Comentário Bíblico Beacon B. A Missão DOS DOZE, Mt 10.1-42
1. A Nomeação (Mt 10.1-4) Jesus escolheu doze discípulos (1) para que empreendessem uma viagem missionária pelas doze tribos de Israel. As fronteiras dessas tribos já não estavam intactas, mas havia representantes de todas estas tribos no meio do povo que ficou na terra, assim como no meio daqueles que retornaram do cativeiro. A missão dos doze era estritamente voltada às "ovelhas perdidas da casa de Israel" (6). Aos seus mensageiros, Jesus deu "autoridade" — a palavra grega é exousia — sobre os espíritos imundos. Uma importante parte do ministério dos discípulos, como do próprio Senhor, consistia em expulsar demônios, e curar os enfermos. A expressão espíritos imundos aparece duas vezes em Mateus, dez vezes em Marcos, e cinco em Lucas (além de "espírito de um demônio imundo", 4.33), duas vezes no livro de Atos e uma vez no Apocalipse (Ap 16.13). Ela parece ser uma designação particularmente apropriada para "demônios". Essa última palavra, daimonia, é encontrada onze vezes em Mateus, treze em Marcos, vinte e duas vezes em Lucas e seis vezes em João de um total de sessenta vezes no Novo Testamento. Lucas também os chama de "espíritos maus" ou "espíritos malignos" (Lc 7.21; 8.2; Atos 19.12-13, 15-16). Os doze discípulos são chamados de apóstolos (2). A palavra vem do grego apostolos, que quer dizer "alguém enviado em uma missão". Walls observa que "A força do termo apostolos é provavelmente a de 'alguém comissionado' — e está implícito que se trata de alguém comissionado por Cristo". 3 Listas dos doze apóstolos podem ser encontradas em todos os Evangelhos Sinóticos (cf. Mac 3.16-19; Lc 6.14-16) e em Atos 1.13. Todas as listas começam com Pedro e terminam com Judas Iscariotes (exceto a última, que foi preparada quando Judas já estava morto). Os quatro pescadores sempre são citados em primeiro lugar, embora em seqüências diferentes. Mateus e Lucas os mencionam como pares de ir mãos. Marcos e Atos mencionam Pedro, Tiago e João em primeiro lugar, como constituindo o círculo mais íntimo, um grupo privilegiado que esteve a sós com Jesus na ocasião da ressurreição da filha de Jairo, no Monte da Transfiguração e no Getsêmani. Além disso, o segundo grupo de quatro nomes sempre começa com Filipe, e o terceiro grupo com Tiago, o filho de Alfeu. As pequenas diferenças podem ser vistas na com paração das listas.'
Simão "é um nome grego comum substituto do hebraico Symeon" (cf. Atos 15.14).' Pedro é o grego petros ("pedra"). Ele é designado como sendo o primeiro. Tasker diz: "Há pouca dúvida de que o primeiro (protos) signifique 'o primeiro e o principal' "? André e Filipe são nomes gregos. Bartolomeu, Tomé ("gêmeo") e Mateus são nomes aramaicos. Aquele que foi apelidado como Lebeu talvez deva ser omitido, por não ser encontrado nos dois manuscritos gregos mais antigos (cf. as versões revisadas). Marcos apresenta simplesmente Tadeu. Em lugar desse nome, Lucas usa "Judas, filho [ou irmão] de Tiago" (Lc 6.16; Atos 1.13). Tasker observa: "Pode ser que Judas fosse o seu nome verdadeiro; porém, mais tarde, devido ao estigma ligado ao nome Judas Iscariotes, Tadeu (que talvez signifique "de coração bondoso") tenha sido um nome que substituiu o nome Judas": Simão, o Zelote (4), esta última palavra deve ser entendida como simplesmente designando-o como um judeu que era zeloso pela lei (como Saulo) ou um homem que foi, anteriormente, um
membro do grupo revolucionário que se tornou conhecido como "os zelotes". 8 Iscariotes normalmente se explica como um "homem (hebr. ish) de Queriote" — um vilarejo de Judá. Se isso estiver correto, Judas era, aparentemente, o único dos doze que não era da Galiléia.
2. Instruções (Mt 10.5-15)9 A primeira instrução que o Mestre deu aos seus doze apóstolos (somente no texto de Mateus) foi a de não evangelizar as gentes (ou "os gentios") nem os samaritanos (5). Depois do Pentecostes isso seria feito, como está registrado no livro de Atos. Mas antes da sua crucificação, Jesus estava preocupado em oferecer o Reino a Israel. Paulo declarou que o evangelho de Cristo é "o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego" (Rm 1.16). As ovelhas perdidas da casa de Israel (6) devem ser as primeiras a ter a oportunidade de aceitar o seu Messias. A mensagem que eles deviam pregar (proclamar) era: É chegado o Reino dos céus (7). Esta era a mensagem de Jesus e de João Batista. Juntamente com a sua pregação, eles deviam desempenhar um ministério de cura dos enfermos e de expulsão dos demônios (8). A ordem, ressuscitai os mortos (encontrada somente no texto de Mateus) apresenta um problema. Adam Clarke a rejeita como improvável." Stier diz: "Nós a consideramos uma importação espúria de uma época futura... à fraca fé deles não se poderia confiar esse poder tão grande". 11 Mas estas palavras são encontradas na maioria dos primeiros manuscritos gregos. A. B. Bruce afirma: "Está... demasiadamente autenticada para ser omitida", e acrescenta: "Ou ela encontrou um lugar no manuscrito, ou deve ter se infiltrado como um comentário em um período muito curto"." O problema é que os Evangelhos registram somente três vezes em que Jesus ressuscitou os mortos. Alguns pensam que é difícil imaginar os doze apóstolos fazendo isso. Mas o Mestre delegou sua autoridade aos seus apóstolos, e esse poder estava potencialmente incluído. Nos Evangelhos não há registro de que eles realmente tenham ressuscitado os mortos, embora Pedro posteriormente tenha ressuscitado Dorcas (Atos 9.36-43). A seguir vêm as instruções específicas em resposta à pergunta que não foi feita: "O que devemos levar conosco?" A ordem foi: Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos (9). Estas eram as três modalidades de dinheiro. O ouro tinha o lugar do nosso atual papelmoeda. Cintos literalmente significa os cintos de dinheiro o lugar mais seguro para se transportar dinheiro. Os alforjes (10) também estavam proibidos. O termo pera, em grego, era a palavra usada para a bolsa de couro de um viajante. Mas com base em uma inscrição deste período na Síria, Deissmann afirma: "Este termo claramente significa a bolsa em que os mendigos guardavam as esmolas que recebiam"." Assim, a orientação de Cristo significa duas coisas: "Não haverá pagamento, e nem mendicância"." Eles não poderiam ter duas túnicas. A palavra grega se refere à roupa íntima. Assim, "camisas" (Moffatt) seria uma boa tradução. Sandálias quer dizer literalmente "atado embaixo". Eles deveriam usar sandálias, mas não poderiam levar um par extra (cf. Mac 6.9).
Bordão está no singular nos manuscritos antigos — "nem um bordão". Evidentemente algum copista posterior passou o termo para o plural, porque parecia estar em conflito com o texto de Marcos — "senão um bordão". Mas Mateus diz que eles não deveriam possuir ou "conseguir" um bordão; isto é, um bordão extra. Eles deveriam simplesmente levar o que tinham, e sair para a sua missão. A razão para essas instruções rigorosas é óbvia. Os discípulos fariam uma viagem urgente e de curta duração. O clima era quente e os costumes da época lhes garantiam comida e alojamento grátis onde quer que estivessem. Assim, eles não precisavam se sobrecarregar com bagagens. Eles deveriam escolher cuidadosamente os seus alojamentos em cada cidade, e permanecer na mesma casa enquanto estivessem ali (11). Ao entrar em uma casa a instrução era saudai-a (12). A saudação costumeira era "Shalom", a palavra hebraica que significa "paz!" Quando rejeitados, deveriam sacudir dos pés a poeira do lugar (14) como um sinal de que Deus, por sua vez, rejeitava aquela casa ou cidade porque ela havia rejeitado a sua mensagem. Jesus declarou que haverá menos rigor para... Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade (15). Muita coisa foi dita nos últimos anos sobre "os bondosos ensinos do humilde galileu". Mas em diversas ocasiões Jesus falou com voz severa sobre a realidade de um julgamento futuro. A destruição de Sodoma é mencionada diversas vezes no Novo Testamento como um exemplo de advertência (cf. Mt 11.23-24; Lc 10.12; 17.29; Rm 9.29; 2 Pe 2.6; Jd 7). Na verdade, em determinada ocasião Jerusalém chegou a ser chamada de "Sodoma" (Ap 11.8). 3. Advertências (Mt 10.16-23) Jesus advertiu os seus discípulos quanto às perseguições que os surpreenderiam. Esta predição não fala apenas da viagem imediata que eles estavam fazendo, mas também dos muitos anos de ministério que estavam por vir. Eles estavam saindo como ovelhas ao meio de lobos (16). O Livro de Atos fornece uma documentação vívida desta afirmação. Os missionários deveriam ser prudentes como as serpentes, mas símplices como as pombas. O primeiro adjetivo significa "cauteloso", o segundo "inofensivo" ou "sincero". Um cristão bem-sucedido precisa ter essas duas características. O Mestre preveniu os seus discípulos de que eles seriam entregues aos sinédrios (conselhos) e açoitados nas sinagogas (17). Eles também (18) seriam conduzidos à presença dos governadores (como Félix e Festo, Atos 24 e 25) e dos reis (como Agripa, Atos 26). Esses eram governadores gentios. Mas foram os judeus que causaram a prisão de Paulo. Assim, a perseguição ainda era judaica, em sua origem. Quando entregues, eles não deveriam ficar ansiosos por sua defesa (19), pois o Espírito Santo lhes daria as palavras que deveriam dizer (20). Cristo também declarou que a vinda do seu reino resultaria na divisão das famílias, de modo que os filhos poderiam causar a morte dos pais (21). Isto já aconteceu muitas vezes no passado e ainda hoje acontece, especialmente nos países muçulmanos. Com o aviso de que eles seriam odiados por todos os homens, por causa de Jesus, vem a promessa: mas aquele que perseverar até ao fim será salvo (22). Há um significado segundo o qual alguém é salvo quando se converte, outro em que alguém está sendo salvo dia após dia à medida que crê e obedece, e ainda outro segundo o qual a pessoa será salva no céu, finalmente e para sempre. É do segundo e do terceiro significados que Jesus fala neste versículo.
Se fossem perseguidos em uma cidade, os missionários deveriam ir para outra (23). Jesus os informou de que não acabariam de percorrer as cidades de Israel sem que viesse o Filho do Homem. Muita tinta foi usada na tentativa de explicar o significado dessa afirmação. Talvez a melhor interpretação possível seja a de Tasker: "Este versículo muito difícil, que só é encontrado no texto de Mateus, é melhor compreendido como uma referência à vinda do Filho do Homem em triunfo, imediatamente após a sua ressurreição, quando Ele apareceu aos apóstolos e os encarregou de fazer discípulos em todas as nações (28.18-20)".5
4.
O Discipulado (Mt 10.24-25) Os apóstolos não poderiam esperar escapar à perseguição, pois não é o discípulo mais do que o mestre (24) — literalmente, "professor". (Discípulo significa "aprendiz"). Nem é o servo (grego, "escravo") mais do que o seu senhor (amo). Se eles chamaram Belzebu" ao "pai de família" (uma única palavra em grego), quanto mais aos seus domésticos (25)? A origem e o significado de Belzebu ainda estão velados na obscuridade. As recentes descobertas em Ugarít sugeriram "príncipe de Baal". Outras sugestões são "Senhor do Esterco" ou "Senhor da Residência" [por exemplo, santuário]".' Davies diz: "Beelzebub, significava originalmente 'senhor das moscas'. Mas nessa época significava Satanás, como o senhor da casa dos demônios"." 5.
A garantia (Mt 10.26-33) Apesar dessas predições de perseguição, Jesus disse aos seus discípulos que não tivessem medo. Pois nada há encoberto que não haja de revelar-se (26) — em grego, "descoberto". Chegará o dia em que tanto os perseguidores quanto os perseguidos serão vistos sob a sua luz verdadeira. O Dia do Juízo fará o registro correto. Portanto, os discípulos deveriam pregar a mensagem de Cristo corajosa e abertamente (27). Eles não deveriam temer aqueles que podiam matar o corpo, mas somente aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo (28) — Geena (inferno). A maioria dos comentaristas concorda que a referência aqui é a Deus e não a Satanás.' Para encorajar a fé dos discípulos, Jesus citou os passarinhos (29). Dois deles eram vendidos por um ceitil. Aqui há uma palavra grega diferente daquela que é traduzida como "ceitil" em 5.26 (veja o comentário sobre esta passagem). Um ceitil valia aproximadamente um centavo. Embora comercialmente cada pássaro valesse apenas meio centavo, nenhum deles cairia no chão sem o consentimento do Criador. Somente a eternidade pode explicar esse conceito ,de Deus. As mentes finitas são incapazes. É necessário um "salto de fé" para se crer em um Deus que, na verdade, é infinito em conhecimento e em poder. Para tornar as coisas um pouco mais pessoais, Jesus disse: até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados (30). Além disso, mais valeis vós do que muitos passarinhos (31). Assim, o sentimento lógico é a confiança, e não o medo. Se os discípulos fossem fiéis em confessar (32) a Cristo pela pregação destemida da sua verdade (cf. v. 27), e o reconhecessem fielmente como o seu Senhor, a qualquer preço, Ele prometeu que os reconheceria perante o seu Pai. Mas quem quer que o negasse (33) seria negado perante o Pai. O contexto indica que o silêncio — ou seja, deixar de falar a favor de Cristo — pode ser uma maneira de negá-lo. 6.
O Preço do Discipulado (Mt 10.34-39)
A afirmação de Jesus: não vim trazer paz, mas espada (34) é assombrosa — poderíamos dizer, literalmente, "chocante". É óbvio que Ele está falando dos inevitáveis resultados das exigências do discipulado. Tasker acertadamente observa: "As conseqüências são freqüentemente expressas na Bíblia como se fossem intenções".' Sempre será verdade que alguns membros de uma família aceitarão a Cristo,
enquanto outros o rejeitarão. Isto traz um conflito inevitável. Pois Deus exige, em primeiro lugar, o nosso amor e a nossa fidelidade (37). Falando em termos terrenos, isto combate a natureza do egoísmo. Aquele que deseja seguir a Cristo deve tomar a sua cruz (38) em completa submissão à vontade de Deus. Uma das frases mais significativas de Jesus está no versículo 39. 21 Sobre a primeira parte, Filson diz: "Buscar a si mesmo é derrotar a si mesmo".' Sobre a segunda parte, Davies escreve: "A auto-negação e o auto-sacrifício são os únicos caminhos para o autoconhecimento".23 No contexto da perseguição descrita nos versículos anteriores, a aplicação especial desta verdade seria: "Aquele que, sob a pressão da perseguição, desejar preservar a sua vida, perderá a verdadeira vida da alma; ao passo que aquele que morrer com alegria, viverá".'
7.
O Privilégio do Discipulado (Mt 10.40-42) O relacionamento entre o discípulo e o seu Senhor é, de certo modo, semelhante ao de Cristo com o seu
Pai — aquele que me enviou (40). Somos lembrados da linguagem de Jesus em sua oração sumosacerdotal (Jo 17.21-23). Lukyn Williams define profeta (41) como "alguém sobre quem se pode afirmar que o manto dos antigos profetas, de alguma maneira, caiu"; e justo como "alguém que é meticuloso em cumprir a vontade revelada de Deus em todos os seus detalhes".' Profeta e justo são termos usados aqui referindo-se aos discípulos. Até mesmo dar um copo de água fria em nome de discípulo (42) traz uma recompensa. Os discípulos são, desta maneira, honrados como emissários de Cristo. Como indicado pelos títulos, as duas últimas seções deste capítulo nos dão um esbo ço de sermão de dois tópicos: 1) o preço do discipulado; 2) o privilégio do discipulado.
Comentário Bíblia Conselheira JESUS ENVIA OS DOZE DISCÍPULOS / 10.1-16 / 93 Este capítulo continua o segundo sermão de Jesus registrado por Mateus. Este segundo sermão começou em 9.35 e termina em 10.42. Mateus 10.1-16, muito similar a Marcos 3.13-19; 6.7-13, descreve a indicação de Jesus dos Doze para a sua primeira missão apostólica. Embora esta fosse a primeira vez em que saíam sozinhos, eles tinham recebido autoridade de Jesus para realizar as funções de pregação e cura. 10.1 Jesus tinha muitos discípulos (aprendizes), mas Ele indicou doze a quem deu autoridade e treinamento especial. Estes homens eram o seu círculo mais íntimo de amigos, e receberam o treinamento mais intenso. Podemos ver o impacto destes homens por todo o restante do Novo Testamento. Eles iniciaram a igreja cristã. Os Evangelhos chamam estes homens de “discípulos” ou os “Doze”; o Livro de Atos os chama de “apóstolos”. A escolha de doze homens é altamente simbólica. O número 12 corresponde às doze tribos de Israel (19.28), e mostra a continuidade entre o antigo sistema religioso e o novo, baseado na mensagem de Jesus. Estes homens eram os justos remanescentes (os crentes fiéis do Antigo Testamento que nunca abandonaram a Deus nem à sua lei) que realizariam o trabalho que as doze tribos tinham sido escolhidas para realizar - construir a comunidade de Deus. O número era tão importante que, quando Judas Iscariotes se suicidou, os discípulos escolheram outro homem para substituí-lo (veja At 1.15-26). Aqui está registrada a primeira vez em que Jesus enviou estes discípulos sozinhos. Estes doze homens tinham o poder de Jesus sobre as forças malignas. Jesus capacitou os seus discípulos para expulsarem os espíritos imundos. Jesus também deu aos seus discípulos o poder para curar toda enfermidade e todo mal. Era
importante que eles tivessem tais poderes, porque Jesus estava estendendo a sua missão por meio deles. Jesus confronta diretamente os demônios e as doenças. Os discípulos deram prosseguimento ao propósito de Jesus, e também à expressão do Seu poder. 10.2-4 No versículo 1, estes homens são chamados de “discípulos”; aqui, a palavra apóstolos é usada para ressaltar o seu papel de mensageiros - “os enviados”. O primeiro nome registrado foi Simão, a quem Jesus deu o nome de Pedro (veja João 1.42). Pedro tinha sido um pescador (4.18). Ele se tornou um dos três no círculo mais íntimo de Jesus entre os discípulos. Ele também admitiu que Jesus era o Messias (16.16). Embora mais tarde Pedro tenha chegado a negar ter conhecido Jesus, no final ele se tornaria um líder na igreja de Jerusalém, escrevería duas cartas que constam na Bíblia (1 e 2 Pedro) e seria crucificado pela sua fé. André era irmão de Pedro e também um pescador (4.18). Ele tinha sido um discípulo de João Batista, e tinha aceitado o testemunho de João de que Jesus era o “cordeiro de Deus”. Ele tinha deixado João para seguir a Jesus. André e João foram os primeiros discípulos de Jesus (Jo 1.3540)־. André trouxe Pedro a Jesus (Jo 1.41,42). Tiago e João também tinham sido pescadores (4.21). Tiago se tornaria o primeiro apóstolo a ser martirizado (At 12.2). João escrevería o Evangelho de João, as três cartas de João e o livro do Apocalipse. Os ir mãos podem ter sido parentes de Jesus (primos distantes); em certa ocasião, sua mãe pediu lugares especiais para eles no Reino de Cristo (20.20-28). Filipe foi o quarto a encontrar Jesus (Jo 1.43). Filipe então trouxe Bartolomeu (Jo 1.45). Filipe provavelmente conhecia André e Pedro porque eles eram da mesma cidade, Betsaida (Jo 1.44). A opinião de muitos estudiosos é que Bartolomeu e Natanael são a mesma pessoa. Bartolomeu era um homem honesto (Jo 1.47). Frequentemente nos lembramos de Tomé como o “Tomé que duvida”, porque ele duvidou da ressurreição de Jesus (Jo 20.24,25). Mas ele também amava ao Senhor, e era um homem de grande coragem (Jo 11.16) . Quando Tomé viu e tocou o Cristo vivo, o Tomé que duvidava tornou-se o Tomé que acreditava. Mateus, o autor deste Evangelho, descreveu a si próprio mencionando a sua antiga profissão, provavelmente para mostrar a diferença que Jesus fez na sua vida. Também conhecido como Levi, ele tinha sido um publicano [ou coletor de impostos] (9.9). Desta forma, ele tinha sido uma pessoa desprezada, mas tinha abandonado esse corrupto (embora lucrativo) meio de vida, para seguir a Jesus. Tiago é designado como filho de Alfeu para diferenciá-lo do Tiago de 10.2. Tadeu também é chamado “Judas, filho de Tiago” (veja Lc 6.16; At 1.13). Simão provavelmente não era um membro do grupo dos zelotes, pois esse partido político não apareceu até 68 d.C. É muito provável que a palavra zelote indique zelo pela honra a Deus, e não um nacionalismo extremo. Este era um apelido afetuoso. Judas Iscariotes. O nome “Iscariotes” é provavelmente um nome composto, que significa “o homem de Queriote”. Assim, a pátria de Judas era Queriote, na parte sul da Judéia (veja Js 15.25), fazendo dele o único dos Doze que não era da Galiléia. Foi Judas, filho de Simão Iscariotes (Jo 6.71), que mais tarde traiu Jesus entregando-o aos seus inimigos. Depois cometeu suicídio (27.3-5; Lc 22.47,48). 10.5,6 Jesus deu instruções específicas, entretanto, com respeito ao foco do seu ministério: Não ireis pelo caminho das gentes [ou gentios], nem entrareis em cidade de samaritanos. Um “gentio” era qualquer pessoa que não fosse um judeu. Os “samaritanos” eram uma raça que resultou de casamentos entre judeus e gentios depois do cativeiro no Antigo Testamento (veja 2 Rs 17.24). Isto não queria dizer que Jesus se opusesse à evangelização de gentios ou samaritanos; na verdade, Mateus já descreveu um encontro positivo entre Jesus e gentios (8.28-34) e João 4 narra a sua conversa com uma mulher samaritana. A ordem de Jesus de ir, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel significa que os discípulos deveríam passar o seu tempo entre os judeus (veja também 15.24). Estas
palavras restringiam a missão “de curto prazo” dos discípulos. Jesus veio não somente para os judeus, mas “primeiro” para os judeus (Rm 1.16). Deus os escolheu para contar ao resto do mundo sobre Ele. Mais tarde, estes discípulos receberíam a comissão de fazer discípulos de todas as nações (28.19). Os discípulos e apóstolos judeus pregaram o Evangelho do Cristo ressuscitado por todo o império romano e em breve os gentios estavam afluindo à igreja. A Bíblia ensina claramente que a mensagem de salvação de Deus é para todos os povos, independentemente de raça, sexo ou nacionalidade (Gn 12.3; Is 25.6; 56.3-7; Ml 1.11; At 10.34,35; Rm 3.29,30; Gl 3.28). 10.7,8 Jesus enviou os seus discípulos para pregar dizendo que o Reino dos céus estava próximo. Jesus estava falando de um reino espiritual. O reino ainda está “próximo” (versão RA). Jesus, o Messias, já começou o seu Reino na terra, nos corações dos seus seguidores. Um dia o Reino estará plenamente aparente. Os discípulos também deveríam usar a autoridade e o poder que Jesus lhes tinha dado (10.1). Ele deu aos discípulos um princípio para guiar os seus atos quando ministrassem a outros: de graça recebestes, de graça dai. Os discípulos tinham recebido a salvação e o Reino sem nenhum custo; eles deveríam dedicar o seu tempo segundo o mesmo princípio. Uma vez que Deus derramou suas bênçãos sobre nós, nós devemos dar generosamente aos outros o nosso tempo, o nosso amor e as nossas posses. 10.9-10 Estas instruções parecem, a princípio, serem contrárias a planos de viagem normais, mas elas simplesmente revelam a urgência da tarefa e a sua natureza temporária. Jesus enviou os discípulos em pares (Mc 6.7), esperando que eles retornassem com um relatório completo. Esta era uma missão de treinamento; eles deveríam partir imediatamente e não levar bagagem, levando somente o mínimo necessário. Eles deveríam depender de Deus e do povo ao qual ministrassem (10.11). Os discípulos deveríam partir imediatamente, sem grandes preparativos, confiando no cuidado de Deus e não nos seus próprios recursos. Jesus disse digno é o operário do seu alimento, querendo dizer que aqueles que ministram devem receber sustento daqueles a quem estão ministrando (veja Lc 10.17; 1Tm 5.18). As instruções de Jesus estão relacionadas somente com esta missão em particular. Diferentes épocas e ocasiões pediríam medidas diferentes, mas os obreiros cristãos ainda podem revelar a simplicidade de Cristo quando cumprem o ministério sem excessivas complicações mundanas. 10.11 Cada par de discípulos deveria entrar em uma cidade ou aldeia e hospedar-se na casa de quem fosse digno (isto é, a casa de um crente que os tivesse convidado para se hospedarem ali durante o seu ministério). A instrução de permanecer ali até deixar a cidade os aconselhava a não ofender o seu anfitrião procurando uma acomodação “melhor” numa casa mais confortável ou socialmente importante. A permanência em uma casa não seria um peso para o seu proprietário, porque a estadia dos discípulos em cada comunidade seria breve. Os “dignos” eram aqueles que reagiríam positivamente à mensagem do Evangelho, crendo nela. 10.12-13 Quando os discípulos entrassem nalguma casa, eles deveríam saudá-la, ou seja, abençoá-la. Naquela época, as pessoas acreditavam que as bênçãos poderíam ser dadas e igualmente retiradas. Se a casa for digna (isto é, aceitando a eles e à sua mensagem), que a bênção da paz desça sobre ela. Mas se a casa não aceitasse a sua mensagem, então os discípulos deveríam tomar de volta a paz. A paz retirada daquela casa também indicava o julgamento futuro (10.15). Aqueles que recebessem os discípulos também receberíam o Messias. Aqueles que cuidassem dos emissários de Deus receberíam bênçãos em retribuição (10.40). 10.14 Os discípulos também iriam passar por rejeição, tal como Jesus tinha enfrentado em Decápolis (8.34). Desta maneira, Jesus também os instruiu que se em uma cidade ninguém os recebesse (isto é, os hospedasse), e até mesmo se recusassem a ouvi-los, então eles deveríam sacudir o pó dos pés ao sair dali. Sacudir o pó que estava acumulado nas sandálias mostrava extremo desprezo por uma região e seu povo, e também a determinação de não mais se envolver com eles. Sacudir o pó dos pés era um gesto de completo repúdio. Sacudir o pó de um lugar, disse Jesus, seria um testemunho contra o povo. As suas implicações eram claras e tinham consequências eternas. Jesus estava deixando claro que os ouvintes eram responsáveis pelo que faziam com o Evangelho. Enquanto os discípulos tivessem apresentado a mensagem cuidadosamente e fielmente, eles não seriam culpados quando os outros a rejeitassem. Da mesma maneira, nós não somos responsáveis quando outros rejeitam a mensagem de Cristo, mas temos a responsabilidade de transmitir o Evangelho claramente e fielmente.
10.15 Deus tinha destruído o país de Sodoma e Gomorra com o fogo do céu por causa das suas iniquidades. Para os judeus, o julgamento destas cidades foi uma lição não somente de punição de um grande mal, mas também com a finalidade de um julgamento divino. Aqueles que rejeitarem o Evangelho estarão, no Dia do Juízo, em uma situação muito pior do que as pessoas pecadoras daquelas cidades destruídas, que nunca chegaram a ouvir o Evangelho. 10.16 Os discípulos deveriam sair com a mensagem como ovelhas ao meio de lobos (os “lobos” eram os inimigos dos cristãos — neste contexto, provavelmente os líderes religiosos judeus). A solução? Sede prudentes como as serpentes e simplices como as pombas. Estas palavras podem originar-se de um provérbio local. Ser “prudente como as serpentes” fala de prudência e inteligência. Ser “símplice como as pombas” significa ser sincero e ter intenções puras. Os seguidores de Jesus precisariam das duas coisas para estar preparados para as batalhas que viriam. Eles não poderíam ter medo dos conflitos, e deveríam ter a capacidade de tratar destes com integridade. JESUS PREPARA OS DISCÍPULOS PARA A PERSEGUIÇÃO / 10.17-42 / 94 O novo movimento do cristianismo enfrentaria, eventualmente, grande oposição - tanto dos judeus quanto dos gentios. Embora isto não parecesse possível enquanto os discípulos caminhavam pelas colinas com este popular professor, chegaria um dia em que alguns teriam que escolher entre a sua fé e a perseguição (ou a morte). Jesus os advertiu de que eles precisariam se concentrar na sua missão e transformar a sua defesa em um testemunho da sua fé. 10.17-18 O perigo da prisão e da perseguição viria de fora (governadores, reis) e de dentro (sinédrios, sinagogas). Estas perseguições forneceríam a ocasião para que testemunhassem ao mundo. Posteriormente, os discípulos passaram por esses problemas (At 5.40; 12.1-3; 22.19; 2 Co 11.24). 10.19,20 Jesus disse aos discípulos que quando (e não “se”) fossem aprisionados, eles não deveríam se preocupar com o que dizer em sua defesa. Vos será ministrado o que haveis de dizer - o Espírito de Deus falaria por seu intermédio. A expressão Espírito de vosso Pai é uma linguagem do Antigo Testamento e recorda a inspiração dos profetas. Jesus descreveu o Espírito Santo como um advogado de defesa que virá em auxílio dos discípulos. Esta promessa referente ao Espírito Santo foi cumprida em Atos 2, onde o Espírito deu aos discípulos a capacidade de falar. Alguns erroneamente julgam que isto significa que os crentes não precisam se preparar para apresentar o Evangelho porque Deus irá cuidar de tudo. As Escrituras ensinam, no entanto, que nós devemos fazer declarações cuidadosamente preparadas e pensadas (Cl 4.6). Jesus estava dizendo aos seus seguidores que se preparassem, mas não se preocupassem. Ele prometeu inspiração especial para as ocasiões de grande necessidade. 10.21-22 Jesus detalhou alguns aspectos da perseguição que viria. Os judeus consideravam a denúncia e a traição dos membros da família como um sinal do fim. Estas palavras podem ser uma alusão a Miquéias 7.6. Esta passagem fala da corrupção interna em Israel; Jesus disse que isto era um sinal dos últimos dias. A fé em Jesus Cristo não iria apenas separar as famílias; os crentes também sentiríam que estavam sendo odiados de todos. Como os discípulos de Jesus compartilhavam da Sua autoridade, eles também compartilhavam dos seus sofrimentos. Aquele que perseverar até ao fim (significando completamente) irá entrar no reino de Cristo. Perseverar até o fim não é uma maneira de ser salvo, mas uma evidência de que a pessoa está realmente comprometida com Jesus. A persistência não é um meio de obter a salvação; ela é o subproduto de uma vida verdadeiramente dedicada ao Senhor. 10.23 Quando Jesus disse aos discípulos para esperar perseguição, Ele também os advertiu contra a imprudência. Se enfrentassem perseguição em uma cidade, eles deveríam fugir para outra. Eles não deveríam deitar aos porcos as suas pérolas (7.6) nem deveríam abortar o seu ministério devido ao medo. Eles deveríam partir e ir adiante se a perseguição ficasse muito intensa. Talvez isto faça parte de ser “prudentes como as serpentes” (10.16). Em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do Homem. Esta difícil sentença recebeu muitas interpretações. A seguir, estão cinco delas: 1. Alguns entenderam que isto fala do contexto imediato dos versículos 5-16. 2. Os discípulos não teriam tempo para percorrer todas as cidades antes que Jesus se encontrasse com eles. No entanto esta interpretação é excessivamente simples, dada a linguagem no texto que se refere aos eventos
3. 4.
5. 6. 7.
posteriores à ressurreição de Cristo. Na época em que Mateus escreveu, os discípulos tinham completado a missão; portanto Jesus estava, obviamente, se referindo a alguma outra coisa. Alguns sugerem que a vinda do Filho do Homem refere-se ao seu julgamento futuro contra os judeus, cumprido com a destruição de Jerusalém em 70 d.C. Mas esta é uma interpretação improvável que conecta a destruição de Jerusalém com o retorno do Filho do Homem. Albert Schweitzer fez disto a chave da sua interpretação da compreensão que Jesus expressava a respeito do seu ministério. Schweitzer pensava que Jesus esperava que o fim do mundo acontecesse antes que os discípulos concluíssem esta missão. Como isto não aconteceu, diz Schweitzer, Jesus passou a desempenhar um papel mais ativo e tentou fazer com que isto acontecesse por meio da sua crucificação. Esta visão interpreta equivocadamente as palavras de Jesus como se elas só se aplicassem a um contexto imediato (como o número 1 acima). Outros explicam que a “vinda” se refere à aparição triunfante de Jesus depois da sua ressurreição. Devido aos eventos descritos no livro de Atos, parece mais provável que Jesus estivesse se referindo aos eventos posteriores à sua ressurreição. O significado das suas palavras pode ser que a tarefa da missão aos judeus seria tão grande e tão difícil (pois muitos se recusariam a crer) que não estaria completa nem mesmo na época da sua segunda vinda.
10.24,25 Jesus usou um provérbio comum, declarado de duas maneiras. Um discípulo ou um servo não é mais do que o mestre ou o senhor. No judaísmo, um estudante (discípulo) compartilhava das experiências diárias do seu mestre; nas culturas pagãs, um servo lutava ao lado do seu senhor. Ambos recebiam o mesmo tratamento. Os fariseus tinham chamado Jesus de Belzebu (príncipe dos demônios) quando acusaram Jesus de usar o poder de Belzebu para expulsar os demônios (veja 12.24). Se Jesus, que é perfeito, foi chamado de iníquo, quanto mais isto pode acontecer com os seus seguidores? 10.26 Os seguidores de Jesus podem esperar perseguição, mas nunca devem temer. A missão do Evangelho deve ser realizada. As verdades confiadas aos discípulos serão conhecidas, não importa qual seja a oposição. 10.27 As trevas não são uma imagem de pecado, mas de privacidade. O que Jesus lhes disse em privado eles devem proclamar publicamente. Estas frases descrevem proclamações públicas e corajosas das verdades que Jesus ensinou em privado aos discípulos. Os discípulos tinham uma missão e uma responsabilidade de ensinar o que eles tinham aprendido com Jesus. 10.28 As pessoas podem ser capazes de matar o corpo, mas elas não são capazes de matar a alma. O único merecedor do nosso temor é Deus, que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo. O pior que as pessoas podem fazer (matar o corpo) não se compara com o pior que Deus pode fazer. Assim, não devemos temer os homens, mas a Deus (isto é, expressar uma profunda reverência ao Senhor). 10.29-31 Este Deus terrível que nós devemos temer (10.28) é também o Deus que se preocupa com o menor dos passarinhos. Quando o tememos, nós não temos nada com que nos preocupar, porque Ele nos ama. Os passarinhos eram o tipo mais barato de alimento vendido no mercado; um ceitil era a moeda de menor valor. Os passarinhos não tinham grande valor no mundo - um ceitil podia comprar dois deles. Ainda assim, Deus está tão preocupado com eles que nenhum deles cai ao chão sem o consentimento de Deus. O fato de que Deus conheça o número de cabelos na nossa cabeça mostra a sua preocupação sobre os detalhes mais insignificantes a respeito de cada um de nós. Como Deus está ciente de tudo o que acontece com os passarinhos e, como Ele conhece cada pequeno detalhe a nosso respeito, Jesus conclui que seus seguidores não devem temer. Os passarinhos cairão ao chão; o povo de Deus irá morrer, algumas vezes martirizado. Mas nós somos tão valiosos que Deus enviou a Jesus, seu único Filho, para morrer por nós (Jo 3.16). Como Deus coloca tanto valor em nós, nós jamais precisamos temer ameaças pessoais ou provas difíceis. 10.32-33 As pessoas têm uma escolha clara. Todo aquele que confessar Jesus Cristo (isto é, reconhecer publicamente a fé ou declarar fidelidade a Ele) será confessado por Cristo diante do seu Pai que está nos céus. Os seguidores de Jesus enfrentarão as cortes terrenas, onde terão que declarar publicamente que pertencem a Jesus
Cristo, o que normalmente envolve um alto risco pessoal (10.17-25). Mas para o discípulo, confessar Jesus significa que Jesus irá reivindicar aquele discípulo como sendo seu diante do Pai que está nos céus. No entanto, aquele que negar o seu relacionamento com Jesus Cristo irá, por sua vez, enfrentar a negação de Jesus diante do Pai. Estas palavras se referem àqueles cuja verdadeira fidelidade é revelada sob pressão. Jesus estava fazendo a surpreendente afirmação de que a posição de cada pessoa diante de Deus se baseia no seu relacionamento com Jesus Cristo. Jesus é o advogado cuja intercessão diante de Deus irá depender da fidelidade de cada um em reconhecê-lo. 10.34 Os judeus acreditavam que quando o Messias viesse, Ele iniciaria uma época de paz no mundo. A primeira vinda de Jesus não trouxe essa paz universal. A própria natureza das reivindicações de Jesus força as pessoas a fazerem uma escolha. Eles precisam escolher acreditar que Ele é quem disse ser, ou precisam escolher rejeitá-lo. Jesus não veio trazer paz, mas espada (isto é, a divisão) que separa famílias, amigos e nações. Surgirão conflitos e discordândas entre aqueles que decidirem seguir a Cristo, e aqueles que não o fizerem. Dizendo isto, Jesus não estava encorajando a desobediência aos pais ou o conflito em casa. Em lugar disto, Ele estava mostrando que a sua presença exige uma decisão. 10.35,36 Jesus estava citando Miquéias 7.6 (já foi feita uma alusão a esse versículo em 10.21) onde essas condições separatistas levaram a uma ânsia pelo Messias. Neste contexto, elas eram causadas pela vinda do Messias. Jesus explicou a reação ao seu chamado - haverá inevitavelmente um conflito entre aqueles que reagem positivamente, e aqueles que não reagem deste modo. Algumas vezes a reação é violenta, e membros da família irritados se tornam inimigos. Jesus não veio fazer tais divisões acontecerem; em lugar disso, a sua vinda, as suas palavras e o seu chamado causarão inevitavelmente um conflito entre aqueles que o aceitam e aqueles que o rejeitam. 10.37 Jesus não forçou seus seguidores a romperem vínculos familiares para segui-lo (ao contrário de algumas seitas da atualidade). Jesus estava chamando a atenção para o fato de que os seus discípulos precisam ter uma lealdade singular para com Ele. Quando o discipulado entra em conflito com a lealdade familiar, seguir a Jesus deve ter a prioridade acima do amor natural pela família. Se uma escolha for necessária, ela deve ser a de seguir a Jesus. 10.38 Estas palavras se aplicavam aos discípulos e a todos os que desejam ser dignos de Jesus (“digno” significando disposto a seguir e servir, como em 10.11). Tomar a sua cruz era um exemplo vivido da humildade e submissão que Jesus pedia aos seus seguidores. Quando Jesus usou esta imagem dos seus seguidores tomando as suas cruzes para segui-lo, o povo entendeu o que Ele queria dizer. Para alguns, tomar a cruz poderia realmente significar a morte; para todos, significava a negação de si mesmo. Seguir a Cristo é uma decisão constante, que requer a negação de si mesmo. Seguir a Jesus significa seguir pelo mesmo caminho de sacrifício e serviço pelo qual Ele seguiu. A bênção para nós é que Ele caminha conosco durante toda a nossa jornada. 10.39 Este versículo é uma declaração afirmativa e negativa da mesma verdade: apegar-se a esta vida pode nos fazer perder o melhor de Cristo neste mundo e no porvir. A vida cristã é um paradoxo. Tentar achar (ou salvar) a sua vida significa perdê- la. A pessoa que “acha” a sua vida para satisfazer seus desejos e objetivos separadamente de Deus, em última análise “perde” a vida. Essa pessoa não apenas perde a vida eterna oferecida somente àqueles que creem em Cristo como Salvador e o aceitam, mas perde também a plenitude da vida prometida àqueles que creem. Em contraste, aqueles que estão dispostos a “perder” a sua vida por Cristo na verdade a “acham”. Eles irão receber grandes recompensas no reino de Deus. Perder a vida por Cristo se refere a uma pessoa que se recusa a renunciar a Cristo, mesmo que a punição seja a morte. Seria mais fácil perder a vida numa batalha ou martirizado, do que fazer aquilo que Cristo nos pede. Cristo não exige lealdade somente sobre a família, Ele também exige lealdade sobre todas as partes da nossa vida. Quando mais amarmos as recompensas desta vida (lazer, poder, popularidade, segurança financeira), mais descobriremos o quanto elas são realmente vazias. A melhor maneira para “achar” a vida, portanto, é deixar o nosso apego ambicioso às recompensas terrenas para que possamos ser livres para seguir a Cristo. Precisamos nos arriscar a passar por dores, desconfortos, conflitos e tensões. Precisamos reconhecer a reivindicação de Cristo sobre o nosso destino e a nossa carreira. Ao fazermos isto, iremos herdar a vida eterna e começaremos a sentir imediatamente os benefícios de seguir a Cristo.
10.40-42 Em 10.11-14, Jesus descreveu como os discípulos deveríam empreender o seu ministério - hospedando-se nas casas de pessoas dignas. Aqueles que recebessem os discípulos receberíam grandes recompensas. A palavra “receber” pode referir-se tanto à hospitalidade (recebendo o mensageiro) como à conversão (recebendo a mensagem). Os representantes de Jesus trazem consigo toda a autoridade do Senhor. Aqueles que recebem aos discípulos recebem a Jesus; aqueles que recebem a Jesus recebem ao Pai que o enviou. Uma vez mais, Jesus afirma inconfundivelmente o seu relacionamento com Deus. Jesus falou estas palavras aos seus doze discípulos, mas depois repetiu as palavras três outras vezes usando profetas, pessoas justas e crianças. Dar um copo de água fria era um ato importante de hospitalidade e cortesia. Os discípulos definitivamente eram “pequenos”, que eram insignificantes e desprezados aos olhos do mundo. Aqueles que recebessem os discípulos simplesmente porque eles eram discípulos não perderíam a sua recompensa. Como os discípulos vinham com a autoridade de Deus, a sua aceitação pelas pessoas iria colocar à prova a atitude das pessoas em relação a Deus. É esta atitude que leva à recompensa ou à sua perda.