Comentário do texto de referência lição 01 4º trimestre

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O QUE É CONTEMPLAÇÃO? 4 de abril de 2012 por Felipe Maia OESI, OFSE A contemplação é a mais alta expressão de vida intelectual e espiritual do homem. É a própria vida do intelecto e do espírito, plenamente despertada, plenamente ativa, plenamente consciente de que está viva. É um espanto espiritual, uma admiração. Um temor espontâneo, reverencial, diante do caráter sagrado da vida, do ser. É gratidão pelo Dom da vida, pela consciência despertada, pelo ser. É a consciência viva do fato de que, em nós, a vida e o ser procedem de uma Fonte invisível, transcendente e infinitamente abundante. A contemplação é, acima de tudo, a consciência da realidade dessa Fonte. Ela conhece a Fonte, obscuramente, de modo inexplicável, mas com uma certeza que vai além, tanto da razão como da simples fé. Pois a contemplação é uma espécie de visão espiritual a que, pela sua própria natureza, tanto a razão como a fé aspiram, porque sem ela permanecem forçosamente incompletas. A contemplação, entretanto, não é a visão, pois vê “sem ver” e conhece “sem conhecer”. É fé em maior profundidade, conhecimento demasiadamente penetrante para poder ser aprendido em imagens, palavras ou mesmo conceitos claros. Pode ser sugerida por palavras, por símbolos, mas, no próprio momento em que procura indicar o que conhece, o espírito contemplativo retira o que disse e nega o que afirmou. Pois na contemplação conhecemos “não conhecendo”. Ou, melhor, conhecemos além de todo conhecer ou “não conhecer”. A poesia, a música e a arte têm algo em comum com a experiência contemplativa. Mas a contemplação vai além da intuição estética, da arte, da poesia. Vai, em realidade, além da filosofia e da teologia especulativa. A contemplação resume, transcende e realiza tudo isso e, contudo, parece, ao mesmo tempo pôr de lado e negar tudo. A contemplação vai sempre além de nosso conhecimento, nossas luzes, nossos sistemas, nossas explicações, nosso discursar; vai além do diálogo e além do nosso próprio ser. Para entrar no mundo da contemplação, em certo sentido, temos de morrer. Mas tal morte é, na verdade, passagem para uma vida mais elevada. É morte por causa da vida; deixa atrás de si tudo o que podemos conhecer ou ter em apreço sob forma de vida, pensamento, experiência, alegria, ser. A contemplação, pois, parece invalidar e desfazer-se de qualquer outra forma de intuição e experiência – seja na arte, na filosofia, na teologia, na liturgia ou nas áreas comuns do amar e do crer. Essa rejeição é, está claro, apenas aparente. A contemplação é e tem de ser compatível com todas essas coisas, pois é a sua mais alta realização. Todavia, na experiência concreta da contemplação perdemos, momentaneamente, todas as outras experiências. Elas “morrem” para nascerem de novo, num plano de vida mais alto. Em outras palavras, portanto, a contemplação atinge o conhecimento e mesmo a experiência do Deus transcendente e inexprimível. Conhece a Deus parecendo tocá-lo. Ou melhor, conhece-o como se fora por ele tocado… Tocado por Aquele que não tem mãos, mas é a pura Realidade e a fonte de tudo que é real! Daí ser a contemplação um dom, uma


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