultura, estreou logo levando o primeiro lugar na categoria Pequena Propriedade. Criada como uma fazenda de ostras e camarões orgânicos, aos poucos a empresa se tornou um canteiro para pesquisas acadêmicas. Hoje já são 18 universidades federais conveniadas com a Primar, instalada em Tibau do Sul (RN), para pesquisas. “São contratos formais para recebimento de estudantes para estágio obrigatório”, conta Kafensztok. Em 2019, a fama de celeiro de investigação científica chegou ao exterior e a empresa fechou o primeiro convênio internacional com a União Europeia, o AquaVitae. “O projeto junta 36 entidades ao redor do Oceano Atlântico
Em termos simples, segundo Viguié, a fazenda deve ter licença ambiental, respeitar requisitos trabalhistas, possuir sistemas de monitoramento eficientes que demonstrem claramente que a operação da fazenda respeita a comunidade local e o meio ambiente. O executivo crê no potencial da certificação de espécies nativas. “As incríveis espécies nativas cultivadas no Norte raramente são vistas nas prateleiras dos supermercados de São Paulo. Isso tem que mudar para dar valor a esses produtos. Também há trabalho a ser feito para exportar esses peixes incríveis. A certificação pode ajudar com isso”, completa. Divulgação/Secom-Sepror-AM/Acervo Pessoal
Despesca de tambaquis no AM: para o gerente da ASC, Laurent Viguié, peixes nativos podem acessar mais mercados com certificação
para fazer pesquisas com organismos de baixo nível trófico [posição dos organismos na cadeia alimentar].”. A Unesp é uma dessas parceiras, por meio da pesquisa de criação multitrófica integrada coordenada pelo professor Wagner Valenti, com macroalgas, ostras e camarões no mesmo sistema. O trabalho inclui o levantamento da ocorrência de macroalgas nativas e testes para o suporte de cultivo, crescimento e biomassa. “Este ano começamos a testar as macroalgas e também estamos experimentando um estudo de caso onde misturamos camarão, ostras e macroalgas”, frisa Kafensztok. Como a microempresária disse na ocasião do prêmio, o objetivo é transformar a Primar em um Instituto de Pesquisa em Aquacultura
Estuarina. “Fazer isso dá sentido à minha vida. Manter a fazenda como somente uma propriedade de cultivo de camarões e ostras não tem tanto significado para mim, mas voltála para um local de conhecimento, desenvolvimento de pesquisas e estudos, aí sim, isto é transformador e inovador”, reforça Kafensztok. Embora essa abertura à produção científica tenha tornado a Primar muito conhecida no universo acadêmico, o mercado também valoriza os produtos orgânicos da fazenda. As quintas de delivery - uma rota de entregas por alguns dos principais bairros de Natal - se tornaram famosas na capital potiguar quando a pandemia fechou o circuito de hoteis, bares e restaurantes que compravam o produto da empresa. “Em questão de 4 meses, saltamos de 70 para 500 clientes de consumidor
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Difusão de produtos e conhecimento
O programa de certificação de aquicultura Aquaculture Stewardship Council (ASC) completou 10 anos no ano passado e vislumbra a possibilidade de atender a produtores de pequena escala no Brasil, da mesma maneira como já promove a inclusão de pequenos carcinicultores no Vietnã. “Se um pequeno produtor for organizado; possuir procedimentos operacionais de alto padrão e estiver preparado para realizar melhorias, se necessárias, não há razão para que ele não consiga obter a certificação”, declara o gerente do programa no Brasil, Laurent Viguié.
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Quem também estava neste evento foram as integrantes do coletivo Missão Pesca Artesanal, que expuseram o peixe salgado e seco da comunidade da Enseada da Baleia, na Ilha do Cardoso (SP), uma receita de 1845. “É uma comunidade bem isolada, onde só se chega de barco. Eles trabalham com peixe salgado e seco, ova para bottarga e um produto chamado iriko [peixe seco e desidratado que pode ser consumido como aperitivo ou como tempero em arroz e sopas]”, conta Ingrid Cabral Machado, pesquisadora científica do Instituto de Pesca.
ASC quer certificar pequenos
Divulgação/Secom-Sepror-AM/Acervo Pessoal
de novembro de 2021 (Lei dos Produtos Artesanais de Origem Animal do Estado de São Paulo), o Sisp Artesanal. Criada após anos de pressão por queijeiros artesanais do Estado, a lei foi sancionada pelo governador João Dória durante a abertura do evento Mesa São Paulo, que reuniu chefs e pesquisadores gastronômicos no Memorial da América Latina, entre 18 e 20 de novembro.
Capa Márcia Kafensztok transformou fazenda de ostras e camarões orgânicos em centro de pesquisa global, mas não descuidou do mercado e investiu no delivery direto ao consumidor final
Divulgação/ Primar Aquacultura
da entidade saltou 10 vezes, para 46,8 mil peixes, enquanto a captura ficou em 2.271 indivíduos. “À medida que a comunidade começou a pescar e ter renda, começou a se engajar mais na proteção do território. Este é mais um recurso para viabilizar economicamente o território”, adiciona Dias.
final. Estamos vendendo cerca de 30% da nossa produção para o delivery, que corresponde a 50% do nosso faturamento.” O restante ocorre por meio de atravessadores que levam o produto direto da porteira da fazenda.
Redefinindo clientes e margens
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Na Amazônia, os atravessadores também seguem como os maiores clientes dos pequenos produtores do agroextrativismo, A logística, com barcos próprios, é um trunfo no poder de compra e influência desses intermediários junto às comunidades. É por isso que a Asproc aposta tantas fichas no barco Amaru I e na unidade de beneficiamento própria para o pirarucu em Carauari. “Sempre foi muito difícil o comprador chegar a nós para comprar. Isso nos desafiou a formalizar parcerias com unidades de beneficiamento na região metropolitana de Manaus e contratar o serviço de beneficiamento, depois assumir a comercialização”, sublinha o assessor da entidade Adevaldo Dias. Esse arranjo feito pela Asproc possibilitou uma remuneração 60% maior do que os ribeirinhos conseguiam na venda aos atravessadores. O resultado obviamente aumentou a adesão dos produtores ao projeto conduzido pela entidade. A pesca manejada do pirarucu ocorre sob autorização do Ibama nas Reservas Extrativistas (Resex), que libera a captura de cerca de 30% da cota anual. No período entre 2011 e 2021, a população de pirarucus nos relatórios
Como se vê, mesmo com a gestão de estoques proposta pelo Ibama, ainda há muito peixe que pode ser capturado, mas ainda não há demanda suficiente dos mercados. É por isso que um coletivo de pescadores assistidos pela Asproc nos rios Negro, Solimões, Juruá e Purus criaram a marca coletiva Gosto da Amazônia, com o objetivo de expandir a venda do pirarucu de manejo fora da Amazônia, com a abertura e consolidação de mercados nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. O esforço já rendeu só este ano dois festivais gastronômicos (DF e Rio de Janeiro), além da participação em outros eventos do gênero, mas os envolvidos não estão satisfeitos. “Nosso desafio é conseguir mais mercado. Queremos novos clientes para acomodar o maior número possível de comunidades extrativistas”, aponta Dias. Ele acrescenta que a pesca extrativista de manejo só acontece de setembro a novembro, um fator limitante para o planejamento de estoque. “Só consigo pescar aquilo para o que já tenha mercado. Precisamos chegar a maio com essas previsões de negócios fechados para saber o quanto precisaremos pescar.” Enquanto apenas 30% segue aos mercados das grandes capitais, o mercado institucional responde pelo
restante via PAA (atual Alimenta Brasil), coordenado no Amazonas pela Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror). A autarquia também tem outro programa que estimula a aquisição de produtos da agricultura familiar, o Peixe no Prato. Criado pela Secretaria de Pesca e Aquicultura em 2019, tem como estratégia garantir o apoio logístico para a comercialização dos pescados alvos dos piscicultores e pescadores, como conta o secretário-executivo adjunto de pesca e aquicultura do Amazonas (Sepa), Leocy Cutrim. Na prática, o Estado faz o papel do atravessador. “O objetivo principal do programa é adquirir pescado direto da fonte. O governo encomenda, oferece a logística, prepara a feira e o próprio pescador e aquicultor é que o vendem no local”, diz Cutrim. “Tiramos esta figura porque disponibilizamos a ele o caminhão frigorificado, gelo para abate, armazenamento, combustível e apoio na distribuição.” O dinheiro da encomenda cai na conta do produtor em menos de 30 dias. São mais de 100 pequenos piscicultores beneficiados, selecionados pela própria Sepa. Cada ação desta é chamada de emissão. Em 2019, foram 9 emissões, com volume comercializado entre 2 e 3 toneladas por edição. São 18 mil famílias beneficiadas pelo programa e, até o momento, 35 toneladas de peixe foram comercializadas. Com a pandemia, o programa se converteu em Peixe no Prato Solidário. No modelo, o governo faz a compra dos piscicultores e entrega diretamente aos consumidores, sem que uma feira seja realizada. “É um programa que se tornou de Estado, não mais da secretaria. O peixe é a vedete porque o maior consumidor é o Amazonas, onde todo mundo gosta de peixe.”
Programa Peixe no Prato Solidário aliou compras públicas de pequenos produtores a apoio assistencial durante a pandemia
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As mulheres da piscicultura de Presidente Epitácio iniciaram o projeto Cooperativa Mulheres à Frente. “Juntamos sete mulheres e começamos um curtume. Só trabalha mulher. Aqui na região não tem muito emprego, há mulheres que sofrem de violência doméstica, mas depende financeiramente do marido e não tem renda para sair de casa.” Para aumentar ainda mais a discussão desses temas, Mastroto e outras mulheres aquicultoras criaram um grupo que já reúne 130 produtoras. “E lá só entra mulher”, finaliza.
Divulgação/Sepror-AM
O caso de Kátia Mastroto, que não gosta tanto assim de peixe como os amazonenses, mostra como o aumento da renda pela diversificação da produção e do acesso a mercados também rende outros benefícios, como a inclusão da força de trabalho feminina.
Katiele Hurtado se tornou piscicultora e até construiu uma agroindústria no PR, mas a crise hídrica a tirou do negócio
Lições dolorosas
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Hurtado cumpriu com todos os requisitos para a obtenção do Serviço de Inspeção Municipal (SIM). “Tínhamos um peixe de muita qualidade, porque eu nunca quis manter estoque. Meu intuito era entregar no mesmo dia o pescado resfriado, respeitando nossa licença de 600 kg por semana.” Com a prosperidade batendo à porta, ela resolveu apostar no cultivo consorciado de tilápia com camarão da Malásia e teve sucesso. As vendas iam bem, mas a produção deu sinais alarmantes. Entre 2018 e 2020, a disponibilidade de água na propriedade, antes cheia de nascentes e pontos de captação, diminuiu drasticamente com a estiagem na região. Quando o inverno de 2020 chegou e com ele uma semana de frio negativo, Hurtado perdeu toda a produção. “Quando a gente é micro, a gente é muito suscetível a estes fatores, lamenta. “Eu teria continuado. Existem seguros agrícolas para diversas culturas, e se nós tivéssemos um seguro que cobrisse pelo menos os custos de ração e energia, isso já teria me
De indústria a peixaria Quando a médica-veterinária Ana Gabriela Lourenço Silva trabalhou na Mar & Rio, sentia falta de lambari para petisco, apesar da procura dos restaurantes que a empresa tanto atendia. A falta de uma padronização do produto, com fornecimento tão irregular, fez com que ela pensasse em comprar uma máquina especializada na evisceração deste produto. Ela se desligou da empresa em agosto de 2018 e no mês seguinte já se preparava para adquirir o equipamento e fazer um curso de reprodução de lambari para montar a própria empresa em Bady Bassit (SP). “Foi quando vi que o lambari seria bem rentável. O mercado queria um peixe de 6 a 7 cm, o que é alcançado em 2 a 3 meses. Ele se adapta muito bem ao nosso ambiente bem quente, daria para tirar de 3 a 4 ciclos por ano, se fosse bem eficiente.” Depois de articular com produtores locais, ela foi em busca da legalização da unidade. Assustada com o alto valor para ajustar a estrutura ao Serviço de Inspeção do Estado de Sâo Paulo (Sisp), optou pelo SIM e iniciou a obra no final de 2019. Quando o frigorífico ficou pronto e o rótulo de um lambari eviscerado, empanado e pré-frito já estava ajustado, a pandemia chegou. Com os reflexos da doença, os produtores desistiram de investir no lambari. Por outro lado, o mercado se fechou e a empresa suspendeu as operações de março até meados de agosto, quando parte da estrutura foi convertida em uma peixaria. Hoje, a Gabi Pescados compra peixe de produtores locais que a própria empresária inspeciona.
Tudo indica que a indústria dará lugar definitivamente ao varejo, mesmo depois da pandemia. “Vou esperar o Natal e a Quaresma para avaliar. Se conseguíssemos ao menos dois fornecedores de lambaris, podíamos continuar com a ideia do frigorífico. Se não der, minha ideia é vender o maquinário e expandir a parte do atacado e seguir no varejo”, projeta. Mesmo com o plano inicial frustrado, serão novamente as circunstâncias do mercado que nortearão a decisão - uma lição a qualquer pequeno empreendedor. Acervo pessoal/Ana Gabriela Lourenço Silva
Em 2017 ela iniciou o primeiro ciclo de tilápias e logo em seguida sentiu a necessidade de construir uma pequena unidade de beneficiamento para poder comercializar a produção localmente. “A intenção no início era só fazer a engorda e comercialização a um frigorífico, mas as pessoas pediam para eviscerar, fazer o filé etc. Unindo o baixo preço pago pelo frigorífico com a necessidade de peixe fresco diretamente ao cliente, decidi me legalizar para ter uma agroindústria de processamento.”
tirado do sufoco.” Sem gordura para queimar, como ela diz, a solução foi vender a propriedade a um pecuarista que transformou tudo em pastagem. Hurtado não desistiu da atividade, mas agora se concentra em um mestrado na área. “Gostaria muito de trabalhar com produção, é o que eu gosto e sei fazer.”
Acervo pessoal/Ana Gabriela Lourenço Silva
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esde que se formou em engenharia de aquicultura pela Universidade Federal da Fronteira Sul, Katiele Cardozo Carriel Ortiz Hurtado queria ser produtora rural. “Pegar um animal de 0,5 g e levar a 1.000 g era algo muito interessante.” Em 2016, ela financiou uma propriedade de 8 hectares em Coronel Vivida, no sudoeste do Paraná.
Acervo pessoal/Katiele Hurtado
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Ana Gabriela Lourenço Silva viu a pandemia chegar e estragar seus planos de ter um frigorífico focado no lambari para petisco
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O papel das grandes Enquanto pequenos enfrentam entraves sanitários e comerciais, empresas âncoras alimentam a organização de pólos produtores para garantir matéria-prima
“A
inclusão social que a pesca de pequena escala traz é gigantesca. Você tem um recurso natural que pertence ao Brasil e a possibilidade de uma população muito grande usufruir deste recurso, principalmente uma fatia que possui um IDH muito baixo.” Essa declaração poderia ser atribuída a uma líder comunitária ou presidente de colônia, mas ela foi dada à Seafood Brasil pelo representante máximo das maiores indústrias de pescado do País, Eduardo Lobo.
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Com atuação nas áreas da lagosta, pargo, atum, além da criação de garoupa e tilápia, o empresário difunde a visão de que as indústrias inscritas no Serviço de Inspeção Federal (SIF) podem assumir o papel de empresasâncoras, financiando a produção dos artesanais. “O dinheiro que o governo por hora paga aos pescadores que estão no defeso não é suficiente para manter as famílias e muito menos fazer os apontamentos necessários para a próxima safra”, opina. Lobo considera que a pesca do pargo, a lagosta e o atum praticadas no Norte e Nordeste do País são atividades de pesca artesanal ligadas à indústria de exportação. “O que caracteriza essas embarcações como artesanais em primeiro lugar é o tamanho, porque variam de 8 a 15 metros de comprimento, depois o tamanho da tripulação (5 a 6 pessoas) e a característica dos armadores (os proprietários dessas embarcações têm em média uma ou duas embarcações).” Alguns desses armadores prosperam no negócio e se tornam empresários, ampliando a força de trabalho e a quantidade de embarcações sob sua propriedade.
Uma das associadas da Abipesca, presidida por Lobo, viu isso acontecer claramente durante seu processo de expansão. Em 2014, quando a Crusoe Foods, filial da espanhola JealsaRianxeira, instalou-se em São Gonçalo do Amarante (RN), praticamente não havia produção local de atum. Como demonstramos na Seafood Brasil #28, porém, a partir de 2016 a pesca na modalidade de cardume associado começa a ganhar tração nas comunidades tradicionalmente lagosteiras do Ceará, como Itarema, e no Rio Grande do Norte, principalmente em Areia Branca. “Foi uma ótima saída, porque o foco era pesca de lagosta e, durante o defeso, eles não tinham o que fazer. O atum pode pescar o ano todo”, diz o controller, Fernando Botelho. A empresa se envolveu de cabeça no processo, auxiliando na reestruturação dos barcos, dando treinamento sobre descarregamento e manuseio do peixe, assegurando a melhoria de aspectos sanitários. Em 2018, com a pesca já consolidada e todos os dias entregando de 15 a 20 toneladas de peixe na indústria, muitos começaram a ver isso como um grande negócio. “É uma operação muito rápida, a gente paga praticamente à vista. Isso trouxe tranquilidade para aumento de frota e fez com que eles crescessem”, aponta Botelho. Com a matéria-prima nacional sob controle, a Crusoe hoje recebe até 40 toneladas/ dia atualmente, totalizando 600 toneladas/mês. Com a experiência dos armadores e o aprimoramento dos aspectos sanitários exigidos pela culinária oriental, boa parte da captura local dos 250 barcos legalizados na modalidade de sombra passou a ser destinada a restaurantes do Sudeste. O próximo
passo, já em curso, é prepará-los para exportação, o que atrai o interesse de mais empresas-âncoras. Recentemente, a empresa de Lobo, a Prime Seafood, anunciou que pretende construir uma fábrica para processamento de atum e lagosta em Areia Branca. A fábrica terá cerca de 45 mil metros quadrados de área e ficará situada na beira do rio Apodi. A estimativa é que o empreendimento consiga processar 7.500 toneladas de pescado anualmente, com foco nas exportações, principalmente visando à reabertura do mercado europeu. Em paralelo, a Prime anunciou ainda o lançamento de um Projeto de Melhoramento de Pescarias (FIP) da pesca de linha de mão da albacoralage, com apoio da importadora e distribuidora norte-americana Sea Delight e a International Pole and Line Foundation (IPNLF). Mediante o suporte dos pequenos, os grandes aos poucos ampliam ainda mais a abrangência.
Estaleiro no CE: absorção de atum pela indústria conserveira Crusoe Foods consolidou pólo pesqueiro
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Tecnologia orientada às vendas Startups buscam encurtar distâncias entre compradores e vendedores com o uso da tecnologia
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Segundo ele, o produtor fica inquieto e inseguro em função dessa relação de dependência. “Produzir camarão é um desafio enorme, tem várias chances de ter perda total e os preços não pagarem os custos. E depois desse trabalho todo é que ele vai avaliar se vai conseguir vender. Isso não é um estímulo ao crescimento da produção”, registra. Essa foi a principal motivação para a criação da plataforma, que ele considera como “mais uma cesta para o produtor colocar seus ovos.” Prestes a ser lançada, a plataforma possibilitará uma venda pontual a restaurantes, indústria e a sistemas de delivery, além da venda programada para 15 dias com um anúncio. “Talvez isso dê mais sustentabilidade no negócio”, aposta Carvalho, para quem a ideia é trazer o pequeno produtor informal para a formalização. “Queremos estimular um ambiente justo para todos, com equilíbrio de produtores e compradores.” As fazendas que produzem ao mercado nacional ou internacional tem um manejo diferenciado para assegurar a cor do camarão, prevenir off-flavor, areia no trato intestinal, uso de metabissulfito de sódio, entre outros fatores. Para levar o mesmo nível de qualidade aos pequenos, o
sócio de Carvalho, Wilfredo Blanco, desenvolvendo uma ferramenta para avaliar diversos parâmetros de qualidade por meio de uma foto tirada pelo próprio produtor.
Divulgação/Dupeixe
A
conotação pejorativa que o termo atravessador ganhou no nosso segmento não foi à toa. “A presença do intermediário para os micro e pequenos é muito forte e é uma relação de amor e ódio”, caracteriza o professor Rodrigo Carvalho, da Potimarket. “No momento em que ele está com problema de mortalidade e precisa vender rapidamente, há alguns intermediários que oferecem preços muito baixos.”
Geração de negócios A alta tecnologia também é o cerne da Dupeixe, plataforma que procura impulsionar a comercialização de pescado ao otimizar processos e ampliar o alcance das negociações, nos formatos de concorrência e leilão. “Nossa percepção sobre o mercado é a melhor possível, e entendemos que há uma necessidade bastante grande de romper com o analógico para entrar na transformação digital”, sustenta Kaká Ambrósio, CEO da Dupeixe. “E como 80% das empresas do mercado de pescado são formadas por pequenos e médios negociantes, existe um trabalho grande a ser feito para que eles possam incorporar a tecnologia no dia a dia, e aumentar produtividade e competitividade”, completa. O diagnóstico de Ambrósio e os sócios, Ivan Soares, Gustavo Guimarães, Lutty Chagas Câmara é de que o mercado sofre fortes dores por conta dos atuais processos ineficientes e obsoletos, muitas ligações por telefone, excesso de trocas de emails ou planilhas, dificuldades para operações de frete, inseguranças de crédito e qualidade de produtos. A solução proposta pela Dupeixe é integrar as oportunidades e processos com segurança nas transações, alternativas de frete especializado, videoconferências, entre outras funcionalidades. Compradores e vendedores se cadastram na plataforma, indicando seus produtos de interesse, e definindo os locais de sede e filiais. O comprador cadastra o seu pedido e a Dupeixe
Kaká Ambrósio, Felipe Matias e Lutty Chagas Câmara no IFC 2021: evento sediou lançamento da Dupeixe
gera um pareamento (match) de interesses, avisando vendedores da nova oportunidade. Depois disso os vendedores registram seus orçamentos, aos quais o comprador tem acesso e pode negociar com os que tiver interesse, escolhendo um lance vencedor para concluir a negociação. O pagamento é feito de forma segura direto na plataforma e a Dupeixe leva uma comissão de 4%, sem cobrar nada dos compradores. Por enquanto, a plataforma está rodando um teste-piloto na região de Campinas (SP). A partir dos resultados e feedbacks, fará o aprimoramento do produto para lançar a segunda fase. Os próximos passos incluem também parcerias comerciais por praças, onde representantes comerciais serão “embaixadores” e receberão um comissionamento pelas transações efetuadas pela sua base. Assim se estabelece um conexão entre o mundo real e o virtual pelo incentivo às vendas.
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Vô Augusto: gosto por ser pequeno A saga de uma família que conquistou o primeiro Selo Arte de Santa Catarina para pescado
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ensar grande tem outro significado para a família de Edson Juarez de Oliveira, microindustrial dedicado à fabricação de uma conserva tão tradicional quanto popular em Itajaí e outros redutos de influência germânica de Santa Catarina: rollmops.
Ele representa a terceira geração que mantém viva uma receita desenvolvida pelo tio de Augusto Santana de Oliveira Neto. Em 1963, o Vô Augusto e a esposa Norma Leandra começaram juntos a produzir conservas, entre elas o rollmops. O padrão familiar se instalou e se repetiu com o filho, Edson Juarez, que assumiu definitivamente a tradição de fabricação dos produtos junto à esposa, Rute Enedina Mendonça de Oliveira, nos anos 2000. Em 2007, o fundador terminou de converter sua própria residência em indústria e alcançou o registro
no Serviço de Inspeção Municipal de Itajaí (SIM), quando passou a operar com a marca Vô Augusto. Os ajustes realizados serviram de base para uma grande conquista, celebrada em outubro de 2021: o rollmops de Augusto, Norma, Edson e Rute conquistou o 18° Selo Arte de Santa Catarina e o primeiro na área de pescado do Estado. A conserva produzida ali se encaixa perfeitamente dentro dos critérios criados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para valorizar e reconhecer a qualidade de produtos artesanais; cumprimento de requisitos sanitários, mão de obra familiar, receita tradicional e o contexto regional. Trata-se de um produto fabricado um a um pelas mãos de seis pessoas, entre familiares e funcionários contratados, com a matéria-prima de pescadores locais. “A gente compra direto do barco, com boas práticas de manipulação”, atesta Oliveira.
O volume de produção atual beira as 3 toneladas/mês, vendidas a bares, restaurantes e empórios regionais. Mas o Selo Arte já permitiu alçar novos voos: estão em negociação com a Palmitaria Brasil, uma plataforma de comércio eletrônico sediada em Joinville (SC) que entrega em todo o Brasil. Foram dois anos até atingir a qualificação para o programa do Mapa, mas o histórico favoreceu. “Desde que passamos a ser fiscalizados, em 2007, tudo o que pedem nós temos como oferecer. Nunca tivemos uma anotação negativa, sempre temos este pensamento de trabalhar correto. Afinal, quanto mais controle você tiver, melhor a qualidade”, diz Oliveira. Uma loja em frente à indústria e o patrocínio de uma kombi alegórica para a Oktoberfest em 2022 (“Rollmopswagen”) fazem parte dos planos, que não vão muito mais além. “A pegada que tem em fábrica conserveira na Europa é produto pequeno, em pequena escala, que sustente a família com segurança”, define Oliveira. “O que me motiva mais é meu filho ter crescido, ter ficado comigo e trabalhado aqui. A família é uma responsabilidade dez vezes maior que ter um funcionário. Se um barco afundar, eu não posso abandonar”, crava o microempresário. Para ele, manter o barco navegando não requer maior ambição do que construir prosperidade de forma artesanal.
Divulgação/Vô Augusto/Cidasc
CRÉDITO: Divulgação/Vô Augusto
A preferência é pela sardinha-laje, que oferece mais resistência ao processo de enrolar, mas eventualmente também se usa a sardinha-verdadeira. Nada que não seja claramente indicado. “Temos de indicar no rótulo qual é a sardinha. Já temos dois rótulos prontos.”
Família Oliveira celebra a concessão do Selo Arte ao rollmops Vô Augusto, em outubro de 2021
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Gôndola A oferta de peixes, crustáceos e moluscos Crédito das fotos: Divulgação/Empresas
Empanados para toda obra A Japesca lançou uma nova linha de congelados ser a solução ideal para petiscos ou qualquer ocasião do dia a dia do consumidor. A linha contempla bolinhos de tilápia, cascudinho do mar e merluza já empanados e prontos para assar ou fritar. Os empanados Japesca estão disponíveis em embalagens econômicas de 300 g.
Churrasquinho de peixe
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A fim de dar mais praticidade à vida dos consumidores, a Costiero Pescados traz ao mercado os espetinhos de salmão. Em embalagens com 500 g e 5 unidades cada, os espetinhos podem
ser descongelados e temperados para o preparo em churrasqueiras ou grelhas. Segundo a empresa, a novidade também está disponível para o segmento food service, com embalagem de 45 unidades.
Ovas rubro-negras Empresa conhecida por sua presença no mercado gastronômico oriental, a Damm leva agora aos empórios especializados duas versões de tobiko, as ovas temperadas de peixe voador nas cores preta ou vermelha. Para esta novidade, a empresa apostou no visual do produto e está disponibilizando as ovas embaladas em potes de vidro com 90 g, que podem ser mantidas sob refrigeração
Direto do Titikaka A Truta Peruana, novidade da Komdelli, chega com a missão de proporcionar uma alimentação mais nutritiva aos consumidores. Vinda dos mais altos lagos do Peru, a Truta Peruana Komdelli é considerada pela empresa um pescado versátil, seja no preparo, seja no perfil de consumidores: a empresa aposta que o produto agrada os mais variados tipos de paladares, em especial os mais exigentes
e sofisticados. O produto está disponível em peso variável ou em 400 g.
Origami de salmão? A linha Alfresco da Frescatto foi pensada pela empresa para quem deseja praticidade no preparo de pratos que contam com salmão, em especial a culinária japonesa. O produto vem em porções cortadas de maneira milimétricas e detalhadas como os pratos japoneses pedem, tudo para que o consumidor tenha mais agilidade no preparo. O salmão resfriado em porções da linha Alfresco é disponibilizado pela Frescatto em embalagens de 400 g.
Pequeno bacalhau viking De origem da Noruega, o bacalhau zarbo é uma das apostas da Opergel para trazer uma alternativa de peixe seco e salgado ao consumidor brasileiro. Por ser o menor entre os tipos de bacalhau, esse produto possui carne firme e que não desmancha com facilidade enquanto é preparado. Segundo a empresa, o bacalhau zarbo
é ideal para caldos, pirões e bolinhos, mas também pode ser desfiado.
Dupla Salmão & Salmão A Robinson Crusoe oferece ao mercado um produto em dose dupla para quem é “salmão lover”: o Dualpack Salmão Sólido ao Natural. De acordo com a empresa, o produto, além de ter uma carne tenra, é uma fonte de vitaminas, fósforo e magnésio, benefícios esses que são típicos do salmão. Por fim, o Dualpack Salmão Sólido ao Natural ainda é indicado para ser degustado e usado nos mais diversos pratos.
Sabor + saúde
Para os fãs de milanesas
Desenvolvidos para levar sabor e saúde à mesa do consumidor, os produtos da linha Saint Peters da GeneSeas estão disponíveis no mercado de forma congelada ou resfriada. Para garantir as propriedades nutricionais do produto, após abater a tilápia, a empresa a congela rapidamente, procedimento este que conserva o frescor do peixe. Embalados a vácuo ou embalagem com zip, os produtos da linha Saint Peters estão disponíveis em embalagens de 250 g e 450 g.
Pensado especialmente para quem gosta de pratos à milanesa, a Congelados Artico oferece a Milanesa de Merluza. Temperado com ervas finas e com farinha especial que traz um crocante diferenciado ao pescado, o produto pode ser servido com os mais diversos pratos e com os mais variados acompanhamentos. Segundo a empresa argentina, a Milanesa de Merluza está disponível em embalagens de 500 g.
Sua conexão direta com as principais origens de pescado no mundo
Filé de Panga
Filé de Polaca
Lula (Anéis e Tubo)
Kani Kama
Filé de Salmão
Filé de Bacalhau
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Com Alimentos Yeda você se beneficiará de:
Suplemento especial de tecnologia para processamento de pescado
A
Seafood Brasil preparou este material com o suporte financeiro e editorial das empresas Brusinox, Deep Sea, Lex Experts, Marel, MQ Pack e Velho Chico para colaborar no aprimoramento da indústria de pescado brasileira. As empresas apresentam as principais novidades em equipamentos e serviços, enquanto os pesquisadores delineiam novas tendências. Para a contribuição científica dada a este suplemento, contamos com o auxílio do Instituto de Pesca (IP-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, da Embrapa Pesca e Aquicultura e dois consultores: os professores universitários Alex Augusto Gonçalves e André Luiz Medeiros de Souza - o primeiro pós-doutor em tratamento de pescado com ozônio pela Dalhousie University (EUA) e autor do livro Tecnologia do Pescado – Ciência, Tecnologia, Inovação e Legislação, atualmente na segunda edição, e o segundo doutor em tecnologia de alimentos pela UFRJ.
nutricionais e sensoriais. Além disso, muitas espécies são produzidas/ capturadas distante de seus mercados consumidores e precisam ser adequadamente preservadas e transportadas até seus destinos para o processamento e/ou consumo.”
De acordo com as pesquisadoras, a deterioração do pescado pode ocorrer por processos físicos, químicos e microbiológicos e se inicia logo após a captura e/ou a despesca. Assim, a maneira como esta etapa é realizada e a forma como o pescado é manipulado e conservado desde o primeiro elo da cadeia produtiva irá afetar sua qualidade até o consumidor final. “Cada vez mais o consumidor busca por produtos de alta qualidade e parte significativa busca por produtos pouco processados, com alterações mínimas em suas propriedades
Além dos métodos tradicionais para conservar o pescado como o resfriamento, congelamento, secagem, salga, defumação e enlatamento, elas mencionam ainda produtos e métodos mais recentes, como: (a) o uso de conservantes naturais; (b) tratamentos por altapressão hidrostática; (c) ozonização; (d) irradiação; e (e) tecnologia de campo elétrico pulsado. Com a ajuda das pesquisadoras, dos consultores e das empresas participantes, iremos abordar estas e outras inovações neste caderno especial.
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Como indicam as pesquisadoras do IP responsáveis pela colaboração da entidade à Seafood Brasil, as doutoras Rúbia Yuri Tomita e Érika Fabiane Furlan, a composição bioquímica da carne do pescado a torna extremamente benéfica para a saúde humana, mas também muito perecível, o que exige a utilização
de várias estratégias para que seu valor nutricional e qualidade sejam preservados e sua vida de prateleira prolongada o máximo possível. “Desta maneira, todos os macronutrientes como as proteínas e ácidos graxos poli-insaturados, bem como os micronutrientes, como os minerais, vitaminas e enzimas, dentre outros nutrientes presentes, devem ter seus benefícios à saúde e demais características preservadas para que assim, o produto fique disponível no mercado por mais tempo e evitando o refugo.”
Conservação
Beneficiamento
Consultoria
Embalagem
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miofibrilares do pescado, ajudando na preservação da integridade muscular, além de inibir a perda de umidade por gotejamento (drip loss) e prevenir a perda econômica durante o descongelamento e cozimento.”
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De acordo com o professor, a RDC 329/2019 trouxe outras novidades para o setor produtivo, com novas opções de misturas (blends) de aditivos para um melhor rendimento industrial, diferentes sistemas de empanamento, fazendo com que os produtos a base de pescado tenham uma melhor estabilidade ao longo do armazenamento, bem como uma maior segurança para o consumidor.
Indústria de processamento encontra em aditivos e ingredientes ferramentas de extensão do shelf-life sem fraudes econômicas com base na RDC 329/2019
Ingredientes de valor
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stima-se que entre 30% e 35% de todo pescado desembarcado ou despescado se deteriora antes de chegar ao consumidor em função de manuseio e processamento inadequados, como indicam as pesquisadoras do Instituto de Pesca (IP-APTA). “É importante se pensar em processos industriais que diminuam a carga de microrganismos deteriorantes, patógenos, parasitas e em tecnologias que prolonguem a vida de prateleira dos produtos, o que irá trazer ganhos econômicos, além do melhor aproveitamento do recurso e a sustentabilidade ambiental”, afirmam as doutoras Rúbia Yuri Tomita e Érika Fabiane Furlan. A indústria de processamento de pescado busca formas de melhorar estes indicadores e a eficiência operacional, mas carecia de um suporte legal para inovar no segmento 48
de aditivos e ingredientes para estender o shelf-life e melhorar o estágio geral de conservação do pescado, sem incorrer em fraudes econômicas. Após uma espera de 30 anos, o setor “finalmente enxergou uma luz no final do túnel”, descreve o professor Alex Augusto, quando a Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária publicou a RDC Nº 329, de 19 de dezembro de 2019, que estabelece os aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia autorizados para uso em pescado e produtos de pescado. Apesar de não constar inicialmente na consulta pública, os fosfatos foram incluídos em outras aplicações e não somente na água de glaceamento. “Ressalta-se que o fosfato é um aditivo de grau alimentar multifuncional indispensável para a manutenção das propriedades funcionais das proteínas
O professor ressalta ainda que a nova legislação incluiu e regulamentou o uso de alternativas naturais. A novidade vem em boa hora, já que as demandas do consumidor por produtos minimamente processados e alimentos sem aditivos químicos abre as portas para preservativos naturais, alertam as pesquisadoras do IP. “Esses conservantes naturais podem agir contra um amplo espectro de bactérias e fungos, além de, em sua maioria, serem ativos em baixas concentrações, atóxicos, não alterarem as propriedades sensoriais dos alimentos como odor e cor, além de serem competitivos sob o aspecto econômico”, explica. Entre eles estão os ácidos orgânicos, que possuem propriedades antimicrobianas e características hidrofóbicas, com aplicação por pulverização ou imersão do pescado. “Estudos europeus já foram realizados e indicaram que a mistura de ácidos orgânicos é mais eficiente, como por exemplo, a de ácido cítrico e lático, que inibiram o crescimento de bactérias e diminuíram a contagem de microrganismos aeróbicos, anaeróbicos, psicrotróficos, proteolíticos e enterobactérias em pescada”, detalha o professor. “Já o acetato de sódio, citrato de sódio e lactato de sódio também foram estudados e estenderam a vida de prateleira e melhoraram sensorialmente o pescado. Ácidos orgânicos também já foram testados e
podem ser utilizados para marinar e preservar pescado, desempenhando estas duas funções ao mesmo tempo em pratos ready-to-eat”, complementa. O professor André Medeiros cita um exemplo de aplicação de ácido cítrico para amenizar o off-flavor, ainda presente em uma série de produtos de pescado disponíveis no mercado. Ele cita a médicaveterinária Sarah Antonieta de Oliveira Veríssimo, que defendeu tese na UFMG em que constatou o efeito da adição de ácido cítrico em diferentes concentrações em filés de pacamã (Lophiosilurus alexandri) na redução da percepção sensorial do off-flavor e a carga microbiana do produto, sem interferir na composição química do produto. Na mesma linha, as doutoras Tomita e Furlan relembram o uso de óleos essenciais de plantas como limão, orégano, gengibre e alho como inibidores de crescimento de variados microrganismos, além de atividade antioxidante, melhorando sensivelmente as características físico-químicas (Bases Nitrogenadas Voláteis Totais e oxidação lipídica). “Além dos óleos essenciais, extratos naturais de algas marinhas também foram estudados como conservantes em tilápia e evidenciaram resultados condizentes com os padrões brasileiros para produtos congelados.” Segundo elas, esses ingredientes vêm sendo estudados em várias espécies de peixes, moluscos bivalves, entre outros, com sucesso. As pesquisadoras do IP mencionam ainda um tema muito sensível para o consumo de camarão: os sulfitos, conhecidos pela sua toxicidade e reações alérgicas que provocam em milhares de pessoas, especialmente quando utilizados em dosagens exageradas. “Estudos foram conduzidos com camarões tratados com catequina, demonstrando ser promissor como inibidor de melanose, bem como antimicrobiano e antioxidante para o camarão resfriado.”
Pescado para conservar pescado A ideia de utilizar compostos químicos obtidos de origem animal para a conservação de peixes pode soar um tanto curiosa. No entanto, a pesquisa científica no Brasil mostra que isso é possível. O colágeno é a principal proteína de tecidos conectivos (incluindo pele, ossos e tendões) de animais, enquanto a gelatina é produzida por hidrólise do colágeno. A principal matéria-prima é de origem bovina, mas os recentes casos de Encefalopatia Epongiforme Bovina (“Doença da Vaca Louca”) têm coibido o uso com essa finalidade. Entre os peixes, a tilápia tem se destacado, por seus altos teores de prolina e hidroxiprolina, que produzem géis e filmes com boas propriedades mecânicas, como explicam os pesquisadores da Embrapa Agroindústria de Alimentos (Angela Aparecida Lemos Furtado, Caroline Mellinger Silva e Fabiola Helena dos Santos Fogaça) e Embrapa Agroindústria Tropical (Ana Iraidy Santa Brígida, Henriette Monteiro C. de Azeredo e Men de Sá Moreira de Souza Filho), em colaboração exclusiva para a Seafood Brasil. Segundo os pesquisadores, colágeno e gelatina de resíduos de tilápia têm se apresentado como excelente material para a produção de diferentes materiais biodegradáveis, a exemplo de filmes para embalagem de alimentos, hidrogéis e aerogéis para diferentes aplicações biomédicas e farmacêuticas, emulsões para diversas aplicações (especialmente para carreamento de compostos bioativos nas áreas cosmética e de alimentos). “Dentro do projeto BRS Aqua estão sendo desenvolvidos produtos de valor agregado como: filme nanocompósito e aerogel de gelatina, e hidrogel, emulgel e nanofibras de colágeno; utilizando pele de tilápia como fonte de colágeno e gelatina”, explicam.
A Embrapa desenvolveu peptídeos bioativos a partir da gelatina, ou seja, “fragmentos” de “gelatina picotada” em moléculas menores. Além do uso nas indústrias de cosméticos e suplementos alimentares, o composto pode ser usados na própria indústria de filetagem, para melhorar a preservação dos produtos à base de pescado. “Combinada com outros aditivos, [a gelatina de pescado] pode ser utilizada como ingrediente para preparação de biofilmes que poderão ser utilizados para manter o frescor e aumentar o shelf-life de pescados que são vendidos resfriados. Estes biofilmes podem ser aplicados nas próprias embarcações logo após a despesca ou no pescado já tratado e eviscerado.” Já as pesquisadoras do IP mencionam a quitosana, polímero produzido comercialmente a partir da quitina obtida do exoesqueleto de crustáceos e insetos, como outra opção de conservante natural. “A quitosana já foi intensamente estudada em diversas espécies de pescado (peixes, ostra, camarão, etc), tendo sido estudada individualmente e em composição com várias outras tecnologias de preservação (embalagens, vácuo, congelamento, etc) e aditivos intencionais demonstrando eficiência na ação antimicrobiana e antioxidante, favorecendo a conservação da qualidade e vida de prateleira do pescado e seus produtos.”
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Divulgação/Sunwell DeepChill
feixe de elétrons, raio-X) e a dose mais adequada para cada situação tipo de alimento e produto, com a vantagem de que pode ser submetido à irradiação o produto já na embalagem final, o que evita a recontaminação.”
Versátil, o gelo líquido (slurry ice) pode ser usado tanto no porão do navio, quanto nas caixas de transporte pósdespesca, na indústria ou mesmo no varejo
Outra opção são bactérias ácido-láticas (sigla LAB, em inglês) e bacteriocinas, também estudadas para atuarem como bioconservantes de pescado. Elas competem pelos nutrientes e produzem vários metabólitos com atividade antimicrobiana, como os ácidos orgânicos (especialmente os láticos e acéticos) e peptídeos antimicrobianos chamados bacteriocinas, como o peróxido de hidrogênio e diacetil com função de conservante natural. “Algumas das LABs foram estudadas em algumas espécies de peixes, camarão e bivalves, principalmente em produtos frescos, mas também em produtos defumados e se mostraram eficientes no controle de patógenos como Vibrio spp e Listeria monocytogenes, sem comprometer os aspectos sensoriais dos produtos.”
Tecnologias sem regulamentação As propriedades do ozônio como antibactericida são conhecidas, mas sua utilização para desinfecção em plantas de processamento de pescado, apesar de ocorrer em alguns países, ainda não tem normatização no Brasil, indica o professor Alex Augusto. A pesquisadora Érika Furlan, no entanto, realizou um experimento na Unidade Laboratorial de Referência em Tecnologia do Pescado com o uso do O3³ 50
na água de lavagem no processamento de filés de pescada Goete, como substituto da água clorada. A aplicação não gerou resíduos na musculatura do pescado e nem na água residual do processamento, como ocorre quando se utiliza o cloro como sanitizante. “Nos EUA é reconhecido como um aditivo antimicrobiano seguro para uso em processamento de alimentos desde 1997 pela agência responsável, a Food and Drug Administration (FDA), tanto na sua forma aquosa como na gasosa”, conta Furlan. “No caso do pescado, já foi evidenciado que pode melhorar sensorialmente o produto, pois pode suprimir rapidamente odores fortes e indesejáveis. Assim, há necessidade de estudos para se adequar às condições de tratamento de acordo com o produto”, ressalva. Outro método não regulamentado é a irradiação por raios gama, feixe de elétrons ou raio-X para diminuir a carga microbiana. Segundo as especialistas do IP, estudos realizados com diferentes espécies de peixes, camarão, ostra, lula, produtos salgados, fermentados, frescos e congelados indicaram a eficiência da utilização da técnica. “Deve-se destacar que alimentos irradiados não se tornam radioativos e que estudos devem ser realizados para se estabelecer o tipo de radiação (gama,
Por fim, as pesquisadoras mencionam ainda a aplicação de campo elétrico pulsado (PEF – pulsed electrical field), que consiste em pulsos curtos e fortes de correntes elétricas, com duração de micro a milissegundos e intensidade na ordem de 10-80 kV/cm com o objetivo de inibir o crescimento microbiano. “Trata-se de uma tecnologia não térmica, onde o alimento recebe o pulso elétrico de alta voltagem que causa a morte do patógeno ou do microrganismo deteriorante, podendo também inativar parasitas e diminuir o conteúdo de umidade do produto tratado, o que pode ser uma vantagem no caso de elaboração de produtos congelados ou secos.”
Conservação pelo frio No caso da conservação pelo frio, a novidade fica por conta do gelo líquido (slurry ice), mais pelo seu ineditismo no Brasil em escala industrial do que pelo seu lançamento no mercado. “Ela é promissora tanto no seu desempenho (rápido resfriamento), como na possibilidade de uso dentro de uma embarcação, utilizando a água do mar”, explica o professor Alex Augusto. Com relação aos equipamentos congeladores, os avanços e as inovações tecnológicas estão focados na garantia de um produto congelado, com mínimo prejuízo físico (como formação de cristais de gelo indesejáveis). “O uso de congelamento ultrarrápido (criogênico) em gases liquefeitos (nitrogênio ou gás carbônico) combinado com um congelador mecânico (Congelamento criomecânico - cryomechanical freezing), com o ar frio produzido pelo equipamento de refrigeração convencional, ainda é uma alternativa com custo-benefício para o produtor.”
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Beneficiamento: processo em evolução
O
processamento de pescado está em pleno processo de inovação disruptiva com os conceitos da indústria 4.0. As tendências atuais de convergência homem-máquina-rede estão inaugurando uma forma de se produzir que 52
tornará automaticamente obsoleto tudo o que não apresentar o mesmo desempenho e eficiência. Como frisa o professor Alex Augusto, existem inúmeros exemplos de inovações tecnológicas. “Vão desde
um equipamento que retira a escama, eviscera e descabeça um peixe, como aqueles mais sofisticados que escaneiam a matéria-prima e entregam no final da linha filés porcionados (com cortes a jato d’água) e embalados.” Ele enxerga ainda um avanço no controle
Em novo galpão capaz de dar maior vazão às crescentes encomendas, Brusinox vê caminho longo entre o novo e o tradicional no setor
peixe. Isso pode ser explicado por determinadas variantes que interferem diretamente no formato e tamanho do peixe durante seu desenvolvimento, como a genética e nutrição aplicadas.”
Divulgação/Brusinox
O cenário começa a mudar, como mostra a mais recente aplicação da Marel para o peixe mais popular do País. “Para o Brasil, a empresa está lançando este ano a filetadora FilleXia, equipamento de automação, inédito no mercado, que vai revolucionar o processamento de tilápia”, defende Eduardo Weschenfelder, gerente de contas da Marel para o segmento no Brasil.
ou automação em equipamentos tradicionais, como defumadores, injetoras, tumblers, além da substituição de mão-de-obra humana por braços mecânicos (robotização), garantindo agilidade e padronização no processo”. O professor André Medeiros pondera, no entanto, que a automação do maquinário depende da espécie de peixe a ser beneficiada e não era tão comum no beneficiamento da tilápia. “Nesta [espécie], pode resultar em menor rendimento do produto final, pois há dificuldade de padronização anatômica dos animais, como a altura do lombo e o comprimento do
Por meio de componentes considerados “refinados” e um layout compacto, o equipamento automatiza a filetagem, processando até 40 peixes por minuto. “Com manipulação reduzida, faz com que o processador tenha uma produção consistente e precisa, com baixo custo e rendimento máximo, além de garantir a segurança dos alimentos”, garante Weschenfelder. Segundo o executivo, a empresa oferece soluções com a FilleXia e linhas de corte de acordo com as necessidades de cada processador. A lógica é simples. “Ao melhorar os processos, aprimoramos os produtos finais. A Marel auxilia os processadores de pescado a aumentar a automação, o que reflete no rendimento, na qualidade e na segurança, otimizando o processamento em cada etapa da fábrica”, sustenta. Para ele, plantas altamente automatizadas estão gradualmente se tornando um padrão em eficiência e produtividade e a indústria está rapidamente percebendo os enormes benefícios da robótica, da digitalização e do software de controle de produção. A indústria parece estar se aproximando de um grau de
maturidade antes visto apenas em outros setores de proteína animal. “Historicamente conservador no que tange a investimentos em tecnologia, o setor vem superando, nos últimos anos, essa resistência. Os principais players já têm investido em nossas tecnologias e estão colhendo os resultados com grande êxito. Essas experiências incentivam processadores de todo o País a direcionarem um outro olhar às tecnologias de automatização.” Weschenfelder aponta que boa parte do setor executava as rotinas de processo por meio de métodos convencionais, ainda que fossem mais onerosos a longo prazo. “Ainda encontramos alguma resistência de processadores em aceitar fatos e dados consolidados pelos processos automatizados, em função das crenças. É uma área plena de paradigmas a serem superados”, constata. O aumento crescente no consumo está contribuindo para alterar esta realidade, no entanto. “Com a sazonalidade da disponibilidade de pescado, o setor tem investido cada vez mais no cultivo para atender a demanda. O uso de novas tecnologias também contribui para que o processador consiga acompanhar esta evolução e a Marel enxerga no Brasil potencial para explorar, cada vez mais, a pesca e o cultivo, podendo atingir, no futuro, patamares como os da Noruega.” Para fazer frente à demanda, a empresa tem investido em inovações e na estrutura regional. Em 2021, inaugurou um novo escritório regional, em Campinas (SP), que abriga, além da fábrica, o Progress Point, o primeiro centro de demonstração da América Latina. Também ampliou as equipes regionais de projetos e serviços e mantém estoque de peças de reposição para atender à demanda crescente do setor de pescado na região. “A Marel 53
Divulgação/Marel
Máquinas da Marel filetam até 40 peixes por minuto com padronização garantida
investe anualmente cerca de 6% da receita, em nível global, em pesquisa e desenvolvimento.” Outro player local em amplo crescimento por toda a América Latina, a Brusinox acompanha cada passo da expansão aquícola do País, que já é o quarto maior produtor global de tilápia. “O processamento de pescado no Brasil vem crescendo muito bem, sendo que além do volume de produção, novos cortes e formas de embalagem vem sendo apresentados ao mercado. Além disso, os setores de genética e ração
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estão em constante evolução”, indica o diretor comercial, Ambrózio Bacca. Ainda assim, o executivo aponta dificuldades no convívio entre o novo e o tradicional. “Nosso maior desafio está em integrar nosso sistema com equipamentos que não possibilitem a geração de informação”, lamenta. “Hoje conseguimos fazer a gestão de fábrica por cada processo executado e com isso, conseguimos obter a melhor eficiência e produtividade possível na linha de processamento, sendo tudo online, permitindo ao gestor da
indústria tomar decisões imediatas e com isso evitando gerar prejuízos para a indústria.” Bacca diz que a tecnologia desenvolvida pela empresa permite monitorar, por exemplo, a produtividade e o rendimento da filetadora automática de pescado, por meio de parâmetros ideais. “Caso haja alteração nesses dados, a máquina informa ao operador o que precisa ser ajustado.” Além da filetadora, a linha automática compreende descabeçadora, evisceradora e a linha
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Divulgação/Brusinox
Painel de controle online da Brusinox: dados em tempo real permitem acompanhamento e eventuais correções de rota
de fluxo contínuo. “É uma solução que agrega muito para a indústria, pois melhora o rendimento e a produtividade, reduz a mão de obra e diminui o tempo de processo, que pode ser todo monitorado online em tempo real. Acreditamos que temos que focar em cada etapa do processo para obter o melhor desempenho de cada fase, monitorando e medindo seu desempenho a fim de não gerar perdas ao longo do processo”, adiciona. Se por um lado ainda há uma certa reticência das indústrias em aderirem às tecnologias mais inovadoras, os fabricantes também precisam se atentar a necessidades mais prosaicas dos funcionários, como a higienização. “Uma reclamação constante dos funcionários é em relação a máquinas utilizadas de difícil desmontagem para correta limpeza e sanitização das mesmas, o que demanda demasiado tempo para conclusão do processo adequado de higienização. É necessário, portanto, uma maior sintonia para promoção de facilidade
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do processo e garantia da segurança do produto final”, adverte o professor André Medeiros.
Uso racional dos recursos A sustentabilidade está na pauta das empresas fornecedoras de equipamentos para o beneficiamento, “com o uso racional de matéria-prima e recursos naturais, como a água e energia”, pontua o executivo do Marel. “Através de nosso significativo investimento em inovação e desenvolvimento de soluções digitais, nosso objetivo é impulsionar uma maior eficiência e sustentabilidade geral de toda a cadeia.” O professor André Medeiros faz coro ao discurso de Weschenfelder. “Observo também uma maior busca por maquinários ‘sustentáveis’, que reduzem o consumo de água e energia, e resultam em menor quantidade de resíduos – pontos relevantes, uma vez que as indústrias de pescado são conhecidas como grandes consumidoras de água e
geradoras de resíduos orgânicos.” Para quem quiser se aprofundar mais no tema, que também representa uma economia enorme de gastos para as indústrias, ele lembra da publicação “Manual para gestão da água e de resíduos do processamento de peixes”, disponibilizado gratuitamente na internet pela Embrapa (acesse em https://bit.ly/manual_agua_Embrapa). EMPRESAS CITADAS
Ambrózio Leonel Bacca Filho (47) 3351-0567 ; 9 9948 7667 bacca@brusinox.com.br
Eduardo Weschenfelder (19) 3414-9000 eduardo.weschenfelder@marel.com
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Divulgação/MQ Pack
Linha completa de pesagem e empacotamento da MQ Pack tem plataforma na nuvem que opera com big data e machine learning
Embalagens: eficiência e proteção
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uando falamos sobre a indústria 4.0 na seção passada, reforçamos o caráter disruptivo das novas tecnologias. Tais inovações envolvem automação (inteligência artificial, robótica, internet) e troca de dados (computação em nuvem), com o objetivo de melhoria da eficiência e produtividade dos processos, contextualiza o professor Alex Augusto Gonçalves. “Cada vez mais os processos industriais requisitam maior capacidade produtiva, bem como redução de custos, demandando assim maior número de máquinas automatizadas em suas linhas de produção”, explica. “Mas, ao mesmo tempo, há um ganho na padronização, na qualidade de um determinado produto e, principalmente, na segurança do operador”, completa. Entre as novidades com potencial para enterrar no passado as soluções anteriores estão o que o professor chama de “equipamentos de embalagem robótica usando tecnologia de dosagem inteligente”. Uma empresa brasileira tem se popularizado cada vez mais no segmento de pescado com estas novidades. Sediada em 58
Santo André (SP), a MQ Pack fabrica ao ano em torno de 30 máquinas do gênero, das quais 6 são equipamentos para o envase automático de filés, postas e outros cortes de pescado. Recentemente, a empresa fez a primeira exportação de um equipamento para pesagem e seleção automáticas. “Fechamos com um frigorífico do Uruguai para o uso com filé de merluza, parte do mesmo grupo da Planalto Fish, que já tinha adquirido a mesma máquina.” Os equipamentos da empresa consistem basicamente em balanças de múltiplos cabeçotes e máquinas de empacotamento no mesmo sistema. A empacotadora BSH 400, por exemplo, realiza o empacotamento de filés de tilápia e aplica zíper zippak ZB70 (boca de palhaço). A máquina é alimentada por uma esteira que traz os filés pesados e separados por uma balança horizontal de 16 cabeçotes. Um funcionário acondiciona os filés na máquina, que faz a pesagem automática e separa os itens de modo a formar pacotes de 400 g e 800 g.
A maior novidade para o segmento, no entanto, é uma empacotadora vertical, cujas primeiras unidades já foram vendidas para a Noronha e a Carapitanga. O equipamento é capaz de fazer um pacote pouch com zíper aplicado automaticamente, ou então o pacote convencional sem a base do pouch. A principal aplicação é para camarão ou kit paella. “Muitos ainda fazem o camarão no saco convencional, mas tem uma tendência forte de pouch no mercado, com zíper, fecho abre-fácil etc. Ela faz 30 pacotes por minuto, em pouch com zíper, o que totaliza 1.800 pacotes/hora”, explica Marcos Queiroz, diretor da MQ Pack. Tanto as empacotadoras horizontais (mais indicadas aos filés) quanto as horizontais possuem integração com sistemas de inteligência artificial na nuvem. “Na medida em que ela vai trabalhando, coleta dados e gera um big data histórico. De 30 em 30 segundos, ela vai jogando todos os dados de performance e configuração. Com isso, ela vai aprendendo com o funcionamento.” Queiroz indica que como todas as informações
ficam armazenadas na nuvem, o gerente ou diretor industrial podem acessar de qualquer lugar, em qualquer dispositivo. “Ele tem todos os parâmetros da máquina, se está ligada, parada, se o funcionário da manhã está operando melhor que da tarde. Dá para ter uma análise da performance.” Para o funcionário, a vida também fica mais fácil por conta do setup (configuração) de máquina, que costuma consumir muito tempo. Os equipamentos MQ Pack vêm equipados de uma plataforma na nuvem da Siemens, chamado MindSphere, que salva automaticamente os setups de máquina que geraram o melhor desempenho no envase de produtos. “Com o MindSphere, coletamos
infinitos dados do processo do cliente, armazenamos, aprendemos, e transformamos esse big data no máximo de eficiência possível ao cliente”, detalha. “Ou seja, quanto mais usa, mais aprende e melhor produz. E assim vamos nos tornando o melhor custo-benefício do mercado”, complementa.
Mensageiros da proteção Ao contrário do que muitos podem pensar, a embalagem cumpre um papel muito mais amplo do que meramente estético. Os envases podem conter informações fundamentais ao consumidor sobre a qualidade da cadeia do frio a que determinado pescado foi submetido, por exemplo. As embalagens inteligentes, como
esclarece o professor Alex Augusto, são um sistema que responde às alterações do ambiente ao redor do produto, emitindo informações úteis ao consumidor sobre possíveis alterações que ele tenha sofrido ao longo do tempo de comercialização, como exposição à alta temperatura e à formação de compostos voláteis desagradáveis (odor). “Considerandose a perecibilidade do pescado, tais dispositivos poderão ser bem úteis na monitoração da qualidade e do frescor desse tipo de produto. Semelhantes aos absorvedores, existem também várias marcas comerciais de sensores de frescor.” Ele cita, por exemplo, a OnVU™ Smart Seafood, da Bizerba, utilizada para diversas espécies de peixes frescos.
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Divulgação/Bizerba/Packaging Digest
ivulgação/MQ Pack
Empacotadora de pouches faz 30 pacotes por minuto, com aplicação de zíper ou outro fechamento, o que totaliza 1.800 pacotes/hora
Etiqueta inteligente da Bizerba denuncia se produto sofreu oscilações de temperatura no trajeto ao ponto de venda além do tolerado
Outro conceito de crescente relevância são as embalagens ativas, que interagem com o produto com o objetivo de prolongar a sua vida útil. “Isso é necessário porque os alimentos estão sujeitos a alguns agentes do meio externo que os fazem deteriorar mais rapidamente. Assim, além de conter e proteger o produto, a embalagem ativa passa a melhorar as características sensoriais, evitando a deterioração, prolongando a sua durabilidade e garantindo a segurança dos alimentos, pela inibição do crescimento de microrganismos patogênicos”, detalham as pesquisadora do IP, Érika Furlan e Rúbia Tomita. O professor André Medeiros cita nominalmente a tecnologia ATM, com atmosfera modificada pela utilização de composição gasosa préselecionada de gás carbônico, oxigênio e nitrogênio, entre outras combinações, que promovem a redução da carga microbiana e a boa manutenção dos caracteres de odor, textura, cor e sabor do peixe. Nesse contexto, salmão e tilápia resfriados em embalagens ATM têm se tornado um item comum nos grandes varejos nacionais. Ele faz um alerta para as embalagens a vácuo, que como todas têm vulnerabilidades na conservação dos alimentos. “Tanto na literatura científica como na prática do dia a dia, ocorrem relatos de crescimento da bactéria Clostridium spp., anaeróbia estrita, no vácuo do pescado”, informa. “Por isso, vem se utilizando filmes que permitem pequena e controlada troca gasosa, não o suficiente para diminuir a qualidade do pescado, mas 60
o suficiente para inibir a produção e desenvolvimento da bactéria”, explica. As pesquisadoras do IP mencionam ainda as embalagens com propriedades antimicrobianas, consideradas promissoras, uma vez que o agente antimicrobiano não faz parte da composição do alimento, podendo interferir nas características sensoriais. “Na literatura já foram citadas embalagens contendo extrato de café, alho, cebolinha verde, canela, pimenta vermelha, gengibre, quitosana. Entre possíveis agentes antimicrobianos, óleos essenciais de canela, cravo e própolis são promissores, além de serem achados em abundância e serem de baixo custo.” Criando um diálogo entre o capítulo de conservação e de embalagem deste suplemento, o professor Alex Augusto Gonçalves aponta uma possibilidade inexplorada no Brasil. O uso do gás monóxido de carbono (CO) tem sido uma alternativa na indústria de processamento de atum. “O frescor da carne de atum é avaliado por sua cor vermelha brilhante desejada, devido ao nível de mioglobina oxigenada presente nas fibras musculares vermelhas. A fim de reter sua cor vermelha fresca por um período mais longo, o gás monóxido de carbono (CO) tem sido usado no prétratamento da carne, bem como no sistema de embalagem em atmosfera modificada (ATM).” De acordo com Gonçalves, não há implicações diretas para a saúde ao comer atum tratado com CO. “O pré-tratamento com CO, antes
da embalagem a vácuo resulta em uma coloração estável, enquanto permite que a descoloração ocorra naturalmente ao final de um período de 28 dias (sob refrigeração, 2oC), de modo a não mascarar a deterioração”, aponta. Segundo o professor, isso garante que os consumidores tenham uma indicação visual confiável de frescor ao abordar as preocupações anteriores sobre a segurança do consumidor, já que ele não é enganado por uma cor atraente em detrimento da vida de deterioração microbiológica. Ele frisa que é importante observar a combinação correta de concentração de gás CO e tempo de exposição precisa ser determinada para a obtenção de uma data de validade desejada e, possivelmente, ser variada para diferentes cortes. Com relação aos aspectos legais, o tratamento CO de peixes e carnes é permitido em nível industrial em vários países, com exceção da União Europeia. “A reavaliação da permissão de CO como um pré-tratamento ou seu uso em ATM, em países não regulamentados, como o Brasil pode ser justificada.”
EMPRESA CITADA
Marcos Queiroz (11) 9 8981-6103 marcos.queiroz@mqpack.com
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Divulgação/Lex Experts
Sarah de Oliveira e Gustavo Faria, da Lex Experts: modernização de sistemas e desburocratização triplicaram a demanda da consultoria
Consultoria: sintonia com as mudanças
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processo acentuado de evolução tecnológica e normativa do nosso setor nos últimos anos abriu mais espaço à atuação especializada de consultores dedicados à resolução dos principais entraves necessários para o desenvolvimento do negócio. “O ano de 2021 trouxe mudanças consideráveis 62
no arcabouço regulatório relacionado à inspeção de produtos de origem animal e isso se refletiu nas demandas dos nossos clientes”, indicam os consultores Sarah de Oliveira e Gustavo Faria, da Lex Experts. Segundo eles, a informatização e a simplificação de procedimentos
oficiais, o aumento na transparência das informações pelo acesso público no website do Mapa e a crescente padronização e regulamentação de produtos triplicaram a demanda da Lex nos serviços de registros de rótulos, registros de novos estabelecimentos e suporte técnico nas importações e exportações.
No entanto, nem tudo foram flores neste processo. “A velocidade das mudanças regulatórias, embora muitas vezes necessária, gerou impactos econômicos negativos em alguns casos, o que poderia ter sido evitado com diálogos mais proativos, assertivos e transparentes entre governo e iniciativa privada”, revelam Oliveira e Faria. “Nesse cenário de incerteza regulatória, ficou ainda mais evidente o nosso papel em oferecer serviços que descompliquem os processos dos nossos clientes”, completam. Outro ponto fundamental para o setor foi a demonstração de que os diferentes setores do pescado estão muito ativos e atentos às tendências dos mercados, considerando as oportunidades e dificuldades trazidas pela pandemia. “A segurança dos alimentos é um assunto que ganha cada vez mais espaço na cadeia produtiva do pescado e a demanda por treinamentos nesse tema foi 24% maior do que nossa meta para 2021.” O professor André Medeiros, que também trabalha como extensionista da Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Fiperj), dá como exemplo a mobilização de armadores do Estado. “Observei neste último ano de 2021 uma preocupação de proprietários de embarcações pesqueiras de produção primária e
Auxílio à inovação por Alex Augusto Gonçalves
“No Brasil, existia ainda um impasse, pois inovações tecnológicas eram vistas pelo DIPOA/SDA/MAPA como preocupantes, principalmente por alimentar um problema muito discutido – a fraude econômica. Para melhorar ainda mais esse cenário, com uma visão global, buscando a maior competitividade, padronização, segurança e até mesmo vislumbrando possível implementação da rastreabilidade na indústria, o Mapa publicou a Instrução Normativa Nº 30, de 9 de agosto de 2017 – SDA/MAPA, que estabelece os procedimentos para submissão de proposta, avaliação, validação e implementação de inovações tecnológicas a serem empregadas em qualquer etapa da fabricação de produtos de origem animal em estabelecimentos com registro no Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal – DIPOA/SDA. No Art. 2º, alínea III da IN 30/2017, temos a definição para ‘inovação tecnológica’ como sendo o processo, equipamento, substância ou material, isolado ou em combinação, tecnologicamente novo ou significativamente aperfeiçoado, que proporcione a melhoria do processo de fabricação ou da qualidade do produto de origem animal. Portanto, chegou a hora de as indústrias buscarem o apoio técnicocientífico dos pesquisadores das inúmeras universidades espalhadas pelo País, e construírem um projeto bem alinhado com a inovação tecnológica (novos aditivos, novos equipamentos, novas tecnologias, como por exemplo, o ozônio, dentre outras), dentro dos padrões exigidos na IN 30/2017, respaldado principalmente com os resultados de pesquisas já publicadas na bibliografia técnico-científica nacional e internacional.”
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Rumo à exportação A consultoria Deep Sea, parte de um grupo de empresas que envolve a distribuidora Brazil Seafood, comandada por Alexandre Reis, quer ajudar a consolidar o Brasil como um fornecedor frequente de tilápia aos Estados Unidos. Há 25 anos no setor, o executivo vê um potencial tremendo para o produto brasileiro. “Enxerguei em 2017 a tilápia como o principal negócio para exportação de pescado do Brasil e abracei esse negócio”, conta. Para ele, diferentemente do camarão, que tem um consumo mais festivo e associado a ocasiões especiais, a tilápia é o peixe do dia a dia no mundo todo.
Ele age como se fosse um departamento de exportação terceirizado. Depois de resolver os ajustes aqui, ele aciona os cinco clientes do mercado local que fazem suas encomendas. Com todo o suporte realizado a três clientes brasileiros, Reis calcula que fechará o ano com 2600 toneladas embarcadas. As metas para o ano que vem, no entanto, são ambiciosas. “Acredito que neste ano de 2022 eu vou atingir uns 30 contêineres por mês, talvez até meados do ano.” O produto até o momento foi a tilápia inteira eviscerada, mas com as amostras enviadas – e aprovadas -, os filés devem ganhar cada vez mais participação.
suas entidades organizacionais frente à Portaria 310, de 24 de dezembro de 2020, que estabeleceu critérios e requisitos higiênico-sanitários”. A portaria está prevista para entrar em vigor em 29 de dezembro de 2021. “No Rio de Janeiro, associados do Sindicato dos Armadores de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Saperj) realizaram consultas técnicas com profissionais capacitados para a implantação da normativa em suas embarcações”, informa. A portaria também fez parte das discussões que compõem as capacitações e palestras da Lex. Um 64
dos cursos do portfólio da consultoria é o de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), com uma metodologia exclusiva desenvolvida pela equipe de consultores. “As turmas são formadas por grupos pequenos e, para agregar ainda mais conteúdo às aulas, em cada turma, convidamos técnicos de competência reconhecida nas suas áreas de atuação”, afirmam Oliveira e Faria. Com isso, eles contam que é possível alcançar empresários, consultores autônomos, técnicos e agentes governamentais. “Essa diversidade vem permitindo um aprendizado muito rico para todos.”
Divulgação/Deep Sea
O trabalho da Deep Sea conduzido por Reis começa na prospecção de plantas qualificadas e interessadas em exportar. “Organizamos o registro no FDA [órgão análogo à Anvisa dos Estados Unidos, que atesta a inocuidade dos alimentos], organizamos o formato das embalagens, explicamos como é o processo de produção exigido pelas autoridades norte-americanas, quem cuida do câmbio, despachante aduaneiro etc. Eu vou para a indústria e pego na mão”, brinca.
Segundo eles, a partir do curso, os alunos não só entendem a lógica da condução de uma análise de perigos e da construção de um plano APPCC, mas compreendem o papel como agentes geradores de resultados nas organizações em que atuam. “Não temos dúvida que esse é o futuro para os diferentes setores do pescado e nossos cursos serão cada vez mais personalizados no sentido de desenvolver a cultura de segurança dos alimentos”, dizem. “Temos convicção que o setor precisa acelerar o movimento nessa direção. Muitos empresários ainda não perceberam a
importância estratégica desse assunto para a saúde da população e para a imagem das suas organizações”, advertem os consultores, para completarem depois: “Em um mundo onde o consumidor está cada vez mais consciente, esse é um risco alto demais.” Muitos frigoríficos não só não conseguiram implantar um sistema efetivo de APPCC, quanto ainda patinam no gerenciamento de rotinas e no monitoramento de indicadores da produção. Já abordamos como a tecnologia e o maquinário podem ser aliados deste processo, mas a estratégia é desenvolvida por consultores como Gerlúcio Neri, da Velho Chico. “Nosso desenvolvimento é nas plataformas de controle dos processos, de forma a ajudar a tomar as decisões de imediato e antecipar melhorias, ultrapassar metas e chegar ao ponto de equilíbrio ideal. O maior ganho é uma indústria sustentável e com ganho expressivo dentro da cadeia.” A Velho Chico realiza a implantação do Sistema Lean Manufacturing (SIPOC, A3, KAIZEN, Excelência em consultoria industrial
Oportunidades para Indústrias:
TPM, Trabalho Padronizado, Cadeia de Ajuda, VSM, SLG) em toda planta industrial, com o aumento de 2% de rendimento no filé de tilápia e 25% de produtividade, além de garantir o gerenciamento da rotina de trabalho da equipe. Outro serviço é a Gestão do Planejamento e Controle de Produção, definindo o S&OP (Planejamento de Vendas e Operações) com a equipe comercial. No portfólio, ainda constam a gestão dos custos industriais, com redução de 10% do custo de processamento, além do gerenciamento do processo produtivo, gestão de KPIs, desenvolvimento do projeto da planta industrial, participação efetiva na realização do orçamento anual de todas as áreas da indústria, desenvolvimento de novos produtos de valor agregado como steak, kafta, quibe, produtos de exportação como filé congelado e fresco, além da gestão de equipes e fábrica de farinha e óleo. “O nosso maior desafio é a mudança cultural, assim, desenvolvendo um programa de aceitação assertivo”, Neri. para frigoríficos decompleta pescados!
EMPRESAS CITADAS
Alexandre Reis (85) 9 9210-1212 alexandrereis@brsf.com.br
Sarah de Oliveira e Gustavo Faria (47) 99971-9534 contato@lexbr.net
Gerlucio Neri (17) 99784-6742 gerlucioflavio@gmail.com
Novos Projetos para Plantas de Processamento:
Diminuição de Custo Industrial
Fluxo Contínuo
Mudança de Layout Operacional
Estudo de Refrigeração Linear
Estudo da Capacidade do Processo
Plataforma de Custos Operacionais
Treinamento e Gerenciamento de Rotina
Projetos Arquitetônicos e Utilidades
Ganho de Rendimento e Produtividade
Levantamento de Potenciais Oportunidades
Experimente a Velho Chico! CONSULTOR Gerlúcio Neri |
gerlucioflavio@gmail.com |
(17) 9 9784-6742 |
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Ponto de Venda
Conexões latino-americanas Seafood Show Latin America Connect chega como o mais focado evento do setor no continente e, já na primeira edição, contou com o patrocínio de 22 empresas e entidades de oito países
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Texto: Fabi Fonseca
O
estímulo à integração do mercado do pescado entre os países da América Latina ganhou um novo aliado. Criado pela Francal Feiras e Seafood Brasil, o Seafood Show Latin America Connect foi planejado para gerar conteúdo e negócios entre o continente e dos países da região com o resto do mundo. Realizado no formato online neste ano, o evento se apresenta como o mais focado nos aspectos
de comercialização de pescado no continente e, já na primeira edição, contou com o patrocínio de 22 empresas e entidades de oito países – Brasil, Argentina, Chile, Espanha, Estados Unidos, Noruega, Peru e Tailândia – o que possibilitou oferecer acesso gratuito a todos os inscritos. Entre os dias 18 e 20 de outubro de 2021, o evento reuniu 42 representantes de governos, entidades, empresas
e institutos de pesquisa nacionais e internacionais em painéis, debates e workshops sobre políticas públicas, marcos regulatórios, indústria, sustentabilidade, varejo, food service e campanhas de estímulo do consumo de pescado. Tudo para aquecer os motores para a edição presencial da Seafood Show Latin America, agendada para os dias 17 a 19 de outubro de 2022, no Pro Magno Centro de Eventos, em São Paulo.
DIA
“O papel do Estado no fomento ao comércio de pescado” foi tema do primeiro painel do dia. Jorge Seif Junior, secretário de Aquicultura e Pesca (SAP), abriu as apresentações. “Vemos que o principal papel do Estado brasileiro é permitir, proporcionar um ambiente de produtividade, seja na pesca ou na aquicultura, sem interromper, sem burocratizar a vida do produtor rural”, falou o secretário da SAP. Na sequência, o painel governamental contou com a presença de Carlos Damián Liberman, subsecretário de Pesca e Aquicultura do Ministério da Agricultura e presidente do Conselho Federal Pesqueiro da Argentina. Damián Liberman lembrou que o equilíbrio entre a produção e o meio ambiente é
central para o bem estar do negócio. Representando a principal força aquícola do continente, Alicia Lorena Gallardo Lagno, subsecretária de Aquicultura e Pesca do Chile, ressaltou como o país também tem a Corrente de Humboldt - muito rica em nutrientes, o que faz com que aquela nação tenha uma diversidade de recursos marinhos importantes. “Somos um país aquicultor, mas a nossa origem veio da pesca e continua sendo. Nós produzimos, mas também pescamos e exportamos mais produtos da pesca”, informou. Fechando o painel, Úrsula Desilú León Chempén, vice-ministra de Pesca e Aquicultura do Peru, falou dos avanços de consumo de peixes e frutos do mar naquela nação e da experiência do Peru em relação às pescarias sustentáveis e ao fomento do
comércio. Conforme a vice-ministra, um dos eixos principais do país está no avanço da formalização da pesca. “Em muitas regiões do país, é importante que o Estado não descuide e continue favorecendo o setor da pesca artesanal de menor escala e sua formalização”, destacou.
O papel do setor privado Com participação de Arturo Clement, presidente da SalmonChile, David Epstein, presidente do Comitê de Pesca e Aquicultura da Sociedad Nacional de Indústrias de Peru e Eduardo Lobo, presidente da Câmara Setorial da Produção e Indústria de Pescados do Mapa e da Abipesca, o segundo bloco do dia trouxe o papel do setor privado no fomento ao comércio de pescado.
Números do Connect
2.954 acessos 1.360 inscritos 30 horas de conteúdo 42 palestrantes de 10 países 104 reuniões na rodada de negócios com Brasil, Peru, Rep.
Baixe aqui o e-book: https:// bit.ly/e-book_ seafood_show
29 INSIGHTS DO SEAFOOD SHOW CONNECT 2021 sobre a Comercialização de Pescado
Dominicana, Argentina, Bangladesh, Alasca e Chile
DESDE 1969
Reveja ou assista a todas as apresentações aqui: https://bit.ly/seafood_connect
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O primeiro dia de evento se concentrou em temas institucionais com representantes de governos para entender como o Estado pode se conectar com a comercialização de pescado. A palestra de abertura foi realizada por Alejandro Flores Nava, chefe do departamento de Pesca e Aquicultura para a América Latina e o Caribe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), com o tema “O Pescado na América Latina: instrumento de prosperidade e segurança alimentar’’.
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Papel do Estado no fomento ao comércio de pescado
Connect/Divulgação
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Ponto de Venda
No primeiro dia do evento, os apresentadores Valeska Ciré e Ricardo Torres receberam Jorge Seif Jr. e Eduardo Lobo presencialmente no palco do Connect
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Para Lobo, se as indústrias de processamentos do século passado estavam aglomeradas em pontos de capturas e em sua maioria de maneira precária, o que vemos no século XXI é a interiorização desses estabelecimentos de forma a suportarem a expansão dos polos regionais. David Epstein destacou a missão da Sociedad Nacional de Indústrias de Peru como “sócio estratégico da pesca artesanal”. “Como dizia a ministra de pesca, a pesca artesanal é muito importante e deve seguir com a formalização da mesma para que, nós, dentro das indústrias, tenhamos uma colaboração conjunta”, completou.
do Serviço de Inspeção Federal; organização por processos; fiscalização periódica baseada em critérios de risco e a padronização de procedimentos. O painel ainda recebeu o Case Peru e Argentino. Do lado peruano, a fiscalização de processos baseados em risco foi apresentada por Juan Manuel Ipanaque Zapata, diretor de Supervisão e Fiscalização Pesqueira e Aquícola. Depois, Federico Ponce, representante do Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar do Senasa deu continuidade ao workshop destacando o controle sanitário para acesso global que os produtos argentinos possuem globalmente.
Workshop Regulatório LATAM
Comex
Com o tema “Regulatório América Latina”, o primeiro workshop do dia teve a apresentação do case Brasil: “O Mapa e o pescado - autocontrole, Selo Arte e digitalização de processos”, com Alexandre Campos da Silva, coordenador-geral de Inspeção - CGI/ DIPOA/SDA/MAPA. Entre os destaques estava a mudança e atualização
No Workshop - Comex, Aniella Banat, diretora da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) resgatou o histórico de acontecimentos entre Brasil e a UE que ocasionaram na suspensão do envio de pescado brasileiro ao bloco europeu. Ela lembrou também que a retomada das exportações de
Carlos Liberman, subsecretário da Argentina, ressaltou necessidade de equilíbrio entre a produção e o meio ambiente
pescado à UE não depende apenas das ações governamentais. Logo, os produtores precisam estar com base nas regulamentações e certificações exigidas para a exportação, como os requisitos gerais e de higiene; níveis de contaminantes e análises laboratoriais e os controles oficiais. Já Rodrigo Otavio Curvello Wutke, analista de Inteligência de Mercado da Apex-Brasil mostrou o Mapa de Oportunidades, ferramenta da Apex-Brasil que permite conhecer o desempenho dos produtos em determinadas regiões e o potencial comercial do pescado brasileiro a ser explorado e as estratégias que devem ser adotadas. Por fim, do Reino Unido, Matt Craze, fundador da consultoria internacional Spheric Research e colaborador do portal de notícias Undercurrent News fechou as apresentações com uma análise da situação do pescado no mundo e como a pandemia da Covid-19 ocasionou mudanças nos canais de distribuição e nos hábitos de consumo global.
DIA
2
Produção, intercâmbio industrial, promoção e a sustentabilidade de pescado
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Amy Novogratz explicou que o Aqua-Spark começou a olhar para a aquicultura para constituir um fundo que possa suportar a criação efetiva de um novo modelo produtivo
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Ao todo, 22 empresas já fazem parte do portfólio da empresa, com 42 investimentos e um ecossistema total de 60 companhias, incluindo 38 investimentos em estágio inicial. Entre elas está a XpertSea, representada no evento por sua CEO, Valérie Robitaille, e a brasileira Fisher Piscicultura.
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A programação do segundo dia do Connect foi aberta por Amy Novogratz, uma das maiores autoridades mundiais nos negócios sustentáveis do pescado e fundadora do fundo Aqua-Spark [leia entrevista com ela na seção Cinco Perguntas desta edição]. Amy explicou que o Aqua-Spark começou a olhar para a aquicultura ao perceber que a indústria precisava de uma forma diferente de pensar em crescimento e no investimento através de fundos que pudessem englobar lugares, espécies e sistemas. “Nós investimos em toda a cadeia de valores com um portfólio global que acessasse o ecossistema vivo e trabalhasse nos lugares necessários para criar uma visão compartilhada de que a aquicultura pode ser transparente, rastreável e mais lucrativa. Nós queríamos ter um sistema alimentar perfeito”, disse.
Ponto de Venda
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homogeneizar critérios e, assim, dar mais tranquilidade e previsibilidade ao trabalho dos agentes privados com uma verdadeira integração entre diferentes autoridades. Osciel Velásquez Hernández, presidente da Aliança Latino-americana para a Segurança Alimentar através da Pesca Sustentável (Alpescas), indicou que a sustentabilidade deve ser um elo em comum, com ações pontuais, como em combate à pesca ilegal, por exemplo, e a busca por certificações.
Karl Berger, Carolina Nascimento,Edgar Novoa Villavicencio e Øystein Valanes, apresentaram ações globais para a promoção do pescado
Promoção global de pescado
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No bloco que destacou as ações para a promoção global de pescado, as experiências de grandes nações foram apresentadas por Karl Berger, gerente de Pesca do PromPerú; Carolina Nascimento, representante na América Latina do Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI); Edgar Novoa Villavicencio, diretor comercial do escritório Pro Equador em São Paulo e Øystein Valanes, diretor do Conselho Norueguês da Pesca. Carolina Nascimento contou como o Alasca produz cerca de 2,5 milhões de toneladas de pescado por ano e tem uma grande diversidade de produtos pesqueiros, cuja maior parte é enviada ao exterior. Hoje, o maior mercado de exportação dos produtos do Alasca é a China, movimentando mais de US$ 700 milhões. Já para a América do Sul, as exportações somam cerca de
US$ 35 milhões. Quando acrescentado o México e a América Central, o número fica próximo aos US$ 100 milhões. “Sempre que olho para esses números, vejo o potencial de crescimento. Muita coisa pode ser feita”, completou. Já Øystein Valanes levou ao público as tendências no consumo de pescado pelo mundo. Conforme ele, ao todo são 5 tendências que norteiam a tomada de decisão atualmente: novos canais de venda, sustentabilidade, saúde e bemestar, conveniência e transparência.
Intercâmbio industrial latino-americano A integração da América Latina pelo pescado estimulou várias entidades da América Latina a debaterem formas de trabalharem juntos em desafios comuns. Neste sentido, ficou destacado que é preciso mais diálogo entre as autoridades sanitárias para
Do Brasil, Pablo Rillo, diretor da Associação Brasileira de Fomento ao Pescado (Abrapes) lembrou que o pescado é um negócio internacional bem antes da internet e da globalização. Conforme ele, sempre houve um grande intercâmbio entre os países e as grandes empresas de pescado, fator aumentado pela globalização e por suas facilidades. Já a importância da indústria da pesca para a segurança alimentar no México e os demais mercados foi abordada por Humberto Becerra Batista, presidente da Cámara Nacional de la Industria Pesquera y Acuícola (Canainpesca).
Workshop - inovações Representantes da Espanha, Estados Unidos e Brasil formaram o Workshop focado nas principais inovações da indústria global de pescado. A diretora de inovação e Insights da Mintel, Lynn Dornblaser, trouxe ao evento uma atualização sobre a tendência mundial de novos produtos e inovações de pescado com foco na América Latina. Como demonstrado, na atualidade, o consumidor anseia por rótulos mais transparentes, com informações nutricionais das proteínas e práticos. O foco também está na ética e também na sustentabilidade que, segundo ela, continua sendo uma questão significativa na categoria de pescado. Outro ponto é a inovação nas embalagens, que apresentam cada vez mais explicações detalhadas.
A sustentabilidade também norteou a apresentação de Wagner Cotroni Valenti, professor do Programa de Pós-Graduação em Aquicultura da Unesp, que ressaltou os “Critérios de Sustentabilidade para a Economia Azul’’. Na sequência, Cintia Miyaji, diretora-executiva da Paiche Consultoria e Treinamento, discutiu a “Articulação do Setor Privado em Prol da Sustentabilidade.” Conforme os especialistas, o setor pode adotar diversas estratégias para atingir a sustentabilidade. Na ambiental, por exemplo, as pescarias podem reduzir o by-catch, enquanto a aquicultura pode optar pelo cultivo integrado de espécies. Quando o foco está na atuação governamental, o foco deve ser
no compartilhamento das decisões com a população que atua na pesca e na aquicultura. A iniciativa OpenTuna, uma plataforma desenvolvida com apoio técnico da Global Fishing Watch, e que atua para promoção da transparência dos dados de capturas das pescarias comerciais de atuns foi tema da apresentação de Rodrigo Hazin, presidente da Norte Pesca. A ferramenta reúne empresas da Aliança do Atlântico para o Atum Sustentável (AAAS), além das entidades Oceana, Global Fishing Watch, Projeto Albatroz, Fundação Pró-Tamar, UFRPE e Paiche Consultoria.
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Por fim, a diretora do Instituto de Pesca de São Paulo, Cristiane Pinheiro Neiva, fechou o painel apresentando presencialmente técnicas de processamento e aproveitamento integral do pescado. “Sempre a gente precisa ressaltar as várias possibilidades de utilização e lembrar que a inovação está aí: quando a gente busca os novos produtos, aproveitar todos os nutrientes e os bioinsumos”, contou.
Workshop - Sustentabilidade
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Já a indústria 4.0 foi tema da apresentação do espanhol Roberto Alonso, secretário-geral adjunto da Anfaco-Cecopesca. Ele ressaltou como a transformação digital e sinergia tecnológica atuam para a simplificação de processos complexos e ganho de produtividade.
Ponto de Venda
DIA
3
O varejo e food service de pescado na América Latina
O terceiro dia do evento foi marcado por debates sobre as novas oportunidades e as novas tendências para o setor de pescado e como o varejo e o food service estão se movimentando. Gregory Ribeiro, da Euromonitor International, apresentou estudo sobre as tendências e oportunidades do varejo nacional. Os dados evidenciaram que o volume do mercado brasileiro de pescado neste canal está atualmente em 8º lugar no ranking global, o que coloca o País junto a grandes mercados, como os asiáticos. “É um mercado interessante que vai crescer nos próximos cinco anos”, falou.
Food service e o fomento ao pescado As iniciativas do food service ao fomento do pescado também ganharam espaço no evento. O assunto foi debatido por Julian Gasparini, gerente de compras da LivUp, que abordou o relacionamento constante da marca com consumidores. Já Marcelo
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As oportunidades e tendências no varejo de pescado ainda foram abordadas pela diretora comercial das Peixarias do Carrefour, Meg Felippe. “Nossa percepção como fornecedores de alimento é que cada vez mais a rastreabilidade deixa de ser um diferencial do produto para se tornar uma exigência do mercado”. A gerente de desenvolvimento de negócios no México
da rede H.E.B, Paola Alejandra mostrou adaptações da rede para atender os consumidores durante a pandemia. Para ela, os principais desafios da compra e venda de pescado no varejo daquele país acontecem em relação aos hábitos de compras e apresentação do produto e o preço de venda. Logo, ações como o manuseio mínimo por parte do funcionário e praticidade para o consumidor ganham destaque. Completando o painel, um estudo sobre as qualidades nutricionais do pescado foi apresentado por Marco Quintarelli, consultor em varejo e nutrição. Ele destacou ações em ponto de venda para que um pescado seja oferecido com qualidade para o consumidor.
Diretora Comercial das Peixarias do Carrefour, Meg Felippe, destacou a importância da rastreabilidade de pescado no varejo
Fernandes, CEO da Gastronomia MF, defendeu a adoção de uma experiência diferenciada e rica em detalhes para a manutenção dos restaurantes de alta gastronomia durante o período de pandemia. O que, conforme ele, seguiram entregando qualidade mesmo diante da alta da inflação de diversos itens essenciais. O chef e fundador da Gastronomia Periférica, Edson Leite, lembrou que as grandes periferias do Brasil também consomem pescado e alertou sobre a necessidade dos grandes mercados em elaborarem estratégias para atenderem às demandas dos consumidores destes locais. O bloco ainda contou com intercâmbio cultural e gastronômico com os chefs de cozinha de La Escuela de los Chefs, Daniela Valverde e Igor Burlutskiy.
Comercialização de pescado O painel que debateu o acesso dos produtores aos canais de comercialização de pescado teve Selo Arte como tema da apresentação de Felipe Weber, diretor-executivo da Aruanã Consultoria e consultor do Sebrae e APEX-Brasil. Instituído em 2018, seu propósito é valorizar o produto artesanal de pequenos pescadores e aquicultores. O Selo Arte é um certificado unificado de garantia de produção artesanal de produtos alimentícios de origem animal. Sarah de Oliveira, da Lex Experts, destacou a importância das políticas públicas voltadas para a pesca de pequena escala e do acesso ao crédito e ao financiamento. Entre as mensagens, ela reforçou a necessidade que os benefícios não sejam só apresentados, mas que os pequenos
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Chef Edson Leite lembrou que as grandes periferias do Brasil também consomem pescado; Julian Gasparini, gerente de compras da LivUp, frisou o relacionamento constante da marca com consumidores
produtores sejam preparados para se tornarem beneficiários. Com uma argumentação direcionada ao varejo de qualquer porte, Fátima Merlin, da Connect Shopper, elencou algumas das ações que podem ajudar a categoria a gerenciar o pescado no supermercado. Entre elas, está a garantia que o produto certo esteja disponível (sem ruptura), no momento em que o cliente necessita e deseja, na quantidade adequada.
Campanhas de promoção ao pescado O último painel trouxe as campanhas em prol da promoção do consumo do pescado. No Brasil, a Semana do Pescado e a Coma Mais Peixe foram destacadas por Jessica
A Semana do Pescado deste ano teve sete meses de reuniões e preparativos, onde o grande desafio
foi unificar todas as vozes existentes na cadeia do pescado e promover uma campanha em formato aberto. O resultado em 2021, conforme Feller, teve número recorde de patrocinadores e apoiadores e alcance de 70% dos estados brasileiros. Já a Coma Mais Peixe é iniciativa da Peixe BR com o apoio de empresas de diferentes elos da cadeia de piscicultura. Nela, o principal objetivo é fomentar o consumo dos peixes de cultivo no País, através de temas como a segurança alimentar e as boas práticas.
Pescados com qualidade
Um empr a respe esa que ita o mei ambi ente o
Matéria-prima da melhor procedência, ótimas práticas de fabricação, instalações que respeitam a legislação e equipamentos de congelamento ultrarrápido são alguns dos fatores que garantem o padrão de qualidade Natubrás. São camarões, lulas, mexilhões, polvos e cortes nobres de peixes, em embalagens práticas e seguras ao consumidor.
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do Exija cedor e n for seu alidade a qu dutos pro dos ás ubr Nat
Feller, assessora de comunicação do Sindipi e integrante do comitê responsável pela Semana do Pescado e por Francisco Medeiros, presidenteexecutivo da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR). Do México, Aline Molina Meneses, trouxe mais destaques da Campanha Pesca Con Futuro. A campanha de promoção mexicana tornou-se uma referência na promoção de ações concretas de pesca e aquicultura sustentáveis.
O sabor que faz a diferença
Suor e providência De farmacêutica à influenciadora pró-consumo de pescado, Manu Ornelas acumula fãs nas redes e clientes na peixaria que está prestes a dobrar de tamanho Texto: Ricardo Torres
E
m 2014, a ciência brasileira perdeu um grande talento. A farmacêutica Manuela Ornelas Abreu, mestre em teratologia humana pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, abriu mão do doutorado que fazia na mesma UFRJ. “Larguei porque não me sentia muito valorizada na área acadêmica. Além disso, eu deveria sair do País para estudar e eu não queria. Esse nunca foi meu objetivo”, conta.
No mesmo ano, o setor do pescado ganhou um grande reforço na missão de incentivar o consumo. A farmacêutica Manu Ornelas decidiu seguir a tradição comerciante da família e abriu, com seu pai, uma peixaria em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Ela já ajudava o progenitor em um hortifrúti aos finais de semana. “Meu pai estava abrindo a peixaria e pensava que haveria mais potencial. E ele tinha razão.” A aventura durou dois anos até que o estilo de gestão distinta ao do pai empurrou Manu a ter a própria peixaria. O bairro escolhido foi o Irajá, na Zona Norte da capital fluminense. “Era um bom ponto, muito movimentado e foi onde eu cresci.” A ligação afetiva com o local, a veia comerciante e a experiência com o perfil dos clientes locais falaram mais alto, e a peixaria prosperou. Motivada pelo sucesso da primeira loja, Manu resolveu abrir uma segunda em Madureira, bairro situado na mesma Zona Norte, uma espécie de síntese do subúrbio carioca. Tudo parecia indicar o mesmo sucesso da primeira peixaria, mas o ponto e o perfil dos clientes arruinaram o negócio. Manu e o sócio à época ainda tentaram migrar para a Freguesia, na Ilha do Governador, mas não deu certo. “Não podia botar placa, não podia botar cavalete. No dia da inauguração, coloquei bolas, carro de som e tomei multa. Só consigo vender se eu fizer este alvoroço.” Uma última cartada, com envase dos peixes à vácuo trazidos da loja do Irajá, também não prosperou. Para piorar a situação, Manu se deu conta de que havia acumulado um rombo financeiro com diversos fornecedores, entre os quais os permissionários que o pai havia cultivado durante anos no Ceasa-RJ para seu hortifruti. Sem dinheiro sequer para pagar as contas, Manu chegou a receber água do pai em uma Kombi para abastecer o local. Foi aí que Manu respirou fundo, rompeu o contrato da outra loja e decidiu se dedicar totalmente à peixaria do Irajá. A Divina Providência então se manifestou e os resultados vieram: em quatro anos, Manu contabiliza aumento de 500% no faturamento. O trabalho duro na loja veio acompanhado de uma ferramenta essencial para Manu: o marketing de conteúdo nas redes sociais. “Era o único jeito de trazer mais gente para a loja e gerar fluxo para a loja.”
Acervo pessoal
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O aprendizado com o pai e os peixeiros sobre as espécies mais indicadas para cada tipo de preparo começou a ser repassado aos clientes em forma de vídeos e fotos nas redes, com a energia e bom humor característicos da empresária. “Hoje, as outras peixarias copiam o que eu criei. Desde a escolha certa para substituir um peixe caro ou em extinção. É essencial ensinar ao cliente a reconhecer as fraudes e falsificações. Essa busca por informações veio comigo da área acadêmica.” Depois de explodir em vendas na pandemia com mais de 100 entregas por dia (pico de 120 na Semana Santa de 2020), Manu preparou o terreno para se mudar novamente. Mas ela já está escolada: a Divina Providência negocia a mudança para a mesma rua, em um local duas vezes maior. Se você é um dos 32 mil seguidores da Manu no Instagram, deve ter recebido a notícia em primeira mão.
A aposta de Manu deu frutos: hoje, a Divina Providência é um sucesso e fez escola para outras peixarias sobre como conversar com os clientes nas redes sociais
Acervo pessoal
Personagem
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