Seafood Brasil #44

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MKT & INVESTIMENTOS

NA COZINHA

Um giro completo pela Aquishow, a Apas e a Seafood Expo Global de Barcelona

Gestão de desperdício: como manter o lucro e o paladar

brasil www.seafoodbrasil.com.br

Proteínas alternativas polemizam na retórica e na rotulagem, mas conquistam flexitarianos e já encontram adeptos na própria indústria

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Peixe sem peixe SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2022 •

seafood

#44 - Abr/Jun 2022 ISSN 2319-0450


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Editorial

A ciranda do comércio exterior

O

s cinco primeiros meses do ano mostram a consolidação de uma tendência na balança comercial do pescado: as importações seguem em queda, pressionadas pela oscilação do dólar, inflação em alta, disrupção residual nas cadeias globais de insumos e logística e retomada de mercados tradicionais. Os dados do Painel do Pescado mostram que as importações tiveram os piores volumes para a Quaresma em 2022 em quatro anos. Houve uma reação em abril, mas o resultado foi inferior a 2020 - primeiro ano pandêmico. Já as exportações se mantiveram acima de 4 mil toneladas mensais durante todo o ano, o que não havia acontecido nos anos anteriores. O Brasil começa a fazer barulho lá fora, especialmente nos Estados Unidos, com um mix tão variado quanto às características do nosso povo: de lagosta e pargos, a atuns e corvinas. A variedade é importante, mas é a tilápia que tem crescimento mais vertiginoso: de janeiro a maio, as

exportações do produto cresceram 353% em volume, com uma receita 312% maior. Já é o terceiro maior item da pauta brasileira, atrás de outros (grupo de peixes variados) e atuns e afins. A movimentação ocorre em meio a um cenário no exterior ainda mais turbulento do que temos internamente: guerra na Ucrânia, sinais de uma quebra financeira do mercado norte-americano, explosão no preço de combustíveis e a lista segue. A caminho das Eleições Gerais e com inúmeros problemas internos, temos meses difíceis pela frente, mas as condições estão postas para o Brasil alçar vôos mais consistentes no exterior - trazendo prosperidade ao segmento. É hora de se sintonizar com as demandas globais e ajustar a rota para surfar em plena crise. Boa leitura! Ricardo Torres - Editor-chefe

Índice

06 5 Perguntas

08 Na Água

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42 Capa

10 MKT & Investimentos 36 Caiu na Rede

60 Na Gôndola

62 Na Cozinha

38 Na Planta

74 Personagem

Expediente Redação

redacao@seafoodbrasil.com.br Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor-chefe: Ricardo Torres Editor-executivo: Léo Martins Repórter: Fabi Fonseca Diagramação: Emerson Freire Adm/Fin/Distribuição: Helio Torres Foto da capa: Arte de Emerson Freire com foto de Spring Genetics e Magnascan/Pixabay

Comercial

comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno

Impressão

Máxi Gráfica A Seafood Brasil é uma publicação da

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5 Perguntas a Cláudio Torquato da Silva, chefe da Assessoria Especial de Controle Interno (AECI/Mapa)

Entrevista

Integridade empresarial Outrora associado a “cambalachos”, setor do pescado tem no Selo + Integridade a demonstração de que é viável e vantajoso adotar práticas de compliance Texto: Ricardo Torres

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No ano de 2021, em sua 4ª edição, o Selo passou a contemplar a participação do setor pesqueiro no certame. Além da Frescatto, que recebeu o selo Verde, 17 empresas do agronegócio foram premiadas. Em meados de maio, época em que Cláudio Torquato da Silva, chefe da Assessoria Especial de Controle Interno (AECI/Mapa), nos concedeu esta entrevista, o cálculo era de que em torno de 500 empresas e cooperativas de todo o País estivessem interessadas na inscrição. As inscrições foram encerradas em 15/06. “A partir da nossa avaliação, temos em torno de 100 [empresas] que começarão a inscrição efetiva com documento e a expectativa é de que 60% consigam terminar de se inscrever”, pondera. Dessas inscrições, é preciso apresentar um conjunto de documentos divididos nos blocos de ESG: meio ambiente, social e governança. A

Acervo pessoal

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uando o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) entregou em fevereiro deste ano o Selo Mais Integridade para a Frescatto Company, a primeira empresa do segmento a obter a certificação, muitos nem sequer tinham ouvido falar no tema. O Selo Mais Integridade foi instituído em 2018 na esteira da Operação Carne Fraca com objetivo de fomentar, reconhecer e premiar práticas de integridade por empresas do agronegócio sob a ótica da responsabilidade social, sustentabilidade, ética e ainda o empenho para a mitigação das práticas de fraude, suborno e corrupção.

documentação será analisada e pode ser aprimorada pelos inscritos até 30 de setembro. Na sequência, em outubro, a documentação é enviada ao comitê gestor do selo para depois, ser feito o Relatório de Análise Final

(RAF) onde em torno de 20 empresas são reprovadas. Conforme Silva, o relatório serve ainda para evidenciar as dificuldades das empresas, como por exemplo, explicar as ações judiciais. “Muitas vezes isso fica claro


“O programa de integridade não é um colete anticorrupção perpétuo. [...] A intenção é trazer um nível mínimo para que eles alcancem o máximo.”

Antes da certificação da Frescatto, qual era a visão que vocês tinham sobre o pescado? Confesso que achei muito rápida a entrada do pescado, pois achava que uma cooperativa viria antes. Entre 2020 e 2021, o regulamento saiu com uma especificidade em relação ao setor: ligada à parte de anotações ambientais, com os diários de bordo, para registro de descarte e entrada de peixe. Achamos que levaria um tempo para amadurecer, mas já no primeiro ano, entrou uma empresa de pescado. Não estamos em contato direto com as atividades fins do agro, mas foi importante conhecer esta robustez e profissionalismo do setor.

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Como surgiu o selo + Integridade? Não é segredo para ninguém a Carne Fraca [iniciada em março de 2018, foi uma investigação da Polícia Federal sobre fraudes laboratoriais no Mapa e irregularidades cometidas por

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O programa de integridade não é um colete anti-corrupção perpétuo. Não é uma blindagem permanente. É possível que ela se rompa pois é impossível controlar todas as vertentes da empresa, mas fica claro que a empresa está engajada em lutar contra a corrupção. Um dos atenuantes da lei anticorrupção, a empresa ter um programa de compliance a auxilia na defesa. Quando o programa é enganado, ela reduz a pena dela. Os selos setoriais fomentam a linha de chegada que é o Pro-Ética da Controladoria Geral da União (CGU). A intenção é trazer um nível mínimo para que eles alcancem o máximo. Qual foi o processo pelo qual a Frescatto teve de passar para alcançar o Selo Verde? As empresas ou cooperativas ligadas ao setor pesqueiro, para fins dos “Requisitos de Avaliação”, devem apresentar o “Certificado Oficial de Boas Práticas HigiênicoSanitárias a Bordo”, conforme consta do Capítulo V da Portaria SAP-MAPA nº 310, de 24 de dezembro de 2020. [A Frescatto] foi muito tranquila em relação à governança: havia canal de denúncias, programa de integridade, código de ética e a área responsável pelo programa de integridade. Eles estavam aparelhados neste sentido do “G” da sigla. Foram questões pontuais, administrativas e até por

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isso nós damos a oportunidade até a apresentação final do relatório ao comitê. São várias oportunidades para a empresa se ajustar. Que benefícios as empresas de pescado podem obter com a certificação? Um deles é de imagem, o que é fundamental para as empresas competirem no mercado, comparadas ao seu primeiro concorrente. Depois pela venda dos seus produtos no mercado internacional e o movimento da sociedade em busca de integridade. Pelo menos no discurso, todo mundo pretende ser íntegro. E para o setor pesqueiro nem se fala, pois se relaciona com o mundo inteiro. Você tem cotas de pesca que divide com o mundo inteiro, então, a seriedade nos processos facilita a defesa de cotas.

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O terceiro ponto é que a empresa não vai sobreviver sem integridade no futuro. A maior cobrança da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] sobre o País hoje é uma boa relação públicoprivada. Por mais que queiramos que o setor público assine acordos e vá para fóruns de discussão sobre o tema, não adianta se o setor privado não se engajar nisso. O que o setor ganha com esse engajamento? A abertura do mercado internacional, que fala de integridade desde os anos 70. Quem quer ingressar no mercado internacional sabe que precisa disso. Sem falar na abertura de linhas especiais de crédito para financiamento, como tivemos casos oficiais de empresas com o selo. O próprio Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e bancos como, por exemplo, Banco do Brasil, também exigem o compliance para liberação de crédito. Quando você diz que tem o Selo Mais Integridade, já sai na frente.

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Uma reunião acontece simbolicamente no dia 17 de outubro (Dia da Agricultura), quando se abre um prazo recursal para as empresas reprovadas e, no início de novembro, o grupo se reúne novamente para análise de documentação e recursos. A segunda deliberação acontece na segunda semana de novembro. Com a nova deliberação, é feita a análise e proposto o encaminhamento, após isso é que o comitê decide se acata ou não. Posteriormente, abre-se um novo prazo para a empresa recorrer, e no final de novembro, encerra-se o prazo no plano executivo e o secretário decide se acompanha ou não o comitê. Em seguida, prepara-se a minuta da portaria e então, o evento de premiação acontece na última semana de janeiro.

grandes frigoríficos]. Mas, como o setor poderia se proteger deste tipo de coisa? Fomos olhar quantas empresas do agro tinham o selo Pró-Ética da CGU e não havia nenhuma do agronegócio. Nosso objetivo era aprimorar o setor para leválo a um nível de compliance, levando-o ao Pro-Ética. E conseguimos. Queremos que este movimento se repita. Quem chegou não foi uma grande do setor, e sim a Rivelli Alimentos [em 2021, foi a primeira empresa do ramo agropecuário a receber a premiação desde a sua criação há 10 anos].

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nos relatórios, de que o programa de compliance não está maduro o suficiente, que a área precisa melhorar”, fala.


Estímulo na água doce ou salgada

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Água Tecnologia para pesca e criação Crédito das fotos: Divulgação/Empresas

Três é demais

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A MSD Saúde Animal aproveitou a 11ª Aquishow como o palco para lançar três soluções inéditas para a indústria de tilapicultura: a AQUAVAC® Irido V, primeira vacina do Brasil para prevenção e controle de Iridovírus; a AQUAVAC®STREP 4, primeira vacina tetravalente comercial para controle das estreptococoses no Brasil e no mundo; e a Omnicide® Aqua, o primeiro desinfetante com informações específicas de dosagens e protocolos para programas de biosseguridade em aquicultura. Apesar de terem sido apresentados na Aquishow, as soluções foram lançadas oficialmente em 25 de maio.

Já o Aquavitality Bioboost é o destaque da Superbac. Segundo a empresa, o produto é um bioestimulador que atua na degradação de compostos orgânicos e pode ser aplicado em viveiros de peixes e camarões, auxiliando no controle da qualidade da água dos viveiros e promovendo a estabilidade do sistema. Podendo ser utilizado em água doce ou salgada, a solução não possui químicos tóxicos à saúde e também atua na redução do acúmulo de lodo orgânico no fundo dos viveiros, promovendo a manutenção do ciclo biológico do nitrogênio e prevenindo a turbidez da água.

Filtro de limpeza proativo A 11ª Aquishow também foi o lugar escolhido para a Altamar Sistemas Aquáticos lançar o que considera o primeiro filtro autolimpante do mercado fabricado no Brasil. Segundo a empresa, a novidade é capaz de remover partículas sólidas de forma automática em sistemas de aquicultura, aquários públicos e zoológicos, ETA e ETE. Com sistema aquático, operação por gravidade, diferentes aberturas de malhas e vazões de até 160 m/3h, o filtro autolimpante é compatível com água doce e salgada.

Teste rápido contra doenças Uma solução para diagnósticos rápida e precisa. É isso que promete o Pockit Central, solução de Point Of Care Testing (PoCT) da Y3K. A solução pode ajudar a gerenciar de uma maneira melhor a sanidade das fazendas, pois procura detectar de maneira rápida e prática (em até 85 minutos) diversos patógenos de peixes e camarões, bem como em ambientes de processamento dessas espécies. Dessa forma, de acordo com a empresa, é possível obter melhor taxa de sobrevivência e crescimento das espécies pela prevenção e manejo adequado das doenças.

Em prol da saúde intestinal A Imeve apresentou para o mercado um suplemento mineral enriquecido com probiótico e prebiótico que age diretamente no intestino de peixes e camarões promovendo uma melhora na digestão e equilíbrio intestinal: o SelBac. A solução procura auxiliar no equilíbrio intestinal dessas espécies e na exclusão competitiva das bactérias patogênicas, contribuindo para o maior rendimento da produção. Com facilidade de aplicação, o SelBac busca ainda melhorar a absorção de nutrientes e a recomposição da microbiota intestinal dos peixes e camarões.


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Divulgação/Aquishow Brasil

Marketing & Investimentos

A cara do setor produtivo Aquishow Brasil 2022 abrigou mais de 90 estandes, além de representantes nacionais e internacionais, alinhados com o objetivo de estimular o crescimento contínuo da atividade

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Texto: Fabi Fonseca

oi de braços abertos que São José do Rio Preto (SP) recebeu a 11ª Aquishow Brasil . Realizada pela primeira vez fora de Santa Fé do Sul (SP), o evento aconteceu de 24 a 27 de maio e foi acompanhado presencialmente por cerca de 6 mil pessoas, entre visitantes e expositores de todas as regiões do País. Ao todo, a edição 2022 movimentou em torno de R$ 130 milhões entre negócios fechados e orçamentos, o que

corresponde a um crescimento de mais de 100% em relação a 2019. Durante os quatro dias, o público pôde contemplar palestras, torneios, premiações, visita técnica e a tradicional feira de produtos e serviços. Novamente, a organização do evento foi realizada pela Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União (PeixeSP). A feira contou ainda com a co-organização da Prefeitura de São José do Rio Preto, por meio da Secretaria Municipal de Agricultura

e Abastecimento; e o Governo do Estado de São Paulo, por meio do IPAPTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Conforme Marilsa Fernandes, diretora da PeixeSP e do evento, depois de dois anos sem ter sido realizada e considerando a mudança de cidade, o resultado final é considerado “o melhor possível”. “O evento ficou cada vez mais caracterizado como do segmento produtivo. Nós relacionamos mais de 20 países presentes e pessoas de todas as


Marilsa Patrício Fernandes e Emerson Esteves, da PeixeSP: entidade coordenou mais uma vez a organização do evento

“Estamos vivendo um momento de retomada econômica pós-pandemia e mudamos de sede nesta edição. Foram muitas mudanças, mas o resultado positivo veio”, comemora Emerson Esteves, também da organização da feira. A edição 2022 também teve apoio da Associação Comercial e Empresarial de Rio Preto (ACIRP) e do Governo Federal, por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), além do patrocínio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE).

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regiões do Brasil, do Amazonas ao Rio Grande do Sul. Muitos negócios foram realizados e a gente já está trabalhando para o evento de 2023”, fala.

À espera dos bons tempos

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Jairo Gund, secretário da SAP, comparou o crescimento da produção aquícola com a expansão de bovinos e milho

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Durante a cerimônia, o secretário da Aquicultura e Pesca (SAP), Jairo Gund, manifestou otimismo ao apresentar uma perspectiva da piscicultura nacional quando comparada às outras

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De fato, a Aquishow Brasil 2022 concretizou as expectativas do setor em relação ao retorno dos grandes eventos presenciais, o que ficou evidente ainda na cerimônia de abertura, que reuniu uma grande quantidade de lideranças setoriais, autoridades federais, estaduais e municipais, empresas, universidades e estudantes na terça-feira (24).


Marketing & Investimentos

atividades do agronegócio brasileiro que já estão consolidadas. “Das atividades do agronegócio que mais estão crescendo, não tenho dúvida nenhuma que ela [aquicultura] será a que mais irá se destacar.”

Grande evento, grandes destaques Para a realização da Aquishow Brasil 2022, foi montada uma área de 5 mil m² com exposição de mais de 90 estandes comerciais e dois auditórios, no Centro Avançado de Pesquisa e Desenvolvimento do Pescado Continental, do Instituto de Pesca, em São José do Rio Preto (SP). Além das tradicionais empresas do setor, o evento deste ano ainda recebeu pela primeira vez empresas como a Top Aeradores, MQ Pack, Enessul, a canadense BIONETIX, a Y3k do grupo SDC Technology, e a certificação Aquaculture Stewardship Council (ASC). As companhias internacionais também aproveitaram a oportunidade para apresentar aos brasileiros os seus produtos e soluções. No mínimo, representantes de 20 nacionalidades estiveram presentes, incluindo Áustria, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Israel, Japão, Noruega, entre outros. Já algumas associações participaram da feira com os próprios estandes, como foi o caso da Associação Brasileira de Fomento ao Pescado (Abrapes), a ABCC e a Abipesca. Carlos Melo, diretor da Abipesca, conta que “as propostas na Aquishow 2022 estão conectadas com o tripé da produção de pescado no Brasil: matériaprima, processamento e comercialização.” Por fim, sem estande no evento, a PeixeBR realizou o Workshop “Sanidade Aquícola – Plano Nacional de Sanidade e os Desafios para sua Implantação na Aquicultura Brasileira” em conjunto com o Mapa.

Entre os presentes na abertura, estavam o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Francisco Matturro; a secretária executiva de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, Marina Bragante; e o prefeito de Rio Preto, Edinho Araújo. Outros nomes já conhecidos do setor também marcaram presença, como Itamar Rocha, da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), Francisco Medeiros, da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR) e Eduardo Lobo, da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca). No entanto, um elemento foi constante nos estandes das empresas: as boas expectativas com o futuro do setor. “Estamos muito felizes aqui na Aquishow. Muita gente e muitas conversas sobre negócios demonstram que o mercado está reagindo”, fala João Manoel Cordeiro Alves, gerente de Aquacultura da Guabi.

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Felipe Amaral, um dos diretores do grupo Amor Amaral, lembra que nesses dois anos, o mercado ficou um pouco conturbado e a economia no Brasil piorou um pouco. “No entanto, foi percebido que o brasileiro está comendo mais peixe”, comenta. “Por isso, aqui na Aquishow, vejo com bons olhos que daqui para frente, a produção de tilápia e o consumo de pescado no Brasil vai aumentar.”

Mais de 90 empresas apresentaram suas inovações, serviços e soluções ao setor aquícola brasileiro

Ainda na onda otimista, Lucas Granuzzo, brand manager da Aquabel do Brasil, acredita que a Aquishow ajuda o mercado a passar por esse momento delicado com mais esperança. “Acreditamos no início de crescimento e uma retomada do ritmo de produção no segundo semestre para equilibrar os volumes, tanto de povoamento como em venda de animais prontos.”


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Ampla programação

O público pôde conferir uma extensa programação de palestras, minicursos, encontro acadêmico, premiações, competições, workshops e painéis

• Palestras

A programação da Aquishow Brasil 2022 também contemplou diversas atividades paralelas, que incluíram cerca de 15 palestras com conferencistas nacionais e internacionais que apresentaram temas relevantes do segmento. Com o tema “Caminhos da Proteína Aquática para Consolidação do Brasil como um Grande Player do Pescado”, o conferencista internacional e professor doutor José Luiz Tejon Megido realizou a palestra de abertura do evento. Em sua apresentação, ele destacou a “bela jornada pela frente para que os ‘frutos das águas’ transformem-se na principal fonte de proteína da humanidade”.

com o maior potencial para ser desenvolvido. Ele tem potencial para abastecimento do mercado mundial por ser barato, de alta escala e com baixo custo.” Por fim, na palestra “Situação Atual e Perspectivas do Consumo Interno e das Exportações da Piscicultura no Brasil”, Manoel Xavier Pedroza Filho, pesquisador de economia aquícola da Embrapa Pesca e Aquicultura destacou alguns dados do setor e o crescimento das exportações. Em 2021, ele aponta que houve um salto de 78% em relação ao ano anterior, com um aumento de 116% só nos primeiros meses de 2022.

• 2º Prêmio Inovação Aquícola

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Já os “Desafios dos Peixes Nativos Frente ao Crescimento da Tilapicultura no Brasil”, ainda foram tema da apresentação do zootecnista André Camargo. Destacando o crescimento da aquicultura, ele fez um recorte específico aos peixes nativos, principalmente o tambaqui e o pirarucu. “O tambaqui é o peixe nativo

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1º Prêmio Personalidades Brasileiras de Aquicultura – Aline Brun & Geraldo Bernardino fez parte da programação do primeiro dia da 11ª Aquishow Brasil

Os “Desafios da Produção de Tilápia em TanquesRede de Grande Volume no Brasil”, foram abordados por Tobías Román, diretor de produção da Tilabras, que citou a redução da mortalidade de peixes, redução dos os riscos para a saúde, o clima, otimização de custos, reduzir os riscos de infraestrutura e equipamentos, aumentar a área de cultivo e adaptar tecnologias.

Tejon realizou a palestra de abertura e defendeu a possibilidade do peixe de cultivo, especialmente a tilápia, de trilhar caminho semelhante à avicultura brasileira

• 1º Prêmio Personalidades Brasileiras de Aquicultura leva emoção ao palco

Comissão de 24 notáveis avaliou 76 cases inscritos. Eles utilizaram o Manual de Inovação de Oslo como critério de seleção Os vencedores do 2º Prêmio Inovação Aquícola foram conhecidos e premiados no terceiro dia da Aquishow Brasil (26), durante a tradicional confraternização promovida pelos organizadores. A premiação foi organizada pela Aquishow Brasil, em parceria com a Seafood Brasil e a Aquaculture Brasil e buscou reconhecer iniciativas públicas e privadas que contribuíram com a expansão da aquicultura no Brasil. Passando por um crivo de uma comissão de 24 notáveis, a edição deste ano premiou os 12 melhores colocados entre os 76 cases inscritos nas categorias de: Academia; Produção; Beneficiamento e Produto Final; e Políticas Institucionais

A entrega do 1º Prêmio Personalidades Brasileiras de Aquicultura – Aline Brun & Geraldo Bernardino levou emoção ao palco da Aquishow Brasil. A presidente da Associação Catarinense de Aquicultura (ACAq) e presidente da Associação dos Aquicultores de Gaspar (Aquipar), Ofélia Maria Campigotto, e o zootecnista e gerente de produtos de aquicultura da Guabi, João Manoel Cordeiro Alves, foram os grandes vencedores. “Gratidão a toda equipe organizadora da Aquishow, principalmente a Marilsa e Emerson. E a todos que indicaram, votaram, divulgaram, além de todas as mulheres que participaram. Receber o Prêmio é um reconhecimento aos nossos trabalhos na AQUIPAR e ACAq. Sou grata!”, comenta Campigotto.

• Painel deu voz às mulheres

A 11ª Aquishow Brasil também foi marcada pela discussão da equidade de gênero na aquicultura. Foram 12 vozes femininas que emocionaram e inspiraram os presentes com suas histórias sobre luta, realizações e perspectivas futuras no setor durante o painel “Papel e Contribuições das Mulheres para a Aquicultura Brasileira – Passado, Presente e Futuro”.


Otimismo por novos ventos

• Torneios e visita

• Minicursos, ações da SAA e 1º ELAPC

Já a SAA ainda apresentou novas tecnologias para os produtores na área de probióticos e ração de peixe, crédito para os produtores, ações relacionadas à assistência técnica e sanidade para os aquicultores.

Durante a 11ª Aquishow Brasil ainda foram realizados dois jogos: o 1º AquaQuiz, para testar o conhecimento dos participantes da feira sobre a aquicultura, e o 2º Filetador de Ouro. Por fim, a programação da 11ª Aquishow Brasil encerrou com visita guiada aos tanques-redondos da Fisher Piscicultura, em Riolândia (SP).

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Ainda foi realizado o 1º Encontro Latino-Americano de Peixes de Cultivo (ELAPC), em parceria com o Laboratório de Bacteriologia em Peixes (LABPEP-UEL), cujo objetivo era criar um momento de diálogo entre pesquisadores, estudantes e empreendedores da cadeia produtiva.

Créditos: Divulgação/Aquishow Brasil

Visita a criação de tilápias da Fisher Piscicultura

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Com coordenação do Instituto de Pesca (IP-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, paralelamente à programação de palestras da 11ª Aquishow Brasil, foram realizados quatro minicursos, com os temas: “Introdução aos Sistemas de Aquicultura em Recirculação de Água”, “Aquaponia: Aspectos Fundamentais”, “Teoria e Prática em Parasitologia de Peixes” e “Carpas Nishikigois”.

As expectativas de Moutinho vão de encontro ao atual momento de mercado. “A aquicultura em geral está indo bem e a tilapicultura mais ainda. A produção de tilápia é crescente e isso a gente vê agora principalmente com as conexões que estamos fazendo com a América Central”, conta o biólogo. Após uma viagem recente à Colômbia para participar de evento que concentrou diversas empresas de diferentes países, Moutinho frisa que a tilapicultura tem sido mostrada ao mundo. “Os investimentos estão vindo e agora a operação é fortalecer a entrada da tilápia em diferentes locais do mundo - e a tilápia do Brasil”, finaliza Moutinho.

Seafood Brasil

Conforme Marilsa Fernandes, a realização do Painel visava mudar o conceito de que a mulher é sempre figurante no agronegócio, dando a devida importância e valorizando o trabalho sério e bem-feito das profissionais da área. “Hoje, a participação feminina tem se tornado crescente e será, em breve, reconhecida como fundamental”, pontua.

A Hipra está buscando cada vez mais a consolidação de sua operação de vacinação completa por imersão e também a injetável. Para isso, a empresa fez questão de apresentar na Aquishow Brasil os seus principais resultados contra a bactéria Francisella noatunensis em tilápias. “Mas, ao mesmo tempo, a gente teve o retorno de clientes que já estavam utilizando a vacina e alegaram que ela tinha melhorado a sobrevivência e o desempenho dos animais e, principalmente, evitado a mortalidade contra francisella”, fala o biólogo João Felipe Moutinho, manager Brasil da linha de vacinas autógenas da Hipra.


Marketing & Investimentos

Muita espera = muitas novidades Depois de dois anos de espera, velhos conhecidos e novas caras se uniram na Aquishow Brasil 2022 em mais de 90 estandes durante os quatro dias de evento. Veja a seguir o que algumas das principais empresas do setor levaram à feira: Crédito fotos: Seafood Brasil

Formas jovens A Aquabel, de Janderson Gandra e Lucas Granuzzo, levou à feira a sua nova geração de reprodutores de tilápia. A novidade chega trazendo algumas vantagens zootécnicas para os novos lotes de alevinos que começaram a ser comercializados a partir de junho, como o rendimento de filé em torno de 0 a 3% em relação a geração anterior. “Ela também nos traz uma maior uniformidade de lote conferida a partir das análises desde a produção de alevino até a engorda, passando pela engorda um, engorda dois e juvenis. Além de uma maior resistência e rusticidade a desafios ambientais”, conta Granuzzo, brand manager da Aquabel do Brasil. Na feira, a empresa ainda estava anunciando outra novidade: a partir de agora, o núcleo de melhoramento genético da Genomar passa também a produzir as linhagens Aquabel, AquaAmérica e Genomar.

Estruturas de cultivo Com itens já conhecidos no mercado, como as redes anti-pássaros, redes de arrasto e panagens, a fabricante de redes Têxtil Sauter, representada por Renata de Carvalho e Eder Pinheiro, não levou novos produtos ao evento, mas apostou na retomada da feira para estreitar o relacionamento com os clientes. “Já que atendemos a nível Brasil, o motivo é estar mais próximo ao cliente para ele saber quem realmente somos”, explica a vendedora Carvalho. No retorno aos eventos presenciais, a Zanatta Estufas Agrícolas, de Odair Araújo e Jair Rodrigues, levou a sua gama de produtos que contribuem para a produção de peixes e camarões. “No sentido de dar maior proteção aos cultivos, por ela [estufa] ter sempre contato com água e água salinizada, é importante que seja com tratamento correto. No caso da Zanatta a gente usa o tratamento de galvanização a fogo que é uma técnica que é difundida há muitos anos e é o melhor tratamento que existe contra a corrosão”, pontua Rodrigues.

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Máquinas e equipamentos A Trevisan apresentou seus três recentes lançamentos. O primeiro foi o Fishtronics Controle e supervisão em alimentação, aeradores, oxigênio e energia. O segundo foi o aerador com motor importado de Israel. Já o terceiro produto foi a bomba de pesca para camarões e peixes que foi feita em parceria com uma empresa mexicana. Entre as vantagens, Vitor Hugo, técnico em eletrotécnica, e Anderson Souza, engenheiro de aquicultura, contam que o processo da bomba é capaz de diminuir tanto a mão de obra dos operadores, quanto o estresse dos animais, além de aumentar o tempo da despesa. O atual momento político e econômico fez surgir novas demandas dos produtores de peixes no Brasil. E foi justamente isso que levou a Aquagermany voltar a apostar em aeradores de pás plásticos a um preço mais acessível, porém, sem perder a qualidade, como informa Thiago Karkow, da área comercial. “A gente desenvolveu uma liga um pouco diferente do plástico, com uma mistura de nylon e fibra de vidro, resultando em uma pá mais resistente e com tratamento ultra ultravioleta”, fala.


No ano de 2021, a Zoetis anunciou a chegada ao Brasil da Fishteq NFT20, a máquina exclusiva que além de vacinar, conta, mede e classifica os peixes. Agora, o produto ainda faz parte do atual momento da empresa que está focando na automação da vacinação, como conta Daniele Damasceno, gerente técnica e comercial de aquicultura. “A automação é uma chave para evolução da aquicultura. Então, a gente acredita que melhorar a performance e a ergonomia dos vacinadores, já que eles trabalham de uma forma mais confortável, também contribuem para um melhor rendimento”, completa. Especializada em inovações focadas na proteção do meio ambiente, a Enessul, de Edison Nestor Preima, Bruno Preima e Eugenio Preima, aqui com Edmundo Diniz (EcoPower), realizou sua estreia na Aquishow deste ano com três novos produtos. Operando no Brasil há mais de 20 anos, a empresa é responsável pela distribuição no Brasil da tecnologia da companhia canadense BIONETIX. O primeiro produto apresentado na feira é o AeroBooster, um gerador de oxigênio baseado em bactérias. O segundo produto é o BCP54, usado para tratamento de água. Já o terceiro é o Aquafeed focado na melhora do trato intestinal do animal. Também pela primeira vez na feira, a Top Aeradores, de Dracena (SP), já vem atuando com a linha de geradores de chafariz. Agora, a companhia está entrando no mercado com a proposta de aparelhos de baixo custo para os pequenos produtores, médios e grandes produtores. “Hoje podemos trabalhar aeradores para favorecer o aumento da densidade tanto do peixe e do camarão, quanto favorecer o aumento e a lucratividade do cultivo de peixes e demais animais aquáticos”, pontua o representante e médico veterinário, Affonso Pinheiro .

Aditivos e saúde animal Com a estabilidade e eficácia testada em diversas fases de cultivo e resultados que procuram melhorar o desempenho e a qualidade do filé, o aditivo alimentar Add Life Pro Sacch foi a aposta da Biosyn Saúde. Lançado em 2019, o produto recebe um microencapsulamento capaz de resistir a temperaturas altíssimas, como no processo de extrusão. “Isso permite que esse probiótico seja único no mercado e possa ser adicionado antes do processo de extrusão, junto ao premix ou junto à mistura inicial”, conta Gabriel Jesus, P&D Biosyn Saúde Animal, aqui na foto junto à coordenadora técnica e comercial, Maria Fernanda Menegucci Praes.

Depuração de bivalves

Alevinagem

Engorda

RAS

(12) 98304-0366 (12) 3957-3154

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A MSD Saúde Animal, de André Blanch, Rodrigo Zanolo e Karina Farias, não economizou na retomada e levou à feira três produtos que visam contribuir para o crescimento sustentável da tilapicultura, além da recém-lançada AutoFish™- DC 5000, primeira máquina de vacinação automática de tilápias com tecnologia 100% brasileira. Entre os produtos, a AQUAVAC® Irido V é a primeira vacina do Brasil para prevenção e controle de Iridovírus. Já a AQUAVAC®STREP 4 é a primeira vacina tetravalente comercial para controle das estreptococoses no Brasil e no mundo. Por sua vez, o Omnicide® Aqua é o primeiro desinfetante com informações específicas de dosagens e protocolos para programas de biosseguridade em aquicultura.


Marketing & Investimentos A Patense apresentou na feira seus dois recentes lançamentos: a farinha de salmão premium e o óleo de salmão premium. “É um produto que o Brasil não tem tradição de produção. No entanto, a Patense, com sua expertise de produção de produto de origem animal de maneira ecológica, está produzindo, por exemplo, um óleo com qualidade superior inclusive aos grandes concorrentes no mundo”, pontua Dario França, diretor comercial do grupo.

Nutrição Ao público da feira, a Guabi apostou no relançamento de sua linha GuabiTech Eco. A nutrição destinada a peixes e camarões havia sido lançada durante a pandemia da Covid-19 e, como destaca o gerente de aquicultura, João Manoel Cordeiro Alves, a linha traz vantagens para o bolso do produtor e também ao peixe, em termos de conforto ambiental. “É uma linha como o nome diz: eco, de ecológica e econômica. São rações com menos nitrogênio e fósforo, mas que não vão causar deficiência de proteína”, conta. Especializada em nutrição de tilápia, a Aquafeed iniciou a produção de suas rações microextrusadas em 2018. Mas, como não foi possível apresentá-las na edição de 2019 da feira, o público da Aquishow pôde conhecer a linha AquaQualy apenas neste ano. “Agora, depois da pandemia, conseguimos fazer um produto em escala maior, produção maior, volumes maiores e a produtividade dos equipamentos também ficaram melhores, ampliando também neste período para uma segunda linha”, conta Davi Martins, gerente de operações da empresa. Conforme ele, as rações de microextrusão foram novidade no portfólio da empresa, com a produção em cerca de 100 toneladas por mês, com atendimento próprio para a aquicultura Geneseas e ainda para a Global Peixes. Os altos e baixos presentes na produção da tilápia motivaram a Presence a criar a linha Tilápia Season. “São três produtos hoje na Presence que tratam diferentes estações: Verão, Inverno e situações em que o peixe passa por estresse. É uma novidade no mercado e outras empresas não têm uma linha específica para essas diversas fases”, fala Kleber Ragazzo, gerente de território. O estande do Grupo Ambar Amaral destacou os produtos das marcas Brazilian Fish e Raguife. Enquanto a primeira marca destacou a sua linha de pratos prontos, a segunda marca levou, entre as novidades à feira, a linha Pro Star de rações especialmente desenvolvida para as fases iniciais da criação de peixes foi destacada. “A ração é micro extrusada e realmente dá um ganho muito grande em sanidade para o peixe na fase mais complicada de produção e ainda dá crescimento para as fases seguintes”, disse Felipe Amaral, um dos diretores do grupo Ambar Amaral.

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Processamento Lançada no final de 2021, a FilleXia, filetadora automatizada e a mesa StreamLine foram alguns dos produtos apresentados no estande da Marel. O gerente de compras, Paulo Guth, conta que o intuito de levar estas máquinas para feira foi mostrar para o mercado em geral as possibilidades de redução de custo numa linha de filetagem de tilápia em máquinas exclusivas e únicas no mundo. “A gente está trazendo elas para o mercado brasileiro porque a Marel acredita muito no potencial da tilápia no Brasil e porque nós acreditamos que a tecnologia e a automação são parceiros ideais para esse tipo de desenvolvimento da indústria da tilápia no mercado”, fala.


Também em sua primeira participação na Aquishow Brasil, a MQ Pack levou à feira uma máquina que tem um apelo com relação a precisão de pesagem, numa balança de 16 cabeçotes horizontal e sacos pré-formados. “Ela vai dar uma precisão muito maior. Só para você ter uma ideia, um cliente com uma máquina dessa vai fazer um pacote de 800 g de tilápia, com uma precisão média de 802 g. Se ele for fazer na mão, faz 815 g. Então, ele economiza em torno de 10 g a 15 g de tilápia finalizada e processada por hora”, explica o sócio-proprietário, Marcos Queiroz.

Certificação

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A crescente demanda por certificações no setor de pescado motivou a ida da Certificação Aquaculture Stewardship Council (ASC) pela primeira vez à Aquishow Brasil. A consultora Ana Carolina Iozzi, da empresa Woods, explica que a atuação do grupo é focada em preparar empresas, fazendas e frigoríficos para receber as certificações. “Era a hora da gente mostrar um pouco quem éramos nestes eventos. Afinal, a gente recebe alguns contatos por e-mail ou por WhatsApp, mas aqui é que nós temos a oportunidade de ver alguns parceiros da cadeia”, pontua.


Marketing & Investimentos

Nova casa, velhos conhecidos E

m nova casa, a 11ª Aquishow Brasil promoveu o reencontro do setor em São José do Rio Preto (SP) e movimentou em torno de R$ 130 milhões entre negócios fechados e orçamentos, o que corresponde a um crescimento de mais de 100% em relação à edição anterior (2019). Ao longo dos quatro dias de evento, o público pôde conferir uma extensa programação de palestras, minicursos, encontro acadêmico, premiações, competições, workshops e painéis.

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Marcelo Shei (Altamar), Maurício Piza (Forever Oceans) e Marilsa Patrício (PeixeSP/ Aquishow)

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Wagner Camis (Pisc. Água Pura), Joel Leal (AquaBench) e Álvaro Camargo (ProChile)

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Vitor Hugo, Anderson Sousa e Eniel Klein (Trevisan)

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Eduardo Weschenfelder e Paulo Guth (Marel)

Nils Steine, Danielle Damasceno e Dagfinni Stromme (Zoetis / Pharmaq) e Nicolas Landolt (Tilabras)

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José Dias e Elizabeth Cruz (Prevet)

Felipe Amaral, Milena Amaral, Sônia Amaral e Ana Helena Amaral (Grupo Ambar Amaral)

Fabio Mello e Diego De La Cadena (Cargill)

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João Moutinho e Letícia Arruda (Hipra)

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Eduardo Conte (AmmcoPharma) e Santiago Benites (Vaxxinova)

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Eduardo Ono e João Campos (NovaAqua)

Cristiane Krym (Catalysis), Ana Tereza Borba e Geraldo Borba (Nexco) e Ailton Pereira (Aquabit)

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Micaele Pereira (Spring Genetics), Thiago Ushizima (Adisseo) e Jessyca Ellen (Spring Genetics)

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Roberto Imai (Imai Pesca), Thamires Quinhões (ABRAPES) e Guilherme Imai (Imai Pesca) Josiani Raposo, Jurandi Ramos e Rita de Cassia Ramos (Grupo Peixe Bom) Hugo Roa, Marco Rozas e Miguel Fernandez (Pathovet) Mauro Nakata (Cristalina), Herbert Carli e Milton Vicenzotto (Bom Futuro) Marcelo Shei, Lucas Laurini e José Ferrarezi (Altamar)

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Daniela Nomura (Indukern e CAUNESP), Fabiana Pilarski (CAUNESP) e Fabiana Garcia (Secretaria Estado de SP / SAA)

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Altemir Gregolin (IFC Brasil) e Luiz Ayroza (Secretaria Estado de SP / SAA e IPesca)

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Micaele Sales (Spring Genetics), Cristiane Neiva (Secretaria Estado de SP / SAA e IPESCA) e André Camargo (Pé de Peixe)

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Emerson Esteves (PeixeSP e GlobalFish), Itamar Rocha (ABCC), Maurício Pessôa (SAP / MAPA) e Martinho Colpani (PangaBR e Colpani Pescados)

Carlos Mello e Eduardo Lobo (ABIPESCA)

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Francisco Medeiros (PeixeBR) e Fabi Fonseca (Seafood Brasil)

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Talieh Mathias e Cláudio Mathias (Wenger)

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Gustavo Alves e Eduardo Urbinatti (Socil/ADM)

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Ricardo Neukirchener (Aquabel), Altemir Gregolin e Eliana Panty (IFC Brasil) Roberto Imai e Guilherme Imai (Imai Pesca)

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Antônio Ramon Amaral (Brazilian Fish), Rodrigo Zanolo e André Blanch (MSD)

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Dalton Skajko (Aquadata), João Manoel e Diego Viana (Guabi)

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Maria Cláudia e Ana Guerrelhas (Aquatec) e Daniel Lemos (USP)

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Andrea Figueiredo (SAP) , Antonio Pedro Pezzuto (Secretaria da Agricultura e Abastecimento de São José do Rio Preto), Daniele de Bem Luiz e Lícia Lundstedt (Embrapa)

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Vilsonei Bonetti, Joaquim Ferreira e Rafael Piaz (Branco Máquinas)

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Ambrozio Bacca (Brusinox), Ofélia Maria (ACAq) e Christiano Clemer (Brusinox)

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Laurent Viguie e Ana Carolina Iozzi (ASC)

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Lucas Patrício, Marilsa Patrício (PeixeSP e Aquishow)

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Susana Sandes, Juliana Lopes, Maria Janaina, Maurício Pessôa (SAP / MAPA)

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Gustavo Guimarães (Dupeixe), Tiago Bueno (Seafood Brasil) e Kaká Ambrósio (Dupeixe)

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Sergio Tutui (Secretaria Estado de SP / SAA) e Fábio Sussel (Secretaria Estado de SP/ SAA e VaiAqua)

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Marketing & Investimentos

Divulgação Apas

Apas Show 2022 recebeu 110 mil visitantes em quatro dias intensos de novidades, palestras, painéis e networking

A maior da história Com o tema “Além de alimentos”, Apas Show 2022 voltou a reunir cadeia de suprimentos do autosserviço com números superlativos, mas excesso de visitantes e corredores abarrotados prejudicaram a visitação do setor

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Texto: Fabi Fonseca e Ricardo Torres

s corredores lotados e a empolgação das empresas participantes e dos visitantes aos estandes evidenciaram a saudade do maior dos eventos presenciais do mercado de alimentos. O “trânsito” dentro e fora dos corredores da Apas Show confirmou o sucesso que o varejo, sobretudo o alimentar, vem construindo ao longo dos últimos anos. Realizada entre os dias 16 e 19 de maio no Expo Center Norte, em São Paulo, a Apas Show recebeu o público após dois anos de crise sanitária global em que não foi possível realizá-la. Conforme os números oficiais, foram 111.571 visitantes em 2022, o que representa 4,43% a mais em relação à última edição realizada em 2019.

Os quatro dias de feira reuniram 819 expositores, dos quais 185 vieram de 14 outros países, além do Congresso

de Gestão, que também totalizou ainda 3.684 congressistas em mais de 78 palestras. Esses números, junto com a inclusão do Pavilhão Amarelo do Center Norte, ajudaram a cravar a 36ª edição como a maior já realizada até aqui. O gigantismo impressionou na mesma medida em que atrapalhou a visitação: trânsito intenso nos arredores da feira - prejudicado pela visita de políticos -, estacionamentos lotados, acesso difícil aos estandes, entre outros problemas. Nada que tenha afetado a percepção da organização, no entanto, sobre o êxito do evento. “Na Apas Show, vemos todas estas coisas acontecendo: geração de empregos e movimentação de toda uma cadeia de consumo. Não apenas dentro da feira, mas também hotéis e restaurantes lotados. Vimos a economia voltar a fluir com a volta

dos eventos em grande nível. Essa edição foi um divisor de águas: quem tinha dúvidas se era possível, viu que o setor está voltando em alto nível”, disse Carlos Corrêa, Superintendente da APAS, em uma análise do balanço desta edição durante participação no podcast da Inwave em parceria com a SouPods.

Um reencontro muito aguardado Apesar de todo crescimento do varejo, as medidas de contenção da pandemia foram sentidas de diversas maneiras e em praticamente todos os setores, sobretudo pela ausência dos grandes eventos presenciais - o que tornou a Apas deste ano ainda mais aguardada. “É com muita alegria que a gente volta a participar das feiras e outras atividades. Existe uma


Em ampla expansão Na Seafood Brasil #38, nossa equipe de reportagem já havia mostrado como a Covid-19 provocou bruscas mudanças no hábito dos consumidores no Brasil, que por sua vez, modificaram não apenas o perfil de compra no varejo, mas também o cotidiano dentro dos seus lares.

Só no Estado de São Paulo, por exemplo, foram 20.354 novas lojas, um crescimento de 4% em relação a 2020. O crescimento no número de supermercados também resultou em um faturamento de R$ 177 bilhões (32% sobre o share nacional) e na criação de 590.294 postos de trabalho em 2021, resultando também em um aumento de 4% comparado a 2020.

Banco de imagens Canva

Pandemia da Covid-19 impulsionou a onda de pessoas ao varejo, sobretudo aos supermercados

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Vitor Pierri, gerente comercial, completa que, apesar da pandemia, 2021 foi um ano “muito bom” para a empresa, que fechou com crescimento de 35% nas vendas. Diante desse desempenho, o 2022 aparece então como um grande desafio. “É um ano mais de consolidação, mas mesmo assim, a gente está muito satisfeito com o resultado da Semana Santa.

Uma pesquisa feita pela Associação Paulista de Supermercados (Apas), apresentada durante a abertura oficial da Apas Show, mostra que o setor supermercadista brasileiro registrou a abertura de 100.750 novas lojas em todo o País em 2021 - o desempenho representa um crescimento de 4,1% em relação a 2020. O salto do número de supermercados também resultou em um faturamento de R$ 556 bilhões e a criação de 1.173.041 postos de trabalho em 2021, aumento esse de 4% se comparado com o ano anterior.

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euforia muito grande por parte dos participantes e dos profissionais de voltar a se encontrar, se relacionar e, naturalmente, voltar a fazer negócio um pouco mais presencial”, disse Tiago Dreher, chain manager da Komdelli - empresa abrigada no estande do Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI).

Na ocasião, o impacto da pandemia na economia mundial ocasionou, entre outras coisas, a alta do dólar, da inflação e, consequentemente, dos preços dos produtos nas gôndolas dos supermercados. Entretanto, outro fator consequente da pandemia foi a ascensão dos supermercados. Agora, pouco mais de um ano depois da publicação que chamamos de “A Era do Varejo”, os números do segmento evidenciam a ampla expansão do varejo, em destaque ao desempenho do varejo alimentar.


Marketing & Investimentos

Seafood Brasil

Abrapes esteve na Apas Show com estande de apoio institucional

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Para a Copacol, o retorno das feiras tem sido ainda mais importante porque eles passaram recentemente por um rebranding durante a pandemia. “Foi no momento que a gente não conseguia atingir o nosso cliente e nem o mercado da forma ideal para mostrar nosso conceito. Hoje, a gente traz nosso slogan: ‘Coopera sempre’”, conta Guilherme Emmeendoerfer, supervisor de marketing. Também nessa linha de mostrar uma nova visão da marca, a Aurora, segundo o gerente de marketing, Ricardo Chueri, além de reforçar sua ampliação e lançamento nos mercados, usou a feira para se posicionar como “uma empresa de alimentos e não só de uma proteína específica”. Entre as estratégias para o pescado, Chueri revela que a empresa enxerga o segmento como uma categoria de valor agregado importante, não só na questão de faturamento, de margem e rentabilidade, mas também como imagem de marca. “Nós já somos

Opergel focou em itens similares ao bacalhau e que facilitassem a vida das redes de varejo e do consumidor final

fortes em suínos, em frangos e agora, queremos ampliar a marca e nosso portfólio para o pescado”, fala.

A portuguesa Soguima também teve motivos para celebrar o retorno do evento. “Foi maravilhoso!”, cravou Sidónio Barros, diretor comercial. “Se nota pela quantidade de pessoas que aqui estão. É muito bom. Acho que a gente estava com muitas saudades de uma feira”, completa. Para ele, o setor de pescado no Brasil está melhorando - constatação baseada, sobretudo, no desempenho da empresa durante a última Semana Santa. “A informação que temos dos nossos distribuidores é que a Quaresma foi muito boa”, pontua.

Mas não teve jeito. Depois de mais de 2 anos de reclusão pela pandemia, para muitas empresas, a Apas 2022 foi uma grande oportunidade de rever pessoas importantes para a história de empresas. E essa foi a opinião de José Madeira, diretor da ASMI. “É uma satisfação estar recebendo os amigos, os clientes, os fornecedores e todo mundo que estava com saudades dessa interação e poder mais uma vez compartilhar os peixes do mar do Alaska”, disse.

Pescado com muitas novidades

E teve ainda quem sentiu a sensação de estrear na Apas, caso da Associação Brasileira de

As oportunidades para o pescado continuam a movimentar o setor, com os congelados como destaque. Somente na Apas deste ano, nossa equipe pôde

Divulgação/Apas

Conseguimos expandir em cima desse crescimento que a gente teve no ano passado e acreditamos que vamos fechar o ano com crescimento na faixa de 20%”, diz.

Fomento ao Pescado (Abrapes). “É um excelente ponto de apoio para os nossos associados. Em geral, a feira é excelente para nós como uma prospecção de novas empresas para demonstrar e divulgar o trabalho da Abrapes. Além disso, também podemos oferecer aos associados a oportunidade de eles realizarem reuniões e seus networkings aqui em nosso estande”, informa a diretora executiva da Abrapes, Thamires Quinhões.


Alguns dos principais destaques da Apas 2022 • Bacalhau e tilápia O bacalhau e a tilápia foram os grandes protagonistas entre os estandes de pescado que participaram da Apas neste ano. A Aurora, por exemplo, deixou evidente sua aposta no bacalhau em paralelo ao desejo de

ampliar sua oferta de tilápia - o que deve ajudar a marca “a crescer ainda mais no mercado”, como conta Ricardo Chueri. A empresa, que começou no segmento de pescado em 2018 de olho no crescimento de consumo e versatilidade da tilápia, agregou em 2021 o bacalhau à linha, cujo lançamento foi reforçado nesta edição da feira.

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Com apelo à saudabilidade e a praticidade, o hiato provocado pela pandemia da Covid-19 ocasionou ainda uma onda de relançamentos de produtos de pescado durante a Apas 2022. Aqui, vale destacar que o chamado “relançamento” se refere a produtos lançados em 2020 e 2021, que ficaram sem palco durante a pandemia, mas agora foram reapresentados ao mercado em 2022.

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apurar lançamentos de produtos de pescado de mais de dez empresas. Destaque para os peixes brancos, como bacalhau, tilápia e outros filés brancos. Já o camarão, a lula e o salmão também apareceram entre os estandes visitados.

Divulgação/Apas

A 36ª edição da Apas ainda recebeu o Congresso de Gestão da Apas Show 2022. Com o tema “O essencial é humano”, o congresso somou mais de 70 palestras apresentadas por especialistas em inovação, tecnologia, inteligência e produtividade


Marketing & Investimentos Tradicional estande em forma de barco da Bom Porto: empresas do segmento investem alto no relacionamento com grandes redes varejistas por meio da Apas

Seafood Brasil

Já o estande do ASMI esteve na feira recebendo empresas parceiras para a promoção de seus peixes do Alasca e na divulgação de seus produtos. Entre os principais itens para esse ano estava a polaca do Alasca, o bacalhau fresco em filés, o bacalhau pescado no Alasca e dessalgado em Portugal. O salmão selvagem pink também ganhou destaque no estande, além do salmão selvagem de sockeye.

Também de olho no consumidor brasileiro de bacalhau, a Opergel esteve no evento com a linha Oceani, que veio carregada de novidades para 2022 e Quaresma de 2023, com opção em filés e peixes secos e salgados. “Nós identificamos uma oportunidade no mercado em uma alta procura de produtos similares ao bacalhau e com preços atrativos”, diz Felipe Scartezzini, supervisor de marketing. Segundo ele, a procura desses itens se deve a uma alta no valor do bacalhau Gadus morhua e vem ao encontro com a crise econômica que nosso País atravessa e a desvalorização da moeda nacional.

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Focando na preferência dos brasileiros pela tilápia ao longo dos últimos anos, a Copacol usou ainda outra paixão do brasileiro, a pizza, para anunciar o lançamento desse produto feito de tilápia congelada. “A gente pensou: ‘vamos desenvolver algo inovador?’ Foi assim que surgiu a primeira pizza de tilápia do mercado”, completa Guilherme Emmeendoerfer. Embora sem lançamentos de novos produtos de pescado, a Korin, conhecida por atuar com itens que dispensam antibióticos e hormônios, apresentou ao mercado no início deste ano as suas novas linhas: Que Tal, Boa Pedida e a tradicional Korin Orgânico. “A gente procura um produto diferenciado. No caso da tilápia, ela não tem antibiótico e também não tem hormônio para

reversão sexual e ainda tem todo o rastreio deste peixe”, fala Charles Minoru Fudaba, gerente de produtos.

• Salmão O salmão foi outra espécie destacada entre as empresas presentes na Apas. A importadora e distribuidora Mar e Rio Pescados, por exemplo, fortaleceu a sua linha de pescado Skin Pack. “A gente vem com investimentos novos em uma linha que, acreditamos, irá revolucionar o mercado de maneira alinhada às tendências mundiais de pescado. A sensação é muito nobre”, projeta Elton Freitas, supervisor comercial.

• Truta Já a Komdelli, por sua vez, reforçou o lançamento da truta peruana, produto com o qual a marca começou a trabalhar em 2021. “Somente agora estamos com a oportunidade de oferecê-lo a nível nacional”, conta Tiago Dreher. O produto é vendido em peso variável ou peso fixo. “A grande vantagem do peso fixo é tirar a mão de obra do ponto de venda onde o chefe do açougue ou o setor da peixaria não necessita ficar pesando e precificando o peixe: basta cadastrar o código de barra e o preço”, fala Vitor Pierri, gerente comercial. As novidades da Komdelli ainda incluíram toda a repaginação das novas roupagens do Assa Fácil, novo catálogo de produtos e o seu novo site.

• Camarão A diversificação da apresentação dos camarões foi a aposta da Qualimar, do Grupo Carapitanga. A marca hoje atua em duas frentes: camarão cru ao food service e o camarão pré-cozido, congelado e também agora em atmosfera modificada, com foco no varejo. Na feira, os lançamentos incluíam o camarão resfriado em atmosfera modificada oferecido em porções, além do polvo inteiro e em tentáculos.

• Empanados, enlatados e outros A Noronha Pescados iniciou o ano de 2022 aumentando os investimentos em produtos de alto valor agregado. “A gente está com a linha de empanados e vai lançar alguma coisa de pratos prontos ainda este ano, dando seguimento ao trabalho que já faz com os bolinhos de bacalhau e o bacalhau produzidos em Portugal”, comentou o diretor, Guilherme Blanke. Os produtos da marca já vêm sendo lançados há algum tempo em parceria com terceiros, como a Seara e a Swift. Blanke ainda revelou que este ano, a empresa tem planos para o desenvolvimento de novos produtos. Para também destacar a sua linha de pescado empanados na Apas Show 2022, a Seara mostrou aos visitantes opções diversificadas para todas as ocasiões. “Com a linha de empanados, buscamos surpreender nossos consumidores com produtos práticos


Marca da JBS, a Seara estreou na Apas a linha de pescado, com destaque para os empanados

Com linhas focadas no food service e no varejo, a Frumar também esteve presente com diversos itens e espécies. A

lista contempla produtos como o filé de merluza, tilápia e os camarões cinza e rosa, além de filés de salmão, atum e tainha eviscerada. Já o bacalhau ainda apareceu em formato de bolinhos, além de outras iguarias como o polvo e as vieiras com ovas desconchadas.

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por meio da marca Reymar, focou na praticidade do polvo cozido “pronto para comer”. O produto foi apresentado ao público em embalagens skin pack.

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Por outro lado, a Pif Paf Alimentos aproveitou para relançar na feira uma de suas principais marcas: a Pesca Nova, lançada originalmente em 2011. As novidades foram a nova identidade visual e o novo reposicionamento de marca, com uma oferta comum de itens de pescado. Marcelo Assaf, diretor de marketing, destacou a extensão da linha com tilápia, merluza, cação, panga e bacalhau. “Estamos com uma visão importante de ampliação de portfólio para os próximos anos também trazendo frutos do mar. Já temos o camarão e, agora, teremos outras opções para complementar e fortalecer nosso portfólio”, finaliza. A Soguima,

Divulgação/Apas

e gostosos”, conta Sandro Facchini, Diretor do Negócio Pescados na Seara.


Marketing & Investimentos

Saudosismo de lado A

Apas Show recebeu o público após dois anos de crise sanitária global em que não foi possível realizar o evento. O retorno da feira levou um grande número de pessoas ao Expo Center Norte, onde o otimismo aliado a muitos lançamentos e prazer do reencontro marcaram os estandes das empresas do setor.

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Tiago Dreher (Komdelli), José Madeira (ASMI) e Vitor Pierri (Komdelli) Fabrícia Roweder, Marcela Zanoto e Lorrayne Silva (Mar&Rio) Emmanuel Klein e Marcelo Varela (Carapitanga | Qualimar) Diego Christen e Sérgio Monteiro (Bacalhau Caxamar) Rafael Pedroza, Ricardo Pedroza, Tony De Luca (Frescatto Company), Jurandir Fonseca (Fonseca Carcinicultura), Ronaldo Monteiro (Frescatto) e Gustavo Pedrosa (Bio Pescados da Amazônia) Antônio Ramon Amaral (Brazilian Fish), Edu Guedes e Júlio César Antonio (Mar&Rio)

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Andréa Araujo e Lidiane Monteiro (Golden Foods) Alessandro Guerra e Maurício Deliberaes (Copacol) William Yamamoto, Ederson Krummenauer e Marcelo Somensari (Frumar) Tiago Bueno (Seafood Brasil) e Angélica Seiblitz (Bom Porto) Marcio Ortega (Fenix & BaitaFrio) Luiz Carlos Demattê, Mariana Nagata e Celso Morinaga (Korin) Jorge Mello, Elton Freitas e Gustavo César Galvão (Mar e Rio Pescados) Guilherme Emmeendoerfer e Paulino (Copacol) Ricardo Chueri (Aurora) Marcelo Assaf (Pif Paf Alimentos) Kevin Arlington (Frumar) Javier Dufourquet (Embaixada da Argentina) e Thamires Quinhões (Abrapes) Pedro Pereira (Opergel), Manuel Filho, Carlos Eduardo (Carrefour), José Ricardo Soler (Opergel) e Marcela Zampieri (Big/Carrefour)

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Eduardo Frasson, Gustavo Gutierrez (Bom Peixe), Luis Palmeira e Gustavo Palmeira (New Fish) Nicolas Fagiani (Newsan), Sidónio Barros (Soguima), Marcelo Glikman (Newsan) e António Guimarães (Soguima) Mauricio Monteiro (Pescare), Cristos Trasivulidis (Charlie Tango), Ayrton Troina (A3T), Celestino Centeno (Fishing Ground) e Manuel Cash (Charlie Tango) Roberto Tardin (Tardin e Perry), Daniel Montoya e Bastian Parischewsky (Blumar), e Luiz Carlos Ribeiro (Tardin e Perry) Carolina Peña Rocco e Max Dominguez Montes (AquaChile) Pedro Pereira (Opergel), Renata Caetano (Carrefour) e Ivan Lasaro (Opergel) Nicolás Papazian e Carolina Huertas (Congelados Artico) Alexandre Reis (Deep Sea), Marcelo Costa, Jesús Lopez (Pescanova) Fernando Botelho Assunção, Douglas Santos e Javier Piñeiro (Crusoe Foods)

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Marketing & Investimentos

A maior do mundo está de volta Seafood Expo Global se muda para Barcelona e encontra uma cidade vibrante e pronta para receber novamente os milhares de visitantes da principal feira do pescado no mundo Fotos e texto: Vanessa Costa | Edição: Ricardo Torres

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cosmopolita Barcelona se tornou em 2022 a nova capital mundial do pescado. A cidade escolhida pela organização da Seafood Expo Global recebeu pela primeira vez o evento em sua nova fase pós-Bruxelas (Bélgica) com poucos asiáticos, em razão da pandemia e suas restrições ainda vigentes, especialmente na China. Em abril, período de realização da feira, o transporte público na cidade ainda mantinha o uso da máscara obrigatório, mas em locais fechados como o pavilhão Fira Barcelona o uso era facultativo.

Mesmo assim, não deu para se esquecer completamente da Covid-19. No estande do Japão, por exemplo, todos estavam de máscara e uma placa na entrada colocava o acessório como condição para entrar. No único estande de empresas chinesas, os responsáveis estavam conectados via internet diretamente da China para dialogar com potenciais compradores com o auxílio de representantes locais. Outra mudança flagrante foi a montagem dos estandes, grande parte com o uso de madeira, que sinalizava uma preocupação em associar o

pescado à sustentabilidade. Mowi, Pescanova, ProChile, Discefa, Balfego, Nordic Seafood, Alaska Seafood Marketing Institute, Maruha Nichiro e o estande de Angola foram alguns que apostaram na vertente. Outros optaram por uma decoração mais ousada, como o barco cheio de peixes da Europeix e uma mulher vestida de sereia no estande de Hamburgo. O movimento geral desta que foi a 28ª edição do evento superou as expectativas: alto trânsito nos corredores e superlotação nos restaurantes. Foram 1.550 empresas


Chie Mitomi, executiva da Daisui, de Osaka (Japão): presença de asiáticos foi menor que em anos anteriores por conta da pandemia e seus efeitos, como a alta vertiginosa do frete marítimo e aéreo

O estrangulamento logístico e a disrupção na cadeia de suprimentos foram o principal impacto da pandemia entre os expositores entrevistados pela Seafood Brasil. Muitos, inclusive, aproveitaram a feira para restabelecer contato com compradores tradicionais com quem tiveram alguma pendência de negociação durante a pandemia. “A pandemia afetou nossos negócios

Há quem tenha conseguido capitalizar em cima da situação pandêmica. Verena Sanchez de Molina, gerente de exportação da Viciunai, usou uma frase tipicamente espanhola: “No hay mal que por bien no venga”. Ela se refere à busca das empresas pela diversificação de canais e mercados internacionais. “O retail melhorou

muito em função da venda online, mas o food service se viu afetado seriamente”, frisa. Beneficiados pelo fluxo terrestre de transporte de pescado no continente, os europeus contornaram os problemas tratando tudo como um grande mercado doméstico. “Nosso foco principal é a venda de polvo para a Europa por via terrestre. Neste ano

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Gestão dos impactos pandêmicos

e tivemos de nos adaptar ao novo normal, porque todos os insumos aumentaram e tivemos de renegociar contratos”, conta Marie-Aude Irma, executiva do departamento de exportação da Damsa, indústria de conservas marroquina. “Alguns clientes recusaram e outros aceitaram, então tivemos de lidar com isso e tolerar alguns prejuízos”, lamenta.

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expositoras de 76 países diferentes e 26.630 visitantes. O tamanho do evento, que ocupou 39.847 m² em quatro pavilhões da Fira Barcelona, correspondeu a 98% do tamanho da maior edição que a organização já tinha realizado.


Marketing & Investimentos Estande da Pescanova: uso de materiais recicláveis e muita madeira marcaram a montagem desta edição da feira

estamos crescendo em faturamento e volume, ainda que haja problemas de matérias-primas ou logísticos e que a demanda volte a crescer. Os contêineres da Ásia continuam mais caros, outros locais têm demora nos portos”, aponta Marcos Arevalillo, gerente de exportação da Fesba.

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A diversificação de canais foi a mesma linha adotada pelo equatoriano Andrés Cuka, diretor da indústria de conservas Marbelize, entre os maiores fabricantes de pouches de atum para o food service em todo o mundo, com quase 900 contêineres mensais. “Isso nos obrigou a sair da zona de conforto. Implementamos contratos com grandes superfícies, cadeia de supermercados, isso nos fez buscar uma capacidade que não tínhamos para distribuição. Consolidamos este mercado de retail que nos fez cair 0,4% das vendas, havendo perdido 69% de vendas em food service”, calcula. O desafio agora é compatibilizar a expansão realizada nos novos canais com a retomada da alimentação fora do lar em um contexto em que a indisponibilidade de contêineres e o alto custo de insumos persistem. “Nós exportamos 93% do que produzimos, 60% Europa e 40% America. Muitos clientes consolidaram compras, compravam um ou dois ao mês, e agora compram 12”, exemplifica Cuka. Seu

Verena Sanchez e Juan Guitart, Viciunai: varejo europeu compensou as perdas no food service durante a pandemia, especialmente em razão das vendas online

compatriota, Jeinner Samaniego, da Excamecor, reclama do alto patamar dos insumos industriais. “Tivemos problema de insumos para embalagem, como cartão e bandejas, mas os preços seguem altos.” Outro impacto acelerado pela pandemia foi a mudança de perfil de consumo de alguns produtos. Os equatorianos, habituados a vender camarão aos EUA em blocos acondicionados em caixas, começaram a assistir ao aumento da demanda por outras apresentações. “Os hábitos estão

Jeinner Samaniego e María Fernanda Muñoz, da Excamecor: preços de camarão seguem altos por conta dos impactos na cadeia de insumos

mudando. Nos EUA, cresceram muito os congelados IQF, para o consumidor escolher dois ou três e voltar a congelar, ou mesmo nos restaurantes”, conta German Acebo Morán, gerente geral da Bilbosa. A empresa também redirecionou o foco a mercados antes não atendidos na Europa, como a Alemanha e a própria Rússia, que despontava com bastante potencial antes da guerra na Ucrânia.

Brasil no radar global A Seafood Expo Global também foi palco de tratativas para conseguir

Reunião de autoridades e empresários brasileiros com delegação britânica durante a feira: Brasil tenta frente paralela no Reino Unido enquanto luta para reabrir a Comunidade Europeia


Clearwater, de Don Holdsworth, segue apostando no mercado brasileiro com um representante local para a venda de lagostas, vieiras e hokkigai da empresa

O governo brasileiro colocou lado a lado os empresários brasileiros e os europeus, por meio das entidades representativas, como a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) e a Associação Nacional de Fabricantes de Conservas de Pescados da Espanha (Anfaco) para esclarecer que o Brasil espera uma resposta oficial da Comunidade Europeia desde dezembro. “Saímos com apoio uníssono para articulações nos respectivos países para ter a positivação da União Europeia. Eles também estão facilitando as tratativas para uma segunda rodada de negociações”, anunciou à época o secretário. O objetivo é marcar o mais breve possível uma visita do DG-Sante,

a autoridade sanitária europeia, ao mercado brasileiro - primeiro passo para reabertura do mercado. Segundo Eduardo Lobo, presidente da Abipesca, outro destaque foram as negociações para a abertura, em paralelo, do mercado britânico. “Depois do Brexit, acreditamos que iremos desobstruir o Reino Unido antes da Comunidade Europeia. Os britânicos

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Ainda assim, as autoridades brasileiras se esforçaram em lutar pela reabertura e convocaram empresários locais interessados na matéria-prima brasileira. “Muitos nos pediram para reabrir o mercado, sem saber que o problema estava na Europa”, disse à Seafood Brasil o secretário de Aquicultura e Pesca do Mapa, Jairo Gund. O esforço se materializou em um coquetel organizado em parceria pela Secretaria de Comércio e Relações

Internacionais do Mapa (SCRI) e o novo embaixador na Espanha, o diplomata Orlando Leite Ribeiro.

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uma satisfação europeia ao Plano de Ação elaborado pelas autoridades brasileiras para reabrir o mercado local ao pescado brasileiro. Na esteira de uma negociação truncada pela criação do acordo de livre comércio Mercosul e União Europeia, o tema parece estar em segundo plano em Bruxelas, capital da União Europeia.


Marketing & Investimentos Produtos de excelência A tradicional premiação Prix D’elite, que celebrava na feira de Bruxelas os melhores produtos nas categorias de varejo e food service, agora passou a se chamar Seafood Excellence Global. Neste ano, os ganhadores foram a Pescanova (retail) e a GlobeXplore (HoReCa). O prémio máximo do varejo foi entregue à Pescanova España pela entrada Salmon Noodles. A massa é elaborada com surimi de peixe, fonte natural de ômega-3 e com baixo teor de gordura. Os juízes notaram o sabor e a textura agradáveis da ​​ massa, sua aparência fresca e natural e o design atraente da embalagem. Já a francesa GlobeXplore ganhou o grande prêmio de melhor produto HORECA com uma pasta de algas marinhas. O produto é uma mistura das algas do gênero ulva, também conhecidas como alface do mar, gengibre e yuzu, projetada para acompanhar pratos de vegetais e carnes.

representavam 60% de tudo o que se exportava para a Comunidade Europeia”, calcula. De acordo com Lobo, a discussão é para estabelecer um agreement para equivalência sanitária, mas em geral o Reino Unido segue as diretrizes sanitárias da UE apesar de terem saído do bloco.

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Mercado brasileiro ainda interessa A participação brasileira nesta edição da feira não contou com o tradicional estande do País, já que ainda estamos proibidos de exportar pescado ao velho continente. Isso não impediu a viagem de alguns brasileiros ao evento com o intuito de prospectar fornecedores de pescado, que mantinham o interesse no mercado brasileiro apesar do complexo cenário econômico local e a pandemia. “Hoje

mesmo, vieram ao nosso estande muitos distribuidores, importadores e cadeias de supermercados do Brasil, que querem complementar sua linha de produtos no Brasil”, contou Sanchez de Molina, da Viciunai. “Acredito que nos próximos três anos, o Brasil será um grandíssimo projeto. Inclusive indústrias de outras áreas de proteínas querem diversificar suas linhas de produtos, entrando no pescado“, avalia. Ela considera o Brasil um mercado muito importante, muito estratificado, muito atomizado e eclético, com muitas culturas. “Queremos começar a distinguir nossos produtos em relação à concorrência da China e outras origens asiáticas, e nos posicionar como uma companhia de qualidade no país. O Brasil é um desafio maravilhoso e queremos materializar ainda este ano”, completa. A intenção também existe por parte da marroquina Damsa, mas os trâmites no Dipoa ainda desanimam. “O Brasil é importante porque é um mercado com o qual Marrocos tem negócios e como uma empresa do setor, queremos fazer parte disso, mas a dificuldade são as barreiras nas fronteiras. Precisamos ter registro no Dipoa, um certificado muito difícil de obter e que leva muito tempo”, opina. Grandes players seguem monitorando o Brasil. No caso da Clearwater, gigante canadense dedicada a lagostas, vieiras e hokkigai, o Brasil está no radar. “Temos um representante local dedicado a vender nossos produtos, confiamos muito neste potencial”, confirmou Don Holdsworth, vice-presidente de marketing e desenvolvimento de negócios da empresa. Quem também mantém um pé no Brasil é a Marbelize, apesar de ver cada vez menos espaço para conservas de atum de outras origens. “O mercado brasileiro sempre foi muito importante. Chegamos a ser o líder em exportações do Equador ao Brasil, em 2011, com pouches de 550 g para as pizzarias. Mas com o tempo se substituiu a importação por produção local e, com isso, diminuiu nossas capacidades.”

Marcos Arevalillo, da Fesba: “Faz alguns anos que não exportamos ao Brasil. Espero retomar e que volte a ser importante aos nossos negócios.”

Nada que não possa mudar, no entanto. “A oferta local é mais competitiva ao brasileiro, mas quando o consumo começa a se expandir, creio que o Brasil irá reativar as exportações. Os brasileiros consomem muito bem, apreciam boa qualidade, não compram qualquer produto, sabem comer atum, tem formatos muito marcados, com bom óleo, e isso faz com que se tenha um bom consumo”. Outra expectativa de mudança é com a normativa de cefalópodes, que anima os exportadores espanhóis. Na sequência dos Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade (RTIQs), o mais recente é o RTIQ para produtos de moluscos cefalópodes. A minuta foi colocada em consulta pública em 18 de março e contou com uma série de contribuições da indústria, mas a versão final ainda não havia sido publicada até o fechamento desta edição. “Tenho que ver se poderemos exportar o produto que fazemos, o polvo elaborado com reguladores de acidez, que melhoram a qualidade e a textura do produto. Antes não estavam permitidos e me parece que agora serão”, anima-se Marcos Arevalillo, da Fesba. “Faz alguns anos que não exportamos ao Brasil, mas sei que há demanda ao nosso produto. Espero retomar e que volte a ser importante aos nossos negócios.”


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Caiu na Rede As notícias mais importantes de nosso site no último bimestre FAO/Sofia 2022: produção global da aquicultura cresce e capturas caem

Segundo o Sofia 2022, relatório estatístico lançado globalmente pela FAO/ONU, a produção global de pescado oriundo da aquicultura e pesca em todo o mundo atingiu recorde histórico em 2020 de 214 milhões de toneladas. O crescimento limitado aconteceu devido à queda de 4,4% nas capturas por conta da diminuição dos volumes de peixes pelágicos, pela redução na atividade chinesa e pelos impactos globais da Covid-19. Já a aquicultura cresceu 5,7%, alcançando 122,6 milhões de toneladas em todo o mundo.

Inflação do pescado desacelera 0,22% em maio

Conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na comparação com o mês anterior, a inflação do pescado desacelerou 0,22% em maio. A deflação foi vista na dourada (-3,85%), corvina (-2,94%) e caranguejo (-1,18%). Por sua vez, o peixe peroá (1,90%), o filhote (1,29%) e a merluza (1,22%) registraram as maiores altas no mês. Na variação acumulada do ano, a inflação do pescado ficou em 2,80%, enquanto o indicador está em 5,41% na soma dos últimos 12 meses.

EUA lideram compras de pescado brasileiro

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O Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL-APTA) anunciou o lançamento de um portal com foco na saudabilidade e sustentabilidade do setor de alimentos: o “Indústria de Alimentos 2030”. O hub de conteúdo reúne informações que estão disponíveis em relatórios institucionais e outras fontes que congregam assuntos em 15 temas de interesse do consumidor de alimentos. O portal ainda vai proporcionar acesso a ações para promover a saudabilidade, além de atividades ligadas à sustentabilidade do sistema alimentar de 33 empresas de pequeno, médio e grande porte.

Seafood Show Latin America abre credenciamento para visitantes

Com a missão de converter a América Latina no próximo hub global de pescado, a Seafood Show Latin America, evento que acontecerá entre 17 e 19 de outubro de 2022, no centro de eventos ProMagno, em São Paulo (SP), já está aberta para credenciamento de visitantes. Focado no pescado em todas as suas vertentes, o evento já tem diversos expositores confirmados ou em pré-reserva, espaços institucionais das principais entidades do Brasil e exterior, e ainda contará com uma série de eventos paralelos, como o IX Simcope, o Seafood Talk Show e o Agrifutura:Pescado.

Pixabay

ITAL lança hub “Indústria de Alimentos 2030”

Com 10.649 toneladas de pescado comprados, conforme dados do Painel do Pescado, os Estados Unidos lideraram as exportações do pescado brasileiro até o quinto mês do ano. Em relação ao mesmo período do ano passado, o volume é 60,66% maior e corresponde a US$ 73,3 milhões. Já a China, o segundo principal cliente, comprou 2.113 toneladas até maio de 2022.


A Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Decreto Legislativo apresentado em abril, que anula a decisão do governo federal que autorizava a pesca de arrasto motorizado do camarão de março de 2022. O projeto considera que a portaria editada pelo governo “ocasiona severos danos ambientais e sociais” e ainda será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Depois, segue para análise do Plenário.

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De acordo com dados de uma pesquisa feita pela Associação Paulista de Supermercados (Apas), o setor supermercadista brasileiro registrou a abertura de 100.750 novas lojas em todo o País em 2021, desempenho esse que representa um crescimento de 4,1% em relação a 2020. O salto do número de supermercados também resultou em um faturamento de R$ 556 bilhões e a criação de 1.173.041 postos de trabalho em 2021, um aumento de 4% se comparado com o ano anterior.

Pesca de Arrasto no RS: aprovado projeto que anula portaria

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Setor supermercadista faturou R$ 556 bilhões em 2021


Na

Planta Tecnologia em processamento de pescado

gama de aplicações de empacotamento, a solução realiza rotulagem C e de topo, lida com todos os tamanho de bandejas populares e efetua a rotulação de até 80 pacotes por minuto, dependendo das informações a serem impressas. O equipamento realiza impressão de Bitmap de alta resolução e possui opções de impressão por transferência termoquímica direta ou térmica.

Crédito das fotos: Divulgação/Empresas

Na esteira da tecnologia Activated Roller Belt (ARB) é o destaque tecnológico da Intralox para esteiras e equipamentos de embalagem à paletização que promete trazer todos os benefícios da esteira modular plástica. Segundo a empresa, a plataforma de transporte automatizada é ideal para quem procura aumento de produtividade no manuseio de embalagens complexas, tudo sem deixar de lado o cuidado na manipulação de produtos delicados. Com a promessa de reduzir a área ocupada, a solução pode ter diversas aplicações, tais como classificadora, divisora, transferência de 90º, combinação, formador de camada de pallet, dentre outras.

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Etiqueta sem contato A combinação ideal da mais avançada tecnologia de software com um designer moderno. É dessa forma que a Marel define a rotuladora MPL80, equipamento que aplica etiqueta sem contato. Adequada para uma ampla

Organização no frio A Alutent destaca uma solução especial para a organização de câmaras frias e frigoríficos: as prateleiras modulares Alubox. Fabricadas com alumínio estrutural, o produto é composto por uma base com cinco ou oito prateleiras, mas que podem ser alteradas conforme a necessidade de cada cliente. Com um vão com espaço entre 190 mm e 220 mm, a Alubox tem capacidade de carga de 250 kg por prateleira e possui variações de dimensões internas de 500 mm x 1.200 mm, 1.000 mm x 1.200 mm e 1.100 mm x 1.200 mm.

Uma mão na segurança e outra no bolso O avental impermeável em PVC forrado com bolso é a dica da Prevemax para quem trabalha em ambientes úmidos por conta do uso constante de água. O avental faz

ainda a proteção do tronco do usuário contra riscos de origem química. Sem nenhum componente metálico em sua confecção ou substância em seus componentes que possam causar algum dano ao usuário, o EPI atende aos requisitos definidos na resolução RDC 91/2001 Anvisa e possui conformidade com a ISO 16602:2007 + A1:2012.

Impressão no fervo! Produzido pela Tecmaes, o Termodatador Standard EB é ideal para pequenos e grandes volumes de embalagens. O equipamento, que realiza impressões térmicas através de uma bobina elétrica para fazer a movimentação do cabeçote, pode efetuar a impressão de até 2.500 etiquetas por hora. A solução ainda possui acionamento por pedal, painel dedicado e ajuste na velocidade do ciclo.

Na curva do “S” As esteiras modulares curvas da série 325 SA EMB da Cobra são indicadas para transportadores em aclive ou declive de produtos embalados. Com travamento do pino plástico no elo de acabamento e superfície aberta em 16% (7,9 mm x 7 mm), a solução é guiada lateralmente com perfil tipo “F” e também permite o uso de talisca. Segundo a empresa, as esteiras da série 325 SA EMB possuem raio contrário mínimo de 45 mm, passo de 25,4 mm e largura mínima de 114,3 mm, podendo ser incrementado por 12,7 mm.


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Futuro à base de quê? Busca dos flexitarianos por um relacionamento melhor com o planeta estimula as inovações plant-based e cell-based, que ganham espaço no varejo no mesmo ritmo em que polemizam com a indústria do pescado Texto: Fabi Fonseca

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a virada do milênio, ninguém apostava na produção de alimentos análogos à base de plantas ou multiplicação celular como um cenário do futuro. Enquanto projetávamos que o futuro seria dos veículos automotores voadores, uma revolução silenciosa acontecia na indústria de alimentos. Um relatório recente do Euromonitor mostra que a alimentação à base de plantas e proteínas alternativas estão em franca ascensão. Entre as principais conclusões, a base de consumidores para os produtos alternativas continua a crescer através do flexitarianismo, dieta baseada na mudança gradual de alimentos e estilo de vida que abre espaço a alimentos de origem vegetal, sem deixar de lado o consumo de carne. Ou seja, é uma filosofia que não é nem oito e nem oitenta, que busca o equilíbrio e não os extremos. Conforme o estudo, cerca de um em cada cinco (23%) consumidores em todo o mundo procura limitar a

ingestão de carne; em 2020 eram 21%. Neste contexto, 16% dizem que estão tentando seguir uma dieta baseada em vegetais e 15% estão tentando limitar a ingestão de laticínios – todos superando significativamente os 4% e 7% dos veganos e vegetarianos, respectivamente. Já quase dois quintos (37%) daqueles que comem alternativas de carne processada à base de vegetais dizem que o fazem para se sentirem mais saudáveis. O estudo aponta que a preocupação ambiental também é importante (21%), assim como o bemestar animal (19%). Os adultos mais jovens são os principais consumidores: enquanto mais da metade das pessoas com mais de 60 anos não procuram essas alternativas, esse número cai para apenas 25% das pessoas de 15 a 29 anos. Além disso, os adultos jovens são mais propensos a ser veganos/vegetarianos e, ao lado de pessoas de 30 a 44 anos, são mais propensos a tentar seguir uma dieta baseada em vegetais.

Vegetal x laboratório: a diferença entre plant-based e cell-based Plant-based: alimentos análogos a proteínas animais, mas feitos 100% de origem vegetal, in natura ou processados, como grãos, cereais, legumes, verduras, frutas e sementes. Cell-based: também conhecida como carne de laboratório, carne de cultura ou ainda carne artificial, é a carne produzida por cultura de células in vitro de animais, em vez de cortes de animais abatidos.

Parecem, mas não são: os alimentos plant-based

Os chamados plant-based são produtos à base de ingredientes vegetais que possuem aparência, textura e sabor que se assemelham aos produtos feitos com proteína animal. “Os produtos de carne à base de plantas e fungos (PBM) abrangem o sabor, textura e/ou aspectos nutricionais da carne, mas são diferentes na


Os consumidores de plant-based e cell-based

Segundo a especialista, as principais fontes de insumos de proteína para o novo PBM são relativamente baratas, pois a maioria dos produtos à base de plantas são principalmente formulados com proteína de ervilha, soja ou trigo. Nos Estados Unidos, por exemplo, os preços agrícolas (recebido por agricultores) para essas proteínaschave são 3,8-12,7 vezes mais baixos do que os preços recebidos por bovinos, suínos e frangos de corte.

Da multiplicação celular aos pratos: os cell-based

Diferente dos produtos plant-based, os cell-based ou carne cultivada em laboratório, ainda não chegaram aos pratos dos consumidores brasileiros, mas já estão presentes em outros

Alimentação baseada em plantas muito além da salada e envolve até alimentos ultraprocessados

lugares, como por exemplo em Singapura e Israel. Entretanto, já há o anúncio de uma startup brasileira dedicada ao tema [leia mais adiante] e a gigantes como a BRF têm planos para trazer o produtos às mesas dos brasileiros em 2024. Ao considerar o interesse popular, os investimentos de empresas e os avanços científicos, o cenário nacional também caminha para uma mudança em breve.

oportunidades para o Brasil”, do The Good Food Institute Brasil (GFI), a produção de carne cultivada acontece a partir da multiplicação de células dentro de biorreatores em ambiente fabril. O produto final contém os mesmos tipos de células que formam o tecido muscular dos animais, portanto, tem potencial para replicar o perfil sensorial e nutricional da carne convencional.

“O cell-based descreve a tática de produzir mercadorias a partir de células, em vez de organismos inteiros ou animais, como CBM (carne cultivada a partir de músculo ou gordura), células, em vez de vacas, porcos ou galinhas”, completa a nutricionista.

O GFI ressalta ainda que essas novas tecnologias exigem um amplo conhecimento e integração de técnicas avançadas de cultivo celular, biologia molecular, engenharias (tecidual, química, de alimentos, mecânica, de materiais, de controle e automação), bioquímica, bioinformática, ciência e tecnologia de biomateriais.

Conforme explica a publicação “Carne Cultivada: perspectivas e

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Os análogos tradicionais da carne foram desenvolvidos há milhares de anos na Ásia e incluem derivados relativamente simples da soja (como tofu ou tempeh) ou trigo (como seitan). “Em contraste, novos PBMs são caracterizados pela concepção e comercialização de produtos o mais próximo possível substitutos equivalentes, para no que diz respeito ao sabor, textura e nutrição. As categorias de produtos também podem existir entre o tradicional e o novo, pois podem atender a alguns, mas não a todos, critérios mencionados”, comenta Oliveira.

Porém, entre esses dois movimentos, o chamado flexitarianismo nasce para também propor essa mudança alimentar e no estilo de vida das pessoas, mas sem as imposições do veganismo ou do vegetarianismo. Cunhado pela nutricionista norte-americana Dawn Jackson Blatner, o termo flexitarianismo pode ser considerado como o meio termo entre as duas dietas onde a proposta principal é a redução do consumo de alimentos à base de origem animal. E essa é a chave para entender por que, no mundo todo, algumas empresas que atuam com pescado não só não compraram briga com estas tecnologias como investiram nela.

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Atualmente, tanto o mercado nacional quanto o internacional já possuem uma ampla gama de alimentos vegetais disponíveis que incluem, por exemplo, bebidas, hambúrgueres, empanados, entre outros. Conforme ela, com base no tempo de desenvolvimento e técnicas complexas, os produtos PBM podem ser diferenciados em duas categorias: tradicional e novo (ou seja, próxima geração).

O apelo à saudabilidade, a preferência por alimentos minimamente processados e a preocupação por diminuir o impacto ambiental são algumas das características que ligam os consumidores de plant-based e cell-based. Essas características, aliás, têm promovido avanços de outras filosofias alimentares, como o veganismo - pessoas que não consomem alimentos que contenham carne, ovos, leite, mel ou outros ingredientes derivados de animais -, e do vegetarianismo - com algumas vertentes dentro do próprio movimento, esse regime alimentar, assim como o vegano, propõe o não consumo de alimentos que contenham carne, ovos e derivados de origem animal (entretanto a filosofia não se aplica a outros produtos do cotidiano, como por exemplo, as roupas).

Créditos: Pixabay

composição. Ou seja, são feitos de origem não animal”, explica Marcela Cipriano de Oliveira, nutricionista e proprietária do Instituto de Nutrição Clínica e Esportiva.


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A balança das vantagens e desvantagens Nem tanto ao céu e nem tanto ao inferno: olhar nutricional revela pontos positivos e negativos que ajudam a justificar a crescente popularidade dos plant-based e cell-based

O

s produtos análogos ao pescado ainda são alimentícios com aspectos organolépticos e nutricionais muitas vezes semelhantes aos convencionais. Tanto o pescado quanto o plant-based e o cell-based apresentam sensibilidades, tanto sociais e ambientais quanto para a saúde humana. A nutricionista Marcela Cipriano destaca que entre as vantagens nutricionais do consumo de peixes oleosos, incluindo salmão, atum, sardinha e cavalinha, tem sido associado a um menor risco de doenças cardiovasculares. “Graças aos ácidos graxos do ômega 3 marinho, o ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenoico (DHA) que são essenciais para a síntese de eicosanoides, leucotrienos,

prostaglandinas, tromboxanos e outros fatores oxidantes, principais mediadores e reguladores da inflamação”, conta. Mas, a profissional alerta também para o uso em excesso de carne de origem animal, especialmente de animais terrestres. “Pode aumentar também o risco de obesidade, doenças cardiovasculares, gordura no fígado e elevação do ácido úrico porque são ricas em gordura saturada e colesterol”. A seguir, trazemos um balanço dos pontos positivos e negativos de cada uma dessas práticas, com base nas informações da nutricionista e também da Abipesca, que criou a campanha “Planta é planta, peixe é peixe”:

PLANT-BASED Vantagens • A base nutricional da carne vegetal pode ajudar a reduzir o colesterol, pois não tem gordura saturada e colesterol na sua composição. Além disso, são fontes de fitoestrógenos que ajudam na prevenção cardiovascular.

Pixabay

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• Ajuda a evitar doenças crônicas como, por exemplo, a obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares, porque não tem fontes de gordura saturada e colesterol. Uma baixa ingestão de gorduras saturadas, associado a um aumento no consumo de fibras, fitoquímicos e antioxidantes, têm sido associados a uma diminuição do índice de massa corporal (IMC) e A expansão do consumo de pescado tem barreiras produtivas e desafios ambientais a se superar, mas em termos de saúde e aspectos nutricionais as espécies aquáticas levam vantagem

da pressão arterial, fatores que estão relacionados com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Desvantagens • Para garantir um perfil de aminoácidos equilibrados, geralmente é necessária a complementação de várias proteínas à base de plantas. Por exemplo, proteínas de leguminosas (baixo teor de aminoácidos contendo enxofre, alto teor de lisina) e cereais (baixo teor de lisina, alto teor de aminoácidos contendo enxofre), que são complementos favoráveis. • As proteínas vegetais também têm alguns fatores que diminuem a biodisponibilidade (quanto vai ser absorvido), que são: estruturas resistentes à proteólise, antinutrientes como taninos, fitatos,lectina. Algumas técnicas podem aumentar a biodisponibilidade das proteínas vegetais como remolho, germinação. • Produtos plant-based são considerados ultraprocessados. Segundo a Abipesca, um atum análogo feito de plantas possui 14 vezes mais sódio e 200 vezes mais carboidratos que o produto de origem animal.

CELL-BASED Vantagens • Permitirá à população que não quer deixar de consumir produtos de origem animal (ou não tem motivação/ informação adequada) - consumir um produto cárneo que não envolve a morte de animais. • Para alguns, é considerado o produto mais benéfico do que a carne


convencional do ponto de vista de saúde pública. Alguns dos grandes problemas do consumo de produtos de origem animal envolvem, por exemplo, as contaminações alimentares por microorganismos (Salmonella, Campylobacter, Listeria, E.coli, dentre outros), os riscos de epidemias e pandemias com consequências para a população humana.

• Dados nutricionais básicos e abrangentes para CBM não estão disponíveis publicamente - sendo

tamanhos de amostra pequenos, o teor de nutrientes das culturas de células pode ser quantificado por meio de ensaios laboratoriais. • Certos compostos não estão presentes nas células cultivadas, como a vitamina B12, que é sintetizada apenas por bactérias e precisará ser suplementada. • A modificação genética para melhoramento nutricional é outra abordagem que só poderá ser mais eficiente a longo prazo.

2 Após a obtenção das linhagens celulares,

são definidos os melhores nutrientes e condições de cultivo em laboratório para o crescimento das células do produto final.

3 Na fase de crescimento das células, em

biorreatores, elas são alimentadas e se proliferam para formar a biomassa de proteínas.

4 Nesta fase, a biomassa irá maturar em

estruturas tridimensionais que adicionam forma e estrutura à cultivada. Nesta fase, o produto final já está pronto para consumo humano com a mesma textura, sabor e qualidade nutricional da carne de origem.

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Fonte: Sustineri Piscis

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• A viabilidade econômica é um obstáculo consideravelmente significativo à comercialização de CBM. Em 2008, o The In Vitro Meat Consortium estimou, ao modelar os custos de capital e médio de crescimento com base em dados para produção de proteína unicelular, que o CBM poderia custar aproximadamente o dobro do frango.

Marcela Cipriano aponta que os ácidos graxos Ômega-3 são importantes para a saúde humana

Na primeira fase, as células tronco adultas do animal escolhido são obtidas e cultivadas em laboratório de modo a servirem como fonte de linhagem.

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Desvantagens

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• Da ótica ambiental, a carne in vitro também é energeticamente mais eficiente do que a produção de carne convencional, requerendo assim menos terra, emitindo menos gases, dentre outros.

Etapas da produção celular: como funciona a fabricação do cell-based


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Cada um no seu quadrado? Diversos itens plant-based já estão disponíveis no mercado brasileiro e rivalizam com produtos de pescado na mesma gôndola

Entre “bem-vindo” e “persona non grata”, produtos análogos vão moldando a indústria a uma realidade que alimenta novos perfis de comercialização e consumo

Para Eduardo Lobo, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), a indústria do pescado pode conviver tranquilamente com os produtos plant-based e cellbased. “Desde que outros produtos

não tentem usurpar e ocupar um espaço que não seja compatível com sua natureza. No momento, o que vemos nas gôndolas, em relação a tais produtos, é fraude”, acusa Lobo. Ele reconhece que o novo segmento representa para o consumidor brasileiro mais uma alternativa aos que desejam ou precisam, mas insiste que existe uma tentativa de ludibriar o consumidor que precisa ser coibida com regulamentação. “[Uma nova rotulagem] em nada mudará a vida. O consumidor de pescado seguirá consumindo pescado de verdade enquanto desejar. É uma questão cultural e de liberdade de escolha”. Glauco Bertoldo, diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (DIPOV/SDA/

Arquivo pessoal

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s produtos plant-based já são realidades nas gôndolas de supermercados ao redor do mundo. Diversos itens já estão presentes nos portfólios de inúmeras empresas alimentícias e, inclusive, entre as gigantes, como a Marfrig e a JBS. Mas, a chegada desses produtos também tem causado alvoroço no setor de proteínas animais, sobretudo em relação aos procedimentos regulatórios adequados de como posicionar e apresentar corretamente esses itens ao consumidor final. E no Brasil não tem sido diferente.

Glauco Bertoldo, diretor do DIPOV/SDA/MAPA sinaliza que o governo segue atuando para a regulamentação dos produtos plant-based


Autora da campanha “Peixe é peixe, planta é planta”, iniciada em outubro de 2021, a associação entrou com ação judicial contra a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a União pedindo a suspensão imediata da comercialização dos produtos plant-

Lobo, da Abipesca: “defendemos que [os produtos análogos] sejam saudáveis, seguros e oferecidos com isonomia regulatória, transparência e respeito”

based que utilizam nomes próprios e alusões a cortes de outras proteínas de origem animal, como “salmão”, “atum”, “bacalhau”, entre outros. A Abipesca argumenta que os produtos ultraprocessados à base de plantas estão sendo comercializados com “denominações que não os representam”. “Ainda que existam leis, normas e regras que possam ser aplicadas para preservar o consumidor contra falsos anúncios, a ausência de

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No segmento de pescado, a Abipesca tem atuado fortemente em relação aos procedimentos regulatórios adequados. Segundo Lobo, a chegada de novos produtos ao mercado é um processo natural de inovação tecnológica nas indústrias de alimentos de todo o mundo. Assim, sendo inevitável, é prever e dispor de procedimentos regulatórios adequados para posicionar e apresentar corretamente tais produtos. “A Abipesca não é contra novas fontes de matéria-prima, alimentos ou produtos alternativos, sejam de origem animal ou vegetal. No entanto, defendemos que sejam saudáveis, seguros e oferecidos com isonomia regulatória, transparência e respeito”, pontua Lobo.

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Assim, para ele, é possível pensar que a indústria de proteínas animais possa conviver plenamente com produtos inovadores, como os casos de plant-based . “Desde que ambos estejam submetidos ao respeito concorrencial e sob regras equânimes, capazes de propiciar um ambiente onde as semelhanças ou distinções entre produtos sirvam não como fator de sobrevivência, mas sim como opção de atuação empresarial para determinado nicho de consumo sob determinado modelo de negócio”, finaliza.

“Peixe é peixe, planta é planta”

Divulgação/Seafood Show Latin America

MAPA) pontua que ao analisar a história da indústria, vemos que não é a primeira vez que controvérsias se instalam quando novos produtos são introduzidos para o comércio. Isso também é válido para medidas de restrições comerciais. “Mesmo assim, nestas situações, os setores exitosos encontraram arranjos que permitiram a continuidade de seu curso de desenvolvimento e o fizeram exatamente pelos atributos positivos que seus produtos possuem.”


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Apesar do aumento do consumo de produtos plant-based e cell-based, indústria se preocupa se o consumidor sabe o que está sendo ofertado a ele

regulamentação específica para esse tipo de produto somada à omissão do Estado possibilitou a proliferação de rótulos enganosos ao consumidor e de produtos com processos pouco ou quase nada conhecidos”, dizia o comunicado enviado à imprensa.

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Para compreender o que está sendo ofertado A Associação Brasileira de Fomento ao Pescado (Abrapes) também tem participado dos debates a respeito dos produtos análogos ao pescado. Como informa a diretora executiva Thamires Quinhões, o aumento do consumo de produtos plant e cell-based tem sido observado em todo o mundo. Todavia, a escolha por tais produtos deve ser consciente e, para que isso ocorra, precisamos assegurar que o consumidor compreende o que está sendo ofertado. “Os peixes comercializados no Brasil devem obedecer ao disposto na Instrução Normativa MAPA nº 53, de 1º

Eduardo Lobo pondera que as autoridades competentes devem regulamentar esses produtos antes de serem oferecidos aos consumidores e dividirem espaço nas gôndolas com produtos já regulamentados e fiscalizados. “Permitir a livre comercialização daquilo que ainda necessita do estabelecimento de padrões mínimos de identidade e qualidade, além de irresponsabilidade, obviamente não é a estratégia adequada e aqueles produtos que não estiverem regulamentados devem ser recolhidos imediatamente”. Quinhões destaca ainda que o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990) determina, em seu artigo 6º, que são direitos básicos do consumidor a informação adequada e clara sobre os produtos e a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva. “Nesse sentido, é salutar a clara diferenciação da proteína de origem animal, no nosso caso o pescado, do seu similar de origem vegetal, a fim de se estabelecer uma concorrência justa entre as duas categorias de produtos”. Ela lembra que o pescado nacional e importado obedece a Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade e demais normativas do Mapa e da ANVISA, que estabelecem os padrões sensoriais, microbiológicos, físicoquímicos e de rotulagem, além dos aditivos e coadjuvantes de tecnologia autorizados, aos quais o produto comercializado deve atender. “Logo, para haver uma coexistência justa entre

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: Arquivo pessoal

de setembro de 2020, que ‘define o nome comum e respectivos nomes científicos para as principais espécies de peixes de interesse comercial destinados ao comércio nacional’”, pontua Quinhões. Segundo ela, a não obediência à IN MAPA nº 53/2020 caracteriza fraude. “Da mesma forma, comercializar ‘vegetais’ como se peixes fossem é igualmente uma prática fraudulenta”, completa.

Apesar do aumento do consumo de produtos plant-based e cell-based, indústria se preocupa se o consumidor sabe o que está sendo ofertado a ele

as proteínas e proporcionar segurança ao consumidor, entendemos que regulamentar os alimentos a base de plantas é basilar”.

Atuação do Mapa Dado o crescente interesse pelo tema e sua inserção no mercado, no ano passado, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) iniciou uma Tomada Pública de Subsídios (TPS), sobre a regulação dos produtos plant-based. “A TPS atingiu seu principal objetivo, que era buscar saber dos diferentes segmentos da sociedade, afetados diretamente ou não pela questão, sobre percepções, compreensão e expectativas regulatórias do tema”, como informa Glauco Bertoldo. Conforme ele, em linhas gerais, constatou-se que, entre os diferentes atores envolvidos, predomina a visão de que é necessária uma intervenção regulatória sobre estes produtos, a qual contemple pontos como a conceituação, padronização e rotulagem a ser aplicada. “Embora


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“Os estudos dos dados da TPS ainda não foram completamente esgotados, da mesma forma que os diálogos em andamento, mas todas as ações parecem corroborar o diagnóstico preliminar do Mapa de que se trata de um tema controverso, com repercussão sobre a agropecuária nacional e coletividade consumidora e, portanto, merecedor de constar na pauta regulatória do órgão, ainda que não seja possível expressar um posicionamento institucional oficial prévio sobre as questões específicas das políticas públicas a serem implementadas”, pontua. Além de conferir a opinião popular, Mapa tem procurado ouvir como os outros países lidam com todos os temas que envolvem planted-based e cell-based

parece haver significativa divergência de posicionamento acerca de como abordar cada questão, segundo o segmento que o respondente representava”, completa. Além dessa consulta popular, o diretor reforça que o Mapa ainda tem participado de eventos públicos como workshops e reuniões setoriais, e também realizou consulta junto aos Adidos Agrícolas presentes em embaixadas brasileiras espalhados pelo mundo para saber como outros países estão lidando com o tema.

Cabe ressaltar, conforme o diretor, que a TPS restringiu-se à coleta de informações sobre os produtos plant-based. Logo, não adentrando no assunto de produtos cell-based, a qual, segundo Bertoldo, terá sua pauta própria. Para a Abrapes, é positiva a sinalização do Mapa de que irá regulamentar os produtos plantbased e estabelecer critérios para a sua rotulagem. O processo SEI nº 21000.006570/2022-05 trata de pleito da Abrapes, protocolado em janeiro de 2022, com essa solicitação. “Para o setor, este é um assunto de grande impacto e relevância e a atuação efetiva dos órgãos públicos se faz urgente”, completa Quinhões.

Pauta também mobiliza indústria no exterior Em novembro de 2021, o então presidente do National Fisheries Institute (NFI) dos EUA, John Connelly, publicou um artigo em que dizia que “a rotulagem de produtos à base de plantas é regida por uma mentalidade de ‘rotule até que me digam que não posso’”. Ele sustentou ainda que, apesar de alguns comentaristas sugerirem que as pessoas sabem perfeitamente que não estão comprando frutos do mar com plantbased, dados mostram o contrário. Ele menciona um estudo conduzido pela empresa de pesquisa de consumidores FoodMinds, segunda a qual até 35% dos consumidores pesquisados ​​acreditavam que os frutos do mar à base de plantas continham frutos do mar reais. Outros 8% simplesmente não tinham certeza do que continham. “Para ONGs e outras que exigem transparência do consumidor, onde está a indignação de que as empresas estejam enganando os compradores americanos?”, provocou. Da mesma forma como no Brasil, o FDA - a Anvisa norte-americana ainda discute uma regulamentação abrangente do tema. Mais recentemente, o Mapa da África do Sul adotou uma regulamentação incisiva sobre o tema, que proíbe o uso de termos como “carne de” ou “peixe de”, linha que deve ser seguida também pela Austrália na normatização do tema. No Japão e na China, a normativa foi mais branda e exige que produtos com o nome comercial ou marca contendo “carne” ou “peixe” informe logo a seguir que o produto “não contém carne” ou “não contém peixe”.

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Incrível!, da Seara, está focada em garantir que o consumidor encontre um mix adequado de produtos para os três principais momentos de consumo: snacks, pratos prontos e cortes para o dia a dia

O sol nasce para todos Em meio a discussões, empresas de cell-based e plant-based vendem a ideia de que podem ocupar um lugar nas gôndolas sem usurpar posições alcançadas pelo pescado

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m 2021, a JBS, maior empresa de proteína do mundo e segunda maior produtora de alimentos, informou a compra da Vivera, terceira maior empresa de alimentos à base de plantas da Europa. Também no ano passado, a gigante ainda entrou no mercado de carnes cultivadas por meio da aquisição da espanhola BioTech Foods. O investimento da JBS pretende construir uma nova planta de produção na Espanha para a BioTech Foods e um centro de pesquisa e desenvolvimento

de carne cultivada no Brasil. As expectativas são de que a produção comercial de seus produtos aconteça em 2024. “Proteínas alternativas entram neste cenário como uma tecnologia capaz de impactar mais de 1 bilhão de pessoas, sempre olhando para desafios sociais, como a fonte, impactos sociais relacionados também à saúde humana”, fala Raquel Casselli, diretora de engajamento corporativo do The Good Food Institute (GFI). A

busca por fazer comida inovadora é uma realidade que tem mobilizado também instituições por todo o mundo, como é o caso do The Good Food Institute (GFI). A organização sem fins lucrativos que visa potencializar o setor e fazer conexões, nasceu nos EUA em 2016, no berço do movimento chamado Altruísmo Eficiente, que busca contribuir para alguns dos grandes desafios da sociedade de uma maneira impactante. O GFI atualmente está nos EUA, Brasil, Índia, Europa e Ásia, atuando em três frentes: engajamento


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Fazenda do Futuro

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Fazenda Futuro busca aumentar sua presença no Brasil e também internacionalmente; parceria com a cantora Anitta promete ajudar a alcançar as metas

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corporativo, área de políticas públicas e ciência e tecnologia. Com os investimentos de grandes empresas como JBS e BRF, Casselli destaca que o novo setor representa uma “indústria de oportunidades”. “Exatamente porque eles estão vendo que é o mercado do ‘e’, não do ‘ou’. Então, eles vão oferecer ao consumidor todos os produtos que desejam e o consumidor fará a escolha de consumir da maneira que achar que faz sentido”, fala Casselli. Para ela, o viés de oportunidade é muito interessante sob alguns dados e aspectos, como o caso da fome. “Hoje, a gente já tem uma situação de fome

muito grande no mundo, o que prova que não estamos sendo capazes de produzir alimentos para todos. Então, quando a gente olha para as proteínas alternativas junto a diversas outras iniciativas de como evitar o desperdício de alimentos, são uma das alternativas capazes de ajudar a solucionar essa questão”, sustenta.

Movimentações do mercado nacional Dona da marca Seara, a JBS já aposta no segmento nacional com a marca Incrível!, que surgiu como um produto da linha Seara Gourmet em 2019. A partir do sucesso do item, a Incrível! se tornou uma linha dentro de Seara que foi ganhando cada

vez mais destaque com a entrada de novos produtos. Os produtos análogos ao pescado estão entre os destaques: “bacalhau” e “isca de peixe” 100% vegetais são as duas opções da linha feitas de soja. Camille Lau, diretora de marketing da Incrível!, contra que a marca hoje é a primeira no mercado em market share e já exporta para outros países. “Além de estar à frente da liderança de mercado, somos responsáveis pelo crescimento da categoria. Em 2021, a categoria teve um crescimento de 56% liderado por Incrível!”. Segundo ela, a categoria de carnes vegetais cresce com alta velocidade e continuou crescendo na


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Divulgação/Sustineri Piscis

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Laboratório da Sustineri Piscis: aporte da Frescatto Company na startup mostra setor conectado com novas tecnologias alimentares

pandemia, ganhando cada vez mais relevância dentro da categoria de congelados. Hoje, a marca conta com um portfólio completo do mercado que possui opções para todas as ocasiões de consumo, além de um maior conhecimento da categoria, fruto dos investimentos em pesquisa realizados no último ano. “Em 2022 damos mais um passo importante com o relançamento da marca. Assim, deixamos de ser Seara Incrível para nos tornarmos apenas Incrível!, uma marca independente que busca crescer e ganhar a mesa de cada vez mais brasileiros”, pontua Lau.

A chegada da Fazenda Futuro Também com diversos produtos plant-based nas gôndolas, lançada em maio de 2019, a Fazenda Futuro foi a primeira foodtech e lifestyle brand da América Latina voltada à produção de carne à base de plantas. “Hoje, o portfólio da marca oferece Futuro Burger, Futuro Burger Defumado, Carne Moída do Futuro, Almôndega do Futuro, Futuro Frango, Linguiça do Futuro e Futuro Atum, cada um com sua própria fórmula, mas todos sem glúten, sem transgênicos e, claro, sem boi, porco, galinha ou peixe”, conta Mari Tunis, Diretora de Marketing da Fazenda Futuro.

Entre os ingredientes usados estão proteína isolada de soja, de grão de bico, além de beterraba, óleo de coco e alga marinha. Com 3 anos de existência e como Future Farm, a marca já está presente em 30 países como Inglaterra, Holanda, Suécia, Emirados Árabes, Chile, México, Uruguai e Estados Unidos. Segundo Tunis, entre os principais motivos do investimento da empresa neste mercado está a expansão da agricultura animal, aquecimento global, desmatamento e até mesmo a vida das pessoas. “O fato é que


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Um olhar diferente à espera do futuro Foi justamente o pioneirismo que fez recentemente a Frescatto Company, uma das líderes do segmento de pescado no País, a realizar um aporte na Sustineri Piscis. “Sempre tivemos uma cabeça de estar na vanguarda das tecnologias, seja de produtos, de embalagens ou de qualquer outra coisa do setor”, conta Thiago De Luca, diretor Comercial da Frescatto. Conforme ele, com o aporte, virá a oportunidade de estarem bem perto do desenvolvimento deste novo produto. “Parece que estamos realmente muito perto de ter uma proteína produzida por bioreatores e que seja proteína de qualidade, com custos baratos, com a tabela nutricional bem parecida com a que a gente tem hoje das proteínas tradicionais”, diz. Com a espera de que esse aporte dê a garantia de que quando a tecnologia estiver disponível, a Frescatto será pioneira na distribuição, De Luca aponta que o setor de pescado tradicional não tem nenhum tipo de senão com a presença dessa proteína alternativa, seja ela baseada nas plantas ou biomolecular. “A gente quer, para essas proteínas ou não, que o consumidor possa ser informado. Que você não possa estar usurpando o nome de uma proteína que não é ou confundindo a cabeça do consumidor.”

o consumo de carne, hoje, gera um impacto ao planeta fazendo com que, cada vez mais, as pessoas tomem consciência desses fatos e optam por mudanças na alimentação”, pondera.

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Oportunidade para o pescado? Raquel Casselli, do GFI, confirma que há oportunidades para o setor. Embora lembre que, diferente das demais proteínas animais, questões de impacto negativas à saúde não são comumente relacionadas ao pescado, ainda há outras frentes de desinformação na população como o impacto microbiano na produção e a utilização de antibióticos, por exemplo.

“Hoje estamos trabalhando com o setor tradicional de pescado, que olha para desenvolver produtos plantbased. As informações que temos é que estão com uma quebra bastante importante na oferta, em contraste com a alta no consumo.” Se tivessem mais pescado, afirma Casselli, o consumidor consumiria mais. Logo, a diretora acredita que as proteínas análogas ainda vêm para dar conta do que hoje a proteína animal não consegue suprir. Entretanto, para ela, as empresas vão continuar abastecendo com as proteínas animais, mas vão começar a incluir os produtos de origem vegetal dentro deste nicho. Casselli considera que pode ser mais complexa essa transição por causa das especificidades produtivas do segmento. “Quando a gente vai para o setor, são outros insumos, outros maquinários e muitas vezes a gente vê que isso é complexo. É importante uma parceria com empresas de ingredientes, por exemplo”. Em outra frente, o GFI já começou a falar com produtores para entender de que maneira o produtor rural, por exemplo, poderá estar dentro desse mercado. “A gente sabe a complexidade hoje para quem faz o cultivo de pescado. Como vamos colocar esse produtor dentro desse mercado? Como ele pode diversificar a sua produção para que possa vender o pescado e de repente um insumo ao setor de proteínas alternativas? A gente vem trabalhando nesse sentido. Temos algumas iniciativas que buscam essa solução e estamos abertos para conhecer sobre isso”, completa Casselli.

Aquicultura celular Idealizado pelo biólogo marinho e fundador do Aquário Marinho do Rio de Janeiro, Marcelo Szpilman, a Sustineri Piscis (pescado sustentável, em Latim) é a primeira startup (foodtech) de carne de pescado cultivada brasileira. Com a proposta de “carne genuína de pescado, produzida em laboratório,

sem abate animal”, a empresa promete revolucionar o modelo tradicional de consumo ao propor a “aquicultura celular como uma solução inovadora escalável”. “A gente está falando da carne do peixe sem o peixe. A carne é 100% saudável porque não tem nenhum metal pesado ou substâncias orgânicas existentes. Não tem espinha ou parasitas, então, é uma série de vantagens para o peixe da pesca selvagem e o peixe cultivado”, pontua. Segundo Szpilman, foi possível entender que a aquicultura celular seria o caminho mais interessante na medida que já estão em desenvolvimento, por exemplo, a garoupa verdadeira. “Essa é uma espécie ameaçada de extinção. Logo, na hora que consigo produzir sua carne estou fazendo também conservação”, fala Szpilman. Claro, Szpilman reconhece que existem diversos lados diante desse tipo de produção, mas pondera que o escalável é o mais importante. “Por exemplo, hoje, quando se fala de carne cultivada de boi, é impossível qualquer um hoje dizer que vai dobrar o número de cabeças de gado ou a produção de gado no Brasil. É impossível”. Logo, conforme ele, é impossível dobrar a produção de gado tradicional no Brasil da mesma forma que é impossível dobrar as capturas de pescado no modelo tradicional. “O modelo celular é escalável neste sentido. Produzir uma tonelada e se quiser aumentar para duas, três, quatro, vinte… eu consigo. É só uma questão de espaço, área, número de biorreatores e essas coisas”. Sustineri Piscis é a única foodtech a trabalhar com pescado marinho no Brasil, mas o número pode chegar a 15 em todo o mundo. Por bioreprodução, Szpilman já garante ter conseguido a produção em laboratório de células da garoupa-verdadeira, cherne, linguado, robalo e tainha.


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Dos laboratórios às gôndolas Produtos alternativos chegam ao consumidor com embalagens atrativas que fazem analogia às proteínas tradicionais

Na Europa, por exemplo, a Bluu Biosciences já estabeleceu várias linhagens de células a partir de biópsias de tecidos adultos, para a missão de criar produtos de peixe à base de células. Como destaca o The Fish Site, a empresa está usando tecnologias proprietárias e linhas de célula não transgênicas para produção.

Em janeiro deste ano, a startup californiana BlueNalu anunciou também que está em parceria com o grupo de restaurantes japonês Food & Life Companies. A parceria visa desenvolver, comercializar e garantir a aprovação regulatória para o atum cultivado em células. Conforme o portal C&EN, no mesmo dia, a empresa de carne celular Upside Foods divulgou que adquiriu a Cultured Decadence, uma empresa de Wisconsin que cultiva lagosta e outros crustáceos a partir de células. Na mesma época, a startup Pearlita Foods ainda afirmou ser a primeira empresa a se concentrar no cultivo de carne de ostras a partir de células. Por sua vez, a startup de Cingapura Shiok Meats levantou em 2021 cerca de US$ 17 milhões e abriu uma planta piloto que produzirá camarão, lagosta e caranguejo.

Plant-based já está nas gôndolas A lista de oferta de produtos análogos ao pescado vem crescendo nos últimos anos. Com o salto na

Posta de salmão cultivado em laboratório: células replicadas em laboratório podem formar cortes específicos de acordo com a conveniência da indústria

demanda dos flexitarianos, diversas empresas nacionais e internacionais já estão anunciando seus lançamentos. A The Plant Based Seafood é uma empresa localizada na Ilha de Gwynn, na Baía de Chesapeake, perto da Península Média da Virgínia, que por quase 20 anos, criou e vendeu produtos de frutos do mar. Entretanto, agora o grupo se dedica a comercialização de uma série de produtos análogos ao pescado, como o camarão em pó à base de plantas e bolinhos de caranguejo também à base de plantas. Já na Espanha, após o anúncio da chegada do atum bluefin e salmão defumado à base de plantas da Current Foods, no ano passado, foi a vez da

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Sebastian Rakers, cofundador da Bluu Biosciences, conta que em muitas regiões do mundo, o peixe é a fonte de proteína mais consumida e a aquicultura não dá conta de suprir a diminuição dos capturas em contraste com o

aumento do consumo. ”A aquicultura tenta recuperar o atraso, mas tem suas próprias limitações e desafios. Portanto, o peixe baseado em células fornece uma alternativa viável”, disse. Bluu Seafood

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e o Brasil ainda discute o desenvolvimento de produtos análogos às proteínas animais, diversas outras empresas ao redor do mundo estão se empenhando para levar mais itens dos produtos às gôndolas. No ano passado, um restaurante em Cingapura serviu aos seus clientes carne de frango cultivada in vitro pela primeira vez no mundo. Em 2020, o país foi o primeiro do mundo a conceder licença regulatória para comercialização de carne cultivada à startup norte-americana Eat Just Inc, cuja subsidiária é a Good Meat, que anunciou já ter feito parceria com vários fornecedores de serviços de alimentação e distribuição desde então.

Diversas empresas globais estão investindo na produção de produtos análogos ao pescado


Na busca por unir diversos atores do ecossistema do segmento plant-based no Brasil, a AGN Consultoria e Negócios realizou a 1ª Feira de Alimentos Plant Based do Brasil entre os dias 6 e 7 de Junho de 2022, no Clube Hebraica, na cidade de São Paulo. O evento já estreou com patrocínio e exposição de grandes empresas, como a Incrível!, Fazenda Futuro, Duas Rodas, Grupo Planta, Vida Veg, entre outros. “Com um crescimento muito grande e demanda desse mercado, nós decidimos em 2019, fazer a primeira feira de alimentos plant-based do Brasil. Mas ela não aconteceu naquela época por causa da pandemia. Agora que a gente retomou esse projeto”, explica Alberto Gonçalves Neto, sócio-gestor na AGN Consultoria e Negócios.

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1ª Feira Plant-based mirou no público que busca desenvolver seu negócio no mercado à base de plantas

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E falando em Fazenda do Futuro, no Brasil, a empresa levou às gôndolas, em 2021, a sua versão de atum vegetal. O atum é vendido na versão à vácuo e a embalagem de 150 g. Hoje, o portfólio da empresa oferece diversos itens, como o Futuro Burger, Futuro Burger Defumado, Carne Moída do Futuro, Almôndega do Futuro, Futuro Frango e Linguiça do Futuro. “O desempenho do nosso Futuro Atum no mercado tem sido um sucesso. A proteína de peixe é uma das mais consumidas do mundo e, por isso, é necessário estarmos presentes também para atender esse consumidor. Além disso, também já é uma das próximas apostas do mercado internacional”, avalia Mari Tunis, Diretora de Marketing da Fazenda Futuro.

1ª Feira de Alimentos Plant Based do Brasil

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‘Future Tuna’, a versão de atum da startup brasileira Fazenda do Futuro, chegar às prateleiras da rede catalã Ametller Origen.


Na

Gôndola A oferta de peixes, crustáceos e moluscos Crédito das fotos: Divulgação/Empresas

Praticidade na refeição

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A importadora e distribuidora Mar & Rio esteve na Apas Show deste ano para fortalecer a sua linha de pescados skin pack, que tem a proposta de trazer mais praticidade para o dia a dia do consumidor. Com opções de produtos que vão desde botão de lula até lombo de atum sem pele, a empresa ainda aposta no filé em pedaços de salmão com pele disponibilizado em embalagens de 300 g para fisgar a atenção e paladar do consumidor.

“Salmão brasileiro” Já a Korin anunciou a mudança das embalagens de alguns de seus produtos: truta, truta rosa e a tilápia. Segundo a empresa, as mudanças destacam ainda mais os diferenciais desses produtos: a tilápia não

tem antibiótico e hormônio para reversão sexual e tem total rastreabilidade, mesmo caso da truta; e a truta rosa recebeu carotenóides naturais e betacarotenos para que a cor da carne fique vermelha - o salmão brasileiro.

Vai uma paella aí? A Frumar apresentou na Apas Show 2022 uma novidade que a alinha a outras marcas de pescado: o Kit Frutos do Mar. Contendo produtos congelados específicos para fazer paella como camarão, mexilhão, lula, tentáculo de polvo e filé de cação, o produto foi pensado para quem admira este prato tão tradicional de frutos do mar. A Frumar está disponibilizando a novidade em pacotes com peso de 800 g.

Na atmosfera dos camarões A linha Qualimar de camarões resfriados em atmosfera modificada foi o destaque da Carapitanga na Apas Show deste ano. Apresentados de forma descascada e eviscerada em pacotes de 100 g, os camarões têm formato coroa e acompanham um molho rosé. Também em atmosfera modificada, o camarão cinza descascado eviscerado com cauda e cozido em pacotes

de 90 g chega como outra novidade da empresa para ser servido em porção para uma ou duas pessoas.

Na pele do salmão Disponível em pacote de 500 g, a Komdelli destaca um produto para quem pretende alinhar rotinas saudáveis à praticidade: a versão de salmão em pedaços com pele. O pacote é dividido em porções de tamanhos variados e embalados a vácuo individualmente, tudo para tornar o manejo mais fácil e usual. Segundo a empresa, o produto possibilita diversas opções de preparo e foi pensado justamente para ser um grande aliado no dia a dia do consumidor.

De tilápia? Mamma mia! Já ouviu falar de pizza de tilápia? Pois é, essa foi a grande novidade da Copacol apresentada durante a Apas Show desse ano. Considerado o primeiro produto desse tipo feito com tilápia no mercado, a novidade serve até 6 fatias e é apresentada em embalagens de 460 g. Segundo a empresa, o produto vem como um complemento da linha de pratos prontos, que já conta com lasanha e escondidinhos. A ideia da marca é oferecer não só praticidade, mas algo realmente novo ao consumidor final.


Sexteto delicioso

A linha Oceani foi o grande destaque da Opergel na Apas 2022. A marca levou ao público os seguintes produtos: filé de zarbo seco salgado; filé de bacalhau gadus morhua; filé de bacalhau Gadus macrocephalus; filé de saithe seco salgado; e filé de ling seco salgado. Ainda de acordo com a empresa, todas as espécies apresentadas também estão disponíveis em versões de meio peixe.

Saúde, praticidade e sabor em forma de atum A Robinson Crusoe lançou novidades em atum baseadas em três conceitos: saúde, praticidade e sabor.

Apresentados na Apas Show deste ano, os produtos são: (SAÚDE) Atum Sólido ao Natural My Protein – 31 g de proteínas por lata e Atum Sólido em Óleo de Girassol baixo teor de sódio; (SABOR) Medalhão de Atum – 225 g e Atum Sólido em Óleo - sabor defumado 170 g; (PRATICIDADE) Atum Pedaços em Óleo - Pack 3x170 g, Atum Sólido em Água e em Óleo Dual Pack 170 g, Atum Pedaços em Óleo - Pouch de 1 kg e 500 g e Atum Ralado em Óleo Pouch de 1 kg e 500 g.

A Ninefish, marca da AV09, está trazendo para o mercado produtos voltados para quem busca praticidade e saúde no dia a dia. Todos disponibilizados de forma congelada, os destaques da linha ficam por conta das postas de cação-azul sem pele (800 g); o filé pangasius sem pele (800 g); e o filé de pangasius sem pele (400 g). Ainda segundo a empresa, os produtos são disponibilizados de forma unitária ou em quantidades maiores para toda a família.

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Bacalhau pra mais de metro

Três é demais

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Seis. Este foi o número de novidades apresentadas pela Bom Peixe ao mercado na Apas para agradar seus consumidores e conquistar novos. Em embalagens que variam de 300 g a 360 g dependendo do produto, a marca traz os bolinhos com merluza, casquinha de merluza, bolinhos com bacalhau, coxinhas com camarão, bolinhos com salmão recheado com catupiry e casquinhas com salmão.


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Na Cozinha

Aproveitar ou não aproveitar:

EIS A QUESTÃO


A gestão de margens de lucro em um restaurante ganha cada vez mais um novo aliado: a redução de desperdício de pescado. Confira o que o setor anda fazendo para aumentar o aproveitamento, evitar o desperdício e melhorar as margens com pratos à base de pescado

J

Texto: Melissa Cirino | Arte: Emerson Freire

ogar fora alimentos em estado de consumo é um problema crônico da sociedade moderna. O Relatório do Índice de Desperdício Alimentar 2021 divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA), estima que cerca de 931 milhões de toneladas de alimentos vão parar no lixo, sendo que 26% são oriundos de serviços alimentares. O cenário pode parecer apocalíptico para alguns, mas tem se mostrado um prato cheio para que restaurantes testem a criatividade. O objetivo? Oferecer novas alternativas gastronômicas a seus consumidores e, claro, melhorar a receita.

Em contraste, o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, em 2020, apontou cerca de 19,1 milhões de pessoas em situação de fome. Segundo o mesmo relatório, este número saltou para 33,1 milhões de pessoas em 2022. Além disso, mais da metade da população do País (125,2 milhões de pessoas) vive com algum grau de insegurança alimentar.

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Freepik

Flávia Carro, sócia proprietária da ECD Food Service, consultoria especializada em food service, opina que cada vez mais, o desperdício deve deixar de fazer parte do nosso cotidiano. “Uma pesquisa da Euromonitor realizada em janeiro e fevereiro de 2020 sobre tendências globais mostrou que 59,7% dos consumidores acreditam que reduzir o desperdício de alimentos é uma das atitudes mais fortes sobre sustentabilidade.”

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Desperdício na pauta


Na Cozinha Prato elaborado pelo restaurante Mistura, composto pelas barbatanas e aparas de pescados e crustáceos. O restaurante é adepto de práticas que utilizam partes de pescados que seriam desperdiçadas

soluções para o reaproveitamento. Mesmo que ainda exista um longo caminho a percorrer, é animador ver que essas questões estão sendo discutidas no segmento.”

Divulgação/Restaurante Mistura

Como os restaurantes lidam com o desperdício?

pescados, tenha como um dos pilares o aproveitamento máximo de produtos”. Apesar de concordar que o mercado brasileiro possa estar longe do ideial, Lucas Nouer, Diretor de marketing da Gomes da Costa, enxerga um avanço no processo. “O mercado já vem se atualizando e trazendo novas soluções para evitar o desperdício de alimentos e

Quando se analisa o contexto atual do setor, Amatti explica que a cultura do reaproveitamento de alimentos à base de pescado no mercado brasileiro, ainda tem muito espaço para crescer. “Ainda estamos longe do ideal, embora a cultura japonesa, por exemplo, presente em vários restaurantes com foco em

A rede de restaurantes Peixe na Rede trabalha com filés de peixe já porcionados, o que contribui para a redução do desperdício no estabelecimento

Divulgação/Peixe na Rede

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Evitar o desperdício se tornou, mais do que nunca, uma questão moral, mas também financeira. Para Marco Amatti, membro da Foodservice Consultants Society International, os empresários do ramo de alimentação precisam estar atentos a esses números para rever processos e procedimentos ligados ao pescado para sobreviverem no mercado. “A pandemia trouxe à tona a necessidade de repensarmos relações com o consumo e os impactos gerados pelo consumo. Restaurantes precisaram se reinventar para se adaptarem ao bolso e a visão do consumidor que está mais crítico em relação ao próprio consumo [...]”.

Para alguns estabelecimentos, a redução do desperdício pode ser um desafio por conta do uso de peças inteiras, do qual nem todas as partes são comumente reaproveitadas. A conveniência de comprar filetado também é chave. O restaurante Peixe na Rede, em Brasília, adquire as peças já filetadas, mas também adota medidas de reaproveitamento dos demais ingredientes. Maria Luiza da Mata, proprietária do restaurante, conta que as possíveis sobras são enviadas a uma fazenda particular. “A gente coloca todo o alimento, todas as cascas, tudo numa câmara fria e três vezes por semana, o menino leva para a fazenda. Aí a gente trata do porquinho, de carneiro, de galinha e faz compostagem também”, conta da Mata.


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Na Cozinha

Divulgação/Restaurante Mistura

Prato nobre de lagosta com molho bisque de camarão feito diariamente com as cascas e cabeças de camarão, elaborado pelo restaurante Mistura

na elaboração de subprodutos com partes do pescado que normalmente são descartadas em pratos como hambúrguer de salmão, hambúrguer de peixe branco e bolinho de salmão.

A importância das fichas técnicas

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Outra estratégia utilizada pelo restaurante Peixe na Rede para evitar o máximo de desperdício é o uso das fichas técnicas. Através delas, os funcionários conseguem acompanhar o passo a passo de cada receita, com as quantidades de ingredientes já padronizadas: “Seguindo direitinho a ficha técnica, além de sair tudo muito bem-feito, ainda não se desperdiça e não se joga nada fora. Afinal, tudo já foi calculado”, afirma a proprietária. De fato, quando o assunto é reaproveitamento e evitar o desperdício em restaurantes com o pescado, as fichas técnicas são consideradas aliadas na organização de uma cozinha. O restaurante Mistura, em Salvador, também utiliza esse recurso, onde o estabelecimento certifica-se de treinar e monitorar os funcionários para o uso dessa ferramenta. “Elas ajudam a padronizar os pratos e quando isso acontece, otimizamos a utilização dos ingredientes, evitando o desperdício e auxiliando no controle do estoque”, conta Adriana Nogueira, assessora de comunicação do Mistura. O Mistura, que já foi ganhador de prêmios como o melhor restaurante de

pescado da cidade de Salvador pela Revista Veja, é comandado pela chef Andréa Nogueira. Em seu cardápio, estão pratos que utilizam produtos de maneira integral, o que contribui para a redução do desperdício. “O camarão é um pescado que trabalhamos de maneira integral, por exemplo. Usamos a cabeça e a casca para fazer o molho bisque e o corpo para montar o prato.” Já no caso do peixe, Nogueira conta que o estabelecimento usa a cabeça e a espinha para fazer outros molhos, além de usar suas aparas em outros pratos. Nesse contexto, um peixe muito utilizado é o bacalhau. “Ele [o peixe] tem um corte padrão e usamos as aparas em diversas situações, como em croquetes, saladas”, diz. O restaurante ainda usa aparas de badejo, que também são utilizadas em outras preparações do cardápio do estabelecimento, em menus sazonais ou ainda nos pratos servidos aos funcionários, além de aparas de salmão, que são aproveitadas em recheios de massas. É nessa onda de usar a criatividade para evitar desperdício e aproveitar todas as sobras do pescado é que o restaurante de culinária japonesa Takêdo, em Porto Alegre, entrou. O estabelecimento também investiu

“A gente trabalha com processos, né? Então, se [o produto] não for utilizado para uma coisa, ele vira um outro produto. Sendo assim, a gente faz hambúrguer, bolinhos e outros subprodutos para utilização que não são o nosso produto final, que é o sushi. São produtos que na verdade, a gente não venderia se fossem focados só no filé do peixe”, explica Daniel Pulz, proprietário do Takêdo.

Doar é destinação nobre (e legal) Outra alternativa para a redução do descarte desnecessário de alimentos com pescado é a doação, agora estimulada legalmente. Em 2020, foi publicada a lei federal 14.016 que dispõe sobre o combate ao desperdício de alimentos e a doação de excedentes de alimentos para o consumo humano. A lei surgiu com o intuito de regulamentar doações de alimentos, mas o fundador e editor-chefe da empresa e portal web Alimentus Consultoria, Dafné Didier, considera que o texto “legaliza a desova de alimentos impróprios independente de quem irá consumir”. Seja como for, os restaurantes estão amparados legalmente para encaixar como doações produtos que não foram aproveitados na cozinha. Adriana Nogueira, do Mistura, considera ter adotado uma “conduta filantrópica”, através da qual é promovida a doação dos subprodutos como aparas e partes dos pescados e frutos do mar que não costumam utilizar nos pratos ou por conta de um excesso de volume.


“Porém, todas essas partes para doações são muito ricas em sabor e em nutrientes, como a cabeça de peixe, cabeça de polvo, bochecha de peixe e outras partes.” Nogueira explica que no estabelecimento, quanto maior o volume da produção, maior é o volume das doações para as instituições locais que são beneficiadas com esse trabalho social do Mistura. “São uma importante e rica fonte de nutrição e alimento para fazer sopas, bolinhos e muitos pratos saborosos com a criatividade de cada pessoa. E também fazemos doações para nossos funcionários”, afirma a assessora.

Indústrias encaram a realidade Gerenciar o desperdício é um desafio que deve ser encarado por todos os agentes da cadeia produtiva, tanto na comercialização quanto no processamento. E neste contexto, para Flávia Carro, da ECD Food Service, a indústria tem papel fundamental no processo de conscientização do aproveitamento máximo de pescados, sendo o elo da cadeia que tem mais condições de ensinar sobre o tema. “Quando uma indústria, no caso específico de pescado, ensina o operador ou melhor ainda, seu distribuidor - que será um

multiplicador - a fazer a conta do quão vantajoso pode ser a compra porcionada, será muito mais fácil convencer o operador de food service a seguir este caminho na redução de desperdício e aumento de lucratividade”, opina Carro. Seguindo a consciência sobre a importância da indústria nesse cenário, o treinamento de equipe é uma das estratégias utilizadas pela Netuno, indústria especializada na produção de tilápia. “Evitamos os desperdícios através de treinamento de boas práticas na indústria e manejo correto nas fazendas de engorda. Utilizamos apenas peixes vivos e frescos na nossa

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COMPLETA LINHA DE REFRIGERAÇÃO INDUSTRIAL

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Divulgação/Netuno

Na Cozinha

A fábrica de subprodutos da Netuno é uma das estratégias usada pela empresa e na própria indústria para reduzir o desperdício de alimentos produção. Porém, quando ocorre mortalidade, o peixe é utilizado na sua totalidade para produção de subproduto”, conta Rafaella Campos, assessora de marketing da Netuno. Maria Thereza Bitu, analista de comércio exterior da Netuno, comenta que o maior desafio no processo de reaproveitamento de produto em uma produção de grande escala é a

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Da exclusão à glória: exemplos de pratos alternativos • Casquinha de lagosta com as aparas • Tortelloni ao molho de salmão com aparas do próprio peixe • Cabeça de lula frita • Hambúrguer de salmão • Hambúrguer de peixe branco • Bolinho de salmão • Caldo de peixe com cabeça e cauda de peixe • Poke com aparas de salmão Fonte: entrevistados durante a matéria

criação de estratégias que valorizem a matéria-prima na sua totalidade. “Pensando em solucionar esse problema, as partes do peixe que não são utilizadas para o processamento do nosso carro-chefe [filé de tilápia], passaram a ser produzidas pela nossa fábrica de subprodutos: óleo e farinha, desenvolvidas especificamente para aproveitar de maneira integral a tilápia, utilizando a carcaça e vísceras”, afirma Bitu. “Já no caso da pele e das escamas, é realizada a exportação para produção de colágeno”, completa. Campos afirma que o procedimento adotado pela Netuno exige que a matéria-prima seja produzida, cultivada e processada pensando na utilização integral da tilápia, visando evitar qualquer tipo de desperdício: “Atualmente, a única matéria que não é aproveitada é o sangue da tilápia”, revela. Já Lucas Nouer, diretor de marketing da Gomes da Costa, revela que uma das estratégias utilizadas pela indústria no aproveitamento máximo do produto também é a

fabricação de subprodutos. “A Gomes da Costa possui a fábrica BFP Bioprodutos de Pescado, responsável pela fabricação de farinhas e óleos a partir do aproveitamento de resíduos de pescado da fábrica de alimentos”, explica. O diretor conta que estes insumos são utilizados na produção de ração e suplemento animal.” A fábrica produz insumos para produção de ração animal e suplemento animal, com o processamento de mais de duas mil toneladas de subrodutos da pesca.”

Como a redução no desperdício ajuda no aumento dos lucros? Existem diversos benefícios em investir no reaproveitamento de produtos, sendo um deles o aumento nos lucros. Marco Amatti, da Foodservice Consultants Society International, afirma que a redução do desperdício possibilita uma amenização nos custos. “Esta redução nos custos, por certo criará um potencial competitivo em relação aos preços exercidos, podendo gerar mais receitas em função da atração exercida eventualmente pelo repasse desta economia nos custos em formato de


Lula com recheio de lagosta e risotto ao Nero e aparas de crustáceos, prato preparado pelo restaurante Mistura

Adriana Nogueira, do Mistura, vai na mesma linha ao lembrar que o aproveitamento é sim uma saída e tanto para a redução de custos na cadeia produtiva. “Além de evitar desperdícios, essa conduta ajuda a reduzir o CMV, que é o Custo de Mercadoria Vendida. Esse índice é comum entre os restaurantes para eles verem o parâmetro entre a venda e o investimento na compra de insumos”, explica. “Ou seja, o aproveitamento vai reduzir custos e aumentar o lucro”, completa. Nesse contexto, Sergio Molinari, sócio fundador da Food Consulting,

Pescados com qualidade

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Matéria-prima da melhor procedência, ótimas práticas de fabricação, instalações que respeitam a legislação e equipamentos de congelamento ultrarrápido são alguns dos fatores que garantem o padrão de qualidade Natubrás. São camarões, lulas, mexilhões, polvos e cortes nobres de peixes, em embalagens práticas e seguras ao consumidor.

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do Exija cedor e n for seu alidade a qu dutos pro dos ás ubr Nat

Divulgação/Restaurante Mistura

desconto ou diminuição/manutenção de preços”.

O sabor que faz a diferença


Na Cozinha

FICHA TÉCNICA: UMA GRANDE ALIADA CONTRA O DESPERDÍCIO

A ficha técnica é um recurso muito utilizado pelos restaurantes em busca do melhor aproveitamento do pescado. Confira um exemplo dessa importante ferramenta!

Modelo de ficha técnica Nome do prato: Filé de Robalo ao molho de graviola Rendimento: 02 porções Custo da receita (valor da poro): x

Filé de robalo ao molho de graviola Ingredientes

Peso

Fator de correção de insumos (perda ou ganho devido à manipulação)

Filé do Robalo

220 g

x

Sal

Qb

x

Pimenta do reino Branca Moída

Qb

x

Limão

02 und

x

Azeite de Oliva Virgem

80 ml

x

Polpa de graviola (02 polpas)

200 g

x

Vinagre de vinho branco

120 ml

x

Molho de Graviola

Açúcar

120 g

x

Sal

Qb

x

Manteiga

20 g

x

Utensílios 1. Tábua para peixes e frutos do mar (amarela); Tábua para vegetais (verde) e Tábua para Laticínios (branca) 2. Faca do Chef 1. Frigideira anti-aderente de no mínimo 25 cm e no máximo 30 cm (01 und) 2. Caçarola nº 18 pequena (01 und) 3. Espátula (02 und) 4. Assadeira pequena (01 und) 5. Colher de polipropileno pequena

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Utensílios 1. Temperar o Filé de Robalo com Sal, pimenta do reino, limão e azeita de oliva. Reservar por 20 minutos. 2. Aquecer a frigideira e grelhar o peixe selando todos os lados. Finalizar na frigideira até atingir o ponto ou no forno combinado por 12 minutos em 200 graus com calor seco. 3. Para o molho: Aquecer as polpas de graviola na caçarola. 4. Acrescentar o vinagre e o açúcar e deixar reduzir até engrossar. Corrigir o sal. 5. Desligar o fogo e acrescentar a manteiga. 6. Regar os filés com o molho e servir com os acompanhamentos.

Fonte: Senac e Sebrae

explica que existe uma predisposição do consumidor em ampliar o consumo de pescados e combinar isso com este aspecto mais econômico do pescado. Diante desse cenário, ele avalia que há a oportunidade de maximizar o valor em torno dos pescados, além de reduzir o impacto do custo no preço de venda. “Se as opções oferecidas com pescados forem relevantes e sedutoras para o consumidor, ele pagará bem por elas. E se formos eficientes para que o CMV destas opções seja atrativo, teremos achado uma fórmula de sucesso”, afirma o Molinari. Outro ponto de vista muito interessante na utilização integral do pescado e na elaboração de subprodutos é a possibilidade de redução de custo do produto principal. “Tendo uma saída para o subproduto, a gente consegue, além de não ter resíduos, não causar custos indiretos como lixo, descarte e manuseio desnecessário”, detalha Daniel Pulz, da Takêdo. Ele pontua que o que reforça esse cenário é a chance de se conseguir fazer uma venda, mesmo que não seja do valor integral. “Mas esse é um valor menor que acaba barateando o produto principal, que é uma forma de vender mais também”. Entretanto, Marco Amatti alerta para uma mensuração correta dos processos, a fim de ter mais clareza no resultado final. “Um ponto importante levantado é que o aproveitamento máximo de alimentos, embora possa influenciar o lucro em um estabelecimento, só poderá ser sentido com o conhecimento sobre os custos ‘economizados’, bem como o acompanhamento/ monitoramento destes processos.


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Divulgação/Restaurante Mistura

Na Cozinha

Equipe do restaurante Mistura: aproveitamento integral dá fim mais nobre a espécies utilizadas nos pratos

Ou seja, o aproveitamento máximo pode gerar mais lucratividade se for acompanhado por uma gestão integrada a este processo”.

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Molinari considera que nesse caso, é possível utilizar partes do pescado que não são utilizados na maior parte das receitas. “Um pescado ‘bem comprado’, mas mal manuseado, pode significar um custo mais alto do que deveria. Ao mesmo tempo, um pescado ‘super aproveitado’ pode ampliar o resultado do restaurante.” O consultor ainda afirma que o aproveitamento das partes que seriam desperdiçadas pode ser considerado um potencial competitivo. “Vejo que estes aspectos impactam diretamente na competitividade do setor. Parte dela, frente a outras proteínas, virá da competência com que se lida com os pescados ao longo de toda a sua cadeia de valor.”

Aproveitamento sem mão de obra qualificada, não dá Os operadores de food service no Brasil não tem como hábito controlar o índice de desperdício de alimentos em seus estabelecimentos. É o que explica Flávia Carro, da ECD Food Service. “Não existe uma metodologia única e cada um tem suas próprias e duvidosas estatísticas.” A especialista cita uma pesquisa realizada pela própria ECD Food Service em 2015, na qual dos 100 estabelecimentos de food service entrevistados, 56% responderam que não calculavam o índice de desperdício em pescados. “Controlar o desperdício começa com um bom controle do estoque, tendo em vista a utilização dos produtos com prazo de validade menor, busca constante por novas

maneiras de utilizar os subprodutos do pescado, e a ideia de ter uma cozinha criativa e atraente sem cara de mexidão ou resto”, afirma Carro. Sergio Molinari acredita que neste caso, a competência conferida aos profissionais está ligada no quanto os pescados podem ser viáveis e desejáveis, tanto pelo setor quanto pelo consumidor. “A qualificação da mão de obra, neste sentido, faz toda a diferença e é um dos grandes desafios do setor: a formulação de bons cardápios e receitas com pescado, o equilíbrio do custo do pescado com outros ingredientes, a compra do pescado certo, o manuseio ótimo [para menor perda e desperdício], as alternativas de reaproveitamento, tudo isso é responsabilidade dos profissionais de compras e de cozinha”, comenta Molinari.


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Personagem

A 200 por hora A jornada do narrador e organizador de eventos Frigo envolve 52 anos, três casamentos, 4 filhos, incontáveis empregos e uma meta: não parar quieto Texto: Ricardo Torres

A

voz mais famosa da Aquishow Brasil não é da Marilsa Patrício Fernandes ou do Emerson Esteves. Quem dá os comunicados oficiais da organização no microfone do evento desde a primeira edição é Claudinei Cesar Frigo, ou apenas Frigo. O santafessulense (natural de Santa Fé do Sul - SP) tem pinta de roqueiro, mas nasceu e viveu em fazenda até a maioridade, quando então iniciou uma saga cinematográfica pelo Brasil todo.

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Uma saga de contrastes. Aos 13, ele já dirigia um fusca dado pelo pai, mas não era bad boy - foi eleito o melhor aluno da escola Agnes Rondon Ribeiro e ganhou um estágio no Banco do Brasil. Aos 16, cabeludo, partia para as cidades vizinhas com sua trilha roqueira, mas mantinha amizades em todas as tribos. Aos 18, foi morar em Limeira (SP) e passou na prova da Aeronáutica em Pirassununga (SP), mas trocou tudo por amor. Depois, trocou o amor e um emprego no Bradesco para ajudar o pai. “Foi a primeira e única vez que vi meu pai de cama”, lembra. Como “não era homem de fazenda”, quando o pai melhorou, ele seguiu a Campinas (SP) para fazer, aos 19 anos, a prova da Polícia Militar. De 10 exames, reprovou na entrevista. Tentou novamente na capital paulista e novamente ficou na entrevista. “Vai ver que eu tinha cara de mau. Nem para Rota eu servia, eu acho”, debocha. A experiência na cidade grande o atraiu e, com ela, amores, dois casamentos, faculdade e uma grande experiência profissional. De um comércio na Rua Direita (Centro), tornou-se o chefe de marketing e CPD (informática) de um escritório de advocacia, onde ficou por quatro anos. Inquieto, procurou e achou nos classificados uma vaga na multinacional de auditoria Coopers & Lybrand (hoje, parte da Price Waterhouse Coopers). No contraturno, arranjou um emprego de digitador na Credicard que o deixava 5 horas de sono por dia. Com tanto esforço, aos 25 anos, vivia um período de

prosperidade. Um ano depois, nascia a primeira filha com a primeira esposa. Os pais já haviam saído da fazenda e moravam na zona urbana de Santa Fé do Sul, quando uma tragédia se abateu sobre a família: a irmã de Frigo, Silmara, foi assassinada por um ex-companheiro que a perseguia. Ao ver a mãe definhar de depressão, Frigo fez da vingança sua motivação para viver e foi deixando tudo para trás: empregos, o casamento, São Paulo. De volta a Santa Fé, em 1999, acompanhou a morte da mãe de câncer e um novo casamento do pai ao qual ele se opunha na época, enquanto tentava se reconstruir. Inspirado pelo universo motociclista que ele já conhecia e gostava, montou uma moto Chopper e passou a viajar o Brasil para motofests. Em um deles, em 2004, um locutor lhe emprestou o microfone e ele sentiu ali mesmo brotar uma nova vocação. Convertido em locutor, superou uma depressão aguda, deixou a vingança de lado, e renasceu como Frigo, autointitulado “um dos melhores locutores automobilísticos do Brasil” com direito a tatuagem no braço com seu sobrenome. Juntou as paixões e começou a realizar eventos de toda sorte, primeiro em Santa Fé, depois em várias cidades de dentro e fora do Estado. “Hoje, eu sou o cara que faz o calendário de eventos motociclísticos e de carros antigos de cinco Estados.” Entrou para a política apoiando diversos candidatos de situação e oposição, foi conselheiro tutelar, começou a fazer inaugurações de loja - “eu sou muito bom nisso”, gaba-se. Em 2009, assumiu o microfone da Aquishow, onde não se cansa de estender a mão para ajudar expositores, visitantes e parceiros. “A Aquishow é um evento que eu adoro, conheço pessoas maravilhosas a cada ano e tenho prazer em trabalhar com a Marilsa e o Emerson. Eles fazem muito bem o evento, sempre querendo aprimorar.” Aos 52 anos, recém-saído de um terceiro casamento que durou 9 anos, com 4 filhos, ele reconhece a vida intensa, mas diz que não sabe viver de outro jeito. “Não tem como parar. Eu vivo, irmão. Eu vivo”, conclui.


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