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Momento de consolidação com conhecimento
anunciara que o programa nacional ainda dependeria da aprovação de um imunizante pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em São Paulo, quando se anunciou o programa, previa-se que a primeira fase seria concluída até 28 de março, com a vacinação de 1,5 milhão de profissionais de saúde e 7,5 milhões de pessoas acima de 60 anos. Assim como nos demais países, a escolha do público-alvo levou em consideração as faixas etárias com maior incidência de óbitos – 77% das mortes por covid-19 estavam concentradas em pessoas acima de 60 anos. O governo anunciou o envolvimento de 54 mil profissionais de saúde, o uso de 27 milhões de agulhas e a movimentação de 25 mil policiais para a escolta das vacinas.
A data de início do programa, contudo, foi antecipada para 17 de janeiro, graças à aprovação, pela Anvisa, do uso emergencial da CoronaVac. A enfermeira Mônica Calazans foi a primeira pessoa a ser vacinada contra a covid-19 no Brasil. Aos 54 anos, moradora em Itaquera, na Zona Leste da capital paulista, a profissional da saúde trabalhava no Hospital Emílio Ribas, referência no tratamento da doença no País.
Se naquele momento planejar o futuro estava fora de cogitação para muitas pessoas, no Sebrae essa nunca foi uma opção. Desde o final do ano anterior, a entidade já colocara em discussão a seguinte pergunta: “Qual é o Sebrae de que o Brasil precisa?”. Obter a resposta correta para esse questionamento foi o que levou o sistema Sebrae, em âmbito nacional e de forma coletiva, a realizar um amplo trabalho em seu Planejamento Estratégico para o período 2021-2023.
O propósito era transformar os pequenos negócios protagonistas do desenvolvimento sustentável do Brasil e fazer da entidade uma referência na promoção do empreendedorismo e na geração de valor para o segmento.
No âmbito estadual, o Sebrae-SP participou ativamente dessa construção e traduziu muitos desses objetivos e desafios em pilares de atuação para 2021. Ficou o entendimento de que “o Sebrae de que o estado de São Paulo precisa é um Sebrae que faz a diferença”.
Ciente da relevância de São Paulo no contexto nacional, o Sebrae-SP estabeleceu quatro diretrizes para começar os trabalhos de 2021, muitas delas em continuidade às que haviam obtido bons resultados no ano anterior – e que, afinal, foram adaptações no escopo do conceito de reshape. Em linhas objetivas, o Sebrae-SP deu continuidade ao projeto de reestruturação organizacional iniciado em 2020.
Foi adotado, então, o lema “Presença que transforma” como o norte do ano de 2021. Partindo das diretrizes estratégicas aprovadas pelo Conselho Deliberativo, a atuação da entidade se concentrou no eixo de transformação das localidades.
Momento de consolidação com conhecimento
Se 2020 foi marcado pela rápida ampliação e pela adequação da oferta de soluções do formato presencial para o modelo remoto, 2021 se destacou pelos esforços em consolidar essa atuação, aprimorar as estratégias educacionais e modernizar os
Capítulo 4
processos de atendimento online. Iniciou-se um período de aprimoramento das transformações que ocorreram no ano anterior. Internamente, o mesmo critério foi adotado: por meio das experiências de 2020, foi possível obter padrões e ideias para instalar um modelo híbrido de funcionamento, parte presencial e parte remota, com base nas melhores práticas.
Agora plenamente adaptados a esse formato de trabalho, os colaboradores do Sebrae-SP também estavam prontos para continuar ajudando os clientes a vencer seus desafios. Clientes como Nilva Magalhães, dona da Nill Flowers Moda. Assim como boa parte dos empreendedores, Nilva começou na informalidade, quase como um teste antes de encarar o desafio de manter a empresa própria. Ela trabalhava como executiva de vendas de algumas marcas, mas após cinco anos nessa função partiu para uma nova atividade que acenderia nela a faísca do empreendedorismo. “Comecei a trabalhar como sacoleira, levando peças para as clientes. Isso me fez ter o sonho de montar uma loja, e comecei no Facebook e depois usei também o Instagram”, lembra.
Foram dois anos trabalhando apenas no formato digital pelas redes sociais, até que em 2018 Nilva montou na garagem da sua casa a primeira versão da loja física. A transição do digital para o presencial não foi tarefa fácil. “Confesso que em alguns momentos tive vontade de desistir.”
Em 2020, ela estava decidida: se a empresa não evoluísse, seria o fim de sua jornada como empreendedora. O que a fez mudar de ideia foi um evento do Sebrae Aqui, realizado no Shopping Carapicuíba, na cidade de mesmo nome na Grande São Paulo, ainda antes da pandemia. Depois disso, Nilva começou a participar de lives e de um grupo de empresários com os quais os consultores mantinham contato. Ela também ingressou no programa Enfrentar Mulher, promovido pelo Sebrae-SP no Escritório Regional de Osasco para que as empreendedoras tivessem apoio em suas atividades durante a pandemia. Foi quando começaram as transformações e Nilva repensou seu negócio.
Em princípio, ela fez um diagnóstico de sua empresa e percebeu que estava perdendo muitas oportunidades. Com foco e vontade de aprender, Nilva passou por todas as consultorias, o que lhe rendeu um convite para participar do Sebraetec. “Eu fui escolhida para montar o meu e-commerce, em parceria com o Senai. Foi um grande sonho realizado, porque até então eu não tinha condições de fazer algo desse tipo. Colocamos o site no ar em 13 de novembro de 2020”, lembra.
Assim foi formalizada a Nill Flowers Moda, marca de roupas para mulheres evangélicas. O fato de o negócio ter foco nesse público específico foi importante, pois ajudou Nilva a perceber que esse era um nicho comercial, um diferencial para esse segmento nas redes sociais, e isso representou um grande salto para a marca, que passou a vender para um número bem maior de clientes. “O Sebrae-SP foi muito bom para mim na pandemia. Os cursos, palestras e lives fizeram com que eu me distanciasse dos acontecimentos negativos relacionados àquele momento.
O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19
O conhecimento nunca é demais, e quando nós não temos acesso a isso o que nos resta é ficar com medo do que pode acontecer”, acrescenta a empreendedora.
Embora o cenário estivesse melhorando, e muito em razão do início da vacinação, a pandemia não terminara e os cuidados para evitar o contágio ainda eram observados com atenção. E a ansiedade de todos os brasileiros pela plena retomada da vida “normal” só aumentava.
Dois dias depois do início da vacinação em São Paulo, outros estados adotaram os próprios programas de imunização, seguindo a mesma estratégia: primeiro os profissionais de saúde e pessoas com mais de 60 anos. Cabe mencionar uma experiência marcante nesse processo, o chamado Projeto S, que realizou, em fevereiro, a vacinação dos voluntários do estudo de efetividade da CoronaVac feito pelo Butantan no município paulista de Serrana. A pesquisa pioneira teve como objetivo imunizar toda a população adulta da cidade para entender o impacto da vacina no controle da pandemia de covid-19 e na transmissão do SARS-CoV-2.
Embora o programa de vacinação estivesse em curso em todo o Brasil, o segundo ano da pandemia de covid-19 seria marcado por uma segunda e violenta onda de contágio, pelo colapso do sistema de saúde em várias regiões e pelo surgimento de novas variantes do vírus, bem mais transmissíveis, como gama, delta e ômicron. Em 23 de março, em 24 horas ocorreram 3.251 mortes por covid-19, segundo dados enviados pelos estados e agregados pelo Conass, das quais 1.021 no estado de São Paulo. Um dia depois, o Brasil atingiu a marca de mais de 300 mil mortos pela doença, desde o início da crise.
Em contrapartida, uma boa notícia chegou em 3 de maio, quando foi anunciado que o número de óbitos de idosos acima de 80 anos havia caído pela metade no Brasil, depois da vacinação. O percentual médio de vítimas nessa faixa etária era de 28% em janeiro, quando se iniciou a vacinação, e caiu para 13% em abril, segundo estudo liderado pela Universidade Federal de Pelotas. Ao lado disso, os resultados preliminares do Projeto S vieram a público em 31 de maio, com outra notícia positiva: os casos de covid-19 recuaram de modo acentuado em Serrana, a cidade que havia sido escolhida como parâmetro do resultado da vacinação. A aplicação da CoronaVac fez os casos sintomáticos caírem 80%, as internações, 86%, e as mortes, 95%. Além disso, o estudo demonstrou que o imunizante era efetivo em idosos e contra a variante gama do vírus SARS-CoV-2.
Por todos esses motivos, 2021 seria marcado pela transição entre períodos de isolamento social e de abertura das atividades econômicas. Mesmo com o avanço da vacinação contra a covid-19 em todos os países, a OMS anunciou que a testagem em massa continuava sendo uma alternativa importante para enfrentar a disseminação do novo coronavírus. Atendendo a esse chamamento, o Sebrae-SP uniu-se ao sistema Faesp/Senar-SP, por meio do programa “Promovendo a Saúde no campo”, e, em parceria com a Fiocruz (RJ) e os sindicatos rurais, deu apoio ao desenvolvimento e à implementação do “Semear da Esperança”. O programa disponibilizou
Capítulo 4
testes à população do interior paulista, identificando possíveis contaminações e permitindo que fossem adotadas medidas para restringir a circulação do vírus. Mais de 500 mil testes gratuitos foram disponibilizados para a população rural do estado de São Paulo.
Nesse cenário de instabilidade e imprevisibilidade para a realização dos atendimentos presenciais, o Sebrae-SP concentrou boa parte do seu esforço na ampliação da oferta de soluções a distância, com destaque para as que não exigiam a interação humana e contavam com apoio de recursos pedagógicos modernos e tecnologias de inteligência artificial.
A entidade deu continuidade ao seu processo de reestruturação. O compromisso de manter a expansão, aumentando sua presença em todo o Estado, criando acessibilidade e capilaridade para um crescimento sustentável, foi mantido como uma das prioridades estratégicas, assim como o enfoque direcionado à transformação e ao impacto das ações, e não apenas ao esforço para realizá-las. Outros pontos que merecem destaque referem-se à simplificação e à desburocratização dos negócios, à formalização, ao atendimento ao público vulnerável visando à sua inclusão produtiva, à ampliação do volume de compras realizadas pelos municípios, favorecendo os pequenos negócios, à ampliação da educação empreendedora e às iniciativas que visavam ao aumento da produtividade e aos resultados dos pequenos negócios.
Do ponto de vista da economia, uma boa notícia veio do governo federal, que atendeu a uma demanda levada por lideranças empresariais e pelo Sistema S. Em 2 de junho de 2021, o Pronampe tornou-se uma política pública permanente por meio da Lei nº 14.161, que conferia “tratamento diferenciado e favorecido às micro e pequenas empresas, com vistas a consolidar o segmento como agente de sustentação, transformação e desenvolvimento da economia nacional”. Quando a norma foi publicada, estava previsto que o programa concederia pelo menos R$ 5 bilhões em crédito a micros e pequenas empresas, valor que poderia chegar a R$ 25 bilhões, dependendo da participação de bancos públicos e privados. Esse montante seria essencial para fornecer garantias de crédito emergencial às MPEs durante a pandemia, para cobrir despesas com salários, contas de água e luz, investimento e compra de mercadorias.
Houve também avanços no ambiente de negócios, com a Lei nº 14.195/2021, de 27 de agosto de 2021, que se destinava a promover a redução da burocracia para os negócios de pequeno porte, ao dispor sobre a facilitação para abertura de empresas e a proteção de acionistas minoritários, entre outras medidas.
No segundo semestre de 2021, outro revés abalaria as expectativas da população a respeito do aguardado fim da pandemia, no momento em que a vacinação avançava. Em 28 de julho, a OMS anunciou que a variante delta do SARS-CoV-2 se tornara uma ameaça global. Surgida na Índia, ela se espalhou rapidamente e alcançou 132 países em algumas semanas. Por outro lado, o Brasil registrou queda
O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19
de 42% das mortes por covid-19, de acordo com dados do Ministério da Saúde no mês de julho, uma diminuição atribuída ao avanço da vacinação. Até aquele mês, 96 milhões de brasileiros tinham recebido pelo menos uma dose do imunizante.
Depois da escalada mundial da variante delta e de sua predominância em São Paulo, em 15 de setembro, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, recebeu um lote de 100 milhões de doses da CoronaVac a serem distribuídas aos estados. Ampliando a abrangência do programa, a partir do dia 22 daquele mês, o Ministério recomendou o início da vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos. Em 14 de novembro, o Brasil já havia ultrapassado os Estados Unidos em porcentagem de vacinação completa contra a covid-19.
Segundo a plataforma Our World in Data, naquela data, 59,8% dos brasileiros tinham completado o esquema vacinal, ao passo que nos Estados Unidos o índice era de 57,6%. Desse modo, a variante ômicron do SARS-CoV-2, considerada ainda mais transmissível do que a cepa original do novo coronavírus, detectada pela OMS em 25 de novembro, embora fosse preocupante, não trouxe um agravamento na sensação de angústia que persistia entre a população brasileira.
Em 22 de dezembro, a região das Américas ultrapassou 100 milhões de casos de covid-19, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), com os Estados Unidos gerando um aumento de 36% nos casos no Hemisfério Norte. Preocupados, médicos e especialistas da Câmara Técnica do Ministério da Saúde e de entidades como Sociedade Brasileira de Imunologia, Sociedade Brasileira de Infectologia e Sociedade Brasileira de Pediatria pediam urgência na vacinação infantil no Brasil. Desde o dia 16, a Anvisa já havia aprovado o uso de vacina contra a covid-19 em crianças de cinco a 11 anos, mas a aplicação do imunizante nessa faixa etária teria início apenas em janeiro de 2022.
Até o final de 2021, o País atingiu a importante marca de 80% de sua população-alvo completamente vacinada. O Brasil também começou a oferecer a dose de reforço da vacina e fechou o ano com o retorno de atividades essenciais presenciais, mas ainda sem a liberação total das medidas restritivas. Por outro lado, a Europa e os Estados Unidos viviam o avanço da variante ômicron, reacendendo o alerta para a necessidade de manter os cuidados. Afinal, a pandemia ainda não acabara.
Do ponto de vista da saúde e da economia brasileira, a pandemia e as restrições nas atividades produtivas resultaram em uma queda abrupta na demanda externa e interna, além de limitações na oferta. Em 2020, a soma de todos os bens e serviços finais produzidos pelo País, o Produto Interno Bruto (PIB), registrou queda de 4,1% em relação ao ano anterior. Foi a terceira maior queda na série histórica desse indicador. Contudo, entrando em um ritmo de recuperação, o PIB mostrou crescimento de 4,6% em 2021, com um total de R$ 8,7 trilhões. O aumento nos índices de vacinação contribuiu para essa melhora na taxa de expansão. No entanto, a trajetória para a completa recuperação no médio prazo continuaria sendo difícil, dadas as vulnerabilidades estruturais e fiscais preexistentes e o impacto da pressão inflacionária.
Capítulo 4
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