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Bem pertinho de casa

ajudando muitas pessoas e diversas cidades, divulgando a realização de lives e atuando em todas as demais ações que pudessem colocar os clientes em contato com o Sebrae. Ainda que digitalmente – e como será visto nos capítulos a seguir –, a rede Sebrae Aqui começaria a ser expandida tão logo as inaugurações presenciais pudessem ser retomadas.

Merece destaque a parceria com o Banco Mundial, que permitiu a realização da pesquisa voltada para o entendimento do impacto provocado pela covid-19 nos negócios de pequeno porte. O Business Pulse Survey (BPS) é um levantamento global que envolve cerca de 50 países. No Brasil, o estudo no estado de São Paulo contou com a parceria do Sebrae-SP, em uma amostra de 1.677 negócios entre microempreendedores individuais e micro e pequenas empresas. Outro avanço foi a contratação de ferramentas específicas para análises de setores, segmentos e regiões, como o Euromonitor, que permite acessar os relatórios de inteligência de mercado e as tendências de negócios em centenas de setores e países.

Esse processo de grande abrangência tornou possível a definição de algumas alavancas de transformação para a construção do Novo Sebrae, expressas em insights como “O Sebrae que faz a diferença”, “Sebrae mais ágil”, “Sebrae relevante para as cidades” e “Sebrae na vanguarda”. Com base nesses conceitos, foram elencadas oportunidades de mudança e, em um processo de cocriação, por meio das entrevistas, mapeou-se o encaminhamento de soluções que nortearam o desenvolvimento coletivo das ações do Sebrae do Futuro.

Bem pertinho de casa

A nova dimensão do Sebrae-SP se revelou logo no princípio da crise sanitária, em março de 2020, quando o lockdown teve início. Entre outras consequências, os produtores de alimentos no Estado de São Paulo se depararam com um grande problema: como escoar tudo o que ficara acumulado por causa das limitações de circulação e minimizar os prejuízos da perda de produção. A quarentena criou uma distância que, em termos de quilômetros, nem era assim tão grande, mas parecia impossível de ser percorrida.

Foi quando a alta direção e especialistas do Sebrae-SP, da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-SP) e outras instituições se reuniram com as principais lideranças das gigantes de tecnologia e e-commerce Accenture, Facebook, PagSeguro, Vtex e Yami. O objetivo foi somar esforços e buscar soluções viáveis para as questões preponderantes naquele momento. Todos abraçaram a iniciativa sem buscar lucro, apenas oferecendo expertise em prol da salvaguarda dos negócios de pequeno porte.

Assim nasceu a plataforma online Pertinho de Casa, solução digital desenvolvida e posta “no ar” em 16 de abril, um recorde de apenas 20 dias. O sistema de e-commerce, inicialmente dedicado ao abastecimento de alimentos, passou a aproxi-

Capítulo 3

Maria Creusa Sarri e Karina de Oliveira Vicari Sarri, produtoras rurais do Sítio Ipê

O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

mar oferta e demanda, facilitando o dia a dia do consumidor, apoiando os pequenos negócios que atuam nos serviços de alimentação fora do lar e dando vazão ao que vinha sendo produzido no campo.

Para os produtores rurais e varejistas (feirantes e donos de hortifrútis, mercearias e mercadinhos), bastava preencher um cadastro na plataforma e informar o tipo de negócio e a área de entrega. O consumidor interessado em comprar na vizinhança precisava apenas colocar seu endereço ou CEP no site, selecionar a categoria do estabelecimento que procurava e escolher de qual deles compraria, em uma lista de pequenos comerciantes cadastrados. A negociação se fazia diretamente entre as partes, via WhatsApp, e o sistema continua a dar bons resultados até hoje. Além de apoiar os empreendedores, o projeto também foi fundamental para que não faltassem alimentos nas prateleiras dos mercados num momento em que manter uma alimentação saudável era uma condição essencial.

O projeto, que de início facilitou a comunicação por meio do uso do WhatsApp, passou a contar com um mapa de percurso, com o objetivo de evoluir para se tornar um marketplace com vários fornecedores. Criada para escoar a produção de hortifrutigranjeiros do cinturão verde de São Paulo, que estava ruindo por falta de compradores, a plataforma logo se estendeu a outros produtores e alcançou quase todo o Brasil, fazendo-se presente em mais de 730 cidades, com uma base de quase 20 mil fornecedores cadastrados. Mais do que mentoria e capacitação, o Sebrae-SP abriu caminhos para ajudar o empresário a vender pelos canais digitais, dos quais a plataforma Pertinho de Casa é um dos mais bem-sucedidos exemplos.

Outra ação no mesmo sentido foi o estímulo aos movimentos Compre do Bairro e Compre do Pequeno, iniciativas do Sebrae Nacional, com forte apoio dos Sebraes estaduais, criadas para fortalecer as vendas dos negócios locais e girar a economia. Diante das restrições de circulação, comprar nos estabelecimentos mais próximos de casa também representou, para os consumidores, a oportunidade de conhecer mais a vizinhança e a comunidade. Que o diga Karina Sarri, que junto com o marido e os sogros comandam o Sítio Ipê, localizado em Morro Agudo (SP). Antes da pandemia, toda produção era comercializada apenas em duas feiras na cidade e em dois estabelecimentos. Em março de 2020, com a horta lotada de verduras, a notícia de que seria necessário fechar os locais de venda trouxe muita preocupação para a família. Mais acostumada com tecnologia, Karina Sarri tomou a frente da situação e acelerou o processo de digitalização: fez cadastro de clientes para criar um grupo no WhatsApp, elaborou uma logomarca para o negócio e montou um perfil no Facebook.

Em 2022, o sítio registrou uma média de 170 clientes no grupo de WhatsApp e conseguiu mais oito clientes fixos, entre pizzarias, lanchonetes e supermercados. A família Sarri faz parte de um grupo de pequenos produtores rurais que decidiu marcar presença no mundo digital para manter as vendas e sobreviver na crise. “Não podemos ficar de braços cruzados esperando a oportunidade.

Capítulo 3

Nós é que temos de correr atrás”, afirma Karina, que de modo regular recebe mensagens de pessoas em busca de informações para a compra dos produtos.

No Sítio Ipê, as entregas são feitas em três dias da semana. Karina e a sogra, Creusa, organizam-se para receber os pedidos, embalar e fazer a distribuição. O sistema deu tão certo que, agora, a família participa da feira apenas em um dia da semana e vende o restante da produção para os clientes já cadastrados.

Karina também explorou muito bem a divulgação nas principais redes sociais. Para ela, o marketing é insumo fundamental e abriu as portas do sítio para consumidores da região interessados em hortaliças, legumes, verduras e frutas do sítio.

Não devem ter sido poucas as pessoas que, envolvidas no ir e vir para o trabalho diário, deixavam de comprar perto de onde moravam. Para alguém que reside, por exemplo, na Zona Sul da capital paulista e trabalha na Zona Oeste, as preferências de compra se davam muito mais no bairro em que passavam a maior parte do dia, sobretudo no horário do almoço ou no fim do expediente. Com a adoção do home office, inseridos com regularidade na região em que residem, os consumidores passaram a conhecer o que o armazém, o bazar ou a mercearia do bairro podiam oferecer em variedade de produtos. E isso é uma tendência que deve persistir, uma vez que os comerciantes ganharam a fidelidade desses novos clientes.

Também no primeiro semestre de 2020, em Franca, conhecida como Capital do Calçado, as indústrias de pequeno e médio porte estavam com excesso de estoque e sem pedidos, bem próximas de fechar – assim como a maioria dos pequenos negócios no auge da pandemia, quando registram perda de mais de 80% do faturamento de uma hora para a outra. Numa ação rápida e eficiente do Sebrae-SP e das entidades locais, essas indústrias foram orientadas a entrar em parcerias com diferentes marketplaces, a fim de dar continuidade à movimentação de seus estoques, vendendo diretamente para os consumidores. Assim puderam escoar a produção e salvar empresas e empregos.

Perto ou longe de casa, na capital ou no interior: isso não fazia diferença para o Sebrae-SP. Por entender que o serviço que presta à sociedade é de vital importância, a direção da entidade, adotando todas as medidas preventivas e de segurança sanitária, decidiu sair a campo. Pessoalmente, o presidente do Sebrae-SP, acompanhando de um assessor, visitou empreendedores, produtores e lideranças locais para entender de perto, olhos nos olhos, seus desafios e suas necessidades. A ideia era estar presente em todas as regiões do Estado e conhecer de fato o que vinha acontecendo, assim obtendo o máximo de informações para que fossem identificados os reais problemas e encontradas as soluções sob medida para cada negócio, em cada um dos municípios paulistas. Nessa peregrinação da presidência, todo o estado de São Paulo foi percorrido, mais de uma vez, a fim de traçar um diagnóstico em que danos e oportunidades pudessem ser dimensionados. A partir dessa iniciativa, cujo entusiasmo contagiou todas as equipes do Sebrae-SP, realizou-se um redirecionamento estratégico da entidade, com foco no conceito de reshape, uma

O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

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