Ana Beatriz D. F. Bavaresco “Não reconhecemos os momentos realmente importantes da vida até ser demasiado tarde.” (Agatha Christie)
AS TRÊS EMPRESAS Era uma vez três empresas. Empresas, essas, comandadas por três amigos: Cirilo, Hélio e Patrício. A empresa de Cirilo era a mais nova, mas a falta de experiência não justificava as atrocidades que lá ocorriam. Para lucrar mais, Cirilo escravizava famílias inteiras, desde crianças até pessoas de idade. Ele as mantinha em situações desumanas e dignas de piedade. Não que ele se importasse. Já Hélio, que sabia o que ocorria na empresa do amigo, preferia somente pessoas bem qualificadas trabalhando em seu negócio, senão repetiria os mesmos passos. Ele, porém, não pagava os tributos para o governo e, vez ou outra, tentava subornar o fiscal a fim de não ser mais cobrado. A empresa que há mais tempo se mantinha no mercado entre as três era a de Patrício, que estava passando por uma época difícil, porém seguia estritamente todas as normas e regras de trabalho, além de pagar todos os impostos e tributos exigidos. Sempre que os três amigos se encontravam, Cirilo e Hélio tentavam ensinar a Patrício como conseguir dinheiro fácil, porém ele nunca foi influenciado por essas ideias corruptas e nunca falsificou, adulterou ou fraudou algo em sua empresa. Um dia, uma denúncia anônima que delatava a empresa de Cirilo por escravidão chegou ao Ministério do Trabalho, que foi investigar. O empresário mais novo foi preso. Depois disso, foi compelida uma investigação a todas as empresas da região e descobriram que a empresa de Hélio fraudava os impostos. O empresário do meio foi preso. O escândalo se espalhou e Patrício, por ser publicamente amigo dos donos das empresas salafrárias, perdeu vários clientes e, por pagar todos os impostos e salários adequadamente, não conseguiu manter-se. O forte vento que o governo soprou em sua empresa a fez cair. O empresário mais velho faliu. A verdade é que, se esta fosse uma história para crianças, o honesto e correto Patrício poderia ter prosperado e sustentado seus dois amigos até que ambos conseguissem novos empregos, após terem aprendido com seus erros, e os três viveriam uma vida farta e feliz. Mas essa é a vida real.
Ana Vitória Eichenberger “É preciso ter coragem para enfrentar os inimigos, e ainda mais os amigos.” (Albus Dumbledore)
O REINO DO GUARDA-ROUPA Um certo dia, Alice andava vagarosamente pelos campos de margaridas de sua propriedade. Ela já tinha 15 anos e, subitamente, caiu em um buraco quase sem fim, na verdade, ela achou que não tinha fim, pois caiu durante horas até se encontrar com o chão. Olhou ao seu redor e se lembrou de seus sonhos e encontros com o psiquiatra quando mais jovem. Aquele lugar que ela havia encontrado era seu local proibido, aonde nunca mais ia com medo de nunca mais querer voltar à realidade. Em frente à entrada, havia um guarda-roupa que nunca havia visto antes. Decidiu adentrar ao local. Lá encontrou uma cidade medieval onde, conforme andava, ela ia notando um aglomerado de pessoas. A menina decidiu ir até lá. Era uma execução. Uma mulher tão clara que parecia gelo foi condenada e a multidão era tão a favor da condenação que estavam loucos de ódio. Após toda essa cena, as pessoas voltavam comentando até chegarem a suas casas, mas Alice viu um belo leão e quatro membros governamentais (reis e rainhas) adentrando o castelo. A menina então, os seguiu. No interior do castelo, onde tudo era luxuoso, encontrou os mesmos seres que viu ao longe adentrando o local. Um desses membros, o mais velho, era o homem mais belo que já havia visto em sua vida. Ele se chamava Pedro. Era alto, loiro, forte, seus olhos eram azuis da cor do céu e sua cortesia era apaixonante. O rei desejou a Alice boas-vindas a Nárnia. A garota sorriu e explicou como foi parar lá. Os reis e as rainhas olharam-se, mas Pedro tomou à dianteira e concedeu abrigo à jovem garota. Durante sua estadia no castelo, a loira Alice gostava de observar Pedro e seu irmão Edmundo, o segundo rei, lutarem em forma de treinamento nos jardins. Num determinado dia, Edmundo desceu sozinho para os jardins e a garota ficou preocupada. Depois de alguns minutos, imaginado o que poderia ter acontecido ao amado, ouviu batidas na porta. Era Pedro que vinha pedi-la em casamento. Claro que Alice aceitou. A celebração foi gigantesca e todos do reino compareceram, até o belo leão Aslam. A união de Pedro e Alice era bela, porém desaprovada pelos irmãos. Em uma determinada noite, os mesmos foram encontrados mortos. Apesar de Alice estar grávida, Pedro deduziu que ela assassinou seus irmãos, mas ela tentou provar o contrário. Mesmo assim foi condenada a uma execução pública na forca.
Claro que Alice, com a ajuda de Aslam, conseguiu fugir e voltar ao seu mundo. Sem Pedro e sem os oito meses de gravidez, a magia seria desfeita e, por sua idade, a garota nunca mais poderia visitar Nárnia. Pedro, tempos depois, casou-se com uma bela índia, filha do cacique da região. Pedro estava cegamente apaixonado, mas mal ele sabia que foi essa tal índia, que atendia como “Poucahoupa”, quem cruelmente assassinou sua família para a jovem loura e mimada sumir e ela ter poder em Nárnia.
Beatriz Argeri Rodrigues “Me desculpem os Heróis. Eu particularmente, prefiro os vilões.” (Sonia Solange da Silveira)
O LOBO Era uma vez, em uma vila muito distante, uma jovem que todos chamavam de Chapeuzinho Vermelho. Essa vila, apesar de pequena, enfrentava um enorme problema: um lobo. Um lobo tão grande quanto um urso, mais forte que um touro e mais feroz que um tigre. Um animal diferente de tudo que já haviam visto. Todos tinham medo dessa criatura, menos Chapeuzinho. Uma bela tarde, sua mãe lhe entregou uma cesta cheia de doces e pediu para que ela levasse para sua avó. Quando saiu de casa, estava quase escurecendo e fazia frio, mas Chapeuzinho não tinha medo. Pegou sua capa e foi andando tranquilamente em direção à casa de sua avó. – É uma pena que as nuvens estejam encobrindo a lua! – ela comentou consigo mesma. Seria mais fácil enxergar! Ao chegar ao seu destino, ela viu a casa toda trancada, com madeira nas janelas e lampiões distribuídos entre os celeiros dos animais, provavelmente usados para espantar o lobo. “Que bom! A Lua já está aparecendo. Assim, não volto pra casa no escuro!” – ela pensou, enquanto batia na porta da casa. Porém, ao bater pela terceira vez, ela começou a ficar tonta e, quando a porta abriu, ela estava desmaiada no chão. Ao acordar, ela não se lembrava de nada. Estava com muita dor de cabeça, os braços e pernas machucados e sua capa estava no chão, ao lado da cesta de doces destruída. Ela se levantou e começou a andar pela casa em busca de sua avó. Procurou por muito tempo, mas ela não estava em lugar algum. “Que estranho! A vovó não gosta de sair de casa à noite, ela tem muito medo do lobo!”. Ao escutar um barulho vindo da sala, Chapeuzinho saiu correndo escada abaixo e, lá, ela viu um homem. – Quem é você e o que está fazendo na casa da minha vó? Ele, finalmente, notou a presença de Chapeuzinho na sala e a olhou espantado. – Sou um caçador! Me desculpe por entrar assim, mas escutei um uivo por aqui, achei que fosse o lobo! – Não tem nada aqui, não se preocupe! – ela disse, tentando fazer com que ele saísse.
Ele começou a andar pela sala, ainda desconfiado. – Tem certeza? Posso jurar que ouvi o lobo aqui! – ele comentou, enquanto pegava a capa de Chapeuzinho do chão. Onde está sua avó? Ela estremeceu por dentro. Não estava gostando do rumo da conversa. – Deve estar no galinheiro! Ou em qualquer outro lugar! O quintal dela é bem grande! Ela olhou para sua capa nas mãos daquele sujeito e podia jurar que estava mais vermelha que antes. Ele riu de um jeito estranho e voltou seus olhos para ela. – Finalmente! Depois de tanto tempo! – ele deu uma pausa para rir de novo. Eu finalmente achei o lobo! Ele sacou sua espingarda rapidamente e a apontou para Chapeuzinho que quase caiu para trás. – Como? Está tentando me dizer que o lobo entrou aqui? – ela perguntou chocada. – Não se faça de desentendida! VOCÊ É O LOBO! – ele gritou. – O que? Não! Eu... – Os sinais! Você tem os sinais! Você perde a memória na lua cheia, o momento em que o lobo ataca! Você sempre está perto dos lugares atacados! Você não é como qualquer criança normal, que tem medo do escuro e da noite! – ele disse, enquanto se aproximava mais. Você tem uma capa tão vermelha quanto o sangue das pessoas que matou! VOCÊ É O LOBO! Antes que ele tivesse a chance de atirar, algo o acertou por trás e o fez desmaiar. Era a mãe de Chapeuzinho. Ela abraçou a filha enquanto chorava. – Me desculpe! Não devia ter te mandado sair! A culpa foi minha! Eu devia ter lembrado que dia era hoje! – Mãe, do que está falando? – Filha, lembra da história que te contei quando te dei aquela capa? Aquela em que uma garotinha encontra um lobo mau?! – A senhora era a garotinha, não era? A mulher suspirou aliviada por não ter que explicar a história. De repente, escutaram um uivo. – Vá! – a mulher falou. Seu pai está te chamando!
Bruna Pinto Catão “Debaixo da maquiagem e por trás do meu sorriso, eu sou apenas uma menina que deseja o mundo.” (Marilyn Monroe)
BRANCA ADORMECIDA E O SAPATINHO DE CRISTAL Branca era uma doce jovem de ótimo coração e de aparência muito bela. Tinha a pele branca como a neve, os olhos claros como a aurora do céu e os cabelos louros e sedosos. Filha do rei de um reino muito distante, ela era muito amada por todos, devido a sua delicadeza e gentileza, menos por uma pessoa, uma mulher, uma bruxa, que morria de ciúmes da pequena princesa. Em seu batizado, a bruxa invadiu o salão e lançou uma maldição sobre a pequena, que dizia que, à meia noite do seu décimo sexto aniversário, a menina calçaria um sapatinho de cristal e cairia em um sono eterno. O rei ordenou que todos os sapatinhos de cristal fossem destruídos e as sapatarias fechadas. A menina foi levada para a floresta, onde cresceria e viveria com sete anões. Na minúscula casa, ela cresceu com graça e sempre com uma alegria admirável, mesmo quando tinha que arrumar toda a casa enquanto os anões trabalhavam na mina de ouro, no meio da floresta. Um dia, enquanto andava pela floresta, Branca encontrou um lindo e gentíl príncipe, que, admirado com a sua beleza, lhe deu um sapatinho de cristal que encontrara perdido na floresta. Depois de muito conversarem, cada um seguiu o seu rumo, mas, a partir daquele momento, um não sairia da cabeça do outro. A menina não tirava o sapatinho do pé, porém, quando os anões o viram, logo o quebraram em pequenos pedacinhos de cristal. Mas, como a maldição não poderia ser quebrada, à meia noite de seu décimo sexto aniversário, os pedacinhos se juntaram com mágica e Branca o calçou, caindo em sono profundo. Com muita tristeza, os anões levaram o corpo da menina ao seu pai, que tentou de tudo para salvar sua filha. Nem mesmo o beijo do maravilhoso príncipe havia funcionado. Até que uma moça, aparentemente jovem e desconhecida, chegou e abraçou o corpo, como se a conhecesse há muitos anos e Branca acordou sem saber onde estava e logo abraçou novamente a mulher que salvou sua vida. A desconhecida, nunca vista no reino, era a bruxa, a mesma que lançou a maldição e que, arrependida de seus atos, acompanhou a doce menina durante toda a sua vida. O amor da bruxa curou o ódio que vivia dentro de si e que ela sentia pela princesa, a adorável Branca Adormecida.
Eduardo Augusto I. Estrella “O amor não vê com os olhos, vê com a mente; por isso é alado, é cego e tão potente...” (William Shakespeare)
SOLDADINHO DE PAPEL Em um dia de Natal, uma criança recebeu uma caixa de presente. Ela era de papelão e estava rasgada. – Papai, quem me enviou essa caixa? – Foi a sua avó, meu querido. O menino ficou feliz em saber que sua avó enviara-lhe um presente de Natal, pois ele nunca recebia presentes. O menino abriu a caixa com cuidado e ficou surpreso com o que ganhara: um soldadinho de papel. – Papai, ganhei um soldadinho! – Sério?! O menino tirou, delicadamente, o soldadinho da caixa. – Nossa! Mal posso esperar para apresentá-lo aos meus amigos. O menino levou o soldadinho para conhecer seus outros brinquedos de papel: “Pronto agora está tudo certo, irei dormir para brincar com eles amanhã”, pensou o garoto. – Espere, mocinho! Seus primos estão chegando para a ceia de Natal. Você não vai dormir agora. O menino estava comendo as poucas frutas que havia na ceia e, duas horas depois, ele estava exausto e foi dormir, mas, por algum motivo, ele se sentia diferente naquela noite. No meio da madrugada, o soldadinho criou vida e começou a se localizar. Ele estava embaixo da mesa. O soldadinho seguiu pelo pequeno corredor e, por engano, acabou entrando no quarto do menino. Lá havia uma bailarina feita de papel que ele tinha conhecido quando o menino lhe apresentara seus amigos. A boneca mexia-se com rapidez, ou seja, estava viva. O soldadinho apaixonou-se por ela e prometeu protegê-la de todo o perigo existente na face da terra. Ela não precisaria ter medo nem da água nem do fogo, de nada. A bailarina deu um sorriso e foi correndo pelo corredor e o soldadinho a seguiu. Os dois nem sequer falaram uma palavra para o outro, mas os olhares já diziam tudo. A bailarina foi até a pequena cozinha e
atravessou por debaixo da porta para sair da casa. O soldadinho a seguiu, sem entender para onde ela estava indo. Lá fora era um lugar lindo, muitas árvores e estrelas no céu. A bailarina sentou-se embaixo de uma árvore onde gostava de ficar nas noites em que estava sozinha, mas, dessa vez, ela estava acompanhada: um soldado valente feito do mesmo material que o seu. Os dois estavam conversando em silêncio. Sem nenhuma palavra eles conseguiam entender os sentimentos um do outro. Enquanto conversavam, começaram a sentir algo molhado em volta deles. Estava chovendo, ou seja, isso era muito ruim, pois os dois eram feitos de papel. O soldadinho lembrou-se do seu compromisso: proteger sua amada a qualquer custo. Ele a pegou no colo e começou a correr muito rápido em direção à casa do menino. A cada passo, o soldado ficava menor, pois a água ia derretendo o seu corpo. Quando percebeu que quase não tinha mais corpo, o soldado deixou a bailarina, delicadamente, na varanda da casa, onde não havia gotas de chuva. O soldado não conseguia mais se mexer, pois perdeu quase todo o seu corpo. A bailarina estava um pouco molhada, mas nada que fosse capaz de estragá-la. Ela deu um beijo na testa do soldado e, logo depois, ele se desmanchou. Vendo que não poderia fazer mais nada para salvar seu amado, a bailarina entrou por debaixo da porta e voltou para o quarto do garoto. Na manhã seguinte, o menino acordou e procurou o soldadinho para brincar. Como não o encontrara dentro de casa, o menino foi procurá-lo do lado de fora, quando viu, na grama, pedaços de papel molhado. O garoto recolheu os papéis e os jogou no lixo, pois estavam deixando o seu quintal sujo. Ele mal sabia que jogara fora o melhor presente que ganhara naquele ano: O soldadinho de papel.
Enzo Luz da Silva “O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.” (Mário Quintana)
VINGANÇA Era uma noite fria de dezembro, quando Hans ouviu um barulho na janela. Naturalmente, ele pensou que o vento fosse o responsável pelo ruído e decidiu voltar a dormir, porém, ao se virar, ficou face a face com um par de olhos amarelados e, antes que pudesse gritar, teve sua boca tapada por uma pata coberta por pelos. – Hei de destampar sua boca, mas, se tentar gritar, dou cabo de sua vida com meu punhal – disse o invasor. Hans não precisou mais do que ouvir a ameaça para saber que estava em poderio de um assassino, que não hesitaria em cumprir a ameaça. – Quem ou o que é você? – disse o homem suando. – Eu? Eu sou apenas um mísero gato – disse o facínora. Após a afirmação, Hans observou melhor o gato e se viu diante de um animal com pelos castanhos, olhos amarelados, um punhal em uma das patas e vestindo um par de botas. – O que você quer de mim? – indagou o homem. – Quero vê-lo morrer sangrando aos poucos depois de destruir sua fortuna, que, bem sei, guarda em um cofre. – Por que quer me ver morto? O que eu lhe fiz? – Você? Simplesmente não fez nada. Entretanto é graças a pessoas ricas e que não fazem nada pelos outros, como você, que meu amo hoje está morto! O coitado morreu, aos poucos, de fome e não pude fazer nada! Já pessoas que poderiam fazer algo, simplesmente olharam com menosprezo. – Por favor, clemência! – Rio de seu pedido, assim como dos outros que matei. Lembra-se do barão que teve a casa incendiada na semana passada? Pois bem, implorou como você, todavia as chamas não tiveram piedade dele! – e o sórdido felino soltou uma gargalhada.
Naquela altura, Hans já sabia que estava perdido e seguiu a ordem do animal: pegar toda sua fortuna em dinheiro, títulos e contratos de posse e os jogar na lareira, sem questionar ou lamentar. – Posso fazer um único e último pedido, já que irá me matar? – pediu o desiludido Hans. – Fale – disse friamente o gato. – Dê-me uma morte rápida e indolor, por favor. – Claro – respondeu o outro ironicamente – vou dar a você uma morte assim como meu dono teve: lenta e muito dolorosa! – e, dizendo isso, decepou as duas mãos do homem, que agonizou por longos minutos antes de perecer. Ao olhar a cena, o gato foi tomado por uma onda de prazer única. Em sua mente deturpada, ele pensava em como proporcionar mais dor a suas próximas visitas aos homens ricos do reino, até que todos pagassem com suas míseras vidas pelo descaso com os menos favorecidos. E assim, o felino, que por suas botas passou a ser chamado de Gato de Botas, seguiu levando a morte e a destruição por onde passasse.
Gabriel Herrera R. Pereira “Nem a peste nem a morte causarão terror, se viveres bem e piedosamente.” (Autor desconhecido)
A PRAGA Em uma fazenda muito distante, uma praga desconhecida estava devastando a plantação. Logo que ela surgiu, Clark, o dono da fazenda, fez um anúncio: “Aquele que conseguir exterminar a praga que assola minhas terras terá como recompensa metade da propriedade”. Muitos homens apareceram à porta do fazendeiro dizendo que poderiam exterminar a praga, mas nenhum conseguiu. Até que um dia, quando Clark já tinha perdido as esperanças, um homem bateu à sua porta. Ele usava roupas parecidas com a de um cientista, mas meio maltrapilhas. Ele também tinha uma barba rala e cabelos e olhos castanhos. Quem abriu a porta não foi o fazendeiro, mas sim sua filha que, ao ver o desconhecido, disse: – O que um moço tão bonito está fazendo nessas terras? – disse ela com tentação no olhar. – Eu vim aqui para exterminar a praga que está matando sua plantação – respondeu o moço com o mesmo tipo de olhar. – Se você está aqui para isso, me diga o seu nome. – Meu nome é Walter White e o seu? – O meu é Adelaide. – Um nome tão bonito quanto você. Adelaide era morena, com cabelos longos e um corpo bem farto. Nesse momento, o pai da jovem apareceu no canto da porta. – O senhor veio aqui para cuidar da praga ou da minha filha? – disse o fazendeiro com um ódio no olhar. – Da praga senhor. Aliás, meu nome é Walter. – Agora veremos se você consegue fazer esse simples trabalho. – Tenho quase certeza de que eu consigo, senhor.
Walter havia trazido consigo uma substância que poderia ser dispersa em forma de aerosol. Ele pediu para o fazendeiro emprestar seu pequeno avião que antes era usado para espalhar veneno. Walter carregou o avião com essa substância e começou a espalhá-la pela plantação. Poucos minutos depois do vôo, a praga começou a morrer. – Sr. Clark, o trabalho está feito – disse Walter com orgulho no olhar. – Isso quem diz sou eu. E então os dois foram até a plantação e viram que, realmente, a praga tinha ido embora. – Que Deus lhe abençoe, jovem. Você salvou minhas terras! – disse Clark com a maior euforia. – Agora que o senhor viu meu trabalho, quero minha recompensa. – Você nunca a terá. Saia imediatamente de minhas terras — disse o fazendeiro com ganância na voz. O rapaz foi embora, mas com a intenção de retornar. Durante a noite, Walter voltou à fazenda e, enquanto o fazendeiro dormia, ele acordou Adelaide e juntos eles pegaram o avião e fugiram. Mas antes, enquanto eles sobrevoavam a fazenda, Walter liberou uma substância que matou toda a plantação. A área continua inútil até os dias de hoje. Já os dois nunca foram encontrados.
Gabriela Argeri Rodrigues “Todo mundo devia ser aplaudido de pé pelo menos uma vez na vida, porque todos nós vencemos o mundo.” (R. J. Palacio)
O LOBINHO E OS TRÊS PORCOS Há muito tempo, os lobos estavam passando fome por uma ordem dos deuses, pois, segundo eles, os lobos estavam se multiplicando de maneira descontrolada e devorando toda a Criação. Sendo assim, foi criada uma lei que não permitia que os lobos matassem outros animais, principalmente, os mais fracos como humanos e porcos. Qualquer um que violasse essa lei estaria condenado a morrer de maneira dolorosa. Durante esse tempo de miséria entre os lobos, um lobinho estava passando por uma cidade dos homens e ficou curioso para saber como uma raça tão repugnante se tornou protegida pelos deuses. Foi caminhando lentamente ao redor da cidade e viu uma casa que não era feita para homens e sim para animais. Ele chegou mais perto e viu três porcos gordos que apenas riam e comiam. Quando viram o lobinho, os porcos começaram a rir mais alto e a insultá-lo: – Olha para aquilo, é daquela raça infeliz que sempre tínhamos medo! – falou um deles. – Mesmo que ele quisesse nos atacar, não teria forças para caminhar até aqui – insultou o outro. Cada vez mais o lobo não entendia porque os deuses os faziam suportar isso, mas ele sabia que, se os atacasse algo pior cairia sobre ele. – Não é justo – pensou ele. Eu também quero viver. Então, pulou sobre um monte de palha até chegar ao telhado, já não se importando com as consequências. Se fosse morrer, morreria com orgulho como um verdadeiro lobo mesmo que quase todos já houvessem esquecido o que era isso. Os deuses, que estavam observando e já sabiam das intenções do lobinho, fizeram com que uma telha se soltasse e o lobinho caísse sobre uma fogueira. Enquanto caía, ele olhou para o céu e perguntou: – O que fizemos para deixá-los com tanta raiva? Ele jamais obteve uma resposta.
Gabriela Rodrigues Ramos “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” (Pequeno Príncipe)
A MAIS NOVA BELA ADORMECIDA Era uma vez, num lindo castelo, uma moça de dezenove anos que morava com sua madrasta e duas meias-irmãs, Anastácia e Drusila. A moça perdera o pai recentemente e vivia às custas da “mãe”. Ela era muito maltratada. Só limpava a casa e lavava louças. Seu nome era Cinderela. Muito longe dali estava Aurora, mais conhecida como Bela Adormecida. Essa estava amaldiçoada por uma bruxa que lançou contra ela um feitiço que a faria dormir eternamente, após atingir seus dezoito anos e furar-se numa roca de fiar. No reino de Cinderela, haveria uma festa com um príncipe maravilhoso e a princesa só estava preocupada com a roupa que iria pedir para sua fada madrinha criar. Estava super feliz, mas sabia que seu momento de beleza era passageiro. Aurora ficou sabendo desta festa e queria muito ir para aproveitar seus últimos momentos “acordada”, pois seus dezoito anos estavam por vir. Então, como ambas já se conheciam, decidiram fazer um acordo sensacional. No dia da festa com o príncipe, Aurora foi à casa de Cinderela às escondidas. Estavam prontas e lindas, mas, ao saírem do castelo, as duas trocaram de lugar. Assim Aurora foi à festa para se encontrar com o príncipe e não dormiu e a mais nova “Bela Adormecida” foi a Cinderela que adormeceu com seu vestido encantado para sempre e nunca mais teve que usar aqueles trapos que sua madrasta lhe dava.
Isabella de Paiva Pallos “Tenho em mim todos os sonhos do mundo.” (Fernando Pessoa)
A NOVA VERDADEIRA VERSÃO Vou contar a vocês o motivo de eu viver assombrando a vida de dois jovens considerados “inocentes”, mas muito pelo contrário, vou mostrar de quem é a verdadeira culpa. Eles eram pequenos, quando eu os conheci, mas, a maneira como invadiram minha casa, já me fez adquirir um certo ódio por aqueles malandrinhos. Começaram a devorar a minha atraente casa feita de doces e a única explicação que me deram foi que estavam fugindo de sete anões amaldiçoados e que haviam sido abandonados pelo pai e pela madrasta. Até que fui gentil em abrigá-los, mas eles eram mesmo uns ingratos. A menina vivia dizendo que eu a fazia de escrava, sendo que a única coisa que eu lhe pedia era ajuda. Já o menino, eu dava muita comida para ele, me preocupava com a sua saúde, porque ele tinha chegado muito desnutrido a minha casa. Um dia, eu estava preparando um jantar maravilhoso e pedi para a ingrata me ajudar e, inesperadamente, fui jogada de forma brutal dentro do forno, onde morri agonizando. Consigo sentir a dor até hoje, quando me lembro desse momento. Os dois queriam se apoderar de toda minha riqueza, por isso hoje tento fazer da vida deles um inferno. O problema é que eles viraram jovens destemidos e honrados por toda a cidade: caçam bruxas, espantam espíritos malignos e quaisquer outros seres sobrenaturais. Já cheguei até a mexer com seus amigos, como a Chapeuzinho Vermelho, aquela metida. Entrei no corpo de um lobo para devorá-la, mas eles a tiraram de minha barriga e assim deixei o corpo do animal, que morto, para mais nada me servia. Apesar de meu fracasso, continuarei tentando até me vingar dos sortudos, cujos nomes ficam atormentando a minha cabeça: João e Maria.
José Renato M. Zuccolotto “Não se implora por direitos, se luta por eles.” (Adolf Hitler)
CHAPEUZINHO VERMELHORADA? Após passar alguns anos na floresta, morando com sua mãe e passando por diversos apuros, Chapeuzinho, uma linda garota de apenas quinze anos, foi morar em São Paulo, em busca de trabalho, escola e conforto. A adaptação à cidade foi rápida e fácil. Ela possuía muitos amigos na escola onde estudava, ganhou um celular de última geração, o qual sua mãe suara muito para conquistá-lo, e até arranjou um namorado... Tudo corria perfeitamente! Os anos foram se passando e a encantadora beleza de Chapéu chamou a atenção de vários fotógrafos e, então, sua fama foi crescendo. Chegou um ponto em que todos os dias havia algo a se fazer: um dia, conceder entrevistas, outro, ensaio de fotos. E assim foi levando a vida até os trinta e cinco anos, quando a fama e o dinheiro começaram a diminuir. Já não era mais aquela encantadora menina, então, resolveu tomar uma das decisões mais difíceis e que mudaria o rumo de sua vida... Um implante de silicone. A garota sabia de todos os riscos e de todos os males que poderiam acontecer, mas, com tanto dinheiro e envolvida em um caso de sucesso, resolveu arriscar. A cirurgia começou. Chapéu tinha planejado colocar 500 ml de silicone, mas, o pior aconteceu. O corpo não reagiu muito bem às próteses e um tumor nasceu no lugar dos seios, obrigando-a a retirá-lo e ver seu fracasso e sua fama irem por água abaixo. A mídia e o mundo esqueceram-se da menina que encantara todo o Brasil por um longo tempo. Deprimida, Chapéu voltou para suas origens, onde brincava feliz todos os dias e os seus maiores obstáculos eram uma simples estrada na floresta. Foi uma boa mudança? Perguntou-se até o fim da vida, quando morreu com um novo câncer nas mamas.
Karolina de Oliveira Parada “Se a saudade chegasse pelo ar como as ondas de rádio, em que lembrança você sintonizaria a memória?” (Autor Desconhecido)
BIANCA DE NEVES E UMA MULHER Era uma vez uma menina de dezenove anos chamada Bianca de Neves Faria. Ela morava em uma pequena casa com sua madrasta, uma mulher arrogante e extremamente vaidosa. Levava uma vida comum, marcada por decepeções como a perda da mãe, quando ainda era um bebê e, algum tempo depois, a morte de seu pai. Tinha que viver como podia ao lado daquela mulher que pouco lhe fazia agrados, mas a situação era recíproca. Bianca estava cansada de sua madrasta, não aguentava mais vê-la todos os dias em frente ao espelho, repetindo palavras de seu próprio ego. Porém, tinha uma coisa em sua vida que sempre a incomodara: os homens. Não importava, todos com quem ela tentou se relacionar não eram bons o suficiente para ela. Passaram por sua vida, ao todo, sete homens. O primeiro foi Mateus. Não adiantava o quanto ele lhe agradava, ela o achava muito autoritário, mandava em tudo. Foi logo descartado. Depois, veio Arthur, mas ele tinha rinite e sofria alguns surtos de espirros de vez em quando. Ela não aguentou, sentia-se irritada a cada espirro. O terceiro era Fernando. Nada o deixava triste e era sempre muito alegre, de “bem” com a vida. Ela não conseguiu ficar mais do que três meses ao seu lado. Dizia que ele não sabia levar as coisas a sério. O quarto era o Zé. Ele não sabia demonstrar nenhum tipo de afeto por Bianca. Estava sempre de cara fechada. O quinto era Samuel. Ele era realmente tudo o que ela queria, mas, assim como nos outros, conseguiu achar um defeito: ela não se conformava com o tanto que o homem dormia, estava sempre com sono. Por fim, vieram os últimos: Daniel e Diego. Não foi diferente. Para ela, Daniel era muito tímido, mal conversava e tinha vergonha de todos. Diego, sem dúvidas, foi o mais desastroso. Ela o conheceu em um site de relacionamentos e, quando se encontraram, ela descobriu que ele era mudo. Percebeu que não adiantava mais. O problema deveria ser com ela. Então, certa vez, descobriu que seu interesse não era realmente esse. Conheceu uma mulher que satisfazia todos os seus desejos. Mudouse para a casa dela e começou uma nova vida. A madrasta nem sequer sabe que ela está viva.
Mas nada mudou para ela. Nem para a menina, que espera que, assim como elas, a madrasta tambÊm encontre alguÊm que lhe satisafaça. Enquanto isso, a madrasta se contenta com seu maior companheiro: o espelho. Sua imagem.
Katrin Küll Gatz “Deixe seu coração lhe guiar. Ele sussurra, então preste atenção.” (Disney)
CINDERELA E SUA JULIET Era uma vez uma jovem que amava funk, mas, como ainda era muito nova, sua mãe não a deixava frequentar os bailes da cidade. Quando Cinderela fez quinze anos, ganhou de seu pai um lindo salto alto de brilho, e sua mãe a deixou ir aos tais bailes. No mesmo dia, já tinha combinado com suas amigas de ir ao baile funk que teria no sábado à noite. Cinderela, toda animada, já tinha preparado sua roupa e é claro que iria usar o salto que seu pai lhe deu de aniversário. Sábado à noite chegou e Cinderela já estava pronta, despediu-se de seus pais e saiu. Chegando ao baile, encontrou suas amigas, que já estavam conversando com o MC. Bem educada, Cinderela cumprimentou todos e trocou olhares com aquele homem que, em alguns instantes, subiria ao palco. Assim foi a noite toda, MC trocando olhares com Cinderela. De repente, ela percebe que acaba de perder a lente da sua juliet. Se fosse o sapato, estava tudo bem, mas não, o que ela perdeu mesmo foi a lente e seus óculos mais caros e, desesperada, saiu correndo do baile para voltar para casa. Toda apressada para ir embora, Cinderela tropeçou na escada e quase caiu de cara no chão, mas sentiu que uma mão a puxava para cima. Era o MC com a lente de sua juliet. Cinderela ficou muito feliz em recuperá-la e, quanto ao MC, bom, eles se beijaram e voltaram para o baile. Quando o relógio marcou duas da madrugada, já era tarde demais para inventar uma desculpa para sua mãe sobre seu atraso. Como Cinderela já sabia que o castigo a esperava quando chegasse em casa, decidiu ficar até o baile acabar.
Laura Dourado L’Apiccirella “Pessimismo leva à fraqueza, otimismo ao poder.” (William James)
O SUSTO DA CHAPEUZINHO Um certo dia, a mãe de Chapeuzinho, cansada de tanto trabalhar, pediu para a pequena menina levar doces para a sua avó. E, como sempre, a mãe dava-lhe o velho sermão para passar pelo meio da floresta. Mas, como a Chapeuzinho Vermelho era muito desobediente, ela sempre fazia o outro caminho, e nunca via o tal do lobo mau. Em uma tarde meio chuvosa, ela passava pelo meio da floresta, quando ouviu uns barulhos estranhos. E, então, ela saiu correndo do caminho que a mãe havia pedido. Na manhã seguinte, ela foi à escola e uma amiga apostou que, naquele dia, ela iria levar os doces pelo caminho do mal, e que não correria caso ouvisse algum barulho. Naquela tarde, foi dito e feito. A vermelhinha passou pelo caminho ruim e, de repente, ouviu muitos barulhos estranhos e, ao olhar para trás, viu um lobo correndo na sua direção. Ele parecia estar faminto. A menininha, com medo, tentou sair correndo, mas o lobo a atacou. Rapidamente o vizinho da vovozinha viu e ligou para a ambulância. Sua mãe foi correndo em direção à floresta e a garota, chorando e bastante machucada, pediu desculpas para sua mãe por tê-la desobedecido. A Chapeuzinho ficou internada por dois dias e logo voltou a levar doces para a sua avó, mas dessa vez pelo caminho seguro. Chegando à casa da avó, bateu na porta, que já estava aberta. Sem notícias, entrou e foi pega de vez pelo lobo, que já deveria ter comido a sua avó. E foi assim que aconteceu a trágica história da Chapeuzinho.
Laura Morais Alves “Be the change you wish to see.” (Anônimo)
CINDY E O COLARZINHO DE CRISTAL A grande noite havia chegado! Enquanto eu me vestia e fazia minha maquiagem, pensava o quanto eu e minhas amigas iríamos nos divertir na festa de hoje. Meu cabelo loiro estava semipreso e meu vestido azul contrastava com a maquiagem escura dos meus olhos Estava me sentindo uma princesa! Antes de sair de casa, não pude deixar de tirar uma foto e postar. Desci as escadas de casa procurando pelas chaves do carro na bolsa. – Ei, Cindy! – meu pai me chamou – Não chegue em casa tarde, ouviu? No máximo à 01:00 da manhã! Revirei os olhos e assenti, me despedindo. Minutos depois, eu já havia chegado ao lugar, a grande casa da minha amiga Isabella. Apresentei o convite e entrei na festa, olhando maravilhada para aquele lugar lindo. Avistei minhas amigas e fui logo cumprimentá-las. Fiquei dançando e rindo muito com elas a noite toda, até que senti alguém me cutucando. Virei para trás e vi aqueles olhos me olhando com um certo encanto. – Oi! Tudo bom? – o garoto disse mexendo no cabelo. E foi assim que começamos a conversar naquele dia. O tempo passou tão rápido enquanto conversávamos que levei um susto ao olhar no relógio e ver que já era quase 01:00 da madrugada! – Ai, meu Deus! Preciso ir, me desculpe! – levantei do banco onde estávamos sentados e caminhei apressada até a saída. Meu pai me mataria se eu me atrasasse! – Calma aí, quando vamos nos ver de novo? – ele disse parecendo não entender minha pressa. – Não sei! Me perdoe! Beijos. Entrei no carro e acelerei nas ruas da grande cidade de Portland. Quando cheguei em casa, dei graças a Deus por meus pais estarem dormindo, pois já passava da 01:30h! Coloquei meu pijama e fui dormir. Ao deitar, passei a mão pelo pescoço e senti falta do meu colar de cristal. “Na minha pressa de vir embora, talvez o colar tenha arrebentado e caído...”, pensei. Me senti muito mal por ter perdido o colar
que minha avó havia me dado, quando eu era mais nova, pois havia um grande valor sentimental nele. Porém, também me senti muito feliz, já que esse seria o motivo perfeito para aquele garoto e eu nos reencontrarmos. Peguei meu celular e procurei seu nome nas redes sociais. Vi que ele estava “online” e lhe perguntei sobre o colar. Segundos depois ele havia me respondido, falando que o tinha encontrado no chão e guardado para me entregar. Comemorei mentalmente e sorri imaginando nós dois nos vendo novamente. Conversamos por mais alguns minutos, até que o sono me venceu... Me deitei de lado na cama, imaginando o dia em que Gustavo e eu iríamos sair juntos de novo. Assim, acabei adormecendo.
Laura Nouer Piasentin “No fim dá tudo certo, e se não deu certo é porque não chegou o fim.” (Fernado Sabino)
DIAGNOSTICADA COM CÂNCER Meu nome é Ana e tenho uma história de vida um pouco maluca. No dia do meu nascimento, os médicos disseram aos meus pais que eu tinha um problema pulmonar e que, quando fosse adolescente, provavelmente teria um tumor. Meus pais ficaram muito assustados e tomaram medidas para que isso não acontecesse. Fiz várias cirurgias e passei por vários tratamentos para evitá-lo. Mas nada adiantou. O tempo foi passando e meus dezesseis anos chegaram e, assim como os médicos haviam dito, fui diagnosticada com câncer no pulmão. Foi horrível, não só para mim, mas para todos os meus familiares e amigos. Principalmente para meus pais, porque eles acreditavam que todos aqueles anos de tratamentos e cirurgias iriam funcionar e que eu melhoraria. Mas infelizmente isso não aconteceu. Passei os anos intercalando entre minha casa e o hospital e, às vezes, até na UTI. Já tinha vinte e seis anos e nenhuma previsão de melhora. Um certo dia, me chamaram para conversar, junto com meus pais, sobre um tratamento que um médico jovem sugeriu e que alegava funcionar. Como já estávamos sem esperanças, decidimos aceitar. Então fomos conhecer o médico e para minha surpresa era o Carlos. Eu o conhecia. Antes de ser diagnosticada, Carlos e eu éramos namorados, na escola, mas, com o tempo, não pude mais frequentar as aulas e perdemos contato. O momento em que nos reencontramos foi um pouco estranho. Fazia quase dez anos que não nos falavámos e lá estávamos nós, tentando curar meu câncer. Mas estávamos lá profissionalmente e ele parecia estar bem confiante. Demos início ao tratamento e, em aproximadamente um ano, já estava me sentindo bem melhor. Estava muita grata por Carlos estar conseguindo me curar. Naquela semana, eu estava no hospital para fazer alguns exames e ele foi até meu quarto dizendo que precisava falar comigo. Fiquei assustada e logo o interrompi: – Dr. Carlos, aconteceu alguma coisa no tratamento? O que foi? – Não, graças a Deus, não! Queria te dizer que, desde o colegial, eu sempre senti algo por você, e não aguentava mais, precisava te contar.
– Falando a verdade, eu também sempre senti algo por você. Quem sabe isso poderia dar certo. Hoje estou aqui, contando essa história que parece um conto de fadas. O final dela é feliz. Meu câncer foi reduzido a quase nada por causa do tratamento de um médico muito especial que passou a ser meu marido e pai de duas meninas perfeitamente saudáveis.
Luiza Dourado L´Apiccirella “Sempre deixa sua consciência ser seu guia.” (Disney, Pinóquio)
PINÓQUIO E O FUTEBOL Certa vez, um senhor chamado Gepeto fez um boneco de madeira. Ele e sua esposa deram ao boneco o nome de Pinóquio. De repente apareceram quatro fadas madrinhas: Joana, Maria, Julia e Carla. A primeira deu-lhe uma roupa muito bonita e colorida. A segunda um chapéu com uma pena. Julia trouxe-lhe um par de sapatos. E a última concedeu-lhe livros e uma luva. As fadas deram-lhe vida. Gepeto e sua esposa estavam muito felizes, porque agora eles tinham um filho, já que sua esposa Natália não podia engravidar... O casal queria criar muito bem seu filho. Colocaram-no na escola e também o matricularam em uma escolinha de futebol, já que Pinóquio amava bola. Um dia, Pinóquio fugiu da escola e foi jogar futebol. Naquela hora, suas fadas madrinhas apareceram e ficaram muito bravas e tristes. Ele também ficou muito triste. Voltou para casa para contar e obedecer a seus pais, mas, no caminho, um cachorro contou para ele que seus pais estavam a sua procura. Chegou em casa e seus pais estavam muito bravos. Então resolveu mentir, falando que passou na padaria. Mas, de repente, seu nariz começou a crescer e suas fadas lhe disseram: “Pinóquio, não faça isso, é errado! Toda vez que você mentir, o seu nariz irá crescer”. Depois daquele dia, Pinóquio nunca mais mentiu.
Maria Carolina M. Dias Batista “Você pode sonhar, criar, desenhar e construir o lugar mais maravilhoso do mundo. Mas é necessário ter pessoas para transformar seu sonho em realidade.” (Walt Disney)
A BELA DESMAIADA Bela era uma menina linda, inteligente, filha única e mimada. Morava com seus pais, que a tratavam muito bem, porém eles não a deixavam sair com seus amigos. A menina, como ainda era adolescente, odiava isso e não entendia o porquê de seus pais não a deixarem sair como seus amigos saíam. Ela nunca podia ir a festas com seus colegas e isso lhe chateava muito. Estava chegando o aniversário de uma amiga e Bela sabia que teria uma festa em que todos da escola iriam, mas sabia que, se quisesse ir, teria que inventar uma mentira para seus pais. Na manhã seguinte, a menina pediu para seus pais se podia ir à casa de sua amiga logo depois da aula e dormir lá, pois elas tinham que fazer um trabalho de escola. Sua mãe, como já conhecia a amiga, deixou Bela ir. Depois da escola, quando já estava de noite, Bela e sua amiga se arrumaram para a festa, como o combinado. Na festa, a menina viu todos os seus amigos bebendo e quis fazer o mesmo, mas ela não tinha ideia das consequências de beber muito. A garota bebeu demais e acabou desmaindo e, então, um dos meninos que estava lá na festa, aproveitou-se do estado em que Bela estava e a estrupou. No dia seguinte, quando a menina acordou, ela já estava em casa e sua amiga lhe contou o que havia acontecido e então, a garota descobriu que estava grávida. Sendo assim, ela teve que cuidar da criança para o resto da vida, sem ajuda nenhuma dos pais, como um “castigo” por ter mentido. Seus pais aprenderam que nunca é bom “prender” demais os filhos e que é melhor deixar que eles conheçam o mundo em que vivem.
Mateus Kawasaki Hamamura “Pois bem, é hora de ir: eu para morrer, e vós para viver. Quem de nós irá para o melhor é obscuro a todos, menos a Deus.” (Sócrates)
O MENINO DO DEDO ROSA Era uma vez um pequeno garotinho que amava pintar e colorir tudo o que lhe dessem inclusive paredes, móveis, etc. Sua diversão era essa e sempre seria já que sua mãe o apoiava, uma vez que ela queria protegê-lo das más influências e do mundo. Portanto, sempre que o pobre menino ia se divertir na rua com seus colegas, ela mostrava o balde de tinta e ele voltava para casa para fazer o que mais gostava: pintar. Com o tempo o garoto cresceu e continuou a pintar, porém começara a colorir obras maiores e sempre usando a cor rosa. Quando completou nove anos, ele já não estudava nem conversava com seus amigos, os quais já não via há um bom tempo. Certo dia ele tocou com seu dedo na parede do seu quarto e depois, quando voltou, ela estava rosa. Fascinado com seu novo dom, o garoto passou a pintar sua casa inteira, porém desejava mais. E então ele começou a pintar prédios, casas, museus, praças, até que, depois de alguns anos, a cidade havia se tornado rosa por inteira. Seu objetivo era pintar o estado de São Paulo e, para isso, abriu uma firma de pintores. Sem permissão nenhuma, ele, em cinco anos, deixou o sudeste do Brasil inteiramente rosa. Vendo que seu negócio ia crescendo, ele investiu em sua firma e começou a pintar o continente americano, o que causou muita polêmica entre os políticos. Depois de alguns anos, ele havia conseguido o que queria e seu próximo passo seria tornar o mundo rosa. Quando a notícia se espalhou pelo mundo, todos entraram em desespero, uma vez que ninguém queria o planeta de uma cor só. Isso parou em uma reunião da ONU que decidiu por medidas críticas: contratar todos os pintores possíveis para fazer com que a cor do mundo voltasse ao normal. O homem, já cansado, agora tinha uma família e um filho bem pequeno que gostava de pintar como o pai. Este influenciava e apoiava o filho para que seguisse a mesma profissão. A única diferença era que a criança não gostava de rosa, e sim de azul.
Priscila Montanari L. de Castro “Fazer grandes coisas é difícil, mas comandar grandes coisas é mais difícil ainda.” (Friedrich Nietzsche)
AS TRÊS MENINAS E OS LADRÕES Era um vez três meninas jovens que moravam com sua mãe em um condomínio. Um dia, quando elas já estavam crescidas, acabaram decidindo ir viver cada uma em sua casa, mas naquele mesmo condomínio. A mãe concordou, mas avisou-lhes: – Tomem muito cuidado, pois, no condomínio, também moram homens ruins, ladrões, e eu não vou estar lá para proteger vocês... – Sim, mamãe! – Responderam as três meninas ao mesmo tempo. As meninas procuraram um bom lugar para construir as suas casas e, assim que o encontraram, cada uma começou a fazer a sua própria casa. A menina mais nova, que só pensava em brincar de boneca, acabou fazendo a sua casa muito rapidamente, usando palha. A menina do meio, ansiosa para brincar com a mais nova, juntou alguns galhos de árvore e depressa construiu uma casa de madeira. Já a menina mais velha, que era a mais inteligente e ajuizada, lembrou-se do que a sua mãe lhe tinha dito, e disse: – Vou construir a minha casa de tijolos. Assim terei uma casa muito resistente para me proteger dos ladrões e das pessoas más. É claro que foi a que demorou mais tempo para construir a casa, mas, no fim, estava muito orgulhosa dela mesma, e só aí foi brincar com as suas irmãs. Um dia, as três estavam brincando, quando de repente apareceram os ladrões: – Olá! Vejo três lindas menininhas na minha frente que parecem ser muito bobinhas. Ao verem os ladrões, saíram correndo, cada uma para a sua casa. Os ladrões chegaram perto da casa da menina mais nova, e disseram: – Abra a porta! Se não abrir, nós vamos arrombá-la. Ela é de palha! A menina não abriu. E então os ladrões derrubaram a porta e roubaram tudo. A menina, assustada, fugiu para a casa da irmã do meio, que era toda feita de madeira, ou seja, de galhos de árvore. E, quando os bandidos chegaram lá, eles gritaram novamente:
– Vamos serrar essa porta se vocês não abrirem! E assim, como elas não abriram, os ladrões colocaram a porta abaixo. As duas irmãs fugiram para casa da sua irmã mais velha, que era feita de tijolos. Quando os bandidos chegaram lá, eles disseram: – Vamos quebrar essa porta com uma marreta, depois vamos roubar tudo o que há aí dentro e, por fim, iremos matar as três menininhas! Ao tentarem quebrar a porta, não conseguiram. Um dos bandidos decidiu tentar entrar na casa pulando o muro. Mas a menina mais velha, que era muito inteligente, decidiu espalhar pregos na grama e, quando o ladrão saltou o muro, ele acabou se machucando muito. Seus companheiros, ao notar que o plano havia dado errado, acabaram fugindo. As duas meninas agradeceram muito sua irmã e aprenderam a lição. Daquele dia em diante nunca mais se soube daqueles ladrões.
Victoria Fusita Bernardini “O saber de uma pessoa é o que resta daquilo que ela esqueceu de tudo que aprendeu.” (Blaise Pascal)
CACHINHOS COM LUZES Era uma vez uma família de pessoas diferentes e felizes. Os dois pais homoafetivos, Pedro e Paulo, e sua filha, Mariela, moravam em um belo chalé próximo a um rio e uma floresta. Ninguém morava perto, havia somente duas casas a cinco quilômetros dali. Um dia, o papai mais forte, Pedro, resolveu fazer um bolo de cenoura e, após terminar, cortou três pedaços e os colocou em três pratos em cima da mesa redonda. Como o bolo ainda estava muito quente, Pedro chamou Paulo e Mariela para darem uma volta de canoa no rio, enquanto esfriava a refeição da tarde. Durante o tempo em que eles estavam fora, Cachinhos com Luzes corria para se exercitar e escutava música em seu iPhone 6 próximo ao chalé da família de Mariela, e, como estava muito exausta, resolveu bater na porta para pedir água. Passados dois minutos, sem nenhuma resposta, ela teve a ideia de levantar o tapete de entrada para verificar se havia alguma chave de reserva e, por sorte, encontrou uma. Abriu a porta e foi em direção à cozinha, deparando-se com três pratos de bolo. Deu uma mordida no maior pedaço e achou-o doce demais, experimentou o segundo e tinha muita cobertura de chocolate e por último, provou o terceiro, que estava perfeito, e assim o saboreou por completo. Como estava cansada, resolveu ir à sala de estar para se sentar e avistou três cadeiras. Sentou na maior e era grande demais para ela, sentou na média e era muito dura, então sentou na menor, achando-a ótima. Acomodou-se até que a cadeira quebrou devido a seu peso. Não satisfeita, levantou-se do chão e subiu as escadas, ligou a televisão e deitou-se na cama maior, mas não se sentiu confortável. Estirou-se na segunda cama e achou-a excessivamente macia. Jogou-se na última cama e se aconchegou, dormindo. Passada uma hora, a família voltara. Caminharam até a cozinha e Pedro e Paulo falaram juntos, boquiabertos: “Alguém mordeu o meu bolo” e Mariela disse tristemente: “Alguém comeu todo o meu bolo”. Em seguida, foram até a sala. Pedro viu que duas cadeiras estavam fora do lugar e a de Mariela estava quebrada. Esgotados e com medo de ter sido um assalto, subiram para o andar de cima
rapidamente e Paulo pronuncinou: “Alguém desarrumou minha cama e a de Pedro” e Mariela gritou: “Alguém está dormindo em minha cama”, fazendo Cachinhos acordar assustada. Completamente sem jeito, Cachinhos levantou e saiu correndo para fora do chalé, berrando desculpas à família por ter sido inconveniente. A família ficou aborrecida por dias após o acontecimento, aprendendo a nunca mais deixar uma chave reserva em um lugar tão óbvio.