MARKETING & INVESTIMENTOS
O guia de visitação da Apas 2015
seafood
PONTO DE VENDA
As melhores embalagens e tipos de exposição para seu pescado
brasil
#8 - Jan/Mar 2015 ISSN 2319-0450
www.seafoodbrasil.com.br
Os pilares amazônicos Projetos inovadores distinguem Acre e Rondônia na piscicultura nativa
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Revista: 21 empresas apostaram nesta edição Confira abaixo todos os nossos parceiros: PÁGINA 4ª Capa 2ª Capa 3 9 13 15 17 19 23 25 27 33 35 39 43 47 49 51 55 57 59
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NEWS
ANUNCIANTE Alaska Seafood Marketing Institute Bom Porto Frescatto Grupo 5 Leroy Seafood Maris Congelados Artico Biofish Consulta Legal Natubras San Arawa ProEcuador Manso Costa Sul Patense Branco Máquinas Maquiplast Mardi Targ Logística Clearwater Peru
Newsletter: abertura acima da média
Chamadas e notas interessantes fazem da newsletter Seafood Brasil cada vez mais um veículo porta de entrada para as nossas plataformas. Com média de abertura de 18,9% nos últimos 4 disparos, as peças tiveram mais de 2750 aberturas. Em termos de assuntos, os destaques ficam para a intenção do novo ministro do MPA de multiplicar a produção por 20, além do desempenho da carcinicultura no Equador e da pesca do camarão selvagem na Argentina.
69% de novos acessos
As notícias mais importantes do segmento continuam a abastecer o site Seafood Brasil, o que mantém a audiência forte. Entre 11 de janeiro e 11 de março, a página recebeu 22,8 mil visualizações, realizadas por 8,8 mil usuários. E, novamente, a porcentagem de novos usuários interessados no segmento impressiona: no período, foram 69%.
Comunidade
Seafood Brasil
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Facebook: forte interesse mercadológico
Os fãs da página da Seafood Brasil no Facebook continuam altamente engajados. E o interesse só aumenta por questões mercadológicas, como mostram os destaques dos últimos três meses. Notícias sobre comércio exterior, penetração de espécies no mercado brasileiro, origens do nosso pescado e a situação do mercado de farinha de peixes em 2014 se destacaram intensamente, alcançando 5000 profissionais do setor. Desempenho interessante, se considerarmos que a rede social cada vez mais restringe acessos a conteúdo orgânico, não pago. Como desde o início a Seafood Brasil se propõe a ter uma página limpa, com usuários realmente interessados no segmento, não pagamos para promover postagens.
Editorial
O antropólogo e o jornalista
Q
uando Claude Lévi-Strauss andou pelo Brasil e foi um dos primeiros mestres a lecionar na Universidade de São Paulo, entre 1935 a 1939, ainda não havia escrito sua obra mais conhecida por aqui, Tristes Trópicos. Ele disse que a experiência com tribos indígenas no País fez nascer sua vocação para antropólogo – profissional que tenta enxergar a humanidade a partir do olhar do outro.
no Acre e em Rondônia, relato que o leitor acompanha a partir da pág. 20. Esta edição traz ainda uma breve análise sobre o varejo e um preview da feira Apas, que a cada ano atrai mais expositores do nosso segmento e se consolida como a vitrine do pescado por excelência. Com a oferta cada vez mais diversificada, outros elos da cadeia se fortalecem, como os operadores logísticos e o food service – temas de outras reportagens deste número. A pauta contempla ainda a PeixeBR, nova entidade da produção e processamento que pretende melhorar a articulação da cadeia produtiva que tanto estimamos.
Como o leitor já percebeu, estamos regionalizando nossas coberturas, de maneira a confrontar o inegável potencial brasileiro com os atuais projetos em curso. E a melhor forma de fazer isso é pessoalmente. Por isso, as repórteres Daniela Dias e Thais Ito se imbuíram desse olhar antropológico para a primeira “expedição amazônica” da revista. Guiadas por parceiros locais como a Biofish e a Peixes da Amazônia, a quem devemos sinceros agradecimentos, ambas conheceram a verdadeira face da cadeia do pescado
Boa leitura!
Índice
08
36 Ponto de Venda
44 Fornecedores
20 Capa
Marketing
50 Na Gôndola
34
52 Na Cozinha
Artigo
58 Personagem
Expediente Redação redacao@seafoodbrasil.com.br Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor: Ricardo Torres Repórteres: Léo Martins, Marcelo Tárraga, Marcela Gava e Thais Ito Colaborou nesta edição: Daniela Dias Diagramação: Emerson Freire Distribuição: Marcus Vinicius Crisóstomo Alves
Comercial comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno Impressão Vox Editora A Seafood Brasil é uma publicação da Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95
Sede – Brasil Av. Bosque da Saúde, 599 Praça da Árvore - São Paulo (SP) CEP 04142-091 Tel.: (+55 11) 4561-0789 Escritório comercial na Argentina Hipólito Yrigoyen, 4021 - C1208ABC C.A.B.A. – República Argentina julio@seafoodbrasil.com.br
Crédito da foto da Capa: Ueslei Marcelino. Publicação autorizada pelo MPA
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06 Cinco Perguntas
www.seafoodbrasil.com.br
5 Perguntas a Felipe Matias, diretorexecutivo da Associação Brasileira de Piscicultura (PeixeBR)
e Eduardo Marchesi Amorim, presidente da Associação Brasileira de Piscicultura (PeixeBR)
Entrevista
Divulgação/PeixeBR
Divulgação/PeixeBR
“Estamos na adolescência da aquicultura”
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Eduardo Marchesi Amorim
Nova entidade representativa quer colaborar com amadurecimento do setor para inserir País no top 5 mundial em 10 anos
Felipe Matias Texto: Ricardo Torres
F
elipe Matias costuma dizer que o segmento há pouco estava em sua fase infantil, mas agora já se encontra na adolescência. “Como qualquer adolescente, temos um lado mais maduro, com empresas mais competitivas e produção mais representativa, e outras menos amadurecidas, com dificuldades e brigas”, diz o diretorexecutivo da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR). Ao lado do presidente, Eduardo Marchesi Amorim, Matias relatou à Seafood Brasil como a entidade pretende encaminhar seus pleitos.
Que são muitos. “Existe um planejamento estratégico que elenca pelo menos 10 dos mais importantes problemas estruturais do setor”, indica Matias. Tudo para aumentar a competitividade do produtor brasileiro e inseri-lo no ritmo de crescimento que o mundo espera do Brasil. Marchesi Amorim fala em crescimento de 17% a 20% ao ano no Brasil e em um PIB aquícola de R$ 4 bilhões. “Estamos em 12º no ranking da FAO, mas precisamos brigar para entrar primeiro no clube dos 10 e chegar entre o 2º e o 5º do mundo em 10 anos”, projeta Matias. Veja como a seguir.
Os 10 objetivos da PeixeBR 1 Articular junto aos OEMA’s para a Simplificação dos Processos de Licenciamento Ambiental
Amorim: A PeixeBR nasceu de uma união das associações dos produtores e processadores de tilápia, mas temos muita gente de outras espécies entrando, gente que já faz pirarucu, tambaqui e tambacu. Achamos que a base é o produtor. Então pregamos muito a dedicação e amadurecimento da cadeia produtiva. Um elo da cadeia ajuda os outros. A nutrição, os produtores, associação, governo, frigoríficos etc. O peso dos votos da aquicultura em nossa associação é igual. Nascemos com uma certa representatividade e nosso objetivo é chegar a 30% da produção cultivada de peixe no Brasil. Algumas associações não alcançam seus objetivos por interesses particulares de seus associados. Como contornar isso? Matias: A competição do mercado está aberta. A associação não restringe ou dá limites a isso. O que une a associação são as dificuldades comuns do setor. As empresas compreendem que precisam se unir para minimizar ou resolver alguns dos gargalos existentes. O que há de divergência deve ser resolvido fora da associação. O fato de o diretor-executivo não fazer parte de nenhuma indústria colabora também. Ele é um profissional da associação que vai defender a entidade acima de qualquer interesse.
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Até pelo nosso gigantismo, há 10 anos estávamos na infância da aquicultura.
Agora estamos na adolescência. Como qualquer adolescente, temos um lado mais maduro, com empresas mais competitivas e produção mais representativa, e outras menos amadurecidas, com dificuldades e brigas. Com dados da indústria de nutrição, produtores e processadores – nossos associados – contabilizamos que o setor produziu, em 2014, 685 mil toneladas de pescado. O camarão responde por 85 mil toneladas, ostras e mexilhões em torno de 15 mil toneladas e a piscicultura as 585 mil toneladas restantes. Estamos em 12º no ranking da FAO, mas precisamos brigar para entrar primeiro no clube dos 10 e chegar entre o 2º e o 5º do mundo em 10 anos. Amorim: Nossa estatística do PIB da piscicultura é de R$ 4 bilhões. Colocamos um preço médio de R$ 5, inserindo a produção de rações dá R$ 900 milhões, multiplicando pelo volume chegamos a R$ 3 bilhões e somando dá 4. O setor vem crescendo de 17% a 20% no Brasil. O último relatório do Rabobank diz que a tilápia cresce 10% ao ano, então o Brasil está crescendo bem acima da média. E com o câmbio de R$ 3 muda a competitividade. Considerando o maior consumo do produto chinês e as dificuldades de produção asiáticas, podemos substituir parte das importações americanas que hoje vêm da Ásia. Mas hoje temos matéria-prima suficiente para exportar? Amorim: Melhorando as condições da cadeia, esse crescimento ao ano deve se manter consistente e, quando o mercado interno for estabilizado, devemos partir para exportação. Em menos de 10 anos, devemos ter de 15% a 20% da produção exportada.
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Quais são os principais pleitos da associação? Matias: Existe um planejamento estratégico que elenca pelo menos 10 dos mais importantes problemas estruturais do se-
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2 Elaborar uma Proposta de Regulamentação de Importações 3 Elaborar uma Proposta de Equiparação das Rações para a Aquicultura 4 Elaborar Projeto de Aumento da Competitividade da Aquicultura 5 Trabalhar junto ao MPA para a Reformulação do Decreto 4895/ 2003 6 Elaborar um Plano de Marketing para a Aquicultura 7 Realizar amplo Processo de Adesão à PeixeBR 8 Trabalhar junto ao MPA na Regulamentação Sanitária 9 Articular junto ao MPA/ IBGE para a PeixeBR ser parceira na estatística 10 Elaborar um Projeto que vise integrar e formalizar os aquicultores
tor. Trabalharemos com objetivos, metas e indicadores para os próximos dois anos. Outras entidades se destacam pela postura contrária a importações. A PeixeBR também adotará esta linha? Matias: A importação é boa, porque dá competitividade, não nos deixa, enquanto iniciativa privada, adormecer. Mas há de se ter uma política de regulamentação. Precisamos ter as mesmas condições do exterior para ter competitividade.
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Amorim: Existe um risco sanitário alto lá fora. Hoje, grande parte do produto importado é subsidiado por seus países. A hora que você está se preparando para ter competitividade vem um produto com fraude, troca de espécies, excesso de água etc. Tudo isso queima a imagem do pescado. Matias: Também temos que trabalhar o marketing da atividade de aquicultura e dos produtos de aquicultura. Explicar à sociedade que a aquicultura te dá um produto fresco, de qualidade, que num dia está na fazenda no outro em sua mesa. Tem condição de ter sustentabilidade econômica, social e ambiental.
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Por que o setor precisa de uma 1 nova entidade? Matias: O Brasil já teve algumas entidades, como a Abraq e a própria Ab-Tilápia (origem da PeixeBR), além de outras que ainda persistem, como a Aquabio – voltada à academia. Eram entidades que não conseguiam se nacionalizar e unificar a representatividade do setor. Havia um vácuo de representatividade setorial. O objetivo principal da PeixeBR é se tornar uma referência nacional e internacional na piscicultura brasileira.
Marketing
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& Investimentos
Varejo não se abala Feira Apas esquenta motores do varejo em 2015 com crescimento de 50% no número de expositores de pescado, apesar de indicadores desfavoráveis Texto: Ricardo Torres
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início de 2015 vê uma sucessão de indicadores ruins na economia, que engrossam o coro dos mais pessimistas. Inflação e juros em alta, e o real em queda livre em relação ao dólar. No caso do varejo não é diferente. Segundo declarou o presidente do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Supermercados, Sussumu Honda, neste ano o varejista está mais cauteloso. “Apesar de as vendas dos supermercados como um todo ainda estarem positivas, a percepção de um ano difícil com crescimento nulo e inflação alta, aliada aos juros mais altos e corte de despesas do governo, acaba afetando as expectativas do setor. Mas ainda assim, trabalhamos
com a perspectiva de crescimento nas vendas do ano”, afirmou. A entidade publicou recente relatório em que informa que, em janeiro, as vendas do setor supermercadista apresentaram queda de -20,48% na comparação com o mês imediatamente anterior, mas apuraram alta de 3,42% em relação ao mesmo mês do ano de 2014. O mesmo índice foi apurado no acumulado do ano: as vendas apresentaram alta de 3,42%, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Os valores são reais, deflacionados pelo IPCA/IBGE. Ou seja, se por um lado as perspectivas não são as melhores, não se pode falar em crise do setor. Só na Páscoa, de
acordo com levantamento da Abras, só 17,3% dos entrevistados disseram acreditar que o varejo terá vendas menores este ano. Aqueles que acreditam ao menos em manutenção do desempenho de 2014 são a maioria: 55,8%. Quando analisamos as encomendas por categorias, bacalhau e peixes em geral tiveram aumento de compras superior aos vinhos. Talvez seja esse cenário, ou a própria necessidade de vender mais em tempos de desaquecimento, que seduza os expositores da Apas deste ano. A feira, que chega agora à 31ª edição, já é a maior de todos os tempos, segundo os próprios organizadores. Já no balanço de fevereiro – o evento é só em maio –, a comercialização de espaços nos
PÁSCOA 2015 TEM MAIS COMPRAS DE BACALHAU E PESCADO Evolução das encomendas do supermercadistas junto aos fornecedores, por principais produtos (% em relação a Páscoa de 2014)
Refrigerante
7,5%
Cerveja
7,0%
Azeite
Pavilhões do Expo Center Norte havia ultrapassado a edição anterior e chegado a 94% de ocupação. E as empresas relacionadas ao pescado não fazem feio. De acordo com levantamento da Seafood Brasil, são 53 processadores, importadores ou distribuidores de pescado com estandes. No ano passado, foram em torno de 35. Isso com o preço do m² maior do que nunca, o que fez com que alguns diminuíssem ou apenas mantivessem seus estandes dos anos anteriores, embora a intenção fosse aumentar a área de exposição. De um universo de mais de 600 expositores de todos os produtos e serviços que se encontram no varejo, estes 9% são bastante representativos. Mas o que continua atraindo expositores do segmento? “Esta é a quarta edição seguida que participamos da feira (2012 a 2015)”, diz José Madeira, responsável pelo escritório do Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI) no Brasil. “Sempre participamos por considerarmos a feira uma importante vitrine para nossos produtos junto ao setor varejista.”
5,2%
Bacalhau
4,9%
Peixes em geral
1,1%
Vinhos nacionais
Os produtos selvagens do Alasca são distribuídos por diversos parceiros, entre os quais 5 brasileiros e 1 estrangeiro estarão na Apas: Damm, Frescatto, Kalena Foods, Komdelli, Noronha Pescados e Trident Seafoods. “Esperamos que as vendas cresçam e que mais redes varejistas incluam os peixes selvagens do Alasca destas empresas em seu portifólio”, diz Madeira. Também interessada nos peixes selvagens, a argentina Congelados Artico renovou seu estande pela quarta vez e estará no pavilhão da Fundación ExportAR. Segundo Carolina Huertas, do departamento de compras da empresa, a esperança é de uma mudança gradual do hábito do consumidor brasileiro. “Esperamos que este ano se possa incorporar ao mercado brasileiro mais pescado empanado e que se valorize mais o peixe selvagem ao de cativeiro, tão em moda nos últimos anos”, comenta. A empresa aposta fortemente nos empanados de merluza e em uma nova linha de pratos prontos com a espécie que possuem apenas 99 calorias.
1,0%
Importados
0,6%
Vinhos importados
-2,9%
Colomba Pascal
A Artico recebe a companhia de mais cinco empresas do segmento no pavilhão argentino, que sempre impressiona pelo tamanho. Mas outros “estandes-países” impressionam ainda mais, por conta da forte adesão de companhias de pescado. É o caso do Equador, que até a data de fechamento desta matéria tinha confirmadas 9 empresas. Destas, 4 são de atum e conservas, e as demais de produtos elaborados de pescado em geral. Enquanto o país se esforça para abrir o mercado ao camarão equatoriano, a variada oferta exportável daquele país – atum, pescada, cavala, dourado do mar, sardinha e corvina, entre outros – vai se popularizando entre importadores e varejistas brasileiros. Mas o patamar continua baixo: apenas 1,4% de tudo o que o Equador exporta em pescado tem o Brasil como origem. “No entanto, temos muito espaço para crescer em diversos segmentos. Matéria continua na página 12. Veja a seguir infográfico com mapa da feira e guia do expositor.
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8,4%
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Marketing & Investimentos
Procure pelo peixinho!
EXPOSITORES DE PESCADO - APAS 2015* NOME
COR PAVILHÃO
RUA
N° ESTANDE
01 Alaska Seafood BRANCO 14/I 403 02 Damm 03 Kalena Foods 04 Noronha Pescados 05 Trident Seafood 06 Bom Porto AZUL 7/C/D 235 07 Camil/Coqueiro BRANCO 11/12/I/J 375 08 Cofaco AZUL 1/B 103 09 Copacol VERDE 9/L 542 10 Costa Sul VERMELHO 13/S 833 11 Di Salerno BRANCO 18/I 444 12 Escritório Comercial da Embaixada do Equador VERDE 6/J/K 510 13 Frigolab San Mateo 14 Promarosa 15 Freshfish 16 Marbelize 17 Galapesca 18 Asiservy 19 Ideal 20 Frescodegfer 21 Expansioncorp 22 Escritório Comercial do Peru VERDE 9/M/N 544 23 Peru Pacífico 24 Proanco 25 Produmar 26 Seafrost 27 Frescatto VERDE 16/15/M 603 28 Fundación ExportAR BRANCO 11/12/13 /15/H/G 371/393/ 422/423 29 Grupo Polo Sur (14 de julio) 30 Coomarpes 31 Congelados Artico 32 Grupo Chiarco 33 Mardi 34 Mia SA 35 Golden Foods VERMELHO 13/P 821 36 Gomes da Costa BRANCO H / I / 11 365 37 Grupo 5 VERMELHO P/9 780 38 JBS/Swift BRANCO 21/K/M 681/682 39 Komdelli VERMELHO 18/R 873 40 Maris Pescados VERMELHO 12/S 814 41 Marnobre AZUL 8/A 242 42 Mathias Bjorge AS VERMELHO 21/S 899B 43 Polialimentos VERMELHO 12/S/Q 813 44 Proativa Alimentos BRANCO 11/F 361 45 ProChile BRANCO 11/12/13/G 372/392 46 Agrosuper 47 IntegraChile 48 Salmones Blumar 49 Queiroz Galvão/Potiporã VERMELHO 6/S 736 50 Riberalves BRANCO 7/J 322 51 Ricex VERMELHO 18/19/P 885 52 Soguima Ultracongelados VERDE 11/K 550 53 Vapza VERMELHO 11/Q/R 794 *Data da última atualização: 05/03/2015. Nomes sujeitos a alteração.
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Marketing & Investimentos
TABELA DE PREÇOS E VAREJO NOVA / JUL/2011
2014
2015
2015
ACUMULADO
ACUMULADO
Ponderação
Fevereiro
Janeiro
Fevereiro
12 meses
Ano
(%)
(%)
(%)
(%)
(%)
(%)
ACUMULADO DE 12 MESES
2,02
7,8
8,92
ACUMULADO NO ANO
0,58
1,25
1,83
ITENS
ÍNDICE GERAL
100
-0,47
1,25
0,57
8,92
1,83
PESCADOS
1,3792
-0,78
1,56
1,67
8,62
3,25
PESCADA
0,2047
0,00
-1,84
0,00
7,56
-1,84
SARDINHA
0,1135
0,00
3,90
-0,66
7,92
3,22
CAÇÃO
0,1314
7,89
-0,49
-2,80
10,17
-3,28
CORVINA
0,1570
4,82
8,96
5,44
1,76
14,89
MERLUZA
0,3651
0,06
2,19
2,22
12,77
4,46
CAMARÃO
0,4075
-6,71
0,00
2,72
7,93
2,72
O consumo de pescado só cresce no Brasil e nossas empresas estão muito interessadas em vender aqui”, conta Alexis Villamar, Chefe do Escritório Comercial do Equador em São Paulo.
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Já com uma presença muito mais massificada, o Chile chega com menos empresas, mas uma novidade. A Integra Chile estreia na Apas no pavilhão da ProChile. Ricardo Gilardoni, gerente de vendas da empresa, diz que participou como visitante nos últimos três anos e agora consideraram uma oportunidade interessante participar do estande. “Os visitantes poderão ter uma ideia do que podem esperar do salmão para o resto do ano”, conta. O colega Jose Manuel Schwerter Gallardo, gerente de vendas da Agrosuper, já é veterano. “Participamos nos últimos três anos e achamos que estas ocasiões são importantes para seguir fortalecendo as relações com clientes atuais e atender novos pedidos no negócio do salmão.” Óscar Páez, agregado comercial do Chile em São Paulo, crê que a confiança do consumidor e a ação institucional da ProChile fará com que o consumo de
salmão continue crescendo, apesar do entorno econômico mais restritivo. Os vizinhos peruanos também se preparam com força para esta edição. Quatro empresas haviam confirmado presença até o fechamento da edição: Peru Pacífico, Proanco, Produmar e Sea Frost. Destas, Proanco já atua no País com um escritório local (Andina-Comex) e a Produmar já vendeu seus anéis de lula e dourado do mar ao Grupo Pão de Açúcar no ano passado. No que diz respeito à produção, não foi um ano fácil para o Peru, que viu aquecimento das águas e diminuição da safra de anchovetas e outras espécies. “Mas este ano estamos muito melhor. Vamos recuperar em 30% a produção pesqueira de Peru este ano. A partir de abril já teremos a pesca funcionando e devemos ter boa safra”, conta Antonio Castillo, conselheiro comercial do Peru no Brasil.
Turbulência econômica: limitada no setor “Esperamos que o setor se mantenha aquecido”, confidencia Geraldo Neves, gerente comercial da Costa Sul. Ele vê o alto preço da carne bovina
como bom incentivo ao consumo de pescado, mas o cenário macroeconômico deve influenciar, ainda que positivamente. “Pensamos que o cenário restritivo vai filtrar muito o setor, fazendo-o avançar muito no quesito qualidade.” A Costa Sul participa há 10 anos da Apas e mantém positivas as expectativas. O otimismo se expressa em lançamentos de produtos e embalagens mais elaborados da linha “Nobre”. Uma cozinha show também será montada para mostrar receitas ao público. A Maris, que estreia com estande próprio nesta edição da feira, vê uma certa inibição de consumo em função “da crise que se desenha”. “De toda forma ainda há vários mercados em que podemos crescer”, analisa a gestora de marketing, Maria Zelinda de Carvalho. Para a empresa, o varejo é o foco. “Nossa empresa tem mais de 30 anos de atuação, sempre com o foco no mercado externo. Há três anos desenvolvemos a marca Maris para atuar no varejo nacional”, conta. O caminho foi via grandes plataformas e com o pequeno e médio varejo nacional por meio de distribuidores. “Já somos a marca de
Madeira, do ASMI, diz que o câmbio desfavorável impossibilita um crescimento ainda maior das importações de pescado neste momento, elemento central para o negócio do Alasca. “Mas acreditamos que o consumo crescente de pescado no País será a chave para mantermos o crescimento de nossos negócios no Brasil”. Uma das distribui-
doras do pescado do Alasca no Brasil, a Bom Porto também não vê queda nas vendas ou outro cenário adverso. “Haverá uma manutenção dos níveis de venda devido a conscientização crescente do consumidor em relação ao consumo de pescado”, opina Sergio Costa e Sousa, responsável pela operação da Brascod. O português radicado no Brasil avalia que um mix diverso de produtos facilita a manutenção dos negócios em bom patamar de vendas. “No caso do bacalhau dessalgado e congelado, há várias opções de preços, portanto não cremos que irá afetar tanto o consumo.” Há 7 anos na Apas, a empresa já ganhou até prêmio pela montagem do estande e hoje considera
a Apas um “evento de confraternização” com clientes. Esse clima também anima a Gomes da Costa, que há 15 anos leva novidades em produtos à feira. Luis Manglano, gerente de marketing corporativo, conta que espera um crescimento moderado, mas consistente por conta dos hábitos cada vez mais saudáveis e a busca por praticidade do brasileiro. Pensando nisso, a empresa apresentará dois produtos defumados, além de conservas de palmito e o azeite Carbonell. Manglano não abre totalmente o jogo. “Haverá uma surpresa, que aqueles que forem ao evento poderão conhecer em primeira mão.” Para quem gosta de surpresas, a Apas é um prato – ou um carrinho – cheio.
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camarão líder de vendas no varejo nacional e neste ano de 2015 estamos ampliando a nossa linha de pescado.” Além disso, ela reconhece que a marca é muito forte no Nordeste, mas precisa melhorar a atuação no Sudeste. “A Apas é um grande momento de apresentarmos nossa empresa e nossa linha para um grande mercado que ainda não nos conhece.”
Marketing & Investimentos
Jantar selvagem
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Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI) organizou em dezembro de 2014 um evento recheado de peixes selvagens, que contou com a participação de parceiros, importadores e fornecedores 02
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Catia Cerqueira (Frescatto Company), Andrew Jenssen (Trident) e Mariana Vilela (Frescatto Company)
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Marcelo Tárraga (Venga Conteúdo), Diego Fávero (Grupo5) e a esposa Gabriela, e Rodrigo Joaquim (Grupo5)
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Cybele Singal (ASMI), Angélica Munari e Sergio Karagulian (Bom Porto)
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Equipe da Trident Seafoods acompanhada de Guilherme Blanke (na ponta, à esq.) e José Madeira (na ponta, à dir.)
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James Loureiro (Noronha/Zippy), Rafael Guinutzman (GPA), Rodrigo Joaquim (Grupo5) e Sergio Karagulian
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À esq., Carolina Nascimento (ASMI) recebe os parabéns dos presentes pelo seu aniversário
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Marketing & Investimentos
Fiesp em 2 momentos
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Comitê da Indústria da Pesca da Fiesp organizou, em novembro de 2014, a tradicional confraternização de fim de ano. Três meses depois, foi a vez de receber o ministro do MPA, Helder Barbalho, que se juntou ao presidente da Fiesp, Paulo Skaf, para discutir o setor
NOVEMBRO 2014 02
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Novembro Itamar Rocha (ABCC) e Luiz Anchieta (consultor)
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Silvio Romero Coelho (Consultor) e Afonso Vivolo (Trutas NR)
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Sandra Takahashi (Nordsee), Meg Felippe (GPA) e Pedro Pereira (Bom Porto)
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Marco Cantuária e Robson Almeida (ACSR Advogados)
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Rosa Maria dos Santos (GPA), Sergio Tutui (IPesca) e Meg Felippe (GPA)
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Família Trovão: pai e filha
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José Antonio Brito (MPA/PR) e Roberto Imai (Compesca)
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Fevereiro Helcio Honda (Anepe), Helder Barbalho (MPA), Paulo Skaf (Fiesp), Roberto Imai (Compesca) e Altemir Gregolin (ex-MPA) Altemir Gregolin, Sebastião Santos (Deputado) e Mario Cutait (PeixeBR)
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Plateia presente ao evento
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Helder Barbalho e Paulo Skaf
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Marketing & Investimentos
Folia com camarão
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Vivenda do Camarão teve um quiosque especial no Sambódromo de São Paulo, durante o desfile das Escolas de Samba. Os quitutes mataram a fome dos presentes, que tiveram o diretor de marketing da empresa, Victor Drummond, como guia.
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Victor Drummond (Vivenda do Camarão) e Marília Figueira (Nestlé)
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Ricardo Salem e Victor Drummond (Vivenda)
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Jeovane Bezerra e Victor Drummond (Vivenda)
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Guilherme Balsanelli (Chalfin Advogados) e Marília Figueira
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Foliões fazem uma boquinha no intervalo dos desfiles
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Carol Romanini (Iguatemi), Vivian Donatelli e Victor Drummond (Vivenda) e Karina Stuque (Young & Rubican)
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Victor Drummond (Vivenda) e Ricardo “Japinha” (CPM 22)
A bacia amazônica é uma mina de ouro. Nos próximos anos, a maior reserva hídrica do planeta sediará uma revolução na produção de pescado de água doce.
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Expedição amazônica
Equipe da Seafood Brasil percorre 5 mil km para constatar como Acre e Rondônia se preparam para gerar em cinco anos uma produção anual de 350 mil toneladas
Texto: Ricardo Torres
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C
huvas. É só disso que se fala sobre a Região Norte nesta época do ano. O noticiário contabiliza tragédias com as cheias que canalizam a atenção nacional. No entanto, em plena crise de calamidade pública em algumas cidades, como a capital acriana, as águas amazônicas vertem no campo muito mais do que notícias ruins. O interior registra um forte sentimento de esperança e otimismo. É ali, na maior bacia hidrográfica do mundo, que a aquicultura se expande vigorosamente ano a ano. Ciente deste forte ritmo de expansão, a Seafood Brasil decidiu constatar in loco alguns dos mais inovadores projetos locais. Nesta primeira “expedi-
ção amazônica”, visitamos os Estados do Acre – lar de Chico Mendes e onde em breve entrará em operação total o já famoso complexo Peixes da Amazônia – e Rondônia – terra da Zaltana Pescados, Biofish e disposição para produzir 250 mil toneladas de pescado anuais. Nas próximas páginas, confira o relato apaixonante em primeira pessoa de nossas duas repórteres enviadas à região: Daniela Dias e Thais Ito. Com a ajuda de parceiros locais, elas delineiam alguns dos projetos de maior relevância locais e constatam: por motivos econômicos, sociais e ambientais, em alguns anos a pecuária definitivamente sairá de cena para que entre, triunfante, a piscicultura.
Produção aquícola
ACRE 1 Área do Estado 164.123 km ² Área alagada (ha) 1.900,00 Produção atual (t) 22.000 Projeção de produção anual (t) em 5 anos 100 mil * * Governador Tião Viana ¹ Fonte: MPA/Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof)
RONDÔNIA 2
Área do Estado 237.576 km² Área alagada (ha) 11.137,52 Produção atual (t) 66.825,14 Projeção de produção anual (t) em 5 anos 250 mil* * Governador Confúcio Moura
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² Fonte: Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental -SEDAM, abril 2014/
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Alguma coisa acontece no Acre Com o funcionamento integral previsto para este ano, a Peixes da Amazônia atrai cada vez mais investimentos e fermenta um boom na piscicultura que promete transcender as fronteiras nacionais Texto e fotos: Thais Ito*
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A
s construções predominantemente baixas de Rio Branco (AC) cortam rasantes o ar quente de fevereiro. Deixo a capital acriana através de hectares de pasto de gado pela rodovia BR-364, de onde vejo um enorme galpão branco com altura equivalente a um prédio de oito andares despontando altivo na altura do quilômetro 30, sentido Rondônia. É o prenúncio de uma grandiosa impressão para muitos visitantes, entre eles o presidente do Banco da Amazônia, instituição responsável pelo financiamento de R$ 18,4 milhões do complexo industrial que engloba a alta edificação, a Peixes da Amazônia. Inaugurado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva há menos de dois anos, o complexo reuniu investimentos na ordem de R$ 78 milhões para levantar um centro de criação de alevinos, 128 tanques de reprodução de peixes, uma fábri-
ca de ração voltada especialmente para as três espécies que serão reproduzidas ali – pirarucu, pintado e tambaqui – e um frigorífico prestes a iniciar suas operações no processamento de cortes e filés.
Acre, o complexo é fruto de um projeto de integração na piscicultura que promete alavancar não só a atividade no Estado, mas o mercado nacional e a capacidade de o Brasil atender a demanda internacional.
As lufadas de otimismo e entusiasmo que o novo empreendimento emana não se abalam nem mesmo com as trágicas notícias de enchentes da época. Entre uma pancada e outra de chuva, o céu se abria sereno e encorpado por um rebanho de nuvens robustas. Sob essa paisagem digna de um quadro do pintor surrealista René Magritte, a reportagem da Seafood Brasil acompanhou a visita às instalações junto ao governador do Acre, Sebastião Viana, secretários do Estado e Walmir Rossi, do Banco da Amazônia.
O projeto envolve ativamente piscicultores de pequeno, médio e de grande porte, o fundo de Kaeté Investimentos e a Agência de Negócios do Estado do Acre (ANAC). A ideia é disponibilizar os principais insumos - alevinos e ração com tecnologia de ponta - aos produtores e garantir a compra, processamento e comercialização dos peixes gordos. Em fevereiro, o frigorífico era a única unidade que faltava iniciar suas operações, mas ainda em março deveria iniciar as operações.
Na ocasião, o presidente do banco, “extremamente impressionado”, sinalizou a possível aprovação de mais R$ 32 milhões para financiar a segunda etapa da empreitada. Iniciado pelo Governo do
“Tem um altíssimo nível de tecnologia e é um exemplo muito positivo de integração entre o poder público e a iniciativa privada. Vai movimentar uma cadeia muito grande - desde produtores
de peixes até de grãos para a fábrica de ração. O Banco deve apoiar a segunda fase, que envolve complementos à fábrica de ração, capital de giro, máquinas, veículos”, destacou Rossi, entusiasmado com a possibilidade futura de o frigorífico produzir nuggets e hambúrgueres de peixe. Rossi, o governador Tião – como é conhecido – e toda a comitiva caminharam agitados pela moderna área de produção de alevinos, que conta com a consultoria técnica da Projeto Pacu Aquicultura e é gerenciada pelo zootecnista Jacob Kehdi. Jacob se dividia
entre apresentar a área aos visitantes, cada vez mais frequentes e diversificados – “até freiras já vieram”, surpreende-se o gerente –, e finalizar a venda e as orientações a produtores que já se abastecem no complexo. Um deles era João Batista da Silva Carvalho, que estava realizando sua segunda aquisição de alevinos no complexo. Embora receoso, admitiu haver dobrado o volume da compra desta vez e sinalizou a intenção de adquirir ração quando fosse disponibilizada. “Antes não adiantava produzir tanto, pois não era certeza que conseguiríamos mercado para vender”, contou.
Essa é uma das debilidades que a Peixes pretende remediar com seu frigorífico. Carentes de um mercado que absorvesse sua produção com mais estabilidade, os piscicultores do Estado dão sinais de maior confiança e segurança para investir na atividade diante da emergente indústria da Peixes, com capacidade de processamento prevista de 20 mil toneladas anuais, a maior do setor no Estado.
A projeção do Complexo Outro trunfo do projeto será a consolidação da regularidade de oferta, segundo Fábio Vaz, diretor-presidente indicado pelo fundo Kaeté para estar à frente da Peixes da Amazônia S.A. - a sociedade anônima de capital fechado que administra o complexo.
Em visita ao complexo industrial da Peixes, o presidente do Banco da Amazônia (de gravata preta, à direita do governador do Acre, Tião Viana) sinaliza a provável aprovação de um novo financiamento, na ordem de R$ 32 milhões
Experimente - Assinante da revista Seafood Brasil terá 90 dias de degustação.
cadastra-se no www.consultalegal.com.br/experimente O complexo conta com 128 tanques de reprodução e o maior frigorífico do Estado, com capacidade para processar 20 mil toneladas por ano
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Com consultoria técnica da Projeto Pacu Aquicultura, o Centro de Alevinagem da Peixes da Amazônia produz, a princípio, alevinos de pirarucu, pintado e tambaqui, mas sinaliza a possibilidade de incluir outras espécies, como o filhote “Nas experiências que vimos pelo Brasil percebemos que uma das dificuldades é a falta de regularidade na entrega, provocada por preços que não satisfazem, ou falta de vínculos e contratos sólidos, o que acaba desestimulando a produção”, explica.
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Vaz, marido discreto da ex-presidenciável Marina Silva, não toca no nome da esposa em nenhum momento. Por outro lado, fala abertamente de suas impressões sobre o projeto. “No começo, tive medo”, admite. Quando iniciaram o plano de negócio era quase que determinante exportar. No entanto, o volume de demandas o tranquilizou – “Já recebemos pedidos até do Nordeste e do Centro-Oeste” e “vamos atender 100% da rede de supermercados Araújo, que possui oito lojas no Acre”, segundo comentou. Estima-se que o Complexo de Piscicultura Peixes da Amazônia atingirá um lucro líquido anual de R$ 27,8 milhões quando atingir a maturidade da operação integral, segundo o plano de negócios inicial elaborado pela Fundação Getúlio Vargas. De acordo com Vaz, a previsão é que isso ocorra até 2018. Com a ração especializada, a expectativa é aumentar de 20% a 30% a produtividade do tambaqui e do pintado. “No caso do pirarucu, esperamos dobrá-la; de 8 toneladas por hectare
para 20 toneladas”, afirma Ângelo Pieretti, gerente de produção primária da Peixes. Neste ano, com a ativação do frigorífico, a cadeia produtiva será afinada, como num ano de “projeto-piloto”. Por enquanto, os alevinos são vendidos para todos, mas a tendência é restringir cada vez mais para contratos de fidelização, através dos quais o produtor adquirirá os filhotes de peixes e a ração de maneira subsidiada e terá a garantia de poder vender ao frigorífico da Peixes. Sobre os planos de exportação, Vaz afirma que ainda não é o foco. “Estamos identificando mercados em parceria com a Apex”, esclarece. Países vizinhos e aqueles banhados pelo Pacífico devem ter prioridade. “Durante muito tempo o Acre virou as costas para o Pacífico, mas agora mudou essa visão, olhando para os dois lados mas com prioridade para cá. Já tem relações de comércio, a estrada, é bem dinâmico.” Em relação à possibilidade de expandir a variedade de peixes, o gerente de operações frigoríficas Jair Batalini é enfático. “Claro, é imprescindível”, lança. Ele e os demais gerentes concordam que é preciso colocar novidades no mercado. “Queremos partir para outras espécies nobres sobre as quais ainda não se tem a tecnologia de produção. O grande próximo passo seria dominar a produção de filhote”, completa Jacob.
De Santos para Rio Branco, o técnico agropecuário Fábio Vaz ocupa o cargo de diretor-presidente da Peixes da Amazônia
Rondônia encontra o Acre Embora tenham visitado projetos de atividades diferentes no Acre, uma comitiva do governo de Rondônia demonstrou grande entusiasmo pela piscicultura acriana. Na sala de espera do gabinete do governador Tião, o café foi servido enquanto a coordenadora de aquicultura rondoniana, Ilce Oliveira, trocava informações sobre a inclusão do peixe na merenda escolar com a vice-governadora do Acre, Nazareth Lambert. A bandeja de copos d’água estava circulando quando Oliveira se levantou para mostrar sua bolsa de couro de pirarucu a Lambert. Ambas concordaram que é preciso aproveitar tudo o que o peixe rende. Rondônia produz cerca de seis vezes mais peixes do que o Acre, que ocupa apenas a 20ª posição nacional, segundo dados do IBGE. Mas ali estavam os rondonianos flertando com futuros acordos de cooperação técnica para o desenvolvimento da piscicultura entre os dois Estados. “Em quatro anos, queremos ser o primeiro colocado na produção de peixes de água doce”, afirmou Tião à Seafood Brasil. Segundo ele, o objetivo é atingir 100 mil toneladas anuais – o que ainda deixaria o Estado em posição inferior a Rondônia, segundo as estimativas do governador rondoniense. Para tanto, Tião destaca o incentivo público à atividade, ressaltando a construção de tanques comunitários e o próprio
A Peixes conta com tecnologia dinamarquesa para produzir rações especializadas com o objetivo de atingir um fator de conversão de 1 kg de ração para 1kg de engorda
Da esq. para a dir.: os gerentes Jair Batalini (frigorífico), Renato Mandotti (fábrica de ração) e Jacob Kehdi (centro de alevinagem)
O governador do Acre, Tião Viana, recebe o vicegovernador de Rondônia, Daniel Pereira, e a coordenadora de aquicultura rondoniana, Ilce Oliveira, que estão elaborando uma proposta de cooperação técnica para a piscicultura entre os dois Estados
complexo, “um sistema integrado entre produtores, banco e a atividade industrial com fidelização para a produção e comercialização de peixes”.
Quem concorda é o gerente Batalini. Entre alguns diferenciais que justificam essa previsão, ele aponta o controle da produção de alevinos e de ração - produzida “com equipamentos dinamarqueses com alto teor de proteína e de gordura, vitaminas, minerais e aminoácidos, formulada especialmente para aumentar a produtividade em espécies nobres e atingir futuramente um fator de conversão de 1kg de ração para 1kg de engorda”, conforme
detalha Renato Mandotti, gerente da fábrica de ração.
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Para o secretário de extensão agroflorestal e produção familiar do Acre, Glenilson Figueiredo, a produção de peixes deve superar outras atividades, como a de gado, e o funcionamento integral da Peixes deve gerar um boom na piscicultura do estado.
“Nosso frigorífico tem equipamentos desenhados de maneira exclusiva, com inovadoras máquinas de corte e de congelamento. É muito voltado para a segurança alimentar e para o mercado de exportação”, acrescenta Batalini. Aliado a tudo isso, ele ressalta que a região conta com águas de alta temperatura, o que estimula o peixe a comer mais e, portan-
O sabor que faz a diferença
Como a Peixes da Amazônia atuará
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A Peixes realiza uma visita técnica ao produtor para avaliar potencial, grau e nível tecnológico e oferecer orientações sobre infraestrutura e produção
Se trocaria a pecuária pela piscicultura, o produtor Acrinaldo (de camisa clara) não tem dúvida: “Com certeza!” to, engordar em menos tempo. “Com a Peixes da Amazônia, o Acre é capaz de crescer e levar os vizinhos juntos”, atesta.
Em cinco anos, peixe passará gado no Acre Nos últimos quatro anos, Acrinaldo Delcimar, pecuarista e empresário de uma construtora, investiu R$7 milhões na nova atividade que incorporou, a piscicultura. Enquanto desfilamos entre os tanques que ele vem construindo em sua propriedade, totalizando até agora 80 hectares de lâminas d’água, ele faz sua aposta: “Acho que em cinco anos o peixe passará o gado no Acre”. – Você deixaria a pecuária pela piscicultura? – pergunto na comodidade do ar condicionado de seu automóvel, enquanto o Sol arde forte sobre os tanques que guardam cerca de 10 mil pirarucus, 67 mil pintados e 400 mil alevinos junior de pintado.
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– Com certeza, sem pensar duas vezes! – sorri o piscicultor, que também é proprietário de aproximadamente mil cabeças de gado.
te - e com menor custo de mão de obra. Embora ainda não utilize a ração da nova fábrica, ele já comemora os bons resultados dos alevinos de pintado que adquiriu do complexo - e é citado com esmero pelo próprio diretor da Peixes. “O Acrinaldo está dando a ração da maneira correta e chegou a 7 meses de engorda - no caso do pintado, a média é de 10 a 12 meses. A produção dele será uma das primeiras de que vamos comprar”, elogia Vaz. O piscicultor sintetiza a confiança que a Peixes busca proporcionar e que outros produtores já haviam expressado. “Agora sinto mais segurança em investir na piscicultura”, garante. Animado com o novo empreendimento, ele aponta as escavadeiras para contar que pretende ampliar as lâminas d’água a um total de 130 hectares até junho. Além disso, ele revela o plano de destinar mais R$ 3 milhões à atividade ainda neste ano.
Contrato de fidelização (no início não será restrito, mas a tendência é focar apenas nos fidelizados a partir do terceiro ano) Produtor adquire alevinos e ração da Peixes e realiza a engorda em sua propriedade Peixes faz o acompanhamento da produção com visitas de assistência técnica Através do frigorífico, a Peixes se encarrega da compra dos peixes gordos, realiza o abate, o processamento e a venda dos produtos finais
O gosto vibrante do Acre O Sol desce e a luminosidade do dia se despede, deixando, no entanto, o calor para trás. Enquanto dirige de volta a Rio Branco para uma reunião na Peixes para definir os preços da ração e do peixe gordo, Delcimar conta que é bisneto do capitão Ciríaco Joaquim de Almeida, personagem histórico que participou da revolução que rendeu ao Acre sua independência da soberania boliviana.
A rentabilidade da piscicultura é um forte atrativo. De acordo com dados do governo acriano, o peixe rende R$ 15 mil por hectare por ano; e o gado, R$ 500. Além disso, o retorno é de um ano na produção de peixe, contra dois ou três no caso da produção de gado, conforme aponta o secretário Glenilson Figueiredo.
Recordo que um dia antes havia passado pelo parque que leva o nome do capitão, na capital acriana. Estava parcialmente alagado, junto a outros lugares como Brasileia - cidade natal do governador Tião que enfrentava o que chamavam de “pior enchente da história” – e Xapuri, onde só pude ver o telhado da casa de Chico Mendes, pois o resto estava submerso.
Ainda na fazenda Palo Verde, de Delcimar, observamos o andar lento do trator que dispara ração através de um canhão para alimentar os peixes uniformemen-
Apesar das cheias, algo naquele Estado vibrava positivamente, quase tão forte e curioso como o formigamento na língua provocado pelo jambu, erva que
entrelaça camarões em um caldo típico local chamado tacacá. Não sei se estava influenciada pelo sabor marcante das castanhas cristalizadas ou pelo encanto do rio Acre passando volumoso sob o olhar e risadas de casais e amigos confraternizando em uma noite cálida. Ou, simplesmente, se estava contagiada pela expectativa de que o projeto de integração da Peixes vingue o tão prometido desenvolvimento coletivo e sustentável. De qualquer maneira, guardo comigo todas essas sensações junto a um brinde: ao Acre e seus bons agouros. *A repórter viajou a convite da Peixes da Amazônia.
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Ueslei Marcelino/MPA
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Rumo às 250 mil toneladas anuais Caldo de bons projetos faz de Rondônia uma potência aquícola emergente, que diariamente assiste à migração de pecuaristas e investidores para o agronegócio do peixe amazônico Texto: Daniela Dias
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N
em bem chego a Porto Velho, sou surpreendida pela chuva. Um tanto mais amena do que previa o noticiário, mas ainda assim uma companheira constante e insistente no primeiro dia de investigação sobre a cadeia da piscicultura no Estado de Rondônia. Seguimos por ruas de casas, galpões e estabelecimentos comerciais, poucos e raros edifícios, até a sede da Biofish Aquicultura. Envolvidos em alguns dos principais projetos da piscicultura rondoniense, os três sócios e irmãos Bezerra de Menezes se tornaram nossos guias nessa jornada. Elaboraram o roteiro e nos acompanharam por três dias em todos os compromissos. Antes da fundação da empresa – em 1996 –, Jenner e Jaire, engenheiros de Pesca formados pela Universidade Federal do Ceará, acreditavam que poderia ser provável e rentável investir
em piscicultura em Rondônia. “Você deve estar louco”, “Como pode dar certo aquicultura onde se pega peixe no tapa?” foram algumas das frases ouvidas por Jenner. Só que os irmãos não contavam apenas com a intuição. A região era adequada devido aos seus abundantes rios, terrenos planos ou semiplanos. Certos do potencial que tinham nas mãos, começaram a produzir alevinos nas proximidades da capital. Mas a tarefa exigiu paciência. Há 20 anos, Rondônia era o reflexo do incentivo recebido nos anos 1970 e 1980 para que habitantes de outras partes do Brasil ocupassem e desenvolvessem a região. Aventureiros, agricultores e pecuaristas migraram em busca de terra farta e incentivos. Proliferaram pequenas, médias e grandes propriedades com foco na agricultura e, principalmente, pecuária. Peixe? Pescava-se no rio. “O começo foi muito complicado
porque tratávamos muitas vezes com aquele produtor rural de pouca visão. Por isso, começamos com projetos pequenos, de até 1 hectare. Convencíamos os proprietários a destinar áreas de alagamento inutilizadas para o gado, subaproveitadas e que não estavam rendendo para poder montar ali a estrutura para a criação dos peixes”, explica Jaire. Ainda que desconfiados, aos fazendeiros não lhes parecia uma má ideia aproveitar as áreas ociosas da fazenda. E foi assim que os produtores rurais passaram a permitir que engenheiros, como Jaire e Jenner, projetassem estruturas para receber os alevinos. Havia terreno e motivos suficientes para que toda loucura fosse perdoada, desde que houvesse sucesso. Enquanto, por um lado, houve uma baixa significativa das espécies nativas nos rios, percebeu-se que a oferta de água – e os alagamentos trazidos pela Usina de Samuel – favoreciam a atividade. Foi assim que a piscicultura começou a ganhar pontos pelo menor impacto ambiental e rentabilidade econômica ainda maior. A construção dos tanques era realizada em áreas já antropizadas, ou seja, que no passado já haviam sido
modificadas pela ação humana. Não seria necessário derrubar mais nada. Em meio a essa evolução, Janine estudou na Inglaterra, tornou-se doutora em Barcelona e se especializou em Tóquio. Trabalhou em multinacionais, mas viu na empresa dos irmãos uma oportunidade de fazer o negócio crescer. Jaire então assumiu a diretoria técnica, Jenner se tornou diretor de projetos e ela assumiu marketing e relações internacionais. Juntos, criaram serviços de consultoria e implementação de pisciculturas comerciais em todas as suas etapas. A qualificação técnica é considerada por eles item do qual não se pode abrir mão. Criticam aqueles produtores que, sozinhos, buscaram profissionais “pouco capacitados” – em suas palavras – e tiveram perdas. Jaire conta que foi essa a brecha para proporcionar um trabalho mais especializado, oferecendo não apenas os alevinos, mas orientando todo o processo para se montar uma boa estrutura organizada, com canais, sistema de drenagem e
bombeamento de água, além de controlar o peso e o crescimento dos animais, buscando um ambiente controlado.
Quem investe? O potencial já é conhecido por grandes investidores. Especialmente nos últimos cinco anos, médicos, grandes grupos e outros perfis não necessariamente ligados ao agronegócio buscam entrar no ramo. A Biofish notou este movimento. Antes concentrada em projetos entre um e quatro hectares, agora trabalha a partir de 10 hectares, com possibilidade de chegar a 400 hectares e uma média de 30 e 50. Cada vez mais o foco é em grandes investidores, com projetos acima de 50 hectares. A empresa entra como administradora ou até sócia do negócio, conduzindo completamente toda a sua implementação e o gerenciamento das fazendas. “Se a pessoa quiser morar em outro Estado, pode acompanhar tudo por planilhas”, explica Jaire. Recursos assim colaboram com o foco da empresa em construir pisciculturas totalmente comerciais, o que inclui uma produção
Daniela Dias/Seafood Brasil
Os irmãos Jaire, Janine e Jenner da Biofish Aquicultura exibem réplicas perfeitas de peixes da região
exclusiva de peixes com o aproveitamento máximo do terreno útil, o que pode variar de 50% a 80% da área. E o payback – retorno financeiro – chega em dois anos. Um destes clientes é a fazenda Garça, do grupo Rovema, que está no nosso roteiro. No caminho, passamos para buscar Jean Guidin, gerente institucional e herdeiro do grupo – dono de negócios variados: venda e manutenção de veículos, revenda de combustíveis, geradores de energia, pecuária de corte e reprodução assistida de bovinos. De fato, não é difícil notar a marca Rovema estampada em diversos estabelecimentos nas ruas de Porto Velho. Jean me conta que o grupo passou a investir em aquicultura em 2014. Inicialmente, a projeção era construir 33 hectares, mas resolveu ampliar esse número para 110 hectares. “Era um momento propício. Estamos há 15 anos na pecuária, já temos essa visão do agronegócio, então percebemos que as áreas têm potencial pra isso”, diz. Nem bem se abrem as porteiras da fazenda, o tempo bom dá lugar a uma garoa insistente, seguida de chuva. Nada que atrapalhe a constatação de que o projeto envolve diversas estruturas básicas, replicadas em boa parte da fazenda. Trata-se de um tanque para alevinos, outro para a engorda e um canal para drenagem. Cada 10 hectares de tanques para engorda são acompanhados por um tanque de 1 hectare de alevinos. A água é bombeada do rio que banha a fazenda e chega através de tubulação ao canal. Daí, por gravidade e, de acordo com o mecanismo de controle, desloca-se entre os tanques. A previsão é que cada um deles produza 14 toneladas de tambaqui por ciclo de seis meses, ou seja, 28 toneladas por
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A transição da cultura do boi para a do peixe só acontece quando o resultado se sente no bolso. Janine e Jaire explicam que, de acordo com seus levantamentos, atualmente, 1 hectare de piscicultura em Rondônia, em condições ideais, permite um rendimento equivalente a aproximadamente 75 hectares de pasto. “Há que se considerar que o tempo para o boi ficar pronto é de 2,5 anos, enquanto o peixe demora seis meses. Você consegue formar 1 boi por hectare/ano. Mas, em 12 meses, você tira 16 toneladas de peixe. Nesse mesmo 1 hectare, em dois anos e meio, seria então 40 toneladas de peixe, no mesmo espaço”, explica Janine, defendendo que estes dados se baseiam em projetos criados pela Biofish. Ou seja, no cenário ideal, para cada safra de boi seriam 5 safras de peixe.
Divulgação/Biofish
Por que o boi vira peixe?
Daniela Dias/Seafood Brasil
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No grupo Rovema, telas protegem os alevinos contra os predadores
ano. Os anfitriões explicam que os alevinos ficam três meses no tanque e só depois vão pra engorda, onde passam mais oito meses. Isso conforme a prática de 1,5 ciclo por ano. A fazenda irá comercializar os peixes para o Zaltana Pescados, frigorífico de Ariquemes.
Ariquemes: a maior produção regional
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Após um rápido almoço, partimos em direção a Ariquemes, uma simpática cidade que fica a 202,4 km da capital. Ela, com seus oito municípios satélites, concentra a maior produção de peixe regional em volume de toneladas. No caminho, conhecemos uma das cartas na manga da Biofish. Guardado a sete chaves, o projeto está sendo construído dentro de um novo sistema que pretende aumentar uma safra por ano. O chamado método trifásico pretende alcançar este resultado com o mesmo aproveitamento de terreno e pouco investimento. É a partir daqui, Jenner, que vive em Ariquemes, se junta conosco na jornada. A próxima parada é num projeto de modelo tradicional, já implementado e em funcionamento, com 40 hectares.
Cada tanque tem em média 1,2 hectares. Já é possível observar os pintados nadando nos tanques de engorda, prontos para a despesca.
como nem todos têm conhecimento técnico adequado, damos essa assistência. Também oferecemos curso de capacitação aqui na sede”, conta Glenda.
Por fim, chegamos à Ariquemes. O jantar tem tambaqui ao molho de alcaparras, irrecusável. Talvez seja o tempero, a simpatia do dono do restaurante ou o sabor realmente especial, mas o peixe não demorou nem dez minutos no prato.
Robson Guimarães, diretor da Bigsal, contou por e-mail que a empresa é a segunda maior fabricante do Estado. Hoje, a piscicultura corresponde a 25% do seu faturamento. “Iniciamos a produção de ração de peixes em 2009 e tivemos um crescimento constante até 2013, quando houve um superaquecimento do mercado”. Por isso, em 2014, as vendas caíram 25%, já que muitos desistiram da atividade por não conhecerem o negócio e terem prejuízo.
No dia seguinte, saímos logo às 7h30 da manhã e rumamos para Ji-Paraná, onde está a Bigsal Nutrição Animal. A empresa conta com uma área construída de 8.000 m² – ainda em 2015 serão acrescentados cerca de 3.000 m² a essa extensão. Sua capacidade é 3.600 toneladas/mês, das quais 1.400 toneladas/ mês correspondem ao que se produz de ração para pescado. 70% da ração produzida pela Bigsal fica em Rondônia, 19% vai para o Acre, Roraima compra 8% e Amazonas 3%. Fui recebida por Glenda Alves, médica veterinária, e Thaísa Sanches, do marketing. Elas explicaram que a empresa dispõe de cerca de 100 representantes orientados a ensinar o uso correto da ração. “Há um grande contingente de pequenos e médios produtores que compram de nós, mas
Depois do elo da cadeia voltado à nutrição, pegamos a rota de volta a Ariquemes para conhecer outro elo: o processamento. O Zaltana Pescados é o único frigorífico atualmente em funcionamento em Rondônia – o Santa Clara, que fica em Vilhena, está temporariamente fechado. É uma sociedade entre Wilson Bertoli, Kléber Bernardes, Pedro Zyrondi e Victor Leite, entre os quais três estão entre os maiores produtores da região. Victor nos atendeu sem cerimônia em sua sala para explicar que o frigorífico compra de pequenos, médios e grandes
E o desafio é grande. “Faz pouco tempo ainda estávamos aprendendo a lidar com o peixe embalado e congelado, o mercado desconhecia o produto e ficava mais complicado. Foi praticamente uma operação de guerra”. Hoje, já atendem empresas como o Grupo Pão de Açúcar, Atacadão, Gonçalves (RO), Bom Peixe (SP) e DB (RR), entre outras, com presença em SP, RJ, MG, MT, MS, RO, AM, PA, AC, GO, SC e RS. O esforço se reflete nos números. “No ano passado passamos aqui pela planta 1000 toneladas, das quais cerca de 500 toneladas ou mais foram para Manaus e o resto para o Sul.” Para ser ter uma ideia, só no ano passado, as vendas chegaram a R$ 22 milhões, com estimativa para 2015 de R$ 33 milhões. O processamento do frigorífico reflete a inclinação da região para o tambaqui, que corresponde a 90% do total. “É um peixe excelente, você o abre em duas bandas como se fosse um
A Bigsal está entre as três maiores fabricantes do Estado e oferece cursos de capacitação para os produtores locais salmão, mais fácil de criar e que tem altíssima aceitação, com valor comercial alto”, conta. O pintado fica com 8%. O pirarucu – embora tenha um porte louvável, a carne macia e saborosa, um couro interessante para ser aproveitado pela indústria e seja projetado para todo o País como o peixe da Amazônia –, na região não chega a despontar e corresponde a cerca de 2% do que o Zaltana fatura. Descubro que o Zaltana vai ser ampliado. Segundo Victor, há muitas oportunidades: o alto preço do peixe importado, uma nova doença que atinge o salmão chileno e o estímulo governamental à atividade. “Estamos assinando um financiamento com Banco da Amazônia, um projeto para a ampliação dessas instalações frigoríficas. Dobraremos o que temos hoje aqui”. E as projeções preveem também o reaproveitamento das sobras – vísceras, cabeça. etc – para a fabricação de farinha de peixe, a ser utilizada em uma fábrica própria de ração, nos planos dos empresários. Não muito longe dali, encontramos outro sócio da Zaltana que também responde como fundador da WS, especializada em logística e comercialização de pescado. Wilson Bertoli, ou como é conhecido na região, Wilson Peixeiro, nos leva para conhecer o entreposto. Ali, montanhas de gelo eram formadas dentro dos caminhões, empilhadas por
trabalhadores rápidos e extremamente concentrados. Outros já faziam a conferência do pescado fresco, levavam-no para a balança e o preparavam para chegar ao seu destino: Manaus – único local abastecido pela WS além de Porto Velho –, que consome cerca de 2 mil toneladas de peixe por mês só de Rondônia. Disso a WS responde por aproximadamente 400 toneladas. “Cerca de 70% do peixe consumido pelos habitantes de Manaus é proveniente de Rondônia”, diz Bertoli. Além da WS, entre atravessadores e empresas pequenas há cerca de 20 compradores que fazem o mesmo trajeto. Também no caso de Wilson, o crescimento é notório. “Há vinte anos, eu vendia 300 toneladas por ano. Há 12 anos, eram 500 toneladas. Hoje estamos em 5 mil toneladas/ano”, conta.
Financiamento e apoio institucional O terceiro e último dia dessa jornada por Rondônia acontece de volta à Porto Velho, em encontro promovido pelo Banco da Amazônia do qual participaram as principais autoridades do Estado e empreendedores locais de atividades distintas. Na cerimônia foram anunciados os investimentos realizados nos últimos dois anos, firmadas novas parcerias com os empresários e assinadas cartas de intenção de financiamento com os recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO). Segundo
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A história da empresa remonta a 2005. O que era um entreposto de peixe in natura voltado ao mercado de Manaus teve uma reviravolta em 2013 devido a um superaquecimento da produção. As soluções para novos mercados precisavam ser mais ousadas e criativas, então a opção foi atuar no beneficiamento. “Quando o frigorífico começou, processávamos em torno de 10 toneladas por dia, o que se mostrou logo nos primeiros meses insuficiente para atender a esse mercado. Dobramos então a capacidade instalada para o que ela representa hoje. Atualmente, processamos cerca de 350 a 400 toneladas de peixe por mês”, relata Leite.
Daniela Dias/Seafood Brasil
produtores de todo o Estado. Embora correspondam a 48% dos fornecedores, os pequenos efetivamente colaboram em produção com apenas de 15% a 20% do total que chega à Zaltana. “Vamos buscar esse peixe num raio de 200 km a 250 km”, conta.
Capa
No fim do evento, rapidamente falamos com o o governador do Estado, Confúcio Moura (que teve o mandato cassado por abuso de poder econômico, mas irá recorrer), o superintendente do Banco da Amazônia, Edmar Souza, e o secretário de Estado de Agricultura, Pecuária, Desenvolvimento e Regularização Fundiária (Seagri), Evandro Padovani.
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Moura crê que a aquicultura tem espaço para chegar a uma produção de 250 mil toneladas/ano no Estado em até cinco anos. “E isso vai acontecer com o incentivo do governo, os bancos abrindo seus créditos para este setor, a instalação de fábricas de ração e o processamento acontecendo aqui mesmo no Estado. É um trabalho a ser feito em 2015 e se refletirá no futuro”, acredita. Já o secretário reforça que a piscicultura é uma prioridade. Motivo pelo qual há um incentivo não apenas ao fomento, mas também para regularizar com mais eficiência a questão fundiária e as licença ambientais. A Secretaria de Meio Ambiente (SEDAM) estabeleceu que as propriedades com até cinco hectares de lâmina de água podem conseguir passar mais rápido pelo processo de licenciamento, principalmente para a agricultura familiar, pelo menor impacto ambiental. “Nós temos linhas de crédito específicas para que se possa fazer um investimento em máquinas, sistemas de escavação, apoio de associações e cooperativas”, afirma. Considerando-se que 85% das propriedades do Estado são pequenas, por sua vez, o superintendente do banco da Amazônia acredita que,
Divulgação/Zaltana
dados do Banco Central, a participação do Banco da Amazônia no crédito de fomento do Estado de Rondônia é de 69,46% e a parceria FNO- Pronaf investiu R$ 140,6 milhões em 2014. Para 2015, estão programados cerca de R$ 170 milhões em recursos para dinamizar o setor.
Zaltana Pescados: de um entreposto regional a um frigorífico com capacidade de processamento de 400 toneladas por mês apesar de ter um perfil variado, o piscicultor que busca as linhas de crédito tem porte menor. “Também somos procurados pelo grande produtor, há casos de mais de 300 hectares só de área produtiva. Mas nossa maior concentração no Estado ainda é o pequeno produtor rural”, diz. Depois da reunião, volto a me encontrar com os irmãos Bezerra de Menezes. Juntos, saíamos para conhecer o que eles chamam de unidade de pesquisa e produção de alevinos da Biofish (pavilhão de incubação e base de alevinagem). Risonho, Jenner conta das espécies do portfólio como como pacu, piau, curimatã, pirapitinga, jatuarana, pirarucu e pintado, mas confessa que o foco está no tambaqui. Outro projeto inovador sobre essa espécie está em andamento no local, mas os irmãos pedem sigilo. A área é ampla, composta por tanques de alevinagem e laboratório, que eles preferem chamar de Pavilhão de Incubação (PIC) – é ali que acontece a reprodução in vitro. A sobrevivência das larvas, para que virem alevinos, têm índice que pode chegar a 70%. “E olha eu que aprendi na faculdade que um índice bom é 30%”, conta Jenner. Estes alevinos são vendidos a produtores locais e entregues pela própria Biofish. Seu acondicionamento é feito em caixas de transporte nas quais cabem 30 mil unidades. Mas há produtores que vão buscá-los no local e os levam em sacos plásticos inflados com oxigênio.
Pergunto sobre o futuro. Eles têm muitos planos. Está em estudo a construção de uma nova base de alevinagem na região de Ariquemes. O local não contará com Pavilhão de Incubação, mas somente estrutura para o desenvolvimento das larvas“. “Aqui, a gente produz mais de 5 milhões de alevinos todo ano. Continuaremos com o laboratório nessa unidade, mas preciso de mais tanques para as larvas porque minha produção está muito além da capacidade daqui. Lá haverá o dobro dessa capacidade. Sem contar que estará perto de Ariquemes, onde é maior a operação de venda e isso diminuirá o custo logístico também”, completa Jenner. Percebo que Rondônia tem potencial para ser um grande polo de aquicultura, embora ainda haja muito a desenvolver. O susto de 2013, quando Manaus já não absorvia mais a crescente produção local, gerou crise mas criou oportunidades para quem aposta no aprimoramento de seus produtos e na variedade de praças. Dois dias depois do nosso retorno a São Paulo, recebemos a notícia: três frigoríficos de beneficiamento particulares estão projetados para este ano: em Porto Velho, Tapuã do Oeste e Ji-Paraná. É mais um indicativo de que podemos esperar para breve que os mistérios amazônicos passem a conquistar as refeições de todo o País.
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Artigo
Planejamento jurídico para sucessão em empresas familiares de pescado Para uma empresa se sustentar como familiar no mercado competitivo do século XXI, deve haver uma sinergia e um relacionamento estreito entre a família e a empresa. (Chua, Christman e Steier, 2003, p. 331)
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Texto: Robson Almeida Souza e Marco Cantuária Ribeiro*
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o Brasil atual, as empresas familiares encontram pouco espaço de crescimento ante os poderosos grupos empresariais em atuação no mercado, em que pese abrangerem grande parte da cadeia produtiva no Brasil e no mundo. Um exemplo típico é a indústria da pesca, que sedimentou sua história baseada em pequenas e médias empresas familiares, passando, atualmente pela segunda e terceira
geração familiar no controle diretivo, e, responsáveis por números absolutos na importante missão de abastecimento do mercado consumidor de pescado no País. De acordo com o Sebrae, cerca de 90% das empresas constituídas no Brasil são familiares, apenas 30% chegam ao controle empresarial da segunda geração e somente 5% nas mãos da terceira geração. Contudo, alguns
destes bravos empreendedores conseguiram ultrapassar a difícil barreira da concorrência, bem como as inimagináveis formas de política comercial e tributária às quais o governo submete este segmento e ainda assim obtiveram sucesso em suas atividades, mas lhe sendo exigida total disposição e energia voltadas quase que exclusivamente para a administração do seu negócio, desviando ao final seu foco fundamental de planejamento da sucessão.
Neste particular, temos que o brasileiro, como gestor empresarial, não tem o costume de fazer seu planejamento e nem de sua empresa, quanto mais tratar o post-mortem como um gestor extraordinário faria. Isso terá reflexo quanto à destinação que será dada ao patrimônio que muitas vezes o empresário levou toda uma vida para construir. Nós, brasileiros, nem mesmo nos habituamos a fazer um simples testamento para dar destinação a nossos bens pessoais, deixando aos herdeiros a difícil tarefa de decidir o que fazer, e ainda, arcando com honorários e despesas que acabam sendo elevados, dada a complexidade dos trâmites dos processos de inventário. Essa “falha de costume” na maioria das vezes acarreta o que costumamos definir como confusão sucessória, oca-
sionando muitas vezes a dilapidação do patrimônio. Joga-se no ralo da história anos de trabalho e muito suor, quer seja pela falta de conhecimento da administração do negócio, quer seja pela falta de união entre os herdeiros, sendo este o motivo mais comum da derrocada das empresas familiares. Daí a fundamental importância do planejamento sucessório em vida, ato que não demanda investimento de vultosa quantia e nem desvirtua o empresário do foco do seu negócio, bastando apenas a contratação de profissional jurídico qualificado para lhe apresentar as opções legais aplicáveis ao caso.
das em vida pelo fundador do negócio que se utilizará de mecanismos legais para dar o rumo que desejar à sua empresa quando não mais puder administrar o negócio, quer seja por motivo de aposentadoria, doença ou por morte. Assim, para que este processo de transição de liderança para a nova geração se dê de forma tranquila, ou ao menos mais amena, é indispensável que se adote um planejamento sucessório, com soluções jurídicas voltadas para o direito societário e de sucessão, elementos chave para perpetuação da empresa familiar em longo prazo e com sucesso.
Outro ponto importante é que soluções jurídicas de planejamento sucessório estão hoje muito mais acessíveis do que há tempos atrás, quando apenas empresas com grande capacidade financeira possuíam condições de contratar tal serviço. Em breve imersão nos benefícios do planejamento sucessório de empresas familiares, destacamos a tranquilidade do fundador do negócio ante a provável continuidade de sua empresa, haja vista o prévio planejamento post-mortem; a união dos herdeiros, tendo em vista as disposições transitórias pré-estabeleci-
*Advogados e sócios do escritório ASCR Sociedade de Advogados, especialistas em Direito Empresarial e idealizadores da ferramenta CONSULTA LEGAL (Acesse: bit.ly/ CONSULTALEGAL). Contatos: robson@ascr.adv. br; marco@ascr.adv.br
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Com efeito, no ensinamento de Édio Passos, Renata Bernhoeft e Renato Bernhoeft, a sucessão da empresa familiar é definida como “o processo pelo qual ocorre a transição do fundador ou dos líderes da atual geração nas esferas da família, do patrimônio e da empresa para lideranças da nova geração” (PASSOS, Édio; BERNHOEFT, Renata; BENHOEFT, Renato. Família, Família, Negócios à Parte. São Paulo: Gente. 2006).
Ponto de Venda
A primeira impressão é a que fisga A exposição do pescado no PDV é muito mais do que uma venda; é um jogo de sedução em que o objetivo é deixar a melhor impressão no comprador Texto: Léo Martins
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“F
ilhão, a gente come primeiro com os olhos. A aparência é que nos dá vontade e fome”. Essa frase é do Paulo, tio deste repórter, um cozinheiro de mão cheia. Ele sabe que a aparência de um prato determina a vontade de experimentá-lo. Na mesma filosofia, podemos dizer que a apresentação de um pescado, fresco ou congelado, é a principal arma para fazer o consumidor parar, analisar, ter inclinação de compra e, depois, consumir. Para entender como a exposição do pescado influencia em uma venda, é
preciso compreender como o mercado brasileiro trata o produto no varejo. Para redes como a Cencosud Brasil, a apresentação de pescado no Brasil possui ótimas práticas de higiene, sortimento e disposição. E um detalhe importante: aqui o desenvolvimento das embalagens é baseado em transparência, o que dá a sensação de segurança e facilita a avaliação do comprador. Em comparação com o mercado exterior, Emilio Barletta, coordenador de peixaria do supermercado St. Marche, aponta que a principal diferença por
aqui é que expomos tanto os peixes inteiros como os fracionados. Já em outros países, por conta da preferência do consumidor, o filé congelado domina o mercado. “Mas isso é uma questão cultural: o brasileiro gosta de ter todas essas possibilidades à mão”, opina Barletta, que ainda lembra que no Brasil não existe uma norma ou padrão para exposição do pescado. Mesmo assim, os desafios para a boa exibição podem ser considerados os mesmos no Brasil e em outros países. Para Barletta, o grande desafio no ponto de venda (PDV) é ter uma apre-
Já Edemilson Perroud, consultor técnico do Grupo Pão de Açúcar (GPA), destaca a necessidade de limpeza do local. Ela deve ser feita de maneira correta para que a exibição não seja prejudicada. Na área de circulação do cliente, por exemplo, não deve haver água no piso, pois esse cenário é associado a cheiro ruim e higiene inadequada. “O maior desafio em uma loja é manter limpas as áreas internas, pois a cada peixe limpo para o comprador, a mesa e utensílios precisam ser lavados”, aponta. “A higienização é essencial para fidelização do comprador.” Segundo
Cada um no seu pescado
A exposição para pescados frescos e congelados não pode ser a mesma. Edemilson Perroud, consultor técnico do Grupo Pão de Açúcar, aponta as diferenças: Pescado Fresco: a exposição é realizada em mesas de gelo e balcões refrigerados de -1C° à +1C°. Pescado Congelado: a exposição é realizada em equipamentos (ilhas horizontais e portas verticais), congelados a partir de -18C° ou mais frio.
Um dos grandes desafios do PDV é ter uma apresentação inteligente e que mostre toda a diversidade dos produtos no mesmo espaço
Barletta, no St. Marche a higiene é o principal elemento do local de exibição de pescado fresco. “O local deve ser limpo, agradável ao olhar e ao olfato. Peixes embalados em bandejas e bem expostos garantem parte da venda.” Alguns elementos específicos do produto chamam mais a atenção do consumidor no PDV. “A aparência do produto e o frescor são especialmente importantes em pescado. A exposição deve transmitir sensação agradável e odor característico suave”, opina Perroud. Já na visão de Barletta, cor, diversidade e brilho criam uma sensação de variedade ao comprador. “No entanto, devemos considerar que muitas vezes, no caso do pescado fresco, os peixes ficam escondidos por causa da quantidade razoável de gelo que precisamos colocar em cima deles para conservação”, comenta. Para evitar isso, o especialista indica placas informativas em cada item, sinalizando o nome do pescado e dando dicas de consumo. O uso do gelo é crítico também no caso dos congelados. O glazing, camada de gelo superficial, precisa garantir apenas o aspecto físico do peixe e manter a mesma quantidade de fluido corporal do produto quando fresco. É preciso ficar atento à movimentação dos produtos dentro do balcão, que podem fazer com que esse gelo se solte, causando aspecto ruim ao produto. No quesito temperatura, nenhum elemento da apresentação tem mais importância do que os equipamentos. Afinal, quem “segura a bronca” da
Curiosidades dos tipos de pescado Fresco Nos equipamentos é preciso garantir a temperatura do produto até 2C°. No contorno do balcão precisa ser feita uma barreira de gelo onde o pescado deverá ficar abaixo deste nível - repondo gelo com frequência. Por estarmos em um País tropical, esse é um grande desafio, principalmente nas cidades mais quentes, como o Rio de Janeiro. Fazer uma barreira física de gelo para separar as famílias - água doce, água salgada, crustáceos e moluscos, filés e postas -, evitando a contaminação cruzada nos expositores. A validade é de 03 dias e a exposição 48 horas, mas diariamente analisamos o frescor e as condições de venda dos produtos. É muito comum o cliente querer contato com o pescado para verificar se os olhos dos peixes estão firmes ou se as guelras estão vermelhas. Para evitar a contaminação da matéria-prima pelo toque, é importante investir em processos que mantenham os produtos sempre frescos, além de promover um bom atendimento dos colaboradores para tirar as dúvidas e garantir a confiança do consumidor.
Congelados A temperatura dos equipamentos deve ser de -18C° ou mais frio, para garantir a qualidade e manter as caraterísticas do produto congelado. No caso de expositores verticais com portas, eles devem ser iluminados, o que valoriza o produto geralmente de valor agregado mais alto como frutos do mar congelados, bacalhau dessalgado etc. Os camarões, por exemplo, descongelam com muita facilidade, por isso os equipamentos devem ter manutenção constante e preventiva. Fonte: Edemilson Perroud, consultor técnico do Grupo Pão de Açúcar
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sentação inteligente e que mostre toda a diversidade dos produtos no mesmo espaço. “No entanto, como devemos seguir os padrões definidos pela empresa, chegar ao objetivo de dar continuidade a esse tipo de exposição se torna um desafio ainda maior.” O sortimento de produtos adequados para cada tipo de loja e a manutenção da qualidade são pontos-chave para fidelizar o cliente.
Arquivo/Seafood Brasil
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Cencosud crê que a apresentação de pescado no Brasil possui ótimas práticas de higiene, sortimento e disposição
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Cencosud Brasil/Divulgação
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Ponto de Venda
Equipamentos possuem a importante função de não permitir oscilações de temperatura nos produtos congelados
Ter o preço dos produtos bem sinalizada e clara para o consumidor, é um dos mandamentos para a boa apresentação
temperatura é justamente o maquinário, que tem a missão de não permitir oscilações. Caso contrário, o glazing pode derreter e alterar o aspecto do peixe. Além disso, o processo constante de derretimento e congelamento pode gerar a proliferação de bactérias, influenciando não só no aspecto visual como na segurança alimentar do produto.
qualidade e é determinante para que o consumidor prefira uma marca em detrimento a outra”, opina. “Ela tem papel fundamental na adequada conservação do produto e é uma parte muito importante da estratégia de marketing da empresa”, reforça Paulo Blanco, gerente geral da Maquiplast.
E é justamente no desempenho dos equipamentos que a Cencosud Brasil acredita que a exposição de peixes no varejo brasileiro precisa melhorar. Em geral, os peixes são congelados logo após a produção e devem ser mantidos assim até chegar à casa dos consumidores, desafio esse que deve ser superado pela tecnologia. E nesse ponto, somente bons equipamentos vão garantir que o produto não descongele e não perca nenhuma propriedade.
Ainda na linha de vendas, o gerente explica que a embalagem desempenha a função de atrair a atenção do comprador no PDV e transmitir a percepção de confiança e qualidade necessárias para se conquistar um novo cliente. Para escolher o melhor formato, o principal é avaliar a forma de exibição no PDV. “Se forem freezers horizontais, o ideal é se trabalhar com sacos convencionais. Agora se o freezer for vertical, o uso da embalagem stand-up é a mais adequada”, relata Blanco.
De nada adianta ter higiene, qualidade, gelo e um sortimento variado no ponto de venda se a apresentação individual não for impecável. Luiz Henrique Nalini, engenheiro de aplicação da Ulma Packing, acredita que mais do que preservar o produto, a embalagem é responsável não só por sua venda, mas também por refletir a imagem da empresa que o produziu. “Uma boa embalagem vende credibilidade, seriedade, compromisso com a
Para Nalini, antes de escolher o melhor tipo, é importante analisar as tendências de mercado e o perfil do consumidor alvo. “Esses pontos são determinantes para a identificação da melhor embalagem a ser empregada para um determinado produto”, comenta. Em sua visão, atualmente, estamos vivenciando um momento de transformação cultural do público, seja pelo novo perfil familiar ou por força de alguma legislação. “Por esse motivo, produtos com porções individuais
Para conseguir chamar mais ainda a atenção do consumidor, criatividade na decoração do PDV também é uma boa pedida e facilidade de preparo são cada vez mais apreciados pelo público.” Observadas as questões comerciais, é preciso avaliar também o processo de fabricação, a técnica de conservação empregada e a logística do produto, desde o momento em que ele é produzido até sua apresentação no PDV. “Por isso, acredito que a embalagem ideal é aquela que atende o objetivo comercial, garantindo sua integridade física durante o tempo logístico e de exibição no varejo”, finaliza Nalini.
Separar é o caminho Para ter êxito na exposição do seu pescado, o Cencosud Brasil diz que em primeiro lugar, é importante que os produtos do PDV estejam separados por tipo de pescado, bem como a forma mais comum de preparo. E uma boa dica para isso é reunir os peixes que costumam ser assados de um lado, seguidos dos cozidos e os fritos do outro. Já os camarões, por exemplo, devem ser separados por tamanho e entre as variedades com e sem casca. Assim, é possível facilitar a apresentação e a experiência de compra do consumidor. A mistura aleatória das espécies é considerada um dos piores erros na hora de efetuar uma exibição. “É essencial que não haja mistura das espécies no pescado. Essa é a principal dica
Perroud explica que o grupo conta com um padrão de apresentação, tanto para as lojas Pão de Açúcar quanto para o Extra. “A companhia tem um programa de Formação Técnica e um Manual de Boas Práticas, além de lojas formadoras com colaboradores treinados para fazer a capacitação da liderança das demais lojas.”
Já no caso das lojas que fazem parte da Cencosud Brasil, o padrão de organização é realizado por tipo, espécie e fluxo. O grupo acredita que é fundamental que o comprador percorra todo o balcão e veja a quantidade de sortimento de produtos à sua disposição. Para garantir esse objetivo, no PDV é colocado o produto mais vendido no final do balcão. Já as novidades ou produtos com menor saída são dispostos logo no início. De um jeito ou outro, o importante é fazer com que o cliente seja envolvido nesse jogo de sedução no PDV.
Os 10 mandamentos de uma boa exposição • Frescor
• Continuidade
• Qualidade
• Atendimento
• Sortimento
• Precificação e sinalização
• Limpeza
• Seção organizada
• Diversidade
• Atendimento excelente
Fonte: entrevistados durante a matéria
Matéria continua na página 42. A seguir infográfico especial sobre tipos de embalagens para congelados
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para que se chegue a ‘apresentação perfeita’”, afirma Barletta. O GPA, por sua vez, possui um padrão de exposição em suas lojas que consiste na separação dos seguintes grupos: peixes de água doce; água salgada; crustáceos e moluscos; filés e postas.
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O gelo é um dos fatores que mais influenciam na aparência e qualidade da apresentação do pescado
Um dos grandes desafios do PDV é ter uma apresentação inteligente e que mostre toda a diversidade dos produtos no mesmo espaço
Ponto de Venda Infográfico
O sortido universo das embalagens Fotos: Maquiplast/Ulma Packing/Divulgação
Flow Pack Encolhível
Embalagem higiênica tipo Flow Pack para pescado inteiro comercializado individualmente. Para envolver o produto por completo, é utilizado um filme termoencolhível para a embalagem se moldar às formas do produto, garantindo um efeito chamado de “segunda pele”. A possibilidade de impressão do filme permite a divulgação da marca e a diferenciação do produto no ponto de venda.
Termoformado
Embalagem que forma cavidades (bandejas) rígidas ou flexíveis a partir de uma bobina de filme que, selada a uma segunda bobina plana (tampa), garante o acondicionamento de postas a granel em bandejas hermeticamente seladas. Sua aplicação valoriza a apresentação do produto, evita a contaminação do ponto de venda pela exsudação natural ou perda do congelamento e oferece boa área para impressão da marca e informações obrigatórias.
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Termoformado SKIN
Embalagem termoformada de apresentação. Baseia-se na utilização de um filme barreira (tampa) com alto percentual de encolhimento capaz de preencher e selar toda a superfície de contato com a bandeja. Utilizado para produtos de alto valor agregado, este tipo de embalagem visa atrair o consumidor pela extrema valorização visual do produto embalado.
Embalagens para produtos congelados precisam ser: • higiênicas ao impedir o contato manual direto com o produto; • capazes de suportar o processo logístico; • visualmente atrativas ao consumidor.
Conheça os tipos e elementos que fazem parte do universo de embalagens para congelados
Flow Pack Vertical
Trata-se de uma embalagem higiênica e economicamente atrativa para acondicionar porções de filés de peixe, postas e/ou derivados. Sua aplicação garante a possibilidade de praticamente 100% de área livre para impressão, permitindo uma valorização da marca, das informações obrigatórias e uma excelente janela para a visualização do produto. Esta embalagem também permite a integração de sistemas resseláveis tipo zíper viabilizando o uso “fracionado” das porções.
Sacos convencionais
É a solução mais simples, em que o cliente adquire os sacos já prontos e apenas embala o produto e sela o pacote em uma seladora convencional, ou a vácuo. Muito usada para cortes.
Fonte: Luiz Henrique Nalini, engenheiro de aplicação da Ulma Packing; e Paulo Blanco, gerente comercial da Maquiplast
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Stand-up pouch
Embalagens que ficam em pé, desenvolvidas para exposição em freezers verticais. São ideais para camarões congelados, iscas ou nuggets e podem ser fornecidas com e sem os fechos tipo zíper.
Ponto de Venda Entrevista
Ana Couto Branding/Divulgação
A estampa da roupa
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abemos que a embalagem tem um papel importante na apresentação de um pescado congelado. No entanto, de nada adiantaria se arte gráfica não for chamativa para tornar a exibição do produto mais atraente. Em entrevista exclusiva para a Revista Seafood Brasil, Camila Moletta, coordenadora de design da AnaCouto Branding, nos conta a função, concepção e outros detalhes do design gráfico.
Qual é a relevância do design gráfico na embalagem e como esse aspecto contribui com a apresentação do produto? As marcas representam a maneira como as empresas “conversam” com seus públicos. Pessoas compram
produtos quando se identificam com a personalidade de uma marca, o modo como ela se expressa visual e verbalmente. No caso das marcas de varejo, a maneira mais imediata de conexão com o consumidor se dá no ponto de venda, através da embalagem do produto, num ambiente em que decisões de compra são tomadas em frações de segundo. É aí que o designer gráfico entra: traduz visualmente a estratégia da marca em uma embalagem atraente. Como funciona a concepção de um projeto gráfico de uma embalagem? Primeiramente, olhamos as premissas do projeto e as diretrizes estratégicas da marca, isto é, qual é o posicionamento, quem vai comprar aquele produto, etc. Depois, olhamos para a concorrência e fazemos uma auditoria visual do que existe no mercado, olhando não apenas para embalagens do mesmo segmento, mas também
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para o modo como os concorrentes se comportam nos pontos de venda. É fundamental entender a experiência de marca ao ver a embalagem no mundo real e analisar benchmarks - embalagens de outros segmentos que se destacam. No caso de um redesenho de marca/embalagem, a visita ao ponto de venda é essencial para entender quais as possíveis falhas da embalagem ou os elementos gráficos que devem ser mantidos. Por fim, é necessário entender se existe algum limitador técnico, ou seja, se a produção daquela embalagem nos limita de alguma forma. A partir desses estudos e com essas informações, podemos começar a criar. Existem peculiaridades do segmento de embalagens como um todo, que variam de acordo com a marca, seus objetivos estratégicos e a maneira como desejam se diferenciar no mercado e se destacar no ponto de venda. Fazemos esta análise durante a auditoria visual.
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Embalagens da Frescatto Company: reformulação foi executada pela Ana Couto Branding
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Divulgação/Mercedes-Benz
Fornecedores
Tecnologia logística
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Apoiados na forte dependência do modal rodoviário, fabricantes de caminhões e acessórios estimulam inovação tecnológica que favorece operadores logísticos de pescado Texto: Ricardo Torres
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ão houve quem passasse pelas estradas brasileiras em meados de fevereiro sem se dar conta do protesto de caminhoneiros que travou o modal rodoviário do País por mais de 10 dias, principalmente na Região Sul. A conta foi salgada para diversas indústrias,
inclusive as de alimentos. A Aurora, caso mais flagrante, ficou sem matériaprima para processar, enquanto seus produtores não tinham ração. Tudo porque, ao longo de anos de desenvolvimento industrial, governos centrais não foram capazes
de desenvolver alternativas eficientes que, em uma situação como essa, não travassem a logística de todo o País. “Se nossa matriz de transportes estivesse totalmente estruturada com rodovias, ferrovias, rede hidroviária, marítima e malha aérea poderia nos proporcionar um leque maior de possibilidades
VUC Sprinter, da Mecedes-Benz: agilidade em transporte urbano
da definição do ‘modo ideal’ nos planejamentos operacionais e estratégicos das companhias sobre a melhor alternativa de transporte e distribuição das suas mercadorias”, detalha Jean Lyra, gerente da sexagenária LocalFrio. Como os profissionais da área observam, resta tornar o modal rodoviário extremamente eficaz para compensar os problemas estruturais da logística nacional. É aí que entra a demanda por tecnologias cada vez mais avançadas. “Visando puramente o transporte rodoviário de produtos perecíveis,
No caso da Iveco, o modelo Daily é figura frequente no transporte de perecíveis em grandes cidades. “Para cidades com grandes restrições na circulação de caminhões, o modelo Daily 35S14 é o ideal, pois o veículo é classificado como caminhonete e pode inclusive ser conduzido por motoristas com carteira B”, conta Osmar Hirashiki, diretor de vendas corporativas da Iveco. A companhia tem também caminhões de grande porte, como o Hi-Way, considerado o top de linha por possuir ar digital, geladeira, cortina frontal elétrica, basculamento elétrico da cabine e cama de alto conforto.
Gasparetti, da Mercedes-Benz: no transporte de produtos perecíveis, como o pescado, robustez é essencial
No transporte de produtos perecíveis, como o pescado, a robustez, traduzida em disponibilidade e resistência a quebras, é fator fundamental, considera a Mercedes. “Além disso, o veículo deve ter relação peso/potência favorável, boa capacidade de carga e extensa plataforma de carga. Para o motorista e tripulação deve oferecer cabina confortável e de fácil acesso”, detalha Gasparetti. Mas isso basta aos operadores logísticos? Na visão de Marcelo Rodrigues, Gerente de Logística da Aliance Express, o perfil da frota para este tipo de transporte exige veículos
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Hoje são raras as montadoras de veículos para transporte de carga que não dispõem de um portfólio abrangente de opções, capazes de operar com cargas variadas entre 500 kg e 28 toneladas. A Iveco e a Mercedes-Benz duas das marcas mais citadas tanto no transporte urbano quanto no rodoviário, estão atentas ao desenvolvimento do setor de pescado. Segundo Claudio Gasparetti, gerente de Caminhões da MercedesBenz do Brasil, a empresa tem produtos adequados a cada uma das etapas da cadeia de distribuição do pescado. “Desde os caminhões extrapesados que executam as grandes transferências de carga entre os portos e entrepostos/CD, até os caminhões leves e a linha Sprinter que, na outra ponta, fazem a distribuição urbana no pequeno comércio varejista.”
Divulgação/Mercedes-Benz
tem-se verificado um grande desenvolvimento e modernização em toda parte de infra-estrutura, como do parque de veículos”, conta Lyra.
Fornecedores
Segurança e tecnologia Além da frota moderna, a tecnologia embarcada e serviços prestados por terceiros também são fortes aliados no suporte às operações. Veja algumas opções:
Osmar Hirashiki, diretor de vendas corporativas da Iveco
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com equipamentos de refrigeração robustos. “[Esses] chegam a atingir temperaturas de -20°C a -25°C ao longo do trajeto em trechos mais longos, por isso são utilizados essencialmente veículos tipo carretas e trucks”, explica. “Já na distribuição urbana são destinados veículos menores com equipamentos de menor potência para o atendimento de trajetos curtos, nos quais o impacto da oscilação de temperatura deve ser o mínimo possível.” De fato, grandes centros urbanos concentram o uso de utilitários e Veículos Urbanos de Carga. “Devido às restrições de mobilidade (horários, placas, localização), com pedidos cada vez menores e prazos cada vez mais apertados (just-in-time), clientes cada vez menos fiéis as marcas, as montadoras têm o desafio de desenvolver um veículo com melhor capacidade de transporte, versátil e que utilize pouco
• Sistema de rastreamento Mercado já oferta soluções GPS, satelital ou híbridas. Disponível aos mais variados públicos pode se encontrar desde localizador a sistemas mais complexos e integrados com ferramentas de monitoramento de temperatura, velocidade, teclados, sensor de biometria, etc. Sensores e atuadores monitoraram a abertura e fechamento das portas por meio de travas antifurto. É possível também controlar a temperatura da carga transportada, bem como possibilita a comunicação do condutor para a central, e vice-versa. Com isso, dá para tomar ações preventivas para evitar prejuízos decorrentes de roubo, furto, acidentes e possíveis panes. Existem ainda iscas retornáveis e descartáveis, que permitem realizar a localização da carga de forma rápida e fácil, os dispositivos oferecem ampla flexibilidade de aplicação e fácil ocultação. • TELEMETRIA Acompanha o desempenho operacional do motorista e do veículo através da captação de sinais de entrada, como limpador de para-brisa, freio motor, freio de serviço, entre outros. Possibilita interações com os sistemas do cliente (Ex: ERP) realizando a geração de relatórios com finalidade de melhorar a eficiência na operação e prevenção de acidentes decorrentes do modo de condução. Controle, de forma automática, da jornada de trabalho de acordo com a característica de cada empresa. Os dados e informações de telemetria são coletados e transformados em conhecimento, através de um serviço de Gestão de Desempenho, possibilitando a gestão da frota de forma mais eficiente. A telemetria completa a gestão de risco, uma vez que age diretamente na condução do veículo e, com isso, previne acidentes e proporciona ganhos de produtividade, principalmente em economia e logística. • Gerenciamento de risco Empresas especializadas em mitigar perdas, seja materiais, financeiras ou humanas, que fazem parte do fluxo e cumprimento das exigências das apólices seguros e medidas de segurança. Em alguns casos mais avançados prestam soluções logísticas no fornecimento de ferramentas e relatórios de gestão. Fontes: Jean Lyra (Localfrio) e Marcelo Luiz Ferreira (CDJ Logística)
Divulgação/Iveco/Alexandre Andrade
Divulgação/Iveco/Alexandre Andrade
• TMS Software considerado indispensável na gestão dos processos, fluxos, informações, documentos, extração dos KPIs, gestão dos custos. A ferramenta facilita gerenciamento e tomada de decisões. Pode ser adquirida por módulo conforme necessidade de cada empresa.
“Nos últimos anos, a temática relativa as dificuldades para distribuição física de cargas em centros urbanos cresceu muito”, conta Diego Fávero, Membro do Conselho da Associação Brasileira de Movimentação e Logística (Abralog). De tal forma que a entidade criou o Comitê de Logística Urbana para tratar do assunto com a participação de todos os setores envolvidos. Para as entregas que percorrem maiores distâncias os veículos mais apropriados são os trucks (capacidade de 13 tons) e carretas (capacidade de 28 tons). “Por conta da maior capacidade de carregamento, a utilização destes veículos reduz consideravelmente o custo/kg do produto transportado”, explica Uzai Gama Lima, da Álvaro Lima Logística (ALL). Qualquer que seja a opção, os veículos precisam ser equipados com carrocerias frigoríficas que forneça o isolamento térmico apropriado para
resistir a pressões e temperaturas internas ou externas, conservando as temperaturas de origem. De acordo com Marcelo Luiz Ferreira, da CDJ Logística, o isolamento térmico é fiscalizado pela Anvisa. Márcio Benetti, da Platlog, completa: “todos eles devem ter seus baús de carga, feitos com material apropriado para a manutenção da baixíssima temperatura e equipamentos frigoríficos que possibilitem manter os produtos absolutamente congelados”. Novamente, a tecnologia é aliada nesta hora. Benetti indica que a manutenção da cadeia do frio pode ser feita por equipamentos que, uma vez regulados, não precisam da intervenção do motorista. “Programa-se a temperatura e a tecnologia do equipamento faz o resto”, conta. Além disso, diz, também existem tecnologias que permitem o monitoramento on-line da temperatura. “No entanto, mais importante que tecnologia embarcada é o treinamento constante das pessoas envolvidas em todo esse processo; com indicações claras dos cuidados que os produtos refrigerados precisam, para se manterem perfeitos da produção à mesa”.
Arquivo pessoal
espaço. Pois a distribuição passa a ser decisiva na negociação comercial esclarece Jean Lyra.
Marcelo Rodrigues, da Aliance Express: frota precisa ter bons equipamentos de refrigeração
Afinal, conclui o especialista, quem opera em logística de distribuição é tão bom quanto sua última entrega. “Ou seja, há que se buscar acertar sempre, pois com qualquer vacilo, perde-se o produto congelado. Em se tratando de alimentos, isso dói tanto quanto a perda financeira”, finaliza. Veja na página seguinte um infográfico especial sobre os modelos e usos dos tipos de veículos
Rendimento, produtividade e eficiência: • Despolpadeiras
• Classificadores
• Descouradeiras
• Chillers para sangria
• Descamadeiras
• Mesas para filetagem,
• Lavadoras
pesagem e embalagem
• Evisceradoras Rua Governador Jorge Lacerda, 3.275 - Bairro Velha 89045-001 - Blumenau - SC (47) 3330-0433 / 3237-0359
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as melhores soluções em processamento de pescado
Fornecedores
Infográfico
A frota do pescado Da produção à mesa do consumidor, os tipos de veículos que cruzam o Brasil com cargas de peixes e frutos do mar
Leves Veículos com capacidade de carga de 500kgs/2,00m³ a 1800kgs/8,00m³; Modelos e termos mais populares Fiorino, Kombi e VANS (com chassi curto e longo, teto alto e baixo)
Médios
Semi-pesados
Veículos com capacidade de carga de 3.000 kg/14,00m³ a 3.500 kg/17,00m³
Veículos com capacidade de carga para até 6.000 kg/27,00m³;
Modelos e termos mais populares: V.U.C (Veículo Urbano de Carga) ou ¾. O V.U.C é o caminhão de menor porte, próprio para carga fracionada, com largura de 2,20m e comprimento máximo de 6,30m.
Modelos e termos mais populares Toco, que leva de 10 a 12 paletes.
Pesados Veículos com capacidade de carga para até 12.000 kg/40,00m³;
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Modelos e termos mais populares Truck ou Trucado, que levam de 12 a 16 paletes. Este modelo conta com versões equipadas com eixo dianteiro adicional, conhecido como BiTruck, elevando a capacidade de carga para até 15 toneladas.
Extra-pesados e articulados Carretas e veículos com grande capacidade de carga entre 18.000 kg/95,00m³ e 25.000 kg/95,00m³. Carregam de 26 a 48 paletes. Modelos e termos mais populares Carreta 2 eixos, Carreta 3 eixos.
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Na
Gôndola A oferta de peixes e frutos do mar
Da Argentina para a Apas Tanto no processamento quanto na venda e comércio exterior de pescado, a Mardi e sua marca Porto Belo estarão na feira deste ano com sua linha de produtos congelados e empanados de pescado. Pré-fritos, são uma boa opção no caso do varejo ou até do food service casual.
Tradicional com toque de vanguarda A Frescatto Company levará à Apas 2015 novidades em suas duas marcas: Frescatto e Buona Pesca. Pela primeira, filé de sardinha em embalagens de 400 g e lombo de dourado brasileiro em envase de 500 g. Já a Buona Pesca apresentará a a Sardinha Espalmada na embalagem de 800g.
No varejo próprio e dos outros Com crescimento constante no número de lojas de bairro no País, a Swift também expande sua linha de produtos de pescado. Com marca própria, vende filés de merluza, tilápia, polaca e salmão, além de postas de cação.
Oferta nativa em Goiânia A Friocenter desponta na capital de Goiás com uma linha de espécies totalmente brasileiras, já evisceradas, porcionadas e embaladas em pouches, como gurijuba, mapará, pintado e dourada, além de espécies importadas, como o cação em postas e o salmão em filé.
Linha nobre Antes chamada premium, a linha nobre da Costa Sul reúne cortes especiais, como filés de bacalhau e de dourado. Ambas as opções são envasadas em pouches de 500 g com zip-lock e já estão nas gôndolas brasileiras.
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Defumados direto da lata As saladas na Quaresma e no pós-Apas terão uma boa companhia com as linhas de atum ralado e sardinha defumadas da Gomes da Costa. Aposta da empresa no primeiro semestre, servem ainda para massas, tortas e sanduíches.
Leia este código para ver o portfólio e contatos destas empresas. Ou acesse bit.ly/SEAfornecedores
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Na Cozinha O peixe no food service
Pega a fila! O pescado invadiu de vez o segmento self-service e virou uma opção forte entre as travessas presentes nos mais diversos buffets
Texto: Marcela Gava
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Q
uando o relógio bate 11h50 começa a contagem regressiva dos restaurantes tipo self-service. Em questão de pouco tempo, os primeiros fregueses começam a chegar e a fila a se formar ao lado dos pratos empilhados. Considerados o restaurante do “dia a dia”, estes atendem, em maioria, pessoas em trânsito e no almoço do trabalho. Inúmeras vantagens tornaram famosa essa modalidade de canal food service. O próprio cliente se serve do que quer comer. É econômico, já que possui um preço médio de refeição de R$
22,30 em comparação aos R$ 47,90 da opção à la carte, segundo pesquisa da Associação das Empresas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador (Assert). Além disso, existe uma variedade enorme de opções distribuídas ao longo da semana, que incluem saladas, arroz e feijão, massas, ensopados de carne, e, claro, pescado. Os pratos com seafood em buffet já foram sinônimo de “ostentação” para restaurantes mais ousados e mais caros. No entanto, hoje viraram minoria os estabelecimentos que não trazem nem uma pequena posta de cação grelhado.
O esforço para angariar a simpatia do público com pescado coincide com o movimento em prol da saúde e do bem estar corporal. “Por causa da moda de querer emagrecer e ter um corpo mais saudável, o peixe se tornou uma opção favorável”, defende a chef de cozinha Maria José Garcia, do restaurante Villa Heitor Grill. Em seu estabelecimento, segundo ela conta, o consumo de filezinho de peixe é excelente. “O peixe está sempre grelhado, com um molho suave, o que vale a pedida.” De fato, o pescado é o melhor representante da busca por qualidade de
questionava se a espécie de origem vietnamita não estaria contaminada, uma vez que circulavam boatos na internet sobre o assunto. “Tive toda preocupação de esclarecer a questão para cada cliente”, lembra Ivonilce. De acordo com ela, que diz trabalhar com a espécie há muitos anos, antes de inserir o pescado no cardápio procurou informações com conhecidos para saber como era o uso em outros países e como lidavam com a espécie.
Peixe que te quero bem
O interesse do público não se restringe só ao momento de montagem da refeição. Muitos clientes questionam qual é a espécie e querem saber sua procedência. “Gosto muito de inovar, e
quando coloco uma opção diferente os clientes vêm perguntar se é de escama, couro, água doce ou água salgada”, explica Ivonilce Bernardo, proprietária do restaurante Sassafrás. Com um público exigente, para os donos de restaurantes e chefs de cozinha já é normal que o cliente tenha dúvidas, mas isso exige que a resposta esteja na ponta da língua. “Como dona de restaurante, tenho que buscar informações para vender meu peixe”, defende. Quando o Sassafrás começou a oferecer pangasius, a freguesia
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vida. “A vantagem [do peixe] vai desde seu tipo de gordura, até a sua carga privilegiada de Ômega 3”, expõe Sergio Molinari, sócio e consultor da Food Consulting. Segundo ele, o pescado também proporciona uma digestão melhor do que outros tipos de proteína, o que é muito útil no meio da jornada diária de trabalho. “´É um encontro feliz entre a necessidade e a oferta.”
De acordo com Diego Fávero, diretor de supply chain do Grupo 5, os restaurantes de self-service representam uma grande parcela de estabelecimentos que demandam pescado, principalmente por existirem em maior quantidade do que os demais tipos de restaurantes. As espécies com mais saídas, ele explica, variam de acordo com o ticket médio de cada estabelecimento. “Vai desde peixes nobres até os mais populares, porém pode-se dizer que salmão, camarão e tilápia são opções bastantes presentes”, comenta.
Na Cozinha
Arquivo Seafood
Hit the road Jack!
No Villa Heitor Grill tem peixe todo dia. Atenas Pescados, JBS e Frescatto Company estão entre os fornecedores
Food Consulting/Divulgação
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O restaurante O Pharol traz em seu buffet espécies como linguado, côngrio chileno e salmão. “Temos muitas receitas clássicas, porém estamos sempre atentos às tendências”, comenta a sócia Kátia Moreira. Já no restaurante Sabores do Mar, a lista engloba mariscos como ostra, camarões e caranguejo, e ainda outras matérias-primas como polvo e lagosta. “Todos os dias oferecemos risotos e caldeirada de frutos do mar, camarão a milanesa, alho e óleo e ao bafo, além de moqueca de peixe e ostras gratinadas”, apresenta Paulinho Bisso, proprietário do estabelecimento.
A demanda pela matéria-prima é atendida, no geral, por pedidos feitos uma vez por semana – em alguns casos, chega a ser diária. No entanto, não há como generalizar, já que as demandas acontecem de acordo com a necessidade e a capacidade de armazenamento de cada restaurante. “Os peixes que utilizamos frescos são pedidos duas vezes na semana; já os congelados a cada 15 dias”, diz Kátia. No Sabores do Mar, a dinâmica é parecida: “Sempre compro os camarões rosa na abertura da pesca, e o restante faço pedido semanalmente”, conta Bisso. O que gera receita em restaurante é o salão de atendimento, onde estão os clientes, portanto, quanto menor o espaço ocupado pelo back office, que é cozinha e armazenagem, mais otimizado será espaço de atendimento ao cliente. “No self-service, essa estrutura é ainda mais importante, por isso as entregas têm a característica da pulverização e fracionamento”, justifica Diego Fávero. Ou seja, as entregas são de alta frequência e baixo volume, com pouco peso ou quantidade de caixa. “Isso ocorre exatamente pelo fato de a maioria dos estabelecimentos não possuírem grandes espaços para armazenagem por causa da ampliação de sua área de atendimento.” Para Sergio Molinari, consultor da Food Consulting, saudabilidade, leveza e frescor sãos as palavras-chave sobre o que o consumidor busca
No momento em que os pescados ganham a estrada, algumas restrições de logística aparecem pela frente. Uma delas é a falta de espaço apropriado para a descarga das mercadorias. O veículo é obrigado a parar na rua, por exemplo, em frente ao estabelecimento. O poder de ação dos restaurantes para resolver certas situações é limitado, mas, como alternativa, resta tentar se adaptar para o recebimento. No Sassafrás, que fica em São Paulo, a questão de logística foi melhorada por causa de um espaço de “carga e descarga” instalado na porta. “Já tive problemas porque a rua era Zona Azul, mas aí consegui que virasse ponto para descarregar”, fala Ivonilce, que recebe mercadoria praticamente todos os dias. No Sabores do Mar, localizado em Balneário Camboriú, o transtorno aconteceu depois que foi instalada uma ciclovia na avenida onde o restaurante se localiza “O estacionamento foi retirado para fazer a ciclovia, mas nos adaptamos a essa dificuldade”, esclarece Paulinho Bisso. Outro contratempo, principalmente nas grandes cidades, é o trânsito. Conforme Fávero explica, uma solução é montar um processo de roteirização inteligente, que foque na região, iniciando as entregas o mais cedo possível e utilizando veículos de menor porte. Para ele, existe uma falácia em torno dos caminhões ou VUC (veículo urbano de carga) que impera no Brasil e precisa ser repensada. “Quem gera trânsito nos centros urbanos não são os caminhões, e sim os veículos particulares que circulam com apenas um passageiro, o que é diferente de um caminhão ou VUC que sai para a rua de forma otimizada para atender vários clientes”, garante.
Econômico, mas sofisticado
Os caminhões ou VUCs são peça fundamental no abastecimento de estabelecimentos comerciais nos centros urbanos. Os motoristas de carros podem usar outros meios de transporte, já uma carga frigorífica tem suas limitações e precisa respeitar os padrões mínimos de manuseio e transporte. Apesar do esforço, a entrega pode atrasar e aí a decisão do restaurante é optar por não receber. A chef Maria José Garcia fala que se a mercadoria chega na hora do almoço, que é o período de pico, a entrega não é feita. “Às vezes atrasam e chegam por volta das 11h ou meio dia. Não consigo atender nesse horário, então a gente devolve”, comenta Maria. O melhor horário, para a dinâmica do estabelecimento dela, é que a entrega seja feita entre às 8h e 10h, ou então depois das 14h.
Já as entregas no Sassafrás são feitas das 7h às 11h. Segundo Ivonilce, é preciso “acostumar” o fornecedor para que ele entregue no horário estipulado. Com a intenção de evitar possíveis dores de cabeça, ela definiu sua própria metodologia e não deixa para comprar a matéria-prima em cima da hora. “O peixe que vou usar amanhã já chegou hoje. Trabalho sempre com dois dias porque, em São Paulo, a logística é complicada”, acredita. De acordo com ela, é melhor ter respaldo de pelo menos um dia para ter garantia, e assim não ficar na fissura de receber o produto no mesmo dia que vai usá-lo.
Gato por lebre Ao contrário da proteína de boi, frango ou porco, que tem poucas espécies e tipos de cortes bem definidos, no
Os self-services mais rentáveis sabem bem que o segredo está no equilíbrio. “Se o restaurante tiver peixe e mais alguns verdes, outras coisas que pesem e custem menos, consegue equilibrar a rentabilidade”, explica Sergio Molinari. A criatividade na elaboração do cardápio é um ponto a mais para o proprietário ou chef de cozinha que consegue sair do básico, e manter a viabilidade econômica. Disponibilizar um mix de produtos, em que há opção de pescado combinado com outros componentes que não custem tanto, é o menor dos problemas. Pegue o exemplo do ceviche, culinária peruana milenar que está na moda com ares de contemporâneo. A refeição leva peixe branco fresco, como linguado. Com essa carta na maga, o restaurante monta o buffet e educa o cliente para que ele entenda a forma de consumo e a origem do prato. “Trata-se de uma combinação super boa, porque você oferece ceviche, que tem alguns ingredientes baratos, como batata doce e milho, e estimula o cliente a consumi-los”, fala Sergio. Dessa forma, o valor do pescado acaba diluído na conta final, e o restaurante fideliza o público oferecendo gastronomia além de peixe grelhado.
A logística do pescado ponta a ponta.
TARG LOGÍSTICA LTDA
Rua João Ramalho, 206 Osasco-SP - Tel.: ( 11 ) 3647-9444 | comercial@targlogistica.com.br
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TRANSPORTES, LOGÍSTICA E ARMAZENAGEM • Cargas congeladas e resfriadas • Veículos dedicados e fracionados • São Paulo (capital e interior) e Rio de Janeiro
O Pharol/Divulgação
O Pharol/Divulgação
O Pharol/Divulgação
Na Cozinha
Efetuar uma boa compra e qualidade no armazenamento são ações para ter rentabilidade, diz sócia d’O Pharol mercado de pescado existem inúmeras espécies diferentes e famílias similares, conforme explica Diego Fávero. A isso soma-se o fato de que, depois de filetado, fica mais difícil identificar a espécie, principalmente no caso do Brasil em que o padrão é filé branco sem espinhas. “Podem acontecer duas situações:
Sexta é peixe Em São Paulo, existem tradições do dia a dia que o cidadão tem de lidar sem saber ao certo por quê. Quem frequenta self-services, certamente já notou que cada dia da semana tem seu prato típico. A quarta-feira e o sábado são reservados para a feijoada, enquanto a sexta-feira, além de ser o dia da cerveja, é o dia oficial do peixe. A tradição nada mais é do que a herança de um hábito católico ligado à sexta-feira santa. Nesse dia, é preciso evitar o consumo de carne vermelha. Por isso, como o peixe não pertence a essa classe, então está liberado seu consumo. Já o bacalhau ganhou fama na sexta-feira por causa dos portugueses que, no período de abstinência de carne, consumiam a receita.
ou cliente pede um produto pensando que é outro, ou o fornecedor aplica o famoso truque do gato por lebre.” Na opinião da chef Maria José Garcia, esse tipo de situação acontece porque a empresa faz de propósito. “O vendedor está com a tabela na mão, e não com o peixe. A empresa sabe o que está vendendo e vende errado porque quer”, afirma. Ela completa: “Se conheço a espécie, a empresa que vende tem que conhecer melhor ainda”. O mérito dessa situação cai na ganância do vendedor e no desconhecimento por parte do comprador. “Ao lado disso, temos outro ponto que é a pouca informação e cultura sobre o que é peixe em relação a conservação, manuseio, armazenagem e segurança alimentar em torno dele”, fala o consultor Sergio Molinari. De acordo com ele, uma das formas de lidar com esse problema está na qualificação de quem faz a compra para o restaurante. Ele aconselha também que os estabele-
Depositphotos
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A responsabilidade do vendedor vai além de fornecer um bom produto, entregá-lo no prazo ideal ou expô-lo adequadamente. Entre essas ações, para fidelizar o cliente, deve dar mais informações. “Como fornecedor, o ideal é procurar desenvolver os clientes, fazendo com que conheçam melhor o pescado, porque assim melhoro a qualificação do meu cliente”, aconselha Molinari. “Se tenho um produto e serviço adequado, o cliente vai perceber e sentir segurança de que comigo pode comprar melhor do que em qualquer lugar.” Ou seja, não é só entregar o produto, mas fornecer um serviço agregado a dele. Afinal, o mercado não está para aventureiros.
No self-service, o espaço de atendimento tem grande importância; back-office tem de ser o menor possível
Se os self-services dispõem a semana inteira de peixe no buffet, como diferenciam o cardápio da sexta-feira? “Ponho mais variedade de peixe e receitas, como grelhado, moqueca, camarão, bobó de camarão, bacalhau e torta de bacalhau”, fala a chef Maria José Garcia, do restaurante Villa Heitor Grill. Ivonilce Bernardo, do restaurante Sassafrás, segue a mesma linha: “Aumento o fluxo daquele dia. Se é o dia de pescado, coloco uma opção grelhada e outra com molho”. Outros pratos que ela insere no buffet são: maionese de atum ou camarão, sushi ou pata de caranguejo frita. Dessa forma, nenhuma sexta passa em branco no quesito peixe.
cimentos façam um trabalho prévio de reunir quem são os fornecedores para determinado tipo de produto. “Não comprar apenas por oportunismo, porque onde têm um preço excepcional pode haver um truque por trás.” Também vale a pena pesquisar o histórico de credibilidade do fornecedor e solicitar a ficha técnica do produto.
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Personagem
O boi que virou peixe Pecuarista que migrou para o cultivo de peixes para diminuir o impacto do desmatamento na Amazônia enxerga produtividade 100 vezes maior
C Arquivo Pessoal/Divulgação
Texto: Equipe Seafood Brasil omo muitos conterrâneos, Aniceto Wanderley e sua família apostavam na engorda de bovinos para assegurar o sucesso no agronegócio em plena Amazônia. O problema era o custo: alvo histórico de ambientalistas, a pecuária em Roraima pôs abaixo milhares de hectares de floresta nativa para dar lugar ao pasto da bovinocultura. “Estamos diante de um bioma frágil”, reconhece Wanderley. “A produção de bovinos vem sempre associada ao desmatamento da floresta.” Foi aí que o boi virou peixe. Aniceto se deu conta de que poderia produzir muito mais proteína animal sem radicalizar a interferência no bioma e, em 2000, tirou o foco da criação de bois em favor do cultivo de peixe. “O resultado foi animador: o que produzíamos de proteína em 1 hectare de lâmina d’água, precisávamos de 100 hectares de desmatamento da floresta amazônica na pecuária bovina”, conta.
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Arquivo Pessoal/Divulgação
O resultado é um crescimento exponencial da área produtiva. Interlocutores de Aniceto costumam dizer que, a cada vez que o encontram, a área dobra. Exageros à parte, o ritmo impressiona. São aproximadamente 1.300 hectares de lâmina d’água distribuídas em oito propriedades, mas a previsão é chegar a 2018 com 3.000 hectares. “Acreditamos que o cultivo tem crescido no Brasil devido à rentabilidade da atividade, associado ao fato que nas propriedades rurais ocupa pequenas áreas, não atrapalhando as outras atividades já desenvolvidas.” Até o fim de 2015, mais de 12 mil toneladas de tambaquis, mantrinxãs e pirarucus serão despescados das fazendas de Aniceto. Segundo ele, o tambaqui é o que tem maior possibilidade comercial de curto prazo no mercado interno, mas vale um alerta. “Sabemos, porém, que as regiões Centro Oeste, Sudeste e Sul disponibilizam e vendem ao consumidor os híbridos (tambacu, tambatinga, entre outros) como se fosse tambaqui. Já a médio e longo prazo o pirarucu deve se destacar. “Será o peixe do futuro, pois tem respiração aérea, cresce 12 kg no primeiro ano, tem alto rendimento de filé, além de ser carne branca com ótima aceitação no mercado internacional”, opina Wanderley. Com o “gigante amazônico”, o empresário desenvolve uma pesquisa de reprodução em parceria com a Embrapa Pesca e Aquicultura do Brasil, em Tocantins.
Formado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Wanderley sabe a importância da pesquisa e inovação. É por isso que uma de suas 8 fazendas abriga o Centro Tecnológico de Aquicultura (CTA). “Em Roraima temos dificuldades de logística, qualificação de mão de obra e assistência técnica, além da falta de investimento no Brasil em pesquisa e inovação aplicada.” Além da Embrapa e do CTA, a Rações Criação (nome da empresa de Wanderley) tem parceria com o Instituto Federal de Educação do Município de Amajari para qualificação de mão de obra e assistência técnica. Dar as mãos à pesquisa e capacitação é essencial em um Estado que cresce com descompasso entre o potencial e a organização da cadeia produtiva. “Muitos produtores, principalmente os pequenos, não têm assistência técnica e o custo da ração no Estado é 30% mais caro”. Wanderley ressalva que o governo estadual tem apoiado a atividade, o que é fundamental em um cenário do qual fazem parte o maior mercado de consumo de pescado no País e índices de produtividade invejáveis. Mas Roraima quer dar passos mais largos.
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para a mesa do consumidor.
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