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Especial

Como substituir quem é insubstituível?

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Vicente C. Amadei faleceu aos 88 anos, no final de dezembro de 2020, e deixou espaços vazios nos corações e nas mentes de centenas de empreendedores imobiliários do País, principalmente dos loteadores

Shirley Valentin

Caio Portugal, presidente da Aelo (Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano) e vice-presidente de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do Secovi-SP, fica com lágrimas nos olhos e voz embargada cada vez que tem de falar de Vicente C. Amadei, que, próximo de completar 70 anos de atividades no setor imobiliário, faleceu aos 88 anos, na manhã de 22 de dezembro de 2020.

“Existem pessoas que marcam além da própria existência. Essas são pessoas insubstituíveis, e Vicente Amadei é uma delas. Lembro da primeira reunião que participei ao seu lado, em 1993. Recordo das suas várias lutas, principalmente para elaboração e aprovação do Estatuto da Cidade [Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001]. Foram cinco anos indo à Brasília. O mercado de loteamentos deve muito a ele”, ressalta Portugal.

‘Dr. Vicente’, como era chamado por todos, deixou para trás um enorme legado de conhecimento aos desenvolvedores urbanos, e incontáveis corações saudosos de sua presença.

“Não há um só loteador que não conheça o trabalho do Vicente. Ele trabalhou semanalmente até quase os 90 anos. Um trabalho incansável em prol de um desenvolvimento urbano sustentável. Ele nos ajudou muito a construir a história do setor”, destaca o amigo.

Trabalho incansável

Também estão na lista de admiradores os associados e diretores da Aelo – associação que ele ajudou a fundar e na qual trabalhou por incansáveis 40 anos. E todos os ex-alunos que frequentaram as aulas dos cursos de Parcelamento do Solo Urbano, da UniSecovi, formulados e coordenados pelo especialista que, por 30 anos, também exerceu a nobre atividade de professor. É dele a ideia da Certificação de Gestores GParsolo, reconhecida pela Universidade Secovi e concedida anualmente.

Como todo educador deve ser, Amadei fazia questão de criar as grades dos cursos, acompanhar a divulgação, comandar aulas, corrigir provas, interagir com os docentes e incentivar os alunos.

Curiosidade e interesse, duas características da personalidade inquieta do professor, colaboraram com a sua rápida adaptação ao universo digital. Assim, foi fácil para ‘Dr. Vicente’ conduzir a mais recente edição do curso de ParSolo – e a última de sua brilhante carreira –, realizado totalmente on-line, no ano passado, em razão da pandemia do novo coronavírus.

Vicente C. Amadei participou de quase todas as lives do Comitê de Desenvolvimento Urbano (CDU), composto por representantes do Secovi-SP, SindusCon-SP e Aelo, que aconteceram durante a quarentena de 2020. Inclusive, no dia de seu aniversário de 88 anos, comemorado em 23 de julho, ele foi homenageado em uma reu-

nião on-line e, com visível contentamento, agradeceu as mensagens com palavras de gratidão à vida por ter chegado tão longe, feliz e produtivo.

Alma sensível

Generosidade era uma das mais evidentes qualidades de Amadei. Ele gostava de compartilhar conhecimento. Bastava alguém demonstrar interesse por determinado assunto de loteamentos ou consultá-lo para esclarecer uma singela questão que, sem se importar se o resultado final da conversa serviria para a elaboração de um texto simples, uma tese de Mestrado ou sanar uma curiosidade individual, ‘Dr. Vicente’ dava uma verdadeira aula. Ele parava o que estivesse fazendo para atender o interlocutor e explicar, mostrar decisões judiciais, corrigir entendimentos. Ensinar. “Puxa uma cadeira e senta, porque essa conversa não vai ser rápida”, dizia com um leve, e agradável, sorriso no rosto.

O seu livro “Como Lotear uma Gleba – O Parcelamento do Solo Urbano em seus Aspectos Essenciais (Loteamento e Desmembramento)”, em coautoria com o desembargador Vicente de Abreu Amadei, seu filho, é um verdadeiro manual do setor. E sua experiência também está retratada na obra “Um Olhar sobre São Paulo”, lançado em 2011 pelo jornalista Ricardo Viveiros, que entrevistou 30 personagens com idades acima dos 70 anos, com o objetivo de retratar a Capital quando eles eram jovens.

Amadei: Trabalho incansável em prol do desenvolvimento urbano

Trajetória

Vicente C. Amadei começou a trabalhar na área de loteamentos em 1951, na empresa Ingaí, fundada por Wanderley Bernardes, com quem trabalhou diretamente por 36 anos. Desafiado pela excessiva burocracia do setor, deixou a atividade empresarial para se dedicar às missões institucionais à frente da Aelo e do Secovi-SP.

Em 1981, participou da assembleia de fundação da Aelo, compôs a primeira diretoria e ocupou diversos outros cargos nas inúmeras gestões da entidade.

No Secovi-SP, ele sempre esteve ligado à vice-presidência de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, onde atuou até 2020 como diretor. Amadei era representante titular da entidade no Graprohab (Grupo de Análise e Aprovação de Projetos Habitacionais no Estado de São Paulo), colegiado subordinado à Secretaria da Habitação que reúne os órgãos estaduais de licenciamento de empreendimentos, como Cetesb, Sabesp, dentre outros. Não perdia uma reunião do grupo, onde igualmente contava com respeito e admiração.

Com a morte do ‘Dr. Vicente’, Mariângela Iamondi Machado, que é diretora de Associações em Loteamentos e Bairros Planejados do Secovi-SP, assumiu a responsabilidade de manter vivos os cursos de ParSolo.

Em 2021, quando completa 30 anos, o programa vai ganhar nova roupagem, com divisão em seis módulos e a criação de 10 novas disciplinas, inclusive na área de Comunicação Social, cujas aulas serão ministradas pelo experiente jornalista especialista em loteamentos Luiz Carlos Ramos. “Vamos torná-lo mais inovador. Queremos trazer os funcionários públicos de prefeituras, para que se atualizem”, revela Mariângela.

Ela encara como “missão” ficar à frente da coordenação dos cursos de parcelamento do solo. “Pretendemos perpetuar o que é bom, melhorar, buscar apoio e comemorar a sua longa história. Vicente Amadei é um mestre que se transformou em estrela. Agora, é o momento de encontrarmos dentro de nós tudo aquilo que ele deixou”, conclui. «

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