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1918: outra pandemia

e, 11 dias depois, publicou um decreto que oficializou a quarentena no Estado. O documento determinava que deixaria de funcionar tudo o que não constasse do rol de serviços públicos e atividades essenciais de saúde, alimentação, abastecimento e segurança. Previa-se que o isolamento duraria 40 dias. O secretário de Estado da Saúde apontou a “necessidade de promover e preservar a saúde pública” para interromper o atendimento presencial em estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços, especialmente em casas noturnas, shopping centers, galerias e estabelecimentos congêneres, academias e centros de ginástica. Também foi proibido o consumo local em bares, restaurantes, padarias e supermercados, ficando esse tipo de atendimento restrito aos serviços de entrega, o delivery, ou de retirada sem circulação de pessoas, como no modelo drive-thru.

Poderiam funcionar os estabelecimentos que prestam atividades essenciais, como os da área de saúde, a exemplo de hospitais, clínicas e farmácias, assim como as lavanderias, os serviços de limpeza e os hotéis. No setor de alimentação, foram autorizados a continuar em funcionamento os supermercados e similares, como padarias e mercearias, por exemplo. Também puderam atuar postos de combustíveis, transportadoras, armazéns, oficinas de veículos automotores e bancas de jornais.

O decreto do governo paulista também instituiu o Comitê Administrativo Extraordinário covid-19 para deliberar sobre casos adicionais inicialmente não abrangidos pela medida de quarentena. Em seu artigo 4º, o decreto determinou: “Fica recomendado que a circulação de pessoas no âmbito do Estado de São Paulo se limite às necessidades imediatas de alimentação, cuidados de saúde e exercícios de atividades essenciais”.

Três dias antes da divulgação desse decreto, em 17 de março, havia sido registrada a primeira vítima fatal da doença no Brasil. No mundo inteiro, um sentimento de angústia começou a dominar as pessoas, assustadas com as cenas transmitidas pela TV e pela internet. A pandemia assolava vários países, entre os quais a Itália, que chegou a ter, em meados de março, mais de 6.600 pacientes contaminados em um único dia. Era apenas o começo de um drama que logo colocaria o Brasil em estatísticas superlativas.

1918: outra pandemia

A doença desconhecida, o medo da contaminação e da morte não seriam os únicos problemas provocados pela pandemia de covid-19. Como acontece quando ocorre qualquer problema sanitário de grandes proporções, as consequências econômicas se tornaram inevitáveis. Para efeito de comparação, vale recorrer a alguns números relativos à chamada gripe espanhola, que teve seu auge entre 1918 e 1919, um século atrás. Na época, a virose resultou em mais de 35 mil mortes apenas no Brasil. Em São Paulo, cuja população era estimada em 470 mil habitantes na época, apenas entre outubro e dezembro de 1918 foram registrados 5.328 óbitos.

Capítulo 1

Foto: Wikimedia Commons

Uma enfermaria de emergência, nos Estados Unidos, atende os pacientes contaminados pelo vírus da gripe espanhola, em 1918

O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

De acordo com dados da Junta Comercial de São Paulo, de janeiro a setembro de 1918 o número de novas empresas de sociedade abertas caiu 60%, enquanto o valor do capital das firmas já registradas teve uma redução em torno de 65%. Assim como ocorreu em 2020, o setor com maior queda foi o comércio, tanto no número de firmas registradas (-63%) como no valor do capital (-71%).

O cenário na indústria foi, na mesma proporção, desastroso, com queda de 56% no número de empresas e de 50% no valor do capital. Os impactos mais fortes foram observados em segmentos tidos como supérfluos em um contexto de pandemia, em que, no cenário daquele início de século XX, se incluíam os produtos de perfumaria e derivados de fumo, por exemplo. Por sua vez, os setores que mais cresceram foram os de confecções, de produtos farmacêuticos e químicos e de velas – o que nos dá uma ideia do que era visto como essencial à época. Também aumentou a produção de cobertores, xales e colchas e de especialidades farmacêuticas, enquanto se registrava queda em itens de perfumaria e chapéus. Houve, é claro, uma alteração na estrutura industrial, com foco no aumento da produção de itens demandados pela crise de saúde pública.

É possível perceber os efeitos também no setor bancário. A partir de meados de 1917, começou a despontar uma tendência de crescimento moderado nos empréstimos bancários. Esse movimento foi interrompido com o início da gripe espanhola, ocorrendo uma retração em termos reais nos empréstimos a partir de dezembro de 1918.

A boa notícia é que a recuperação veio forte e rápida em alguns setores. No comércio, o número de registro de novas empresas superou a média dos meses anteriores à pandemia, a partir de janeiro de 1919. Na área financeira, a recuperação também foi rápida a partir de maio de 1919. Para a indústria, a compra de máquinas e equipamentos atingiu 12,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 1921.

Será que esse mesmo movimento positivo se repetirá a partir de agora, quando a OMS está prestes a decretar o fim da pandemia de covid-19? É quase certo que sim, mas, antes de tudo, é preciso conhecer os principais acontecimentos que marcaram o período de 2020 a 2022.

Capítulo 1

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