5 minute read

O isolamento e o sonho de Juliana

Capítulo 2

O isolamento e o sonho de Juliana

Exausta, enlameada e feliz é a lembrança que Juliana Limonta, especialista em Engenharia Ambiental, guarda das férias que passava no sítio da avó Elisa, quando participava de todas as atividades do dia a dia da pequena propriedade rural em Itupeva, interior de São Paulo. Foi a necessidade de resgatar essas sensações e oferecer o mesmo aos filhos, Mariah e Heitor, que a levou, em 2016, a deixar uma carreira promissora de executiva em uma grande empresa para trabalhar com as coisas do campo.

A experiência acumulada em cinco anos na empresa de telecomunicações, e mais um ano em uma startup que desenvolvia projetos ambientais para cidades inteligentes, foi essencial para ela. Seu conhecimento empresarial limitava-se aos tempos em que vendia lanches na faculdade e começava a entender as etapas de planejamento e gestão – era uma empreendedora e não sabia. Com mil ideias na cabeça, ela e o marido compraram em 2017 o sítio Frescor da Mantiqueira, em São Bento do Sapucaí (SP). Ali investiram em quatro frentes: hospedagem, hortaliças orgânicas, processamento de frutas desidratadas e consultoria e treinamento ambiental.

Tudo seguia no ritmo planejado até que a pandemia de covid-19 reduziu pela metade o número de hospedagens e comprometeu com gravidade a comercialização das hortaliças.

Corria o mês de março de 2020 e o lockdown havia sido imposto nos 645 municípios paulistas. As expectativas se voltavam para o dia 7 de abril, quando a quarentena deveria terminar. Contudo, com o agravamento do cenário, as restrições de circulação foram estendidas até 31 de maio. A prorrogação seguiu as orientações da OMS, da Organização Pan-americana de Saúde (Opas), do Ministério da Saúde e do Centro de Contingência do Coronavírus de São Paulo, formado por cientistas de diferentes áreas, epidemiologistas, pesquisadores, infectologistas e virologistas.

Naquele momento, o estado de São Paulo somava 4.620 casos confirmados da doença, com 275 mortes. A Secretaria Estadual da Saúde anunciou que, não fossem as medidas de restrição, esses números poderiam ser 10 vezes maiores. Mesmo assim, com a confirmação da doença, as internações de pacientes em leitos de UTI cresceram 1.500% desde 20 de março, passando de 33 para 524, conforme dados de 3 de abril. O número de óbitos subiu 180% em apenas uma semana.

O governo paulista anunciou o Plano São Paulo, com diretrizes para o funcionamento das atividades de diferentes setores produtivos. O documento estabelecia cinco etapas: fase 1 (vermelha), de alerta máximo; fase 2 (laranja), de controle; fase 3 (amarela), de flexibilização; fase 4 (verde), de abertura parcial das atividades; e fase 5 (azul), que previa a liberação geral a partir do momento em que

Capítulo 2

Juliana Limonta, da Frescor da Mantiqueira

O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

a doença estivesse controlada. Como medidas de prevenção ao contágio, toda a população passou a utilizar máscaras faciais de proteção, além de serem disponibilizados totens de álcool em gel (70º) nos locais com circulação de público. Cientes da importância dessas medidas, o Sebrae e a Faesp – com apoio da rede de Sindicatos Rurais em todo o Estado de São Paulo – atuaram na confecção e distribuição gratuita de mais de 4 milhões de máscaras faciais para a população rural dos municípios do interior.

Entre esses produtores estava Juliana Limonta, que entendeu ser a hora de pôr em prática no sítio Frescor da Mantiqueira os conhecimentos adquiridos no Empretec e nas consultorias e nos cursos do Sebrae-SP e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-SP). De imediato, o casal investiu na digitalização da empresa para divulgar o empreendimento e aumentar as vendas, em especial no delivery.

Só na comercialização de cestas das hortaliças orgânicas pelo WhatsApp o crescimento da receita foi de 20%, nos primeiros 30 dias após o início da pandemia. A solução para a parte da hospedagem veio com a percepção de que o trabalho em home office tinha vindo para ficar e de que as pessoas queriam ir para um lugar mais agradável com a família, desde que tivessem a possibilidade de trabalhar remotamente. Juliana, então, investiu na instalação de fibra óptica na propriedade e na melhoria das instalações e divulgou em suas redes sociais a oferta de um tipo de hospedagem que chamou “da roça ao office”. Em julho de 2021, num dos picos da pandemia, a taxa de ocupação chegou a espantosos 92%, com um hóspede que alugou acomodações para passar duas semanas e ficou 45 dias.

Em outra frente, Juliana mergulhou de cabeça no processamento de frutas, com a criação de uma técnica inovadora no Brasil, chamada de Frutirinhas. Ela queria ir além do mercado de desidratação e geleias, já ocupado por fornecedores artesanais e grandes corporações, e, após longa pesquisa do processo e do mercado, lançou um produto com nove sabores, 100% natural.

A fábrica começou a funcionar com produção máxima no segundo semestre de 2021 e, mais uma vez, o digital fez a diferença. A convite do Mercado Livre, Juliana participou de um processo seletivo para integrar o projeto Empreender com Impacto na Biodiversidade. Das 300 empresas inscritas, a Frutirinhas ficou entre as 80 escolhidas, por aliar a produção de alimentos com a proteção da biodiversidade. Após um programa de capacitação e mentoria, a primeira venda se realizou em outubro de 2021, e a presença na plataforma aumentou a receita em 35%.

Juliana é daquelas empreendedoras que sempre enxergam o copo meio cheio, e para ela a pandemia trouxe a oportunidade de inovar ainda mais e procurar formas de crescer, e não se acomodar. No momento está finalizando o novo site, investindo em publicidade digital e acabou de desenvolver novas embalagens para colocar as Frutirinhas nas prateleiras do varejo nacional, sem limites para seguir em frente.

Capítulo 2

Sebrae-SP e Faesp, junto com a rede de Sindicatos Rurais em todo o Estado de São Paulo, atuaram na confecção e distribuição gratuita de mais de 4 milhões de máscaras faciais para a população rural dos municípios do interior

O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

This article is from: