Seafood Brasil #46

Page 1

IFC, Fenacam, ExpoPesca e Seminário do Bacalhau da Noruega: saiba como foi

DIRETO DA PRODUÇÃO

Carcinicultura cresce em plena pandemia, mas problemas anteriores ainda persistem

seafood brasil

Horizonte de potências

Com produção e consumo em ascensão, América Latina estreia feira comercial de padrão internacional e se apresenta como novo hub global

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 1
#46 - Out/Dez 2022 ISSN
www.seafoodbrasil.com.br
2319-0450
MKT & INVESTIMENTOS

“Você é cachorro muito novo para entrar no mato”

Esta é a primeira edição da Seafood Brasil em que você não está ao meu lado para celebrar nossos êxitos e suavizar nossos tropeços. Graças ao seu apoio incondicional, nossa equipe chegou à beirada dos 10 anos de existência. Hoje somos revista, consultoria, plataforma de dados, feira de negócios e um projeto de vida a serviço de um setor que você, assim como eu, aprendeu a gostar e respeitar.

Se você estivesse aqui para me ouvir dizer estas palavras, provavelmente diria uma de suas frases feitas mais significativas: “Você me alegra, mas não me surpreende.” Além da tua presença física, eu sinto muita falta de ouvir e sentir esse encorajamento que me motivava a seguir, apesar das inúmeras adversidades que tivemos. Elas não foram poucas, mas você nunca me deixou esmorecer: “Vai dar certo, fica tranquilo.” E eu ficava.

Sinto falta da tua nobreza de espírito e da mentalidade positiva, que bloqueava qualquer negatividade. Para você, tudo sempre daria certo. E no fim, dava certo mesmo, até quando dava errado. Afinal, você me ensinou pelo próprio exemplo que a jornada vale a pena, tanto ou mais que as conquistas e os fracassos. Saiba que seu “curumim” aqui continua o mesmo “Rick lebiste”, sempre sem medo de entrar no mato, apesar de sempre me sentir novo demais para honrar um legado do seu tamanho.

Em seu nome, desejo a todos os nossos leitores uma vida longa, próspera e saudável.

Esta edição é dedicada à memória de Hélio Torres, o Seu Hélio ou Helião, nosso amigo, companheiro de trabalho e meu pai.

Um abraço e boa leitura!

Ricardo Torres

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 4 Editorial Índice Na Água 08 Na Planta 42 Caiu na Rede 38 Na Gôndola 60 Direto da Produção 62 Personagem 82 Suplemento 72 MKT & Investimentos 10 5 Perguntas 06 Capa 44 Expediente Redação redacao@seafoodbrasil.com.br Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor-chefe: Ricardo Torres Editor-executivo: Léo Martins Repórter: Fabi Fonseca Diagramação: Emerson Freire Adm/Fin/Distribuição: Higor Maximo Foto da capa: Arte de Emerson Freire com foto de Alexander Kliem/Pixabay Comercial comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno Sede – Brasil R. Serranos, 232 São Paulo - SP - CEP 04147-030 Tel.: (+55 11) 2361-6000 Escritório comercial na Argentina Av. Boedo, 646. Piso 6. Oficina C (1218)Buenos Aires julio@seafoodbrasil.com.br Impressão Máxi Gráfica A Seafood Brasil é uma publicação da Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95 www.seafoodbrasil.com.br /seafoodbrasil /seafoodbrasil /seafoodbrasil

Entrevista

Transição suave

Com mais de 100 anos somados de dedicação à atividade pesqueira, Jorge Neves e Agnaldo Hilton dos Santos alternam as cadeiras na presidência da entidade mais representativa da captura em grande escala no País

Apesca é uma atividade de forte caráter hereditário. No pólo de Itajaí (SC), por exemplo, todos conhecem o “Grande”, apelido de Hilton Ciriaco dos Santos, armador de pesca com mais de 60 anos de atividade. Coube ao

assumir o desafio de suceder Jorge Neves Filho, o presidente que deixou a marca de ter moralizado o Sindicato dos Armadores e das Indústrias de Pesca de Itajaí e Região (Sindipi) e procurou estabelecer sólidas pontes com outros elos da cadeia, cunhando a expressão

Tudo indica que Santos seguirá a linha de Neves. Formado em economia e nascido no Rio de Janeiro, Santos se estabilizou em Itajaí há mais de 40 anos, sendo associado ao Sindipi há mais de 15 anos, onde possui atualmente quatro embarcações. Além de ter sido delegado e também coordenador da Câmara Setorial do Cerco, Santos é vice-presidente para assuntos relacionados à pesca da Associação Empresarial de Itajaí. Neves segue na nova gestão, como primeiro secretário, enquanto o sócio da Costa Sul, Luzaldo Pscheidt, assume como vice-presidente. A marca da nova gestão? “Investir em pesquisa”, garante o novo presidente.

1

O senhor, assim como o senhor Jorge, tem uma larga trajetória como armador de pesca, além de acumular diversos outros cargos associativos. Na sua gestão, como pretende trabalhar em cada uma das vertentes a seguir: pesquisa, armadores e indústrias?

Participo ativamente do Sindipi há mais de 15 anos e, agora, me deram a oportunidade de presidi-lo a partir de janeiro de 2023. Pretendo manter muito do que já vem sendo realizado na entidade, principalmente no que compete à pesquisa. Hoje, temos parceria com universidades e um corpo técnico. Entendo que o caminho é investir seriamente em pesquisa, gerando dados confiáveis e acompanhando com seriedade. Sem pesquisa, esbarramos em situações como a própria falta de ordenamento.

Sob minha gestão, o Sindipi vai manter seu corpo técnico e

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 6 5 Perguntas
Texto: Torres Agnaldo Hilton dos Santos, novo presidente do Sindipi Bruno Golembiewski/Acervo Sindipi

continuar investindo em pesquisa e aprimoramento para dar todo o suporte necessário, tanto aos armadores quanto às indústrias.

2 Qual é a sua expectativa em relação ao relacionamento do Sindipi com o novo governo e que assim, pode recriar o Ministério da Pesca e Aquicultura?

O Sindipi foi consultado pelo Grupo de Transição da pesca do novo governo e adiantamos que a posição do setor produtivo é unânime para que a pesca não tenha uma gestão compartilhada. Isso já aconteceu no passado e foi péssimo.

Não temos dúvida do tamanho e da importância do nosso setor. Demandamos orçamento e políticas públicas urgentes de fomento e de fortalecimento. No entanto, o que mais defendemos é bom senso. Afinal, não adianta falarmos em Ministério sem orçamento ou simplesmente para que sirva de cabide de empregos. Queremos uma gestão enxuta e eficiente, que o setor produtivo seja ouvido e que o governo federal tenha um papel de fomentar e melhorar cada vez mais a atividade, e não para engessar o setor. É isso que vamos buscar e cobrar para dar, assim, a nossa contribuição.

3 Diante dos problemas enfrentados em anos anteriores, o senhor Jorge passou sete anos à frente da entidade sustentando que sua gestão era moralizadora. Qual será a marca da sua gestão?

A gestão do Jorge reforçou a credibilidade que temos. Um sindicato que investe e apoia a pesquisa e a ciência é um sindicato fortalecido. Sou economista por formação e uma pessoa tranquila, que busca sempre o diálogo. Sendo assim, estou certo de que essas características irão contribuir para manter a credibilidade e o respeito não apenas junto à entidade, mas junto a todos os associados, que são os

verdadeiros donos do Sindipi. Em todas as esferas e em várias organizações, o Sindipi já conquistou uma cadeira forte e de respeito, com credibilidade para discutir nossas demandas. Minha intenção é fortalecer cada vez mais esse papel do sindicato.

4 Sob sua gestão, como será a participação do Sindipi na Câmara Setorial da Produção de Indústria de Pescados do Mapa? Assim como é hoje, pretendemos seguir e melhorar cada vez mais nossa participação. Já fui secretário de pesca municipal e sempre briguei pelas indústrias. Conosco, temos hoje a maior enlatadora do Brasil, além de todas as outras empresas que compõem um parque fabril moderno e equipado, o que nos credencia para falar com propriedade sobre as demandas da indústria. O que esperamos é ter uma boa participação em todas as esferas

para que possamos dar todo suporte às indústrias junto ao Mapa.

5 O Sindipi tem uma parceria estreita com a Organização para a Proteção dos Recursos Pesqueiros do Atlântico Sul (Opras). O senhor pretende aprofundar esta parceria no sentido de aumentar a proteção de recursos pesqueiros no Atlântico Sul?

Temos bons relacionamentos e excelentes parcerias, incluindo a Opras. Recentemente, passamos a compor o Fórum Nacional de Aquicultura e Pesca, sendo responsáveis pelas regiões Sul e Sudeste na pesca extrativista. Através de parcerias, conseguimos não apenas aprofundar nosso conhecimento, mas também fomentar novos negócios e estratégias de mercado. Entendo que é no diálogo e com a ampliação das nossas redes que assim, conseguiremos vencer os desafios e fortalecer a pesca.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 7
“Entendo que o caminho é investir seriamente em pesquisa, gerando dados confiáveis e acompanhando-os com seriedade”
José Jorge Neves Filho passa o bastão ao novo presidente do Sindipi, Agnaldo Hilton dos Santos Acervo Sindipi

Na Água

Tecnologia para pesca e criação

Crédito das fotos: Divulgação/Empresas

A tecnologia do bem-estar

A Korin

Agricultura e Meio Ambiente investe em soluções tecnológicas que tragam benefícios para os ambientes de criação. Essa foi a ideia por trás de duas soluções que a empresa apresentou durante o IFC 2022: o Embiotic Biorremediador HDM e o Bokashi Fertilizante Orgânico. Segundo a empresa, os dois destaques possuem tecnologia microbiana que proporciona bem-estar animal, sustentabilidade ambiental e economia às produções. Por fim, se por um lado o Embiotic Biorremediador HDM está disponível em embalagens de 5 L e 20 L, o Bokashi Fertilizante Orgânico é encontrado em embalagens de 1 L, 5 L e 20 L.

Desinfetante de ozônio?

Já os geradores de ozônio ECO3 Ozônio são os destaques da Hyalin. Utilizando o processo de campo elétrico de descarga de Corona para a produção do ozônio, as soluções atuam no

sistema instalado oxidando compostos orgânicos, químicos (como por exemplo, os nitrogenados) e auxiliam na eliminação de esporos de algas e micro-organismos nocivos, como bactérias, vírus e protozoários. Fabricados em células de borosilicato 3.3 e com gabinetes em aço inox 304, a linha ECO3 Ozônio conta com os geradores de 4,5g/h 4500, o 7,5g/h ECO3 7500 e o 17,5g/h ECO3 17500.

Uma aliada contra o iridovírus

A AQUAVAC® Irido V, lançamento da MSD Saúde Animal, é a primeira vacina brasileira específica para prevenção e controle de iridovírus na aquicultura, em especial para a tilapicultura. Segundo a empresa, a solução é uma vacina com iridovírus inativado com adjuvante oleoso e que ajuda a reduzir a mortalidade por infecções causadas por esse patógeno. A AQUAVAC® Irido V já integra a plataforma de soluções em saúde e tecnologia da empresa.

Nutrição com nova fórmula

Durante a Fenacam 22, a Polinutri apresentou aos visitantes a nova formulação para sua principal linha de produtos para camarão, a linha Poli-camarão AQ+. A empresa justifica essa atualização devido às demandas do mercado visando resultados zootécnicos, alinhadas às características físicas e diferenciais capazes de otimizar o consumo do alimento pelos camarões. Segundo a Polinutri, além de trazer ao produtor otimização do custo-benefício, a nova formulação da Poli-camarão AQ+ contextualiza com o atual momento da empresa e do setor de carcinicultura.

Dando um F5 na estratégia

A FAV Brasil também aproveitou a Fenacam 2022 para atualizar o mercado sobre o uso estratégico de dois produtos na produção de alevinos e formas jovens. Para a primeira solução, o Florfenicol /FF50, a empresa destacou o fato de ser um antibiótico de amplo espectro eficaz no tratamento das principais enfermidades presentes nas pisciculturas e que, por ser lipossolúvel, alcança altos níveis em pouco tempo dentro do organismo do animal. Já a segunda solução, o Citrofav, é um aditivo que inclui a mistura de ácidos orgânicos, extratos de plantas e óleos essenciais com efeito no sistema imune e resposta a infecções virais e bacterianas de camarões e também tilápias.

Dieta do crescimento saudável

Um alimento granular para laboratórios, desenhado para etapas pós larvais de crescimento do camarão. É dessa forma que a Nexco descreve o Epifeed Dry150, solução que faz parte dos produtos destinados às dietas para larvicultura. Formulado pela Epicore com proteínas, lípidos olefênicos, fosfolípidos, carboidratos, vitaminas e micronutrientes para uma digestão fácil que minimize, o Epifeed Dry-150 é produzido através de uma tecnologia de extrusão que minimiza a exposição ao calor para maximizar a retenção de nutrientes essenciais delicados, micronutrientes e a palatabilidade. O produto é disponibilizado em embalagens de 20 kg ou em caixas com 6 frascos com 1 kg cada.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 8

IFC 2022 saltou 45% em relação ao evento anterior, reunindo o setor produtivo, a academia e o governo em três dias de debates sobre importantes temas do setor

Marketing & Investimentos

Lição de casa em andamento

Elevar o consumo de pescado no Brasil e aumentar as exportações em meio ao crescimento, tudo sem deixar de atentar para a sanidade e boa nutrição: as lições do IFC 2022 para a aquicultura brasileira continuar em desenvolvimento

Não há uma “receita de bolo” para o desenvolvimento de nenhum setor mundo afora. No entanto, existe uma verdade absoluta nessa situação: é preciso se fazer a “lição de casa” para o crescimento e competitividade da cadeia produtiva de pescado. E foi justamente para mostrar a importância desse pensamento é que a edição do 4° International Fish Congress & Fish Expo Brasil (IFC) reuniu o setor produtivo, a academia e o governo em três dias de debates para questões centrais

na jornada do setor, como é o caso da sustentabilidade, sanidade, nutrição e mercados globais.

Realizada entre os dias 31 de agosto a 02 de setembro em Foz do Iguaçu (PR), o IFC contou com uma ampla programação, que contemplou, além do Congresso, a feira de produtos e serviços, a apresentação de trabalhos científicos, a tradicional rodada de negócios e diversos eventos paralelos.

O evento deste ano quintuplicou de tamanho em relação à primeira edição, em 2019, como destaca o ex-ministro da pesca e presidente do IFC Brasil,

Altemir Gregolin. “É um acontecimento das águas à mesa do consumidor e que mostra como tornar o setor competitivo, sustentável e focado no mercado global”, afirmou.

A animação do evento vai ao encontro do cenário de produção global de pescado, como destacou na palestra de abertura, Audun Lem, diretor-adjunto da Divisão de Política e Recursos de Pesca e Aquicultura da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) que apresentou direto de Roma, na Itália, um panorama global da produção e consumo aquícola. E, mesmo com os

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 10
IFC/Divulgação

impactos da pandemia de covid-19, Lem contou que a produção global de pescado em 2020 obteve recorde de 214 milhões de toneladas. “Deste número, 157 milhões de toneladas são para consumo humano, o que representa 20,2 kg por pessoa. Este é um novo recorde”, disse.

Exportações: desejo crescente

De fato, ampliar as exportações de pescado a partir da conquista de novos mercados tem se mostrado cada vez mais necessária e determinante para o desenvolvimento da cadeia no Brasil, tanto que as exportações e perspectivas internacionais ganharam um painel exclusivo no evento.

Durante sua apresentação, o pesquisador Manoel Pedroza, da Embrapa Pesca e Aquicultura, indicou que o Brasil exportou ao todo cerca de 78.499 toneladas em 2021, correspondendo a aproximadamente

US$ 379 milhões - desse total, 88% (68.693 toneladas) são da pesca. Mas, apesar do volume de exportação da piscicultura ser menor quando comparado à pesca, o pesquisador pontua que o crescimento da atividade de cultivo nos últimos 5 anos foi superior. “A pesca teve um crescimento de 49%, enquanto a piscicultura viu

todas as suas exportações aumentarem em 241%.”

Em sua participação no painel, o presidente da Abipesca, Eduardo Lobo, reforçou que mercado interno é uma realidade e já está consolidado, embora a exportação seja sim a grande ação estratégica para a cadeia.

IFC/Divulgação
Presidente do IFC Brasil, Altemir Gregolin e a diretora executiva, Eliana Panty, destacaram a importância do evento e o salto desde a primeira edição

“Nosso produto não vai diretamente ao consumidor: ele passa pela indústria. Então, o planejamento aquícola tem que existir para a gente não produzir demais, saturar o mercado e não dar um preço inexequível ao produtor”, fala.

O desejo de aumentar as exportações também está presente nas empresas fornecedoras, como é o caso da Trevisan, cujo o atual momento é marcado pelo foco no envio de seus produtos ao exterior, como revela o gerente comercial, Nedyr Chiesa. “Elas [as exportações] estão em alta em qualquer lado do mundo. A nossa tendência para o ano que vem é uma procedência em torno de 15% a 20% no número das exportações.”

Tilápia no topo (mas com desafios à vista)

Quando destacadas somente as exportações da piscicultura, os dados mostram que, de janeiro a julho deste ano, o envio de pescado ao exterior saltou 88% em valor (US$ 16.621) e 11% em volume (5.778 toneladas) em comparação com o mesmo período do ano anterior. Entre os principais peixes exportados pelo Brasil, a tilápia aparece no topo da lista com cerca de 8.403 toneladas, correspondendo a 11% do total.

Mas, apesar do crescimento dos embarques de tilápia brasileira, uma pesquisa da Embrapa com a Peixe BR aponta que ainda há entraves a serem enfrentados pelos exportadores nacionais, como o alto preço, dificuldades no frete, a demora na emissão do Certificado Sanitário Internacional (CSI/Mapa) e o custo de produção elevado. O desenvolvimento de novos

produtos, assim como em cortes e produtos não alimentares, além da já citada conquista de novos mercados como a Europa e os países árabes, também aparecem na citada lista.

Com foco especial nos países árabes é que a certificadora da América Latina, CDIAL Halal, levou ao evento todas as informações para que o pescado brasileiro se consolide junto aos consumidores muçulmanos. Com esse foco, o “Mercado Mundial e Nacional de Pescado” foi apresentado pelo diretor de operações da CDIAL Halal, Ahmad M. Saifi.

Ele destacou como a certificação Halal é importante para a garantia de um produto que, além de atender às crenças dos muçulmanos - atualmente quase 2 bilhões de pessoas no mundo -, também precisa suprir os requisitos de qualidade e de boas práticas para os não muçulmanos. “O certificado tem ganhado bastante espaço no mundo porque você sabendo que passou por uma auditoria, fica mais tranquilo em relação a comprar um produto para sua família. Quanto mais certificado tiver aquele produto, mais ele será saudável e de qualidade”, disse.

O IFC também foi cenário para a entrega do certificado Halal para duas empresas: a Brazilian Fish e a Piscicultura Caxias

Entretanto, apesar do desejo de aumentar seus embarques, a produção de tilápia ainda enfrenta desafios e ações para elevar a competitividade e ampliar a participação não somente no mercado externo, mas também no interno. Esse assunto foi tema de um

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 12 Marketing & Investimentos
As exportações de pescado e perspectivas para o Brasil no mercado internacional foram discutidas por Manoel Xavier Pedroza Filho, Eduardo Lobo e Valdemir Paulino dos Santos Audun Lem destacou que, de 1961 a 2019, o consumo de pescado saltou a uma média de 3% per capita ao ano, mas a série teve impacto em 2022 por conta da pandemia da Covid-19
IFC/Divulgação
IFC/Divulgação
IFC/Divulgação

A importância de se estar inovando: com a indústria de equipamentos produzindo e propondo novas soluções, o setor de processamento de pescado e toda a cadeia também deverá se beneficiar

painel que contou com o CEO do Grupo Amaral e da Brazilian Fish, Ramon Amaral. Conforme ele, os principais problemas da atividade estão relacionados aos temas regulatórios que, neste sentido, revelaram a crença de que, hoje, muitas das produções em tanques-redes no Brasil estão estranguladas em sua capacidade. “A gente sabe que tem muita gente com licença que ainda não produz, o que atrapalha o desenvolvimento da cadeia”. Amaral também destacou que a atividade ainda esbarra em questões governamentais, tributárias, logística, tecnológicas, entre outras.

Ciente de que a tecnologia ainda é um gargalo no setor é que a Marel, em ação para modernizar o parque fabril nacional de processamento de pescado, foi ao IFC 2022. Com foco no lançamento formal da filetadora automática FilleXia para todo o mercado, Eduardo Vanelli Weschenfelder, Industry Sales Manager da Marel no Brasil, destaca que a empresa também tem apostado em

diversas outras inovações por conta do momento atual do setor.

“O volume de consumo de pescado no Brasil tem crescido de uma maneira orgânica nos últimos 10 anos, com a indústria acompanhando esse crescimento produzindo mais. A longo prazo, mas com ações momentâneas, podemos fazer com que o futuro aconteça de uma maneira sustentável.”

Nutrição é a chave

A ração é um dos principais insumos de produção e com grande influência na qualidade do pescado. No entanto, a nutrição não é a única garantia de sucesso, como alertou em sua apresentação o professor e pesquisador da Unioeste (PR), Wilson Boscollo. “Não espere nenhum milagre porque não existe ração ou aditivo que seja milagroso”. Logo, embora o manejo seja determinante para uma produção eficiente, ele não deixa de pontuar ainda que a qualidade da ração continua sendo primordial. E, entre os desafios atuais para a produção a partir da obtenção de rações eficientes e sustentáveis, é preciso melhorar: o desempenho; a eficiência alimentar com a redução de custos; a resistência considerando o clima, sanidade e manejos, assim como diminuir a mortalidade; a redução de efluentes; os rendimentos; e a qualidade da carcaça.

Apesar de ter a aquicultura como uma categoria nova e pequena quando comparada ao frango, suíno e ruminantes na América Latina, a Adisseo esteve presente no evento com soluções para nutrição de pescado. Thiago Tetsuo Ushizima revela o salto de crescimento dos negócios da empresa nesses últimos dois anos de pandemia foi acima de 40% no Brasil e em especial no mercado da tilápia. “O que a gente faz aqui no Brasil com a tilápia,

comparado com os chineses e os egípcios, realmente é um case de sucesso”, diz Ushizima.

O setor de sanidade também ganhou destaque no IFC 2022 ao mostrar sua importância para o desenvolvimento do setor

Desafios da

retomada Pós-Covid Lucas Granuzzo, brand manager da Aquabel do Brasil, destaca a percepção do setor em relação a um menor povoamento e a reposição desses estoques de formas jovens na água no primeiro semestre de 2022. “Isso acabou refletindo em uma falta ou um espaço de peixe nesse segundo semestre”, fala. Entretanto, conforme ele, em agosto, já era possível enxergar uma reposição de forma mais acelerada.

Para Alfredo Freire, diretor da IAqua, o primeiro semestre foi marcado pelo desafio de retomada do crescimento após a pandemia. Porém, novos entraves ainda fizeram esse cenário não ser tão promissor. “Tivemos o desafio com logística de frete, falta e encarecimento, além de preços altos de insumos, principalmente na parte eletrônica e de equipamentos”, informa. “Isso encareceu muitos produtos e contribuiu, junto com o aumento de preços de matéria-prima e combustível, na criação de um cenário ruim, atrapalhando as vendas que comprometeu toda a cadeia”, comenta.

Já na Altamar Sistemas Aquáticos, o primeiro semestre de 2022 foi positivo, porque a empresa conseguiu consolidar negócios feitos no final do ano passado. Como novidade, eles apresentaram seu novo tambor rotativo: o modelo 800/6. “Ele possibilita a atuação, pela primeira vez, fora do segmento da aquicultura ao atender projetos e operações maiores e mercados diferenciados”, conta o diretor, Marcelo Shei.

Sanidade e o seu papel crucial

No bloco que debateu o assunto, Rodrigo Zanolo, coordenador do Comitê de Sanidade da PeixeBr, pontuou a gestão eficiente através de conceitos da biosseguridade. “O ponto chave é a sustentabilidade futura da nossa cadeia em relação à gestão sustentável das enfermidades e o quão é importante esse tema para a jornada e crescimento da indústria de piscicultura”, disse.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 14 Marketing & Investimentos
IFC/Divulgação
IFC/Divulgação

Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, comentou as ações do Mapa e como tem atuado para dar sustentabilidade à cadeia. Na conversa, também pontuou que determinadas doenças em território nacional, sejam disseminadas ou não, “podem interferir na manutenção e na abertura de novos mercados para os produtos brasileiros”.

De olho na crescente preocupação com a sanidade da piscicultura brasileira, a Vaxxinova levou suas soluções para o mercado de tilápia. Santiago Benites de Pádua, gerente de marketing de aquacultura, explica que os produtos foram desenvolvidos numa plataforma de vacinas autógenas dedicada para o mercado nacional, mas que tanto as vacinas customizadas quanto as licenciadas, serão levadas a outros mercados da América Latina, assim como à África e à Ásia. Ele ainda destacou a parceria de diagnóstico da empresa com o laboratório Aquavet da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que “permite um trabalho de processamento e caracterização de doenças novas, como é o caso da lactococose, causada pela bactéria Gram-positiva Lactococcus petauri que emergiu no Brasil no último ano.”

A boa performance da tilápia brasileira também foi um dos principais motivos que levou a MSD Saúde Animal mais um ano ao IFC. Rodrigo Zanolo, que também é médico veterinário e

O primeiro Workshop Internacional em Sistemas de Recirculação na Aquicultura foi préevento do IFC 2022. Feito em parceria entre o IFC Brasil e a rede BluEco Net, o evento focou nos conceitos RAS ao mostrar a sua aplicabilidade na indústria, possíveis obstáculos e soluções, modelos para reduzir custos de produção e casos comerciais de empresas que tornaram o negócio rentável.

O IFC também foi palco para o lançamento da 3ª edição do Festival Tambaqui da Amazônia, que reuniu pela primeira vez o Brasil e os EUA na realização simultânea de, ao menos,15 mil bandas do tambaqui assadas. Além de Nova Iorque e Rondônia, o peixe amazônico foi distribuído em seis outros Estados brasileiros.

atuava até então como gerente de mercado da empresa, manifestou a sua animação com o interesse das empresas e investidores na tilápia. “Sabemos que o momento atual das produções das proteínas é desafiador, mas

também existe uma sinalização positiva da cadeia com elevação de preços e aquecimento nas vendas.” Após a feira, Zanolo assumiu oficialmente o cargo de diretor comercial global da Aquagenetics do Brasil.

Do mundo para o Brasil. Do Brasil para o mundo 3ª edição do Festival Tambaqui da Amazônia reuniu pela primeira vez o Brasil e os Estados Unidos na realização simultânea. Além de Nova Iorque e Rondônia, o peixe amazônico foi distribuído em seis outros Estados brasileiros Seafood Brasil

Jornada produtiva

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 16 Marketing & Investimentos 01 05 09 13 17 02 06 10 14 18 03 07 11 15 19 04 08 12 16 20
O4ª International Fish Congress & Fish Expo Brasil (IFC) reuniu figuras importantes para muitos debates em torno de questões que envolviam a jornada do setor, como sustentabilidade, sanidade, nutrição, mercado global, entre outros temas. Confira algumas fotos que ajudam a ilustrar os três dias de evento! Crédito das fotos: Seafood Brasil

Jairo Gund (SAP/MAPA) e Marcos Montes (MAPA)

Jairo Gund (SAP/MAPA), Ricardo Neukirchner (AquaGenetics Brasil), Valdemir Paulino (Copacol), Marcos Montes (MAPA) e Francisco Medeiros (PeixeBR)

André Medeiros (SEDEERJ), Thamires Quinhões (Abrapes), Stela Conte (Bom Porto) e Tiago Bueno (Seafood Brasil)

Roberto Imai (Fiesp/Deagro), Meg Felipe (Carrefour) e Mario Ruggiero (Scanntech)

Amilton Dias (Grupo Alinutri), Débora Bueno e Jeferson Januário (Tilápia Mangaratiba)

Alexandre Caetano (Embrapa Biotecnologia), Maria Cláudia e Ana Carolina (Aquatec)

Felipe Amaral (Raguife), Sandro Facchini (JBS/Seara) e Antônio Ramon Amaral (Brazilian Fish)

Ricardo Pedroza (Maris Pescados), Pablo Rillo (Ecil /Inak), Charles Mendonça (Maris Pescados) e Leandro César (Friocenter Pescados)

César Luis e Telmo Dick (Dosetec)

Claudinei Cardoso, Deise Grego e Alexandre Sousa (Solsten)

Santiago de Pádua (Vaxxinova) e Fabi Fonseca (Seafood Brasil)

Gustavo Pizzato (Socil) e Klebber Ragazzo (Presence)

Lucas Granuzzo, Petra Ewald e Ricardo Feliciano (AquaGenetics do Brasil)

Cláudio Tuamm e Calleb Monteiro (Kayros Ambiental)

Melissa Mendes (Phytus Feed), Daniela Nomura (Indukern/Vidara), André Camargo e Paola Camargo (Pé de Peixe)

Ana Helena do Amaral (Brazilian Fish), Renato Almeida e Thais Milena (Imeve), Natasha Castellan (Brazilian Fish) e Tiago Benvenutti (Imeve)

Dorval Soares, Pedro Zen, Thiago Ushizima, Alexandre Ulbrich e Marcelo Manjabosco (Adisseo)

Paulo Kirchheim, Jiana Simili, Gustavo Fernandes, Rafael Vieira e Paula Stürmer (C. Vale)

Aniella Banat, Carlos Melo e Liliam Catunda (ABIPESCA)

Dario França e Stenio Lopes (Patense)

Eliana Panty e Altemir Gregolin (IFC)

Rui Dias (Ecofish) e César Calzavara (Consultor)

Marcelo Borba (Oceana Minerals), Expedito Jr. e Nacione Torres (Maris Pescados)

Ramon da Silveira e Juliano Calabria (Refrigeração Calabria)

João Moutinho (Hipra) e Diemes (BTJ Aqua)

Cavalli (FURG-Aquabio), Luiz Peregrino (AcquaQuântica), Marcelo (Altamar) e Ricardo DaFonte (DaFonte Aquicultura)

Júlia Dias e Braian Wilhelm (Ecto) Joana Finkler, Maria Alice Nunes e Renne Brito (Cocari)

Miguel Fernandez (Pathovet), Hugo Roa (FAV) e Marcos Rozas (Pathovet)

Ricardo Marinho, Pierina Pablo e Wilson Junior (Prilabsa)

Alanna Cunha, Eduardo Ikeda e Natália Spolare (Hyalin)

Luiz Ayroza (Apta/SAA), Jefferson Alves e Alex Novaes (MicroVet)

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 17 21 25 29 22 26 30 23 27 31 24 28 32 01 08 16 24 25 26 27 28 29 30 31 32 17 18 19 20 21 22 23 09 10 11 12 13 14 15 05 06 07 02 03 04

Fabiano Wasen (AquaGermany), Henry Fonderson (MEVCUDA) e Álvaro Camargo (ProChile)

Henry Fonderson (MEVCUDA) e Tiago Bueno (Seafood Brasil)

Paulo Guth, Eduardo Weschenfelder, Iago Torres, Aline Girardi, Tiago Azevedo e Marcel Silva (Marel)

Kaká Ambrósio (DuPeixe), Ana Maria (ByFish), Cristiane Neiva (Ipesca) e Eduardo Omaka (IPesca)

Diego Manso, Ana Tereza e Geraldo Borba (Nexco)

Frederico Curi, André Lit e João Manoel (Guabi)

Jorge Jaña (Saut), Marcos Queiroz (MQ Pack) e Cristian Robles (Saut)

Lucas Yamin, Danielle Damasceno, Renato Verdi, Rudi Gabiatti, Samuel Moura (Zoetis)

Bruna Castro (Phibro), Adriano Gonçalves (Pis. Gonçalves), João Barbosa (Raguife), Rodrigo Zanolo (GenoMar/Aquagenetics do Brasil) e Daniel Fuziki (Phibro)

José Otávio, Pedro Sbardella e Delton Pereira (Elanco)

Diego Yamashiro (Consultor) e Eduardo Urbinatti (ADM)

Eduardo Battisti, Luciane Gressler e Fernando Sutili (Eloaqua)

Hydeoshi Segovia e Micaele Sales (Benckmark Genetics) e Éder Benício (PeixeBR)

David Nawa e Amanda Oshiro (Korin Agricultura), Ofélia Maria (ACAq) e Josiani Raposo (Grupo Peixe Bom)

Mulheres da Aquicultura na Semana do Pescado

Equipe SAP/MAPA

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 18 Marketing & Investimentos
33 37 41 45 34 38 42 46 35 39 43 47 36 40 44 48 33 38 43 44 45 46 47 48 37 42 34 39 35 40 36 41

Novo palco da cadeia nordestina do pescado

Realizada pela Fecomércio/SE, primeira edição da ExpoPesca reúne mais de 1.000 pessoas e ajuda a apontar os rumos do mercado sergipano de pescado

Texto: Kaká Ambrósio, em colaboração especial para a Seafood Brasil Fotos: Comunicação ExpoPesca

ONordeste tem um novo eixo de promoção e geração de negócios no setor. Entre os dias 13 e 15 de outubro, Sergipe sediou, no Iate Clube de Aracaju, a primeira edição da ExpoPesca, evento realizado pela Câmara Empresarial de Pesca e Aquicultura da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Sergipe (Fecomércio/SE). O presidente da entidade, Marcos Andrade, disse que a instituição enxerga o pescado como

de grande relevância para Sergipe, que desponta no cenário nacional como o quarto maior produtor de camarão e o segundo de atum. “Temos abundância em água, com seis rios banhando nosso Estado. Sendo assim, precisamos cada vez mais estimular a pesca local, atuando diretamente na classe produtiva. A ideia é estimular sempre mais a produção de pescado e, consequentemente, a exportação dos produtos para também gerar empregos e renda nessa área”, observou.

A feira contou com estandes de expositores de produtos e serviços voltados ao setor, palestras de especialistas de instituições como a Universidade Federal de Sergipe (UFS), da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e Sebrae, além de rodadas de negócios coordenadas pelo superintendente da Fecomércio/SE, Maurício de Oliveira. Outro destaque ficou por conta dos painéis em torno de pautas propositivas sobre a pesca e aquicultura da região e

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 20 Marketing & Investimentos
debates Alunos do curso técnico em aquicultura da Universidade Federal de Sergipe tiveram contato com os principais atores da cadeia do Estado e ajudaram a desenhar os próximos passos do setor

reunindo pesquisadores, produtores, pescadores, empresas de assistência técnica e empreendedores no ramo do beneficiamento do produto.

O evento foi planejado para atender todos os públicos que procuram por insumos, máquinas, equipamentos, tecnologias, instituições de crédito e as associações dos 75 municípios do Estado de Sergipe que buscam por canais de distribuição e parcerias para o negócio.

Na solenidade de abertura, o coordenador da Câmara de Pesca e Aquicultura da Fecomércio/SE, Humberto Eng, e idealizador do evento, agradeceu a parceria do governo do Estado e de diversas entidades e instituições do setor. “Nosso propósito foi criar um grande ambiente para discussões sobre a pesca e a aquicultura, nesse evento que acontece para mostrar a força da economia nessas atividades, a partir da reunião de especialistas na

área que possam contribuir para ampliar o conhecimento no ramo e o consequente aumento da produção local”, disse Eng.

Entre as autoridades presentes, o chefe da Assessoria de Planejamento da Seagri, Arlindo Nery, representou o secretário, Zeca da Silva. Ao se pronunciar, pontuou o grande potencial que Sergipe apresenta e as ações que o governo do Estado tem desempenhado, a exemplo da criação do Núcleo de Pescados da Seagri. “A iniciativa tem como objetivo ampliar o debate sobre as políticas públicas para o setor pesqueiro e reúne 14 instituições, como a UFS, Fecomércio, Codevasf, Senar, Sebrae, Embrapa, prefeituras municipais e a Associação dos Criadores de Camarão do Estado de Sergipe, entre outras”, ressaltou.

Gestores, pesquisadores e membros do Observatório da Embrapa Tabuleiros Costeiros também prestigiaram a feira. O chefegeral Marcus Cruz integrou a mesa de abertura do evento. “A Embrapa vem fortalecendo sua linha de pesquisas em pesca e aquicultura em Sergipe e no Nordeste, e a ExpoPesca

chega para viabilizar novas parcerias, apresentar potencialidades e contribuir com os avanços do setor”, afirmou.

O pesquisador Jefferson Legat fez a palestra de abertura do evento, apresentando o potencial para cultivo de ostras nativas na Região Nordeste. Oceanólogo de formação, Legat procurou desfazer mitos e demonstrou que ostras nativas têm enorme potencial produtivo e comercial para Sergipe e o Nordeste. “Se os atores envolvidos se articularem em parcerias bem organizadas – Estado, setor produtivo e instituições de pesquisa –, a região tem plenas condições de avançar e se juntar a protagonistas da ostreicultura, como Santa Catarina”, declarou Legat.

Segundo Marcos Elias da Silva, o Jeka, membro da organização, entre profissionais, estudantes e personalidades, mais de 1.000 participantes do Nordeste e outras regiões visitaram o evento durante os três dias, sendo esses visitantes 66% de outros municípios de Sergipe e de outros estados. Entre eles, um grupo de marisqueiras de São Cristóvão (SE), do qual fez parte Maria Aparecida

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 21
Marcos Elias da Silva A ExpoPesca contou com painéis com temas importantes para a pesca da região, bem como dados que ajudaram a traçar perspectivas e soluções para a sua expansão Marcos Elias da Silva

Conceição Marques Santos. “Estou amando participar desse evento porque nós, marisqueiras, não éramos reconhecidas. Espero participar mais de momentos assim, pois eu nunca tive a oportunidade de ir a nenhum evento sobre pesca. A gente nem sabe como se mover”, revelou, aos risos.

O cenário atual e planos futuros para a pesca da região

Para pautar as ações governamentais, Sergipe está realizando ainda o Censo Estadual da Aquicultura e Pesca. Sob a coordenação da Seagri e iniciado pelo município de Nossa Senhora do Socorro, está sendo realizado um Censo para coletar informações que servirão para avanços nas políticas públicas de fortalecimento da cadeia. O levantamento vem sendo realizado em

parceria com a Prefeitura de Socorro, Associação de Criadores de Camarão de Sergipe, UFS, IFS, Observatório de Sergipe, IBGE e conta ainda com diversas entidades participantes do Núcleo de Pescado.

Para avançar com a pesca, será lançado um novo edital para conclusão do Terminal Pesqueiro de Aracaju e a concessão do mesmo. Quando

estiver em operação, vai beneficiar 12 mil pescadores. Com clara vocação para pesca como pilar econômico e de desenvolvimento, o terminal proporcionará um novo momento para o setor, que terá um local apropriado para fazer o beneficiamento, o transporte e assim, trazer segurança alimentar para quem estiver adquirindo os produtos.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 22 Marketing & Investimentos
Maurício Nogueira da Cruz Pessôa (esq.), Diretor do Departamento de Ordenamento e Desenvolvimento da Aquicultura do MAPA, e Humberto Eng (dir.), coordenador da Câmara de Pesca e Aquicultura da Fecomércio/SE Primeira edição da ExpoPesca reuniu diversas personalidades de empresas, entidades e instituições do setor pesqueiro da região Grupo de marisqueiras de São Cristóvão participou pela primeira vez de um evento voltado ao setor (acima) Marcos Elias da Silva Marcos Elias da Silva Marcos Elias da Silva

Sob os holofotes

ABCC diz que a 18ª edição da Fenacam foi a maior de todos os tempos ao reunir mais de 200 empresas expositoras, entre nacionais e internacionais, para o fortalecimento da carcinicultura brasileira, que mantém os mesmos entraves

Acadeia do camarão se reencontrou com força naquela que foi a maior edição do evento mais tradicional do segmento, segundo a própria Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC) . Na terça-feira, 15 de novembro, Natal (RN) recebeu diversas lideranças setoriais, políticas, empresas, instituições educacionais e produtores de camarão e peixes no Centro de

Convenções de Natal para a abertura da 18ª edição da Feira Nacional do Camarão (Fenacam 22).

Com o tema “Processamento e agregação de valor com foco nos mercados institucionais brasileiro e nas exportações”, a feira tinha expectativa de receber cerca de 5.000 visitantes e gerar em negócios, valores superiores a R$ 150 milhões. Também havia o desejo de superar todas as

edições anteriores, como pontuou em seu discurso de abertura o presidente da ABCC, Itamar Rocha. “Embora a Fenacam 2021 tenha sido de um movimento de júbilo, não se compara com as expectativas para a presente edição de 2022”, diz.

Além de todos esses objetivos, a realização dos três dias de evento teve como propósito atualizar conhecimentos técnico-científicos e iniciar a retomada

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 24
& Investimentos
Marketing

Fenacam 22 cumpre a promessa de ser um termômetro da retomada dos eventos e crescer sobre a edição anterior

Nutrição

A Guabi já é uma empresa tradicional no setor e levou ao evento um portfólio de rações para camarão 100% extrusadas. “A gente consegue disponibilizar melhor os nutrientes para digestibilidade dos camarões”, conta Lisandro Bauer, coordenador técnico de aquicultura. Segundo ele, é perceptível que o mercado está se aquecendo. “Tem mais procura por rações e, consequentemente, procura também por rações tecnológicas que favorecem o desempenho dos animais.”

Essa percepção de movimentação do setor é compartilhada por Felipe Amaral, CEO da Raguife. Presente no Nordeste há pouco mais de um ano e meio, ele destaca que a participação da empresa vem crescendo na região. “Com esse aumento de produção que está passando a carcinicultura no Nordeste, a gente está avaliando de vir para cá”, diz.

para camarões. “É uma linha para superintensivo, 350 com densidade normais, semi-intensivo e uma linha para densidade mais baixas. O diferencial é que ela vem completa”, explica Bruno Urachi, gerente comercial da empresa.

Também de olho no aumento da eficiência e da performance nutricional do camarão, a MCassab apresentou ao mercado o seu BioPAC Sais Biliares. A novidade é um aditivo zootécnico, que promove, entre outros benefícios, a redução da mortalidade e aumenta a capacidade de detoxificação. “Ele é um produto exclusivo da MCassab para o mercado brasileiro, embora já seja difundido em muitos países que tem produção de camarão, como por exemplo, o Equador”, fala Thiago Nascimento, gestor da unidade de negócios.

das exportações. Conforme Rocha, apesar dos efeitos da covid-19, a produção passou de 60 mil toneladas em 2016 para 120 mil toneladas em 2021, com projeções apontando para 150 mil toneladas em 2022 e 180 mil toneladas em 2023.

O caminho do desenvolvimento do setor também passa pela superação da pandemia, do melhoramento genético, da expansão tecnológica, da chegada de produtos inovadores e da realização de parcerias sólidas. E nesse contexto, a Fenacam 2022 reuniu mais de 200 empresas expositoras, entre nacionais e internacionais, para fortalecer esse mercado.

Confira a seguir algumas das principais novidades e propostas levadas pelas empresas nos principais eixos do segmento:

De Santa Fé do Sul (SP), a Raguife tem como principal objetivo produzir alimentos com formulações balanceadas e de alta performance. Para a Fenacam, a marca levou a sua Linha TS especial de ração extrusada

A MCassab, que tem a Fider Pescados como empresa do grupo, tem aumentado os investimentos no setor. Neste ano, por exemplo, investiu em uma fábrica na região de Jarinu, no interior de São Paulo, para rações e

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 25
Canindé Soares Presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha, frisou o contínuo crescimento da carcinicultura ao longo dos últimos anos, apesar da pandemia Canindé Soares

Ásia firme, apesar dos pesares

Os

Já o valor crescente do custo de envio, além do tempo para enviar o produto, colocaram outros produtores em vantagem. Mas, apesar das interrupções, a demanda por camarão permaneceu firme na Ásia e sustentada sobretudo pelos fortes mercados domésticos. Diante disso, a região continua sendo a principal produtora de camarão cultivado, com China, Vietnã, Índia, Indonésia e Tailândia como os cinco primeiros da lista.

A situação da Ásia foi debatida pela diretora do Infofish Malásia, Shirlene Maria Anthonysamy, na palestra que trouxe a “A indústria Asiática de camarão cultivado, situação atual, desafios e perspectivas”. “Desde a Covid-19, temos visto mudanças na forma com que aceitamos e fazemos as coisas. A recuperação está voltando e tem chegado à indústria do camarão”, diz.

Conforme ela, apesar dos efeitos da pandemia, o comércio global de camarão se manteve firme e foi facilitado pelo fim das flexibilizações e a abertura dos bares e restaurantes, ocasionando ainda uma melhora da demanda nos mercados regionais. “Os mercados domésticos estão ficando mais fortes e os produtores devem apostar mais nisso”, fala a diretora. “Já a rastreabilidade e a sustentabilidade também estão em alta”, completa.

de ração para ser incorporada diretamente na fórmula. E, agora, o novo conceito é com emulsificante na linha de ingredientes que diminuam o custo do alimento. “Porque durante a pandemia, o aumento de custo de matéria-prima, não só das commodities como soja e milho, mas principalmente dos óleos, foi muito significativo. E isso impactou diretamente as fábricas”, explica Ushizima.

Já com foco no tratamento da água das produções, a Real Fish esteve no evento com novidades, como o Hiperbac e a Acquasystem. O primeiro é um probiótico com maior concentração de bactérias e o segundo, um produto composto por enzimas que estimulam a eliminação da amônia no sistema. “Além disso, faz a quebra da matéria orgânica em pedaços menores que facilita a digestão das bactérias”, completa o diretor, Francisco Altimari.

Estruturas de cultivo

pré-misturas. “Independentemente da pandemia e dos dois últimos anos que nós vivemos, para o nosso setor que é totalmente ligado ao agronegócio, nós só temos resultados positivos a serem colhidos”, completa.

Medicamentos veterinários e tratamentos de água

Quem também viu crescimento no último ano foi a Adisseo, empresa com tradição na linha de soluções para a aquicultura. “A gente continua

avançando nos programas de saúde e nesse ano, crescemos bastante nesse mercado onde as fábricas buscam redução de custo, mas mantendo a qualidade ou até melhorando a qualidade nutricional e o desempenho produtivo”, conta o gerente, Thiago Tetsuo Ushizima.

Comercializado pela distribuidora iAqua, a linha de produto dos programas de saúde da empresa também pode ser usada nas fábricas

Presentes pela 2ª vez na Fenacam, as empresas irmãs Geomembrana e Lona Forte de Guarulhos (SP), apresentaram as opções disponíveis em seus portfólios. Simone Tavares, sócia-proprietária das companhias, explicou os motivos que a levaram ao evento. “Não é novidade [o uso da geomembrana], mas ainda é pouco conhecida entre os criadores. Então, a gente está fazendo essa divulgação maior. É um produto extremamente resistente que dura mais de 30 anos exposto ao sol”, conta.

Equipamentos

Na área de equipamentos para piscicultura e carcinicultura, a multinacional Dosivac trabalha com sopradores, solução que a empresa levou ao evento. Karl Lessmann, gerente de vendas, conta que as máquinas são robustas e trazem uma maior vida útil. “A gente vê um crescimento principalmente

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 26
Marketing & Investimentos
impactos da pandemia da Covid-19 criaram mudanças no cenário da indústria do camarão em todo o mundo. Shirlene Maria Anthonysamy destacou como os mercados domésticos de camarão asiáticos estão ficando mais fortes após a pandemia da Covid-19 Seafood Brasil

porque traz melhorias em questão de eficiência energética, ruído e durabilidade em comparação ao que mais comumente é utilizado”.

Já Lessmann destaca a percepção da empresa de que o setor de carcinicultura brasileiro, de fato, cresceu nos últimos anos, apesar de que durante a pandemia, o foco maior foi em outros setores. “A gente sentiu uma estabilização porque começamos nesse mercado faz uns três anos. E já no primeiro ano, teve bastante vendas, principalmente na região da Bahia”, diz.

Por outro lado, com uma caminhada de 36 anos no mercado, a Trevisan Equipamentos já presenciou muitas

altas e baixas e hoje, vivencia um setor mais “técnico e que está à procura de uma genética melhor”, como conta o gerente comercial, Nedyr Chiesa. “Nós temos problemas de NIM e de Mancha Branca, mas já estamos conseguindo eliminar isso. A gente tem que tomar como exemplo o Equador que há 15 anos, passou por isso, foi devastado a zero e, hoje, voltou a ser o maior produtor do mundo”, defende.

Para esta edição, a empresa esteve com a tecnologia de aeração para berçários de camarão e tilápia vinda dos EUA. “São chamados Nossless e são totalmente diferentes do que tem no mercado brasileiro. Eles podem ser feitos até 100 metros de comprimento

nos tanques e são comandados por uma bomba, que puxa a água e depois, a manda de volta com o ar para a oxigenação dos tanques”, explica.

Também recordando os desafios que o setor precisou encarar nos últimos anos, Cláudio Mathias, diretor de vendas da América Latina da Wenger, acredita que agora a carcinicultura retomou a jornada de crescimentoainda que lentamente. “Comparando com o mercado mundial, eu vejo um crescimento lento ainda, tanto na busca por equipamentos de baixo custo ou mesmo de processos mais antigos”, diz.

Adquirida recentemente pela Marel, a Wenger é uma empresa

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 28
Marketing & Investimentos
Diversas empresas do setor revelaram crescimento e otimismo para os próximos anos, mas as exportações ainda devem ficar em segundo plano Canindé Soares

Público foi conferir de perto as novidades do segmento na feira que tinha a expectativa de receber cerca de 5.000 visitantes e gerar em negócios valores superiores a R$ 150 milhões

americana especialista em fabricação de extrusoras e levou o seu último lançamento na área de camarão: a Aquaflex. A novidade tem capacidade de 100 kg até 20 toneladas/hora para um produto específico.

Distribuidora de tecnologia, produtos e equipamentos para a aquicultura e carcinicultura no Brasil, a IAqua esteve presente com a linha completa. No entanto, o destaque ficou para as novas gerações de alimentadores automáticos. “Acho que a alimentação automática é uma tendência mundial”, explica o diretor, Alfredo Freire. Os alimentadores automáticos são ofertados em várias versões e configurações, podendo ser elétricos ou solares, com reservatórios de ração para 100 kg ou 200 kg.

Canindé Soares

Conforme ele, o cenário do camarão atual do Brasil é visto com “muito bons olhos”. “O período de pandemia foi, sem dúvidas, muito pesado, particularmente para o camarão, que está associado ao consumo em restaurantes e hotéis para momentos de lazer. Então, tirando como termômetro que nós, que somos como uma empresa vendedora de tecnologia, vamos nos aproximar ou bater o que nós vendíamos e faturamos em 2019”, estima.

Por fim, a MQpack, especialista em máquinas envasadoras automáticas, tem apresentado alta de pedidos dos equipamentos nos últimos dois anos no Norte e Nordeste. “Realmente teve

um crescimento grande para nós”, conta o CEO, Marcos Queiroz. A empresa esteve presente com equipamentos e versões de software específicas para o camarão. Diante da empolgação do crescimento, Queiroz dá spoilers para 2023: “Estaremos trazendo bastante novidades e alguns modelos novos voltados exclusivamente para o camarão.”

Refrigeração

A Shiguen esteve na Fenacam 2022 focada em aumentar seu leque de clientes na área de carcinicultura e frigoríficos em geral. Para isso, a especialista em refrigeração levou o seu Chiller

de beneficiamento e resfriamento, além de equipamentos para túnel de congelamento, estocagem, máquinas para fabricar gelo e de despesca. “O diferencial do Chiller é que você pode pegar uma água em temperatura a 30° C e em menos de segundos, conseguir essa água a 1,5° C”, conta José de Moura, gerente regional da Shiguen.

Já pela primeira vez na Fenacam, a Iceteck Equipamentos mostrou as funcionalidades de seu túnel em QF para congelamento. “Essa máquina é fabricada totalmente em aço inox para congelamento de produtos pequenos e também tem grande capacidade de 300 kg até 6 toneladas por hora”, explica Altair Elisio, diretor da empresa.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 30 Marketing & Investimentos
Na maior Fenacm da história, visitantes puderam ter acesso às diversas novidades que apontam os rumos futuros da carcinicultura nacional Canindé Soares

Tecnologia de produção

Também iniciante no setor, a Meu Pescado levou soluções tecnológicas para gestão e produção. “A gente basicamente tem um sistema de gestão e atua atendendo fazendas de camarão e peixe na tentativa de ajudar o produtor a ter um controle melhor da propriedade de forma integrada, tanto na parte de produção quanto na parte financeira”, conta o diretor da empresa, Jorge Oliveira.

Com atuação em 100 propriedades ao redor do Brasil no último ano, ele reforça que o setor está aquecido. “Tudo que a gente está vendo na feira e que o pessoal tem falado sobre o mercado crescendo, a gente sente que está se confirmando. Nossa expectativa para o próximo ano é de crescer bastante.”

Larvicultura e berçário

Com foco em larvicultura e berçário, a Imeve aproveitou o público da feira para o lançamento do Protech, um suplemento energético com aminoácidos essenciais e vitaminas que auxiliam no metabolismo de camarões. “O conceito é fazer uma colonização de bactéria lática no início do processo de produção de larvas e com o controle de amônia nitrito desejado pelo produtor”, conta Renato de Almeida, gerente da aquicultura.

“O Brasil hoje se divide em dois mundos (na carcinicultura), o Ceará e o resto. Por quê? Porque a carcinicultura nos últimos dois ou três anos cresce sem limites no Estado com pequenos, micros e as águas interiores”, explica Ana Carolina de Barros Guerrelhas, sóciaproprietária do laboratório Aquatec.

Conforme Guerrelhas, a atividade está se transformando e segue crescendo muito localizada, sendo que o pequeno e micro produtor atrai toda a infraestrutura que precisa. Por outro lado, os grandes produtores estão se verticalizando cada vez mais. E, somado a isso, ainda tem as empresas tradicionais. “Por isso, a concorrência é alta”, pontua.

É justamente para entender essa situação que a Aquatec foi à Fenacam 2022. “A gente veio tentar entender o que está acontecendo. Está tendo um crescimento, mas desordenado, algo que a tecnologia pode ajudar a consertar. Sendo assim, não trouxemos novidades. Afinal, não se pode trazer uma coisa nova se não se entende nem o que está acontecendo na indústria”, completa.

Crescimento estampado

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 32 Marketing & Investimentos 01 05 09 13 17 02 06 10 14 18 03 07 11 15 19 04 08 12 16
om o desejo de superar todas as edições anteriores, a 18ª edição da Fenacam reuniu em três dias de evento cerca de 5.000 visitantes dentre lideranças setoriais, políticas, empresas, instituições educacionais e produtores de camarão e peixes na cidade de Natal (RN) para testemunharem in loco o crescimento e os limites expandidos da carcinicultura nacional. Crédito
Seafood Brasil
C
fotos:

Robson Alves, Roseli Pimentel e Moacy Maia (Samaria Rações Potiporã)

Ricardo Marinho (Prilabsa), Fabi Fonseca (Seafood Brasil), Pablo (Prilabsa) e Tiago Bueno (Seafood Brasil)

Lisandro Bauer, João Manoel (Guabi), Albert Tacon (Aquahanna LLC) e Nedyr Chiesa (Trevisan)

Thiago Ushizima (Adisseo), João Koch (Biorigin) e Alfredo Freire (iAqua)

Felipe Amaral, Milena Amaral e Victor Rasteiro (Raguife)

Mauricio Junior Dorigatti e Mauricio Dorigatti (AcquaSystem)

Arnaldo Kostaneck (ZNK Engrenagem) e Fábio Rossi (Marine Equipment)

Daniela Nomura (Indukern / Vidara) e Thais Milena (Imeve)

Fabiano Wasen (AquaGermany), Sergio Zimmermann, Gabriel Lopes e Lucas Fernandes (SupriAqua)

Leandro Castro, Sidnei Valle, Dora Cota e Diego Flores (Zeigler)

Daniel Fuziki (Phibro), Francisco Medeiros (PeixeBR) e Tiago Bueno (Seafood Brasil)

Waldomiro (ANCC/ Tecmares), Maria Cláudia e Ana Guerrelhas (Aquatec) e Diego Rocha (Synbiaqua)

Mulheres da Aquicultura

Paulo Rocha (AlliPlus), Ricardo Campos (Itaueira) e Marcio Bezerra (AlliPlus)

Orígenes Monte (ANCC), Itamar Rocha (ABCC/Fenacam), Guilherme Saldanha (SAPE-RN) e Charles Mendonça (Camarões do Brasil)

Ricardo e Marcos Queiroz (MQ Pack)

Fabi Fonseca (Seafood Brasil), Jaqueline Gastellú e Erica (Larvi)

Felipe Jaconi, Ednara Santana e Eduardo Urbinati (ADM) e Francisco Medeiros (PeixeBR)

Hugo Roa (Fav), Gabriel Borba e Ana Tereza (Nexco)

Luiz H. Peregrino (AcquaQuantica) e Eduardo Henrique (Camanor)

Fábio Sussel e Fernanda Queiroz (#VaiAqua)

Dyonata Lima (Maris), Igor Gabriel e André Matoso (Celm) e Hudson Lucena (ABCC)

Pedro Januário, Marcelo, Edson César (Prilabsa), Dora Cota (Zeigler), Mayara Mendonça, Gilmar Andrade e Ricardo Marinho (Prilabsa)

Renan Zatti, Thallys Rebouças, Luiz Eduardo Conte e Alice (Ammco Pharma)

Fernanda Maruoka, Marineuma Rocha, Yohanna Galarza e Bruna Fernandes (ABCC/Fenacam)

Marcos Santos, Fernando Garcia e Tadeu Silva (Inve do Brasil)

Tiago Bueno (Seafood Brasil), Luiz Paulo (APCC) e Ricardo Carriero (Bomar Pescados)

Marcelo Shei (Altamar), Marcondes Gonzaga (Un. Federal Rondônia) e Cristiano Albuquerque (Ufersa)

Karl Lessmann e Victor Tavares (Dosivac)

Filipe Chagas e Francisco Altimari (Real Fish)

Edilson Tavares e Simone Tavares (Geomembrana)

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 33 21 25 29 22 26 30 23 27 31 24 28 20 01 08 16 24 25 26 27 28 29 30 31 17 18 19 20 21 22 23 09 10 11 12 13 14 15 05 06 07 02 03 04

Bacalhau da Noruega “em alta”

Seafood From Norway reúne importadores, distribuidores e varejistas de bacalhau para dar má notícia aos brasileiros sobre cotas

Menos bacalhau em 2023. Esta é a previsão negativa trazida durante o Seminário do Bacalhau da Noruega, realizado em São Paulo (SP) e no Rio de Janeiro (RJ), nos dias 24 e 25 de outubro pelo Conselho Norueguês da Pesca (CNP). A cota anunciada para 2022

pelo grupo de pesquisadores russos e noruegueses para os estoques de Gadus morhua no Mar de Barents foi a menor já definida desde 2009: 566.784 toneladas. Os pesquisadores do Instituto de Pesquisa Marinha da Noruega (IMR) estimam que o estoque de desova de bacalhau esteja agora

em torno de 800 mil toneladas, o menor desde 2008, o que levou os pesquisadores a tomarem esta decisão.

Na época, a cota do bacalhau Atlântico caiu 25% e foi possível perceber um aumento nos preços em uma proporção similar no ano seguinte

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 34
Texto: Ricardo Torres
Marketing & Investimentos
Planta de processamento na Noruega: cota de Gadus morhua caiu em 2022 e pode cair mais em 2023

Cota de bacalhau Gadus morhua | Mil toneladas

Fonte: Conselho Norueguês da Pesca (CNP) e Instituto de Pesquisa Marinha da Noruega (IMR) Cota de saithe Pollachius virens | Mil toneladas

aqui no Brasil, também em função da valorização do dólar. A tendência é que este ano aconteça algo similar, como sugeriu o analista de pescado do CNP na Noruega, Eivind Hestvik Brækkan “Haverá uma competição intensa por matéria-prima e alguém produzirá e consumirá menos bacalhau.”

Após dois anos de pandemia e consequências terríveis sobre a inflação, salário e renda per capita, espera-se que os brasileiros incrementem o consumo de saithe, ling e zarbo, em detrimento do mais nobre dos bacalhaus. Isso de certa forma já vem acontecendo, como

Rokas Kubilius/Institute of Marine Research
País 2022 2023 Var. % Islândia 222 209 -6% Noruega 385 288 -25% Rússia 346 272 -21% Total 953 769 -19%
explicou Øystein Valanes, diretor do CNP no Brasil. “A despeito da inflação de 10,12% em 2021, a exportação da Noruega aumentou”. De fato, enquanto China e Portugal caíram (-27,4% e -2%, respectivamente) nos embarques de peixes secos e salgados, os noruegueses aumentaram o volume em 6,4% sobre o País 2022 2023 Var. % Islândia 79 72 -9% Noruega 208 240 15% Outros 46 53 15% Total 333 364 +10%
Fonte: Conselho Norueguês da Pesca (CNP) e Instituto de Pesquisa Marinha da Noruega (IMR)

ano anterior até setembro. Até outubro, o volume já caiu 3,60%, para 12,6 mil toneladas, segundo informação do Painel do Pescado.

No varejo, já se sente a escassez de Gadus morhua seco e salgado desde o ano passado, mas neste ano, a situação está pior a partir da variação cambial. A solução tem sido mesmo a migração para espécies mais baratas, cuja venda

tem acontecido com maior volume inclusive em canais antes pouco utilizados, como as lojas online. “O e-commerce de bacalhau tem uma das melhores performances da peixaria, tanto no salgado quanto congelado”, afirma uma fonte do grande varejo consultada pela reportagem.

Outra sinalização positiva veio das vendas em novembro, muito superiores

ao projetado para a época. “Nestes dias estamos sentindo otimismo de compra com a Copa do Mundo e expectativa para as festas: os clientes estão gastando sem dó e sem fazer conta”, diz a fonte. Com o nível de endividamento das famílias batendo recorde no Brasil, essa conta pode chegar em 2023.

Guerra na Ucrânia não interfere em definição de cotas

Em março de 2022, quando o governo russo invadiu a Ucrânia, o Conselho Internacional para a Exploração dos Mares (ICES) suspendeu todos os participantes russos de todas as suas reuniões. As recomendações de cotas para os estoques de peixes no Mar de Barents geralmente são feitas no âmbito do grupo, mas este ano especialmente, coube ao Instituto de Pesquisa Marinha (IMR) e os colegas cientistas russos propor um novo processo para a recomendação de cotas, fora do âmbito do ICES.

Cientistas marinhos noruegueses e russos têm cooperado estreitamente por muitas décadas. Eles compartilharam dados de pesquisa, viajaram juntos em pesquisas e concordaram com recomendações de cotas para o Mar de Barents. Desde 1958, pesquisadores dos dois países se reúnem regularmente para discutir assuntos técnicos e planejar expedições, conferências e reuniões conjuntas.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 36
Marketing & Investimentos
Foto tirada em 2019 mostra grupo de cientistas russo e noruegueses que trabalham em cooperação para definir cotas de captura no Mar de Barents Rokas Kubilius/Institute of Marine Research

As notícias mais importantes de nosso site no último bimestre

SSLA: como foi e como será

A Seafood Show Latin America encerrou a primeira edição cumprindo a proposta: oferecer a mais completa e dinâmica plataforma de negócios para a cadeia produtiva do pescado na América Latina. Realizado pela Francal Feiras e pela Seafood Brasil de 17 a 19 de outubro, o evento recebeu um público de 3.100 pessoas, que puderam conhecer novidades de 76 expositores e participar de uma programação diversificada com mais de 30 horas de atrações. A próxima edição, já agendada para os dias 24 e 26 de outubro de 2023, teve 82% da planta comercial vendida só no dia de lançamento, garantindo mais de 1.000 m2 de área comercializada para a 2ª edição.

Apesar de divergências, GT da Pesca deve propor recriação do MPA

As políticas e diretrizes nacionais voltadas para a pesca e aquicultura estão mais próximas de retornarem sob a gestão do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). É isso que o Grupo de Trabalho da Pesca do Gabinete de Transição Governamental (GT da Pesca) propôs no relatório entregue no fim de novembro. O modelo inicial prevê ao menos quatro secretarias: da pesca industrial, da pesca artesanal, da aquicultura e de ordenamento. A volta do MPA tem sido bastante discutida e ganhou força após a confirmação da troca de comando do governo. No setor, o assunto tem dividido opiniões, inclusive dentro do próprio GT, com o grupo de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por exemplo, acreditando que a Pesca deve seguir como uma secretaria dentro do Ministério da Agricultura.

Sindipi tenta alteração de PL que proíbe pesca de arrasto

Mês de outubro registra nova inflação nos valores do pescado

Conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os valores do pescado tiveram uma nova alta no mês de outubro, agora de 0,38%. No geral, o IPCA também teve alta de 0,59% em outubro após três meses de deflação. A inflação de outubro foi registrada principalmente nas espécies pescada (2,15%), pintado (2,84%), sardinha (1,74%) e cavala (1,25%). No mesmo período, as principais baixas foram vistas nas espécies peroá (-2,16%), curimatã -1,68%), dourada (-1,04%) e palombeta (-0,88%).

A Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 347/22 que proíbe a pesca de arrasto – puxada por embarcações motorizadas – em águas continentais (rios e lagos), no mar territorial (22 km do litoral) e na zona econômica exclusiva do País (até 370 km da costa). A notícia não agradou ao Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi), que vai tentar a alteração da proposta em tramitação. “(...) visitamos os parlamentares no congresso para explicarem com mais profundidade o impacto da medida. O Sindipi segue junto e atento na tramitação dessa proposta para que possamos alterá-la”, informa Agnaldo Hilton dos Santos, novo presidente do Sindipi.

19ª Semana do Pescado apontou aumento nacional nas vendas

Ocorrida na primeira quinzena de setembro, a 19ª Semana do Pescado indicou um aumento de aproximadamente 30% nas vendas no Brasil. O Mato Grosso foi o campeão de vendas registrando um aumento de 30% na comercialização de pescado, seguido por São Paulo com 20%. Já os estados do Rio de Janeiro, Sergipe e Santa Catarina conquistaram o mesmo percentual de 10%. Por fim, nos Estados de Rondônia, Acre, Pará, Amazonas, Maranhão e Tocantins, houve ampliação das vendas em quase 10%. Entre os produtos mais vendidos estão tilápia, camarão, salmão, tambaqui, atum, bacalhau, tainha e merluza.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 38
Caiu na Rede
Divulgação
Pixabay/Julia
SSLA

Zanolo: um nome de peso para a GenoMar

A GenoMar anunciou em novembro a chegada de Rodrigo Zanolo como o novo diretor comercial da empresa. Depois de anos na MSD, Zanolo assumiu na GenoMar as atividades comerciais do grupo na América Latina e na Ásia, incluindo vendas, marketing, atendimento ao cliente e serviços técnicos. “Estou muito feliz em ingressar na GenoMar para trabalhar com as equipes comerciais no Brasil e no mundo e assim, levar um portfólio de marcas e produtos para mais clientes e segmentos do mercado”, declarou Zanolo. Divulgação

Com fundo europeu, Tilabrás

poderá triplicar

produção

A Tilabras Aquicultura poderá triplicar sua capacidade de cultivo de tilápia para 25 mil toneladas anuais após receber o investimento de 10 milhões do fundo Ocean 14 Capital. O aporte ainda possibilitará que a empresa duplique sua capacidade de processamento do peixe. “O investimento está em linha com a visão da Tilabras de ser a maior produtora em grande escala com menor impacto à natureza para a criação de peixe branco no mundo”, diz Francisco Saraiva Gomes, diretor de investimentos e um dos sócios fundadores da Ocean 14 Capital.

NÃO SEJA UM PEIXE FORA D’ÁGUA: FIQUE POR DENTRO DESSAS E DE MAIS OUTRAS NOTÍCIAS EM NOSSO SITE!

Leia esse QR Code e acesse nosso portal: https://www.seafoodbrasil.com.br/noticias

Na Planta

Tecnologia em processamento de pescado

Crédito das fotos: Divulgação/Empresas

Para o alto e avante!

Um modelo indicado especialmente para a armazenagem em compartimentos altos acima de 20 m de altura. É dessa forma que a Güntner define a sua linha de resfriadores de ar Penthouse. Segundo a empresa, o uso da tecnologia de serpentina flutuante impede com que os tubos de circulação do refrigerante entrem em contato com as carenagens de estrutura, o que reduz as chances de vazamentos do refrigerante.

Pode vir quente que eu estou selando

A termoseladora TSA 875 é o destaque da Ulma Packing para empresas que trabalham com todo tipo de bandejas pré-fabricadas de formas regulares e com diferentes composições. De acordo com a empresa, a máquina realiza embalagens com ou sem atmosfera modificada (MAP) e a vácuo, além de ter um processo de selagem que pode ser realizado em uma fila (mono-linha) ou em duas filas (linha dupla), dependendo do formato a ser embalado. Podendo ser

integrada em linhas de produções médiasaltas ou em processos que requeiram um controle preciso do movimento no transporte de bandejas, a TSA 875 ainda utiliza como material de tampa filmes termoseláveis que ainda podem ser impressos.

Direto na película

A Multivac desenvolveu uma nova impressora direta de películas para os traysealers da série X-line: a DP 245. O novo equipamento funciona numa altura de trabalho fixa, mas que se adapta automaticamente às possíveis diferenças na altura da embalagem pronta. De acordo com a empresa, a impressora possui proteção IP65 e também é equipada com a tecnologia termal Inkjet que possibilita alcançar resoluções de impressão de até 600 dpi em pequenos caracteres, letras ou códigos. A nova DP 245 também está disponível numa versão Washdown opcional que também possui a classe de proteção IP65.

ambientes com controle de umidade. Com uma ampla faixa de capacidade, os evaporadores podem ser customizados de acordo com necessidades específicas, podendo ainda serem construídos para trabalhar com amônia (circulação forçada ou sistema por

Vapor barato

Máxima eficiência e economia para as mais diversas aplicações. Essa é a promessa da Engefril com seus evaporadores de ar. Segundo a empresa, suas soluções são indicadas para ambientes e trabalhos como: túneis de congelamento ou resfriamento; câmara de resfriamento de carcaça; ambientes climatizados; câmaras de estocagem;

A caixa de insensibilização de pescados é o destaque da Branco Máquinas Desenvolvida exatamente para o atordoamento préabate do pescado, a solução possui uma base de tubo quadrado de 40 mm x 20 mm, chapas dobradas de 1,2 mm e uma estrutura em inox AISI 204. Indicada para o trabalho de um operador, a caixa ainda possui acabamento de aço escovado e capacidade de 500 L.

Lava-rápidos de pescado?

É exatamente essa a ideia da solução da Engmaq O lavador rotativo de pescados da empresa é uma máquina utilizada para realizar a limpeza de peixes de até 1,5 kg logo após o procedimento de insensibilização. A empresa informa que a solução foi construída com aço inox AISI 304 e possui acabamento em jateamento com microesfera de vidro. Com peso aproximado de 240 kg, o lavador rotativo de pescados possui capacidade em torno de 500 kg/ hora de peixe.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 42

Capa

Nasce um hub de pescado

Crise de demanda na Europa e estagnação asiática forçam latinos a olharem ao próprio bloco, cuja produção e consumo de pescado crescem como em nenhum outro local do planeta

Se fosse um país, a América Latina e o Caribe seriam o terceiro maior do mundo em termos populacionais. Neste quase finado 2022, vivem no bloco em torno de 660 milhões de pessoas , das quais pouco mais da metade estão no México ou no Brasil - disparados os maiores mercados consumidores da região. No que diz respeito à produção de pescado, são mais de 15 milhões de toneladas de produtos aquícolas e pesqueiros, com uma receita superior a US$ 20 bilhões com exportações.

Na pesca, a Argentina e o Peru puxam a fila, enquanto o Chile e o Equador lideram como potências aquícolas locais. No meio do caminho, temos com relevância internacional o México e países da

América Central, como Honduras e Guatemala. No entanto, Brasil e Colômbia já se projetam globalmente após abastecerem seu faminto mercado consumidor local. A tese que levantamos aqui da construção de um novo hub se deve justamente ao fato de que na América Latina estão todas as condições para a expansão produtiva e, ao mesmo tempo, pujantes, diversos e apaixonados mercados consumidores.

Juntos, os países dessa região geográfica unidos pelo idioma e traços culturais similares devem aumentar a produção de pescado em 32,8% até 2030. No mesmo período, o consumo regional, hoje perto dos 10 kg per capita/ano, pode chegar aos 15 kg per capita/ano. Satisfazer este apetite depende hoje em larga medida do

comércio intra-regional - 47% das trocas comerciais do setor acontecem dentro do bloco. Os dados são da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO/ONU).

Há espaço e demanda, portanto, para crescer além dos tradicionais mercados europeus, norteamericanos e asiáticos. A região agora dispõe inclusive de uma feira de negócios capaz de fomentar o comércio intra-regional: a Seafood Show Latin America, cuja edição de estreia, no último mês de outubro, reuniu mais de 3.000 pessoas de 12 países (leia mais na pág. 56). Nesta reportagem, analisamos alguns dos cases exitosos ou com grande potencial na região.

AMÉRICA LATINA E CARIBE, EXCETO CHILE CHILE

MILHÕES DE TONELADAS MILHÕES DE TONELADAS PORCENTAGEM PORCENTAGEM Aquicultura Aquicultura Captura Captura Participação da aquicultura Participação da aquicultura

Brasil: tecnologia e produção em alta

Quarto maior produtor de tilápia do mundo vira pólo tecnológico para América Latina e costura aumento da presença global com base na espécie

Em 2006, a Copacol decidiu que valia a pena adicionar mais uma proteína animal ao portfólio. Depois de estruturar e capacitar os integrados, construindo a própria planta e adquirindo outra, desenvolveu a capacidade de abater 140 mil tilápias/ dia e quer chegar a 230 mil tilápias/ dia até 2023. No meio do processo, o gerente comercial de mercado externo da cooperativa, Genézio Clemente Júnior, foi acionado para desvendar o mercado externo para o produto. O primeiro embarque foi com pele

de tilápia para a indústria europeia fabricante de cosméticos.

Quando as vendas de filés se iniciaram, Júnior se viu obrigado a defender uma estratégia que poucas empresas teriam a musculatura para afrontar. “As margens eram muito curtas, mas, mesmo não sendo tão rentável como no mercado interno, precisávamos tornar o negócio no grande prazo viável.” Ele percebeu que era preciso também definir o nicho. “Tem muito produto de combate, com glazing de 60%. Se com este eu não consigo competir, vamos achar mercados que pagam esta qualidade.”

As margens começaram a melhorar com a venda de escamas para a China, Tailândia e Japão, bem como a partir da consolidação dos canais nos Estados Unidos para a tilápia resfriada. “Mandamos para 10 portos nos EUA. De 2019, que foi um piloto, para cá, embarcamos duas cargas por semana (4 a 6 toneladas)”, conta. Agora, o próximo foco do trabalho é crescer com a tilápia inteira

eviscerada congelada, cujos volumes até novembro já superaram as 1.000 toneladas. A aposta vem de quem já desbravou o mercado global do frango, com uma equipe especializada em comex com 25 pessoas. “Frango é uma commodity, mas o mercado de pescado é muito mais sensível. Fatores como linha de sangue, refile, embalagem e frescor são determinantes: é um erro e se perde o cliente e o pedido.”

O nível de profissionalismo das cooperativas foi determinante para a decisão da gigante islandesa Marel de investir no centro de demonstração Progress Point no Brasil. “A tilapicultura brasileira é a primeira do mundo que aposta por um alto nível de automatização para ser competitiva em um ambiente global”, descreve o diretor global da indústria de pescados da empresa, Diego Lages. Em termos de tecnologia de processamento, ele enxerga o Brasil atrás apenas do Chile com as plantas de salmão.

Exportação de tilápia fresca da C.Vale aos EUA: cooperativas aumentam fatia do Brasil lá fora

Ele cita especificamente o caso da C.Vale, que concluiu recentemente uma expansão de linha com o lançamento global da Marel para filetamento automático - a FilleXia -, além do sistema de controle individual dos operários, sistemas de detecção raio x e espinhas nos filés (primeiro lugar no mundo), sistema de empaque, multicabeças, graders, target batchers para pesos fixos e software Innova monitorando todo o sistema em tempo real. “Se vemos como o setor de frango foi para o Brasil, não foi nada difícil tomar a decisão de maximizar o valor da tilápia por meio de processos e cortes especiais”, adiciona Lages.

Capa
Acervo/Seafood Brasil

O case Brasil deve ser o trampolim da empresa para outros países tilapicultores da região e até da Ásia (leia mais a partir da pág. 72).

Uma nova imagem Clemente Júnior, da Copacol, diz que o Brasil aos poucos começa a transmitir confiança de que se tornará um player relevante, o que não se consegue apenas com uma campanha de imagem, sugere. “Para acesso a mercados, o Brasil não tem reputação como exportador de peixe. Estamos falando de 20 contêineres por mês, é pouco.” Ele considera que o esforço deva ser muito mais setorial do que com o consumidor final nos países-alvo, já que é preciso vencer a resistência dos importadores. “Envolve mudança de crença. Se o cliente internacional compra e dá certo, por que abrirá um novo cliente?”, provoca Júnior.

A construção da imagem também passa pela adoção de certificações

e o envolvimento direto da indústria nas práticas ESG (sigla em inglês para práticas corporativas de respeito ao meio ambiente, questões sociais e governança). Geraldo Cosentino, especialista em comércio exterior da Prime Seafood, diz que as empresas precisam protagonizar este novo momento. “O Brasil já vem há alguns anos renovando a maneira de trabalhar. Não sobrevive o exportador como era no passado: se ele não for uma empresa ESG, não é competitivo, principalmente ao mercado norteamericano”, analisa o especialista.

Cosentino diz que isso significa investir bastante em tecnologia para a segurança do alimento, mas também na proteção do funcionário, “garantindo condições ambientais e sociais que possam ser atestadas por selos e certificações que conseguimos”. Ele cita ainda o envolvimento da empresa no projeto de melhoramento (FIP) da lagosta no Ceará e a parceria

com a Sea Delight e o International Pole and Line Foundation (IPNLF) para lançar o FIP da albacora-lage no Brasil. “Em alguns anos, queremos ter a certificação MSC. Se você não tem isso como empresa exportadora, não temos futuro no mercado externo”, crava.

Pescados com qualidade

respeitaempresaUmaque o ambientemeio

Matéria-prima da melhor procedência, ótimas práticas de fabricação, instalações que respeitam a legislação e equipamentos de congelamento ultrarrápido são alguns dos fatores que garantem o padrão de qualidade Natubrás. São camarões, lulas, mexilhões, polvos e cortes nobres de peixes, em embalagens práticas e seguras ao consumidor. www.natubras.com.br Fone: (47) 3347-4800 | Balneário Piçarras – SC

O sabor que faz a diferença
Exija do seu fornecedor a qualidade dos produtos Natubrás
Divulgação/Marel
Para Diego Lages, diretor global de pescados da Marel, o Brasil aposta em alto nível de automatização para ser competitivo

Argentina: dos napolitanos aos chineses

Fluxos imigratórios, acordos comerciais e injeção de capital estrangeiro ajudaram a converter um país amante da carne em uma potência pesqueira global

Argentina e Brasil são países extremamente carnívoros, onde o pescado é mais um negócio que uma paixão nacional; e ambos ostentam mais de oito mil km de costa. “No país dos gaúchos e da carne, nunca houve tradição pesqueira”, frisa Julio Torre, fundador da REDES & Seafood, a publicação especializada mais antiga do segmento - que opera desde 1984

Famílias tradicionais como Solimeno e Moscuzza levam mais de 100 anos na Argentina, desde que os patriarcas cruzaram o Atlântico desde o sul da Itália e se estabeleceram em Mar del Plata. A tradição pesqueira se expressou pela “pesca do dia”, como eles costumam definir - pequenos barcos artesanais que buscavam a merluza para a venda naquela conhecida como Paris das Américas: a capital, Buenos Aires. “Em princípios do século 20, a merluza se estabelece como espécie principal das capturas

e ajuda a impulsionar esta indústria”, relembra Torre.

As conexões internacionais decorrentes deste fluxo imigratório sintonizaram a Argentina com a demanda europeia por pescado branco, mas também abriram os olhos quanto ao potencial regional do produto. De maneira quase simultânea à derrocada de pólos pesqueiros tradicionais no Brasil, como Rio Grande (RS) e Santos (SP), Mar del Plata começa a crescer como a origem de peixe branco disponível no Brasil. Enquanto isso, na Europa, os fish sticks começaram a se popularizar, forçando uma adaptação crucial na forma de exportar o produto: os fish blocks

A expansão da oferta dependia da modernização da frota, que então se deu de forma mais acentuada a partir da década de 1970. “Há um crescimento importante da frota já com perfil exportador enquanto se

mantém crescente a exportação de filés congelados em terra até o Brasil”, relembra Torre. Ele também ressalta a importância do acordo firmado com a União Europeia, que estimulou uma transferência de frota da Europa à Argentina de barcos congeladores, até então inexistentes localmente.

“Isso amplia geograficamente a capacidade de captura, incorporando o processamento a bordo e a exportação desde os próprios barcos”, conta Torre. Se antes o perfil era de embarcações costeiras de 20 metros ou barcos de fresco com 60 metros, chega-se a uma nova era com verdadeiras plantas frigoríficas náuticas com 1.000 toneladas de capacidade de armazenamento.

Já na década de 1990, o jornalista lembra ainda que, como boa parte destes barcos vinha da Espanha, começou a haver uma série de jointventures e se fortaleceu uma conexão com o mercado espanhol, um dos mais importantes do comércio global

Capa
Divulgação/Iberconsa Tangonero API XII, da Iberconsa: barcos congeladores a bordo transformaram a indústria local

pesqueiro. Ao mesmo tempo, o país começa a fazer ensaios de fretamentos à Ásia com barcos “poteros”, dedicados à pesca de lula. O reflexo disso se vê na atual composição societária da frota argentina dedicada aos cefalópodes: mais da metade é de capital chinês.

Na virada dos 2000, em contraste com o derretimento da economia local, a Argentina encontra uma mina de ouro: os camarões vermelhos, ou “langostinos”. Com os “tangoneros” de arrasto duplo (parelha), os hermanos dançaram Gardel no comércio global de pescado: os crustáceos capturados na patagônia argentina incidiram favoravelmente nas exportações locais, colocando-as na ordem de US$ 2 bilhões anuais.

Apoio do Estado

Além do esforço abnegado e estimulado pelas origens de precursores como os Moscuzzas e Solimenos, o atual subsecretário da pesca e aquicultura

da Argentina, Carlos Liberman, credita à política de gestão dos estoques da pasta em parceria com o setor privado a manutenção do nível de comércio gerado. “O Estado argentino teve distintos níveis de interação que foram marcando este desenvolvimento. O mais importante é a regulação dos recursos”, sustenta.

A captura dos langostinos é o maior exemplo, segundo ele. “Hoje, regulamos a captura de camarão tanto em águas provinciais quanto nacionais. Era uma pescaria de 40 toneladas e, hoje, transformou a Argentina no principal pesqueiro de camarão selvagem do mundo, com mais de 200 mil toneladas atuais”, sublinha. “O primeiro papel da subsecretaria de pesca é encontrar um caminho que nos coloque em equilíbrio em relação à sustentabilidade do recurso. Quanto se pesca, como se pesca, onde se pesca, como se controla, como se sancionam as penalizações. Quando existe clareza na regra do jogo,

isso beneficia a sustentabilidade dos recursos existentes.”

Outro ponto focal da atuação governamental foi a criação de uma marca país - “Mar Argentino: selvagem e austral” - e a participação maciça em feiras internacionais. “A iniciativa surgiu no início da dpecada de 2000 e, a partir de 2011, cresceu muito em feiras por todo o mundo, nos EUA, Europa, Ásia e América Latina. Nossa embaixada também tem um trabalho muito forte, com rodadas de negócios”, conta. O próximo desafio que o país se impôs é se tornar uma potência aquícola: a truta será a principal aposta para criar uma alternativa local ao salmão chileno, com projetos já em andamento na Patagônia que poderão chegar a 15 mil toneladas por ciclo. Com esse salmonídeo, além de mexilhões e até projetos de aquaponia comercial, os argentinos já vislumbram chegar a 25 mil toneladas em 2025.

Equador: um gigante do tamanho do RS

Com a mesma extensão territorial do Estado gaúcho, equatorianos se apoiam no perfil ousado e agressivo de seus empresários para liderar a produção e comércio global de camarão vannamei

Em apenas um mês, o Equador exporta o mesmo volume de camarão vannamei do que o Brasil produz em um ano. De acordo com os boletins estatísticos da Câmara Nacional de Aquicultura daquele país (CNA), o ano de 2022 teve volumes próximos ou superiores a 100 mil toneladas mensais enviadas a mais de 70 países. A expectativa de analistas é que o país finalize o ano com 1 milhão de toneladas exportadas e receita superior a US$ 7 bilhões - o que representaria alta superior a 50%.

As cifras podem dar a sensação de que o Equador navega em mares tranquilos, mas a análise do presidente-executivo da CNA, José Antonio Camposano, é outra. “Hoje, o desafio mais importante não é tanto o que acontece no interior do país, mas é sobreviver aos problemas de uma economia em pandemia, como a China.” A política de confinamento, que afeta seriamente a demanda, gera como consequência a manutenção dos estoques de produto. “E estes inventários são mais caros de se manter

na China por custos financeiros”, indica, acrescentando que na Europa, o problema também ocorre, mas pelo custo da energia. Já nos Estados Unidos, que passou a ser o principal alvo equatoriano, o problema é de ordem inflacionária. Internamente, há desafios no custo de insumos para ração e na área de segurança pública, com assaltos frequentes e um mercado paralelo de insumos.

A diferença é que os equatorianos sabem que distúrbios de demanda acontecem e se preparam para isso. Apenas entre janeiro e setembro de 2022, segundo a Associação de Bancos Privados do Equador (Asobanca) citada pelo diário Primicias.ec, o crédito para financiamento de atividades no segmento aumentou 49% sobre o mesmo período de 2021. “Crescer como crescemos nos últimos dois anos é resultado direto dos investimentos para aumentar nossa capacidade de processamento. O Equador duplicou, nos últimos dois anos, a capacidade de processamento de camarão e isso é para vender aos Estados Unidos”, aponta Camposano. Em 2021, eles ingressaram no mercado varejista norte-americano com a cauda de camarão processada.

Outra linha de atuação é a diversificação de mercados. Recentemente, a Tailândia reabriu a importação do Equador depois de um convênio sanitário. Em paralelo, o governo equatoriano luta para celebrar um acordo comercial com o México e assim, pavimentar o caminho para

Capa

ingressar na Aliança do Pacífico - que, além dos mexicanos, envolve Peru, Chile e Colômbia. O produto enfrenta forte resistência local, similar ao ocorrido no Brasil.

A abertura de novos clientes é quase uma obsessão dos equatorianos, tidos como empresários “agressivos”, segundo a própria definição de Camposano. “O empresário equatoriano não espera que o governo diga que fará um estudo de mercado. Ele pega informação estatística que mostra que China começa a perguntar sobre camarão, prepara a mala e viaja para a China para visitar clientes”, descreve. Ele ressalta que o setor privado chegou a estar em 5 feiras só na China. “O mesmo aconteceu na Europa há 30 anos e com os Estados Unidos há 40 anos”, sublinha.

Para acompanhar estas iniciativas, o país criou um selo utilizado em

todas as feiras: First Class Shrimp.

Ao público interno, estimulou a incorporação do conceito Best shrimp in the world. “Foi uma campanha destinada para o interior do Equador para que, como país, reconhecêssemos a importância de ter uma atividade aquícola forte e robusta, que nos fizesse sentir orgulho da sua indústria e assim, trouxesse um diálogo público no melhor sentido dos termos.”

A iniciativa deu resultado e, hoje, o camarão é o primeiro item da pauta exportadora equatoriana nãopetroleira. Camposano, no entanto, não é muito afeito à divulgação de recordes de produção e exportação. “Sempre previmos que o nosso crescimento aconteceria, mas a notícia não deveria ser que somos o maior produtor de camarão do mundo, mas sim que somos o primeiro e único a ter rastreabilidade com blockchain ou que somos o primeiro produtor mundial

Para Camposano, da CNA, empresário não espera auxílio governamental; arruma as malas e viaja em busca de mais clientes

a firmar um convênio com a WWF (ONG conservacionista) para garantir a não conversão dos mangues em fazendas para, assim, proteger estes ecossistemas frágeis”, defende.

Divulgação/CNA Equador

Colômbia: um novo entrante em ascensão

Produção aquícola colombiana dobra em dez anos com foco na tilápia para o mercado norte-americano, que já rende US$ 100 milhões de faturamento

Em julho deste ano, a Autoridade Nacional de Aquicultura e Pesca da Colômbia (Aunap) realizou o 1º Fórum Nacional de Aquicultura. Foi a primeira vez que a cadeia aquícola local se reuniu com mediação governamental para discutir os entraves e as possibilidades de expansão do segmento. Um dos maiores desafios apontados por produtores locais foi o vazio jurídico do setor. “A maior dificuldade que temos é com a legislação ambiental, pois não temos leis que tratem do nosso setor, o que deixa um vazio para poder produzir”, lamenta Cesar Pinzón, diretor executivo da Federação Colombiana de Aquicultores (Fedeacua). Ele aponta ainda a necessidade de isonomia tributária com outros setores.

Nada que uma atividade econômica relativamente nova não exija. Ainda que tenha iniciado na década de 1960 com carpas, a aquicultura colombiana adquiriu a face mais moderna apenas 10 anos atrás. Nesta época, a FAO criou, a pedido do governo colombiano, um Plano Nacional de Desenvolvimento da Aquicultura Sustentável. Entre 2012 e 2021, a produção aquícola aumentou ao todo 116,16%, passando de 89.064 toneladas a 192.521 toneladas de produtos como tilápia, truta, pacu e camarão vannamei.

Já em 2014, o país fez os primeiros embarques para os Estados Unidos, destino principal da tilápia colombiana pela logística facilitada e espaço para produtos frescos. “Decidimos primeiramente pela organização da produção de tilápia, para depois

investir na expansão internacional quando estávamos maduros”, diz Pinzón. Os volumes crescem ano após ano: em 2021, foram despachadas 4.651 toneladas de tilápias inteiras resfriadas e 7.766 toneladas de filés resfriados.

Até setembro de 2022, o país já havia exportado 11,3 mil toneladas de tilápia.

A evolução se dá com um misto de organização da cadeia produtiva, governo e agentes de financiamento, enquanto se promove o produto no exterior. “Nos mercados consolidados, trabalhamos com estratégias, desde a utilização de influencers locais e campanhas com chefs reconhecidos, como a divulgação de produtos em determinadas empresas e grandes superfícies de comercialização.” O problema, agora, é aumentar a

produção. “Aos mercados potenciais ainda não consolidados, estamos realizando [estas ações] de uma forma mais moderada, pois nossa produção não está conseguindo atender à demanda dos mercados já existentes”, acrescenta Pinzón.

Existe outro concorrente de peso que também diminui a capacidade de cumprir com a ampliação de mercados externos: o próprio colombiano. O consumo per capita de pescado na Colômbia saiu de 1,19 kg per capita/ ano em 1991 para 9,60 kg per capita/ ano em 2021. O retrato é similar ao Brasil, já que a expansão se deu basicamente pelo incremento das importações: o volume do ano passado chegou a 114,9 mil toneladas. Como se vê, o apetite interno é forte.

Capa

Chile: “importância econômica transcendental”

Assim descreve a salmonicultura chilena Arturo Clement, presidente da associação SalmonChile, que projeta faturamento de US$ 6,5 bilhões com exportações

Não há país com maior faturamento proveniente da exportação de pescado na América Latina do que o Chile. A aposta por um produto de valor agregado alto, com penetração nos maiores e mais exigentes mercados globais, elevou o Chile à categoria de líder inconteste que os chilenos não estão dispostos a abrir mão. “A salmonicultura é o segundo item de exportação do país, depois do cobre e vai chegar perto de US$ 6,5 bilhões de faturamento. É de uma importância econômica transcendental e é a base da economia do sul austral chileno”, diz o presidente da associação SalmonChile, Arturo Clement.

Muito já se falou e escreveu sobre o case de sucesso da salmonicultura chilena, inclusive aqui na Seafood Brasil. Mas a análise da estratégia comercial internacional complementa a visão do pioneirismo produtivo. “Aqui, se começou a desenvolver a salmonicultura nos anos 1980. Já existia o salmão selvagem com mercados já levemente desenvolvidos para o produto, como Canadá, EUA, Europa e, especialmente, o Japão.” E foi por lá que os chilenos começaram, inicialmente com a venda de salmão coho como alternativa ao sockeye selvagem do Alasca.

Para ingressar nos EUA, um mercado mais atento à conveniência, os chilenos se ajustaram: em vez de comercializar pescado inteiro, como a maioria dos países, desenvolveram os filés sem espinhas. “Este produto foi um boom nos EUA: filés frescos, que tinham condições excepcionais para

cozinhar, tanto em casa quanto nos restaurantes. Foi uma das chaves de êxito no mercado norte-americano”, explica Clement. O processo se intensificou ainda mais nos últimos anos a partir da criação nos EUA do Chilean Salmon Marketing Council, cujo objetivo é promover o consumo local e reverter problemas de imagem ainda associados ao produto, como a não-recomendação de consumo pelo Seafood Watch. As empresas individualmente também se esforçaram em introduzir diretamente no mercado, não apenas com representantes locais. Movimento similar se observa no Brasil, onde a campanha Salmón de Chile já completou 10 anos.

Enquanto o lado institucional se fortalece, as empresas assumem o

protagonismo. Em junho do ano passado, a Mowi anunciou uma parceria com a Frescatto para produção em escala de salmão fresco em porção individual de 200 g em embalagem skinpack

O projeto envolve investimento mútuo de R$ 4,5 milhões que, em sua primeira fase, desembarcou no mercado local com um produto em co-branding - uso de ambas as marcas. No final do ano passado, a Cermaq abriu escritório local em São Paulo (SP), para desenvolver clientes e produtos no mercado brasileiro e já colocou em prática uma estratégia para incrementar a participação no food service

A próxima etapa da expansão chilena acontece aqui.

Capa
Divulgação/SalmonChile
Arturo Clement, da SalmonChile: chilenos souberam ler as necessidades dos mercados para estimular as exportações

Com o pé direito

Seafood Show Latin America estreia com ampla programação, bom público e causa boa repercussão no setor, assumindo a missão de posicionar a América Latina como um hub de produção, exportação e consumo de pescado

Uma missão nada fácil, mas possível: converter a América Latina no próximo hub global de pescado, por meio da aproximação entre produtores de pescado fresco e congelado, distribuidoras, food service, frigoríficos, importadores e toda a cadeia de maquinário auxiliar. A Seafood Show Latin America, com organização da Francal Feiras e Seafood Brasil, nasceu com esta proposta. E a estreia, entre 17 e 19 de outubro de 2022, no Pro Magno Centro de Eventos, na capital paulista, foi com o pé direito.

A 1ª edição teve rodadas de negócios, mesas-redondas, painéis e debates relevantes, além das soluções, lançamento e apresentação de diversos produtos pelos expositores. Após a repercussão positiva, a organização anunciou que o próximo encontro já está com 82% da planta comercial vendida e programada entre os dias 24 a 26 de outubro de 2023.

“Isso é incrível, considerando que é a segunda edição que será realizada de forma física e presencial. A gente já vem com essa jornada de processos e

interações online e encontros menores. O reflexo dessa adesão de 82% em um único dia é fruto do que foi a entrega da Seafood Show Latin America 2022, onde realmente o setor se uniu e mostrou pertencimento, engajamento, força e organização”, comenta Valeska Oliveira, head do produto na Francal Feiras.

De acordo com o curador do evento e editor da Seafood Brasil, Ricardo Torres, a feira procurou estimular a vocação local do continente para o comércio do pescado. “Mais da metade das trocas comerciais do setor acontecem dentro da América Latina, entre os países da região. O Brasil compra salmão do Chile, a Argentina exporta camarão para o Peru, a Colômbia vende tilápia para o México, para citar alguns casos. A Seafood Show surgiu para ser o palco para estas trocas, e a realidade de visitantes e da presença internacional desta primeira edição comprovaram o acerto da estratégia”, opina.

Capa
Autoridades do setor marcaram presença na cerimônia de abertura da
America A dimensão da 1ª Seafood Show Latin America em números • 76 expositores (nacionais e internacionais) • 4.500 m² de exposição • 3.100 visitantes • 82 speakers • 37 horas de programação • 26 Estados participantes • 12 países
Texto: Fabi Fonseca
Seafood Show Latin
Seafood Show Latin America

Para conhecer, comprar e vender

As rodadas de negócios da Seafood Show Latin America tiveram 121 reuniões agendadas e aproximaram 14 empresas compradoras de 34 expositores. A iniciativa, que teve patrocínio do Sebrae, gerou cerca de R$ 15,5 milhões em oportunidades de negócios. Logo, com o fechamento de novos acordos e intercâmbios comerciais, a feira entra para o calendário do setor com uma importante contribuição para embalar ainda mais o mercado de pescado na América Latina.

Missão possível

A Seafood Show Latin America reuniu 76 expositores e recebeu mais de 3.000 pessoas nos três dias de evento. A visitação qualificada animou os expositores, que viram no evento a possibilidade de termos aqui no continente, um palco tão importante quanto a Seafood Expo North America, em Boston, é para a América do Norte. Felipe Katata, executivo de Vendas da América Latina da Cermaq Chile, compartilha dessa visão. “O Brasil já é um mercado muito grande para salmão e tilápia. Essas duas espécies podem ser a base para que a feira se consolide e ganhe relevância”, fala. Fora isso, ele lembra que a Seafood Show Latin America ocorre no momento muito propício para as negociações da Quaresma do ano seguinte. “Coisa que na feira norte-americana não acontece, pois ela é no começo do ano”, diz.

Da Brazilian Fish, a diretora de marketing, Ana Helena do Amaral, ressalta que a Seafood Show Latin American poderá, ano a ano, contribuir para que a América Latina seja uma grande referência de comercialização do pescado no futuro bem próximo. “Principalmente com a continuidade do trabalho, investimentos e divulgações intensas para o setor”, fala. Para ela, a Brazilian Fish, participar de uma feira específica de pescado, trouxe como vantagem um público experiente no ramo e com objetivo e interesses comerciais bem definidos.

Três dias de rodadas de negócios colaboraram para embalar ainda mais as trocas comerciais na feira

“Potencialmente ela pode abrir oportunidades para empresas que não obrigatoriamente têm os recursos para poder expor em Boston, não somente para venda de produtos de pescado, mas também para empresas conhecerem tecnologias de fora ou nacionais que podem ser expostas no local de mais fácil acesso e a cursos mais competitivos”, pontua Nicolas Landolt, fundador e CEO da Tilabras. Para ele, a Seafood Show Latin America também é uma forma de democratização do acesso à informação por ser especificamente voltada ao mercado latino-americano.

Felipe Scartezzini, coordenador de marketing e vendas da Opergel, que também esteve com estande próprio no evento e de olho principalmente nos clientes de food service, reforça essa percepção. “Evento importantíssimo para a América Latina e principalmente para o segmento de pescado, estávamos carentes de uma feira/evento que discute as oportunidades de mercado e as dificuldades do segmento. Não havia feira deste segmento abaixo da Linha do Equador há muito tempo, e a América Latina será um importante eixo no fornecimento mundial de aquicultura em um futuro próximo”, pontua.

O evento ainda contou com uma destacada participação internacional, por meio de empresas ou missões de países como Argentina, Chile, Colômbia, Estados Unidos, Peru, Tailândia e Vietnã.

Seafood Show Latin America
Capa 01 05 09 13 17 21 25 03 07 11 15 19 23 27 02 06 10 14 18 22 26 04 08 12 16 20 24 28 As caras da Seafood Show Latin America Entre os dias 17 e 19 de outubro de 2022, diversas empresas, visitantes e personalidades do setor passearam pelos corredores da Pro Magno Centro de Eventos, na cidade de São Paulo, para constatar um fato: a Seafood Show Latin America é a ferramenta ideial para converter a América Latina em um novo hub global do pescado. Crédito das fotos: Seafood Brasil

David Nawa (Korin Agricultura e Meio Ambiente), Emerson Esteves (PeixeSP) e Micaele Sales (Benchmark Genetics)

Alexandre Giraldi, Luiza Pimenta, Jorge Oliveira, Álvaro Leal e Fábio Nunes (Meu Pescado)

Fabi Fonseca (Seafood Brasil) e Jairo Gund (SAP/MAPA)

Tiago Bueno (Seafood Brasil), Angélica Seiblitz e Sérgio Costa Sousa (Bom Porto)

Nazaré Zucolotto, Josiane Dias e Francisco Medeiros (PeixeBR)

Ignacio Milnes, Raimundo Nogueira e Cláudio Diaz (AquaChile)

Roberto Pavan, Daiane Scareli (Atak Sistemas) e Jairo Gund (SAP/MAPA)

Marcelo Serpa e Ambrozio Filho (Brusinox), Francisco Medeiros (PeixeBR) e Cristiano Clemer (Brusinox)

Sarah de Oliveira e Gustavo Faria (Lex Experts)

Gentil Linhares (Bomar Pescados) e Maurício Dorigatti (AcquaSystem Brasil)

Mathieu Bourdeaux e Gonzalo Andrade (Siam Canadian)

Alessandro Orsi, Leandro Orsi e Diego Orsi (Altamar Foods)

Rodrigo Amaral, Luciana Bueno, Ana Helena do Amaral, Antônio Ramon Amaral e James Loureiro (Brazilian Fish)

Victor Leite e Fábio Ferreira (Zaltana Pescados)

Celina Machado (A Tasca)

Gustavo Gutierres e Eduardo Frasson (Bom Peixe)

Bruna Stefano e Daniel Fuziki (Ifish Foods)

Ederson Krummenauer e Marcelo Somensari (Frumar)

Rosa Malavacci, Marcelo Lara e Thamires Quinhões (Abrapes)

Stela Conte (Bom Porto), Manu Ornela e Luiz Fernando Guimarães (Peixaria Divina Providência)

Liliam Catunda e Aniella Banat (Abipesca)

Alvaro Camargo (ProChile) e Jorge Figueroa (Mar de Lagos)

Carol Nascimento, Anderson Rueda e Nanook (ASMI)

Sandra de Souza, Tanara Carvalho, Guilherme Blanke e Milena Figueiredo (Noronha Pescados)

Luiz Tondo (On Business BR) e William Yamamotto (Frumar)

Paulo Amaral e Wellington Lima (Marnobre)

Gustavo Pedrosa e Armando Correa (Bio Pescados AM)

Nicolas Landolt e Nikolai Vereiski (Tilabras)

Fábio Gusman e Kleber Bueno (Mar & Rio Pescados)

Thiago Franco, Celso Franco, Felipe Franco e Henrique Franco (BTJ Aqua)

Roberto Veiga e Fábio Lima (Damm Alimentos)

Marcos Paludo, Tayna Poncio, Adriana Vale e Gustavo Pchirmer (Mar & Terra / Bello Alimentos)

Jiana Simili (C.Vale), Eder Benício (PeixeBR) e Robson Vargas (C.Vale)

Paulo Alves, José Neto e Rai (Shiguen)

Geisa Herrera e Alexandre Reis (BRSF)

André Peres, Tiago Dreher, Treyci Meneses e Victor Pierri (Komdelli)

Equipe Opergel

Luis Palmeira, Edna Palmeira e Gustavo Palmeira (New Fish)

Roberto Imai (Fiesp/Deagro), Fábio Sussel (Vai Aqua) e César Calzavara (Produmar)

André Nunes e Fabianne Pereira (Nova Canaã)

Ngo Xuan Ty (Embaixada do Vietnã), Rúbia Tomita e Erika Furlan (IPesca / APTA)

Luiz Tondo (On Business BR)

Martinho Colpani (PangaBR / Colpani), Sergio Tutuí e Cristiane Neiva (IPesca / APTA)

Felipe Demetrio, Marina, Mariana Frank e Marielle Oliveira (Simcope)

Marilsa Fernandes (PeixeSP)

Léo Martins, Ricardo Torres, Tiago Bueno e Fabi Fonseca (Seafood Brasil)

Matias Cirano e Felipe Katata (Cermaq)

Juliana Galvão (USP / GETEP), Renata Miranda e Erika Furlan (Ipesca/ APTA) e André Medeiros (SEDEERJ)

29 33 37 41 45 31 35 39 43 47 30 34 38 42 46 32 36 40 44 48 01 08 16 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 17 18 19 20 21 22 23 09 10 11 12 13 14 15 05 06 07 02 03 04

Na Gôndola

A oferta de peixes, crustáceos e moluscos

da empresa e também foi explorado durante o evento. Carregando consigo o rótulo do pirarucu de ser o “bacalhau da Amazônia”, o produto é considerado versátil pela empresa, pois pode ser servido assado, grelhado ou ensopado. O filé, que é disponibilizado sem pele e congelado, também é ofertado em embalagens de 300 g.

os bolinhos de bacalhau da A Tasca são feitos com bacalhau norueguês com 55% de peixe. Produzidos de forma artesanal e sem conservantes, a empresa destaca que o produto pode ser encontrado nas versões frito e congelado, ou apenas congelado. Os consumidores podem adquirir os bolinhos de bacalhau em embalagens com peso líquido de 360 g.

Figurinha nova no cardume

Lançada durante a feira Seafood Show, a nova marca de pescados da Komdelli, a Fishoo, surge para disponibilizar uma gama maior de produtos aos consumidores.

Trabalhando com salmões de origem extrativa e de cultivo, os produtos da nova linha são apresentados em formato de filé com peso variável e peso fixo em pacotes selados a vácuo. Segundo a empresa, a nova marca tem o propósito de levar mais sabor para a mesa dos consumidores através de pescados que ofereçam um sabor de qualidade, sem abrir mão de uma produção sustentável.

“Bacalhau da Amazônia”

Desenvolvido para encantar todos os paladares (em especial os mais exigentes), o filé de pirarucu da Bom Peixe é um dos destaques

Para um belo prato com tilápia Já o filé em pedaços de tilápia congelada é o destaque mais recente da Bello Alimentos, que também aproveitou a feira como plataforma de lançamento do produto. Vendido nos pontos de venda sem pele, o produto da empresa conta com uma embalagem de 800 g desenvolvida especialmente para preservar a qualidade e o sabor do peixe para que, assim, ele tenha sabor de fresco mesmo depois de descongelado. Com vitaminas como B12 e ômega 3, a tilápia da Bello Alimentos pode ser servida frita, empanada, à parmegiana, assada, no ensopado ou no ceviche.

Tasca bolinho de bacalhau!

Parte de sua linha Premium que conta com produtos préelaborados ou elaborados,

Sofisticação em forma de praticidade

Criado para quem gosta de misturar sabores e assim, ter uma opção de cardápio diferenciada no dia a dia, a argentina Congelados Ártico traz a solução: trata-se do suflê de merluza com presunto e queijo. A empresa informa que o produto foi desenvolvido exatamente para consumidores que querem ter opções de refeições mais sofisticadas na rotina, porém, de forma prática e rápida. Por isso, o suflê, que possui embalagens com peso de 500 g, pode ser consumido após 15 min no micro-ondas e 30 min em forno normal.

Procedência, “Ora pois!”

A Bom Porto destaca a sua posta de bacalhau para quem não dispensa degustar essa espécie nas

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 60
Crédito das fotos: Divulgação/Empresas

mais diversas ocasiões.

Considerado leve, saudável e nutritivo pela empresa, o produto é vendido de forma dessalgada e congelada e é disponibilizado para os consumidores inteiramente pronto para ser cozido. Por fim, a posta de bacalhau da Bom Porto, que carrega o selo de procedência portuguesa, pode ser encontrada nos mercados nacionais em embalagens de 800 g.

O sabor de uma rotina fácil

Desenvolvida pela Mar & Rio Pescados, a skin pack é a linha da empresa criada especialmente para quem procura mais facilidade para o cotidiano na hora de consumir algum prato com pescado. De acordo

com a empresa, desde a embalagem até a forma de preparo, a linha foi pensada para ajudar a deixar a rotina do consumidor mais prática, sem que a qualidade seja comprometida. A skin pack é composta por produtos para todos os gostos como filé de salmão, cauda de lagosta, camarão rosa e mexilhão e é assinada pelo renomado chef Edu Guedes.

Quem quer ser um MasterChef?

O filé de pescada amarela é o destaque da Bomar Congelado a vácuo, o produto foi desenvolvido pela empresa para consumidores que gostam de se aventurar em receitas mais gourmets e refinadas, daquelas que exigem um produto de qualidade Premium para serem

preparadas para familiares ou amigos em ocasiões especiais. Ainda segundo a Bomar, o filé de pescada amarela tem peso que varia de 1 kg até 1,5 kg.

Petisco no palito

As barrinhas de peixe empanadas da Noronha Pescados foram desenvolvidas pela empresa especialmente para quem gosta de petiscar com amigos em momentos de descontração. Produzidas com pedaços de filé de polaca temperados, as barrinhas são disponibilizadas nos pontos de vendas pré-fritas e congeladas. O produto da Noronha Pescados é encontrado em embalagens zip de 300 g e pode ser preparado também em air fryer.

A solução natural e lógica para o seu cultivo Nas linhas AlliPlus e Lac você encontra: Ácido orgânico Antibiótico natural nos óleos essenciais Aromas atratibilizantes de alho, canela, orégano e outros Alta concentração, resultando menor dose por kg www.alliplus.com | www.linhalac.com | Whatsapp 85 9.9680-5639 ou o e-mail contato@alliplus.com Buscamos pelodistribuidores doCentro-sul país!

Voltando ao jogo?

Avirada do século XXI trouxe consigo os “Anos Dourados” da carcinicultura brasileira.

A atividade atingiu seu auge em 2003, com produção de 90.190 toneladas de camarão, das quais quase 80% destinaram-se ao mercado internacional, conforme a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC). A partir de 2004, no entanto, a trajetória de crescimento não só foi interrompida, como começou um decréscimo amargado até hoje. Ao longo dos anos, o camarão brasileiro de cultivo foi perdendo espaço e acesso aos principais mercados internacionais. Fora isso, teve de lidar com fragilidade na sanidade e o surgimento e disseminação

Carcinicultura brasileira finalmente ultrapassa as 100 mil toneladas produzidas, um indicativo da retomada em plena Covid. Entretanto, os velhos problemas do setor não ficam para trás

de doenças, entre elas o Vírus da Mionecrose Infecciosa (IMNV) e a Mancha branca (WSSV).

Mais de uma década depois, a atividade - e o mundo - precisou lidar com os reflexos de outro vírus: a epidemia da covid-19. Na cadeia de produção, a recente crise sanitária global ampliou a lista de desafios dos laboratórios de pós-larvas, das fazendas de engorda, das indústrias e das empresas que atuam na comercialização de insumos. Ainda assim, a produção brasileira de camarão registrou 120 mil toneladas em 2021 e mantém projeções para 150 mil toneladas em 2022 e 180 mil toneladas em 2023, segundo a ABCC.

A expansão segue sem grandes saltos produtivos, já que a sanidade, a falta de foco na exportação, o consumo, o preço e uma série de velhos problemas ainda persistem.

Novo desafio: a Covid-19

Em meados de 2017, o laboratório de pós-larvas da Potiporã, empresa do Grupo Samaria, celebrava a conquista do novo equipamento de tratamento da água captada com ozônio para reforço do combate às enfermidades que atingiam o setor na época, especialmente a NIM (mionecrose infecciosa) e mancha branca. Anos depois, a pandemia da Covid-19 se juntava à lista de desafios enfrentados pelo laboratório de PLs, localizado em

Direto da Produção
Texto: Fabi Fonseca | Fotos: Seafood Brasil

Touros (RN). “O primeiro obstáculo foi a insegurança sobre o que viria no dia de amanhã quando os estabelecimentos mudaram na era Covid-19. Com o fechamento deles, qual seria a saída mais segura?”, lembra a gerente operacional, Roseli Pimentel.

Os inevitáveis impactos na economia das medidas de contenção também geraram aumento de demanda, sobretudo nos canais de varejo, em contraste com a queda do food service. Assim, o sistema delivery ganhou rapidamente mais espaço nos segmentos e apareceu, para Pimentel, como uma “grata surpresa”. “O camarão entra como um prato bem atrativo, fácil de ser preparado, então

as pessoas migraram para comer melhor em casa porque já estavam com muitos problemas”, fala.

Com isso, conforme ela, a produção de PLs no laboratório não foi impactada e não houve decréscimo no faturamento. “Talvez no primeiro momento, mas logo em seguida, a reação foi positiva e a gente não sentiu a nível de venda de larva essa queda”, explica Pimentel. Mas, mesmo com estabilidade financeira, o laboratório não passou ileso. “Foi um tempo em que a gente precisou se desafiar porque começaram a existir casos positivos [da doença da Covid-19] e muitos funcionários faltavam e se afastaram”.

Fazenda Camarave conseguiu ampliar sua carteira de clientes durante a pandemia e hoje, consegue vender até mais camarão do que produz

Tudo ao mesmo tempo: a técnica metagenômica

Método que já existe há pelo menos 15 anos no mundo, a metagenômica consiste em analisar uma grande quantidade de espécies ou de organismos ao mesmo tempo e em nível genético. “Em outras palavras, a gente faz a extração do material genético de uma amostra complexa, por exemplo, a água de um viveiro de camarão que tem inúmeras espécies de bactérias e fungos e de outros micro-organismos que habitam ali. Uma vez que você faz essa extração, com essa tecnologia, a gente consegue achar tudo que tem na amostra ao mesmo tempo”, explica Daniel Carlos Ferreira Lanza, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), consultor da Potiporã e cocriador da Genaptus.

Diante das adaptações da tecnologia, Lanza destaca que a principal inovação é a possibilidade de saber o que extrair desse conjunto de dados e orientar o produtor. Assim, não seria apenas usar a tecnologia para identificar o problema, mas também apresentar uma solução. “Então, a gente consegue extrapolar o que vemos no grupo de bactérias para uma ação prática”, fala.

A gestão de todos os dados inerentes ao cultivo e a associação dessas informações não é uma tarefa simples. Para isso, a Potiporã e a Genaptus estão conduzindo, com o investimento de R$ 2,5 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), um projeto que foi considerado pela financiadora uma inovação em nível mundial. Por meio desse projeto será desenvolvido o Syscam, um conjunto de softwares que possibilitará analisar, de forma integrada, todas as informações zootécnicas, sanitárias e genéticas dos animais, viabilizando a seleção das famílias que apresentem o melhor desempenho considerando todo o processo produtivo. “Eu vou saber, por exemplo, como é que está a situação do manejo. E quando eu falo manejo, estou simplificando. Falo de fazenda, temperatura, oxigênio, data do povoamento, época do ano, ração etc. Tudo isso só na fazenda. Agora, na larvicultura, são náuplios, fêmeas, sobrevivência, sanidade e mais. Então, tudo isso tem que ser integrado, função essa que esse software vai conseguir fazer ao pegar todos esses dados e dar um padrão”, completa Lanza.

O projeto do SysCam já está com 18 meses de desenvolvimento, e os módulos do software para monitoramento dos dados das fazendas e dos laboratórios de pós-larvas já estão sendo utilizados. Agora, o próximo passo é finalizar o módulo para monitoramento da sanidade e então, aplicar a inteligência artificial e analisar todos esses dados de forma integrada. “Hoje, todos os dados de fazenda e do laboratório se comunicam”, explica Pimentel, que também é coautora do projeto e sócia-fundadora da Genaptus. “Estamos em 50% do desenvolvimento e o projeto tem três anos. Vamos iniciar os testes com a versão completa no 2º semestre de 2023”, completa. Ainda segundo Pimentel, por meio do SysCam, a tríade genética, sanidade e manejo poderá ser monitorada em sua totalidade, elevando o patamar técnico da empresa.

As restrições sanitárias também ocasionaram problemas à Camarave Maricultura, em São Bento do Norte (RN). Com produção atual em torno de 70 toneladas de camarão por mês, a fazenda viu o novo vírus desafiar o cotidiano, como conta a bióloga e gerente, Kaline Murielle. “A produção em si de camarão, nós continuamos.

Mas em relação a covid-19, teve semanas aqui que tivemos funcionários afastados de 10 a 14 dias. No começo, fechou tudo e a gente não teve para quem vender. Sendo assim, o desafio maior da diretoria foi estocar o camarão por uns 5 a 6 meses”, explica.

Também com forte atuação no setor, a indústria de beneficiamento da Faifs Maricultura, localizada em Parnamirim, próximo a Natal (RN), viu a sua produção aproximada de 150 a 180 toneladas cair para 90 toneladas mensais.

Os camarões da empresa são classificados e beneficiados por meio de mão de obra artesanal. Só depois disso, eles são embalados e enviados ao Rio de Janeiro, onde a matriz cuida da logística e distribuição dos produtos para as redes de food service e varejo, que por sua vez, são majoritariamente do estado carioca e de paulista.

Durante a fase mais crítica dos últimos dois anos, a empresa viu cerca de 30% dos clientes de food service fecharem as portas, como destaca André Seabra, gerente de operações do grupo Faifs. “A gente observa que essa evolução ainda engatinha bastante. Eles não suportaram toda a necessidade financeira, capital de giro e os lockdowns que tiveram”, diz.

Por sua vez, a indústria sentiu grandes consequências da crise sanitária, como desligamento de colaboradores, carga horária reduzida, adoção de contratação diferenciada, cancelamentos de despescas e logística ociosa. “Com isso, a gente reduziu um pouco o nosso custo fixo de mão de obra em função também da baixa demanda de matéria-prima. A gente meio que se ‘reinventou’ nessa parte de pandemia, além de associar ao home office”, explica Seabra.

Tecnologia nos laboratórios de PLs

É clichê, mas é verdade: situações desafiadoras costumam gerar importantes aprendizados. No caso da Potiporã, por exemplo, mesmo com estabilidade no faturamento e entre adequações que o período exigiu, o laboratório deu continuidade ao desenvolvimento de uma nova tecnologia: a metagenômica, ferramenta que foi apresentada para a empresa no final de 2019 através do professor Daniel Lanza.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 64
Direto da Produção

Potiporã aumentou o foco nas estabilidade da produção e investiu fortemente em genética nos últimos anos

A tecnologia atua na investigação de todas as possíveis entradas de agentes patogênicos nos tanques de produção. Na sequência, com foco na diversidade e no vigor híbrido, a tecnologia possibilita fazer o monitoramento das famílias dos animais por genotipagem, alinhando quais são os melhores cruzamentos. O resultado é a PL da Potiporã que está no mercado atualmente. “Com sua aplicação e após localizar os pontos de contaminação, em meados de março de 2020 até o presente momento, as PLs da Potiporã atingiram a sobrevivência média de 70% [antes a sobrevivência média era de 15%]. Sem oscilação. Então, a tão sonhada estabilidade já está sendo vivenciada. Vamos entrar no terceiro ano de produção estável”, explica.

O programa de melhoramento genético da Potiporã foi desenvolvido e atualmente conduzido pela empresa Genaptus, primeira empresa privada brasileira especializada na aplicação da tecnologia de identificação genética para o segmento da carcinicultura. “Podemos dizer que no cenário atual, onde várias fazendas sofreram surtos de enfermidades, a Potiporã, que só usa sua larva Potiporã, passou imune a essa fase. Então, a gente acredita que é resultado de um programa genético estratégico desenvolvido no Brasil para o Brasil”, detalha a gerente operacional Roseli Pimentel.

A indústria e suas constantes revoluções

Se por um lado a pandemia provocou severas mudanças na fábrica da Faifs, por outro lado serviu para uma mudança definitiva. “A partir do lockdown, a gente estocou bastante produto. Em 2020, chegamos a ter 80 toneladas de estoque”, diz o gerente de operações André Seabra.

André Seabra, gerente da Faifs, conta que os camarões são industrializados no frigorífico da própria empresa e com o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF)

Do fresco para o congelado

Na medida que os estoques de camarão beneficiados caíram, em 2021, a estratégia foi receber menos matérias-primas e adoção de um plano de ação mais forte para a expedição do produto. E, agora, a partir do 2º semestre de 2022, a Faifs já tem o faturamento que já se assemelha ao nível pré-pandemia após voltar a atuar mais forte no varejo, embora o públicoalvo permanece sendo o food service. “Já tínhamos carteira cadastrada nas grandes redes, o que fez a gente retomar um pouco. No entanto, conseguimos também recuperar não tanto a nossa clientela dos 30% que faliram, mas ao menos o volume financeiro”, diz Seabra.

A fazenda Camarave também precisou se ajustar aos novos tempos para seguir no negócio. “A pandemia fez com que a gente saísse da nossa zona de conforto, parando de vender o camarão fresco para começar a vender o congelado. Isso mudou completamente o rumo que a empresa seguiu”, conta o diretor, Avelar Neto.

“A gente reduziu mais custos, o que era possível porque não se consegue muito aumentar o preço do camarão da ponta fina para poder voltar a ter uma margem de lucro como era antes. Porém, o faturamento está acompanhando”. A motivação e as boas expectativas de Seabra não são à toa. Afinal, a empresa vem, nos últimos três meses, fazendo expedições de dois caminhões por semana. “Antigamente [antes da Covid-19], era um sim e outro não”, completa.

Desafios produtivos atuais e perspectivas futuras

No ano passado, a Camarave, em parceria com a Unipesca, anunciou o embarque, após 18 anos, do 1º container de camarão aos EUA. No entanto, o foco atual da empresa segue no mercado nacional

Do desafio, a Camarave conseguiu ampliar sua carteira de clientes e hoje consegue vender até mais do que produz. “A gente também acaba comprando a produção de algumas fazendas para poder suprir a necessidade dos nossos clientes. Nós processamos em indústrias de terceiros em Canguaretama (RN), em Camutanga (PE) e estamos vendo a possibilidade também de beneficiar uma parte do camarão no Ceará”, fala Neto.

Conforme Roseli Pimentel, responsável pelo laboratório da Potiporã, de uma maneira geral, os laboratórios de PLs estão bem. “Um laboratório que hoje é pensado na biosseguridade e produz um animal limpo e geneticamente não endogâmico, está fazendo a parte dele”, diz. “Mas, o maior desafio agora está na metanoia no produtor”, completa. Segundo ela, isso significa que o produtor se acomodou na aceitação de sobrevivências baixas.

Para Kaline Murielle, da Camarave, os desafios produtivos atuais da

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 66 Direto da Produção
Com captação e tratamento de água oceânica, Camarave tem 124 hectares de lâminas de água, sendo 14 viveiros com 30 m², 20 viveiros com 5 m² e 4 intensivos

Expansão na comercialização de insumos

Dedicada à comercialização de produtos e equipamentos para a aquicultura, a multinacional Prilabsa também sentiu a pandemia. Mas Pablo Roberto Paez, gerente da Prilabsa BR, conta que foi possível seguir o plano de expansão traçado nos últimos anos. “Desde antes da pandemia, vínhamos mantendo essa evolução constante. Não é à toa que começamos o projeto de expansão da nossa sede em Natal e abrimos novas negociações para trazer mais linhas de produtos para nossos clientes. Como somos uma empresa que acompanha o crescimento do setor, acabamos sentindo o impacto, o que é natural. Mas graças à dedicação e empenho dos nossos funcionários, hoje estamos de volta nesse trajeto de crescimento”, diz.

uma crise sanitária global, foi necessário adotar novas estratégias. “Estar próximo dos nossos parceiros comerciais faz parte do nosso DNA. Com a chegada da pandemia, um dos principais desafios foi tentar manter essa aproximação com nossos consumidores, mesmo à distância. Para isso, adotamos ferramentas digitais para continuar presentes e próximos de cada um”.

Prilabsa começou no Equador, em 1992, com estabelecimentos em pontos estratégicos nas Américas. Além do Brasil, seus escritórios foram equipados com armazéns climatizados para seus produtos - atualmente, estão em mais seis países

Entre os principais desafios ao longo dos últimos dois anos, ele destaca a aposta cultural da empresa no relacionamento com o cliente - mas claro que diante de

Nova loja-sede da Pilabsa BR foi pensada para poder armazenar as novas linhas de produtos e aditivos que estão por vir. Além disso, também vai oferecer mais conhecimento aos clientes com visitas e palestras com técnicos estrangeiros

“Comercialmente falando, eles [os clientes] reagiram com muita desconfiança e incerteza do que vinha pela frente. Houve uma tendência de alguns em querer parar com a produção ou investir menos em ração de qualidade.” Logo, outro desafio para a Prilabsa foi convencer os clientes que crises acontecem, mas não são para sempre. “Por isso, continuar com a produção e investindo em alimentos de qualidade é essencial para vencer momentos como os que passamos”, conta.

fazenda ainda são os mesmos antes da pandemia da covid-19, como combate à mancha branca e NIM. “Têm muitas fazendas que estão começando novamente porque também tiveram uma queda devido às chuvas, o que baixou a densidade e a sobrevivência”, informa. “Por isso, estamos muito preocupados. Tem que ter um controle maior de água e de tudo para tentar manter a produção, mas vai ser

Com oscilação e sobrevivência média de 15%, uso da metagenômica auxiliou Potiporã na busca de pontos corretos de contaminação

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 68 Direto da Produção

EXPORTAÇÃO DE CAMARÃO - 2022

Países

IMPORTAÇÃO DE CAMARÃO - 2022

complicado porque têm muitas notícias de que estão afetando [as fazendas] com novas variantes em todo o canto”, revela a gerente.

Já na indústria, André Seabra pontua que os desafios e expectativas para o futuro são de fazer a retomada do nível pré-pandemia. “A gente estava crescendo aproximadamente de 6% a 10% ao ano. Então, nossa expectativa gira em torno disso ou pelo menos no mínimo de crescimento para 2023”, fala. Além disso, outro desejo é expandir a sua capacidade produtiva com mais matéria-prima - a empresa tem capacidade ociosa atual de aproximadamente até 30%.

Os números das exportações

Ao pontuar as oportunidades e desafios para a carcinicultura brasileira no ano de 2023 na Revista Feed&Food Nº 186, Itamar Rocha, presidente da ABCC, foi direto ao sublinhar a importância que o retorno às exportações tem à atividade brasileira. “O retorno ao mercado internacional, a partir de 2023, será imperativo para regular preços internamente e assegurar a sustentabilidade econômica”.

Entretanto, esse objetivo parece estar distante. Dados extraídos da

plataforma Painel do Pescado, com as informações do Sistema Integrado de Comércio Exterior (SisComex), do governo federal, evidenciam como a atividade pouco movimentou o mercado internacional nos últimos anos.

Conforme o Painel, a exportação de camarão do Brasil até novembro de 2022 foi de apenas 367 toneladas, número esse que representa queda de 35,8% em relação ao mesmo

período do ano anterior. Por esse volume, o País contabilizou US$ 3.397,973, uma queda de 40,5% nos 11 primeiros meses de 2022 quando comparado a 2021. Já no período, o preço médio do camarão também teve queda de 7,26% (US$ 9.239/ toneladas) ante o ano anterior, sendo que os principais destinos do camarão brasileiro até novembro foram Vietnã (138.210 kg), Japão (109.365 kg), Malásia (46.042 kg) e EUA (34.390 kg).

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 69
2022-US$
2022-kg 2021-kg var%kg
2021-US$ var%US$ 2022-Preço Médio 2021-Preço Médio var%PM Vietnã 138.210 46.133 199,590 853.045 259.700 228,47 6,17 5,63 9,64 Japão 109.365 217.460 -49,708 1.632.904 3.662.736 -55,42 14,93 16,84 -11,35 Malásia 46.042 83.200 -44,661 219.656 373.861 -41,25 4,77 4,49 6,17 Estados Unidos 34.390 73.231 -53,039 169.345 474.888 -64,34 4,92 6,48 -24,06
8,67 1,51 Argentina 28.620 113.411 -74,76 241.554 989.073 -75,58 8,44 8,72 -3,22
Países 2022-kg 2021-kg var%kg 2022-US$ 2021-US$ var%US$ 2022-Preço Médio 2021-Preço Médio var%PM Equador 102.980 196.760 -47,66 906.066 1.705.424 -46,87 8,80
Com atuação em toda a cadeia de produção e distribuição de camarão, Faifs ainda atua com despescas de suas fazendas e produtores parceiros em diferentes Estados

Já os dados sobre importação também evidenciam a pouca relevância da atividade. O total enviado ao exterior foi de 131 toneladas até novembro de 2022, número esse que representa uma queda de 57,6% no volume quando comparado ao mesmo período do ano passado. Com isso, o dispêndio do período foi no total de US$ 1.158,477, alta de 1,33% e preço médio em US$ 8.802/toneladas.

Preços x pandemia

Apesar de o mercado nacional ter verificado preços mais baratos do camarão de cultivo durante a pandemia, isso não refletiu no faturamento de todos os elos. Os valores no laboratório de PLs da Potiporã, por exemplo, permaneceram os mesmos. “A gente já vem há muitos anos sem reajuste e não sofreu nenhum aumento no preço de PLs”, conta Roseli Pimentel, gerente operacional da Potiporã.

Para a Camarave Maricultura, a forma de sair dessa guerra de preço baixo foi atingir o cliente final. “Hoje, eu vendo desde uma caixa de 10 kg para o restaurante a um pedido de 10 toneladas ao supermercado”, fala o diretor Avelar Neto. Com isso, a capitalização faz com que ele consiga eliminar 100% dos atravessadores. “Nós produzimos camarão, beneficiamos e entregamos na porta do restaurante”, conta. “O preço do camarão hoje está o mesmo de três anos atrás, mas os custos subiram bastante”, completa.

Já na indústria, o gerente de operações da Faifs analisa que o camarão não teve muita flutuação comparado às outras proteínas. “É um setor que a gente se sacrifica muito e é muito prejudicado porque não tem um órgão regulamentador de preço, assim como teve o aumento de 70% na carne bovina, por exemplo”, expõe André Seabra. “No camarão, a gente não consegue trabalhar muito e acontece que a indústria e a empresa absorvem esse custo, diminuindo assim as margens.”

A aposta é no tradicional

Se a carcinicultura brasileira avançou mesmo diante de uma pandemia, os modelos de cultivo são sem dúvida fatores a serem considerados. No passado recente, os grandes problemas (majoritariamente sanitários) resultaram em significativas perdas de produtividade e fizeram com que grande parte das fazendas de camarão fossem desativadas, como conta, em artigo, Pedro Luiz de Castro, coordenador técnico de Nutrição Aqua da Polinutri. Diante do aparecimento das doenças que provocaram ruptura no crescimento do setor na época, uma das formas encontradas pelos produtores para lidar com as doenças foi o desenvolvimento de modelos de produção que permitissem maior controle sanitário.

“Assim, iniciaram-se os investimentos nos modelos super intensivos, considerados mais protegidos à introdução dos agentes

Para Avelar, diretor da Camarave, o principal desafio também é a importação de PLs com genética de qualidade para “revolucionar o processo produtivo atual” e então aumentar a produção, melhorar a margem do negócio, segurar o preço e capilarizar ainda mais a distribuição no País

patógenos pela utilização de tanques menores, em geral, revestidos por geomembrana, cobertos por sombrites ou estufas e dotados de sistema de recirculação de água e aeração mecânica”, diz. Mas os custos operacionais desse tipo de cultivo são um grande empecilho para diversos produtores que precisam considerar uma lista extensa de gastos que foram acentuados durante a pandemia.

Também considerando esses fatores, Luiz Henrique Peregrino, engenheiro de Pesca e idealizador da AcquaQuantica Soluções em Aquicultura, reforça que, no atual cenário da carcinicultura brasileiro, o sistema produtivo que prosperou foi o tradicional. “Fatores como a elevação acentuada dos custos de produção, que foram fortemente impactados no período da pandemia e pós-pandemia, associado à redução dos preços de venda do camarão no mercado, impactaram a atividade, principalmente quem produz nos sistemas mais intensivos de produção, que dependem do consumo mais elevado de energia elétrica e de rações mais caras”, explica. “Ou seja, não tem muito como buscar alternativas de custos mais viáveis como os produtores tradicionais”, completa. Além das questões inerentes às elevações abruptas dos custos de produção, Peregrino destaca que outro fator que tem impactado negativamente os sistemas intensivos de carcinicultura no Brasil é a sanitária. “A atividade passa por problema sério de sanidade, com surtos seguidos relacionados ao IMNV, além de elevadas cargas de IHHNV e, ultimamente, com o retorno de casos de WSSV”, fala. “O material genético circulante no Brasil atualmente já carrega algumas enfermidades desde a sua origem e em épocas como essa, os sistemas intensivos sempre serão mais impactados que os sistemas tradicionais pela pressão de ampliação da carga viral”, completa.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 70 Direto da Produção

Um censo da carcinicultura do Nordeste

A ABCC realizou durante o ano de 2022, os Censos da Carcinicultura do Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, com informações referentes aos anos de 2020 e 2021. O objetivo final das publicações era revelar a dimensão e a situação atual em que se encontram os diversos segmentos da cadeia produtiva do camarão cultivado nos três Estados.

Piauí

• Em 2021, ficou em 7° lugar na produção de camarão, representando 3,46% da produção do País; Produção de 4.149,20 toneladas.

• 15 empreendimentos do Estado ocupam uma área de 1.061,80 hectares de produção, mostrando que, embora sejam pequenas em números, as fazendas são grandes em tamanho.

Ceará

• Líder da produção de camarão do Brasil, representa 47,17% do total (56.600 toneladas), das 120.000 toneladas produzidas no País em 2021; Passou de 14.982 toneladas em 2011 para 55.618,50 toneladas em 2021.

• Foi de 6.743,52 hectares de terras improdutivas ou com baixa produtividade para 13.322,52 hectares em 2021.

Rio Grande do Norte

• Vice-liderança no ranking da produção nacional de camarão marinho cultivado, com 12,67% do total produzido no País em 2021; Foram 26.001 toneladas de camarão marinho cultivados.

• Passou de 6.540 hectares em 2011 para 7.473 hectares de viveiros em 2021; crescimento de 14,2%.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 71
INFOGRÁFICO

Suplemento especial de tecnologia para o cultivo de pescado

ASeafood Brasil preparou este material com o suporte financeiro e editorial das empresas Brusinox, Lex Experts, Marel, MQ Pack e Shiguen para colaborar no aprimoramento da indústria de pescado brasileira. As empresas apresentam as principais novidades em equipamentos e serviços, enquanto os pesquisadores delineiam novas tendências. Para a contribuição científica dada a este suplemento, contamos com o auxílio do Instituto de Pesca (IP-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, da Embrapa Pesca e Aquicultura e de uma consultora: a Dra. Juliana Antunes Galvão, especialista no Departamento de Agroindústria da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP e coordenadora do Grupo de Estudos e Extensão em Inovação Tecnológica e Qualidade do Pescado (Getep). “Cada vez mais, o mercado consumidor busca por alimentos saudáveis, seguros e produzidos de forma sustentável, tanto do ponto de vista socioambiental, quanto às questões ligadas ao bem-estar animal”, dizem os pesquisadores da Embrapa Leandro Kanamaru Franco de Lima, Viviane Rodrigues Verdolin dos Santos, Roseane Veras de Souza, Andrea Lorena Neuberg e Julyanne Alves Leite. Com isso, as indústrias têm procurado aperfeiçoar seus modos de produção adotando meios de abate humanitário de peixes e buscando formas de aproveitamento integral

do pescado. “Assim, elas procuram oferecer uma maior gama de produtos ao consumidor, diminuir o desperdício, gerar menos resíduos e, consequentemente, aumentar a rentabilidade de todo o setor.”

A própria Embrapa já tem estudos associados ao bem-estar dos peixes, que está diretamente relacionado à qualidade do produto final, visto que o estresse pré-abate resulta em alterações na qualidade da carne, no tempo de armazenamento, na refrigeração e no congelamento. “Diante disso, e apesar de não haver uma exigência específica dos órgãos reguladores, algumas unidades de beneficiamento de pescado têm demonstrado certo interesse na questão e incorporado a eletronarcose em seus processos internos”. O método consiste na aplicação de uma descarga elétrica que leva a perda imediata da sensibilidade e consciência.

Assim como o abate é considerado um ponto sensível diante da crescente exigência dos consumidores, a existência de produtos minimamente processados e alimentos sem aditivos químicos e ingredientes tem forçado a indústria a buscar substâncias naturais para manter a qualidade e segurança de consumo, aponta a Dra. Rúbia Yuri Tomita, da Unidade Laboratorial de Referência em Tecnologia do Pescado do IP-APTA. “São substâncias que podem atuar tanto para preservar o produto, como

colaborar para compor o sabor do alimento. Esses conservantes naturais podem agir contra um amplo espectro de bactérias e fungos, além de, em sua maioria, serem ativos em baixas concentrações, atóxicos, não alterarem as propriedades sensoriais dos alimentos como odor, a cor, ou ainda colaborarem para compor o sabor e a sensorialidade do alimento, bem como serem competitivos sob a ótica econômica.” Como exemplos, ela menciona os ácidos orgânicos, com suas propriedades antimicrobianas e características hidrofóbicas, que podem ser aplicados através de pulverização ou imersão do pescado. “Ácidos orgânicos também já foram testados e podem ser utilizados para marinar e preservar pescado, desempenhando estas duas funções ao mesmo tempo em pratos ready-to-eat. Estudos foram conduzidos com camarão tratados com catequina para substituir os sulfitos - conhecidos pela sua toxicidade e reações alérgicas que provocam em milhares de pessoas - demonstrando ser promissor como inibidor de melanose, bem como antimicrobiano e antioxidante para o camarão resfriado”, aponta. Outras possibilidades envolvem óleos essenciais de plantas como limão, orégano, gengibre e alho, além de extratos naturais de algas marinhas - estudados como conservantes em tilápia e evidenciaram resultados condizentes com os padrões brasileiros para produtos congelados. “Óleos essenciais e extratos de algas vêm sendo estudados na preservação de pescado com sucesso em várias espécies de peixe, moluscos bivalves, dentre outros, podendo ainda atuar como antimicrobianos e antioxidantes.”

Consultoria Beneficiamento Conservação Embalagem

Conservação do pescado

Asegurança no consumo de alimentos e manutenção das condições organolépticas do pescado ganharam ainda mais relevância em tempos de Covid-19. Como em geral esses produtos são produzidos ou capturados em locais distantes dos mercados consumidores, precisam ser adequadamente preservados e transportados até seus destinos para o processamento ou consumo. A pesquisa científica tem sido uma aliada na investigação de novas possibilidades, como conta a Dra. Rúbia Tomita, do IP-APTA. “Além dos métodos tradicionais para conservar o pescado como o resfriamento, congelamento, secagem, salga, defumação e enlatamento,

outras estratégias podem ser usadas: conservantes naturais; tratamentos por alta-pressão hidrostática; ozonização como alternativa ao uso da água clorada; e irradiação por raios gama, feixe de elétrons ou raio-X.”

Os fornecedores de equipamentos de refrigeração também estão atentos a este desenvolvimento, como explica a sócia da Shiguen Refrigeração, Harumi Shimokawa. “Estamos observando a evolução da indústria de pescado através da demanda de projetos e equipamentos para novas instalações e ampliações industriais para o processamento de pescados que vem atendendo tanto ao mercado interno quanto à exportação.”

A Shiguen projeta, fabrica e instala equipamentos de refrigeração. A empresa entende que a cadeia de frio é parte fundamental no processamento de pescados, no intuito de preservar a qualidade e integridade dos produtos com soluções para resfriamento, congelamento, estocagem, geração de gelo e componentes auxiliares à refrigeração. Entre as soluções específicas ao pescado apresentadas pela empresa estão: evaporadores de ar em aço inox para túneis de congelamento; estocagem a áreas de manipulação; condensadores evaporativos montados de fácil instalação e unidades compactas completas para resfriamento de água.

Ichiro Ikegame (19) 3547-2100 vendas@shiguen.com.br Empresa citada:

Inovação, eficiência e customização

Autilização do conjunto das tecnologias que compõem o conceito da indústria 4.0 já promove uma revolução: até 2025, a expectativa é que estes processos promovam redução de custos de manutenção de equipamentos entre 10% e 40%, redução do consumo de energia entre 10% e 20% e aumento da eficiência do trabalho entre 10% e 25%, de acordo com a visão da Dra. Rúbia Tomita, do IP-APTA. Citando o Portal da Indústria, ela indica que o uso das tecnologias digitais na indústria, ao todo, já permitiram aumento de 22%, em média, na capacidade produtiva de micro, pequenas e médias empresas dos segmentos de alimentos e bebidas, metalmecânica e moveleiro, bem como o de vestuário e calçados.

Os pesquisadores da Embrapa notam que os fabricantes de equipamentos estão conectados com estas demandas. “Inovações

em equipamentos vêm sendo desenvolvidas visando aperfeiçoar o rendimento, qualidade e produtividade, bem como outros fatores eficazes para toda a cadeia de processamento. Atualmente, já existem equipamentos que auxiliam a logística das unidades de beneficiamento, destinado tanto para processos simples como, por exemplo, realização da sangria, corte da cabeça, trituração de carcaças, quanto para processos complexos como filetagem, fracionamento e, principalmente, remoção de espinhas intramusculares.”

Uma das fornecedoras de soluções de beneficiamento que mais investem em inovações é a Marel. Segundo o diretor global para a indústria de pescados, Diego Lages, a empresa aloca 6% do faturamento total em Pesquisa & Desenvolvimento. Se considerarmos o faturamento de 2021, isso corresponde a 90 milhões de euros.

“Vale a pena, porque se cortamos a inovação, vamos cortar nossas pernas para chegar ao futuro”, aponta.

Lages enxerga muitos benefícios em ser o primeiro a desenvolver soluções que devem se tornar padrão na indústria, como o sistema de filetagem automática de tilápia - Fillexia, lançado no Brasil em 2021. O País foi escolhido a dedo para o lançamento, em setembro de 2021, e também para a inauguração do primeiro Progress Point da Marel fora da Europa, que se deu em maio deste ano. “O Brasil servirá de catapulta para poder levar esta tecnologia para outros países que também cultivam tilápia na região, como México, Honduras, Colômbia, mas também para a Ásia.”

“Se queríamos ser uma empresa global, precisaríamos de Progress Points espalhados pelo mundo, não só centralizados na Islândia e

Divulgação/Marel
Novo progress point da Marel em Campinas (SP): Brasil é visto como trampolim para o aprimoramento tecnológico do processamento de tilápia para América Latina

na Dinamarca. A ação da tilápia ocorre no Brasil”, sublinha Lages. Os Progress Points são locais de intercâmbio de conhecimento. “É onde se trocam opiniões, onde juntamos nossos especialistas em produtos e em inovação com o mercado e os juntamos num fórum de inovação. Assim, nos tornamos capazes de inovar com base em tendências de mercado que escutamos diretamente dos clientes.”

Uma das tendências indicadas pelos clientes é o aproveitamento integral do pescado por meio de automação, mas Lages sinaliza que a eficiência disso exige uma mudança de paradigma em todos os processos do beneficiamento. “Não é só tirar os filetadores e colocar a FilleXia. É um erro que vimos no salmão. No momento em que transformamos o processo da tilápia, que é tão manual, precisamos ver o que acontece com o fluxo de produção na planta, desde a recepção da matériaprima até o envase do produto final.”

O executivo estima que inovações similares devam chegar à indústria de nativos, como tambaqui e pirarucu, mas por meio da adaptação do portfólio existente em vez de um desenvolvimento exclusivo. “Há uma parte da inovação que é transversal. Como posso fazer para adaptar este produto que já tenho desenvolvido para um segmento de mercado que ainda não o usa?”, questiona, já apontando o exemplo da empresa no Peru, em 2014. “Os volumes não justificavam fazer novos desenvolvimentos, mas fizemos projetos express. Adaptamos nosso portfólio a uma necessidade que havia na indústria peruana e conseguimos tecnificar a indústria de mahi-mahi [dourado do mar] e lula gigante para assim, crescermos lado a lado com os produtores peruanos.” Com isso, a Marel atingiu 80% de participação em maquinário na indústria peruana para estes produtos, segundo Lages. “Nos tornamos referência do mercado.”

76
Divulgação/Brusinox
Nova filetadora automática da Brusinox: empresa combina controle de rendimento e produtividade máquina a máquina com gestão on-line

Exemplos de inovação que colocam a indústria de processamento de tilápia em outro nível de eficiência e lucratividade

• Eletronarcose (abate humanitário)

• Sangria automática (redução de pessoas)

• Descamação a jato d’água (preserva a qualidade)

• Descabeçamento e evisceração automática (eficiência e redução na mão de obra)

• Filetagem automática (eficiência e redução na mão de obra)

• Retirada da pele automática (eficiência)

• Flowlines (eficiência e ganhos em rendimento)

• Postejadora (eficiência e ganhos em rendimento)

Fonte: Ambrózio Bacca, Brusinox

Nesse âmbito, os pesquisadores da Embrapa já identificam uma demanda da indústria por soluções de cortes de tambaqui sem espinhas (ventrecha com lombo, banda e lombo), produtos a base de carne mecanicamente separada (CMS) e a padronização de cortes (filé, lombo e barriga) para espécies de médio e grande porte com posterior agregação de valor de mercado por meio da defumação, salga e elaboração de embutidos. “Muitas destas estratégias visam aumentar o potencial de comercialização, minimizar os desperdícios e valorizar os portfólios de produtos das grandes empresas do setor”, escrevem.

Controle de rendimento e produtividade

O controle do fluxo de todos os processos que ocorrem dentro da planta industrial realmente se instalou nos frigoríficos de pescado, aponta o gerente comercial da Brusinox, Ambrózio Bacca. “O setor de processamento de pescados vem tendo nos últimos anos uma mudança na sua forma de trabalho e de gestão. Hoje, as empresas que querem evoluir, avaliam a produção desde a chegada da matéria-prima em sua planta até a expedição, isso porque a forma de se gerenciar o processamento está mais ágil e os volumes de produção

cresceram significativamente. Com isso, as perdas durante o processo podem ser a diferença existente entre o fracasso e o sucesso.”

Ele ressalta que o peixe de cultivo é o que vem alavancando a produção nacional de pescado e, por consequência, a tecnologia de beneficiamento. “Em 1999, fornecemos uma linha de tilápia onde eram abatidos 5.000 peixes por dia, com grande parte do processamento feito manualmente. Hoje, 23 anos depois, falamos em processamento de 160 mil peixes por dia, no qual podemos fazer o controle de rendimento e produtividade máquina a máquina com uma gestão online. Isso proporciona uma mudança na forma de se gerir o processamento, pois nesses volumes produtivos temos que focar no rendimento de processo.”

Segundo Bacca, a maior complexidade é a localização geográfica dessas plantas, em sua grande maioria fora de grandes centros, o que favorece a busca por automação. “Por isso, o emprego de máquinas que auxiliam no aumento produtivo é fundamental nos dias de hoje. Na planta de 1999, precisávamos de cerca de 46 pessoas da recepção até a entrada do congelamento. Hoje,

utilizando a mecanização e todos os controles de produção para se produzir 120 mil peixes/dia, precisamos de cerca de 116 pessoas.”

A mecanização pode proporcionar um ganho de rendimento, desde que se faça a gestão do processamento com avaliação dos dados, aponta o executivo. “Particularmente, acredito que a gestão online é extremamente eficaz e faz com que se tome decisões imediatamente a fim de se reduzir perdas, onde o gestor consegue visualizar em tempo real o ponto exato que está com baixo rendimento e fazer sua correção imediatamente.”

A Brusinox também conserva uma imagem de pioneirismo no cenário nacional. “Fomos os primeiros no Brasil a fabricar o atordoador por eletronarcose, classificador de camarão, descascador de camarão marinho, cozedor de camarão contínua etc”, aponta Bacca. “Nosso objetivo final é fazer com que se produza um filé que chegue ao mercado consumidor com o menor preço possível com uma maior lucratividade para a indústria, ou seja, pensamos em gerar resultado para a indústria, seja por baixo custo operacional, baixo custo de manutenção, melhor rendimento, produtividade. O desenvolvimento de equipamentos está em nosso DNA e para os próximos anos continuaremos a trazer novidades para o mercado”, promete.

Empresas citadas:

Ambrózio Leonel Bacca Filho (47) 3351-0567 ; 9 9948 7667 bacca@brusinox.com.br

Eduardo Weschenfelder (19) 3414-9000 eduardo.weschenfelder@marel.com

78

Dos envases bioativos à mecanização

Aindústria de alimentos tem interesse crescente por materiais de embalagem elaborados a partir de materiais naturais com qualidade alimentar, comestíveis, de preferência que sejam bioativas , ou seja, que possuam algumas funções biológicas, tais como atividade antimicrobiana e antioxidante. “Tais filmes bioativos comestíveis vêm sendo pesquisados incessantemente nas últimas décadas, aponta a Dra. Rúbia Tomita, do IP-APTA

Outra vertente é o desenvolvimento de embalagens inteligentes e ativas: um conceito emergente que tem como objetivo possibilitar o controle

da qualidade dos alimentos durante o período de armazenamento e comercialização.

Descentralização da tecnologia

A MQ Pack é uma das fornecedoras de soluções de maquinário para embalagens com maior destaque no segmento do pescado nos últimos anos. Para o sócio, Marcos Queiroz, o diferencial da empresa tem sido o foco no aperfeiçoamento dos equipamentos para os pescados processados no Brasil. O desafio é aumentar a adesão em uma cadeia tão complexa quanto diversa e descentralizada. “[Nosso desafio é] aprimorar as tecnologias existentes para que sejam de fácil

uso, sem exigência de mão de obra específica para operação. Temos levado a Tecnologia para locais muito remotos”, aponta. Como novidade para 2023, Queiroz antecipa: “teremos equipamentos 100% automáticos.”

Empresa citada:

Marcos Queiroz (11) 9 89816103 marcos.queiroz@mqpack.com

79
www.mqpack.com Classifica, Mistura, Pesa e Embala Vários Tipos de Pescados Porcionado Caixa Plástica Pacote In Natura Bandeja Rua Marina, 49 - Bairro Campestre – Santo André – São Paulo +55 11 4991 4241 “Não Seja Refém do Fabricante da Máquina”

Artesanal e industrial: foco na normatização

AEmbrapa considera que os órgãos regulamentadores, consumidores e empresas do setor alimentício estão cada vez mais interessados em informações sobre o contexto social e o desempenho ambiental dos produtos e serviços ofertados. “Tendo em vista que o segmento industrial tem relativa responsabilidade pelos impactos causados ao meio ambiente devido às suas atividades, neste sentido, o método de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), normatizado pela ISO 14040:2006 e 14044:2006 tem sido amplamente utilizado para avaliar e quantificar os possíveis impactos ambientais associados a um produto ou serviço, vem sendo utilizado também para a avaliação da cadeia de pescado”, dizem os pesquisadores. Além disso, cada vez mais será necessário um olhar abrangente sobre os diferentes sistemas de produção e processamento de pescado, de maneira a respeitar as individualidades e legitimar a participação de todos que fazem parte da cadeia produtiva.

A Lex Experts é uma das consultorias mais sintonizadas com essas demandas e se preparou para aprofundar o trabalho com esta vertente neste ano. “Quando elaboramos o planejamento estratégico da empresa para o ano de 2022, tínhamos três certezas: (1) seria um ano focado na pesca de pequena escala, já que 2022 foi declarado pela FAO como o ano internacional da pesca e aquicultura de pequena escala (#IYAFA2022) e a Lex vinha se preparando para esse ano com muita dedicação; (2) seria um ano de expansão dos clientes industriais nacionais e internacionais; (3) estaríamos presentes nos principais eventos do setor, apresentando

reflexões sobre temas relevantes para a cadeia do pescado. E assim iniciamos o ano”, conta Sarah de Oliveira, sóciafundadora da consultoria.

Conforme ela relata, ao longo do ano, as vivências da empresa na pesca artesanal trouxeram aprendizados técnicos extraordinários, mas o que mais marcou foram as pessoas. “Vimos com nossos próprios olhos que o setor artesanal, principalmente no Norte do País, vive por sua própria conta e risco e sem a presença do Estado oferecendo condições minimamente necessárias para garantir a dignidade de pescadores e pescadoras, bem como assegurar a oferta, distribuição e consumo de pescado seguro e de qualidade”, apontou.

Oliveira indica que a presença da empresa em diversas comunidades artesanais com atuação em iniciativas “sinceramente preocupadas com as pessoas envolvidas na pesca de pequena escala” trouxe a percepção de que um novo cenário está se formando. “É impossível entregar pescado de qualidade e seguro quando vidas, corpos, histórias, territórios e saberes são diariamente invisibilizados e consumidos pelo descaso”, indica. A Lex atua na cadeia da pesca artesanal com capacitações, mapeamentos de cadeia de valor, registro de unidades de beneficiamento de pequena escala, apoio no desenvolvimento de produtos e rotulagens, entre outros serviços desenvolvidos de forma específica para cada necessidade.

No campo industrial, o diretor técnico da Lex, Gustavo Faria, aponta que foi um ano de revisões e modernização das normas do Mapa e Anvisa. “Foram dezenas de revisões normativas e novas publicações

que ajudaram a alavancar nossa expansão de negócios na área industrial”, sublinha. “Além do aumento na demanda por registro de estabelecimentos e de produtos e rótulos, houve uma grande procura pela validação de processos, com destaque para processos térmicos, sistemas de rastreabilidade e determinação de validade de produtos.” Faria considera essa uma tendência que cresce com o amadurecimento do conceito do autocontrole. “A Lex vem realizando diferentes tipos de validações em processos e produtos, de forma científica e customizada, trazendo mais segurança e autonomia para o dia a dia do empresário.”

Além disso, segundo ele, durante 2022, foi possível perceber uma grande movimentação de municípios buscando adesão ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI), que padroniza e harmoniza os procedimentos de inspeção de produtos de origem animal para garantir a inocuidade e segurança do alimento. “Atendemos 23 municípios em Santa Catarina, São Paulo e Pará preparando-os para a adesão de seus Serviços de Inspeção Municipais ao SISBI e durante esses trabalhos realizamos elaboração e revisão das normas municipais, procedimentos de funcionamento do SIM, capacitação de veterinários e acompanhamento de auditorias do Mapa. São entregas que nos trazem uma grande satisfação pessoal, pois trazem oportunidades reais de regularização para os pequenos produtores, aumentam o comércio formal de produtos, fomentam o desenvolvimento socioeconômico das regiões que estão inseridas no sistema e, por fim, incrementam ainda mais a segurança dos alimentos oferecidos a todos os consumidores.”

80

Sarah de Oliveira e Gustavo Faria, da Lex Experts: 2022 foi ano de privilegiar a visibilidade das cadeias artesanais, além de colaborar para a adequação de municípios ao SISBI

Eventos: plataformas de conexão

Consultorias como a Lex participam de diversos eventos com uma forma de se conectar com as maiores inovações nos campos de atuação da empresa, mas também para dividir experiências. Na Seafood Expo North America, em Boston, foi uma oportunidade para reencontrar parceiros e amigos após dois anos de pandemia e buscar novos negócios, além de novidades em soluções de equipamentos e controle de qualidade para os clientes.

A pesca artesanal foi tema de eventos importantes para a empresa, como um webinar promovido em parceria da Rare Brasil, Instituto Humanize, Rede ODS Brasil, Ministério da Ciência e Tecnologia, Cátedra UNESCO para Sustentabilidade do Oceano, Unifesp, Grupo de Apoio à Mobilização (GAM) Sul, Norte e Nordeste, PNUD, INPE, Linha D’Água, Oceana e Conservação Internacional. No I Simpósio de Segurança Alimentar e Nutricional, promovido pela Univali com apoio do Comsea de Itajaí, a Lex discutiu a contribuição da pesca artesanal para promoção da segurança alimentar e nutricional.

Já no IX Simcope, em meio à Seafood Show Latin America, Sarah de Oliveira abordou a educação sanitária

como ferramenta de transformação social, que além dos aspectos técnicos de se produzir alimento seguro nas cadeias da pesca artesanal, trouxe a reflexão do papel de todos como educadores responsáveis para o desenvolvimento justo e sustentável das comunidades tradicionais de pescadores e pescadoras. O ano de eventos terminou com a participação de Oliveira como panelista no 4th World Small-Scale Fisheries Congress em Mérida, no México.

Para 2023, a Lex quer transmitir a visão de que as oportunidades de desenvolvimento do setor passam necessariamente por uma visão sistêmica que coloque o bem coletivo antes do benefício individual e o pensamento sustentável acima do imediatismo. “A pesca é feita de pessoas para pessoas, é a roda infinita da busca pela garantia de alimento, sustento e renda. O setor necessita de abordagens inclusivas e direcionadas para o desenvolvimento das pessoas”, conclui Faria.

(47) 9 8856-2714 contato@lexbr.net

Sarah de Oliveira e Gustavo Faria +55 Empresa citada

Personagem

O rei procura parceiros

Chefe Ndiko Fonderson Henry vem ao Brasil para procurar oportunidades de investimento no sudoeste de Camarões

Circundado pelo rio Ombe, que ajuda a compor as quatro grandes bacias hidrográficas da República do Camarões, o Baixo Meveo é o último vilarejo na subdivisão Limbe 1. A região fica no sudoeste do país, próximo ao estuário Wouri, coalhado dos crustáceos mais apreciados do mundo - o que motivou os colonizadores portugueses a batizarem assim aquele território.

Natural, portanto, que o rei da região tenha conexão com o pescado, assim como todos os descendentes da etnia Bakweri, que se estabeleceram na costa oeste de Camarões. Nascido em 1978, a majestade real Ndiko Fonderson Henry é armador de pesca e presidente do setor de pesca da Câmara de Agricultura, Pecuária, Pesca e Florestas de Camarões, eleito por um período de cinco anos até 2026.

Ele é bisneto do rei Nafonde a’ Mosio, que se manteve no vilarejo com a família apesar do êxodo rural ocorrido no século 19. Hoje, o Meveo conta com 500 fazendeiros que cultivam 60% dos produtos vendidos em um dos maiores mercados públicos do país. Para celebrar o potencial agrícola e estimular o desenvolvimento da região, um grupo de empresários e autoridades como Fonderson idealizou o Meveo Cultural & Development Assembly (Mevcuda), um misto de feira e mostra cultural, esportiva e agrícola que chegou à 9ª edição em 15 de novembro de 2022.

Um mês e meio antes, Fonderson visitou o IFC, em Foz do Iguaçu (PR), para divulgar o evento e buscar parcerias para o desenvolvimento do setor do pescado no Meveo. A presença de um rei africano despertou muita curiosidade entre os presentes, mas Fonderson se revelou uma pessoa acessível e interessada na expansão aquícola brasileira. Agora, ele pretende firmar parcerias para levar aos seus súditos o desenvolvimento que pôde constatar no Paraná.

“Estamos abertos a parcerias no âmbito da investigação, formação, investimento, produção e comercialização de pescado”, avisa. Assim como o bisavô, que lutou para conter o êxodo rural e manter os jovens conectados com o desenvolvimento agrícola da região, Fonderson quer promover a paz e o desenvolvimento sustentável local. “Minha comunidade abriga várias centenas de hectares de terras cercadas por rios que podem servir como a nossa cota para esse investimento de parceria.” Um rei negociador, Henry quer deixar um legado às populações afetadas por anos de fome, guerras e migrações.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2022 • 82
Texto: Ricardo Torres Rei e negociador: Henry quer deixar um legado a seu povo através de parcerias para o desenvolvimento do setor do pescado no Baixo Meveo

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.